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Universidade Estadual de Maringá

Programa de Iniciação Cientı́fica - PICME - CNPq


Orientador: Profo . Dr. Wesley Vagner Inês Shirabayashi
Acadêmico: Pedro Henrique Barbosa Pontalti

MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS APLICADOS À


ENGENHARIA

Maringá, 26 de fevereiro de 2019


Universidade Estadual de Maringá
Programa de Iniciação Cientı́fica - PICME - CNPq
Orientador: Profo . Dr. Wesley Vagner Inês Shirabayashi
Acadêmico: Pedro Henrique Barbosa Pontalti

MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS APLICADOS À


ENGENHARIA

Relatório final dos assuntos


estudados durante o proje-
to de iniciação cientı́fica do
programa PICME-CNPq.

Maringá, 26 de fevereiro de 2019


Resumo
Muitos problemas em engenharia podem ser abordados por modelagem computacional,
e uma ferramenta matemática muito útil é o Método dos Elementos Finitos (MEF). Po-
demos citar algumas aplicações, como: análise de estruturas (deslocamentos, deformações
e tensões), design de peças (analisando sua rigidez, fadiga e resistência), análises térmicas
(condução, distribuição de temperaturas), etc. Nos últimos anos o desenvolvimento de
softwares para auxiliar engenheiros e projetistas em seus trabalhos tem aumentado e pos-
sibilitado a estes profissionais resultados cada vez mais realı́sticos e, portanto, melhores.
Neste contexto o estudo do MEF é de grande importância para um profissional da enge-
nharia.

Palavras-chave : Elementos finitos, Análise estrutural, Distribuição de temperaturas;

iii
Sumário
1 Introdução 1

2 Discretização do problema 2

3 Deformação de molas 4
3.1 Definindo o elemento de mola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
3.2 Conjunto de molas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3.3 Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3.3.1 Resolução Manual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

4 Deformação em barras e Treliças 12


4.1 Definindo o elemento de barra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
4.1.1 Exemplo Resolvido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4.2 Transformando o elemento de barra para conjuntos 2D . . . . . . . . . . . 16
4.3 Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.3.1 Resolução Manual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.3.2 Resolução por software . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

5 Distribuição de calor 32
5.1 Definindo o elemento para condução de calor . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.2 Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.2.1 Resolução Manual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.2.2 Resolução por software . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

6 Conclusão 42

Bibliografia 43

iv
1 Introdução
O método dos elementos finitos é uma ferramenta numérica muito utilizada por pla-
taformas de otimização, realizando simulações como análises estruturais, térmicas e de
escoamento de fluidos. Sendo muito importante que o engenheiro compreenda bem seus
conceitos e saiba aplicá-los corretamente. O método consiste em transformar um objeto de
estudo e as equações diferencais que regem seu comportamento fı́sico em um modelo cons-
tituı́do de muitos objetos bem menores, chamados elementos, onde essas equações possam
ser simplificadas e aplicadas a cada elemento e assim podendo ser resolvidas facilmente
com o auxı́lio de um computador, obtendo uma solução aproximada para o problema. A
solução é mais precisa quanto menor forem os elementos, porém a dimuição do tamanho
dos elementos aumenta o custo e o tempo computacional, devendo-se escolher sempre um
critério que o torne satisfatório de acordo com os interesses do usuário.
O objetivo deste trabalho é apresentar alguns problemas de engenharia que podem ser
resolvidos pelo método dos elementos finitos e mostrar os passos para a análise manual
e comparar com os resultados obtidos com auxı́lio de programas computacionais, com
mais elementos. Esse trabalho foi desenvolvido dando continuidade ao projeto de Álgebra
linear com aplicações em engenharia, portanto, as definições e principais operações com
matrizes foram omitidas do texto, visto que já foram apresentadas anteriormente.

1
2 Discretização do problema
A geometria complexa do problema (contı́nua) é simplificada e dividida em pequenas
regiões denominadas de elementos (discreta). Tais elementos podem ser lineares, trian-
gulares, retangulares, hexagonais, etc. Esses elementos são unidos entre si por pontos,
denominados nós. O conjunto de elementos e nós é chamado de malha.

Figura 1: Representação do objeto à esquerda, como projetado; Ao centro, criação de uma


malha tetraédrica evidenciando os elementos e nós; À direita, malha refinada do mesmo
objeto, com mais elementos.

As cargas, como forças, são definidas sempre sobre os nós dos elementos, uma força dis-
tribuida, por exemplo, é aproximada para várias forças pontuais atuantes nos nós. Nesse
estudo foram analisados apenas problemas em uma e duas dimensões, com elementos uni-
dimensionais e de comportamento linear, como molas e barras. Sendo assim, trabalhando
apenas com elementos lineares, com dois nós, identificados genericamente por i e j.

2
Figura 2: Exemplo de treliça com elementos de barra.

Figura 3: Representação de elementos finitos da treliça, onde cada barra é um elemento e


as juntas são os nós, aqui a treliça é representada bidimensionalmente e os elementos são
unidimensionais.

Figura 4: Pode-se também aumentar o número de elementos, dividindo cada barra em


mais elementos, nesse caso 4, além dos nós nas juntas das barras também tem-se mais 3
nós distribuidos na barra.

3
3 Deformação de molas

3.1 Definindo o elemento de mola


O elemento mais simples para a análise de elementos finitos é o elemento de mola, cuja
a única propriedade fı́sica é a rigidez apresentada. Cada mola já é por si só caracterizada
como um elemento, não sendo necessária a discretização do problema.

Figura 5: Representação do elemento de mola com as forças internas e seus deslocamentos


nodais.

De acordo com a lei de Hooke (homenagem à Robert Hooke, 1635-1703), tem-se:

f = k · ∆u. (1)

Sendo f a força interna da mola, k sua constante de rigidez e ∆u o seu alongamento.


Para a configuração do elemento na figura, pode-se perceber que o alongamento resultante
da mola pode ser expresso pela diferença entre os deslocamentos nodais uj e ui . Assim:

f (e) = k · (uj − ui ). (2)

Adotando o sentido positivo para a direita, com isso, um valor positivo para a força
no elemento indicará tração e negativo indicará compressão. Assim, a força exercida no
nó i será oposta à força da mola:

fi = k · (ui − uj ). (3)

E para o elemento estar em equilı́brio, o somatório de forças que agem sobre ele deve
ser nula, portanto:

fi + fj = 0 =⇒ fi = −fj . (4)

Assim, a força em j é a própia força da mola. Tem-se então a seguinte relação:

4
fi = k · (ui − uj ),
. (5)
fj = k · (uj − ui )
Que pode ser expressa em forma matricial por:
     
fi   k −k   ui 
= · . (6)


fj −k k uj
A matriz formada pelos elementos k é denominada matriz de rigidez do elemento.
E os vetores à esquerda e à direita são os vetores de forças e deslocamentos. Nota-se
que a matriz [k] é quadrada, de ordem tal qual seus graus de liberdade (no caso, 2,
deslocamentos horizontais nos dois nós), é simétrica, é singular (determinante igual a 0)
e positiva semidefinida. Para um conjunto de molas, haverá uma matriz de rigidez total,
que é formada a partir das matrizes de rigidez de cada elemento.

