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XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.


Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

SEGURANÇA E MEDICINA DO
TRABALHO EM REDE DE
SUPERMERCADO: UMA ESTRATÉGIA
CORPORATIVA E COMPETITIVA
Wanusa Campos Centurión (ufs)
wanusa@infonet.com.br
Débora Eleonora Pereira da Silva (ufs)
dsilva.ufs@gmail.com
Kleverto Melo de Carvalho (ufs)
kleverton-carvalho@uol.com.br
Eduardo Alberto Farias (ufs)
efarias@ufs.br
Ana Dalbelo Carneiro Leão (ufs)
ana_cleao@yahoo.com.br

O objetivo deste estudo é analisar a eficácia da estratégia de


segurança e medicina do trabalho utilizada pela empresa em estudo
para manter-se competitiva no mercado e com bom desempenho
interno. Ainda que o estado da arte em segurança do trabalho é algo
que está se estabelecendo, muitas empresas têm sinalizado que investir
neste segmento, além de reduzir custos com acidentes e doenças
ocupacionais, melhora o seu clima organizacional - em análise mais
ampla, aumenta a competividade da organização. Neste trabalho,
busca-se validar tais premissas à partir da análise das ações utilizadas
pela empresa no intuito de proporcionar um ambiente de trabalho
seguro aos seus colaboradores, com custos equilibrados, bem como
melhorar sua qualidade de vida no trabalho embasadas em estudos
feitos por autores citados nesse artigo. De caráter descritivo, para este
estudo de caso foram utilizados 359 formulários de Investigação de
Acidentes e de Comunicação de Acidentes de Trabalho, referentes aos
anos de 2006 e 2007 e um questionário aplicado 58 pessoas (gestores,
cipeiros, técnicos de segurança e saúde do trabalho e diretores) entre
os anos de 2007 e de 2008. A análise dos resultados ratifica que com a
implantação de programa de educação visando à prevenção de
acidentes e uma reestruturação dos processos e aquisição de materiais
e equipamentos relacionados à Segurança e Medicina do Trabalho
através da implementação de um adequado sistema integrado de
gestão é uma estratégia importantíssima que está ajudando a empresa,
em estudo, a alcançar seus objetivos no que se referem a
competitividade e melhor performance interna.

Palavras-chaves: Segurança, Estratégia, Prevenção


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A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

1. Introdução
No Brasil, a realidade quanto ao investimento em segurança do trabalho ainda é bastante
preocupante devido ao crescente número de acidentes e doenças ocupacionais, bem como a
gravidade dos mesmos e as poucas ações realizadas para minimizar essa situação.
Falar sobre segurança do trabalho é paradoxal, uma vez que, apesar da sua grande
contribuição para melhoria do clima e imagem organizacional, redução dos custos com
acidentes e doenças ocupacionais, entre outros benefícios, esse tema não tem acompanhado a
evolução tecnológica aplicada às áreas operacionais e produtivas e não tem conseguido a
desejável integração no contexto técnico e administrativo da empresa. Trata-se de um setor
marginalizado na maioria das empresas, passando muitas vezes por uma atividade meramente
simbólica, mantida na organização por força da lei. Tudo isso acontece, principalmente, pela
insensibilidade quanto ao sofrimento humano, despreparo e falta de percepção de dirigentes
empresariais que não atinam com o real valor das atividades prevencionistas (ZOCCHIO,
2002).
Sobre o setor varejista percebe-se que apesar de ter uma contribuição significativa no total de
acidentes do Brasil, é visível que a ação de vários empresários quanto ao tema segurança do
trabalho é tímida, restringindo-se a práticas paliativas, sem um aprofundamento que o assunto
exige, principalmente devido a cultura não preventiva, ao pequeno grau de risco e ao pouco
rigor da fiscalização pelos órgãos reguladores em algumas regiões. Porém, também é
perceptível um crescimento, mesmo lento, das práticas de algumas empresas, principalmente,
do ramo industrial em investir em segurança do trabalho considerando-na um valor
imprescindível para alcançar seus objetivos organizacionais.
De acordo com o cenário heterogêneo acima mencionado, foi analisada a estratégia de
segurança do trabalho de uma organização de auto-serviço, do ramo supermercadista,
localizada na região nordeste, cujo nome não será mencionado para preservar a sua
identidade, visando melhorar a produtividade e competitividade.
Este estudo tem como objetivo principal analisar a eficácia da estratégia de segurança do
trabalho utilizadas por uma rede de supermercados nordestina para manter-se competitiva no
mercado e com bom desempenho interno. Serão utilizados como parâmetros alguns
indicadores de segurança do trabalho como o perfil sócio-funcional dos colaboradores
acidentados, o número e causas dos acidentes de trabalho, taxas de inciência de acidentes do
trabalho, o índice de absenteísmo, passivo trabalhista, comparando os resultados do ano 2006
com 2007. Foram utilizados os questionários aplicados aos gerentes de loja, cipeiros e
componentes do setor de segurança e saúde do trabalhador, diretores de operações e recursos
humanos, bem como analisado o formulário de investigação e comunicação de acidentes
aplicados aos colaboradores que sofreram acidentes do trabalho.
2. Referencial Teórico
2.1 Definição de Segurança, Medicina e Higiene do Trabalho
Para Zocchio (2002, p.37) “a segurança do trabalho é um conjunto de medidas e ações de
caráter técnico, educacional, médico, psicológico e motivacional aplicadas para previnir
acidentes e doenças ocupacionais nas atividades das empresas ou estabelecimentos”.
Ainda conforme Zocchio (2002), a segurança do trabalho tem um grande valor técnico,
administrativo e econômico para a organização e seus empregados, familiares e para a

