ENTRE DOIS
MUNDOS
TENTATIVA DUMA SÍNTESE ENTRE O UNO E O VERSO DO
UNIVERSO HOMINAL
UNIVERSALISMO
ADVERTÊNCIA
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se
aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa
mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Do uso ou abuso da sua liberdade tece o homem, dia a dia, a sua felicidade, ou
a sua infelicidade.
Entre dois mundos, o mundo da luz e o mundo das trevas, oscila a vida
humana. Compete ao humano viajor decidir-se livremente por este ou por
aquele mundo. Desta decisão depende o seu valor ou o seu desvalor, a sua
felicidade ou a sua infelicidade.
QUAL A VERDADEIRA MENSAGEM
DO CRISTO À HUMANIDADE
– ritual,
– nem moral,
– nem intelectual,
– nem social.
– metafísica,
– ontológica,
– real,
– cósmica.
Todas estas versões podem, até certo ponto, ser aceitas como fenômenos
concomitantes e subsequentes – mas nenhuma delas representa o centro e
cerne da autêntica mensagem do Nazareno.
“Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril – mas, se morrer, produzirá muito
fruto” (Jesus, o Cristo).
“Eu morro todos os dias, e é por isso que eu vivo – mas não sou eu que vivo, é
o Cristo que vive em mim” (Paulo de Tarso).
Qualquer palavra sobre isto é supérflua; basta saber que surgiu uma força
silenciosa, inesgotável, capaz de tudo.
Uma vez que alguém morreu deste modo, é ele imortal, incapaz de morrer.
Esse homem está sempre disposto a tudo, sempre pronto para carregar fardos
pesados. Permanente serenidade em face das coisas mais difíceis substituiu a
sua vacilante atitude de outrora.
Daqui por diante, todas as coisas externas se referem apenas ao modo como
fazê-las – e isto não tem importância. O agradável e o desagradável desse
“como”, nas variadas circunstâncias, foi superado.
O homem que atingiu estas alturas está para além de propriedade e de sexo.
Morrer? – pergunta alguém que passou por esta experiência – morrer não
posso mais; já superei o ser-mortal, assim como superei o ser-criança e o ser-
adolescente.
E, na medida que todas as coisas pesadas perdem o seu peso, vai nascendo a
intuitiva e espontânea compreensão das circunstâncias.
(cf. H. Zimmermann)
LIBERTAÇÃO PELA SAPIÊNCIA UNIVÉRSICA
UNI – VERSO...
O mal não está nas diversidades, como pensam alguns místicos; o mal está na
visão parcial, incompleta, unilateral da realidade, que o profano identifica com
essas diversidades dos sentidos e do intelecto.
Esse treino unitário não é uma meta, mas é um método; não é um fim, mas
um meio.
Muitos orientais, vêem no mundo material uma simples ilusão, maya,
irrealidade – e por isto não podem entusiasmar-se por ele – ninguém pode
interessar-se por um fantasma. Para eles, a única Realidade está no mundo
espiritual; não está aqui e agora; está no futuro e na distância. E como
realidade e valor são homônimos, segue-se que o mundo presente das
materialidades não tem para os espiritualistas valor algum. É por isto que os
além-nistas nunca compreenderam os aquém-nistas, nem estes aqueles.
Mas não é esta a visão da Filosofia Cósmica, precisamente por ser uma visão
harmoniosa do Universo Integral, que não é Uno nem Verso, mas Universo.
Mas é precisamente aqui que está o tremendo problema para quase todos os
homens do ocidente, que, em geral, têm 100% de consciência física e 0% de
consciência metafísica. Esse peso morto remonta a milhares de anos na raça
humana, e tem alguns decênios em cada indivíduo. Neutralizar esse peso
morto é um problema de árdua solução.
No seu livro “Theorie und Therapie der Neurosen” (Verlag Urban und
Schwarzenberg, Wien – Innsbruck, 1956), refere-se ele a numerosos casos,
ocorridos no consultório e na clínica, que se baseavam em frustração
existencial, e só puderam ser definitivamente sanados com logoterapia.
“Meu marido saiu no seu carro, como faz todas as noites. Eu, a bem dizer,
tenho pena dele; ele precisa dessa farra. Agora, que o serviço dele é mais leve
e ele está livre às 5 horas, o desassossego o impele para fora de casa. Temos
um belo apartamento com rádio; mas não temos nada a nos comunicar um ao
outro. E agora, que tudo acabou em rotina velha, estou diante de um vácuo.
Livros não interessam o meu marido, a não ser romances criminais e
aventureiros; mas essas coisas a gente vê melhor no cinema, o que nos
dispensa da leitura; e durante o programa de rádio a gente dorme.
Victor Frankl não menciona, com uma única palavra, que a situação
matrimonial tenha mudado; parece que não; nem explica o que D. Marion fez,
nessas poucas semanas, em que tão radical mudança se deu com ela, como a
sua segunda carta revela. O que é certo é que ela passou dum estado de
Frustração Existencial para uma grandiosa Realização Existencial. E à luz
dessa Realização do seu Eu central as frustrações do seu ego periférico, de
mulher e esposa, se tornaram suportáveis, embora a situação externa
continuasse a persistir objetivamente, como antes.
***
O outro livrinho tem o nome grego Evangelion, que significa “boa nova”; nele
aparecem as palavras e atividades de Jesus de Nazaré, cognominado o Cristo,
e remonta a quase 2.000 anos.
***
Por quê?
O homem oriental, com uma cultura quase três vezes mais antiga que a nossa,
já entrou na fase da reflexão, da raflexividade, da introspectividade – ao passo
que seu irmão ocidental é, em geral, extroverso, esgotando-se em atividades
externas.
***
Ora, se é verdade que todo o agir externo nasce do ego, então é claro que o
homem se onera de débitos ou culpas na razão direta da sua atividade. Deixar
de agir sustaria o incremento de novos débitos e novas culpabilidades.
E não afirmam os próprios livros sacros do Cristianismo que “o mundo jaz no
maligno”? e não diz o Cristo a seus discípulos: “O príncipe deste mundo (o ego)
tem poder sobre vós”?...
***
O homem-ego age sempre por causa de algum objeto, por causa de algo fora
dele, por amor a um não-Eu, de algo separado ou separável da sua intrínseca
realidade. O ego, sendo ilusão, sempre age por amor a uma ilusão. O mundo
objetivo, feito de quantidades, projetado dentro de tempo e espaço, é maya,
ilusão, reflexo, cópia, projeção, mas não é a Realidade em si. Ora, agir por
amor a uma irrealidade, uma ilusão, é mau, filho da ignorância.
O homem, para agir retamente, deve retificar a meta e o motivo da sua
atividade; deve agir por causa e por amor à Realidade, embora os canais da
sua atuação sejam facticidades ilusórias. A Fonte do nosso agir deve ser a
Verdade, que é a consciência da Realidade, embora a manifestação dessa
Realidade possa fluir através de facticidades.
Os objetos do ego podem ser meios – mas somente o sujeito Eu pode ser o
fim da nossa atividade.
O ego age por causa de alguma quantidade, de algum allos (outro), que ele
deseja alcançar com a sua atividade – e isto é ilusão, egoísmo, idolatria. Quem
age por amor ou adoração a qualquer objeto ama e adora um falso deus, um
pseudo-deus, é idólatra – e isto é mau.
O homem que age por amor a uma coisa se coisifica, quantifica a sua
qualidade, desvaloriza o seu valor; ele se esquece do seu alguém e se
degrada a algo; nega o seu Eu real e afirma o seu ego irreal.
“Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: Somos servos inúteis;
cumprimos a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos por isto”
(Cristo).
A ESSÊNCIA DO RETO-AGIR (NAISKARMAN)
O problema do reto-agir (ou naiskarman) não tem por ponto de partida nem
norma de referência este ou aquele preceito moral, mas baseia-se no caráter
fundamental, metafísico, ontológico do próprio agir em si mesmo.
Esta tendência objetiva e utilitarista, esta mania de sucesso externo, atua como
um vampiro que suga as melhores forças do coração da atividade do homem.
É precisamente neste vampirismo utilitarista que se baseia a mais profunda
tragicidade de todo o homem profano.
É esta uma experiência que cada um de nós pode sempre de novo fazer em si
mesmo: nada há que tanto disperse as nossas forças vivas e redentoras como
essa mania de sucesso e utilidade – ou então a amargura em face do
insucesso e fracasso externo. Enquanto especularmos com sucessos ou
recearmos insucessos, enquanto procurarmos qualquer espécie de resultado
objetivo, reconhecimento ou aplausos, visamos a algo fora do centro e cerne
da nossa verdadeira atividade, e nunca conseguiremos focalizar num único
ponto a força total da nossa obra; não conseguiremos mergulhar sem reserva
no coração vital da nossa atividade redentora. Temos de ser como crianças
que se entregam de corpo e alma ao seu agir, sem desvios e segundas
intenções.
O homem profano age exclusivamente por amor aos objetos, aos possíveis
frutos do seu trabalho – e por isto se onera cada vez mais de culpas, que
geram sempre novos sofrimentos.
A vida do homem é uma palhaçada – uma humana comédia – que não deve
tornar-se uma divina comédia.
