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CTR-ECA-USP
2
AGRADECIMENTOS
À Katia, minha mãe, que me cobrou foco e concentração nos estudos, aos meus
colegas do curso, pelos trabalhos em equipe e as discussões em sala, aos meus colegas
do movimento estudantil, pelos ensinamentos na luta por uma educação pública, aos
professores que me deram aula, com quem aprendi muito sobre audiovisual,
comunicações e artes, e a todos que trabalham no departamento, pela estrutura
fornecida.
3
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
4
SUMÁRIO
Introdução .................................................................................................................... 6
Conclusão .................................................................................................................... 52
Bibliografia ................................................................................................................... 53
Anexos ......................................................................................................................... 54
5
INTRODUÇÃO
“Não por acaso, o gasto público que mais aumenta no Brasil, desde a ditadura
militar, é o gasto com propaganda de governo. Governar, que já foi sinônimo de
fazer obras, é hoje sinônimo de fazer propaganda 1”.
6
R$ 9,8 milhões em 2008; R$ 44 milhões em 2010; R$ 30 milhões em 2012 e R$ 60,5
milhões em 2014. Um total de R$ 158 milhões. (Maklouf Carvalho 2015: 19).
7
Capítulo 1: Descrição dos programas
Número do programa: 1
Candidato: Aécio
8
Número do programa: 1
Candidato: Dilma
9
Número do programa: 2
Candidato: Aécio
Roupa do candidato: Camisa branca, terno cinza, gravata azul (roupa do debate)
10
Número do programa: 2
Candidato: Dilma
Sinopse: Apresentadores-povo falam bem de Dilma; fala Dilma, "tolerância zero" contra
corrupção; animação das 5 medidas do "Brasil sem impunidade"; Dilma explica mais as 5
medidas; apresentador-intelectual denuncia casos de corrupção PSDB sem julgamento;
locutor over denuncia cerco à imprensa em Minas e vitória do PT em Minas; animação de
propostas: saúde e transportes; realizações em SP: transportes, Mais Médicos, educação,
moradia; Dilma visita casa de moradora Minha Casa, Minha Vida; Dilma em campanha no
NE; apresentador-intelectual faz fala genérica sobre democracia.
11
Número do programa: 3
Candidato: Aécio
12
Número do programa: 3
Candidato: Dilma
13
Número do programa: 4
Candidato: Aécio
14
Número do programa: 4
Candidato: Dilma
Sinopse: Dilma começa falando das crianças; apresentador compara situação de rua
antes de depois dos governos do PT e chama Bolsa Família; psicóloga explica políticas
sociais que acompanham Bolsa Família, com imagens de jovens na escola;
apresentadora apresenta mais números da área da educação; ficção com fotos apresenta
mapa da fome; animação compara 2002 com 2014: PIB, construção de escolas técnicas e
acesso às universidades; Dilma diz que o Brasil mudou, reafirma "dois princípios";
esquete sombria com ator apresenta propostas de combate à corrupção; animação de
propostas sobre saúde e segurança; realizações no RJ; imagens de campanha na rua,
povo fala por Dilma e contra Aécio; encontro com neta e música com crianças; Dilma em
over desejando feliz dia das crianças e de Nossa Senhora Aparecida; fechamento com
crianças negras sentadas em caixas com dizeres "Mais mudanças, mais futuro", do
primeiro turno.
15
Número do programa: 5
Candidato: Aécio
Roupa do candidato: Camisa branca com manga dobrada em 3/4, no discurso, e camisa
cinza, em estúdio.
16
Número do programa: 5
Candidato: Dilma
Sinopse: Apresentadores-povo frisam dois modelos e dizem que Dilma vai defender
emprego e salário; apresentador-intelectual fala das medidas impopulares e Armínio
Fraga/bancos públicos; Dilma sobre bancos públicos, contra elite, ao lado do povo;
imagens de obras públicas; depoimento de beneficiária do Minha Casa Minha Vida; Lula
chamando a um segundo mandato (gravação do primeiro turno); animação das propostas
de segurança e educação; apresentadora-povo fala sobre políticas para as mulheres;
ator-pedreiro e modelagem 3D mostram obras e explicam projeto da Casa da Mulher
Brasileira; Dilma reconhece problemas atuais (creditados a governos anteriores), destaca
avanços na economia e sociais, pergunta ao telespectador quem fez mais; imagens de
campanha na rua; povo fala por Dilma e contra Aécio.