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sociedade em geral, além de ser uma obrigação legal. Para ele, quando aplicada
adequadamente gera uma série de benefícios, entre eles: estabilidade operacional devido ao
equilíbrio da mão-de-obra; melhor produtividade devido a motivação dos seus colaboradores
por trabalharem em local seguro; redução dos investimentos em manutenção corretiva e
menos desperdícios de material; maior equilíbrio nos custos operacionais; melhor ambiente
social da empresa; e melhor imagem da empresa na comunidade e diante das autoridades
competentes.
Já Vieira (2005, p.42) afirma que medicina do trabalho “é o ramo da medicina que se
preocupa com a saúde física e mental do trabalhador, tendo em vista protegê-lo dos riscos de
agentes nocivos e acidentes inerentes a ocupação que exerce e, ipso facto, aumentando o
rendimento de seu trabalho”.
Ainda de acordo com Vieira (2005, p.42), higiene do trabalho “é a ciência e arte devotada ao
reconhecimento, avaliação e controle dos riscos profissionais capazes de ocasionar alterações
na saúde do trabalhador ou afetar o seu conforto e eficiência.”
Tanto a segurança como a medicina e a higiene do trabalho são áreas complementares e que
beneficiam tanto o colaborador proporcionando um ambiente seguro de trabalho e melhor
qualidade de vida, como a organização através de melhorias na sua performance interna, na
imagem perante seus clientes e redução dos custos relacionados.
2.2 Estrutura da área de Segurança, Medicina e Higiene do Trabalho
Geralmente o setor responsável pelas atividades prevencionistas relacionado à segurança e
saúde do colaborador é subordinado ao Departamento de Recursos Humanos. É chamado de
Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT),
que segundo a Norma Regulamentadora - NR 4 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
possui “a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de
trabalho.” (MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS, 2001). Este setor deve ser formado por
profissionais com formação específica na área, devendo a empresa exigir no ato da
contratação a qualificação necessária para a investidura no cargo. Os profissionais que
compõe o SESMT são: Engenheiro de Segurança do Trabalho, Médico do Trabalho,
Enfermeiro do Trabalho, Técnico de Enfermagem do Trabalho, Auxiliar de Enfermagem do
Trabalho e o Técnico de Segurança do Trabalho.
A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) é um grupo de empregados em
destaque que é formado de acordo com o número de funcionários da organização e que estas
são obrigadas a mantê-lo por imposição legal. A CIPA é composta por representantes do
empregado e dos empregados, segundo prevê a Norma Regulamentadora (NR5) e tem como
atividade a de “prevenir acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar
compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do
trabalhador” (NR 5 apud ZOCCHIO, 2002).
2.3 Acidentes de Trabalho
Segundo Xavier (2002 apud Etchalus et al, 2006) acidente do Trabalho “são todas as
circunstâncias não previstas ao andamento normal da atividade do trabalho, que poderão
resultar danos físicos e/ ou funcionais, ou morte e perdas materiais e econômicos”.
São três as categorias de classificação dos acidentes de trabalho: Acidentes Típicos: acidentes
decorrentes da atividade profissional desempenhada pelo trabalhador; Acidentes de Trajeto:
acidentes ocorridos no trajeto entre a residência e o local de trabalho e nos horários de

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refeição; Doenças do Trabalho: acidentes ocasionados por qualquer tipo de doença peculiar a
determinado ramo de atividade (WALDVOGEL, 2002).
A comunicação do acidente de trabalho deverá ser feita pela empresa à Previdência Social,
através da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), até o primeiro dia útil
seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato à autoridade policial competente.
O acidentado ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria,
deverão receber cópia fiel da CAT. Na falta de comunicação por parte da empresa, poderão
emitir a CAT, o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o
médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública. (BRASIL, 2001).
2.4 Causas dos Acidentes de Trabalho
Segundo Zocchio (2002, p.94) “a causa de acidente de trabalho são os antecedentes, próximos
ou remotos, que fazem o acidente acontecer. [...] as causas só são caracterizadas no ato da
ocorrência; antes, são apenas riscos ou perigos de acidentes.”
Para Alberton (1996 apud Causo Neto, 2006) ato inseguro são comportamentos emitidos pelo
trabalhador que podem levá-lo a sofrer um acidente. Alguns exemplos são: ficar junto ou sob
cargas suspensas, colocar parte do corpo em lugar perigoso, usar máquinas sem habilitação ou
autorização, brincadeiras e exibicionismo, entre outros. O ato inseguro é vivenciado no dia-a-
dia da segurança do trabalho. Explicar o porquê desses atos é entrar no campo complexo da
psicologia humana. Os atos inseguros são praticados por pessoas que desrespeitam regras de
segurança, que não as conhecem devidamente ou que possuem um comportamento contrário
ao da prevenção.
Já as condições inseguras caracterizam-se por situações de risco presentes no local de
trabalho, que podem causar acidentes e doenças profissionais. Ocorrem por falta de
planejamento, prevenção ou omissão de requisitos essenciais relacionados a medidas de
higiene e segurança, para manutenção do ambiente físico isento de perigos (ZOCCHIO, 2002;
VIEIRA, 2005).
Está cada vez mais evidente que a maioria esmagadora dos acidentes do trabalho tem,
enquanto causa, uma ligação estreita com manifestações de comportamentos inadequados ou
inseguros, ora da parte do trabalhador, ora do seu facilitador, que o manda ou permite
trabalhar em desacordo com os procedimentos de trabalho. Nesse sentido, o que tem de ser
estudado e corrigido é o que está dando origem ao comportamento (OLIVEIRA, 2003).
Binder (2003 apud Causo Neto, 2006) aborda a ampliação, nas últimas décadas, da concepção
multicausal de acidentes do trabalho, onde considera que as empresas constituem sistemas
abertos cujo interior está sujeito a ocorrências de pertubações capazes de gerar efeitos
indesejáveis, como os acidentes. Dento desse contexto, encontram-se os fatores psicossociais,
os quais devem ser levados em conta quando da análise dos acidentes e doenças ocupacionais.
Um outro fator bastante comum nos dias de hoje que está causando vários acidentes de
trabalho é o stress. Segundo a OIT (2001 apud Causo Neto, 2006), o stress é convertido em
ação quando alguém está exposto a substâncias tóxicas, temperaturas extremas, elevados
níveis de ruído, quando está exposto a recordações desagradáveis de ordem mental e social.
É importante salientar que dentre as causas já mencionadas, existem outros fatores inerentes
às atividades laborais que influenciam positiva e negativamente o bem estar do trabalhador,
são eles: questões pessoais, carga, jornada e ritmo de trabalho, supervisão eletrônica,
estrutura, clima e cultura organizacional (CAUSO NETO, 2006).

