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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - ICJ


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

EDUARDO NASCIMENTO DE VASCONCELOS

O DANO EXISTENCIAL SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO DO


TRABALHO

Boa Vista-RR
2017
EDUARDO NASCIMENTO DE VASCONCELOS

O DANO EXISTENCIAL SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO DO


TRABALHO

Monografia apresentada como pré-requisito


para a conclusão do Curso de Bacharelado
em Direito da Universidade Federal de
Roraima – UFRR.

Orientador (a): Prof. MsC. Raimundo Paulino


Cavalcante Filho

Boa Vista-RR
2017
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

V331d Vasconcelos, Eduardo Nascimento de.


O dano existencial sob a perspectiva do direito do trabalho /
Eduardo Nascimento de Vasconcelos. – Boa Vista-RR, 2017.
61 f.

Orientador: Prof. MsC. Raimundo Paulino Cavalcante Filho.

Monografia (graduação) - Universidade Federal de Roraima,


Curso de Direito.

1 – Direito do trabalho. 2 – Direitos humanos. 3 – Direitos


humanos.
I - Título. II - Cavalcante Filho, Raimundo Paulino (orientador).

CDU – 349.2
Bibliotecária responsável: Layonize Félix Correia da Silva - CRB-11/679-AM
EDUARDO NASCIMENTO DE VASCONCELOS

O DANO EXISTENCIAL SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO DO


TRABALHO

Monografia apresentada como pré-requisito


para a conclusão do Curso de Bacharelado
em Direito da Universidade Federal de
Roraima – UFRR. Área de concentração:
Direito do trabalho. Defendida no dia 31 de
janeiro de 2018 e avaliada pela seguinte
banca examinadora:

_____________________________________________________
Prof. MsC. Raimundo Paulino Cavalcante Filho
Orientador/Curso de Direito – UFRR

_____________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Cesar Costa Xavier
Membro/Curso de Direito – UFRR

_____________________________________________________
Prof.ª Msc. Lívia Dutra Barreto
Membro/Curso de Direito – UFRR

Boa Vista-RR
2017
A Deus, aos meus pais, irmãos e
amigos, que aplaudem de pé e da
primeira fila o meu sucesso na
graduação.
AGRADECIMENTOS

De início e essencialmente a Deus, pelo dom da vida, por ter criado todas as
coisas e pelas bênçãos concedidas durante o curso de graduação.
Aos meus pais, Ademir Santos de Vasconcelos e Elenice Nascimento de
Vasconcelos, por serem a minha referência, a base da minha formação educacional
e por não medirem esforços para que eu concluísse essa etapa da minha vida. Serei
eternamente grato por terem me presenteado com o verdadeiro privilégio de estudar.
De nada valeria a graduação se eu não fosse uma pessoa igual à que os meus pais
são e sempre zelaram para que eu fosse.
Aos meus irmãos e demais familiares, a quem, de igual modo, agradeço pela
paciência e contribuição na minha formação.
Aos meus amigos e colegas de curso, que ao longo destes 5 anos de alguma
forma contribuíram para minha graduação. Gratidão especial à Amanda Gabriela de
Araújo Pereira, vulgo môzão, que levarei para a vida, por ser uma das melhores
coisas que me aconteceram nesse curso de graduação, por ter me presenteado com
a sua amizade e parceria durante o curso, e por estar presente nos momentos de
alegria e dificuldade, fazendo com que a jornada se tornasse mais leve do que
deveria ser; à Thalita Ferreira, que há muito me acompanha na formação escolar e a
quem devo grande parcela da minha organização e aprovação neste curso de
graduação; e à Taynara Mendes, pela sua amizade, parceira e contribuição nos
afazeres acadêmicos, e por ter oportunizado e viabilizado o início da minha
experiência prática no mundo jurídico.
Aos meus amigos da vida e para a vida, Gabriel Henrique e Valmir Peccini,
por torcerem pelas minhas conquistas, pela parceria nos momentos de necessidade
e por proporcionarem os episódios de distração e lazer necessários à vida fora do
mundo acadêmico.
Aos professores do colegiado do curso de direito da UFRR, pelo repasse do
conhecimento ímpar que possuem, em especial ao meu orientador, Prof. MsC.
Raimundo Paulino Cavalcante Filho, pela consideração e dedicação de parcela do
seu tempo à minha formação, quer seja nas disciplinas regulares, quer seja
elaboração desta monografia.
Por fim, aos meus parceiros e orientadores de estágio e bolsa no Instituto de
Ciências Jurídicas da UFRR, na Advocacia Geral da União e na Defensoria Pública
da União, ambientes em que tive a satisfação e a oportunidade de absorver
conhecimento prático e trabalhar com profissionais de notável sabedoria, que me
proporcionaram valiosas lições não só para o mundo acadêmico, como também para
a minha formação ética e moral.
“A vida é muito curta para ser
pequena”.
(Benjamin Disraeli)
RESUMO

O dano existencial, com berço na Itália, é resultado da evolução das teorias


protecionistas e garantistas da dignidade humana em sua plenitude, com a
necessidade maior de abranger qualquer lesão à existência digna. É neste sentido
que a chegada da referida espécie de dano será abordada no presente estudo, que
tem como objetivos maiores esclarecer e contribuir para a efetiva aplicação do
instituto no direito trabalhista, em especial para demonstrar que o dano existencial
veio para somar com todo o aparato protecionista ao trabalhador. No primeiro
capítulo, este estudo tem por escopo apresentar o contexto fático em que se deu o
seu surgimento, de modo a analisar, comparar e demonstrar a aplicação do recente
instituto do dano existencial sob a perspectiva do direito do trabalho no Brasil. Após,
no segundo capítulo, passa-se a reunir os elementos teóricos e fundamentos
jurídicos que consagram o instituto em face dos princípios fundamentais, sobretudo
o direito constitucional à existência digna. Por fim, no terceiro e último capítulo, o
instituto será abordado em face da sua aplicação jurisprudencial no Brasil, em
especial com a análise de um caso ocorrido no cenário local. Dessa forma, o estudo
justifica-se por ser um tema recente no ordenamento jurídico e, por conseguinte, no
meio acadêmico, sobretudo no direito laboral, carecendo de abordagem
aprofundada, buscando-se compreender a recepção do dano existencial no direito
do trabalho em detrimento de outras espécies de danos e como se dará sua
aplicabilidade nos casos concretos. Utilizou-se a abordagem por de pesquisa
bibliográfica, dada a importância e contemporaneidade do assunto no ordenamento
jurídico e no meio acadêmico, e optou-se, por fim, pelos métodos hermenêutico e
descritivo, os quais demandaram leitura dos diversos autores que embasam a
pesquisa.

Palavras-chave: Dano Existencial. Dignidade da pessoa humana. Direito do


Trabalho.
ABSTRACT

Existential damage, with a cradle in Italy, is a result of the evolution of protectionist


theories and guarantees of human dignity in its fullness, with the greater need to
cover any injury to a dignified existence. It is in this sense that the arrival of this kind
of damage will be addressed in this study, whose main objectives are to clarify and
contribute to the effective application of the institute in labor law, especially to
demonstrate that the existential damage came to add with the whole apparatus
protectionist to the worker. In the first chapter, this study aims to present the phatic
context in which it emerged, in order to analyze, compare and demonstrate the
application of the recent institute of existential damage from the perspective of labor
law in Brazil. Then, in the second chapter, the theoretical elements and legal
foundations that consecrate the institute are brought together in the face of
fundamental principles, especially the constitutional right to a dignified existence.
Finally, in the third and last chapter, the institute will be approached in the face of its
jurisprudential application in Brazil, especially with the analysis of a case occurred in
the local scenario. Thus, the study is justified because it is a recent topic in the legal
system and, therefore, in the academic environment, especially in labor law, lacking
an in-depth approach, seeking to understand the reception of existential damage in
labor law to the detriment of other types of damages and how their applicability will
be applied in concrete cases. We used the approach of bibliographic research, given
the importance and contemporaneity of the subject in the juridical order and in the
academic environment, and it was chosen, finally, by the hermeneutic and
descriptive methods, which demanded reading of the several authors that base the
research.

Keywords: Existential Damage. Dignity of human person. Labor Law.


LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

Art. Artigo
AIRR Agravo de Instrumento em Recurso de Revista
CC Código Civil
CF Constituição Federal
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
Ed. Edição
n. Número
p. Página
§ Parágrafo
RR Recurso de Revista
RO Recurso Ordinário
TRT Tribunal Regional do Trabalho
TST Tribunal Superior do Trabalho
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1. DANO À EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO ................................................................ 14
1.1 CONCEITO ......................................................................................................... 14
1.2 ORIGEM .............................................................................................................. 16
1.3 ELEMENTOS DO DANO EXISTENCIAL ............................................................ 19
1.3.1 Prejuízo ao projeto de vida ........................................................................... 19
1.3.2 Prejuízo à vida de relações ............................................................................ 21
1.4 DISTINÇÕES EM RELAÇÃO A OUTROS INSTITUTOS .................................... 22
1.4.1 Dano existencial e dano moral ......................................................................... 23
1.4.2 Dano existencial e dano à imagem .................................................................. 26
1.4.3 Dano existencial e perda de uma chance......................................................... 27
1.4.4 Dano existencial e dano biológico .................................................................... 29
2. FUNDAMENTOS DO DANO EXISTENCIAL ....................................................... 30
2.1 FUNDAMENTOS JURÍDICOS ............................................................................ 30
2.1.1 Constituição Federal de 1988........................................................................... 30
2.1.2 Princípio da dignidade da pessoa humana .................................................. 31
2.1.3 Direitos da personalidade ................................................................................. 33
2.2 DIREITOS HUMANOS ........................................................................................ 35
3. O DANO EXISTENCIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO ............................... 37
3.1 RECONHECIMENTO DO INSTITUTO NO DIREITO LABORAL ........................ 37
3.2 DANO EXISTENCIAL DECORRENTE DA JORNADA DE TRABALHO.............. 39
3.3 DANO EXISTENCIAL E A SAÚDE DO TRABALHADOR.................................... 42
3.4 EVOLUÇÃO DA JUSRISPRUDÊNCIA TRABALHISTA ...................................... 44
3.4.1 Análise de caso envolvendo dano existencial no cenário local ................ 50
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
11

INTRODUÇÃO

A exploração do trabalhador resta evidenciada diariamente na sociedade,


com flagrantes violações aos direitos dos trabalhadores, o que se agrava com as
crescentes taxas de desemprego e a instabilidade econômica, fatores estes que
levam o trabalhador a se sujeitar a um modelo de subordinação violador ao
empregador. Não por acaso decorre de tais relações a inobservância dos direitos
inerentes à pessoa humana e especificamente ao trabalhador.
De igual modo, não se desconhece que os direitos fundamentais garantidos
constitucionalmente são o alicerce da proteção inerente ao Direito do Trabalho e
pretendem assegurar a todo indivíduo, sobretudo, o direito de ter uma vida digna na
busca pela ascensão por meio do labor.
Neste norte caminha a busca pela integral e efetiva proteção da dignidade da
pessoa humana, com vistas a proporcionar a proteção dos danos patrimoniais, mas
também e principalmente da tutela de bens imateriais e de interesses existenciais,
de modo que cabe ao instituto da responsabilidade civil buscar a reparação integral
de novas espécies de lesões, por meio da doutrina e da jurisprudência trabalhistas.
Neste universo tem-se o dano existencial, com berço no Direito Italiano,
resultado da evolução das teorias protecionistas da dignidade da pessoa humana
em sua plenitude, com a necessidade maior de abranger qualquer lesão à existência
digna, de cunho patrimonial ou não. Isto porque, na década de 1970, em especial
naquele país, a exemplo do que ocorria na maioria dos países europeus, a doutrina
majoritária e o código civil italiano se atentavam tão somente a uma espécie de dano
extrapatrimonial, qual seja, o dano moral, ainda que de forma limitada e amarrada às
hipóteses legais.
Em face da crescente demanda de casos envolvendo espécies de dano
estranhas àquelas previstas legalmente, o poder judiciário daquele país tratou de
evoluir no sentido de conceder o pedido de indenização por novas espécies de
dano, o que acabou culminando no reconhecimento do dano existencial no ano de
2000, por meio da sentença n. 7.713, prolatada pela Corte de Cassação Italiana.
A recepção do instituto pelo direito comum brasileiro é recente, sobretudo no
direito laboral, que vê no processo civil a subsidiariedade da efetivação do direito
material trabalhista. Assim como ocorre no instituto da responsabilidade civil,
12

certamente até em escala maior, o dano existencial carece de um estudo mais


aprofundado, notadamente no que se refere à responsabilização do empregador.
Em outros termos, face à existência de outras espécies de danos extrapatrimoniais
ou imateriais no ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do dano à imagem, faz-
se necessário a correta separação dos institutos, de modo a não o banalizar, o que
constantemente os Tribunais pátrios têm detectado nas demandas que envolvem
pedido de dano moral.
Com efeito, concomitantemente à inserção do instituto no direito do trabalho,
surgem as lacunas a serem sanadas diante, dentre outros, da sua configuração.
Ademais, a princípio, tais ferramentas de reparação civil já existem, como o dano
moral, à imagem e a indenização pela perda de uma chance. Assim, em atenção ao
objetivo principal desta pesquisa, cumpre demonstrar por meio do presente estudo,
de que modo a recepção do dano moral na seara laboral contribuiria para uma
melhor e efetiva proteção do trabalhador, em especial no que tange à sua
reparação.
O conceito e a origem do instituto serão expostos de início e
fundamentalmente, a fim de possibilitar a análise da inserção do dano existencial no
direito laboral pátrio, reunindo os elementos teóricos e fundamentos jurídicos que
consagram o instituto em face dos princípios fundamentais, sobretudo o direito
constitucional à existência digna. Didaticamente, ainda nesta fase do estudo, serão
apresentados os elementos específicos do instituto do dano existencial, de modo a
diferenciá-lo dos demais existentes no ordenamento jurídico brasileiro.
Por fim, em seu terceiro e último capítulo, o enfoque do estudo recairá sobre o
dano existencial nas relações de trabalhos, demonstrando suas hipóteses de
ocorrência, somada ao estudo de caso envolvendo a percepção da ocorrência dessa
espécie de dano pelo poder judiciário trabalhista em Boa Vista/RR, nos autos do
processo n. 1100000297520145110051, que tramitou perante a 1ª Vara da Justiça
do Trabalho de Boa Vista/RR, privilegiando, assim, a observância de caso concreto
ocorrido no cenário local.
Assim, no presente estudo, cumpre expor que o tema fora abordado por meio
de pesquisa bibliográfica, dada a importância e contemporaneidade do assunto no
ordenamento jurídico e no meio acadêmico, e optou-se pelos métodos Hermenêutico
e Descritivo, os quais demandaram leitura dos diversos autores que embasam a
pesquisa.
13

É neste plano que inserção da referida espécie de dano será abordada nesta
pesquisa, que tem como objetivos maiores explanar o tema e contribuir para a
efetiva recepção e aplicação do instituto no direito trabalhista, em especial para
demonstrar se o dano existencial veio ou não para somar com todo o aparato
protecionista e reparador ao trabalhador.
Ademais, como corolário lógico da presente análise, buscar-se-á o
fortalecimento e a reafirmação da necessidade de reparação integral do dano e a
devida proteção à dignidade da pessoa humana.
14

1. DANO À EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO

1.1 CONCEITO

Em linhas gerais, tem-se que o dano existencial se traduz na violação de


qualquer dos direitos fundamentais inerentes ao ser humano, tendo como
consequência uma lesão à própria existência do indivíduo, quer seja no seu modo
de ser/existir, quer seja nas atividades por ele desenvolvidas no curso do seu projeto
de vida pessoal, sem que haja a necessidade da ocorrência de prejuízo econômico.
Na doutrina de Marcelina Lora (2013, p. 21 apud SOARES, 2006, p. 44 ), o
dano existencial assim é conceituado:
É uma afetação negativa, total ou parcial, permanente ou temporária, seja a
uma atividade, seja a um conjunto de atividades que a vítima do dano,
normalmente, tinha como incorporado ao seu cotidiano e que, em razão do
efeito lesivo, precisou modificar em sua forma de realização, ou mesmo
suprimir de sua rotina [...]. Significa, ainda, uma limitação prejudicial,
qualitativa ou quantitativa, que a pessoa sofre em suas atividades
cotidianas.