17
Número do programa: 6
Candidato: Aécio
18
Número do programa: 6
Candidato: Dilma
Sinopse: Imagens de todas as regiões do Brasil; Dilma fala sobre o "novo nordeste";
imagens de desenvolvimento do nordeste; Dilma ataca preconceito e chama
telespectador a repudiar quem fala em "atraso"; depoimentos atestando o
desenvolvimento; imagens aéreas de grandes obras; Dilma e Lula visitam São Francisco;
depoimentos de trabalhadores do terceiro setor atestando crescimento; Dilma diz que
mudanças não foram contra os ricos nem contra outras regiões, foram para todos; jingle e
animação "não deixe a mudança parar".
19
Número do programa: 7
Candidato: Aécio
Roupa do candidato: Paletó cinza e gravata azul, no debate, e camisa cinza no fundo
amarelo, em estúdio.
20
Número do programa: 7
Candidato: Dilma
Roupa do candidato: Camisa preta com florais brancos na abertura e tailleur branco no
debate.
Sinopse: Dilma se dirige aos educadores do Brasil, fala sobre educação e lhes dá os
parabéns; apresentadores falam sobre o debate do dia anterior, eles dividem tarefa, o
homem exalta desempenho de Dilma e a moça bate em Aécio; Dilma no debate, falas
sobre corrupção, transparência, nepotismo, compromisso social; apresentadores
denunciam situação social em MG, estilo repórter investigativo, com depoimentos de
denúncia; depoimentos com denúncias de demissão de jornalistas e controle de
conteúdo; mais Dilma no debate, fala sobre dois projetos; jingle e animação "não deixe a
mudança parar".
21
Número do programa: 8
Candidato: Aécio
22
Número do programa: 8
Candidato: Dilma
Sinopse: Dilma fala para a nova classe média; Chico Buarque declara voto; atores
apresentam propostas de segurança, transporte, educação, crédito para empreendedores
e saúde; Lula "houve um tempo"; Dilma recebe movimentos sociais do plebiscito pela
constituinte exclusiva para a reforma política; Roberto Amaral (PSB) manifesta apoio à
Dilma; fotos-homenagem para Dilma; Dilma relata diálogo com moça da classe média.
23
Número do programa: 9
Candidato: Aécio
24
Número do programa: 9
Candidato: Dilma
25
Número do programa: 10
Candidato: Aécio
26
Número do programa: 10
Candidato: Dilma
Sinopse: Dilma saúda os médicos e fala sobre avanços na saúde; Atores caminham de
noite por São Paulo, Rio e Belo Horizonte falando da falta de sensação de segurança,
sobretudo em BH; volta Dilma sobre segurança, falando da proposta de segurança
integrada; animação ajuda a explica a proposta; volta Dilma falando mais da integração e
dizendo que o embrião veio das fronteiras; imagens do Plano Estratégico de Fronteiras
mostram exército em operação nas operações de fronteira, com locutor e dados na tela
sobre apreensões; apresentador caminha em direção à câmera no centro de BH e
apresenta Sinesp no celular; samba e animação apresenta propostas para saúde e
educação; Lula pede pausa de reflexão sobre passado e chama voto; imagens da Dilma
em campanha, com mobilização da militância e apoio de celebridades; Dilma sobre
propostas e promessas; jingle "Não deixe a mudança parar".
27
Número do programa: 11
Candidato: Aécio
28
Número do programa: 11
Candidato: Dilma
29
Número do programa: 12
Candidato: Aécio
Roupa do candidato: Sem Aécio em estúdio. No debate, gravata azul e paletó cinza.
30
Número do programa: 12
Candidato: Dilma
Sinopse: Imagens de campanha e gráficos mostram virada nas pesquisas, com Dilma 4
pontos à frente; apresentador-classe-média e apresentadora-povo mostram diferenças de
projetos; apresentador-intelectual fala de Armínio Fraga; Dilma exemplifica funções dos
bancos públicos; esquete passado negro, presente branco; jingle "samba das propostas";
Lula diz que conquistas estão ameaçadas e chama voto no 13; apresentadora-povo
mostra dados de avanços das mulheres na educação e no mercado de trabalho e
apresenta a "Casa da mulher brasileira"; apresentador e modelagem 3D mostra casas
sendo construídas e projetos; povo e cientista declaram apoio; Dilma fala sobre
crescimento e avanços.
