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Quantas vezes já passamos por esta alegoria, sem nos darmos conta de sua
profundidade, sem nos determos no seu verdadeiro significado. Esta alegoria, escondida
detrás de um diálogo, aparentemente sem grande importância, nos reserva alguns dos
mais profundos mistérios do Gr.`., E é o que iremos tentar decifrar a partir desta Peç.`.
de Arq.`..
Mas como entender a posição “entre o Esquadro e o Compasso”??. O que existe entre os
dois??. Eis é o que pretendemos perscrutar neste trabalho.
Um belo desenho de William Blake2, intitulado O Ancião dos dias mede o tempo (Fig.
01) representa o Padre Eterno inscrito no disco do sol e dirigindo para o mundo um
imenso compasso. Coomaraswamy3 e Guénon4 associaram esse símbolo à medida – ou
determinação – dos limites do Céu e da Terra, de que falam os Vedas5, e evocaram o
papel do arquiteto celeste Vixvacarman6 (Fig. 2), bem como o do Grande Arquiteto do
Universo, dos maçons.
1
Sse-kuei é um personagem da mitologia chinesa, entidade encarregada pelo décimo quarto imperador
de fazer uma maravilhosa guitarra de cinco cordas, cujo som tinha o poder de corrigir os desarranjos do
universo, e de salvar as criaturas
2
William Blake (Londres, 28 de novembro de 1757 — Londres, 12 de agosto de 1827) foi um poeta,
pintor inglês, sendo sua pintura definida como pintura fantástica, e tipógrafo.
3
Ananda Kentish Coomaraswamy (Colombo, 22 de agosto de 1877 - Needham, Massachusetts, 9 de
setembro de 1947) foi um notável filósofo e historiador indiano e grande mediador da cultura oriental
tradicional para o Ocidente, sobretudo a indiana e a budista. É considerado um dos fundadores da
escola perenialista, baseada na Filosofia Perene, depois dos metafísicos francês René Guénon (1886-
1951) e suíço-alemão Frithjof Schuon (1907-1998). Entre seus poucos livros publicados em português
estão "Hinduísmo e Budismo" e "Mitos Hindus e Budistas".
4
René Guénon (Blois, 15 de Novembro de 1886 — Cairo, 7 de Janeiro de 1951) foi um metafísico e
crítico social francês. Foi o pioneiro e o principal porta-voz, juntamente com Frithjof Schuon, da "Escola
Perenialista" – baseada na Filosofia Perene. Autor universalista, esposava a tese da "unidade
transcendente das religiões", ou seja, que as diversas tradições religiosas mundiais têm um fundamento
metafísico e espiritual convergente. A partir de 1930, viveu no Cairo, onde praticou o Islã como sua
religião pessoal; ao mesmo tempo, continuou expondo a doutrina da universalidade da verdade, como
se pode verificar nos livros "Símbolos da Ciência Sagrada" e "O Reino da Quantidade e os Sinais dos
tempos".
5
Denominam-se Vedas os quatro textos, escritos em sânscrito por volta de 1500 a.C., que formam a
base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a mais antiga literatura
de qualquer língua indo-europeia. Muitos historiadores consideram os Vedas os textos sobreviventes
mais antigos. Estima-se que as partes mais novas dos vedas datam a aproximadamente 500 a.C.; o texto
mais antigo (Rigveda) encontrado é, atualmente, datado a aproximadamente 1500 a.C., mas a maioria
dos indólogos concordam com a possibilidade de que uma longa tradição oral existiu antes que os Vedas
fossem escritos. Representam o mais antigo estrato de literatura indiana e, de acordo com estudantes
modernos, são escritos em uma forma de linguagem que evoluiu no sânscrito. Eles consideram o uso do
sânscrito védico como a linguagem dos textos um anacronismo, embora seja geralmente aceita.
6
Vishvakarma é a deidade Hindú que preside todos os artesãos e arquitetos. É o principal “Arquiteto do
Universo”, o arquiteto que projetou e fabricou a divina estrutura do Universo. É “The Lord of Creation”
ou o Senhor da Criação.
Fig. 1 - O Ancião dos dias mede o tempo - William Blake
Girando sobre a sua ponta a fim de voltar ao ponto de partida, o compasso simbolizou
também o ciclo de uma existência: “Por mais longe que vás, por mais tempo que fiques
ausente, é ao ponto de partida que tornarás, como o compasso, que tem uma das pontas
apoiadas no centro e a outra na periferia: por mais que dê voltas, sempre retornará ao
ponto de onde saiu.”.
7
- Dante Alighieri (Florença, 29 de maio de 1265 — Ravena, 13 ou 14 de Setembro de 1321) foi um
escritor, poeta e político italiano. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido
como il sommo poeta ("o sumo poeta"). Foi muito mais do que apenas um literato: numa época onde
apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina
Commedia (A Divina Comédia), que se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação
do modo medieval de entender o mundo.
