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Boa Vista-RR
2017
EDUARDO NASCIMENTO DE VASCONCELOS
Boa Vista-RR
2017
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima
CDU – 349.2
Bibliotecária responsável: Layonize Félix Correia da Silva - CRB-11/679-AM
EDUARDO NASCIMENTO DE VASCONCELOS
_____________________________________________________
Prof. MsC. Raimundo Paulino Cavalcante Filho
Orientador/Curso de Direito – UFRR
_____________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Cesar Costa Xavier
Membro/Curso de Direito – UFRR
_____________________________________________________
Prof.ª Msc. Lívia Dutra Barreto
Membro/Curso de Direito – UFRR
Boa Vista-RR
2017
A Deus, aos meus pais, irmãos e
amigos, que aplaudem de pé e da
primeira fila o meu sucesso na
graduação.
AGRADECIMENTOS
De início e essencialmente a Deus, pelo dom da vida, por ter criado todas as
coisas e pelas bênçãos concedidas durante o curso de graduação.
Aos meus pais, Ademir Santos de Vasconcelos e Elenice Nascimento de
Vasconcelos, por serem a minha referência, a base da minha formação educacional
e por não medirem esforços para que eu concluísse essa etapa da minha vida. Serei
eternamente grato por terem me presenteado com o verdadeiro privilégio de estudar.
De nada valeria a graduação se eu não fosse uma pessoa igual à que os meus pais
são e sempre zelaram para que eu fosse.
Aos meus irmãos e demais familiares, a quem, de igual modo, agradeço pela
paciência e contribuição na minha formação.
Aos meus amigos e colegas de curso, que ao longo destes 5 anos de alguma
forma contribuíram para minha graduação. Gratidão especial à Amanda Gabriela de
Araújo Pereira, vulgo môzão, que levarei para a vida, por ser uma das melhores
coisas que me aconteceram nesse curso de graduação, por ter me presenteado com
a sua amizade e parceria durante o curso, e por estar presente nos momentos de
alegria e dificuldade, fazendo com que a jornada se tornasse mais leve do que
deveria ser; à Thalita Ferreira, que há muito me acompanha na formação escolar e a
quem devo grande parcela da minha organização e aprovação neste curso de
graduação; e à Taynara Mendes, pela sua amizade, parceira e contribuição nos
afazeres acadêmicos, e por ter oportunizado e viabilizado o início da minha
experiência prática no mundo jurídico.
Aos meus amigos da vida e para a vida, Gabriel Henrique e Valmir Peccini,
por torcerem pelas minhas conquistas, pela parceria nos momentos de necessidade
e por proporcionarem os episódios de distração e lazer necessários à vida fora do
mundo acadêmico.
Aos professores do colegiado do curso de direito da UFRR, pelo repasse do
conhecimento ímpar que possuem, em especial ao meu orientador, Prof. MsC.
Raimundo Paulino Cavalcante Filho, pela consideração e dedicação de parcela do
seu tempo à minha formação, quer seja nas disciplinas regulares, quer seja
elaboração desta monografia.
Por fim, aos meus parceiros e orientadores de estágio e bolsa no Instituto de
Ciências Jurídicas da UFRR, na Advocacia Geral da União e na Defensoria Pública
da União, ambientes em que tive a satisfação e a oportunidade de absorver
conhecimento prático e trabalhar com profissionais de notável sabedoria, que me
proporcionaram valiosas lições não só para o mundo acadêmico, como também para
a minha formação ética e moral.
“A vida é muito curta para ser
pequena”.