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2.5 Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho - SST


Rodrigues e Guedes (2003, p.6) relatam o sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho
como “parte integrante de um sistema de gestão de toda e qualquer organização, o qual
proporciona um conjunto de ferramentas que potencializam a melhoria da eficiência de gestão
dos riscos da SST.”
Conforme Assmann (2006) os sistemas de gestão alteram a forma tradicional de ver a
segurança do trabalho, baseada principalmente na correção dos riscos e atendimento dos
requisitos legais, com direcionamento corretivo. Como exemplo desta nova forma de analisar
as ações prevencionistas nas organizações, temos a norma britânica OHSAS 18001.
A OHSAS 18001, é uma norma de segurança e medicina do trabalho, cuja sigla significa
Ocupacional Health and Safety Assessment Series,entrou em vigor em abril de 1999. “É uma
especificação que tem por objetivo prover às organizações os elementos de um Sistema de
Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho eficaz, passível de integração com outros requisitos
de gestão.” (CICCO, 2003, p. 6). Trata-se de uma norma passível de certificação por órgãos
competentes, seguindo os mesmos passos das normas ISO 9001 e ISO 14001.
De acordo com Araújo (2006 apud Pinto e Sá, 2007), toda organização possui um sistema de
gestão, bom ou ruim. Portanto, implementar um sistema de gestão de SSO traz vários
benefícios como, segundo Cicco (2003, p.8), são eles: Assegurar aos clientes o
comprometimento com uma gestão da SST demonstrável; Manter boas relações com os
sindicatos dos trabalhadores; Fortalecer a imagem da organização e sua participação no
mercado; Aprimorar o controle dos custos de acidentes; Reduzir os acidentes que impliquem
em responsabilidade civil; Facilitar a obtenção de licenças e autorizações; Estimular o
desenvolvimento e compartilhar soluções de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
Para os empregados, a implantação deste sistema acarreta em melhorias em suas atividades e
ambiente de trabalho.
A implantação de um adequado sistema de gestão em segurança e medicina do trabalho
mostra a preocupação da empresa com a integridade física de seus colaboradores e parceiros.
O envolvimento e participação tanto da diretoria como dos funcionários no processo de
implantação desse sistema de qualidade é de crucial importância.
2.6. Cenário de Acidentes no Brasil
Segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS, 2007) no ano de 2007, foram
registrados no INSS cerca de 653,1 mil acidentes do trabalho. Para os acidentes do trabalho
registrados o ano de 2007 comparado com o de 2006 aumentou em 3,7%. Do total de
acidentes registrados os acidentes típicos representaram 80,7% do total de acidentes
registrados, os de trajeto 15,3% e as doenças do trabalho 4%. As pessoas do sexo masculino
participaram com 79,3% e as pessoas do sexo feminino 20,7% nos acidentes típicos; e 56,1%
e 43,9% nas doenças do trabalho. Nos acidentes típicos, a faixa etária com maior incidência
de acidentes foi a constituída por pessoas de 20 a 29 anos com, respectivamente, 39,8% e
41,5% do total de acidentes registrados. Nas doenças de trabalho a faixa de maior incidência
foi a de 30 a 39 anos, com 31,9% do total de acidentes registrados. Contudo, ainda segundo o
INSS (2007), este número não corresponde à totalidade dos acidentes ocorridos no Brasil,
uma vez que existe uma alta incidência de sub-registros, estimada em 60% , além de um
expressivo contingente da População Economicamente Ativa (PEA) não estar incluído nestas
estatísticas, por não contribuir para a Previdência Social, cerca de 30%.

