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ÍNDICE

Introdução ....................................................................................................... 3

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico ............................................ 6


1.1. Designs Ecológicos ........................................................................... 6
1.2. Planejamento Mestre - Buscando a Cidade Sustentável .................. 16
1.3. Mudanças Climáticas e Pico do Petróleo .......................................... 19

2. Tecnologia Apropriada: Água .................................................................. 31


2.1. A abordagem sistêmica da Água ....................................................... 31
2.2. Captação de Água da Chuva ............................................................ 37
2.3. Tratamento por Brejos Construídos ................................................. 41
2.4. Tratamento baseado em lagoas e tanques ………..........……………. 56

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas ................................................. 63


3.1. Permacultura ..................................................................................... 64
3.2. Agricultura Sustentável .................................................................... 69
3.3. Vida Selvagem, Reflorestamento e Biorremediação da Água ........... 82

4. Tecnologia Apropriada: Energia ............................................................... 97


4.1. Tecnologias de geração de energia .................................................. 103
4.2. Tecnologias de uso eficiente de energia ........................................... 119
4.3. Transporte sustentável ...................................................................... 126

5. Construções verdes e retroajustes ........................................................... 127


5.1. Design simples e compartilhado ....................................................... 130
5.2. Calefação e resfriamento – do ambiente e da tecnologia ................. 131
5.3. Assentamento carbono neutro .......................................................... 135
5.4. Usando materiais locais ..................................................................... 138
Introdução

A combinação das mudanças climáticas e do iminente pico do petróleo com as nossas aspirações
por uma vida mais natural têm fortalecido as Ecovilas como um modelo de Cultura de
Sustentabilidade. A Rede Global de Ecovilas (GEN) aponta a Agenda 21 das Nações Unidas,
elaborada na Rio-92, como um resumo das prioridades objetivos atuais. São elas:

1. Produção orgânica local de alimentos,


2. Fontes de energia renovável,
3. Design permacultural,
4. Construções ecológicas e materiais de consumo, e
5. A capacidade de renovação de fontes de água locais.

Além desses tópicos, nesta Dimensão Ecológica nos concentraremos também no ambiente
construído, na restauração de águas e terras degradadas, nos transportes e nos dejetos líquidos e
sólidos. Também exploraremos o modo como essas disciplnas de design podem ser integradas de
forma coerente em sistemas integrais.

A Rede Global de Ecovilas (GEN) se dedica a atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio


(ODM):

1 - Erradicar a extrema pobreza e a fome.


2 - Atingir o ensino básico universal.
3 - Promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres.
4 - Reduzir a mortalidade infantil.
5 - Melhorar a saúde materna.
6 - Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças.
7 - Garantir a sustentabilidade ambiental.
8 - Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

A Dimensão Ecológica se atém, especialmente, aos objetivos 7 e 8.

Introdução 3
O currículo do Gaia Education possui um excelente panorama geral das ideias por trás dessa
Dimensão Ecológica:

Citação

“Preocupações ecológicas são fundamentais para o planejamento e desenvolvimento de ecovilas e


comunidades sustentáveis. O prefixo “eco” significa “lar” – não no sentido limitado de “casa”, mas
sim em um sentido amplo, referente ao ambiente local que circunda e sustenta. Dessa forma, uma
vila ecológica se integra à paisagem de uma forma benéfica tanto para humanos quanto para o
ambiente à sua volta. Designers devem zelar pelas funções de sustentação da vida que a natureza
desempenha e aprimorá-las sempre que possível. Trata-se de uma estratégia de trabalhar em
conjunto com a Natureza, e não contra ela. A meta final do design de assentamento sustentável é a
criação de “sistemas vivos”: autossuficientes, autossustentáveis e auto-regenerativos- e que
possam florescer sozinhos.”

Para realizarmos a “grande virada” que é a cultura da sustentabilidade, precisaremos repensar a


base dos meios pelos quais as sociedades se sustentam. Nas palavras de R. Buckminster Fuller,
“será necessária uma revolução do design”. Existem evidências de que é tecnologicamente e
socialmente possível reduzir a pegada negativa do homem na Terra.

Para tanto, necessitamos de um novo modo de pensar e planejar (design), junto com um
compromisso pela reciclagem, conservação e pelo uso de fontes renováveis de energia.

Declaração de Visão do Dr. David Orr e do Dr. John Todd

David Orr John Todd

Nenhuma geração jamais enfrentou uma perspectiva tão amedrontadora quanto os jovens que se
tornarão adultos nessa e na próxima década. Eles terão que fazer o que nós, da geração atual, não
pudemos ou quisemos fazer: estabilizar a população mundial, reduzir a emissão de gases
poluentes que ameaçam mudar o clima drasticamente, proteger a diversidade biológica (a média
atual de extinções é de 100 a 200 de espécies por dia), reverter o quadro de destruição das

Introdução 4
florestas úmidas (tropicais e de clima temperado), e conservar solos da erosão em larga escala.
Eles deverão aprender a usar materiais e energia de forma eficiente. Deverão também aprender a
usar a energia solar.

Eles deverão reconstruir a economia para eliminar desperdícios e poluição. Terão que aprender a
conservar recursos para o longo prazo. Eles deverão iniciar a grande missão de reverter, tanto
quanto possível, os estragos feitos ao planeta nos últimos 200 anos de industrialização. E deverão
fazer tudo isso enquanto reduzem a pobreza e a alarmante desigualdade social. Nenhuma geração
jamais enfrentou um desafio tão assustador.

Esses desafios farão com que aprendamos a trabalhar com e dentro dos ciclos biogeoquímicos e
dos processos vitais da terra. A mente industrial tem como objetivo o uso da tecnologia para
reformar. Uma abordagem melhor seria desenhar nossas economias, cidades, agricultura,
engenharia florestal, transportes, tecnologias e cultura em harmonia com os padrões, ciclos e
processos naturais. Para tanto é necessário uma ciência de design ecológico que vá contra a visão
disciplinarista e os compromissos de base da universidade contemporânea, assim como contra a
lógica reducionista de grande parte da ciência atual.

Em agradecimento a John Todd e David Orr pelo seu artigo sobre a Arte do Design Ecológico.

Introdução 5
1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico

Tendo como base o tema “Construindo uma Cultura de Sustentabilidade”, essa seção foca no
“todo”. Em vez de conceitos específicos de design, abordaremos princípios e ideias gerais do
design ecológico. Isso requer atenção para o sistema, o “todo” onde esse design se encontra.

O International Futures Forum afirma que:

“A escala global de interconectividade e interdependência resultou em um salto na complexidade,


incerteza e velocidade de mudança no meio em que operamos. Muitos dos conceitos nos quais nos
baseávamos para dar sentido a nossa visão de mundo não se aplicam mais. Pode-se dizer que
estamos em uma “emergência conceitual”. Em resposta, organizações, comunidades e governos
estão adotando antigas estratégias: intensificação de processos padrão, fortalecimento do centro,
valorização das competências essenciais, priorização de resultados de curto prazo e foco em
objetivos realistas.”

Em resposta a essas questões, o IFF desenvolveu um “Modelo de Mundo” que analisa as ligações
entre aspectos centrais do nosso mundo, dentro de um sistema integrado complexo.

Se estivéssemos projetando um sistema de água com uma abordagem sistêmica integrada, por
exemplo, deveríamos estudar todas as conexões mostradas no “World Model Chart” (Mapa do
Modelo de Mundo). O projeto se localiza na bioesfera e será muito influenciado pelo clima, o
comércio é um possível cliente, há uma conexão com a agricultura e uma demanda de energia, e
assim por diante. Essa abordagem foca nos principais fatores do design e sua perspectiva global e
examina a perspectiva global, assim como na relação do projeto com os sistemas vivos (também
conhecidos como o “Sistema Gaia”).

1.1. Designs Ecológicos


A utilização de princípios e tecnologias do design ecológico no ambiente construído tem se tornado
uma prioridade, graças à crescente consciência sobre os problemas ambientais globais. Esses
problemas surgiram, em grande parte, devido às práticas de construção e utilização de energia do
mundo desenvolvido.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 6


A nova agenda ecológica para o design de construções sustentáveis insiste na eficiência
energética em todos os níveis e aspectos do ambiente construído, dentro de um modelo ecológico
cuidadosamente desenvolvido. Novas tecnologias construtivas e formas de design são
correlacionadas com uma abordagem sistêmica dos aspectos biológicos e minerais do nosso
ambiente. Muitas empresas de consultoria oferecem serviços nesse campo (a Universidade Robert
Gordon, de Aberdeen, Escócia, é um exemplo).

Mapa dos Princípios de Design de Ecovilas

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 7


A visão geral do design ecológico se vale de cinco filosofias/metodologias para atingir o
desenvolvimento sustentável:

1. Permacultura – design inspirado pela ecologia

2. Economia Ecológica – o equilíbrio entre os quatro capitais

3. Design de Restauração Ambiental – importância do local e biofilia

4. Engenharia Ecológica – a natureza é a caixa de ferramentas

5. Ecologia Industrial – processos cíclicos vs. processos lineares

Todas elas contribuem com excelentes abordagens inspiradoras e trazem fortes conexões
acadêmicas.

Esta seção, portanto, aborda o Planejamento Mestre e o uso de protocolos de design e indicadores
de sustentabilidade como ferramentas para a implementação de projetos. As vantagens da
integração de instalações são descritas. A importância da compreensão das escalas tecnológicas
apropriadas é abordada. A parte final trata da relevância da relocalização versus centralização no
design urbano. No livro de John e Nancy Todd, “From Eco-Cities to Living Machines – Principles of
Ecological Design”, são apresentados os seguintes preceitos:

 Que o mundo vivo seja a matriz de todo o design;

 Que o design obedeça, e não desrespeite, às leis da vida;

 Que a equidade biológica determine o design;

 Que o design reflita a biorregionalidade;

 Que projetos sejam baseados em fontes renováveis de energia;

 Que o design seja sustentável, pela integração dos sistemas vivos;

 Que o design co-evolua com o mundo natural;

 Que as construções e o design auxiliem na cura do planeta;

 Que o design siga uma “ecologia sagrada”.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 8


Permacultura

Nos anos 70 Bill Mollison e David Holmgren desenvolveram a Permacultura, uma filosofia de
design integrado e sistêmico, como uma resposta aos sistemas econômicos destrutivos, aos
crescentes danos ao meio ambiente e à alta taxa de consumo de recursos naturais e não
renováveis.

Design permacultural. Fonte: Designed Visions

Permacultura se refere à criação de assentamentos humanos sustentáveis. É uma abordagem


tanto filosófica quanto prática do uso da terra, integrando microclima, plantas funcionais, animais,
solos, gestão da água e necessidades humanas em sistemas complexamente integrados e
altamente produtivos. A ideia é a cooperação com a Natureza e com o outro, o cuidado com a
Terra e o ser humano e uma busca pelo desenho de ambientes que possuam a diversidade,
estabilidade e resiliência de ecossistemas naturais, com o objetivo de regenerar áreas danificadas
e preservar ecossistemas que permanecem intactos. A Permacultura é o design correto, baseado
numa ética ambiental.

Tem sido usada para projetar edifícios, fazendas, jardins e vilas, bem como no planejamento de
negócios, indústrias, organizações e educação.

Pode-se dizer que a Permacultura é o design do bom senso, inspirado na ecologia.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 9


Após a publicação do livro Permacultura Um (Permaculture One), Mollison e Holmgren expandiram
e aprimoraram suas ideias, planejando, cada um, centenas de “propriedades permaculturais”, e
escrevendo outros livros. Mollison deu palestras em mais de 80 países, e seu Curso de Design de
duas semanas (PDC) educou centenas de estudantes. No início dos anos 80 o conceito de
Permacultura se expandiu enormemente.

Em 2002, David Holmgren lançou seu livro Permacultura – Princípios e Caminhos Além da
Sustentabilidade (recém editado no Brasil), que sistematizou seus princípios e ampliou o conceito
em todas suas múltiplas aplicações.

Anteriormente, o foco era a construção de sistemas agrícolas sustentáveis, e desde então isso foi
expandido para uma teoria complexa e holística, com o objetivo filosófico e as ferramentas práticas
para criar habitats humanos sustentáveis.

Desde sua criação, há mais de 30 anos, a Permacultura tem se mostrado uma abordagem bem
sucedida para a criação de sistemas sustentáveis, podendo ser implantada em qualquer cultura e
zona climática.

Presente no Brasil desde 1993, já é muito difundida em institutos e comunidades, com uma grande
oferta de cursos e vivências. O site www.permacultura.org.br congrega várias das muitas iniciativas
em curso no país.

Economia Ecológica

Os princípios do design ecológico estão inseridos dentro do paradigma econômico contemporâneo


denominado Economia Ecológica (Dr. Robert Constanza). Ele reconhece quatro capitais ou
recursos. No passado, o capital “construído” cresceu às custas dos recursos “naturais”, e
frequentemente do nosso capital “social”, por meio das atividades políticas. O objetivo agora é criar
assentamentos sustentáveis e bem-estar humano pelo aumento, ou pelo menos sem a diminuição,
desses capitais, enquanto se acumula outros. Essas ideias são importantes para o
desenvolvimento de comunidades sustentáveis.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 10


Bem estar humano sustentável é criado pela otimização dos quatro tipos básicos de capital.
Fonte: Gund Institute for Ecological Economics

Os quatro tipo de capitais:

 Construído (infraestrutura e construções)

 Natural (ambiental)

 Social (qualidade de interações)

 Humano (habilidades e educação)

Robert Constanza:

“Se quisermos avaliar a economia “real” (tudo o que contribui com o verdadeiro, sustentável, bem-
estar humano) em contraposição a somente a economia “de mercado”, temos que levar em conta
as contribuições extra-mercado ao bem estar, que vêm da natureza, da rede familiar, amigos e
outras relações sociais em vários níveis, assim como da saúde e educação. Um modo conveniente
de resumir essas contribuições é agrupá-las em quatro tipos básicos de capital que são
necessários para manter a economia real, que produz bem estar humano: capital construído,
capital humano, capital social e o capital natural.

A economia de mercado engloba principalmente o capital construído (fábricas, escritórios e outras


estruturas e seus produtos) e parte do capital humano (custos do trabalho), mas só considera por
alto os outros dois.

O capital humano consiste na saúde, conhecimento, e todos os atributos dos indivíduos que
permitem sua interação em uma sociedade complexa. O capital social inclui todas as conexões
formais e informais entre indivíduos: família, amigos, vizinhos, assim como instituições sociais em
todos os níveis, tais como igrejas, clubes, governos locais, estaduais e nacionais, ONG’s e
organizações internacionais. O capital natural inclui os ecossistemas do mundo e todos os serviços

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que eles fornecem. Serviços de ecossistemas ocorrem em muitas escalas, desde a regulação
climática em escala global, prevenção de enchentes, formação do solo, ciclo de nutrientes,
recreação, e serviços estéticos nas escalas regionais e locais.”

Quando um projeto está sendo desenhado, deve-se tomar cuidado de avaliar o impacto das
atividades iniciadas em um dos quatro “capitais” em relação aos outros. O Instituto Gund de
Economia Ecológica da Universidade de Vermont afirma que:

“Esse é nosso trabalho. Substituir a crença no crescimento econômico infinito pelo foco em um
desenvolvimento humano sustentável. Criar abordagens novas e visionárias para os desafios e
oportunidades que nos esperam no século XXI. Redefinir os limites acadêmicos, juntando experts,
professores, estudantes e atores de vários campos de conhecimento para gerar novas ideias e
ferramentas para o desenvolvimento. Iluminar o caminho para uma verdadeira sustentabilidade
econômica mundial por meio do ensino, pesquisa, design e aplicação prática de soluções
econômicas, que gerarão capital natural enquanto rendem lucro ao ser humano.”

Design de Restauração Ambiental

Essa filosofia de design foi criada pelo Professor Stephen Kellert, da Universidade de Yale. Nela,
sistemas naturais e humanos se conectam, unindo a “qualidade de vida” com a integridade dos
sistemas naturais. O ambiente é o mediador entre as necessidades humanas e ecológicas. Essa
harmonia traz vantagens econômicas, sociais, psicológicas e ambientais. O ambiente construído e
sua manutenção utilizam uma grande quantidade de recursos e, portanto, o Design de Restauração
Ambiental afirma que:

Serviços de Ecossistemas - Design de baixo impacto

A Pegada Ecológica é uma forma de quantificar o impacto humano nos serviços de ecossistema
da Terra. Seu cálculo compara a demanda humana e a capacidade de regeneração dos

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ecossistemas. Para isso é feita uma análise das áreas biologicamente produtivas (terrestres e
aquáticas) necessárias para a produção dos recursos utilizados por uma população humana e para
absorver e neutralizar os resíduos correspondentes. Com essa ferramenta é possível estimar o
quanto da Terra (ou até mesmo quantas outras Terras) seria necessário se todos consumissem de
uma determinada forma. Atualmente, a pegada ecológica da população mundial está estimada em
1,3 Planetas Terras – em outras palavras, a humanidade utiliza os serviços de ecossistema 1,3
vezes mais rápido do que a Terra consegue renová-los.

A Pegada Ecológica é comumente comparada à Pegada de Carbono (veja Mudanças Climáticas).


Bons exemplos para a de redução de ambas as pegadas podem ser vistos em www.350.org.

Biofilia e Design Vernacular

A Biofilia e o Design Vernacular são amplamente abordados nessa Dimensão Ecológica,


permeando todo o estudo de “Permacultura”, “Agricultura Sustentável”, “Engenharia Ecológica” e
“Construções Verdes”. A ideia das Ecovilas é desenhar com sensibilidade no trato do ambiente e
ecologia locais e construir usando materiais encontrados na natureza próxima. A Engenharia
Ecológica utiliza sistemas e materiais naturais como um “conjunto de peças”, utilizado para gerar
soluções úteis e bem-sucedidas.

Ecologia Industrial

O velho adágio “Natura mater et magistra” – A Natureza é, ao mesmo tempo, mãe e mestra – é
verdadeiro. A ideia básica é a de que nossos processos industriais e de desenvolvimento podem
ser remodelados com base nos ecossistemas naturais. Essa ideia é trabalhada nos campos de
design ecológico, engenharia ecológica e ecologia industrial.

A Universidade das Nações Unidas chama essa abordagem de “Eco-reestruturação”. A ideia


fundamental é ir além da produção industrial comum e dos modelos de consumo, ambos lineares e

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mecanicistas, e focar em sistemas circulares – mais semelhantes aos ecossistemas naturais.
Dessa forma, uma planta industrial, cidade ou ecovila são projetadas como um sistema vivo, por
sua vez parte integral de uma biorregião maior. Tudo que é consumido e descartado pelas
construções humanas é visto como parte natural dos subsistemas ecológicos, e a natureza ocupa
um espaço vital no processo de design.

“E a natureza selvagem retorna, um lago com nossas cidades refletidas em seus olhos.”

William Stafford

No presente momento, nossos processos industriais consideram o fluxo de energia e materiais


naturais no sistema econômico como a principal forma de se “agregar valor”. As principais
atividades econômicas são, portanto, produzir e consumir. Podemos contrastar essa tendência com
o que ocorre em uma floresta ou um lago em sua maturidade. Nesses sistemas naturais os
processos de produção e consumo, tal como a reciclagem de dejetos e nutrientes, são processos
equilibrados. A decomposição de matéria orgânica que ocorre no solo da floresta recicla nutrientes
e nutre as árvores. O estudo limnológico de um lago é um grande exemplo de interação de diversos
sistemas naturais e suas constantes mudanças ecológicas, mas com um efeito de estabilidade no
ambiente maior. A estabilidade e equilíbrio do sistema são ameaçados apenas quando o
sobrecarregamos o lago com poluentes e excesso de nutrientes dos sistemas humanos.

