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butiques cariocas. Todas elas moravam com os pais e eram sustentadas por eles, logo,
supostamente, não teriam a “necessidade” de trabalhar. Entretanto, para essas moças, o
trabalho nesse tipo de ambiente não estava relacionado apenas ao recebimento do
salário, mas também ao status social que as butiques proporcionavam a elas: entrar em
contato com as últimas novidades da Moda, trabalhar em lugares “bacanas”, fazer
amigos e às vezes conhecer pessoas famosas. O ordenado, apesar de não ser suficiente
para elas se tornarem independentes financeiramente, permitia a compra de peças de
roupa, algumas inclusive na própria butique onde trabalhavam (POP, n° 65, 1978, p. 58-
61).
Motivada pela ascensão do poder aquisitivo das camadas médias e pela
relevância da juventude em termos demográficos - cuja população entre 15 a 24 anos
saltou de 8,2 milhões em 1940 para 18,5 milhões em 197035 - a indústria brasileira,
assim como a estadunidense, buscou, desde meados dos anos 1960, estimular o
consumo juvenil, na tentativa de constituir um novo segmento (MIRA, 1997;
ZIMMERMANN, 2013). No Brasil, foram criados bens culturais destinados ao público
jovem, que estavam associados, de certa forma, às culturas juvenis estadunidense e
inglesa. Filmes americanos como “O Selvagem” (1953), “Sementes da Violência” (1955) e
“Juventude Transviada” (1955) divulgaram modas associadas ao imaginário da
“juventude rebelde” como casacos de couro, camisetas, calças jeans, topetes, lambretas e
discos de rock, que influenciaram o mercado e a cultura jovem brasileira (KAMINSKI,
2018; BARROS, 2016). A “invasão inglesa” liderada pelos Beatles, que chegou
oficialmente ao país em 1963, após o lançamento nacional de seu primeiro compacto,
também inspirou a produção de bens culturais destinados à juventude brasileira. Neste
contexto, que presenciava ainda a popularização da televisão, foram lançados
programas especializados no rock para o público jovem. Em 1965, a TV Record lançou o
programa Jovem Guarda, liderado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos, que
inspirados no sucesso dos Beatles, colocaram no ar a versão brasileira do iê iê iê
(ZIMMERMANN, 2013). No final dos anos 1960, o Movimento Tropicalista, que teve
duração efêmera entre 1967 e 1968, sendo considerado, inclusive, a face nascente da
contracultura brasileira, ganhou visibilidade com o álbum “Tropicália ou Panis et
Circensis” e com o programa na TV Tupi intitulado “Divino, Maravilhoso”, do qual
participaram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Jorge Ben e Os Mutantes. Suas
Sendo assim, optei por utilizar apenas a palavra Pop para me referir ao título da
revista, além disso, como observou Borges (2003), a própria equipe editorial a citava
desse modo desde o início da publicação.
Como mencionado, a Pop foi a primeira revista brasileira voltada especificamente
para a juventude. No texto de abertura da edição n° 1, a Pop destaca essa singularidade:
“Este é o primeiro número da primeira revista da nossa idade. Feita especialmente para
você jovem de quinze a vinte e poucos anos de idade” (POP, n. 1, novembro de 1972, p.
12). Entretanto, segundo comentários de ex-leitores da Pop no blog Apólogo 1136, é
possível inferir que a idade do público leitor extrapolou a faixa etária sugerida pelo
periódico, sendo lido por pessoas ainda mais novas.
A Pop circulou pelas capitais e por outras cidades do interior do Brasil. As capas
da revista assinalam que em algumas cidades da região Norte, ela tinha um preço maior
devido a necessidade de transporte aéreo. Além disso, de acordo com as capas é possível
deduzir que a Pop também chegou a ser comercializada em Portugal, custando ainda
mais caro. Inicialmente a revista Pop custava Cr$ 3,0037, valor que ao longo dos anos
aumentou gradualmente e de modo significativo, chegando a Cr$ 30,00 na sua última
edição, em agosto de 1979 (gráfico 1). Provavelmente, a variação nos preços da revista
Pop estava relacionada à inflação do período, que aumentou drasticamente no final da
década de 1970 (MUNHOZ, 1997)38.