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Na distribuição por setor de atividade econômica, o setor agrícola participou com 5,1% do
total de acidentes registrados, o setor de indústrias com 49,3% e o setor de serviços com
45,6%. Nos acidentes típicos, os subsetores com maior participação nos acidentes foram
produtos alimentares e bebidas, com 12% e saúde e serviços sociais, com 8,5% do total. Nas
doenças de trabalho, foram os subsetores intermediários financeiros, com participação de
12,2% e o comércio varejista, com 8,9%. Os maiores registros de acidentes de trabalho no
comércio e serviços encontram-se nos setores de: Supermercados; Varejo de materiais de
construção; Comércio a varejo e por atacado de peças e acessórios; Restaurantes;
Hipermercados; Lanchonetes e similares; Atacado de bebidas; Fornecimento de comida
preparada; Varejo de combustíveis; Varejo de farmácia, perfumaria e ortopédicos;
Estabelecimentos hoteleiros com restaurantes (INSS, 2007).
3.7 Indicadores de Segurança do Trabalho
Segundo Campos (2004, p. 75) indicadores ou itens de controle “são características numéricas
sobre as quais é necessário exercer o controle (gerenciamento)”. São formas numéricas de
gerenciar o resultado.
Indicadores de acidentes do trabalho são utilizados para mensurar a
exposição dos trabalhadores aos níveis de risco inerentes à atividade
econômica, permitindo o acompanhamento das flutuações e
tendências históricas dos acidentes e seus impactos nas empresas e na
vida dos trabalhadores. Além disso, fornecem subsídios para o
aprofundamento de estudos sobre o tema e permitem o planejamento
de ações nas áreas de segurança e saúde do trabalhador. Eles não
esgotam as análises que podem ser feitas a partir dos dados de
ocorrências de acidentes, mas são indispensáveis para a determinação
de programas de prevenção de acidentes e a conseqüente melhoria das
condições de trabalho no Brasil. (INSS, 2007, p.01).
Ainda de acordo com o INSS (2007) a taxa de incidência é um indicador da intensidade com
que acontecem os acidentes do trabalho, expressando a relação entre as condições de trabalho
e o quantitativo médio de trabalhadores expostos àquelas condições. Seu coeficiente é
definido como a razão entre o número de novos acidentes do trabalho registrados a cada ano e
a população exposta ao risco de sofrer algum tipo de acidente.
De acordo com Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,2001), alguns indicadores
são de grande interesse para a área de medicina do trabalho (tais como a taxa de mortalidade e
a taxa de letalidade). Outros são vitais para o estabelecimento de ações de controle por parte
do Ministério do Trabalho e Emprego (como, por exemplo, a taxa de freqüência dos
acidentes). Dentre os indicadores existentes, foram eleitos três índices como básicos para
análise: freqüência, gravidade e custos.
Conforme a ABNT (2001), as taxas de freqüência medem o número de acidentes que geraram
algum tipo de benefício (aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, auxílio-acidente e
pensão por morte). Com o intuito de penalizar as empresas que só declaram os acidentes mais
graves (os quais, obrigatoriamente, envolvem a necessidade de registro oficial), e favorecer
aquelas com boa declaração de sinistralidades. Evitou-se também considerar todos os
acidentes registrados para não distorcer o índice, uma vez que empresas com grande número
de notificações apresentariam resultados mais elevados, ainda que não causasse ônus para o
sistema previdenciário. Para calcular a taxa de frequência, segue a fórmula: razão entre
número de acidentes por número de horas homem de exposição ao risco, cujo resultado é
multiplicado por 1 milhão de horas.

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Ainda segundo a ABNT (2001) a taxa de gravidade mede a intensidade média dos acidentes
ocorridos, considerando a duração do afastamento do trabalho, para mensurar a perda
laborativa devido à incapacidade. Os dias perdidos foram computados em função de todos os
acidentes ocorridos no período, incluindo os afastamentos por menos de 15 dias e o tempo de
permanência como beneficiário de auxílio-doença. Para calcular a taxa de gravidade, segue a
fórmula: número total de dias perdidos dividido pelo número de horas homem trabalhadas,
cujo resultado deve ser multiplicado por 1 milhão de horas.
2.8 Estratégias
De acordo com Porter (1986) diz que estratégias são ações ofensivas ou defensivas visando
proporcionar a organização um mix de valores e sustentar a longo prazo a vantagem
competitiva. O que fundamenta o conceito de estratégias é a obtenção da vantagem
competitiva. Se uma empresa deseja obter uma vantagem competitiva, ela deve fazer uma
escolha sobre o tipo de vantagem competitiva que busca obter e sobre o escopo dentro do qual
irá alcançá-la.
Através da estratégia competitiva busca-se melhorar sua posição diante dos concorrentes reais
ou potenciais, materializando-se através da busca de vantagens em relação aos concorrentes,
atendimento as necessidades dos clientes e adaptação às mudanças ambientais. Isto não
significa que a posição ideal seja conseguida, pois uma organização tem conhecimento
limitado das suas funções internas e externas. O importante é estipular níveis aceitáveis de
posicionamento estratégico, no qual o aprendizado, a mudança e a adaptação são elementos
básicos (TACHIZAWA; REZENDE,2000).
As estratégias competitivas funcionam de forma a aumentar a competitividade da empresa em
relação aos seus concorrentes através da busca pela manutenção e defesa do mercado, o
aumento na participação do mercado ou novos mercados ou até mesmo tudo junto. Elas
podem ser: defensiva, ou seja, ações aplicadas para manter ou defender dos concorrentes;
ofensiva, isto é, reagem com respostas potenciais diante das tendências emergentes do meio
ambiente; analítica, busca manter os domínios estáveis e também conquistar novos domínios;
já à estratégia reativa, busca de forma improvisada e despreparada uma saída para fugir dos
problemas (CHIAVENATO, 2007, p. 128).
3. Metodologia
Essa pesquisa tem caráter descritivo, onde seu propósito descreve a percepção dos
colaboradores acidentados e dos demais públicos envolvidos a área de segurança do trabalho
(gestores, SESMT e CIPA) dentro da empresa e ao mesmo tempo é um estudo de caso.
Para a coleta dos dados, utilizou-se o método do levantamento. Quanto ao instrumento de
coleta, foram utilizados para análise os resultados dos indicadores de segurança do trabalho
fornecidos pelo SESMT, bem como o formulário de Investigação de Acidentes, a
Comunicação de Acidentes do Trabalho (CAT) aplicados a 359 empregados acidentados entre
os anos de 2006 e 2007 com acidentes típicos e doenças ocupacionais. Além dessas análises
foram entrevistados sobre segurança e saúde do trabalhador 30 gestores das lojas que tiveram
acidentes, 06 componentes do SESMT (engenheiro, técnicos e médicos do trabalho), 20
cipeiros e 02 diretores. O universo da pesquisa refere-se a 8.000 funcionários distribuídos em
várias cidades nordestinas.
O tratamento dos dados foi tanto qualitativo como quantitativo. Buscou-se construir
comprovações condizentes com a fundamentação teórica, com vistas a obter conclusões sobre