(Benjamin Disraeli)
RESUMO
Art. Artigo
AIRR Agravo de Instrumento em Recurso de Revista
CC Código Civil
CF Constituição Federal
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
Ed. Edição
n. Número
p. Página
§ Parágrafo
RR Recurso de Revista
RO Recurso Ordinário
TRT Tribunal Regional do Trabalho
TST Tribunal Superior do Trabalho
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1. DANO À EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO ................................................................ 14
1.1 CONCEITO ......................................................................................................... 14
1.2 ORIGEM .............................................................................................................. 16
1.3 ELEMENTOS DO DANO EXISTENCIAL ............................................................ 19
1.3.1 Prejuízo ao projeto de vida ........................................................................... 19
1.3.2 Prejuízo à vida de relações ............................................................................ 21
1.4 DISTINÇÕES EM RELAÇÃO A OUTROS INSTITUTOS .................................... 22
1.4.1 Dano existencial e dano moral ......................................................................... 23
1.4.2 Dano existencial e dano à imagem .................................................................. 26
1.4.3 Dano existencial e perda de uma chance......................................................... 27
1.4.4 Dano existencial e dano biológico .................................................................... 29
2. FUNDAMENTOS DO DANO EXISTENCIAL ....................................................... 30
2.1 FUNDAMENTOS JURÍDICOS ............................................................................ 30
2.1.1 Constituição Federal de 1988........................................................................... 30
2.1.2 Princípio da dignidade da pessoa humana .................................................. 31
2.1.3 Direitos da personalidade ................................................................................. 33
2.2 DIREITOS HUMANOS ........................................................................................ 35
3. O DANO EXISTENCIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO ............................... 37
3.1 RECONHECIMENTO DO INSTITUTO NO DIREITO LABORAL ........................ 37
3.2 DANO EXISTENCIAL DECORRENTE DA JORNADA DE TRABALHO.............. 39
3.3 DANO EXISTENCIAL E A SAÚDE DO TRABALHADOR.................................... 42
3.4 EVOLUÇÃO DA JUSRISPRUDÊNCIA TRABALHISTA ...................................... 44
3.4.1 Análise de caso envolvendo dano existencial no cenário local ................ 50
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
11
INTRODUÇÃO
É neste plano que inserção da referida espécie de dano será abordada nesta
pesquisa, que tem como objetivos maiores explanar o tema e contribuir para a
efetiva recepção e aplicação do instituto no direito trabalhista, em especial para
demonstrar se o dano existencial veio ou não para somar com todo o aparato
protecionista e reparador ao trabalhador.
Ademais, como corolário lógico da presente análise, buscar-se-á o
fortalecimento e a reafirmação da necessidade de reparação integral do dano e a
devida proteção à dignidade da pessoa humana.
14
1.1 CONCEITO
doutrinadores. Assim como ocorreu no direito italiano, onde encontra a sua origem, o
cabimento do dano existencial no direito pátrio aos poucos vem sendo aceito pelos
doutrinadores e pelos próprios tribunais, conforme será demonstrado em tópicos
subsequentes.
Portanto, em face do conceito apresentado, verifica-se que o dano existencial
é todo aquele evento lesivo que venha causar dano a qualidade de vida do ofendido,
causando-lhe anomalias não planejadas no seu modo de viver, alterando
negativamente suas relações e seus projetos de vida, de um modo permanente ou
temporário.
Destarte, pode-se afirmar que o fato do dano existencial estar se
consolidando na seara responsabilidade civil justifica-se pela necessidade de ampla
e efetiva tutela da liberdade existencial humana de acordo com os interesses,
objetivos e projetos individuais.
1.2 ORIGEM
1Ressarcimento por fato ilícito - Qualquer fato doloso ou culposo que causa a outro um dano injusto, obriga
aquele que iniciou o fato a ressarcir o dano (tradução livre).
17
culposa, resulta da obrigação de ressarcimento por parte daquele que cometeu fato
doloso ou culposo que causa a outrem um dano injusto.
O dano moral, por sua vez, surgia da conduta dolosa ou culposa do agente
que resultasse em lesão subjetiva ao ofendido, sem repercussão patrimonial,
estando condicionada, no entanto, ao fato da hipótese estar prevista no Código Civil
Italiano ou de uma conduta tipificada no código penal. Isto porque, segundo
estabelece o art. 2.059 do Código Civil Italiano (Danni non patrimonial- Il danno non
patrimoniale deve essere risarcito solo nei casi determinati dalla legge [Cod. Proc.