A única coisa que o homem sensato pode fazer é descer do palco dos atores e
sentar-se na plateia dos espectadores da grande palhaçada da vida; olhar de
longe a comédia, sem tomar parte de perto. Ou então, se tal for a sua missão,
subir ao palco, unir-se aos palhaços e dirigir a comédia, mas sem acompanhar
internamente as palhaçadas; assim faz o homem contemplativo, místico,
cósmico, que atua pelo que é, e não pelo que faz. Deve manter sempre a
consciência nítida “tudo isto é uma palhaçada, por enquanto inevitável”. Não
tomar a sério nenhuma das palhaçadas da vida, que os verdadeiros palhaços
tomam muito a sério. Deve sempre manter uma consciência interna de não-
palhaço, manter uma linha reta através de todos os ziguezagues dessa dança
macabra, manter a consciência do EU REAL para além das conveniências do
ego ilusório. Deve olhar de cima, das alturas da Verdade, todas as baixadas
das ilusões terrenas.
O nosso ego humano trabalha, corre, luta, cansa-se, ri, e chora, perde o sono e
o sossego, arranja enfartos e arteriosclerose, câncer, úlcera de estômago,
briga com marido e mulher e filhos, corre 50, 80 anos atrás do dinheiro, compra
o último tipo de automóvel, ou até 2 ou 3 – e depois vai para o sanatório, para o
hospício ou acaba no hospital e no cemitério – tudo isto a serviço das suas
importantíssimas palhaçadas...
Faça tudo isto, se o achar necessário, de acordo com a sua ignorância; seja
palhaço, se quiser – mas nunca se identifique realmente com esse palhaço-
ego; para além dos bastidores da vida mantenha sempre firme a consciência
tranquila “Eu não sou ele”, “Eu sou o meu Eu divino”, “Eu e o Pai somos um”,
“Eu sou a luz do mundo”, “O reino de Deus está dentro de mim”.
Homem, conserva sempre a consciência da tua divina ALTERIDADE – e não
sucumbas à ilusão da tua humana IDENTIDADE. Não te niveles jamais com o
conteúdo da tua carteira de identidade pessoal. O teu verdadeiro Eu não tem
carteira de identidade, registrada e carimbada em alguma repartição pública –
o teu divino Eu vive na ignota alteridade do Infinito.
– Isto mesmo.
– Esse Papai Noel ou Santa Claus deve ter sido um grande benfeitor dos
habitantes do planeta Terra, para ter tantos adoradores. Você sabe algo da
vida dele?
– Nada! Nunca cheguei a saber quando viveu nem o que fez, para ser tão
lembrado.
– Mas o que fez por eles esta Cesta de Natal? – perguntaram os dois a uma
voz.
– O que fez, não sei. Sei que os Telúricos são uns grandes comilões e
beberrões, e quase todos eles só vivem comendo e bebendo, e a Cesta de
Natal está cheia de coisas boas. Vivem comendo e bebendo – e depois
morrem – acabou-se.
Enquanto os três assim conversavam entre si, estava eu, o Telúrico, escondido
atrás de um rochedo, sem ser percebido por eles. De repente, saí do meu
esconderijo e exclamei: Nada disto! Os Telúricos não comemoram nada disto
na noite de Natal.
Fiz-lhe ver que podia captar mensagens espirituais sem intermédio de seres
terrestres e mesmo sem um aparelho de rádio. Bastava sintonizar devidamente
a sua alma pela onda exata, e captaria a mensagem desejada. O Venusiano
mergulhou num profundo silêncio, e, mesmo sem dizer nada, percebi, ou
adivinhei que ele já tinha alguma experiência dessa sintonização cósmica e
sabia de coisas que não se podem dizer nem pensar.
O Venusiano não disse nada, mas mandou-me uma mensagem silenciosa com
os olhos que lembravam a luminosidade da estrela.
NINGUÉM SERVE IMPUNEMENTE
“O dominador deste mundo, que é o poder das trevas, tem poder sobre vós –
sobre mim, porém, ele não tem poder, porque eu já venci este mundo” (Jesus,
o Cristo).
Amigo, que ainda vives sob o regime do dominador deste mundo do ego!
É um subversivo.
Pode ser que para o ego beneficiado o benefício seja um malefício por culpa
dele mesmo, mas para o benfeitor que se considera “servo inútil”, o serviço que
prestou é sempre benéfico e redentor.
Nem todo o recebedor recebe com amor o que com amor lhe é dado – mas tu,
o doador do amor, podes sempre dar com amor o que dás.
Mas, para poderes servir com amor e não te sentires ofendido pelo desamor do
recebedor, deve o teu “servir” ser um transbordamento espontâneo do teu
“adorar”.
Ador - ação.
No seu livro “As duas fontes da religião e da moral”, Bergson entende por
religião a “religião dinâmica”, ou mística, ao passo que atribui a moral à
“religião estática”. Esta, de caráter meramente objetivo, tem por fim estabelecer
e manter certa harmonia social no meio dos homens, isto é, um armistício
precário e temporário entre ego e ego, no plano horizontal. A “religião estática”
não pode jamais crear uma paz verdadeira e duradoura, porque não atinge a
raiz da natureza humana, que é o Eu real, e não o ego ilusório. Somente a
“religião dinâmica”, ou mística, atinge a última raiz do ser humano, pela
experiência da sua essencial identidade com o Infinito (Eu e o Pai somos um, o
Pai está em mim”... “O Cristo vive em mim”).
No plano da moral se trata dum ato de boa vontade, de uma virtude, que é
coisa incerta e precária. No plano da ética se trata duma atitude de sabedoria
ou compreensão, que se baseia na divindade do Eu verdadeiro.
Duas ondas do mar são diferentes como ondas, mas são idênticas como água
do mar.
A luz vermelha irradiada pelo prisma é diferente da luz verde, mas as duas
luzes coloridas são iguais do outro lado do prisma, onde dó existe luz incolor.
E por isto pode a onda A amar a onda B, e a luz vermelha pode amar a luz
verde, porque há uma base comum. Amor supõe diversidade na unidade. O
amor é univérsico. Quando há somente diversidade não pode haver amor;
quando há somente unidade não pode haver amor. Amor é a percepção da
diversidade existencial como manifestação da unidade essencial.
Sendo que quase todos os nossos programas educativos giram no plano da
egoidade personal, que é meramente externa, é inevitável que essa educação
seja ineficiente, incapaz de estabelecer paz e harmonia duradouras. Toda a
educação periférica – que é, aliás, mera instrução ou “inducação” – não passa
de camuflagem e charlatanismo, interessada em remover sintomas de periferia,
mas não em erradicar a raiz do mal.
Para curar a raiz do mal não basta boa vontade, que é do ego, mas requer-se
sabedoria, compreensão da realidade do Eu humano.
Ego mais ego dá ego, egos de boa vontade; não dá Eu, que é sabedoria. O
ego e o Eu estão em dimensões diferentes.
Bergson tem sido atacado pelos adeptos da religião estática, por não admitir
uma religião objetiva, histórica, revelada, que possa ser devidamente analisada
e organizada. O filósofo responde que toda a religião externa, objetiva, quando
verdadeira e eficiente, tem a sua raiz na religião interna, subjetiva, isto é, na
experiência mística da religião dinâmica. Não existe nem jamais poderá existir
uma mística social, coletiva; a experiência mística é essencialmente individual,
em sua raiz; os efeitos dessa experiência individual podem, sim, ser sociais,
revelando-se em forma de ética, de harmonia social, de fraternidade coletiva.
Nem adianta usar fogo pintado para substituir o fogo real. Fogo pintado, por
mais perfeito que seja, não dá calor nem luz.
***
O homem-Eu sente-se como uma realidade triunfante, e não mais como uma
facticidade escravizada. A sua qualidade de hoje derrotou as quantidades de
ontem e de anteontem.
Eu (ego) morro todos os dias – e é por isto que eu vivo, mas já não é o meu
ego que vive, é o meu Cristo (Eu) que vive em mim, eu sou vivido pelo Eu
crístico.
***
O ego será sempre egoísta, mesmo ego de boa vontade, que se chama
altruísta. Altruísmo não resolve, porque o ego altruísta não abandonou o plano
do ego – e neste plano não há solução real. A questão não é passar dum ego
de má vontade para um ego de boa vontade. A solução está em ultrapassar
totalmente o plano do ego, tanto mau como bom, e entrar na nova dimensão do
Eu sapiente.
Objetam que o ego altruísta, de boa vontade, é, pelo menos, um prelúdio e
trampolim para o Eu sapiente. Pode ser que isto aconteça, mas em raríssimos
casos. Por via de regra, o ego altruísta não é um preliminar para as alturas do
Eu sapiente, mas sim uma substituição, como prova a história do fariseu no
templo, que foi para casa não ajustado. Apesar de todo o seu altruísmo e
toda a sua virtuosidade, estava desajustado.
Não adianta por remendo novo em roupa velha, é necessário jogar fora a
roupa velha, despojar-se do homem velho (ego) e revestir-se do homem novo
(Eu) e fazer de si uma nova creatura em Cristo, não um ego remendado,
mas um Eu remido.
Não!
Não!
Será que eu sou mais poderoso que Deus, para melhorar o mundo?
Uma coisa, porém, posso fazer que nem Deus nem o Cristo podem fazer por
mim ou em meu lugar: posso fazer-me bom. Ninguém, exceto eu, me pode
fazer bom. Ninguém pode ser bom em meu lugar.
Estou aqui na terra para fazer de mim o que Deus não me fez.
