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ENTRE O ESQUADRO E O COMPASSO

Reflexões 2ª Instrução de M.`. M.`.

“Os átomos do homem são seus arquivos,


e suas vibrações são sua linguagem”
Jorge Adum

Por: Irm.`. Luis Genaro Ladereche Fígoli


M.´.R.´.L.´.S.´. Palmares do Sul 213
Or.´. Palmares do Sul/RS
Jurisdicionada às GG.`. LL.´. RS
I - Introdução
A segunda instrução, também denominada de “Catecismo do Mestre”, é dada a todos os
Mestres por meio de um diálogo que o Respeitab:. Mest:. mantêm com seus VVig:.

No diálogo formulado, o Respeitab.`. Mest propõe ao 2° Vig.`. uma hipótese:

“Se um Mestre se perdesse, onde poderia ser encontrado?”.

Responde o 2° Vig.`.: “Entre o Esquadro e o Compasso”.

E continua: “Porque o Mestre procurado distinguir-se-ia pela moralidade de


seus atos e pela justeza de seu raciocínio. É, sob esse ponto de vista , que ele se
conserva entre o Esq.`. e o Comp.`.”.

Quantas vezes já passamos por esta alegoria, sem nos darmos conta de sua
profundidade, sem nos determos no seu verdadeiro significado. Esta alegoria, escondida
detrás de um diálogo, aparentemente sem grande importância, nos reserva alguns dos
mais profundos mistérios do Gr.`., E é o que iremos tentar decifrar a partir desta Peç.`.
de Arq.`..

Sem dúvida, e isso aprendemos na própria exaltação, o Comp.`. é o instrumento


principal de trabalho de um M.`.M. `.. Entretanto, este diálogo nos remete a uma
interpretação, onde a posição do Mestre encontra-se entre o Esquadro (que é o
instrumento do Compan:.) e o Comp:.. Sabemos que o Comp:. nos recorda Sua Justiça
imparcial e infalível, mostrando-nos que é necessário aprendermos a distinguir o bem
do mal, a justiça da iniquidade, a fim de fircarmos em condições de, com o compasso
simbólico, apreciar e medir, com justo valor, todos os atos que tivermos de praticar.

Mas como entender a posição “entre o Esquadro e o Compasso”??. O que existe entre os
dois??. Eis é o que pretendemos perscrutar neste trabalho.

Inicialmente mostraremos a importância da alegoria do Esquadro e do Compasso nas


diversas culturas, sociedade e religiões, e como foram incorporadas (provavelmente) na
Maçonaria, inclusive com seus significados místicos.

Posteriormente, passaremos a analisar e entender como o Esquadro e o Compasso se


constituem numa importante alegoria na Maçonaria e, finalmente, o significado de o M:.
M:. estar “entre” os dois instrumentos.
II - O Esquadro e o Compasso nas diversas culturas
Numa linguagem literária – e até certo ponto convencional -, o compasso é considerado
entre nós como o emblema das ciências exatas, do rigor matemático, por oposição à
fantasia imaginativa, à poesia. As noções de regra e régua, de retidão, direitura, estão
também na base do kuei1 chinês.

E, no entanto, quer no esoterismo ocidental, quer na China antiga, o compasso –


geralmente associado ao esquadro - é um importante símbolo cosmológico, uma vez
que serve para medir e para traçar o círculo, enquanto o esquadro serve para traçar o
quadrado. É no esquadro e no compasso, dizem os legistas, que está a perfeição do
quadrado e do círculo.

Um belo desenho de William Blake2, intitulado O Ancião dos dias mede o tempo (Fig.
01) representa o Padre Eterno inscrito no disco do sol e dirigindo para o mundo um
imenso compasso. Coomaraswamy3 e Guénon4 associaram esse símbolo à medida – ou
determinação – dos limites do Céu e da Terra, de que falam os Vedas5, e evocaram o
papel do arquiteto celeste Vixvacarman6 (Fig. 2), bem como o do Grande Arquiteto do
Universo, dos maçons.