3.2 Conjunto de molas


Para um conjunto de molas, fazendo a análise para cada nó, tem-se, para o equilı́brio
que a soma das forças que agem em cada nó são nulas. Nota-se também que as forças
internas, produzidas pelos elementos, são opostas à força externa, devido à tentativa de
manter a mola na posição sem deformação. Sendo assim, tem-se:

ie
X (e)
Fi − fi = 0. (7)
e=1
(e)
Sendo Fi a força externa que age no nó i e fi a força interna exercida no nó i pelo
elemento e.

Figura 6: Exemplo de conjunto de molas. Os dois blocos e a parede são os nós e as molas
são os elementos. A parede é um nó fixo (u1 = 0) e os blocos podem realizar apenas
deslocamentos horizontais.

5
No nó 2 da figura, por exemplo, tem-se:

(1) (2)
F2 − f2 − f2 = 0. (8)

Já que a força F2 está no sentido positivo, a força na mola 1 fica negativa, já que a
mola é tracionada e tende a voltar a posição de equilibrio, o mesmo ocorre para a mola
2, mas essa por sua vez é comprimida pela força F2 . Onde não existe força atuando, ela
equivale a zero. Exceto na parede, que ocorre uma força de reação. Sendo assim, é obtido
as seguintes equações para todos os nós:

(1) (3)
F1 = f1 + f1 = k1 (u1 − u2 ) + k3 (u1 − u3 ) = (k1 + k3 )u1 + (−k1 )u2 + (−k3 )u3 ,
(1) (2)
F2 = f2 + f2 = k1 (u2 − u1 ) + k2 (u2 − u3 ) = (−k1 )u1 + (k1 + k2 )u2 + (−k2 )u3 , .
(2) (3)
F3 = f3 + f3 = k2 (u3 − u2 ) + k3 (u3 − u1 ) = (−k3 )u1 + (−k2 )u2 + (k2 + k3 )u3
(9)
Ou em forma matricial:
     
 F1   k1 + k3 −k1 −k3   u1 
     
 F  =  −k k1 + k2 −k2  ·  u . (10)
 2   1   2 
     
F3 −k3 −k2 k2 + k3 u3
A matriz formada pelos elementos k é dita Matriz de rigidez total do conjunto de
molas. Nada mais é do que a combinação das matrizez de rigidez de cada elemento
(equação 6), organizada de acordo com os nós a qual pertencem seus elementos. Não é
possı́vel resolver essa equação simplesmente invertendo-se a matriz de rigidez total, isso
porque ela tem as mesmas propriedades já descrita, e portanto é singular, não possui
inversa. Porém, durante a solução, serão cancelados linhas e colunas convenientes para
trasformá-la em uma matriz inversı́vel.
No exemplo mostrado, por exemplo, o deslocamento u1 é nulo e é dado os valores de
F2 e F3 , então pode-se eliminar a primeira coluna da matriz, que é multiplicada por u1 ,
e também a primeira linha, já que não sabe-se o valor de F1 . Assim, seria obtido:
     
 F1  k1+k3 −k
1 −k

3   0 
     
 F  =  −k
 2   1
 k1 + k2 −k2  ·  u2 
 
, (11)
     
F3 −k
 
3 −k2 k2 + k3 u3
     
F2   k1 + k2 −k2   u2 
= · . (12)


F3 −k2 k2 + k3 u3

6
Agora, a matriz obtida da matriz de rigidez já não é mais singular (as rigidezes k são
positivas não nulas), sendo assim, pode-se invertê-la e encontrar os deslocamentos nodais
fazendo {u} = [K]−1 · {F }. Depois, volta-se à equação 10 para encontrar o valor de F1 .
Esse é o processo para se resolver os problemas envolvendo elementos finitos, o que vai
mudar são as matrizes de rigidez de cada problema e as condições de contorno conhecidas
nos nós, seja os deslocamentos e forças ou temperaturas e calor, para problemas térmicos.
A seguir será apresentado e resolvido um problema completo de molas.

3.3 Problema
Três corpos rı́gidos, 2, 3, e 4 estão unidos por quatro molas, conforme mostra a figura.
Uma força horizontal de 1000N é aplicada ao Corpo 4. Encontre os deslocamentos dos três
corpos e as forças (tração/compressão) nas molas. Qual é a reação na parede? Admita
que os corpos só possam sofrer translação na direção horizontal. As constantes de mola
(N/mm) são k1 = 400, k2 = 500, k3 = 500 e k4 = 300.

Figura 7: Representação do conjunto de molas. Problema Exercı́cio retirado do livro


Introdução à Análise e ao Projeto em Elemetos Finitos. [3]

3.3.1 Resolução Manual

Para esse problema, tem-se 4 elementos e 4 nós, devido aos nós, sabe-se que a matriz
de rigidez será de ordem 4. para começar, é montada a matriz de rigidez total, primeiro
expandindo a matriz do primeiro elemento, que está entre os nós 1 e 2, sendo assim, sua
matriz de rigidez será posicionada de acordo com esses graus de liberdade, como segue:

7
 
 u1 u2 u3 u4 . 
 

 400 −400 − − u1 

 
−400 400 − − u2  .
 

 
 

 − − − − u3 

 
− − − − u4
Para o elemento 2, será posicionado entre 2 e 3:
 
 u1 u2 u3 u4 . 
 

 − − − − u1 

 
− −500 − u2 
500 .
 

 
 

 − −500 500 − u3 
 
− − − − u4
Para o elemento 3, entre 1 e 3:
 
 u1 u2 u3
.  u4
 

 500 − −500 − u1 

 

 − − − − u2  .
 
 

 −500 − 500 − u3 

 
− − − − u4
Por fim, para o elemento 4, entre 3 e 4:
 
 u1 u2 u3 u4 . 
 

 − − − − u1 

 
− − − − u2  .
 

 
 

 − − −300 u3 
300 
 
− − −300 300 u4
Agora, as matrizes estendidas são somadas e completadas com zeros onde não tem
valores, obtendo-se:
 

400 + 500 −400 −500 0 
 
 −400 400 + 500 −500 0 
.
 