De acordo com Mira (1997, p. 244), “a revista vendia em torno de 100 mil
exemplares mensais, uma tiragem bastante expressiva para época”. Um dos planos
utilizados para incrementar as vendas da revista Pop era presentear o seu público-leitor
com alguns tipos de brindes como pôsteres, estampas, violões e discos de música, cujos
anúncios eram apresentados com grande destaque nas capas. Além do mais, a Pop
também realizava concursos de fotografia, redação e desenho entre outros, cujas
premiações abrangiam viagens internacionais, volantes e até mesmo veículos de lazer e
em:
<http://www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/publicacoes/rec/REC%201/REC_1.1_03_Inflacao_brasileira_os_
ensinamentos_desde_a_crise_dos_anos_30.pdf>. Acesso em: jul. 2018.
60
transporte como barcos e motocicletas, conforme indicam as capas das edições n 10,
12, 15 e 20.
A revista Pop destinava-se, sobretudo, às juventudes das camadas médias. O
direcionamento às classes sociais mais abastadas pode ser observado inclusive, pelas
próprias premiações da revista: a priori, seria necessário ter um carro para utilizar o
volante ganho e resguardar o barco conquistado em alguma garagem/marina. Além do
mais, é possível notar a divulgação de locais, práticas e bens de consumo que sugerem
estilos de vida privilegiados. Na seção Popscope39 da edição n 22, por exemplo, há
notícias sobre a “badalação” do III Campeonato Nacional de Surf realizado na Barra da
Tijuca40, na época já considerada uma região nobre da cidade do Rio de Janeiro como
também sobre o Campeonato Universitário de Caça Submarina em Cabo Frio (RJ) -
prática esportiva que exige o uso de equipamentos caros (POP, n. 22, ago. 1974, p. 24-
25).
Com relação ao marcador raça/etnia, podemos inferir que a revista Pop foi
dirigida especificamente para garotas e garotos brancos. Esta questão pode ser notada
devido à presença massiva de representações de pessoas de pele clara nas capas, nas
publicidades, nas reportagens e nos editoriais de Moda da publicação. Além disso, a
representação dos corpos e os discursos verbais veiculados na revista também indicam
seu posicionamento heteronormativo. A partir do pressuposto da “naturalidade” da
heterossexualidade, a Pop representou apenas casais compostos por pessoas cisgêneras
e heterossexuais. Entretanto, assuntos relacionados à homossexualidade e à
bissexualidade também circularam no periódico, embora de maneira bem mais restrita.
Apesar da Pop se posicionar várias vezes a favor de um mundo “sem preconceitos”, estes
assuntos foram abordados por ela de modo diferenciado se comparados ao tratamento
dado às relações heterossexuais. Na reportagem “Maria Schneider: o símbolo sexual”
veiculada na edição 33, por exemplo, a Pop enfatizou o fato da atriz alemã estar se
relacionando com Lucia Garcia, uma manequim argelina. Contudo, a revista evitou
39“Mini-jornal com tudo – aqui você vai ficar por dentro das transas que estão acontecendo no mundo:
gente, notícias, dicas e tudo o que pode interessar a você” (POP, n 1, nov. 1972, p. 23).
40 O “plano piloto” da Barra da Tijuca foi criado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa em 1969, o mesmo
autor do “plano piloto” de Brasília. Paralelamente a este projeto, novos caminhos ligando a Barra à Zona
Sul e à Zona Norte foram planejados, estimulando a compra de terrenos pelas camadas médias, que se
entusiasmaram pelo fato da região ser dificilmente acessada a partir do centro do Rio de Janeiro. Nos anos
1970, a Barra começou a se desenvolver urbanisticamente, quando surgiram os grandes condomínios de
edifícios de apartamentos e alguns shoppings, acessados, sobretudo, por meio de carros. Disponível em:
<http://www.riodejaneiroaqui.com/pt/barra-da-tijuca-historia.html>. Acesso em: jul. 2018.
