Você está na página 1de 6
FUN AR TE/INAR, 1993. ae «Teves, +) 0 te Jem eM (Ol. Caderho Emmanuel Carnueno Lal Arte Ay lea, Fi Gérard Lebrun A mutagao da obra de arte Trateremos aqui da mutagSo da obra de arte:1i40, poem, da mu- ago corr neste século das formas de are, mas da que se rolere 40 tentido da expressfo “uma obra de are” E uma mutapso concep. tual ~ e talver t¥o profunda que possa estar dando 4 palavra ‘arte’, sem o percebermos, um sentido que jé nfo tenha nada a ver como cortente no século passado. Esta mutagdo, devida a téenieas novas (Wisco, nidio) artes novas, Glotografia, cinema, televisio), ninguem presenta melhor do. que Walter Benjamin, cin seu ensaio sobre obra de arte na épeca de suas téenieas de reprodugdéo. Partindo de uma indicagfo de Paul Va. Jéry, Benjamin procura ver, com base em alguns exemplos, como as {éenicas novas podem chegar a transformar "a propa nogdo da zt te", E todos os exemplos que analisa convergem pasa 0 que ele desi nna como. dectinio da ‘aura' da obra dearte.O que devems entender por isso? Uma frase de Valéry nos eneaminha para esta nogfo: "Re- conhecemas a obra de arte pelo fato de que nethuma ideia que ela suscita em née,nenhum ato que ela nos sugsre pode exgotila ou con. clufla..¢ nfo ha lembranga, pensamento ou a¢S0 que possa anlar. {he 0 efeito ou libertar-nos intiramente do seu poder.” A aura desi. ‘mao fato de que a coisa se dé como enigmitica o bastante para que neniums contempligzo possa esgotar a sua signficagdo. Segundo Benjamin, “podersetia definila como a nica aparigfo Juma realia de longingua, por mais préxima que esteja". Ora, por que o publica de hoje se torna cada vez menos aento a esse inesgotével exeedente de significado e, por iso mesmo, eada vez menos preocupado com 3 singularidade e a autenticldade da obra de rte? Hi um aforimra do Nictziche que anuncia, a0 Jonge, a resposta que Benjamin dards e ta questdo. E o seguinie: “Num monumento grego ou cristo, origi- nalmente tudo tinha sigaificagio, e isso por referencia a uma order superior das cosas: essa atmosfra de significagso inesgotavel envol via 0 monumento como um véu migico. A beleea entrava acessoria- ‘mente no sistema, mias sem prejudiar em sua esséacia o sentimento fondamental de uma sealidade sublime ¢ inquietante, consaprads pe la presengadivinae pola magi: a beleza quando muito emperava 0 horror ~ mas este horror sempre estavaprestuposto, ~ Em que com sist para 6s, agora, a beleza de um monumenta? ~ No que é um belo rosio de mulher sem espitio: numa espécie de mdicato™-0) [Ness linhas, Nietzsche implieitamente dctingue dues cas da ‘obra de are: a da venerario e2 da beleza pura. A er da veneracla fencerrase a0 nascer a esirtica,enquanto cellextofilesatics = ma ands, enquanto ciéneia. Coma hem exprime a fase de Hess "Hoje flames muito longe de venerar, como divings, 2s obiay de ale Subtraida 20 culto de que era exenciaimente iastevinento, 2 obra apenas fica ofetecida 30 ‘prazar puro’ — simples objeto de consume ‘extlcc” (podese mostrar que ima tal figura cultural fnsoparivel do desenvolvimento da ecsnomis de meicada) E essa segunda cet 4a obra de arte = era cujo dectiaio W. Benjamin asinala Na pine 13, 63 sublimidade que piedomina. Na segunda, que alien seu: Jo XVII, € uma elagdo de paver que mde o valor da obta O que W. Benjamin acrscente,e com profundidade, que 0 corte ‘do é, porém, ito nitido.- aura que se concede (ou que se cancel) 4 ebr bela€ justmente o smal de que est ob, po laczada que Seja, nem por iso se vé decacalzada, B 0 que Kan fi descobria 90 definir "0 ginio artistic” come a fculdade das Ween enteay, © que & uma Ida estétiea? “uma representagso ds imapnagto, que ‘44 moio a pensar, som que nenhim —pensamento determinalo, ‘sto ¢, nenhuun concriro, vosa terthe adequado, © que portante ne ‘hina ingua pode completamente exprinir e torn intligtvel (Krink der Ureiiraft,& 9). Enquanto for anima por um dei fsttica, a representagso munca sera dominada conestualmante: € Dortanto impossivel que um eomentiro ou uma expliagse \enics ‘em conta do impacto que a obra produa emt mim. Erna medida fom que « obra bels€ caecterizada por ete desfio de tala compie. ‘ensfo conceptual exaustv:, pode-se perguntar sea teprestnagdor es. {6tica" no substitl 0 ano religoso. Sem divida sera posivel es reve a histiria do Delo, uo seculo XIX, como sendo unt subsltste do sentimento religoso: 9 estetsmo, o culto da penaidade #20 foe ‘nas de religiosidade Contudo, esta sobrevivinca ‘eligisa no bastain pate define ‘obra bela no sentido kanano. Esta, simaltancemente um tom Oe encantaento um tema de simples pazer’~ = nB0€ seguro que cr 535 duns componentes