 −500 −500 500 + 500 + 300 −300 

 
0 0 −300 300
Assim, tem-se a seguinte equação matricial:

8
     
F
 1  
900 −400 −500 0 
u
 1 
     
 F2   −400 900 −500 0   u2 
= · . (13)
     
 

 F3 


 −500 −500 1300 −300  
  u3 

     
F4 0 0 −300 300 u4
Note que a matriz de rigidez total é simétrica e singular (det[K] = 0).
Substituindo os valores conhecidos:
- Nos nós 2 e 3 não há forças externas, portanto F2 = F3 = 0;
- No nó 4, foi dado o valor da força F4 = 1000N , no sentido negativo;
- No nó 1, não há informações sobre a reação F1 , mas tem-se que o deslocamento nele
é nulo, u1 = 0, enquanto que nos demais nós os deslocamentos são desconhecidos.
Dessa forma, fica-se com:
     

F1  
900 −400 −500 
0  0
     
0  −400 900 −500
0    u2 
   
= · . (14)
  

0  −500 −500 1300 −300   u3 
     
 
     
−1000 0 0 −300 300 u4
Da mesma forma que no exemplo mostrado anteriormente, tem-se uma força desco-
nhecida e um deslocamento conhecido. Como a força desconhecida não ajuda a solucionar
os deslocamento, pode-se eliminar a linha corresponde, da mesma forma, o deslocamento
nulo u1 não ajudará, podendo assim eliminar a coluna correspondente, por fim, é obtido
a seguinte equação:
     
 0   900 −500 0   u2 
     
 0  =  −500 1300 −300  ·  u  . (15)
     3 
     
−1000 0 −300 300 u4
Onde agora a matriz quadrada resultante é invertı́vel, tornando a equação facilmente
resolvida. Para essas operações será utilizado o software MATLAB.
Calculando a matriz inversa e fazendo a mutiplicação da inversa pelo vetor de força:

9
Figura 8: Janela de comando do MATLAB com os comandos executados para se deter-
minar os deslocamentos.

Observa-se que todos os deslocamentos foram pro lado esquerdo, e por isso o sinal
negativo. Os valores encontrados são dados em milı́metros, já que a unidade dada para
rigidez da mola é N/mm.
   
u
 1  
0 
   
 u2   −0, 7962 mm 
= .
   
 

 u3 


 −1, 3846 mm 

   
u4 −4, 7179 mm
Com os deslocamentos nodais agora conhecidos, volta-se para a equação 14 e faz-se a
multiplicação, encontrando o valor de F1 :

Figura 9: Janela de comando do MATLAB com os comandos executados para se deter-


minar a força F1 .

Assim, encontra-se o valor de 1000N para F1 , o que está correto, haja visto que F1 e

10
F4 são as únicas forças externas do problema, portanto, a soma delas deve ser nula, para
satisfazer a condição de equilı́brio. O problema também pede para encontrar as forças
de tração/compressão nas molas. Sendo assim, é necessário apenas resolver a equação 2
para todos os elementos:

f (1) = k1 (u2 − u1 ) = 400(−0.7692 − 0) = −307, 69N


f (2) = k2 (u3 − u2 ) = 500(−1.3846 − (−0.7692)) = −307, 69N
.
f (3) = k3 (u3 − u1 ) = 500(−1.3846 − 0) = −692, 31N
f (4) = k4 (u4 − u3 ) = 300(−4.7179 − (−1.3846)) = −1000N
Devido ao sinal negativo, todas as molas estão sobre compressão, o que também é
correto, já que a única força que age sobre elas está pressionando-as contra a parede.
Assim, tem-se os valores de todas as forças e todos os deslocamentos, conforme foram
solicitados no enunciado.

11
4 Deformação em barras e Treliças

4.1 Definindo o elemento de barra


Analogamente ao elemento de mola, tem-se que a força aplicada na barra é proporci-
onal ao deslocamento. Porém, para formular isso, utiliza-se a lei de Hooke genelarizada:

σ = E · . (16)

Onde σ representa a tensão na barra, E o módulo de elasticidade ou módulo de


Young (homenagem à Thomas Young, 1773-1829), que é uma caracteristı́ca do material
empregado, e  a deformação na barra.
Da mecânica, tensão é definida como a razão da força aplicada na barra sobre a sua
área, no Sistema Internacional de unidades (SI) é dada por Pascal P a (N/m2 ) . Já a
deformação é definida como a razão do alongamento da barra (deslocamento) pelo seu
comprimento inicial, nota-se que deformação é adimensional, haja visto que é uma razão
entre duas grandezas de mesma unidade, já o módulo de elasticidade é uma constante de
proporcionalidade determinada experimentalmente, definida no SI também em Pascal.
Dessa forma, tem-se:

F ∆u
=E· . (17)
A L
Reorganizando a equação, é obtido:

E·A
F = · ∆u. (18)
L
Observa-se que essa equação é análoga à equação 1, porém k é substituı́do por E·A
L
,
que também é constante para uma barra homogênea de seção constante.

Figura 10: Representação do elemento barra com as forças internas e seus deslocamentos
nodais.

12
Sendo assim, seguindo os passos já demonstrados, tem-se para um elemento de barra,
com forças e deslocamentos horizontais, a seguinte equação matricial:
     
fi  E · A  1 −1   ui 
= · . (19)

L
 
fj −1 1 uj
E da mesma forma, também pode-se resolver problemas de conjunto de barras, como
será feito no exemplo a seguir.

4.1.1 Exemplo Resolvido

A barra com trechos diferentes de seções transversais constantes mostrada na figura


está sujeita a uma força no centro Use o MEF para determinar o deslocamento no centro
e as reações RESQ e RDIR . Admita: E=100GPa; as áreas das seções transversais das três
partes mostradas são, respectivamente, 10−4 , 2 · 10−4 e 10−4 e F=10000N.

Figura 11: Problema exemplo, também retirado do livro [3], com 3 elementos de barra.

Apesar de o problema apresentar três barras, é preciso dividı́-lo em quatro elementos,


haja visto que as forças devem ser aplicadas sobre os nós dos elementos. Assim, a barra
central será dividida em 2 partes. O problema então terá 5 nós e 4 elementos.
Formando a matriz de rigidez da estrutura:
E·A 1011 ·10−4 1
Para o primeiro elemento, tem-se L
= 0,3
= 3
· 108 , e está entre os nós 1 e 2.
 
 u1 u2 u3 u4 u5 . 
1
− 31
 

 3
0 0 0 u1 

 
8 

 − 13 1
3
0 0 0 u2 

10 ·  .


 0 0 0 0 0 u3 

 

 0 0 0 0 0 u4 

 
0 0 0 0 0 u5
E·A 1011 ·2·10−4
Para o segundo elemento, tem-se L
= 0,2
= 108 , e está entre os nós 2 e 3.