31
Número do programa: 13
Candidato: Aécio
Sinopse: 4 manchetes contra Dilma; Lima Duarte falando que não precisa mais votar,
mas faz questão e vota em Aécio; Aécio (hino nacional ao fundo) fala sobre apoios e
sobre crítica, que vira ataque, que vira mentira, mas paga esse preço, ressalta valores;
Caminhada da mudança em Copacabana, João Pessoa, Salvador, Campina Grande e
PoA; jingle reduzido "Agora é Aécio"; Aécio volta para falar de sentimento de mudança;
animação alternada com Aécio apresentam propostas de segurança, saúde e educação;
povo fala por Aécio; jingle "Agora é Aécio"; bloco final negativo, Dilma falando que as
obras no São Francisco estão a pleno vapor, desmentida por reportagem de obra
atrasada e mais cara que o previsto; atriz Rosamaria Murtinho chamando voto em Aécio.
32
Número do programa: 13
Candidato: Dilma
Sinopse: Jingle dos artistas, com Lirinha, Dream Team do passinho, cantores de MPB,
sambistas, rappers, entre outros; pesquisa de Dilma na frente; Dilma faz balanço do
governo nos temas crescimento, emprego, educação, saúde e campo; apresentadora-
povo dá dados sobre o Plano Safra, Seguro Agrícola, Código Florestas, linhas de crédito,
dados sobre produção agrícola; imagens do agronegócio mostrando dados de
exportação; depoimentos de trabalhadores do campo em apoio à Dilma; Dilma destaca
apoio a produtores, reconhece problemas no transporte da produção; imagens mostram
rodovias, portos, rodovias e hidrovias e animação mostra metas de corredores logísticos e
portos; apresentador mostra Ferronorte e Norte-sul; Dilma, em externa, com trens atrás,
fala das obras ferroviárias; imagens de campanha mostram mobilização e alegria; Lula
chama eleitor a conversar com amigos e votar 13.
33
Número do programa: 14
Candidato: Aécio
Sinopse: Aécio fala sobre ataques que vem sofrendo, afirma que vai manter programas
sociais, que não vai privatizar BB, CEF, CET e Petrobras, "eu não tenho medo do PT";
esquete "inimigos do PT e inimigos do Aécio"; Marina fala que foi vítima de estratégia
destrutiva que agora está sendo feita contra Aécio e chama o voto; Renata Campos fazer
valer resultado das urnas no primeiro turno pela mudança; Rosamaria Murtinho levar
indignação das ruas no ano anterior para as urnas; jingle com celebridades "Agora é
Aécio"; bloco final negativo, Dilma falando que as obras no São Francisco estão a pleno
vapor, desmentida por reportagem de obra atrasada e mais cara que o previsto.
34
Número do programa: 14
Candidato: Dilma
35
Número do programa: 15
Candidato: Aécio
Sinopse: Pesquisa Veritá mostra Aécio 6 pontos à frente; imagens de mãos teclando 45
em calculadora, telefone, máquina de escrever, computador e urna; Aécio fala sobre
apoios a novo projeto de país e união dos que querem mudar; povo e celebridades falam
apoiando Aécio, com Milton Gonçalves ao lado de Aécio no final do bloco; animações e
Aécio explicando rapidamente propostas sobre segurança, saúde e educação; grafiteiro e
skatista declaram voto em Aécio, falando sobre cultura e esportes; Marina repele
campanha do medo, fala em propostas e chama voto em Aécio; volta Aécio, com hino
nacional ao fundo, falando sobre sentimento de mudança; jingle “Agora é Aécio” com
artistas; bloco final negativo denunciando atraso e sobre custo das obras da transposição
do Rio São Francisco.
36
Número do programa: 15
Candidato: Dilma
37
Número do programa: 16
Candidato: Aécio
Sinopse: Pesquisa Veritá mostra Aécio 6 pontos à frente de Dilma; Aécio fala sobre
caráter, desejo de libertação, mudança; Hino Nacional toca com povo cantando, Aécio no
final, bate no peito, na direção do coração, como as outras pessoas; apresentador chama
eleitor a não votar no "partido da continuidade", a votar no "Brasil da mudança"; povo e
celebridades chamam voto, Marina, Romário, entre outros, repetindo o nome Aécio à
exaustão; tela de computador mostra vídeo gravado por Neymar Jr., que fala contra os
votos brancos e nulos e apoia Aécio; imagens de campanha em diversos estados, com
hino nacional e, depois, jingle "Agora é Aécio".
