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E-book 7

Peptídeos e Estrutura Primária de Proteínas

Peptídeos são cadeias (sequências) de aminoácidos unidos uns aos outros a partir de
uniões denominadas ligações peptídicas. Essas ligações são feitas a partir do
grupamento amino de um aminoácido com o grupamento carboxila de outro. A amina
doa um hidrogênio e a carboxila doa uma hidroxila, liberando água no processo.

Quando dois aminoácidos são unidos, forma-se um dipeptídeo. Perceba que restou
uma extremidade amina em uma ponta, chamada de amino-terminal (ou amino-
término), e uma extremidade carboxila em outra ponta, chamada de carboxi-terminal
(ou carboxi-término). O amino-terminal pode reagir com a carboxila de um outro
aminoácido e vice-versa, formando um tripeptídeo. Não há um limite formal para o
número de aminoácidos que podem ser juntados dessa forma. Alguns peptídeos
podem ser constituídos por milhares de aminoácidos ligados dessa maneira. De uma
forma geral, cadeias de alguns aminoácidos podem ser chamados de oligopeptídeos e
cadeias de muitos aminoácidos podem ser chamados de polipetídeos, sem um ponto
de corte específico de número de aminoácidos. Chama-se proteína o polipeptídeo que
tem uma massa molecular superior a 10.000g/mol, embora esse ponto de corte
raramente seja cobrado. Em média, um aminoácido tem pouco mais de 100g/mol;
logo, a rigor, peptídeos com mais de 100 aminoácidos já podem ser chamados de
proteína. Na prática, majoritariamente lidamos com o termo “proteína”.
“Peptídeo”no geral acaba se referindo a uma sequência curta de aminoácidos ou um
fragmento de uma proteína que foi clivado (quebrado e separado) do restante da
cadeia original. Toda proteína é um peptídeo, mas nem todo peptídeo é grande e
pesado o suficiente para ser considerado uma proteína.

Obs: quando um aminoácido está em uma cadeia, ele ganha o apelido de “resíduo”.
Isso porque ele não é exatamente igual a como se estivesse na forma livre. Por
exemplo, o dipeptídeo da figura anterior é formado por uma alanina e uma glicina.
Perceba que a alanina perdeu um OH que compunha sua carboxila ao formar a ligação
peptídica; a substância que de fato é incluída no peptídeo é muito próxima mas não
idêntica à alanina íntegra e, por isso, passa a receber o nome de “resíduo de alanina”.

À sequência de aminoácidos que compõe um peptídeo e, portanto, uma proteína,


dá-se o nome de estrutura primária dessa proteína.

Não importa quantos aminoácidos sejam adicionados à estrutura primária, sempre


haverá um amino-término (o primeiro aminoácido) e um carboxi-término (o último
aminoácido). No entanto, nem sempre esses terminais estarão livres. Um peptídeo de
100 aminoácidos pode ser cíclico, por exemplo: o amino-término e o carboxi-término
podem fazer uma ligação peptídica entre si e o peptídeo deixar de ser linear para ser
circular. Nesses casos, pra saber quem é o primeiro e quem é o último aminoácido da
cadeia, só conhecendo o gene (a sequência de nucleotídeos) que dá origem a esse
peptídeo.

A importância e a função biológica dos peptídeos e proteínas não apresentam


correlação direta com o número e o tipo de aminoácidos que compõem sua estrutura
primária. Existem hormônios que são tripeptídeos e outros que são polipeptídeos, por
exemplo. No entanto, mudanças na estrutura primária (adicionar, deletar ou trocar um
aminoácido por outro, como ocorre em mutações pontuais dos genes) podem causar
mudanças ou prejuízos enormes à função biológica do peptídeo ou simplesmente não
terem repercussão; depende da região do peptídeo onde ocorre essa mudança e qual
aminoácido é adicionado/deletado/trocado.

Detalhe: alguns aminoácidos fora da lista dos 20 clássicos, apesar de não participarem
da formação de proteínas, podem participar da síntese de pequenos peptídeos. Isso
ocorre porque peptídeos pequenos não apresentam estruturas secundária, terciária e
quaternária tal qual as proteínas apresentam. Nesses casos, esses aminoácidos não são
inseridos na transcrição/tradução dos genes (pois não há codons para eles), e sim por
adição enzimática a uma estrutura peptídica prévia composta pelos aminoácidos
clássicos.
Além disso, os peptídeos e proteínas mantêm as propriedades dos aminoácidos que
os compõem, ou seja, que estabelecem sua estrutura primária. Perceba que no
dipeptídeo alanil-glicina que montamos logo acima, as cadeias laterais R se mantiveram
intactas. Quando há um aminoácido na sequência com uma cadeia lateral R com
propriedades ácido-básicas (glutamato, aspartato, lisina, etc), o peptídeo mantém
essas propriedades ácido-básicas, assim como nos casos em que há muitos
aminoácidos hidrofóbicos juntos (fenilalanina, valina, metionina, etc) os peptídeos
formados mantêm esse caráter hidrofóbico. Cadeias laterais R de aminoácidos
pertencentes a diferentes peptídeos podem interagir entre si.

Vamos exercitar tudo isso um pouco vendo um peptídeo um pouco mais complexo:

Consegue identificar o esqueleto das ligações peptídicas, o amino-término, o carboxi-


término e as cadeias laterais R? Vamos mostrar:

Os quadriláteros roxos mostram pra nós as ligações peptídicas; as linhas roxas mostram
o trajeto através dessas ligações na estrutura que formam o esqueleto do
peptídeo/proteína. O amino-término está demonstrado à direita e o carboxi-término à
esquerda (notação pouco usual, em geral convenciona-se fazer o contrário). Depois
que um peptídeo se forma, suas extremidades e seus grupamentos (as cadeias laterais
R) podem ser modificados, ganhando ou perdendo estruturas de acordo com as
necessidades biológicas pra esse peptídeo. Por exemplo, temos um resíduo de
fenilalanina que ganhou um cloro na sua cadeia lateral R (lembre-se que nenhum dos
20 aminoácidos formadores de proteína contém cloro na sua estrutura original!):
Falando em cadeias laterais R, aqui estão elas:

Perceba que todas as cadeias laterais R estão partindo dos carbonos alfa dos
aminoácidos constituintes (esferas vermelhas), respeitando a estrutura-padrão dos
aminoácidos. O penúltimo aminoácido da direita pra esquerda tem a peculiaridade de
ter sua cadeia lateral R cíclica, como ocorre com a histidina, por exemplo.

Cada cadeia lateral R é livre pra sofrer substituições (receber grupamentos fosfato,
metil) e fazer pontes de hidrogênio ou interações hidrofóbicas com outras cadeias
laterais R de outros peptídeos. Essas modificações e interações serão responsáveis por
organizações mais complexas das proteínas, chamadas de estruturas secundária,
terciária e quaternária.

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