Você está na página 1de 4

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0003762-52-2015.8.05.0141
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : : ELETROSOM
Recorrido(s) ELEY VIEIRA ANGELO

Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS JEQUIÉ

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO- E M E N T A

RECURSO INOMINADO. VÍCIO DO PRODUTO. RESPONSABILIDADE CIVIL


OBJETIVA POR DANOS AO CONSUMIDOR. NOTEBOOK. PROBLEMA NÃO
SOLUCIONADO NO PRAZO LEGAL DE 30 (TRINTA) DIAS. RETORNO DA
ASSISTÊNCIA COM OS MESMOS DEFEITOS. DESCUMPRIMENTO DO ART.18 DO
CDC. DANOS MORAIS CONFIGURADOS NO CASO CONCRETO. ESSENCIALIDADE
DO PRODUTO. QUANTUM ARBITRADO DE ACORDO COM OS PARÂMETROS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA.

1. Trata-se de recurso inominado interposto por ELETROSON S/A contra


sentença que julgou procedente em parte a ação, nestes termos: “Assim sendo, à
vista do exposto, OPINO PELO JULGAMENTO PARCIALMENTE PROCEDENTE dos pedidos
formulados e OPINO PELA CONDENAÇÃO das Rés a: Restituir à parte Autora o valor do
produto defeituoso adquirido, na importância de R$ 1.614,86, conforme nota fiscal acostada à
exordial, acrescidos de correção monetária pelo INPC e juros de 1% ao mês, tudo a partir da
citação;pagar à Autora a importância de R$ 4.000,00 pelos danos morais causados, acrescidos de
correção monetária pelo INPC e juros de 0.5% ao mês, tudo a partir do arbitramento;caso o
produto defeituoso esteja na posse da acionante, a Ré deverá recolhê-lo no prazo de 30 dias, sem
ônus para a parte Autora e no domicílio deste, sob pena de decair do direito. ..”.

2. A recorrente busca a reforma da sentença, aduzindo, em síntese, a


inexistência de provas acerca da realização de qualquer ato ilícito, bem como a
ausência de requisitos para a configuração do dano moral. Em caráter eventual,
pugna pela redução do quantum, por entender que não foram observados os
requisitos da proporcionalidade e razoabilidade na sua fixação.

3. A sentença impugnada não merece reforma. Em que pese a alegação da


empresa demandada, esta não apresenta qualquer prova que a eximisse da
responsabilidade pelo vício do produto constatado no caso em apreço. Com efeito,
restou incontroverso que a parte requerente adquiriu bem durável junto à empresa
acionada, consistente em um LTRABOOK HP 14B065 CI3 4G 500HD W8 32 GB
SSD “14”, no valor de R$ 1.614,86 ( hum mil seiscentos e quatorze reais e oitenta e
seis centavos).

4. Assevera a parte autora que após certo período de uso o notebook começou a
apresentar defeito, tendo enviado o mesmo à assistência técnica por três vezes
seguidas, todavia não houve a resolução do problema,.tendo este retornado com
os mesmos problemas, sem que lhe fosse dada sequer justificativa plausível pela
assistência, diante da afirmativa de que as peças necessárias para o conserto não
se encontravam cobertas pela garantia.

5. Nesses termos, diante das alegações da parte autora, dotadas de


verossimilhança, corroboradas com as provas colacionadas, em especial a
nota fiscal de compra do produto, nota de serviço comprovando o envio do
mesmo á assistência, e diante da ausência de provas acerca de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora, patente que
houve o descumprimento do quanto disposto no art.18 do CDC, na medida
em que o réu, devidamente cientificado acerca do defeito, não adotara
quaisquer das providências previstas no mencionado dispositivo legal, não
solucionando o vício apresentado no prazo legal de 30 ( trinta) dias, como
impõe o CDC. Patente, portanto, a ocorrência do ato ilícito, passível de
reparação, diante dos danos causados à parte autora.
6. Resta caracterizada, portanto, a abusividade da conduta do réu,
constituindo tal fato em manifesta falha na prestação dos serviços, devendo
o mesmo responder pelos prejuízos causados e comprovados nos autos à
parte autora.
7. Presentes, ademais, os requisitos caracterizadores da
responsabilidade objetiva. O art. 14 do CDC, dispondo sobre a
responsabilização do fornecedor pelo fato do produto ou serviço, preleciona
que: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.”
8. O conjunto probatório demonstrou cabalmente a ocorrência do
dano moral que muito mais que aborrecimento e contratempo, resultou em situação
que por certo lhe trouxe intranqüilidade e sofrimento, máxime diante do dispêndio
de tempo e energias da parte autora para que o problema fosse solucionado, e
diante da relutância da empresa em atender ao legítimo pleito da autora, bem
como da essencialidade do produto em tela para a manutenção das atividades
cotidianas. É inconcebível dos dias atuais prescindir do uso do notebook, não
apenas como meio de entretenmento, mas principalmente como ferramenta de
trabalho, sendo portanto grave a conduta do fornecedor, que não resolve de modo
tempestivo, no prazo legal, o problema apresentado.
9. Reconhecida a ocorrência dos danos morais na espécie, mister seja
arbitrado o seu quantum. No particular, o prudente arbítrio do magistrado exige
não deva ser considerada, apenas, a situação econômica do causador do dano,
porque, se tal for o critério, resvalar-se-á para o extremo oposto, com amplas
possibilidades de propiciar ao ofendido o enriquecimento sem causa. Há que se
atender, porém, e também com moderação, ao efeito inibidor da atitude repugnada.
10. O valor da indenização fixado pelo juiz sentenciante, a título de danos
morais, guarda compatibilidade com o comportamento do recorrente e com a
repercussão do fato na esfera pessoal da vítima e, ainda, está em harmonia com
os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, devendo ser mantida
11. Portanto, CONHEÇO DO RECURSO INTERPOSTO E NEGO-LHE
PROVIMENTO, para manter a sentença objurgada pelos próprios fundamentos.
Custas processuais e honorários advocatícios pelo recorrente, que arbitro em 20%
sobre o valor da condenação.

Salvador, Sala das Sessões, 27 de Outubro de 2016.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Presidente e Relatora
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0003762-52-2015.8.05.0141
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : : ELETROSOM
Recorrido(s) ELEY VIEIRA ANGELO

Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS JEQUIÉ

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA
AUXILIADORA SOBRAL LEITE –Presidente e Relatora , ISABELA SANTOS LAGO e
ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão : RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento. Custas processuais e honorários advocatícios pelo recorrente, que arbitro em
20% sobre o valor da condenação. Salvador, Sala das Sessões, 27 de Outubro de 2016.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Presidente e Relatora

Você também pode gostar