Conclui-se, assim, que o dano existencial é uma espécie de lesão


extrapatrimonial ou imaterial e sinteticamente pode ser desmembrado em prejuízo
ao projeto de vida e danos ao convívio social e familiar, conforme assevera Frota
(2011, online):
O dano existencial constitui espécie de dano imaterial ou não material que
acarreta à vítima, de modo parcial ou total, a impossibilidade de executar,
dar prosseguimento ou reconstruir o seu projeto de vida (na dimensão
familiar, afetivo-sexual, intelectual, artística, científica, desportiva,
educacional ou profissional, dentre outras) e a dificuldade de retomar sua
vida de relação (de âmbito público ou privado, sobretudo na seara da
convivência familiar, profissional ou social).

Tem-se, portanto, que o dano de cunho existencial frustra os objetivos da


pessoa enquanto ser humano, que possui sua vontade de concretizar sonhos e
almeja realizações no curso da sua vida, privando-o da consecução dos seus
objetivos.
É dizer, ainda, que o dano existencial gera a lesão à relação que a pessoa
precisa estabelecer e manter para se desenvolver pessoal, social e
psicologicamente, obrigando o ofendido a mudar suas relações pessoais e
interpessoais de forma negativa, ocasionando-lhe prejuízos que ultrapassam e muito
a seara patrimonial.
15

É exatamente neste sentido que corroboram as declarações de Soares (2009,


p. 44-45):
O dano existencial é a lesão ao complexo de relações que auxiliam no
desenvolvimento normal da personalidade do sujeito, abrangendo a ordem
pessoal ou a ordem social. É uma afetação negativa, total ou parcial,
permanente ou temporária, seja a uma atividade, seja a um conjunto de
atividades que a vítima do dano, normalmente, tinha como incorporado ao
seu cotidiano e que, em razão do efeito lesivo, precisou modificar em sua
forma de realização, ou mesmo suprimir de sua rotina. O dano existencial se
consubstancia como visto, na alteração relevante da qualidade de vida, vale
dizer, em um ―ter que agir de outra forma‖ ou em um ―não poder mais
fazer como antes‖, suscetível de repercutir, de maneira consistente, e,
quiçá, permanente sobre a existência da pessoa. Significa, ainda, uma
limitação prejudicial, qualitativa e quantitativa, que a pessoa sofre em suas
atividades cotidianas. Isso vale tanto para pessoas físicas como para
jurídicas. […] O dano existencial acarreta um sacrifício nas atividades
realizadoras da pessoa, ocasionando uma mudança na relação da pessoa
com o que a circunda.

Entretanto, para que seja detectado o efetivo prejuízo ao projeto de vida ou às


relações do ofendido e, por conseguinte, para que seja tido como dano existencial,
na afirmação de Júlio Cesar Bebber (2009, online), necessário se faz que o evento
danoso preencha aos seguintes requisitos:
a) a injustiça do dano. Somente dano injusto poderá ser considerado ilícito;
b) a situação presente, os atos realizados (passado) rumo à consecução do
projeto de vida e a situação futura com a qual deverá resignar-se a pessoa;
c) a razoabilidade do projeto de vida. Somente a frustração injusta de
projetos razoáveis (dentro de uma lógica do presente e perspectiva de
futuro) caracteriza dano existencial. Em outras palavras: é necessário haver
possibilidade ou probabilidade de realização do projeto de vida; d) o alcance
do dano. É indispensável que o dano injusto tenha frustrado (comprometido)
a realização do projeto de vida (importando em renúncias diárias) que,
agora, tem de ser reprogramado com as limitações que o dano impôs.

Dessa forma, o dano à existência do indivíduo caracteriza-se pela injusta


privação do ofendido de executar projetos de vida que, não fosse a lesão ocorrida, o
faria corriqueiramente, a exemplo da prática de esportes, de exercícios físicos, de
dedicação à formação educacional, manutenção de uma relação familiar, dentre
outros, todos relacionados ao bem-estar do indivíduo enquanto ser humano portador
do direito a uma existência digna.
Assim, nos termos da doutrina mencionada, verifica-se que não é qualquer
dano à existência da pessoa que pode ser considerado dano existencial.
Para sua configuração o dano deve ser injusto e que frustre a realização de
um projeto de vida e a vida de relação da pessoa de forma significativa.
No direito brasileiro, sobretudo no direito laboral, o conceito do dano
existencial é pouco utilizado, mas tem sido o foco da atenção por parte de alguns
16

doutrinadores. Assim como ocorreu no direito italiano, onde encontra a sua origem, o
cabimento do dano existencial no direito pátrio aos poucos vem sendo aceito pelos
doutrinadores e pelos próprios tribunais, conforme será demonstrado em tópicos
subsequentes.
Portanto, em face do conceito apresentado, verifica-se que o dano existencial
é todo aquele evento lesivo que venha causar dano a qualidade de vida do ofendido,
causando-lhe anomalias não planejadas no seu modo de viver, alterando
negativamente suas relações e seus projetos de vida, de um modo permanente ou
temporário.
Destarte, pode-se afirmar que o fato do dano existencial estar se
consolidando na seara responsabilidade civil justifica-se pela necessidade de ampla
e efetiva tutela da liberdade existencial humana de acordo com os interesses,
objetivos e projetos individuais.

1.2 ORIGEM

O instituto do dano existencial encontra sua recente origem no Direito Italiano,


por volta da década de 1970, época na qual passou a ganhar importância diante de
várias decisões judiciais prolatadas naquele país que reconheceram a possibilidade
do dano à existência do indivíduo.
O surgimento se deu em razão da evolução das tradicionais teorias de
responsabilidade civil, que escancaravam a necessidade de proteção da dignidade
humana em sua plenitude, de modo a abarcar qualquer lesão à existência digna,
sendo ela de teor patrimonial ou não.
No início das discussões acerca da responsabilidade civil e da possibilidade
legal de reparação no direito italiano, apenas se consolidaram duas espécies de
danos passíveis de responsabilização e indenizáveis, quais sejam, o dano
patrimonial e o dano moral. Aquele primeiro, conforme dispõe o artigo 2.043 do
Código Civil Italiano (Risarcimento per fatto illecito - Qualunque fatto doloso o
colposo, che cagiona ad altri un danno ingiusto, obbliga colui che ha commesso il
fatto a risarcire il danno)1, resulta de uma conduta do agente, seja dolosa ou

1Ressarcimento por fato ilícito - Qualquer fato doloso ou culposo que causa a outro um dano injusto, obriga
aquele que iniciou o fato a ressarcir o dano (tradução livre).
17

culposa, resulta da obrigação de ressarcimento por parte daquele que cometeu fato
doloso ou culposo que causa a outrem um dano injusto.
O dano moral, por sua vez, surgia da conduta dolosa ou culposa do agente
que resultasse em lesão subjetiva ao ofendido, sem repercussão patrimonial,
estando condicionada, no entanto, ao fato da hipótese estar prevista no Código Civil
Italiano ou de uma conduta tipificada no código penal. Isto porque, segundo
estabelece o art. 2.059 do Código Civil Italiano (Danni non patrimonial- Il danno non
patrimoniale deve essere risarcito solo nei casi determinati dalla legge [Cod. Proc.
Civ. 89; Cod. Pen. 185, 598])2, o dano moral passível de indenização apenas se
configura naquelas hipóteses previstas no texto legal, ou quando resultante de uma
conduta punível penalmente, nos termos do artigo 185 do Código Penal Italiano.
Desta forma, em face da limitada divisão e classificação dos danos apenas
patrimonial e extrapatrimonial, sendo este último grupo composto tão somente pelo
dano moral, tornava-se quase impossível a busca no judiciário pela
responsabilização civil do agente nas hipóteses de atos oriundos de atos civis e não
penais.
Assim sendo, viu-se a necessidade de tutela de outras formas de violação aos
direitos imateriais dos indivíduos, a exemplo de lesões que limitavam ou impediam a
pessoa de exercer atividades cotidianas, surgindo assim uma nova categoria de
dano passível de reparação, chamado de danno alla vita di relazion – dano à vida de
relação.
Sobre essa espécie de dano que surgiu no direito italiano, traz-se à colação a
doutrina de Almeida Neto (2012, p.18):
Como foi idealizado, o dano à vida de relação, na sua essência, consiste na
ofensa física ou psíquica a uma pessoa que a impede, total ou
parcialmente, de desfrutar os prazeres propiciados por atividades
recreativas, extra-laborativas as mais variadas, como praticar esportes,
fazer turismo, pescar, freqüentar cinema, teatro ou clubes etc..., interferindo
decisivamente no seu estado de ânimo e, conseqüentemente, no seu
relacionamento social e profissional, diminuindo suas chances de adaptação
ou ascensão no trabalho, trazendo como conseqüência um reflexo
patrimonial negativo.

As discussões e estudos acerca deste novo instituto trouxeram à tona


novamente os embates em torno da responsabilidade civil no direito italiano,
sobretudo em relação às espécies de lesões passíveis de reparação civil.

2 Danos não patrimoniais - II O dano moral só pode ser compensado nos casos determinados pela lei
(tradução livre).
18

Com efeito, na década de 1970, os juristas e doutrinadores, embasados na


Constituição Italiana, que previa como direito fundamental o direito à saúde,
passaram a reconhecer o caráter indenizável da violação a este direito.
Neste sentido, declara Flaviana Rampazzo Soares (2009, p. 41-42):
A partir da década de 1970, começaram a ser emitidos mais
pronunciamentos judiciais, determinando a necessidade de proteger a
pessoa contra atos que, em maior ou menor grau, atingissem o terreno da
sua atividade realizadora, fundamentados, principalmente, nos artigos 2º.
(que tutela os direitos invioláveis da pessoa humana), 3º. e 32 da
Constituição, e no artigo 2.043 do Código Civil Italiano, embora naquela
época não se empregasse, explicitamente, o termo dano existencial.

Nesta perspectiva, em meios aos debates doutrinários ainda fervorosos, o


dano à vida de relação teve como marco primordial para seu reconhecimento a
prolação da Sentença n. 184, de 14.07.1986, da Corte Constitucional Italiana, que
trouxe no seu bojo o reconhecimento do dano biológico, que inovou ao determinar a
reparação de uma nova espécie de dano extrapatrimonial, independentemente da
ocorrência de prejuízo econômico e mesmo não estando prevista no código civil ou
código penal italianos.
Consequentemente, a doutrina e a jurisprudência italianas passaram a ter
como foco também a proteção da dignidade humana, estando abertos à
responsabilidade civil decorrente de novas espécies de danos, além daquelas duas
únicas espécies previstas no código civil italiano, sejam elas cometidas pelo Estado
ou por particulares, estando incluso neste último o empregador.
Além do mais, a doutrina e a jurisprudência cederam também à possibilidade
de responsabilização cumulada, nas hipóteses em que se constavam a ocorrência
de mais de uma espécie de dano.
Posteriormente, seguindo a tendência protecionista abrangente da dignidade
do ser humano, em 22.07.1999, a Corte de Cassação Italiana prolatou a Sentença n.
500, reconhecendo uma pretensão indenizatória fundamentada tão somente em
dano injusto, sem que houvesse uma lesão a uma garantia constitucional do
ofendido.
Pontua Almeida Neto (2005, online) que a referida sentença confirmou a nova
orientação no tema da responsabilidade civil ao admitir a reparabilidade do dano
causado a um interesse legítimo, sendo necessária, para tal, a observância dos
seguintes requisitos da responsabilidade civil: a) injustiça do dano; e, b) lesão a uma
posição constitucionalmente garantida.
19

Seguindo a tendência jurisprudencial à época, no ano de 2000, por meio da


sentença n. 7.713, a Corte de Cassação Italiana finalmente reconheceu a
responsabilização civil decorrente do dano existencial, classificando-a como uma
espécie de lesão extrapatrimonial distinta do dano moral.
Este marco histórico ocorreu nos autos de uma ação em que um pai foi
condenado a indenizar o dano existencial causado ao seu filho, por deixar de pagar
as prestações alimentícias, somente vindo a adimplir sua obrigação após significante
lapso temporal e por força de decisão judicial, conduta violadora do direito do autor
de desenvolver-se com a dignidade que lhe é conferida pela Constituição daquele
país.
Deste modo, finalmente os italianos recepcionaram de uma vez por todas o
reconhecimento do fato que o rol de atividades da vida de relação é amplo, e que
tais lesões são as que atingem a existência humana.

1.3 ELEMENTOS DO DANO EXISTENCIAL

É sabido que a doutrina tradicional já apresenta como elementos comuns à


responsabilidade civil: a) a conduta do agente (culposa ou não); b) o nexo de
causalidade; e, c) o dano/prejuízo.
Além destes, para configuração do dano existencial, faz-se necessária, ainda,
a presença de dois elementos específicos e basilares deste instituto, quais sejam, o
prejuízo ao projeto de vida e o prejuízo à vida de relações, os quais, didaticamente,
serão abordados a seguir.

1.3.1 Prejuízo ao projeto de vida

No que se refere ao primeiro elemento, prejuízo ao projeto de vida, a lesão se


evidencia diante da interferência no plano de vida do lesionado, bem como na
construção da auto realização de quem sofre a lesão, levando-o a renunciar ou adiar
suas metas e planos pessoais com base na nova conjectura decorrente desta
alteração negativa e imprevista.
Sobre o tema, revela Boucinhas Filho (p.33 Apud, BEBBER, 2009, p.28):
20

Quanto ao projeto de vida, tem-se tudo aquilo que uma pessoa objetivou e
planejou para sua vida. Por isso qualquer fato injusto que venha a impedir
ou interromper a relação deste projeto de vida, deve ser considerado um
dano existencial.

Neste requisito, as alterações são caracterizadas por não possuírem cunho


pecuniário nas condições de existência. Caracterizam-se, contudo, pelas violações
de direitos humanos que impedem o lesionado de desenvolver seus planos e
projetos de vida, provocando uma série de frustrações que ultrapassam a linha do
mero dissabor.
A necessária atenção à reparação de danos de cunho existencial se justifica,
dentre outros, pelo fato de um projeto de vida comportar grande carga de
existencialismo, vez que o indivíduo deposita nele metas e objetivos inerentes à
própria existência.
Assim, as frustações ocorridas alteram a concretização deste projeto de vida,
ao passo que quase sempre se protelam no cotidiano, reduzem o tempo de vida,
impedindo ou adiando seus projetos e por vezes, até induzindo suas escolhas e
inciativas.
Acerca deste requisito, urge trazer à transcrição a doutrina de Frota (2013,
p.64):
O dano ao projeto de vida refere-se às alterações de caráter não pecuniária
nas condições de existência, no curso normal da vida da vítima e de sua
família. Representa o reconhecimento de que as violações de direitos
humanos muitas vezes impedem a vítima de desenvolver suas aspirações e
vocações, provocando uma série de frustrações dificilmente superadas com
o decorrer do tempo. O dano ao projeto de vida atinge as expectativas de
desenvolvimento pessoal, profissional e familiar da vítima, incidindo sobre
sua liberdade de escolher o seu próprio destino. Constitui, portanto, uma
ameaça ao sentido que a pessoa atribui à existência, ao sentido espiritual
da vida.

Corroboram para a compreensão do requisito os escritos de Calgaro (2014, p.


37), que, ao conceituar o projeto de vida enquanto elemento do dano existencial,
abarcando os fatores externos que influenciam a escolha pessoal do indivíduo:
Por mais individual que seja a essência do projeto de vida, este está
cercado de múltiplos fatores externos que influenciam a escolha pessoal,
resultando assim, na construção do projeto de vida motivado pela vivência
simultânea dos demais indivíduos em determinado momento histórico. É
vivendo com as pessoas de seu meio social que o sujeito constrói sua
personalidade e amadurece enquanto ser humano, incorporando
experiências e assegurando sentido à sua existência.

Desta forma, depreende-se que para configuração do dano existencial,


necessário se faz que o evento danoso interfira de modo negativo e efetivo na
21

consecução de um projeto de vida do lesionado, sobre o qual depositou


desdobramentos futuros acerca da sua própria existência, de modo a torná-la digna,
como lhe é de direto.