1
Sse-kuei é um personagem da mitologia chinesa, entidade encarregada pelo décimo quarto imperador
de fazer uma maravilhosa guitarra de cinco cordas, cujo som tinha o poder de corrigir os desarranjos do
universo, e de salvar as criaturas
2
William Blake (Londres, 28 de novembro de 1757 — Londres, 12 de agosto de 1827) foi um poeta,
pintor inglês, sendo sua pintura definida como pintura fantástica, e tipógrafo.
3
Ananda Kentish Coomaraswamy (Colombo, 22 de agosto de 1877 - Needham, Massachusetts, 9 de
setembro de 1947) foi um notável filósofo e historiador indiano e grande mediador da cultura oriental
tradicional para o Ocidente, sobretudo a indiana e a budista. É considerado um dos fundadores da
escola perenialista, baseada na Filosofia Perene, depois dos metafísicos francês René Guénon (1886-
1951) e suíço-alemão Frithjof Schuon (1907-1998). Entre seus poucos livros publicados em português
estão "Hinduísmo e Budismo" e "Mitos Hindus e Budistas".
4
René Guénon (Blois, 15 de Novembro de 1886 — Cairo, 7 de Janeiro de 1951) foi um metafísico e
crítico social francês. Foi o pioneiro e o principal porta-voz, juntamente com Frithjof Schuon, da "Escola
Perenialista" – baseada na Filosofia Perene. Autor universalista, esposava a tese da "unidade
transcendente das religiões", ou seja, que as diversas tradições religiosas mundiais têm um fundamento
metafísico e espiritual convergente. A partir de 1930, viveu no Cairo, onde praticou o Islã como sua
religião pessoal; ao mesmo tempo, continuou expondo a doutrina da universalidade da verdade, como
se pode verificar nos livros "Símbolos da Ciência Sagrada" e "O Reino da Quantidade e os Sinais dos
tempos".
5
Denominam-se Vedas os quatro textos, escritos em sânscrito por volta de 1500 a.C., que formam a
base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a mais antiga literatura
de qualquer língua indo-europeia. Muitos historiadores consideram os Vedas os textos sobreviventes
mais antigos. Estima-se que as partes mais novas dos vedas datam a aproximadamente 500 a.C.; o texto
mais antigo (Rigveda) encontrado é, atualmente, datado a aproximadamente 1500 a.C., mas a maioria
dos indólogos concordam com a possibilidade de que uma longa tradição oral existiu antes que os Vedas
fossem escritos. Representam o mais antigo estrato de literatura indiana e, de acordo com estudantes
modernos, são escritos em uma forma de linguagem que evoluiu no sânscrito. Eles consideram o uso do
sânscrito védico como a linguagem dos textos um anacronismo, embora seja geralmente aceita.
6
Vishvakarma é a deidade Hindú que preside todos os artesãos e arquitetos. É o principal “Arquiteto do
Universo”, o arquiteto que projetou e fabricou a divina estrutura do Universo. É “The Lord of Creation”
ou o Senhor da Criação.
Fig. 1 - O Ancião dos dias mede o tempo - William Blake

Fig. 2 - Vishvakarma – O Divino Arquiteto do Universo


Dante7 cantou o Deus Arquiteto: “Aquele que, com o seu compasso, marcou os limites
do mundo e determinou, dentro deles, tudo o que é visível e tudo o que está oculto”.

O compasso foi interpretado como imagem do pensamento a desenhar ou percorrer os


círculos do mundo. Traçando as imagens do movimento, e móvel ele mesmo,
o compasso tornou-se o símbolo do dinamismo construtor, atributo das atividades
criadoras.

Girando sobre a sua ponta a fim de voltar ao ponto de partida, o compasso simbolizou
também o ciclo de uma existência: “Por mais longe que vás, por mais tempo que fiques
ausente, é ao ponto de partida que tornarás, como o compasso, que tem uma das pontas
apoiadas no centro e a outra na periferia: por mais que dê voltas, sempre retornará ao
ponto de onde saiu.”.