Estou aqui para me fazer o que ninguém pode fazer por mim – estou aqui para
me fazer bom.
Ser bom é estar intimamente convencido de que “o reino de Deus está dentro
de mim; é um tesouro oculto, de que eu devo fazer um tesouro manifesto”.
Ser bom é saber que eu sou a luz do mundo, mas que não devo deixar a minha
luz debaixo do alqueire, e sim colocar no alto do candelabro.
Ser bom é conscientizar que minha alma é uma pérola preciosa, que devo
trazer à tona do oceano da minha vida.
Ser bom é amar o Senhor meu Deus com toda a minha alma, com toda a
minha mente, com todo o meu coração e com todas as minhas forças, porque
este é o primeiro e o maior de todos os mandamentos.
Ser bom é fazer externamente no meu AGIR o que sou internamente no meu
SER.
Estou aqui na terra para conhecer o Deus do meu SER e realizá-lo no meu
agir.
E, quando eu me tiver realizado assim no meu externo AGIR como sou no meu
interno SER; quando a minha ética for o transbordamento fiel da minha mística
– então terei feito à humanidade o maior bem que lhe posso fazer – e então
terei feito o mundo muito melhor do que Deus o fez.
Mas, se eu não me fizer assim como posso e devo fazer-me, a minha vida
terrestre será uma falência, e sobre a minha lousa sepulcral se deve gravar
este tristíssimo epitáfio:
Aqui jazem os restos mortais de um homem que viveu 30, 50, 80 anos – sem
saber porquê...
O MISTÉRIO DO LIVRE-ARBÍTRIO
Determinismo é causalidade.
Em vista disto, escreveu Spinoza, séculos atrás, que há no Universo uma única
substância que se manifesta em muitas circunstâncias, o único UNO que se
revela através de muitos VERSO – UNI-VERSO. Ou, na linguagem desse
grande monista cósmico, “Deus é alma do Universo, e o Universo é o corpo de
Deus”. Alma corresponde a causa, uno – corpo significa efeito, verso. O
Universo é um sistema de causa una que atua através de efeitos múltiplos,
Essência Infinita manifestada em Existências Finitas.
Liberdade, em sentido absoluto, total, perfeito, é essa Causa Una e Única.
Quando um ser finito se torna consciente da presença dessa Causa Una
então este ser participa da liberdade do Ser Absoluto, e se torna livre por
participação, na medida da sua consciência ou conscientização.
Podemos, pois, afirmar que tanto mais livre é um ser finito quanto mais
consciente for da presença do Ser Infinito nele. A participação na liberdade do
Ser Infinito por parte de um ser finito está na razão direta da consciência que
esse ser finito tem da presença do Ser Infinito.
Ora, sendo que a Realidade cósmica é perfeita vida e saúde, a minha vida e
saúde dependem do grau de harmonização consciente com a vida e saúde do
Universo.
Isto é cosmoterapia.
Essas imagens parecem apontar para algo além do homem, algo Trans, ou
Transcendente – assim como a seta à beira da estrada aponta para alguma
cidade distante, mas essa cidade não está presente na seta. O viajor olha para
a seta, fixa a direção da ponta da flecha, que vai, digamos, rumo norte – isto é
“científico” – mas, se o viajante admite a realidade de uma cidade do norte,
cidade que ele não vê, isto não é considerado “científico”, porque o viajante,
em nosso caso, o psicólogo, só pode “cientificamente” admitir o que vê, ouve,
tange, etc. E, como a cidade longínqua não é objeto de visão, audição, tato,
etc., ela não pode ser admitida “cientificamente”. Na cidade ausente só pode o
viajante crer, mas não a pode ver, e só esse ver é que é cientificamente
admissível.
Graças a esta atitude, como frisa J. W. Hauer, no seu livro monumental “Der
Yoga”, Jung para no conceito da psicoterapia, mas não vai até à logoterapia,
como Victor Frankl. Mas, como a psicoterapia é apenas uma terapia de
sintomas, e não da raiz, esse processo não contém verdadeira terapia.
Imanente não cura imanente. Uma turbina ao nível dum lago não pode ser
movida pelas águas do lago, por maior que seja o volume destas águas. Falta
voltagem; amperagem não resolve. Somente o desnível, uma cachoeira, por
exemplo é que dá movimento.
A ciência é da inteligência.
A crença é da vontade.
A sapiência é da razão.
***
Por outro lado, quem pode curar nunca é o VERSO, mas tão-somente o UNO.
Para que o ego doente sinta um impacto dinâmico da parte do Eu, deve haver
distância (não local, mas consciente) entre o curando e o curador.
Verdade é que o intelecto analítico do homem não pode falar em nome de uma
Alteridade Transcendente – pois todo ele é Identidade Imanente – não pode
agir em virtude de algo maior do que ele mesmo. Mas há no homem ultra-
intelectual algo que não analisa, mas “fareja” o Transcendente. O homem que
não tenha despertado em si esse “faro cósmico” não pode admitir
cosmoterapia; vê a seta à beira da estrada, mas não admite a realidade da
cidade apontada pela seta. Esse homem permanece no plano penúltimo da
psicoterapia, e nada sabe do estágio último da logoterapia ou da
cosmoterapia.
Fale-nos do sexo.
Foi este o pedido que um grupo de moças modernas fez a uma das minhas
alunas do curso de Filosofia Cósmica, no Rio de Janeiro. E ela me consultou
sobre se devia aceitar o pedido e o que devia dizer às interessadas.
Respondi à minha aluna, mais ou menos, o mesmo que vou expor nas linhas
seguintes.
Mas, como se pode falar com eficiência sobre um dos derivados do ego sem
ter uma noção correta desse próprio ego em si? E, além disto, como falar de
um dos componentes da natureza humana sem ter noção exata do próprio
composto dessa natureza?
O homem que afirma unilateralmente o seu Eu à custa do seu ego, cai vítima
de monotonia e estagnação.
O homem que afirma unilateralmente o seu ego à custa do seu Eu, cai vítima
de caos e dispersividade.
E por que está isto acontecendo agora, no ocaso do segundo milênio da era
cristã?
Até ao fim da Idade Média, século 15, quase só se havia tratado dos interesses
do Eu espiritual do homem, da sua alma. “Salve a tua alma”, era o brado
universal; salva o teu Eu espiritual, depois da morte, em regiões distantes e
ignotas do cosmos; a vida presente não valia nada; era sofrimento e miséria,
que deviam ser tolerados, com paciência, contanto que a alma se salvasse,
depois da morte e em outros mundos.
E essa alternativa entre gozo e nojo se acentua cada vez mais: quanto mais o
homem goza tanto mais se embota a sua possibilidade de gozar; o próprio
gozo diminui a gozabilidade; e, quando a gozabilidade baixa a zero, quando o
homem já gozou tudo, e nada mais resta para gozar, porque a sua capacidade
de gozar baixou a zero – então esse infeliz gozador está maduro para o
hospício, para o hospital, para o cemitério, para o suicídio, ou então para um
inferno em plena vida.
Mas o homem não quer reconhecer que a cura estaria num reequilibramento,
numa corajosa, sincera e honesta reharmonização entre o seu ego humano e o
seu Eu divino. O homem continua a adorar os objetivos da vida do ego, e
continua a não se interessar pela razão-se-ser da sua existência real, do seu
Eu central.
Queremos o homem real e integral, cuja alma vivifique o corpo, e cujo corpo
seja a manifestação visível da alma invisível.
Mas o homem cósmico não abusa nem recusa, mas usa de tudo isto, em
perfeita harmonia e equilíbrio com o seu Eu central.
Quando o seu Eu central, que ainda está dormindo, estiver tão acordado como
está hoje o seu ego periférico. Quando o Eu se tornar tão consciente como o
ego já é consciente.
Nenhum país tem tantas seitas religiosas como a Índia – e, no entanto, todas
elas convivem pacificamente, em perfeita tolerância e harmonia. Ninguém faz
proselitismo, ninguém tenta converter outro à sua religião.
A razão última e mais profunda está no seguinte: o genuíno oriental não toma a
serio a personalidade do ego humano, que é para ele o que o seu nome diz,
“persona”, isto é, “máscara”; como, aliás, não toma a sério nenhum fenômeno
externo, objetivo, que lhe é maya ou ilusão. O oriental considera todas as
facticidades, pessoais ou impessoais, como meras manifestações temporárias
e transitórias da suprema e única Realidade, como luzes multicores emanadas
da única Luz Incolor, ou, servindo-nos da linguagem da nossa Filosofia
Univérsica, considera todo o mundo objetivo como o VERSO ilusório projetado
pelo UNO verdadeiro do UNIVERSO.
Indiferença oriental?
Fanatismo ocidental?
Que é preferível?
Há uma terceira alternativa, equidistante da indiferença e do fanatismo: é o
entusiasmo. En (em) e theós (Deus) deram origem à palavra “entusiasmo”,
que quer dizer literalmente “em Deus”. Quem sente Deus em si ou se sente em
Deus é um entusiasta. O radical de fanatismo é fantasma; o radical de
entusiasmo é Deus. O fanático defende um fantasma irreal, o entusiasta
professa um Deus real.
Mas o homem universal é um entusiasta cósmico, que tanto pode ser oriental
como ocidental.