Os ecossistemas naturais possuem diversas alternativas de ação, podendo assim ser chamados
de sistemas distribuidos. A diversidade de espécies reforça a estabilidade desses sistemas com
redundâncias nas funções ecológicas. Os resultados são auto-organização, auto-reparo, auto-
reprodução e a habilidade de adaptação às perturbações nas condições externas. Se os processos
industriais também possuírem esses atributos, eles serão altamente eficientes e frequentemente
restauradores. Há uma mudança de paradigmas quando começamos a pensar na indústria como
inserida, e não deslocada, na Natureza. É necessário pensar em atividades humanas, econômicas
e industriais como sistemas vivos integrados aos sistemas naturais da Terra.

“É preciso modelar o design do sistema industrial no design dos sistemas naturais... a ecologia
industrial envolve projetar infraestruturas industriais como se estas fossem uma série de
ecossistemas interligados e interagindo como o ecossistema natural global... O objetivo da ecologia
industrial é interpretar o sistema natural, adaptá-lo e aplicá-lo ao design de sistemas humanos.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 14


Dessa forma, é possível atingir um padrão de industrialização não apenas mais eficiente, mas mais
intrinsicamente ajustado às tolerâncias e características do sistema natural.”- Tibbs, 1992

Engenharia Ecológica

Os princípios básicos da área da engenharia ecológica foram apresentados por Howard T. Odum
em seu livro “Environment Power and Society”, há mais de trinta e cinco anos. A ideia é a de que,
além de basear sistemas humanos na Natureza, podemos utilizar ecologias integradas para
executar tarefas úteis. Tecnologias vivas diferem de tecnologias mortas pelo fato de seus principais
componentes estarem vivos. Diferentes ecologias podem ser conectadas para lidar com muitos
recursos, para auto-gerenciarem uma série de funções internas circulares e fornecerem uma
variedade de produtos. Nas palavras de Howard Odum: “O estoque de espécies do planeta é, na
realidade, uma imensa caixa de peças disponível para o engenheiro ecológico. Uma espécie que
se desenvolveu para uma função determinada pode ser utilizada para diferentes propósitos em
outro tipo de rede, desde que os fluxos de manutenção sejam satisfeitos.” Um exemplo avançado
de design ecológico é o BioAbrigo (Bioshelter), particularmente relevante para o design de ecovilas.
Sistemas ecológicos são utilizados no tratamento de dejetos, cultivo de diversos alimentos,
aquecimento e resfriamento de construções e na geração de energia. Os moradores do BioAbrigo
usam os produtos de uns como recursos para outros, a fim de produzir ou manufaturar seus
produtos de escolha. John e Nancy Jack Todd descreveram essas ideias em seu livro, “From Eco
Cities to Living Machines”.

Na última década, representantes dos campos de ecologia, design e dos campos dos sistemas
complexos da dinâmica do caos passaram a interagir, gerando benefícios mútuos. Essa troca está
começando a influenciar a engenharia ecológica. Kauffman (1993) apresentou estudos sobre o
surgimento da auto-organização na natureza, englobando a escala molecular até os grandes
ecossistemas. Kauffman então formulou uma explicação para a existência da auto-organização e
do auto-desenho na natureza, e a razão pela qual esses atributos podem ser utilizados em
ambientes tecnológicos.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 15


1.2. Planejamento Mestre - Buscando a Cidade Sustentável
Seguimos adiante no processo de apresentar os designs ecológicos. Metade da população
mundial mora em cidades. Um dos maiores desafios que enfrentamos como designers é a escala.
Como um “design de ecovila” pode ser utilizado em centros urbanos para se criar uma “cidade
enquanto ecologia”? O modelo a seguir utiliza a abordagem do planejamento mestre para
solucionar essa questão.

São necessários vários passos até o sucesso do Plano Mestre. O primeiro é o Protocolo de
Sustentabilidade. A equipe de design deve se reunir com o cliente e cobrir os seguintes pontos:

 Visão
 Princípios e Valores
 Objetivos Estratégicos
 Modelos Financeiros, incluindo o fluxo de caixa e capital inicial
 Objetivos de Desempenho (Indicadores de Sustentabilidade)
 Especificações de Design
 Resultados
 Monitoramento (Mapeamento de Resultados)

Rumo à Cidade Sustentável

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 16


Os indicadores de sustentabilidade informam os detalhes e especificações do design. O meio de
realização pode ser via gerenciamento ou empreiteiro ou fornecedores.

Integrando redes de infraestrutura

Instalações de infraestrutura serão projetadas, quando possível, dentro de um design integrado. A


série “Ecotect” de programas de design é uma ferramenta valiosa. O projeto terá o custo estipulado
com metas de orçamento e de fluxo de caixa. Um diagrama típico do processo é dado acima.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 17


Escala e descentralização

A escala é um fator decisivo na escolha de tecnologias. Uma usina de cogeração (calor e energia
combinados = CHP = combined heat and power) só é viável quando dentro de uma grande ecovila,
ao passo que o aquecimento solar funciona perfeitamente para uma casa. No passado, os designs
comuns adotavam um paradigma de centralização das infraestruturas.

A estratégia de descentralização (com projetos estruturados em forma de distritos) traz grandes


vantagens. Em novos conjuntos urbanos um distrito típico abrigaria 5000 pessoas, (ou 2000 casas),
assim como construções comerciais e industriais. Esses distritos seriam interligados. Esse tema é
trabalhado no livro de Declan Kennedy, “Designing Settlements”.

Relocalização

Junto com a estratégia da descentralização vem a relocalização, ou seja, retorno ao que é local.
Dentro desse esquema, criam-se e incentivam-se conexões locais. Um bom exemplo é a
preferência por alimentos produzidos localmente a alimentos disponíveis em supermercados.

O consumo de produtos locais economiza no transporte e sustenta a economia local. A agricultura


sustentada pela comunidade (CSA) é uma forma de reforçar conexões dentro de uma biorregião.

A próxima seção desse módulo cobre o impacto combinado das mudanças climáticas e do pico do
petróleo em nossos processos de design. Após isso exploraremos tecnologias específicas
utilizadas no desenho de ambientes construídos de ecovilas.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 18


1.3. Mudanças Climáticas e Pico do Petróleo

Pico do Petróleo é o termo utilizado ao se tratar da crise de escassez do petróleo. Mudanças


climáticas são o legado quase irreversível de duzentos anos de poluição por combustíveis fósseis.
Uma estratégia de “redução de energia (powerdown) com mais renováveis” poderia aliviar ambos
os problemas, e até mesmo melhorar nosso “bem estar”.

A mudança climática é resumida na seguinte declaração parcial de 16 das maiores organizações


científicas internacionais:

Citação

“O trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) representa o


consenso da comunidade científica internacional sobre a ciência das Mudanças Climáticas. A
conclusão divulgada pelo IPCC é a de que a temperatura média mundial irá aumentar entre 1,4ºC e
5,8ºC até 2100. O resultado das evidências científicas demonstra a necessidade de soluções
eficazes para que se evite mudanças drásticas do clima mundial.”

Mar ártico, 1979 Mar Ártico, 2003

Imagem 6 – Oceano Ártico em 1979 e 2003

O Pico do Petróleo é o que ocorrerá quando as reservas de petróleo mundial atingirem o seu pico.
Após esse pico, a disponibilidade de petróleo irá decair, sem nunca recuperar-se. Geofísicos
proeminentes afirmam que estamos atualmente presenciando esse pico, ou que talvez ele ocorra
em 2015.

Essas duas grandes questões (as mudanças climáticas e o pico do petróleo) estão acontecendo
atualmente, e influenciam o nosso design ecológico, levando ao seguinte:

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 19


1. Conservação e uso eficiente de materiais e energia em todas as fases de construção e
operação;

2. Projetos de neutralização de carbono para todas novas construções. Isso implica no uso de
fontes de energia sem emissão de carbono, como energia eólica e solar;

3. Design que tenha como prioridade o uso de materiais de construção com baixa energia
incorporada;

4. Compensação de toda emissão de carbono de modos responsáveis, como a exportação de


eletricidade neutra em carbono ou a plantação e manutenção de novos conjuntos de árvores.

O ideal, no entanto, é chegarmos ao ponto de deixarmos os combustíveis fósseis (petróleo, gás


natural e carvão natural) substancialmente guardados no subsolo.

Ciclo do Carbono

O ciclo sustentável – a condição normal até a Revolução Industrial – envolve a ciclagem de


carbono na atmosfera, oceanos e terra (florestas, solo e vegetação).

O ciclo do carbono

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 20


Esse ciclo foi afetado pelos gases do efeito estufa – principalmente o dióxido de carbono – emitidos
na queima de combustíveis fósseis. O CO2 emitido na atmosfera atua como uma “estufa”
planetária, possibilitando a passagem de raios ultravioleta pela atmosfera superior. Essa energia
UV é refletida no solo como energia infravermelha, que se acumula graças ao excesso de CO2,
aumentando a temperatura da Terra.

Mudanças Climáticas

O grupo das Nações Unidas que coordena a pesquisa de mais de dois mil cientistas atmosféricos é
denominado Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os gráficos a seguir
demonstram o efeito das mudanças climáticas e a relação entre essas mudanças e os principais
gases do efeito estufa.

Os maiores emissores de gases do efeito estufa são grandes aglomerados industriais –


termelétricas a base de carvão, siderúrgicas, refinarias etc. Essas fábricas se localizam
principalmente no hemisfério norte e em países industrializados.

A temperatura não está aumentando igualmente em todas as partes do mundo – os maiores


aumentos foram registrados no hemisfério norte.

A queima de florestas para a agropecuária também é uma das maiores fontes de emissão de
gases poluentes, exemplo muito comum no Brasil.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 21


Imagem 7 – Variações da temperatura da superfície da Terra

Imagem 7a – Influência humana na atmosfera

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 22


Imagem 8 – Distribuição global de grandes fontes estacionárias de CO2

Imagem 9 – Tendências anuais de temperaturas

Pegada de Carbono

A Pegada de Carbono é uma forma de medir o impacto que nossas atividades causam no meio-
ambiente, principalmente as mudanças climáticas. Ela se relaciona com a quantidade de gases de
efeito estufa emitida em nosso dia-a-dia pela queima de combustíveis fósseis para eletricidade,
aquecimento, transporte etc. A pegada de carbono individual é o cálculo da quantidade de gases
de efeito estufa que produzimos individualmente e é normalmente expressa em unidades de
toneladas equivalentes de dióxido de carbono por ano (tCO2pa).

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 23


Já está estabelecido que quando o material particulado (p. ex. fuligem e produtos de carbono) gerados por
exaustão de veículos, aeronaves e indústria entra na atmosfera, menos luz alcança o solo – isso é conhecido
como “escurecimento global”. Fonte: Carbon Footprint

O gráfico de pizza abaixo mostra os principais fatores que compõem a pegada de carbono de um
indivíduo comum de um país desenvolvido.

Uma pegada de carbono é a soma de duas partes: a pegada primária (vista na parte verde do
gráfico) e a pegada secundária (a parte amarela da mesma imagem).

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 24


1. A pegada primária é formada pelas emissões diretas de CO2, presentes na queima de
combustíveis fósseis para a energia doméstica ou transporte (carros e aviões, por exemplo).
Nós podemos controlar essas emissões.

2. A pegada secundária é o cálculo de emissões indiretas de CO2, durante o ciclo de vida dos
produtos que consumimos – aquelas associadas da sua manufatura até a decomposição.

Alguns fatos:

 No início da Revolução Industrial a concentração de CO2 na atmosfera era de 280 ppm

 No final da década de 50 a concentração de CO2 aumentou para 315 ppm

 A concentração, é atualmente, de 380 ppm.

 A cada ano, a concentração aumenta em 2 ppm

 Existe um consenso na comunidade científica de que o limite dessa concentração deve ser
de 450 ppm

 No ritmo atual esse limite será alcançado em 35 anos, embora a atual taxa de concentração
esteja acelerando em muitos locais

 As pegadas de carbono variam de país a país. A pegada de carbono dos Estados Unidos é
de 20tCO2pessoa/ano (20 toneladas de CO2 per capita por ano), enquanto a do Reino
Unido é de 10,62 tCO2pessa/ano, e a de alguns países africanos é de <0.5
tCO2pessoa/ano.

É importante calcular essas pegadas utilizando ou os dados do consumo ou da produção de um


país, região, ou comunidade. Usar os dois métodos aumenta a possibilidade de omissão ou
duplicidade de cálculo.

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 25


O gráfico abaixo representa as pegadas de carbono no ano de 2000. Desde então as pegadas da
China e Índia têm aumentado drasticamente.

Redução das Emissões de Carbono

Existem dois tipos de emissões:

1. Emissões diretas – aquelas passíveis de controle por indivíduos ou comunidades – uso de


energia, consumo, combustíveis, etc.

2. Emissões indiretas – as que não podem ser controladas por indivíduos ou comunidades-
vindas de ações militares, serviços públicos etc.

O IPCC das Nações Unidas afirma que: “Se as emissões de CO2 atingirem seu pico em 2015 e
depois decaírem em 50% - 85% dos níveis de 2000 até o ano de 2050 o aumento na temperatura
global pode ser limitado à 2 – 2,4ºC acima da temperatura pré-industrial.”

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 26


O gráfico abaixo, da Stern Review, demonstra o impacto econômico das mudanças climáticas. A
conclusão é a de que agir agora nos custaria menos do que adiar qualquer ação.

Imagem 12 – Caminhos de estabilização das emissões

Ao reduzir as emissões globais, atualmente na faixa de 40 GtCO2pa (Giga Toneladas por ano), em
70%, podemos limitar o aumento da temperatura global. Isso significaria seguir a linha vermelha
(450 ppm) do gráfico acimaa. A linha azul é a projeção do que ocorrerá se não fizermos nada- um
aumento das emissões para 80GtCO2pa em 2050. É altamente provável que esse aumento cause
mudanças climáticas incontroláveis.

350 é a linha vermelha para os seres humanos. A ciência mais recente nos diz que, a não ser que possamos
reduzir a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera para 350 ppm, nós causaremos danos imensos e
irreversíveis à Terra

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 27


Contração e Convergência

Segundo essa estratégia, países com uma alta emissão de carbono as diminuiriam, enquanto seria
permitindo que países com baixas emissões as aumentassem levemente. O objetivo é atingir um
número fixo de emissões até 2050, por volta de 3tCO2pessoa/ano. O Global Commons Institute vê
essa estratégia como uma forma viável de atingir nosso objetivo: limitar as emissões de CO2 à
concentração de 450 ppm.

Efeitos das Mudanças Climáticas

O impacto da alta do CO2 e da temperatura global em vários setores está ilustrado no gráfico
abaixo, criado pela Stern Review. Outro efeito das mudanças climáticas é a elevação do nível dos
mares. As causas estão ilustradas no gráfico do IPCC mais abaixo. Um recente estudo de uma
equipe científica do RU/Finlândia mostrou que as previsões são de um aumento de até um metro e
meio no nível dos mares nos próximos 100 anos. As implicações de longo prazo de aumentos de
até 6ºC na temperatura são exploradas no livro “Six Degrees: Our Future on a Hotter Planet”, de
Mark Lynas.

Impactos projetados das mudanças climáticas

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 28


O mundo depois de uma alta de 6ºC

O mapa acima mostra não apenas a possível destruição de diversas comunidades costeiras e o
avanço do oceano por uma elevação de mais de 30 metros nos mares, mas também a
desertificação de grande parte do planeta. Isso causaria migrações extensivas e grande destruição.
Nós, das ecovilas, temos a missão excitante e imediata de liderar na redução de nossas próprias
emissões, trabalhar nas (e pelas) nossas bioregiões e mapear o caminho para um futuro
sustentável. A adaptação às mudanças climáticas é fundamental. Mudanças estão ocorrendo, e
precisamos ao mesmo tempo nos adaptar às adversidades e continuar trabalhando para um futuro
sustentável.

Mudanças climáticas – um arcabouço integrado

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 29


Pico do Petróleo

Ao mesmo tempo em que o clima está mudando, estamos também em uma época onde a
produção de petróleo está prestes a atingir seu pico. Após esse pico, haverá uma queda inevitável
na produção e consumo de petróleo. O gráfico a seguir raz diferentes cenários, e o que mais
diverge nele é o ritmo do declínio.

Um bom site sobre o assunto é www.theoildrum.com. Nele se encontram informações e ideias


sobre o pico do petróleo e desenvolvimento e crescimento sustentáveis, além das implicações
práticas dessas ideias na política, economia e etc.

O pico do petróleo está causando um aumento nos preços energéticos, o que contribui para a
busca de alternativas aos combustíveis fósseis.

Tecnologias locais como aquecimento por biomassa, resfriamento evaporativo e geração local de
energia estão se tornando cada vez mais financeiramente viáveis para as comunidades mundiais.

Cenários do esgotamento do pico do petróleo

1. Abordagem sistêmica do Design Ecológico 30


2. Tecnologia Apropriada: Água

Existem diversas questões problemáticas sobre a água do planeta:

 25 milhões de pessoas morrem todos os anos devido à água contaminada.

 A cada 8 segundos uma criança morre devido à água contaminada.

 1,4 bilhão de pessoas não possuem acesso à água potável.

 2,4 bilhões de pessoas não possuem acesso ao saneamento básico (1/3 da população).

(Dados extraídos de “From Troubled Water” de Anita Roddick e Brooke Shelby Biggs, 2004)

Anita Roddick fundou a rede The Body Shop, uma companhia britânica de cosméticos que produz e vende
produtos de beleza que conformou o conceito de consumo ético. Roddick também estava envolvida em
ativismo e campanhas por causas ambientais e sociais.

Nós possuímos tecnologia suficiente para solucionar esses problemas. Todo esse sofrimento
poderia ser evitado. Porém, essas soluções requerem investimento e comprometimento
internacional. Esta seção explora tecnologias de água relativamente simples e adequadas para
comunidades sustentáveis.

2. Tecnologia Apropriada: Água 31


Mapa de design de água de ecovila

2.1. A abordagem sistêmica da Água

Essa abordagem envolve fechar o ciclo da água com sua reutilização – mais frequentemente para
irrigação. A água potável de ecovilas vem normalmente da coleta de água da chuva ou poços
artesianos. Com frequência é usada energia eólica ou de painéis solares para bombear essa água.

2. Tecnologia Apropriada: Água 32


Após o uso na comunidade, a água é tratada (de preferência por algum sistema natural), como
descrito na próxima seção. Os efluentes tratados são, se necessário, desinfetados e reutilizados,
principalmente em sistemas de irrigação por gotejamento. É seguro utilizar águas recicladas para a
irrigação de árvores, inclusive as frutíferas. Se existirem sanitários compostáveis na vila, o material
húmico pode ser adicionado ao composto e usado para construir o solo dos pomares.