13
 
 u1 u2 u3 u4 u5 . 
1
− 13
 

 3
0 0 0 u1 

 
8 

 − 13 1
3
+ 1 −1 0 0 u2 

10 ·  .
−1


 0 1 0 0 u3 

 

 0 0 0 0 0 u4 

 
0 0 0 0 0 u5
E·A
Para o terceiro elemento, tem-se, novamente, L
= 108 , e está entre os nós 3 e 4.
 
 u1 u2 u3 u4 u5 . 
1
− 13
 

 3
0 0 0 u1 

 
8 

 − 13 1
3
+1 −1 0 0 u2 

10 ·  .
−1 1 + 1 −1


 0 0 u3 

 

 0 0 −1 1 0 u4 

 
0 0 0 0 0 u5
E·A 1011 ·10−4 1
Para o último elemento, tem-se L
= 0,3
= 3
· 108 , e está entre os nós 4 e 5.
 
 u1 u2 u3 u4 u5 . 
1
− 13
 

 3
0 0 0 u1 

 
8 

 − 31 1
3
+1 −1 0 0 u2 

10 ·  .
−1 −1


 0 1+1 0 u3 

 
1

 0 0 −1 1+ 3
− 13 u4 

 
0 0 0 − 13 1
3
u5
Assim, a equação matricial fica:
     
1
 F1   3
− 31 0 0 0   u1 
     
 F 
 2 

 − 13 4
3
−1 0 0 
  u2 
 
     
8 

 F3 

= 10 ·  0 −1 2 −1 0  ·
 
u3 

. (20)
     
4
− 13 
     

 F4 


 0 0 −1 3  
 u4 

     
F5 0 0 0 − 13 1
3
u5
Aplicando as condições de contorno conhecidas:
- Deslocamentos nos nós 1 e 5 nulos;
- Sem forças aplicadas nos nós 2 e 4;
- Força de 10000N aplicada no nó 3.

14
     
1
 RESQ   3
− 13 0 0 0   0 
     

 0  

 − 13 4
3
−1 0 0 

 u 
 2 
     
8 
10000 = 10 ·  0 −1 2 −1 0  · u3  . (21)
    
 
     
4
− 31 
     

 0 


 0 0 −1 3  
 u4 

     
RDIR 0 0 0 − 13 1
3
0
Da mesma forma que nos problemas com mola, deve-se eliminar as colunas corres-
pondentes aos deslocamentos 1 e 5 e as linhas correspondentes às forças RESQ e RDIR ,
obtendo:
     
4
 0   3
−1 0   u2 
8
     

 10000 
 = 10 ·
 −1 2  ·  u3  .
−1    (22)
     
4
0 0 −1 3
u4
Calcula-se a inversa da matriz de rigidez e fazendo a multiplicação pelo vetor de força,
com o auxı́lio do MATLAB, obtendo:
     
 u2   1, 875 1, 5 1, 125   0 
−8
     
·
 = 10  1, 5
 u3   2 1, 5 10000 . (23)
   
     
u4 1, 125 1, 5 1, 875 0
Obtendo:
   
 u2   0, 00015 m 
   
 u  =  0, 00020 m  .
 3   
   
u4 0, 00015 m
Fazendo a multiplicação na equação 21 obtem-se:
   
RESQ   −5000 N 
= .


RDIR −5000 N
Assim, foram encontrados todos os valores pedidos no enunciado do problema.
Agora, será utilizado o elemento de barra para expandir a análise para uma treliça,
onde há, além de deslocamentos horizontais, deslocamentos verticais.

15
4.2 Transformando o elemento de barra para conjuntos 2D
O elemento de mola apresentado anteriormente, foi definido sobre um eixo local x,
porém, quando são feitas combinações de elementos com outras coordenadas locais, é pre-
ciso transformá-los para um mesmo sistema de coordenadas, global, de toda a estrutura.
Observe o mesmo elemento da figura 10:

Figura 12: Elemento de mola em coordenadas locais e globais.

Os vetores de forças e deslocamento, estão todos na mesma direção. Como já foi
mostrado como calcular os valores locais para cada elemento, os valores globais poderão
ser expressos em função dos valores locais e do ângulo diretor θ, para facilitar, será
procurado expressar os vetores locais em função dos globais. Para isso é preciso utilizar
a matriz de transformação de coordenadas, que será deduzida a seguir, para um vetor
arbitrário u. Um traço em cima das coordenadas representa os valores locais e sem o
traço, os valores globais.

16
Figura 13: Vetor arbitrário u representado em coordenadas locais e globais.

Com algumas relações geométricas e trigonométricas, encontra-se facilmente o se-


guinte:

Figura 14: Encontrando o valor das coordenadas locais de u em função das coordenadas
globais.

17
Nota-se então que:

ux = ux · cos(θ) + uy · sen(θ,
(24)
uy = uy · cos(θ) − ux · sen(θ).
Reorganizando, em forma matricial:
     
ux   cos(θ) sen(θ)   ux 
= · . (25)


uy −sen(θ) cos(θ) uy
E isso é o deslocamento para apenas um nó, expandindo para os dois nós:
     

uix  
cos(θ) sen(θ) 0 0  
uix 
     
 uiy   −sen(θ) cos(θ) 0 0   uiy 
= · . (26)
     
  

 ujx 


 0 0 cos(θ) sen(θ)  
  ujx 

     
ujy 0 0 −sen(θ) cos(θ) ujy
O mesmo vale para o vetor de forças:
     
f
 ix  
cos(θ) sen(θ) 0 0 f
  ix 
     
 fiy   −sen(θ) cos(θ) 0 0   fiy 
= · . (27)
     
 

 fjx 


 0 0 cos(θ) sen(θ)   fjx 
 

     
fjy 0 0 −sen(θ) cos(θ) fjy
Expandindo a equação 19 para duas dimensões, tem-se:
     
f
 ix  
1 0 −1 0   uix 
     
 fiy 
 0 0 0 0   uiy
E·A   
= · . (28)
  
 

 fjx 
 L 
 −1 0 1 0   ujx
  

     
fjy 0 0 0 0 ujy
A matriz de rigidez foi apenas completada com zeros, haja visto que para um elemento
não há forças nem deslocamentos em y. Agora, substitui-se os vetores locais de forças e
deslocamento pelos vetores globais, expressos em 26 e 27. Para não ficar muito extenso,
será denotado a matriz de transformação por [T ] e os vetores for {f } e {u} e a matriz de
rigidez por [k]

[T ] · {f } = [k] · [T ] · {u}. (29)

Multiplicando os dois lados pela inversa de [T ], [T ]−1 , obtém-se:

18
{f } = [T ]−1 · [k] · [T ] · {u}. (30)

Então para as coordenadas globais, a matriz de rigidez global é dada por:

[K] = [T ]−1 · [k] · [T ]. (31)

A matriz de transformação [T ] é uma matriz ortogonal, ou seja, sua inversa é igual a


transposta. Dessa forma, tem-se ainda:

[K] = [T ]t · [k] · [T ]. (32)

Com o auxı́lio novamente do MATLAB, será feita essa multiplicação:

Figura 15: Cálculo da matriz [K], sem as constante E, A e L.

