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Cézar Sampaio de Lacerda TIA 411.

0698-9 6° A

CARACTERIZAÇÃO DA POLÍTICA INDUSTRIAL

Política industrial consiste no conjunto de atos normativos criados pelos países para promover
o desenvolvimento econômico e ventilar a atividade empresária fundada na produção e circulação de
bens ou serviços. Tais atos tomam a forma de benefícios fiscais ou procedimentos para o incentivo
direto de produção fomentado por entidades paraestatais ou entes de administração indireta que
subvencionam as empresas indiferentemente do estágio de desenvolvimento que se encontram.

A terminologia empregada para as políticas é concretizada em plano cartesiano:

 Eixo X: Aqui o objetivo é afetar o desenvolvimento industrial de forma indireta, do ponto


de vista macroeconômico, para que desenvolva a economia como uma unidade, investindo
em melhorias de infraestrutura como nos setores de transporte, comunicação, educação e
C&T.
 Eixo Y: Age diretamente em setor industrial específico, ou seja, sob a ótica
microeconômica.

Essa regulação pode ser analisada sinteticamente de maneira análoga como abaixo:

 Ortodoxa: Defende a mínima intervenção do estado. Adota a filosofia liberalista;


 Heterodoxa: Poderes estatais maximizados. Aqui a intervenção do Estado não é somente bem
vista como necessária para ampliar a competitividade. Foi adotada no Brasil nas décadas de 60
e 70;
 Reguladora: Ocorre com a nacionalização de setores da economia típica do país, como ocorreu
em alguns países da América Latina no que concerne aos recursos minerais próprios da geologia
constitutiva de seu solo;
 Neoshumpeteriana: Aqui a inovação é vista sob o prisma da estratégia de mercado. Rejeita a
atuação do estado em âmbito direto, e dá ênfase ao incentivo de tecnologias para economia
evolutiva que se consubstanciam basicamente em C&T;
 “APL’s” – Arranjos Produtivos Locais: Aglomerações produtivas para setores de base de
necessidade local e bens não duráveis;
O referido tema é ventilado por polemicas ideológicas, uma vez que se tratam de políticas.
Entretanto, alguns pensadores, essa dicotomia cartesiana não se substancializa uma vez que as
políticas industriais sempre devem ir no sentido de intervenção indireta dando plenos poderes para
que a inciativa privada dê conta do desenvolvimento. Com efeito, as ventilações da literatura
econômica se contrapõe no tema de políticas industriais quando enfrentada a teoria das “vantagens
comparativas” esculpidas por David Ricardo, em que cada Estado deveria focar no aumento da
produção de mercado onde tem, notadamente, vantagem comparativa ao sistema econômico de outros
Estados. Se tomarmos o caso brasileiro como exemplo, caso o modelo único fosse seguido, o setor
de desenvolvimento escolhido seria o primário.
O entendimento majoritário, leva em conta que as políticas industriais são os meios para
superar limitações circunstanciais bem como encontrar novos modos de superar obstáculos à
economia do pais através do desenvolvimento inovador de empresas e mercados, criando singulares
estratégias econômicas e defendendo a diversidade da circulação e produção de bens e/ou serviços.

A POLÍTICA INDUSTRIAL NO BRASIL

Notória é a história do desenvolvimento econômico do Brasil desde o período colonial até a


contemporaneidade. A colônia de exploração fixada pelos países ibéricos na américa do sul fez com
que esta parte do globo tivesse sua produção voltada aos setores primários da subsistência humana,
tendo que, obrigatoriamente, recorrer à exportação para acompanhar o desenvolvimento social do
resto do mundo.
Entretanto, para fins formais, o Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio
Exterior, reconhece apenas que as atividades econômicas em solo brasileiro tiveram inicio em 1808,
quando Dom João VI, Rei de Portugal, Brasil e Algarves assinou a famigerada “carta régia de abertura
dos portos às nações amigas” atendendo às imposições da coroa britânica e em oposição ao
expansionismo napoleônico. Embora tenha tido um fundo escuso, foi a partir desta que o Brasil
adquiriu autonomia no tangente ao comercio exterior, todavia, por ter sua produção focada em
manufaturas obsoletos, se comparado com o restante do mundo, não angariou notoriedade comparada
e passou a exportar, basicamente, matéria prima para que fosse processada na Europa. Resultado:
déficit na balança comercial. No transcorrer do lapso temporal até 1860, com as exportações do café,
assim foi, até que então conseguiu suprir e alcançar o superávit.
Getulio Vargas então inaugurou a força da politica industrial no período entre as Grandes
Guerras, com a estratégia de industrialização por substituição de importações, mas de fato, o governo
Kubitscheck foi o que teve maior importância para o desenvolvimento industrial brasileiro, apostado
na diversidade de produção, privilegiando o desenvolvimento nacionalista e também o
intervencionismo estatal através do BNDE (pai do BNDES) reduzindo, por conseguinte, o coeficiente
de importação versus exportação.
Tudo isso não foi suficiente para que o Brasil se equiparasse às potencias econômicas, já que
não haviam apostas e infraestrutura para a exploração de C&T, e o pais de reduziu a um mero
concorrente agrário e fornecedor de manufaturados enquanto a ditadura congelava o país no tempo
como um medievo.
Com efeito, só após a promulgação da constituição cidadã que houve foco para estabilização
da economia e progressiva abertura comercia, com diminuição da intervenção estatal e ampla atuação
do setor privado. A política industrial voltou a ser debatida com o governo Lula e, atualmente, se
volta para os produtos de média-tecnologia, mas ainda sopesado ao setor agropecuário.
Os estudiosos do assunto sugerem que as políticas industriais do Brasil deveriam caminhas no
sentido de ampliar não apenas a capacidade produtiva, mas também comercial da indústria, criando
empregos em grande escala e, no que for cabível, difundir a pesquisa em C&T para que se reduza a
vulnerabilidade do país frente as companhias internacionais.
Destarte, desacreditamos em políticas restritivamente voltadas à fomentação da inovação
tecnológica, por isso, o brasil voltou-se para a linha neoshumpeteriana, inclusive com a “Politica
Industrial Tecnológica e do Comercio Exterior”, que impulsionou a exportações de serviços de alto
valor agregado, porém teve que se retrair ao setores primários posteriormente para que continuasse a
florescer, uma vez que o pais não tinha infraestrutura para aportar uma indústria com frente em
pesquisas na área de C&T.
É importante ressaltar que as políticas para desenvolvimento industrial, principalmente em
países em desenvolvimento, como o Brasil, encontram a problemática de se optar entre tornar-se um
país com estrutura produtiva voltada para C&T de ponta e exportar os produtos com alto valor
agregado, ou desenvolver a economia que já possui com produtos diversificados e então focar-se em
competitividade dos produtos agropecuários, matéria-prima de base e extração/refinação de minérios.
Superar essa condição e, além disso, se optar por mudar o estilo econômico, realizar com
destreza, é o principal obstáculo para o desenvolvimento econômico nacional

Talvez o grande dilema do Brasil para evoluir quando às PI seja esse. Apesar de as vezes
tentar incentivar os setores de inovação, o país traz as raízes de suas vantagens comparativas que já
estão estabelecidas e beneficiam grande parte da população e do empresariado atuante dos setores.
O governo Lula também lançou mão de alguns planos de metas que receberam críticas, por
serem consideradas metas dúbias por não terem muita relevância. As PDP, Políticas de
Desenvolvimento Produtivo são metas de curto prazo a serem cumpridas coincidentes com o ciclo
eleitoral. A crítica está justamente aí. Mudanças em PI só são verificadas em longo prazo. Essa
inconsistência temporal das políticas industriais são sempre adotadas por governos democratas com
intuito de demonstrar sucesso em curto prazo para conseguirem votos e prosseguir com suas
implementações.
Como o tema PI é um tema complexo e que envolve muita leitura e conhecimento de diversos
pontos políticos e econômicos, a população não sabe exatamente do que se trata e de como opinar. A
volta da implantação de políticas industriais no Brasil através do Governo Lula teve relevância não
só do ponto positivo de alguns indicadores econômicos, mesmo que em curto prazo somente, bem
como para aumentar a proposta de debate e conhecimento sobre o assunto de forma geral.
No que se refere às metas do governo, infelizmente elas não ajudam na avaliação da PI adotada
por esse motivo mencionado anteriormente. Junto disso, o PDP recebe críticas por apresentar outros
dois paradoxos:
- promoção deliberada de processos de Fusões e Aquisições que torna mais difícil mudar a
estrutura produtiva.
- fomenta a inovação por parte de empresas privadas e distancia as empresas brasileiras da
inovação, visto que grande parte dos incentivos é captada por multinacionais que acabam investindo
fora do Brasil.
Prova disso foram os processos de F&A de algumas empresas brasileiras que se tornaram
líderes de mercado, inclusive se tornando mais competitivas fora do país. Obviamente foram as
empresas de setores primários, como carne bovina, as mais beneficiadas. Nesse processo, as F&A de
empresas que mais se beneficiaram foram:
- Setor alimentício: JBS/Friboi e Brasil Foods (fusão entre Perdigão e Sadia).
- Setor agroindustrial, higiene e limpeza: Grupo Bertin
- Setor de mineração e metalurgia: Gerdal e Vale
- Setor de bebidas: Ambev
- Setor de petróleo: Petrobrás
- Setor de papel e celulose: união da VCP com Aracruz
Aqui, percebe-se claramente o uso da PI para desenvolvimento dos setores de vantagens
competitivas. Isso favoreceu o Brasil no mercado internacional com uma elevação nas exportações,
saldo favorável da balança comercial, indicadores positivos de economia, diminuição do risco país,
aumento da entrada de capital externo e maior valorização do real.
Os pontos negativos nesse sentido são citados também, como o fato de levar à consolidação
da atual estrutura produtiva, não produzindo e investindo em tecnologia; e aumentando a
concentração das cadeias de produção, replicando no mercado doméstico a lógica da competição
global das multinacionais.
Outro ponto negativo levantado é em relação a não exigência por parte do governo do uso do
conceito de sedes de projetos ou controles do projeto no desenvolvimento de produtos. No setor
automobilístico, por exemplo, ainda prevalece um conjunto de incentivos fiscais do que propriamente
a PI.
Apesar disso, os defensores da PI e críticos de algumas ações do governo, tem dois argumentos
para a mudança na pauta de exportação brasileira:
1-O Comércio mundial concentra-se em produtos de média e alta tecnologia e é o que mais
tende a crescer.
2- Acreditam que a capacidade de inovação de um país passa necessariamente pelo
desenvolvimento de setores tecnológicos. Os Neoschumpeterianos acreditam que para um país
crescer mais rápido precisa produzir tecnologia própria.
Alguns autores mencionam que o melhor para o Brasil são os produtos de média tecnologia,
como equipamentos de transportes, produtos automotivos, químicos, máquinas elétricas. E defendem
também que a inovação não só em produtos deve ser objetivada, mas também a inovação e processos
para o mercado doméstico. Os déficits da balança comercial brasileira concentram-se justamente nos
setores de alta e média tecnologia.
Esse resultado da balança comercial demonstra que o Brasil continua sendo um país rico em
trabalhadores não qualificados e recursos naturais. Os empréstimos, aplicações e financiamentos
sempre, em sua maioria, são realizados pelo BNDES e na indústria de baixa e média tecnologia.
CONCLUSÃO

Através da análise histórica da política econômica do Brasil, percebemos que apesar de alguns
avanços no setor industrial terem sido implementados aos poucos ao longo desses anos, o padrão
brasileiro de competitividade não se modificou de forma considerável.
Percebemos também que o BNDES esteve presente em praticamente todas as grandes F&A
das empresas brasileiras, participando desse processo de internacionalização o que tem pontos
positivos e também negativos, como mencionado anteriormente, o fato da ênfase dos setores de
commodities e recursos naturais que não modifica o padrão brasileiro. Dessa forma, a atuação do
BNDES é incompatível com a própria definição de PI, pois favoreceu a F&A entre empresas do setor
de baixa tecnologia, como a de alimentos, principalmente. Outro ponto negativo em relação a isto é
que com tantos investimentos do BNDES a dívida do governo federal foi elevada.
Dessa forma, vimos pontos positivos e negativos da PI adotada pelo Governo Lula. A
conclusão dos autores mencionados nos dois textos lidos defendem uma PI como a já realizada no
sentido e alcance de amplos setores produtivos devido à diversidade da indústria brasileira, porém,
destacam alguns pontos que deveriam ser analisados melhor pelo governo para que o Brasil não
permaneça apenas refém da mesma estrutura dos anos 1960 e 1970.
A implantação de PI no Brasil, que vise realmente o avanço tecnológico e inovações apresenta
dificuldades pela questão de ser muito discrepante o nível tecnológico de desenvolvimento das
empresas nacionais em relação às estrangeiras, o que dificulta a PI e o fomento à inovação sem que
ocorra discriminação entre empresas domésticas e estrangeiras.
Dessa forma, faz-se necessário que o Governo Brasileiro tenha de forma mais clara os rumos
que se pretende tomar para não se manter refém de baixas tecnologias. O desafio é elevar o padrão
dos setores de vantagem competitiva, mas promover desenvolvimento dos setores de média e alta
tecnologia, para isso, deveria também lançar mão de mecanismos de disciplina de capital, como fez
a Coréia.
Outra sugestão de alguns autores é promover o conceito de sede de projeto para multinacionais
estrangeiras mantenham suas médias e altas tecnologias Brasil. A criação de empresas nacionais com
conteúdo e estratégia voltada para inovação também é incentivada, pois contribui para o
desenvolvimento tecnológico e de inovação, visto que o setor privado é um grande interessado em
produzir e vender tecnologia, como ocorre em países de ponta, como Japão e EUA.

REFERÊNCIAS

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Disponível em:


http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/noticia.php?area=5&noticia=8219

Desafios da real política industrial brasileira do século XXI. ALMEIDA, M. IPEA, Brasília,
dezembro de 2009.

Retomando o debate: a nova política industrial do governo Lula. FERRAZ, M. B. Planejamento e


políticas públicas, 2009.

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