EDUCAÇÃO INFANTIL
E NOS ANOS INICIAIS
PROFESSORES
NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Direção Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin, Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho,
Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff,
Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção
de Relacionamento Alessandra Baron, Gerência de projetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do
Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Contéudo Mara
Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva,
Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Qualidade Textual Hellyery Agda, Revisão Textual
Cíntia Prezoto Ferreira, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.
2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande as demandas institucionais e sociais; a realização
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, de uma prática acadêmica que contribua para o
informação, conhecimento de qualidade, novas desenvolvimento da consciência social e política e, por
habilidades para liderança e solução de problemas fim, a democratização do conhecimento acadêmico
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência com a articulação e a integração com a sociedade.
no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: ser reconhecida como uma instituição universitária
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará de referência regional e nacional pela qualidade
grande diferença no futuro. e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume competências institucionais para o desenvolvimento
o compromisso de democratizar o conhecimento por de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos universitária; qualidade da oferta dos ensinos
brasileiros. presencial e a distância; bem-estar e satisfação da
No cumprimento de sua missão – “promover a comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica
educação de qualidade nas diferentes áreas do e administrativa; compromisso social de inclusão;
conhecimento, formando profissionais cidadãos que processos de cooperação e parceria com o mundo
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade do trabalho, como também pelo compromisso
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar e relacionamento permanente com os egressos,
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com incentivando a educação continuada.
boas-vindas
Fabrício Lazilha
Diretoria de Planejamento de Ensino
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível crescimento e construção do conhecimento deve
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores
Professora Doutora
Vânia de Fátima Matias de Souza
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2014). Mestre em Educação
Física pela UEM (2009). Graduada em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e
Letras de Paranavaí (Fafipa/2000) e graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL/2000). Professora Adjunta do Departamento de Educação Física da UEM. Líder do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq). Tem experiência na área
de Educação, com ênfase em Educação Física Escolar, atuando principalmente nos seguintes temas:
infância, estágio supervisionado, formação profissional e políticas públicas.
Link: <http://lattes.cnpq.br/7642081335847897>.
Professor Doutor
Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira
Pós-Doutor em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2015). Doutor
em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/1999). Mestre em Ciência
do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/1988). Especialista em
Educação Física Infantil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/1984). Graduado em Educação
Física pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar/1979). Atualmente é professor Associado nível
C da UEM. Integrante do Programa de Pós-Graduação Associado UEM-UEL em Educação Física, com
orientações de mestrado e doutorado. Tem experiência na área de educação física, com ênfase em
Métodos e Técnicas de Ensino e Metodologia da Pesquisa, atuando principalmente nos seguintes
temas: formação profissional, currículo, atividade física e saúde, educação física escolar, atividade
física e obesidade. Consultor ad hoc do Ministério da Educação/SESu/Inep para comissões de ava-
liação institucional e de autorização e reconhecimento de cursos em educação física. Atuou como
Consultor do Ministério do Esporte na Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis)
como Coordenador Pedagógico Nacional dos Programas de Esporte Educacional.
Link: <http://lattes.cnpq.br/5845836567219056>.
6
apresentação
Seja bem-vindo(a)!
Caro(a) aluno(a), este material é fruto de reflexões e análises que buscam con-
tribuir para que as aulas de educação física escolar, tratadas na educação infantil
e nas séries inicias do ensino fundamental, possam avançar cada vez mais! Afinal,
reconhecemos que o caminho trilhado pela educação física no universo escolar
tem sido uma trajetória marcada pela busca de uma ação pedagógica que valorize
o desenvolvimento da criança, respeitando suas individualidades, potencializando
suas capacidades e valorizando suas experiências, sua cultura e seus conhecimentos.
Neste livro, trazemos uma proposta de intervenção por meio da qual você poderá
construir um planejamento para as aulas aplicadas no contexto de atuação da educação
física escolar a partir da valorização das potencialidades da criança. Aliás, é ela – a
criança – o centro de nossas ações e interações, e é por esse motivo que trazemos
argumentos e apontamentos que contribuirão para a organização dos conteúdos.
As discussões aqui apresentadas se dão a partir das relações estabelecidas
entre as temáticas do movimento e da corporeidade; do movimento e dos jogos;
do movimento e do esporte; do movimento em expressão e ritmo; e, por fim, do
movimento e da saúde. Nosso intuito é que você tenha um rol de conhecimentos
que lhe possibilite estruturar um planejamento adequado à realidade das crianças
no contexto escolar.
Para tanto, o livro foi organizado e escrito com o intuito de levar você a en-
tender a importância do planejamento para as aulas de educação física escolar.
Assim, organizamos as discussões trazendo reflexões e análises acerca do conceito
e construção da infância, e trazemos os apontamentos legais da educação física
escolar, que irão ajudá-lo(a) a compreender como se dá o processo de legalização
da educação física.
Outro ponto central para as ações didático-pedagógicas apresentadas neste livro
é a questão do planejamento, que está estruturado e organizado por meio de um
passo a passo para a construção de um bom programa escolar. E, para auxiliá-lo(a)
nessa tarefa, na sequência você terá os mapas conceituais que irão lhe ajudar a com-
por esse planejamento para os contextos da educação infantil e das séries iniciais.
Esperamos que você aproveite a leitura, reflita e analise todos os caminhos e
ações tratados para que as aulas de educação física possam romper com os discursos
fragmentados de uma prática pouco estruturada. Ótimos estudos!
Abraços.
sum ário
UNIDADE I UNIDADE IV
O CONCEITO DE INFÂNCIA: SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES PEDAGÓGICAS
NA SOCIEDADE E NA ESCOLA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
14 O Conceito de Infância: Uma Construção 104 A Educação Física na Educação Infantil: quem
Histórica é a Criança
20 A Infância no Espaço Escolar: da Assistência 110 Características da Criança da Educação Infantil
ao Caráter Educativo das Instituições de Edu-
cação Infantil 114 Mapa Conceitual dos Conteúdos da Educação
Infantil
26 A Escola e a Infância: A Institucionalização da
Criança e da Infância 120 Planejando as Aulas para a Educação Infantil
30 Considerações Finais 122 Considerações Finais
35 Referências 127 Referências
38 Gabarito 129 Gabarito
UNIDADE II
UNIDADE V
A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO PLANEJANDO AS AULAS PARA AS SÉRIES INICIAIS
44 Educação, Educação Infantil e Educação Física DO ENSINO FUNDAMENTAL
48 A Educação Infantil na Legislação 134 A Educação Física nas Séries Iniciais a Partir
54 Refletindo Sobre A Educação Física Na Edu- das Abordagens Educacionais: quem é a
cação Infantil Criança
59 Considerações Finais 140 Elementos para a Construção de uma
Proposta Pedagógica: mapas Conceituais 1º
65 Referências ao 3º Anos
67 Gabarito 144 Elementos para a Construção de uma
Proposta Pedagógica: mapas Conceituais do
UNIDADE III 4º e 5º Anos
PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
148 Considerações Finais
74 Planejar é Imprescindível
153 Referências
86 Como Pensar a Educação Física de Forma
Sistematizada 154 Gabarito
88 Caminhos Para o Processo de Estruturação
dos Conteúdos da Educação Física 156 Conclusão Geral
92 Considerações Finais
97 Referências
99 Gabarito
O CONCEITO DE INFÂNCIA:
NA SOCIEDADE E NA ESCOLA
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• O conceito de infância: uma construção histórica
• A infância no espaço escolar: da assistência ao caráter
educativo das instituições de educação infantil
• A escola e a infância: a institucionalização da criança e da
infância
Objetivos de Aprendizagem
• Analisar a construção histórica da infância e suas relações
com o campo escolar.
• Compreender o conceito de infância tratado na sociedade
contemporânea a partir das finalidades do atendimento
das crianças da educação infantil e das séries iniciais nas
instituições educativas.
• Entender as implicações da formação do conceito de
infância nas relações escolares.
unidade
I
INTRODUÇÃO
O Conceito de Infância:
Uma Construção
Histórica
Caro(a) aluno(a), navegar pela história da infância e a infância como objetos centrais das discussões e
implica estar disposto a buscar, junto aos aconteci- encaminhamentos propostos. Afinal, para tratarmos
mentos que se deram na sociedade contemporânea, das questões da corporalidade e do movimento das
as dimensões e compreensões que foram sendo de- ações infantis nesse momento da escolarização, é ne-
sencadeadas a partir das relações sociais, políticas e cessário, em um primeiro momento, entendermos
econômicas existentes, e relacioná-las ao papel que a de quem estamos falando, para, na sequência, com-
criança foi constituindo e ocupando junto à família, preendermos como trabalhar os conhecimentos,
ao Estado e no campo educacional. princípios, normas e valores escolares, respeitando
Para os estudos relacionados à educação física in- os limites e fragilidades das crianças e destacando
fantil e das séries iniciais, vamos considerar a criança suas potencialidades nas aulas de educação física.
14
EDUCAÇÃO FÍSICA
Para tanto, caro(a) aluno(a), iniciamos com o ça tem sido vista, principalmente, a partir das rela-
entendimento básico acerca do que se trata a infân- ções e necessidades sociais. Veja o que dizia Platão
cia – segundo as palavras de Steinberg e Kincheloe sobre a criança da realidade ateniense de sua época:
(2001, p. 11), “a infância nada mais é que um arte-
fato social e histórico, e não uma simples entidade [...] entre todas as criaturas selvagens, a criança
é a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte
biológica”. A partir dessa definição, você deve estar
de razão que nela existe ainda ser indisciplina-
se questionando por que o estudo da infância se faz da, a criança é uma criatura traiçoeira, astucio-
necessário nesse momento. A resposta a esse ques- sa e sumamente insolente, diante do que tem
tionamento está no fato de que é preciso estudar e que ser atada, por assim dizer, por múltiplas
revisar o significado de infância na história da so- rédeas [...] (PLATÃO, 2010, p. 302).
15
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
dencia a partir da afirmativa de Ariès (2006, p. 50), a infância foi modificado para atender as demandas
ao dizer em seus estudos que “até por volta do século que foram surgindo no decorrer de cada momento
XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não da sociedade. Em séculos distintos, esse interesse e
tentava representá-la. É provável que não houvesse preocupação com a infância foram alterados. Até o
lugar para a infância nesse mundo”. século XIII e início do século XIX, por exemplo,
Cabe lembrar que até por volta do século XVIII,
as imagens, gravuras e retratos das crianças foram [...] pode-se apresentar um argumento con-
tundente para demonstrar que a suposta in-
escassos ou quase inexistentes e, quando retratadas,
diferença com relação à infância nos períodos
não eram caracterizadas como crianças, mas como medieval e moderno resultou em uma postura
adultos em miniatura, ou seja, desde a roupa, a ves- insensível com relação à criação de filhos. Os
timenta e a postura até o comportamento ali repre- bebês abaixo de 2 anos, em particular, sofriam
sentado eram de um adulto em tamanho reduzido. de descaso assustador, com os pais consideran-
do pouco aconselhável investir muito tempo
Heywood (2004, p. 23) vai além, e afirma que
ou esforço em um “pobre animal suspirante”,
que tinha tantas probabilidades de morrer com
a ‘descoberta’ da infância teria de esperar pelos pouca idade (HEYWOOD, 2004, p. 87).
séculos XV, XVI e XVII, quando então se reco-
nheceria que as crianças precisavam de trata-
mento especial, ‘uma espécie de quarentena’, an- Como consequência, o trato para com a infância
tes que pudessem integrar o mundo dos adultos. e o desenvolvimento da criança naquele momento
acabava sendo refletida no contexto da educação da
Essa forma de olhar para a criança começou a se mo- criança pequena, o que significava que aos adultos
dificar lentamente a partir do século XIX, com os responsáveis pelas crianças não era exigida nenhu-
estudos realizados e publicados por Ariès (2006). De ma preparação.
acordo com o autor, a preocupação com a infância
vai se dar a partir do instante em que o campo his- A criança não traz mais do que a sua natureza
de indivíduo. A sociedade se encontra, a cada
toriográfico passa a romper com as rígidas regras da
nova geração, como que em face de uma nova
investigação tradicional, institucional e política, para tabula rasa, sobre a qual é preciso construir
abordar temas e problemas vinculados à história so- quase tudo de novo. É preciso que, pelos meios
cial. Nesse sentido, o autor contrapõe as afirmativas mais rápidos, ela agregue ao ser egoísta e so-
de que a infância foi esquecida ou ignorada. Para ele, cial, que acaba de nascer, uma natureza capaz
de vida moral e social, eis aí a obra educação
o que aconteceu foi decorrente das dificuldades em-
(DURKHEIM, 1994, p. 42).
píricas e científicas para se estruturar e reconhecer a
infância a partir da perspectiva histórica. Em sua análise histórica, Ariès (2006) assume e en-
Essas relações ocorridas entre o pensar, o agir, fatiza que a infância do século XIX e início do sé-
o conceituar, valorizar, pesquisar e/ou se preocupa culo XX passou por fenômenos de clausura, pois as
com a formação do ser humano na sua infância tem crianças eram separadas dos adultos por faixa etária
se transformado de acordo com cada tempo histórico e tinham assegurada uma educação voltada para os
– com cada realidade social e econômica o olhar para bons hábitos, o que garantia uma infância inocente e
16
EDUCAÇÃO FÍSICA
civilizada. Desse modo, a vida social em um espaço De acordo com os estudos realizados tanto por Ariès
público era substituída por um espaço privado. As- (2006) quanto por Elias (1994), o destaque foi para
sim, a criança, tida como irracional, não teria meios evidenciar que as crianças, que inicialmente eram
psicológicos para o pensar e o agir socialmente, dei- vistas apenas como seres biológicos, passaram a ser
xando de aproveitar tal momento para aprender ati- vistas e compreendidas na sua totalidade e chegam
tudes socialmente valorizadas, como nos aponta De na sociedade moderna como sendo aquelas que ne-
Mause (1991). cessitavam de grandes cuidados e, também, de uma
Elias (1994), em seu texto A Sociedade dos In- rígida disciplina, a fim de serem transformadas em
divíduos, traz à tona outras reflexões acerca da in- adultos socialmente aceitos. Logo, não era só a fa-
fância ao enfatizar que, ao nascer, o indivíduo tem mília a responsável pela criança; o Estado passa a
uma dependência natural do outro para se tornar ocupar um papel importante junto a essa categoria
social, ressaltando os processos sociais presentes da sociedade. Segundo Levin (1997, p. 254), a par-
na infância. O autor ainda afirma que os valores ou tir da Revolução Francesa, em 1789, modificou-se
crenças, as representações, os sistemas simbólicos a função do Estado e, com isso, a responsabilidade
constituídos pelas crianças e o significado das suas para com a criança e o interesse por ela. Assim, “os
experiências ao longo de seu processo civilizador governos começaram a se preocupar com o bem-es-
têm se modificado ao longo da história da socie- tar e com a educação das crianças”.
dade em função das mudanças sociais; assim, pas- As mudanças e transformações para com o
sou-se a entender que a medida em que a criança se conceito de infância se alteraram, em especial, a
relaciona com os indivíduos à sua volta, a sua sub- partir do século XVIII, isto porque, de acordo com
jetividade se depara com novos mundos que trans- Guiraldelli (1995),
formam seu comportamento social e suas funções
psicológicas. Elias (1994, p. 27), afirma, ainda, que [...] o século XVIII, em que um novo sentimen-
to dos adultos em relação às crianças já carac-
teriza a presença social da noção de infância, o
o indivíduo só se humaniza através do outro, a
que proporciona o advento de uma pedagogia
criança, isolada dessas relações, evolui, na me-
que advoga uma disciplina autônoma, e não
lhor das hipóteses, para a condição de um ani-
mais heterônoma. Se Locke trabalha com o ob-
mal humano semi‐selvagem afinal,
jetivo de estabelecer as condições da liberdade
[...] a criança não é apenas maleável ou adap- dos homens, Montaigne, antes dele, quer que os
tável em grau muito maior que os adultos. Ela adultos façam da criança um homem – o que já
precisa ser adaptada pelo outro, precisada da significa considerar que ela não é um “adulto
sociedade. [...] Na criança, não são apenas as em miniatura” – e Rousseau, depois dele, quer
ideias ou apenas o comportamento consciente que os adultos deixem a criança ser criança, de
que se veem constantemente formados e trans- modo que a infância aconteça, pois ela é o que
formados nas relações com o outro e por meio há de melhor nos homens (GHIRALDELLI,
delas (ELIAS, 1994, p. 30). 1996, p. 15).
17
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Evidente que essa mudança na perspectiva de se co- [...] a infância que aqui está em questão não
locar a infância como um período que compreendia pode ser simplesmente algo que precede cro-
nologicamente a linguagem e que, a uma certa
o desenvolvimento global da criança
altura, cessa de existir para versar-se na pala-
vra, não é um paraíso que, em um determi-
só foi possível porque também se modificaram nado momento, abandonamos para sempre a
na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser fim de falar, mas coexiste originalmente com
criança e a importância que foi dada ao momen- a linguagem, constitui-se aliás ela mesma na
to específico da infância (BUJES, 2001, p. 13). expropriação que dela efetua, produzindo a
cada vez o homem como sujeito (AGAMBEN,
Chegamos à atualidade entendendo que não é pos- 2005, p. 59).
sível classificar a infância como sendo simplesmen-
te uma fase do desenvolvimento humano ou que o Observamos que a palavra “infância” foi se modifi-
crescimento natural da criança se dá exclusivamen- cando ao longo dos tempos: passa de um ser infante
te por razões biológicas, pois essa visão seria muito – “não falante” (ARIÈS, 2006) – para ser valoriza-
reducionista. Tal entendimento foi se constituindo da enquanto um ser em formação essencial e como
durante as transformações da ciência produzida na parte da sociedade à qual pertence. Contribuíram
sociedade moderna, que ao longo dos tempos pas- para essa mudança de pensamento os estudos de
sou a caracterizar e buscar a compreensão da criança Comenius (1592-1670), Locke (1632-1704), Rou-
e da infância a partir dos fenômenos psicológicos, sseau (1712-1778), dentre outros que possibilita-
das influências sociais, culturais e históricas – e essa ram tornar o século XX o que Becchi (1994) vai
realidade é sempre modificada culturalmente. Na chamar de “século das crianças”, em que os estudos
realidade brasileira, o conceito de infância tem sido sobre a infância se colocaram como centro das teo-
o adotado no Ocidente. De acordo com Steinberg rias, das pesquisas, das preocupações pedagógicas,
e Kincheloe (2001, p. 11) “na realidade, o que nos sanitárias e sociais, atentas ao desenvolvimento
últimos anos do século XX foi rotulado como uma das chamadas crianças pequenas.
infância tradicionalmente ocidental tem apenas cer- Com essas compreensões, chegamos à atuali-
ca de 150 anos”, o que significa que ainda temos uma dade entendendo a infância como um momento
história da infância muito recente com escassos es- de desenvolvimento do ser humano que deve ser
tudos que se ocupam do desenvolvimento integral considerado na sua integralidade. Entendemos que
da criança para além do biológico. a criança possui características e necessidades pró-
Essas mudanças podem ser justificadas de acordo prias, que influencia e é influenciada pelo contexto
com Sarmento (2005, p. 363), pelo fato de que histori- em que se encontra inserida, porque pertence a um
camente associamos infância à imagem da criança ou, meio social cuja imersão cultural lhe permite en-
mais especificamente, a uma determinada etapa cro- tender o mundo que a cerca, e o contexto escolar vai
nológica do desenvolvimento humano, fruto de pers- surgir nesse compasso como um importante meio
pectivas biologistas e psicologizantes. Essa perspecti- dessa transformação.
va foi se modificando ao longo dos tempos, afinal,
18
EDUCAÇÃO FÍSICA
19
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
A Infância no
Espaço Escolar:
DA ASSISTÊNCIA AO CARÁTER EDUCATIVO DAS
INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Reconhecemos que a história da infância tem sido Os conceitos de criança e infância são diferen-
marcada por inúmeras transformações e que, ao re- ciados, porém se encontram intimamente ligados. É
fletirmos acerca do desenvolvimento da criança e da preciso entender que, ao tratarmos da criança, esta-
infância no espaço escolar, temos que compreendê- mos nos referindo a uma fase com desenvolvimento
-la a partir das diversas possibilidades e perspectivas e ações desejadas para um determinado momento
históricas de cada contexto e espaço social. cronológico. Quando nos referimos ao conceito de
Segundo Kuhlmann Jr. (1991, p. 05), “a compa- infância, referimo-nos a uma categoria ampla na
ração com o passado precisa superar a linearidade qual se considera a criança um ser social e cultural.
para não obscurecer o presente que se quer pôr em Para esclarecer essas definições, fazemos uso das pa-
questão”. Tendo esse entendimento, compreender lavras de Sarmento (2005a, p. 04), que define que
o conceito de infância e seu desenvolvimento para
as ações do cotidiano pedagógico escolar se torna a infância é independente das crianças; estas são
os atores sociais concretos que em cada momen-
essencial para que estas possam ser planejadas de
to integram a categoria geracional; ora por efeito
acordo com cada momento que a criança está pas- da variação etária desses atores, a “geração” está
sando e que, como consequência, poderá influenciar continuamente a ser “preenchida” e “esvaziada”
no processo de aprendizagem escolar. dos seus elementos constitutivos concretos.