61
41Informação obtida em conversa informal com minha mãe, Eunice Schaefer, ex-leitora da revista Pop,
quando morava no interior do Paraná, na cidade de União da Vitória.
62
42 Filha da modelo e atriz Danuza Leão e de Samuel Wainer, o fundador do jornal a “Última Hora”.
43 Autora do livro Almanaque Anos 70, que será utilizado no documento da tese.
44 Disponível em: <https://www.vice.com/pt_br/article/8xxy8a/sonia-abreu-ondas-tropicais-livro>.
Acesso em: jul. 2018.
45 “Quando Caio chegou à Pop era um jornalista experiente, um escritor premiado, dono de um texto
impecável, e vinha com a tarefa secreta de ‘profissionalizar’ a jovem e irrequieta redação da revista” (DIP,
2009, p. 27).
46 Também trabalhou na Playboy, sendo considerado por Marilda Varejão (2018), quarta diretora da
revista Pop, uma referência na equipe de design da Abril. Seu irmão, Omar Grassetti, atuou na revista
Capricho.
63
47 Neste momento, de acordo com os expedientes da revista Pop, entende-se que as publicações da Abril
passaram a ser divididas em femininas e masculinas. Logo, pode-se notar, que apesar da Pop ser uma
revista dirigida tanto para garotas quanto para garotos, ela passa a ser classificada, dentro da concepção
da editora, como uma revista feminina.
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lançando a ideia de uma “revista teen”, visto que naquele momento ainda não existia
nenhuma publicação dirigida especificamente ao público jovem no Brasil. Sua aposta era
fazer uma revista inovadora, voltada tanto para garotas quanto para garotos, que
tratasse de comportamento, música jovem e também de Moda teen, que segundo Côrrea
estava “muito na moda naquela época”. Côrrea comentou ainda que acreditava existir
um mercado para a revista Pop, sendo este composto por jovens das camadas médias,
que de acordo com suas palavras, “quer dizer um jovem consumidor”. Pois, a publicação
precisava ter boa vendagem, uma vez, que a Abril estava tentando romper em certa
medida, naquele momento, com os anunciantes, que sustentavam economicamente
parte da produção das revistas. Mas apesar da revista precisar ter boa circulação,
nenhuma pesquisa foi realizada com o público-alvo, que conforme Côrrea, era uma
prática ainda incomum naqueles anos. Sendo assim, as pesquisas geralmente eram feitas
nas bancas, de modo a avaliar se as publicações estavam vendendo ou não.
Côrrea enfatizou ainda que a revista Pop era uma fórmula editorial nova mesmo
em comparação com as revistas jovens estrangeiras de sucesso comercial como: a
estadunidense Seventeen (1944-), focada apenas no público adolescente feminino; e as
francesas Salut les Copains (1962-2006) - que apesar de ser dirigida para garotas e
garotos, se restringia apenas à música – e Mademoiselle Âge Tendre (1964-1974), que
também era destinada apenas às moças.
Durante sua direção, referente às edições 1 e 2 (novembro e dezembro de 1972),
destacaram-se as colaborações de produção de Moda de Christiane Fleury e de Maria
Luiza Fernandes e dos fotógrafos brasileiros José Antônio de Moraes, Bubby Costa,
Eduardo Clark e do inglês Roger Bester. A priori, Christiane Fleury48, criou conteúdos de
Moda apenas para a primeira edição da revista Pop. Fleury se formou em jornalismo
pela Sorbonne, trabalhando em Paris nas revistas Elle e Manchete no início dos anos
1970 e ao regressar ao Brasil passou a atuar como editora de Moda e Estilo na Editora
Abril, trabalhando para títulos como Noticiário da Moda, Claudia e Elle. Maria Luiza
Fernandes, também conhecida como Malu, trabalhou até a edição 46, em agosto de
1976. Christiane Fleury coordenou o Comitê de Moda da Abril durante vários anos, no
qual Malu passou a representar a Pop. Costanza Pascolato também integrou o Comitê de
Moda, sendo responsável pela revista Claudia, assim como Fernando de Barros,
incumbido da Moda masculina das revistas Quatro Rodas49 e Homem/Playboy50.