8
- Androginia é a qualidade das pessoas cuja aparência externa (rasgos) não é própria nem do sexo
masculino nem do sexo feminino, entrando assim num termo médio;
9
- Ser mitológico, similar ao ser humano mas hermafrodita. Aparece frequentemente em obscuros
textos de alquimistas. Simboliza a dualidade, a perfeição, o ideal inalcançável.
10
- Fu Hi é um personagem da mitologia chinesa, filho de Haa Sse, representado com cabeça de boi e
corpo de dragão ou de serpente.
11
Na mitología chinesa Niu-kua (a veces Nv-Kua) é uma das divinidades femeninas mais antigas. Nu Kua
- deusa na mitologia da China que criou a humanidade. Muito poderosa, metade humana e metade
serpente. Ela é associada à chuva, poças de àgua, lagoas, lagos e outros lugares onde as àguas param e
são populadas por criaturas Anfíbio e peixes.
12
- Hieros gamos (grego ιερός γάμος ou ιερογαμία, o "casamento sagrado"), é a cópula (às vezes
casamento), de uma divindade e um homem ou uma mulher, muitas vezes com um significado simbólico
e geralmente realizadas na Primavera. É um antigo ritual em que os participantes acreditavam que
podiam ganhar profunda experiência religiosa ou um intercâmbio de conhecimentos através da relação
sexual. Esta foi muitas vezes feita pelo monarca da religião dominante.
13
- O Yin é um princípio universal que surgiu do Tao absoluto. Feminino é oposto e complementar ao
Yang;
14
- O Yang é um princípio universal que surgiu do Tao absoluto. Oposto e complementar ao Yin. O Yang
é masculino e representa: luz, atividade, montanha (pedra), calor, concreto (palpável), grande e ruidoso;
Fig. 3 Imagen de Rebis, el ser andrógino con cabezas de cordero. Códice germánico monacensis
(Alemania, siglo XV
Fig. 4 Nu Kua e Fu Xi
Fig. 5- Yin e Yang
15
- Historicamente podemos considerar o “Compagnonnage” como uma associação do século XV.
Nascida, sem a menor dúvida, paralelamente aos grêmios de construtores, com seus segredos originais
sendo, durante o antigo regime, um movimento tipicamente de operários. Jamais reconhecido,
perseguido eventualmente, outras tantas tolerado, construiu uma gigantesca rede clandestina de
organizações e postos de trabalho. Lutou contra as corporações privilegiadas pelo sistema dominante e
por melhores condições de vida. O “Compagnonnage” foi o precursor dos atuais sindicatos e das
cooperativas. Os primeiros documentos que atestam a existência do “Compagnonnage” datam do
século XV, mas muito provavelmente já existia no século precedente. Esta corporação representa a mais
antiga associação de trabalhadores ainda em plena atividade. Podemos admitir sem maiores problemas
que eles tinham uma aspiração pela liberdade já no século XV, o que reforçava a solidariedade entre
eles sustentada pelos rígidos regulamentos e rituais secretos longe dos olhares indiscretos dos profanos.
Alguns autores afirmam que a Maçonaria derivou dos “Compagnonnage”, tendo muitos ritos, alegorias
e instrumentos em comum.
16
O homem vitruviano (ou homem de Vitrúvio) é um conceito apresentado na obra Os dez livros da
Arquitetura, escrita pelo arquiteto romano Marco Vitruvio Polião, do qual o conceito herda no nome.
Tal conceito é considerado um cânone das proporções do corpo humano, segundo um determinado
raciocínio matemático e baseando-se, em parte, na divina proporção. Desta forma, o homem descrito
por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas,
segundo o ideal clássico de beleza.Originalmente, Vitrúvio apresentou o cânone tanto de forma textual
(descrevendo cada proporção e suas relações) quanto através de desenhos. Porém, à medida que os
documentos originais perdiam-se e a obra passava a ser copiada durante a Idade Média, a descrição
gráfica se perdeu. Desta forma, com a redescoberta dos textos clássicos durante o Renascimento, uma
série de artistas, arquitetos e tratadistas dispuseram-se a interpretar os textos vitruvianos a fim de
produzir novas representações gráficas. Dentre elas, a mais famosa e (hoje) difundida é a de Leonardo
da Vinci.
todo o ideário renascentista do surgimento do antropocentrismo, ou do “Homem como a
medida de todas as coisas”. Essa famosa pintura mostra uma figura masculina sem
roupa separadamente e simultaneamente em duas posições sobrepostas com os braços
inscritos em um circulo e em um quadrado.