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a eficácia das estratégias de segurança do trabalho para melhor desempenho interno e manter-
se competitiva no mercado.
4. Análise dos Resultados Encontrados
Nesse item foi identificada a estratégia de Segurança do trabalho utilizada na empresa de
auto-serviço e analisada a sua eficácia visando manter- se competitiva no mercado e com bom
desempenho interno. Também foram analisados os principais indicadores de segurança de
forma a comprovar se a empresa está ou não utilizando a estratégia adequada.
O objetivo estratégico da empresa em análise é dobrar o faturamento da rede em 5 anos a
partir do ano 2006 e uma das estratégias utilizadas pela área de recursos humanos, setor de
segurança e medicina do trabalho, para ajudar a empresa no alcance desse objetivo foi
implantar em 2006 o sistema integrado de gestão em segurança e medicina do trabalho
baseado na norma internacional OSHAS 18001, visando proporcionar redução dos custos e
melhor condição de trabalho para os empregados e com isso atender um dos parâmetros
principais da estratégia competitiva segundo Tachizawa; Rezende (2000), ou seja adaptar-se
às mudanças ambientais, tornando o seu perfil compatível de fatores-chave de sucesso. Essa
estratégia foi aprovada pelo corpo diretivo da empresa e colocada em prática no prazo
planejado.
De acordo com a proposta de Chiavenato (2007) sobre os tipos de estratégias competitivas
essa estratégia da empresa em estudo é uma estratégia competitiva de caráter analítico, onde
ao mesmo tempo a empresa mantém e defende seu domínio já conquistado e também busca
sair na frente dos seus principais concorrentes antecipando oportunidades com a implantação
do sistema de gestão e administrando melhor seus custos para poder ajudar na expansão em
novos mercados.
As ações adotadas com a implantação do sistema de gestão em segurança e medicina do
trabalho são: no ano 2006 foi realizado um diagnóstico referente a área segurança e medicina
do trabalho com a implantação de poucas ações estruturadas como a elaboração da política e
objetivos de segurança e medicina do trabalho para iniciar o processo de implantação do
sistema de gestão integrada em segurança e medicina do trabalho e elaboração/atualização dos
procedimentos da área. A partir de 2007 foi executado o plano de ação: Adquirindo EPIs e
EPC´s de acordo com as áreas de risco; Realizando treinamento de prevenção de acidentes e
sobre o gerenciamento do sistema para os gestores e demais colaboradores; Inspecionando às
áreas de riscos com elaboração de relatório; Realizando eventos como a Semana Interna de
Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT); Implantando o programa de ginástica laboral
para todos os empregados das unidades com maior incidência de acidentes; Fazendo
levantamento dos riscos e perigos por cargo por área de trabalho, entre outras ações menores.
Os indicadores utilizados foram: o perfil sócio-funcional dos colaboradores acidentados, o
número e causas dos acidentes de trabalho, taxas de inciência de acidentes do trabalho, o
índice de absenteísmo, resultado da pesquisa de clima organizacional, passivo trabalhista,
comparando os resultados do ano 2006 com 2007. Além disso, os questionários aplicados no
ano 2007 e início de 2008 aos gerentes, cipeiros e diretores foram tabulados com o objetivo de
validar os números apurados pelos indicadores.
4.1 Perfil Sócio-funcional dos Colaboradores Acidentados
Quanto a este item verificou-se que o percentual encontrado no ano 2006 se repete em 2007.
Neste item foram avaliadas as variáveis: sexo, idade, estado civil, ocupação e tempo de
empresa.

