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PROGRAMA DE TREINAMENTO - MANUTENÇÃO ELÉTRICA

CONTEÚDO TEÓRICO 1 - MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA

1 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO:

O motor de corrente contínua (CC) tem seu funcionamento baseado no princípio


de que um condutor percorrido por uma corrente elétrica e situado em um campo
magnético fica sujeito a uma força. Isto significa que, aplicando-se uma tensão nos
enrolamentos da armadura (rotor) de uma máquina de corrente contínua, e desde
que exista um campo magnético gerado pelos pólos (campo), ela funcionará como
motor, convertendo energia elétrica em energia mecânica.
A força que aparece em cada condutor da armadura depende da corrente no mes-
mo e da indução do campo magnético. O condutor (a) está sujeito a uma força que
provoca um conjugado em relação ao eixo do rotor. Simetricamente ao condutor (a)
existe o condutor (a'), pertencente à mesma espira, no qual também atua uma força
F de mesma intensidade que em (a), resultando em um binário, o qual produz o mo-
vimento do rotor, até que (a) e (a') fiquem na vertical, onde o binário seria zero, co-
mo indicado na fig. 01

rotaçao

F
a S
N

a'
F

Isso resulta em dois inconvenientes:


a) o conjugado resultante começa em um máximo e com o deslocamento dos
condutores para a posição vertical ele se anula.
b) se o sentido da corrente permanece o mesmo após os condutores passarem
pela posição vertical, o conjugado terá sentido contrário.
Esse problema é resolvido com a colocação de um COMUTADOR, o qual desli-
za sob as escovas, garantido a inversão de corrente nos condutores e mantendo

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assim um único sentido de conjugado, dado pela formula M = K..Ia, onde:
M = conjugado
K = constante da máquina (dado do fabricante)
 = fluxo de campo
Ia = corrente de armadura.

2 - PARTES COMPONENTES:

2.1. ARMADURA: é a parte girante do motor CC, sendo composta de um pacote de lâ-
minas ranhuradas montadas sobre um eixo de aço. Nas ranhuras são colocados os
enrolamentos da armadura, os quais recebem alimentação através do coletor (ou
comutador).

2.2.COMUTADOR: transfere a corrente do circuito externo para os enrolamentos da


armadura. E constituído de segmentos de cobre de seção trapezoidal, unidos em
forma de coroa circular. Cada segmento (ou lamela) está isolado dos segmentos
adjacentes por meio de uma lâmina de mica, conforme mostra a figura 02.

- +

figura 02

2.3. ESCOVAS: as escovas, através do comutador, levam a corrente do circuito exter-


no aos enrolamentos da armadura.

2.4. PÓLOS DE EXCITAÇÃO: o fluxo magnético (campo) é criado por enrolamentos


alimentados por corrente contínua, sendo montados sobre núcleos de material fer-
romagnético denominados PÓLOS, contendo na extremidade uma peça chamada
SAPATA POLAR, que se ajusta ao formato da armadura, obtendo uma diminuição
do entreferro e uma distribuição radial do fluxo

polo
sapata polar

figura 03

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IMPORTANTE: a região do motor em que não há força contra-eletromotriz induzida na
armadura é chamada de ZONA DE COMUTAÇÃO ou ZONA NEUTRA.
Está localizado a meio caminho entre dois pólos norte e sul adjacentes
(com o motor a vazio).Nesse ponto as bobinas da armadura não cortam
nenhuma linha de força e portanto não há indução de tensão. As esco-
vas são sempre posicionadas de modo a curto-circuitarem as bobinas
quando elas passam pela zona neutra, evitando assim o faiscamento
nas mesmas. Porém, quando é colocada carga no motor e sua corren-
te de armadura aumenta, ocorre um fenômeno chamado REAÇÃO DA
ARMADURA, desviando o campo magnético (no sentido contrário ao
da rotação) para a extremidade da sapata polar. Isso acontece devido
ao fato de a corrente que percorre a armadura também criar um campo
magnético, o qual interage com o campo principal, distorcendo-o. Essa
distorção é proporcional à corrente de armadura, trazendo como conse-
qüência o faiscamento excessivo com o aumento da carga. A figura 04
ilustra as duas situações.

DISTORÇAO DO CAMPO MAGNETICO

SEM REAÇAO DA ARMADURA COM REAÇAO DA ARMADURA

FIGURA 04

Como o faiscamento é provocado pelo deslocamento da zona neutra


devido à reação da armadura, as escovas deveriam ter posição variá-
vel com a carga, o que seria inadmissível. Para contornar esse proble-
ma, a máquina de corrente contínua possui mais um enrolamento.