Já a posição dos braços e das pernas, que estão acima e parecem estar em movimento,
são desenhados acompanhando a forma do círculo. Temos uma perfeita representação
do Homem dentro de uma Mandala sob uma perspectiva de universalidade. O quadrado
desenhado e a forma do homem imitando uma cruz parecem estar parados e fixos no
chão. Já o Homem inscrito dentro do circulo, parece estar fora do chão e sua posição
nos dá a impressão de movimento.
Este instrumento, tão frequentemente referido nos antigos documentos, é aquele que,
sendo de maneira geral uma das três Grandes Luzes da Maçonaria17, tem um especial
significado no Terceiro Grau.18 É somente nesse Grau que ele é totalmente exposto,
possibilitando assim ao M.´. M.´. usá-lo para concluir a sua obra e é também neste Grau
que ele reaparece como um instrumento de trabalho. Ele nos lembra, particularmente, a
limitar o nosso dever em todos os casos que, elevados à eminência do mérito, possamos
ser respeitados em vida e lamentados por nossa morte. Ele nos lembra da imparcial
Justiça de Deus. Assim, ele é o símbolo do autocontrole, e assim como o Esquad.´. nos
mostra o dever que temos para com o próximo, o Comp.´. nos mostra o dever que temos
conosco mesmos.19
Na obra de William Hutchinson20, encontramos uma ideia como o M.´. deva usar o
Comp.´.:
A figura geométrica descrita com a ajuda de um Compasso é um círculo, que não tem
cantos, pontas ou ângulos. Ele não é, em si, apenas uma figura simetricamente perfeita,
mas é o teste de simetria de outras figuras, pois uma figura simetricamente perfeita é
17
- O Comp.`., o Esquad.`. e o L.`. da L.´.
18
- Dyer, Colin – O Simbolismo na Maçonaria – Madras, Pág. 202
19
- Idem.
20
- The Spirit of Masonry
àquela que pode ser descrita num círculo ou próxima de um círculo. O ensinamento,
neste sentido do Símbolo, é obvio. O homem que possui um perfeito autocontrole não
tem pontas, cantos, ou ângulos. A sua personalidade não é arrogante e nem agressiva,
Ele conserva a mesma postura diante de todas as condições.21
21
- J. T. Lawrence
22
- Na Mitologia, Urânia (em grego: Ουρανία - A celestial) era a musa da Astronomia e da Astrologia.
Segundo diversas fontes, era filha de Urano, gerada sem mãe ou, ainda, de Zeus e Mnemósine. Urânia
era mãe de Lino, cujo pai era Apolo. É a menor de todas as musas.
23
- Da Camino, Rizzardo – Simbolismo do Terceiro Grau, Madras, Pág. 256.
Observando com atenção, o entrelaçamento do Comp:. e do Esq:. na maioria das
representações alegóricas, vemos que há um “G” inscrito em seu centro. Como
sabemos, o “G” representa o G.`.A.`.D.`.U.`., ou a primeira vogal de “God” que é Deus
na língua inglesa (origem da Maçonaria Especulativa foi na língua de Shakespeare e
devemos ter importado essa alegoria). Não é proibido concluir, pela instrução, que
estando entre o Esquadro e o Compasso, na verdade, estamos sob a proteção, guarda e
orientação do G.`.A.`.D.`.U.`., ou sob sua inspiração. Esta faculdade seria somente do
M.`. M.`. que já teria passado o umbral simbólico da materialidade para o da
espiritualidade.
Cada defeito estava armado com um instrumento. A Ignorância atacou pelo lado direito
– projetor do poder positivo – com uma régua de 24 polegadas, que representa o dia de
24 horas, ferindo a garganta de Hiram. O Fanatismo golpeou o coração com o esquadro,
que é o símbolo do homem inferior, dominado pelo seu fanatismo; o esquadro é a forma
material, é o conhecimento intelectual, que é necessário para o homem. Ao golpear o
coração, mata nele a tolerância e o amor. A ambição golpeou lhe a cabeça com o
malhete, reapresentando neste ato a vontade mal dirigida e mal dominada. Uma vez
morta a CONSIÊNCIA, os três tratam de relegar o fato ao esquecimento, “sepultando o
corpo do Mestre”26. Mas não puderam matar o seu espírito, ou sua Intuição Divina, que
é representada pelo Compasso.
Assim, o Comp.`. encimado no Esquad.´. significa que o espírito superou a matéria, mas
que até passarmos efetivamente ao Oriente Eterno, ficaremos “presos” à materialidade
(representada pelo Esquad.´.), seguindo as Leis e ordenamentos Morais impostos pelo
L.´. da L.´., continuando a polir a nossa Pedra, até a nossa morte material. Quando nos
referimos à morte, é no sentido de término de um ciclo, de uma etapa, pois a morte não
existe no sentido da existência espiritual.
* *
24
- Seria nosso Templo Interior???
25
- Adum, Jorge – Grau do Mestre Maçom e seus Mistérios, Pensamento, Pág. 19
26
- idem
FONTE DE CONSULTA: