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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Faculdade de Direito

Análise e Crítica ao Artigo 562 da lei 13.105/15

Cézar Sampaio de Lacerda

411.0698-9

Outubro de 2015

Cézar Sampaio de Lacerda 411.0698-9


Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá,
sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de
reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente
o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.

Parágrafo único: Contra as pessoas jurídicas de direito público não será


deferida a manutenção ou reintegração liminar sem prévia audiência dos
respectivos representantes judiciais.

• Concessão liminar possessória

Cumpre salientar, primeiramente, que este artigo está localizado na


seção II do capítulo III que trata das ações possessórias. O dispositivo ora comentado
trata da concessão in limine de tal pretensão.

Como acréscimo, esclareço que o brocardo “in limine”, de origem


latina, significa, ao pé da letra, “na soleira da porta”, isto é, trata-se de uma analogia a
conceder a tutela antecipadamente, ao “bater às portas do judiciário”.

Sob a ótica do legislador do código de processo civil de 2015, para


que isso ocorra, deverá ser atendido os requisitos do artigo anterior, quais sejam:

Art. 561. Incumbe ao autor provar:

I – a sua posse;

II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III – a data da turbação ou do esbulho;

IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de


manutenção, ou perda da posse, na ação de reintegração.

Assim atendidas, perfeitamente comportará a hipótese de expedição


do mandado liminar, cuja característica preponderante é a sua concessão inaudita altera

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parte, ou seja, sem a oitiva da parte adversa, o que, obviamente, não há de se violar os
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, já que advém de provas de
plano e também visto que o direito do réu é relativo e apenas será postergado, devido à
hipótese de que a ciência prévia do pedido antecipado pode gerar o agravamento da
situação que leva a violação da posse.

Esse já é um entendimento dos nossos tribunais quanto à matéria


como podemos conferir nos julgados abaixo:

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO.


AUDIÊNCIA. JUSTIFICAÇÃO DO RÉU APRESENTADA POR
ESCRITO. CONTESTAÇÃO. APRESENTAÇÃO POSTERIOR.
PRECLUSÃO CONSUMATIVA. INOCORRÊNCIA. RECURSO
DESACOLHIDO. I - Em regra, uma vez realizado um ato, - não
importa se com mau ou bom êxito -, não é possível tornar a
realiza-lo, diante da preclusão consumativa. II - No caso, o réu,
citado, compareceu à audiência, ocasião em que apresentou,
por escrito, alegações que justificariam sua posse. Não houve,
portanto, duas contestações, a atrair a preclusão consumativa,
uma vez que a primeira peça não pode ser reputada como
contestação e nem deveria ter sido entranhada nos autos. III - É
de anotar-se a irrazoabilidade do nosso atual sistema recursal,
que permite venha a um Tribunal Superior, a ocupar-lhe a
pauta, tema de tamanha irrelevância. (STJ REsp 493.048/SP,
Relator: Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
Data de Julgamento: 24/06/2003, T4 - QUARTA TURMA)

AÇÃO REINTEGRATÓRIA DE POSSE. AUDIÊNCIA DE


JUSTIFICAÇÃO. PRAZO PARA CONTESTAÇÃO.
INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 930, PARÁGRAFO ÚNICO DO
CPC. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A ciência que se dá
ao réu acerca da audiência de justificação, prevista no artigo
928, não corresponde a citação para os fins do artigo 213 do
CPC, mas chamamento para acompanhar a assentada de

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justificação. 2. Realizada a audiência de justificação, concedida
ou não a liminar, o autor promoverá a citação do réu para
contestar, sendo que o prazo só terá início a partir da juntada
aos autos do mandado de intimação da decisão que deferir ou
não a liminar, nos termos do artigo 930, parágrafo único do
CPC. Precedentes desta Corte. 2. Recurso especial provido
para anular a sentença e o acórdão. (STJ REsp 890.598/RJ ,
Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Julgamento: 23/11/2010, T4 - QUARTA TURMA)

Caso a inicial não esteja instruída com elementos probatórios


suficientes para que demonstrem a solidez da pretensão, não será possível para o
magistrado compor sua íntima convicção acerca da matéria que o torne apto a antecipar
a tutela jurisdicional relativa à ação possessória de plano.

Nesta hipótese, deverá o juiz designar audiência com a finalidade de


colher, se pertinente, prova oral que o conduza ao deferimento ou não da liminar.

O que tornará tal liminar, concedida após a audiência, diferenciada


quando comparada àquela concedida sem oitiva da parte contrária a partir dos
documentos que instruem a inicial possessória é justamente a formação da certeza do
magistrado a partir da prova oral, que é, sem sombra de dúvidas, aquela que mais
aproxima o Estado-juiz da justiça além das aparências e burocratização que os
documentos geram, tendo em vista que esse tipo de prova não expressa perfeitamente o
sentimento social por trás da lide.

In casu, a atuação do requerido na audiência de justificação delimita-


se pela não apresentação de contestação formal nos termos do art. 335 do mesmo códex,
que ocorrerá a posteriori conforme reza o caput do art. 564:

Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de


manutenção ou reintegração, o autor promoverá, nos 5
(cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo,
contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.

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Entretanto, o requerido não poderá arrolar testemunhas, cabendo
apenas ao autor tal ato. Nada obsta, porém, que estas sejam inquiridas pelo réu,
conforme já consolidado entendimento de nossos tribunais:

REINTEGRAÇÃO DE POSSE – Alegação de violação aos


princípios do contraditório e da ampla defesa em função do
indeferimento da oitiva de testemunhas indicadas pelo réu
durante audiência de justificação – Audiência que
consubstancia direito do autor, caracterizada por contraditório
mínimo – Violação não configurada – Ré que não comprovou,
durante a audiência de justificação, as benfeitorias que
ensejariam seu direito de retenção sobre o imóvel – Recurso
improvido. (TJSP, Ag. 0056322-60.2011.8.26.0000, rel. Des.
Romolo Russo, j. 30.6.2011, DJe 05.07.2011)

• Liminar possessória face pessoas jurídicas de direito público

Neste caso, é inadmissível a reintegração sem que haja prévia


audiência com os respectivos representantes legais.
Esta opção do legislador se deve à homenagem ao princípio da
preservação do interesse público estampado pelo art. 37 da Norma Ápice, conferindo a
presunção de legalidade dos atos administrativos de modo que não é possível tal
concessão in limine, seja perante a administração pública direta ou indireta.
No entendimento de Teresa Arruda Alvim et altro, há que se ater à
hermenêutica literal para a exegese de tal dispositivo, já que a locução “prévia
audiência” importa em prévia manifestação inconfundível com prévia contestação, que
mais se aproxima das defesas prévias próprias daquelas oferecidas pelo poder público,
que não se assemelham a contestação na acepção processual.

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Referências bibliográficas:

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO,


Leonardo Ferres da Silva e MELLO, Rogerio Licastro Torres de: Primeiros comentários
ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Thomson Reuters/Revista dos Tribunais.
2005.

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