No Ocidente como na China, compasso e esquadro evocam, respectivamente, o Céu e a


Terra. No Ocidente, o compasso e o esquadro são atribuídos, respectivamente, às duas
metades, masculina e feminina, do Andrógino hermético8 (Rebis)9(Fig.3), que
corresponde ao Sol e à Lua, na China a Fu-hi10 e Nu-kua11 (Fig. 4), que são os
princípios masculino e feminino da manifestação. Todavia, quando Fu-hi e Nu-kua são
unidos, seus atributos ficam invertidos, ou, mais exatamente, trocados. E a figuração da
hierogamia12, a síntese reconstituída do yin13 e do yang14 (Fig. 5) na qual a figura yang
porta o atributo yin, e inversamente.

7
- Dante Alighieri (Florença, 29 de maio de 1265 — Ravena, 13 ou 14 de Setembro de 1321) foi um
escritor, poeta e político italiano. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido
como il sommo poeta ("o sumo poeta"). Foi muito mais do que apenas um literato: numa época onde
apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina
Commedia (A Divina Comédia), que se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação
do modo medieval de entender o mundo.
8
- Androginia é a qualidade das pessoas cuja aparência externa (rasgos) não é própria nem do sexo
masculino nem do sexo feminino, entrando assim num termo médio;
9
- Ser mitológico, similar ao ser humano mas hermafrodita. Aparece frequentemente em obscuros
textos de alquimistas. Simboliza a dualidade, a perfeição, o ideal inalcançável.
10
- Fu Hi é um personagem da mitologia chinesa, filho de Haa Sse, representado com cabeça de boi e
corpo de dragão ou de serpente.
11
Na mitología chinesa Niu-kua (a veces Nv-Kua) é uma das divinidades femeninas mais antigas. Nu Kua
- deusa na mitologia da China que criou a humanidade. Muito poderosa, metade humana e metade
serpente. Ela é associada à chuva, poças de àgua, lagoas, lagos e outros lugares onde as àguas param e
são populadas por criaturas Anfíbio e peixes.
12
- Hieros gamos (grego ιερός γάμος ou ιερογαμία, o "casamento sagrado"), é a cópula (às vezes
casamento), de uma divindade e um homem ou uma mulher, muitas vezes com um significado simbólico
e geralmente realizadas na Primavera. É um antigo ritual em que os participantes acreditavam que
podiam ganhar profunda experiência religiosa ou um intercâmbio de conhecimentos através da relação
sexual. Esta foi muitas vezes feita pelo monarca da religião dominante.
13
- O Yin é um princípio universal que surgiu do Tao absoluto. Feminino é oposto e complementar ao
Yang;
14
- O Yang é um princípio universal que surgiu do Tao absoluto. Oposto e complementar ao Yin. O Yang
é masculino e representa: luz, atividade, montanha (pedra), calor, concreto (palpável), grande e ruidoso;
Fig. 3 Imagen de Rebis, el ser andrógino con cabezas de cordero. Códice germánico monacensis
(Alemania, siglo XV

Mais prosaicamente, a expressão compasso e esquadro indicam os bons costumes, a


boa ordem, na verdade, a harmonia complementar das influências celestes e terrestres,
masculinas e femininas.

Fig. 4 Nu Kua e Fu Xi
Fig. 5- Yin e Yang

Observe-se, ainda, que, na conformidade do simbolismo do círculo e do quadrado, o


compasso está mais particularmente em relação com a determinação do tempo, e o
esquadro com a do espaço.

Compasso e esquadro foram, na Idade Média, os emblemas da maior parte das


corporações: o Compagnonnage15, observou Guénon, só proibia o uso do compasso aos
sapateiros e padeiros.

