2011
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Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais
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Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Maria das Mercês Borem Correa Machado Ana Cristina Santos Peixoto
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Paulo Cesar Mendes Barbosa Maria Narduce da Silva
Unidade 1
O Que É Linguística Aplicada?
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Unidade 2
Aquisição de segunda língua
2.4 Concluindo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Unidade 3
A Interlíngua e os Aprendizes
3.3 Os aprendizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Concluindo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Unidade 4
Formação de professores
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Apresentação
Caro acadêmico, a falar. E por último, veremos sobre a formação
Vamos iniciar os estudos sobre assuntos do professor de línguas. Outro assunto que en-
indispensáveis na área de estudo da Língua caixa como luva na atual situação em que você
Inglesa. Você terá oportunidade de aprender se encontra. Começaremos dando algumas di-
e discutir suas ideias sobre a Línguística Apli- cas que facilitarão a sua leitura.
cada. No primeiro capítulo, definiremos o que Você verá que em todo o material, tere-
é Linguística Aplicada e a sua importância nos mos sugestões de filmes ou de atividades. É
estudos sobre línguas. Nesse capítulo você importante que você assista a todos os filmes
verá que os assuntos tratados na Linguística que forem sugeridos e que faça todas as ativi-
Aplicada (doravante LA) estão presentes em dades. As sugestões serão uma forma valiosa
toda a sua vida de estudante de Letras, de fa- de exemplificação das explicações dadas. En-
lante de uma ou mais línguas, de aprendiz e tão, não perca tempo! Siga todas as dicas e su-
de professor de línguas. Teremos muito as- gestões para aprender muito!
sunto pela frente! No segundo capítulo, va- Algumas palavras estarão em negrito no
mos aprender sobre a Aquisição de Segunda corpo do texto. Isto indica que elas são concei-
Língua. Creio que esse assunto chamará sua tos importantes. Essas palavras e expressões
atenção e aguçará a sua curiosidade porque em negrito serão seguidas por uma breve ex-
você verá em sua própria história os concei- plicação do que significam ou indicam. Entre
tos aprendidos. Muito interessante, não é? No parênteses você encontrará a tradução em in-
terceiro capítulo, estudaremos sobre a interlín- glês. Olhe o exemplo a seguir:
gua e os aspectos da língua que aprendemos
Alguns termos aparecerão apenas escri- Use todos os recursos da sala de aula vir-
tos em inglês e em negrito e itálico. Isso acon- tual para partilhar suas descobertas sobre a
tecerá quando não houver necessidade de tra- Linguística Aplicada. Você verá, ao compar-
dução ou quando não houver uma tradução tilhar suas ideias sobre a aprendizagem, que
satisfatória disponível. a experiência de ensinar e aprender são rele-
As frases acompanhadas de (*) estão gra- vantes para todos. Afinal, dessa experiência,
maticalmente inadequadas. Fique atento! poderá surgir uma grande oportunidade de
Você não encontrará um glossário dos desenvolver uma pesquisa. O que você acha?
termos específicos da Linguística Aplicada Vamos começar?
porque optamos por explicá-los e/ou exempli- Bons estudos!
ficá-los dentro do próprio texto. As autoras.
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Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Unidade 1
O Que É Linguística Aplicada?
Vanessa Leite Barreto
Este capítulo tem como finalidade con- mental estabelecer as diferenças e demarcar
ceituar a Linguística Aplicada (LA) e traçar um as fronteiras entre a Linguística e a LA. Em se-
panorama sobre os avanços realizados pe- guida proporei um percurso sobre os vários
los principais linguistas aplicados em todo o conceitos de LA estabelecendo os pontos de
mundo. Aprofundaremos sobre a pesquisa em encontro bem como as contradições segundo
LA um pouco mais adiante. Considero funda- pesquisadores da área.
11
UAB/Unimontes - 6º Período
A partir disso podemos concluir que ape- sua atuação. Veja que não há nada de extraor-
sar de uma inicial "dependência" da Linguísti- dinário nisso, contudo os esclarecimentos re-
ca e de uma "falsa identidade" que relacionava alizados através dos primeiros estudos foram
a LA exclusivamente a problemas de ensino- reveladores e contribuíram para a compreen-
-aprendizagem de línguas, o caráter interdis- são da LA como uma ciência dissociada da Lin-
ciplinar, abrangente, processual e investigati- guística. Os debates, que hoje são temas dos
vo dessa ciência faz com que a linguagem, de congressos, colaboram para o fortalecimento
uma maneira geral, seja o ponto primordial de e crescimento da área.
12
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Pode-se dizer que a definição acima situa municativas. Por fim, ainda que não se encon-
a LA como uma área que se origina da Linguís- tre uma definição objetiva para a LA, conside-
tica, porém o caráter interdisciplinar, que con- ra-se aceitável a possibilidade de concebê-la
tribui para uma abrangência de interpretação não apenas como uma subárea da Linguística,
e compreensão das questões relacionadas à mas como uma área das ciências humanas que
linguagem, é nítido. Também Matos (1996) re- representa, através da interdisciplinaridade,
força essa visão e acrescenta a ela a busca de uma ciência democrática, que dialoga com as
soluções para os problemas relacionados às outras sem hierarquias.
relações humanas envolvendo questões co-
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Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Referências
ALMEIDA FILHO, Jose Carlos Paes. Linguística Aplicada : ensino de línguas & comunicação. 1ª
ed. Campinas: Pontes, 2005
BOHN, H. I. Linguística Aplicada. In: BOHN, H.I. ; VANDRESEN, P. ( Org.). Tópicos de linguística
aplicada: o ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: UFSC, 1988.
COOK, Guy. Applied Linguistics. In: Cook, G. Applied Linguistics. Oxford: Oxford University
Press, 2003. Chapter 1, p. 3-11.
MOITA LOPES, L P. da. Oficina da linguística aplicada: a natureza social e educacional dos
processos de ensino/aprendizagem de línguas. Campinas: Mercado de Letras, 1996.
