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Transitividade e tradução

Tomaz Tadeu

Em geral se tomam a construção ativa e passiva como equivalentes, quer dizer, a


troca de uma pela outra não afeta o conteúdo, o sentido. Não é verdade. Afetam, sim.
Pelo menos, em alguns casos.

Charlotte Bosseaux aborda a questão num capítulo do livro How Does it Feel? Point of
View in Translation (Nova York: Rodopi, 2007). Ela utiliza o caso da tradução de As
ondas, de Virginia Woolf, para o francês.

Um exemplo de Orlando, de Virginia Woolf:

Then a vague but most unpleasant feeling would begin to work in the boy and in

the old woman. They broke their withys; they cut their fingers. A great rage filled them.

Vejamos isso em três traduções:

Jório Dauster:

Uma sensação vaga porém bastante desagradável dominava o menino e a velha. O vime
se partia, o dedo sofria um corte. Eram tomados por uma grande raiva.

Dóris Goettem:

Nesse momento, um sentimento vago, mas muito desagradável, começava a agir sobre o
menino e a velha. Quebravam a vara de vime; cortavam o dedo. Uma grande raiva os
dominava.

Tomaz Tadeu:

Então, uma sensação vaga, mas das mais desagradáveis, começava a se desenvolver no
menino e na velha. Quebravam o vime do cesto; cortavam o dedo. Eram assaltados por
uma enorme raiva.
A construção ativa da segunda frase é transformada em passiva na primeira tradução. É
evidente pela frase que a antecede e pela que a segue que se trata de uma alteração na
atitude do menino e da velha, uma alteração que os faz quebrar o vime e cortar o dedo.
Ao converter o ativo em passivo, a primeira tradução apaga a participação ativa dos dois
no evento.

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