1.3.2 Prejuízo à vida de relações

Por outro lado, quanto ao segundo elemento, prejuízo à vida de relações, a


lesão causada demonstra-se por meio de alterações que impedem o indivíduo, total
ou parcialmente, de praticar suas atividades comuns no seu cotidiano, interferindo
de forma significativa na sua própria existência.
Em outros termos, trata-se de verdadeiro óbice à prática de atividades
inerentes à vida social, afetiva, sexual, cultural, intelectual, religiosa, familiar,
acadêmica, profissional, dentre outras, das quais o indivíduo se vale para obter o
seu lazer, o prazer, a tranquilidade e o descanso inerentes a uma vida digna e
saudável, com vistas a alcançar a plenitude do seu bem-estar físico e mental.
No campo doutrinário, conceitua Frota (2010, p. 02):
[...] a existência humana digna [...] se vincula não apenas à incolumidade
física, à sobrevivência biológica, à automanutenção financeira e ao exercício
dos direitos sociais, econômicos e culturais como também à integridade
psíquica e ao bem-estar psicológico da pessoa natural, bem assim ao direito
do indivíduo de escolher e realizar atividades (inclusive de concretizar
metas) que dão sentido à sua vida e, ao mesmo tempo, não atentam contra
o ordenamento jurídico.

Com base neste entendimento, observa-se que restará prejudicada a vida de


relações quando o lesionado, de forma involuntária, não mais detiver o controle
acerca da sua dedicação à interação e ao convívio social, sendo forçado a alterar
substancialmente o seu modo de viver em razão da lesão que lhe acomete ou
acometeu.
Em outras palavras, o lesionado estará sendo impedido de vivenciar situações
no sentido de expressar livremente e concretizar os aspectos da sua personalidade
no meio sociocultural no qual encontra-se inserido, restando prejudicado, portanto, a
sua vida de relações, quer seja com familiares, quer seja com amigos e pessoas do
seu círculo comum, a exemplo de colegas de trabalho.
Em outro sentir, ainda, o prejuízo à vida de relações caracteriza-se quando de
uma certa conduta do ofensor surge uma diminuição do tempo de vida pessoal do
lesionado. Isto é, este mesmo período temporal, que o anteriormente à ocorrência da
22

lesão era usado pelo indivíduo à concretização e vivência das suas relações no meio
em que está inserido e vive, agora se traduz em óbice à vivência das duas relações,
abalando as suas estruturas relacionais, interferindo de maneira negativa e
substancial no próprio desenvolvimento pessoal e interpessoal.
Para Almeida Neto (2012, p. 22), no que tange ao prejuízo à vida de relações:
De acordo com o exposto, o cansaço e o desânimo prejudicam o
relacionamento social e profissional, causado pela falta de atividades
recreativas e extralaborativas que proporcionam uma trégua para a vida
agitada do labor profissional. As horas extras, quantidade excessiva de
serviço, curtos períodos para descanso e diversos outros motivos reduzem
as possibilidades de crescimento na carreira profissional, no ganho
financeiro, consequentemente refletindo de forma negativa na vida do
trabalhador. Por esse motivo o labor não pode ser tratado apenas como
uma prestação de serviço danosa que gera uma gratificação salarial ao final
do mês, sem medir esforços, mas o empregado deve ter tempo para o lazer
e descanso, fortalecendo seu ânimo para iniciar a cada dia uma nova
jornada de trabalho.

Desta maneira, colige-se que a vida de relações restará prejudicada e, por


conseguinte, o dano existencial estará configurado, considerando a hipotética
presença dos demais requisitos da responsabilidade civil, quando o lesionado não
mais puder, contra a sua vontade e por força de evento danoso, desfrutar das suas
relações pessoais e interpessoais, inerentes ao convívio comum em sociedade.

1.4 DISTINÇÕES EM RELAÇÃO A OUTROS INSTITUTOS

De início, cumpre expor que o dano material ou patrimonial se caracteriza, em


síntese, por qualquer lesão ao patrimônio do ofendido, sendo considerado
patrimônio tudo que for passível de valoração econômica.
Por ouro lado, o dano imaterial ou extrapatrimonial abarca as outras espécies
de danos que não se podem valorar economicamente e que atingem a subjetividade
do indivíduo, a exemplo do dano moral e do dano existencial.
Em toda evolução histórica das teorias acerca da responsabilidade civil, na
sua maior parte, a única espécie de dano imaterial que era reconhecido e passível
de indenização era o dano moral, consoante restou evidenciado no histórico da
evolução do instituto em comento.
Com efeito, não bastasse o seu reconhecimento ter sido delongado, observa-
se que é de fundamental importância proceder a sua diferenciação das demais
espécies de danos imateriais e da perda de uma chance (patrimonial), de modo a lhe
23

consagrar como espécie distinta e que veio para somar com o aparato protecionista
à dignidade do ser humano.

1.4.1 Dano existencial e dano moral

Diferentemente do dano existencial, o conceito de dano moral, por ter sido por
muito tempo a única espécie de dano extrapatrimonial existente, encontra-se
consolidado na doutrina e legislação pátrias, sendo seu caráter indenizável previsto,
inclusive, na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, in litteris:
Artigo 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
– é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
[...]
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.

Ademais, há também previsão de reparação do dano moral no Código Civil de


2002 (BRASIL, 2002, online):
Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
[...]
Artigo 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.359), o dano moral assim pode
ser concebido:
Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu
patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como
a honra, a dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se
infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.

Neste sentido, segundo os escritos de Gagliano e Pamplona Filho (2007, p.


55), o dano moral:
[...] consiste na lesão de direito cujo conteúdo não é pecuniário, nem
comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar
que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa
(seus direitos de personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida
privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente.
24

Dessa forma, tem-se que o dano moral afeta a subjetividade da pessoa,


englobada neste campo a sua intimidade, violando, por conseguintes, os seus
direitos de personalidade e seu prejuízo não pode ser ressarcido, consoante pontua
Tartuce (2008, p. 206):
Constitui o dano moral uma lesão aos direitos da personalidade – arts. 11 a
21 do CC- para a sua reparação não se requer a determinação de um preço
para a dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar, em parte, as
consequências do prejuízo imaterial, o que traz o conceito de lenitivo,
derivativo ou sucedâneo, utilizando-se a expressão reparação e não
ressarcimento quanto aos danos morais.

Em que pese o fato do dano moral e do dano existencial pertencerem ao


grupo dos danos imateriais, a diferença entre os institutos é nítida, na medida em
que aquele primeiro se refere ao íntimo da pessoa, afetando negativamente sua
moral, enquanto o segundo afeta a vida cotidiana do lesionado, quer seja em seu
espaço individual – prejuízo ao projeto de vida -, quer seja no relacionamento com
outras pessoas – prejuízo à vida de relações.
Destarte, ao ser comparado com o dano moral, o dano existencial revela-se
com mais clareza, consoante declarações de Matteo Maccarone, citado por Almeida
Neto (2012, online):
[...] o dano moral é essencialmente um sentir; o dano existencial é mais um
fazer‘ (isto é um ‗não mais poder fazer‘, um ‗dever agir de outro modo‘). O
primeiro refere-se quanto à sua natureza ao ‗dentro‘ da pessoa, à
esfera emotiva; o outro relaciona-se ao ‗exterior‘, o tempo e espaço da
vítima. No primeiro toma-se em consideração o pranto versado, as
angústias; no outro as atenções se voltam para a reviravolta forçada da
agenda do indivíduo.

Neste ponto, insta trazer à transcrição as palavras do juiz Ronaldo Antônio


Messeder Filho3 acerca do dano existencial:
O dano moral não se confunde com o dano existencial. Enquanto o dano
moral tem previsão na Constituição (artigo 5º, incisos V e X, da Constituição
da República) e no Código Civil (art. 186), o dano existencial (sic) é fruto da
construção (ou criação) de uma corrente jurisprudencial que passou a
conceber a existência de um instituto jurídico no ordenamento jurídico que,
na verdade, não tem nenhuma regulamentação normativa. Com todo o
respeito a essa jurisprudência que se formou nos últimos tempos,
compreendo que o instituto alegado participa da esfera de condutas que se
podem chamar de medidas extraídas do ativismo judicial, ou seja, os juízes
se arvoram no papel de legisladores e passam a criar e conceber
mecanismos sociais de ajuste para os descompassos das legislações, isso
com base em critérios subjetivos de visões de sociedades, extrapolando o
restrito dever constitucional de julgadores. Em outras palavras, o dano
existencial, por falta de lei que o regulamente, é um instituto jurídico criado
dentro de uma corrente de jurisprudência que se pode chamar de ativismo
judicial, em que o julgador se vale de abstrações, como justiça social e

3 Tribunal Regional do Trabalho da 3º Região. Proc. nº 0000028-56.2014.503.0102.


25

mecanismos equivalentes, para equacionar e equilibrar as relações que vê


como sendo de injustiça social. Confirme-se essa situação por uma simples
pesquisa de jurisprudência no âmbito dos Tribunais de Justiça estaduais,
assim como no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal
para se confirmar que o famigerado dano existencial não tem existência fora
dessa corrente jurisprudencial que se formou nos Tribunais Trabalhistas.

A jurisprudência pátria laboral também tratou de estabelecer diferenças entre


dano moral e existencial, corroborando a necessidade, nos dias atuais, de se
classificar danos imateriais além do dano moral:
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. DANO EXISTENCIAL.
SUBMISSÃO A JORNADA EXTENUANTE. PREJUÍZO NÃO
COMPROVADO. O dano existencial é espécie de dano imaterial. No caso
das relações de trabalho, o dano existencial ocorre quando o trabalhador
sofre dano/limitações em relação à sua vida fora do ambiente de trabalho
em razão de condutas ilícitas praticadas pelo empregador, impossibilitando-
o de estabelecer a prática de um conjunto de atividades culturais, sociais,
recreativas, esportivas, afetivas, familiares, etc., ou de desenvolver seus
projetos de vida nos âmbitos profissional, social e pessoal. Não é qualquer
conduta isolada e de curta duração, por parte do empregador, que pode ser
considerada como dano existencial. Para isso, a conduta deve perdurar no
tempo, sendo capaz de alterar o objetivo de vida do trabalhador, trazendo-
lhe um prejuízo no âmbito de suas relações sociais. Na hipótese dos autos,
embora conste que o Autor se submetia frequentemente a uma jornada de
mais de 15 horas diárias, não ficou demonstrado que o Autor tenha deixado
de realizar atividades em seu meio social ou tenha sido afastado do seu
convívio familiar para estar à disposição do Empregador, de modo a
caracterizar a ofensa aos seus direitos fundamentais. Diferentemente do
entendimento do Regional, a ofensa não pode ser presumida, pois o dano
existencial, ao contrário do dano moral, não é "in re ipsa", de forma a se
dispensar o Autor do ônus probatório da ofensa sofrida. [...]. Recurso de
Revista conhecido e provido. (TST-RR 14439420125150010, Relatora Maria
de Assis Calsing, Data de julgamento 15/04/2015, Quarta Turma, Data de
publicação DEJT 17/04/2015).

RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA – DANO EXISTENCIAL –


DANO À PERSONALIDADE QUE IMPLICA PREJUÍZO AO PROJETO DE
VIDA OU À VIDA DE RELAÇÕES – NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO
DE LESÃO OBJETIVA NESSES DOIS ASPECTOS – NÃO DECORRÊNCIA
IMEDIATA DA PRESTAÇÃO DE SOBREJORNADA – ÔNUS PROBATÓRIO
DO RECLAMANTE. O dano existencial é um conceito jurídico oriundo do
Direito civil italiano e relativamente recente, que se apresenta como
aprimoramento da teoria da responsabilidade civil, vislumbrando uma forma
de proteção à pessoa que transcende os limites classicamente colocados
para a noção de dano moral. Nessa trilha, aperfeiçoou-se uma resposta do
ordenamento jurídico àqueles danos aos direitos da personalidade que
produzem reflexos não apenas na conformação moral e física do sujeito
lesado, mas que comprometem também suas relações com terceiros. Mais
adiante, a doutrina se sofisticou para compreender também a possibilidade
de tutela do sujeito não apenas quanto às relações concretas que foram
comprometidas pelas limitações decorrentes da lesão à personalidade,
como também quanto às relações que potencialmente poderiam ter sido
construídas, mas que foram suprimidas da esfera social e do horizonte de
alternativas de que o sujeito dispõe. [...] Embora exista no âmbito doutrinário
razoável divergência a respeito da classificação do dano existencial como
espécie de dano moral ou como dano de natureza extrapatrimonial estranho
aos contornos gerais da ofensa à personalidade, o que se tem é que dano
moral e dano existencial não se confundem, seja quanto aos seus
26

pressupostos, seja quanto à sua comprovação. Isto é, embora uma mesma


situação de fato possa ter por consequência as duas formas de lesão, seus
pressupostos e demonstração probatória se fazem de forma peculiar e
independente. [...] (TST, 7ª Turma, RR-523-56.2012.5.04.0292, julgado em
26/08/2015).

RECURSO DE REVISTA. DANO EXISTENCIAL. PRESSUPOSTOS.


SUJEIÇÃO DO EMPREGADO A JORNADA DE TRABALHO
EXTENUANTE. JORNADAS ALTERNADAS 1. A doutrina, ainda em
construção, tende a conceituar o dano existencial como o dano à realização
do projeto de vida em prejuízo à vida de relações. O dano existencial, pois,
não se identifica com o dano moral. 2. O Direito brasileiro comporta uma
visão mais ampla do dano existencial, na perspectiva do art. 186 do Código
Civil, segundo o qual “aquele que por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. A norma em apreço, além do dano
moral, comporta reparabilidade de qualquer outro dano imaterial causado a
outrem, inclusive o dano existencial, que pode ser causado pelo
empregador ao empregado, na esfera do Direito do Trabalho, em caso de
lesão de direito de que derive prejuízo demonstrado à vida de relações. 3. A
sobrejornada habitual e excessiva, exigida pelo empregador, em tese,
tipifica dano existencial, desde que em situações extremas em que haja
demonstração inequívoca do comprometimento da vida de relação. 4. [...]
(TST – RR: 1548020135040016, Relator: João Oreste Dalazen, 4ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 31/03/2015).

Em face de todo o exposto, observa-se que o dano moral diz respeito ao


sofrimento, abalo, angústia, violação da dignidade, enquanto que o dano existencial,
por sua vez, refere-se à dificuldade ou impedimento do exercício de uma atividade
cotidiana, da frustração daquela pretensão de concretizar algo que fora projetado ou
sonhado pelo indivíduo para a sua existência, assim como pela obstrução ou
perturbação da saudável manutenção das suas relações pessoais e interpessoais,
englobadas as suas atividades desenvolvidas no ambiente sociocultural no qual está
inserido.

1.4.2 Dano existencial e dano à imagem

A inviolabilidade do direito à imagem está prevista na Constituição Federal de


1988, art. 5º, in litteris:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução
da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
[...]
27

No art. 20 do Código Civil está prevista expressamente a reparação do dano à


imagem, restando configurado quando a imagem do indivíduo é usada sem a devida
autorização, para fins econômicos ou de publicidade e propaganda. Assim, por se
tratar de um direito disponível, uma simples autorização afasta a ilegalidade do ato.
Sobre o tema, cabe esclarecer que aquela pessoa que fez uso não autorizado
da imagem poderá ser compelida a indenizar o lesionado ainda que não haja
comprovação de efetivo prejuízo ou ofensa à dignidade da vítima.
No entanto, faz-se mister ressaltar que não haverá violação à imagem da
pessoa se esta não puder ser individualmente identificada, a exemplo de fotografias
em uma multidão, consoante Bittar, citado por Cavalieri Filho (2012, p. 117):
Referente a poses ou instantâneos em multidão, é perfeitamente lícito o uso
desde que inexista qualquer destaque da pessoa e o fim se compreenda
dentro das hipóteses de permissão.

Destarte, também não haverá direito à indenização do uso não autorizado da


imagem nas seguintes hipóteses (TRIMARCHI, apud SOARES, 2009, p. 105):
divulgação de imagem por necessidade de justiça ou de polícia; utilização de
imagem por razões científicas, didáticas ou culturais; quando refletir acontecimento
público (informação relevante ou de interesse coletivo) ou evento de interesse
público.
Conclui-se, portanto, que exceto nas situações acima elencadas, o uso não
autorizado da imagem pode gerar o direito à indenização, e não se olvida do fato de
que o dano à imagem pode estar acompanhado do dano existencial, entretanto, com
este não pode e não deve ser confundido.
Isto porque, consoante se extrai da doutrina afeta ao tema, tal fato não implica
na impossibilidade de prosseguir com o seu projeto de vida com sua, não havendo
que se falar, portanto, em danos à sua existência.