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Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Unidade 2
Aquisição de segunda língua
Rejane Cristina de Carvalho Brito
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UAB/Unimontes - 6º Período
to de mundo e de toda a sua história como regulares de forma correta. Apesar disso, Wes
aprendiz e falante de sua língua materna (L1). É mostrava um uso constante de fórmulas (for-
no mínimo uma curiosidade de muitos quere- mulas), que são expressões fixas da língua (por
rem saber como acontece a imbricação desses exemplo, "what’s up?”, “have a nice day"). Sch-
conhecimentos na aprendizagem. midt percebeu que o jovem japonês identifi-
Ainda nos chamam a atenção os estudos cava as fórmulas no input que recebia e fazia
sobre a aptidão do aprendiz (learner aptitu- uso dessas expressões de forma consciente.
de), que é entendida como uma disposição Esse comportamento garantiu a Wes uma co-
natural para se aprender outra língua. Alguns municação bem sucedida na língua-alvo
estudos sugerem que a aptidão varia entre os Na segunda pesquisa, também um estu-
aprendizes e que isso pode resultar em maior do de caso, Ellis (1992) investigou duas crian-
ou menor fluência na língua-alvo. Enfim, são ças em contexto formal de aprendizagem (sala
vários os objetivos e motivos para estudar a de aula). As duas crianças estavam no nível
AL2. Veremos agora alguns exemplos de pes- iniciante de aprendizagem da língua inglesa
quisas do tema. como L2. Uma criança era um menino portu-
glossário Traremos aqui duas pesquisas citadas guês de 10 anos de idade já alfabetizado em
por Ellis (1992). As duas pesquisas são estudos sua L1. Esse menino foi nomeado, por ques-
Adotamos os termos
de caso. A primeira foi aplicada por Schmidt tões éticas, como J. A segunda criança, R, era
Segunda Língua e Lín-
gua Estrangeira como (1983) sobre o processo de aquisição da língua um menino paquistanês de 11 anos que ain-
sinônimos para este inglesa de um falante nativo de japonês adul- da não havia sido alfabetizado em sua L1. Os
trabalho. Mais à frente, to chamado Wes e a segunda foi desenvolvida dois meninos tinham perfis bem diferentes. R
explicaremos o que pelo próprio Ellis. era tímido e dependente de sua irmã mais ve-
pode ser entendido
Schmidt investigou a aquisição de L2 de lha para se comunicar em L2. J era expansivo
como diferença entre
os dois termos por um falante nativo de japonês cujo processo e aventurava-se na comunicação em L2. Eles
alguns pesquisadores, de instrução em língua inglesa havia sido in- estudavam em uma escola de Londres espe-
mas optaremos por terrompido na adolescência. Wes aprendeu a cializada em receber alunos recém chegados
usá-los como sinôni- língua ao mesmo tempo em que aprendeu a ao país para a instrução em língua inglesa. O
mos, usando a abrevia-
usá-la para a comunicação. Por causa do seu foco do pesquisador eram os pedidos (re-
ção L2 para ambos.
trabalho, ele começou a visitar constante- quests - expressões de pedidos). Interessava ao
mente o Havaí, onde teve a oportunidade de pesquisador descobrir como os dois aprendi-
DICAS desenvolver a L2. Para a pesquisa, Schmidt zes adquiriam a habilidade de fazer pedidos.
Estudo de caso é um pediu a Wes que gravasse sua fala em inglês e, Ellis visitava regularmente a sala de aula das
estudo intensivo e em seguida, o pesquisador a transcrevia para crianças para coletar dados e fazia anotações
detalhado de uma
unidade que pode ser
análise. A pesquisa com Wes durou três anos dos pedidos feitos pelos dois estudantes. Ini-
um indivíduo, uma desde suas primeiras visitas ao Havaí até o mo- cialmente, J e R pareciam evoluir da mesma
instituição, comunida- mento em que este firmou residência no local. forma, primeiro produziram pedidos apenas
de, etc. Além das gravações feitas por Wes, o pesqui- por gestos. Em seguida, começaram a usar al-
sador também gravou e transcreveu algumas gumas palavras como "Big circle" dito por J ao
de suas conversas informais com seus amigos. pedir o papel cortado em forma de círculo.
Como geralmente ocorre nos estudos em AL2, Entre outros estágios de evolução na apren-
o pesquisador escolhe uma ou algumas es- dizagem, os estudantes também fizeram uso
truturas da língua para investigar a aquisição. de fórmulas. Ao final do estudo, o pesquisador
No caso deste estudo, a opção foi estudar al- conseguiu perceber que havia progresso na
gumas estruturas gramaticais, como o uso do aprendizagem, embora os dois meninos ain-
auxiliar be, o "s" plural, o "s" em verbos conju- da produzissem pedidos muito diretos, sem as
gados na terceira pessoa do singular e o pas- marcas de polidez usadas por falantes nativos
sado simples (-ed) regular. O pesquisador que- do inglês.
ria saber a evolução do uso destas estruturas Os exemplos de pesquisa vistos mostram
do início de sua coleta de dados até o término que a AL2 é algo complexo e, por isso, os estu-
da pesquisa. Nas conclusões de sua pesquisa, diosos preferem enfocar algum aspecto bem
Schmidt percebeu que Wes tinha pouco ou específico da língua para a análise em suas
nenhum conhecimento das estruturas que pesquisas. Durante as análises, a evolução na
ele pesquisava no início dos três anos de pes- produção da língua pelo aprendiz, com base
quisa. Ao final dos três anos de pesquisa, Wes nos seus erros e acertos, pode ser percebida.
ainda não estava próximo à fluência de um E o que é a aquisição? Schmidt (1983) define
nativo. Ele ainda não usava o "s" plural em al- que só é possível dizer que o aprendiz adqui-
gumas situações; normalmente, não usava o riu determinada estrutura da L2 quando o uso
"s" nos verbos na terceira pessoa do singular que este faz da estrutura é semelhante ao que
e nunca usava o passado simples dos verbos o falante nativo faz.