Água – uma abordagem sistêmica

A arte participativa e a educação da comunidade auxiliarão na incorporação da abordagem


sistêmica integrada da água dentro da Ecovila

2. Tecnologia Apropriada: Água 33


Ciclo Hidrológico

A água doce vem das chuvas, que é evaporada, por sua vez, dos oceanos. A chuva cai no solo, flui
entre rios e lagos, reabastece as fontes de águas subterrâneas e é em parte retida no solo. Uma
porção dessa água retorna, também, aos oceanos. (ver imagem do Ciclo Hidrológico).

O ciclo hidrológico

A água é utilizada pela indústria agrícola e municipalidades. O uso insustentável da água tirada de
aquíferos reduz o nível das águas subterrâneas. Deve-se sempre analisar o consumo de água
dentro de uma região – assim como a entrada e escoamento dessa água. Comunidades
sustentáveis podem assim ter a certeza de que estão utilizando águas vindas de fontes
sustentáveis, conservando-as sempre que possível. (Ver o gráfico Contabilidade Conceitual da
Água)

2. Tecnologia Apropriada: Água 34


Contabilidade Conceitual da Água

Com frequência a água utilizada é escoada muito rapidamente. Essa prática não permite que a
água seja guardada para o uso a longo prazo. O risco do fluxo de água poluída também aumenta.

A abordagem sustentável recomenda que se utilize a paisagem para se estocar água, que se
construam pequenas barragens, que se minimize a poluição das fontes, que se conserve florestas
e se trabalhe na reciclagem da água na região. Essas práticas auxiliarão a manter a integridade
social e ecológica da comunidade.

2. Tecnologia Apropriada: Água 35


Com as mudanças climáticas cresce a dificuldade de se prever as chuvas sazonais. Esse
reservatório, localizado na Índia, estava cheio no ano anterior. Note a ausência de vegetação na
paisagem. Práticas restauradores da terra são tratadas adiante, ao longo dessa Dimensão.

Engenharia Ecológica para a Água

A “caixa de ferramentas” utilizada no tratamento de águas residuais consiste normalmente em


plantas, microorganismos, animais filtradores e fungos. Criam-se processos de decomposição
acompanhados por processos secundários de absorção. As bactérias transformam as moléculas
de cadeia longa em substâncias simples não poluentes. Uma pequena quantidade de nutrientes –
nitrogênio e fósforo – é absorvida pelas plantas, o que geralmente representa menos de 5% do
tratamento. O que mais importa é a massa de raízes dessas plantas. Biofilmes de bactérias
crescem nessas raízes possibilitando um “tratamento de crescimento agregado”. Também há
bactérias nadando livremente, que fazem um “tratamento de crescimento em suspensão”. O
crescimento agregado em um substrato vivo aumenta muito a eficiência e estabilidade do biofilme.
Os biofilmes são alimento para a microfauna mostrada no gráfico “comunidades microbianas” na
seção Tratamento por Brejos Construídos. Ao maximizar o tratamento de crescimento agregado, a
quantidade de bactérias mortas ou “lodo” no sistema é minimizada.

Esboço tirado de in the Sustainable Landscape, by Ogden and Campbell

2. Tecnologia Apropriada: Água 36


2.2. Captação de Água da Chuva

A água da chuva é normalmente coletada de telhados e estocada em caixas d‟água adjacentes às


casas. Existem excelentes manuais disponibilizados pela “The International Rainwater Harvesting
Alliance”, assim como em vários sites de permacultura do Brasil. É importante descartar a primeira
água que cai, pois está lavando o telhado, assim como a água da primeira chuva após um período
de seca. A água é então estocada, e mais a frente explicaremos como ocorre o seu uso.

casa com sistema de captação

Muitas vezes se utiliza um filtro de areia entre a caixa d‟água e a casa. Pode-se utilizar a pressão
da água para fazer a retrolavagem do sistema anualmente.

filtro de areia

2. Tecnologia Apropriada: Água 37


Sanitáros Compostáveis

Sanitários compostáveis, ou sanitários secos, são excelentes para ecovilas com poucos
moradores. Em vilas com instalações centrais podem-se construir diversos sanitários em um único
conjunto. Existem alguns tabus sociais contra sanitários secos, de forma que a comunidade deverá
ser consultada antes de adotar-se tal tecnologia. Várias estações de permacultura no Brasil vêm
utilizando esses sistemas com grande sucesso. Em locais onde a água é um recurso escasso ou
caro, sua utilização faz muito sentido.

A International Rainwater Harvesting Alliance foi criada durante a Cúpula Mundial para Desenvolvimento
Sustentável como uma resposta à crescente crise de manejo da água.

Existem também sistemas híbridos, que utilizam sanitários comuns e uma centrífuga que faz a
separação de sólidos. Os sólidos são então compostados em um digestor, enquanto os líquidos
são desinfetados (se necessário) e liberados junto com o sistema de água cinza.

Sistema Híbrido

2. Tecnologia Apropriada: Água 38


Aquatron

O Aquatron consiste em um sanitário comum e o separador Aquatron, que separa dejetos – os


líquidos são tratados e despejados e os sólidos são compostados. O sistema possui as vantagens
de um vaso sanitário (aceitabilidade pública e conveniência) e as de um sanitário compostável (não
existência de efluentes e criação de composto).

Aquatron

1. O Aquatron usa vasos sanitários comuns (com descarga de 3-6 litros) ou modelos especiais
nos quais a urina é mecanicamente separada da água da descarga e do resíduo sólido no
próprio vaso.

2. Quando a descarga é acionada, o conteúdo do vaso é transportado para o Separador


Aquatron onde aproximadamente 98% da fração líquida é separada por meio da força
cinética da descarga, da força centrífuga e da gravidade. O Separador Aquatron não possui
partes móveis.

3. O resíduo sólido (papel e fezes) cai na Bio Câmara onde é compostado por bactérias, e,
caso desejado, por minhocas. Se estas forem usadas, o volume do resíduo sólido será
reduzido em aproximadamente 95%. A necessidade de esvaziar e manusear o resíduo fica
assim reduzida ao mínimo. Opcionalmente, após a instalação do sistema, entre 250 e 300
minhocas são colocadas na Bio Câmara. A quantidade de minhocas necessária para
manter o processo de compostagem será automaticamente ajustada pela natureza. A

2. Tecnologia Apropriada: Água 39


temperatura ótima para a compostagem varia entre 12 e 25 ºC, nível de temperatura
recomendado para casas habitadas o ano todo. O congelamento mata as minhocas. O
processo de compostagem não tem cheiro nem moscas, uma vez que a Bio Câmara é
ventilada e a pequena quantidade de líquido que vai para a Bio Câmara com o papel é
removida por um dreno em sua base. Quando os modelos 90 e 400 do Aquatron são
esvaziados, o rejeito deve ser compostado no solo do jardim com o resíduo normal de
jardim e de cozinha.

4. O liquido segue para uma unidade de Ultravioleta (UV) onde é exposto a essa luz, que mata
bactérias e vírus. Ele pode ser então tratado como água cinza (de banho, lavagem de louça
e lavanderia), o que significa que a água residual pode ser infiltrada no solo ou em um
receptáculo adequado. Como a fração líquida é separada do resíduo sólido, os Sistemas
Aquatron não têm problema com sobrecarga no uso.

Sanitário Multrum

2. Tecnologia Apropriada: Água 40


2.3. Tratamento por Brejos Construídos (Constructed Wetlands)

Brejos construídos podem ser de fluxo superficial (SFCW) ou de fluxo subsuperficial (SSFCW).
Aquele usa plantas em solo sobre um revestimento impermeável. Ele funciona em uma condição
de alagamento permanente. O último possui uma faixa de uns 70cm de cascalho instalada sobre
um revestimento e a água residual flui horizontalmente uns 10cm sob a superfície do cascalho –
daí o “subsuperficial”. As plantas são cultivadas no cascalho com suas raízes na água por baixo.
Alguas plantas típicas desse sistema são os juncos e taboas, Phragmites Australis, Typhus e
Scirpus.

A construção de um brejo de tratamento é relativamente simples e está ilustrada no PowerPoint


“Building a Small Constructed Wetlands”, que está anexado junto com o “Building Large
Constructed Wetlands” (veja ao lado). A biologia é bem complexa, mas o sistema se auto-mantém,
auto-regula e auto-replica. A manutenção biológica somente é necessária a cada dois anos, para
retirar plantas indesejáveis, particularmente árvores que tenham brotado no sistema.

Os dois objetivos principais de sistemas de tratamento naturais de águas residuais que envolvem
biologia são:

 Digestão da matéria orgânica (medida como DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio e


SST – Sólidos Suspensos Totais)

 Redução da amônia para gás nitrogênio por meio do processo de nitrificação e


denitrificação

As comunidades microbianas que irão se estabelecer na instalação de tratamento ocorrem


espontanemanente em sistemas de tratamento de esgotos.

2. Tecnologia Apropriada: Água 41


Microbial commmunities – comunidades microbianas

Processos Biológicos em Águas Residuais

Essa seção apresenta a teoria biológica por trás do design de sistemas de tratamento naturais de
água. É recomendável ter uma noção geral dos processos biológicos que ocorrem nesses
tratamentos, o que ajudará no processo de design e na operação de tais sistemas naturais.

 Digestão Anaeróbica

 Digestão Aeróbica

 Nitrificação

 Denitrificação (ou desnitrificação)

 Rizosfera

2. Tecnologia Apropriada: Água 42


Digestão Anaeróbica

A digestão anaeróbica em águas residuais produz menos biomassa do que os processos


aeróbicos. (Peavy et al. 1985). Existem dois tipos de organismos essenciais na quebra de sólidos
presentes nas águas residuais. As acidificadoras são bactérias anaeróbicas facultativas que
quebram sólidos orgânicos via hidrólise. Após essa quebra, ocorrem processos de fermentação
que transformam essas substâncias em ácidos e álcoois. As metanobactérias são bactérias
exclusivamente anaeróbicas que convertem os ácidos e álcoois em metano (Peavy et al. 1985). As
metanobactérias são delicadas, necessitarão de um pH entre 6,5 e 7,5, e podem ser afetadas por
mudanças ambientais como temperatura, disponibilidade de alimento, etc. Por esse motivo, elas
nem sempre estão presentes em tanques sépticos (ou fossas sépticas).

Tratamento aeróbio acontece em uma SSFCW na metade superior do cascalho no brejo. Também
é intensificado por um montículo de reciclagem. Em um sistema de lagoa ou tanque, aeração é
usada em combinação com sistemas radiculares de plantas e meio geotêxtil para tratamento de
crescimento agregado.

Digestão aeróbica

A remoção de material carbonáceo das águas residuais é medida como redução na demanda
bioquímica de oxigênio (DBO5) da água. Há quatro passos básicos na remoção do material
orgânico, ou redução da DBO do fluxo de água residual, que incluem:

2. Tecnologia Apropriada: Água 43


 A solubilização de grandes moléculas orgânicas;

 A absorção da material orgânica (pequenos compostos) da água residual pelos


microorganismos;

 A conversão de matéria orgânica em material celular (bactéria) e CO2 pelos processos


metabólicos dos microorganismos;

 A transformação do carbono na cadeia alimentar acima e em CO2 através da predação,


alimentação e metabolismo dos protozoários, rotíferos e outros microorganismos;

Para quebrar as grandes moléculas orgânicas, as bactérias costumam produzir exoenzimas que
decompõem os sólidos fora do corpo do organismo. Após a decomposição dos sólidos, os
heterótrofos convertem a DBO carbonácea em biomassa bacteriana e CO2 (50-80%). As bactérias
que são comumente encontradas realizando esse processo incluem Aerobacter aerogene, Bacillus
subtilis, Cellulomonas biazotea, Pseudomonas denitrificans, P. Stutzeri, Nitrobacter winogradskyi,
Rhodopseudomonas palustris, e Nitrosomonas sp. Estes organismos naturalmente se auto-
semearão no brejo a partir do ambiente. A quebra (solubilização) dos sólidos é um precursor da
nitrificação, que requer oxigênio e uma fonte de carbono inorgânico (Ehrlich et al. 1997). A
transferência de material orgânica para a célula e sua subsequente conversão em material celular
geralmente ocorre na zona aeróbica do brejo construído.

Nitrificação

A nitrificação é um processo pelo qual bactérias nitrificantes convertem amônia em nitrato. O


processo possui duas fases. As Nitrosomonas sp. oxidam a amônia, transformando-a no produto
intermediário, nitrito. A Nitrobactéria então transforma o nitrito em nitrato. As bactérias nitrificantes
são consideradas bactérias autotróficas – que utilizam o CO2 como sua fonte de crescimento.

As bactérias nitrificantes são organismos sensíveis ao ambiente. Seu crescimento pode ser
prejudicado por diversos fatores. Esses fatores incluem alta concentração de amônia, baixas
temperaturas, pH fora da faixa entre 6,5 e 8,6 e baixa quantidade de oxigênio (<1 mg/l). O pH do

2. Tecnologia Apropriada: Água 44


sistema pode se alterar drasticamente devido ao processo de nitrificação. A alcalinidade das águas
residuais é importante, pois a cada miligrama de amônia oxidada são necessários 7,14mg de
CaCO3. Se a concentração de alcalinos não for suficiente, a oxidação de amônia diminuirá o pH do
sistema. A adição de alcalinos é raramente necessária no tratamento de esgoto doméstico, de
forma que não representa um problema para o sistema de tratamento de uma ecovila comum.

Ciclo de nitrogênio em brejos

A taxa de nitrificação pode ser afteada significantemente pela quantidade de nitrificantes presentes
nas águas residuais. Quando a concentração de substâncias orgânicas biodegradáveis (medida
como DBO5) está alta, as bactérias heterotrófas (que tem o carbono como fonte principal) dominam
a população bacteriana. Normalmente quando a DBO5 está abaixo de 80mg/l a população de
bactérias nitrificantes é alta o suficiente para dar início ao processo de nitrificação. Portanto a
nitrificação ocorre nos últimos estágios do tratamento.

Para sistemas que necessitam de tratamento avançado de amônia, a possibilidade de reciclar


internamente para um monte de cascalho é excelente para a nitrificação, constituindo-se
primariamente de um filtro-reator aeróbico simples de gotejamento no final do tratamento. Alguma
nitrificação também acontece no brejo construído.

2. Tecnologia Apropriada: Água 45


Desnitrificação

A desnitrificação é a conversão biológica de nitrato em gás nitrogênio, óxido nítrico e óxido nitroso.
Todos esses compostos são gasosos e não são disponíveis para o crescimento microbiano. Assim
esses gases são normalmente liberados na atmosfera. O gás nitrogênio representa 70% de todos
os gases atmosféricos, o que torna a liberação de N2 benigna.

A desnitrificação biológica é uma respiração anaeróbica onde o nitrato (NO3) é reduzido. Bactérias
desnitrificantes são bactérias aeróbicas (podendo ser autótrofas ou heterótrofas) que podem
apresentar um crescimento anaeróbico quando o nitrato é utilizado como receptor de elétrons
(Bitton 1994). A desnitrificação pode ocorrer por duas vias. A via da redução dissimilativa do nitrato
requer condições anóxicas e resulta na liberação de gás nitrogênio a partir da coluna de água
(Reed et al. 1988; Madigan et al. 1997). Sob condições aeróbicas a desnitriricação resulta na via
assimilativa ou acumulação de nitrogênio na biomassa (Bitton 1994; Madigan et al. 1997).

É preferível encorajar a via dissimilativa da desnitrificação de forma a eliminar completamenteo o


nitrogênio do sistema em vez de ser simplesmente reciclado através do sistema na biomassa. Para
que isso ocorra, deve haver uma quantidade insuficiente de oxigênio molecular ou dissolvida
presente, de modo que a bactéria use o nitrato em vez do oxigênio. A taxa da reação de
desnitrificação é relativamente rápida quando não há oxigênio livre presente (< 0,5 mg/l é o ideal).
A taxa de desnitrificação cai a zero quando o nível de oxigênio dissolvido alcança 2,0 mg/l.

Ciclo de carbono em brejos

2. Tecnologia Apropriada: Água 46


O processo de desnitrificação reverte parcialmente os efeitos do processo de nitrificação, no que se
refere à alcalinidade da água. Para cada miligrama de nitrato reduzido em gás nitrogênio, são
gerados cerca de 3,57 mg de alcalinos, na forma de CaCO3.

Desnitricantes necessitam também da presença de matéria orgânica (fonte de carbono) para agir
como doadores de elétrons (ver os diagramas dos ciclos de carbono e nitrogênio abaixo). A
presença de uma fonte de carbono é o principal fator determinante dos processos de
desnitrificação da água (Weier et al. 1994). Exemplos de doadores de elétrons são águas residuais
brutas, metanol, e matéria orgânica em decomposição (Bowmer, 1987; Bitton 1994; Weier et al.
1994). Moléculas orgânicas vindas de solubilização podem ser uma alternativa, mas apresentam
resultados menos eficientes. Se o sistema utlizado for um brejo construído com fluxo subsuperficial,
águas residuais brutas e matéria vegetal em decomposição poderão fornecer o carbono necessário
para o processo de desnitrificação.

Alguns exemplos de desnitrificantes são: Pseudomonas, Bacilos, Espirilos, Hifomicróbios,


Agrobactérias, Acinetobacter, Propionobacterium, Rhizobium, Cornebacterium, Cythophata,
Thiobacillus e Alcaligenes. Porém as bactérias mais comuns nas água residuais são as
Pseudomonas fluorescens, P. Aeruginosa, P. denitrificans e Alaligenes sp. (Smith et al. 1994; Bitton
1994). Esses organismos são facilmente encontrados em solos naturais e ambientes úmidos.

Rizosferas

Todos os processos descritos anteriormente são processos microbianos. Para que os micróbios se
proliferem dentro dos sistemas de tratamento, é necessário criar neles habitats apropriados.
Plantas e meioss artificiais (cascalho e areia) são utilizadas para criar o ambiente necessário para o
crescimento de comunidades microbianas. A nitrificação que transforma a amônia em nitrato ocorre
nos biofilmes que envolvem os componentes da rizosfera. As zonas de raízes de plantas mais altas
tem um papel fundamental no processo de tratamento, fornecendo fontes endógenas de carbono
fundamentais para sistemas biológicos.

2. Tecnologia Apropriada: Água 47


A extensa rede de raízes (também conhecida como rizosfera) nas ecologias plantadas fornece
estrutura e nutrientes para diversas comunidades microbianas. As raízes liberam materiais
orgânicos na rizosfera, tais como hormônios, antibióticos, quelatos metálicos, nutrientes,
componente húmicos e polissacarídeos (Todd et al, 1996).

As plantas também cumprem uma função mecânica: suas raízes estão sempre formando novos
caminhos nos brejos construídos de fluxo subsuperficial (SSFCW), por onde a água circula. Essa
circulação mantém o fluxo de água nos brejos. Algumas plantas também possuem a habilidade de
transferir oxigênio armazenado em seus caules aéreos para suas raízes. Essa exposição contínua
da matéria orgânica ao ar gera a sua decomposição e oxidação, potencializando o processo de
nitrificação.

Algumas plantas comumente utilizadas nos brejos construídos de fluxo subsuperficial (SSFCW) são
a Taboa, o Junco e Caniço (Phragmites). Outras plantas locais disponíveis podem ser utilizadas
para aumentar a biodiversidade e cor do sistema. A família Liliaceae é um bom exemplo.