1.4.3 Dano existencial e perda de uma chance

A teoria da perda de uma chance, por sua vez, de natureza patrimonial,


configura-se quando o ato ilícito tira do lesionado uma oportunidade de obter uma
situação futura melhor.
Caracteriza-se quando em razão da conduta de um outro indivíduo, extingue-
se uma probabilidade da ocorrência de um evento que possibilitaria que ao ofendido
28

tivesse um futuro melhor, como na vida profissional, na obtenção de um emprego,


dentre outros (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 81).
Na presente teoria, o lesionado sente-se frustrado pela falta da oportunidade
futura, que poderia ocorrer caso o evento lesivo não tivesse ocorrido. No entanto,
nos termos da doutrina especializada, faz-se necessário que a alegada oportunidade
seja uma expectativa real, aceitável em uma lógica razoável.
Ao revés, essa chance futura não pode ser fantasiosa ou desarrazoada, de
modo a fugir da normalidade dos padrões do ofendido.
A indenização pela perda de uma chance é auferida com base no princípio da
razoabilidade, tomando por base uma porcentagem, levando-se em consideração a
probabilidade do que o ofendido iria ganhar em valores.
Em linhas gerais, compensa-se e indeniza-se o ofendido por ter perdido uma
oportunidade que viria lhe trazer benefícios, sobretudo patrimoniais.
Neste sentido, tendo em vista os conceitos já apresentados, não se deve
confundir os institutos do dano existencial com a perda de uma chance, conforme
Boucinhas Filho e Alvarenga (2013, online):
A distinção a ser feita entre o dano existencial e a perda de uma chance
parte da premissa de que, nesta se perdeu uma oportunidade concreta e se
sofreu um prejuízo quantificável, a partir da probabilidade de êxito no
desiderato frustrado, e naquele o que deixou de existir em decorrência foi
direito a exercer uma determinada atividade e participar de uma forma de
convívio inerente à sua existência, que não pode ser quantificado, nem por
aproximação, mas apenas arbitrado. As duas figuras podem,
eventualmente, ser cumuladas. Imaginemos o exemplo de um maratonista
de alto nível que sofre um acidente de trabalho que o impossibilita de correr
para o resto de sua vida às vésperas de uma corrida cuja premiação era de
R$50.000,00 (cinquenta mil reais). Nesse caso se está diante de hipóteses
de dano moral, existencial e perda de uma chance. O dano moral pela
frustração, pelo dissabor e pela dor provocada pelo ocorrido, a perda da
chance de aumentar o patrimônio em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
decorrente da não participação da corrida, o dano existencial por não mais
poder se dedicar a essa atividade esportiva.

Entende-se, portanto, como consequência lógica da análise dos requisitos e


consequências de ambas espécies de dano, que dano existencial distingue-se da
perda de uma chance pelo fato deste se basear em um nexo de comprovada
probabilidade de um ganho futuro, ao passo que o dano existencial, repisa-se, está
ligado aos sonhos e projetos de vida da vítima que certamente iriam ocorrer não
fosse o evento danoso, cuja mensuração econômica não pode ser quantificada, em
razão de se tratar de espécie de dano imaterial.
29

1.4.4 Dano existencial e dano biológico

De início, salienta-se que, conforme ensina Faccini Neto (2010, online, p. 17),
citando Clóvis Couto e Silva, no que tange ao direito biológico, aplicava-se ao direito
pátrio a distinção germânica feita entre danos pessoais primários e danos pessoais
secundários. Os primeiros seriam referentes a danos que implicassem na morte ou
nos ferimentos em si considerados, enquanto que os segundos seriam aqueles
relativos às consequências resultantes das lesões.
No que tange à escola germânica, ainda na lição de Faccini Neto (2010,
online, pp. 17-18), tem-se como dano biológico aquele que reduz, de alguma forma,
a qualidade de vida do indivíduo, seja pela diminuição das capacidades ou das
potencialidades dessa pessoa.
Corroboram neste sentido as lições de Récio Cappelari (2007, p. 107), para
quem o dano biológico, em sentido estrito, é simplesmente a lesão considerada em
si mesma na pessoa vitimada, como, por exemplo, no caso de uma ferida ou uma
fratura, de modo que este dano, geralmente, será visível.
Com efeito, na doutrina brasileira, o dano biológico é classificado como uma
lesão da integridade psicofísica, em sentido patológico, certificado no plano médico
legal. O ressarcimento no dano biológico, em regra geral, acontece com base na
tutela constitucional do Direito à Saúde (STURZA, Janaína Machado, 2008, p. 102).
Desta forma, nos termos do que fora expendido sobre o dano existencial,
conclui-se que esta espécie de dano não se confunde com o dano biológico,
conquanto naquele primeiro exista a necessidade da presença de um prejuízo ao
projeto de vida ou à vida de relações, enquanto naquele segundo, por sua vez, afete
somente a saúde do indivíduo, não se exigindo, para tanto, que a lesão gere
prejuízo à consecução de metas e projetos futuros e tampouco acarrete em
alteração no modo de viver ou se relacionar do lesionado para sua configuração.
Ademais, não se olvida a possível relação de causa e efeito entre estas
espécies de dano, restando afastada, contudo, a afirmação de que o dano biológico
sempre implicará em dano existencial, conquanto haja a necessidade, repisa-se, de
implicações específicas para a configuração deste.
30

2. FUNDAMENTOS DO DANO EXISTENCIAL

2.1 FUNDAMENTOS JURÍDIOS

2.1.1 Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988, a primeira da história brasileira a dispor


sobres os direitos sociais nos direitos e garantidas fundamentais, prevê o princípio
da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
como fundamentos da República.
Sobre o tema, conceitua Luiz Roberto Barroso (2009, p. 155):
[...] os princípios constitucionais são normas eleitas pelo constituinte como
fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que os institui.
[...] É importante assinalar, logo de inicio, que as normas jurídicas, em geral,
e as normas constitucionais, em particular, podem ser enquadradas em
duas categorias diversas: as normas princípios e as normas-disposição. As
normas-disposição, também referida como regras, tem eficácia restritas as
situações específicas as quais se dirigem. Já as normas-princípios, ou
simplesmente princípios, tem normalmente, maior teor de abstração e uma
finalidade mais destacada dentro do sistema.

No texto constitucional estão previstos os princípios inerentes à condição


humana, em especial aqueles aplicáveis ao trabalhador, dentro os quais se
destacam: a) a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (art.
1º, incisos III e IV); b) o direito social à saúde, ao trabalho, ao lazer e à segurança
(art. 6º); c) o direito ao livre desenvolvimento profissional (art.5º, inciso XIII); e d) o
direito à jornada de trabalho não superior a oito horas diárias (art. 7º, inciso XIII).
Tais princípios e direitos fundamentais norteiam os tribunais trabalhistas, a fim
de que prolatem as mais recentes decisões sobre indenização por dano existencial,
muito embora o tema ainda esteja longe de se encontrar pacificado.
Ademais, destaca-se a estreita relação do Direito do Trabalho com o Direito
Constitucional, afinal, é justamente dela que a legislação trabalhista retira seus
princípios fundamentais, conforme dispõe Sergio Pinto Martins (2008, p. 26):
A Constituição estabelece uma série de Direitos aos trabalhadores de modo
geral, principalmente nos arts. 7ª a 11. Mais especificamente no art. 7ª, a
Lei Maior garante direitos mínimos aos trabalhadores urbanos e rurais,
especificando-os em 24 incisos. O empregado doméstico tem alguns
direitos reconhecidos no parágrafo único do art. 7ª. Mesmo o trabalhador
avulso tem assegurado seus direitos no inc. XXXIV do art. 7ª da Lei
31

Fundamental, que prevê igualdade com os direitos dos trabalhadores com


vínculo empregatício permanente.

Consoante outrora mencionado, o reconhecimento do instituto do dano


existencial no âmbito trabalhista é deveras recente, clamando ainda de estudo mais
aprofundado, em especial no que se refere à responsabilização do empregador e
delimitação desta, a fim de que se possa dar a efetiva proteção aos direitos
fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988.

2.1.2 Princípio da dignidade da pessoa humana

Em se tratando de dano existencial, não se pode olvidar que a dignidade da


pessoa humana é um direito fundamental previsto pela Constituição Federal, sendo
também considerada o princípio de maior relevância do ordenamento jurídico.
Nas palavras do Ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau4, assim
concebe-se o princípio da dignidade da pessoa humana:
Tem razão a arguente ao afirmar que a dignidade não tem preço. As coisas
têm preço, as pessoas têm dignidade. A dignidade não tem preço, vale para
todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo quando
alguém se arroga o direito de tomar o que pertence à dignidade da pessoa
humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que,
então, o valor do humano assume forma na substância e medida de quem o
afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure.
Então o valor da dignidade da pessoa humana já não será mais valor do
humano, de todos quantos pertencem à humanidade, porém de quem o
proclame conforme o seu critério particular. Estamos então em perigo,
submissos à tirania dos valores. [...] Sem de qualquer modo negar o que diz
a arguente ao proclamar que a dignidade não tem preço (o que subscrevo),
tenho que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa
não pode ser retribuída com a proclamação de que o instituto da anistia
viola a dignidade humana. [...] O argumento descolado da dignidade da
pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão criminal que
aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra
opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, esse
argumento não prospera.

No mesmo sentido, declara Arion Sayão Romita (2012, online):


O valor da dignidade é realçado por outros dispositivos da Constituição da
Republica. No art. 170, caput, a Carta Magna dispõe que ordem econômica
tem por fim assegurar a todos existência digna. Segundo o preceito pelo art.
226, § 7o, o planejamento familiar se funda nos princípios da dignidade da
pessoa humana e da paternidade responsável. O art. 227, caput, impõe a
família, à sociedade e ao Estado o dever direito (entre outros) à dignidade.
[...]. Por seu turno, quando a Constituição no art. 3º, inciso I, inclui, entre os
objetivos fundamentais visados pelo Estado brasileiro, o de construir uma
sociedade livre, justa e solidária, implicitamente exalta o valor da dignidade

4 ADPF 153, voto do rel. min. Eros Grau, j. 29-4-2010, P, DJE de 6-8-2010.
32

[...]. Ao assinalar, no art. 3º, inciso IV, como um dos objetivos do Estado
brasileiro o de promover o bem de todos, sem preconceitos nem qualquer
forma de discriminação, a Constituição também (embora de forma implícita)
proclama o fundamental valor da dignidade, cujo respeito necessariamente
figura na base de qualquer ato, conduta ou atitude voltada para o alcance
do referido objetivo.

A dignidade da pessoa humana é concebida por José Afonso da Silva nos


seguintes termos (2005, p. 39):
A dignidade é atributo intrínseco, da essência da pessoa humana, único e
que compreende um valor interno, superior a qualquer preço, que não
admite substituição equivalente. Assim, a dignidade estranha e se confunde
com a própria natureza do ser humano.

Assim, como princípio garantido constitucionalmente, a observância de tal


princípio no ordenamento jurídico é de observância obrigatória. Trata-se, pois, de
verdadeiro valor essencial da Constituição, enquanto garantidora dos direitos
fundamentais.
Nessa linha, declara Delgado (2010, p.121):
A Constituição Brasileira incorporou o princípio da dignidade humana em
seu núcleo e o fez de maneira absolutamente moderna. Conferiu-lhe status
multifuncional, mas combinando unitariamente todas as suas funções:
fundamento, princípio e objetivo. Assegurou-lhe amplitude de conceito, de
modo a ultrapassar sua visão estritamente individualista em favor de uma
dimensão social e comunitária de afirmação da dignidade humana.
Enquanto ser social, a pessoa humana tem assegurada por este princípio
iluminador e normativo não apenas a intangibilidade de valores individuais
básicos, como também um mínimo de possibilidade de afirmação no plano
circundante.

É dizer, portanto, que o princípio ora em comento abarca e valoriza os direitos


da personalidade, assim como a eles está ligado, sendo considerado pela doutrina
como protetor da personalidade no Brasil.
A bem da verdade, no que tange à personalidade, há de se destacar que, na
doutrina de Lewicki, citado por Alvarenga (2013, p. 98), encontra respaldo na
cláusula geral de proteção da pessoa humana.
Em outros termos, a dignidade da pessoa humana é verdadeira base de todos
os direitos fundamentais do homem, enquanto ser detentor de direitos e garantias
que precedem até mesmo a própria Constituição.
Ultrajar o princípio da dignidade da pessoa humana e seus corolários é o
mesmo que degradar o ser humano, consoante assevera Sarlet (2006, p. 61):
O que se percebe, em última análise, é que onde não houver respeito pela
vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde as condições
mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde não
houver limitação do poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a
igualdade (em direitos e dignidade) e os direitos fundamentais não forem
33

reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço para a


dignidade da pessoa humana e esta (a pessoa), por sua vez, poderá não
passar de mero objeto de arbítrio e injustiças. Tudo, portanto, converge no
sentido de que também para a ordem jurídico-constitucional a concepção do
homem-objeto (ou homem-instrumento), com todas as consequências que
daí podem e devem ser extraídas, constitui justamente a antítese da noção
da dignidade da pessoa, embora esta, à evidência, não possa ser , por sua
vez, exclusivamente formulada no sentido negativo (de exclusão de atos
degradantes e desumanos), já que assim se estaria a restringir
demasiadamente o âmbito de proteção da dignidade.

Desta forma, resta clarividente que a ocorrência do dano existencial está


diretamente relacionada à violação do princípio da dignidade da pessoa humana,
uma vez que esse princípio norteia a pessoa, ainda que intrinsicamente, em suas
atividades realizadoras, tais como projetos de vida e relações sociais, e quando
acontece a lesão, há um desequilíbrio de sua existência, sobretudo porque o ser
humano tende a depositar no centro das suas aspirações uma existência digna.

2.1.3 Direitos da personalidade

Conforme exposto, a violação dos direitos da personalidade, por estarem


ligados ao princípio da dignidade da pessoa humana, também representa violação a
dignidade da pessoa.
Por direitos de personalidade, entende-se como aqueles direitos subjetivos da
pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida,
alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou morto, partes separadas
do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento,
autoria científica, artística e literária); e a sua integridade moral (honra, imagem,
recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e social)
(LENZA, 2011).
Bittar, por sua vez, citado por Alvarenga (2013, p. 77), assim define os direitos
da personalidade:
São direitos que transcendem, pois, o ordenamento jurídico positivo, porque
ínsitos à própria natureza do homem, como ente dotado de personalidade.
Intimamente ligados ao homem, para sua proteção, independentemente de
relação imediata com o mundo exterior ou outra pessoa, são intangíveis, de
lege lata, pelo Estado ou pelos particulares.

Destarte, destaca-se que as ofensas aos direitos da personalidade são


consideradas como danos extrapatrimoniais, como os danos à integridade moral e a
exemplo do próprio dano existencial, isto é, aquelas que ultrapassam a lesividade de
34

cunho patrimonial, não sendo passíveis, portanto, de quantificação de acordo com a


valoração econômica do dano.
Com efeito, a Constituição Federal protege os direitos da personalidade, e
tutela esses direitos, em seu art. 5º, caput, e incisos I ao XIII, XV, XVII, XXVII,
alíneas a e b; XXIX e XXXV.
No entanto, não obstante estarem previstos na Constituição, tal rol não pode
ser tido como taxativo, vez que com a evolução do direito, as hipóteses previstas
podem ser ampliadas ou modificadas.
Desta forma, não há dúvidas de que a proteção concedida pela Constituição
aos direitos da personalidade é um dos fundamentos jurídicos que doutrinadores e
tribunais têm empregado para conceder indenização por dano existencial.
De igual modo, não se pode pretender separar os direitos da personalidade
das relações e metas de realizações pessoais do ser humano, sendo certo que a
sua violação pode gerar um dano existencial ao ofendido, contrariando, portanto, os
preceitos constitucionais que asseguram à pessoa a realização dos seus projetos de
vida.
Exatamente neste sentido assevera Soares (2009, p. 37):
Os interesses ligados à existência da pessoa estão intimamente
relacionados aos direitos fundamentais, e consequentemente, aos direitos
da personalidade. Da ampla tutela dos mesmos, resulta a valorização de
todas as atividades que a pessoa realiza ou possa realizar, pois tais
atividades são capazes de fazer com que o indivíduo atinja a felicidade,
exercendo, plenamente, todas as suas faculdades físicas e psíquicas, e a
felicidade é, em última análise, a razão de ser da existência humana.

