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Os direitos fundamentais se implementam e complementam mediante suas várias dimensões.

Inicialmente, direitos estritamente individuais, atualmente, direitos supra-individuais. Assim,


com toda ampliação, imprescindível uma maior intervenção estatal na resolução de conflitos e
na proteção das garantias constitucionais.

Para tanto, cabe ao aplicador do direito e ao legislador, o cuidado de observar os mandamentos


constitucionais quando da aplicação ou elaboração das leis, consagrando os princípios mais
eficientes à proteção dos direitos fundamentais. Os princípios, que eram “fontes de mero teor
supletivo para as Constituições, hoje se convertem em fundamento para todo o sistema jurídico,
na qualidade de princípios constitucionais, tendo em vista a grandeza e importância
reconhecidas na doutrina mais moderna.

Estes cuidados, impostos ao legislador e aplicadores do direito, operam-se sobremodo com o


uso do princípio da proporcionalidade, observado em duplo viés. Nesse sentido:

Daí se falar, tal como já se fez no Brasil, de uma dupla face do princípio da proporcionalidade,
que passa a atuar como critério de controle da legitimidade constitucional de medidas restritivas
de direitos (do âmbito de proteção dos direitos fundamentais), bem como para o controle da
omissão ou atuação insuficiente do Estado no cumprimento de seus deveres de proteção.

O princípio da proporcionalidade desenvolveu-se de acordo com a evolução do Estado e dos


direitos fundamentais e há muito tempo já está incorporado na doutrina e jurisprudência
brasileira, “embora a intensificação no que diz com a sua aplicação prática e no concernente ao
debate teórico tenha efetivamente atingido o seu apogeu na última década.

O princípio da proporcionalidade, limitador máximo e mínimo de intervenção estatal, ganha


maior importância no tocante aos direitos fundamentais quando inserido num Estado
Democrático de Direito. Assim, no contexto do Direito Penal, garantidor da proteção de bens
jurídicos filtrados através da Carta Constitucional, também incide o princípio da
proporcionalidade no seu duplo sentido, zelando “ao mesmo tempo, pela proibição de abusos
– arbitrariedades – estatais, bem como efetivar as necessidades fundamentais do indivíduo e da
sociedade conforme estabelecido nas diretrizes constitucionais”.

Para Luciano Feldens, o constituinte originário consagrou deveres de proteção com feição
jurídico-penal quando normas tendentes a assegurar a tutela penal de direitos e valores foram
incorporadas à Constituição de 1998. Vejamos:

(...) O Estado, enquanto detentor do monopólio da força, veda ao particular a prática da


autodefesa. Como contraparte, obriga-se a zelar pela proteção dos membros da sociedade
contra as ameaças e violações advindas de outros membros. Nessa esteira, o dever de proteção
torna-se uma contraprestação do Estado em relação ao cidadão que confiou sua liberdade em
troca de segurança.

Inicialmente, o princípio da proporcionalidade era utilizado apenas contra os excessos


praticados pelo Estados (proibição do excesso), mas diante dos mandamentos constitucionais
do Estado Democrático, passa a ser obrigatório reconhece-lo em mais extenso sentido, devendo
abranger o dever de proteção eficiente (vedação da proteção deficiente) por parte do Estado no
tocante às agressões advindas de terceiros contra direitos fundamentais. Esses terceiros podem
ser particulares, outros Estados, ou mesmo pessoas jurídicas de direito privado, como empresas.

GUARAGNI, Fábio André; Santana, Vanessa Milene. Modelos de Estado e emergência do


princípio constitucional da vedação de proteção deficiente em matéria penal e extrapenal. In:
CAMBI, Eduardo; GUARAGNI, Fábio André (coord). Ministério Público e princípio da proteção
eficiente. São Paulo: Almedina, 2016, p. 151-166

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