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A incrível conexão cérebro-intestino

A comunicação estreita entre eles abre perspectivas para entender o


papel da flora intestinal no surgimento de males que sabotam o foco
e o bom humor

O cérebro tem muitos mais a ver com o intestino do que você


imagina. (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
O coração, o fígado e os rins que nos perdoem, mas não há órgão
mais fascinante que o intestino. A começar pelo seu tamanho
descomunal: se abríssemos e esticássemos seus dois trechos – o
delgado e o grosso -, ele ocuparia uma área de 250 metros
quadrados, o equivalente a uma quadra de tênis. Tudo está enrolado
e compactado dentro do ventre. E olha que isso nem é o aspecto
mais interessante da coisa: o intestino tem neurônios e aloja trilhões
de bactérias, boa parte delas envolvida em processos cruciais ao
organismo. E você pensando que ele era um longo tubo por onde a
comida passa, nutrientes são absorvidos e o que não é aproveitado
vira cocô.
Espera: neurônios lá no abdômen? Sim, falamos das mesmíssimas
células que constituem o cérebro. “O intestino tem cerca de 500
milhões delas”, calcula o gastroenterologista Eduardo Antonio André,
do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo. É menos
que a massa cinzenta, que tem bilhões, mas o suficiente para formar
um sistema nervoso próprio, responsável por coordenar tarefas como
a liberação de substâncias digestivas e os movimentos que
estimulam o bolo fecal a ir embora. “Esses circuitos operam sozinhos,
ou seja, independem do comando cerebral”, destaca André. Dá pra
entender por que apelidaram o intestino de segundo cérebro?
Leia também: Acalme os ânimos intestinais
Os neurônios intestinais chamam a atenção também pela sua farta
produção de serotonina, molécula que nos leva ao estado de bem-
estar – 90% da serotonina descarregada pelo corpo é fabricada ali.
“Esse neurotransmissor é importante porque garante o
funcionamento adequado do órgão”, diz o médico Henrique Ballalai,
da Academia Brasileira de Neurologia. Mas se sabe que ele ainda
pode exercer um efeito sistêmico. O fato é que a serotonina é só um
dos mais de 30 mensageiros químicos montados no ventre.
Essas substâncias são encarregadas de transmitir recados de um
lado para o outro e estabelecer comunicação eficiente entre o
intestino e o cérebro de verdade. “Essa conversa acontece
diretamente por meio do nervo vago, estrutura que passa pelo tórax
e liga o sistema gastrointestinal à cabeça”, descreve o
endocrinologista Filippo Pedrinola, da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia. O nervo vago é uma via de mão dupla:
assim como o abdômen manda mensagens para a massa cinzenta,
o correio inverso também ocorre. “É por isso que, diante de uma
situação de estresse, podemos sentir frio na barriga ou vontade de ir
ao banheiro”, esclarece Pedrinola.
Você não está sozinho
Há um terceiro elemento que interfere nessa conexão: a cada vez
mais estudada flora intestinal. Microbiota, para sermos corretos. O
intestino carrega cerca de 100 trilhões de bactérias, quantidade dez
vezes superior ao número de células do corpo. Esse contingente
representa de 2 a 3 quilos do peso total de um indivíduo. “A
microbiota tem papel decisivo na manutenção da saúde. Ela auxilia
a digerir alimentos e a nos proteger de infecções”, explica a
microbiologista Regina Domingues, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. A princípio, nossa relação com essas bactérias é pacífica
e proveitosa para os dois lados: elas conseguem obter nutrientes
necessários para sobreviver e, em troca, regulam nosso organismo.
Veja também

