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Criado coletivamente há 6 décadas, por quase 2000 artistas, a companhia
completou 60 anos em 2018. A travessia do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona,
grávido da primavera de 2018 pra 2019, sincrônica à ascensão do
néo-empre$ariali$mo totalitário no estado democrático brasileiro, aposta na
paixão popular que sagrou a encenação de RODA VIVA, de Chico Buarque em
1968, reconsagrada em temporada de sucesso em 2018 e 2019.
A peça, com 2 meses de ensaios patrocinados pelo Itaú Cultural, estreou no
Teatro Sanduíche do Sesc Pompéia de Lina Bo Bardi, dm 4 sessões: 06, 07, 08 e
09 de dezembro de 2018.
E logo depois, no dia 23 de dezembro de 2018, às 14h30, nos 31 anos da
Ethernidade de Luís Antônio Martinez Correa, RODA VIVA estreou no Teat(r)o
Oficina, em cartaz até 10 de fevereiro, de sexta a domingo. Todas as 28 sessões
estiveram completamente lotadas. Agora, após pausa de carnaval, a companhia
volta com a temporada até 2 de junho, com ingressos disponíveis.
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CHICO BUARQUE NO ENSAIO DE RODA VIVA | ACERVO TEATRO OFICINA
Chico Buarque de Holanda escreveu RODA VIVA depois de assistir O REI DA
VELA. O espetáculo de 1967, que revolucionou a encenação teatral no país, é
considerado pela crítica como a primeira encenação essencialmente brasileira
pois acrescentou em sua montagem elementos anti literários da cultura
nacional: circo, revista, literatura surreal, carnaval, a chanchada, a anarquia, o
deboche. Lendo RODA VIVA, compreende-se a peça como uma resposta, ou
uma proposta alternativa de continuidade para a peça de Oswald de Andrade
encenada por José Celso, que foi quem o jovem Chico Buarque, com 24 anos,
convidou para encenar seu primeiro texto teatral, juntamente com o cenógrafo e
figurinista Flávio Império.
E foi no final de 1967 e início de 68 que o coro de RODA VIVA transformou
radicalmente o Teat(r)o Oficina. A multidão que tomou o espaço do
protagonismo era uma geração que trazia em si todas as revoluções.
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CORO DE RODA VIVA | ACERVO FLÁVIO IMPÉRIO
Inaugurou-se ali a linguagem coral no teatro brasileiro, um retorno aos ritos, aos
dityrambos gregos, à pré-lógica indígena, a descolonizar e radicalizar o fazer
teatral em plena ditadura militar no Brasil, em pleno nascimento da Tropicália,
movimento cultural antropófago. Se em 68 o coro de RODA VIVA quebrou a
quarta parede entre palco e plateia, misturou e modificou o moderno teatro
brasileiro, e consequentemente o teatro contemporâneo, hoje, 50 anos depois, a
bola do coro de 68 foi recebida pelo coro de 2018, com a direção de quebrar
todas as paredes, em escala urbana. A religação do povo com a Cultura e da
Cultura com o povo.
“Stamos inspirados pra contracenar com estes tempos.
Anarcos coroados, bárbaros tecnizados contracenado com a democracia da
oposição y o estranho estado frankstein sendo fabricado pela situação, além do
além, isto é, aqui agora. Vivemos a emoção de criar teatro pra todos humanos. A
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luta da arte ao vivo q é o teatro, é a mesma de todxs q querem viver a vida ao vivo;
em liberdade; sem a captura pela máquina de matrix implantada pelo modus
vivendi do capitali$mo robótico; sem perestroika empresalista.” Z é Celso
SINOPSE
A dramaturgia de Roda Viva é a ascensão e queda de Benedito Silva (Roderick
Himeros), cantor e compositor de sucesso inventado e fabricado pela mídia. A
trama se desenvolve pelas intervenções do Anjo da Guarda (Gui Calzavara) e do
Capeta (Joana Medeiros), que fazem de Benedito o cantor de grande sucesso
popular Ben Silver. Mané (Marcelo Drummond), amigo de juventude do
protagonista, durante todo o espetáculo fica na mesa de bar, como um fio terra
de Benedito que tem sua genialidade fabricada e ininterruptamente monitorada
e redirigida pelos índices de popularidade. Assim, Ben Silver, o herói pop é
transformado em Benedito Lampião, cantor “bem brasileiro, bem violento,
cantando baião e marcando o ritmo na queixada”. Quando ele enfim é devorado
pelo coro, sua esposa, Juliana (Camila Mota), o substitui como novo ícone da
cultura, mas liberta da formatação, com um acordo cosmopolítico de produção.