Civ. 89; Cod. Pen. 185, 598])2, o dano moral passível de indenização apenas se
configura naquelas hipóteses previstas no texto legal, ou quando resultante de uma
conduta punível penalmente, nos termos do artigo 185 do Código Penal Italiano.
Desta forma, em face da limitada divisão e classificação dos danos apenas
patrimonial e extrapatrimonial, sendo este último grupo composto tão somente pelo
dano moral, tornava-se quase impossível a busca no judiciário pela
responsabilização civil do agente nas hipóteses de atos oriundos de atos civis e não
penais.
Assim sendo, viu-se a necessidade de tutela de outras formas de violação aos
direitos imateriais dos indivíduos, a exemplo de lesões que limitavam ou impediam a
pessoa de exercer atividades cotidianas, surgindo assim uma nova categoria de
dano passível de reparação, chamado de danno alla vita di relazion – dano à vida de
relação.
Sobre essa espécie de dano que surgiu no direito italiano, traz-se à colação a
doutrina de Almeida Neto (2012, p.18):
Como foi idealizado, o dano à vida de relação, na sua essência, consiste na
ofensa física ou psíquica a uma pessoa que a impede, total ou
parcialmente, de desfrutar os prazeres propiciados por atividades
recreativas, extra-laborativas as mais variadas, como praticar esportes,
fazer turismo, pescar, freqüentar cinema, teatro ou clubes etc..., interferindo
decisivamente no seu estado de ânimo e, conseqüentemente, no seu
relacionamento social e profissional, diminuindo suas chances de adaptação
ou ascensão no trabalho, trazendo como conseqüência um reflexo
patrimonial negativo.
2 Danos não patrimoniais - II O dano moral só pode ser compensado nos casos determinados pela lei
(tradução livre).
18
Quanto ao projeto de vida, tem-se tudo aquilo que uma pessoa objetivou e
planejou para sua vida. Por isso qualquer fato injusto que venha a impedir
ou interromper a relação deste projeto de vida, deve ser considerado um
dano existencial.
lesão era usado pelo indivíduo à concretização e vivência das suas relações no meio
em que está inserido e vive, agora se traduz em óbice à vivência das duas relações,
abalando as suas estruturas relacionais, interferindo de maneira negativa e
substancial no próprio desenvolvimento pessoal e interpessoal.
Para Almeida Neto (2012, p. 22), no que tange ao prejuízo à vida de relações:
De acordo com o exposto, o cansaço e o desânimo prejudicam o
relacionamento social e profissional, causado pela falta de atividades
recreativas e extralaborativas que proporcionam uma trégua para a vida
agitada do labor profissional. As horas extras, quantidade excessiva de
serviço, curtos períodos para descanso e diversos outros motivos reduzem
as possibilidades de crescimento na carreira profissional, no ganho
financeiro, consequentemente refletindo de forma negativa na vida do
trabalhador. Por esse motivo o labor não pode ser tratado apenas como
uma prestação de serviço danosa que gera uma gratificação salarial ao final
do mês, sem medir esforços, mas o empregado deve ter tempo para o lazer
e descanso, fortalecendo seu ânimo para iniciar a cada dia uma nova
jornada de trabalho.
consagrar como espécie distinta e que veio para somar com o aparato protecionista
à dignidade do ser humano.
Diferentemente do dano existencial, o conceito de dano moral, por ter sido por
muito tempo a única espécie de dano extrapatrimonial existente, encontra-se
consolidado na doutrina e legislação pátrias, sendo seu caráter indenizável previsto,
inclusive, na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, in litteris:
Artigo 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
– é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
[...]
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.359), o dano moral assim pode
ser concebido:
Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu
patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como
a honra, a dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se
infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
De início, salienta-se que, conforme ensina Faccini Neto (2010, online, p. 17),
citando Clóvis Couto e Silva, no que tange ao direito biológico, aplicava-se ao direito
pátrio a distinção germânica feita entre danos pessoais primários e danos pessoais
secundários. Os primeiros seriam referentes a danos que implicassem na morte ou
nos ferimentos em si considerados, enquanto que os segundos seriam aqueles
relativos às consequências resultantes das lesões.