2.5. PÓLOS DE COMUTAÇÃO: também chamado de INTERPÓLOS, são semelhantes


aos pólos principais, porém um pouco menores, percorridos pela corrente de arma-
dura e situados entre os pólos principais, criando um campo transversal oposto ao
do campo transversal do induzido. Assim, o campo de comutação atua em função
da carga (por estar em série com o enrolamento da armadura, no sentido contrário
da reação da armadura sobre a zona neutra, eliminando o faiscamento. Todos os
motores CC possuem interpólos. Algumas máquinas de grande porte e sujeitas a
variações muito bruscas de carga possuem mais um enrolamento, o qual é chama-

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de ENROLAMENTO DE COMPENSAÇÃO. Isso se faz necessário porque os inter-
pólos neutralizam somente o efeito transversal da reação da armadura, restando o
efeito longitudinal, provocando o fortalecimento do fluxo magnético em uma extre-
midade e o enfraquecimento em outra, gerando uma distribuição desuniforme da
indução no entreferro, tendo como conseqüência uma geração de maior F.E.M. em
algumas espiras e menor em outras. Isso faz com que entre determinados segmen-
tos do comutador resulte uma tensão bastante grande, provocando faiscamento.
A figura 05 mostra um motor CC em corte, mostrando seus principais componentes

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8 9 1 - CARCAÇA
5 2 - SAPATA POLAR
+ - 3 - BOBINAS DE CAMPO
7 4 - FLUXO MAGNETICO EM UM PAR DE POLOS
6 5 - ENROLAMENTO DA ARMADURA
6 - COMUTADOR
+
- 7 - ESCOVAS
8 - INTERPOLOS
9 - ENROLAMENTOS DOS INTERPOLOS

FIGURA O5

2.6. IDENTIFICAÇÕES DE TERMINAIS

F1 F2 A1 B2 F1 => ALIMENTAÇAO DO CAMPO


F2 => ALIMENTAÇAO DO CAMPO
A1 => ALIMENTAÇÃO DA ARMADURA
A2 => ALIMENTAÇAO DA ARMADURA
B1 => ALIMENTAÇAO DOS INTERPOLOS
B2 => ALIMENTAÇAO DOS INTERPOLOS
ENROLAMENTO OBS.: COMO A ARMADURA E LIGADA EM
CAMPO M DE COMPENSAÇAO
-- SERIE COM OS INTERPOLOS, OS TER-
MINAIS (A2) E (B1) NAO ESTAO ACES-
SIVEIS NA CAIXA DE LIGAÇAO. ESTA
ARMADURA LIGAÇAO E INTERNA AO MOTOR
A2 B1
FIGURA 06

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3 - COMPORTAMENTO DINÂMICO DA MÁQUINA DE CORRENTE CONTÍNUA.

3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS


O motor CC é um conversor de energia, transformando energia elétrica em energia
mecânica. É composto de 3 circuitos:
- circuito elétrico
- circuito magnético
- circuito mecânico
Esses circuitos são interligados e interdependentes. Assim, o conjugado desenvol-
vido (grandeza mecânica) é proporcional à corrente de armadura (grandeza elétrica)
e ao fluxo (campo) magnético (grandeza magnética).

3.2. O APARECIMENTO DO CAMPO GIRANTE


O campo do condutor do induzido pelo qual passa a corrente faz com que o campo
do pólo deforme suas linhas de força. Com isso, deslocam os condutores do induzido
para a zona livre de campos magnéticos, originando assim um conjugado de partida.
Quando o condutor passa pela zona neutra, o sentido da corrente deve ser invertido
por meio do comutador, para que esse condutor possa se deslocar novamente, no la-
do contrário, no mesmo sentido de rotação, sob a ação do campo presente.

3.3. A FORÇA CONTRA-ELETROMOTRIZ


Quando o induzido gira no campo polar, então será induzida nos condutores do mes-
mo (como nos geradores) uma força eletro-motriz (FEM). Esta tensão tem sentido con-
trário à tensão de alimentação da armadura, e por essa razão recebe o nome de força
contra-eletromotriz (FCEM). Seu valor, com o campo inalterado, depende apenas da
rotação: portanto, é nula na partida; em vazio e com rotação nominal atinge seu valor
máximo e cai com o aumento da carga.
No induzido atuam, portanto, duas tensões em oposição (a tensão aplicada à arma-
dura e a força contra-eletromotriz -FCEM). A diferença entre elas é a tensão útil do in-
duzido (U). As formulas abaixo elucidam melhor essa situação.