Há uma pintura famosa da época da Renascença que é sugestiva de uma correlação


entre Homem e totalidade, envolvendo o simbolismo do círculo. O Homem Vitruviano16
(Fig. 6) de Leonardo DaVinci é considerado um símbolo da Renascença, pois agrega

15
- Historicamente podemos considerar o “Compagnonnage” como uma associação do século XV.
Nascida, sem a menor dúvida, paralelamente aos grêmios de construtores, com seus segredos originais
sendo, durante o antigo regime, um movimento tipicamente de operários. Jamais reconhecido,
perseguido eventualmente, outras tantas tolerado, construiu uma gigantesca rede clandestina de
organizações e postos de trabalho. Lutou contra as corporações privilegiadas pelo sistema dominante e
por melhores condições de vida. O “Compagnonnage” foi o precursor dos atuais sindicatos e das
cooperativas. Os primeiros documentos que atestam a existência do “Compagnonnage” datam do
século XV, mas muito provavelmente já existia no século precedente. Esta corporação representa a mais
antiga associação de trabalhadores ainda em plena atividade. Podemos admitir sem maiores problemas
que eles tinham uma aspiração pela liberdade já no século XV, o que reforçava a solidariedade entre
eles sustentada pelos rígidos regulamentos e rituais secretos longe dos olhares indiscretos dos profanos.
Alguns autores afirmam que a Maçonaria derivou dos “Compagnonnage”, tendo muitos ritos, alegorias
e instrumentos em comum.

16
O homem vitruviano (ou homem de Vitrúvio) é um conceito apresentado na obra Os dez livros da
Arquitetura, escrita pelo arquiteto romano Marco Vitruvio Polião, do qual o conceito herda no nome.
Tal conceito é considerado um cânone das proporções do corpo humano, segundo um determinado
raciocínio matemático e baseando-se, em parte, na divina proporção. Desta forma, o homem descrito
por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas,
segundo o ideal clássico de beleza.Originalmente, Vitrúvio apresentou o cânone tanto de forma textual
(descrevendo cada proporção e suas relações) quanto através de desenhos. Porém, à medida que os
documentos originais perdiam-se e a obra passava a ser copiada durante a Idade Média, a descrição
gráfica se perdeu. Desta forma, com a redescoberta dos textos clássicos durante o Renascimento, uma
série de artistas, arquitetos e tratadistas dispuseram-se a interpretar os textos vitruvianos a fim de
produzir novas representações gráficas. Dentre elas, a mais famosa e (hoje) difundida é a de Leonardo
da Vinci.
todo o ideário renascentista do surgimento do antropocentrismo, ou do “Homem como a
medida de todas as coisas”. Essa famosa pintura mostra uma figura masculina sem
roupa separadamente e simultaneamente em duas posições sobrepostas com os braços
inscritos em um circulo e em um quadrado.

Fig. 6- Homem Vitruviano

O Homem Vitruviano tem medidas de proporções muito significativas. A cabeça é do


tamanho de um décimo da altura total. Algumas vezes o desenho e o texto são
chamados de Cânone das Proporções. As posições com os braços e os pés em forma de
cruz são inscritas acompanhando a posição do quadrado.

Já a posição dos braços e das pernas, que estão acima e parecem estar em movimento,
são desenhados acompanhando a forma do círculo. Temos uma perfeita representação
do Homem dentro de uma Mandala sob uma perspectiva de universalidade. O quadrado
desenhado e a forma do homem imitando uma cruz parecem estar parados e fixos no
chão. Já o Homem inscrito dentro do circulo, parece estar fora do chão e sua posição
nos dá a impressão de movimento.

Nesse sentido, o quadrado implica a estabilidade e o circulo o movimento e a dinâmica.


Podemos observar que, a despeito do movimento, o umbigo do homem permanece
imóvel. O Umbigo, que é o verdadeiro centro de gravidade, é o ponto central do homem
que está posicionado precisa e matematicamente no centro do círculo. O desenho
também é considerado freqüentemente como um símbolo da simetria básica do corpo
humano e das proporções matemáticas do ser humano perante o Universo.
III – O Esquadro e o Compasso na Maçonaria

Fig. 7- Esquadro e Compasso

Este instrumento, tão frequentemente referido nos antigos documentos, é aquele que,
sendo de maneira geral uma das três Grandes Luzes da Maçonaria17, tem um especial
significado no Terceiro Grau.18 É somente nesse Grau que ele é totalmente exposto,
possibilitando assim ao M.´. M.´. usá-lo para concluir a sua obra e é também neste Grau
que ele reaparece como um instrumento de trabalho. Ele nos lembra, particularmente, a
limitar o nosso dever em todos os casos que, elevados à eminência do mérito, possamos
ser respeitados em vida e lamentados por nossa morte. Ele nos lembra da imparcial
Justiça de Deus. Assim, ele é o símbolo do autocontrole, e assim como o Esquad.´. nos
mostra o dever que temos para com o próximo, o Comp.´. nos mostra o dever que temos
conosco mesmos.19