ALIMENTAÇÃOAlimento para a flora intestinalquery_builder12


maio 2017 - 18h05

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De uns cinco anos pra cá, o interesse por essa metrópole
microscópica só aumenta. Nos Estados Unidos, especialistas de 80
centros de pesquisa lançaram o Projeto Microbioma Humano, que
mapeou todos os bichinhos que chamam nosso organismo de lar. A
partir dessa iniciativa, hoje se começa a entender como a flora
interfere na predisposição a várias doenças e é capaz de influenciar
até o comportamento e as emoções das pessoas. “Nesse sentido, a
microbiota é uma espécie de terceiro cérebro”, brinca o
gastroenterologista Pierre Déchelotte, da Universidade de Rouen, na
França. Brincadeira com um belo fundo de verdade.
Jonatan Sarmento
As bactérias intestinais produzem diversas moléculas que se
intrometem na comunicação entre o sistema nervoso do abdômen e
o lá de cima. De todos os micro-organismos que habitam o aparelho
digestivo e passeiam por ele, a maior parcela é amiga. Há, porém, as
frutas (ou melhor, bactérias) podres. E ai se elas encontram condição
para se multiplicar… “Precisamos que os exemplares benéficos
estejam sempre em maior número, porque, assim, controlam os
nocivos”, resume a farmacêutica Yasumi Ozawa, da Yakult, pioneira
nessas pesquisas.
Os cientistas ainda estão apurando todos os detalhes envolvidos,
mas já conhecem alguns fatores que desequilibram a microbiota.
“Uma alimentação muito rica em gordura, por exemplo, está
associada ao desenvolvimento de bactérias ruins e à morte de
espécimes bons. As manifestações disso são mais gases e distensão
abdominal”, exemplifica o coloproctologista Sidney Klajner, do
Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A desordem ainda é
deflagrada por estresse fora de controle e uso de antibióticos, que,
para matar os vilões, acabam exterminando também os mocinhos.
Leia mais: Estudo aponta que meditar alivia inflamação crônica no
intestino
Se os germes maléficos dominam o pedaço, é encrenca na certa.
“Isso prejudica as paredes e os movimentos do intestino e dispara
inflamações”, acusa o gastroenterologista Ricardo Barbuti, do
Hospital das Clínicas de São Paulo. No dia a dia, o indivíduo tem
dores, diarreia ou constipação. Só que o desarranjo local repercute
na cabeça. Estímulos de confusão na barriga viajam até o cérebro e
contribuem para o humor e a concentração irem por água abaixo.
Sim, ficamos enfezados.
O impacto desses distúrbios na cachola motivou a Federação
Brasileira de Gastroenterologia (FBG) a realizar o primeiro estudo
sobre a saúde intestinal da mulher brasileira – por razões hormonais,
elas estão mais sujeitas a enroscos no abdômen do que os homens.
Dois terços das 3 029 entrevistadas declararam ter inchaço no
ventre, flatulências e prisão de ventre. Quando questionadas de que
maneira os incômodos influenciavam na qualidade de vida, 89%
diziam ter variações de humor e 88% reclamavam de menos
concentração nas tarefas cotidianas. “Esses números nos mostram,
na prática, como os sintomas abdominais chegam a modificar
comportamentos”, resume a imunologista Violeta Niborski, gerente
da Danone, empresa que participou do levantamento.
Cabeça em apuros
Os médicos já sabem que condições como a síndrome do intestino
irritável, marcada por diarreia ou dificuldade de ir ao banheiro sem
razão aparente, propiciam nervosismo e depressão – assim como a
ansiedade e o baixo-astral desequilibram a flora e patrocinam as
crises. Acontece que as interações perigosas não param por aí: a
microbiota parece fazer diferença na probabilidade de
desenvolvermos problemas neurológicos. Ao comparar ratinhos de
laboratório criados para não ter bactérias no intestino com animais
dotados de flora, cientistas irlandeses observaram que os primeiros
desenvolviam características típicas do autismo, como gastar tempo
demais interagindo com um objeto. Entenda melhor: Buscopan
explica causas e sugere tratamentos para a síndrome Patrocinado
Há indícios de que até o Parkinson, doença que provoca tremores,
começaria lá no abdômen. Especialistas da Universidade College
London, na Inglaterra, constataram, após analisar milhares de
pessoas, que a constipação é uma das primeiras manifestações do