Seção de uma raiz

As plantas possuem uma grande superfície de raiz, o que aprimora o crescimento agregado por
meio de biofilmes, que crescem nos capilares das raízes

2. Tecnologia Apropriada: Água 48


Implantação de brejos construídos

Brejos construídos de fluxo horizontal para o tratamento de águas residuais precisam de um


estágio de pré-tratamento para diminuir a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e os SST
(Sólidos Suspensos Totais) que entram, caso contrário o brejo pode ficar sobrecarregado na
entrada, o que pode causar entupimento.

As dimensões corretas são essenciais, com uma proporção entre comprimento e largura de não
mais que 2:1.

Típico fluxograma do processo de uma estação de tratamento SSFCW

Para sistemas entre pequenos e médios (<2000 usuários), tanques sépticos (fossas sépticas)
podem ser economicamente viáveis Para sistemas grandes um pré-tratamento pode ser feito por
um clarificador primário ou filtro grosso.

2. Tecnologia Apropriada: Água 49


Esquema de um filtro grosso, da Natural Systems International

É essencial que dimensionar corretamente o brejo construído. Os fatores determinantes para esse
cálculo são os fluxos, entrada de influentes, temperatura da água e qualidade desejada para saída
dos efluentes.

Tanques sépticos precisam ser esvaziados quando estão 2/3 cheios de lodo sedimentado. Uma
tecnologia eficiente e econômica é a das zonas de raízes de fluxo vertical (Vertical Flow Reed Bed).

Tanques Sépticos

O sistema séptico funciona permitindo que as águas residuais se separem em camadas e


comecem o processo de decomposição enquanto estão contidas no tanque, ou fossa. Bactérias,
presentes em qualquer sistema séptico, passam a digerir os sólidos depositados no fundo do

2. Tecnologia Apropriada: Água 50


tanque, transformando até 50% desses sólidos em líquidos e gases. Quando o volume de líquidos
atinge o nível do cano de escoamento do tanque eles entram no sistema de descarga.

Sistemas sépticos não metabolizam todos os materiais presentes no sistema. Sólidos que não são
metabolizados por bactérias (cascalho, areia, plástico, gorduras, etc.) se acumulam nas paredes do
tanque, precisando ser removidos periodicamente.

Os tanques sépticos iniciam a redução de matéria orgânica (DBO e SST) através da digestão
anaeróbica. Eles removem pouco nitrogênio do sistema, a não ser que efluentes nitrificados sejam
reciclados para uma maior desnitrificação.

Os sistemas sépticos eventualmente recebem plásticos e outros materiais não-biológicos trazidos


pela rede coletora. Os tanques armazenam matéria orgânica e não-orgânica ao longo do tempo.
Esses dejetos necessitam tratamento.

Tanque/fossa séptica

2. Tecnologia Apropriada: Água 51


Brejos construídos com fluxo subsuperficial

Os efluentes que adentram um brejo construído fluem dos tanques sépticos (ou de outra tecnologia
de pré-tratamento) e são distribuídos por um conjunto de tubos na camada subterrânea (como um
barrilete), por baixo de uma camada de cascalho. Após isso, as águas residuais fluem do subsolo
para outro conjunto de tubos de efluentes, enquanto o nível da água é mantido a oito centímetros
da camada de cascalho. A camada de cascalho se encontra em uma profundidade de setenta e
cinco centímetros. A borda é desenhada para suportar picos de precipitação. Espécies apropriadas
são plantadas no brejo. A manutenção é mínima, sendo necessária apenas a retirada de ervas
daninhas e podas eventuais, para manter um bom aspecto.

zona de raízes

Para um tratamento mais eficaz da amônia, um montículo de reciclagem é instalado sobre os tubos
de entrada. Trata-se de um montículo de cascalho sobre o cascalho do brejo. A água é reciclada
nesse montículo gotejando por ele através do cascalho, trazendo ar e o oxigênio para a nitrificação
da amônia.

Os brejos construídos são uma tecnologia eficiente de tratamento de águas residuais, e foram
criados com a partir dos sistemas naturais. Alguns dos processos biológicos que ocorrem no brejo
incluem a digestão aeróbica de matéria orgânica (DBO), a absorção de nutrientes por plantas,
nitrificação de amônia e denitrificação de nitrato. A quantidade da absorção de nitrogênio e fósforo
por plantas no brejo é mínimo. A remoção de fósforo costuma acontecer por precipitação com

2. Tecnologia Apropriada: Água 52


cátions do solo (Ca2+, Al3+, or Mg2+) ou adsorção junto a partículas de solo (Markantonatos et al.
1996). Os brejos também aumentam a claridade da água, graças à redução de SST. Os brejos
possuem a capacidade de reduzir patógenos e poluentes.

Há uma longa pesquisa sobre o tratamento de águas residuais por brejos construídos na Europa e
Estados Unidos. Os parâmetros de design foram estipulados após centenas de testes, incluindo
projetos chefiados pelo US Army Corp of Engineers e a Tenn essee Valley Authority, The Water
Research Council no RU, Universidades de Southampton e Middlesex, o Departamento de
Engenharia Civil de UC Davis na Califórnia e muitas outras universidades e empresas de
engenharia.

No Brasil, O Instituto Ambiental (www.oia.org.br). ONG baseada em Petrópolis, RJ, possui grande
experiência em brejos construídos, tendo construído vários sistemas muito bem sucedidos,
chamados biossistemas. Cada região deverá estipular os usos apropriados do efluente tratado.

Dimensionamento dos brejos para tratamento de esgoto após pré-tratamento


em tanques sépticos

O tamanho de um brejo construído é calculado levando-se em conta equações de processos


dependentes de temperatura. A tabela abaixo irá demonstrar a aplicação em Ecovilas, mas os
cálculos devem ser checados por um engenheiro qualificado antes da construção.

A medida de per capita (pc) é utilizada ao medir-se o influxo diário de água residuais no sistema de
tratamento. É de 60 gramas de DBO por dia, o que tipicamente se trata de 200 litros com uma
concentração de DBO de 300mg/l (partes por milhão). Para o mesmo fluxo diário, a amônia
geralmente sera de ~35mg/l e os sólidos suspensos totais (SST) 250mg/l.

Como será dito, quanto maior a temperatura das águas residuais, maior a atividade biológica e
consequentemente, melhor o tratamento. Dessa forma, o brejo para uma mesma escala de
tratamento será menor em um país tropical do que em um país frio.

2. Tecnologia Apropriada: Água 53


A tabela abaixo mostra o tamanho da área útil do brejo (entre os barriletes) per capita em quatro
diferentes temperaturas de influentes de águas residuais. As concentrações de tratamento de
efluentes também são mostradas. É recomendado que seja acrescentado 30% de área ao longo
das beiras do sistema, para a facilidade o acesso e etc. Brejos construídos são normalmente
construídos entre 50 e 100m da casa mais próxima, apesar de não haver odor algum se bem
executados. Para pequenos brejos (menos de 50 pessoas), a pegada efetiva deverá ser calculada,
uma vez que as barragens de terra para contenção podem ser um maior percentual da área total
necessária.

Dimensionamento aproximado de SSFCW

Opção futura de zona de raízes de fluxo vertical para tratar efluente séptico

O lodo são os sólidos e a matéria orgânica descartados de sistemas baseados em tanques de


aeração. É composto principalmente de bactérias mortas e alguns inorgânicos, como areia e
partículas finas.

O efluente séptico é o lodo que sedimenta no fundo das fossas sépticas. Ambos possuem um DBO
maior que 10.000mg/l e um cheiro forte. Um modo econômico de tratá-los é com uma zona de
raízes de fluxo vertical. Trata-se de um filtro de areia plantado, dentro de um revestimento
impermeabilizante. O lixiviado é uma água residual com alta DBO e baixo SST que se coleta na

2. Tecnologia Apropriada: Água 54


parte baixa da zona de raízes. Normalmente é bombeada para uma instalação de tratamento de
esgotos, se próxima, ou para um brejo construído e fluxo subsuperficial especialmente construído.

Os poros da areia da zona de raízes de fluxo vertical são mantidos abertos pelos caules das
plantas, brotos e raízes. As plantas melhoram a eliminação da água procurando a umidade, e
também mantendo o efluente séptico aberto ao ar, com o movimento das plantas causado pelo
vento. Ao mesmo tempo, as raízes tratam o lodo biológico na areia.

O lodo, como sólidos orgânicos, acumulará na superfície do sistema com o tempo. Uma taxa de
acumulação comum é de 50kg de peso seco de lodo por m² de zona de raízes por ano. A
exposição contínua do lodo ao ar promove sua decomposição e oxidação. Os volumes de lodo
serão reduzidos entre 90 e 98%. A principal forma de redução é pela eliminação de água. A
mineralização também é significativa (Kim 1993, Nielsen 1993, Reed et al 1995).

A zona de raízes é desenhada com a borda livre, que permite ao lodo acumular para muitas
aplicações. Ela pode ser desenhada para limpeza a cada dez anos. Se e quanto a limpeza se torna
necessária, o material acumulado é raspado da sua superfície. O lodo tratado, que é agora um
material compostado estabilizado, é bom para aplicação na terra, especialmente em paisagismo e
manejo florestal. Zonas para tratamento de lodo e efluente séptico costumam ter cheiro durante o
seu carregamento. Contudo, entre 15 minutos e 1 hora, cheiros ruins são substituídos por um
cheiro de terra, similar ao de solo e serrapilheira de uma floresta. Durante o período de
carregamento, a maior parte dos cheiros é aprisionada pelas folhas e caules. A maioria das
pessoas não consegue sentir cheiro algum a 50 ou 100 metros, na direção do vento. A zona pode
ser implantada entre árvores para reduzir ainda mais a possibilidade de cheiros desagradáveis.
Não dever haver edificações num raio de 100 metros dessa zona de raízes. A aeração do lodo ou
do efluente séptico antes da aplicação na zona de raízes vai estabilizar o material e reduzir
bastante os odores.

2. Tecnologia Apropriada: Água 55


2.4. Tratamento baseado em lagoas e tanques

São descritos nesta seção duas configurações de sistemas naturais. As duas se baseiam nas
reações biológicas descritas na seção sobre brejos construídos. A primeira é um sistema de
cascata em lagos, com ecologias flutuantes. A segunda é um sistema mais compacto e tecnológico
que utiliza tanques: o Fed Batch Reactor (FBR), reator abastecido a bateladas.

Ecovilas como uma cultura de sustentabilidade

2. Tecnologia Apropriada: Água 56


The Ecovillage Institute é uma parceria internacional de design e engenharia ecológica baseada
na Escócia com projetos bem sucedidos na Índia, Hong Kong, Rússia, Bolícia, EUA e Reino Unido.
A EVI oferece serviços na reciclagem e tratamento de águas residuais, estratégias de neutralização
de carbono, desenho de ecovilas e treinamentos práticos.

Sistema de tratamento natural baseado em lagoas com ecologias flutuantes

Esse sistema relaciona princípios biológicos aquáticos aos brejos construídos. Apesar de utilizar
energia para arejar e manter o sistema, seu design é mais avançado e ele produz uma pegada
geralmente menor. Existem cinco principais componentes:
 Estrutura Flutuante, que sustenta os sistemas ativos
 Aeração, seja com um difusor “fine bubble” ou um aerador tipo venturi submersível
 Áreas plantadas flutuantes, com raízes aquáticas
 Mídias geotêxteis para otimizar o crescimento de plantas
 Bioaumentação (bioaugmentation) conforme necessário

Floating Island International fornece ferramentas testadas de ponta para manejo ambiental na forma de
brejos flutuantes e ilhas flutuantes para organismos públicos e privados mundo afora.

2. Tecnologia Apropriada: Água 57


Um sistema de lagoa produz uma pegada física menor do que o brejo construído, mas com os
mesmos resultados. Os custos de operação são mais altos devido à aeração do sistema. Os
sistemas podem ser projetados para gerar o mínimo de detritos. Os detritos são digeridos como
parte da ecologia do lago. A remoção de detritos pode ser feita a cada dez anos. A flutuação é
normalmente feita com Canos de Polietileno de Alta Densidade (HPDE ou PEAD). Grandes
extensões de canos podem ser soldadas no próprio local.

Como um sistema de lago se compara com tecnologias “convencionais”, como a de lodo ativado?

 Menor custo

 Sistemas mais robustos e simples de se operar

 Menor quantidade de energia necessária para concluir operações

 Menos detritos

 A soma dos fatores acima significa custos menores, e

 Menor custo no ciclo de vida

 Utiliza mais terreno

 É um sistema belo e natural.

Diagrama da seção de um sistema com plantas flutuantes

2. Tecnologia Apropriada: Água 58


Sistemas com base em tanques

Em sistemas com tanques, os dejetos são armazenados em um ou mais tanques, onde é feito um
tratamento controlado de ciclo curto (normalmente de ciclos de seis horas). A abordagem da
Organica descrita abaixo é um bom exemplo de uma abordagem ecológica do design de sistemas
de tanques. Sistemas de brejos construído ou baseados em lagoas são localizados ao ar livre, e
costumam ter uma pegada física elevada e baixa pegada ecológica. No tratamento de águas
residuais o tamanho físico e o uso de energia se compensam: sistemas de tanque são mais bem
projetados e menores, mas usam uma quantidade maior de energia. A tabela em “Tratamentos
adequados para comunidades sustentáveis” ilustra isso.

A Organica combina a biologia de tratamentos naturais a tecnologias avançadas e


computadorizadas para fornecer o sistema de tratamento de águas residuais mais avançado
possível. Essa tecnologia é mais apropriada para sistemas com mais de 3000 integrantes e
localizados em ambientes urbanos. A pegada física é 15 vezes menor do que a de um brejo
construído. Há uma troca entre a quantidade de terra utilizada e energia necessária para a
operação. (www.organica.hu)

Organica, da Hungria – Reator alimentado a bateladas – Fed Batch Reactor (FBR) – Típica unidade Organica

2. Tecnologia Apropriada: Água 59


Esse sistema possui as seguintes características:

- Tratamento por crescimento conjunto, com ecologias plantadas e mídia industrial;

- Tratamento de crescimento em suspensão;

- Ciclos anaeróbicos, anóxicos e aeróbicos;

- Nitrificação em ciclos aeróbicos e denitrificação em ciclos anóxicos;

- Grande absorção de fósforo;

- Sopradores ativados por sensores de oxigênio dissolvido de frequência variável;

Esse sistema possui quatro ciclos de tratamento diários. O curto tempo de retenção resulta em uma
baixa pegada física. Ciclos de tratamento cuidadosamente calculados são controlados por
computadores de acesso remoto. Ventoinhas de aeração com controle de frequência e sensores de
oxigênio possibilitam que o computador otimize a performance energética.

FBR‟s apresentam um desempenho de alto nível. Abaixo está a DBO anual média de 8,2 mg/l com
um influente variável, demonstrando a eficiência do sistema.

Desempenho em DBO

2. Tecnologia Apropriada: Água 60


Tratamentos adequados para comunidade sustentáveis

A maior parte das comunidades rurais pode construir um brejo construído de fluxo subsuperficial
(SSFCW), desde que com alguma orientação quanto ao design e uma boa supervisão. Ao lado
está uma SSFCW em construção em uma ecovila e orfanato russo mantido pela Ecologia. Um
empreiteiro local e as crianças do orfanato a construíram com supervisão de profissionais.

Para locais onde a terra é escassa e há uma quantidade significativa de águas residuais, um
sistema de lagoa ou FBR pode ser interessante. Se houver espaço suficiente para uma lagoa essa
tecnologia será a mais adequada e econômica. Na maioria das grandes cidades e grandes
ecovilas, a opção do FBR, mais tecnológica, traz o benefício do menor custo.

No Brasil, os já mencionados biossistemas do “O Insituto Ambiental” (www.oia.org.br) são uma


alternativa já testada e de grande eficácim, além de excelente custo benefício.

A tabela abaixo contém números aproximados e comparações. Os custos variam de região pra
região. Por exemplo, quando os preços do cascalho estão baixos. SSFCWs custarão menos.
Baixos preços de escavação favorecem as tecnologias de lago e etc.

2. Tecnologia Apropriada: Água 61


Pegada de Carbono e Energia

O gráfico ao lado indica a energia utilizada a cada 4.000 m3/dia de águas residuais tratadas. Brejos
construídos têm o menor gasto de energia e menor pegada de carbono entre todas as tecnologias
expostas. É difícil competir com uma SSFCW no quesito custo de ciclo de vida. O gráfico também
contém os orçamentos de sistemas de lagos e FBRs, e sua comparação com tecnologias
convencionais.

Tabela de energia, comparando tecnologias de tratamento

Exigências de energia e carbono para vários sistemas de tratamento

2. Tecnologia Apropriada: Água 62


3. Sustentabilidade em práticas agrícolas

Introdução

Essa seção contém uma introdução ao conceito de sustentabilidade em práticas agrícolas, ao


papel do ambiente selvagem, à preservação de terras e florestas e à biorremediação de águas. É
trabalhado o conceito de Permacultura como a filosofia que guia essa seção, assim como toda
essa Dimensão Ecológica. Questões práticas como o trabalho agrícola em regiões secas e a
construção de uma ilha de biorremediação também são trabalhadas.

Mapa de Agricultura Sustentável de Restauração

Desde 1979, o Context Institute, uma organização de pesquisa não lucrativa, tem explorado e esclarecido o
que está envolvido na cultura sustentável humana – e como nós podemos chegar lá

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 63


3.1. Permacultura

Essa seção introduz os princípios da Permacultura para o design consciente necessário para um
futuro sustentável. Esse design consiste na cooperação entre homem e natureza, e no cuidado
com a Terra e seus povos. A Permacultura une conhecimentos e habilidades de diferentes práticas
ecológicas – velhas e novas – para gerar soluções sustentáveis para as nossas necessidades
básicas de alimento, abrigo, estruturas sociais holísticas e economias sustentáveis.

Permaculture Activist é um periódico de permacultura onde você pode encontrar informação sobre
design permacultural e muitas soluções práticas para os desafios da vida em
uma época de declínio de energia e pico de tudo.

A Permacultura é um sistema de design cujo objetivo é a criação de ambientes humanos


sustentáveis. A palavra “Permacultura” surgiu da contração de “permanente” e “agricultura”, mas
ampliou-se para a junção de “permanente” e “cultura”. Cultura alguma sobrevive por muito tempo
sem uma base sustentável de agricultura e uma ética do uso da terra. Em seu nível mais básico a
Permacultura lida com plantas, animais, construções e infraestruturas, assim como água, energia e
comunicações. A Permacultura, porém, não se limita a esses elementos em si, mas principalmente
nas relações que podemos criar entre eles pelo modo como os inserimos na paisagem.

Permaculture Magazine é uma revista ambiental de ponta que


vai ao cerne da vida permacultural e sustentável

O objetivo é a criação de sistemas ecologicamente saudáveis e economicamente viáveis, que


suprem suas próprias necessidades e que não exploram ou poluem, e, portanto, são sustentáveis
no longo prazo. A Permacultura une as características inerentes de plantas e animais com as
características naturais de paisagens e estruturas, formando, assim, sistemas que sustentam a vida
nas cidades e no campo usando a menor área possível.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 64


Spiralseed é uma iniciativa independente fundada por Graham Burnett em 2001. Suas publicações incluem
livros, panfletos e DVDs sobre permacultura, veganismo, ecologia humana e jardinagem orgânica.

A Permacultura baseia-se na observação dos sistemas naturais, na sabedoria encontrada nos


modos tradicionais de plantio e no conhecimento científico e tecnológico. O antigo adágio “Natura
mater et magistra”- A Natureza é ao mesmo tempo mãe e mestre – aplica-se aqui. Com base em
modelos ecológicos, a Permacultura cria uma ecologia cultivada, desenhada para produzir mais
alimentos para humanos e animais do que geralmente se encontra na natureza.

