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IDENTIDADE PESSOAL E DESRESPEITO: VIOLAÇÃO, PRIVAÇÃO DE

DIREITOS E DEGRADAÇÃO
In: HONNETH, A. Luta por Reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais.
1ª Ed. São Paulo: Editora 34, 2003, p. 213-224.

1º PARÁGRAFO
- Manutenção da integridade humana por meio do assentimento/reconhecimento;
- Formas de desrespeito = reconhecimento recusado;
“Conceitos negativos dessa espécie designam um comportamento que não representa
uma injustiça só porque ele estorva os sujeitos em sua liberdade de ação ou lhes inflige
danos, pelo contrário, visa-se àquele aspecto de um comportamento lesivo pelo qual as
pessoas são feridas numa compreensão positiva de si esmas, que elas adquiriram de
maneira intersubjetiva.” (p. 213)
- Entrelaçamento entre individualização e reconhecimento (incolumidade/integridade e
assentimento);
- Construção do me (autoimagem normativa), em Mead, dependente de um “resseguro no
outro” (p. 213)

2º PARÁGRAFO
- Abrangência do conceito de desrespeito > diferenças internas entre as formas de
desrespeito;
“(..) como a experiência de desrespeito está ancorada nas vivências afetivas dos sujeitos
humanos, de modo que possa dar, no plano motivacional, o impulso para a resistência
social e para o conflito, mais precisamente, para uma luta por reconhecimento?” (p. 214)

3º PARÁGRAFO
- Desrespeito à integridade corporal/maus-tratos como a espécie mais elementar de
rebaixamento pessoal;
- Tentativa de apoderação do corpo alheio > destruição mais profunda da autorrelação
prática do indivíduo consigo (tortura/violação) por meio da destituição do
amor/capacidade de coordenação autônoma do próprio corpo;
- Maus-tratos destitui a disposição sobre o corpo desenvolvida na experiência emotiva e,
também a confiança em si mesmo.

4º PARÁGRAFO
- Os maus-tratos não variam com o tempo histórico, mas as outras experiências de
desrespeito, sim;
“(...) o sofrimento da tortura ou da violação será sempre acompanhado, por mais
distintos que possam ser os sistemas de legitimação que procuram justifica-las
socialmente, de um colapso dramático da confiança na fidedignidade do mundo social e,
com isso, na própria autossegurança.” (p. 216)

5º PARÁGRAFO
- Rebaixamento que afeta o autorrespeito moral > exclusão estrutural da “posse de
determinados direitos no interior de uma sociedade” (p. 216);
- Direitos = “pretensões individuais com cuja satisfação uma pessoa pode contar de
maneira legítima, já que ela, como membro de igual valor em uma coletividade, participa
em pé de igualdade de sua ordem institucional.” (p. 216)
- Privação de direitos/exclusão social > limitação da autonomia pessoal + sentimento de
desigualdade no status social (“moralmente igual”);
“(...) a denegação de pretensões jurídicas socialmente vigentes significa ser lesado na
expectativa intersubjetiva de ser reconhecido como sujeito capaz de formar juízo moral.”
(p. 216)
- Privação de direitos > perda do autorrespeito (“capacidade de se referir a si mesmo omo
parceiro em pé de igualdade na interação com todos os próximos”)/imputabilidade moral.
“(...) a experiência da privação de direitos se mede não somente pelo grau de
universalização, mas também pelo alcance material dos direitos institucionalmente
garantidos.” (p. 217)

6º PARÁGRAFO
- Rebaixamento do valor social de indivíduos ou grupos/depreciação/ofensa >
impossibilidade de atribuição de valor social às próprias capacidades;
- Honra social = “autorrealização no horizonte da tradição cultural” (p. 217);
- Perda de autoestima pessoal > “perda da capacidade de se entender a si próprio como u
ser estimado por suas propriedades e capacidades características.” (p. 218)

7º PARÁGRAFO
- Sequelas da tortura/violação = morte psíquica;
- Sequelas da privação de direitos/exclusão = morte social;
- Sequelas da degradação cultural = vexação;
“(...) compete às diversas formas de desrespeito pela integridade psíquica do ser humano
o mesmo papel negativo que as enfermidades orgânicas assumem no contexto da
reprodução de seu corpo: com a experiência do rebaixamento e da humilhação social,
os seres humanos são ameaçados em sua identidade da mesma maneira que o são em sua
vida física com o sofrimento de doenças.” (p. 219)
- Indícios corporais = reações emocionais negativas de vergonha social;
- Garantia de proteção do sofrimento por meio do reconhecimento social;
“(...) as reações negativas que acompanham no plano psíquico a experiência de
desrespeito podem representar de maneira exata a base motivacional afetiva na qual está
ancorada a luta por reconhecimento.” (p. 219/220)

8º PARÁGRAFO
- Nem Hegel nem Mead explicaram como o desrespeito motiva o conflito;
- Sofrimento > elo psíquico > ação ativa;
- Elo psíquico = reações emocionais negativas decorrentes de uma “lacuna psíquica” (p.
220) devido à ausência de reconhecimento;
- Concepção de sentimento humano em Dewey.

9º PARÁGRAFO
- Dewey = excitações emocionais como “formas de expressão de estados anímicos
internos” (p. 220);
- Sentimentos negativos promovem o deslocamento da atenção para as próprias
expectativas, enquanto os positivos definem o encontro de uma solução para questões
práticas;
- Sentimentos = “reações afetivas no contrachoque de sucesso ou do insucesso de nossas
intenções práticas” (p. 221)

10º PARÁGRAFO
“(...) se ações dirigidas por normas ricocheteiam em situações porque são infringidas as
normas pressupostas como válidas, então isso leva a conflitos ‘morais’ no mundo da vida
social” (p. 222)
- Concepção de Dewey > transição dos sentimentos de injustiça para a consciência de
injustiça*

11º PARÁGRAFO
- Vergonha como sentimento moral mais aberto;
“O conteúdo emocional da vergonha consiste, como constatam de comum acordo as
abordagens psicanalíticas e fenomenológicas, em um espécie de rebaixamento do
sentimento do próprio valor; o sujeito, que se envergonha de si mesmo na experiência do
rechaço de sua ação, sabe-se como alguém de valor social menor do que havia suposto
previamente.” (p. 222/223)
- Vergonha na psicanálise > ideais de ego do sujeito afetados;
- A vergonha necessita de um parceiro de interação (reais ou imaginados) > testemunhas
da lesão dos ideais do ego;
- Crise moral na comunicação = desapontamento das expectativas normativas em relação
ao respeito de seu defrontante.

12º PARÁGRAFO
- Vergonha > experiência de desrespeito como “impulso motivacional de uma luta por
reconhecimento” (p. 224)
“(...) a tensão afetiva em que o sofrimento de humilhações força o indivíduo a entrar só
pode ser dissolvida por elena medida em que reencontra a possibilidade de ação ativa;
mas que essa práxis reaberta seja capaz de assumir a forma de uma resistência política
resulta das possibilidades do discernimento moral que de maneira inquebrantável estão
embutidas naqueles sentimentos negativos, na qualidade de conteúdos cognitivos.” (p.
224)
- Revelação da experiência de desrespeito oferece ao sujeito a possibilidade de a “injustiça
infligida ao sujeito se lhe revele em termos cognitivos e se torne o motivo da resistência
política” (p. 224)

13º PARÁGRAFO
“(...) somente quando o meio de articulação de um movimento social está disponível é
que a experiência de desrespeito pode tornar-se uma fonte de motivação para ações de
resistência política” (p. 224)

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