distúrbio. “Uma hipótese sugere que a microbiota alterada leve à
destruição de neurônios intestinais e isso progrida até o cérebro”,
conta Ballalai. O mesmo princípio explicaria o Alzheimer, que
consome as memórias. Apesar de curiosos, esses achados são
recentes e carecem de mais provas. “Por ora, a maioria dos estudos
está restrita a animais e não pode ser extrapolada para nossa
realidade”, contextualiza a médica Maria do Carmo Friche, presidente
da FBG.
Mas é possível prevenir, ou até reverter, desequilíbrios na microbiota
intestinal? A resposta é sim. A flora pode ser modulada para que as
bactérias do bem vivam em paz ou voltem a reinar. E isso é obtido,
em parte, via alimentação, quando se investe nos probióticos, lácteos
enriquecidos com micro-organismos benéficos à saúde. Mas fique
atento ao rótulo: nem todo iogurte, por exemplo, é probiótico. Repare
se a embalagem informa isso e qual sua concentração de bactérias,
medida em UFC (unidade formadora de colônia). “O produto precisa
ter de 2 a 10 bilhões de UFC por dose”, avisa Pedrinola. Ah,
probióticos também estão disponíveis hoje em cápsulas e sachês.
Só que não dá pra engolir um monte de bichinhos e se esquecer de
alimentar a flora local. Essa é a função dos prebióticos. “Eles são
ricos em fibras solúveis, que o sistema digestivo não aproveita sem
a cooperação da microbiota”, define o microbiologista Arthur
Ouwehand, da Divisão de Nutrição & Saúde da DuPont, na Finlândia.
Tais componentes, encontrados em vegetais como a cebola e a
aveia, nutrem as bactérias. E elas, por sua vez, agradecem
devolvendo vantagens ao nosso corpo.
Pílulas de bactérias?!
O campo de estudos de intervenções na flora intestinal avançou nos
últimos anos e já se veem boas tentativas de atenuar doenças
mexendo com o nosso padrão de micróbios. Recorrer a bactérias das
classes dos lactobacilos e bifidobactérias já é uma receita para
abrandar a síndrome do intestino irritável, por exemplo. “Talvez, no
futuro, tenhamos cepas de micro-organismos específicas para
prescrever a cada problema de saúde”, especula Barbuti.
O fato é que hoje se discute se isso seria viável e efetivo para ajudar
até a domar transtornos neurológicos ou psiquiátricos. “Em tese,
seria possível introduzir bactérias pensando em ganhos cerebrais e
comportamentais”, informa Regina Domingues. E olha que estudos
iniciais já trazem resultados surpreendentes. Na Universidade da
Califórnia, nos Estados Unidos, 36 mulheres foram divididas em dois
grupos: o primeiro consumiu lácteos com probióticos durante um
mês. O segundo tomou uma bebida sem aditivos. Após esse período,
todas as voluntárias passaram por um teste em que olhavam para
fotografias de indivíduos com feições de raiva ou medo. Enquanto
elas participavam da tarefa, seu cérebro era analisado por um
aparelho de ressonância magnética. O resultado: nas mulheres que
ingeriram os probióticos, as áreas da massa cinzenta responsáveis
por processar as emoções ficavam muito menos ativas, sinal de que
estavam mais calmas e relaxadas. Na vida real, isso implica estar
preparado para lidar melhor com os reveses do cotidiano.
E se lembra dos cientistas que apuravam o elo entre flora e autismo
em ratinhos? Pois essa equipe, baseada na Universidade College
Cork, na Irlanda, fez outra experiência impressionante. Eles
administraram probióticos a camundongos com traços depressivos
por algumas semanas. Depois, botaram os roedores para nadar
numa bacia funda, situação em que corriam o risco de se afogar –
esse é um modelo clássico de laboratório para estudar a apatia em
animais. Em comparação com os bichos que não receberam a dose
de probióticos, os ratos com intestino equilibrado lutavam mais tempo
e com mais força para se salvar. Sinal claro de que não queriam
desistir da vida. Se pudéssemos transpor os resultados para nós,
seres humanos, daria pra dizer que foi observado um autêntico efeito
antidepressivo.
Como se vê, a investigação do eixo intestino-microbiota-cérebro é
fresquinha, mas um tanto promissora. Alguns especialistas já
chegaram a comparar o potencial de intervir ali ao das prestigiadas
células-tronco. E tomara que ele se concretize. Quem sabe a
resposta a vários problemas não esteja realmente bem debaixo do
nosso umbigo?

INTESTINOS E CORAÇÃO: USUFRUTOS DOS DIREITOS PARA A


EXPRESSÃO DOS AFETOS20 DE FEVEREIRO DE 2017 –
POSTADO EM: BLOG –
TAGS: CORAÇÃO, INTESTINOS, LEITURA CORPORAL, SAÚDE
Para a Leitura Corporal, coração e intestinos estão intimamente
relacionados. O coração, que organiza as maneiras como o Indivíduo
lida e expressa seus afetos, estrutura o seu trabalho a partir do
desenvolvimento do direito a ter direitos, mobilizado pelos intestinos.
A realização desse direito passa, em especial, pela vibração do cólon
transverso – a porção mais larga do intestino grosso, responsável
pela ativação do exercício do usufruto. Afinal, para a Leitura Corporal,
só se possui verdadeiramente um direito quando é ativo o desfrute
dos direitos que, desde sempre, já se tem: o direito de querer o que
se quer, de possuir o que se precisa, de elaborar segundo as próprias
noções, de variar as emoções, e de viver e agir segundo o sentimento
do momento.
A afetividade movimentada pelo coração é nutrida pela capacidade
de usufruir de todos esses conteúdos que compõem o interno de
cada um. Quanto mais o Indivíduo se permite ter direitos, mais
facilmente experimenta, desenvolve e enriquece sua afetuosidade.
Quanto mais intensos os limites e as imposições que se coloca, mais
restrita é a vivência de seus afetos, e o corpo pode necessitar de
sintomas cardíacos para restabelecer o fluxo do sentir, do permitir-se
sentir e do expressar.
A Leitura Corporal indica a limpeza intestinal antes de qualquer
procedimento cardiológico. Purificando os intestinos, organiza-se a
base das noções de direito e usufruto, facilitando assim a fluência
dos afetos abrigados pelo coração.
VOCÊ SABE POR QUE O INTESTINO É CHAMADO DE
'SEGUNDO CÉREBRO'?
Intestino abriga milhares de neurônios e, além de metabolizar
nutrientes essenciais para a saúde e excretar o que não serve, tem
atividade endócrina, imunológica e neurológica

Duas em cada três brasileiras sofrem com alterações do intestino

Pode parecer estranho, mas o intestino é considerado na medicina o


segundo cérebro, abrigando o segundo maior sistema nervoso do
corpo, com mais de 100 milhões de neurônios. Cerca de 80% da
serotonina, o hormônio que regula a sensação de bem-estar do
organismo, tem origem nesse órgão. Por essa razão, ele tem relação
direta com o bem-estar emocional e a própria qualidade de vida de
cada um de nós. O intestino tem ainda função neurológica, endócrina
e imunológica.

“Ele é chamado de segundo cérebro, pois tem uma complexa rede


nervosa e neuronal em permanente comunicação com o cérebro.
Recentemente, foi descoberto que o intestino contém células
capazes de identificar o sabor dos alimentos. Existe uma
comunicação constante do intestino com o cérebro e vice-versa. Um
exemplo da influência do cérebro no intestino é que, em situações de
estresse e ansiedade, as pessoas sofrem as alterações intestinais,
aumentando a necessidade de ir várias vezes ao toalete ou
apresentando reações opostas, como a paralisação do seu
funcionamento”, indica a nutricionista Caroline Fernandes,
especialista em saúde da mulher e nutrição gestacional.
Como explica o coloproctologista Fábio Guilherme Campos,
presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e
professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP), o intestino é um órgão fundamental para o funcionamento do
organismo humano, gerando não somente elementos para a saúde,
como também atuando na linha de frente para a manutenção do
equilíbrio de todo o corpo.

“Entre as numerosas funções que desempenha, ele recebe os


nutrientes essenciais à nutrição, metaboliza-os (transforma em
substâncias úteis), produz energia para o funcionamento de todo o
corpo (inclusive o cérebro), participa de funções endócrinas
(hormonais), cuida de nossa proteção (função imunológica) e excreta
aquilo que não precisamos por meio das fezes. As funções são tão
diversas e complexas que é chamado de segundo cérebro, pois
comanda e faz interação com muitos outros órgãos”, esclarece.

E, apesar de as funções digestivas e absortivas serem as mais


conhecidas, o professor acrescenta que o intestino ainda tem outras
funções importantes. “Sem as funções do intestino, não temos a
nutrição necessária para viver. Por meio do que comemos, obtemos
energia, elementos essenciais à função de diversos órgãos (fígado,
rins, cérebro, sistema imune, como o baço) e água. A entrada de
água no organismo se dá apenas pelo que comemos. Água é o
principal constituinte do corpo humano. Dessa forma, o intestino
também ajuda a manter nossa colemia, ou seja, a quantidade de
sangue que circula em nosso corpo. Por isso desidratamos quando
temos diarreia e vômitos”, explica Campos.

‘Conversa’
Mas como se dá na prática essa conversa do cérebro com o
intestino? De acordo com o coloproctologista, o órgão mais
inteligente do sistema digestório/excretor é o intestino delgado, pois
suas funções não dependem do sistema nervoso central (SNC).
Como explica o médico, “o intestino executa suas tarefas sob a
mediação de numerosos estímulos nervosos transmitidos pelo
sistema nervoso entérico (SNE). Essa interação entre SNC e SNE
gera motilidade intestinal (ou a inibe), modula a produção de
secreções intestinais e de uma infinidade dos chamados entero-
hormônios, com ação local e sistêmica. Um exemplo disso é a
serotonina (5-hidroxitriptamina), que é encontrada e produzida por
células intestinais, sanguíneas (plaquetas) e em do SNC. Ao interagir
com nervos que saem e chegam ao intestino, a serotonina age como
um neurotransmissor, transmitindo, de um lado, sensações como
náuseas e desconforto e, de outro, é capaz de gerar motilidade e
secreções intestinais”, explica.

O coloproctologista esclarece também que a serotonina é precursora


da melatonina (hormônio do sono), havendo um predomínio de
serotonina quando estamos em estado de alerta e da melatonina nos
períodos de sono. “Ambas participam de sensações de bem-estar,
otimismo, bom humor e funções de atenção e raciocínio”.

Já no intestino grosso, temos a chamada microbiota intestinal, ou


seja, um grupo numeroso e diversificado de bactérias boas e ruins
que convivem ali. Aproximadamente, 70% das células imunes estão
presentes na mucosa intestinal. “Um intestino saudável, com a
presença de bactérias boas, dificulta a proliferação e crescimento de
micro-organismos oportunistas e patogênicos (os que causam
doenças). Um tema muito discutido atualmente é a importância da
microbiota intestinal – ela é formada geralmente por fatores como
nascimento por parto normal, aleitamento materno e consumo
adequado de dieta equilibrada e saudável”, diz a nutricionista.

Em situação de alimentação saudável, serão fornecidos substratos


para que as ‘bactérias do bem’ se desenvolvam, haverá boa
regulação do sistema imune e boa homeostase, ou seja, tudo em
equilíbrio e funcionando bem. “Mas, ao adotar uma dieta
desequilibrada, ela poderá levar ao desequilíbrio imunológico e à
inflamação, causando distensão abdominal, dor, flatulência,
constipação ou diarreia”, acrescenta Caroline.