38
Número do programa: 16
Candidato: Dilma
39
Número do programa: 16
Candidato: Aécio
Sinopse: Povo cantando Hino Nacional com imagens de campanha, com letreiros
grandes com nomes das cidades, Belo Horizonte, São Paulo, João Pessoa, Salvador,
Campina Grande, PoA, Campo Grande e Rio de Janeiro; imagens de campanha e
celebridades cantando jingle "Agora é Aécio"; apresentador-povo mostra pesquisa
IstoÉ/Sensus com Aécio 9 pontos à frente de Dilma e chama a digitar 45 na urna
eletrônica; apresentador chama eleitor a não votar no "partido da continuidade", a votar no
"Brasil da mudança"; povo e celebridades chamam voto, Marina, Romário, entre outros,
repetindo o nome Aécio à exaustão; tela de computador mostra vídeo gravado por
Neymar Jr., que fala contra os votos brancos e nulos e apoia Aécio; Aécio fala sobre
caráter, desejo de libertação, mudança, com Hino Nacional ao fundo; Hino Nacional toca
com povo cantando, Aécio no final, bate no peito, na direção do coração, como as outras
pessoas; bloco final negativo com capa de Veja "Eles sabiam de tudo" e locutor lendo
trecho de denúncia de Youssef contra Lula e Dilma.
40
Número do programa: 16
Candidato: Dilma
41
Capítulo 2: Apontamentos analíticos
Ambas as campanhas abrem seus primeiros programas, não com o candidato, mas
com um apresentador. O uso dos apresentadores tem fundamentalmente dois usos, um
positivo e outro negativo. A campanha de Aécio usa, neste primeiro programa, um
apresentador de meia idade, num escritório, parecendo um historiador, para contar ao
eleitor a história de Tancredo Neves e compará-la à de Aécio, como resposta à
necessidade de tornar o senador conhecido para além da região sudeste. Já a campanha
de Dilma usa apresentadores mais jovens para trazer à tela o desempenho de seu partido
no primeiro turno. Estes são dois usos positivos dos apresentadores, que reforçam ideias
positivas, ou diretamente sobre as qualidades do candidato, ou apresentando notícias que
favorecem o candidato. Na maior parte dos programas, as manchetes de jornal e
pesquisas de opinião são trazidas por um apresentador. O outro uso dos apresentadores
42
aparece nos confrontos mais diretos contra o adversário. Nos programas de Aécio, uma
apresentadora negra abre os blocos finais hard sell que mostram treze manchetes de
jornal contra Dilma e, nos programas de Dilma, é um apresentador branco, de óculos,
quem escuta junto ao eleitor as declarações de Armínio Fraga sobre os bancos públicos.
Com isso, as campanhas buscam gerar identificação junto ao eleitorado que já tem
preferência definida pelo adversário por meio dos atributos físicos do apresentador, que
pode se sentir mais confortável com sua presença e encarar sua fala como um alerta de
“um dos seus”, driblando sua percepção seletiva e diminuindo o efeito bumerangue do
hard sell. O uso dos apresentadores pode ter sua importância comprovada no número de
programas em que são utilizados. A campanha de Aécio lança mão dos apresentadores
em absolutamente todos os programas e a campanha de Dilma somente não utiliza
apresentador no programa do dia 14, cujo tema é nordeste, possivelmente pelo cálculo de
que o uso de um apresentador nordestino poderia afastar o eleitor do sudeste, a quem
mais se estava buscando no conjunto de sua campanha, e, também, o contrário, de que
um apresentador do sudeste poderia, neste programa, afastar o eleitor nordestino.
43
apontando, diferentemente, vantagem para o tucano. Além dos números controversos das
pesquisas de intenção de voto, esse segundo turno foi especialmente marcado pela
disputa do balanço dos resultados do primeiro turno, sobretudo em Minas Gerais, onde
Aécio foi governador. Enquanto Dilma diz que ganhou porque foi a mais votada, Aécio diz
que a oposição foi a vencedora, porque, somando seus votos com os de Marina, venceu.