Boucinhas Filho e Alvarenga (2013, online), valendo-se da doutrina de Paulo


Oliveira, asseveram que o dano à existência do trabalhador acarreta, assim, em
violação aos direitos da personalidade do trabalhador.
A lesão ao projeto de vida e à vida de relação afronta as seguintes espécies
de direitos da personalidade: direito à integridade física e à psíquica, direito à
integridade intelectual, bem como o direito à integração social.
Ainda nas palavras dos referidos autores, o dano existencial impede a efetiva
integração do trabalhador à sociedade, embaraçando o seu pleno desenvolvimento
enquanto ser humano. A efetiva utilização de todas as suas potencialidades
somente seria possível, com o desfrute de todas as esferas de sua vida, a saber:
cultural, afetiva, social, esportiva, recreativa, profissional, artística, entre outras.
35

Por fim, pontuam os supramencionados autores, desta vez citando Christiana


Oliveira, que é por meio, ainda, do direito ao lazer, que o trabalhador adquire o
direito à desconexão.
Tal direito relaciona-se com os direitos fundamentais relativos às normas de
saúde, higiene e segurança do trabalho descritas na Constituição Federal quanto à
limitação da jornada, ao direito ao descanso, às férias, e à redução de riscos de
doenças e acidentes de trabalho (art. 7º, incisos XIII, XV, XVII e XXII, CF).
Conclui-se, assim, que as lesões causadas aos direitos de personalidade
possuem o condão de prejudicar o projeto de vida e a vida de relação do ser
humano, impedindo a sua felicidade, gerando, consequentemente, dano a sua
existência.

2.2 DIREITOS HUMANOS

De acordo com Fernando Gonzaga Jayme (2005, p.9), direitos humanos


fundamentais são uma via, um método a ser desenvolvido por toda a humanidade
em direção à realização da dignidade humana, fim de todos os governos e povos. É
por meio deles que se assegura o respeito à pessoa humana e, por conseguinte, a
sua existência digna, capaz de propiciar-lhe o desenvolvimento de sua
personalidade e de seus potenciais, para que possa alcançar o sentido da sua
própria existência. Isso significa conferir liberdade no desenvolvimento da própria
personalidade.
Tais direitos devem ser reconhecidos tanto a nível nacional quanto a nível
internacional, em especial porque são frutos de lutas históricas pelo seu
reconhecimento.
Segundo Alexandre de Moraes (2003, p. 229), o princípio fundamental
consagrado pela Constituição Federal da dignidade da pessoa humana apresenta-se
em sua dupla concepção. Em primeiro lugar, prevê um direito individual protetivo,
seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em
segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário
dos próprios semelhantes.
36

No entanto, não se deve confundir direitos humanos com os direitos


fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988, vez que diferentes,
consoante declara Sarlet (2006, p. 35-36):
Em que pesem sejam ambos os termos (―direitos humanos‖ e
―direitos fundamentais‖), comumente utilizados como sinônimos, a
explicação corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para a distinção
é de que o termo ―direitos fundamentais‖ se aplica para aqueles direitos do
ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional
positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão ―direitos
humanos guardaria relação com os documentos de direito internacional, por
referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano
como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem
constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para todos os
povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter
supranacional (internacional).

Com o advento da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, os


direitos humanos foram revigorados, logo após as atrocidades cometidas na
Segunda Guerra Mundial.
Com efeito, segundo Flávia Piovesan (2006 p. 8), a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, adveio como resposta às atrocidades cometidas pelo nazismo
durante a guerra e inovou o cenário dos direitos humanos:
Neste cenário, a Declaração de 1948 inova a gramática dos direitos
humanos, ao introduzir a chamada concepção contemporânea de direitos
humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos.
Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos,
sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a
titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser
essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade.
Indivisibilidade porque a garantia dos direitos civis e políticos é condição
para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa.
Quando um deles é violado, os demais também o são. Os direitos humanos
compõem, assim, uma unidade indivisível, interdependente e inter-
relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos ao
catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais.

Desta feita, nos termos das lições acima expostas, não restam dúvidas que a
geração de um dano existencial pode lesionar os direitos humanos da vítima, vez
que ao ferir direitos sociais do indivíduo e a sua liberdade de escolha ao longo da
vida e para a vida, ultraja o seu direito a ter uma existência digna, afastando-se e
muito daqueles ideais dispostos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Não há que se olvidar, portanto, que a doutrina se utiliza dos Direitos
Humanos para fundamentar a inserção do instituto no ordenamento jurídico
brasileiro.
37

3. O DANO EXISTENCIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

3.1 RECONHECIMENTO DO INSTITUTO NO DIREITO LABORAL

A teoria do dano existencial, com origem do Direito Italiano e encontrando a


fundamentação na Constituição Federal de 1988, contou com a aceitação pela
jurisprudência e doutrina pátrias. Com efeito, destaca os princípios fundamentos que
possibilitaram a inserção do instituto no ordenamento jurídico brasileiro, princípio da
dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III); direito à liberdade (art. 5º, caput);
direito da proteção à família (arts. 226 e 227) e também no princípio da reparação
integral do dano (arts. 186, 944, 948 e 949).
Igualmente, sabe-se que direitos trabalhistas foram previstos como
fundamentais pela Constituição Federal de 1988, assim como os direitos sociais, que
têm por objetivo maior a proteção ao trabalhador e a garanta de uma existência
digna. Especificamente quanto aos direitos sociais, assim prevê o texto
constitucional em seu art. 6º:
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Não obstante o fato de já encontrar fundamentação na própria Constituição, o


conceito de dano existencial e até mesmo a sua nomenclatura tem sido pouco
utilizada no direito brasileiro. No entanto, tem sido objeto de estudo por alguns
doutrinadores e já está sendo aplicado em algumas decisões, inclusive na Justiça do
Trabalho.
Os exemplos de como o dano existencial pode ocorrer na seara laboral são
os mais diversificados, tais como como longas e extenuantes jornadas de trabalho;
não concessão de férias; acidentes de trabalho; ocorrência de doenças laborais;
trabalho análogo ao de escravo etc. Não é difícil concluir que estas tais práticas
possuem o condão de afetar o projeto de vida e a vida de relação do trabalhador.
Sobre o instituto em estudo na relação trabalhista, traz-se a cotejo a doutrina
de Nascimento (2014, online):
[...] pela não concessão de férias por um longo período, pela sobrecarga de
horas extras além do limite legal de forma habitual, tudo de modo a causar
um prejuízo concreto no modo de vida da pessoa (prejuízo à saúde
psíquica) e/ou a um projeto de vida (exemplifique-se com o trancamento da
38

faculdade por não conseguir comparecer as aulas) e/ou prejuízo concreto


no convívio familiar (exemplifique-se com um divórcio por estar sempre
ausente do meio familiar).

Guedes (2008, p. 129), por sua vez, também exemplifica o dano existencial
que pode ser causado ao trabalhador:
[…] pode decorrer da dispensa injusta, do rebaixamento de função, da
obrigação de trabalhar em condições desconfortáveis e inseguras, da
preterição na ascenção profissional, e, especialmente, da perda da paz
interior decorrente do assédio sexual ou da vexação e humilhação
insidiosas próprias do mobbing, ainda que de natureza leve.

Para Boucinhas Filho e Alvarenga (2013, online), ainda, o dano existencial no


Direito do Trabalho assim pode ocorrer:
O dano existencial no Direito do Trabalho, também chamado de dano à
existência do trabalhador, decorre da conduta patronal que impossibilita o
empregado de se relacionar e de conviver em sociedade por meio de
atividades recreativas, afetivas, espirituais, culturais, esportivas, sociais e de
descanso, que lhe trarão bem-estar físico e psíquico e, por consequência,
felicidade; ou que o impede de executar, de prosseguir ou mesmo de
recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua vez, responsáveis
pelo seu crescimento ou realização profissional, social e pessoal.

Por ser um instituto novo e que se encontra no foco de uma parcela dos
doutrinadores trabalhistas, bem como levando em consideração as mais diversas
hipóteses da sua ocorrência, pode-se listar, com base na doutrina de Afonso (2013,
online), as seguintes possibilidades de ocorrência do dano existencial decorrente da
relação de trabalho:
Acidente de trabalho com vítima de lesão física e morte; Não recolhimento
do INSS que frustra a aposentadoria do trabalhador; Meio ambiente de
trabalho insalubre que acarrete lesão; Meio ambiente de trabalho
degradante e sem condições mínimas; Trabalho análogo ao de escravo;
Jornada excessiva habitual e sem permissão de intervalos semanal,
enterjornada e anual e que priva a vida de relação, os direitos sociais;
Assédio moral com traumas psicológicos; Assédio sexual com traumas
psicológicos;

Outras que podem surgir durante o contrato de trabalho, desde que frustre o
projeto de vida e a relação do trabalhador, sob pena de ocorrer o dano moral
simples que visa reparar a dor e ofensa ao espírito da pessoa.
Dessa forma, segundo Boucinhas Filho e Alvarenga (2013, online), no âmbito
das relações de trabalho, verifica-se a existência de dano existencial quando o
empregador impõe um volume excessivo de trabalho ao empregado,
impossibilitando-o de estabelecer a prática de um conjunto de atividades culturais,
sociais, recreativas, esportivas, afetivas, familiares etc., ou de desenvolver seus
projetos de vida nos âmbitos profissional, social e pessoal.
39

Assim, é justamente em face da inobservância dos direitos e garantias


constitucionais e da falta de preocupação em se evitar a ocorrência de situações
prejudiciais à própria existência do trabalhador é que surge a possibilidade de
indenização por dano existencial, o que vem sendo concedido por alguns
magistrados trabalhistas, conforme será demonstrado em tópicos ulteriores.

3.2 DANO EXISTENCIAL DECORRENTE DA JORNADA DE TRABALHO

Não é novidade que a exploração do trabalhador é realidade na sociedade até


os dias atuais, com flagrantes violações aos direitos dos trabalhadores. Tais
violações se agarravam com as elevadas crescentes taxas de desemprego e a
instabilidade econômica, fatores estes que levam o trabalhador a sujeitar-se a uma
subordinação ultrajante do empregador.
O maior exemplo de tais violações se traduz na imposição de longas jornadas
de trabalho, o que prejudica a saúde dos trabalhadores. Não por acaso o tema é um
dos mais discutidos na seara trabalhista, vez que é deveras elevado o número de
ocorrência de casos envolvendo a violação dos direitos a intervalos, às férias, ao
descanso semanal remunerado e às diversas maneiras de interrupção e suspensão
do contrato de trabalho.
Sobre o tema, traz-se à colação a doutrina de Nascimento (2003, online),
conceituando a jornada de trabalho nos seguintes termos:
[...] o tempo em que o empregado permanece, mesmo sem trabalhar, à
disposição do empregador e quando, em casos especiais, manda computar
como de jornada de trabalho o tempo em que o empregado se locomove
para atingir o local de trabalho.

Os casos de jornada de trabalho extenuantes são comuns principalmente pelo


fato do trabalhador ser a parte hipossuficiente na relação de trabalho e, por muitas
vezes, vê-se obrigado a se submeter a esta situação. Isto porque, na maioria dos
casos, necessita do salário para se sustentar e até mesmo sustentar sua família,
assim como para realizar os seus projetos de vida e manter sua vida de relações.
Neste sentido, Galbraith, citado por Ronchi (2012, p.17.), concebe o caráter
essencial do trabalho na vida do indivíduo:
O trabalho é algo visto de modo bastante diferente por pessoas diferentes.
Para muitos –e isso é o mais comum – o trabalho é algo imposto pela
exigência mais básica da vida: é o que os seres humanos devem fazer,
talvez sofrer, para poder ter uma existência e tudo o que faz parte dela. Ele
40

garante a alegria de viver e afasta desconfortos mais graves ou coisas


piores. Embora muitas vezes repetitivo, estafante e mentalmente
desinteressante, é suportado para que se possa atender as necessidades
da vida e obter alguns prazeres, além de certa reputação na sociedade.

O emprego excessivo e abusivo do trabalhador por parte do patrão na


execução das atividades laborais acaba por frustrar a execução daquelas atividades
realizadoras fora do ambiente de trabalho, que são justamente aquelas afetas ao
projeto de vida do indivíduo.
Tal impedimento pode ser consequência tanto de um único ato do
empregador, como a imposição de uma atividade extraordinária que o impede de
participar do casamento da filha, por exemplo, como também por meio da repetição
de atos que causem o mesmo dano ao trabalhador.
De outro lado, sabe-se que o Direito do Trabalho, por meio da CLT e da
própria Constituição Federal, garantiu aos trabalhadores os períodos de descanso,
intervalos, férias, bem como proibiu o trabalho sobrejornada superior a duas horas
diárias, salvo exceções do art. 59/CLT, que, uma vez recepcionado pela Constituição
da Republica de 1988, versa sobre as horas suplementares, bem como das
prorrogações e da compensação de horários.
A jornada de trabalho digna, compatível com uma qualidade de vida saudável,
aplicada nos ditames legais, traduz-se em um direito laboral de tamanha
importância, tanto assim que se encontra prevista no texto constitucional, art.7º,
inciso XIII, o regramento que estabelece a duração da carga horária não superior a 8
horas diárias e 44 semanais, salvo disposição em contrário.
Neste sentido, quando o empregador viola os direitos trabalhistas, a exemplo
da não concessão de férias, impedindo dessa forma que o trabalhador se
recomponha física e psicologicamente, fere flagrantemente os direitos fundamentais
previstos na Constituição Federal, como o direito ao lazer, à convivência familiar e
ao descanso.
Destarte, é de se destacar que recente jurisprudência trabalhista passou a
manifestar-se neste mesmo sentido:
DANO EXISTENCIAL. DANO MORAL. DIFERENCIAÇÃO. CARGA DE
TRABALHO EXCESSIVA. FRUSTRAÇÃO DO PROJETO DE VIDA.
PREJUÍZO À VIDA DE RELAÇÕES. O dano moral se refere ao sentimento
da vítima, de modo que sua dimensão é subjetiva e existe in re ipsa, ao
passo que o dano existencial diz respeito às alterações prejudiciais no
cotidiano do trabalhador, quanto ao seu projeto de vida e suas relações
sociais, de modo que sua constatação é objetiva. Constituem elementos do
dano existencial, além do ato ilícito, o nexo de causalidade e o efetivo
prejuízo, o dano à realização do projeto de vida e o prejuízo à vida de
41

relações. Caracteriza-se o dano existencial quando o empregador impõe um


volume excessivo de trabalho ao empregado, impossibilitando-o de
desenvolver seus projetos de vida nos âmbitos profissional, social e
pessoal, nos termos dos artigos 6º e 226 da Constituição Federal. O
trabalho extraordinário habitual, muito além dos limites legais, impõe ao
empregado o sacrifício do desfrute de sua própria existência e, em última
análise, despoja-o do direito à liberdade e à dignidade humana. Na hipótese
dos autos, a carga de trabalho do autor deixa evidente a prestação habitual
de trabalho em sobrejornada excedente ao limite legal, o que permite a
caracterização de dano à existência, eis que é empecilho ao livre
desenvolvimento do projeto de vida do trabalhador e de suas relações
sociais. Recurso a que se dá provimento para condenar a ré ao pagamento
de indenização por dano existencial. (TRT-PR-28161-2012-028-09-00-6-
ACO-40650-2013 - 2A. TURMA - Relator: ANA CAROLINA ZAINA -
Publicado no DEJT em 11-10-2013).