Por fim,

 

cos2 (θ) cos(θ)sen(θ) −cos2 (θ) −cos(θ)sen(θ) 
sen2 (θ) −sen2 (θ)
 
E·A  cos(θ)sen(θ) −cos(θ)sen(θ) 
[K] =  . (33)
 

L 
 −cos2 (θ) −cos(θ)sen(θ) cos2 (θ) cos(θ)sen(θ) 

 
−cos(θ)sen(θ) −sen2 (θ) cos(θ)sen(θ) sen2 (θ)

O processo de resolução continua o mesmo, fazer a montagem da matriz de rigidez total


da estrutura, somando adequadamente as matrizes de cada elemento de acordo com os
quatro graus de liberdade. Depois, aplicar as condições de contorno para eliminar linhas
e colunas que não ajudam a resolver a equação. Encontrar a inversa da matriz resultante
e multiplicar pelo vetor de forças para encontrar os deslocamentos desconhecidos. Por
fim, voltar a equação inicial para encontrar as forças desconhecidas.
Esse processo completo será feito no problema a seguir.

19
4.3 Problema
Determine as forças de reações nos apoios e os deslocamentos nodais da treliça mos-
trada na figura, sendo o material das barrras aço AISI 1020 (E=200GPa), de perfil circular
e diâmetro 50mm, sendo todas as barras de comprimento 1m.

Figura 16: Treliça com um apoio fixo e um apoio móvel na direção x.

4.3.1 Resolução Manual

Para esse problema, tem-se 7 elementos e 5 nós. Portanto, 10 graus de liberdade


(deslocamentos horizontais e verticais nos nós). Como cada barra tem um metro, os
ângulos entre elas são todos 60◦ . Para auxilixar nos cálculos será montada uma tabela
relacionando cada elemento a seus nós e ângulos, de acordo com os definidos na imagem.

Figura 17: Treliça com indicação dos números de nós e elementos.

20
Tabela 1: Propriedades dos elementos de barra.
Elemento nó i nó j θ (graus)
1 1 2 60
2 1 3 0
3 2 3 -60
4 2 4 0
5 3 4 60
6 3 5 0
7 4 5 -60

Como todos as barras são do mesmo material, têm o mesmo comprimento e mesma
E·A 200·109 ·π·0,0252
área de seção transversal, o valor constante L
= 1
será igual para todos
os elementos, podendo então ser adicionado no final, quando já tiver pronta a matriz
de rigidez total. Como o que muda nos elementos é apenas o ângulo diretor, apenas 3
matrizes de rigidez precisam ser feitas, já que [k]1 = [k]5 , [k]2 = [k]4 = [k]6 e [k]3 = [k]7 .
E esses valores são:
 

0, 25 0, 433 −0, 25 −0, 433 
 
 0, 433 0, 75 −0, 433 −0, 75 
[k]1 = 


,

 −0, 25 −0, 433 0, 25 0, 433 

 
−0, 433 −0, 75 0, 433 0, 75
 

1 0 −1 0 
 
 0 0 0 0 
[k]2 =  ,
 

 −1 0 1 0 

 
0 0 0 0
 

0, 25 −0, 433 −0, 25 0, 433 
 
 −0, 433 0, 75 0, 433 −0, 75 
[k]3 = 


.

 −0, 25 0, 433 0, 25 −0, 433 

 
0, 433 −0, 75 −0, 433 0, 75
Somando adequadamente de acordo com os nós, tem-se:

21
 
 u1x u1y u2x u2y u3x u3y u4x u4y u5x u5y . 
 
 1, 25
 0, 433 −0, 25 −0, 433 −1 0 0 0 0 0 u1x 

 
 0, 433
 0, 75 −0, 433 −0, 75 0 0 0 0 0 0 u1y 

 
 −0, 25 −0, 433 1, 5 0 −0, 25 0, 433 −1 0 0 0 u2x 
 
 
 −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 −0, 75 0 0 0 0 u2y
 

 
−1 0 −0, 25 0, 433 2, 5 0 −0, 25 −0, 433 −1 0 u3x .
 

 
 

 0 0 0, 433 −0, 75 0 1, 5 −0, 433 −0, 75 0 0 u3y 

 

 0 0 −1 0 −0, 25 −0, 433 1, 5 0 −0, 25 0, 433 u4x 

 

 0 0 0 0 −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 −0, 75 u4y 

 

 0 0 0 0 −1 0 −0, 25 0, 433 1, 25 −0, 433 u5x 

 
0 0 0 0 0 0 0, 433 −0, 75 −0, 433 0, 75 u5y

Assim, tem-se a seguinte equação matricial:

    
F1x 1, 25 0, 433 −0, 25 −0, 433 −1 0 0 0 0 0 u1x
F1y −0, 433 −0, 75
   0, 433 0, 75 0 0 0 0 0 0
 u1y

    
−0, −0, −0, 25 −1
    
 F2x   25 433 1, 5 0 0, 433 0 0 0  u2x 
    
 F2y   −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 −0, 75 0 0 0 0  u2y 
    
 F3x  E · A  −1 0 −0, 25 0, 433 2, 5 0 −0, 25 −0, 433 −1 0  u3x 
 =  · .
 F3y  L  0 0 0, 433 −0, 75 0 1, 5 −0, 433 −0, 75 0 0  u3y 
    
F4x 0 0 −1 0 −0, 25 −0, 433 1, 5 0 −0, 25 0, 433   u4x
    
   
    
 F4y   0 0 0 0 −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 −0, 75   u4y 
    
 F5x   0 0 0 0 −1 0 −0, 25 0, 433 1, 25 −0, 433   u5x 
F5y 0 0 0 0 0 0 0, 433 −0, 75 −0, 433 0, 75 u5y

Adicionando as condições de contorno conhecidas:

    
F1x 1, 25 0, 433 −0, 25 −0, 433 −1 0 0 0 0 0 0
F1y −0, 433 −0, 75
   0, 433 0, 75 0 0 0 0 0 0
 0

    
−0, −0, −0, 25 −1
    
 250000   25 433 1, 5 0 0, 433 0 0 0  u2x 
    
 −250000   −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 −0, 75 0 0 0 0  u2y 
    
 0  E · A  −1 0 −0, 25 0, 433 2, 5 0 −0, 25 −0, 433 −1 0  u3x 
 =  · .
 −100000  L  0 0 0, 433 −0, 75 0 1, 5 −0, 433 −0, 75 0 0  u3y 
    
0 0 0 −1 0 −0, 25 −0, 433 1, 5 0 −0, 25 0, 433   u4x
    
   
    
 −320000   0 0 0 0 −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 −0, 75   u4y 
    
 0   0 0 0 0 −1 0 −0, 25 0, 433 1, 25 −0, 433   u5x 
F5y 0 0 0 0 0 0 0, 433 −0, 75 −0, 433 0, 75 0

Eliminando as linhas e colunas correspondentes:

22
    

250000  
1, 5 0 −0, 25 0, 433 −1 0 0 u
  2x 
 −250000  −0, 75
    
 

 0 1, 5 0, 433 0 0 0   u2y 
 
    

 0 


 −0, 25 0, 433 2, 5 0 −0, 25 −0, 433 −1 
 u3x 

  E·A   
−100000 = 0, 433 −0, 75 0 1, 5 −0, 433 −0, 75 0 · u3y  .
    