No que tange à escola germânica, ainda na lição de Faccini Neto (2010,
online, pp. 17-18), tem-se como dano biológico aquele que reduz, de alguma forma,
a qualidade de vida do indivíduo, seja pela diminuição das capacidades ou das
potencialidades dessa pessoa.
Corroboram neste sentido as lições de Récio Cappelari (2007, p. 107), para
quem o dano biológico, em sentido estrito, é simplesmente a lesão considerada em
si mesma na pessoa vitimada, como, por exemplo, no caso de uma ferida ou uma
fratura, de modo que este dano, geralmente, será visível.
Com efeito, na doutrina brasileira, o dano biológico é classificado como uma
lesão da integridade psicofísica, em sentido patológico, certificado no plano médico
legal. O ressarcimento no dano biológico, em regra geral, acontece com base na
tutela constitucional do Direito à Saúde (STURZA, Janaína Machado, 2008, p. 102).
Desta forma, nos termos do que fora expendido sobre o dano existencial,
conclui-se que esta espécie de dano não se confunde com o dano biológico,
conquanto naquele primeiro exista a necessidade da presença de um prejuízo ao
projeto de vida ou à vida de relações, enquanto naquele segundo, por sua vez, afete
somente a saúde do indivíduo, não se exigindo, para tanto, que a lesão gere
prejuízo à consecução de metas e projetos futuros e tampouco acarrete em
alteração no modo de viver ou se relacionar do lesionado para sua configuração.
Ademais, não se olvida a possível relação de causa e efeito entre estas
espécies de dano, restando afastada, contudo, a afirmação de que o dano biológico
sempre implicará em dano existencial, conquanto haja a necessidade, repisa-se, de
implicações específicas para a configuração deste.
30
4 ADPF 153, voto do rel. min. Eros Grau, j. 29-4-2010, P, DJE de 6-8-2010.
32
[...]. Ao assinalar, no art. 3º, inciso IV, como um dos objetivos do Estado
brasileiro o de promover o bem de todos, sem preconceitos nem qualquer
forma de discriminação, a Constituição também (embora de forma implícita)
proclama o fundamental valor da dignidade, cujo respeito necessariamente
figura na base de qualquer ato, conduta ou atitude voltada para o alcance
do referido objetivo.
Desta feita, nos termos das lições acima expostas, não restam dúvidas que a
geração de um dano existencial pode lesionar os direitos humanos da vítima, vez
que ao ferir direitos sociais do indivíduo e a sua liberdade de escolha ao longo da
vida e para a vida, ultraja o seu direito a ter uma existência digna, afastando-se e
muito daqueles ideais dispostos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Não há que se olvidar, portanto, que a doutrina se utiliza dos Direitos
Humanos para fundamentar a inserção do instituto no ordenamento jurídico
brasileiro.
37
Guedes (2008, p. 129), por sua vez, também exemplifica o dano existencial
que pode ser causado ao trabalhador:
[…] pode decorrer da dispensa injusta, do rebaixamento de função, da
obrigação de trabalhar em condições desconfortáveis e inseguras, da
preterição na ascenção profissional, e, especialmente, da perda da paz
interior decorrente do assédio sexual ou da vexação e humilhação
insidiosas próprias do mobbing, ainda que de natureza leve.
Por ser um instituto novo e que se encontra no foco de uma parcela dos
doutrinadores trabalhistas, bem como levando em consideração as mais diversas
hipóteses da sua ocorrência, pode-se listar, com base na doutrina de Afonso (2013,
online), as seguintes possibilidades de ocorrência do dano existencial decorrente da
relação de trabalho:
Acidente de trabalho com vítima de lesão física e morte; Não recolhimento
do INSS que frustra a aposentadoria do trabalhador; Meio ambiente de
trabalho insalubre que acarrete lesão; Meio ambiente de trabalho
degradante e sem condições mínimas; Trabalho análogo ao de escravo;
Jornada excessiva habitual e sem permissão de intervalos semanal,
enterjornada e anual e que priva a vida de relação, os direitos sociais;
Assédio moral com traumas psicológicos; Assédio sexual com traumas
psicológicos;
Outras que podem surgir durante o contrato de trabalho, desde que frustre o
projeto de vida e a relação do trabalhador, sob pena de ocorrer o dano moral
simples que visa reparar a dor e ofensa ao espírito da pessoa.