Na obra de William Hutchinson20, encontramos uma ideia como o M.´. deva usar o
Comp.´.:

“Mas como a fraqueza da natureza humana mantém guerra com a


Verdade e as enfermidades do homem lutam com as suas Virtudes, para
ajudar a conduta de todo maçom, o Mestre detém o Compasso, limitando
e estabelecendo as distâncias, o progresso e a circunferência do
trabalho. Ele dita as maneiras, dá direção do projeto e delineia cada
porção e cada parte do trabalho, determinando a cada um a sua
competência e a sua ordem”.

A figura geométrica descrita com a ajuda de um Compasso é um círculo, que não tem
cantos, pontas ou ângulos. Ele não é, em si, apenas uma figura simetricamente perfeita,
mas é o teste de simetria de outras figuras, pois uma figura simetricamente perfeita é

17
- O Comp.`., o Esquad.`. e o L.`. da L.´.
18
- Dyer, Colin – O Simbolismo na Maçonaria – Madras, Pág. 202
19
- Idem.
20
- The Spirit of Masonry
àquela que pode ser descrita num círculo ou próxima de um círculo. O ensinamento,
neste sentido do Símbolo, é obvio. O homem que possui um perfeito autocontrole não
tem pontas, cantos, ou ângulos. A sua personalidade não é arrogante e nem agressiva,
Ele conserva a mesma postura diante de todas as condições.21

Os graus de abertura do compasso simbolizam, na tradição maçônica, as possibilidades


e os graus do conhecimento.

Limitando a abertura do compasso ao máximo de 90º, a maçonaria indica, com isso, os


limites que o homem não pode ultrapassar. O ângulo de 90º reproduz o esquadro. Ora,
o Esquadro é como sabemos, o símbolo da Matéria; o Compasso é o símbolo do
Espírito e do seu poder sobre a matéria. O Compasso, aberto em 45º, indica que a
matéria não está, ainda, completamente dominada; enquanto a abertura de 90º realiza
integralmente o equilíbrio entre as duas forças; o compasso se torna esquadro justo.

As posições relativas do compasso e do esquadro simbolizam também os diversos


estados nos quais se encontra o M.`. com relação às forças materiais e espirituais: se o
esquadro é posto sobre o compasso, a matéria domina o espírito; se os dois instrumentos
são entrecruzados, as duas forças se equilibram; se o compasso é posto sobre o
esquadro, isso indica uma superioridade espiritual; se, enfim, a abertura do compasso
coincide com a do esquadro, é a harmonização suprema dos dois planos, material e
espiritual.

Já se fez também do compasso, na iconografia tradicional, um símbolo da prudência, da


justiça, da temperança, da veracidade – virtudes fundadas no espírito de moderação.
Ele se tornou, igualmente, o emblema da geometria, da astronomia (e da musa Urânia22,
que a personifica), da arquitetura e da geografia, sempre por essa mesma razão, de ser o
instrumento da medida e, particularmente, da concordância ou correspondência. Como
Saturno, que foi primitivamente uma divindade agrária, contasse entre as suas
atribuições a medição das terras, o compasso é um tributo de Saturno. E como Saturno
era, cumulativamente, o deus do tempo, coxo, triste, taciturno, perdido em meditações
sobre o desconhecido, em busca da pedra filosofal e da extração da quintessência, o
compasso se fez símbolo da melancolia.

O Mestre Maçom, entre esquadro e compasso, está no papel de mediador. O esquadro


traça o quadrado, que representa o mundo tridimensional e objetivo. A interação entre
compasso e esquadro é a harmonia entre o céu e a terra, e aqueles que usam esses
instrumentos são considerados os mediadores entre ambos.

