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- FRAGMENTOS DA HISTURIA eC ECTUA, Pie SS 2 AS MUTAGOES DOS PARADIGMAS INTELECTUAIS NA FRANCA (1945-2000): MOVIMENTO DE PROFUNDIDADE E FORCA DE MODISMOS Termo forjado por Thomas Kuhn, historiador das ciéncias, fragilidade impée uma certa prudéncia na sua detecgao, exigindo que sejam levados em considera¢ao, para além dos avancos epistemolégicos, fatores historicos e culturais de um determinado momento. Como apreender as transformagées de paradigmas nas ciéncias humanas? Trata-se de uma verdadeira mudanca de formas de pensar resultante de uma efetiva evolucdo no dominio epistemolégico ou de um simples efeito de moda, de carter passageiro? mente dominantes, como € 0 caso da Franga, teSrica em vigor e suas Mutacdes tendem a Fragmentos da historia intelectual 29 A dificuldade de uma explicacio, no entanto, surge na tentativa de apreensio de certos fenémenos ligados a passagem, as oscilagdes e & mudanga radical de ui paradigny inteléctiiais, faléncta"a& modelos. cilfuras ‘nadionais etc. Com mutagdes € guinadas as_naciona 10 determiniar, ent4o, 0S deslocamentos epistemolégicos disciplinares e transdisciplinares? Estariam eles ligados a0 Zeitgeist, aos habitus intelectuais, aos “ethos filos6ficos”, 0s épistéemés, as “estruturas mentais” ou simplesmente aos avancgos do conhecimento €/ou ao contexto hist6rico de produgao (Dortier 1999)? Escritor e professor em universidades americanas, Thomas Pavel (1990) retoma o debate sobre a histéria intelectual francesa, questionando 0s elementos possiveis de determinar a vigéncia e/ou a faléncia dos paradigmas intelectuais. Pavel 1990, p. 175). Em razo da prépria concep¢4o universalista francesa, profundamente centralizada, essa tendéncia, afirma Pavel, tende a favorecer uma maior essa leitura interna deveria incluir nogdes como: “destino”, “contingéncia”, “asticia da razio”. Suponhamos que as gafes politicas de Sartre manifestem o movimento astucioso da razio j4 que o uso irresponsdvel que ele fez da nogo de liberdade conduziu Foucault a negar completamente essa nogdo, ¢ que a doutrina foucaultiana do Poder generalizado foi, por sua vez, rejeitada pelo pensamento liberal dos anos 80. (Pavel 1990, p. 177) Nesse caso, também se deveria levar a sério a nogio da “ago humana”, cabendo, entio, o questionamento do ator “respons4vel” por essa prépria evolugao. A complexidade que envolve a idéia de paradigma em ciéncias humanas (a unidade intelectual entre essas disciplinas tende a ser um tanto quanto exagerada) impée uma certa relativizagao dos determinismos, no que diz respeito @ presen¢a de periodos bem delimitados e a interacao miltipla entre as disciplinas. Na sua leitura do fenémeno dos Paradigmas intelectuais franceses, Thomas Pavel sugere algumas pistas possiveis de andlise. O efeito de moda parisiense/{® espifito|de|"conquista” heran¢a) 30. Papinus Editora (idem, pp. 171-172). tornar-se, entao, tributaria da hegemonia do paradigma vigente. Essa forma de imposi¢ao de um modelo de pensamento unificado — por exemplo, o cientificismo no momento estruturalista (anos 60/70) — foi denunciada, nas décadas seguintes, como ilustracio de um “terrorismo intelectual”, No entanto, das vogas intelectuais. Sem dtivida, ao “querer descrever as ciéncias humanas a partir de algumas tendéncias — autores marcantes e paradigmas dominantes -, corre-se 0 risco de se produzir uma imagem superficial” (Donier 1999, p. 20). PORanIO; POF 1 do pafadigmad em vigor encontram-se idéias fortes que marcaram sua €poca. Assim, os paradigmas tedricos tendem a se constituir em oposicao ao modelo anterior: estrituralismo contra a filosofia’ G6 sujéito (existencialismo); essa ditima contra 0 idéalismo neoKantianoy/agées intencionais e estratégicas dos __ anés 80 contra determinismos € Fanos 60. ~ Resta saber até que ponto a tao proclamada “desideologizacao do pensamento”, das décadas de 1980 e 1990, coincidindo com o final do dogma marxista e o cientificismo estruturalista, liberalizou efetivamente as praticas culturai A filosofia do sujeito: O paradigma existencialista (1945/1960) Fragmentos da historia intelectual 31

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