Da dramaturgia original, canções que depois tornaram-se famosas no repertório
do autor, como Roda Viva e Sem fantasia. Na montagem de 2018 foram
incorporadas a obra prima de 2017 Caravanas e a bossa nova Cordão.
A primeira montagem acontece em 1968, ano emblemático de ebulição política e
cultural no mundo. Na encenação, Zé Celso dá espaço para um novo agente que
leva a dramaturgia adiante: o coro é o grande provocador de Benedito e sua
dupla de empresários, já que a entidade múltipla e diversa vai se transfigurando
e incorporando os sucessos e fracassos do ídolo construído. Neste 2018, a
companhia põe em cena, pra além do show business, a criação e devoração dos
mitos e messias do aqui e agora.
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R$5 (estudantes secundaristas de escola pública, imigrantes, refugiados, moradores de movimentos
sociais de luta por moradia) – limitados à 10% da lotação diária
https://www.compreingressos.com/rodaviva
Local: TEATRO OFICINA UZYNA UZONA- Rua Jaceguai, 520 - Bixiga, São Paulo, SP
Duração: 3H30 (com intervalo de 15 minutos)
Indicação etária: 14 anos
INGRESSOS ANTECIPADOS: bit.ly/rodavivanoOficina
RODA VIVA 2018 | FICHA TÉCNICA
Texto: Chico Buarque
Versão 2018: Zé Celso
e Coro Teatro Oficina 2018
Diretor: Zé Celso
Conselheira Poeta: Catherine Hirsch
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Diretor Musical: Felipe Botelho
Violoncelo: Amanda Ferraresi
Bateria: André Santana
Percussão: Carina Iglecias
Baixo: Felipe Botelho
Piano: Giuliano Ferrari
Percussão: Ito Alves
Guitarra: Moita Mattos
Preparação vocal: Beth Amin
Preparação rítmica: Ito Alves
Sonoplasta: Gustavo Lemos
Coreógrafo: Ibrahima Sarr
Preparação dos corpos Seneafrica e Höröyá:
Ibrahima Sarr, André Ricardo, Birima Mbaye, Moustapha Dieng e Aziz Mbaye
Tradutor: Mamadou Sarr
Desenho de Luz: Guilherme Bonfanti
Diretor de Cena: Otto Barros
Assistente da Direção de Cena: Felipe Wircker
Arquitetura Cênica e Direção de Arte: Carila Matzenbacher e Marília Gallmeister
Assistente: Marcelo X
Coordenador de Cenotecnia: Alício Silva
Equipe De Cenotecnia: Cleiton Willy, Reginaldo Nascimento, Francolino Gomes,
Renato Silva, Igor Gomes, Leandro Bruno, Claudemi Bruno, Gilberto Feli, Sabino Orosco
e Cássio Omae
Pirâmide: Fina Serralheria
Objetos Cênicos TVs, Nets, Mulher Veneno,
Boneco Ben Silver: Ricardo Costa.