DANO MORAL. DANO EXISTENCIAL. SUPRESSÃO DE DIREITOS


TRABALHISTAS. NÃO CONCESSÃO DE FÉRIAS. DURANTE TODO O
PERÍODO LABORAL. DEZ ANOS. DIREITO DA PERSONALIDADE.
VIOLAÇÃO. 1. A teor do artigo 5º, X, da Constituição Federal, a lesão
causada a direito da personalidade, intimidade, vida privada, honra e
imagem das pessoas assegura ao titular do direito a indenização pelo dano
decorrente de sua violação. 2. O dano existencial, ou o dano à existência da
pessoa, -consiste na violação de qualquer um dos direitos fundamentais da
pessoa, tutelados pela Constituição Federal, que causa uma alteração
danosa no modo de ser do indivíduo ou nas atividades por ele executadas
com vistas ao projeto de vida pessoal, prescindindo de qualquer
repercussão financeira ou econômica que do fato da lesão possa decorrer.-
(ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano existencial: a tutela da dignidade
da pessoa humana. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 6, n. 24, mês
out/dez, 2005, p. 68.). 3. Constituem elementos do dano existencial, além
do ato ilício, o nexo de causalidade e o efetivo prejuízo, o dano à realização
do projeto de vida e o prejuízo à vida de relações. Com efeito, a lesão
decorrente da conduta patronal ilícita que impede o empregado de usufruir,
ainda que parcialmente, das diversas formas de relações sociais fora do
ambiente de trabalho (familiares, atividades recreativas e extralaborais), ou
seja que obstrua a integração do trabalhador à sociedade, ao frustrar o
projeto de vida do indivíduo, viola o direito da personalidade do trabalhador
e constitui o chamado dano existencial. 4. Na hipótese dos autos, a
reclamada deixou de conceder férias à reclamante por dez anos. A
negligência por parte da reclamada, ante o reiterado descumprimento do
dever contratual, ao não conceder férias por dez anos, violou o patrimônio
jurídico personalíssimo, por atentar contra a saúde física, mental e a vida
privada da reclamante. Assim, face à conclusão do Tribunal de origem de
que é indevido o pagamento de indenização, resulta violado o art. 5º, X,
da Carta Magna. Recurso de revista conhecido e provido, no
tema. (Processo: RR - 727-76.2011.5.24.0002 Data de Julgamento:
19/06/2013, Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 28/06/2013).

Por fim, não é demasiado enfatizar que não apenas a extrapolação do limite
legal de horas extraordinárias aplicadas de forma abusiva pelo trabalhador pode
configurar dano existencial, mas o mesmo também ocorre quando o trabalhador é
reduzido à condição análoga à de escravo, o que é vedado pelo artigo 149 do
Código Penal Brasileiro.
42

3.3 DANO EXISTENCIAL E A SAÚDE DO TRABALHADOR

O direito à saúde está previsto na Constituição Federal e é classificado como


um direito social, de modo que o Estado deve garantir tal direito mediante políticas
sociais e econômicas que visem reduzir o risco de doenças, assim como
disponibilizar o acesso aos serviços de saúde a todos.
O direito à saúde é um direito individual e social do trabalhador, que implica
diretamente na sua qualidade de vida, quer seja no trabalho, quer seja na sua vida
fora dele. Corrobora neste sentido o entendimento de Trindade, citado por Martins
(2008, p. 136), ao afirmar que o direito à saúde:
É um direito individual no sentido de que requer a proteção da integridade
física e mental do indivíduo e de sua dignidade; e é também um direito
social no sentido de que impõe ao Estado e à sociedade a responsabilidade
coletiva pela proteção da saúde dos cidadãos e pela prevenção e
tratamento das doenças. O direito à saúde, assim apropriadamente
entendido, fornece como o direito à vida, uma ilustração vivida da
indivisibilidade e da inter-relação de todos os direitos humanos.

Atualmente, na maioria das vezes motivados pela ganância do aumento da


produção, o ritmo e a carga de trabalho têm aumentado vertiginosamente, de modo
a se preocupar pouco com a saúde do trabalhador.
É dizer, ainda, que há cada vez mais pressão para que se produza mais,
acompanhada de terror psicológico para que o trabalhador seja cada vez mais
eficiente, forçando o operário submetido a esta situação a ter uma menor interação
social. Os ambientes de trabalho têm se tornado cada vez mais desgastantes, tanto
física, como emocionalmente, o que vem prejudicando a saúde do trabalhador.
Nesse sentido, declara Ronchi (2012, p. 103):
Boa parte das pesquisas realizadas aponta para a erosão da saúde do
trabalhador devido ao culto à eficiência sem limites. A eficiência dominou
amplamente o ambiente organizacional, impondo o máximo rendimento no
menor tempo possível, porém não sem deixar seus vestígios silenciosos.
Depois de décadas seguidas de culto à eficiência, desde Taylor até os dias
de hoje, percebe-se que a produção enxuta (just in time), o downsizing, a
reengenharia, dente outras ferramentas tem significado uma decadência
para os trabalhadores, visto que impõem uma perda de saúde considerável.

As consequências lógicas da submissão do trabalhador a meios de trabalho


desgastantes têm elevado a ocorrência de casos de fadiga e estresse. Dentre as
doenças mais comuns que acometem o trabalhador e que podem acarretar o dano
existencial, merece destaque a L.E.R. (lesões por esforços repetitivos, também
chamada de Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho- DORT), podendo
43

surgir das péssimas condições de trabalho a qual o trabalhador é obrigado a


submeter-se, e que em estágio avançado pode levar à incapacidade para realização
de diversas atividades, conforme assevera Soares (2009, p. 76):
A atividade centrada sobre determinados músculos corporais, falta de
flexibilidade, de controle, de pausa e elevado ritmo do trabalho (exigência
de produtividade cada vez maior) e o uso de móveis e equipamentos
inadequados, são apontados pela doutrina como elementos causais do
DORT, elementos estes que poderão ocasionar a lesão conforme a
intensidade, duração e frequência do movimento. A LER é típico exemplo
de dano à saúde que se configura concomitantemente a um dano
existencial.

Sobre o tema, acrescenta Flaviana Soares (2009, p. 76):


A L. E. R., em estágio avançado, impede a pessoa de realizar não apenas
atividades profissionais habituais, como obsta o exercício de tarefas
singelas do diaadia, como varrer a casa, tomar banho, cozinhar, ou
atividades de lazer, como tocar violão. Uma alteração prejudicial nos hábitos
de vida, transitória ou permanente: eis o dano existencial.

Ainda, associam-se à possibilidade da ocorrência de dano existencial os


casos de acidente de trabalho, que, por muitas vezes, a vítima perde algum membro
ou o movimento deste, o que a impede de completar atividades planejadas para o
seu futuro.
Noutro giro, destacam-se, também, os problemas de saúde de ordem
psíquica, como no caso de indivíduos acometidos pela síndrome de Burnout. Tal
síndrome, de natureza psicológica, faz com que a pessoa perca o sentido em
relação ao trabalho, fazendo com que coisas antes consideradas interessantes já
não tenham mais razão de ser.
Portanto, acometidos da síndrome de Burnout, acabam deixando suas
próprias necessidades de lado, pois suas atividades realizadoras que davam sentido
à sua vida já não têm mais importância, o que configura a ocorrência do dano
existencial.
Nessa linha, traz-se à colação doutrina de Pereira (2008, p. 44-46), sobre os
sintomas desta doença:
Físicos: Fadiga constante e progressiva; Distúrbios do sono; Dores
musculares e osteomusculares; Cefaleias, enxaqueca; Perturbações
gastrointestinais; Imunodeficiência; Transtornos cardiovasculares; Distúrbios
respiratórios; Disfunções sexuais; Alterações menstruais nas mulheres.
Comportamentais: Negligencia ou excesso de escrúpulos; Irritabilidade;
Incremento da agressividade; Incapacidade para relaxar; Dificuldade na
aceitação de mudanças; Perda de iniciativa; Aumento do consumo de
substâncias; Comportamento de alto-risco; Suicídio. Psíquicos: Falta de
atenção, de concentração; Alterações de memória; Lentidão do
pensamento; Sentimento de alienação; Sentimento de solidão; Impaciência;
Sentimento de insuficiência; Baixa autoestima; Labilidade emocional;
44

Dificuldade de auto aceitação; Astenia, desânimo, disforia, depressão;


Desconfiança, paranoia. Defensivos: Tendência ao isolamento; Sentimento
de onipotência; Perda de interesse pelo trabalho; Perda de interesse pelo
lazer; Ironia, cinismo; Absenteísmo.

Por todo o exposto, observa-se que o direito fundamental do trabalhador,


quando violado, acaba levando à perda da qualidade de vida, afetando
negativamente em seus relacionamentos, seu desenvolvimento profissional, o
desfrute dos prazeres da sua existência enquanto ser humano, na realização de
seus objetivos de vida e, por conseguinte, na consecução da sua felicidade,
ocasionado a sua existência.

3.4 EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA TRABALHISTA

Não obstante o fato da teoria do dano existencial ser recente no Brasil, os


Tribunais trabalhistas do país passaram a reconhece-la, de modo que diversas
decisões já foram proferidas condenando empregador infrator pela prática de
condutas que vieram a frustrar o projeto de vida e a vida de relação do trabalhador.
O Tribunal Superior do Trabalho (TST), de maneira cada vez mais recorrente,
tem aplicado o dano existencial nos últimos anos. Em junho de 2013, a Primeira
Turma do TST condenou a Caixa de Assistência dos Servidores do Estado do Mato
Grosso do Sul (Cassems) em R$ 25 mil, por ter deixado de conceder ao empregado
férias por longos 10 anos, nos seguintes termos:
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. DANO MORAL. DANO
EXISTENCIAL. SUPRESSÃO DE DIREITOS TRABALHISTAS. NÃO
CONCESSÃO DE FÉRIAS. DURANTE TODO O PERÍODO LABORAL. DEZ
ANOS. DIREITO DA PERSONALIDADE. VIOLAÇÃO. 1. A teor do
artigo 5o, X, da Constituição Federal, a lesão causada a direito da
personalidade, intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas
assegura ao titular do direito a indenização pelo dano decorrente de sua
violação. 2. O dano existencial, ou o dano à existência da pessoa, "consiste
na violação de qualquer um dos direitos fundamentais da pessoa, tutelados
pela Constituição Federal, que causa uma alteração danosa no modo de ser
do indivíduo ou nas atividades por ele executadas com vistas ao projeto de
vida pessoal, prescindindo de qualquer repercussão financeira ou
econômica que do fato da lesão possa decorrer." (ALMEIDA NETO, Amaro
Alves de. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.
Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 6, n. 24, mês out/dez, 2005, p. 68.). 3.
Constituem elementos do dano existencial, além do ato ilício, o nexo de
causalidade e o efetivo prejuízo, o dano à realização do projeto de vida e o
prejuízo à vida de relações. Com efeito, a lesão decorrente da conduta
patronalilícita que impede o empregado de usufruir, ainda que parcialmente,
das diversas formas de relações sociais fora do ambiente de trabalho
(familiares, atividades recreativas e extralaborais), ou seja que obstrua a
integração do trabalhador à sociedade, ao frustrar o projeto de vida do
45

indivíduo, viola o direito da personalidade do trabalhador e constitui o


chamado dano existencial. 4. Na hipótese dos autos, a reclamada deixou de
conceder férias à reclamante por dez anos. A negligência por parte da
reclamada, ante o reiterado descumprimento do dever contratual, ao não
conceder férias por dez anos, violou o patrimônio jurídico personalíssimo,
por atentar contra a saúde física, mental e a vida privada da reclamante.
Assim, face à conclusão do Tribunal de origem de que é indevido o
pagamento de indenização, resulta violado o art. 5o, X, da Carta Magna.
Recurso de revista conhecido e provido, no tema.169. (RR - 727-
76.2011.5.24.0002 , Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, Data de
Julgamento: 19/06/2013, 1ª Turma, Data de Publicação: 28/06/2013)

Analisando-se a ementa acima, conclui-se que houve flagrante violação do


direito ao lazer do trabalhador, uma vez que se viu cercado do convívio social, ao
longo de 10 (dez) anos, o que acarretou em flagrante dano à vida de relações do
indivíduo.
Noutro giro, é de se destacar que ainda é tímida a aplicação do instituto do
dano existencial com a sua atual terminologia, de modo que por muitas vezes o
dano moral, strito sensu, vem tomando o papel da sua literalidade nas decisões
sobre o tema.
É o que se extrai da decisão da 7ª Turma do TST a seguir transcrita,
prolatada em novembro de 2012:
II - RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
EMPREGADOR. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NÃO
CONCESSÃO DAS FÉRIAS POR MAIS DE DEZ ANOS. A reiterada
conduta omissiva da reclamada, consistente no descumprimento de seu
dever contratual, ao deixar de conceder férias ao reclamante, por mais de
dez anos, constitui ato ilícito, notadamente porque põe em risco a saúde do
trabalhador, direito inerente à dignidade da pessoa humana, configurando-
se, ainda, quebra da boa-fé contratual. Recurso de revista conhecido e
provido. (TST - Processo Nº RR-1967-54.2010.5.02.0065. Relator Min.
Ives Gandra Martins Filho)

A despeito da linha da utilização da terminologia dano existencial, os


Tribunais Regionais, em face da até então falta de enfretamento por parte do TST,
trataram de avançar e aplicar o dano existencial com todas as características
específicas ao instituto:
DANO EXISTENCIAL. NEGATIVA DE DIREITO AO LAZER E DESCASO.
INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS DEVIDA. O direito ao lazer e ao
descanso é direito humano fundamental, assegurado constitucionalmente -
art. 6o - e está diretamente relacionado com a relação de trabalho. A
prorrogação excessiva da jornada de trabalho justifica a indenização
compensatória pelo dano causado. Trata-se de desrespeito contínuo aos
limites de jornada previstos no ordenamento jurídico, sendo, pois, ato ilícito.
É o chamado dano existencial, uma espécie de dano imaterial em que o
trabalhador sofre limitações em sua vida fora do ambiente de trabalho”
(Precedente processo 01924-2011-113-03-00-2, Relator Juiz Convocado
Paulo Eduardo Queiroz Gonçalves, publ. 11/12/2013)
46

DANO EXISTENCIAL. DANO MORAL. DIFERENCIAÇÃO. CARGA DE


TRABALHO EXCESSIVA. FRUSTRAÇÃO DO PROJETO DE VIDA.
PREJUÍZO À VIDA DE RELAÇÕES. O dano moral se refere ao sentimento
da vítima, de modo que sua dimensão é subjetiva e existe in re ipsa, ao
passo que o dano existencial diz respeito às alterações prejudiciais no
cotidiano do trabalhador, quanto ao seu projeto de vida e suas relações
sociais, de modo que sua constatação é objetiva. Constituem elementos do
dano existencial, além do ato ilícito, o nexo de causalidade e o efetivo
prejuízo, o dano à realização do projeto de vida ou o prejuízo à vida de
relações. Caracteriza-se o dano existencial quando o empregador impõe um
volume excessivo de trabalho ao empregado, impossibilitando-o de
desenvolver seus projetos de vida nos âmbitos profissional, social e
pessoal, nos termos dos artigos 6o e 226 da Constituição Federal. O
trabalho extraordinário habitual, muito além dos limites legais, impõe ao
empregado o sacrifício do desfrute de sua própria existência e, em última
análise, despoja-o do direito à liberdade e à dignidade humana. Na hipótese
dos autos, a carga de trabalho do autor deixa evidente a prestação habitual
de trabalho em sobrejornada excedente ao limite legal, o que permite a
caracterização de dano à existência, eis que é empecilho ao livre
desenvolvimento do projeto de vida do trabalhador e de suas relações
sociais. Recurso a que se dá provimento para condenar a ré ao pagamento
de indenização por dano existencial. (TRT-PR-28161-2012-028-09-00-6-
ACO-40650-2013 - 2A. TURMA - Relator: ANA CAROLINA ZAINA -
Publicado no DEJT em 11-10-2013)

Conforme outrora pontuado, conclui-se que houve nítido avanço do instituto,


vez que a preocupação de o diferenciar do dano moral stricto sensu, o que
corroborou para o reconhecimento como dano autônomo.
Com efeito, as decisões prolatadas pelos Tribunais trabalhistas nos últimos
anos têm se mostrado com uma evolução tamanha, de modo que o instituto passou
a ser solidificado no ordenamento jurídico, conforme pode-se extrair das decisões a
seguir expostas:
INDENIZAÇÃO POR DANO EXISTENCIAL. JORNADA DE TRABALHO
EXTENUANTE. O dano existencial consiste em espécie de dano
extrapatrimonial cuja principal característica é a frustração do projeto de
vida pessoal do trabalhador, impedindo a sua efetiva integração à
sociedade, limitando a vida do trabalhador fora do ambiente de trabalho e o
seu pleno desenvolvimento como ser humano, em decorrência da conduta
ilícita do empregador. O Regional afirmou, com base nas provas coligidas
aos autos, que a reclamante laborava em jornada de trabalho extenuante,
chegando a trabalhar 14 dias consecutivos sem folga compensatória,
laborando por diversos domingos. Indubitável que um ser humano que
trabalha por um longo período sem usufruir do descanso que lhe é
assegurado, constitucionalmente, tem sua vida pessoal limitada, sendo
despicienda a produção de prova para atestar que a conduta da
empregadora, em exigir uma jornada de trabalho deveras extenuante, viola
o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, representando um
aviltamento do trabalhador. O entendimento que tem prevalecido nesta
Corte é de que o trabalho em sobrejornada, por si só, não configura dano
existencial. Todavia, no caso, não se trata da prática de sobrelabor dentro
dos limites da tolerância e nem se trata de uma conduta isolada da
empregadora, mas, como afirmado pelo Regional, de conduta reiterada em
que restou comprovado que a reclamante trabalhou em diversos domingos
sem a devida folga compensatória, chegando a trabalhar por 14 dias sem
folga, afrontando assim os direitos fundamentais do trabalhador.
47

Precedentes. Recurso de revista conhecido e desprovido. (TST - RR:


10347420145150002, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 04/11/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 13/11/2015)

RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. DANO EXISTENCIAL.


SUBMISSÃO A JORNADA EXTENUANTE. PREJUÍZO NÃO
COMPROVADO. O dano existencial é espécie de dano imaterial. No caso
das relações de trabalho, o dano existencial ocorre quando o trabalhador
sofre dano/limitações em relação à sua vida fora do ambiente de trabalho
em razão de condutas ilícitas praticadas pelo empregador, impossibilitando-
o de estabelecer a prática de um conjunto de atividades culturais, sociais,
recreativas, esportivas, afetivas, familiares, etc., ou de desenvolver seus
projetos de vida nos âmbitos profissional, social e pessoal. Não é qualquer
conduta isolada e de curta duração, por parte do empregador, que pode ser
considerada como dano existencial. Para isso, a conduta deve perdurar no
tempo, sendo capaz de alterar o objetivo de vida do trabalhador, trazendo-
lhe um prejuízo no âmbito de suas relações sociais. Na hipótese dos autos,
embora conste que o Autor se submetia frequentemente a uma jornada de
mais de 15 horas diárias, não ficou demonstrado que o Autor tenha deixado
de realizar atividades em seu meio social ou tenha sido afastado do seu
convívio familiar para estar à disposição do Empregador, de modo a
caracterizar a ofensa aos seus direitos fundamentais. Diferentemente do
entendimento do Regional, a ofensa não pode ser presumida, pois o dano
existencial, ao contrário do dano moral, não é "in re ipsa", de forma a se
dispensar o Autor do ônus probatório da ofensa sofrida. Não houve
demonstração cabal do prejuízo, logo o Regional não observou o disposto
no art. 818 da CLT, na medida em que o Reclamante não comprovou o fato
constitutivo do seu direito. Recurso de Revista conhecido e provido. (TST -
RR: 14439420125150010, Relator: Maria de Assis Calsing, Data de
Julgamento: 15/04/2015, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/04/2015)

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO


ANTERIOR À LEI 13.467/2017. DANO EXISTENCIAL. PRESTAÇÃO
EXCESSIVA, CONTÍNUA E DESARRAZOADA DE HORAS EXTRAS.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. Demonstrado no agravo
de instrumento que o recurso de revista preenchia os requisitos do art. 896
da CLT, dá-se provimento ao agravo de instrumento para melhor análise da
alegada violação do art. 5º, V e X, da CF. Agravo de instrumento provido. B)
RECURSO DE REVISTA. PROCESSO ANTERIOR À LEI 13.467/2017.
DANO EXISTENCIAL. PRESTAÇÃO EXCESSIVA, CONTÍNUA E
DESARRAZOADA DE HORAS EXTRAS. INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL COLETIVO. No caso concreto, conforme dados fáticos registrados
pelo Regional, a Reclamada descumpriu de forma reiterada inúmeros
dispositivos ligados à duração de trabalho, configurando manifesto dano
existencial dos empregados da Ré. Ora, o excesso de jornada
extraordinária, para muito além das duas horas previstas na Constituição e
na CLT, sem a concessão dos intervalos intrajornadas e intervalos
interjornadas, cumprido de forma habitual e por longo período, tipifica, em
tese, o dano existencial, por configurar manifesto comprometimento do
tempo útil de disponibilidade que todo indivíduo livre, inclusive o
empregado, ostenta para usufruir de suas atividades pessoais, familiares e
sociais. A esse respeito é preciso compreender o sentido da ordem jurídica
criada no País em cinco de outubro de 1988 (CF/88). É que a Constituição
da República determinou a instauração, no Brasil, de um Estado
Democrático de Direito (art. 1º da CF), composto, segundo a doutrina, de
um tripé conceitual: a pessoa humana, com sua dignidade; a sociedade
política, necessariamente democrática e inclusiva; e a sociedade civil,
também democrática e inclusiva (Constituição da República e Direitos
Fundamentais - dignidade da pessoa humana, justiça social e Direito do
Trabalho. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2015, Capítulo II). A realização dos
48

princípios constitucionais humanísticos e sociais (inviolabilidade física e


psíquica do indivíduo; bem-estar individual e social; segurança das pessoas
humanas, ao invés de apenas da propriedade e das empresas, como no
passado; valorização do trabalho e do emprego; justiça social; subordinação
da propriedade à sua função social, entre outros princípios) é instrumento
importante de garantia e cumprimento da centralidade da pessoa humana
na vida socioeconômica e na ordem jurídica, concretizando sua dignidade e
o próprio princípio correlato da dignidade do ser humano. Essa realização
tem de ocorrer também no plano das relações humanas, sociais e
econômicas, inclusive no âmbito do sistema produtivo, dentro da dinâmica
da economia capitalista, segundo a Constituição da República Federativa do
Brasil. Dessa maneira, uma gestão empregatícia que submeta o indivíduo a
reiterada e contínua jornada extenuante, que se concretize muito acima dos
limites legais, em dias sequenciais, agride todos os princípios
constitucionais acima explicitados e a própria noção estruturante de Estado
Democrático de Direito. Se não bastasse, essa jornada excessiva reduz
acentuadamente e de modo injustificável, por longo período, o direito à
razoável disponibilidade temporal inerente a todo indivíduo, direito que é
assegurado pelos princípios constitucionais mencionados e pelas regras
constitucionais e legais regentes da jornada de trabalho. Tal situação
anômala deflagra, assim, o dano existencial, que consiste em lesão ao
tempo razoável e proporcional, assegurado pela ordem jurídica, à pessoa
humana do trabalhador, para que possa se dedicar às atividades
individuais, familiares e sociais inerentes a todos os indivíduos, sem a
sobrecarga horária desproporcional, desarrazoada e ilegal, de intensidade
repetida e contínua, em decorrência do contrato de trabalho mantido com o
empregador. Desse modo, laborando os empregados em jornadas de
trabalho excessivas, ultrapassando sobremaneira o limite extraordinário de
duas horas diárias do art. 59 da CLT, sem a concessão dos intervalos
intrajornadas e intervalos interjornadas, compreende-se que as condições
de trabalho a que se submeteram os empregados atentaram contra a sua
dignidade, a sua integridade psíquica e o seu bem-estar individual - bens
imateriais que compõem seu patrimônio moral protegido pela Constituição -,
ensejando a reparação moral, conforme autorizam o inciso X do art. 5º da
Constituição Federal e os arts. 186 e 927, caput, do CCB/2002. Nesse
contexto, configura-se o dano moral coletivo. Recurso de revista conhecido
e provido. (RR - 34800-83.2009.5.02.0446 , Relator Ministro: Mauricio
Godinho Delgado, Data de Julgamento: 06/12/2017, 3ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 11/12/2017)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO


DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. PRESTAÇÃO
HABITUAL DE HORAS EXTRAS SUPERIOR AO LIMITE LEGAL DE 8
HORAS DIÁRIAS. SÚMULA Nª 423 DO TST. No caso em exame, o
Regional considerou inválido o regime de turnos ininterruptos de
revezamento, em virtude da prestação de horas extras habituais, da
extrapolação do módulo diário máximo (artigo 59, § 2º, da CLT) e da
supressão do intervalo intrajornada. A Constituição Federal, ao estabelecer,
no artigo 7º, inciso XIV, jornada de seis horas para o trabalho realizado em
turnos ininterruptos de revezamento, excepciona, na parte final do
dispositivo, que essa jornada poderia ser prorrogada mediante negociação
coletiva. Deve ser considerada válida, então, a cláusula normativa que
transpõe o limite da jornada dos empregados que se ativem em turnos
ininterruptos de revezamento de seis até o limite de oito horas diárias,
quando não demonstrada a ocorrência de vícios formais na negociação.
Atenta a essa flexibilidade da jornada de trabalho dos trabalhadores sujeitos
a jornada em turnos ininterruptos de revezamento, esta Corte editou a
Súmula nº 423, cujo teor se transcreve: "TURNO ININTERRUPTO DE
REVEZAMENTO. FIXAÇÃO DE JORNADA DE TRABALHO MEDIANTE
49

NEGOCIAÇÃO COLETIVA. VALIDADE Estabelecida jornada superior a seis


horas e limitada a oito horas por meio de regular negociação coletiva, os
empregados sujeitos a turnos ininterruptos de revezamento não têm direito
ao pagamento da 7ª e 8ª horas como extras". Ocorre que, na hipótese, é
incontroverso que o reclamante trabalhava além das oito horas previstas
para a jornada em turno ininterrupto de revezamento. Assim, uma vez
extrapolado o limite de oito horas diárias previsto na Súmula nº 423 do TST,
deve ser mantida a invalidade da norma coletiva, sendo devido o
pagamento, como extra, das horas que ultrapassarem a sexta diária. Agravo
de instrumento desprovido. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
RECURSO DE REVISTA QUE ATENDE AOS REQUISITOS DISPOSTOS
NO ARTIGO 896, INCISO I, § 1º-A, INCISO I, DA CLT. ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL Nº 282 DA SBDI-1 DO TST. O recurso de revista foi
interposto na vigência da Lei nº 13.015, de 2014, que alterou a redação do
artigo 896 da CLT, acrescendo a esse dispositivo, entre outros, o § 1º-A,
que determina novas exigências de cunho formal para a interposição do
recurso de revista, estatuindo que, "sob pena de não conhecimento, é ônus
da parte: I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista". Na
hipótese, a despeito do consignado no despacho em que se denegou
seguimento ao recurso de revista, verifica-se que a reclamada indicou, na
petição do recurso de revista, trecho suficiente da decisão recorrida em que
se encontra prequestionada a matéria objeto de sua irresignação, como
ordena o artigo 896, § 1º-A, inciso I, da CLT, de forma que a exigência
processual contida no dispositivo em questão foi satisfeita. Assim, afastada
a ausência de prequestionamento, passa-se à análise do mérito do recurso
de revista denegado, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 282 da
SbDI-1 deste Tribunal. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. JORNADA
ABUSIVA. TRABALHO POR VINTE DIAS CONSECUTIVOS. DANO
MORAL IN RE IPSA. PRESUNÇÃO HOMINIS. A controvérsia cinge-se à
caracterização ou não do dano moral no caso de cumprimento de jornada
exaustiva pelo empregado. O Regional reconheceu "que o autor se ativava
em turnos ininterruptos de revezamento de 08 horas, alternados a cada 02
ou 03 dias, com apenas 30 minutos de intervalo, além de 02 horas extras
diárias durante 07 dias corridos por mês, sem contar o labor extraordinário
em outros dias, bem como nos dias destinados às folgas, tendo acontecido
até mesmo do reclamante laborar por 20 dias seguidos, situação que
demonstra labor em jornada exaustiva e abuso do poder diretivo do
empregador". Diante disso, a Corte a quo consignou que "a jornada exigida
pela reclamada é abusiva", condenando-a ao pagamento de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) a título de indenização por danos morais. Esta Corte tem
entendido que a submissão habitual dos trabalhadores à jornada excessiva
de labor ocasiona-lhes dano existencial, modalidade de dano imaterial e
extrapatrimonial em que os empregados sofrem limitações em sua vida
pessoal por força de conduta ilícita praticada pelo empregador, exatamente
como na hipótese dos autos, importando em confisco irreversível de tempo
que poderia legitimamente destinar-se a descanso, convívio familiar, lazer,
estudos, reciclagem profissional e tantas outras atividades, para não falar
em recomposição de suas forças físicas e mentais, naturalmente
desgastadas por sua prestação de trabalho. Portanto, o ato ilícito praticado
pela reclamada acarreta dano moral in re ipsa, que dispensa comprovação
da existência e da extensão, sendo presumível em razão do fato danoso.
Agravo de instrumento desprovido. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DANOS
MORAIS. R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS). Na espécie, levando-se em
consideração a gravidade da conduta ilícita praticada, a culpabilidade da
reclamada e o dano à dignidade do ofendido, bem como o caráter
pedagógico da indenização em tela, observa-se que o valor arbitrado aos
danos morais, R$ 5.000,00 (cinco mil reais), não se mostra desprovido de
razoabilidade ou pela proporcionalidade, mas, sim, apresenta-se adequado
à situação fática delineada nos autos e apto a amenizar a dor e as
50

dificuldades cotidianas sofridas pelo empregado. Diante do exposto, verifica-


se que o Regional primou pela razoabilidade e pela proporcionalidade, não
havendo falar em excesso na fixação do quantum indenizatório. Agravo de
instrumento desprovido. DEVOLUÇÃO DE DESCONTOS. INTERVALO
INTRAJORNADA. RECURSO DE REVISTA QUE NÃO ATENDE AO
REQUISITO DISPOSTO NO ARTIGO 896, § 1º-A, INCISO I, DA CLT.
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO PREQUESTIONAMENTO. O recurso de
revista foi interposto na vigência da Lei nº 13.015, de 2014, que alterou a
redação do artigo 896 da CLT, acrescendo a esse dispositivo, entre outros,
o § 1º-A, que determina novas exigências de cunho formal para a
interposição do recurso de revista, estatuindo que, "sob pena de não
conhecimento, é ônus da parte: I - indicar o trecho da decisão recorrida que
consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de
revista". Na hipótese, a parte não indicou, na petição do recurso de revista,
o trecho da decisão recorrida em que se encontra prequestionada a matéria
objeto de sua irresignação, como ordena o artigo 896, § 1º-A, inciso I, da
CLT, de forma que a exigência processual contida no dispositivo em
questão não foi satisfeita. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR -
10947-69.2014.5.15.0038 , Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta,
Data de Julgamento: 29/11/2017, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
01/12/2017)

Por fim, no que tange ao quantum indenizatório do dano existencial, o


Desembargador Ledur, citado por Boucinhas Filho e Alvarenga (2013, online) sugere
que sejam observados os seguintes parâmetros:
A condenação em reparação de dano existencial deve ser fixada
considerando-se a dimensão do dano e a capacidade patrimonial do
lesante. Para surtir um efeito pedagógico e econômico, o valor fixado deve
representar um acréscimo considerável nas despesas da empresa,
desestimulando a reincidência, mas que preserve a sua saúde econômica.

A indenização deve corresponder ao dano, sempre que possível (art. 944,


Código Civil), o ofendido não deve receber um valor injusto, mas também não deve
receber um valor a mais do que sofreu.
Evidentemente, o valor da indenização não eliminará o dano, mas apenas
servirá para amenizar a dor e os prejuízos sofridos pelo ofendido.