Quando as necessidades de um sistema não são supridas dentro dele, pagamos o preço com
grandes gastos de energia e poluição. Uma mudança profunda é necessária. Uma vida de
qualidade depende de sol, vento, pessoas, construções, pedras, mares, pássaros e plantas à
nossa volta. A cooperação com esses elementos traz a harmonia; a oposição a eles traz o caos.

Os Elementos de um Design Completo de Permacultura

“A Permacultura consiste na criação de assentamentos sustentáveis. É tanto uma filosofia quanto

uma abordagem do uso da terra. A Permacultura tece conjuntamente microclima, plantas anuais e

perenes, animais, solos, utilização de água e necessidades humanas em comunidades intricadamente

conectadas e produtivas.” – Bill Mollison e Reny Mia Slay

A Permacultura foi desenvolvida nos anos 70 pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren,
surgindo como uma reposta à poluição do solo, água e ar advinda de sistemas industriais e
agriculturais; extinção de espécies animais e vegetais, escassez de recursos naturais não
renováveis e sistemas econômicos destrutivos. Os dois juntaram conhecimentos populares,
habilidades e conhecimentos dos sistemas vegetais, animais e sociais a ideias inovadoras – e
assim nasceu a Permacultura.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 65


Apesar de possuir vários aspectos familiares a outros sistemas, o seu padrão-base a difere dos
outros sistemas. Ao contrário de outros sistemas agrícolas modernos, a Permacultura baseou-se
fortemente na ecologia – o estudo das relações e interdependência entre seres vivos e seus
ambientes. O resultado é uma nova forma de sustentar e enriquecer a vida sem causar danos
ambientais e sociais.

A base ética da permacultura – cuidado com a Terra, cuidado com as pessoas e partilha justa

A Permacultura poderia ser resumida como:

1. Um sistema que visa criar assentamentos humanos sustentáveis, integrando design e


ecologia.

2. Uma síntese entre conhecimento tradicional e ciência moderna, aplicável a ambientes


urbanos e rurais.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 66


3. Um modelo com base nos sistemas naturais e que trabalha junto com a natureza na criação
de ambientes sustentáveis que satisfaçam as necessidades humanas e das infraestruturas
socias e econômicas onde se inserem.

4. Um sistema que encoraja nosso envolvimentos consciente na solução dos problemas locais
e globais que nos afligem.

Princípios da Permacultura

Um conceito chave é o planejamento por zonas (ver imagem a seguir). O design é aplicado a partir
de zonas circulando a casa ou construção central de um dado terreno, em função da energia
necessária para manejo dos elementos em cada zona.

O principal objetivo da Permacultura é promover a criatividade e fornecer poder e ferramentas para


promover as criatividade e poder das pessoas na construção de um futuro melhor. Tendo esse
objetivo em vista, uma das maiores conquistas da Permacultura foi a criação de uma rede mundial
autônoma de professores de Permacultura. Suas ideias sobre produção de alimentos baseiam-se
na estabilidade dos sistemas naturais, mas ao mesmo tempo buscam formas de otimizar sua
produtividade. A agricultura orgânica, por sua vez, tem tentado trazer estabilidade para sistemas
agrícolas produtivos porém instáveis. Por exemplo, a Permacultura tende a recomendar os
consórcios vegetais e policulturas, enquanto fazendeiros orgânicos alcançam uma maior
diversidade biológica por meio da rotação de culturas de modo a manter alta a produtividade do
trabalho alcançada em lavouras maiores de uma mesma cultura.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 67


Design permacultural é “uma junção benéfica de componentes em suas relações apropriadas”.
Os quatro componentes chave estão listados.

Adatação do conceito de zonas da permacultura, à mobilidade urbana

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 68


3.2. Agricultura Sustentável

A Industrialização da Agricultura

A produção de alimentos nas sociedades humanas passou por diversas mudanças ao longo dos
séculos: de caça e coleta a sistemas locais de agricultura, e por fim a agricultura industrial. Todos
esses estágios são encontrados em diversas partes do mundo. Pode-se afirmar que países que
foram industrializados no século XIX possuem atualmente um modelo industrial de agricultura,
enquanto os países “em desenvolvimento” possuem áreas de agricultura industrial (muitas vezes
de domínio estrangeiro) em meio a áreas de agricultura familiar local.

Podemos caracterizar as diferenças entre esses sistemas analisando os vários componentes


necessários para o processo de produção alimentícia: terra, energia, investimento, pessoas,
economia e os próprios alimentos.

Agricultura local de escala humana X Agricultura industrial

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 69


A agricultura industrial trouxe uma escala de produção de alimentos e produtos animais maior do
que a de qualquer sistema anterior. Essa produtividade, porém, tem o seu preço amargo.
Fertilizantes químicos reduzem a fertilidade do solo e poluem rios, lagos e oceanos. Os níveis de
intoxicação química em trabalhadores rurais são altos, principalmente em regiões onde existem
poucas leis sobre o uso de fertilizantes, ou fiscalização deficiente. No Brasil, várias regiões
possuem índices alarmantes de intoxicação por agrotóxicos, apesar da legislação existente. A
agricultura industrial utiliza mais água do que outros métodos tradicionais. Esse desperdício diminui
o nível do lençol freático e dos aquíferos subterrâneos, prejudicando o acesso à água pelos
pequenos fazendeiros, moradores e espécies locais.

GRAIN é uma ONG internacional que promove o manejo e uso sustentáveis da biodiversidade agrícola
baseada no poder das pessoas sobre os recursos genéticos e conhecimentos locais.

A agricultura é uma ameaça séria à biodiversidade. Isso ocorre porque o mercado que hoje fornece
alimentos à maior parte da população industrializada se interessa na venda de poucas variedades
alimentares (cereais, grãos, vegetais etc.) em grandes quantidades. Elas são produzidas em
monoculturas que são habitats inadequados para a maioria das espécies vegetais e animais
endêmicas, as quais estão presentes em propriedades rurais pequenas e diversificadas. Alimentos
geneticamente modificados, os transgênicos, presentes em muitos países, também trazem riscos,
como a ameaça ao patrimônio genético das variedades tradicionais e os danos ainda não
calculados à saúde humana.

La Via Campesina é um movimento internacional de camponeses, produtores rurais de pequeno e médio


porte, sem-terra, indígenas, juventude rural e trabalhadores rurais.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 70


Além disso, a agricultura industrial substitui os trabalhadores por máquinas, o que tem um efeito
negativo em comunidade rurais. Fazendeiros dos Estados Unidos e da União Européia recebem
subsídios do governo, o que lhes dá vantagens contra fazendeiros de países mais pobres. Essa
disparidade traz graves consequências para as economias e sociedades rurais de países pobres.
Além disso, grandes corporações controlam a distribuição de sementes e outros insumos, além de
serem donas de grandes produções. Uma consequência disso é a perda da conexão íntima e
significativa que as pessoas antes tinham com sua comida – hoje os alimentos são considerados
mais um item de consumo qualquer.

Masanobu Fukuoka, autor de “The One-Straw Revolution, The Road Back to Nature e The Natural Way Of
Farming”, foi um dos pioneiros de cultivo sem revolvimento da terra.
Seu sistema é chamado de “agricultura natural”, agricultura Fukuoka, ou Método Fukuoka

Por fim, e talvez a preocupação mais urgente, a agricultura industrial depende da disponibilidade de
combustíveis fósseis baratos, o que não é nada sustentável. O alto nível de eficiência alegado pela
agricultura industrial não leva em conta todos os custos sistêmicos. É necessário mais energia para
a produção industrial do que para a produção por métodos orgânicos. Na Grã-Bretanha a
agricultura orgânica gera aproximadamente 50% da pegada de carbono que o método
convencional.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 71


Comunidades, Ecovilas e a Terra

As ecovilas possuem o potencial de vir a desempenhar importantes papéis como centros de


pesquisas de modos diferentes de se relacionar com a terra, com as outras pessoas e com o
alimento. E também como locais de demonstração e ensino nos quais essa nova forma de viver é
compartilhada com a sociedade em geral.

Um sistema saudável e sustentável de produção alimentar deve:

 Otimizar e melhorar a fertilidade do solo;

 Manter a saúde do ecossistema local, como parte de uma estratégia biorregional;

 Fornecer uma alimentação balanceada para os moradores;

 Fornecer boas condições para os trabalhadores;

 Reconectar os residentes à terra;

 Celebrar em conjunto a comida produzida;

 Criar segurança alimentar atual e futura para a comunidade;


 Treinar trabalhadores para a produção, manejo e preparo dos alimentos.

Essa lista já é muito significativa, mas temos que ter em mente que existem listas que abordam
outros aspectos da vida em comunidade, e deve-se esforçar ao máximo para segui-las
simultaneamente. Talvez o maior desafio de comunidades e ecovilas seja desenvolver uma visão
holística em comunidades e indivíduos, e assim garantir a harmonia e funcionalidade de todo o
sistema.

Galgafarm é a primeira cooperativa de agricultura orgânica da Hungria. E construída sobre “Três pilares”:
compromisso em ser ambientalmente saudável, intensiva em trabalho e enraizada na tradição. É membro da
GEN-Europa.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 72


Abordagens para a sustentabilidade da agricultura

A Agricultura Sustentável pode se manter por tempo indeterminado sem que se esgotem seus
recursos. O conceito, derivado da ideia da capacidade de carga, é muito útil para analisar sistemas.

Quais são os recursos básicos dos sistemas agriculturais?

1. A fertilidade do solo e o equilíbrio e geral do sistema;

2. A saúde do ciclo da água;

3. O bem-estar dos trabalhadores rurais;

4. O bem-estar dos consumidores;

5. O balanço energético do sistema (“energia que entra” versus “energia produzida”);

6. Onde a comida é comercializada, o retorno cobre os custos de produção?

7. O efeito de alcance. As matérias-primas utilizadas pelo sistema de agricultura são


produzidas de forma sustentável?

A última questão é a mais complexa e que requer mais comprometimento, pois envolve toda a
cadeia de produção.

Agricultura Orgânica

Também chamada em alguns países europeus de Agricultura Biológica, a Agricultura Orgânica se


tornou, nos últimos cinquenta anos, um campo com princípios e práticas bem-estabelecidas. A
International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) descreve os objetivos da
agricultura orgânica como:

 Produzir alimentos de alta qualidade nutricional e em quantidade suficiente;

 Trabalhar em conjunto com sistemas naturais, e não subjugá-los;

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 73


 Encorajar e aprimorar ciclos biológicos dentro do sistema agrícola, envolvendo
microorganismos, flora e fauna do solo; plantas e animais;

 Manter e aumentar a fertilidade do solo no longo prazo;

 Usar, na medida do possível, recursos renováveis;

 Trabalhar o máximo possível em termos de sistema fechado no que se refere a matéria


orgânica e nutrientes;

 Manter todos os animais em boas condições, de forma que todas suas necessidades
naturais sejam atendidas;

 Evitar toda forma de poluição proveniente de técnicas agrícolas;

 Manter a diversidade genética do sistema agrícola e seus arredores, incluindo a proteção de


espécies locais e seus habitats;

 Fornecer um retorno financeiro adequado aos produtores agrícolas, assim como um


ambiente de trabalho seguro;

 Levar em consideração o impacto social e ecológico do sistema agrícola.

A International Federation of Organic Agriculture Movements, ou Federação Internacional dos Movimentos de


Agricultura Orgânica (IFOAM) é a organização guarda-chuva mundial para o movimento orgânico, unindo
mais de 750 organizações membro em 108 países

Citação

“A agricultura orgânica é um sistema de produção onde se evita utilizar fertilizantes sintéticos,


pesticidas, reguladores de crescimento e rações com aditivos. A agricultura orgânica, busca, no
maior nível possível, se basear na rotação de cultura, uso dos resíduos de lavouras, estercos
animais, resíduos orgânicos e controle biológico de pragas para manter a produtividade do solo,
fornecer nutrientes para plantas e controlar insetos, ervas e outras pragas.”

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 74


The Soil Association é uma entidade britânica que promove a agricultura orgânica e a saúde humana

A existência de padrões estipulados pela IFOAM permite a segurança no comércio internacional de


produtos orgânicos. O mercado de produtos orgânicos está crescendo em vários países. Ao
mesmo tempo, existe pressão de governos e grandes corporações agrícolas para que haja uma
diminuição de padrões, incluindo a diminuição da porcentagem de conteúdo obrigatório de
orgânicos, especialmente quando a demanda excede a oferta. Grupos como a Associação do Solo
do Reino Unido ainda insistem em produtos 100% orgânicos, apesar de isso criar alguns problemas
de fornecimento.

Agricultura Biodinâmica

A agricultura biodinâmica é um sistema baseado nas ideias de Rudolf Steiner, criador e líder
espiritual do movimento Antroposófico. Esse movimento deu origem a várias comunidades onde as
ideias de Steiner sobre educação, arquitetura, arte, agricultura e outros aspectos da vida florescem.
As teorias agrícolas de Steiner são baseadas em uma série de palestras ministradas por ele nos
anos 20. Desde então essas ideias tem sido aprimoradas por centenas de produtores ao redor do
mundo. O princípio fundamental é a visão da fazenda como um ser físico e espiritual, e cujo bem-
estar depende do fazendeiro.

Rudolf Steiner foi um filósofo e educador austríaco, fundador da Antroposofia, da Pedagogia Waldorf,
agricultura biodinâmica, medicina antroposófica e a nova forma artística da Euritmia.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 75


Se o sistema estiver saudável, os resultados serão abundantes. Isso requer a integração de
diversos animais, cada um ocupando uma função diferente dentro da fazenda. Steiner compara
esses animais a órgãos em um corpo. Steiner criticou o uso de fertilizantes solúveis, muito
utilizados na época, afirmando que apenas mudas precisam de nutrientes solúveis, e que plantas
desenvolvidas precisam “trabalhar” para conseguir seus nutrientes. Steiner também descreveu
detalhadamente o estudo das fases da lua e posição dos planetas e como eles interferem no
crescimento de plantas. Além disso, ele compartilhou seu conhecimento sobre fertilizantes, que
deveriam ser utilizados em doses homeopáticas. Apesar de Steiner nunca ter tido uma educação
específica ou experiência com agricultura (seus conhecimentos vieram de um processo de
meditação e compreensão do sistema), suas ideias são utilizadas por fazendeiros de todo o
mundo.

Demeter International é a maior organização de certificação para a agricultura biodinâmica, e uma das três
mais importantes certificadores orgânicas

A agricultura biodinâmica possui um sistema próprio de certificação que cobre todas exigências da
agricultura orgânica, com algumas adições, incluindo um período maior para que a terra seja
preparada para a Certificação Biodinâmica (ver ao lado).

A agricultura biodinâmica enfatiza equilibrar o desenvolvimento holístico e as interrelações de solo, plantas e


animais como um sistema fechado que se auto nutre.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 76


Agricultura Sustentada pala Comunidade – CSA

O conceito de Agricultura Sustentada pela Comunidade (Community Supported Agriculture – CSA)


é que um grupo de pessoas forma uma cooperativa que produz alimentos de forma sustentável, ele
mesmo assumindo a responsabilidade pela organização e despesas da produção. A CSA precisa
do uso de alguma terra, dos serviços de um fazendeiro ou fazendeiros, capital para a compra de
máquinas, armazenamento e distribuição, administração e eventuais voluntários para épocas de
pico de produção.

O foco da CSA normalmente é em um sistema de entrega semanal de uma cesta de vegetais e frutas.

O pagamento de cada indivíduo ou família participante ocorre normalmente no começo do ano


(para viabilizar a compra de materiais) mais pagamentos mensais durante a temporada de
produção. A grande variação dentro dessa estrutura básica é a quantidade de trabalho voluntário
dos membros do grupo, em oposição ao pagamento por todo o trabalho feito.

Feiras dos produtores são feiras que normalmente acontecem ao ar livre, em espaços públicos, onde
agricultores vendem sua produção direto ao público.

Os primeiros projetos de CSA surgiram nos anos 70 na Alemanha. Esses projetos tiveram origem
em comunidades baseadas no movimento antroposófico de Rudolf Steiner. Pode-se dizer que

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 77


essas comunidades precederam as ecovilas. Essas comunidades tinham como objetivo suprir
todas as principais necessidades (produção alimentícia, abrigo, educação, criação de empregos,
etc.) dentro de seu próprio sistema, mas como não eram comunas necessitavam de seus próprios
sistemas de distribuição e finança.

A ideia chegou aos EUA nos anos 80, com 60 CSA‟s já existentes em 1990. Em 1997 já existiam
mais de 1,000 CSA‟s nos EUA, contendo mais de 100.000 famílias, além de muitas outras
representantes pelo mundo. Com esse crescimento também ocorreram mudanças e variações nas
ideias básicas da CSA.

Estufa de plantio para um CSA

Uma variação radical consiste nos integrantes da CSA dividirem os custos da produção de acordo
com sua condição financeira, e na divisão dos produtos de acordo com o tamanho de cada família
integrante. Essa variação representa o extremo do espectro, e requer muita confiança entre os
membros da comunidade.

Do outro lado do movimento existem as “box schemes” (“esquemas da cesta”), que fornecem uma
cesta de produtos orgânicos semanalmente. Essa iniciativa pode ser vista como uma variação
urbana da CSA, mas sem a conexão direta entre os consumidores e terra.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 78


Dados de Produção na Agricultura Orgânica

A produtividade de uma determinada plantação ou fazenda depende de diversos fatores da


biorregião onde elas se encontram. Seguem algumas referências úteis:

 Agricultural Alternatives

 The Soil Association

 National Sustainable Agriculture Information Service

No Brasil:

 Ministério da Agricultura
http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos

 Articulação Nacional de Agroecologia


http://www.agroecologia.org.br

Uma boa tática é pesquisar a região a ser cultivada, a condição de seu solo e quais as espécies
mais adequadas para o plantio. Estatísticas de produção locais podem ser dadas por fazendeiros,
faculdades agrícolas ou “Serviços de Extensão Rural”.

As planilhas da Agricultural Alternatives são desenvolvidas para as pessoas menos familiares com a
iniciativa. Cada planilha contém informações sobre mercado, produção, orçamentos e recursos necessários
para ajudar usuários a fazer uma avaliação equilibrada do negócio da sua operação.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 79


Gestão da Terra e Práticas Agrícolas

Estratégias sustentáveis comuns são descritas em vários sites, e incluem:

 O tratamento do solo com compostos e vermicultura,

 Plantas companheiras e manejo integrado de pragas,

 Biodiversidade de culturas,

 Rotação de culturas,

 Reciclagem da água pluvial coletada e águas residuais tratadas,

 Utilizar materiais como pós de rocha, micronutrientes, extratos de algas, etc.

 Manejo da umidade do solo por drenagem e retenção de umidade por meio de canais, de
modo apropriado.

 Uso de tecnologia de produção em abrigos para temporadas mais extensas (estufas, por
exemplo).

Sequestro de Carbono no solo

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 80


Existem excelentes pesquisas indianas sobre agricultura em “terras secas” – isto é, sem irrigação.
Essas pesquisas são muito importantes para a agricultura em países em desenvolvimento.

A retenção de água é comumente feita em depressões construídas para recolher água pluvial em
épocas chuvosas. Os canais de infiltração nivelados são chamados de “swales”.