Assistentes: Abmael Henrique e Rafael Lopes
Cata-Vento Fachada: Fernando Brettas – Ono-Zone Estúdio
Pintura Artística: Vincent Guilnoto
Maquiagem e Figurino: Sonia Ushiyama
Assistente de Figurino: Selma Paiva e Marcio Tassinari
Camareira: Cida Melo
Assistentes de Iluminação: Luana Della Crist, Pedro Felizes e Padu Palmério
Operadora da Luz: Cyntia Monteiro
Operadores de Canhão Seguidor: Pedro Felizes, Ana Gabriela Rossetto e Filipe Sampaio
Estagiários da Luz: Ananda Giuliani e Guilherme Soares
Movings Lights: Camilo Bonfanti
Criação em 3D: Daniele Meirelles
Conselheiro Poeta da Luz: Chico Turbiani
Montadores de luz: Gabriele Souza, Diego F F Soares, Alexandre Souza e Vinícius Hideki
Ramos
Agradecimento a Grissel Piguillem
Operadora de Som: Camila Fonseca
Assistente de Som e Microfonista: Clevinho Ferreira
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Cinema ao vivo: Cecília Lucchesi e Igor Marotti
Direção de Produção e Estratégia:
Camila Mota, Marcelo Drummond e Zé Celso
Produtor Executivo e Administrador:
Anderson Puchetti
Produtores: Ana Sette e Ederson Barroso
Comunicação, Editoração
do Programa e Textos: Brenda Amaral,
Cafira Zoé e Camila Mota
Design Gráfico e Publicidade: Igor Marotti
Projeto Gráfico do Programa:
Igor Marotti, Cecília Lucchesi e Marcelo X
Transcrição da entrevista com Zezé Motta: Danielle Rosa
Pesquisa de Imagiário
e Makumbas Gráphicas:
Cafira Zoé e Camila Mota
Assessoria de Imprensa: Brenda Amaral
Fotografias: Jennifer Glass
Tradução para inglês e revisões de texto: Maria Bitarello
Tradução para francês: Mamadou Sarr
Arquivista: Thais Sandrini
RODA VIVA
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FOTO JENNIFER GLASS
Fernanda Montenegro, Xamã do Teatro, em entrevista recente nos alerta:
quando o teatro vai mal, o país vai mal. A primeira montagem de RODA VIVA foi
atacada y interrompida brutalmente pelo Comando de Caça aos Comunistas
(CCC) na Ditadura Civil Militar. Roda Viva é acontecimento. Nesse momento de
censura, perseguição e criminalização de artistas, de linguagens, de liberdades, o
Teatro Oficina monta RODA VIVA como uma prática da paixão e das potências
transhumanas, na perspectiva cosmopolítica no AQUI AGORA de 2018. Labaredas
em tempos de insurreição!
Os coros das ruas de 68, com o fogo do tempo encarnado nos corpos, na alegria
da percepção do aqui e agora em todo o mundo, invadiram a encenacão de
RODA VIVA. Coros gregos retornaram ao teatro e com eles, o prazer de se
dissolver na multidão.
A encenação de RODA VIVA sofreu um corte violento: – a invasão do teatro e o
espancamento dos atores em São Paulo pelo CCC, comando de caça ao
comunistas; e pelo 3ª exército, em Porto Alegre. E em seguida, o decreto do AI 5,
que instaurou o período mais sombrio da Ditadura Militar. Essa interrupção teve
conseqüencias irreparáveis na produção artística brasileira. Além da censura aos
espetáculos, o público foi proibido de frequentar muitos teatros. O Teatro, arte
que desde o Teatro Brasileiro de Comédia floresceu como linguagem, com esse
corte nunca mais se recuperou.
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ANJO
Nós vamos começar pêlo…
Modo de apresentação
Hummm... um Tapa no Cabelo
Vai um terno Prateado
Mas no Estilo Militar
q hoje está muito falado
com a Santa Eleição
Na Barriga um Cinturão
e um 38 na mão!
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Thiago (Capeta), Paulo César Pereio (Mané), Rodrigo Santiago, Valquíria
Mamberti, Hamilton Monteiro, Ruth Escobar, Ada Gauss, Alceste Castellani,
Angela Vasconcellos, Fernando Reski, Maria Alice Camargo , Zezé Motta , Angela
Falcão, Eudósia Acuña, Érico Vidal, Fábio Camargo, Jura Otero, Pedro Paulo
Rangel, Samuel Costa Júnior, André Valli, Antônio Vasconcelos, Maria Alice Faria,
Margot Baird; os músicos Leão, Brechov, Tião, Zelão, Guaxinim e Alex.
CORO
Aleluuiá
Falta Feijão
Na Nossa Cuuiá
Falta Urna
Pro Meu Vóto
Devóto
Alelululuia!
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CORO DE RODA VIVA + CENOGRAFIA DE FLÁVIO IMPÉRIO | ACERVO FLÁVIO IMPÉRIO
“Em 1968 fiz Roda Vida, um texto do Chico Buarque. "Que tal estruturá-lo, na
montagem, como se fosse uma missa?" propôs Zé Celso. "Uma Missa?" Tudo bem, se
você acha é porque teve uma intuição ..." respondi.