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Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Após ter iniciado as explicações sobre dessa evolução: os erros. Há vários ditos popu- dicas
AL2 foi possível perceber que há muito que lares sobre erros "é errando que se aprende", Um estudo longitu-
se estudar a respeito do assunto. Vimos que a "errar é humano", etc. E no caso da L2, como o dinal visa analisar as
aquisição de uma língua é um processo longo erro é visto no processo de aquisição? No pró- variações (ou ausência
e complexo que requer estudos longitudinais. ximo item, estudaremos sobre os erros na AL2. delas) em uma amostra
Então, vamos agora ver uma parte importante (indivíduo, comunida-
de, ambiente, etc.) por
um longo tempo.
She tell* the same story everyday. She tell* the same story everyday.
O erro do uso do verbo to tell na terceira pessoa O mesmo erro cometido por um aprendiz inician-
do singular (o correto seria tells) possivelmente te da língua inglesa, possivelmente, aponta a falta
foi um deslize e não a falta de conhecimento do de conhecimento da estrutura correta. Este fato
falante. Este fato caracteriza um mistake. caracteriza um erro.
É preciso diferenciar erro de mistake, ve- terceira pessoa do singular, de forma alguma,
jamos algumas formas. Se o aprendiz é capaz esse fato caracteriza um erro. Embora a distin-
de corrigir a sua falha, isso indica que a falha ção pareça clara e simples, hoje não há uma
é um mistake. Caso o aprendiz não consiga forma de distinguir com total propriedade
corrigir sua falha, há aí a indicação de que lhe o que é erro e o que é mistake. Um aprendiz
falta o conhecimento para isso e, sendo assim, pode, em seu nível mais avançado, demons-
temos um erro. Outra forma é perceber se há trar o uso correto de determinada estrutura
uso da forma correta e incorreta de determi- em um contexto e não conseguir usar a mes-
nada estrutura da língua com frequência. Por ma estrutura em outra situação.
exemplo, voltando ao exemplo acima, se o Há algumas formas de descrever erros.
aprendiz do caso 2 usar o "s" da conjugação Por exemplo, pode-se identificar e definir er-
do verbo na terceira pessoa do singular em ros como gramaticais. A omissão (omission)
alguns momentos e em outros não, provavel- ocorre quando algum item é omitido de uma
mente, teremos aí um mistake. Mas se o apren- frase e isso a torna incorreta. Veja no exemplo
diz não faz uso do "s" na conjugação verbal na a seguir do filme O Terminal:
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UAB/Unimontes - 6º Período
Policial: Viktor, please don’t be afraid to tell mum que os aprendizes, pelo menos em fase
me you’re afraid of Krakozhia. inicial de AL2, troquem a ordem dos termos,
Viktor (personagem de Tom Hanks): *Is pois a ordem dos adjetivos na língua portu-
home. I am not afraid from my Home. guesa é diferente.
Os erros ainda devem ser vistos como
Vemos na fala de Viktor que ele omitiu o aqueles que comprometem ou não o sentido
pronome subjetivo “it” que era necessário para da frase. Temos, assim, como definir um erro
uma frase correta (It is home). Em seguida, no grave (que compromete o sentido e põe em
mesmo exemplo, temos outro tipo de erro mi- risco o entendimento do interlocutor) e um
sinformation que indica que houve a troca de erro relevante (aquele que não compromete a
uma forma gramatical por outra. Na frase “I am comunicação). Os erros globais (global errors)
not afraid from home” o from está sendo usado são os que comprometem a comunicação. Ve-
no lugar de of. Quando o erro é identificado, jamos um exemplo de uma garota explican-
pode-se trabalhar na sua correção de forma do onde a professora de matemática estava
mais eficiente. Após a identificação é preciso num dado momento: *She left teacher lounge
procurar a causa do erro que pode ser siste- at cafeteria. Na verdade, ela queria dizer que
mática, por exemplo. E algumas vezes, o erro a professora havia saído da sala dos professo-
é até previsível. Pense, por exemplo, em um res para ir até o refeitório. O interlocutor teria
brasileiro adulto que está aprendendo o som enorme dificuldade de entender a explicação
do "th" em inglês. É bem possível que os erros dela. Seguindo, há o erro local (local error)
aconteçam porque não haja correspondente que ocorre quando a comunicação acontece
desse som na língua portuguesa. apesar do erro. Citando outro exemplo do fil-
Alguns erros podem ser universais, para me O Terminal, Viktor, ao explicar o que queria
dar um exemplo, o passado dos verbos na lín- fazer em Nova Iorque, diz:
gua inglesa é um motivo de erros para quase
todo aprendiz desse idioma. Saber, por exem- *I promise I will go New York, find Benny
plo, quando o verbo é regular ou irregular, e Golson, have him write name to put in can.
fazer confusão no uso desse tempo verbal é
muito comum entre os aprendizes. Os apren- Note, no exemplo, que ele consegue ex-
dizes muitas vezes generalizam (overgenera- plicar o seu objetivo: encontrar Benny Golson
lization) o uso de determinadas formas. Veja e pedi-lo um autógrafo para guardar em sua
mais exemplos do filme O Terminal, ao falar lata (onde estão todos os outros autógrafos
sobre a promessa feita ao seu pai, Viktor usa a dos músicos do jazz americano). A frase subli-
forma base do verbo make no lugar de made nhada, apesar de conter erros, não compro-
(passado do verbo). mete o entendimento do que foi dito.
A sequência da aquisição ocorre gradual-
*So I make him promise. I keep promise. mente e, às vezes, algum erro que se pensava
estar completamente resolvido volta a ocor-
Em determinadas situações, ocorre um rer. Isso indica que o uso de uma determinada
erro por transferência (transfer error), ou seja, estrutura nem sempre significa que ela foi ad-
o aprendiz transfere a informação da sua L1 quirida. Como exemplo, podemos citar o uso
para a L2. Voltando ao exemplo de brasileiros de um verbo irregular no passado. Olhe o es-
aprendizes de língua inglesa, pense no uso de quema a seguir:
adjetivos antes de substantivo em inglês. É co-
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Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
atividade
O aprendiz erra ao
O aprendiz usa a Na sua opinião, é
usar a forma do
forma correta: importante que um
infinitivo sem to para professor de língua in-
SAW
indicar o passado: glesa saiba diferenciar
SEE um erro global de um
erro local? Essa diferen-
ça deve influenciar o
processo de avaliação
O aprendiz começa a
da aprendizagem? Res-
usar corretamente o O aprendiz ponda e justifique suas
verbo no passado: generaliza o uso repostas no fórum da
SAW sala de aula virtual.
do sufixo –ed
para o passado:
SEED
As formas, às
vezes, variam:
SAWED
◄ Figura 1:
Esquema do
Desenvolvimento
em U.
A esse acontecimento damos o nome usá-la corretamente. Tal fato ocorre devido a
de desenvolvimento em U (U-shaped course uma acomodação do conhecimento adquirido
development), que representa um modelo de (ELLIS, 1997), o que também pode ser chama-
desenvolvimento da aprendizagem segundo do de reconstrução (restructuring).
o qual o aprendiz, de início, usa corretamente Para entender melhor a evolução da AL2.
uma determinada forma, em seguida a subs- Veremos no próximo item algumas etapas da
titui por uma forma agramatical da sua inter- aprendizagem.
língua até chegar ao nível em que voltará a
21
UAB/Unimontes - 6º Período
geralmente, têm menos medo de se arrisca- gua-alvo é falada e está ali a trabalho. Prova-
rem em produções na L2 independentemente velmente, os erros locais que esse aprendiz co-
da correção que recebem por sua produção. Já meter serão desconsiderados pelos nativos da
os adultos, muitas vezes, sentem-se acuados L2, uma vez que não comprometem a comu-
quando não são capazes de se expressarem nicação. Talvez, o aprendiz não tenha oportu-
com clareza e acuidade na L2. nidade de corrigir os seus erros. O único local
As condições de aprendizagem fazem onde o feedback de um erro está frequente-
parte da contextualização e são igualmente mente presente é a sala de aula. Embora, nem
importantes (LIGHTBOWN; SPADA, 2006). Pri- sempre o feedback recebido ateste a aprendi-
meiramente, vejamos algo sobre o período zagem.
de silêncio (silent period), que é um período Os aprendizes de todas as idades pare-
pelo qual algumas crianças, aprendizes de L2, cem ter algo em comum, todos recebem al-
passam até que tenham confiança para a pro- guma quantidade de input modificado (mo-
dução em L2. Durante o período silencioso, a dified input), que é uma fala adaptada ao nível
aprendizagem está acontecendo e esse perío- que o interlocutor pensa que o aprendiz tem.
do pode ser essencial para que muitos apren- Seria, por exemplo, como aquela conversa que
dizes ganhem a confiança necessária para os pais têm com filhos bebês na ilusão de que
iniciarem as produções na língua-alvo. A expo- eles só entenderão o dito se for simplificado.
sição à língua-alvo é importante, entre outras Outro exemplo para o input modificado é a
condições que importam no contexto da AL2. conversa entre professores e alunos de L2 nos
Por exemplo, no Brasil, um aluno aprendiz de níveis iniciais. Os professores tendem a usar
língua inglesa que não tem muito tempo de estruturas mais simples e, assim, tentam ga-
exposição à língua pode estar em desvanta- rantir a compreensão do aluno. Outro tipo de
gem em relação ao brasileiro que está estu- input modificado é visto quando alguém, ao
dando inglês em um país como a Inglaterra. conversar com um estrangeiro de língua dife-
Há questões como o feedback que o rente da sua, tenta falar mais alto na ilusão de
aprendiz recebe em relação aos erros cometi- que será entendido. Você já viu uma situação
dos que podem influenciar a aprendizagem. assim acontecer?
Por exemplo, considere um aprendiz de L2 Visto um pouco sobre contextualização,
que tenha ido morar em um país onde a lín- veremos agora sobre as teorias.
2.3.1 Behaviorismo
22
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
A teoria de Chomsky foi ligada a AL2 por alguns linguistas que pensavam que os princípios
da gramática universal também valiam para a aquisição de outra língua. "Ela só é possível por-
que temos a capacidade de internalizar um sistema de regras de uma língua a qual estejamos
expostos" (FIGUEIREDO, 2004, p. 18).
◄ Figura 2: Filtro
Afetivo
Comentário:
*O dispositivo de
aquisição da língua é
o que Chomsky chama
de habilidade inata de
aprender uma língua
(referindo-se a L1).
Em resumo, se o indivíduo mostrar atitudes positivas em relação a AL2, este fato indica que
o filtro afetivo está baixo e os resultados serão positivos também.
2.4 Concluindo
Vimos nesta unidade uma introdução sobre a AL2. Desde a abordagem dos erros, passando
por alguns exemplos de pesquisas e terminando com algumas teorias importantes para os estu-
dos de AL2. Procure refletir sobre o seu processo de AL2 e veja em quais pontos da sua trajetória
você encontra semelhanças com o que foi falado aqui. Na próxima unidade, continuaremos no
tema da aquisição falando sobre a interlíngua.
23
UAB/Unimontes - 6º Período
Referências
ELLIS, R. Second language acquisition. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
LIGHTBOWN, P. M., SPADA, N. How languages are learned. Oxford: Oxford University Press,
2006.