PROBIÓTICOS
A especialista ressalta que um estudo realizado com mulheres
saudáveis que ingeriram bebidas contendo probióticos (bactérias
boas que atuam na melhora da função intestinal) mostrou por meio
do exame de ressonância magnética que a oferta desse tipo de
produto, em pouco tempo, pode modificar a reação emocional
perante determinada situação.

“O intestino comporta-se também como um órgão endócrino. As


células intestinais produzem, secretam e ativam peptídeos que agem
no controle do apetite e saciedade e podem trazer benefícios, como
a redução de peso corporal, melhorando o controle glicêmico e a
sensibilidade à insulina.” Na prática, explica a nutricionista, significa
que “a insulina vai agir de maneira mais eficiente no organismo. O
pâncreas vai secretar menos insulina, e isso acarretará melhor
controle da glicose no organismo”.

O médico Fábio Campos acrescenta que todas essas funções


complexas são exercidas por todo o intestino. “Enquanto o delgado
cuida mais das funções abortivas de nutrientes, o intestino grosso
(cólon) tem mais funções excretoras. Mas a parte imunológica é
exercida por todo o intestino. No cólon, a presença de inúmeras
bactérias faz a maior parte da fermentação bacteriana sobre os
carboidratos, gerando energia e substâncias essenciais ao
organismo. É quando a microbiota intestinal se altera que podem
surgir afecções como infecção intestinal e algumas doenças
intestinais (síndrome do cólon irritável, doença de Crohn, retocolite
ulcerativa etc.)”, indica Campos.

O QUE É NORMAL E O QUE É UM ALERTA DO ORGANISMO


O coloproctologista Fábio Guilherme Campos, presidente da
Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e professor da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) alerta
sobre os principais sintomas de que o organismo não vai bem e
situações que são consideradas comuns pelos especialistas:

» ALERTAS
•Mudança brusca ou progressiva do hábito intestinal habitual e a
presença de produtos patológicos nas fezes (muco e sangue);
•Uma diarreia que dure de uma a duas semanas deve ser
investigada. Mas quando essa diarreia for recorrente por mais tempo,
deverá ser cuidadosamente avaliada por um médico, a fim de
detectar alguma doença que justifique o sintoma;

» SITUAÇÕES COMUNS
•O funcionamento intestinal de uma pessoa varia bastante. Pode-se
ter como funcionamento normal um indivíduo que evacua de três a
quatro vezes por dia até um indivíduo que demore de dois a três dias
para evacuar;
•O importante é que, ao evacuar, a pessoa não tenha desconforto
(dores abdominais, dor no reto, sangramento, necessidade de fazer
muita força para evacuar) com essa
alteração intestinal.

» PROBLEMAS GRAVES
•O intestino também adoece. As doenças inflamatórias do intestino
são a doença de Crohn, a retocolite ulcerativa; do megacólon,
chapisco e idiopático; doença diverticular dos cólons, doenças
funcionais, pólipos intestinais etc.
•O câncer do intestino é o câncer colorretal (do intestino grosso). Um
tumor no intestino delgado é considerado raro.
•Frequentemente, a maioria dessas doenças é tratada por
medicamentos, orientações alimentares e até cirurgia. Num
determinado momento da evolução da doença, orientações
alimentares podem se tornar fundamentais para controlar os
sintomas.
•O exame mais frequentemente indicado para avaliar todo o intestino
grosso é a colonoscopia. A colonoscopia não avalia o intestino
delgado. Esse é mais bem avaliado por outro exame, que se chama
enteroscopia, mas sua indicação é bem mais rara.
» SAÚDE INTESTINAL
•Para manter o intestino saudável, é preciso ter uma alimentação
variada, contendo diferentes fontes de nutrientes (carboidratos,
proteínas e gorduras), associada à ingestão frequente de água e
líquidos (1,5 a 2 litros por dia). Muito importante também é a atenção
aos estímulos intestinais, ou seja, responder à vontade de evacuar.
Uma quantidade diária de 25g a 30g de fibras variadas deve ser
adaptada à dieta.
•Evite alimentos industrializados, embutidos e conservas. Esses
alimentos são irritantes da mucosa intestinal.
•Deve-se praticar atividade física regular; respeitar o funcionamento
do intestino, não deixar a vontade de ir ao banheiro “passar” porque
não está em casa e não gosta de usar outros banheiros. Não usar
laxantes indiscriminadamente e sem orientação médica.