3.4.1 Análise de caso envolvendo dano existencial no cenário local

Consoante o exposto na introdução deste estudo, no presente tópico será


abordada a análise de caso concreto que ocorrera na cidade de Boa Vista-RR,
privilegiando, portanto, a aplicação do instituto no cenário do poder judiciário
trabalhista local.
Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por G. C. da Silva em face da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, nos autos do processo
51

n. 1100000297520145110051, que tramitou perante a 1ª Vara da Justiça do


Trabalho de Boa Vista/RR, com sentença prolatada pelo juiz Raimundo Paulino
Cavalcante Filho.
No caso em apreço, o reclamante propugnou pela condenação da reclamada
na obrigação de pagar a quantia de R$ 39.319,56 (trinta e nove mil, trezentos e
dezenove reais e cinquenta e seis centavos), sendo R$ 26.213,04 (vinte e seis mil,
duzentos e treze reais e quatro centavos) a título de indenização por danos morais,
que, posteriormente, foram tidos como danos existenciais pelo magistrado
trabalhista.
Aduzia o reclamante que fora investido no Cargo de Operário Rural, após
lograr êxito em concurso promovido pela reclamada, objeto do Edital de n. 002/2007,
e diferentemente da norma prevista em edital, fora deslocado para a Fazenda Serra
da Prata, localizada no munícipio de Mucajaí, ao lado de outros três empregados
públicos, onde passou a executar as atividades laborais.
No exposto fático, aduziu ainda que a Fazenda Serra da Prata se localizava a
11 (onze) quilômetros da sede do Município de Mucajaí, constituindo-se como local
de trabalho de difícil acesso, além de não servido por transporte público regular,
sendo que a empregadora aprovisionava transporte apenas às segundas-feiras no
turno matutino e nas sextas-feiras no turno vespertino para fins de retorno.
Por estes motivos, asseverou também que ao ser submetido ao referido labor,
em local de trabalho de difícil acesso, à míngua de comunicação e em condições
ofensivas à dignidade, viu-se privado da convivência familiar, acarretando a
separação conjugal.
A reclamada, por sua vez, afirmou que o reclamante, ao ser lotado no Campo
Experimental Serra de Prata, deveria fixar domicílio no Município de Mucajaí. No
entanto, decidiu por manter o domicílio fixado no Município de Boa Vista, o que fez
ao constatar que o referido Campo dispunha de alojamentos, inexistindo, portanto,
qualquer exigência por parte da empregadora no sentido de que assim procedesse.
Superada a fase de instrução processual, o juiz prolator da sentença ora em
análise entendeu que o reclamante, uma vez investido no Cargo de Operário Rural,
fora de fato deslocado para o Campo Experimental Serra de Prata, distante cerca de
10 quilômetros da sede do Município de Mucajaí, onde passou a executar as
atividades laborais, ou seja, em local diverso daquele para o qual primitivamente
52

foram ofertadas as vagas, constituindo-se, indubitavelmente, local de trabalho de


difícil acesso e, ainda, não servido por transporte público regular.
Outrossim, continuou o magistrado, tem-se que o modelo de trabalho a que
restou submetido o reclamante causou-lhe graves danos morais, uma vez que,
confinado em zona rural, de difícil acesso e de restrita comunicação, viu-se impedido
do convívio familiar, no caso, para com a convivente e a filha, causando, inclusive, a
separação do casal, assim como ao próprio convívio social e, ainda, ao necessário
lazer, acontecimentos que norteiam o plano existencial de cada pessoa.
Em outros termos, segundo o juiz, a reclamada deu causa à infelicidade
obreira.
Para o magistrado, o padrão laboral praticado pela reclamada, corrigido
posteriormente, mediante o aprovisionamento de transporte diariamente, assinalou a
ocorrência de dano existencial, porquanto, inquestionavelmente, afetou os planos de
vida do reclamante, que certamente incluíam a companheira e a prole, atentando,
por conseguinte, contra a dignidade da pessoa humana do trabalhador.
O magistrado trabalhista tratou de fundamentar a sentença colacionando a
doutrina de Júlio César Bebber, nos seguintes termos:
Por dano existencial (também chamado de dano ao projeto de vida ou
prejudice d'agrément - perda da graça, do sentido) compreende-se toda
lesão que compromete a liberdade de escolha e frustra o projeto de vida
que a pessoa elaborou para sua realização como ser humano. Diz-se
existencial exatamente porque o impacto gerado pela dano provoca um
vazio existencial na pessoa que perde a fonte de gratificação vital. [...] O
dano existencial independe de repercussão financeira ou econômica, e não
diz respeito à esfera íntima (dor e sofrimento, características do dano
moral). Dele decorre a frustração de uma projeção que impede a realização
pessoal (com perda da qualidade de vida e, por conseguinte, modificação in
pejus da personalidade), impõe a reprogramação e obriga um relacionar- se
de modo diferente no contexto social. É, portanto, passível de constatação
objetiva. [...] É indispensável que o dano injusto tenha frustrado
(comprometido) a realização do projeto de vida (importando em renúncias
diárias) que, agora, tem de ser reprogramado com as limitações que o dano
impôs. (Danos extrapatrimoniais - estético, biológico e existencial - breves
considerações; Revista LTr., vol. 73, nº 01, janeiro de 2009).

Sobre a matéria, realçou o juiz os seguintes precedentes judiciais:


DANO EXISTENCIAL. Há dano existencial quando a prática de jornada
exaustiva por longo período impõe ao empregado um novo e prejudicial
estilo de vida, com privação de direitos de personalidade, como o direito ao
lazer, à instrução, à convivência familiar. Prática reiterada da reclamada em
relação aos seus empregados que deve ser coibida por lesão ao princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da Constituição
Federal). (TRT da 04ª Região, 2a. Turma, 0001133-16.2011.5.04.0015 RO,
em 18/04/2013, Desembargador Raul Zoratto Sanvicente - Relator.
Participaram do julgamento: Desembargadora Tânia Rosa Maciel de
Oliveira, Desembargador Alexandre Corrêa da Cruz)
53

DANO EXISTENCIAL. JORNADA EXTRA EXCEDENTE DO LIMITE LEGAL


DE TOLERÂNCIA. DIREITOS FUNDAMENTAIS. O dano existencial é uma
espécie de dano imaterial, mediante o qual, no caso das relações de
trabalho, o trabalhador sofre danos/limitações em relação à sua vida fora do
ambiente de trabalho em razão de condutas ilícitas praticadas pelo tomador
do trabalho. Havendo a prestação habitual de trabalho em jornadas extras
excedentes do limite legal relativo à quantidade de horas extras, resta
configurado dano à existência, dada a violação de direitos fundamentais do
trabalho que traduzem decisão jurídico-objetiva de valor de
nossa Constituição. Do princípio fundamental da dignidade da pessoa
humana decorre o direito ao livre desenvolvimento da personalidade do
trabalhador, do qual constitui projeção o direito ao desenvolvimento
profissional, situação que exige condições dignas de trabalho e observância
dos direitos fundamentais também pelos empregadores (eficácia horizontal
dos direitos fundamentais). Recurso do reclamante provido. (TRT da 04ª
Região, 1a. Turma, 0002125-29.2010.5.04.0203 RO, em 20/03/2013,
Desembargador José Felipe Ledur - Relator. Participaram do julgamento:
Desembargadora Iris Lima de Moraes, Desembargadora Laís Helena Jaeger
Nicotti)

No caso em análise, com base nos entendimentos acima esposados, o juiz


restou convencido da conduta abusiva da reclamada, condenando a empregadora
na obrigação de pagar a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de
indenização por danos morais existenciais, com fundamento nos arts. 1º, inc. IV, 6º,
7º, caput, e 170, da Constituição Federal de 1988, e, ainda, nos arts. 652, alínea d, e
832, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho, e, enfim, nos arts. 186, 187 e 927
do Código Civil.
Inconformada, a parte reclamada interpôs Recurso Ordinário, almejando e
ensejando o reexame da matéria fático-probatória.
O Tribunal Regional do Trabalho da 11º Região, por sua vez, conheceu do
recurso e deu parcial provimento às razões recursais para reformar a sentença no
que tange à indenização por dano existencial.
Nos termos do voto do Relator5, Desembargador Audaliphal Hildebrando da
Silva, acompanhado à unanimidade pela Segunda Turma do TRT11, não restou
evidenciada a ocorrência do dano existencial, vez que, no caso em análise, não
houve inviabilização do efetivo usufruto da própria vida por parte da reclamada, nos
seguintes termos:
O dano existencial é configurado pela exacerbação do tempo do trabalhador
em função do emprego, de modo que lhe é inviabilizado o efetivo usufruto
de vida própria. Todavia, não é qualquer conduta isolada e de curta
duração, por parte do empregador, que gera o dano existencial. A mais alta
Corte Trabalhista do país tem posicionamento pacífico no sentido de que o
excesso de trabalho, por si só, não configura o dano existencial. No caso
dos autos, o autor atribui ao excessivo tempo longe da família (já que

5 TRT11. 0000029-75.2014.5.11.0051 (RO).


54

passava a semana em alojamento da reclamada, em localidade distante da


sua residência) o suposto direito ao dano moral, já que se deslocava para o
trabalho na segunda-feira e retornava somente na sexta-feira, dias que a
empresa disponibilizava o transporte para ida e vinda do trabalho. O autor
alegou que essa privação de tempo com sua família acarretou a separação
conjugal. Não ficou demonstrado nos autos, contudo, que essa privação de
tempo com sua família acarretou a separação conjugal. Ademais, a ida ao
trabalho na segunda-feira e retorno apenas na sexta-feira durou apenas,
aproximadamente, o primeiro ano de labor na reclamada, já que o autor foi
lotado em seguida na capital, Boa Vista. Além disso, vale ressaltar que não
há qualquer ato ilícito na forma de trabalho proposto pela reclamada. Nem
mesmo as alegadas condições precárias dos alojamentos ficou
demonstrada nos autos. Isso posto, não há que se falar em limitações da
vida do trabalhador fora do ambiente de trabalho a ensejar o dano moral
pretendido. Não há, assim, o aludido dano existencial.

Assim sendo, não obstante o fato do juiz singular ter considerado procedente
o pedido de indenização, sobretudo com base no princípio da dignidade da pessoa
humana, o referido entendimento sofreu resistência quando enfrentado pela
Segunda Turma do TRT11, ao fundamento principal de que o excesso de trabalho,
por si só, não configura o dano existencial.
De qualquer modo, sem embargos aos entendimentos prolatados pelo juiz
trabalhista e pela Turma em referência, a análise do caso concreto é de grande valia
para absorção do conteúdo supra, de modo que permite a visualização da sua
dinâmica aplicação pelos Tribunais pátrios.
Nessa perspectiva, oportuno e adequado mostra-se trazer à transcrição a
doutrina de A. Gallart Folch (1956, p. 117-118), citado por Evaristo de Moraes Filho,
sobre a tendência do Direito do Trabalho:
O espírito do Direito do Trabalho é amplamente socializador, e o dos ramos
jurídicos clássicos tem um sentido individualista fortemente acusado.
Dogmas fundamentais do direito civil, processual e político foram e
continuam sendo a igualdade perante a lei, a passividade do juiz na
controvérsia judicial dos interêsses privados, a unidade de fôro, a divisão de
poderes, e diante dêstes dogmas aparece uma legislação, a do trabalho,
eminentemente desigual, porque se propõe compensar com uma
superioridade jurídica a inferioridade econômica do operário; ativamente
intervencionista nos litígios de interêsses; criadora de um verdadeiro
privilégio de fôro, e, finalmente, confusionista de poderes, porque às
organizações corporativas, que cria, lhes concede, ao mesmo tempo,
poderes executivos, legislativos e judiciais.

O que se extrai, por fim, é que o instituto do dano existencial já contou com
enorme evolução no cenário local, ao passo que as primeiras decisões neste sentido
já foram proferidas, o que corrobora para a sua consolidação no ordenamento
jurídico trabalhista, sobretudo para o fim de reforçar o aparato protecionista da
existência digna do trabalhador.
55

CONCLUSÃO

Neste trabalho foram abordadas a origem, as diferenças em relação a outros


institutos, os requisitos do dano existencial e sua aplicação no ordenamento jurídico
brasileiro, sem embargos aos entendimentos esposados nos precedentes e na
doutrina afeta ao tema.
A relevância do estudo acerca do dano existencial demonstrou-se por meio do
atual cenário das relações trabalhistas no país que, não obstante o avanço da
doutrina e da jurisprudência trabalhista, ainda é manchado com a supressão dos
direitos trabalhistas por parte dos empregadores.
O que se verifica é que não só aqueles direitos previstos na legislação
trabalhista, mas também as garantias e direitos fundamentais previstos Constituição
Federal são violados corriqueiramente.
Consoante restou apresentado, este cenário de exploração do trabalhador se
agrava com as crescentes taxas de desemprego e a instabilidade econômica,
fatores estes que levam o trabalhador a aceitar a subordinação violadora do
empregador.
A violação à dignidade da pessoa humana, sobretudo do trabalhador, somada
à classificação dos danos imateriais em apenas danos morais, revelou a
insuficiência do instituto da responsabilidade de civil em reparar todos os danos
sofridos pela vítima.
Neste sentido, a caminhada na busca pela efetiva proteção da dignidade da
pessoa humana impulsionou o referido instituto na busca pela reparação integral de
novas espécies de lesões, por meio da doutrina e da jurisprudência trabalhista.
É neste contexto que a teoria do dano existencial no Direito do Trabalho se
revela como nova forma de garantir que o trabalhador possa ser indenizado pelas
violações sofridas, especialmente em relação aquelas que afetam diretamente vida
de relação familiar e social ou impedem o indivíduo de lograr êxito no seus sonhos e
projetos idealizados.
A efetiva tutela jurisdicional faz-se necessária não somente para indenizar a
vítima pelo dano, mas também para restabelecer a vida antes do dano ou ainda para
que o indivíduo possa almejar a consecução de novos objetivos e projetos de vida.
56

No entanto, por ser recente no ordenamento jurídico e não estar previsto na


legislação pátria, a teoria tem levantado dúvidas quanto a possibilidade de
aplicação.
Em que pese alguns autores e magistrados trabalhistas não reconhecerem
esta espécie de dano, o que se pode constatar é que a caracterização do dano
existencial possui um conceito próprio, fazendo com que não se confunda com as
outras espécies de danos, sendo certo de que é possível a sua cumulação com os
demais.
Por outro lado, cabe aos tribunais pátrios, somado aos esforços com a
doutrina especializada no tema, consolidar a teoria do dano existencial, face ao seu
caráter reparador de violações que ultrajam a maneira de viver e a maneira de como
o trabalhador havia planejado para viver.
Há que se ressaltar a necessidade da presença do víeis pedagógico nas
sentenças condenatórias de indenização por dano existencial, conquanto o decreto
judicial exerça sua função de desestimular a prática e a reincidência de danos
lesivos à existência dos trabalhadores por parte dos empregadores.
Do que se pode concluir dos estudos sobre o tema, ao se conceber a teoria
do dano existencial, não se está buscando a compensação de perdas decorrentes
da lesão aos direitos trabalhistas, mas sim indenização das consequências dos
direitos desrespeitados, que implicam na perda ou limitação do projeto de vida e da
vida de relação.
O tema se aproxima cada vez mais da sua consolidação no ordenamento
jurídico brasileiro, ainda que a passos curtos, ao passo que já vem sendo aplicado
por alguns tribunais, a exemplo do que se pode observar dos precedentes
trabalhistas neste estudo explorados, o que demonstra a relevância social e
acadêmica do debate, com vistas à consecução da sua correta aplicação,
atendendo, por conseguinte, aos anseios sociais nas relações de trabalho.
Por fim, em atenção a um dos dos objetivos deste estudo, verifica-se que a
teoria do dano existencial corrobora para o aparato protecionista do direito laboral,
constituindo-se, ainda, como inegável meio de acesso à justiça para aqueles que
buscam a reparação de danos que ura passam e muito a lesividade da sua
subjetividade, atingido, de forma mais grave a ainda, a sua própria existência.
57

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Freire Pimenta, Data de Julgamento: 04/11/2015, 2ª Turma, Data de Publicação:
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28/06/2013).

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Calsing, Data de Julgamento: 15/04/2015, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT
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______. ______. Recurso de Revista 34800-83.2009.5.02.0446 , Relator Ministro:


Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 06/12/2017, 3ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 11/12/2017.

______. ______. Recurso de Revista 10947-69.2014.5.15.0038 , Relator Ministro:


José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 29/11/2017, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 01/12/2017.

______. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Recurso Ordinário 0001133-


16.2011.5.04.0015, 2ª Turma. Desembargador Raul Zoratto Sanvicente - Relator.
Participaram do julgamento: Desembargadora Tânia Rosa Maciel de Oliveira,
Desembargador Alexandre Corrêa da Cruz. Data de Publicação: 18/04/2013.

______. ______. Recurso Ordinário 0002125-29.2010.5.04.0203, 1ª Turma,


Desembargador José Felipe Ledur - Relator. Participaram do julgamento:
Desembargadora Iris Lima de Moraes, Desembargadora Laís Helena Jaeger Nicotti.
Data de Publicação: 20/03/2013.

______. Tribunal Regional do Trabalho da 9º Região. PR-28161-2012-028-09-00-6-


ACO-40650-2013 – 2ª. TURMA - Relatora: Ana Carolina Zaina, Data de Publicação:
DEJT 11/10/2013.

______.______. Processo 01924-2011-113-03-00-2, Relator: Juiz Convocado Paulo


Eduardo Queiroz Gonçalves, Data de Publicação: 11/12/2013.

______.______. PR-28161-2012-028-09-00-6-ACO-40650-2013 – 2ª. TURMA -


Relator: ANA CAROLINA ZAINA - Publicado no DEJT em 11-10-2013.
59

______. Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região. Processo


00000297520145110051, Relator: Raimundo Paulino Cavalcante Filho, 1ª Vara do
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