Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único: Contra as pessoas jurídicas de direito público não será
deferida a manutenção ou reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.
• Concessão liminar possessória
Cumpre salientar, primeiramente, que este artigo está localizado na
seção II do capítulo III que trata das ações possessórias. O dispositivo ora comentado trata da concessão in limine de tal pretensão.
Como acréscimo, esclareço que o brocardo “in limine”, de origem
latina, significa, ao pé da letra, “na soleira da porta”, isto é, trata-se de uma analogia a conceder a tutela antecipadamente, ao “bater às portas do judiciário”.
Sob a ótica do legislador do código de processo civil de 2015, para
que isso ocorra, deverá ser atendido os requisitos do artigo anterior, quais sejam:
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção, ou perda da posse, na ação de reintegração.
Assim atendidas, perfeitamente comportará a hipótese de expedição
do mandado liminar, cuja característica preponderante é a sua concessão inaudita altera
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parte, ou seja, sem a oitiva da parte adversa, o que, obviamente, não há de se violar os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, já que advém de provas de plano e também visto que o direito do réu é relativo e apenas será postergado, devido à hipótese de que a ciência prévia do pedido antecipado pode gerar o agravamento da situação que leva a violação da posse.
Esse já é um entendimento dos nossos tribunais quanto à matéria
como podemos conferir nos julgados abaixo:
PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO.
AUDIÊNCIA. JUSTIFICAÇÃO DO RÉU APRESENTADA POR ESCRITO. CONTESTAÇÃO. APRESENTAÇÃO POSTERIOR. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. INOCORRÊNCIA. RECURSO DESACOLHIDO. I - Em regra, uma vez realizado um ato, - não importa se com mau ou bom êxito -, não é possível tornar a realiza-lo, diante da preclusão consumativa. II - No caso, o réu, citado, compareceu à audiência, ocasião em que apresentou, por escrito, alegações que justificariam sua posse. Não houve, portanto, duas contestações, a atrair a preclusão consumativa, uma vez que a primeira peça não pode ser reputada como contestação e nem deveria ter sido entranhada nos autos. III - É de anotar-se a irrazoabilidade do nosso atual sistema recursal, que permite venha a um Tribunal Superior, a ocupar-lhe a pauta, tema de tamanha irrelevância. (STJ REsp 493.048/SP, Relator: Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data de Julgamento: 24/06/2003, T4 - QUARTA TURMA)
AÇÃO REINTEGRATÓRIA DE POSSE. AUDIÊNCIA DE
JUSTIFICAÇÃO. PRAZO PARA CONTESTAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 930, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPC. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A ciência que se dá ao réu acerca da audiência de justificação, prevista no artigo 928, não corresponde a citação para os fins do artigo 213 do CPC, mas chamamento para acompanhar a assentada de
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justificação. 2. Realizada a audiência de justificação, concedida ou não a liminar, o autor promoverá a citação do réu para contestar, sendo que o prazo só terá início a partir da juntada aos autos do mandado de intimação da decisão que deferir ou não a liminar, nos termos do artigo 930, parágrafo único do CPC. Precedentes desta Corte. 2. Recurso especial provido para anular a sentença e o acórdão. (STJ REsp 890.598/RJ , Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 23/11/2010, T4 - QUARTA TURMA)
Caso a inicial não esteja instruída com elementos probatórios
suficientes para que demonstrem a solidez da pretensão, não será possível para o magistrado compor sua íntima convicção acerca da matéria que o torne apto a antecipar a tutela jurisdicional relativa à ação possessória de plano.
Nesta hipótese, deverá o juiz designar audiência com a finalidade de
colher, se pertinente, prova oral que o conduza ao deferimento ou não da liminar.
O que tornará tal liminar, concedida após a audiência, diferenciada
quando comparada àquela concedida sem oitiva da parte contrária a partir dos documentos que instruem a inicial possessória é justamente a formação da certeza do magistrado a partir da prova oral, que é, sem sombra de dúvidas, aquela que mais aproxima o Estado-juiz da justiça além das aparências e burocratização que os documentos geram, tendo em vista que esse tipo de prova não expressa perfeitamente o sentimento social por trás da lide.
In casu, a atuação do requerido na audiência de justificação delimita-
se pela não apresentação de contestação formal nos termos do art. 335 do mesmo códex, que ocorrerá a posteriori conforme reza o caput do art. 564:
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de
manutenção ou reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
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Entretanto, o requerido não poderá arrolar testemunhas, cabendo apenas ao autor tal ato. Nada obsta, porém, que estas sejam inquiridas pelo réu, conforme já consolidado entendimento de nossos tribunais:
REINTEGRAÇÃO DE POSSE – Alegação de violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa em função do indeferimento da oitiva de testemunhas indicadas pelo réu durante audiência de justificação – Audiência que consubstancia direito do autor, caracterizada por contraditório mínimo – Violação não configurada – Ré que não comprovou, durante a audiência de justificação, as benfeitorias que ensejariam seu direito de retenção sobre o imóvel – Recurso improvido. (TJSP, Ag. 0056322-60.2011.8.26.0000, rel. Des. Romolo Russo, j. 30.6.2011, DJe 05.07.2011)
• Liminar possessória face pessoas jurídicas de direito público
Neste caso, é inadmissível a reintegração sem que haja prévia
audiência com os respectivos representantes legais. Esta opção do legislador se deve à homenagem ao princípio da preservação do interesse público estampado pelo art. 37 da Norma Ápice, conferindo a presunção de legalidade dos atos administrativos de modo que não é possível tal concessão in limine, seja perante a administração pública direta ou indireta. No entendimento de Teresa Arruda Alvim et altro, há que se ater à hermenêutica literal para a exegese de tal dispositivo, já que a locução “prévia audiência” importa em prévia manifestação inconfundível com prévia contestação, que mais se aproxima das defesas prévias próprias daquelas oferecidas pelo poder público, que não se assemelham a contestação na acepção processual.
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Referências bibliográficas:
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO,
Leonardo Ferres da Silva e MELLO, Rogerio Licastro Torres de: Primeiros comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Thomson Reuters/Revista dos Tribunais. 2005.