1) U = U - FCEM onde: U => tensão útil do induzido (V)


2) U = Ra x Ia U => tensão aplicada ao induzido (V)
3) Ia = U / Ra Ra => resistência da armadura ()
Ia => corrente de armadura (A)

Dessa maneira, nota-se que seu valor é determinado conjuntamente pela resistência
e pela corrente de armadura (Ra x Ia). Nessa relação, o valor de Ra deve ser pequeno
para que se possa desenvolver uma corrente necessária a potência do motor.
Isso explica porque um motor CC cuja tensão nominal é de 460 V e cuja resistência
de armadura e de cerca de 0,6  NÃO possui uma corrente nominal de 766 A, e sim,
no caso de um motor de 187 kw, de cerca de 440 A. Nesse caso, aplicando-se a fór-
mula U = Ra x Ia, concluímos que a tensão realmente atuante na armadura e de :

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0,6 x 440 = 264 V, ou seja, a FCEM tem um valor de: 460 - 264 = 196 V.
Como na partida o valor da FCEM é zero, a tensão de armadura deve ser aplicada
de maneira controlada (aos poucos) evitando assim picos de corrente prejudiciais ao
motor, ao dispositivo de partida e à carga.
Com o motor já em movimento e com a rotação estabilizada, se o motor receber car-
ga cairá a FCEM, juntamente com a rotação; a tensão útil do induzido (U)
aumentará,
o que provoca o aumento da corrente de armadura, com o que aparece um conjugado
maior, que procura vencer o efeito frenante da carga. Se deixarmos de aplicar tensão
na armadura do motor (ou diminuirmos seu valor), a inércia da carga manterá o mo-
tor girando por algum tempo; nesse caso, o valor da FCEM passa a ser maior do que
a tensão de armadura, o sentido da corrente se inverte e o motor passa a trabalhar co-
mo gerador de energia.

3.4. AJUSTE DE VELOCIDADE


A equação básica que define a rotação de um motor CC de campo independente é
dada por: n = Ua – (Ra . Ia)
K.
onde n= rotação,  = fluxo magnético do campo,K = constante da máquina,
Ua = tensão de armadura, Ra = resistência da armadura e Ia = corrente da armadura.
Conclui-se, então, que a velocidade do motor pode ser variada através:
- da tensão de armadura (Ua).
- do fluxo principal ().
- da resistência da armadura (Ra).
O último método geralmente não é utilizado em virtude da baixa eficiência e das al-
tas perdas. Dos outros dois métodos, vemos que aumentando a tensão de armadura
ou diminuindo o fluxo magnético, temos um aumento na rotação do motor, enquanto
que diminuindo a tensão de armadura ou aumentando o fluxo magnético, a rotação do
motor diminui. Em algumas aplicações os dois métodos são utilizados em conjunto,
quando desejamos que o motor trabalhe em rotações acima da sua rotação nominal;
nesse caso, regula-se a velocidade do motor pela tensão de armadura até alcançar a
rotação nominal. A partir daí, o incremento de rotação é conseguido diminuindo-se o
fluxo magnético (tensão de campo), num processo chamado de ENFRAQUECIMEN-
TO DE CAMPO. Vale salientar que, com o enfraquecimento do campo, o conjugado
do motor também diminui, e a corrente de armadura tende a aumentar. Assim, esse
processo deve ser muito bem controlado, de forma que sejam evitadas sobrecorrentes
e sobrevelocidades no motor, sendo que a primeira provoca a queima da armadura, e
a segunda danos nos rolamentos e até a destruição completa do motor.

3.5. MUDANÇA NO SENTIDO DE ROTAÇÃO


A mudança no sentido de rotação de um motor CC pode ser feita de dois modos:
- pela inversão da tensão de campo.
- pela inversão da tensão de armadura
Como geralmente os cabos de alimentação do campo são mais acessíveis e de manu-
seio mais fácil, as inversões geralmente são feitas invertendo-se a alimentação do cam-

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no lado CC, é claro.

4. TIPOS DE MOTORES DE CORRENTE CONTÍNUA

4.1. MOTOR DE EXCITAÇÃO INDEPENDENTE (DERIVAÇÃO)


O campo recebe uma alimentação geralmente fixa, enquanto que a armadura tem
sua tensão de alimentação variável, de modo a ajustar a rotação do motor aos valores
desejados. Constituem praticamente a totalidade dos motores utilizados na indústria,
sendo que possuem a característica de, no caso de uma falha na alimentação do cam-
po e com tensão aplicada à armadura, tender a disparar, isto é, aumentar enormemen-
te a rotação, a ponto até de destruir o próprio motor. Como geralmente são acionados
por conversores CA/CC, o próprio acionamento possui proteção contra falta de corren-
te no campo.