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Quanto ao sexo, cerca de 36% dos profissionais que sofrem acidentes na empresa em estudo
são do sexo feminino e 64% do sexo masculino. Quanto a idade, observou-se que 55% dos
acidentes ocorrem com mais frequência em profissionais de idade entre 18 e 29 anos. 30%
dos acidentes acontecem com adultos, entre 25 a 40. No que se refere ao estado civil, 60% dos
acidentados são solteiros. Infere-se que os jovens solteiros arriscam-se mais cometendo mais
atos inseguros. A respeito da ocupação, verificou-se que 47% dos colaboradores que sofreram
acidentes de trabalho estão lotados no cargo de repositor de perecíveis (açougue e pescados,
frios, salgados e congelados) e cargos do setor de padaria (masseiro, cilindreiro, forneiro,
servente de padaria, cozinheiro e balconista); 19% são operadores de caixa atuando no setor
de frente de loja; 13% são ajudantes de depósitos e cargos relacionados à área como:
conferente, empilhador. Quanto ao tempo de empresa, observou-se que 47% dos funcionários
que sofreram acidentes possuem até 3 anos de empresa. Com isso, infere-se que esses
funcionários ainda não possuem as habilidades necessárias em sua totalidade para o
desempenho ótimo no cargo, isso quando não ocorrem promoções e transferência para outros
cargos durante esse tempo.
4.2 Número e Causas dos Acidentes de Trabalho
No ano de 2006 aconteceram 161 acidentes típicos com afastamento e em 2007, 146 acidentes
nas mesmas lojas estudadas no ano 2006. Verifica-se, com isso, uma redução de 9,32% nos
acidentes típicos com afastamento. Porém, quanto ao setor de maior incidência repete-se ao
ano 2006, ou seja, o setor de perecíveis, representando 50% dos acidentes. Esses acidentes
referem-se a cortes com a faca e serra de fita, além de quedas devido ao chão molhado e
queimaduras na padaria. Um outro setor bastante representativo é o depósito e manutenção
com 30% devido a quedas em altura, transporte de peso excessivo, queimaduras, choque
elétrico, entre outros. Esses acidentes aconteceram, principalmente pelo número inadequado
de EPIs, falta de treinamento, instalações e equipamentos de trabalho inadequados e pouco
controle quanto a manutenção de um trabalho seguro. A redução deu-se devido
principalmente a compra dos EPIs e participação dos empregados nos treinamentos de
prevenção de acidentes.
Quanto as doenças ocupacionais, em 2006 houve 31 novos registros de empregados com
doenças ocupacionais. Já no ano 2007 houve 21 registros. Também houve uma redução,
porém bastante significativa de 32,25%. Nesse caso, o SESMT (médicos do trabalho)
destacou que essa redução deu-se, em relação ao ano 2006, devido a um rigor maior nos
atendimentos ocupacionais, padronização de todos os procedimentos médicos rotineiros,
realização de exames mais específicos de acordo com o risco e uma anamnese mais
aprofundada, além de agir especificamente nas filiais que possuem maior incidência de
doenças através de programas de ginástica laboral e treinamentos preventivos. Á área com
maior representatividade nos afastamento por doença é a frente de loja com os operadores de
caixa devido aquisições de doenças do esforço repetitivo, como por exemplo a Lesão por
Esforço Repetitivo (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). É
relevante observar que os acidentes de trajeto, na empresa em estudo, são considerados como
eventos não controláveis, por esse motivo não são tratados, uma vez que os acidentes de
trajeto acontecem fora das dependências da empresa e diante disso fica mais difícil um
controle. Geralmente se manifestam por quedas, assaltos com agressão física, entre outros.
Verificou-se através dos formulários de investigação e CAT que 35% dos acidentes de
trabalhos referem-se as condições inseguras que existem na empresa, a exemplo: compra de
quantidade inadequada de EPI e EPC; a realização de poucos treinamentos de prevenção de
acidentes devido a dificuldade de liberação dos empregados para participarem; uso de

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equipamentos ultrapassados, que apresentam defeitos periódicos e sem manutenção;