Dimensões de um “swale”

A Ecovila Auroville em Tamil Nadu, na Índia, tem tido muito sucesso na transformação de suas
terras e microclima com a utilização de swales (valas de infiltração), bermas e lagoas (ver imagem
ao lado).

Viveiro em Auroville, na Índia

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 81


3.3. Vida Selvagem, Reflorestamento e Biorremediação da Água

Nessa seção introduziremos o conceito de Ecologia Profunda, a importância da vida selvagem para
o planeta e para a humanidade e nosso papel na recuperação dos ecossistemas degradados.

Ecologia Profunda

“A Ecologia Profunda é um novo ramo da filosofia ecológica (ecosofia) que considera a


humanidade como parte essencial do meio-ambiente. É um campo de estudo que valoriza mais
espécies não humanas, ecossistemas e processos naturais do que grande parte dos movimentos
“verdes” e ambientalistas. A ecologia profunda traz um novo sistema ético-ambiental. O princípio
central desse sistema é a doutrina de igualitarismo biosférico de Arne Naess – que afirma que, tal
como a humanidade, o ambiente vivo tem o direito de viver e evoluir. A ecologia profunda se
descreve como “profunda” porque um de seus objetivos é sempre perguntar o “porquê” e “como”.
É um sistema que se preocupa com questões filosóficas sobre o impacto humano na ecosfera, ao
contrário do ambientalismo utilitarista, que tem como foco a gestão de recursos ambientais para o
uso humano.” (Wikipedia)

Uma Visão Mundial da Vida Selvagem

O impacto acumulado de dois mil anos de crescimento da população humana e utilização da terra
nas árvores e florestas do mundo tem sido enfatizado graficamente em diversas publicações (veja
a Tabela 1 abaixo). Esses estudos afirmam que apenas 20% das florestas mundiais são naturais, e
apenas 6% delas são protegidas. Por volta de 10% das espécies de árvores estão ameaçadas de
extinção. A diferença entre as florestas atuais e as de dois milênios atrás é gritante.

A Wilderness Task Force (Força Tarefa da Vida Selvagem), da World Conservation Union‟s (IUCN) foi criada
pela Comissão Mundial de Áreas Protegidas (World Commission on Protected Areas, WCPA) em 2003. Ela
oferece uma grande variedade de recursos sobre a Vida Selvagem.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 82


Na Nova Zelândia, por exemplo, as florestas que cobriam praticamente todo o território jamais
haviam sido perturbadas por humanos (os Maoris só chegariam quase mil anos depois). Vastas
florestas cobriam a América do Norte, Sudeste Asiático, África Central e América Latina, onde
povos tribais e animais coexistiam em uma harmonia que valorizava as culturas humanas e as
florestas das quais elas dependiam.

Perda de florestas em determinadas áreas do planeta, graças à intervenção humana

Além dessa perda de florestas, várias outras espécies foram extintas. Na Nova Zelândia, Moas
(pássaros de grande porte que não voavam) e a Águia-de-Haast (a maior espécie de águia já
conhecida) foram extintos; em Madagascar, pássaros-elefante, hipopótamos pigmeus, tartarugas
gigantes e 14 espécies de lêmures desapareceram; no Norte da África o urso-do-atlas e o leão-do-
atlas (caçados intensamente pelos romanos para uso “esportivo” nos seus coliseus) foram
exterminados. Essas perdas podem ser ligadas ao crescimento de populações humanas, ligando-
as à influência do homem.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 83


Aumento/diminuição de espécies, devido a pressões humanas

A velocidade da perda dos habitats selvagens e espécies (ver a tabela abaixo) tem tomado o foco
recentemente. Esse conhecimento traz consigo responsabilidade. Nós podemos ignorá-lo e
acelerar nossa extinção ou trabalhar em prol da restauração da Terra – não só para a raça
humana, mas sim para todo o ambiente.

Áreas selvagens remanescentes em cada continente e no mundo

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 84


Ecologia de Sistemas Integrados e a Vida Selvagem

A vida selvagem inspira fascínio, reverência e uma profunda admiração por sua beleza. Grandes
árvores precisam de organismos microscópicos para crescer e prosperar; líquens utilizam minerais
de pedras maciças na produção de substância orgânica vermelha; folhas verdes ajustam sua
posição constantemente para aumentarem sua exposição ao solo. A vida selvagem é uma parte
vital de qualquer conceito ecológico de sistema integrado.

O tigre de Bali foi declarado extinto em 1937 devido à caça e à perda de habitat.

Porque a vida selvagem do planeta está em decadência? A terra possui uma determinada
capacidade de carga, o que significa que todo pedaço de terra pode suportar apenas uma
determinada quantidade de vida selvagem. A quantidade de vida selvagem que a terra pode
sustentar depende de vários fatores, todos ele interligados. A capacidade de carga da terra é
extremamente importante no caso da existência de assentamentos humanos. Até esse momento, a
maior parte dos assentamentos humanos tem crescido de forma desordenada, e sem a menor
atenção à capacidade de carga dos sistemas onde estão. Com o advento da ciência e tecnologia
tem sido possível, até o momento, ignorar as limitações da capacidade de carga da terra. Comida e
combustível podem ser importados de diversos locais. Essa importação, porém, gera um
desequilíbrio energético nesses locais. Por exemplo, quando o chá indiano é exportado, a energia
utilizada para cultivar esse chá é perdida para a terra onde ele foi cultivado. A quantidade de
energia necessária para sustentar um assentamento humano moderno (a sua pegada ecológica) é
geralmente muito maior do que a energia disponibilizada pela biorregião. O efeito desse
desequilíbrio é a crescente destruição da vida selvagem.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 85


Comparação entre o estado de bem-estar e a pegada ecológica

Sintomas de um Mundo à Beira da Morte

Alan Watson Featherstone descreve a atual situação global como um “Mundo à Beira da Morte”.
Alguns dos sintomas desse diagnóstico são:

 A taxa de extinção está estimada em 150 espécies por dia (10.000 vezes maior do que a
taxa normal de extinção).

 A cada ano, 11 milhões de hectares de terra cultivável são perdidas por causa da erosão,
desertificação, contaminação tóxica, etc.

 A população de sapos está ao ponto de desaparecer na Costa Rica, Europa, Austrália e


Estados Unidos.

 Na Suécia, 18 mil lagos foram destruídos por conta da chuva ácida.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 86


 No Golfo do México existem 18.000 quilômetros quadrados de “zona morta”, sem presença
de peixes, mariscos ou crustáceos, devido à poluição vinda do Rio Mississippi.

 O ecossistema do Mar Negro está completamente desestabilizado devido aos esgotos,


fertilizantes, excesso de pesca, poluição tóxica e introdução de águas vivas (Mnemiopsis
leidyi) no ecossistema.

Imagem de satélite da NASA do desmatamento próximo a Rio Branco, no Acre.

“Conceitos como a capacidade de carga da terra e a pegada ecológica são importantes para a
harmonia entre a humanidade e natureza. Nós precisamos de assentamentos onde as atividades
humanas se integrem – sem danos – à natureza, assentamentos que incentivem o
desenvolvimento saudável e que possam crescer sustentavelmente por um período
indeterminado.”- Robert Gilman

Desde sua fundação em 1970, a revista The Ecologist ajudou a construir agendas ambientais e sociais no
mundo todo por meio de seu foco em causas de raiz, não apenas seus efeitos posteriores, ou eventos
correntes.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 87


Mudanças Culturais para a Sobrevivência do Planeta

Para restabelecer o equilíbrio, é preciso não apenas planejar e construir os assentamentos


humanos de modo diferente, mas também mudar nossa atitude em relação ao planeta e tudo o que
ele abriga. Uma lista de mudanças culturais necessárias para a sobrevivência do planeta poderia
ser:

 Um respeito renovado pela Terra e todas suas espécies e habitats, no qual se reconheça
nossa conexão espiritual com a natureza. (“The Great Work”, de Thomas Berry).

 O reconhecimento de que as áreas selvagens são habitats essenciais para a vida de outras
espécies. Portanto precisamos abrir mão do uso de todos os terrenos e oceanos do planeta.

 Um compromisso com uma vida mais simples, em que se demande menos da Terra, ao
mesmo tempo em que se adota uma alta qualidade de vida (“Voluntary Simplicity” de Duane
Elgin).

 Mudanças na política de governos, corporações e indústrias de uma filosofia de crescimento


econômico ilimitado para um futuro sustentável e restaurador. (Ver “Limits to Growth”, de
Donella H. Meadows, Dennis I. Meadows e “Contração e Convergência” na seção de
mudanças climáticas).

 A saúde de uma biorregião deve ser responsabilidade dos seus individuos e comunidades.
Culturas locais ecologicamente saudáveis trarão uma maior diversidade cultural mundo
afora.

 A população de animais de criação deve ser reduzida significantemente (por meio de dietas
vegetarianas ou de baixo consumo de carne) para possibilitar a restauração de
ecossistemas e habitats para espécies selvagens. (“The Ecologist Magazine”, Outubro de
2008).

 A população mundial deve ser considerada um fator muito importante.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 88


Mapa de densidade populacional no mundo

Princípios da Restauração Ecológica

É necessária uma mudança radical na visão humana quanto à vida selvagem. Um compromisso
em reverter os danos causados até hoje é essencial. A natureza está sempre buscando um
equilíbrio, e para isso utiliza constantes ciclos de nascimento, morte e renascimento. Porém esses
processos naturais têm sido interrompidos em todo o mundo pela escala e intensidade das
atividades humanas.

Precisamos, assim, focar na restauração. Algumas formas de restauração ecológica baseadas na


Biofilia são:

1. Imitar a natureza sempre que possível;

2. Trabalhar em áreas onde o ecossistema está o mais próximo possível de sua condição
natural;

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 89


3. Prestar muita atenção em espécies “essenciais”; espécies que exercem uma função
importante no ecossistema e que das quais dependem outras espécies;

4. Utilizar espécies pioneiras e sucessão natural para facilitar os processos de restauração;

5. Recriar nichos ecológicos em locais danificados. Reestabelecer conexões ecológicas –


restaurar as linhas na teia da vida.

6. Controlar e/ou remover espécies introduzidas.

7. Remover ou diminuir fatores limitantes que atrapalhem a restauração natural.

8. Deixar a natureza fazer a maior parte do trabalho.

9. Reconhecer que o amor do planeta nutre a força da vida e tem um papel essencial no poder
vital e restauração da Terra.

(Ver a Visão de Wendell Berry no final dessa seção.)

Biomimicry (Biomimética) é uma nova ciência revolucionária que analisa as melhores ideias da natureza –
seda das aranhas e gramíneas das pradarias, conchas do mar e células cerebrais – e sua adaptação para o
uso humano.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 90


Trees for Life

Trees for Life é um movimento da Comunidade Findhorn que se baseia na “conexão com a
natureza via vida selvagem”, e cujo objetivo principal é restaurar uma área de 1.500 quilômetros
quadrados de floresta natural. A Escócia possui apenas 1% de sua cobertura vegetal natural, o que
torna movimentos como esse, essenciais. O Trees for Life age localmente, mas tem uma
consciência global.

“Plantar árvores é plantar ideias. Começando com a atitude simples de plantar uma árvore, nós damos
esperança a nós mesmo e às gerações futuras”. – Wangari Maathai, Prêmio Nobel da Paz, fundadora do
Green Belt Movement.

São três as estratégias para a recuperação da floresta:

1. Facilitar a regeneração natural das árvores, isolando as áreas periféricas dessas árvores da
população de veados locais e possibilitando o crescimento de novos indivíduos.

2. Plantar árvores nativas em áreas onde não exista mais vegetação. Para isso são coletadas
sementes das árvores remanescentes mais próximas, mantendo assim o conjunto genético
local na floresta. As mudas resultantes são então plantadas dentro de áreas cercadas em
um padrão não linear, similar à distribuição natural de uma floresta.

3. Remover as árvores não nativas cultivadas comercialmente sob a floresta antiga, e que
atrapalham sua regenereção.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 91


Combinando essas três estratégias, objetivo é restabelecer áreas (ou “ilhas”) de floresta jovem e
saudável espalhadas pelo um território. Quando essas árvores atingirem a idade de reprodução
elas irão formar o núcleo para uma autorregeneração natural expandida. Enquanto as árvores
dessas “ilhas” se desenvolvem será importante que se reduza a população local de veados, de
forma que o processo de restauração da floresta possa se auto-sustentar sem a necessidade de
cercas de isolamento.

Com o crescimento das árvores outras espécies nativas irão surgir. As sementes serão carregadas
pelo vento, pássaros ou insetos voadores. Os pássaros irão retornar assim que o habitat se tornar
adequado a eles. A rede da vida, que permeia toda a comunidade viva da floresta, irá então iniciar
sua restauração. Outras espécies precisarão ser introduzidas manualmente ao sistema em
regeneração, mas apenas quando o habitat for adequado a elas. O plano de longo prazo é
reintroduzir todos os grandes mamíferos extintos. Essas espécies, particulamente os predadores
do topo da cadeia alimentar, como o urso-pardo, o lince e o lobo, são essenciais para a harmonia
do ecossistema local. Essa estratégia dever ser combinada com um programa de educação da
população, para contrapor informações errôneas sobre predadores, e medidas de compensação
para qualquer perda de animal de criação que ocorra. Essa estratégia jávem sendo implantada, e
com sucesso, nos Estados Unidos.

Efeitos das exploração humana em determinadas espécies e habitats do Reino Unido

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 92


Biorremediação da Água

Muitos dos princípios da restauração florestal podem ser aplicados também à remediação biológica
de águas poluídas. A “regeneração natural expandida”, por exemplo, consiste na criação de ilhas
flutuantes ecológicas. Bactérias benéficas ao sistema se multiplicam e grandes fontes de água se
autorregeneram: é um efeito dominó que ocorre sob condições favoráveis e com o advento de
aeração a bioaumentação.

Fabricação do sistema flutuante para uma ilha ecológica flutuante na Finlândia

A ilha é lançada e sustenta muitas espécies de plantas com suas raízes na água e um sistema de aeração
submersível

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 93


Outras possibilidades são os novos parques urbanos com paisagens aquáticas. Para manter as
águas limpas, especialmente se elas receberem águas poluídas ou residuais, ilhas ecológicas
flutuantes irão potencializar os processos de regeneração nas águas desses parques.

Desenho urbano típico para um grande parque com expansão das águas receptoras de alguma poluição dos
ambiente construído

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 94


Cursos d‟água poluídos em diferentes partes do mundo

Habitats de vida selvagem podem ser utilizadas nas margens e barrancas com uso de materiais locais
simples

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 95


Poema de encerramento, por Wendell Berry

Uma visão

Se tivermos a sabedoria para sobreviver,


de nos postarmo como árvores de lento crescer
em um lugar arruinado, renovando-o, enriquecendo-o,
se fizermos nossas estações bem-vindas aqui,
pedindo pouco da terra ou do céu,
então, muito após termos morridos,
as vidas que nossas vidas prepararam viverão
aqui, suas casas fortemente arraigadas
nos lados do vale, nos campos e jardins
fartos nas janelas. O rio correrá
cristalino como nunca o conhecemos,
e, sobre ele, pássaros cantando nas copas das árvores.
Sobre as colinas haverá
campinas verdes, sinos nos animais na sombra do meio-dia.
Nos declives onde ganância e ignorância cortam
a velha floresta, uma velha floresta permanecerá de pé,
com sua rica queda de folhas flutuando pelas suas raízes.
Em suas vozes eles ouvirão uma música
subindo da terra. Eles não levarão
nada da terra sem devolver a ela,
qualquer que seja a dor da partida. A memória
nativa desse vale, vai se espalhar sobre ele
como um pomar, e a memória crescerá
como lenda, a lenda como música, a música
como sacramento. A abundância deste lugar,
as canções de suas pessoas e pássaros,
serão a saúde e sabedoria e luz
que nele habitam.
Esse não é um sonho paradisíaco.
Sua dificuldade é sua possibilidade.

3. Sustentabilidade em práticas agrícolas 96


4. Tecnologia Apropriada: Energia

Esta seção de Tecnologia Apropriada, como parte da Dimensão Ecológica, lida com tecnologias
para gerar e utilizar energia. Abaixo está um mapa do assunto coberto por este vasto campo. Há
um grande interesse no desenho de sistemas de energia carbono neutro por causa das mudanças
climáticas e do pico do petróleo. É por isso que estudamos essas tecnologias de energia como
parte de uma estratégia de resiliência.

Mapa de energia do design sustentável

4. Tecnologia Apropriada: Energia 97


O desenho de sistemas de energia é melhor se considerado como parte de um desenho integrado
de infraestrutura. Conservação, energia, água, cultivo de alimento, desenho de edificações e
transportes podem ser integrados para criaram sistemas acessíveis, de baixíssimo consumo de
energia. Já nos referimos a isso no item “Ecologia Industrial”, na seção “Abordagem sistêmica do
Design Ecológico”.

IRENA busca se tornar a principal força condutora na promoção de uma rápida transição rumo a um uso
abrangente e sustentável de energia renovável em escala global

A primeira prioridade é a conservação de energia, que envolve arquitetura ecológica, alto


isolamento térmico, equipamentos eficientes e atitudes dos ocupantes.

Quando se constrói visando ao o padrão Passivhaus, AECB Gold Standard, ou algum critério de
baixo carbono, a pegada de energia é muito menor que o normal. Muitos países europeus
incorporaram padrões avançados de baixo carbono para todas as novas edificações, a serem
adotados em 5 anos.

Políticas de energia alternativa costumam oferecer estímulos, tais como doações ou subsídios para
tecnologias alternativas.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 98


O mapa abaixo lista caminhos biorregionais para uma estratégia efetiva de energias renováveis.

Mapa para energia renovável em um assentamento

Pegada ecológica e de carbono das Fontes de Energia

Métodos diferentes de geração de energia possuem pegadas ecológica e de carbono muito


diferentes. Na tabela abaixo de “Nossa Pegada Ecológica” (“Our Ecological Footprint”), a
eletricidade gerada com combustíveis fósseis tem dez vezes a pegada da energia hidroelétrica e
fotovoltaica e cem vezes a da eólica.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 99


As pegadas de carbono dos combustíveis e dos métodos de geração são dadas nas tabelas de
conversão de energia a seguir.

Os processos industriais podem ser vorazes consumidores de energia e podem também emitir
carbono com parte do processo de manufatura. Um exemplo é a indústria do cimento, que emite
5% do CO2 do planeta.

Energia incorporada

As pegadas de carbono nas tabelas acima basicamente se referem às operações e não à energia
incorporada na construção do projeto. A energia incorporada é a energia usada para manufaturar
os materiais de construção, mais a energia consumida nos processos de construção e transporte.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 100


Estimar essa energia costuma ser complexo. Podem ser feitas aproximações com o uso de tabelas,
como as ilustradas a seguir (e também em www.victoria.ac.nz/cbpr/documents/pdfs/ee-
coefficients.pdf):

Energia incorporada / Pegadas ecológicas

4. Tecnologia Apropriada: Energia 101


Pegadas ecológicas de tecnologias de geração

Emissões globais de CO2 pela indústria do cimento em bilhões de toneladas

4. Tecnologia Apropriada: Energia 102


4.1. Tecnologias de geração de energia

Por causa da combinação das Mudanças Climáticas e do Pico do Petróleo, todas as tecnologias
descritas são carbono neutras. Elas não usam combustíveis fósseis nas operações, com exceção
talvez do transporte de biomassa ou biocombustíveis. Alguns podem ter alta energia incorporada
em seus materiais e construção, como costuma ser o caso de projetos hidroelétricos.