20
EDUCAÇÃO FÍSICA
Para entendermos melhor a definição do termo crian- É visível que, como vimos anteriormente, essa
ça, vamos recorrer ao Estatuto da Criança e do Ado- noção e preocupação para com a infância vai se dar
lescente (BRASIL, 1990). Nele, temos estabelecido efetivamente e com maior intensidade ao longo do
que se considera criança “a pessoa até os 12 anos de século XX, período que se constituiu como um sécu-
idade incompletos”. Kramer (2006) vai além e afirma lo que trouxe inúmeras transformações na sociedade
que as crianças são sujeitos sociais e históricos, que e, em especial, para a infância, para com as responsa-
produzem cultura e são nela produzidas. A infância, bilidades do cuidar e educar a criança pequena. Vale
segundo Castro (2008, p. 04), lembrar que foi nesse século que o Estado passou a
ter efetivamente o dever obrigatório com a educação
deriva da palavra infante e evoca um período infantil, que passou a ser vista como um momento
da vida humana. [...] É um período que pode-
essencial para o desenvolvimento da criança.
ríamos chamar de construção/apropriação de
um sistema de comunicação, de signos e sinais Muitas transformações se aglutinaram com a
destinados a fazerem-se ouvir. presença do Estado como um dos gerenciadores
e responsáveis pela educação da criança, influen-
Em síntese, tratamos aqui de infância, pois conside- ciando e refletindo diretamente em mudanças na
ramos, dentre outras, as transformações culturais, so- construção e ideal de famílias da sociedade con-
ciais, políticas, econômicas e pedagógicas que ocor- temporânea. De acordo com Perez (2012), essas
rem na sociedade num dado tempo e espaço, e que transformações nas finalidades da família resulta-
vão se configurar e se desenvolver de acordo com o ram das mudanças que aconteceram no processo
contexto familiar, social e cultural, tendo ou não um histórico, social, econômico e cultural – muitos
papel social significativo. aspectos contribuíram para a caracterização do
Nesse contexto, podemos considerar as ideias grupo familiar tal qual o concebemos em nossos
de Sarmento (2005), que entende a infância como dias, ou seja, como instituição que representa es-
uma construção social, com diferenças diacrônicas, paço de educação e transmissão de valores e nor-
ou seja, historicamente construídas e transformadas mas, bem como de expressão da afetividade entre
no decorrer dos anos. Há, também, diferenças sin- seus componentes.
crônicas, que revelam que, em um mesmo tempo, as Caro(a) aluno(a), tendo compreendido o trajeto
formas de compreender a infância podem ser distin- histórico da infância, passamos a buscar o entendi-
tas, conforme a localização geográfica, as religiões, a mento de como essas mudanças no conceito e ideal
etnia, a classe social, o gênero, enfim, são muitas as de família e de sociedade passaram a influenciar e
variáveis que interferem na maneira de representar a modificar o campo da educação para atender as
a infância, isso porque é nesse período que se pode crianças que necessitavam de cuidados; afinal, a
experimentar e vivenciar diversas experiências em educação também precisou se adequar para atender
contextos diferenciados. a essas novas demandas sociais.
21
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
22
EDUCAÇÃO FÍSICA
SAIBA MAIS
23
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
24
EDUCAÇÃO FÍSICA
[...] propiciar situações de cuidados, brincadei- Ainda que haja conflitos e distanciamentos entre as
ras e aprendizagens orientadas de forma inte- ações pedagógicas e as delimitações com os cuida-
grada e que possam contribuir para o desen- dos básicos de subsistência da criança nesses espa-
volvimento das capacidades infantis de relação
ços educacionais e o que seria seu objetivo central,
interpessoal, de ser e estar com os outros em
uma atitude básica de aceitação, respeito e con- tanto os documentos orientadores quanto os estu-
fiança, e o acesso a educação poderá auxiliar o diosos da área entendem que, na educação infantil,
desenvolvimento das capacidades de apropria- o educar está relacionado a preparar para o conví-
ção e conhecimento das potencialidades corpo-
vio junto à sociedade, para o mundo do trabalho e
rais, afetivas, emocionais, estéticas, na perspec-
tiva de contribuir para a formação de crianças o cuidar, ao bem-estar relacionado às questões bá-
felizes e saudáveis (RCN/I, vol. I, 1998, p. 23). sicas de subsistência da criança, tais como alimen-
tação e higiene. Ao longo da história da educação e
Por outro lado, o cuidar no documento está definido da infância, a educação infantil passa a assumir, na
como sociedade, o pedagógico que auxilia no desenvol-
[...] parte integrante da educação, embora exigir vimento integral da criança na atualidade, atrelada
conhecimentos, habilidades e instrumentos que às necessidades de desenvolvimento econômico e
extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, político de um determinado grupo social.
cuidar de uma criança em um contexto educa-
tivo demanda integração de vários campos de
conhecimentos e a cooperação de profissionais
de diferentes áreas (BRASIL, 1998, p. 24).
25
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
A Escola e a Infância:
A Institucionalização
da Criança e da Infância
26
EDUCAÇÃO FÍSICA
A história da educação infantil brasileira não diferiu econômico e social das comunidades, para que se
das demais realidades sociais. De acordo com Kuhl- possa oferecer o que a criança necessita para o seu
mann Jr. (1991), a constituição da educação infantil desenvolvimento.
brasileira apresentou como marco representativo os Vale ressaltar que a educação infantil que temos
anos de 1940, quando essa modalidade de ensino tratado refere-se ao estabelecido pela lei, compreen-
passou a sofrer transformações. Kuhlmann Jr. (ibi- dendo o atendimento em creches e pré-escolas. Se-
dem) também destaca o fato de que o processo de gundo Kramer (2001, p. 49), a diferença entre ambas
legalização do ensino da educação infantil se consti- está no fato de que
tuiu efetivamente a partir das definições da Consti-
tuição Nacional de 1988. [...] creche e pré-escola, em geral, distinguidas
ora pela idade das crianças incluídas nos pro-
Outro destaque legislativo para a educação
gramas – a creche se definiria por incluir crian-
infantil se deu nos anos de 1990, com a criação e ças de 0 a 3 anos e pré-escola de 4 a 6 –, ora pelo
implementação do Estatuto da Criança e do Ado- seu tipo de funcionamento e pela sua extensão
lescente (ECA), Lei nº 8.069/90, que regulamentou em termos sociais – a creche se caracterizaria
os artigos da Constituição Federal e esclareceu as por uma atuação diária em [horário integral], e
a pré-escola, por um funcionamento semelhan-
ações que deveriam ser realizadas, efetivando a
te à escola, em [meio período]. Há ainda uma
legalidade dos direitos da criança a partir de uma terceira classificação que diz respeito à vincu-
normativa legal. lação administrativa: a creche se subordinaria,
Além da Constituição de 1988 e do ECA em assim, a órgãos de caráter médico ou assisten-
cial, e a pré-escola ao sistema educacional.
1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei
nº 9394/96 – legalizou efetivamente as ações políti-
cas enquanto predisposições, orientações e normati- A educação infantil é considerada a primeira etapa
vas de uma legislação educacional, na qual se reco- da educação básica que tem por objetivo o desenvol-
nhece oficialmente que as creches e pré-escolas para vimento integral da criança, em seus aspectos físi-
crianças de zero a seis anos são parte integrante do co, psicológico, intelectual e social, e se constitui em
sistema educacional, sendo consideradas a primeira um espaço privilegiado para interação e aprendiza-
etapa da educação básica. gens significativas, onde o lúdico é o foco principal
No entanto, mesmo com as definições legais, o (BRASIL, 1996).
objetivo da educação infantil ainda causa polêmica
na sociedade atualmente, haja vista que, de acordo
REFLITA
com Craydi (2001, p. 24), é preciso estar claro que
as “creches e pré-escolas têm uma função de com-
plementação e não de substituição da família, como Se a educação infantil é uma necessidade
social, por que os organismos nacionais e
muitas vezes foi entendido”. Nesse sentido, esses es- internacionais tratam esses espaços educa-
paços educativos devem estar integrados às diversas tivos como sendo espaços em que o educar
realidades e necessidades das infâncias, consideran- sucumbe ao cuidar?
27
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Segundo Kramer (2006), é preciso entender que a [...] as crianças possuem uma natureza singu-
lar, que as caracteriza como seres que sentem e
educação infantil e o ensino fundamental são indis-
pensam o mundo de um jeito muito próprio. E
sociáveis e, para tanto, devem assumir a apropria- isto através das interações que estabelecem des-
ção da cultura como suporte para a educação das de cedo com as pessoas que lhe são próximas e
crianças, respeitando-se, em contrapartida, nas duas com o meio que as circunda, as crianças reve-
lam seu esforço para compreender o mundo em
modalidades de ensino, as crianças nas suas singula-
que vivem as relações contraditórias que pre-
ridades. Devem ser espaços nos quais a ludicidade, senciam, por meio das brincadeiras, explicitam
a imaginação e as interações sociais sejam os eixos as condições de vida a que estão submetidas e
estruturantes considerados como as culturas infan- seus anseios e desejos (BRASIL, 1996, p. 21).
tis (SARMENTO, 2005).
Essa relação de infância e educação, aspectos Para além dos documentos orientadores que legis-
conceituais e orientações normativas e pedagógi- lam e deliberam acerca da educação infantil bra-
cas vão se dar, no entendimento de Molina e Lara, sileira, tem-se os documentos provenientes das
(2008, p. 3982) pela compreensão de que agências e organismos multilaterais, que trazem
orientações acerca da compreensão do conceito de
[...] infância, do mesmo modo que a educação, infância a partir das análises descritas em seus do-
não pode ser compreendida fora de um contex-
cumentos. Rosemberg (2001, p. 27-28) postula que
to socioeconômico e político. Por isso, quando
se fala em infância, não é possível se referir à
criança sem se considerar o tempo, o lugar e a as políticas de educação infantil contemporâ-
estrutura social na qual ela está inserida. neas nos países subdesenvolvidos têm sido for-
temente influenciadas por modelos ditos ‘não
formais’ a baixo investimento público, propug-
Logo, infância, educação, políticas públicas e ações nados por organismos multilaterais.
pedagógicas estão sempre entrelaçadas, afinal, para
se desenvolver as proposições e encaminhamentos Na concepção dessa autora, as influências sobre os
nessa instituição de ensino é preciso seguir as nor- projetos da educação infantil brasileira, na atuali-
mativas da legislação. dade, provêm, em especial, do Banco Mundial.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Outro destaque é a afirmativa de Campos (2013).
Educação Nacional, nº 9394/96, nos artigos 29, 30 Segundo a autora, nas últimas décadas, cresceram as
e 31, específicos da educação infantil, tem-se esta- discussões acerca das crianças e seus direitos, sendo
belecido e considerado como sendo essa modalida- este, inclusive, o tema de diferentes conferências e
de de ensino a primeira etapa da educação básica. reuniões internacionais e regionais. Dentre os di-
Consolidando essa lei, o Referencial Curricular Na- reitos aí referidos, o direito à educação, sobretudo à
cional para a Educação Infantil também vai trazer as educação infantil, configurou-se como uma questão
orientações para as ações nesses espaços educativos, fundamental para os governos locais. Segundo Dale
definindo a educação infantil como um espaço em (2004), as agências e organismos multilaterais, tais
que se deve considerar que como a Unesco e a Unicef, têm influenciado de for-
28
EDUCAÇÃO FÍSICA
ma significativa o desenvolvimento das ações políti- desenvolvimento da educação infantil, uma vez que
cas e governamentais para com a educação infantil. essa modalidade de ensino deve ser uma forma de
Entre esses documentos que têm, na atualidade,
transformado e modificado as relações, objetivos e [...] fortalecer os programas destinados à pri-
meira infância e dinamizar a produção de co-
metas para serem desenvolvidas na educação infan-
nhecimentos sobre a infância na região, apoian-
til, destacam-se as orientações continuadas da Con- do o esforço de pesquisa educacional baseada
ferência de Jomtienbem como os seguintes: Proyecto nas experiências intersetoriais com populações
regional de educación para América Latina y el Caribe vulneráveis, e difundir as lições aprendidas
(Unesco, 2002); Síntesis regional de indicadores de la (OEA, 1998, p. 05).
29
considerações finais
C
aro(a) aluno(a), no decorrer desta unidade trouxemos as discussões
acerca do conceito de infância, discutimos e refletimos sobre o fato de
que a infância se constituiu historicamente enquanto artefato social
e histórico que foi e tem sido moldado de acordo com cada tempo e
espaço, vinculado a um fazer social necessário para cada momento vivido pela
sociedade.
Vimos que a infância em suas múltiplas facetas tem sido tratada no espaço es-
colar como uma ação necessária ao desenvolvimento do homem para a vida em
sociedade, mas que a educação infantil persevera na dicotomia de como tratar a
criança inserida em seu espaço escolar, vagando entre as ações de cunho assisten-
cialista e práticas de caráter totalmente educativos.
A partir da análise estrutural e conjuntural do conceito de infância a partir do
lócus social, percebemos a existência de uma linha tênue entre o ser criança e a
necessidade de se estruturar e orientar e/ou normatizar as ações políticas e gover-
namentais de tal modo que a finalidade do atendimento às crianças da educação
infantil e das séries iniciais nas instituições educativas seja por meio de ações de
corresponsabilidade, nas quais Estado e Família comunguem dos mesmos an-
seios para que as relações escolares possam ser bem-sucedidas.
Tendo essa compreensão, é possível que se tenha chegado ao final desta uni-
dade com o entendimento de que a educação infantil é uma modalidade de ensi-
no com características próprias, que as crianças envolvidas nesse contexto devem
ter suas particularidades respeitadas, e que essa é uma modalidade integrada ao
conjunto da estrutura educacional que compõe a Educação Básica no País. As-
sim, teremos um educador reflexivo com condições de compreender que as ações
no local são sempre originárias ou influenciadas pelo global e que, portanto, a
educação infantil não se difere ou se distancia desse fato.
30
atividades de estudo
31
LEITURA
COMPLEMENTAR
EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGOS E BRINCADEIRAS mente como ações e desenvolvem a coordenação moto-
EM PAUTA ra e sensorial das crianças; em seguida vêm as atividades
que aparecem como imitações, dramatizações, constru-
A educação infantil brasileira tem sido um tema recor-
ção, modelagens, reconhecimento de figuras e símbolos,
rente nos debates educacionais que tratam das políticas
desenhos e linguagem, que trabalham o simbólico da
da educação, das questões pedagógicas, do seu papel
criança e, assim, posteriormente são codificadas e apare-
na sociedade atual e do trato com a infância. Kramer
cem como o processo de leitura e escrita (alfabetização).
(2006) corrobora essa afirmativa ao defender a ideia de
que nos últimos vinte anos no Brasil têm-se destacado as
discussões da educação infantil nos fóruns estaduais de CONHECENDO E CONCEITUANDO JOGOS E
educação, especificamente no tocante ao financiamento BRINCADEIRAS
e ao papel que a educação infantil ocupa no cenário da A compreensão de infância, cultura, jogos e brincadeiras
Para Ferrero e Teberosky (1999, p. 105), devemos consi- opção foi partir do pressuposto e entendimento de uma
32
LEITURA
COMPLEMENTAR
33
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Crianças Invisíveis
Ano: 2006
Sinopse: o documentário Crianças invisíveis, lançado em 2006,
mostra a realidade de um grupo de crianças, muitas em situ-
ação de vulnerabilidade, que vivem no Brasil, Itália, Inglaterra,
Sérvia, Burkina Faso, China e Estados Unidos. Retrata a infância
construída por crianças que coletam sucata nas ruas de São Paulo ou que roubam para viver
em Nápoles e no interior da Sérvia. Mostra a realidade vivida por essas crianças de forma
explícita, denunciando problemas, erros e dificuldades que elas enfrentam no seu dia a dia.
Esse documentário não só irá lhe permitir trazer à tona suas lembranças de infância, mas
também vai lhe fazer refletir sobre o que estamos fazendo pelas crianças da nossa realidade.
34
referências
35
referências
COELHO, B. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 2001.
COSTA, R. A educação infantil na idade média. In: Jornada de Estudos Antigos e
Medievais, 2.: Transformação social e Educação. Maringá: Universidade Estadual
de Maringá, 2002.
CRAIDY, C. M. Educação infantil e as novas definições da legislação. In: CRAI-
DY, C. M.; KAERCHER, G. E. (Org.). Educação infantil: pra que te quero? Porto
Alegre: Artmed, 2001, p. 23-26.
DALE, R. Demonstrando a existência de uma “cultura educacional mundial
comum” ou localizando uma “agenda globalmente estruturada para educação”.
Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 87, mai./ago. 2004.
DE MAUSE, L. História de la infancia. Madri; Alianza Universid: 1991.
DOENELLES, L. V. Meninas no Papel. 2002. Tese (Doutorado) - Universidade
Federal do rio Grande do Sul. Faculdade de educação. Programa de pós-gradu-
ação em Educação, Porto Alegre, UFRGS, 2002. Disponível em: <http://www.
lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/1645/000354212.pdf;sequence=1>. Aces-
so em: 03 out. 2017.
DURKHEIM, E. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1967.
ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
GUIRALDELLI, P. Infância, escola e modernidade. São Paulo: Cortez, 1996.
HEYWOOD, C. Uma história da infância: da Idade Média à época contemporâ-
nea no Ocidente. Porto Alegre: Artmed, 2004.
______. A política pré-escolar no Brasil: arte do disfarce. São Paulo: Cortez,
2001.
KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: edu-
cação infantil e/é fundamental. Educação & Sociedade, Campinas, v. 27, n. 96, p.
797-818, out. 2006.
KUHLMANN JR. M. Instituições pré-escolares assistencialistas no Brasil. São
Paulo: Caderno de pesquisa, 1991.
LEVIN, E. A infância em cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psico-
motor. Petrópolis: Vozes, 1997.
MEIRA, A. M. Benjamin, os brinquedos e a infância contemporânea. Psicologia
& Sociedade, on-line, v. 15, n. 2, p. 74-87, jul./dez. 2003. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/psoc/v15n2/a06v15n2.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2017.
MOLINA, A. A.; LARA, A. M. B. Infância e políticas educacionais no Brasil na
década de 1990. Curitiba: Educere, 2008.
OEA. Programa Interamericano de Educação. Primeira Reunião dos Ministros
da Educação. Brasília, 1998.
36
referências
37
gabarito
38
UNIDADE
II
A EDUCAÇÃO INFANTIL
E A LEGISLAÇÃO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Educação, Educação Infantil e Educação Física
• A Educação Infantil na legislação
• Refletindo sobre a Educação Física na Educação Infantil
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os aspectos legais que norteiam a Educação
Infantil no Brasil, em especial no que se refere à
Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9.394/1996) e Diretrizes Curriculares
Nacionais.
• Analisar o papel da Educação Física no contexto da
Educação Infantil.
