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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Num. Processo : 0004893-62.2015.8.05.0141

Classe : RECURSO INOMINADO


Recorrente(s) : SONY ERICSSON MOBILE COM.DO BRASIL S/A E SONY
ERICSSON MOBILE COM.DO BRASIL S/A
Recorrido(s) : TARCISO DOS SANTOS SILVA

Origem :
2ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - JEQUIÉ
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO-E M E N T A

RECURSOS SIMULTÂNEOS. CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA


E VENDA. APARELHO CELULAR. OFERTA RELATIVA À EXISTÊNCIA
DE FUNCIONALIDADE QUE VINCULA O FORNECEDOR. RECUSA DO
RÉU EM PROCEDER A SUBSTITUIÇÃO DO MESMO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
REDUÇÃO DO QUANTUM, PARA ADEQUAÇÇAO AOS PARÂMETROS
DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA.

1. Trata-se de recursos simultâneos interpostos pelas empresas


demandadas contra sentença que julgou parcialmente procedente a ação,
nestes termos: “Assim sendo, à vista do exposto, OPINO PELO JULGAMENTO
PARCIALMENTE PROCEDENTE dos pedidos formulados e OPINO PELA
CONDENAÇÃO da Ré - WALMART WMB COMERCIO ELETRONICO LTDA - a:
restituir à Autora o valor pago pelo produto viciado, no valor constante na nota fiscal,
inclusive valores cobrados por eventuais garantias contratadas, acrescidos de correção
monetária pelo INPC e juros de 1% ao mês, tudo a partir da citação; pagar à Autora a
importância de R$ 8.000,00 pelos danos morais causados, acrescidos de correção
monetária pelo INPC e juros de 1% ao mês, tudo a partir do arbitramento. CONDENO,
subsidiariamente, a Ré – SONY ERICSSON MOBILE COM.DO BRASIL S/A - devendo
responder em caso de insolvência da condenada principal, tudo com fundamento no
artigo 269 inciso I, do Código de Processo Civil.”.
2. A recorrente WMB COMÉRCIO ELETRÔNICO LTDA busca a reforma
da sentença, aduzindo, em síntese, que não praticara qualquer ato ilícito,
que a oferta anunciada deveu-se a um erro sistêmico do site da
demandada, o que a eximiria do seu cumprimento. Impugna, de igual
modo, a existência de danos morais.

3. A recorrente SONY MOBILE COMMUNICATIONS DO BRASIL LTDA,


por seu turno, suscita a ilegitimidade passiva do fabricante, bem como
contesta a existência de danos morais na hipótese, diante da inexistência
de seus requisitos ensejadores. Pugna pela redução do quantum.

4. No concernente à preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pela


recorrente, SONY MOBILE COMMUNICATIONS DO BRASIL LTDA,
rejeito-a, por tratar a hipótese de responsabilidade solidária entre todas as
empresas que compõem a cadeira de fornecimento do produto ou serviço,
calcada esta na teoria do risco do negócio, em consonância com toda a
principiologia trazida pelo CDC, que busca resguardar a parte
hipossuficiente na relação de consumo.

5. Agiu com acerto o magistrado sentenciante ao reconhecer a falha na


prestação do serviço na hipótese em comento, na medida em que as
alegações autorais não restaram impugnadas pelo réu, no sentido de que
fora ofertado produto consistente em um celular adquirido no site eletrônico
da 2ª Ré, e fabricado pela 1ª Ré, conforme documentos juntados pela parte
autora no evento 01 do projudi, e que tal produto incluiria entre as suas
funcionalidades a presença de slots para 2 ( dois) chips. Inobstante , a
parte autora, depronto, observara que tal funcionalidade inexistia, pelo quê
buscou a substituição do produto por outro de qualidade similar, o que não
fora atendido pelas empresas demandadas.

6. Como sabido, no âmbito de relação de consumo, a oferta do


fornecedor vincula-o ao seu cumprimento, sendo direito do
consumidor exigí-la segundo os termos da oferta veiculada, recaindo
a responsabilidade sobre o fornecedor que deixar de cumpri-la.

7. Por outro lado, a empresa ofertante, estando inserida no


mercado de consumo, responderá de forma objetiva pelos danos
causados aos consumidores oriundos de fatos que lhes cause
prejuízo, nos termos do art.14 do CDC, havendo necessidade de
comprovação do dano e do nexo de causalidade para que exsurja o
dever de indenizar.

8. O art. 14 do CDC, dispondo sobre a responsabilização do fornecedor


pelo fato do produto ou serviço, preleciona que: “Art. 14. O fornecedor de
serviços responde, independentemente da existência de culpa pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.”

9. Discutindo-se a prestação defeituosa de serviço, incide a


responsabilidade civil objetiva inerente ao próprio risco da atividade
econômica, consagrada no art. 14, caput, do CDC, que impõe ao
fornecedor o ônus de provar causa legal excludente (§ 3º do art. 14), algo
que o recorrente não se desincumbiu.

10. O conjunto probatório demonstrou cabalmente a ocorrência do dano


moral que muito mais que aborrecimento e contratempo, resultou em
situação que por certo lhe trouxe intranqüilidade e sofrimento, configurando
o dano moral, em razão exclusivamente da conduta do recorrente.

11. Reiteradamente manifestei posição de que o arbitramento do dano


deve obedecer aos critérios da prudência, da moderação, das condições da
ré em suportar o encargo e não aceitação do dano como fonte de riqueza.

12. Da mesma forma, a fixação do montante indenizatório deve guardar


uma equivalência entre as situações que tragam semelhante colorido
fático. As variações nos valores das indenizações existem conforme as
circunstâncias fáticas que envolvam o evento.

13. Tendo em vista os parâmetros acima delineados , quanto ao valor


arbitrado, tenho que o mesmo se mostra exagerado e fora dos parâmetros
arbitrados por este Sodalício em casos similares, merecendo uma
alteração na fixação daquele quantum.

14. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER e DAR PARCAL


PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS, para reformar a sentença,
diminuindo o quantum condenatório fixado na sentneça, que arbitro em R$
2.000,00 ( dois mil reais), corrigidos conforme definido em sentença. Sem
custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito das partes no
recurso.
Salvador, Sala das Sessões, 21 de Julho de 2016.
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA. ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo : 0004893-62.2015.8.05.0141

Classe : RECURSO INOMINADO


Recorrente(s) : SONY ERICSSON MOBILE COM.DO BRASIL S/A E SONY
ERICSSON MOBILE COM.DO BRASIL S/A
Recorrido(s) : TARCISO DOS SANTOS SILVA

Origem :
2ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - JEQUIÉ
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO

Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e


Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE – Relatora , CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ e
ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA, Presidente, em proferir a seguinte
decisão: RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS. de acordo com a
ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito das
partes no recurso.
Salvador, Sala das Sessões, 21 de Julho de 2016

Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora
Bela. ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA
Juíza Relatora

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