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Em v�rios momentos de sua obra, Ana Martins Marques se debru�a sobre o pr�prio

fazer po�tico. Ao faz�-lo, nos puxa por um anzol, e por alguns instantes n�o somos
leitores, mas peixes, fisgados pelo brilho do desconhecido, encantados com sua
habilidade de nos volver a n�s mesmos. Ao caminho que ela nos leva, vale perguntar:
de que modo o arranjo e desarranjo constante das palavras na arte nos mostra sua
fun��o em nossas vidas? Por qu� as mais pungentes obras nos causam uma mistura de
ang�stia e fascina��o?
.
Lacan sugere respostas para esses questionamentos, em seu s�timo semin�rio,
afirmando o que muitos artistas antes j� o demonstravam: o que engendra o fazer
po�tico n�o � uma simples tentativa de c�pia ou repara��o do que ocorre na vida. No
que concerne a arte, mesmo a mais realista, mesmo as belas pinturas de natureza
morta t�o favorecidas pelos grandes pintores, como Cezanne, � a presentifica��o de
uma aus�ncia, de um vazio. Ele prop�e que as grandes obras de arte nos causam o
fasc�nio que causam por sua maestria em apresentar-nos exatamente aquilo pelo que
somos tomados: o irrepresent�vel de n�s, a pura falta.
.
Em A Vida Submarina, Ana Martins Marques indica que a arte nos oferece algo mais
interessante do que expressar a experi�ncia, ou redimi-la. Ela parece se
interessar, em seus poemas, menos em obturar a falta que nos move e mais a exalt�-
la, rezando em seus submersos altares.
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*A Vida Submarina � o primeiro livro de Ana Martins Marques, publicado em 2009 pela
Editora Scriptum.
**O quadro apresentado na imagem � de autoria de Gustav Klimt.
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#LaraAletheia

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