instalações inadequadas ocasionando temperaturas excessivas, infiltrações, piso escorregadio,
desnivelado e frequentemente molhado (sem sinalização); pouco controle e interesse dos
gestores quanto a cobrança a sua equipe sobre as questões de segurança; investimento
limitado da diretoria no sentido de agilizar as reformas para melhorar o ambiente de trabalho e
pouca cobrança da diretoria para uma postura mais efetiva dos seus gestores no sentido de
acompanhar com maior afinco as ações planejadas durante sua execução.
Quanto aos atos inseguros representam 35% dos acidentes, essa causa é um reflexo de
situações como falta de cuidado e de atenção do próprio empregado para realizar a sua tarefa;
agressão física por iniciativa do próprio acidentado; imprudências; entre outros. Porém
existem situações onde acontecem os dois, tanto condições inseguras como atos, a exemplo de
acidentes em altura no depósito, quando, por exemplo, um ajudante de depósito percebe que
na loja não possui escada, ele escala a prateleira com cerca de 4 a 5 metros de altura sem
nenhuma proteção; consertos/ajustes de máquinas em movimento, entre outros. Situações
similares a essa representam 30% dos casos de acidentes. Esses percentuais mantém-se nos
dois anos analisados.
4.3 Taxa de Incidência dos Acidentes de Trabalho e de Gravidade
Para se calcular a taxa de incidência de acidentes de trabalho é seguida a seguinte fórmula:
razão entre o número de novos casos de acidentes de trabalho refistrados pelo número médio
de vínculos multiplicados por 1000, onde, o número de novos casos referem-se aos novos
acidentes por período e o número médio anual de vínculos refere-se a população exposta ao
risco. Foram considerados em 2006, 192 novos casos de acidentes e doenças ocupacionais
com afastamento, numa média de 7500 empregados, utilizando a fórmula acima foi obtido ,
26 acidentes a cada 1000 funcionários e em 2007, considerando 167 afastamentos, obteve-se
22 acidentes a cada 1000 funcionários. Uma redução de 15,5% em relação ao ano anterior.
No que se refere a taxa de gravidade, representa a perda de tempo que corre como
consequências dos acidentes de trabalho. Foi obtido em 2006, a cada 1 milhão de horas
homem trabalhadas, 346 dias de trabalho foram perdidos com acidentes e doenças. Em 2007,
foram perdidos 259 dias a cada 1 milhão de horas homem trabalhadas. Houve uma redução de
dias perdidos de 25% em relação ao ano 2006.
4.4 Absenteísmo
No ano 2006, 28% das faltas na empresa foi devido a acidentes e doenças ocupacionais. Em
2007, houve uma pequena redução para 25%. Isto sugere que há relação direta entre os
investimentos em ações preventivas e corretivas e que estão refletindo positivamente, em
especial las lojas de maior incidência de acidentes, nas quais estão sendo implantadas o
sistema de gestão.
Verificou-se que 82% dos acidentes que aconteceram no ano 2007 tiveram até 15 dias de
afastamento do trabalho, No que se refere aos acidentes com período de afastamento superior
a 15 dias, representam 18% , principalmente no que se referem as lesões mais graves, devido
ao esforço repetitivo - LER, problemas na região lombar, traumatismos, entre outros. Nesse
caso o funcionário é afastado e é segurado pelo INSS, onde receberá o auxílio-doença ao
acidentado.
É importante ressaltar que o tempo médio perdido de dias de trabalho por acidente de trabalho
(doença ocupacional) na empresa em 2006 é de 29 dias, totalizando 6238 dias. Em 2007 esse
número médio reduz em 48%, tendo um tempo médio por afastamento de 15 dias, totalizando

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4142 dias. Esses valores ratificam o trabalho da área de segurança e medicina com um
controle mais acirrado. Fazendo uma analogia com uma loja fechada: equivale a uma loja
fechada com 148 funcionários durante 28 dias úteis no ano 2007. Se fosse feita essa
comparação, também, em 2006 seria uma loja fechada com 223 funcionários. Ou seja, um
prejuízo enorme!
4.5. Passivo Trabalhista
É importante ressaltar que na empresa estudada, somente em 2007, foram gastos cerca de dois
milhões de reais com custos relacionados a multas da Delegacia Regional do Trabalho (DRT),
horas-extras, contratações, reclamações trabalhistas feitas pelos funcionários à justiça do
Trabalho referentes a acidentes e doenças ocupacionais. Desses custos cerca de 50% referem-
se a reclamações trabalhistas. Comparando com o ano 2006, houve uma queda nos custos
relacionados a acidentes ocupacionais e insalubridade de cerca de 10%. Esta ligeira melhora
vem ocorrendo notadamente nas lojas que está sendo implantado o sistema de gestão. É
possível que esta tendência positiva decorra diretamente destes investimentos.
4.6. Resultado da Aplicação do Questionário sobre Segurança e Medicina do Trabalho
De acordo com os dados coletados através do questionário aplicado a 58 pessoas que estão
envolvidas com a questão segurança e medicina do trabalho, detectou-se, neste estudo, que
todos os respondentes afirmam não conhecer em sua totalidade sobre o tema segurança e
medicina do trabalho, excetuandos os componentes do SESMT. Eles afirmam que esse
resultado acontece devido a pouca divulgação que a própria instituição faz e realização de
treinamentos não atingindo a todos os empregados. Os treinamento estão sendo intensificados
nas lojas onde o sistema está sendo implantado.
Quando questionados se consideram que a empresa atua e resolve problemas relacionados à
segurança e saúde do trabalhador, observou-se que 80% discordam do questionamento. Por
outro lado, 20% dos respondentes afirmaram que concordam devido, principalmente, as
poucas multas recebidas. Quanto à aplicação das normas de segurança no ambiente de
trabalho, detectou-se que 80% dos respondentes discordam da efetividade dessa aplicação,
pois a maioria respondeu que além de não conhecerem a maioria das normas de segurança,
não percebem melhorias significativas nos ambientes de trabalho.
Quando os pesquisados foram questionados se a empresa possui normas de segurança e
medicina do trabalho. Todos os respondentes afirmaram que a empresa possui algumas
normas, mas pouco aplicadas, devido à falta de priorização da própria administração.
No que tange a participação das gerências na divulgação dos programas de segurança e
medicina do trabalho 90% responderam que não há essa participação e só acontece de forma
pontual ou quando acontece algum acidente ou situação mais grave ou crítica.
No que se refere às condições de trabalho (instalações físicas, equipamentos, recursos, etc.)
que a empresa proporciona, percebeu-se que 80% dos funcionários consideram bastante
precárias principalmente nas lojas de bairro mais pobres.
Na questão aberta sobre como o funcionário pode ajudar a empresa a proporcionar um
ambiente mais seguro, foram identificadas as seguintes respostas: 82% afirmaram que podem
ajudar desde que a empresa faça a sua parte, através de orientação aos colegas, sendo mais
disciplinado quanto ao uso de EPI, participando dos treinamentos oferecidos e ajudando na
manutenção do EPI recebido.