Quando eu vou ao norte, e vejo alguém demandar o sul, pode-se parecer ele
meu adversário, pois que vai rumo adverso ao meu. Mas, quando passo da
perspectiva unilateral para uma visão onilateral, verifico que todos os viajores –
de norte a sul, de leste a oeste, e vice-versa – demandam o mesmo e único
centro que eu demando, porque todas essas existências finitas vão rumo à
Essência Infinita, rumo ao único UNO central.
O homem cósmico sabe que não há dois indivíduos humanos iguais, porque a
Natureza não faz cópias, crea tão-somente originais inéditos. E, como cada
indivíduo – por ser indiviso e indivisível – é único e irrepetível, cada um tem a
sua experiência individual e irreversível, e deve seguir o seu caminho
individual, rumo à Meta Universal. Mas todos os caminhos do VERSO, quando
sinceramente seguidos, convergem infalivelmente no mesmo UNO, que é a
Fonte única dos canais múltiplos.
Quem encontrou Deus em si mesmo encontra-o por toda a parte, tanto nos
outros homens como também em todas as coisas da Natureza.
– a mística de Deus,
– na estética da Natureza.
“QUEM NÃO RENUNCIAR A TUDO
NÃO PODE SER MEU DISCÍPULO”
E isto disse Schweitzer depois de ter prestado, por quase meio século, serviços
gratuitos e desinteressados à parte mais infeliz da humanidade, aos negros
primitivos da África Equatorial, no pior clima do mundo, no meio duma
população boçal, incapaz de aquilatar a grandeza de seu benfeitor.
O “fazer algo” ou “ter algo”, quando não nascido do “ser alguém”, obstrui os
caminhos da grandeza do auto-conhecimento e da auto-realização.
Esse “ter algo” do divino Mestre não se refere, em primeira linha, a bens
materiais, mas sim aos bens mentais e emocionais, que são os grandes
males do homem-ego, e aos quais muitos não conseguem renunciar, mesmo
depois de terem renunciado aos bens materiais.
Renunciar às suas posses mentais e emocionais é mil vezes mais difícil, e mais
importante, do que abandonar as posses materiais. Renunciar a todo e
qualquer apego mental, ofendismo emocional, ódios, rancores, ressentimentos,
antipatias, animosidades, intrigas, maledicências e malevolências – isto é
indispensável para abrir o caminho rumo a Deus e ao Eu divino no homem.
“Se eu distribuísse aos pobres todos os meus haveres, mas não tivesse amor,
de nada me serviria isto... O amor não é ciumento, o amor não é orgulhoso, o
amor não é rancoroso; o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta –
o amor não acaba jamais”.
O ego vicioso, quando ofendido, se vinga, de acordo com a lei do talião: olho
por olho, dente por dente; o ego virtuoso perdoa generosamente, de acordo
com as nossas teologias cristãs; mas o Eu crístico nada sabe de ofensas, é
absolutamente inofendível, porque é incontaminável como a “luz do mundo”,
que ele é conscientemente, e de acordo com o qual age eticamente. Não se
vinga nem perdoa, porque nada sabe de ofensa, ou ofendibilidade – entrou na
zona da libertação total.
Quem quer bem a 99 creaturas de Deus e tem ódio a 1 creatura, esse é inimigo
de Deus e não é discípulo do Cristo. É um egoísta disfarçado, que vive a vida
inteira se iludindo com aparências de espiritualidade. É ainda um homem ego-
vivente, e não um Cristo-vivido, e não pode afirmar com Paulo “já não sou eu
que vivo, é o Cristo que vive em mim”.
No meu livro “De Alma para Alma” encontra o leitor um capítulo intitulado
“Heróis de Papelão”. Heróis de papelão e de palha são todos os heróis de ação
que não querem praticar o heroísmo da renúncia e do sofrimento, porque
adoram e idolatram a sua própria atividade heroica; deliciam-se com louvores e
elogios, aplausos e admiração.
Não é possível ser alguém no Cristo e ao mesmo tempo ter algo, no Anti-
Cristo, porque a luz não admite trevas. Possivelmente, um discípulo do Cristo
pode ter posses materiais – mas ninguém pode ter posses mentais e
emocionais anticrísticos. Muitos saúdam o Mestre com um ósculo “salve
mestre”, com um ósculo de traição – cristãos anticrísticos.
Quem não trabalha intensamente e renuncia a cada passo aos frutos do seu
trabalho – esse não é herói.
Só quem pode dizer: fizemos tudo que devíamos fazer, e somos servos inúteis
– esse é herói, porque renunciou ao próprio apego à ação, e é plenamente
liberto.
No estado de sonho, por exemplo, você ganhou a sorte grande na loteria. Você
é milionário, bilionário, e intensamente feliz, enquanto permanece nesse
estado; ou você morreu de um acidente, e está morto, enquanto não sair desse
estado, em que o irreal é real. No estado de sonho, você é realmente
milionário, ou realmente morto, embora essa realidade seja algo relativo; você
nada sabe dessa relatividade da realidade. Isto é realissimamente real para
você enquanto permanece no estado de sonho.
Nesse estado físico-mental, o homem considera real o que não é real, pelo
menos não pleni-real, mas apenas realizado, isto é, um reflexo do real, como
uma imagem no espelho bi-dimensional de tempo e espaço. Este homem, por
exemplo, tem num Banco muitos milhões ou bilhões de cruzeiros, que ele tem
realmente nesse estado de sonho físico-mental, criado e mantido pelos
sentidos e pela mente. O dinheiro é a síntese condensada de todas as coisas
que o homem considera reais no mundo das quantidades objetivas: casas,
terrenos, fábricas, prestígio social e político, etc.; tudo é baseado na presença
do dinheiro, que funciona como uma espécie de valor universal e simboliza
todas as coisas da terra.
Surge agora a magna pergunta: que é que o homem comum considera valioso,
real?
As facticidades quantitativas são como outros tantos zeros: 000 000, ao passo
que a realidade qualitativa é comparável a “1”; o “1” pode valorizar os “000
000”, mas estes não se podem auto-valorizar: 1 000 000. Neste sentido, disse
Einstein “Do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos
valores”. Poderia ter acrescentado: mas do mundo dos valores conduz um
caminho para o mundo dos fatos. O valor pode valorizar o fato, assim como o
“1” pode valorizar os “000”. A plenitude pode plenificar a vacuidade, mas a
vacuidade não pode plenificar a plenitude. A qualidade pode qualificar as
quantidades; o real pode realizar o irreal – mas não vice-versa.
Muitos acham que com a morte física, esse sonhador de sonhos desperta para
a vigília e visão da realidade, o que, todavia, não é verdade. Morrer não é
evigilar, não é despertar da velha ilusão físico-mental. Perder a matéria do
corpo não equivale a superar o materialismo mental. Há homens que morrem e
continuam escravos do materialismo, que está antes na mente do que na
matéria, e a morte não os priva da mente e do seu mentalismo materialista.
Esses homens, sem matéria, porém materialistas, se sentirão como peixe fora
da água, num ambiente sem matéria, e farão o possível para regressar à sua
querida matéria, ao seu céu material; a sua mente materialista descobrirá
meios e modos para se rematerializar – e recomeça então um novo céu
material, que é o seu inferno terrestre. Pode ser que este círculo vicioso –
desmaterialização-rematerialização – prossiga por séculos e milênios, sem
nenhum melhoramento. O que escraviza o homem sem corpo físico na sua
ilusão não são, propriamente, as facticidades materiais, que ele já perdeu, mas
sim a mentalidade materialista, que ele ainda conserva. E, se há tal coisa como
rematerialização do homem desmaterializado, só pode acontecer em virtude
dessa mentalidade materialista, que tenta reentrar na deliciosa matéria, como
peixe fora da água procura reentrar na água. E esse materialismo mental,
rematerializado, vive mais uns decênios nesse seu céu material graças a seu
inferno mental. É possível que esse círculo vicioso se repita indefinidamente,
no mesmo plano horizontal, sem nenhuma verticalização ascensional, que não
vem de fatos repetidos, mas poderia vir do impacto do livre-arbítrio.
O “0”, deixado a si mesmo, é eternamente “0”; não existe operação alguma que
possa fazer do Nada um Algo.
Mas, colocando o “0” do lado direito do “1”, esta Infinita qualidade gera
quantidades finitas: 1 000 000 000.
É opinião quase geral que basta morrer para saber o que é Deus.
Entretanto, a simples perda do corpo material não torna ninguém sábio, não faz
ninguém melhor ou pior do que foi durante a sua vida terrestre. O estado de um
defunto permanece o mesmo, após-morte, que foi em vida.
O que modifica o homem não é a morte, nem mesmo a vida como tal, mas sim
uma nova vivência, um outro modo de ser e de agir, nascido da experiência
íntima da verdade sobre Deus e sobre o próprio homem.
O Cristo diz: “Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril – mas, se morrer,
produzirá muito fruto”.
E Paulo de Tarso escreve: “Eu morro todos os dias – e é por isto que vivo; mas
já não sou eu que vivo, o Cristo vive em mim”.
Quem não teve a coragem de morrer decentemente não pode ter a esperança
de viver gloriosamente, nem aquém nem além-túmulo.
O que de fora acontece ao homem não o torna puro nem impuro, não o faz
bom nem mau – somente o que de dentro acontece ao homem, isto sim o torna
puro ou impuro, bom ou mau.
Quando o esquilo corria, a gaiola rodava, rodava, rodava. E quanto mais corria,
mais rodava a gaiola.