Sendo assim, de acordo com Kaz (2018), terceiro diretor da Pop, o Comitê de
Moda da Abril, do qual também participou durante algum tempo, era um dos meios
através dos quais ocorriam diálogos entre a equipe de Moda da Pop e profissionais da
área que atuavam em outras revistas da editora. A partir do Comitê de Moda,
profissionais da Abril tomavam conhecimento a respeito das novidades do universo da
Moda por meio de órgãos internacionais de informação sobre o mercado do vestuário
como GAP e Dépeche Mode. Além disso, também utilizavam serviços especializados em
notícias fornecidos por agências como a alemã Reuters e a espanhola EFE. Estas pessoas
também se informavam por meio de desfiles realizados no Salão de Prêt-à-Porter em
Paris e da empresa multinacional Rhodia S.A., cujos desfiles ocorreram naqueles anos na
Feira Nacional da Indústria Têxtil (FENIT). As novidades sobre Moda também eram
obtidas nas ruas, em festas e viagens à Nova Iorque e às capitais europeias, por exemplo.
Os fotógrafos supracitados trabalharam esporadicamente em diversas edições da
revista. José Antônio, foi um dos fotógrafos mais atuantes entre os anos 1960 e 1980,
realizando trabalhos para as revistas Claudia51 e Nova no início dos anos 1970 (ALI,
2009). Já Roger Bester também fotografou para Realidade (MELO, 2008). Entre eles,
ressalto Bubby Costa52, que nos anos 1970 também trabalhou para revistas masculinas
como Status e Playboy, e cujas fotografias de manequins femininos para a Pop tinham
cunho mais erótico e sensual.
Antes de Gilberto di Pierro (1942-) assumir a direção da revista Pop, dirigiu o
jornal Última Hora, colaborou na criação da revista Contigo! e atuou como redator-chefe
da Pop.53 Durante a sua gestão, entre janeiro de 1973 e fevereiro de 1975 (da edição 3 a
28), a revista Pop passou por algumas transformações que afetaram os aspectos
materiais da publicação, entre elas, destaco a criação do SuperPop e do HitPop. O
SuperPop foi produzido inicialmente em fevereiro de 1973 como uma edição extra da
revista Pop, a priori devido à sua boa aceitação pelo mercado consumidor: “A revista
Geração Pop foi tão bem aceita nos seus primeiros números, que a gente resolveu fazer
logo este SuperPop, um suplemento especial cheio de posters que são umas tremendas
curtições” (SUPERPOP, n 1, fevereiro de 1973, sem página).
Inicialmente o SuperPop foi vendido a Cr$ 4,00, chegando a ter um preço
superior do que a própria revista, que no período, custava Cr$ 3,00 (POP, n. 4, fev. 1973,
p. 36-37). A diferença de preço provavelmente estava atrelada à proposta do SuperPop,
constituído por nove pôsteres coloridos em grande formato, que eram vendidos
dobrados em formato de folder (figura 5). No verso dos pôsteres haviam conteúdos
divididos de acordo com as seguintes seções SuperJornal e Play-Pop. O SuperJornal
(figura 6) abordava assuntos sobre música, cinema, desenho animado, história em
quadrinhos, artes plásticas, turismo, esporte, lazer, Moda, comportamento e dieta
alimentar. Nesta seção, também eram divulgados os últimos lançamentos da indústria
musical, sob o título Hit-Pop, e anúncios de marcas de Moda, sob a denominação “Dicas
Pop”. Na seção Play-Pop (figura 7) foram veiculados jogos, tiras cômicas, horóscopo e
novidades sobre os “astros”. Possuo apenas duas edições digitalizadas do SuperPop, a
primeira, de fevereiro de 1973, e a quinta, de junho de 1973, sendo assim, é complicado
afirmar o período da sua extinção.