• Refletir sobre a importância da atuação do professor de
Educação Física no campo da Educação Infantil.
unidade
II
INTRODUÇÃO
A
infância tem se constituído, ao longo da história, enquanto
um conceito social de representação de uma fase de forma-
ção do homem, considerando-o integrante do processo de
transformação e mudanças na sociedade, que são refletidas no
universo escolar. A partir dessa compreensão, trazemos as discussões e
reflexões que tratam das perspectivas de ação e atuação com a infância a
partir das orientações políticas voltadas ao campo educacional; afinal, a
educação escolar reflete o conceito e valorização que se tem para a crian-
ça e a infância.
A Educação Infantil é um espaço escolar, um nível de ensino em que
se considera a ação pedagógica, tendo como ponto de partida a sociali-
zação, o diálogo, o brincar, a brincadeira, o faz de conta e o imaginário
infantil. Na Educação Infantil, a criança, a partir das experiências educa-
cionais, desenvolve-se tanto em seus aspectos cognitivos quanto sociais,
afetivos e motores. E, nesse contexto, a Educação Física contribui de ma-
neira significativa com esse desenvolvimento, haja vista que o cerne do
trabalho pedagógico da Educação Infantil é o movimento, a linguagem
corporal, a cultura lúdica, os jogos e brincadeiras que, por sua vez, tam-
bém são os objetos de ação pedagógica do campo da Educação Física.
A partir dessas considerações, nesta unidade, você verá que o tra-
balho docente e as orientações didático-pedagógicas que normatizam e
regulamentam a atuação na Educação Infantil seguem os pressupostos
e orientações da legislação educacional brasileira. Afinal, a Educação
Infantil é um nível de ensino que tem sua estruturação marcada pelo
entendimento de que esse é um espaço educacional, no qual é proporcio-
nado à criança aprender, brincar e se desenvolver. Vamos lhe apresentar
as análises das orientações para o desenvolvimento das ações no campo
da Educação Infantil. A partir dessa leitura, faça as reflexões e busque
comparar as informações trazidas neste texto com sua prática docente.
Vamos aos estudos!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
44
EDUCAÇÃO FÍSICA
A educação está atrelada ao desenvolvimento e Essa busca por desafios e novas conquistas no es-
formação do homem, isso porque, de acordo com paço escolar se dá por meio de uma prática educa-
Ferreira (1993), a educação é um ato ou o efeito tivo-crítica, que se sustenta em ações construídas
de educar e/ou se educar, que se concretiza com o coletivamente a partir de saberes e conhecimentos
desenvolvimento da capacidade física, intelectual e individuais que vão se organizando a partir das ex-
moral do ser humano. Palma et al. (2008) vão além periências vivenciadas coletivamente. Então, é pos-
e destacam que o objetivo da educação escolariza- sível dizer que a educação escolar é um espaço no
da deve ser o de proporcionar aos alunos momentos qual o ensinar não se restringe à mera transferên-
em que eles possam criar, inventar, construir e mo- cia de conhecimento, mas deve ser entendida como
dificar conceitos; para isso, o aluno deve-se interagir sendo uma possibilidade para se produzir a partir
com o meio. da curiosidade e pela constante busca pelo aprender
Essa reinvenção, criação, construção, na qual (FREIRE, 1996).
a criança constrói e desconstrói seus saberes cons- A educação escolar é, nesse sentido, um espa-
tantemente para poder criar outros conceitos, ou- ço de intervenção no qual a criança é apresentada
tras normas e compreensões de mundo, precisa ser a situações que a levem a um desenvolvimento in-
orientada, planejada e estruturada a partir de objeti- tegral de suas potencialidades. E uma das formas de
vos definidos. Para que a educação escolar possa ter se oportunizar esse desenvolvimento é por meio de
significado para criança, é preciso que se promova ações que tratem do real e do imaginário, do concre-
situações, meios de intervenção que a levem a que- to ao abstrato, do lúdico ao formal, do cognitivo-in-
rer aprender, buscar se desenvolver. Afinal, como telectual ao motor, ou seja, é preciso promover, no
afirma Freire (1992, p. 28), espaço da Educação Infantil, uma educação motora
que leve ao desenvolvimento integral da criança. Se-
[...] o ser humano, principalmente quando gundo afirma Bracht (1999, p. 70), a educação não
criança, precisa construir seus próprios meios
deve ser tratada de forma fragmentada, haja vista
de transporte para empreender essa viagem
chamada vida. Se ele não consegue alcançar que é um equívoco tratar o desenvolvimento intelec-
um objeto que o atrai, que ele deseja, só resta tivo separado do corporal, afinal, é preciso romper
um recurso: construir um mecanismo que o com a ideia
leve ao seu objetivo. Um bebê de poucos me-
ses, que ainda não sabe engatinhar, terá que re-
[...] culturalmente cristalizada, da superiori-
alizar um enorme esforço, arrastando-se, para
dade da esfera mental ou intelectual – a razão
pegar qualquer objeto que esteja distante. Em
como identificadora da dimensão essencial e
pouco tempo, assim que a maturação biológi-
definidora do ser humano. O corpo deve servir.
ca gere força muscular e organização nervosa
O sujeito é sempre razão, ele (o corpo) é sem-
suficientes, o arrastar-se permite à criança uma
pre objeto; a emancipação é identificada com a
viagem muito limitada, enquanto o engatinhar
racionalidade da qual o corpo estava, por defi-
já lhe permite ir mais longe e empreender novas
nição, excluído.
conquistas.
45
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Nesse contexto de formação do homem, enquanto [...] tomar a criança como ponto de partida
um ser social, crítico e reflexivo, tem-se as ações significa pensar num currículo que contemple
diferentes linguagens em suas múltiplas formas
desencadeadas na Educação Infantil, que, portan-
de expressão, as quais se manifestam por meio
to, carecem, em muitos momentos, romper com a da oralidade, gestualidade, leitura, escrita, mu-
linearidade pedagógica, trazendo um planejamento sicalidade. Estas formas de expressão, vividas e
flexível, que atenda às necessidades da criança. Se- percebidas pelo brincar, representam a totali-
dade do ser criança e precisariam estar garanti-
gundo Faria e Palhares (1999), o modelo de esco-
das na organização curricular da sua educação
larização da Educação Infantil deve ser repensado, e não enquadradas em áreas do conhecimento
afinal os autores destacam que nesse mesmo nível de e alocadas em disciplinas.
ensino podemos encontrar características diferen-
ciadas para creches e pré-escolas, Nesse contexto, a criança na Educação Infantil deve
ser vista de forma integral, contextualizada, enten-
[...] com intencionalidade educativa, que pos- dendo que, nessa fase da vida, a primeira fonte de
sibilita superar qualquer resquício: escolari-
exploração do mundo pela criança é por meio do
zante (centrado na professora, alfabetizante,
seriado, com matérias/disciplinas, etc); assis- seu corpo, de seu movimento. Assim, a Educação
tencialista; e também adultocêntrico, higienis- Física vem como um campo de conhecimento que
ta, maternal, discriminatório, preconceituoso, colabora com essa integração dos saberes, dos co-
reforçando o objetivo principal da educação nhecimentos sociais à formação cognitiva e afetiva
das crianças de 0 a 6 anos que é o cuidado/
da criança, tão importantes nessa fase de desenvol-
educação (sem confundir com assistência/es-
cola (FARIA, PALHARES, 1999, p. 78). vimento. De acordo com Rodrigues (2003, p. 11),
É importante lembrarmos que ao nos referirmos aos [...] a educação física infantil tem por finalidade
contribuir para a formação integral do educan-
estudos no campo da Educação Infantil, como nos
do, utilizando-se das atividades físicas para o
lembra Didonet (2001), seja no formato de creche desenvolvimento de todas as suas possibilidades.
ou pré-escola, estamos tratando de uma instituição
de ensino e, portanto, torna-se necessário tratar de A criança da Educação Infantil tem em, seu desen-
suas qualidades e defeitos, de sua necessidade social volvimento, a necessidade de realizar atividades que
ou da sua importância educacional. É preciso consi- lhe oportunizem o fazer, o experimentar, o vivenciar;
derar que o objeto central da Educação Infantil é a isto porque, nessa fase, caracterizada como a pri-
criança, um ser humano em desenvolvimento com meira infância, a criança necessita de ações e tarefas
características e necessidades próprias. E, como nos que a levem a aperfeiçoar e a estimular os movimen-
alerta Sayão (1999, p. 234), tos adquiridos. Por meio das atividades planejadas,
as aulas de Educação Física promovem o aperfeiço-
46
EDUCAÇÃO FÍSICA
amento dos movimentos já adquiridos e oportuni- Nesse contexto, as aulas de Educação Física na Edu-
zam a aprendizagem de novas habilidades motoras. cação Infantil passam a considerar a criança a par-
Afinal, a criança, nessa fase, anseia pelo novo, pelo tir de suas particularidades, considerando o fato de
aprender, busca atividades que a levem a explorar o que, por meio do trabalho corporal realizado nas
mundo por meio de sua corporalidade, de suas ex- aulas, tendo como foco o trabalho a partir da gestu-
perimentações. alidade e da corporeidade, a criança passa a se inte-
Palma e Palma (2005 apud Palma et al., 2008, p. grar com mais facilidade no universo escolar em que
99) colaboram com essa discussão ao afirmarem que, se encontra inserida.
47
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
A Educação Infantil
na Legislação
A Educação tem sido compreendida ao longo da Mesmo com a Educação Infantil tendo surgido
história como um direito adquirido pela sociedade, e se constituído como um espaço necessário já na
cujas responsabilidades e obrigações, quanto à regu- segunda metade do século XIX, foi apenas na Cons-
lamentação, à organização, à normatização, à orien- tituição Federal (CF) de 1988 que ela começou a ser
tação, aos princípios e às diretrizes, ficam a cargo do definida como responsabilidade do Estado, pois, até
Estado. Entretanto, ao tratarmos da Educação Infan- então, essa etapa da escolarização das crianças de
til, esse direito tem sido questionado, visto que a sua zero a seis anos não estava regulamentada de modo
materialização efetiva ou consolidação, enquanto mais preciso e objetivo.
parte integrante dos direitos educacionais da crian- Os questionamentos acerca da função da Educa-
ça, tem sido construída lentamente na história da ção Infantil perpassam basicamente pelas discussões
legislação educacional brasileira. e compreensões ligadas ao entendimento de que esta
48
EDUCAÇÃO FÍSICA
tem sido uma das etapas destinadas à primeira in- disso, o autor diz que as instituições de Educação
fância, sendo formada, basicamente, da creche e do Infantil, em geral, se preocupavam com questões de
jardim de infância, seguindo o modelo adotado em cuidados com a criança, sendo que as ações do cam-
outros países e tendo, inicialmente, um caráter assis- po educativo centravam-se nas atividades desenvol-
tencialista e raras orientações de caráter pedagógico. vidas, que objetivavam que as crianças pudessem
Para explicitar esses conflitos conceituais acer- adquirir hábitos de obediência, bondade, identificar
ca da compreensão do objetivo da Educação In- as letras do alfabeto, pronunciar bem as palavras e
fantil, podemos trazer os apontamentos de Souza assimilar noções de moral e religião. De acordo com
(2007), pois, segundo o autor, essa dificuldade no Marafon (2002. p. 4-5, on-line), essa mudança na
processo de institucionalização da Educação In- perspectiva de trato com a infância vai acontecer,
fantil tem se dado em função de seu percurso his- mais especificamente, após o final do século XIX,
tórico conturbado na educação brasileira. Souza segundo o autor,
(2007, p. 15-16) afirma que,
O atendimento às crianças de 0 a 6 anos apa-
[...] a educação institucionalizada de crianças receu no Brasil no final do século XIX, pois
pequenas surgiu no Brasil no final do século antes deste período, o atendimento de crianças
XIX. O setor privado da educação pré-escolar, pequenas longe da mãe em instituições como
voltado para as elites - os jardins-de-infância de creches praticamente não existiam. Na zona
orientação fröebeliana -, já tinha seus princi- rural, onde vivia a maior parte da população,
pais expoentes no Colégio Menezes Vieira no as famílias de fazendeiros assumiam o cuidado
Rio de Janeiro, desde 1875, e na Escola Ameri- das crianças abandonadas, geralmente fruto da
cana anterior a isso. No setor público, o jardim exploração sexual da mulher negra e índia, pelo
de infância da Escola Normal Caetano de Cam- senhor branco. Na área urbana, bebês abando-
pos, que atendia à elite paulistana, foi inaugura- nados, por vezes filhos de moças pertencentes a
do apenas em 1896, mais de vinte anos depois famílias de prestígio social, eram recolhidos na
das fundações da iniciativa privada. O jardim roda dos expostos.
de infância da Escola Caetano de Campos, cujo
trabalho pedagógico se baseava em Fröebel, ti-
nha como princípios educativos os conteúdos Caro(a) aluno(a), é importante entendermos que o
cognitivo e moral. Nas duas primeiras décadas movimento de legitimação e institucionalização da
do século XX, foram implantadas em várias re- Educação Infantil ao longo dos tempos sempre es-
giões do Brasil, as primeiras instituições pré-es-
teve associado ao entendimento de que a Educação
colares assistencialistas.
Infantil refere a uma instituição de ensino em que a
função essencial está ligada a sua função social, cuja
Corroborando com as discussões acerca da institu- dimensão dos conhecimentos está sempre atrela-
cionalização da Educação Infantil, Kuhlmann Junior da ao desenvolvimento das linguagens, das intera-
(1999) afirma que a dificuldade na estruturação da ções, dos jogos e das brincadeiras. Kuhlmann Junior
Educação Infantil enquanto um campo educacional (1999, p. 61) colabora com essa discussão, afirman-
se deu em função de seu objetivo inicial estar cen- do que, até o século XIX, o que se observava para a
trado nas questões assistenciais e de custódia. Além Educação Infantil era uma ação vista a partir de uma
49
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
[...] filantropia que representava a organização De acordo com Merisse (1997, p. 49), “[...] essa
racional da assistência, em substituição à cari- legitimação mesmo com a Lei 5.692, de 1971, não
dade, prática dominada pela emoção, por sen-
se tinha garantias de educação para a criança que
timento de simpatia e piedade.
estava inserida na Educação Infantil”. Segundo a au-
A Educação Infantil tem apresentado, ao longo de tora, é nesse momento que surge o movimento de
sua história, compassos e descompassos com os ob- luta por creches, sob influência do feminismo, que
jetivos distintos. Ora preocupados com o educar, ora
com o cuidar, acabam sendo refletidos na processo [...] apresentava suas reivindicações aos pode-
res públicos no contexto por direitos sociais e
de construção legal da área. Entenda que, segundo
da cidadania, modificando e acrescendo signi-
Kramer (1995), o caminho da legalização da Educa- ficados à creche enquanto instituição (MERIS-
ção Infantil se deu a partir de conquistas e valoriza- SE, 1997, p. 49).
ção da infância. Visto que, segundo Kramer (1995) ,
os principais marcos legais se deram a partir de 1940, Esta começa a aparecer como um equipamento es-
com o surgimento do departamento Nacional da pecializado para atender e educar a criança peque-
Criança, cuja finalidade era a ordenação das ativida- na, que deveria ser compreendido não mais como
des dirigidas à infância, maternidade e adolescência, um mal necessário, mas como alternativa que pode-
administrados pelo Ministério da Saúde. Por volta ria ser organizada de forma a ser apropriada e sau-
de 1950, disseminou-se a tendência médico-higiêni- dável para a criança, desejável à mulher e à família.
ca do Departamento Nacional da Criança, desenvol- A creche irá, então, aparecer como um serviço que
vendo vários programas e campanhas visando ao é um direito da criança e da mulher, que oferece a
possibilidade de opção por um atendimento com-
[...] combate à desnutrição, vacinação e diver-
sos estudos e pesquisas de cunho médico reali-
plementar ao oferecido pela família, necessário e
zadas no Instituto Fernandes Figueira. Era tam- também desejável.
bém fornecido auxílio técnico para a criação, Nesse sentido, a Educação Infantil se configu-
ampliação ou reformas de obras de proteção ra a partir de orientações político-governamentais
materno-infantil do país, basicamente hospitais
no país, oficialmente a partir da CF de 1988, sendo
e maternidades (KRAMER, 1995, p. 65).
afirmada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
Ainda segundo o autor, nos anos 1960, o Departa- (ECA) de 1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
mento Nacional da Criança enfraqueceu-se e teve cação Nacional (LDB - Lei 9.394/1996), documentos
que transferir algumas de suas responsabilidades nos quais a Educação Infantil é assumida como dever
para outros setores, predominando o caráter mé- de Estado, sendo a educação um direito social.
dico-assistencialista, cuja ênfase eram ações de re- A Educação Infantil está assegurada na CF, por
dução da mortalidade materna infantil. E, em 1970, meio do Artigo 7, inciso XXV, no qual se estabelece
tem-se a promulgação da Lei 5.692/1971, a qual faz que deve ser assegurada “[..] a assistência gratui-
referência à Educação Infantil, apresentando como ta a filhos e dependentes desde o nascimento até
ser conveniente à educação em escolas maternais, seis anos de idade em creches e pré-escolas”. Ob-
jardins de infância e instituições equivalentes. serve que, na CF, ainda aparece os termos creche e
50
EDUCAÇÃO FÍSICA
pré-escolas, já que a mudança para o uso do termo A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEI DE DI-
Educação Infantil vai acontecer somente na Emen- RETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO: LEI
da Constitucional no 14, que trouxe uma nova re- 9.394/1996
dação ao parágrafo 2º da CF, o qual passa a ado-
tar o termo Educação Infantil ao atendimento de A inserção da Educação Infantil, enquanto parte
crianças de zero a seis anos (e que foi alterado pos- constituinte da educação básica, foi resultado de
teriormente), sendo compreendido como creche o conquistas das mobilizações que foram realizadas
atendimento a crianças de zero a três anos de idade, ao longo da história da Educação Infantil brasileira,
e pré-escolas, o atendimento de crianças de quatro visto que, ao pertencer à educação básica, passa-se a
a seis anos de idade. ter outras ações de desenvolvimento voltadas a esse
Essa inserção na legislação brasileira passa a efe- nível de ensino, bem como investimentos, financia-
tivar o dever do Estado com o cumprimento, orga- mentos, orientações pedagógicas e administrativas
nização e normatizações para a Educação Infantil. relacionadas aos objetivos de atendimento dessa
Essa inserção, de acordo com Corrêa (2002), é con- modalidade de ensino. Assim, a LDB, no artigo 29,
siderada uma conquista, haja vista que, efetiva a Educação Infantil como sendo a primeira
etapa da Educação Básica, considerando
Uma nova lógica se impõe, dado que qualquer
família que deseje colocar sua criança numa cre- Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da
che poderá recorrer a promotoria pública para educação básica, tem como finalidade o desen-
que está, baseada e fundamentada na Constitui- volvimento integral da criança até os seis anos
ção Federal, acione o Estado a fim de que este de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos,
cumpra seu dever (CORRÊA, 2002, p. 19). intelectuais e sociais, completando a ação da fa-
mília e da comunidade (BRASIL, 1996, on-line).
As orientações para a Educação Infantil também
vão se dar por meio do ECA, atualizado pela Lei Ainda de acordo com a LDB (BRASIL, 1996) den-
12.796/2013, que garante o direito ao atendimento tre as atribuições e funções da Educação Infantil, o
da criança em creches e pré-escolas. Entretanto, a artigo 29 destaca o fato de que a referida legislação
Lei 13.306/2016 altera o ECA e prevê que a Educa- preconiza que “cabe aos docentes à função de contri-
ção Infantil passa a compreender o ensino de zero buir para que as crianças que frequentam esse nível
a cinco anos. de ensino construam e exerçam a sua cidadania”.
Com relação às responsabilidades administrati- Outra deliberação da LDB (BRASIL, 1996)
vas da oferta da Educação Infantil, de acordo com a aponta, no artigo 29, que a faixa etária de atendi-
CF, no artigo 211, e com a LDB, no artigo 11, a Edu- mento das crianças nos espaços de creches e pré-
cação Infantil deve ser prioritariamente responsabi- -escolas deveriam ser realizadas pela matrícula
lidade dos municípios, enquanto o Ensino Funda- de crianças na Educação Infantil com idade até os
mental é competência compartilhada entre estados seis anos, isso porque estava vinculada ao Ensino
e municípios e o oferecimento do Ensino Médio é Fundamental, em que a legislação determinava,
incumbência dos estados. nos artigos 5º e 6º, que o Ensino Fundamental, en-
51
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
quanto um direito público subjetivo, considerava a âmbito da Educação Infantil, aceitando-se, para esse
matrícula a partir dos sete anos de idade. Entre- nível de ensino, a atuação chamada de unidocência.
tanto, esse cenário se alterou com as modificações Essa sustentação de uma formação unidocente
ocorridas nessa lei, no ano de 2005, a partir da também está nas orientações dos Parâmetros Nacio-
Lei 11.114, que passa a considerar que o ingresso nais de Qualidade Para a Educação Infantil (BRA-
nas séries iniciais do Ensino Fundamental se efe- SIL, 2006b, p. 43), nos quais ainda se tem a orienta-
tiva com matrícula a partir dos seis anos de idade. ção de que os espaços da Educação Infantil
Como consequência, a Educação Infantil passa a
ser modificada também, sendo considerada, a par- [...] são construídos e organizados para atender
às necessidades de saúde, segurança, descanso,
tir dessa legislação, um nível de ensino direcionado
interação, estudo, conforto, aconchego de pro-
a crianças de zero a cinco anos. fissionais e familiares e/ou responsáveis pelas
O Ensino Fundamental, com ingresso e matrí- crianças
cula aos seis, de acordo com as normatizações esta-
belecidas pela Lei Federal 11.274/2006a é prioridade o que resulta, equivocadamente, na compreensão da
dos municípios com a colaboração do Estado. O En- não necessidade de inserção de profissionais espe-
sino Médio é prioridade dos estados, e a União deve cializados e qualificados nas áreas distintas dos sa-
prestar assistência técnica e financeira. beres e conhecimentos.
De acordo com essa alteração da lei, as ações pe-
dagógicas passam a considerar que os níveis de ensi- A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS DIRETRIZES
no apresentam as seguintes características:
Educação Infantil: creche (0 a 3 anos) e pré-es- As Diretrizes Curriculares para a Educação Infan-
cola (4 a 5 anos); desenvolvimento integral da crian- til também se constituíram como uma ação política
ça, não existe reprovação. O Ensino Fundamental: que buscou efetivar os direitos da Educação Infantil,
(mínimo 9 anos) objetivo de desenvolver a capaci- que se consolidou a partir da aprovação, na Câmara
dade de aprender, fortalecer os vínculos da família, de Educação Básica (CEB) e Conselho Nacional de
da solidariedade e tolerância. Tendo pelo menos 4 Educação (CNE), e da Resolução nº 1/1999, que ins-
horas de trabalho diário. titui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a edu-
Com relação à atuação docente na Educação cação Infantil, cujo objetivo centrou-se em nortear a
Infantil, de acordo com a LDB, artigo 62, define-se organização das propostas pedagógicas das institui-
que, para ser docente na Educação Infantil, o indiví- ções de Educação Infantil. O Parecer nº 4/2000 é o
duo deverá se formar em “[...] nível superior, admi- dispositivo da lei responsável por dispor acerca das
tindo-se como formação mínima, a oferecida em ní- Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil.
vel médio, na modalidade normal” (BRASIL, 1996). Outra resolução significativa para a Educação
Observe, caro(a) aluno(a), que não existe nenhuma Infantil foi a Resolução nº 5, estabelecida pela CEB
orientação acerca de um trabalho docente que siga as em dezembro de 2009, que estabelece como Diretri-
especificidades de formação das áreas que compõem zes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
o corpo de conhecimentos pedagógicos tratados no no seu inciso primeiro do artigo 8º que:
52
EDUCAÇÃO FÍSICA
53
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
54
EDUCAÇÃO FÍSICA
ocorre com o seu ingresso na escola, sendo nesse De acordo com Melo (2006), ao se compreen-
espaço que a criança passa a ampliar seu entendi- der a Educação Física como componente curricular,
mento de mundo, a perceber outras pessoas ao seu passamos a ter um novo pensar e um novo agir dos
redor, já que é a escola que vai preparar o aluno seus professores.
para uma participação ativa e transformadora nas
várias instâncias da sociedade. O novo pensar é caracterizado pela necessidade
de se conceber a Educação Física na escola nas
A Educação Infantil é um espaço no qual as des-
mesmas condições dos demais componentes
cobertas da criança se dão por meio da ampliação curriculares, nos quais as organizações dos seus
das experiências, situações e vivências corporais da aspectos didáticas os consolidam na educação
criança com o universo que a cerca. Em geral, es- escolarizada (MELO, 2006, p. 188).
sas descobertas com o corpo e com o movimento
possibilitam a criança descobrir seus limites, valo- Como vimos, caro(a) aluno(a), de acordo com a
rizando suas potencialidades, tendo o próprio cor- LDB, a Educação Infantil, sendo a primeira etapa da
po como possibilidades para reconhecer, perceber educação básica, tem como finalidade o desenvolvi-
e construir e desenvolver cada movimento, afinal mento integral da criança até os seis anos, em seus
é o corpo da criança a fonte de sua comunicação aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais,
social. Por meio da linguagem corporal e das expe- complementando a ação da família e da comunida-
riências motoras, a criança, na Educação Infantil, de. Assim, a Educação Física, inserida no contexto
tem a oportunidade de desenvolver suas capacida- da Educação Infantil, tem como pressupostos para o
des intelectuais e afetivas. trabalho o movimento, que, segundo Neira (2003), é
Entretanto, mesmo sendo a Educação Infantil mais que o deslocamento do corpo no espaço, apre-
relevante e significativa para o processo e desenvol- sentando-se como linguagem que permite a ação
vimento da criança, ainda existe uma lacuna nessa da criança sobre o meio físico e sua atuação sobre o
orientação. Tendo em vista que a prática da Educa- ambiente humano, mobilizando as pessoas com base
ção Física, em nível da Educação Básica, integrada à em seu teor expressivo. O professor de Educação Fí-
proposta pedagógica da escola, é componente cur- sica é o mediador desse processo, aquele que leva o
ricular, ajustando-se às faixas etárias e às condições movimento, a experimentação e a vivência motora
da população escolar. De acordo com o artigo 34 da de forma orientada e planejada para a criança.
LDB, a Educação Física deve ser integrada à propos- Entretanto, nem sempre essa é a realidade do
ta pedagógica da escola enquanto componente cur- professor de Educação Física atuando no contexto da
ricular da educação básica, ajustando-se às faixas e Educação Infantil, isso porque, ainda para as turmas
às condições da população escolar, sendo facultativa de Educação Infantil, não são exigidos professores
nos cursos noturnos (BRASIL, 1996). licenciados, especializados na área, uma vez que se
55
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
permite a atuação, nesse nível, do professor regente Educação Física, nesse nível de ensino, tem se dado,
de sala com a chamada formação unidocente. por vezes, de forma deturpada ou equivocada. E esse
Como já destacamos, a fragilidade da formação fato acontece, segundo Sayão (1999, p. 226), porque
unidocente consiste no fato de que, muitas vezes,
esse profissional não está qualificado para atender [...] num primeiro momento, muito mais no setor
privado do que no público, com a proliferação de
as necessidades e especificidades do currículo, dos
escolinhas infantis nas décadas de 1970 e 1980, as
conteúdos, afinal, segundo Zabala (1998, p. 14), quais se utilizaram de elementos como o ballet,
jazz, inglês, artes marciais e, mais recentemen-
o professor(a) como profissional do currículo te, da informática como estratégia de marketing
significa estar além do que poderia significar para atrair os pais que podiam pagar por isso.
uma referência a ele na acepção mais habitual
de profissional de ensino. O professor(a) não
só ensina a sua matéria ou atende à sua turma Sayão (2002, p. 59) destaca ainda que
(o que reduz o seu trabalho a alguns conteú-
dos específicos, uma sala de aula e um grupo de [...] só se justifica a necessidade de um/a profes-
alunos), mas desenvolve um currículo (ou seja, sor/a dessa área na Educação Infantil se as pro-
integra o seu trabalho em um projeto formativo postas educativas que dizem respeito ao corpo
global do qual ele mesmo faz parte); esta nova e ao movimento estiverem plenamente integra
visão do professor(a) como profissional do cur- das ao projeto da instituição, de forma que o
rículo exige um novo repertório de competên- trabalho dos adultos envolvidos se complete e
cias profissionais que vão além de uma simples se amplie visando possibilitar cada vez mais ex-
atitude positiva em relação à mudança e ao tra- periências inovadoras que desafiem as crianças.
balho coletivo.
Porém essa realidade está sendo alterada, e estamos Nesse sentido, ao defendermos a inserção do pro-
observando movimentos e ações que buscam pro- fessor especializado ministrando as aulas de Educa-
mover essa valorização. Como exemplo, podemos ção Física na Educação Infantil, podemos afirmar
citar a Lei 10.172/2001, na qual se tem as orientações que essa ação se dará a partir da organização e da
rumo a uma política global de magistério, que im- construção de um planejamento com qualidade, que
plica a formação profissional inicial, as condições de considere a criança, o movimento e sua relação com
trabalho, salário e carreira, e a formação continuada. o mundo. Afinal, como afirma Kunz (2002, p. 24),
Caro(a) aluno(a), defendemos, aqui, a inserção
do professor de Educação Física na Educação In- [...] a linguagem e o movimento humano po-
dem ser considerados como diálogo com o
fantil com qualificação especializada por entender-
mundo, são as poucas possibilidades que nos
mos que, a partir dessa formação específica na área, restam para uma melhor compreensão de
que tem o corpo e o movimento como um de seus quem somos e ter, a partir deles, uma melhor
objetos centrais, as contribuições para a Educação consciência do mundo em que vivemos.
Infantil são essenciais. Entretanto, a histórica da
56
EDUCAÇÃO FÍSICA
E, por meio das aulas de Educação Física na Educa- [...] tem um papel fundamental na Educação
ção Infantil, temos a possibilidade de oportunizar- Infantil, pela possibilidade de proporcionar às
crianças uma diversidade de experiências atra-
mos uma ampliação dessas vivências e experimen-
vés de situações nas quais elas possam criar,
tações, ampliando os saberes e conhecimentos da inventar, descobrir movimentos novos, reela-
criança acerca do mundo que a cerca a partir de seu borar conceitos e ideias sobre o movimento e
corpo, sua linguagem corporal, seu movimento. suas ações. Além disso, é um espaço para que,
É importante destacar que, de acordo com Li- através de situações de experiências – com o
corpo, com materiais e de interação social – as
bâneo (1992), cada aula é uma situação didática crianças descubram os próprios limites, en-
específica, na qual objetivos e conteúdos se combi- frentem desafios, conheçam e valorizem o pró-
nam com procedimentos metodológicos e formas prio corpo, relacionem-se com outras pessoas,
didáticas, visando, fundamentalmente, a propiciar percebam a origem do movimento, expressem
sentimentos, utilizando a linguagem corporal,
a assimilação ativa de conhecimentos e habilidades
localizem-se no espaço, entre outras situações
pelos alunos. A Educação Infantil vem ainda mais voltadas ao desenvolvimento de suas capacida-
carregada dessa necessidade de, em cada aula, pla- des intelectuais e afetivas, numa atuação cons-
nejar, orientar, buscar caminhos diferenciados; isso ciente e crítica.
porque a criança, nessa fase, busca pelo novo, pelo
explorar e pelo experimentar.
REFLITA
Segundo Rolim (2004), crianças nessa fase são
ativamente envolvidas em melhorar suas habilida-
des em uma variedade de maneiras, e a forma de se Entendendo que a criança tem suas caracte-
rísticas próprias e individuais, como o profes-
efetivar essa ação é por meio do brincar, uma vez
sor de Educação Física pode incluir atividades
que este pode ser visto como o equivalente ao traba- que atendam as necessidades da turma?
lho dos adultos, afinal o brincar é o meio prioritário
pelo qual as crianças aprendem sobre seus corpos,
além de facilitar o crescimento afetivo e cognitivo Ayoub (2001) vai além e afirma que a Educação Fí-
e fornecer um importante meio para o desenvolvi- sica na Educação Infantil pode se configurar como
mento das habilidades motoras grossas e finas. Nes- um espaço em que a criança brinca com a linguagem
se sentido, as aulas de Educação Física Infantil, de corporal, com o corpo, com o movimento, alfabeti-
acordo com Basei (2008, p. 01), zando-se nessa linguagem.
57
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Brincar com a linguagem corporal significa Caro(a) aluno(a), entendemos que o professor de
criar situações nas quais a criança entre em
Educação Infantil é essencial em sua atuação es-
contato com diferentes manifestações da cultu-
ra corporal (entendida como as diferentes prá- pecializada na Educação Física, isso porque ele é o
ticas corporais elaboradas pelos seres humanos profissional que trabalha com o corpo, considera o
ao longo da história, cujos significados foram movimento como ação educativa, considera o brin-
sendo tecidos nos diversos contextos sociocul-
car e a brincadeira como elementos educativos. A
turais), sobretudo aquelas relacionadas aos jo-
gos e as brincadeiras, às ginásticas e às danças, Educação Física no contexto da Educação Infantil se
sempre tendo em vista a dimensão lúdica como torna um momento em que a ludicidade é o centro
elemento essencial para a ação educativa na in- das atividades propostas. A Educação Física, nesse
fância. Ação que se constrói na relação criança/
período, não pode se limitar apenas à brincadeira.
adulto e criança/criança e que não pode prescin-
dir da orientação do (a) professor(a) (AYOUB, Logo, o professor generalista, isto é, o docente que
2001, p. 03). atua em sala de aula, não pode exercer a função sem
ter a formação adequada na área. O professor de
SAIBA MAIS Educação Física deve planejar suas aulas, organizar
sua ação didático-pedagógica e, assim, desenvolver
As aulas de Educação Física aplicadas na Edu- um trabalho diferenciado com qualidade educativa,
cação Infantil se constituem em um espaço que justifique a importância de sua atuação na Edu-
de interação constante, no qual o brincar é cação Infantil.
o elemento central para o desenvolvimento
das ações que levam ao aprendizado. A crian-
ça quando brinca de forma orientada, com
objetivos definidos, é levada a realizar ações
motoras, cognitivas e afetivas, em um con-
texto social que proporciona situações que
a levem a desenvolver suas potencialidades
de forma lúdica e prazerosa.
Fonte: os autores.
58
considerações finais
C
aro(a) aluno(a), nesta unidade, discutimos a relação com a infância e a
importância das aulas de Educação Física ministradas por professores
da área para atuarem junto a Educação Infantil. A discussão se deu a
partir da construção e entendimento de que o tempo da infância é um
tempo do lúdico, das brincadeiras, do faz de conta, do movimento, dos risos,
dos choros, da exploração dos tempos e espaços e do fazer tudo de novo. E é por
meio desse explorar que, segundo Sarmento (2004), será definido a capacidade
de reiteração das crianças.
Para o autor, a reiteração se caracteriza como o tempo recursivo da infância,
que se exprime em um plano sincrônico, ou seja, em que há uma contínua re-
criação das mesmas situações e rotinas, bem como em um plano diacrônico, por
meio do qual ocorre a transmissão de brincadeiras, de jogos, rituais e rotinas de
modo contínuo e incessante, começando tudo de novo.
Entendemos, ainda, que a atual concepção que se tem de Educação Física
para Educação Infantil recebeu contribuições das discussões que se deram nas
áreas de Psicologia, Historiografia, Sociologia e Antropologia. A infância brasi-
leira, segundo documentos oficiais, por meio das políticas educacionais, perpas-
sam pelo cuidar e o educar, mas buscam, também, trazer orientações que levem
à ampliação de oportunidades, com a criança apropriando-se de experiências di-
versificadas e significativas para sua humanização.
Chegamos ao final desta unidade entendendo que os contextos histórico, po-
lítico e social da sociedade e da educação escolar são elementos significativos
para compreendermos como deve se dar a inserção da Educação Física nos es-
paços da Educação Infantil. A partir desse momento, você é convidado a refletir
sobre das ações concretas das aulas de Educação Física voltadas para a Educação
Infantil, do planejar as orientações para a organização do currículo e das aulas.
Bons estudos!
59
atividades de estudo
60
LEITURA
COMPLEMENTAR
Caro(a) aluno(a), buscando refletir sobre o papel da Edu- meio de sites oficiais de educação do governo federal e
cação Infantil enquanto uma área de conhecimentos estadual, que tratam da especificidade da educação físi-
constituída a partir de uma disciplina essencial para co- ca infantil. Os dados foram tratados por meio da análise
laborar com o processo de ação pedagógica e desenvol- de conteúdo. Os resultados apresentaram como desta-
vimento da criança, trouxemos o resultado de uma pes- que o fato de que a educação infantil possui conteúdos
quisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação Física específicos da disciplina da área da educação física, en-
Escolar CNPq/DEF/UEM da Universidade Estadual de Ma- tretanto os documentos legais não garantem a obrigato-
ringá, com o intuito de discutir a presença da Educação riedade de professores com a qualificação da área para
Física nos documentos a Educação Infantil. Os resultados atuarem na área na referida modalidade. Evidenciou-se
do estudo indicaram que a Educação Física está inserida a disciplina educação física enquanto um componente
enquanto conteúdos de ensino para a Educação Infan- curricular nesta modalidade de ensino, garantida por
til, entretanto, não há nenhuma especificação do rom- meio dos conteúdos a serem trabalhos no cotidiano do
pimento com a unidocência nesses espaços educativos. ensino. Entretanto, a menção a obrigatoriedade e a efe-
Há que se pensar em ações e movimentos que levem à tivação do professor de educação física nestes espaços
efetivação da obrigatoriedade do professor de Educação ou modalidade de ensino não são garantidas nos docu-
Física nesses espaços. Leia o texto a seguir e reflita sobre mentos oficiais de governo para a educação. Conclui-se
o assunto! que, ainda há que se fazerem estudos e investigações
que acrescentem o investimento e a inserção efetiva do
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: profissional nestes espaços de inversão, haja vista que o
61
LEITURA
COMPLEMENTAR
trabalho, a desportivização, a tática e a técnica, o lazer, promovendo sempre a capacidade infantil de conhecer
a diversidade étnico-racial, de gênero e de pessoas com o mundo e a si mesma. Por isso o planejamento político-
necessidades educacionais especiais, a mídia. -pedagógico deve sempre tratar de atividades educativas
A educação física tida como um componente curricular incluindo a segurança, acolher as crianças, alimentar sua
passava a ter então sua legislação específica, sendo in- curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantil.
tegrada como atividade escolar regular e obrigatória no Tendo esse conhecimento, o estudo originou-se da in-
currículo de todos os cursos e níveis dos sistemas de quietude lançada pela problemática: se a educação in-
ensino para crianças acima de 6 anos, de acordo com a fantil está entrelaçada com os conteúdos da educação
promulgação da Lei 9.394/1996, artigo 7º e pelo Decreto física, como o professor qualificado na área específica
11.274/2006. da educação física está inserido nesse contexto? Para
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira tanto, buscando responder essa inquietude a pesquisa
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o de- realizada objetivou analisar o papel do profissional de
senvolvimento integral da criança de zero a cinco anos educação física na modalidade de educação infantil, por
de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, meio de documentos e legislações que regulamentam o
linguístico e social, complementando a ação da família ensino desta modalidade.
e da comunidade (Lei nº 9.394/1996, art. 29). As Diretri- Este estudo tem como característica a ser descrito
zes Curriculares Nacionais (2013) propõem que para a como um estudo bibliográfico que é definido por Cer-
educação das crianças da educação infantil é necessá- vo e Bervian (1983), tendo como subsídios documentos
rio profissionais com a formação específica que atenda legislativos e orientadores tratados a partir da análise
as necessidades básicas de todas as crianças, como as de conteúdos.
dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguís- Para que pudéssemos entender o quão importante é a
tica, ética, estética e sócio cultural. Todos esses aspectos atuação de um professor de educação física na área da
se desenvolvem a partir das interações que as crianças educação infantil, primeiramente, temos que entender
estabelecem com o mundo. como que regem as leis do Estado, ou seja, analisar toda
Ainda nas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) é enfa- a sua estrutura e saber como é planejado e como o Es-
tizado como fator de extrema importância para a criança tado vê a educação brasileira. Desse modo, por meio de
o ato de brincar, já que este proporciona oportunidades suas políticas educacionais, públicas e sociais consegui-
para o imitar, construir o novo, recriar. As crianças usam mos entender como que funciona toda essa base cons-
de sua fantasia para copiar o cotidiano do adulto, por isso truída para manter a sociedade.
é importante que os professores desenvolvam brincadei- A partir da construção desse itinerário infância, foi ne-
ras, contem histórias, conversem sobre diversos temas, cessário que o governo pudesse qualificar profissionais
62
LEITURA
COMPLEMENTAR
63
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Tarja Branca: tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema desse documentário
que aborda o conceito de “espírito lúdico” e convida para a reflexão do desenvolvimento do
homem adulto. Um documentário incrível, dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Ma-
ria Farinha Filmes e pelo Instituto Alana, fala exatamente sobre um dos melhores remédios
para a vida toda: a brincadeira. “Quando você perde a capacidade de brincar, você perde
uma conexão com a sua essência”. Em uma referência a adultos e crianças, a frase é do ator
Domingos Montagner e faz parte da abertura de Tarja Branca – a revolução que faltava.
Assista ao documentário disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UjtWdecuX3w>.
64
referências
AYOUB, E. Reflexões sobre a educação física na edu- as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo
cação infantil. Revista Paulista de Educação Física, sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino
São Paulo, supl. 4, p. 53-60, 2001. fundamental, com matrícula obrigatória a partir
BASEI, A. P. A Educação Física na Educação Infantil: dos 6 (seis) anos de idade. Presidência da Repúbli-
a importância do movimentar-se e suas contribui- ca, 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
ções no desenvolvimento da criança. Revista Ibero br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm>.
Americana de Educação, n. 47, v. 3, out. 2008. Acesso em: 04 out. 2017.
BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas ______. Lei n° 12.796, de 4 de abril de 2013. Alte-
da Educação Física. Caderno CEDES: Corpo e Edu- ra a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
cação, Campinas, n. 48, p. 69-88, 1999. estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
BRASIL. Constituição da República Federativa do para dispor sobre a formação dos profissionais da
Brasil de 1988. Presidência da República, 1988. Dis- educação e dar outras providências. Presidência
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ da República, 2013. Disponível em: <http://www.
constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/
em: 04 out. 2017. l12796.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
______. Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001. ______. Lei n° 13.306, de 4 de julho de 2016. Altera a
Aprova o Plano Nacional de Educação e dá ou- Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança
tras providências. Presidência da República, e do Adolescente, a fim de fixar em cinco anos a idade
2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov. máxima para o atendimento na educação infantil. Presi-
br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso dência da República, 2016. Disponível em: <http://
em: 03 ago. 2017. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/
______. Lei 11.114, de 16 de maio de 2005. Al- lei/L13306.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
tera os arts. 6o, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de ______. Lei n° 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa
20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tor- Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e
nar obrigatório o início do ensino fundamental dá outras providências. Presidência da República,
aos seis anos de idade. Presidência da República, 1971. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov. ccivil_03/leis/L5692.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11114. ______. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dis-
htm>. Acesso em: 03 ago. 2017. põe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
______. Lei n° 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. dá outras providências. Presidência da República,
Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
65
referências
66
referências
67
gabarito
68
UNIDADE
III
PLANEJANDO A
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Planejar é imprescindível
• Como pensar a Educação Física de forma sistematizada
• Caminhos para o processo de estruturação dos conteúdos
da Educação Física
Objetivos de Aprendizagem
• Compreender as etapas do planejamento.
• Apresentar indicadores da organização do planejamento
das aulas de Educação Física.
• Refletir sobre a relevância do planejamento para as aulas
de Educação Física.
unidade
III
INTRODUÇÃO
A
o longo da história, a Educação Física percorreu caminhos acidenta-
dos e, até o presente momento, ainda busca construir caminhos mais
suaves. Houve muita problematização em nossa tradicional Educação
Física escolar, desde a sua forma de se colocar no contexto educacional
como atividade até o fato de se submeter incondicionalmente à prática do esporte
performance, entendendo-se como formadora de atletas e responsável pelo su-
cesso esportivo nacional. Grande engano!
Inicialmente, a busca foi pelo desmantelamento dessa concepção equivoca-
da e limitada da área, colocando-a como integrante do processo educacional e
com participação que supera a visão reducionista de atividade. Nessa empreitada,
podemos afirmar que a Educação Física escolar avançou significativamente em
todos os sentidos, mas ainda precisamos avançar muito mais.
A educação, de forma geral, assim como as demais áreas, possui propostas
que se baseiam em pressupostos de concepções de homem e sociedade distintos.
Isso acaba por refletir na forma propositiva de cada vertente, com indicativos
que, por vezes, são similares, mas que trazem raízes e intencionalidades distin-
tas. Por isso, ao ler uma proposta, faz-se necessário saber suas raízes, proponen-
tes e intencionalidades.
Dessa forma, um aspecto assume papel preponderante nessa tarefa de
apresentar uma área de conhecimento no processo educacional: o planeja-
mento. Esse é o elemento central que nos auxilia a valorizar e a colocar nossas
expectativas em curso no processo educativo.
Assim, nesta unidade, você poderá visualizar como nós podemos orga-
nizar a Educação Física escolar e seus conteúdos, dando sequência lógica
ao longo dos anos escolares, respeitando o desenvolvimento dos alunos e
o grau de complexidade que se exige para cada tema estabelecido. Essa
organização visa capacitá-lo(a) para que possa, autonomamente, em fu-
turo profissional próximo, ter a condição de organizar um plano educa-
cional para a Educação Física escolar.
Vamos ao trabalho!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Planejar é
Imprescindível
O ato de planejar se aplica a todas as atividades de Ao pensarmos o ato educativo, temos a mesma
nossas vidas. Se não houver cuidado e atenção a esse situação, mas com agravantes futuros muito mais
ato, corremos o risco de desenvolvermos ações sem complexos. Podem decorrer da falta de planejamen-
sentido e significado para os propósitos idealizados. to o desinteresse dos alunos, a desvalorização da
É como pensarmos em ir ao mercado para fazermos área de conhecimento, o entendimento de perda de
compra e não termos clareza de quais mantimentos tempo e muitos outros problemas que comprome-
precisamos, quanto dinheiro temos e o quanto é ne- tem gerações. Dessa forma, pensar antecipadamente
cessário, como vamos transportar as compras e se e com rigor estrutural se coloca como estratégia bá-
ir ao mercado seria a melhor opção, uma vez que sica para o sucesso educacional.
na feira do produtor poderia ser mais barato. Se as Em específico, ao se observar as aulas de Edu-
etapas e os detalhes não estiverem bem organizados cação Física, se não for alguém da área, pode-se ter
e pensados, as compras poderão ser um verdadeiro a impressão de que elas não exigem planejamento,
desastre. Este é um simples exemplo de nosso co- pois são crianças brincando ou jogando sem de-
tidiano para demonstrar que planejar está incluído monstrar preocupação com algum objetivo que não
nas mais corriqueiras atividades que temos. seja o de se divertir e/ou ganhar. É óbvio que isso
74
EDUCAÇÃO FÍSICA
75
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
As respostas a essas questões não são favoráveis ao de ultrapassar os estágios anteriores e atingir novos
profissional e à área da Educação Física. Mesmo que estágios de desenvolvimento em cada um dos domí-
tenha ocorrido uma evolução na produção do co- nios trabalhados”.
nhecimento da área, ainda sofremos com práticas Em relação às etapas do planejamento, indepen-
descontextualizadas e frágeis pedagogicamente. dentemente das diversas propostas educacionais que
surgem, não fogem às etapas que estão apresentadas
na Figura 1. Essas etapas se colocam como o alicerce
REFLITA
de qualquer planejamento, um caminho a ser ob-
servado e atendido para que haja coerência no que
Se consideramos o planejamento como sen- se pretende com a disciplina trabalhada. Assim, de
do integrado à necessidade e à realidade da
criança e da comunidade escolar, é possível acordo com Oliveira et al. (2009), para se pensar
afirmar que o planejamento deve ser flexível em um planejamento, é preciso seguir um esquema
e não engessado? coerente e coeso para que possamos obter o sucesso
das suas aulas. Veja, a seguir, as indicações dos au-
tores para a elaboração de um bom planejamento.
O exemplo citado carrega um processo histórico
que denigre a imagem da área e fortalece um ima-
ginário social muito desfavorável ao profissional da
Educação Física e da própria área. Essas crianças,
com certeza, integrarão a sociedade em postos de
trabalho, serão pais, mães e carregarão consigo uma
imagem deplorável de suas experiências escolares
com a Educação Física.
Para mudar esse quadro e essa prática, o profes-
sor precisa ter clareza da importância de organizar
os conhecimentos a serem trabalhados na escola.
O tempo que se tem com as crianças é pequeno e
precisa ser valorizado em cada segundo com opor-
tunidades de aprendizagem. Com isso, não se pode
ter tempo ocioso no processo educacional e todas as
ações devem ter o compromisso de contribuir com
o processo formativo e informativo dos alunos. As
atividades vivenciadas devem estar encaixadas em
propósitos que levem os alunos a patamares cognos-
centes, sociais, afetivos e motores superiores. Aqui,
podemos utilizar o termo trabalhado pelo Prof. Ma- Figura 1 - Etapas do planejamento
nuel Sérgio (2005, p. 50): “Transcendência é o ato Fonte: Oliveira et al. (2009, p. 242).
76
EDUCAÇÃO FÍSICA
enfrentamentos e, se necessário, deverá saber como Para que haja harmonia na estruturação e hie-
agir. No curso de formação, você não terá acesso a rarquização dos objetivos, é importante que se
atente para o fato de que deve haver relação di-
todo tipo de informação necessária, portanto, tem
reta entre eles. Os objetivos específicos são par-
que ter iniciativa e verificar como a sua comunida- celas menores que unidas devem favorecer ao
de vivencia os problemas sociais e tentar se preparar atendimento pleno do objetivo geral.
adequadamente.
77
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
78
EDUCAÇÃO FÍSICA
professores deverão-se atentar para a estruturação de os alunos precisam ter a chance de novos conheci-
objetivos específicos que consigam demonstrar clara- mentos e vivências. Trata-se de um processo que
mente os caminhos a serem seguidos para o alcance exige o comprometimento de todos e é um exercício
pleno do objetivo geral traçado para a disciplina. que deve ser contínuo como forma de treinamento.
É importante observar que os objetivos especí- Precisamos aprender a nos dar chances ao novo, ao
ficos exemplificados tratam apenas de uma parte do desconhecido e às novas experiências – sendo elas
que se pretende com os objetivos gerais idealizados positivas ou negativas. De todas elas, podemos ex-
anteriormente. A partir deles, outros deverão ser or- trair conhecimentos importantes para nossas vidas.
ganizados para se atender plenamente aos objetivos Esse destaque foi dado, nesse momento, pois é co-
gerais. Esse foi apenas um exemplo de uma pequena mum nas aulas de Educação Física, por consequência
parcela a ser organizada. da falta de uma organização mais consistente e vin-
É imprescindível que os professores considerem culada aos demais conhecimentos da formação, tra-
a realidade de cada turma de alunos. Por isso a im- balhar-se conteúdos esportivos que são vinculados às
portância do diagnóstico; do contrário, o planeja- vivências dos professores. Por exemplo: um professor
mento não surtirá o efeito desejado. que é técnico de handebol trabalha somente essa mo-
dalidade ao longo dos diversos anos escolares. Com
A seleção e organização dos conteúdos isso, os alunos são obrigados a vivenciarem somente o
Após a estruturação dos objetivos para a disciplina, handebol, não tendo a chance de novas experiências.
vem o momento de o professor selecionar e orga- É fundamental que se entenda que os conteúdos
nizar os conteúdos que serão trabalhados durante o reúnem conhecimentos organizados, de forma pe-
ano. Dando sequência às atividades desenvolvidas dagógica e didática, tendo em vista a aplicação prá-
até aqui e com base no que o diagnóstico demons- tica na vida dos alunos (LIBÂNEO, 1994).
trou, deve-se ter claro que os conteúdos precisam ter Seguindo as palavras de Oliveira et al. (2009, p. 251):
relação com os dados levantados e a realidade da lo-
calidade em que a escola está inserida. [...] deve-se considerar que os conteúdos são
uma herança cultural diversificada e têm uma
Dois aspectos precisam ter atenção do professor,
relação com a vida dos alunos. A Educação
em especial: Física pode abarcar muitos conhecimentos e
• É muito comum se trabalhar conteúdos que precisa ter clareza na seleção a ser feita para os
são de domínio do docente e do grupo; diversos anos escolares.
• A vivência de novos conteúdos e conheci-
mentos exigem estudo, dedicação e conven- Por último, é preciso entender que a docência exige
cimento, o que, por vezes, pode provocar li- contínuo estudo e aperfeiçoamento. Um professor
mitações de novas experiências.
não deve limitar-se a sua formação inicial. É preciso
Esses dois aspectos precisam ser continuamente estar atento para elaborar estratégias de ensino que
cuidados, pois a escola deve ser o ambiente em que contem com as novidades que surgem na área.
79
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
80
EDUCAÇÃO FÍSICA
da Educação Física são conteúdos de aplicação e Nem sempre conseguiremos atender a todos
utilização imediata dos alunos. Istó é, ao finalizar a esses questionamentos com nossas aulas, mas é im-
aula, os alunos já podem usufruir desses conteúdos portante entendermos a importância das estraté-
nos seus cotidianos. Contudo, o professor precisa gias. A estratégia é o caminho, o rumo, o percurso
estar atento e continuamente demonstrar aos alu- utilizado para atingir os objetivos determinados. A
nos como isso pode ser aplicado. escolha da estratégia está relacionada aos conteú-
A seguir, de acordo com Pilleti (1997), seguem dos que serão desenvolvidos e às características do
indicações de critérios que devem ser cuidados nes- grupo de alunos que se tem. Quanto mais próximo
sa seleção de conteúdos. do aluno, maiores as chances de acertar a escolha
metodológica.
A Pedagogia e a própria Educação Física pos-
suem muitas opções de caminhos, contudo, para
facilitar um pouco esse trabalho, utilizamos os
conceitos de metodologia de ensino apresentados
por Libâneo (1994): exposição do professor, traba-
lho independente, elaboração conjunta, trabalho
em grupo e atividades especiais, pois eles se co-
locam de forma global e abarcam procedimentos
essenciais ao que podemos denominar de bom tra-
balho metodológico.
De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 212), no
Figura 2 - Critérios de seleção dos conteúdos
contexto escolar,
Fonte: adaptada de Pilleti (1997).
[...] todas essas situações entendidas, discuti-
das e refletidas a partir das práticas corporais,
Estratégias metodológicas
podem gerar apropriação de conhecimentos
Agora, chegou o momento de se definir pelo ca- significativos para os alunos. Entretanto, é pre-
minho metodológico, ou seja: como apresentar ciso entender que para o desenvolvimento dos
e desenvolver os conteúdos selecionados? Qual conteúdos o professor pode (deve) optar por
a melhor forma e estratégia para isso? Como en- uma ou mais estratégias. Tudo vai depender do
estágio de desenvolvimento e de que recursos o
volver os alunos? Como aproveitar os momentos
grupo constituído precisa para se apropriar dos
para que sejam ricos pedagogicamente e que todos conhecimentos e vivências trabalhadas.
possam enxergar e aproveitar, em seus cotidianos,
os temas trabalhados? Veja, a seguir, o exemplo:
81
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Como podemos verificar, em uma aula, várias estratégias podem ser utilizadas. O professor precisa to-
mar esse cuidado sempre que for planejar suas ações, pois dessa organização resulta o sucesso da aula.
82
EDUCAÇÃO FÍSICA
Entretanto, para o fechamento deste tópico, apresen- 6. As ações docentes devem ser organizadas e
tamos algumas recomendações baseadas no trabalho planejadas de modo a possibilitar que o alu-
no construa esquemas de ação - habilidades
de Palma et al. (2010, p. 190-191), que indicam os
motoras – o que contribui para a tomada de
cuidados e ações que os professores precisam ter ao consciência de sua corporeidade e das ações
desenvolverem as aulas: próprias como operações.
1. Proporcionar às crianças situações nas quais
elas sejam capazes de inventarem, construí- Recursos
rem, reelaborarem conceitos e ideias, numa Agora, chegamos ao aspecto relacionado aos recur-
atuação consciente e crítica, repleta de signifi-
sos disponibilizados para as aulas. No Brasil, ainda
cado e significância, evitando, assim, a repro-
dução de ações provenientes das gerações que há uma carência muito grande de recursos, sejam
lhes sucederam, portanto, promover aprendi- eles físicos, materiais e, até mesmo, de pessoal. Nesse
zagens significativamente construídas. A va- sentido, dobra-se o cuidado ao se planejar, pois há
loração e consideração devem ser dadas aos a necessidade de se prever muito bem o que se tem
momentos e conhecimentos construídos e vi- disponível para o que se pretende oferecer aos alu-
vidos intensamente. nos. Por outro lado, não podemos nos acomodar e
2. Possibilitar situações para vivências de movi- não improvisar e enriquecer nossas práticas quando
mentos corporais de várias formas para que
não houver materiais e/ou espaço suficientes para as
os alunos reflitam sobre suas ações, compre-
endendo a sua utilização e identificando-os ações. O professor precisará partir para os processos
nas diversas tarefas do cotidiano. adaptativos e criativos para que possa deixar sua dis-
3. As atividades propostas nas diversas situa- ciplina estimulante.
ções de uma aula devem possibilitar a com-
preensão das razões das vivências das ma- Avaliação
nifestações culturais – esporte, dança, jogo, Para Oliveira et al. (2009, p. 263), a avaliação nas au-
ginástica e lutas - estudando, com maior las de Educação Física deve ocorrer de forma contí-
profundidade, aquelas que fazem parte do
nua, sendo “[...] refletida e discutida, em conjunto
seu contexto.
(pois isoladamente não se consegue despir de valo-
4. Ao organizar as situações das aulas, para as
vivências das formas culturais, deve ser possi- res), na escola, para assim resignificá-la”.
bilitado ao aluno que ele identifique as ações Os autores descrevem que os objetivos a serem
motoras que acontecem quando as vivencia. avaliados devem ser
5. As ações e atividades propostas devem,
também, favorecer, em amplitude e pro- [...] reais, apontam as capacidades que se quer
fundidade, a ampliação dos conhecimentos atingir e estão relacionados com a cultura do
sobre o movimentar-se que o aluno possui, local, seria simples avaliar, porém quando o pla-
para que contribua na construção do con- nejamento de ensino é uma ação burocrática e
os conteúdos são desenvolvidos sem considerar
ceito de corpo e se perceba como um corpo
os interesses e as necessidades do grupo, avaliar
em movimento e com possibilidades dife-
é algo praticamente impossível (OLIVEIRA, et
rentes de ação.
al., 2009, p. 263).
83
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
84
EDUCAÇÃO FÍSICA
85
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Como Pensar a
Educação Física de
Forma Sistematizada
Este talvez, ainda seja um dos maiores problemas teúdos, respeitando o desenvolvimento que eles têm
que temos com a Educação Física escolar, pois, tra- ao longo da vida escolar.
dicionalmente, ela é trabalhada distante dos demais Nesse sentido, deve-se pensar em como os co-
componentes curriculares, o que se coloca como um nhecimentos e vivências podem ser estruturados em
erro pedagógico tremendo. uma sequência lógica e que possa estimular a todos
Assim como os demais componentes curricula- no decorrer das aulas. Essa condição exige que o
res, a Educação Física precisa ser organizada e estru- professor fique atento às fases de desenvolvimento
turada de forma sistematizada, de modo a oferecer, (cognitivo, motor, físico e social) dos alunos, que se
aos alunos, uma sequência lógica e gradativa de con- preocupe com o que as demais disciplinas desenvol-
86
EDUCAÇÃO FÍSICA
vem ao longo dos anos escolares e como esses co- livro de Palma et al. (2010). Nessa obra, há uma pro-
nhecimentos podem servir de base para a seleção posta de organização da Educação Física em núcleos
dos conhecimentos da Educação Física e de ações temáticos que devem ser trabalhados ao longo de
interdisciplinares. E, por fim, de que forma as teorias toda a vida escolar, com graus de complexidade para
da aprendizagem indicam que os conhecimentos se- os conhecimentos e vivências para cada ano. Trata-
jam tratados e potencializados para que os alunos -se apenas de uma proposta, mas que pode contri-
aprendam com mais facilidade. buir com a futura estruturação que você fará em sua
Uma forma bastante rica e esclarecedora dessa escola, como base para os dados que irá levantar e
possibilidade de sistematização está apresentada no elencar em seu planejamento.
87
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Caminhos Para o
Processo de Estruturação dos
Conteúdos da Educação Física
O professor precisa se atentar para Conhecimentos e Estrutura Sistematizada
aspectos que podem potencializar das demais áreas atuantes na escola
a estruturação de conteúdos e de
como eles podem contribuir com Teorias Pedagógicas
o processo formativo e informa-
Postos de Apoio
tivo dos alunos, da mesma forma Teorias do
para o processo de
que se vinculam ao Projeto Peda- desenvolvimento Motor
Sistematização
gógico da escola e demais áreas do da EFE
conhecimento que são trabalhadas Psicologia do Desenvolvimento
ano a ano. e da Aprendizagem Humana
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
89
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Estar atento aos autores, como Erikson, E. e alunos. De forma muito recorrente, há um descom-
Erikson, J. (1998), Olds e Papalia (2000), Wallon passo entre o que se tem condições de realizar com
(1953), Vayer (1982), Piaget (1986), dentre outros. chances de sucesso e o que se programa para as aulas.
Esses autores fornecem informações que vão do es- Nesse sentido, recorrer às teorias de desenvolvimen-
tado psicológico de desenvolvimento até as etapas de to trabalhadas por Magill (1984), Boulch (1987),
desenvolvimento motor, apresentando indicativos Tani et al. (1988), Gallahue e Ozmund (2005), entre
de como o professor pode dar complexidade à orga- outros, para fundamentar a organização dos conhe-
nização das ações no planejamento e em suas aulas. cimentos e vivências, se coloca como imprescindível
A base teórica é a consistência que o professor ao planejamento da Educação Física escolar.
precisa para consolidar e justificar seu planejamen-
to. Sem estrutura teórica, o plano fica vulnerável e TEORIAS PEDAGÓGICAS
pode incorrer em equívocos que diminuem a im-
portância da disciplina. As teorias pedagógicas-se colocam como opções aos
O professor que mantém a consistência teórica professores e aos projetos pedagógicos das escolas. A
e tem claramente justificada as ações selecionadas, forma de entender e desenvolver o processo formativo
terá a tranquilidade das defesas frente ao corpo do- é carregada de intencionalidades que trazem consigo
cente e pedagógico de sua escola, assim como junto o entendimento de homem, de mundo e de sociedade.
à comunidade. Com isso, a disciplina ganha em re- Esse entendimento é traduzido na forma de organizar
levância e importância para a proposta pedagógica a escola, de selecionar e trabalhar os conteúdos e ava-
que a escola possui. liar. Assim, reforça-se a importância da participação
efetiva de todos na elaboração do Projeto Pedagógico
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR da Escola, pois será com base nesse documento norte-
ador que a escola e seus integrantes irão organizar as
Em relação às teorias do desenvolvimento motor, é ações pedagógicas e administrativas gerais.
importante que se tenha clareza das etapas e formas Essas tendências são apenas alguns exemplos para
de estimulações motoras possíveis e que sejam in- que seja possível observar que, ao se escolher uma ten-
teressantes aos alunos. Por algum tempo, a área da dência, isso recairá na forma de trabalhar os diversos
Educação Física criticou, sem muito fundamento, as componentes curriculares da escola. Contudo, é mui-
teorias desenvolvimentistas. Contudo, nos dias atu- to importante que todos entendam as propostas e suas
ais, isso está mais bem resolvido e o que importa é bases teóricas, pois delas é que se estruturam os pro-
saber fazer uso dos conhecimentos tratados por es- cedimentos e discussões gerais do processo formativo.
sas teorias, a fim de qualificar as ações motoras ao Em específico à Educação Física, pode-se re-
longo da vida escolar de nossos alunos. correr aos trabalhos apresentados por Oliveira et
Um dos grandes equívocos que os professores al. (1998) e Darido (2008), que trazem uma síntese
cometem e que acaba por desestimular os alunos é a das propostas da área para a intervenção e que se
programação de ações motoras em graus de comple- relacionam direta ou indiretamente às apresentadas
xidade diferentes das etapas de desenvolvimento dos anteriormente.
90
EDUCAÇÃO FÍSICA
CONHECIMENTOS E ESTRUTURA SISTE- riência sinestésica, pois é isso que acontece, repre-
MATIZADA DAS DEMAIS ÁREAS ATUAN- sentam com seus corpos toda a estrutura do grande
TES NA ESCOLA sistema circulatório, não esquecerão tão cedo todas
as fases. Destacamos que é muito importante que to-
As demais áreas de conhecimento que são trabalha- dos troquem de funções para as vivências.
das na escola possuem uma estrutura sistematizada No trabalho interdisciplinar, o professor de Ci-
e podem servir de base para a organização a ser es- ências descreverá todo o sistema teoricamente, o
truturada pela Educação Física. professor de Educação Física irá representar sines-
Como citado anteriormente, a Educação Física tesicamente com os alunos e depois ambos poderão
pode fazer relação de seus conhecimentos às demais reforçar em suas aulas os aspectos relacionados e
áreas que são trabalhadas na escola. Assim, para como esse sistema é vital para as condições gerais de
aproveitar um pouco dessa facilidade que existe na saúde e de performance.
nossa área, é oportuno que o professor verifique o No exemplo, houve a aplicação de trabalho te-
que as demais áreas estão trabalhando em cada um órico, aplicado em vivências motoras expressivas e
dos anos escolares e buscar vínculos que possibili- também a potencialização do tema como base para
tem uma boa visualização dos conhecimentos que futuros trabalhos em ambos componentes curricu-
podem ser enriquecidos no processo formativo. lares, pois ele não se esgota nessa fase, é apenas uma
As áreas que podem ter um vínculo mais forte introdução ao que se fará oportunamente.
são de ciências, geografia, história, linguagem e ar- Da mesma forma que o exemplificado anterior-
tes. Contudo, como salientado, todas podem contri- mente, nas demais áreas há a mesma possibilidade de
buir nesse processo. aproximações de conhecimentos, o que fatalmente
Apenas para exemplificar o que estamos defen- favorecerá a organização curricular geral da escola.
dendo, veja que o grande sistema em ciências é tra-
balhado, normalmente, no quarto ou quinto ano do
Ensino Fundamental. Esse é um bom momento para
que o professor de Educação Física possa trabalhar
as questões relacionadas a trocas gasosas, capacida-
de aeróbica e anaeróbica, e como esses aspectos são
vitais para a saúde e para o rendimento esportivo.
Como trabalhar isso: uma boa forma é por intermé-
dio da expressão corporal, na qual o grupo poderá
se dividir para a estruturação dos componentes do
grande sistema - coração, pulmões, sistema e san-
gue. E eles fazem uma representação de como o san-
gue circula no sistema e como realiza a troca gasosa.
Aqui vale a criatividade dos grupos para a represen-
tação. Uma vez que os alunos realizem essa expe-
91
considerações finais
A
o longo desta unidade, apresentamos reflexões e apontamentos acerca
dos principais elementos que devem compor um bom planejamento
para a ação no campo da Educação Física Escolar. Você pode enten-
der que a ação do planejar deve ser uma ação orientadora da prática
docente, uma vez que, por meio do planejamento estruturado e organizado, será
possível ter, em suas aulas, uma prática pedagógica adequada.
O planejamento irá levá-lo(a) a alcançar os objetivos propostos para o ano,
semestre, bimestre, ou aula, isso porque é o planejamento que irá conduzi-lo(a)
no caminho trilhado. Para tanto, ao elaborar seu planejamento, não se esqueça de
responder aos seguintes questionamentos: Como? Com que? O que? Para que? e
Para quem? respondendo a essas questões. No seu planejamento, você conseguirá
visualizar e materializar se o tempo e a organização que propôs está coerente com
o que se deseja trabalhar.
Além desse fato, o planejamento das aulas de Educação Física escolar irão
ajudá-lo(a) nas tomadas de decisão, nas ações necessárias ao longo do processo
para que seja possível atingir os objetivos propostos, os quais devem estar sempre
em consonância com o Projeto Pedagógico da escola e atrelados às demais ações
escolares. Assim, entendemos que não seja possível propor uma prática pedagó-
gica com qualidade sem que haja um bom planejamento estabelecido.
E a qualidade nas aulas de Educação Física é uma ação necessária para a sua
prática docente, uma vez que tendo a Lei 9.394/1996 instituído a Educação Fí-
sica no ambiente escolar como sendo um componente curricular, passamos a
ter, também, a obrigatoriedade de uma ação pedagógica com cunho formativo e
informativo nas aulas por meio dos conteúdos estabelecidos como prioritários a
serem desenvolvidos em cada momento de desenvolvimento da criança no con-
texto educacional.
92
atividades de estudo
1. Sabemos que a escolha dos conteúdos é uma 3. Após a elaboração do diagnóstico e de sua res-
ação essencial para que o planejamento esco- pectiva análise, inicia-se a fase de estruturação
lar esteja adequado às necessidades e realida- dos objetivos. Com relação à elaboração do ob-
de da criança. Tendo esse conhecimento para jetivo, assinale V para as afirmativas verdadei-
a escolha da seleção dos conteúdos, é preciso ras e F para as falsas.
considerar:
( ) Nessa fase, perspectiva-se um futuro e o projeta
a. Apenas o contido no projeto pedagógico e or- em etapas por meio dos objetivos que se definirão
ganizado nas disciplinas da série. como alvos de suas atuações ao longo do período
b. A validade, flexibilidade, significado, possibi- que compreende o planejamento.
lidade de elaboração pessoal, utilidade, inte- ( ) Os objetivos devem expressar as intenções, o
resse, adequação às necessidades culturais que se busca com o desenvolvimento da disciplina.
e sociais.
( ) Os objetivos devem ser organizados de forma
c. Os interesses pessoais e os métodos de en- que contemplem todas as turmas sem variação exa-
sino que devem ser os mais diversificados gerada, pois não devem ampliar a complexidade já
possíveis. existente nos conteúdos.
d. As regras dos esportes, jogos e brincadeiras
Assinale a alternativa correta.
trabalhadas no desenvolvimento das aulas.
a. V, V, F.
e. Os esportes que devem ser desenvolvidos nas
aulas e as suas exigências motoras e físicas. b. V, F, V.
c. F, V, F.
2. A avaliação é um processo contínuo, que deve
d. F, F, V.
indicar elementos que direcionam a ação do-
cente e o desenvolvimento do aluno, bem e. V, V, V.
como propor uma reflexão acerca dos cami-
nhos a serem adotados. Nesse sentido, é cor- 4. Para a escolha dos conteúdos tratados no uni-
reto afirmar que a avaliação: verso da Educação Física escolar, quais os cri-
a. É aquela que consegue identificar se o aluno térios que devem ser considerados para a
realmente compreendeu a importância do seleção dos conteúdos?
conteúdo.
5. O diagnóstico é um ponto essencial a ser consi-
b. Deve ser aplicada em um único momento du-
derado no início do planejamento, uma vez que
rante a disciplina no semestre.
ele aponta as necessidades e realidade escolar.
c. Não precisa ser aplicada nas aulas de Educa- Sabendo desse fato, descreva os principais
ção Física. pontos a serem observados no diagnóstico
para que se possa iniciar o planejamento.
d. Avaliação em Educação Física exerce um pa-
pel secundário na organização das aulas.
e. É um instrumento que para a Educação Física
serve para mensurar a performance motora e
física dos alunos.
93
LEITURA
COMPLEMENTAR
O texto elaborado pelo professor Amauri A. B. Oliveira Os significados institucionais devem ser impressos po-
traz uma análise acerca das propostas metodológicas derosa inesquecivelmente na consciência do indivíduo.
emergentes na área da Educação Física. Caracteriza-se Como os seres humanos são frequentemente preguiço-
sos e esquecidos, deve também haver procedimentos
como sendo um estudo do tipo descritivo. Como estra-
mediante os quais estes significados possam ser reim-
tégia metodológica, o professor utilizou a bibliografia pressos e rememorizados, se necessário, por meios co-
específica relacionada ao assunto e a aplicação de um ercitivos geralmente desagradáveis. Além disto, como os
questionário aos idealizadores das propostas apresen- seres humanos são freqüentemente estúpidos, os signi-
ficados institucionais tendem a ser simplificados no pro-
tadas sobre os pontos: referencial teórico, objeto de es-
cesso de transmissão, de modo que uma determinada
tudo, conteúdos básicos, enfoque metodológico, relação coleção de “fórmulas” institucionais possa ser facilmen-
professor-aluno e avaliação. Entenderam-se como pro- te aprendida e guardada na memória pelas gerações
postas metodológicas emergentes da área: metodologia sucessivas. O caráter de “fórmula” dos significados ins-
titucionais assegura sua possibilidade de memorização.
aberta, metodologia crítico-superadora, metodologia
construtivista e crítico-emancipadora. Vamos a leitura!
Tendência educacional: progressista crítica.
METODOLOGIA DO ENSINO ABERTO Objeto de estudo: o mundo do movimento e suas impli-
Idealizadores: Reiner Hildebrandt e Ralf Laging da Ale- cações sociais.
manha (1986) e Cardoso et al. (1991) – organizador do Objetivos gerais: trabalhar o mundo do movimento em
Grupo de Trabalho Pedagógico, UFPe e UFSM, do Brasil. sua amplitude e complexidade com a intenção de pro-
Referencial teórico: Teoria Sociológica do Interacionismo porcionar, aos participante, autonomia para as capacida-
Simbólico (Mead/Blumer); Teoria Libertadora (Paulo Freire). des de ação.
Interacionismo Simbólico (Blumer, 1981) Seriação escolar: pode ser trabalhada dentro da atual
a) o atributo simbólico é justificado pela premissa de que estrutura curricular escolar. Preocupa-se mais em como
os homens agem baseados nos significados em relação trabalhar, acessar e tornar significativo os conteúdos aos
a coisas e a pessoas; b) estes significados são adquiri- participantes.
dos em interações sociais; c) estes significados podem Conteúdos básicos: o mundo do movimento e suas re-
ser modificados através de processos interpretativos. lações com os outros e as coisas; os conteúdos são cons-
Berger e Luckman (1985, p. 98), comentando sobre os truídos através de temas geradores.
significados/símbolos, admitem que:
94
LEITURA
COMPLEMENTAR
95
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Na série de documentários sobre a Educação Física apresentada pelo Programa Salto para
o Futuro da TV Escola, você vai encontrar os principais teóricos da Educação Física refletindo
sobre nosso campo de atuação.
Acesse o link disponível em: <http://educacaofisicaescolarparatodos.blogspot.com.
br/2011/12/salto-para-o-futuro-educacao-fisica.html>.
96
referências
97
referências
98
gabarito
1. B.
2. A.
3. A.
4. O diagnóstico, a reflexão sobre o universo em que se está inserido. Isso permitirá
identificar quais são as reais necessidades dos grupos com os quais irá interagir
durante o ano. Olhar para a realidade, estabelecer julgamento sobre essa realidade
e prever caminhos que possibilitem atender as suas necessidades básicas contribui
e evita erros desnecessários.
5. Deve-se considerar a validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração
pessoal, viabilidade, utilidade, interesse e adequação as necessidades.
99
SISTEMATIZAÇÃO E
AÇÕES PEDAGÓGICAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• A Educação Física na Educação Infantil: quem é a criança
• Características da criança da Educação Infantil
• Mapa conceitual dos conteúdos da Educação Infantil
• Planejando as aulas para a Educação Infantil
Objetivos de Aprendizagem
• Compreender as etapas do desenvolvimento da criança da
Educação Infantil.
• Apresentar propostas didáticas para ações pedagógicas
no contexto dos diferentes níveis da Educação Infantil, por
meio do mapa conceitual dos conteúdos.
• Apresentar indicadores para o planejamento das aulas da
Educação Infantil.
unidade
IV
INTRODUÇÃO
D
iscutir a Educação Física na Educação Infantil implica refletir
acerca das especificidades e dos desafios que são inerentes ao
processo educativo, no qual a criança, inserida no mundo da
imaginação do faz de conta, constrói seus saberes a partir da
experimentação e da exploração de seu corpo com os objetos ao seu re-
dor, na sua relação com o outro e com o mundo que a cerca, permitindo
e possibilitando que seu corpo se torne um sujeito único com relações e
interações próprias e individuais.
O corpo para criança da Educação Infantil é o seu primeiro espaço
de construção dos saberes, é possível interagir criar e recriar a constru-
ção do mundo a partir do olhar lúdico que lhe é ofertado pelas aulas
nas quais o movimento, o movimentar-se e o vivenciar colaboram de
forma significativa, sendo possível avançar dos movimentos simples aos
complexos, nos quais as atividades de alta intensidade e curta duração
passam a ser substituídos por ações que requerem baixa intensidade e
maior duração. Isso porque a criança passa a explorar todas as vivências
em graus diferentes das possibilidades de sua realização.
É preciso nos atentar para o fato de que “[...] escolas que são asas não
amam pássaros engaiolados. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer,
porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensina-
do” (ALVES, 2004, p. 54). Na Educação Infantil, temos que ajudar na
construção do voo, fazendo com que a criança sinta-se livre e à vontade
para criar e recriar, tendo sempre a perspectiva de que o errar pode ser
possível e a mesma tarefa pode ser realizada de diversas formas. Tudo
dependerá da forma de se olhar, afinal, o movimento não é único e pode
ser infinitamente reinventado.
Nesta unidade, vamos pensar juntos em ações didático-pedagógicas
que ajudem a dar espaços para os voos das crianças nas aulas de Educa-
ção Física infantil.
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
104
EDUCAÇÃO FÍSICA
105
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
ragir por meio das linguagens corporais, nas experi- oportunizado uma gama de experimentações que
mentações propiciadas por atividades de interação ampliem seus conhecimentos culturais e seu reper-
corpo-movimento, corpo-brinquedo-brincadeira e tório motor. Segundo Nista-Picollo e Moreira (2012,
corpo-objeto-espaço. Já que, de acordo com Sayão p. 17), as escolas que se propõem a trabalhar com a
(2002, p. 61), Educação Infantil devem ter clareza de que
[...] o trabalho pedagógico na Educação In- [...] antes de propor atividades, é importante
fantil, deve se sustentar em planejar situações que os professores identifiquem os diferentes
que levem as crianças a brincar, a interagir e a perfis de capacidade das crianças; o ambiente
manifestar-se através de diferentes linguagens, vivido no dia a dia da criança deve propiciar
o que significa permitir e reconhecer que a ora- um diálogo com as múltiplas linguagens.
lidade, a escrita, o desenho, a dramatização, a
música, o toque, a dança, a brincadeira, o jogo,
os ritmos, as inúmeras formas de movimentos
corporais, são todos eles expressões das crian-
ças, que não podem ficar limitadas a um segun-
do plano.
REFLITA
106
EDUCAÇÃO FÍSICA
107
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Figura 1 - Quem é a criança da Educação Infantil: principais características da criança de 4 a 5 anos de idade
Fonte: os autores.