Duas de três brasileiras sofrem com alterações


Na prática, quem mais sofre com alterações intestinais são as
mulheres, que relatam intestino preso. Para se ter uma ideia, duas a
cada três brasileiras relatam ter problemas com o órgão. Os mais
comuns são gases (57%), inchaço (56%), sensação de peso (46%)
e prisão de ventre (26%). Mas o que leva a tanta indisposição? As
causas mais comuns incluem má alimentação (77%), sedentarismo
(45%), cansaço e falta de tempo (52%), longos períodos assentadas
(40%) e estresse e aborrecimento (61%). Porém, o problema
intestinal também pode ser invertido, se tornando solto e causando a
diarreia.
Esses dados foram apresentados durante o 2º Congresso Brasileiro
Pre, Pro e Simbióticos, em São Paulo, no fim de 2015. O Estudo SIM
(saúde intestinal da mulher) coletou dados de 3.029 mulheres, em 10
cidades brasileiras de diversas regiões, e foi desenvolvido pela
Federação Brasileira de Gastroenterologia. O objetivo era saber a
quantas andava a saúde do intestino feminino e como a mulher reage
aos problemas relacionados a esse órgão.
A nutricionista Caroline Fernandes salienta que o mapa desenhado
pelo SIM deu um panorama interessante do perfil da saúde das
brasileiras. “Desse estudo surgiu um dado alarmante, pois dois terços
delas relataram problemas intestinais nos 15 dias anteriores ao
questionário. As principais causas apontadas foram má alimentação
(77%), estresse (61% eixo cérebro-intestino, indicando que o
estresse emocional age sobre o intestino, causando diarreia ou
prisão de ventre) e sedentarismo (45%).”
Queixas comuns
As principais queixasm segundo a nutricionista, foram gases,
desconforto abdominal, sensação de peso e intestino preso. Das
mulheres que relataram alteração no tempo de trânsito intestinal,
89% disseram que isso refletia em alterações do humor; 79%, que os
problemas intestinais impactavam a vida sexual e,
consequentemente, a autoestima, pois não conseguiam aproveitar o
momento e ficavam inseguras, com medo de soltar gases durante a
relação sexual.
“A maioria das mulheres relatou que não procurava ajuda médica,
pois não considerava o problema como doença”, comenta a
especialista, ressaltando que isso faz refletir sobre a importância da
saúde intestinal. “Geralmente, as pessoas apontam para o intestino
dizendo que ele é preguiçoso, que não funciona. Mas o intestino está
ligado a todas as funções do corpo. É preciso que as pessoas se
conscientizem da importância de cuidar desse órgão. É necessário
cuidar da alimentação, praticar atividade física e investir na qualidade
dos relacionamentos, diminuindo o estresse e a ansiedade.”

Um órgão maravilhoso
Doutoranda em microbiologia, Giulia Enders lançou em 2014 O
discreto charme do intestino – tudo sobre um órgão maravilhoso, um
livro que conta detalhadamente e de forma bem didática todo o
caminho que os alimentos fazem desde que os colocamos na boca.
Giulia aborda em sua publicação temas como a relação entre o
funcionamento do intestino, depressão e sobrepeso; fala de alergias
e intolerância; como os órgãos transportam os alimentos e o papel
de cada um no processo de digestão dos alimentos; e, por fim, fala
das bactérias presentes no organismo e seu papel na nossa saúde.
Leitura interessante para quem quer compreender como seu corpo
funciona.

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