Dessa forma, segundo Boucinhas Filho e Alvarenga (2013, online), no âmbito
das relações de trabalho, verifica-se a existência de dano existencial quando o
empregador impõe um volume excessivo de trabalho ao empregado,
impossibilitando-o de estabelecer a prática de um conjunto de atividades culturais,
sociais, recreativas, esportivas, afetivas, familiares etc., ou de desenvolver seus
projetos de vida nos âmbitos profissional, social e pessoal.
39
Por fim, não é demasiado enfatizar que não apenas a extrapolação do limite
legal de horas extraordinárias aplicadas de forma abusiva pelo trabalhador pode
configurar dano existencial, mas o mesmo também ocorre quando o trabalhador é
reduzido à condição análoga à de escravo, o que é vedado pelo artigo 149 do
Código Penal Brasileiro.
42
Assim sendo, não obstante o fato do juiz singular ter considerado procedente
o pedido de indenização, sobretudo com base no princípio da dignidade da pessoa
humana, o referido entendimento sofreu resistência quando enfrentado pela
Segunda Turma do TRT11, ao fundamento principal de que o excesso de trabalho,
por si só, não configura o dano existencial.
De qualquer modo, sem embargos aos entendimentos prolatados pelo juiz
trabalhista e pela Turma em referência, a análise do caso concreto é de grande valia
para absorção do conteúdo supra, de modo que permite a visualização da sua
dinâmica aplicação pelos Tribunais pátrios.
Nessa perspectiva, oportuno e adequado mostra-se trazer à transcrição a
doutrina de A. Gallart Folch (1956, p. 117-118), citado por Evaristo de Moraes Filho,
sobre a tendência do Direito do Trabalho:
O espírito do Direito do Trabalho é amplamente socializador, e o dos ramos
jurídicos clássicos tem um sentido individualista fortemente acusado.
Dogmas fundamentais do direito civil, processual e político foram e
continuam sendo a igualdade perante a lei, a passividade do juiz na
controvérsia judicial dos interêsses privados, a unidade de fôro, a divisão de
poderes, e diante dêstes dogmas aparece uma legislação, a do trabalho,
eminentemente desigual, porque se propõe compensar com uma
superioridade jurídica a inferioridade econômica do operário; ativamente
intervencionista nos litígios de interêsses; criadora de um verdadeiro
privilégio de fôro, e, finalmente, confusionista de poderes, porque às
organizações corporativas, que cria, lhes concede, ao mesmo tempo,
poderes executivos, legislativos e judiciais.
O que se extrai, por fim, é que o instituto do dano existencial já contou com
enorme evolução no cenário local, ao passo que as primeiras decisões neste sentido
já foram proferidas, o que corrobora para a sua consolidação no ordenamento
jurídico trabalhista, sobretudo para o fim de reforçar o aparato protecionista da
existência digna do trabalhador.
55
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1998.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo:
Ltr, 2012.
GREY, Natália de Campos. Os novos danos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 14, n. 2109, 10 abr. 2009. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/12600>. Acesso em: 5 fev. 2018.
GUEDES, Marcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr,
2008.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
REQUIXA, Renato. O Lazer no Brasil. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1977. ROMITA,
Arion Sayão. Direitos Fundamentais nas Relações de Trabalho. 5ª ed.
Comentada. São Paulo: Ltr, 2012.
SARLET. Ingo Wolgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6 ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2006.
SILVA, Homero Batista Mateus da. Jornadas e pausas. 2 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.
SILVA, José Afonso da. Direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros,
2005.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: Volume único. 4 ed. rev. atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.