Sobre Minas, a campanha de Aécio repetiu na maioria dos programas o elevado número
de aprovação de seu governo, 92%, que foi contrastado, na campanha da adversária,
com a informação de que o PSDB perdeu para o PT nas eleições para o governo neste
Estado.
44
Petrobrás afirmou ao MPF que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra recebeu propina
para esvaziar uma CPI da Petrobras”, aparece na área inferior da tela um print screen
translúcido de parte da matéria a que se referiu, com título “Costa diz que pagou propina
ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra” e linha fina, aumentando, assim, a credibilidade
da informação dita.
45
Agora chegamos ao bloco que atrai a maior atenção do eleitor e, justamente por
isso, é aquele que possui cada palavra e cada elemento de tela escolhidos com precisão
cirúrgica, o bloco do candidato falando diretamente ao eleitor. Chama a atenção a
semelhança técnica com que são organizados estes blocos. Nos programas de Aécio, os
planos são médios, com enquadramento que vai do meio do peito até o quase o fim do
cabelo. Quando é necessário cortar, há duas variações de plano, um pouco mais fechado,
mantendo o topo e cortando quatro dedos abaixo do pescoço, e um outro em primeiro
plano, cortando um pouco mais do topo do cabelo e no fim do pescoço. A câmera é
sempre estática, o candidato varia pouco seu posicionamento em quadro. Na maior parte
dos programas, fica absolutamente no centro; em outros, levemente deslocado para a
direita do quadro. As mãos ficam a maior parte do tempo fora de quadro, entram em
quadro sutilmente, só quando a gesticulação é mais elevada. As frases de Aécio tem uma
média de 20 palavras. O candidato fica o tempo todo com o olhar fixo na lente, piscando
naturalmente. Seu nome aparece com letra branca, na esquerda da tela, durante todo o
tempo de fala, com exceção dos primeiros planos. O número 45 segue no topo da tela
todo o tempo. O fundo é desfocado, um escritório, com um pouco de vegetação verde ao
fundo, no que parece ser uma ampla janela. O programa 14, do dia 22, é uma exceção,
em que Aécio, durante extensos 4 minutos e 40 segundos, rebate a propaganda petista
de forma direta, afirmando que é vítima de “atentados” à sua honra, família e biografia,
depois da pesquisa do Datafolha indicando queda do candidato. Nesta, o fundo muda
para um cinza claro, iluminado desde o centro, embaixo, formando uma áurea clara atrás
dele. Nos programas de Dilma também há os mesmos três tipos de enquadramento, com
a diferença de que o mais aberto não corta nada de seu cabelo. Há leves movimentos de
câmera, principalmente leves panorâmicas, que acompanham o movimento lateral da
presidenta. Suas frases também têm uma média de 20 palavras e suas mãos aparecem
quando a gesticulação é alta. É comum o uso de colar e brinco de pérolas, que
corroboram com o conceito de mãe aplicado a Dilma. Seu nome não fica o tempo todo em
tela, afinal, é conhecido por cerca de 95% do eleitorado. Em vez disso, algumas frases
são marcadas com texto em tela, principalmente propostas e slogans. Os backgrounds
também são desfocados. A maior parte dos programas é gravada em internas, com um
fundo mais abstrato, com algumas folhagens verdes e partes verticais marrons e
vermelhas, outros são externas, em jardins. As feições e o tom de voz de ambos também
são semelhantes. Raramente fazem caras feias, terminam a maioria dos blocos com leves
sorrisos e falam de modo firme e calmo.
46
As cores de roupa vestidas por Dilma nos blocos em que fala diretamente ao eleitor
merecem uma análise à parte. A roupa é um elemento importante na construção da
imagem do candidato, porque é uma das primeiras coisas a que se olha e, principalmente,
porque gera um determinado efeito em quem olha. Aécio parece não variar suas cores de
roupa de forma consciente, são sempre variações de azul, em diversos tons, e cinza,
então vamos nos ater à variação das cores nas roupas de Dilma. Sua cor mais recorrente
é a vermelha, cor de seu partido, mas há outras. As cores adequam-se ao tema principal
do programa: no de corrupção, a cor é azul, no melhor tom PSDB, para dialogar com o
eleitorado deste partido, que vê este tema como uma das principais debilidades do
governo federal; no de educação, que é exibido no feriado religioso de Nossa Senhora
Aparecida e também Dia das Crianças, a cor é branca, para dialogar com o eleitor
religioso e aparecer como a santa que protege as crianças; no de segurança, que é
exibido no dia do médico, a cor é branca, que já inicia justificada pelo dia do médico e se
mantém durante todo o programa, trazendo a sensação de paz, em contraste com o tema
pesado da sensação de insegurança e combate à criminalidade; no de crise hídrica, a cor
é azul-PSDB, novamente, para conversar com o paulistano eleitor de Alckmin; no de
resposta a Veja, a cor é branca, que sugere pureza e inocência ante as acusações do
doleiro Alberto Youssef.
