Exemplo 1
Situação: um jovem falando com seu pai ao telefone.
O jovem fala: Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz... Sempre
batalhei, arrumei um trampo, dou um duro danado! Me empresta o
carango pr’eu sair com a gata hoje?
O pai responde: Só se você conseguir traduzir o que disse para uma
linguagem que eu gosto de ouvir de meu filho!
Exercício: Reescreva a fala do filho provando para seu pai que sabe utilizar
o nível formal da linguagem nas ocasiões em que isto é necessário.
(Cabral, 1995, 8ª série, p.40)
Cabral, recorrendo à contextualização das palavras que aparecem nos textos
principais das unidades, aborda as gírias como pertencentes a contextos
específicos, mostrando com isso que elas podem ser usadas com sentidos diversos,
para tanto, faz uso de alguns exercícios do tipo apresentado abaixo:
Exemplo 2
Embora a autora não explique o que é gíria e nem diga em que contexto usá-la,
deixa subentendido que a gíria é uma variação da linguagem e, o mais importante,
não a julga negativamente.
Em outro exercício, o mesmo livro apresenta uma crônica em que aparece a
expressão “Já eram quase três da matina” e pede ao aluno outros exemplos de
linguagem coloquial presentes no texto, demonstrando desta forma que a gíria faz
parte desse tipo de linguagem.
Exemplo 3
Exemplo 5
Como essa parte do texto foi escrita pelo autor do artigo, não se tratando
portanto de uma declaração, o manual do jornal não exige destaque gráfico para o
vocábulo gírio (neste caso, racha). O termo “racha” foi usado metaforicamente para
referir-se a “rompimento”.
Neste mesmo artigo encontra-se a transcrição da declaração do vereador
José Eduardo Martins Cardozo, do PT de São Paulo, na qual ele diz:
Exemplo 6
Mais uma vez a gíria (balançar) não aparece destacada em uma declaração
e mais uma vez ocorreu uma metaforização: “balançar” significando “posicionar-
se”.
O Novo Manual da Redação da Folha de S. Paulo, no capítulo intitulado
“Texto”, afirma que um bom texto jornalístico “deve evitar fórmulas desgastadas
pelo uso e cultivar a riqueza dos vocábulos acessíveis à média dos leitores”
(1992:47). Mais adiante, ao se referir à gíria, ele ordena que se “evite ao máximo”,
sendo mantida apenas em reproduções de declarações, pois, segundo o manual, a
gíria banaliza o texto e na maioria das vezes seu significado é restrito a uma
parcela de leitores. Estas afirmações nos fazem subentender que, para o Novo
Manual da Redação da Folha de S. Paulo, o conceito de gíria é restrito à gíria de
grupo, sendo desconhecida ou não levada em consideração a existência da gíria
comum. No entanto, não é condenado o uso de termos gírios e nem uma grafia que
os marque, o manual apenas não recomenda usá-los.
Em um dos editoriais da Folha de S. Paulo de 14/05/2000, intitulado
“Capital para crescer” foi encontrado o seguinte trecho:
Exemplo 7
Exemplo 8
Setor de tele (empresa de telecomunicações) do Brasil é vedete na AL
(América Latina).
Exemplo 9
(Leonel Brizola) se disse favorável a “passar fogo” no presidente Fernando
Henrique Cardoso.
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