Percorri então todo o baixo catolicismo carioca. Saí a campo e fui a tudo quanto
era capela acender vela, santuário com santinho, tudo quanto era coisa mais
próxima do candomblé, baixo espiritismo. Juntei tudo isso a imagem de um
Santo que achei sempre com cara de iê-iê-iê, que é o "Menino de Jesus de
Praga". Acho que porque ele tem sempre um manto todo prateado e uns grandes
punhos ao redor da mão. Um microfone naquilo resolveria, na minha opinião, a
imagem do santo glorificado por uma platéia que confunde muito gente com
herói. Achei esse gancho. O Zé montou uma estrutura em cima da missa e
começamos a trabalhar os intervalos que iam desde a coisa conservadora do
pensamento brasileiro até aquilo que parece ser a coisa menos conservadora do
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pensamento brasileiro, a chamada vanguarda. Entre um e outro foi ficando
caracterizada uma visão distante e crítica dos momentos de glória do cantor de
rock, dos momentos de glória nordestinos, dos momentos de glória do cantor
festivo, dos momentos de glória de todos os cantores e do processo de venda
dessas cantores que a televisão faz. Então o palco era a grande boca de cena de
televisão.
No alto, São Jorge e um vasinho com uma rosa bem grande, como se fosse uma
coisa "pop" (estávamos no tempo dos "Lichtensteins") e do outro lado coloquei
uma grande garrafa de Coca cola e o Pereio sentado a uma mesinha que era o
bar. A coisa aconteceu nesse universo que eu via como se fosse uma mesinha
brasileira de canto de sala, que vai desde as saletas da favela até os salões, onde
está situado o aparelho de televisão. Só que cada espectador se via refletido, de
algum modo, no personagem que estava em cena. Foi uma leitura mais
sociológica, digamos assim, que eu comecei a fazer em cima dos personagens,
criando um imaginário simbólico para cada um.
Pedi para trabalhar com uns caras que trabalhavam com o Chacrinha. Tive o
maior prazer de trabalhar com uns artesãos incríveis que inventaram as roupas
dele. Além disso, contei também com as costureiras convencionais de teatro e
montamos uma equipe. Muitas vezes o pessoal do Chacrinha começava o
trabalho e eu terminava porque havia muita coisa para ser feita. Às vezes a
própria equipe do atelier do teatro começava e eu terminava para que o
acabamento, que contava, em geral, com tantas origens, tivesse uma linguagem
mais ou menos unificada, que eu chamaria de Kitsch nacional. ”
FLÁVIO IMPÉRIO
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Nacional, o cara que gosta de música pop, o cara que começou a misturar, comer
tudo, comer de tudo.
Roda viva não foi feito nem pelo Chico, nem pelo Flávio, nem por mim, foi feito
por aquela multidão do coro. Os protagonistas não tinham a importância que
tinha o coro. Mas na época os fotógrafos eram tão condicionados, que
fotografaram só o palco, é raríssimo você ver fotografias do coro, que se
espalhava no meio da platéia.
Os figurinos eram roupas rituais. O Flávio, como o Hélio Oiticica, faz falta porque
não há mais a ideia do ritual. O Flávio fez figurinos rituais, de tal maneira que, no
momento em que você entra em um deles, está incorporado. Ele desenvolveu
essa história de paramentação de uma maneira muito especial e original, uma
forma ritualística de criação que me lembra o Bispo do Rosário, curtida em cada
detalhe por suas próprias mãos.
Quer dizer, Roda viva, foi, é uma revolução. Todo o meu trabalho a partir de
então, se transformou radicalmente.
Roda viva foi feito no final de 1967, em dezembro, o espetáculo foi levantado em
17 dias. Não dá para explicar como é que foi possível, em 17 dias aquilo ficou de
pé.”
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Janelão, TEAT(R)O OFICINA | foto mário pizzi
Fundada em 1958, a Companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona mistura em seus
ritos teat(r)ais música, artes plásticas, vídeo, cinema, arquitetura, urbanismo,
dança, poesia, em processos de co-criação entre artistas. A BIGORNA, lugar
onde se forja o ferro e o corpo, onde se transforma e interpreta a vida, é símbolo
da companhia desde sua fundação – uma bigorna de ferro foi colocada por Lina
Bo Bardi na fachada do edifício, na cabeça. Nos anos 70 a Companhia Foi
censurada e exilada pelo regime militar, reexistindo em Portugal com a
apresentação de espetáculos em fábricas durante a Revolução dos Cravos, e com
a realização de obras cinematográficas tanto em Portugal quanto em
Moçambique, Inglaterra e França. Com a abertura política lenta, gradual e
restrita, a Companhia foi, aos poucos, retomando as atividades no Brasil. Em
1984, transformou-se em Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona.