Por fim, um elemento que perpassa todos os blocos é a trilha sonora. Ela é
responsável por criar um clima confortável ou desconfortável para a recepção do que está
sendo dito ou mostrado. Em geral as trilhas são leves ou ufanistas, quando se está
comunicando algo sobre o próprio candidato, e de suspense, ou mesmo de terror, quando
se está aludindo ao adversário. Com frequência, elas vão de um pólo a outro no decorrer
de um mesmo plano, quando há uma mudança na intencionalidade do discurso. Os
principais blocos em que a trilha sonora tem uma participação de destaque são os blocos
negativos que abrem ou fecham o programa e contêm ataques diretos contra o
adversário, a propaganda hard sell. Na esquete “Não vote no Aécio”, temos uma trilha de
terror, um rápido silêncio, uma trilha de transição com piano e um final retumbante com
direito a tambor, tudo em trinta segundos. Outro bom exemplo também vem da campanha
de Aécio, na esquete “Os inimigos de Dilma e de Aécio”, quando a tela se divide ao meio
e dois atores se alternam dizendo quem é o inimigo de Dilma e quem são os de Aécio. A
trilha é feita só no piano, mas muda repentinamente de acordo com quem está falando.
Assim, a trilha cria um ambiente que sugestiona o espectador a tirar conclusões positivas
47
ou negativas do que está sendo dito, mesmo que não compreenda ou discorde de alguma
coisa. Se o espectador não se mantém alerta, insistindo num movimento crítico à
mensagem a todo o momento, pode acabar arrastado pela harmonia do sentido geral.
48
Capítulo 3: Pontos de vista
Entre as eleições em dois turnos, esta foi a mais disputada: em 1989, FHC venceu
Lula por 53 a 47%; em 2002, Lula venceu Serra por 61 a 39%; em 2006, Lula venceu
Alckmin também por 61 a 39%; em 2010, Dilma venceu Serra por 56 a 44% e, em 2014,
Dilma venceu Aécio por 51,64 a 48,36% dos votos válidos.
Na conclusão de seu livro Um país partido: 2014 – A eleição mais suja da história,
o historiador e comentarista político Marco Antonio Villa diz que a eleição foi igualmente
apertada, inusitada e conturbada.
2
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1536237-otimismo-com-economia-aumenta-e-ajuda-dilma-na-disputa-
eleitoral.shtml
49
Paulo Nassar, ao falar da campanha de reeleição de Obama, identifica a importância da
construção de um enredo:
Dilma tem como seu marqueteiro João Santana, que acompanha a candidata
desde sua primeira eleição e não tem dúvidas sobre a importância de construir um
enredo. Após o episódio do mensalão, com o afastamento de Duda Mendonça como o
marqueteiro oficial de Lula, foi Santana quem se tornou o responsável por reconstruir a
narrativa do petismo no poder e garantir a reeleição de Lula, que parecia liquidado. É do
marqueteiro o mérito de transformar a ascensão social dos brasileiros em um conceito, o
mote “Brasil sem miséria”. Este enredo certamente ganha relevância perante a aceitação
dos dados econômicos. Mas não é só de construções positivas que se constitui uma
campanha. João Santana sabe bem como criar fatos políticos que pautem a discussão na
direção que mais favorece sua candidata:
"Os comerciais da Dilma são os compromissos dela com o eleitor, com o alvo da
eleição. Sabe com quem precisa falar. A visão do Aécio e da cúpula do PSDB ainda
é antiquada, com composições, com políticos que supostamente têm os seus
currais eleitorais e celebridades que supostamente influenciam as pessoas. Isso se
traduz em peças publicitárias completamente inadequadas numa eleição tão
apertada como essa 4".