Estás cansado?
– Estou, sim. Hoje corri uns 10 km; há dias em que corro até 15 km.
– Creio que vai fazer uns 5 anos que estou aqui, correndo sempre, sempre...
Imagina quantos quilômetros corri nesses anos!...
– Vou fazer o cálculo: 5 vezes 365 dias dá 1.825 dias. Quantas horas corres
por dia?
– Dá 18.250 horas em cinco anos. Se, na média, correste 10 km por dia, perfaz
182.500 km em 5 anos.
– 182.500 km.
– Como?
Essa creatura humana havia corrido pela gaiola redonda da terra, não 5 anos,
mas 50 anos. E não saíra do lugar.
Mas... não saíra do lugar, porque confundia os fatos das quantidades com os
valores das qualidades. Não criara nenhum valor, só descobrira fatos.
No fim de meio século de correrias, estava ainda no marco zero, porque andara
em círculo, voltando sempre ao ponto de partida, como fazem todos os ego-
esquilos na gaiola rodante da vida terrestre.
Mas onde estão os da terceira classe? os que não correm nem param na
gaiola? os que saíram da prisão e vivem lá fora, na “gloriosa liberdade dos
filhos de Deus”?...
O MAGNETISMO DA REALIDADE ESPIRITUAL
(Mestre Mahasaya fala a Paul Brunton sobre Ramakrishna)
Aparece um jovem e me pede que espere pelo Mestre, que se encontra num
dos andares inferiores.
Passados uns 10 minutos, ouço que alguém vem subindo pela escada – e
subitamente sinto que o homem lá embaixo dirige sobre mim os seus
pensamentos. Aparece então o que vinha subindo vagarosamente os degraus.
Ao entrar, ninguém me precisa dizer quem é esse homem. Um dos venerandos
patriarcas do Antigo Testamento da Bíblia parece ter assumido forma visível.
Esse homem, de cabeça calva, longa barba branca, semblante sério, grandes
olhos pensativos, com os ombros curvados ao peso dos anos – só pode ser o
sábio Mahasaya em pessoa.
– Dele lhe falarei com o maior prazer. Faz quase meio século que Ramakrishna
nos deixou, mas a lembrança dele nunca me deixa. Eu tinha 27 anos quando
cheguei a conhecê-lo, e durante os últimos cinco anos da sua vida estive
sempre perto dele. Tornei-me outro homem, graças à influência do divino
Ramakrishna. Todos os que dele se aproximavam sentiam-se empolgados pelo
fascínio espiritual dele; ele como que os enfeitiçava e os prendia a si. Mesmo
homens mundanos, que tinham vindo para zombar dele, emudeciam na
presença de Ramakrishna.
– Como podem tais homens sentir reverência pelas coisas espirituais, em que
não crêem? – perguntei.
– Sim, e, ao meu ver, mais do que isto: Ramakrishna era, no fundo, um homem
simples, sem cultura e sem instrução, tão simples que nem sabia escrever o
seu próprio nome, muito menos uma carta. O seu exterior era singelo, mais
singela ainda era a sua vida; e, no entanto, era seguido pelos homens mais
cultos e inteligentes da sua época; curvavam-se diante do seu poderoso
espírito, que era tão forte que a gente o sentia sempre. Dizia-nos que orgulho,
riqueza, glória e sucesso são coisas vãs e transitórias, em face da realidade
espiritual. Muitas vezes mergulhava num estado de êxtase, que era tão
sagrado que nós, que o rodeávamos, tínhamos a sensação de que
Ramakrishna era mais Deus que homem. Possuía a faculdade rara de pôr os
seus discípulos no mesmo estado, com um simples toque da mão; e durante
esse estado de samadhi eram eles capazes de compreender imediatamente
os mistérios da Divindade. Deixe-me contar o que ele fez de nós.
Eu tinha sido educado segundo os ditames do mundo profano. O meu cérebro
estava repleto do orgulho da ciência. Em diversos colégios de Calcutá, em
tempos vários, ocupava eu as cátedras de literatura inglesa, de história e de
ciências econômicas. Ramakrishna vivia, nesse tempo, no templo de
Dakshineswar, algumas milhas de Calcutá, rio acima. Foi ali que o encontrei na
inesquecível manhã duma primavera a falar das suas experiências internas, em
linguagem muito simples. Fiz uma ligeira tentativa de discutir com ele; mas a
sua santa personalidade me amarrou a língua. Tornei a voltar à presença dele,
e já não pude viver mais sem esse homem simples e divino. Certo dia, disse
Ramakrishna, gracejando: “Um pavão comeu ópio, e na manhã seguinte
reapareceu no mesmo lugar e na mesma hora, porque estava narcotizado pelo
ópio e queria outra dose”. Assim acontecera comigo. Nunca me sentira tão feliz
como na presença dele. Que admira que eu sempre voltasse a ele? Com o
tempo, passei a pertencer ao círculo dos seus discípulos mais íntimos, o que
era mais do que esses visitantes esporádicos. Certo dia, me disse o Mestre:
“Eu leio nos teus olhos, na tua testa e no teu semblante, que tu és um yogui;
trabalha na tua profissão, vive com tua mulher e filhos, com pai e mãe – mas
centraliza a tua alma em Deus. A tartaruga nada nas águas do lago, mas todo
o seu ser está preso ao lugar da praia onde ela tem os seus ovos. Assim, faze
também tu o que tens de fazer no mundo, mas sempre com tua alma presa a
Deus”.
Quando nosso Mestre Ramakrishna morreu, a maior parte dos seus discípulos
renunciou espontaneamente às coisas do mundo, vestindo o manto amarelo e
procurando difundir a mensagem do Mestre. Eu, porém, conservei o meu cargo
de professor, firmemente decidido a viver no meio do mundo, mas sem me
deixar capturar pelas coisas do mundo. Para seguir este caminho, por vezes,
altas horas da noite, eu me associava aos mendigos que dormiam ao relento
diante da casa do Senado, e dormia no meio deles, a fim de me sentir, pelo
menos de vez em quando, como um homem que não possuía nada.
– E, se alguém for ter com o Sr. e lhe disser que não sabe orar, que lhe diria?
– Que deve procurar muitas vezes a companhia de homens santos que tenham
tido experiências internas; o permanente contacto com esses homens
despertará nele a espiritualidade dormente. Esses homens lhe farão sentir a
nostalgia de uma vida em espírito. Procurar esses homens é o primeiro passo,
e não raro também o último passo, como costumava dizer Ramakrishna.
– A minha tarefa está para terminar; este corpo cumpriu a missão que Deus lhe
deu. Tome a minha bênção, antes de partir.
Ele pousa a sua mão, de leve, sobre a minha testa. Eu, embora não seja um
homem religioso, me curvo humildemente.
Esta hora revolucionou todo o meu interior. De sono, nem vestígio, nesta noite.
Passei toda a noite em claro, subindo e descendo as ruas de Calcutá.
Pouco mais tarde, soube que ele havia deixado este mundo.
O fariseu no templo dava 10% dos seus haveres aos outros, guardando 90%
para si, sendo, pois, 90% egoísta e 10% altruísta – e este “voltou para casa
não-ajustado”; continuou tão desajustado como sempre fora, com todo o seu
altruísmo e sua ausência de pecados.
O nosso pensar e querer não devem visar como um fim ao nosso ego humano,
mas sim ao nosso Eu divino, ao aperfeiçoamento, à auto-realização do Deus
em nós, embora os atos do nosso ego possam servir como meios para a
realização desta nossa atitude divina.
O meu corpo, minha mente, minhas emoções são meios, métodos e canais
para a realização do fim, da meta, da fonte divina de minha alma, do meu Eu
verdadeiro.
***
Aqui não temos o Uno do Eu sem o Verso do ego – aqui temos o Uno e o
Verso.
Mas, para que alguém possa amar os outros como a si mesmo, é indispensável
que tenha chegado ao conhecimento do seu verdadeiro Eu divino, da sua alma,
do Pai, do Cristo interno, que é o “primeiro e maior de todos os mandamentos”.
Quando eu ia escrever o meu livro “Lúcifer e Lógos”, caiu-me nas mãos o livro
“II Diávolo”, de Giovanni Papini. Esperava eu que o notável escritor italiano me
fornecesse alguma matéria-prima para o meu livro; mas foi grande a minha
decepção: Papini, seguindo o equívoco geral, confunde demônio com diabo.
Aqui em São Paulo, uma senhora católica me emprestou um livro sobre a vida
e os exorcismos do sacerdote francês João Batista Vianney, geralmente
chamado o “Cura d’Ars”, para que eu visse que poder estupendo esse
sacerdote tinha sobre o diabo, que, como o autor do livro refere, o dito padre
expulsava dos possessos – mais uma confusão entre demônios e diabo.
A Parapsicologia, essa caçula das nossas ciências, tenta lançar luz sobre as
misteriosas regiões do subconsciente e ultraconsciente humano, por vezes
dominadas por forças desconhecidas que produzem factos visíveis. As causas
invisíveis, sediadas no tenebroso mundo extra-consciente, elemental ou astral,
poderiam ser chamadas daimones, como diziam os gregos, palavra que nós
transformamos em demônios. Sócrates afirmava que ele havia recebido um
“bom demônio”; nós diríamos talvez um “bom gênio”.
Entretanto, esses demônios nada têm que ver com o diabo ou satanás, que
são creação da mente e do livre-arbítrio do homem.
É notável que o Evangelho do Cristo, escrito por Mateus, Marcos, Lucas e
João, quando refere expulsões de demônios realizadas pelo Nazareno, nunca
confunda essas forças ou entidades com o diabo. Nem uma única vez afirmam
os evangelistas que Jesus tenha expulsado diabos.
Esse ente hominal neutro era implicitamente macho e fêmea, mas não era
explicitamente nem isto nem aquilo. Era uma simples potencialidade latente
para as duas atualidades futuras.
É possível que o habitat de Adam não fosse este planeta Terra; talvez o tal
Éden do Oriente fosse outro planeta, ou mesmo o espaço astral. Talvez o
corpo de Adam fosse de substância etérea ou astral, de matéria ainda não
congelada, na linguagem de Einstein; pura energia astral ainda não cristalizada
em materialidade.
Neste sentido, era a mulher irmã do varão, e se tornou, mais tarde, sua esposa,
a “mãe de todos os viventes”.
A fim de realizar essa Anti-tese2, prelúdio da futura Sín-tese, fez Yahveh vir
sobre Adam um sono profundo, fê-lo descer das alturas do cosmo-consciente
para as baixadas do ego-consciente, cujo plano é a nossa Terra e seu
ambiente hominal. Durante esse sono profundo, viu Adam a sua “ava”, palavra
sânscrita para “reflexo”, “imagem”, e reconheceu esse seu reflexo como sua
“contra-parte”, semelhante a ele no sexo, igual a ele na natureza hominal.
Antes disto, refere o Gênesis, havia Adam verificado que estava só”, apesar de
ser “macho-fêmea”, e havia procurado em vão, entre os animais, alguém que
lhe fosse igual na natureza e pudesse servir de “companheira auxiliar”, de
contraparte complementar no plano sexual. Agora encontra ele um ser “osso do
meu osso e carne da minha carne”.
2. As palavras de radical latino para esses termos gregos seriam: posição (tese), contraposição
(antítese) e composição (síntese).
Não se pode dizer que o fim primário dessa união sexual seja o filho, nem
mesmo a simples satisfação da libido masculino-feminina, mas sim a
completação do homem e da mulher pelo Eros, isto é, pelo amor mútuo,
destinado a transfundir em cada um dos dois aquilo que lhe falta e que o outro
lhe dá. O Eros realiza uma doação recíproca entre varão e mulher, doação que
não consiste primariamente na procreação de um novo indivíduo humano, nem
na mera satisfação da libido animal, mas em algo tipicamente hominal, que é o
aperfeiçoamento dos dois pelo intercâmbio vitalizante de auras ou fluidos.
Essa re-integração do masculino parcial e do feminino parcial no homem total;
esse desejo, consciente ou inconsciente, de re-unificação, num plano superior
é o mergulho de dois vivos incompletos na única Vida completa – perfeito
paralelo da fusão da creatura finita no Creador Infinito que ocorre na
experiência do entusiasmo místico. Pode-se dizer que a erótica3 é a mística
da carne, assim como a mística é a erótica do espírito. É essa a razão porque
os livros sacros da humanidade sempre se servem de roupagem erótica para
exprimir realidades místicas.
3. A minha afirmação de que “a erótica é a mística da carne, assim como a mística é a erótica
do espírito”, usada em alguns livros meus, tem dado aso a grandes deturpações; alguns
escritores, citando as minhas palavras, afirmam que eu considero o erotismo como o
misticismo da carne, e o misticismo como o erotismo do espírito. Nada disto é verdade.
Erotismo e misticismo são vícios – mas a erótica e a mística são saúde.
O caminho do Lógos vai através do Eros, que não é libido. O animal conhece
libido, mas nada sabe de Eros. Infelizmente, os nossos autores usam o termo
“erótico” em vez de “libidinoso”, como também confundem “erótica” com
“erotismo”. O Eros é um amor tipicamente humano entre os sexos. O animal
não sabe de amor, Eros. Ao Eros subjaz um anseio de recosmificação do
homem telúrico, o que explica a elementar veemência do instinto sexual.
4. É profundamente deplorável que a nossa Academia de Letras tenha abolido a forma “crear,
creação, creador”, mandando substituí-la por “criar, criação, criador”, quando há enorme
diferença de sentido entre “crear” e “criar”. O fazendeiro é um gênio creador, mas não é
necessariamente um criador. Deus é o creador do Universo, mas nem por isto é um criador.
Esperamos que a Academia, algum dia, restitua o termo “crear”, de acordo com o que acontece
em outras línguas cultas.
Tem dado aso a muita pilhéria o tópico do Gênesis de que Deus teria formado
a Eva de uma costela de Adão. Convém saber que nos relatos da Assíria e da
Suméria sobre a origem do homem e da mulher, nada consta dessa “costela”.
Os documentos cuneiformes da Suméria, muito anteriores ao nosso Gênesis,
dizem que Deus fez a mulher da “força vital” do homem. A palavrinha “ti”, que
figura nesses documentos e significa “vitalidade”, talvez tenha dado origem ao
equívoco, uma vez que “ti” também poderia significar “osso”. A ciência moderna
sabe que as células vermelhas do nosso sangue têm origem no tutano dos
ossos maiores do corpo. Adam diz: “Isto é osso do meu osso”, talvez no
sentido: Isto é vitalidade da minha vitalidade.
Parece que, em nosso dias, a “formação” bissexual macho-fêmea está em vias
de uma “re-formação”, ou mesmo, uma “deformação”; cada vez mais se
apagam as fronteiras entre homem e mulher. Muitos homens não querem mais
ser homens, e muitas mulheres estão cansadas de ser mulheres. Por um lado,
assistimos a uma crescente hipertrofia do sexo ou do sexismo; por outro,
vemos uma hipotrofia ou atrofia sexual. Este fenômeno, embora pareça
paradoxal, é profundamente lógico: a hipertrofia do instinto sexual, quando
descontrolada, acarreta, cedo ou tarde, a sua atrofia. Toda a fome, quando
chega a excessiva fartura, acaba em fastio. O hipersexismo gera
infrasexismo. Possivelmente, a humanidade vai desaparecer da face da terra
por involução sexual. O regresso não será ao plano do homem cósmico pré-
sexual, mas sim a um homem pseudo-cósmico dessexuado por
supersexuação, enfastiado por supersaturação.
Será que seremos uma síntese sexual controlada, que dê luz, calor e força?
Será que esta entropia mortífera será contrabalançada por uma ectropia
vitalizante?
Será que essa libido animalesca vai culminar num Eros humano?
Um dia falou ele de três tipos de homens relacionados com o sexo: os que por
deficiência da natureza não eram sexuados; os que tinham sido assexuados
pelos homens – e os que, por amor ao reino de Deus haviam ultrapassado o
sexo e a sexualidade. Falou dos infra-homens, dos semi-homens e dos pleni-
homens. E, como os da terceira fase dependem da mais alta compreensão da
natureza humana, exclamou o Mestre: “Quem puder compreendê-lo
compreenda-o!”
Toda a nossa vida, individual e social, sofre desse infeliz periferismo sem
nenhuma centralidade. “Remendo novo em roupa velha”, diria o Nazareno.
Pouco adianta converter vícios em virtudes, porque tanto estas como aqueles
estão na zona do ego humano, na mesma linha horizontal. O pólo negativo
dessa horizontal se chama homem vicioso – o pólo positivo da mesma
horizontal se chama homem virtuoso. A solução definitiva não está nesta
transição horizontal do ego vicioso para o ego virtuoso – está na superação
total de qualquer tipo de egoidade; está na vertical do Eu sábio erguida sobre a
horizontal dos egos viciosos ou virtuosos.
Não se trata de pôr “remendo novo em roupa velha”, trata-se de fazer nascer a
“nova creatura em Cristo”, o homem integral, o homem universificado.
Não! do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos
valores, diz Einstein. E o que vale na Matemática vale também na Metafísica.
Mas não vemos cada dia que a semente se transforma em planta? e por que
não poderia o ego transformar-se em Eu?
Se colocarmos uma semente, grau 10, sobre a mesa, nunca veremos a sua
transformação em planta, grau 100. Por que não? Porque o 100 da planta não
está contido no 10 da semente.
De modo análogo, não é o 10 do ego que causa o 100 do Eu; mas é o Poder
Infinito do Universo que, através do ego, produz o Eu, suposto que o ego
funcione como canal e veículo da Fonte Cósmica.
O vivo menor deve receber o impacto da Vida para se transformar num vivo
maior. É inadmissível, à luz da lógica e da matemática, que um vivo menor
produza um vivo maior, mas é perfeitamente admissível que um vivo menor
sirva de canal para um vivo maior, contanto que, para além de todos os canais,
exista uma fonte de Vida.
Toda a diferença entre a maior ou menor perfeição espiritual dos homens está
na sua maior ou menor capacidade receptiva.
O conforto é razoável.
O confortismo é doentio.
A confortite é mortífera.
O homem pode construir um olho artificial muito mais perfeito que o olho
natural; pode também fabricar um cérebro eletrônico muito mais eficiente,
seguro e rápido do que o cérebro natural; o cérebro eletrônico executa em 5
minutos o que o cérebro natural não faria em 5 dias, e com infalível exatidão.
Mas, o que nos interessa, em primeiro lugar, não são essas técnicas, que, não
duvidamos, podem ser praticadas também pelo homem ocidental.
Mas o que nos interessa, antes de tudo, não são essas conquistas
secundárias, periféricas – o que, acima de tudo, nos interessa, é a auto-
realização do homem integral. E, como esta auto-realização supõe auto-
conhecimento, perguntamos se a prática de yoga que nos vem do oriente
pode dar ao homem ocidental verdadeiro auto-conhecimento e seu corolário, a
auto-realização.
Não! O oriente não introduziu nada de novo no ocidente. O que ele fez foi
chamar a atenção e o interesse do homem ocidental para algo que já existia
entre nós, mas que nós, sobretudo no fim do século XIX e princípios do século
XX, havíamos grandemente obliterado e negligenciado, mas que, em eras
anteriores despertava vivo interesse também na humanidade ocidental.
Muitos ocidentais estão caindo no erro de quererem substituir uma coisa por
outra, em vez de realizarem uma complementação recíproca. Querem trocar
as coisas materiais pelas espirituais, processo inverso do que praticam muitos
orientais – em vez de espiritualizarem todas as coisas materiais. Muitos
querem fazer uma dissociação em vez duma associação, duas antíteses
parciais em vez de uma grande síntese total, uma substituição ou
justaposição mecânica em vez de uma interpenetração orgânica entre as
coisas do ego humano e do Eu divino no homem.
Pode um indivíduo não ser pessoalmente culpado; mas o fato de ele pertencer
a um organismo humano cujos indivíduos são culpados, faz esse indivíduo
sujeito à penalidade coletiva.
Isto é injustiça?
Não.
O individuo humano comum é “filho de mulher”, filho dessa mãe comum que é
a mãe-humanidade, à qual ele está preso pelo cordão umbilical do seu ego
hominal; ele é apenas semi-nato, espécie de nascituro – corpo-nato, não
espírito-nato – não é ainda um pleni-nato, nascido pelo espírito. Aqui na terra
apareceu apenas um único homem pleni-nato, o “filho do homem”, o homem
integral, que não estava mais ligado à mãe-humanidade pelo cordão umbilical
do ego. Somente o Eu é pleni-nato, o ego é semi-nato, embora seja um ego
virtuoso, não é um Eu sapiente.
Quer dizer que essa mentalidade visa unicamente a fazer do ego vicioso um
ego virtuoso.
Não negamos absolutamente que o altruísta seja melhor do que o egoísta, que
o homem virtuoso seja preferível ao homem vicioso. Negamos que esta
mentalidade horizontalista seja a alma da auto-realização.
Isto porém, é um erro funesto, muita vezes corroborado pelo próprios chefes
das igrejas e das sociedades espiritualistas.
O agir virtuoso não é uma cura radical do agir vicioso; é apenas uma
camuflagem, uma repressão superficial e temporária, porque tanto o agir
virtuoso como o agir vicioso têm por base o mesmo ego humano, que é
visceralmente negativo e maléfico.
A mensagem dos Mestres e do Cristo não tem caráter moral, mas sim
metafísico. Visa não apenas a uma vivência melhorada, mas sim a uma nova
consciência sobre a natureza fundamental do homem.
No Universo hominal, porém, entrou um novo fator, que pode crear uma
harmonia maior que a do cosmos – mas pode também diminuir, e até destruir
totalmente a harmonia na vida humana.
Sendo que o UNO do Universo é de qualidade infinita, o seu VERSO deve ser
de quantidade infinita (ou indefinida) – e é esta a razão porque o UNO tem a
irresistível tendência de se manifestar em formas sempre novas e diferentes. A
pluralidade do VERSO tende a equilibrar a unidade do UNO. A Essência do
Uno Infinito crea sempre novas Existências no Verso dos Finitos. Não há nisto
uma “finalidade”, em sentido humano, mas sim uma “causalidade”, que é a
própria natureza bipolar do Universo. É este o postulado básico que serve de
substrato a toda e qualquer filosofia digna deste nome.
O Universo é antes uma hierarquia do que uma democracia; ergue uma única
vertical sobre muitas horizontais; lança ao céu um estreito vértice sustentado
por uma larga base terrestre. Um único fator livre vale por todos os fatos não
livres.
Não fosse essa harmonia hominal consciente – base duma grande ectropia –
possivelmente todas as harmonias inconscientes do cosmos acabariam por
perecer em total entropia, como Paulo de Tarso parece ter entressentido nas
palavras do capítulo 8 da epístola aos romanos.
***
A Filosofia Univérsica tem por fim mostrar ao homem o caminho certo para
construir a sua vida segundo a imagem e semelhança do cosmos, fazer
livremente o que o cosmos faz automaticamente.
A humanidade não será extinta por bombas atômicas, que matam poucos
milhares ou milhões de vivos – será extinta pelo movimento homossex ou
unissex, que previne o aparecimento dos vivos, que impossibilita a sua
concepção, reduzindo a população, sobretudo nos países altamente civilizados,
ou egoficados.
O ego é a misteriosa serpente circular, que morde a ponta do seu próprio rabo
– o ego auto-devorador, o ego suicida.
EGO-AGENTE, COSMO-AGIDO E COSMO-AGENTE
Para que o homem possa ego-agir sem estreiteza, sem medo, sem egoísmo,
deve ele permitir, antes de tudo, ser cosmo-agido, isto é, desistir da sua
pequena egoidade e deixar-se empolgar pela grande cosmicidade.
Esta ego-morte se revelará mais tarde como sendo uma pleni-vida, também
para o próprio ego, que ressuscita da sua ilusória pequenez para a verdadeira
grandeza.
A ciência dos últimos decênios, sobretudo depois da Teoria dos quanta de Max
Planck e da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, já admite que o Universo
não é um simples sistema de causalidade mecânica ou alo-determinismo
passivo, baseado no elemento quantitativo do VERSO – mas que é também
um processo de causação dinâmica, ou auto-determinação ativo, baseado no
fator qualitativo do UNO.
James Jeans, no seu livro “The mysterius Universe”, chega ao ponto de dizer
que o Universo já não nos parece ser uma grande máquina, mas sim um
grande pensamento.
Demócrito de Abdera diria que Deus é átomo puro, isto é, pura qualidade sem
mescla alguma de quantidade.
Santo Agostinho diria que o centro de Deus está em toda a parte, e sua
periferia não está em parte alguma.
Mas, como o mundo não é totalmente VERSO, mas também UNO, o mundo
não é totalmente máquina determinada, mas também pensamento
determinante.
“Os anseios da natureza são anseios pela revelação dos filhos de Deus. A
natureza está sujeita à corruptibilidade (entropia, determinismo) não por
vontade própria, mas por aquele que a sujeitou (o homem imperfeito). Mas a
natureza tem esperança de ser libertada da escravidão do corruptível, e
alcançar a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Com efeito, sabemos que
toda a natureza geme e sofre dores de parto até ao presente. E não somente
ela, como também nós, que possuímos as primícias do espírito, gememos em
nosso interior, ansiando pela filiação divina, a redenção do nosso corpo
(ectropia, auto-determinação).”
Nada sinto, nada penso, nada desejo... Morri para todas as atividades do ego...
Mas estou intensamente consciente no meu Eu, luminosamente consciente.
Sinto-me envolto e permeiado deliciosamente pelas poderosas carícias da
Consciência Cósmica, que é o meu Eu pleni-consciente.
Está cortado o cordão umbilical entre o meu velho ego e meu novo Eu.
Ouço ao longe a música divina do “Hino a Brahma”, cuja melodia realça a voz
do silêncio.
Através de tudo isto senti-me guiado pelo supremo guru, o Cristo, que é o
meu Eu interno, a Luz do mundo, o Pai em mim...
Como eu estava em jejum quase total desde a manhã, pelas 9h30 da noite me
convidaram para um jantar, juntamente com os médicos e psicólogos
presentes. Com muito custo consegui restabelecer o contato com o ambiente;
não sabia como segurar a colher; os nervos suspensos durante horas se
recusavam a retomar o seu serviço. Eu não me sentia nas mãos, nos pés, no
corpo. Estava ausente deles, pois eu sou o meu consciente, que eclipsou o
meu pensamento e os meus sentimentos. Levei horas para estabelecer
plenamente o contato com o velho sansara.
Agora, quase 23 horas, a sós, em casa, estou 80% em contato com o mundo.
Mas tudo me parece alheio, ignoto, longínquo, mas muito bonito, harmonioso,
pacífico...
Sei que meu corpo é minha ferramenta, mas não sou eu...
Deo gratias!
Aleluia!...
EXPERIÊNCIA CÓSMICA DE PAUL BRUNTON
(Segundo o livro A SEARCH IN SECRET INDIA, cap. 17)
Sinto agora que cheguei até à origem dos pensamentos. Por isto me posso
relaxar um pouco e deixar-me levar à mercê da corrente, mas sempre com os
olhos na meta, como a serpente a espreitar fixamente a sua presa.
Esse estado continua; verifico que o sábio tinha razão quando dizia: então se
acalmam as ondas do pensamento, extingue-se o raciocínio analítico.
Vivo na consciência feliz de uma liberdade absoluta; estou liberto da tirania dos
pensamentos, que me prendiam com o seu mecânico vai-vem... Tenho a
sensação de ter saído de um cárcere e respirar o ar puro lá fora...
O meu Eu, esse novo Eu, repousa no seio duma beatitude indizível...
1. Lethe, na mitologia, é rio do esquecimento total do passado; a alma que, após a morte,
atravessa essa torrente, perde a lembrança de tudo que viveu anteriormente.
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Será que ousarei erigir um monumento em memória daquilo que vi, nessas
ínvias amplitudes do cosmos, que se alargam para além do alcance do espírito
humano?
(Depois disto, Brunton escreve algumas páginas em que tenta em vão dizer o
indizível).
A COSMOVISÃO DE PRINCETON
(Corifeus da Era Atômica em busca de uma Religião)
Os cientistas dos Estados Unidos, dando o nome de Gnose à sua síntese entre
religião e ciência, certamente entendem por esta palavra algo afim à filosofia
intuitiva dos tempos antigos.
Segundo a nova Gnose, religião e ciência não são duas coisas diferentes,
menos ainda antagônicas, mas são o próprio Universo em sua totalidade,
comparável a uma peça de tapeçaria vista ora pelo lado direito, ora pelo
avesso. A religião intue o Universo pelo lado da unidade, ao passo que a
ciência analisa o mesmo Universo sob o aspecto da diversidade. Isto é
cosmovisão.
A base da Gnose dos sábios de Princeton, diz Ruyer, é a de toda a gnose e de
todos os iniciados: o mundo é governado pelo Espírito, não por um espírito
individual, mas pelo Espírito Universal, ou Cósmico, que não é creatura, mas o
próprio Creador Increado. Quando o Creador se manifesta, aparecem as
creaturas, ou a creação. É da íntima natureza do Espírito Cósmico ser Creador,
porque o Espírito é a Realidade dinâmica, o Actus Purus, a Infinita Atuação.
A nova Gnose de Princeton, como se vê, focaliza uma verdade tão antiga como
a própria humanidade pensante, mas que sempre de novo é obliterada por
aspectos unilaterais e incompletos, seja por parte de certos espiritualistas, seja
por parte dos materialistas. Os sábios de Princeton desenvolvem um conceito
cosmocêntrico, ou seja, um monismo cósmico, que não é panteísta, mas sim
panenteísta. O Uno Creador está em todo o Verso Creado; uma só é a
essência do Creador e a da Creatura, porque o Uno está no Verso e o Verso
está no Uno; na sua existência, porém, a existencialidade do Verso finito não é
idêntica à essência infinita; a realidade causal e causante realiza as
facticidades causáveis e causadas. Esta visão dos efeitos finitos da causa
infinita aparece, desde o século passado, com o nome exato de panenteísmo
(tudo em Deus) ou monismo cósmico, que é também a idéia central da Gnose
de Princeton.
Sidarta faz ver a Gotama que o grande iniciado da Índia, nas suas “quatro
verdades nobres” e no “caminho óctuplo” mostrou, com inigualável clareza, que
o Universo inteiro é uma imensa e infalível cadeia de causas e efeitos, sem a
menor lacuna. E o homem faz parte dessa cadeia cósmica.
E Sidarta faz ver ao Sublime Gotama Buda que ele mesmo, o Buda, encontrou
redenção, não em virtude do conhecimento de causa e efeito da cadeia
cósmica, mas precisamente pelo fato de ter ultrapassado essa imensa cadeia.
Mas, qual o fator que deu a Gotama a força de se libertar e encontrar
redenção? Como conseguiu o Buda superar o sofrimento? Certamente não por
ter conhecido a causa do sofrimento, a culpa, mas precisamente por ter
superado a própria culpa, base de todo o sofrimento. E quem lhe deu a força
para superar a culpa?
Certamente, não no seu ego hominal, que é autor de culpa, cuja reação
cósmica é o sofrimento. Gotama Buda não se redimiu em virtude do
conhecimento de que todo o cosmos é uma imensa cadeia de causa e efeito –
digamos, de culpa e sofrimento, em se tratando do cosmos hominal. Encontrou
redenção em algo que transcende essa cadeia causa-efeito.
Em virtude dessa sua creatividade, pode o homem ser bom ou mau, ou, como
dizia Moisés, “comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal”. O
homem é bipolarizado: pode harmonizar com o cosmos, e pode também
desarmonizar com ele. Disse alguém que “Deus creou o homem o menos
possível, para que o homem se possa crear o mais possível”. A creaturidade
lhe foi dada por Deus como dádiva fixa, mas a creatividade representa um
atributo variável; por ela pode o homem tornar-se melhor ou pior do que Deus o
fez.
No seu ego representa o homem o seu pólo negativo, mau, pecador – no seu
Eu simboliza o homem o seu pólo positivo, bom, redentor. Mas como,
segundo o processo evolutivo, o ego externo do homem desperta antes do seu
Eu interno, o homem, em primeiro lugar, “come do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal”. Desperta nele a “serpente rastejante”, que
come do pó da terra. Só muito mais tarde aparecerá um poder supra-
serpentino, a “serpente erguida às alturas”, no dizer do Cristo, a serpente do
ego horizontal que se verticaliza na forma do Eu divino e redime os que forem
mordidos pela serpente rastejante do ego hominal.
Algum dia, afirma Moises, depois de 40 anos de solidão nas estepes da Arábia,
e quiçá na Índia, o homem, que já comeu do fruto do conhecimento do bem e
do mal, comerá do fruto da árvore da vida eterna, passando do seu ego
rastejante para seu Eu verticalizado, da serpente horizontal Lúcifer para a
serpente vertical Lógos.
“Vós sois a luz do mundo”. Verdade é que o homem é luz, mas, enquanto
estiver rastejando na ego-consciência, é “luz debaixo do alqueire”, e a sua vida
está repleta de trevas, de dores e sofrimentos; somente o homem-Eu colocou a
sua luz “no alto do candelabro” e todos os que habitam na casa da sua
humanidade são iluminados e lucificados por essa luz.
Lago horizontal não move turbina colocada no mesmo plano – mas uma
cachoeira pode movê-la.
Mas, ainda que o ego não se possa plenificar por si mesmo, ele pode e deve
crear em si a condição favorável para ser cosmo-plenificado. Esta cosmo-
plenitude (Divindade, Brahman) é a causa da redenção – mas a ego-vacuidade
é condição indispensável para que aquela plenitude possa exercer a sua
causalidade.
“Do mundo dos fatos – escreve Einstein – não conduz nenhum caminho para o
mundo dos valores, porque estes vêm de outra região”. O ego só conhece o
mundo dos fatos, das facticidades objetivas; nada sabe do mundo dos valores,
que jazem na zona da consciência do Eu, que o Cristo chama Pai, Luz, Reino,
Tesouro, Pérola. Somente o mundo dos valores qualitativos pode redimir o
mundo dos fatos quantitativos. Somente o Eu divino pode redimir o ego
humano.
Sidarta faz ver ao Buda que ele, o iniciado, não encontrou redenção do
sofrimento e da culpa por especulações analíticas do seu ego humano, mas
que a redenção lhe aconteceu em virtude duma invasão das águas vivas da
Fonte divina nos canais abertos do ego humano. Os preparativos dessa
abertura de canais podem ser feitos por meio de livros e de mestres, mas a
invasão das águas vivas vem unicamente da Fonte Infinita.
Os prelúdios para a redenção podem ser feitos pelo ego humano de boa
vontade – mas a redenção é graça, que é sempre de graça; pode ser
condicionada pelo ego humano, mas é sempre causada pelo Eu divino.
“As obras que eu faço não sou eu (ego) que as faço, mas é o Pai em mim (Eu)
que faz as obras; de mim mesmo (pelo meu ego) nada posso fazer”.
TOMANDO PERSPECTIVA
O MISTÉRIO DO LIVRE-ARBÍTRIO
PERIFERISMO OU CENTRALIDADE?
A COSMOVISÃO DE PRINCETON
Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).
Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.
Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.
Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.
À zero hora do dia 8 de outubro de 1981, após longa internação em uma clínica
naturista de São Paulo, aos 87 anos, o professor Huberto Rohden partiu deste
mundo e do convívio de seus amigos e discípulos. Suas últimas palavras em
estado consciente foram: “Eu vim para servir à Humanidade”.
A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
O SERMÃO DA MONTANHA
O NOSSO MESTRE
ÍDOLOS OU IDEAL?
ESCALANDO O HIMALAIA
O CAMINHO DA FELICIDADE
DEUS
EM ESPÍRITO E VERDADE
PORQUE SOFREMOS
LÚCIFER E LÓGOS
A GRANDE LIBERTAÇÃO
FILOSOFIA DA ARTE
ORIENTANDO
ROTEIRO CÓSMICO
A METAFÍSICA DO CRISTIANISMO
A VOZ DO SILÊNCIO
A NOVA HUMANIDADE
O HOMEM
ESTRATÉGIAS DE LÚCIFER
O HOMEM E O UNIVERSO
IMPERATIVOS DA VIDA
PROFANOS E INICIADOS
NOVO TESTAMENTO
LAMPEJOS EVANGÉLICOS
A EXPERIÊNCIA CÓSMICA
MARAVILHAS DO UNIVERSO
ALEGORIAS
ÍSIS
COLEÇÃO BIOGRAFIAS:
PAULO DE TARSO
AGOSTINHO
MAHATMA GANDHI
JESUS NAZARENO
PASCAL
MYRIAM
COLEÇÃO OPÚSCULOS:
CENTROS DE AUTO-REALIZAÇÃO