24
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Unidade 3
A Interlíngua e os Aprendizes
Rejane Cristina de Carvalho Brito
Iniciaremos uma nova unidade e estuda- gras do aprendiz é permeável. Ou seja, ele so-
remos sobre a interlíngua, que é um conceito fre influências externas (input) e também sofre
muito importante na AL2. Primeiramente, ve- influências internas que são parte do próprio
remos o que é interlíngua e, em seguida vere- processo de aprendizagem. A terceira premis-
mos alguns de seus aspectos. Vamos começar? sa aponta que a gramática do aprendiz passa
Interlíngua (interlanguage), um termo por mudanças de tempo em tempo. Novas
usado pela primeira vez por Larry Selinker, in- regras surgem, outras são excluídas em um
dica um sistema linguístico construído pelo constante processo de reconstrução - como
aprendiz de L2, que possui características em um contínuo. As demais premissas indi-
da L1 e, também, características da língua- cam que é possível que a interlíngua tenha
-alvo, embora seja diferente de uma e de ou- uma variedade de regras e que algumas este-
tra (ELLIS, 1997). Segundo Ellis (1997, p. 33), o jam em competição com outras (o que pode
conceito de interlíngua está diretamente liga- explicar a ocorrência de alguns erros). Além
do a algumas premissas. A primeira premissa disso, indicam que o aprendiz emprega várias
nos diz que o aprendiz de L2 compreende e estratégias de aprendizagem enquanto desen-
produz a L2 baseado em um sistema de re- volve a interlíngua e, por último, aponta que
gras linguísticas abstratas construído durante é provável que ocorra fossilização da interlín-
a aprendizagem. Chamamos este sistema de gua. Nem todo aprendiz desenvolverá a profi-
regras de "gramática mental" (interlíngua). Na ciência de um nativo.
segunda premissa, temos que o sistema de re-
◄ Figura 3:
Input Intake Conhecimento da L2 Modelo Computa-
cional
25
UAB/Unimontes - 6º Período
Figura 4: ►
Ciclo – Modelo Com-
putacional
26
contexto/situação em que se encontra. Além ceito, entre outros.
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Os aspectos discursivos da interlíngua pelo aprendiz, uma vez que o input recebido é
também são relevantes. Os estudos sobre o agramatical.
discurso do aprendiz se ocupam em tentar Ao receber input gramatical, provavel-
entender como o input e a interação afetam mente, o aprendiz terá mais chances de ser
a AL2. Há determinadas convenções entre os bem sucedido sociolinguisticamente falando.
grupos de falantes. São regras de conduta que A foreigner talk gramatical, geralmente, é ofe-
regem o comportamento dos falantes - por recida ao aprendiz de forma mais lenta, mais
exemplo como se abordar um estranho para pausada e simplificada numa tentativa do na-
pedir informações; como cumprimentar um tivo de facilitar a compreensão do que está
conhecido; o que dizer ao aceitar um convite sendo dito. Quando não há entendimento en-
ou um presente em diferentes situações, etc. tre os interlocutores, pode acontecer a nego-
Enfim, há traços ou regras discursivas que o ciação de significados, onde o aprendiz ten-
aprendiz adquire e que permitem uma boa ta entender o que foi dito interagindo com o
convivência sociolinguística. Temos nas in- seu interlocutor. Esse fato é comumente visto
terações em L2 que envolvem o nativo e o em salas de aula de língua estrangeira, e pode
aprendiz dois tipos de input: - o gramatical e o ser um grande auxílio na correção de erros co-
agramatical. Acontece nesse tipo de interação metidos durante a AL2 (ELLIS, 1997).
aquilo que é conhecido como foreigner talk, Durante a negociação de significados, o
que é uma forma característica usada pelo na- aprendiz pode fazer uso do que recebe como dicas
tivo ao conversar com um não nativo na inten- input. Por exemplo, se o interlocutor disser
Volte aos filmes suge-
ção de se fazer compreender mais facilmente. "Time to eat!", mas o aprendiz não concordar
ridos aqui e veja cenas
Poderíamos dizer que esse tipo de comporta- com o que lhe é dito, ele poderá responder de Foreigner talk como
mento lembra a forma como muitas pessoas "No time to eat". Esse processo é conhecido no início do filme O Ter-
conversam com crianças que estão aprenden- como scaffolding (andaimento). A metáfora do minal (quando o oficial
do a falar. andaimento representa o processo de colabo- tenta explicar ao perso-
nagem de Tom Hanks
A foreinger talk agramatical é marcada so- ração entre aprendizes ou entre professor e
que seu passaporte não
cialmente e pode até parecer uma conversa de aluno para a solução de um problema, realiza- é mais aceito).
"índios" como "no+verbo". Esse comportamen- ção de uma tarefa, etc.