3
http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=971&ID_COLUNISTA=28
4
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1538871-campanha-de-aecio-neves-pregou-para-convertidos-diz-ex-
marqueteiro.shtml
50
Em entrevista a Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes, do jornal O Estado de São Paulo, PV
dá sua opinião, oposta à de Santana, sobre o uso do que chama de "discurso do medo".
"Se você começa a construir ou empilhar medo, isso facilita a candidatura que está
sendo criticada. Que me perdoe o PSDB, mas eles fizeram isso lá atrás com a
Regina Duarte. Não é um caminho exitoso. Isso começou a acontecer muito cedo.
Esse é um caminho perigoso, porque você polariza com um sujeito que está atrás e
demonstra medo 5".
As duas visões opostas sobre os efeitos de uma propaganda negativa são testadas
nas campanhas de Dilma e Aécio. O resultado da votação é o seguinte: Dilma com
54.501.155 votos (51,64%) e Aécio com 51.041.155 votos (48,36%). Então chega a hora
de fazer os balanços. O publicitário da Propeg Fernando Barros analisa a estratégia da
campanha de Dilma:
“Já tinha visto a baixaria acontecer por estupidez ou ignorância, mas nunca havia
visto a baixaria ser explorada com profissionalismo. Eles estimulavam nas redes
sociais que o Aécio tinha um comportamento dúbio com mulheres. Depois havia
uma pergunta no debate e o programa de TV se referia a isso. Existia uma rede
para tentar dar àquela afirmação uma percepção tangível 6.”
“É mentira que nossa campanha tenha feito uso profissional da baixaria. Mas é
verdade que a dele fez uso amador da mediocridade. (...) Passaram mais tempo se
vitimizando do que contra-atacando ou propondo. (...) Os dois candidatos [Marina e
Aécio] talvez acreditassem em uma falsa teoria implantada no marketing político
brasileiro de que ‘quem bate, perde’. Perde quem não sabe atacar. Como também
perde quem não sabe se defender.” (Maklouf Carvalho 2015: 219-221)
5
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,tatica-do-medo-pode-ajudar-candidatura-de-aecio-diz-marqueteiro-imp-
,1507945
6
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/195849-campanha-de-dilma-fez-uso-profissional-da-baixaria.shtml
51
CONCLUSÃO
Mas uma análise das propagandas de televisão não pode estar completa se não
forem também considerados os efeitos do meio ambiente sobre elas e sobre o
espectador. O contexto deste segundo turno, nas ruas e nas redes, era negativo, com
muito sectarismo e intransigência na defesa das posições de cada lado. Esse ambiente,
insuflado pelo próprio horário eleitoral gratuito, foi, ao mesmo tempo, o que deu aval ao
conteúdo negativo, ao fornecer um estado de espírito congruente.
52
BIBLIOGRAFIA
VILLA, Marco Antonio. Um país partido: 2014 – A eleição mais suja da história. São
Paulo: LeYa, 2014.
• Livros digitais
• Vídeos na internet
53
ANEXOS
54
Rio Grande do Sul (8,3 milhões de eleitores)
Dilma: para o PT, é simbólico repetir a vitória no Estado onde Dilma construiu sua trajetória
política. Com Tarso Genro no segundo turno, a estratégia é manter o nome dos dois candidatos
vinculados. Em Porto Alegre, Dilma quer o prefeito José Fortunati (PDT) mais presente na
campanha.
Aécio: com Ana Amélia Lemos (PP) alijada do segundo turno, o PSDB quer o palanque de José
Ivo Sartori (PMDB). Aposta no racha natural do partido, que enfrenta Tarso na disputa pelo
Palácio Piratini, para reforçar a imagem de antipetista. A senadora Ana Amélia continua como
importante cabo eleitoral.
55
Anexo 2 – Infográficos retirados do site de notícias G1 mostram evolução das pesquisas
de opinião dos institutos Datafolha e Ibope, durante o mês de outubro. Disponível em
http://glo.bo/12AWDFj e http://glo.bo/12AWBNS.
56
Anexo 3 – Gráficos retirados de matéria do site da Folha de S. Paulo mostram percepção
popular de indicadores econômicos do país. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/
poder/2014/10/1536237-otimismo-com-economia-aumenta-e-ajuda-dilma-na-disputa-
eleitoral.shtml.
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