no seam, a longo temo, dvergenies, Ne \eologia da Beleza, observa W. Denjamin,opunianese dos latores ‘Bor um lado, 0 valor que ve consinuavaairibuindo & obrsenquonts objeto ee faseinio, mediayzo do. Absoluto — por outro, sida Je que 2 obra € uma realidave a exibi, + depois gras x0 progesso 1) Nite edie Mam 1p Auman 28, Gabi Par Seni, a divulgor~ ea dyalgar juntos um publico cada vex mais apo, Habermas mostou bem ose vr sare 4 effench het, como os coneeios berior un publi. pganie oF muses a xpoige (cosas que, hoje nos parece Ova) Yoram, no stoilo XVI, conqustas police da barguc.esacbnera vl ‘muito aan d sociologia d rte: dt expito a propria osu de ‘obra dare Nia se pn paso mereado sam comove pntata yrs um mecenas. Nap st oneebe o Cento Beaubourg como se concebla tm castelo de recteapdo do oh. At pala pntura'arquicture “decor? podem permancce, sn se aa as do mesmo tipo de potuess Ora, € evdeie que ests preocwpgio (anias vez de erigem comercial) de ex unigor compat coma consrapae do Halo elioto, com a manutengso da sure. Come, po exemple ov. Jor de autnticidade que se ronde aus obs poco est pot mur to tempo (excetadoo cso dos cleconatore) Be eprodsbes Io toqifies apetegoudas? Porque fas: ura pesegruayio o'Law ovo Rijksmuseum, quando ab edges Sir nospennitem admire ‘quate to bem eanlsar melhor sida» Giconas Out Randa tote fa? ~ Por qe, dite rceatseite vi mains seas ty ‘mapa pels mud e corer o ca de me outa a bolt qian pos ver meioro papa pela TV? Meso leando em conta que ‘oto Paulo I noe uina obra dea, et relleno d to wbe + eda do alr dé auteniciade na era da use da ager. A obra Ido € mais um hie mane que se Jvevatar to seu aaa, expen ‘ena no su sien. O modelo do objeto Unico ofereide num Sco gu ("Ane o que munea ser has ycves") ¢subsuie elo ca prttura mus, gu pose er exesutode por malafintdade de orquestas. © modelo do mons saprada” queer presi vet gelo menos una ye, “em came oo" ne pales ¢subsudo pela a imagem finicaepalhads eal cops, Con neta condos, poder continvarfunconandoo sito da sen edad’ Marcon ‘iso, eesentaW, Benjamin, "oda a fungi da arte esubveida™ A 28, por pnciie, ao mais wa form Ja clare que nosconvoce 2 contemplago eo rocaltumoato ne ¢ snl da sun dopeneesce ‘aa? Ito quer dizer qe nots pcs, ‘maori’ “eit, 25 odes dsr eli ua arte de veri, ompletada por aguas Tacabragoes dees? ‘Un dow grandes merits de Waker Benjamin fo! peveni-nos eo. ‘ra um dagnstico to spresada J por is eae texto tne Presonute de bret “Desde que a obra Ue are se toms mercadora, ess nogso (le otra deste) é nao se lhe pode a ser tplcaa sim sen, Se emo, om pruéncae precagio ~ mas om eco renuncit| ogo de obra de te, cto deajemos pesrvar sv fungio dent da ‘Opts coia como tal dengnada. Tatas de un ate neces de ser atravesida sem dissimula,6es; es virada no ¢ gratuita, ea con- dduz a uma transformagio fundamental da objeto e que apegs seu passado 3 tal ponto que easo 4 nova nogio devareencontat seu uso = ¢ por que nfo? ~ ndo evocard mais quaisquer ds lembrangas vin. culadas sua antiga signiicagao- [Bm sum, a arte, como era compreendida por nosso ancesteis, 6 coisa que nto existe mats. Ista sendo substlvids por outa cuss, ‘que pode continuar com o m-smo nome, mae nfo tern mais nade om omim com ela quanto a0 referent. Esta observagao pode parseet extiemista, Cerronsta'. Pareceld um poucomtenos, sea sproximarmos e outro fexte que, na décads de 1820, profetzava a mortde ere "E fato que a arte no garunte mais esta salifagdo das necesida- es espltusis que outros tempos busearam nea, e que outs pos 8 encontraram nela...Os belie dss dale groga ca dade de Ouro da Dabea Made Média so pasidos. Hoje, a euturareflexiva da nossa vida 6 tl, que sdoas formas averais, ali, os deveres, ox dteitos, 5 mininias que valem como motives ¢tém pieponderincta. A arte ¢ para nds, quinto & destinagzo suprema, cota do pasado. Tuco 0 ‘que cla tinh de autenticamente verdadeira vivo, perdeu para nese, fem vez de affenrar a sua nocesidade no rele ocupar neste 0 get rai alt, agora € apenas depa:ieso em note representagso"®, nie 0 iexto de Brecht o ste de Hegel, pelo menos ume d- ferenga, Enyuanto Brecht admite que uma arte intevamente nova pode suceder Aqulo que o so XIX chainavade-belasarted Hegel ‘fo mostca a mesma amplida> do espiita. Para ele, a “rte uma fermagso 150 bem determingla de una Yee por taias que, s0 pore cer, nada poderé substitu, Nem por um segundo Hege!pensa que «td pressentndo o fim de um cao ciclo temntco da palate "ty Sequer imagina que o temo "bra de arte” poderia Veignat, uo fat Fo, conteddorineiramente distinos. “10 nosso séeulo XX 6 mat relatvist, Hoje se tonne tii re-

Você também pode gostar