  



 L 






 0 


 −1 0 −0, 25 −0, 433 1, 5 0 −0, 25 
 u4x 

    

 −320000 


 0 0 −0, 433 −0, 75 0 1, 5 0, 433 
 u4y 

    
0 0 0 −1 0 −0, 25 0, 433 1, 25 u5x

Calculando então a inversa da matriz:

 

1.8750 −0.5052 0.7500 −0.5773 1.3750 −0.3608 1.0000 
 −0.5052 1.2916 −0.4330 1.0000 −0.2165 0.5416 −0.5773 
 
 
 
 0.7500 −0.4330 1.0000 −0.2887 0.7500 −0.1443 1.0000 
 
 
−0.5773 1.0000 −0.2887 1.8333 0.0000 1.0000 −0.5773 .
 

 
 

 1.3750 −0.2165 0.7500 0.0000 1.8750 −0.0722 1.0000 

 

 −0.3608 0.5416 −0.1443 1.0000 −0.0722 1.2916 −0.5773 

 
1.0000 −0.5773 1.0000 −0.5773 1.0000 −0.5773 2.0000

Fazendo a multiplicação pelo vetor de forças e e dividindo pelas constantes:

    
u
 2x  
1.8750 −0.5052 0.7500 −0.5773 1.3750 −0.3608 1.0000   250000 
 −0.5052 1.2916 −0.4330 1.0000 −0.2165 0.5416 −0.5773   −250000 
    
 u2y 
    
    
 u3x   0.7500 −0.4330 1.0000 −0.2887 0.7500 −0.1443 1.0000   0 
    
  L   
= · −100000  .
 u3y   −0.5773 1.0000 −0.2887 1.8333 0.0000 1.0000 −0.5773   

  E·A
  
 u4x   1.3750 −0.2165 0.7500 0.0000 1.8750 −0.0722 1.0000   0 
    
     
u4y   −0.3608 0.5416 −0.1443 1.0000 −0.0722 1.2916 −0.5773   −320000 
     

     
u5x 1.0000 −0.5773 1.0000 −0.5773 1.0000 −0.5773 2.0000 0

23
Figura 18: Encontrando os valores dos deslocamentos no MATLAB.

Encontramos os deslocamentos de:


   
u
 2x  
1, 96 mm 
 −1, 84 mm 
   
 u2y 
   
   

 u3x 


 0, 94 mm 

   

 u3y  =
 
 −2, 29 mm  .

   
   

 u4x 


 1, 07 mm 

   

 u4y 


 −1, 88 mm 

   
u5x 1, 62 mm
Voltando à equação matricial e resolvendo, encontramos:
   
 F1x   −250 kN 
   
 =  209, 25 kN
 F1y   .
 
   
F5y 460.75 kN
O somatório das forças em x e y estão nulos, portanto, a solução é apropriada para o
problema. Agora, será visto a solução do mesmo problema por meio de um software.

24
4.3.2 Resolução por software

Com o auxı́lio do programa SolidWorks, já com o projeto desenhado, utilizando o


suplemento simulation, é aberto um novo estudo de análise estática e então só é necessária
aplicar as forças e definir onde não há deslocamento, já que o programa já reconhece os
nós das barras, chamando-os de juntas. É necessário também definir o material.

Figura 19: Passos iniciais para a realização da simulação no SolidWorks.

Após esses comandos, será exibido na tela a seguinte configuração:

Figura 20: Treliça já com as juntas evidenciadas.

Após isso, pode-se definir os acessórios de fixação do nó, tal qual livre ou com alguma
restrição e aplicar o material.

25
Figura 21: Continuação para a simulação.

Após isso, será exibida algumas propriedades do materias, o que interessa nesse caso
é o módulo de elasticidade. Após, só clicar em aplicar e fechar.

Figura 22: Propriedades do aço AISI 1020.

Segue-se com a criação de malha:

Figura 23: Criando a malha com cada barra sendo um elemento.

Após esse passo, será mostrada a seguinte configuração de malha:

26
Figura 24: Malha elementar, já com as forças aplicadas.

Feito isso, pode-se executar a simulação e obter os gráficos de deslocamentos.

Figura 25: Criando as plotagens de resultados.

Obtendo os seguintes gráficos:

Figura 26: Gráfico de deslocamentos em x .

27
Figura 27: Gráfico de deslocamentos em y.

Figura 28: Gráfico de deslocamentos resultantes.

Os valores são calculados apenas nos nós, mas são feitas interpolações sobre a extensão
das barras, afim de prever os valores para o seu interior. A seguir são mostrados os mesmos
resultados, porém para 50 elementos por barra:

28
Figura 29: Gráfico de deslocamentos em x para uma malha de 50 elementos por barra.

Figura 30: Gráfico de deslocamentos em y para a malha de 50 elementos por barra.

Figura 31: Gráficos de deslocamento resultante para a malha de 50 elementos por barra.

29
A diferença entre as análises é apenas a precisão na extensão de cada barra, tomando
uma forma mais real com mais elementos. Com o recurso de sonda, é possı́vel analisar os
deslocamentos exatamente nos nós (juntas):

Figura 32: Valores de deslocamento no eixo x para as duas malhas.

30
Figura 33: Valores de deslocamento no eixo y para as duas malhas.

Observa-se que os valores encontrados para os deslocamentos nos nós são os mesmos
para ambas as malhas e muito próximos aos valores encontrados através da resolução
manual (erros de aproximação), confirmando a eficiência do método. Há alguns erros
para alguns deslocamentos que deveriam ser nulos, mas isso pode ser relevado devido a
ordem de grandeza insignificante apresentada (10−9 e10−11 ).