4.2. MOTOR DE EXCITAÇÃO SÉRIE (CAMPO SÉRIE)


O campo e a armadura são ligados em série,portanto a corrente nos dois enrolamen-
tos é a mesma. Os conjugados de partida e de trabalho são excelentes, sendo capaz
de partir e manter em movimento cargas exageradamente pesadas. A sua regulação
de velocidade é pobre, caindo com o aumento da carga e disparando com o motor a
vazio. Por isso, um motor CC série nunca pode trabalhar sem carga, pois sua rotação
aumentaria a ponto de danificar o motor. É muito utilizado em tração elétrica, como lo-
comotivas e ônibus elétricos.

4.3. MOTOR DE EXCITAÇÃO COMPOSTA (COMPOND)


É uma combinação dos dois tipos anteriores, com um campo independente e outro
em série com a armadura. Os campos podem ser configurados para reforçar as carac-
terísticas do motor derivação ou do motor série, dependendo da aplicação. Geralmen-
te são usados em cargas de alta inércia (excêntricos) ou altamente variáveis, como te-
souras, prensas e estamparias. Como seu custo é alto, somente são usados em apli-
cações especiais.

5. CUIDADOS ESPECIAIS COM MOTORES CC.

5.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS:


Os motores CC são máquinas relativamente robustas, porém quando comparados
aos motores de indução trifásicos, observamos que na verdade são equipamentos de-
licados, complexos, de manutenção mais freqüente e mais especializada e com custos
de rebobinamento altíssimos. Por tudo isso, o profissional que fará instalações e revi-
sões nesses motores deve estar bem preparado. Algumas regras básicas são:

5.2. ANTES DA COLOCAÇÃO EM MARCHA


1 - verificar se o sentido de rotação do ventilador está correto.
2 - certificar-se de que as ligações elétricas estejam corretas.
3 - conferir as tensões de alimentação.
4 - verificar se não existem corpos estranhos no interior do motor.

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5 - assegurar-se de que os rabichos das escovas estejam bem fixados e não interfi-
ram com o movimento das molas.
6 - verificar se o coletor e os sulcos entre as lâminas estão livres de graxa ou outro
material estranho.
7 - verificar a lubrificação dos rolamentos.
8 - verificar se os parafusos de fixação estão bem apertados.

5.3. APÓS A COLOCAÇÃO EM MARCHA.


1 - operar com carga leve e verificar se não existem vibrações, geralmente causadas
das por mau alinhamento ou problemas na base do motor.
2 - operar com carga total, conferindo a corrente de armadura e assegurando-se de
exista uma boa comutação, com nenhum ou pouco faiscamento nas escovas.
3 - verificar se não ocorrem seobreaquecimentos.

5.4. REVISÃO PERIÓDICA


1- verificar limpeza, desgaste, queimaduras e sulcos no coletor. A formação de uma
patina uniforme sobre o coletor é sinal de boa comutação.
2 - verificar o desgaste das escovas, substituindo-as quando o mesmo atingir ou
aproximar-se da marca de desgaste.
3 - remover eventuais resíduos de graxa, pó, ou outro material do interior do motor.
4 - substituir o filtro de ar.
5 - revisar as conexões elétricas.
6 - verificar os rolamentos.
7 - nos motores equipados com tacogerador, revisar as escovas e o coletor do mes-
mo, bem como suas conexões elétricas.

6. DEFEITOS E POSSÍVEIS CAUSAS

6.1. RUÍDO MAGNÉTICO E AQUECIMENTO EXCESSIVO:


- excesso de ondulação (riplle) na corrente.

6.2. FAISCAMENTO EXCESSIVO:


- problema nos interpólos.
- escovas fora da zona neutra.
- problemas no coletor.
- escovas inadequadas.
- problema na armadura.

6.3. CORRENTE DE ARMADURA ALTA:


- carga excessiva.
- problema no circuito de armadura.
- problema nos interpolos.

6.4. CORRENTE DE ARMADURA RELATIVAMENTE NORMAL A VAZIO, AUMEN-


TANDO EXCESSIVAMENTE COM A COLOCAÇÃO DE CARGA:
- tensão de alimentação do campo muito baixa.
- problemas no circuito do campo

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- problema no circuito da armadura.

6.5. RUÍDOS MECÂNICOS:


- problemas nos rolamentos.
- desbalanceamento da armadura.
- vibrações excessivas devido a desalinhamentos com a carga.

6.6. AQUECIMENTO EXCESSIVO:


- problemas com o sistema de ventilação.
- excesso de carga.

6.7. RUÍDOS NAS ESCOVAS:


- lâminas e/ou mica do coletor salientes.

6.8. O MOTOR DISPARA AO APLICAR TENSÃO DE ARMADURA:


- falta de campo.

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