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O Oficina constituiu-se como uma Companhia múltipla e singular frente às
formações teatrais e demais companhias existentes hoje – não só pelo número
de componentes e amplo repertório trabalhado, mas principalmente pela
variedade de gerações presentes partilhando conhecimentos e processos de
criação. Mais de 2000 artistas, ao longo de quase sessenta anos, trabalharam na
companhia.
Dirigida por José Celso Martinez Correa, nas muitas décadas desta existência o
Teat(r)o Oficina consolidou-se como um lugar de produção de arte e
conhecimento e em 2018 chega aos 60 anos e deseja um financiamento que
corresponda à grandeza de seu patrimônio artístico, arquitetônico e cultural. O
edifício do Teatro Oficina já viveu grandes transformações em três projetos
arquitetônicos: o 1º desenhado por Joaquim Guedes, inaugurado em 1961 foi
incendiado por grupos paramilitares em 1966. Em 1967 entra em cena o projeto
de Flávio Império, com o palco giratório de O Rei da Vela.
Eleito em 2015 pelo Th e Guardian c omo o mais bonito e intenso teatro do
mundo, o 3º Teatro Oficina, belíssimo projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi e
Edson Elito, criado com a companhia, estreou com Ham-let, de Shakespeare, em
93 com enorme repercussão, seguido de montagens que até hoje fazem parte do
repertório da companhia como Bacantes, de Eurípedes e Os Sertões a partir do
livro vingador de Euclides da Cunha. Esse repertório é intenso pela força
estética, vibrante, política de seus espetáculos numa indissociação entre
encenação e arquitetura. Mais que um grupo, o TEAT(R)O OFICINA é um
movimento, uma eletricidade, que coloca em cena a arte e a cultura como
infraestruturas da vida. Criamos incessantemente, tendo a antropofagia como
linha estética da Companhia e uma perspectiva cosmopolítica como seiva que
nos desperta para a cidade e afia as encenações com o aqui agora da pulsão da
vida.
Em 2017/2018, a Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona realizou a proeza de
manter-se em cartaz em um ano de crise absoluta. A Companhia, desde a sua
fundação, já atravessou inúmeras crises e se reinventou esteticamente a partir
da relação concreta com o tempo, o espaço e o corpo dos atuadores do Teatro
Total. Nas crises se cria, quer se queira ou não. Uma companhia de teatro
permanente é um laboratório humano, um microcosmo de experiência coletiva –
um dos grandes desafios da contemporânea idade. Em uma companhia se
desenvolve o ser estar, o viver coletivo respirando a Criação na Crise.
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O TEATRO É A ARTE DO ENCONTRO AO VIVO. Somos um teatro de coro, que
atua com a multidão, ligado à vida, às cidades, à terra.
A grave crise política que vivemos se revela na igualmente grave y sintomática
falta de políticas públicas de incentivo à cultura. Em 2016, perdemos o patrocínio
da Petrobras, que por 11 anos nos fomentou o trabalho, a pesquisa y a criação. O
resultado dessa interrupção ameaça a continuidade, em plena potência, deste
trabalho tão valioso.
O investimento público nessas áreas nos últimos dois anos teve uma drástica
redução, e a partir de agora ainda mais, correndo o risco de deixar uma cicatriz
irreversível na formação cultural brasileira. Caminhamos a passos largos para um
emburrecimento geral da nação. Artistas vêm sendo perseguidos, censurados y
proibidos de trabalhar pelos governos y por parte da sociedade civil. Com o
Teat(r)o Oficina não é diferente. Somos hoje a Companhia de Teatro mais
longeva em atividade no país y, no entanto, pela nossa linguagem, pela nossa
dimensão, pela nossa maneira de existir, vivemos uma real ameaça de extinção:
Como as Baleias Azul, os Recifes de Corais, ESTAMOS VIVOS.
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