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últimas edições. Uma dessas mudanças, que será comentada posteriormente, passou a
relacionar, de certo modo, o HitPop ao público jovem masculino.
diversos periódicos nos anos 1970 como Pasquim, Setenta, Manchete, Vogue e Playboy,
sendo o autor da foto da capa do disco “Índia”, de Gal Costa, que foi censurada na época
pela Ditadura Militar54. Zingg, Aragão e Louza, que atuaram em várias edições da Pop,
também realizaram trabalhos para outras revistas da Abril naqueles anos como:
Realidade, Noticiário da Moda, Claudia e Nova55.
O jornalista Leonel Kaz, que já havia trabalhado no Noticiário da Moda, revista
voltada para o setor têxtil, assumiu a direção da Pop entre as edições 29 a 47 (entre
março de 1975 e setembro de 1976). Durante este período, a redação da Pop mudou de
endereço, passando a residir na Rua do Curtume, 585 - na Lapa de Baixo, um bairro
industrial da cidade de São Paulo. Ao longo da gestão de Kaz, as capas tornaram-se mais
ousadas do que de costume, destacando assuntos tabus por meio de chamadas como:
“Virgindade, sim ou não?” (edição 30); “O amor está mais livre?” (edição 31);
“Casamento já era?” (edição 32); “Vale tudo no namoro?” (edição 33); “Amor e sexo:
você sente prazer?” (edição 34); e “Timidez não está com nada: saia dessa!” (edição 44).
Estas capas (figura 9) retrataram casais heterossexuais em posturas mais liberadas,
dialogando com o relaxamento dos costumes promovido pelas relações entre a
contracultura, o feminismo de Segunda Onda, o movimento gay e o comércio de pílulas
anticoncepcionais. A nudez dorsal, comum aos garotos e as garotas, também pode ser
observada em algumas capas, embora a visualização dos seios tenha sido interditada por
meio de artefatos como quadros e toalhas. Além da nudez, o contato físico entre as
parelhas também é marcante nas fotografias, sugerindo que não se tratam de jovens
virgens, pois há intimidade sexual entre eles.
54 A solução encontrada pela gravadora foi envolver o álbum num plástico azul, gerando curiosidade e alta
vendagem. Disponível em: <https://revistatrip.uol.com.br/trip/antonio-guerreiro>. Acesso em: jul. 2018.
55 Disponível em: <https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-registro-historico-do-brasil-nas-fotos-de-
Por meio deste relato, Leonel Kaz marca a relação entre o termo pop e modos de
ser e estar no mundo conectados, de certa maneira, à contracultura. A sua declaração
reforça uma visão dicotômica a respeito das pressupostas pessoas “pop” e “não-
56 A palavra Pop, utilizada por Kaz para se referir à revista, foi sublinhada de modo a adequá-la à
linguagem já empregada no documento de qualificação, a fim de evitar dúvidas e imprecisões.
73
Roberto e Giancarlo). Também realizou trabalhos para as editoras Bloch e Globo. Foi a primeira mulher
jornalista a trabalhar na revista Quatro Rodas (Abril) e a segunda a atuar na revista Manchete (Bloch),
depois da jornalista feminista Heloneida Studart. Dirigiu ainda a revista Pais & Filhos e atuou em outras
publicações como Claudia, Marie Claire e Criativa (VAREJÃO, 2018).
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59Varejão contou que a ideia era criar uma versão da revista Claudia para o público feminino jovem das
classes B e C, contendo orientações sobre Moda, decoração, culinária e um caderno de Tv (VAREJÃO,
2018).
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60 Na época provavelmente casada com Valdir Zwetsch, que atuou primeiramente no jornal HitPop e
depois como redator-chefe, sob a direção de Carlos Alberto Fernandes.