O entrelaçamento do Esquadro e do Compasso somente se encontrará sobre o Livro


Sagrado (ou L. `.da L.´.). Portanto o M.`. hipoteticamente perdido ainda estaria seguro,
por encontrar-se no “seio” do G.`.A.`.D.`.U.`., dentro de Sua “Palavra”, que é o próprio
L. `.da L.´..23

21
- J. T. Lawrence
22
- Na Mitologia, Urânia (em grego: Ουρανία - A celestial) era a musa da Astronomia e da Astrologia.
Segundo diversas fontes, era filha de Urano, gerada sem mãe ou, ainda, de Zeus e Mnemósine. Urânia
era mãe de Lino, cujo pai era Apolo. É a menor de todas as musas.
23
- Da Camino, Rizzardo – Simbolismo do Terceiro Grau, Madras, Pág. 256.
Observando com atenção, o entrelaçamento do Comp:. e do Esq:. na maioria das
representações alegóricas, vemos que há um “G” inscrito em seu centro. Como
sabemos, o “G” representa o G.`.A.`.D.`.U.`., ou a primeira vogal de “God” que é Deus
na língua inglesa (origem da Maçonaria Especulativa foi na língua de Shakespeare e
devemos ter importado essa alegoria). Não é proibido concluir, pela instrução, que
estando entre o Esquadro e o Compasso, na verdade, estamos sob a proteção, guarda e
orientação do G.`.A.`.D.`.U.`., ou sob sua inspiração. Esta faculdade seria somente do
M.`. M.`. que já teria passado o umbral simbólico da materialidade para o da
espiritualidade.

Precisamos recordar, que na lenda de H.`. A.`., a aproximar-se o momento do triunfo


final (que é a conclusão do Templo de Salomão)24 acometem ao Iniciado as três
tentações no deserto da matéria, como diz Jorge Adum25, que são a ignorância, o
fanatismo e a ambição, ou os três companheiros que querem obter o salário do Mestre.

Cada defeito estava armado com um instrumento. A Ignorância atacou pelo lado direito
– projetor do poder positivo – com uma régua de 24 polegadas, que representa o dia de
24 horas, ferindo a garganta de Hiram. O Fanatismo golpeou o coração com o esquadro,
que é o símbolo do homem inferior, dominado pelo seu fanatismo; o esquadro é a forma
material, é o conhecimento intelectual, que é necessário para o homem. Ao golpear o
coração, mata nele a tolerância e o amor. A ambição golpeou lhe a cabeça com o
malhete, reapresentando neste ato a vontade mal dirigida e mal dominada. Uma vez
morta a CONSIÊNCIA, os três tratam de relegar o fato ao esquecimento, “sepultando o
corpo do Mestre”26. Mas não puderam matar o seu espírito, ou sua Intuição Divina, que
é representada pelo Compasso.

Assim, o Comp.`. encimado no Esquad.´. significa que o espírito superou a matéria, mas
que até passarmos efetivamente ao Oriente Eterno, ficaremos “presos” à materialidade
(representada pelo Esquad.´.), seguindo as Leis e ordenamentos Morais impostos pelo
L.´. da L.´., continuando a polir a nossa Pedra, até a nossa morte material. Quando nos
referimos à morte, é no sentido de término de um ciclo, de uma etapa, pois a morte não
existe no sentido da existência espiritual.

* *

24
- Seria nosso Templo Interior???
25
- Adum, Jorge – Grau do Mestre Maçom e seus Mistérios, Pensamento, Pág. 19
26
- idem
FONTE DE CONSULTA:

1. Queiroz, Álvaro de – Os Símbolos Maçônicos, Editora Madras;


2. Da Camino, Rizzardo – Simbolismo do Terceiro Grau;
3. Adoum, Jorge – Grau do Mestre Maçom e seus Mistérios;
4. Ritual de M.´.M.´. do R.`.E.´.A.´.A.´. da GG.´.LL.´. do RS;
5. Dyer, Colin – O Simbolismo na Maçonaria, Editora Madras;
6. Hutchinson, William - The Spirit of Masonry;
7. Wikepedia;
8. Diversos Artigos na Internet

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