108
EDUCAÇÃO FÍSICA
109
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Características da Criança da
Educação Infantil
De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o gica, na qual o indivíduo progride de um movimen-
desenvolvimento motor é um processo de alterações to simples, sem habilidade, até atingir o ponto das
no nível de funcionamento de um indivíduo, onde habilidades motoras mais complexas e organizadas
uma maior capacidade de controlar movimentos é e, assim, chegar ao ajuste dessas habilidades que irão
adquirida ao longo do tempo, por meio da interação acompanhá-lo até o envelhecimento.
entre as exigências da tarefa, da biologia do indiví- Gallahue e Ozmun (2001) vão além e destacam
duo e o ambiente. que o desenvolvimento humano ocorre em um in-
Segundo Haywood e Getchell (2004), é preciso divíduo desde sua concepção até a morte. Explicam,
considerar que o desenvolvimento motor é um pro- ainda, que a palavra desenvolvimento em si impli-
cesso contínuo e sequencial, ligado à idade cronoló- ca mudanças comportamentais e/ou estruturais dos
110
EDUCAÇÃO FÍSICA
seres vivos durante a vida. Já o processo de desen- De acordo com Gallahue e Ozmun (2001), as
volvimento motor revela-se por alterações no com- habilidades motoras fundamentais podem ser divi-
portamento motor. Para os autores, é preciso con- didas em três categorias:
siderar que bebês, crianças, adolescentes e adultos • Habilidades locomotoras - movimentos que
estão envolvidos no processo de aprender a mover- indicam uma mudança na localização do
-se com controle e competência, reação aos desafios corpo em relação a um ponto fixo na super-
que enfrentam diariamente. Por essa razão, devem fície. Ex.: caminhar, correr, saltar, saltitar etc.
ser continuamente estimulados e motivados a mo- • Habilidades manipulativas - movimentos de
manipulação motora, como tarefas de arre-
vimentar-se.
messo, recepção, chutes (manipulativas gros-
Nessa fase de desenvolvimento da criança, o
sas) e costurar, cortar (manipulativas finas).
aprendizado vai se dar de forma contínua, pela ex-
• Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio
ploração do ambiente, a criança conhece suas habi-
- a criança na tentativa de manter a postura
lidades corporais. Por isso, segundo Mattos e Neira vertical é envolvida em constantes esforços
(2003), a realização de atividades motoras oportu- contra a força da gravidade. Ex.: girar braços
nizadas nesse momento devem ser sempre aquelas e tronco, flexionar o tronco, entre outros.
que visam ao desenvolvimento das habilidades mo-
toras básicas, tais como o andar, correr, saltar, correr, Outro aspecto relevante, de acordo com Gallahue e
arremessar, receber, empurrar, puxar, subir, descer, Ozmun (2001), das habilidades motoras fundamen-
enfim, habilidades de explorar o mundo a sua volta. tais, é que, durante o seu desenvolvimento, o indiví-
De acordo com Neto et al (2004) as experiências duo passa por três estágios distintos, são eles:
motoras estão presentes no dia a dia das crianças e • Estágio inicial - representa a primeira meta-
representam toda e qualquer atividade corporal re- de orientada da criança na tentativa de exe-
alizada em casa, na escola e nas brincadeiras. As ex- cutar um padrão de movimento fundamen-
periências motoras, antes vivenciadas pelas crianças, tal. As integrações dos movimentos espaciais
e temporais são mínimas. A criança atinge
e suas atividades diárias eram suficientes para que
esse nível por volta de 2 a 3 anos de idade.
se adquirissem as habilidades motoras e formassem
• Estágio elementar - envolve maior controle
uma base para o aprendizado de habilidades mais
e melhor coordenação dos movimentos fun-
complexas. Seu desenvolvimento motor era apri- damentais. Evidencia-se por volta dos 4 a 5
morado e explorado na disposição de grandes áreas anos de idade, dependendo do processo de
livres para brincar, como praças, ruas e quintal. En- maturação.
tretanto, atualmente a criança precisa dessas ações • Estágio maduro - é caracterizado como me-
oportunizadas por meio do lúdico nas suas experi- canicamente eficiente coordenado e de exe-
ências vivenciadas nas aulas de Educação Infantil. cução controlada. Tipicamente as crianças
Para podermos planejar, organizar e elaborar têm potencial de desenvolvimento para estar
atividades adequadas a cada momento da criança, é no estágio maduro perto de 6 a 7 anos.
preciso compreender o que cada categoria de movi- Outro aspecto a ser considerado acerca do desenvol-
mentos representa. vimento da criança da Educação Infantil está rela-
111
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
cionado às características cognitivas da criança que, Em relação a sua noção de corpo e espaço, na Educa-
nessa fase, segundo Piaget (1993), encontram-se no ção Infantil, segundo De Meur e Staes (1991, p. 122),
período pré-operatório, dos 2 a 7 anos, em que se [...] a criança não distingue ainda o tempo sub-
tem o destaque para a fase dos 4 aos 6 anos, por ser jetivo e o tempo objetivo. Para ela, é importante
um período de emergência da linguagem. Para o au- que vivencie situações com vários tempos de
execução para que comece a perceber o tempo
tor, o eixo do desenvolvimento cognitivo da crian-
longo, curto, e situações rápidas e lentas.
ça, nesse momento, vai se dar pela linguagem e pela
reorganização da sua ação cognitiva, isso porque o Segundo Le Boulch (1983, p. 190),
autor relaciona o desenvolvimento da linguagem de-
pendente do desenvolvimento da inteligência. [...] a estruturação espacial é fundamental para
a criança se situar no meio em que vive, estabe-
Com relação ao desenvolvimento afetivo e social
lecendo relações entre os objetos, fazendo ob-
da criança na Educação Infantil, há que se consi- servações, comparações, combinações e vendo
derar, segundo Wallon (1953), que essa é a fase de semelhanças e diferenças entre eles.
formação da personalidade do indivíduo. Segundo
o autor, a partir dos 3 anos, ocorre o estágio do per- Sobre a imagem corporal, considerada o conheci-
sonalismo, momento da constituição do eu, no qual mento do corpo, consciente e intelectualmente, jun-
a criança, em seu confronto com o outro, passa por tamente com a função de seus membros e de seus
uma verdadeira crise de personalidade, caracteriza- órgãos, Fonseca (1983, p. 262) destaca que
da pelas mudanças nas suas relações com o seu en-
[...] o desenho do corpo não exprime unica-
torno e pelo aparecimento de novas aptidões. Outro
mente a gnosia corporal. Nele se projetam às
destaque de Wallon (1953), para essa idade, consiste experiências emocionais, as sensações erógenas,
na definição de que, por volta dos 4 anos de idade, a as pressões sócio-culturais, isto é, o desenho
criança desenvolve maneiras de ser admirada e cha- do corpo é reflexo do que a criança viveu, nas
relações com o meio ambiente, não só no que
mar a atenção para si, com uma necessidade de agra- sentiu como também no que simbolicamente
dar, cujo objetivo é obter a aprovação dos demais. A integrou. Através do conhecimento das sensa-
criança passa a se considerar em função da admira- ções que provém do corpo e das experiências
táteis, cria-se um esquema corporal, que regula
ção que acredita poder despertar nas pessoas.
a postura e o equilíbrio. Esse esquema é a base
Com relação a coordenação motora ampla da essencial para a criação da imagem corporal.
criança, Araújo (1992, p. 35) destaca que, nessa fase
da Educação Infantil, De acordo com Mattos (1999, p. 37), a estruturação
espacial da criança, nada mais é que “[...] a tomada
[...] a criança pode andar, correr, saltar, rolar, de consciência de seu corpo em um ambiente, isto é,
pular, arrastar-se, nadar, lançar-pegar, sentar.
do lugar e da orientação que pode ter em relação às
Permite a realização de múltiplos movimentos
ao mesmo tempo, com cada membro realizan- pessoas e as coisas”. Logo, a estruturação espacial pos-
do uma atividade diferente, sem perder a con- sibilita que a criança consiga se organizar diante do
servação de unidade do gesto. universo que a cerca, organizar os objetos entre si e
movimentá-los. Segundo Oliveira (1997, p. 82),
112
EDUCAÇÃO FÍSICA
[...] em primeiro lugar, a criança percebe a po- Caro(a) aluno(a), o Quadro 1 apresenta a síntese
sição de seu próprio corpo no espaço, depois, das principais características da criança da Edu-
a posição dos objetos em relação a si mesma e, cação Infantil, de modo a lhe ajudar a visualizar
por fim, aprende a perceber as relações das po-
quem é a criança que você deve considerar em seus
sições dos objetos entre si.
planejamento.
Em síntese, o desenvolvimento da criança que está Além desses fatos, é preciso considerar que os
na Educação Infantil, segundo Gallahue e Ozmun movimentos da criança nas aulas de Educação Física
(2001), encontra-se na fase dos movimentos funda- na Educação Infantil, por vezes, irão se apresentar,
mentais, fase na qual os movimentos de pegar, enga- inicialmente, de forma global, desarmônica e quase
tinhar, andar, correr, saltar, girar e rolar são essenciais sempre simétricas. No entanto, por meio das ativi-
na Educação Infantil. Além disso, as tarefas motoras dades planejadas e estruturadas por meio do lúdi-
de estabilização, locomoção e manipulação podem ser co, a criança passa a descobrir seus movimentos e
exploradas, isso porque as crianças, ao final da Edu- a produzir ações que, aos poucos, podem produzir
cação Infantil, já conseguem entender regras e com- movimentos que se caracterizam com maior destre-
preendê-las, começam a apresentar maior atenção e za e eficiência.
concentração, começam a se organizar em grupos.
113
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
114
EDUCAÇÃO FÍSICA
sempre a dimensão lúdica como um dos elemen- Portanto, trabalhar a Educação Física na Educação
tos principais para a ação educativa na infância, Infantil é buscar novas estratégias, métodos e ativi-
afinal, para a criança, o ato do brincar se relaciona dades que oportunizem
com a sua forma de se expressar perante o mun-
[...] possibilidades de ampliação do repertório
do. É a linguagem corporal sua primeira forma de de movimentos, gestos, capacidade expressiva e
se comunicar. capacidade de planejar seu próprio movimento,
Nesse sentido, Mattos e Neira (2003, p. 183) co- assim como reconhecimento da cultura corpo-
ral (VIEIRA, 2007, p. 7).
laboram ao afirmar que
A prática corporal tratada na Educação Infantil
[...] a pré-escola e a 1° série tem grande relevân- deve ser uma ação que permita à criança criar, re-
cia na proposição das atividades que visam ao
criar, construir e reconstruir seus movimentos, suas
desenvolvimento das habilidades básicas à al-
fabetização, percepção, lateralidade, orientação capacidades e potencialidades, sendo considerados,
espaço-temporal, coordenação visual e motora para tanto, o aprendizado sistematizado das normas
e esquema corporal, parece-nos bastante clara de convivência, dos hábitos culturais e de outros
a noção de que o trabalho na educação física objetos sociais de conhecimento, que contribuem
deva caminhar na mesma direção.
expressivamente para o processo de socialização e
desenvolvimento da criança.
Eixo 2:
movimento em
expressão e ritmo
Eixo 1: Eixo 3:
movimento corporeidade
e os jogos e autonomia
Eixo 4:
movimento e
a corporeidade
115
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Na Figura 2, respondemos nosso primeiro ques- novas perspectivas e reconstruindo conceitos e co-
tionamento apresentado no início desta discussão: nhecimentos de mundo e da realidade.
Quais são os conteúdos na Educação Infantil? Em Assim, as aulas de Educação Física devem trazer
geral, os conteúdos tratados nas aulas de Educação para seu contexto, a valorização dos conhecimentos
Física na Educação Infantil devem estar relacio- da própria criança, pois, conforme afirma Wallon
nados com as questões do corpo e do movimento, (1953), a cultura e a linguagem fornecem ao pensa-
sendo que, por meio deles, a criança possa conhecer mento os elementos que a criança possa se modifi-
seu corpo, explorar as possibilidades de movimen- car. A socialização, nesse momento, se faz necessá-
tos, buscar as diversas formas de gestualidades que ria, pois, por meio de atividades lúdicas, a criança
podem ser produzidas pelo seu próprio corpo por interage, socializa, tendo, então, a possibilidade de
meio das atividades lúdicas. reconfigurar seus conceitos. Não existe linearidade
Afinal, de acordo com Piaget (1993), o começo no desenvolvimento, já que este é sempre descontí-
do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto, nuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, re-
o que significa, de acordo com o autor, que o conhe- trocessos, enfim um movimento que tende levar a
cimento humano se constrói na interação homem- criança a conquistar outros conhecimentos.
-meio, sujeito-objeto. E, portanto, cabe ao professor, Entendendemos que a criança tem suas caracte-
nas aulas de Educação Física, organizar esses mo- rísticas próprias e que, enquanto um ser social, sofre
mentos, nos quais haja sempre uma equilibração e influências do meio ao qual está inserida. Na Figura
reequilibração dos conhecimentos, de tal forma que 3, apresentamos um mapa conceitual, traçando dife-
levem as crianças a assimilarem e a acomodarem os rentes conteúdos para cada momento da criança da
novos conhecimentos apresentados, construindo Educação Infantil.
Expressão
corporal
Coordenação
motora
(grossa e fina) Conhecimento Linguagem
Regras:
de si e do corporal
criar e recriar
mundo
116
EDUCAÇÃO FÍSICA
117
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
118
EDUCAÇÃO FÍSICA
119
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
120
EDUCAÇÃO FÍSICA
O planejamento pedagógico na Educação Infantil parte do que ele precisa para viver está, também, no
precisa ser discutido e articulado com os interesses mundo lá fora, no meio ambiente e ao seu redor.
culturais das crianças, pois, assim, De acordo com Hernández (1998), é preciso que
o planejamento considere as questões culturais, de
é possível trazer para as aulas de Educação Fí-
sica manifestações que as crianças expressam forma que as ações docentes levem a criança a cons-
no seu dia a dia, suas hipóteses e conhecimen- truir alternativas de conhecimentos, fazendo-a rom-
tos prévios, que são de suma relevância para per a linearidade estabelecida, ou seja, é preciso que
um trabalho que respeite as culturas infantis
as aulas deem possibilidade de a criança
(AHMAD, 2011, p. 4).
O planejamento educativo deve ser assumido no
refazer e de renomear o mundo e de ensinar os
cotidiano como um processo de reflexão, pois,
alunos a interpretar os significados mutáveis
mais do que ser um papel preenchido, é atitude
com que os indivíduos das diferentes culturas
e envolve todas as ações e situações do educador
e tempos históricos dotam a realidade de senti-
no cotidiano do seu trabalho pedagógico. Plane-
jar é essa atitude de traçar, projetar, programar, do. Ao mesmo tempo em que lhes abre as por-
elaborar um roteiro para empreender uma via- tas para compreender suas concepções e as de
gem de conhecimento, de interação, de experiên- quem os rodeiam (HERNÁNDEZ, 1998, p. 28).
cias múltiplas e significativas para com o grupo
de crianças. Planejamento pedagógico é atitude
crítica do educador diante de seu trabalho do-
É importante considerar que a criança, sendo um
cente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é ser social e a considerando um ser em adaptação,
flexível e, como tal, permite ao educador repen- precisa ser oportunizada a construir seus conheci-
sar, revisando, buscando novos significados para
mentos. Isso porque, conforme indica Freire (2003),
sua prática pedagógica. O planejamento marca a
intencionalidade do processo educativo mas não para que a criança se adapte ao mundo, para agir
pode ficar só na intenção, ou melhor, só na ima- sobre, transformando-o e resolvendo problemas,
ginação, na concepção (OSTETTO, 2004, p. 1). é preciso que ela construa seu próprio movimento
corporal específico. Isso só poderá ocorrer por meio
Nas palavras de Paim (2003), a Educação Física ad- de esquemas de ação, pois é com eles que o ser hu-
quire um papel importantíssimo à medida que ela mano expressará, em todas as ocasiões de sua vida,
possa estruturar o meio ambiente adequado para a seus movimentos. Lembrando que a primeira fase
criança, oferecendo experiências, resultando em um da infância é crucial, pois é a partir dela que se de-
grande auxiliar e promotor do desenvolvimento hu- senvolvem as movimentações corporais básicas.
mano, em especial ao desenvolvimento motor, e ga- Tendo essa compreensão, é preciso que você, en-
rantir a aprendizagem de habilidades específicas. A quanto professor(a), planeje suas atividades consi-
construção de movimentos varia de indivíduo para derando as características das crianças, seus conhe-
indivíduo, a organização construída pelo sujeito de- cimentos culturais, bem como suas potencialidades;
pende tanto dos recursos biológicos e psicológicos afinal, a aula deve ser desafiadora e levar a criança a
de cada pessoa quanto das condições do meio am- buscar novos saberes e conhecimentos, de tal forma
biente em que ela se encontra. Por isso, o ser huma- que seu repertório motor e sua linguagem corporal
no não precisa somente do que está presente nele, sejam ampliados.
121
considerações finais
N
esta unidade, ressaltamos que o movimento é a essência da infância e,
nesse sentido, a ação do professor de Educação Física, atuando didá-
tica e pedagogicamente nesse espaço de intervenção, torna-se essen-
cial. Nosso intuito foi promover uma discussão acerca do movimento
para que você possa ter uma sustentação teórica de quem é a criança da Educação
Infantil, podendo compreender a complexidade que envolve seu desenvolvimen-
to, suas fases e etapas da aprendizagem. Evidenciamos que o desenvolvimento é
um processo contínuo e constante, e que, portanto, as atividades escolares devem
ser sempre planejadas e organizadas seguindo uma sistematização prévia, na qual
se considera a idade cronológica da criança, seus limites, suas potencialidades
e possibilidades para o processo de aprendizagem, além, é claro, de se conside-
rar que, em geral, as aulas de Educação Física para a Educação Infantil ocorrem
de maneira global, sustentando-se na ludicidade e colaborando efetivamente em
uma ação motora para o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança.
Além de considerar a rotina da criança, sua cultura e meio social, também
cabe ao professor ir além e organizar atividades que motive e estimule a criança
a explorar seus movimentos corporais, a aprender a vivenciar experiências que a
auxilie no desenvolvimento de suas habilidades motoras por meio de brincadei-
ras, na qual possa aprimorar, pouco a pouco, suas habilidades, suas potencialida-
des e, assim, alavancar nos processos de desenvolvimento motor.
Toda ação didático-pedagógica do professor de Educação Física deve ser
marcada por constantes reflexões acerca de sua ação docente, entretanto, quando
nos referimos ao trabalho com a Educação Infantil, há que se atentar para o fato
de que a criança é um ser social, em constante transformação e que, portanto,
deve ser considerada sempre de forma global, acenando, sempre, suas potenciali-
dades e colaborando para que possa superar suas fragilidades.
122
LEITURA
COMPLEMENTAR
123
LEITURA
COMPLEMENTAR
124
atividades de estudo
125
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
O começo da vida
Ano: 2016
Sinopse: um dos maiores avanços da neurociência é ter desco-
berto que os bebês são muito mais do que uma carga genéti-
ca. O desenvolvimento de todos os seres humanos se encontra
na combinação da genética com a qualidade das relações que
desenvolvemos e do ambiente onde estamos inseridos. O começo da vida convida todos a
refletirem como parte da sociedade: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que
definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade?
126
referências
127
referências
cadeira e a educação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. PAIM, M. C. Desenvolvimento motor de crianças
LE BOULCH, J. A educação pelo movimento: a psi- pré-escolares entre 5 e 6 anos. 2003. Disponível em:
cocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Mé- <http://escolar.universoef.com.br/container/geren-
dicas, 1983. ciador_de_arquivos/arquivos/299/desenvolv-mo-
MATTOS, M. G. Educação Física Infantil: cons- tor-criancas-5-6.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2017.
truindo o movimento na escola. São Paulo. Ed. Phor- PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B.; PALMA,
te, 1999. J. A. V. Educação Física e a organização curricular:
MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G. Educação Física Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
Infantil: construindo o movimento na escola. 4. ed. Médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010.
Guarulhos: Phorte, 2003. PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança.
NETO, A. S.; MASCARARENHAS, L. P. G.; NU- São Paulo: Martins, 1993.
NES, G. F.; LEPRE, C.; CAMPOS, W. Relação entre SAYÃO, D. T. Infância, prática de ensino de Edu-
fatores ambientais e habilidades motoras básicas em cação Física e Educação Infantil. In: VAZ, A. F.;
crianças de 6 e 7 anos. Revista Mackenzie de Educa- SAYÃO, D. T.; PINTO, F. M. (Orgs.). Educação do
ção Física e Esporte, v. 3, n. 3, p. 135-140, 2004. corpo e formação de professores: reflexões sobre a
NISTA-PICCOLO, V. L., MOREIRA, W. W. Corpo prática de ensino de Educação Física. Florianópolis:
em movimento na Educação Infantil. Curitiba: Cor- Ed. da UFSC, 2002.
tez, 2012. SCHMITT, Registro de Planejamento na Educação.
OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e ree- Santa Catarina, Ed FURB, v. 1, n. 2, 2006.
ducação num enfoque psicopedagógico. 3. ed. Petró- VIEIRA, M. S. Por uma educação física com sa-
polis: Vozes, 1997. bor: possibilidades e desafios no ensino infantil. In:
OSTETTO, L. E. “Mas as crianças gostam!” Ou sobre CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ES-
gostos e repertórios musicais. In: OSTETTO, L. E.; PORTE, 15.; CONGRESSO INTERNACIONAL DE
LEITE, M. I. (Orgs.). Arte, infância e formação de CIÊNCIAS DO ESPORTE, 2., 2007, Recife. Anais…
professores: autoria e transgressão. Campinas: Papi- Recife: CBCE, 2007.
rus, 2004. p. 41-60. WALLON, H. As etapas da socialização da criança.
______. Planejamento na Educação Infantil, mais Lisboa, 1953.
que atividade a criança em foco. Campinas, Papirus. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar.
1992. Porto Alegre: Artmed, 1998
128
gabarito
1. A.
2. A.
3. C.
4. Corpo, movimento, expressão corporal e ritmo, entre outros.
5. O papel do professor de Educação Física é essencial, uma vez que contribui tanto
para o desenvolvimento motor quanto afetivo, cognitivo e social da criança.
129
PLANEJANDO AS AULAS PARA AS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• A Educação Física nas Séries Iniciais a partir das
abordagens educacionais: quem é a criança
• Elementos para a Construção de uma Proposta
Pedagógica: Mapas Conceituais 1° ao 3° anos
• Elementos para a Construção de uma Proposta
Pedagógica: Mapas Conceituais do 4° e 5° anos
Objetivos de Aprendizagem
• Analisar as perspectivas de ação pedagógica para a
Educação Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental,
apontando a relação e atuação didático-pedagógica nas
intervenções.
• Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação
Física no contexto das séries iniciais.
unidade
V
INTRODUÇÃO
O
Ensino Fundamental no Brasil tem passado por inúmeras transforma-
ções ao longo de sua história, dentre elas, podemos destacar a organi-
zação do ensino. Entenda que, de acordo com a legislação educacional
brasileira, a Lei 4.024/1961 estabeleceu quatro anos de escolaridade
obrigatória; já a Lei 5.692/1971 determinou a extensão da obrigatoriedade para
oito anos; a Lei 9.394/1996 sinalizou para um ensino obrigatório de nove anos de
duração, a iniciar-se aos seis anos de idade, o que, por sua vez, tornou-se meta da
educação nacional pela Lei 10.172/2001, que aprovou o Plano Nacional de Edu-
cação (PNE). Em 2006, a Lei 11.274 institui o Ensino Fundamental de nove anos
de duração com a inclusão das crianças de seis anos de idade.
Com essas mudanças na educação e com o processo de ampliação do Ensino
Fundamental, muitos questionamentos têm surgido. Na Educação Física, esses
questionamentos se dão principalmente acerca do currículo a ser trabalhado:
Quais os conteúdos? Como organizá-los?
Precisamos entender que os conteúdos e práticas pedagógicas trabalhadas
nas séries iniciais do Ensino Fundamental precisam seguir uma estrutura de
planejamento que contemple objetivos, saberes e conhecimentos estabelecidos
para essa etapa de ensino e que correspondam às necessidades e expectativas da
criança em cada fase ou momento de seu desenvolvimento.
Compreendemos que a Educação Física enquanto componente curricular
das séries iniciais do Ensino Fundamental se constitui em um espaço no qual
a relação entre os processos de ensino e aprendizagem partem dos princí-
pios de uma educação de qualidade, centrada nos saberes e conhecimentos
necessários para o desenvolvimento integral da criança. Por isso, conside-
ramos que toda ação pedagógica do professor deve ser tratada a partir da
estrutura e organização de um planejamento adequado às necessidades da
criança. Tendo esse enfoque, preparamos esta unidade para ajudá-lo(a) a
pensar na estrutura e organização para as aulas de Educação Física das
séries iniciais.
Boa leitura!
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
134
EDUCAÇÃO FÍSICA
sociedade, para que os conteúdos tratados no currí- entendemos que conhecer as caraterísticas desta,
culo possam estar adequados. Assim, ao organizar- os interesses e necessidades de cada momento da
mos a estrutura das aulas de Educação Física para infância permite que as aulas sejam estruturadas
as séries iniciais, temos que nos questionar: quais atendendo as necessidades da criança. Uma vez
as condições para implementar o currículo da Edu- que consideramos que a criança tem sua própria
cação Física? Qual é o papel das aulas de Educação história, que é fruto e produtora de um contexto
Física para as crianças das séries inicias do Ensino social, as aulas passam a apresentar um maior sig-
Fundamental? Qual é o significado dos conteúdos nificado para ela. Tendo essa perspectiva- quando
e atividades selecionadas? Como trabalhar com as consideramos o contexto, as condições concretas
crianças de maneira que sejam considerados seu em que as crianças estão inseridas e onde se dão
contexto cultural, seu desenvolvimento e o acesso suas práticas e interações, a ação educativa passa a
aos conhecimentos? ser mais significativa para a criança, afinal, como
Para iniciarmos a organização e planejamento trabalhamos, o planejamento consiste em um tra-
das aulas da Educação Física, há que se considerar balho orientado às dimensões conceituais, proce-
que a criança traz consigo seus próprios conhecimen- dimentais e atitudinais.
tos de mundo e de si mesma, que são resultantes de
sua história e do meio cultural do qual faz parte. Por REFLITA
isso, é preciso considerar a história das crianças para
a construção da estrutura organizacional das aulas Se entendemos que a Educação Física con-
de Educação Física escolar, afinal, como afirmava tribui para o desenvolvimento integral das
Benjamin (1984, p. 14), as crianças “fazem história crianças, e consta na Lei 9.394/1996 como
componente obrigatório na Educação Básica,
a partir da história”. Por meio das relações sociais, quais os motivos que ainda levam à ausên-
dos jogos e brincadeiras, as crianças são capazes de cia em muitas escolas desse componente
criar e recriar situações, compreender regras, afinal curricular?
135
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
136
EDUCAÇÃO FÍSICA
137
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
138
EDUCAÇÃO FÍSICA
É preciso entender que o desenvolvimento da criança nação motora é a base para o desenvolvimento de sua
é contínuo e não se traduz de forma exclusiva por capacidade de aprendizagem sensório-motora, logo,
determinantes biológicos ou genéticos. É necessário quanto mais elevado for seu nível de desenvolvi-
ponderar o meio como fator preponderante para o mento, mais rápido e mais seguramente poderão ser
desenvolvimento das habilidades da criança. Dentro aprendidos movimentos novos ou difíceis, com uma
desse contexto, faz-se indispensável considerar que economia de esforço, propiciando melhor orientação
as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental e precisão (PEREIRA, 2002). Por essa razão, as aulas
que, em geral, estão entre os 6 e os 11 anos de idade, de Educação Física devem oportunizar uma gama de
encontram-se em uma fase na qual a força e habilida- experiências motoras, em que as práticas corporais
des esportivas passam a ser aprendidas e melhoradas possam corroborar significativamente para o desen-
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Sua coorde- volvimento de todo esse processo.
139
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
140
EDUCAÇÃO FÍSICA
escrita e o mundo concreto, existe um mediador, que [...] o ponto de vista dos alunos, os significados
é a ação corporal”. Por essa razão, as aulas de Edu- e valores que eles vinculam às várias atividades
do ensino devem ser considerados pelo profes-
cação Física devem tratar, nos 1º, 2º e 3º anos das
sor, pois a alteridade é um dos princípios pe-
séries inicias do Ensino Fundamental, de vivências e dagógicos que deve orientar a Educação Física.
ações motoras que tenham o foco na ludicidade, na
interação com o meio, mas que sejam atividades que Para o desenvolvimento das aulas dos 1º, 2º e 3º anos
possibilitem à criança alavancar no seu processo de das séries inicias, é de grande importância conside-
aquisição de novas habilidades. rar os valores educativos em cada atividade propos-
Nessa fase escolar, a criança ainda é muito lú- ta. Estando ou não centrada no ato do brincar ou da
dica e, por esse motivo, busca por atividades que dimensão lúdica, a atividade deve primar por valo-
evoquem o brincar, que são próprias da cultura in- res pedagógicos sustentados por uma prática forma-
fantil. Esse pode ser um elemento inicial a ser con- tiva, em que a criança seja oportunizada a aprender
siderado no planejar das aulas de Educação Física novos padrões, gestos ou movimentos motores e, ao
escolar, uma vez que, segundo Vygotsky (2000), pela mesmo tempo, seja possibilitada, por meio das ativi-
brincadeira, a criança vincula-se com o mundo que dades, a modificar as representações por ela apren-
a cerca, podendo interferir e ser interferida direta- didas, o que significa dizer que as aulas de Educa-
mente durante a atividade. Por essa razão, os jogos ção Física, para esses anos escolares, deve-se centrar
motores são elementos essenciais por contribuírem na qualidade e diversidade de atividades propostas,
para a sociabilização e o desenvolvimento da apren- tendo como pressupostos a valorização da criança
dizagem das crianças nessa fase. de forma participativa na aula.
Nesse contexto, é preciso que o professor, ao A seguir, apresentamos um quadro com os ob-
planejar suas aulas de Educação Física, considere os jetivos a serem considerado no desenvolvimento e
conhecimentos e saberes trazidos pelas crianças, afi- estruturação das aulas de Educação Física Escolar
nal, como afirmam Betti e Liz (2003, p. 135), para as séries iniciais.
141
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
SAIBA MAIS
Fonte: os autores.
Eixo: Eixo:
o movimento em ritmo movimento e
e expressão corporeidade
1º Ano
Brincadeiras Movimentos em
cantadas: construção e estruturação
representação original Eixo: Lançar e
representação criativa movimento e agarrar:
os jogos com uma
mão; para • Andar: em diferentes formas
frente; no
Brincadeiras Participar de solo; • Correr: em diferentes velocidades
populares: jogos com as e direções
tradicionais simbílicos duas mãos
na família com um • Rolar: decúbito ventral, dorsal para
pé. frente e para trás
• Saltar: com os dois pés lateralmente
com um pé em altura
142
EDUCAÇÃO FÍSICA
Eixo: Eixo:
o movimento ritmo movimento e a
e em expressão corporeidade
2º Ano
Danças populares: Movimentos
origem, música,
movimento
Eixo:
o movimento • Girar: sobre os dois pés (no mesmo lugar);
e os jogos para direita; para esquerda
• Sustentar: em pé (frontal, dorsal, lateral);
Brincadeiras Jogos com sentado; de joelhos
cooperativas: regras simples
• Estender: partes do corpo, o corpo todo
em pequenos
e médios grupos • Empurrar: com as duas mãos (para cima,
para baixo, lateralmente); com uma mão
• Rebater: com uma mão, com as duas,
com o pé, com a perna
Figura 2 – Mapa conceitual: conteúdos para o 2º ano
Fonte: os autores.
Eixo: Eixo:
o movimento nas manifestações movimento e a
lúdicas e esportivas corporeidade
3º Ano
Movimentos
• Ginástica:
• Rolamentos: para Eixo:
frente e para trás o movimento e os jogos • Conduzir: com as mãos, para frente,
• Vela simples para trás, para direita/esquerda
143
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
144
EDUCAÇÃO FÍSICA
partir do movimento. Segundo Melo e Urbanetz forma como deve ocorrer o processo de sistematiza-
(2008), a aprendizagem que ocorre no ambiente es- ção dos saberes tratados nas aulas. Isso porque, ao se
colar se dá de forma organizada e considera tanto estabelecer essas relações com as demais ações de-
as condições específicas para a transmissão e assi- sencadeadas no ambiente escolar, é possível integrar
milação de conhecimentos e habilidades quanto a a Educação Física com os demais saberes e conheci-
organização intencional, planejada e sistemática das mentos tratados nas demais áreas.
finalidades, além das condições das aulas no am- Tendo essa perspectiva, na sequência, traze-
biente escolar. mos uma proposta de organização e sistematiza-
Por esse motivo, para a organização e estrutura- ção dos conteúdos que devem ser tratados como
ção das aulas para os 4º e 5º anos das séries iniciais, é elementos básicos das aulas de Educação Física
preciso considerar sempre os objetivos da Educação Escolar nos 4º e 5º anos das séries iniciais do En-
Física Escolar, a proposta pedagógica da escola e a sino Fundamental.
Eixo:
movimento e a
corporeidade
4º Ano
Movimentos
Eixo:
o movimento nas manifestações Eixo:
lúdicas e esportivas o movimento • Conduzir com os pés:
e os jogos para frente, para trás,
para direita/esquerda
Ginástica:
• Combinações: · andar e chutar
• Rolamentos: para Jogos
cooperativos · correr e saltar
frente com as pernas
estendidas/ com as · correr e chutar
pernas estendidas · correr e arremessar
e afastadas
· correr e receber
• Rolamentos: para
trás com as pernas · correr e transportar
unidas e estendidas · lançar e receber
• Estrela · saltar e arremessar
• Ponte
• Parada de mãos
Figura 4 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 4° ano das séries iniciais
Fonte: os autores.
145
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
Eixo:
o movimento nas manifestações 5º Ano Eixo:
lúdicas e esportivas o movimento e
os jogos
• Jogos cooperativos
• Iniciação às lutas
• Ginástica: elementos básicos • Jogos recreativos
• Dança: danças brasileiras e
populares
• Práticas corporais: skate, escalada
Figura 5 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 5° ano das séries iniciais
Fonte: os autores.
Ao observar os mapas conceituais apresentados É evidente que esse processo de ensino e apren-
para o 4° e 5° anos das séries iniciais, lembre-se de dizagem nas aulas de Educação Física escolar está
que, para além das dimensões procedimentais tra- centrados nas questões motoras, afinal, como diz
tadas nas aulas, é preciso ter como foco o desen- Canfield (2000), não é possível negar a importân-
volvimento dos aspectos conceituais e atitudinais cia de se trabalhar o aspecto motor no decorrer da
durante as aulas, isso porque, para Zabala (1998), infância do ser humano. Assim, as salas de Educa-
educar significa trabalhar em prol da formação do ção Física (enquanto um espaço de intervenção que
homem de forma integral. Por essa razão, as fina- possibilita e oportuniza de maneira efetiva a vivên-
lidades e objetivos devem ser explícitos e claros cia motora por meio de jogos, atividades lúdicas e
para que possam ser desenvolvidos de acordo com esportivas e conhecimentos sobre saúde) colaboram
as necessidades e expectativas de todos os envolvi- como fatores essenciais para o processo de desenvol-
dos no processo. vimento da criança do 4º e 5º anos das séries iniciais
do Ensino Fundamental.
146
EDUCAÇÃO FÍSICA
SAIBA MAIS
Outro fator a ser considerado é o fato de que a esco-
la da atualidade deve atender a demandas próprias.
O processo de ensino caracteriza-se pela Etchepare (2000) afirma que é preciso compreender
combinação de atividades do professor e dos que a escola da atualidade tem como objetivo prin-
alunos. Estes, pelo estudo das matérias, sob
a direção do professor, vão atingindo pro- cipal desenvolver, no aluno, as características neces-
gressivamente o desenvolvimento de suas sárias para uma ação efetiva e participação ativa na
capacidades mentais. A direção eficaz desse sociedade. Nesse contexto, a Educação Física esco-
processo depende do trabalho sistematiza-
do do professor que, tanto no planejamento lar trata, por meio da apropriação do movimento e
como no desenvolvimento das aulas, conjuga das relações culturais, condições para que a criança
objetivos, conteúdos, métodos e formas or- vivencie e experiencie formas diversificadas para os
ganizativas do ensino.
movimentos, possibilitando que esse movimento te-
Fonte: adaptado de Libâneo (1994). nha significados próprios na relação da criança com
o seu dia a dia.
147
considerações finais
C
omo vimos, as aulas de Educação Física escolar para os primeiros anos
da séries iniciais do Ensino Fundamental se dá pela constituição e arti-
culação entre o movimento, a cultura e os interesses da criança, afinal
ela é o ponto central das aulas. O professor é, nesse contexto, o agente
de transformação responsável por oportunizar que haja uma inter-relação entre
os saberes tratados por meio do movimento e sua interlocução com o cotidiano
da vida da criança.
Tendo essa compreensão, os mapas conceituais apresentados nesta unidade
trouxeram a possibilidade de uma estruturação de aulas centradas em movimen-
tos que consideram os contextos das crianças, trazendo eixos de aprendizagem
que apresentam uma prática pedagógica que valoriza as relações e interações da
criança com o universo que a cerca.
Entendemos que a criança, que se encontra nas séries iniciais do Ensino Fun-
damental, tem uma maior facilidade com o processo de aprendizagem e com a
compreensão do universo que a cerca por meio do movimento, pois, nas aulas
de Educação Física, a criança é possibilitada a explorar o seu corpo no espaço
mediante à interação com o meio. Isso porque os atos motores auxiliam a crian-
ça a exteriorizar seu desenvolvimento decorrente das suas dimensões: cogniti-
va, corporal, afetiva, ética, estética, interpessoal e biológica. Afinal, como alerta
Vygotsky (1996), o desenvolvimento da criança não só ocorre no meio escolar,
mas também das interações dos fatores, como a hereditariedade, crescimento or-
gânico, maturação neurofisiológica e o meio social. Assim, as aulas de Educação
Física escolar intensificam a relação entre o ser e o desenvolver da criança.
Encerramos esta unidade tendo a perspectiva de que você tenha compreen-
dido que as aulas de Educação Física escolar devem seguir uma sequência lógica
e sistematizada de tal forma que os movimentos se completem e colaborem para
o desenvolvimento das potencialidades da criança.
148
atividades de estudo
3. Sabendo que a criança deve ser considerada de forma integral nas aulas
de Educação Física escolar, quais os elementos que devem ser conside-
rados no processo de elaboração das atividades com foco na aprendi-
zagem significativa da criança?
149
LEITURA
COMPLEMENTAR
150
LEITURA
COMPLEMENTAR
A partir dos EC, o currículo da Educação Física também pode ser imaginado sob o mo-
delo da textualidade. Enquanto texto, envolve práticas, estruturas institucionais e as
complexas formas de atividade que estas requerem, condições legais e políticas de
existência, determinados fluxos de poder e conhecimento, bem como uma organiza-
ção semântica específica de múltiplos aspectos. Simultaneamente, esse texto só existe
dentro de uma rede de relações intertextuais (a rede textual da cultura corporal, da cul-
tura escolar, da prática pedagógica). Trata-se de uma entidade ontologicamente mista
e para a qual não pode haver nenhuma forma “correta” ou privilegiada de leitura. Tal
perspectiva questiona e ajuda a compreender o privilégio que determinados grupos
possuem para fazer valer suas concepções de mundo, sociedade e práticas corporais,
por exemplo. É justamente esse aspecto, mais do que qualquer outra coisa, que de-
sencadeou o interesse por investigar as principais produções dos EC e garimpar suas
contribuições mais relevantes, a fim de esboçar encaminhamentos para a construção e
o desenvolvimento de currículos da Educação Física.
Em tempos de repetidas críticas aos diversos modelos curriculares em voga e diante
da tentativa de transformar a realidade social brasileira tão desigual, os EC fornecem
subsídios para afirmar o caráter político do currículo da Educação Física, ao incitar uma
investigação mais rigorosa que busque desvelar como se dão os processos de identifi-
cação/diferenciação travados no seu interior. Para os EC, revelar os mecanismos pelos
quais se constroem determinadas representações é o primeiro passo para reescrever
os processos discursivos e alcançar a formação de outras identidades (NELSON; TREI-
CHLER; GROSSBERG, 1995). Compreender melhor seus fundamentos é, como diz Cora-
zza (2006), o primeiro passo para artistar currículos da Educação Física comprometidos
com uma construção identitária mais democrática.
151
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
152
referências
153
referências
154
gabarito
155
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
conclusão geral
156