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Quando foram questionados sobre a atuação da CIPA da sua unidade de trabalho, 78%
afirmaram que a atuação não é boa, e que a maioria dos empregados só quer participar da
CIPA para adquirirem estabilidade e quando manifestam interesse em fazer inspeções de
segurança não são liberados pelas gerências diante do argumento de que o quadro de
funcionários é enxuto e deve ser dada prioridade para a venda.
Quanto à atuação dos componentes do SESMT, foi evidenciado que 57% afirmaram que são
profissionais determinados e persistentes, porém não têm o apoio total da diretoria para
implantar os programas de segurança e medicina do trabalho. 40% dos respondentes
afirmaram que sua atuação ainda é muito tímida, precisa visitar com maior freqüência as
lojas.
Os diretores entrevistados reconhecem o resultado da pesquisa, assumem as falhas de gestão
detectadas, porém afirmaram que em 2008 esse retrato de segurança e medicina do trabalho
tende a mudar de forma positiva, onde seria incluído na pauta de todas as reuniões quinzenais
com o corpo diretivo o tema sistema de gestão integrada em segurança e medicina do trabalho
(dificuldades e acompanhamento das ações) e em seguida seria divulgado o status do tema a
toda a empresa.
É importante ressaltar que cerca de 50% dos entrevistados não fazem parte das lojas cujo
sistema de gestão de gestão em segurança e medicina do trabalho está sendo implantado,
talvez, justifique o resultado das opiniões acima sobre o tema, bem como tal resultado ratifica
que a empresa precisa melhorar a divulgação dos números positivos alcançados com o sistema
implantado, investir mais em capacitação e melhorias nas instalações.
5. Conclusão
Investir em SST é uma estratégia, no mínimo, perspicaz, pois existem muitos fatores
relacionados a segurança e medicina do trabalho que não são tão explícitos a exemplo da
elevação do moral dos colaboradores; redução dos custos com horas-extras, multas e passivos
trabalhalhistas; elevação da imagem da empresa perante os consumidores e comunidade em
geral, entre outros. Porém, para a infelicidade de alguns dirigentes esse investimento acontece
tardiamente, pois visualizam a segurança do trabalho como um mal necessário e acaba
negligenciando a sua importância para a empresa e com isso desequilibrando-se na
administração dos seus custos e na gestão de pessoas.
Felizmente a empresa em estudo, apesar de estar iniciando a implantação de um sistema de
gestão em segurança e medicina do trabalho, ter vários problemas com passivos trabalhistas,
condições de trabalho precárias na maioria das lojas, maquinário ultrapassado e deteriorado,
elevação das horas-extras, das faltas e desligamentos, entre outros, tomou a iniciativa de
incluir dentro das suas estratégias principais a questão de segurança e saúde do trabalhador
com o objetivo de conseguir expandir ainda mais os seus negócios com uma administração de
custos equilibrada, bem como proporcionando melhores condições de trabalho e um ambiente
seguro dentro da legislação pertinente. Na verdade tal empresa está fazendo nada mais que
sua obrigação, mas percebeu a tempo que se as pessoas estiverem satisfeitas e sentirem-se
respeitadas no ambiente de trabalho facilitará o processo de mudança e ajudará a alcançar
seus objetivos, como também os de seus empregados, pois com o crescimento da organização
surgirão várias oportunidades para o desenvolvimento de todos.
Implantar de forma adequada um sistema de gestão em segurança e medicina do trabalho
envolve custos a princípios altos, mas se acontecer de forma planejada com a elaboração de

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um plano de ação, estes custos serão diluídos ao longo do tempo e os ganhos certamente
acontecerão.
Sobre a eficácia de implantar um sistema de gestão em segurança e medicina do trabalho na
empresa em estudo, percebeu-se, em apenas um ano de trabalho, que nas lojas piloto, ou seja,
as de maior incidência de acidentes, houve uma redução média de cerca de 19% nos
indicadores analisados, revelando que a empresa está no caminho certo, no controle dos seus
custos com acidentes. Ressaltamos que os órgãos reguladores estão apoiando a empresa neste
trabalho, pois ajudaram na elaboração do planejamento, flexibilizando quanto ao
cumprimento de prazos.
Sendo assim, diante das informações analisadas, levantou-se uma tendência positiva,
especialmente nas lojas onde o sistema de gestão está sendo implantando. É uma estratégia
que pode, em um primeiro olhar, ser considerada positiva para o alcance dos objetivos
organizacionais, uma vez que os resultados gerais deste estudo sugere que os investimentos
em segurança do trabalho reflitam em um maior equilíbrio na administração de custos e do
seu pessoal. Em última análise, estes investimentos parecem ajudar a empresa na consecução
de sua estratégia. Neste sentido, a presente pesquisa contribui ao sinalizar que os gestores
estão corretos em crer que há clara interveniência do aprimoramento dos indicadores
analisados nos resultados da organização.
Cabe ressaltar que para uma análise mais detalhada e consistente de comprovação da eficácia
e tendências é necessário avaliar, pelo menos, 4 anos de resultados com o sistema de gestão
implantado, onde também seriam identificados quais os indicadores teriam maior impacto nos
investimentos.
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