to pode ser causa de alguns erros cometidos
3.3 Os aprendizes
Algumas pessoas aprendem ou adqui- de condições necessárias para exercer deter-
rem a L2 com maior facilidade. Isso é fato! Mas, minada atividade, função". Alguns estudos su-
como mensurar as variáveis que causam um gerem que alguns têm aptidão para a apren-
melhor resultado na aprendizagem? Quem é o dizagem de línguas maior que outros. Muitos
aprendiz ideal? É impraticável mensurar o ser conectam a ideia de aptidão ao conceito de
humano e todas as variáveis que o constituem. inteligência, mas há aqueles que acreditam
Mas, é possível falar de algumas variáveis ou que a aptidão vai além de um bom resultado
características de alguns aprendizes que in- em um teste de QI. De acordo com Ellis (1997),
fluenciam ou podem influenciar a aprendiza- há alguns traços característicos do que seja a
gem da L2. Vejamos algumas dessas questões! aptidão para a aquisição de línguas:
Como em outras tantas atividades de en- • A habilidade de codificação fonética que
sino-aprendizagem, os fatores afetivos podem auxilia na aprendizagem dos sons da L2 e
influenciar na aquisição de uma língua. O grau do seu uso;
de ansiedade e a pré-disposição para correr • A sensibilidade gramatical para reconhe-
riscos são fatores que podem agir diretamente cer as funções das palavras em frases e
nas escolhas e no processo da aprendizagem. contextos;
Iniciemos pela aptidão (aptitude), de • A habilidade de reconhecer a relação en-
acordo com o dicionário Houaiss (2001, p. 55), tre forma e significado na estrutura e uso
aptidão é uma "vocação, inclinação, [...], série da língua;
27
UAB/Unimontes - 6º Período
Figura 5: ►
Motivação
dicas
Pense nas suas estraté-
gias de aprendizagem
e partilhe com seus co- Por último, temos as estratégias de contexto e outras palavras para recordar de-
legas na sala virtual! A aprendizagem que são técnicas e atitudes terminado significado. Geralmente os apren-
estratégia de um pode
ajudar o outro! que o aprendiz emprega para tentar apren- dizes têm consciência das estratégias que
der a L2. As estratégias podem ser compor- empregam em sua aprendizagem. Essas es-
tamentais, como por exemplo, aprendizes tratégias, muitas vezes, são frutos de situações
Dicas que repetem várias vezes a palavra ou a escre- orientadas pelos problemas, tarefas que con-
Lembre-se dos filmes ve certo número de vezes para aprender; ou tribuem para a busca de soluções que deman-
indicados neste cader- mentais, por exemplo, criar associações com dam associações como forma e significado.
no didático; perceba a
evolução da interlín-
gua dos personagens
principais.
28
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Referências
ption=com_t&view=ar
ticle&id=297:o-ensino-
-de-lingua-inglesa-e-o-
-mundo&catid=30:tv-
-sala&Itemid=148
ELLIS, R. Second language acquisition. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. (Entrevista com David
Nunan)
FIGUEIREDO, F. J. Q. Aprendendo com os erros: uma perspective comunicativa de ensino de lín-
guas. Goiânia: Ed. UFG, 2004.
LIGHTBOWN, P. M.; SPADA, N. How languages are learned. Oxford: Oxford University Press,
2006.
29
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Unidade 4
Formação de professores
Vanessa Leite Barreto
Rejane Cristina de Carvalho Brito
31
UAB/Unimontes - 6º Período
atividade Tais competências têm reflexos na formação pré-serviço do professor e nas situações de
Vá ao fórum e partilhe serviço, determinando a qualidade do trabalho desenvolvido em sala. Obviamente questões
com seus colegas o que relacionadas às crenças/representações e expectativas dos alunos de letras também afetam o
você tem feito para de- desempenho do futuro profissional. Trataremos a seguir das dificuldades e desafios acerca da
senvolver as competên- formação do professor.
cias e habilidades que
o a profissão demanda
de um professor de LE.
professor de LE
sobre o que pretende
fazer para desenvolver
as competências co-
municativas. Creio que
seus colegas poderão
te dar dicas valiosas e Formação e treinamento são procedi- cas e habilidades a serem aplicadas em sala
você também poderá mentos distintos, em especial, quando se tra- de aula". Quando se trata de formação, ob-
contribuir muito.
ta de ensino-aprendizagem. Treinar implica servamos um caminho mais complexo onde
ensinar técnicas de ensino que incentivem o o profissional de ensino é envolvido pelos
professor a dominar e reproduzir certas es- conhecimentos adquiridos na universidade e
tratégias para atingir determinado objetivo. por aqueles advindos da experiência docente.
A preocupação com a metodologia ou uma A inter-relação desses dois saberes aliada à re-
teoria que norteie os trabalhos é inexistente. flexão e postura crítica, resulta na formação de
Segundo Richards e Nunan (1990, p. xi), o trei- um profissional consciente e competente no
namento "caracteriza-se por abordagens que uso das suas habilidades para a prática docen-
concebem a preparação profissional como a te, conforme aponta Celani (2000, p. 25):
familiarização dos alunos mestres com técni-
32
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Com tantas mudanças e demandas so- LE. Sobre a carreira docente, eles acreditam es-
ciais, a formação consiste em um grande tar aptos para lecionar apenas em escolas pú-
desafio para professores de todos os seg- blicas, já que, segundo eles, não é necessário
mentos educacionais e, para professores uni- ter um bom desempenho linguístico para dar
versitários, implica, ainda, a formação em ser- aulas naquele contexto. Esse sentimento de
viço mais crítica e pensada. insegurança e ineficiência, frente ao exercício
O problema da competência linguística da profissão, demonstra, ao mesmo tempo,
do professor de LE também representa um uma preocupação com seus futuros alunos, o
desafio na formação desse profissional. Nem que consideramos positivo, e um preconceito
sempre os currículos dos cursos de Letras das em relação ao ensino de LE na escola pública.
universidades brasileiras comportam um nú- É necessário ressaltar que o preconceito com a
mero de aulas considerado satisfatório por escola pública é muito negativo na formação
acadêmicos e professores. Ao realizarem o es- profissional. Há que se ter o cuidado de tra- glossário
tágio supervisionado, os graduandos revelam balhar a formação profissional para trazer be- Projeto Autônomo: “A
insegurança para ensinar LE e insatisfação em nefício à educação seja em escola pública ou competência profis-
relação ao curso. privada. A reflexão profissional deve indicar o sional do professor de
Em uma pesquisa realizada na Universi- caminho para o aprimoramento e não para o inglês: crenças, expec-
dade Federal de Viçosa, Barcelos, Batista e An- preconceito ou para uma formação sem fun- tativas e dificuldades
dos alunos de Letras”
drade (2004) investigaram as crenças, expec- damentos com justificativas preconceituosas.
tativas e dificuldades dos alunos de Letras e A seguir transcrevemos um trecho da
diagnosticaram um cenário precário no tocan- pesquisa relatada e um depoimento de um
te à qualidade dos cursos de letras, em espe- dos acadêmicos entrevistados:
cial, com relação à competência linguística em
"... um dos problemas que o professor já formado enfrenta é por ele estar na Atividade
sala de aula com vários alunos e se acontecer de algum aluno saber alguma
Usando o chat da sala
coisa sobre a língua estrangeira, sobre a língua inglesa e que ele não sabe, ele
de aula virtual, conver-
vai se ver numa situação difícil, então por isso eu acho que ele tem que saber
se com seus colegas,
tudo da língua inglesa, para ele poder dar aula porque as pessoas que estão ali
professor (a) e tutores
[...] não sabem nada sobre a língua que eles estão aprendendo, então ele acha
sobre os preconceitos
que o professor tem que saber TUDO".(BARCELOS et al., 2004, p.22)
na educação. De que
"... trabalhar em uma escola particular, não sei se a exigência seria maior. Eu te-
forma a formação
ria que estar mais preparada para ensinar inglês. Eu a princípio acho que o mais
profissional poderá
fácil seria ir para uma escola pública mesmo." (BARCELOS et al., 2004, p.19)
contribuir para a dimi-
nuição do preconceito
Esses dois trechos revelam a crença na las públicas e privadas tenham a mesma dedi- em relação ao ensino
impossibilidade de se aprender uma LE em cação do profissional. público? Como você
escolas públicas, esquecendo-se de que recur- De uma maneira geral, as universidades poderá contribuir efeti-
vamente?
sos e livros didáticos, apesar de importantes parecem apresentar uma ineficiência na for-
não consistem em meios exclusivos de ensino mação dos futuros profissionais da educação.
e aprendizagem de línguas. A criatividade e a Há que se investir na qualidade dos cursos, na
dedicação do profissional podem resultar em formação integral do educador, sanando pro-
uma aprendizagem real e eficiente. "A ques- blemas relativos à competência linguística,
tão é que nunca se ensina e se educa de forma bem como na preparação do profissional para
igual. O processo de educar nunca é o mesmo atuar em sala de aula de LE. Investimentos na
do que foi feito ontem, sempre se transforma. formação inicial e continuada dos professores
Isso porque os alunos são outros, [...], a situa- podem resultar em ganhos para a socieda-
ção muda, o contexto muda" (BRITO, 2010, p. de, que poderá contar com profissionais mais
49). Novamente, é preciso ressaltar que o es- competentes e atualizados, e para o mercado
tudo da situação e as ações críticas em relação de trabalho desse docente, que passa a ser va-
ao ensino devem contribuir para que as esco- lorizado e visto com respeito e admiração.
33
UAB/Unimontes - 6º Período
34
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
O professor, tanto quanto seus alunos, para aprenderem, sempre precisam ver
em suas ações uma transcendência, precisa sentir que o que faz é importan-
te para além do que se constrói em sala de aula. Para além das questões reais Dicas
que podem pesar e desmotivar qualquer tentativa de mudança e de aperfei- Aproveite o chat da
çoamento, o professor precisa ponderar se não está atuando de um modo tão sala virtual e conver-
rotineiro e engessado que não represente para si um desafio e não lhe dê mais se com seus colegas,
encanto e/ou prazer. (Blatyta, 2005, p.79) tutores e professor (a).
A troca de experiências
Diferentes visões proporcionadas por debates e troca de experiências auxiliam no processo será de grande valor
de reflexão. Um profissional sem medo de errar, que inova e se arrisca de modo consciente, sai para sua formação! O
que você gostaria de
da superfície e possibilita uma formação mais eficiente ao seu aluno. experimentar em sala
de aula como professor
(a)? O que você inovaria
Dicas
Conheça o site da So-
Ainda que não se comprove a eficácia de podem representar um avanço na formação ciedade de Linguística
um processo reflexivo na formação inicial e de professores de LE e na reformulação dos Aplicada: www.sala.
org.br
continuada dos professores, é nítida a urgên- currículos de Letras.
cia de se repensar as práticas e metodologias Ao sair do senso comum e mergulhar em
utilizadas nos cursos de licenciatura. A preo- águas desconhecidas, o professor abando-
cupação única com o conteúdo, que compro- na respostas e modelos prontos, imanentes,
vadamente não é eficaz em um sentido global e passa a refletir mediado pela sua vivência e
e total, dá aos cursos uma falsa impressão de pelas experiências do grupo. A postura repro- atividade
que não existem problemas além daqueles re- dutivista também deve ser deixada de lado e Estamos apresentando
lacionados à competência linguística. dar espaço à criação, invenção e inovação da uma lista de vídeos
Os professores devem estar abertos a re- prática, levando à desconstrução de modelos sobre a formação de
pensarem metodologias e práticas pedagógi- arquetípicos dados como certos. professores de Língua
Estrangeira no Brasil.
cas a fim de ampliar os horizontes de atuação Ao final da unidade, sugerimos mais um Assista com atenção.
do futuro docente. Além disso, devem lembrar momento de reflexão. Fale para seus colegas, Comente com seus
que ampliar metodologias e conhecimento professor (a) e tutores (use o fórum da sala de colegas tutores e pro-
está além do acúmulo de receitas sobre certo aula virtual) o que as reflexões deste capítulo fessor (a).
e errado em sala de aula. Falamos em termos e de todo o estudo da disciplina Linguística Vídeo 1: http://www.
sala.org.br/index.
de autonomia de ideias e tomada de decisões. Aplicada provocaram em você. Você achou im- php?option=com_co
Uma postura consciente e, por vezes, "ousa- portante falar da sua aprendizagem, da prática ntent&view=articl
da" do professor em relação ao processo de de ensino, da sua formação? Gostaria que isso e&id=29:kanavillil-
ensino-aprendizagem, bem como a criação de acontecesse mais vezes? A Linguística Aplica- -rajagopalan&catid=
espaços para questionamentos, debates e livre da está presente nos estudos sobre o ensino 30:tv-sala&Itemid=148
(Formação de Profes-
exposição de ideias, relacionadas às experiên- de LE para te ajudar a falar de si, partilhar e sores e Novas Tecno-
cias e outros saberes do futuro profissional, aprender! logias)
Vídeo 2: http://www.
sala.org.br/index.
Referências
php? option=com_
content&view=article&
id= 295:competencias-
-de- professores-
-no-brasil- historia
ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.). O professor de língua estrangeira em formação. Campinas: -e-evolucao&catid=30:
Pontes, 1999. tv-sala&Itemid=148 (
Competência de Pro-
BARCELOS, A. M. F. Cognição de professores e alunos: tendências recentes na pesquisa de cren- fessores no Brasil)
Vídeo 3: http://
ças sobre ensino e aprendizagem de línguas. In: BARCELOS, A. M. F.; ABRAHÃO, M. H. V. (Org.). www.sala.org.br/
Crenças e ensino de línguas: foco no professor, no aluno e na (não?) formação de professores. index.php? option =
Campinas: Pontes, 2006. com_ content&view
= article&id=359:
BLATYTA, D. F.. Mudança de habitus e teorias implícitas - uma relação dialógica no processo de ead-e-a-formacao-de-
educação continuada de professores. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.). O professor de língua -professores&catid=30:
tv-sala&Itemid=148
estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p. 79-80.
(EAD e a formação de
professores)
35
UAB/Unimontes - 6º Período
BLISS, L. B.; RECK, U. M. An instrument for gathering data in teacher socialization studies. In:
ANNUAL MEETING OF THE EASTERN. ERIC Document Reproduction Service No. 330 662. Disponí-
vel em: <http://eric.ed.gov/ERICWebPortal/search/detailmini.jsp?_nfpb=true&_&ERICExtSearch_
SearchValue_0=ED330662&ERICExtSearch_SearchType_0=no&accno=ED330662>. Acesso em
20 abr. 2011.
FEIMAN, S. Staff development and learning to teach. In: ANNUAL MEETING OF THE EASTERN
EDUCATIONAL RESEARCH ASSOCIATION, 1982, Detroit. (Comunicação apresentada).
MRECH, L. N. Afinal o que é educar? In: MRECH, L. N. (Org.). O impacto da psicanálise na educa-
ção. São Paulo: Avercamp, 2005.
RICHARDS, Jack C.; NUNAN, David (eds.). Second language teacher education. Cambridge:
Cambrigde University Press, 1990.
36
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Resumo
Unidade I - O que é Linguística Aplicada
Na unidade II, vimos a importância dos estudos sobre a Aquisição de Segunda Língua. Es-
tudamos sobre as principais teorias como o Behaviorismo, a Gramática Universal e as teorias de
Krashen. Vimos, ainda, como é importante estudar e entender os erros e, em parte, alguns moti-
vos que levam ao erro e uma breve reflexão de como lidar com os erros no processo de aquisição
da L2.
37
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Referências
Básicas
COOK, G.; SEIDLHOFER, B (eds.) Principle and practice in applied linguistics: studies in honour
of H G Widdowson. Oxford: Oxford University Press, 1995.
Complementares
LIGHTBOWN, P. M., SPADA, N. How languages are learned. Oxford: Oxford University Press,
2006.
RICHARDS, Jack C.; NUNAN, David (eds.). Second language teacher education. Cambridge:
Cambrigde University Press, 1990.
39
Letras/Inglês - Linguistica Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) Leia o trecho abaixo e responda à pergunta que se segue:
"(...) apesar de uma inicial "dependência" da linguística e de uma "falsa identidade" que relacio-
nava a LA exclusivamente a problemas de ensino-aprendizagem de línguas, o caráter interdisciplinar,
abrangente, processual e investigativo dessa ciência faz com que a linguagem, de uma maneira geral,
seja o ponto primordial de sua atuação. Nada de extraordinário, contudo os esclarecimentos realiza-
dos através dos primeiros estudos foram reveladores e contribuíram para a compreensão da LA como
uma ciência dissociada da linguística. Os debates que hoje tematizam os congressos colaboram para
o fortalecimento e crescimento da área."
Ao conceber a Línguística Aplicada como uma ciência dissociada da Línguística e que possui
a linguagem como ponto primordial de sua atuação, entendemos que os problemas de ensino-
-aprendizagem de línguas consistem em apenas um dos temas abordados por ela. Destaque al-
gumas questões que são estudadas pelos linguistas aplicados e que contribuem para o fortaleci-
mento da LA como uma ciência social.
2) Leia e responda:
"Não é de se estranhar a forte tendência em relacionar a LA à simples investigação de proble-
mas relacionados à aprendizagem de línguas. O termo LA tem sua origem relacionada à evolução do
ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras nos Estados Unidos. A II Guerra Mundial é um marco no
que se refere aos estudos ligados ao ensino de línguas."
Justifique o foco na aprendizagem dado naquele contexto que excluía o entorno do indiví-
duo.
5) Leia o trecho:
“As condições sociais influenciam as oportunidades que os aprendizes têm de escutar e falar a
língua e as atitudes que eles desenvolvem em relação a isso”. Ellis (1977, p. 4)
Com base no que foi estudado, explique como as condições sociais podem exercer influên-
cia sobre o aprendiz de língua estrangeira. Exemplifique.
41
UAB/Unimontes - 6º Período
Diante do exposto acima, a jovem Jeane pode ter problemas na aprendizagem da língua
que são explicados pela:
a) ( ) Teoria da aculturação
b) ( ) Modelo computacional
c) ( ) Filtro afetivo
d) ( ) Teoria do Behaviorismo
10) Caso um falante nativo da língua-alvo (neste caso, nativo da língua inglesa) se esforce
para se fazer entender por um não nativo aprendiz dessa língua, poderíamos dizer que aconte-
ceu:
a) ( ) Uma acomodação
b) ( ) Uma divergência
c) ( ) Uma convergência
d) ( ) Uma fossilização
42