Se fizermos uma instalação superdimensionando a necessidade energética, a compensação é


possível pela exportação da “energia verde” excedente. Assim, uma ilha com muito vento pode
instalar turbinas eólicas para sua própria energia e exportar o excedente para compensar os usos
inevitáveis dos combustíveis fósseis. As tecnologias de geração geralmente caem em duas
categorias:

 Tecnologias que aproveitam as forças naturais do clima e da maré – com a eólica e a solar
como exemplos;

 Aquelas que empregam processos biológicos, como biomassa, biocombustíveis e digestão


anaeróbica;

Uma tendência crescente é a geração de vários tipos de energia de um processo integrado, como
células de combustível fornecendo calor, eletricidade e hidrogênio a partir de um único sistema.

O Nordic Folke center for Renewable Energy é uma ONG que faz pesquisa e desenvolve
tecnologia,treinamento e informação para a manufatura, inovação industrial e implementação de tecnologias
de energia renovável e economia de energia na Dinamarca e no mundo inteiro.

O Centre for Alternative Technology (Centro para Tecnologia Alternativa), CAT, se ocupa em pesquisar
tecnologias e modos de vida globalmente sustentáveis, integrais e ecologicamente saudáveis

4. Tecnologia Apropriada: Energia 103


Eólica (ventos)

Os ventos são atualmente os maiores geradores de energia alternativa em muitos países. Algumas
nações possuem abundância de sistemas hidroelétricos, como o Brasil.

Apesar de os ventos variarem ao longo do dia, da semana e do ano, sua velocidade média em m/s,
a potência de geradores eólicos pode ser aferida. Normalmente um fator de capacidade é aplicado
à classificação nominal das turbinas. Assim uma turbina de 1 MW com um fator de capacidade de
25% vai gerar uma média de 250 kW por 24 horas e 365 dias por ano, gerando uma saída de 2.190
MW por ano. Por causa da variabilidade do vento, a questão é de manejo da carga em relação à
energia usada e o potencial de armazenamento da eletricidade.

A localização e altura das torres das turbinas é crucial para um bom desempenho. Locação em um
terreno elevado com uma torre grande e a boa distância de árvores e outras obstruções ao vento
vai resultar em um desempenho otimizada (alto fator de capacidade).

Há um considerável interesse em turbinas eólicas no mar, por causa dos ventos fortes e das
questões estéticas. Para turbinas instaladas no leito marinho, a profundidade da água ideal deve
ser menor que 15 metros. Contudo, grandes fazendas eólicas podem ser instaladas em águas
profundas ou plataformas similares às de petróleo e gás. (Ver www.physorg.com/
news76171515.html)

1. Eólica de pequena escala – 2-10 KW - residencial


 3-4 vezes a produção de energia de um sistema fotovoltaico em € por watt instalado
 ~€7 a €10/watt instalado (a partir do fator de capacidade)
 ~€0.08/kWh gerados (financiado)

2. Parques eólico de média escala – até 1 MW


 Manejável – bom tamanho para um usuário dedicado
 Pode usar equipamento recondicionado
 ~€5 a €7/watt instalado

 ~€0.04 to €0.06/kWh gerados (50% financiado)

4. Tecnologia Apropriada: Energia 104


3. Grandes parques eólicos – acima de 1 MW

 Mais econômico – escala é importante

 ~€2 a €3/watt instalado

 ~€0.02 a €0.03/kWh gerado (50% financiado)

 Grande potencial no mar ao longo da costa

Elementos de uma turbina

Uma das questões relativas à geração eólica é o armazenamento da eletricidade para quando não
há vento suficiente. Isso pode ser feito pela geração de hidrogênio por eletrólise e a sua queima
quando necessário numa célula de combustível. Isso é ilustrado por um projeto em uma ilha na
Noruega. A questão atual é o alto custo do equipamento.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 105


Solar

Existem duas maneiras pela qual a energia solar pode ser capturada e aproveitada:

1. Painéis fotovoltaicos, que geram eletricidade por meio da conversão da energia do sol que
incide sobre o painel. Essa energia pode ser usada como um sistema desconectado da rede
(“stand alone”), que vai requerer armazenamento em baterias para as horas de escuridão,
ou como um suplemento para o fornecimento da rede.

2. Painéis solares térmicos, que coletam a energia do sol em uma lâmina pela qual a água
corre. Esse sistema fornece água quente para a edificação, tanto fazendo um pré-
aquecimento para calefação do ambiente, como abastecendo água quente doméstica para
banhos e lavação. Como o painel fotovoltaico, o sistema pode ser “stand alone” ou pode
complementar o abastecimento a partir de uma fonte de calor diferente.

Ambos esses desenhos de painel não possuem partes móveis para a coleta da energia solar. Eles
são robustos, duráveis e requerem pouca ou nenhuma manutenção. Os painéis térmicos são,
evidentemente, conectados ao sistema de encanamento, que terá bombas e válvulas. (veja
www.solarcentury.com).

Energy Saving Trust é uma ONG que fornece aconselhamento gratuito e imparcial para
ajudar as pessoas a economizar dinheiro e combater as mudanças climáticas pela
redução de dióxido de carbono a partir de casa

4. Tecnologia Apropriada: Energia 106


Solar Elétrica (PV - Fotovoltaica)
 Sistemas comprovadamente confiáveis – duração prevista de 50 a 100 anos
 Praticamente manutenção zero
 €10 a €15/Watt instalado = caro
 €0,18 a €0,25/kWh gerado

 Recuperação do investimento em torno de 25 anos

Solar Térmica

Painéis solares para aquecer água em casa são uma aplicação comum hoje em dia.

3m² de solar térmica fornece ~2000 kWh/ano na Europa setentrional e ~3000 kWh/ano no sul do
continente. Normalmente, o custo operacional do painel é simplesmente o custo de financiar o
preço extra da porção solar da instalação, ou seja, excluindo o encanamento predial. No momento,
o financiamento é de €0.08/kWh no norte da Europa, quando o painel se paga em 20 anos.

Diagrama do cilindro simples com espiral dupla

4. Tecnologia Apropriada: Energia 107


Aquecimento por biomassa

A palavra “biomassa” significa madeira e/ou outros materiais biológicos que podem ser queimados
para gerar calor. A razão pela qual o aquecimento por biomassa é carbono neutro é que as árvores
e/ou plantas sequestraram a mesma quantidade de CO2 durante seu crescimento que emitiram
quando queimadas. A madeira é a principal fonte para aquecimento por biomassa e é usada
geralmente de duas formas:

1. Toras ou lascas de madeira, com árvores cultivadas em uma produção contínua e


sustentável. Normalmente, uma árvore de crescimento rápido é escolhida e colhida em um
processo chamado cultura de rotação curta. Isso significa colheita após oito anos de
crescimento. A área necessária é oito vezes a área de árvores a área de árvores a serem
colhidas todo ano. No norte da Europa a área de floresta necessária para produção
sustentável de madeira é ~0,7 hectares por casa. Se salgueiros forem a espécie escolhida,
as árvores são menores e a colheita acontece a cada três anos. Normalmente a madeira é
triturada e seca após a colheita.

2. Pellets de madeira, feitos de madeira e outros rejeitos agrícolas, como o bagaço da colza
após ser prensada para extração do óleo. A vantagem dos pelletes de madeira é que eles
são mais secos que as lascas e liberam mais energia por tonelada. Eles também são mais
leves e menos volumosos que as lascas. Podem, por exemplo, ser jogadas dentro de funis
alimentadores e atuar como óleo para atiçar fogo.

O Biomass Energy Centre, no Reino Unido, fornece informação sobre os vários tipos de combustível de
biomassa comercialmente disponíveis ou em pesquisa.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 108


Boiler de lascas de madeira

Lascas de madeira alimentando o boiler

Comparação entre instalações para lascas e pellets de madeira.

Lascas de madeira têm que ter umidade de 25% ou menos para uma queima eficiente. Boilers a
lasca de madeira precisam de mais operação que instalações de pellets do mesmo tamanho, por
causa do volume e manuseio das lascas irregulares. O armazenamento das lascas e o boiler que
funciona com elas são mais caros enquanto custo de capital para a mesma capacidade calorífica
que uma instalação de pellets. No norte da Europa, o preço atual das lascas no atacado é ~€80/ton
e o preço dos pellets é ~€165/ton.

Muitas instalações hoje são multicombustível, ou seja, o boiler pode lidar com lascas e/ou pellets
ou pellets e/ou toras. O armazenamento de lascas, pellets e toras é diferente. Todos os boilers
possuem operação automática e controle de chama. E todos têm que ser regularmente limpos das
cinzas.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 109


Normalmente, grandes instalações de mais de 250 kW tendem a usar lascas. Instalações menores
suam pellets, que são mais fáceis de manusear e menos volumosas para armazenar. Uma boa
escolha para uma casa ou um pequeno grupo de casa é um boiler que aceite pellets e toras.

Lascas de madeira usadas em uma casa

Por que usar a madeira como combustível?

 Um combustível renovável e CO2 neutro;

 O aquecimento é um terço da equação de energia do Reino Unido;

 Segurança de suprimento, talvez local;

 Estabilidade de preço;

 Uma tecnologia Madura e altamente eficiente apropriada para a faixa de 5kW a 50MW;

 Calefação e geração de vapor.

RET Screen

O Software de Análise de Projeto de Energia Limpa RETScreen (RETScreen Clean Energy Project
Analysis) é uma ferramenta excelente de apoio para a escolha de sistemas de energia. Foi
desenvolvida com a contribuição de muitos especialistas do governo, indústria e academia. O
software, fornecido sem custo, pode ser usado no mundo todo para avaliar a produção e economia
de energia, custos, reduções de emissão, viabilidade financeira e risco para vários tipos de
Tecnologia de Energia Renovável e Eficiência Energética (RETs). Ele também inclui bases de
dados de produto, projeto, hidrologia e clima, um detalhado manual do usuário online e um curso
de nível universitário baseado em estudo de caso, incluindo um livro eletrônico de engenharia.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 110


Calefação automática com madeira

 Alimentação totalmente automática

 Ignição automática

 Controle de capacidade

 Monitoramento e controle remoto do sistema

 Eficiência típica acima de 90%

 Nível de resíduos de cinza muito baixo ~0,5 a 1,5%

Diagnóstico de um boiler

4. Tecnologia Apropriada: Energia 111


Geração hidroelétrica

A energia é aproveitada nos projetos hidroelétricos em relação à coluna d‟água (altura da água
acima do gerador) e o volume de água disponível em um local particular para passar pelo gerador.
Se um local possui uma boa fonte de água, como uma represa, e cai em um ponto onde um
gerador pode ser instalado, um cano pode conduzir a água da represa ao gerador. O volume de
água liberado pelo cano pode controlar a potência.

Hydro Dam – Represa

A tabela abaixo ilustra diferentes soluções de design para a geração de 100 kW. Se a coluna tem
50 metros, o fluxo tem que ser pelo menos algo como 379 litros por segundo, e o tubo para
conduzir a água no mínimo de 610mm de diâmetro. Contudo, com uma coluna de 300 metros, o
fluxo será de apenas 63 litros por segundo e o diâmetro do tubo 244mm. A eficiência da turbina é
como o fator de capacidade de um gerador eólico, levando em conta as perdas de energia no tubo
e na turbina.

Tabela de design hidroelétrico para produzir uma oferta de 100 kW

4. Tecnologia Apropriada: Energia 112


A chuva costuma ser sazonal e o nível de água na represa pode ficar baixo. Nesse caso, a
produção será menor, na medida em que o fluxo fica abaixo do nível ótimo projetado.

Os rios podem agora ser aproveitados com turbinas montadas em flutuantes, como ilustrado. Esses
sistemas costumam ser bem pequenos. Se vc tem duas represas ou lagos com uma pequena
coluna d‟água entre eles, um sistema de sifão pode gerar alguma energia útil.

Pequenos geradores flutuantes são fáceis de instalar e podem gerar


energia útil para uma pequena comunidade

Nano & Micro Hidro

 Novas tecnologias de baixo impacto permitem aproveitamento de novos locais

 Viáveis até o nível de pequenos córregos abastecendo construções individuais

 Entradas por sifonamento – sem rompimento de represas, evita água sobre as margens.

 Sistemas de baixa coluna a partir de 1m com 200 l/seg para 1kW

 Sistemas de alta coluna a partir de 50m com 3 l/seg para 1kW

 Custos ~€3 a €15/Watt = amortização em 3 – 20 anos

Equipamentos para energia microhidráulica costumam vir de indústrias locais

 Pode usar motores comerciais para geradores

 Baixo peso por kW = fácil transporte

 Robustos – não se danificam facilmente

 Baixa manutenção = baixa devolução

4. Tecnologia Apropriada: Energia 113


Instalação típica de tamanho médio

 Turbinas tipo Pelton (fabricante: Gilkes & Gordon)

 Coluna de 274,3m

 Potência da turbina – 350kva, gerando 280kw

 Gerador auxiliar a diesel para back up

A vila de Knoydart fica em um local remoto no oeste da Escócia, onde ao sistema hidroelétrico é
sua única fonte de energia. Porém, com o grande aumento de custo da energia elétrica, pequenos
projetos hidroelétricos estão se tornando cada vez mais viáveis.

Knoydart Hydro

Se um assentamento cumpre os requisites para hidroeletricidade a um custo razoável, essa


provavelmente é a melhor opção para eletricidade carbono neutra.

Muitas regiões montanhosas remotas possuem sistemas micro hidroelétricos para vilas isoladas.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 114


Mar

A energia do mar a partir das ondas e das marés está nos seus estágios iniciais; entretanto, há
muita energia nos oceanos e o potencial vai ser visto nas próximas décadas. A imagem da maré é
de turbinas construídas no leito do mar em um fluxo de maré. Esses fluxos costumam ser fortes em
passagens estreitas entre ilhas ou em estuários e baías oceânicas. Onde há um vão estreito entre
ilhas e o leito se eleva das águas profundas, o fluxo da maré é forçado a acelerar enquanto um
grande volume de água é forçado através de um canal estreito, como o Golfo de Corryvreckan na
costa oeste da Escócia.

Imagem do Golfo de Corryvreckan - NASA

A maior usina de energia das marés do mundo será construída na Coréia

"A companhia britânica Lunar Energy e a empresa coreana Midland Power concordaram em
construir uma usina gigante de 300 turbinas no Corredor Aquático Wando Hoenggan, ao largo da
costa sul-coreana. Espera-se que a usina forneça 300 MW de energia renovável para o país por
volta de dezembro de 2015.”

Usina geradora das marés

4. Tecnologia Apropriada: Energia 115


Biocombustíveis

Os biocombustíveis são produzidos a partir de várias plantas e se originaram na agricultura ou na


aquicultura. São usados como alternativas aos combustíveis fósseis para abastecer carros ou
máquinas. Como resultado, os materiais básicos possuem carbono fixado, o qual é liberado quando
queimado ou usado num veículo. O carbono é parte do processo de produção do biocombustível e
é usado para fertilizante, maquinário agrícola, transporte e também para destilação em etanol da
cana de açúcar. Como resultado, há nos biocombustíveis diferentes proporções de „energia que
entra‟ e „energia que sai‟. O tipo de biocombustível e local de produção afeta muito seu impacto
ambiental. Por exemplo, as monoculturas de óleo de palma são uma das maiores causas da
destruição de florestas tropicais.

As sementes da planta jathropa são 37% óleo. Ela é cultivada na África, América do Sul e Ásia. É uma boa
fonte de biodiesel e as folhas podem ser usadas para cultivar o bicho da seda.

Os dois biocombustíveis mais comuns atualmente são o bioetanol, que pode ser misturado ao
petróleo, e o biodiesel, que pode ser misturado no diesel comum. Misturados em pequenas
quantidades (atualmente, até 5%), esses biocombustíveis podem ser usados com segurança nos
veículos que temos. Também é possível usar misturas maiores de biocombustível (100% biodiesel
e 85% etanol), mas isso pode requerer modificações nos motores.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 116


Os biocombustíveis não são eficientes no uso da terra. Em muitos casos, eles substituem culturas
plantadas para alimentos. Há uma estimativa de que, para a União Europeia ter 5% dos seus
veículos movidos a biodiesel, seria necessário um quarto da terra agricultável da Europa. Para os
EUA produzirem biocombustível suficiente para mover todos os seus carros, isso tomaria quatro
vezes a terra arável do país.

Fotos mostrando a prensagem do óleo de colza (canola) em duas escalas diferentes. A máquina menor é
apropriada para muitas aplicações em ecovilas.

Óleo de colza: Há muitos campos de colza (canola) cultivados na Escócia e norte da Europa. Com
flores amarelo brilhantes, os campos são difíceis de não ver quando estão em flor. A colza pode ser
utilizada para produção de biodiesel. A eficiência do uso do solo é moderada e a vantagem é poder
substituir os combustíveis fósseis.

Etanol de celulose é uma grande promessa. É extraído capins, árvores e partes não comestíveis

das plantas. É cinco vezes melhor em termos do seu balanço de energia líquida que o etanol de
milho. Pode ser produzido com capins de rápido crescimento, como a switchgrass (Panicum
Virgatum, nativa da América do Norte), que absorve dióxido de carbono para crescer. Outra
vantagem é que as usinas de etanol de celulose poderão abastecer seus boilers intensivos em
energia com os refugos vegetais de seus próprios processos (as usinas de etanol de milho usam
gás natural). As emissões são 91% menores que dos combustíveis fósseis. O principal problema
atual é o seu custo de produção. Pesquisa e desenvolvimento estão em curso.

Etanol de cana é razoavelmente eficiente no uso do solo. No entanto, o resíduo da cana é


queimado no processo de destilação para o etanol. A prática atual também leva à degradação do
solo ou desmatamento de matas tropicais. Isso é particularmente o caso da cana de açúcar no

4. Tecnologia Apropriada: Energia 117


Brasil. Os fogos, a degradação do solo, a diminuição de terra que poderia estar produzindo
alimento e as condições miseráveis e tóxicas dos trabalhadores anulam muitos dos benefícios.

Óleo de palma, tal como a cana, costuma ser cultivada em terras que foi desmatada das florestas
tropicais. Isso causa uma enorme liberação de gases de efeito estufa que anula qualquer benefício.
A indústria do óleo de palma está causando devastação ambiental, colapso social e perdas
maciças de habitats e espécies na Malásia, Indonésia, Papua Nova Guiné e outras partes do
mundo. As queimadas emitem grandes quantidades de CO2 na atmosfera e destroem a incrível
biodiversidade que a floresta úmida tropical sustenta. Orangotangos, uma das espécies mais
ameaçadas do mundo são mortos diariamente em monoculturas de palma.

Etanol de milho é ineficiente no uso do solo. É o mais desperdiçador dos cultivos para biodiesel.
Só economiza 22% das emissões em relação ao combustível fóssil e seu balanço de energia é
baixo: 1,3:1. O milho também costuma ser produzido com uso de muito fertilizante à base de
combustíveis fósseis e a maioria dos cultivares nos EUA são transgênicos, e, portanto, vem com os
riscos associados.

