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ARMINDA ABERASTURY PSICANALISE DA CRIANCA teoria e técnica Cotaboragio de SUSANA L. DE FERRER ELIZABETH G. DE GARMA. POLA |. DE TOMAS Material clinico de LIDIA S, DE FORTH, HECTOR GARBARINO, MERCEDES F. DE GARBARINO, SARA H. DE JARAST, MANUEL KIZZER, GELA H, DE ROSENTHAL, JORGE T. ROVATT! e EDUARDO SALAS Tradugéo: ANA LUCIA LEITE DE CAMPOS Licenciada em Letras Supervisio da tradugéio e apresentacio é edigdo- brasileira: JULIO CAMPOS Psicanalista, Membro da Associagio Psicanalitica Argentina 8? EDICAG PORTO ALEGRE / 1992 5 A entrevista inicial com os pais Quando os pais decidem consuttar por um problema ou enfermidade de um filho, peco-lhes uma entrevista, advertindo que o filho nao deve estar presente, mas _ sim ser informado da consutta. Embora seja sugerida a conveniéncia de ver pai e mae, é freqiiente que com pareca s6 a mde, excepcionalmente o pai e~poucas vezes os dois: Em alguns casos muito especiais, um familiar, amigo ou institutriz j4 vieram representando aos pais. Quaiquer dessas possiveis situacdes é, em si mesma, reveladora do funcionamento Jo grupo familiar na relagao com 9 filho. Quando a entrevista é com os dois pais, cuidaremos de ndo mostrar preferén- Glas, embora_inevitavelmente se produza um methor entendimento com um deles. Esse entendimento deve servir para uma methor compreensio d ema endo para criar um novo conflito. Para que formemos um ju(zo aproximado, sobre as relacSes do grupo fami- liar ¢ em_especial do casal, apoiaremo-nos na impressio, deixada pela entrevista ao reconsiderar todas os dados recolhidos: Ess: vista no, deve parecer um inter- rogatério, com_os pais sentindo-se julgados. Pelo contrario, dew Hiviar-lhes a angistia e a culpa que a enfermidads ou conflito do filho despertdm. Para isso de- vemos assumir desde 0 primeiro momento © papel de terapeuta do Jfilho, interes- sando-nos pelo problema ou sintoma: Os dados que nos colocam & disposigéa os pais podem no ser exatos, de- formados ou muitos, superficiais, pois ndo_costumam ter_um conhecimento. glor bal_da-situacdo.¢ durante a entrevista esquecem parte do que sabiam, devido.a angisstia, que esse_conhecimento provoca.: Véem-nos como juizes. Além disso, no podem, em tempo téo limitado, estabelecer_uma relacio com o terapeuta — 81 até entéo pessoa desconhecida — que_thes permit aprofundar-se em seus pro- blemas. Ngo consideramos conveniente finalizar essa entrevista sem ter conseguido 0 seguintes dados basicos que necessitamos conhecer antes de ver a crianga: a) moti: vo.da_gonsulta; b) historia da_erianca, ) como transcorte um dia de sua vida atual, um domingo ou feriado e 0 dia do_aniversério; d) como 6 a relagdo. dos pais entre si, com 0s fithos,¢.com o meio familiar imediato. E necessério que essa entrevista seja dirigida e limitada de acordo com um plano previamente estabelecido, porque nfo sendo assim, 0, pais, embora cons” Gientemente, venham falar. do_filho,. 1ém a, tendéneta de escapar do tema, fazendo. confidéncias de suas._prOprias vidas. A entrevista tem © objetivo de que nos falem sobre a crianca ¢ da relacio com. ela; nfo devemos abandonar este critério durante todo 0 tratamento. Como ja foi dito, precisamos obter os dados de maior interesse em tempo limitado, que est entre uma e trés horas. "A ordem anteriormente citada foi escolhida por mim depois de provar mui- tas outras. Tratarei de fundamenté-la, a) MOTIVO DA CONSULTA Se resolvi interroger primeiro sobre © motivo da consulta é poraue omais di- ficil para os pais, no, infelo, & falar ngo_esté bem no/e com o fitho. Essa resisténcia no é consciente, visto que. jé foi vencida quando decidiram pela consul- ta, Para ajudérlos, temas que trator de diminuir a anadstia inigialy ¢ é 0 que se conse- jue 20 enfrontarmmos_e eniearregarma-nos da enfermidade ou.do conflito, posicio- nando-nos como analistas do filho. Devem sentir que tudo 0 que recordam sobre o motivo da consulta é impor- tante para nés‘e, na medida das possibilidades, registraremos minuciesamente os da- dos de inicio, desenuclyimento, agrayacdo ou melhora do,sintoms, para depois con- Fromtarmos com os que conseguirmos no transcurso da entrevista. ‘Ag sentirorn-se sliviados, recordam mais corretamente.os acontecimentos so- bre_05 quais o¢ interrogaramos na segunda parte.-Masmo assim, devemot aceitar que ocorram esquecimantos totais ou parciais de fatos importantes, dos quais podemos tomar conhecimento meses depois, pela crianga, estando ela jé em tratamento- Tam bem os pais — sempre que a melhora do fitha diminua suficientemente 2 angistia que motivou © esquecimento — paderdo lernbrar-se cas circunstancias desencadea- doras, reprimidas na entrevista, ‘Apesar dessa inevitével limitagdo, o material obtido é vatiose. nfio s6 para 0 estudo do caso, como também para a compreenséo da etiologia das neuroses infan- tis, capacitando-nos para uma tarefa de profilaxia. "A comparaggo dos dados obtidos durante a anélise da crianca com 08 abr* sentados pelos pais na entrevista inicial-& de suma importancia para avaliar em pro- fundidade as relagdes com o filha: 82

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