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Política industrial consiste no conjunto de atos normativos criados pelos países para promover
o desenvolvimento econômico e ventilar a atividade empresária fundada na produção e circulação de
bens ou serviços. Tais atos tomam a forma de benefícios fiscais ou procedimentos para o incentivo
direto de produção fomentado por entidades paraestatais ou entes de administração indireta que
subvencionam as empresas indiferentemente do estágio de desenvolvimento que se encontram.
Essa regulação pode ser analisada sinteticamente de maneira análoga como abaixo:
Talvez o grande dilema do Brasil para evoluir quando às PI seja esse. Apesar de as vezes
tentar incentivar os setores de inovação, o país traz as raízes de suas vantagens comparativas que já
estão estabelecidas e beneficiam grande parte da população e do empresariado atuante dos setores.
O governo Lula também lançou mão de alguns planos de metas que receberam críticas, por
serem consideradas metas dúbias por não terem muita relevância. As PDP, Políticas de
Desenvolvimento Produtivo são metas de curto prazo a serem cumpridas coincidentes com o ciclo
eleitoral. A crítica está justamente aí. Mudanças em PI só são verificadas em longo prazo. Essa
inconsistência temporal das políticas industriais são sempre adotadas por governos democratas com
intuito de demonstrar sucesso em curto prazo para conseguirem votos e prosseguir com suas
implementações.
Como o tema PI é um tema complexo e que envolve muita leitura e conhecimento de diversos
pontos políticos e econômicos, a população não sabe exatamente do que se trata e de como opinar. A
volta da implantação de políticas industriais no Brasil através do Governo Lula teve relevância não
só do ponto positivo de alguns indicadores econômicos, mesmo que em curto prazo somente, bem
como para aumentar a proposta de debate e conhecimento sobre o assunto de forma geral.
No que se refere às metas do governo, infelizmente elas não ajudam na avaliação da PI adotada
por esse motivo mencionado anteriormente. Junto disso, o PDP recebe críticas por apresentar outros
dois paradoxos:
- promoção deliberada de processos de Fusões e Aquisições que torna mais difícil mudar a
estrutura produtiva.
- fomenta a inovação por parte de empresas privadas e distancia as empresas brasileiras da
inovação, visto que grande parte dos incentivos é captada por multinacionais que acabam investindo
fora do Brasil.
Prova disso foram os processos de F&A de algumas empresas brasileiras que se tornaram
líderes de mercado, inclusive se tornando mais competitivas fora do país. Obviamente foram as
empresas de setores primários, como carne bovina, as mais beneficiadas. Nesse processo, as F&A de
empresas que mais se beneficiaram foram:
- Setor alimentício: JBS/Friboi e Brasil Foods (fusão entre Perdigão e Sadia).
- Setor agroindustrial, higiene e limpeza: Grupo Bertin
- Setor de mineração e metalurgia: Gerdal e Vale
- Setor de bebidas: Ambev
- Setor de petróleo: Petrobrás
- Setor de papel e celulose: união da VCP com Aracruz
Aqui, percebe-se claramente o uso da PI para desenvolvimento dos setores de vantagens
competitivas. Isso favoreceu o Brasil no mercado internacional com uma elevação nas exportações,
saldo favorável da balança comercial, indicadores positivos de economia, diminuição do risco país,
aumento da entrada de capital externo e maior valorização do real.
Os pontos negativos nesse sentido são citados também, como o fato de levar à consolidação
da atual estrutura produtiva, não produzindo e investindo em tecnologia; e aumentando a
concentração das cadeias de produção, replicando no mercado doméstico a lógica da competição
global das multinacionais.
Outro ponto negativo levantado é em relação a não exigência por parte do governo do uso do
conceito de sedes de projetos ou controles do projeto no desenvolvimento de produtos. No setor
automobilístico, por exemplo, ainda prevalece um conjunto de incentivos fiscais do que propriamente
a PI.
Apesar disso, os defensores da PI e críticos de algumas ações do governo, tem dois argumentos
para a mudança na pauta de exportação brasileira:
1-O Comércio mundial concentra-se em produtos de média e alta tecnologia e é o que mais
tende a crescer.
2- Acreditam que a capacidade de inovação de um país passa necessariamente pelo
desenvolvimento de setores tecnológicos. Os Neoschumpeterianos acreditam que para um país
crescer mais rápido precisa produzir tecnologia própria.
Alguns autores mencionam que o melhor para o Brasil são os produtos de média tecnologia,
como equipamentos de transportes, produtos automotivos, químicos, máquinas elétricas. E defendem
também que a inovação não só em produtos deve ser objetivada, mas também a inovação e processos
para o mercado doméstico. Os déficits da balança comercial brasileira concentram-se justamente nos
setores de alta e média tecnologia.
Esse resultado da balança comercial demonstra que o Brasil continua sendo um país rico em
trabalhadores não qualificados e recursos naturais. Os empréstimos, aplicações e financiamentos
sempre, em sua maioria, são realizados pelo BNDES e na indústria de baixa e média tecnologia.
CONCLUSÃO
Através da análise histórica da política econômica do Brasil, percebemos que apesar de alguns
avanços no setor industrial terem sido implementados aos poucos ao longo desses anos, o padrão
brasileiro de competitividade não se modificou de forma considerável.
Percebemos também que o BNDES esteve presente em praticamente todas as grandes F&A
das empresas brasileiras, participando desse processo de internacionalização o que tem pontos
positivos e também negativos, como mencionado anteriormente, o fato da ênfase dos setores de
commodities e recursos naturais que não modifica o padrão brasileiro. Dessa forma, a atuação do
BNDES é incompatível com a própria definição de PI, pois favoreceu a F&A entre empresas do setor
de baixa tecnologia, como a de alimentos, principalmente. Outro ponto negativo em relação a isto é
que com tantos investimentos do BNDES a dívida do governo federal foi elevada.
Dessa forma, vimos pontos positivos e negativos da PI adotada pelo Governo Lula. A
conclusão dos autores mencionados nos dois textos lidos defendem uma PI como a já realizada no
sentido e alcance de amplos setores produtivos devido à diversidade da indústria brasileira, porém,
destacam alguns pontos que deveriam ser analisados melhor pelo governo para que o Brasil não
permaneça apenas refém da mesma estrutura dos anos 1960 e 1970.
A implantação de PI no Brasil, que vise realmente o avanço tecnológico e inovações apresenta
dificuldades pela questão de ser muito discrepante o nível tecnológico de desenvolvimento das
empresas nacionais em relação às estrangeiras, o que dificulta a PI e o fomento à inovação sem que
ocorra discriminação entre empresas domésticas e estrangeiras.
Dessa forma, faz-se necessário que o Governo Brasileiro tenha de forma mais clara os rumos
que se pretende tomar para não se manter refém de baixas tecnologias. O desafio é elevar o padrão
dos setores de vantagem competitiva, mas promover desenvolvimento dos setores de média e alta
tecnologia, para isso, deveria também lançar mão de mecanismos de disciplina de capital, como fez
a Coréia.
Outra sugestão de alguns autores é promover o conceito de sede de projeto para multinacionais
estrangeiras mantenham suas médias e altas tecnologias Brasil. A criação de empresas nacionais com
conteúdo e estratégia voltada para inovação também é incentivada, pois contribui para o
desenvolvimento tecnológico e de inovação, visto que o setor privado é um grande interessado em
produzir e vender tecnologia, como ocorre em países de ponta, como Japão e EUA.
REFERÊNCIAS
Desafios da real política industrial brasileira do século XXI. ALMEIDA, M. IPEA, Brasília,
dezembro de 2009.