31
5 Distribuição de calor

5.1 Definindo o elemento para condução de calor


A condução de calor ocorre quando há diferença de temperatura em corpos encostados
ou em partes de um mesmo corpo, sempre caminhando para o equilı́brio das temperaturas,
sempre no sentido do corpo de maior temperatura para o de menor temperatura. A lei
que relaciona a condução de calor em uma direção com a variação de temperatura nessa
direção é a lei de Fourier(homenagem à Jean-Baptiste Joseph Fourier, 1768-1830), que
estabelece:

dT
qx = −kA . (34)
dx
Onde qx é a taxa de transferência de calor na direção x, dada em Watts(W), k é a
condutividade térmica do corpo, dada em W/(mK), que depende do material empregado
e A é a área de seção transversal normal ao eixo x, como em uma barra. Novamente, será
trabalhado com problemas unidimensionais e em regime permanente (sem variação com
o tempo).

Figura 34: Exemplos de objetos unidimensionais e condução de calor neles. Uma barra es-
belta e uma parede cujas dimensões nas outras direções são muito maiores que a espessura
em x.

Para um elemento finito, é feita uma aproximação linear das temperaturas nos seus

32
nós. Sendo assim, o diferencial da temperatura em função de x é substiuı́do pela razão
entre a diferença de temperatura nos nós e o comprimento do elemento, dessa forma:

(e) (Tj − Ti )
qi = −kA . (35)
L
Semelhante à equação do equilı́brio para as forças, tem-se a conservação de energia
no elemento, onde a soma das taxas de transferência de calor nos nós deve ser nula,
considerando o sistema isolado nas superfı́cies laterais, tendo assim:

(e) (e)
qi + qj = 0. (36)

E portanto,

(e) (Tj − Ti )
qj = +kA . (37)
L
Deixando na forma matricial, tem-se
     
 qi  kA  1 −1   Ti 
= · . (38)
L
 
qj −1 1 Tj
Observando a equação acima, tendo visto já todo o processo para a resolução dos
exercı́cios de deformação em barras, já é possı́vel saber como prosseguir para a resolução
esse tipo de problema, o que muda é que as forças são substituı́das pelas cargas térmicas,
os deslocamentos nodais pelas temperaturas e o módulo de Young pela condutividade
térmica do material. No entanto, o processo é o mesmo.
Além de condução no corpo pode haver também convecção nos contornos, por exemplo,
uma barra sendo esfriada por um fluido que cerca a extremidade com uma temperatura
diferente da barra. Ou um fluido cercando a superfı́cie de uma parede. Nesses casos,
tem-se uma quantidade de calor transferida por convecção que é dada por:

qh = hCV S(T ∞ − T ). (39)

Onde, hCV é o coeficiente de convecção na superfı́cie, S é a área da superfı́cie molhada


pelo fluido , T ∞ é a temperatura do fluido e T a temperatura no nó. Para resolver
problemas com conveção nos contornos, basta adicionar essa equação ao vetor de cargas
térmicas, sendo neccessário depois manipular o sistema para que o valor da temperatura
no nó não esteja presente no vetor e passe para a matriz de condutividade, multiplicando

33
o vetor de temperaturas. O problema a seguir trata-se da composição da parede de um
tanque, apresenta a condição de conveção, e será feita a resolução detalhadamente.

5.2 Problema
Uma parede de isolamento térmico de um tanque é composta de três camadas isolan-
tes de materiais distintos com diferentes espessuras. A face interna do tanque, dadas as
condições do fluido, apresenta temperatura na superfı́cie de 200◦ C = 473, 15K. Na face
externa, circula um fluido refrigerante à temperatura de 30◦ C = 303, 15K com um coefi-
ciente de convecção de hCV = 40W/(m2 K). Determine a distribuição de temperatura na
parede. A figura ilustra uma seção transversal da parede com suas três camadas isolantes,
respectivas espessuras e coeficiente h de condução de calor.

Figura 35: Representação da seção transversal da parede do tanque. Problema Exercı́cio


retirado do livro Cosmos, Plataforma CAE do SolidWorks. [2]

5.2.1 Resolução Manual

Para modelar o sistema, será usado apenas um elemento para cada camada da parede.
Não é fornecida informação da área da parede, o que pode ser feito é definir uma área
unitária, de tal forma que os valores das temperaturas sejam os reais, mas o valor encon-
trado para as cargas térmicas são dados por unidade de área. Dessa forma, tem-se 4 nós
e 3 elementos.
Começando por determinar as matrizes de condutividade de cada elemento e assim
estabelecer a matriz de condutividade total da parede do tanque.
Para o elemento 1, com k = 0, 2256 W/mK, A = 1m2 e L = 0, 050 m:

34
 
 T1 T2 T3 T4 . 
 

 4, 5120 −4, 1520 0 0 T1 

 
−4, 5120 4, 5120 0 0 T2  .
 

 
 

 0 0 0 0 T3 

 
0 0 0 0 T4
Para o elemento 2, com k = 0, 14 W/mK, A = 1m2 e L = 0, 150 m:
 
 T1 T2 T3 T4 . 
 
 0 0 0 0 T1 
 
 
0 0, 9333 −0, 9333 0 T2  .
 

 
 

 0 −0, 9333 0, 9333 0 T3 

 
0 0 0 0 T4
Para o elemento 2, com k = 200 W/mK, A = 1m2 e L = 0, 100 m
 
 T1 T2 T3 T4 . 
 
 0 0 0 0 T1 
 
 
0 0 0 0 T2  .
 

 
 

 0 0 2000 −2000 T3 

 
0 0 −2000 2000 T4
Somando as três matrizes, obtém-se:
 
 T1 T2 T3 T4 . 
 

 4, 5120 −4, 5120 0 0 T1 

 

 −4, 5120 5, 4453 −0, 9333 0 T2 

.
 
 

 0 −0, 9333 2000, 9333 −2000 T3 

 
0 0 −2000 2000 T4
Assim, a equação matricial fica:
     
Q
 1  
4, 5120 −4, 5120 0 0 
T
 1 
     
 Q2   −4, 5120 5, 4453 −0, 9333 0   T2 
= · . (40)
     
 

 Q3 


 0 −0, 9333 2000, 9333 −2000  
  T3 

     
Q4 0 0 −2000 2000 T4
Adicionando as condições de contorno conhecidas:

35
- Foi dada a temperatura no nó 1 de 200◦ C, na qual não é necessário realizar a con-
versão para Kelvin, já que a variação de temperatura nas duas escalas são correspondentes,
sendo assim se chegará ao mesmo resultado.
- Nós nós 2 e 3 não há qualquer adição de calor, nem convecção, apenas condução.
- Já no nó 4, tem-se a convecção do fluido refrigerante na face externa do tanque, o
qual tem a área também de 1 m2 , coeficiente hCV = 40W/(m2 K) e a temperatura do
fluido é de 30◦ C.
Tendo o seguinte:

     

Q1  
4, 5120 −4, 5120 0 0  
200 
     
 0   −4, 5120 5, 4453 −0, 9333 0   T2 
= · . (41)
     
 

 0 


 0 −0, 9333 2000, 9333 −2000  
  T3 

     
40(30 − T4 ) 0 0 −2000 2000 T4

Separando o vetor das cargas em dois vetores, para passar o valor de T4 para o produto
das matrizes do lado direito:

       

Q1  
0  
4, 5120 −4, 5120 0 0  
200 
       
 0   0   −4, 5120 5, 4453 −0, 9333 0   T2 
− = · . (42)
       
 

 0  
  0 


 0 −0, 9333 2000, 9333 −2000  
  T3 

       
1200 40 · T4 0 0 −2000 2000 T4

Assim, a equação se torna:


     

Q1  
4, 5120 −4, 5120 0 0  
200 
     
 0   −4, 5120 5, 4453 −0, 9333 0   T2 
= · . (43)
     
  

 0 


 0 −0, 9333 2000, 9333 −2000  
  T3 

     
1200 0 0 −2000 2040 T4
Da mesma forma que foi feito nos problemas anteriores, pode-se excluir as linhas em
que não é conhecido o valor da carga, no caso, a primeira linha. Porém, para eliminar a
coluna referente ao valor conhecido de temperatura, primeira coluna, é necessário multi-
plicar o vetor coluna pelo valor da temperatura e passar para o lado das cargas, já que o
valor de temperatura não é nulo, como eram os deslocamentos nos nós fixos.
Da seguinte forma:

36
       
 0   4, 5120   5, 4453 −0, 9333 0   T2 
       
 0  + 200 ·  0  =  −0, 9333 2000, 9333 −2000  ·  T  . (44)
       3 
       
1200 0 0 −2000 2040 T4

Assim, é obtido a seguinte equação, que pode ser resolvida invertendo-se a matriz
quadrada das condutividades e fazendo a multiplicação.
     
 902, 4   5, 4453 −0, 9333 0   T2 
     
 ·  T .
0   =  −0, 9333 2000, 9333 −2000 (45)
 
   3 
     
1200 0 −2000 2040 T4
Encontrando a matriz inversa e fazendo a multiplicação, com o auxı́lio do MATLAB,
é determinado todas as temperaturas nas superfı́cies das camadas.

Figura 36: Encontrando os valores das temperaturas nodais.

T2 = 171, 43◦ C
T3 = 33, 29◦ C .
T4 = 33, 22◦ C
Voltando à equação 45, é possı́vel encontrar também a quantidade de calor por unidade
de área (lembrando que foi definido o elemento com área unitária) que é fornecida a parede
interna do forno:

Q1 = 128, 92 W/m2 .

Com isso, foi possı́vel encontrar todos os valores de temperatura solicitados, analı́ticamente.
A seguir será feita a resolução com o SolidWorks e será possı́vel comparar os resultados
encontrados.

37
5.2.2 Resolução por software

O primeiro passo é construir as camadas da parede, separadamente e depois fazer a


montagem das três. Aplicando o material correspondente em cada uma que apresente os
mesmos valores de condutividade térmica. As espessuras devem ser as mesmas apresen-
tadas no problema, já as outras dimensões não importa o comprimento, desde que sejam
consideravelmente maiores que a espessura.

Figura 37: Modelo da parede do tanque, pronto para a análise térmica.

Tabela 2: Propriedades dos materiais das paredes.


Corpo Material k(W/(mK))
Parede 1 Plástico ABS 0,2256
Parede 2 Borracha 0,14
Parede 3 Liga 1060 200

Novamente vá até a aba simulation, novo estudo, mas agora é escolhida a opção de
análise “Térmico”.

38
Figura 38: Inicialização da análise térmica.

O programa já identifica a condição de contato das camadas como todas unidas, assim
as faces ficam totalmente grudadas uma a outra.
Depois, basta adicionar a condição de temperatura na face interna e a de convecção
na face externa, com os dados que foram dados no enunciado e criar a malha. Não
será necessário fazer o refinamento de malha, deixando a opção padrão fornecida pelo
programa.

Figura 39: Definindo as condições de contorno nas faces internas e externas do tanque e
criando a malha.

39
Figura 40: Condições de contorno de temperatura na parede interna e de conveção na
parede externa.

Figura 41: Malha criada em todas as paredes do tanque.

O próximo passo já é executar o estudo, assim será processado e fornecido o gráfico
de distribuição da temperatura em toda a extensão da parede.

40
Figura 42: Gráfico da distribuição de temperatura em cada posição na parede.

É possı́vel perceber no diagrama que o fluido refrigerante na face externa do tanque


está esfriando com eficiência boa parte da parede do tanque.
Aplicando o recurso de sonda nas arestas de cada camada, que representam os nós da
análise manual feita anteriormente, são encontrados os seguintes valores de temperatura:

Figura 43: Temperaturas nas faces de contato entre as camadas da parede.

T1 = 200◦ C , T2 = 171, 425◦ C , T3 = 33, 288◦ C , T4 = 33, 223◦ C

O resultado encontrado aqui, novamente, foi igual ao encontrado pelos cálculos matri-
ciais. Mostrando ser eficiente o uso do software para resolver esse tipo de problema.

41
6 Conclusão
Com os estudos realizados e com os vários problemas apresentados e solucionados foi
possı́vel introduzir uma boa base inicial (teórica e prática) para a análise com elementos
finitos, de forma bem clara e objetiva.
Começando com as análises lineares mais simples pode-se mostrar como o método é
desenvolvido e como os softwares são uma ferramenta essencial para o engenheiro que irá
trabalhar com projetos. As comparações feitas com os valores analı́ticos mostraram uma
precisão muito boa.
O conteúdo visto no projeto anterior foi de grande importância para o desenvolvimento
deste trabalho, em que foram utilizados muitas propriedades e cálculos matriciais. Como
estudo futuro, seria interessante prosseguir para uma análise mais complexa, como análises
não lineares ou dinâmicas, que estão muito presentes nos projetos reais de engenharia.

42
Referências
[1] BEER. Ferdinand P. Mecânica dos materiais, 7.ed. - Porto Alegre: AMGH,
2015.

[2] FIALHO, Arivelto B. Cosmos, Plataforma CAE do SolidWorks, 1.ed. -


São Paulo: Érica, 2008.

[3] KIM, Nam-Ho e SANKAR, Bhavani V. Introdução à análise e ao projeto


em elementos finitos, 1.ed. - Rio de Janeiro: LTC, 2011.

[4] O.C. Zienkiewicz, R.L. Taylor The finite Element Method: The basis,
Vol. 1 - 5.ed. - Butterworth-Heinemann, 2000.

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