Algas são minúsculas fábricas biológicas que usam a fotossíntese para transformar CO2 e luz
solar em energia de modo tão eficiente que elas podem duplicar seu peso várias vezes por dia. O
uso de algas para produção de biodiesel ainda está no estágio de pesquisa, mas as perspectivas
são excelentes. Elas podem ser produzidas na água salgada, doce ou mesmo contaminada; no
mar ou em lagos; e em terra adequada ou não para produção de alimentos. Podem até mesmo ser
alimentadas com CO2 para crescer mais rápido.

Óleo Reciclado: Carros e caminhões com motores a diesel podem funcionar a base de óleo de
fritura usado por restaurantes ou lanchonetes. A exaustão do carro vai cheirar a fritura. Embora,
esteja longe de existir suficiente desse tipo de óleo reciclado para uso extensivo, pode ser uma
solução para algumas pessoas que gostariam de ser super verdes e economizar dinheiro ao
mesmo tempo.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 118


4.2. Tecnologias de uso eficiente de energia

Os maiores ganhos no desenho de sistemas de energia vêm da conservação. Isso inclui o super
isolamento térmico de edificações, a redução do peso dos veículos, a eficiência no uso da energia,
e por aí afora. Muitos aparelhos consumidores de energia possuem classificação de consumo
energético, o que possibilita escolhas inteligentes. As indústrias se concentram na segurança de
seu suprimento energético, o que muitas vezes quer dizer uma rede privada com alguma
capacidade de geração local, simultânea à conexão com a rede pública. Elas também trabalham
para atingir uma contínua eficiência de seus sistemas. Isso envolve a análise do processo industrial
desde seus princípios para reduzir energia e desperdício. Também significa atitudes menores,
como substituir motores elétricos por modelos mais eficientes e controles mais inteligentes. Nesta
seção, exploraremos três tecnologias. As primeiras duas se referem a construções e a terceira a
transporte, como ilustrado no Mapa de Energia no começo da seção sobre Energia.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 119


Calor e energia combinados (CHP)

Usina de CHP – cogeração de energia e calor

CHP é a produção conjunta de eletricidade e calor pelo mesmo sistema. É particularmente


apropriada para municipalidades, onde o aquecimento de um distrito é energizado pelo calor
gerado, como um “subproduto” da geração de energia. Processos industriais também precisam
com frequência de calor e eletricidade no mesmo local.

A maioria dos sistemas grandes usa combustíveis convencionais, porém há um uso crescente de
metano de usinas de gás de aterros sanitários e distribuição de calor onde isso é viável.
Combustíveis não fósseis para CHP podem ser o metano de biodigestores anaeróbios ou biomassa
de uma floresta local. Acima de ~1MW a madeira combustível pode ser gaseificada. Sistemas
menores geram vapor, que é usado em turbinas a vapor. Isso reduz a eficiência da geração elétrica
para algo como 25%. O calor costuma ser distribuído por um sistema local de aquecimento.

Micro unidade CHP

4. Tecnologia Apropriada: Energia 120


Clipping da imprensa - 14 de novembro de 2008

A energia descentralizada pode economizar para Londres até 3,5 toneladas de CO2 por ano.
(www.chpa.co.uk)

Descentralizar um quarto do fornecimento de energia de Londres poderia ajudar a capital a reduzir


as emissões de carbono em 3,5 toneladas, de acordo com um estudo publicado por London First.
O relatório “Cortando a pegada de carbono da capital” (“Cutting the Capital‟s Carbon Footprint”),
propõe a colaboração entre o governo central, a prefeitura e suas agências, companhias de
energia, incorporadores e administradores locais para descentralizar um quarto da energia de
Londres. Conectar grandes usuários de calor como empreendimentos habitacionais, centros de
lazer e hospitais a usinas de energia localmente localizadas pode trazer ganhos maciços em
eficiência, ao contrário da geração centralizada com suas enormes perdas de calor e perdas de
carga pelas longas linhas de transmissão. Alguns centros locais de energia podem produzir energia
a partir de recursos renováveis como lixo não reciclável.

Micro CHP

Hoje há usinas micro de CHP disponíveis, movidas a gás natural ou diesel.

O princípio é que um motor movido a gás ou óleo acione um gerador de eletricidade. O calor do
bloco do motor, do resfriador do óleo e da exaustão, que normalmente seriam desperdiçados, é
absorvido por um líquido refrigerante por um trocador de calor de alta eficiência. Essa energia,
armazenada como água quente, é então utilizada diretamente para aquecimento central, água
quente doméstica, o indiretamente para ar condicionado. Em geral, a produção de um 1kw de
energia gera 2kw de energia térmica utilizável. Essas unidades de cogeração são movidas a gás
natural ou diesel e têm um grande sistema de armazenamento de calor e controle avançado por
computador (www.ecpower.co.uk).

Um modelo de micro CHP a lenha está em desenvolvimento, baseado no motor Sterling.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 121


Bomba de calor com base no solo

Essa tecnologia pode ser utilizada em grandes edificações, conjuntos de edifícios ou uma casa.
Geralmente, os maiores sistemas possuem menores custos por kWh.

Uma bomba de calor com base na terra (ou geotérmica) funciona como um refrigerador. Se há
necessidade de calor, uma grande quantidade de terra é ligeiramente resfriada e o calor entregue
em uma forma “concentrada” ou de alta temperatura para suprir a central de calefação de uma
edificação.

No ciclo de resfriamento, o sistema funciona ao inverso – aquecendo o solo e resfriando a casa. No


verão, o ar condicionado é energizado pela bomba de calor e no inverno a terra aquecida é
resfriada. Em algumas regiões, tanto aquecimento como resfriamento (ou desumidificação) é
necessário, o que é ideal para essa tecnologia.

Para o ciclo de aquecimento, a energia tirada da terra durante o inverno para aquecer a residência
é substituída por energia solar, que incide sobre a terra ao longo do ano. A energia movida, ou
“bombeada”, da terra é uma energia “renovável” natural. Essa energia da terra é aproveitada pela
circulação de água do poço ou da serpentina na terra.

O resfriamento da água em circulação pela bomba de calor faz a energia térmica fluir da terra mais
quente em volta do poço ou da serpentina para a água circulante.

A bomba de calor então transfere essa energia térmica no sistema de calefação da edificação, que
por sua vez aquece a casa.

O que torna esse processo de reciclar energia solar armazenada da terra tão econômico, é que
pouca eletricidade no compressor da bomba de calor é utilizada para transferir considerável
energia da terra para a casa. As bombas de calor podem entregar quatro vezes a energia usada
pelo compressor.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 122


Como as unidades funcionam

Energia geotérmica

Estilos de bombas de calor geotérmicas:

Há dois tipos de bombas de calor geotérmicas, identificadas como:

1. Bomba de calor da água para a terra, que tira o calor da água em um trocador de calor e o
transfere para o ar em outro trocador, para distribuir o calor por dutos de ar na casa.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 123


2. Bomba de calor da água para a água, que tira calor da água em um trocador de calor e o
transfere para água em um segundo trocador. Essas unidades de água para água
distribuem o calor pela casa, normalmente por aquecimento por piso radiante.

A Agência Ambiental dos EUA (EPA) fez pesquisas extensas sobre as bombas de calor

Passos necessários no processo de escolha de um sistema geotérmico

1. Seleção dos sistemas de distribuição de aquecimento ou resfriamento é o primeiro passo


mais importante, porque ele determina o tipo de bomba de calor necessária (água para
água, ou água para ar) e impacta a eficiência do sistema de distribuição em uma
construção.

2. O Segundo passo é especificar os níveis de aquecimento e resfriamento para fazer o


melhor investimento de longo prazo para a infraestrutura de condicionamento do ar na
edificação.

A Heat Pump Association (Associação da Bomba de Calor), HPA é a maior autoridade do Reino Unido no
uso e benefícios da tecnologia de bomba de calor

Onde há espaço suficiente na construção e a terra é adequada, um sistema com loop horizontal
costuma ser o mais econômico. Onde tem um aquífero, ou um açude fechado, também. Onde há
um aquífero, o método do poço tubular poderia ser avaliado. Água para água é o sistema mais
eficiente.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 124


Configurações de bombas de calor

A tecnologia é confiável, e apesar do investimento de capital ser mais alto que o de alternativas
convencionais, os custos de operação costumam ser 30-50% menores.

Alguns videos úteis no You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=ybfVoiN14HE&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=Z5rxV3R9RbQ&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=-ajqiPe_9Ko&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=pwZYMkziUWQ&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=DwKXkN58kqo&feature=related

4. Tecnologia Apropriada: Energia 125


4.3. Transporte sustentável

Transporte é uma das áreas mais difíceis de diminuir a pegada de carbono. Estamos muito
acostumados com a efetividade dos combustíveis fósseis em nos abastecer com energia móvel.
Para o designer de ecovilas, seguem algumas opções:

 Minimizar as necessidades de transporte dentro da ecovila e na biorregião, o que significa a


relocalização das atividades e o fortalecimento dos laços internos.

 Estimular as bicicletas – talvez bicicletas elétricas para jornadas maiores.

 Se há cultivos para biocombustíveis locais, considere a prensagem de óleos adequados,


como colza, girassol, mamona ou soja.

 Ônibus da ecovila e compartilhamento de carros.

 Adote novas tecnologias, na medida em que se tornem viáveis: tecnologias elétricas, de ar


comprimido e de hidrogênio.

Carros movidos a hidrogênio – algumas pesquisas promissoras

Pesquisas recentes estão mostrando que gerar hidrogênio por eletrólise com energia é eólica e
usá-lo em um carro movido a célula de combustível pode ser viável. O problema atual é que os
carros a célula de combustível são caros, por causa da pequena escala de produção.

4. Tecnologia Apropriada: Energia 126


5. Construções verdes e retroajustes

O site Sustainable Construction possui informação que ajuda as pessoas a construir edificações de baixo
carbono. Eles publicam a revista Green Building para ajudar você a desenhar e construir casas, escritórios e
fábricas sustentáveis, saudáveis e ecológicas.

Usar construções verdes é uma abordagem de construção de assentamentos sustentáveis. É uma


filosofia de design, de tecnologia e de inclusão dos usuários das edificações, trabalhando com
todas as ideias incorporadas na Educação Gaia. O envolvimento e treinamento de residentes em
um eco-empreendimento é essencial para o sucesso do projeto. A tabela abaixo resume os
principais tópicos desta seção:

1. Conservação – principalmente em relação a materiais de construção verdes;

2. Energia – visando a neutralidade de carbono;

3. Estratégias bioclimáticas – design inteligente;

4. Manejo dos resíduos – reciclando sólidos e água o quanto for possível;

5. Comunicações – envolvimento da comunidade assim como controles inteligentes das


tecnologias, banda larga e segurança.

5. Construções verdes e retroajustes 127


Construção verde – rumo à sustentabilidade

Para edifícios de baixo carbono, como linha geral, 50% do sucesso pode ser atribuído à arquitetura,
25% a equipamentos bons e eficientes e 25% à atitude dos ocupantes.

Em vez de dar uma lista de tecnologias para edificações verdes, este módulo abordará um
empreendimento típico de ecovila, com até 30 casa, com estratégias para climas quentes e frio.

Aqui vai um programa básico para esse assentamento:


 Um tema de design simples e compartilhado, compatível com a linguagem vernacular local
 Casas relativamente pequenas, contribuindo para a economia e uma pegada ecológica
pequena
 Aquecimento da água e do espaço solar passivo (ver a seção de Energia)
 Bioarquitetura – resfriamento com o paisagismo e beirais dos telhados para sombreamento
e ventilação natural
 Uso de matérias locais onde for possível, com baixa energia incorporada
 Assentamento carbono neutro na sua operacionalização, o que significa sem combustíveis
fósseis, ou pelo menos para um “padrão ouro” de 4 a 6kg CO2 ano/m²
 Uso da permacultura como princípio básico de design no assentamento

5. Construções verdes e retroajustes 128


 Produção de alimento de pequena escala, com cultivos horticulturais protegidos
 Uso de biomassa para cozinhar e aquecimento complementar, incluindo sistemas de várias
casas
 Aproveitamento da água de chuva e irrigação com águas cinzas
 Tratamento local de esgoto e reuso do efluente tratado, incluindo sanitários secos
compostáveis
 Compostagem dos resíduos orgânicos
 Instalações compartilhadas – jardins e hortas, casa comunitária, cozinha externa, banheira
aquecida a lenha e/ou sauna, estufa, “tratores de galinha”, abrigo para lavanderia e
bicicletário
 Cohabitação (cohousing) e modelo de propriedade da terra comunitário ou por associações
 Compartilhamento de carro e produção de biodiesel

Ecohouse – a casa ambientalmente sustentável, por Susan Roaf, Manuel Fuentes e Stephanie Thomas

Uma comunidade de cohabitação (cohousing) é um tipo de comunidade intencional composta de casas


particulares com cozinhas completas, complementadas por várias instalações comunitárias. Uma
comunidade de coabitação é planejada e manejada pelos residentes, que são também proprietários.

* Muitos dos desenhos desta seção são do livro Ecohouse – a casa ambientalmente sustentável,
de Susan Roaf, Manuel Fuentes e Stephanie Thomas. Veja a bibliografia.

5. Construções verdes e retroajustes 129


5.1. Design simples e compartilhado

O primeiro princípio é enxergar o edifício como um conjunto de sistemas cíclicos interconectados,


como ilustrado embaixo:

Pensamento de design linear X Pensamento de design cíclico

Os princípios da abordagem sistêmica integral e do design restaurativo ambiental servirão de base


para os estágios iniciais (veja a seção em Princípios de Desenho de Ecovilas)

A Hipótes da Biofilia (Biophilia Hypothesis) sugere que há um elo instintivo entre seres humanos e outros
sistemas vivos. Edward O. Wilson e Stephen R. Kellert apresentaram e popularizaram a hipótese em seu livro
chamado “Biofilia”

5. Construções verdes e retroajustes 130


5.2. Calefação e resfriamento – do ambiente e da tecnologia

A orientação da edificação em relação ao sol, juntamente com as características do local, é da


maior importância para criar um desenho ecologicamente inteligente. Onde o aquecimento é um
tema central, um desenho solar passivo determinará a orientação para o sol. Onde o resfriamento é
uma consideração importante, o paisagismo pode fornecer sombreamento e o vento proporcionar
ventilação natural.

Design para o hemisfério norte – a orientação da construção em relação ao norte

Trajetórias do sol no hemisfério norte

Estratégias bioclimáticas: Paisagismo com árvores decíduas (que perdem as folhas no inverno) e
beirais estendidos nos telhados podem fornecer sombra para o resfriamento no verão. O sol mais
baixo no inverno através das árvores nuas pode fornecer aquecimento solar passivo (ver
Bioarquitetura).

5. Construções verdes e retroajustes 131


Áreas sombreadas – verão e inverno

O aquecimento solar passivo pode ser alcançado pela construção de massas térmicas na estrutura.
Massa térmica combinada com isolamento térmico em uma construção atenua as mudanças no
ambiente externo – criando assim temperaturas mais uniformas internamente. Esses processos
podem ser melhorados com sistemas ativos, usando ventiladores e bombas.

Construindo massa térmica em uma estrutura

Eliminação de frestas de ar, onde a calefação é necessária, faz uma grande diferença no
orçamento de energia. Contudo, a ventilação forçada será necessária nos banheiros e cozinha.

5. Construções verdes e retroajustes 132


Ventilação

Tecnologias de aquecimento e resfriamento ativo são descritas na seção de Energia, incluindo


bombas de calor a partir do solo para aquecimento e resfriamento, aquecimento por biomassa e
CHP, solar térmica e biogás.

Fluxos de ar na casa

Telhado verde

A instalação de um telhado verde pode proporcionar um isolamento térmico extra assim como um
ganho estético ao desenho. Muitos telhados verdes absorvem a energia do sol em vez de refleti-la
e podem reduzir a temperatura ambiente no entorno urbano. Uma boa opção de plantas são as
suculentas do gênero Sedum.

5. Construções verdes e retroajustes 133


Modelos de telhado vivo

5. Construções verdes e retroajustes 134


5.3. Assentamento carbono neutro

Tecnologias carbono neutro e de avaliação pegadas de carbono são descritas na seção de


Energia. A não ser que a rede local de eletricidade seja principalmente hidroelétrica ou use alguma
outra energia renovável, pode ser necessário instalar alguns geradores eólicos, placas fotovoltaicas
ou uma usina CHP. A energia eólica costuma ser a mais acessível e fácil de operar, uma vez que
costuma possuir controles eletrônicos de gerenciamento.

Na Escócia, por exemplo, a pegada média de carbono em toneladas de CO2 por pessoa/ano é:

Eletricidade e aquecimento, mais energia para cozinhar em nível doméstico costumam totalizar
mais de um quarto da pegada média pessoal de carbono. Cozinhar pode ser um desafio para um
design que elimine o uso de combustíveis fósseis. Se houver biogás disponível localmente, é uma
boa solução. Cozinhar com lenha também traz desafios, em particular o trabalho de cortar, secar e
transportar. Se a eletricidade vem de fontes renováveis, tecnologia de cozimento por indução é
uma solução eficiente, como mostrado ao lado.

O Programa CarbonLite é uma iniciativa da AECB que fornece ferramentas e conhecimento para criar
edificações de baixa-energia alinhados com a legislação existente e futura, cobrindo tanto edifícios
domésticos como comerciais.

5. Construções verdes e retroajustes 135


Pegada ecológica

Também é relevante avaliar a pegada ecológica, onde os números estão disponíveis. Abaixo há
uma tabela de pegada ecológica por consumo, retirada de 31 países.

Habitação, incluindo água e energia, é o maior segmento, com 27%, seguido por alimentação, com
23%.e transporte em terceiro com 14%. Portanto, dois terços da pegada são diretamente
relacionados aos assuntos tratados no design de ecovilas.

5. Construções verdes e retroajustes 136


Edifícios inteligentes

Controles, como parte da estratégia de design, podem proporcionar economias significativas na


gestão de energia e água. Esses sistemas também podem ser conectados a uma estação central,
que pode fornecer segurança, monitoramento, telefone, TV, banda larga e emissão de contas e
medições digitais. Alguns desses serviços estão ilustrados em in www.Smart3.co.uk e sistemas e
controles integrados de serviços públicos em www.ecocentrogen.com.

Casa de fardos de palha em Sieben Linden, um bom exemplo de Construção Natural

A taipa de pilão é uma técnica construtiva com barro cru ou estabilizado. Tradicionalmente, construções taipa
de pilão são comuns em regiões onde a madeira é escassa

Cal tem isso usada com um aglutinante para massas e rebocos nos últimos 10.000 anos

5. Construções verdes e retroajustes 137


5.4. Usando materiais locais

Esse é um tema muito amplo e é determinado pela biorregião específica. Alguns materiais com alta
energia incorporada:

 Concreto

 Alumínio

 Aço

 Itens altamente industrializados

 Materiais volumosos transportados a grandes distâncias

Alguns materiais com relativa baixa energia incorporada:

 Madeira local

 Blocos de argila não assados

 Terra compactada (taipa de pilão)

 Cerâmicas e telhas locais

 Isolamento térmico local, que pode ser lã de carneiro, papel reciclado, palha, cânhamo

A energia incorporada de vários materiais de construção juntamente com a atividade de construção


e transporte, pode ser encontrada no site do Rocky Mountain Institute (www.rmi.org). Vale a pena
fazer algumas contas com o auxílio de tabelas de energia incorporada na hora de comparar
diferentes possíveis abordagens.

5. Construções verdes e retroajustes 138

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