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“No caso desta disciplina será prevista como tal atividade a leitura e discussão

interpretativa de precedentes jurisprudenciais sobre a matéria do Direito de


Família e Sucessões, especificamente sobre os princípios constitucionais que
versam sobre a matéria, que serão devidamente indicados pelo professor em sala
de aula.A familiarização com o julgado será realizada em horário não
presencial pelos alunos, seguido da elaboração pelo aluno de texto descritivo
que será postado no ambiente virtual (Blackboard).”

Trata-se de um Acórdão de Repercussão Geral no Recurso Extraordinário 878.694 MG


do STF, versando sobre dispositivos do código civil que preveem direitos sucessórios
distintos ao cônjuge (art. 1829) e ao companheiro (art. 1790). O recurso teve como relator
o Ministro Roberto Barroso.

O RExt foi impetrado contra um Acórdão do TJMG onde foi reconhecido que a
companheira sobrevivente deveria herdar apenas os bens adquiridos onerosamente
durante a união estável, em concorrência com parentes colaterais de segundo grau. Tal
acórdão reconheceu como constitucional o art. 1.790 CC, por entender que a Constituição
não impede que a sucessão seja diferenciada entre companheiros e cônjuges.
O recurso foi fundamentado com base no art. 102, III, a da Constituição Federal, que diz
que compete ao STF julgar as causas em que a decisão recorrida contrariar dispositivo da
Constituição; o art. 5º, I, que diz que homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações; e ao art. 226 § 3º, que versa sobre a união estável. Requer que seja declarado
inconstitucional o art. 1.790 e seja aplicado o art. 1829 do mesmo código.
Há o entendimento de que tal matéria é de natureza constitucional, pelo princípio da
isonomia e do art. 226 § 3º, assim como de que tal debate apresenta repercussão geral,
social e jurídico, por tratar de assunto que modificaria a jurisdição acerca do tema de
sucessões. O juízo afastou a aplicação do artigo 1.790, II do CC 2002 ante o art. 226 § 3º
CF, por dar tratamento diferente ao casamento da união estável e deu à companheira do
falecido o direito à totalidade da herança e legitimidade para receber a indenização do
seguro de vida.
A 8ª Câmara Civil do TJMG suscitou incidente de inconstitucionalidade visando o exame
do artigo 1.790 CC. Porém, o incidente não foi admitido, já que já existia um julgado de
2002 que reconheceu a constitucionalidade do artigo, não havendo equiparação pois seria
devido respeitar a autonomia da vontade de quem assumiu o ônus do casamento e
daqueles que preferiram viver em união estável. Assim, o TJMJ proveu o recurso para
limitar o direito sucessório da companheira a um terço dos bens adquiridos.
O recurso extraordinário não foi admitido na origem, tendo sido agravado e este agravo
foi convertido em recurso extraordinário. O relator Luís Roberto Barroso reconheceu o
caráter constitucional e a repercussão geral, cita a decisão de 2002 em que foi entendido
que não havia impedimento para a legislação infraconstitucional disciplinar de forma
diferente os companheiros e os cônjuges.
Ao final, o Tribunal decidiu por maioria dar provimento ao recurso, com a seguinte
decisão:
“É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas
hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do
CC/2002.”
A Constituição é clara em seu artigo 226 § 3º, ao estabelecer a união estável como análoga
ao casamento. Não faz sentido usar a autonomia de vontade patrimonial no regime de
bens como argumento para diferenciar a união estável do casamento pois é sabido que as
regras aplicam-se tanto para a união estável quanto para o casamento, segundo. O artigo
1.790 do Código Civil reflete a um período diferente da sociedade pois foi debatido nos
anos 70 e 80, onde as diferentes formas de relacionamento tinham diferentes efeitos
sociais, o que não pode mais ser aplicado hoje em dia. Após a CF de 88, duas leis foram
editadas também equiparando o casamento com a união estável (Lei 8.971/1994 e a Lei
9.278/1996), e quando o Código Civil de 2002 trouxe essa discriminação, promoveu um
retrocesso em relação ao Direito de Família e das Sucessões, violando princípios como
tais quais igualdade, dignidade da pessoa humana, proporcionalidade e a vedação ao
retrocesso.

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