61 Fez colaborações nas revistas Manchete e Desfile da editora Bloch e nas publicações Claudia e
Manequim da Abril. Também assinou uma coluna na revista Vogue e ao longo da sua carreira entrevistou
pessoas como Chanel, Yves Saint Laurent e Mary Quant entre outros. In: CHATAIGNIER, Gilda. História da
Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
62 Chamada inicialmente de “Popscope”, nesta seção era possível encontrar notícias a respeito das últimas
e Chico Aragão, que já vinham trabalhando para Pop há alguns anos, também atuaram o
carioca Luiz Garrido (1945-) e A. Fratelli. Garrido atuou como correspondente da revista
Manchete no final dos anos 1960 e quando retornou ao Brasil, em 1971, passou a
trabalhar com fotografia de estúdio, nos campos editorial, de Moda e publicidade63.
O jornalista Octávio Chaves de Souza geriu as edições de n° 57 a 73, período
compreendido entre julho de 1977 e novembro de 1978. Antes de dirigir a publicação,
ele fez parte do seu grupo editorial, sendo responsável pelo conteúdo de Variedades. As
capas da Pop passaram por algumas modificações no início da gestão de Octávio. Até a
edição 57, lançada em julho de 1977, 79% as fotografias das capas da Pop eram
constituídas por casais de manequins, 16% por trios compostos por duas garotas e um
rapaz, 4% por grupos de amigos compostos por mais de 4 pessoas (incluindo tanto
garotas quanto garotos). Da edição 58 a 63, as capas foram configuradas a partir de
outras temáticas, fazendo uso de fotografias de atletas como os surfistas Daniel
Friedman e Pepê, este último campeão brasileiro de surfe na época; e também de
artistas da área musical como Ney Matogrosso, Rita Lee, Fafá de Belém, Peter Frampton,
Elvis Presley, Rod Stewart e As Frenéticas. Além de incorporar fotografias de atletas e
artistas, as capas também retrataram manequins, cuja função era apresentar as últimas
Modas e opções de lazer. A revista também passou por transformações no seu layout.
Com exceção da fotografia das Frenéticas, que ilustrou uma edição natalina, imagens de
atletas, artistas e manequins “dividiram” a mesma capa. Diferentemente das capas
anteriores a edição 58, cujas fotografias ocupavam toda a capa da revista, as capas dos
números seguintes passaram a ser configuradas com várias imagens organizadas
segundo uma estrutura. Sendo assim, apesar de poder ter reduzido seu impacto visual,
ao fazer uso de imagens em dimensões menores, a Pop oportunizou a visualização
prévia dos “melhores momentos” da edição, trazendo imagens sobre esporte, lazer,
Moda e o mundo musical (figura 12).
Além disso, a capa da edição 64 foi a única, ao longo das 82 edições, a representar
a amizade entre duas garotas. Nela, as manequins foram fotografadas deitadas em uma
rede em poses descontraídas, vestindo camisetas compridas que deixaram grande parte
das pernas à mostra. Os corpos foram retratados em relação de proximidade, sugerindo
intimidade entre elas, a perna desnuda de uma das garotas, inclusive, chega a tocar as
nádegas da outra (figura 13).
80
Por outro lado, nenhuma capa retratou a amizade apenas entre garotos. As capas
que representaram a amizade foram construídas a partir de fotografias de grupos de
amigos constituídos tanto por garotos quanto por garotas. É possível que a ausência de
capas que ilustrassem a amizade masculina estivesse relacionada ao receio, consciente
ou não, da Pop a respeito desta poder conotar homossexualidade. Pois, diferentemente
da capa da edição 64, que retratou a amizade feminina, onde o toque e a intimidade
entre elas foram representados, nas capas que representaram a amizade, de maneira
geral, a proximidade entre os corpos masculinos foram evitados. Na capa da edição 4, as
garotas foram fotografadas tocando os braços e os ombros dos garotos com as mãos,
sugerindo carinho e intimidade, enquanto o toque corporal entre os rapazes foi
interditado. Na capa da edição 51, em que vários jovens foram retratados tomando
banho de sol na praia, os corpos masculinos foram distanciados enquanto os corpos
femininos foram aproximados (figura 14). Conforme Kimmel e Messner (1992 apud
LOURO, 2000), nas relações de amizade entre homens são mais frequentes os obstáculos
81
A Pop passou por uma transformação na edição 65, em março de 1978, que
perdurou até a sua extinção. Criada inicialmente com a proposta de ser uma publicação
voltada tanto para garotas quanto para garotos, a revista tratou assuntos
tradicionalmente vistos como de interesse masculino (futebol, por exemplo) e feminino
(Moda, por exemplo) como conteúdos “unissex”. A chamada da reportagem “Um volante
assim na máquina, já pensou?” – cuja temática poderia ser associada culturalmente
apenas aos garotos - não fez distinção de gênero: “A onda agora é volante esportivo.
Qualquer cara ou menininha quer ter um para equipar sua máquina” (POP, n. 10, p. 74-
76, agosto de 1973). Mas apesar de muitos assuntos terem sido abordados desta forma,
vários conteúdos não foram apresentados desta maneira. Algumas reportagens sobre
82
Beleza e a prática “Faça você mesmo”, por exemplo, consideraram apenas o público
feminino, reiterando relações históricas e culturais entre mulheres, aparência física e
aptidão manual (ILLOUZ, 2016 e CARVALHO, 2008).
Na edição 65, esta diferenciação de gênero, que ocorria em certa medida na
publicação, tornou-se bem marcada: a revista Pop passou a dividir espaço com a revista
Pop Garota. Enquanto a primeira passou a ser destinada ao público jovem masculino, a
segunda foi dirigida ao público jovem feminino. Sendo assim, o público leitor
encontrava-se diante de duas publicações em uma só revista: de um lado, a revista Pop;
do outro, virando-se a revista de ponta-cabeça, a Pop Garota (figuras 15 e 16). Contudo,
a paginação não foi alterada. Logo, enquanto a numeração da revista Pop começava,
geralmente, na página 3 a da Pop Garota se iniciava em torno da página 8064.
64 Esta contagem chegou ao número 100, quando os suplementos voltaram a compor as páginas da revista.
83
Figura 16: Encontro das páginas das revistas Pop e Pop Garota.
Fonte: POP, n 65, mar. 1974. Acervo pessoal.
Conforme este trecho, a revista passou a associar assuntos sobre música, lazer e
esporte ao público leitor masculino e conteúdos sobre Moda, saúde, beleza e sexualidade
ao público feminino. Entretanto, a despeito deste trecho desconsiderar que os garotos
também poderiam se interessar por Moda e beleza, isto não se concretiza nas páginas da
revista, que trouxeram editoriais de Moda e reportagens sobre cuidados corporais
dedicados exclusivamente aos garotos. Ainda de acordo com este texto, é possível
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deduzir o viés heterossexista65 da revista, que pressupôs que todas as leitoras seriam
heterossexuais. Além disso, apesar da Pop sugerir que as garotas deveriam se inteirar a
respeito dos supostos interesses masculinos para conquistar os garotos, a mesma
requisição não foi feita aos rapazes, os dispensando da tarefa de se informar sobre os
presumidos interesses femininos.
Esta distinção de gênero também parece ter sido replicada na composição do
suplemento da revista Pop, que até o momento se restringia apenas ao jornal HitPop.
Assim como a Pop, o HitPop passou a dividir espaço com o Jornal das Coisas (figura 17),
derivado da seção Popscope, presente nas páginas da revista desde a sua criação. O
Jornal das Coisas era dedicado à publicação das últimas novidades, sobretudo, ao meio
artístico, à Moda, ao lazer e à cultura. Logo, considerando a transplantação da dicotomia
de gênero da revista Pop e Pop Garota para a configuração do suplemento é possível
inferir que o Jornal das Coisas passou a ser associado ao público feminino e o HitPop, ao
masculino. Entretanto, a Pop Garota não limitou a leitura do HitPop aos rapazes
declarando às garotas: “Por fim, você ficará conhecendo o novo Jornal das Coisas e,
dentro dele, o novo HitPop – um barato!” (POP, n 65, p. 82, mar. 1974).
Figura 17: Capas do Jornal das Coisas e do HitPop, que compõem o mesmo suplemento.
Fonte: Suplemento da revista POP, n 74, dez. 1974. Acervo pessoal.
uma revista para jovens que eu dirigia com prazer, na alegria dos meus
quarenta anos, depois de ter dirigido, com igual alegria, uma revista para
senhoras pouco menos jovens. Era um descanso, uma verdadeira festa lidar
com aquela juventude cuja criatividade era preciso controlar com rédea curta
(apud DIP, 2009, p. 23).
A edição 82, de agosto de 1979, foi a última publicação da Pop, que foi
“substituída” pela Garota Pop, um revista autônoma, em formato menor, que a priori,
derivou da Pop Garota (figura 18). Apesar de ter se tornado uma revista “independente”,
a numeração da Garota Pop, continuou a seguir a da Pop, iniciando na edição 83. Possuo
apenas as edições 84 e 85 da Garota Pop, cujas informações escassas dificultam
conhecer seu período de circulação.
Figura 18: Diferenças de formato entre a revista Pop e a nova revista Pop Garota.
Fonte: POP, n 82, ago. 1979. Acervo pessoal.
A criação da revista Garota Pop foi anunciada pela própria Pop Garota:
Os tempos mudaram. Para acompanhar os novos tempos, as novas
transas...Vem aí a nova revista Garota Pop! Com novo formato para estar
sempre com você em todas as suas transas. A partir da próxima edição, Pop
também vai mudar! (POP, n. 82, ago. 1979, p. 83).
Sendo assim, a publicação não mencionou o fim da revista Pop, mas apenas que
ela passaria por alguma modificação, o que de fato não aconteceu. De acordo com
Thomaz Souto Côrrea (2018), as empresam anunciantes reclamaram na época que havia
sido um grande erro dividir a Pop em duas publicações, pois na percepção deles, ela
continuava funcionando como uma revista “mista”. Côrrea, relatou a sua maneira, a
87
reclamação dos anunciantes: “A gente não quer falar com metade da revista, a gente
quer falar com uma revista que seja (...) inteira”. Logo, as empresas queriam que suas
publicidades circulassem em revistas voltadas somente para o público feminino ou
masculino, o que nos leva a compreender, a priori, um dos motivos da criação da revista
jovem Garota Pop. Conforme Côrrea (2018), a Pop não encerrou suas atividades devido
a baixa vendagem, que aliás fechou “com um nível alto de circulação para época”, mas
em consequência da falta de anunciantes, pois a revista não se sustentava
economicamente, inclusive, por se tratar de uma publicação mensal.
Durante a gestão de Carlos Alberto, Marcia J. A. Gimenez assumiu a representação
da Pop no Comitê de Moda da Abril até a extinção da revista, continuando a trabalhar
como produtora de Moda na revista Garota POP, sob direção de Iara Rodrigues Martins.
Além dela, Maria Alice Teixeira, que atuou na seção Ideias Pop, e Ana Cláudia de Oliveira
também trouxeram colaborações no que se refere aos conteúdos sobre vestuário. Itaci
Batista e J. R. Duran continuaram a fotografar, ocasionalmente, os editoriais de Moda na
Pop, além do paulistano Clicio Barroso.
Portanto, de modo geral, destacaram-se ao longo da existência da revista Pop, as
produções de Moda de Malu Fernandes, Beth Duran e Marcia Gimenez. Apesar disso,
informações sobre a carreira delas são praticamente inexistentes. Questão que poderá
ser investigada com maior dedicação em um momento posterior, mas que está além dos
objetivos deste trabalho. Apesar da produção de Moda ter sido predominantemente
realizada por mulheres, com exceção de Fernando de Barros, com relação à fotografia
dos editoriais de Moda, não me defrontei com nenhum trabalho realizado por fotógrafas.
Além disso, é possível inferir que muitas das pessoas que trabalharam na revista Pop
faziam parte das camadas médias e abastadas do Brasil, tendo realizado cursos no
exterior.
A seguir exponho as seções e os conteúdos de Moda veiculados ao longo da
trajetória da revista Pop, que poderão ser utilizados como fontes para a análise da
representação da Juventude “cuca fresca” a partir da articulação entre Moda jovem e
práticas corporais.