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l\1USEU BOCAGE

10 .,I

Danvinisl110 na
Tlliversidade portuf!uesa
1865-1890

Ca.rl Alma~a

p.

~
LISB
199
MUSEU BOCAGE

Museu Nacional de Historia Natural

o DARWINISMO NA UNIVERSIDADE
PORTUGUESA (1865-1890)

CARLOS ALMA<;A

Publica<;:ao subsidiada pela Funda~ao para a Ciencia e Tecnologia

LISBOA

199 9

o DARWINISMO NA UNIVERSIDADE
PORTUGUESA (1865-1890)

CARLOS ALMA<::A

~Iu s eu Bocage, Departamento de Zoologia e Antropologia e

Centro de Biologia Ambiental

Rua da Escola Politecnica, 58, 1269-102 Lisboa

ISBN 972 - 98196 - 0 - 2

o DARWINISMO NA UNIVERSIDADE
PORTUGUESA (1865-1890)

CARLOS ALMAC;A

Museu Bocage, Departamento de Zoologia e Antropologia e

Centro de Biologia Ambiental

Rua da Escola Politecnica, 58, 1269·102 Lisboa

ISB\"" 972 - 98196 - 0 - 2

...

Indice Introdm;ao

Introduc;:ao ......... .. ....... ............. .. .... .......... ... ........ 7


Confrontado ha muitos anos com 0 ensino das disci pLina
Lamarquismo e Darwinismo ...... .. ....................... 11
"" "Hi st6ria do Pensamento Bio16gico' - que melho:
As especies sao mudaveis ? .............................. 21
_.e designaria por 'Evoluc;:ao das Ideias em Biolo·
Gastrula e planula. As teorias filogenicas de Hae­ : : . - , e de 'Evoluc;:ao', ambas do tronco comun
ckel e de Ray-Lankester ............................... 41 :s Licenciaturas em Biologia da Universidade de Lisboa
Estudo dos Escorpionfdeos no ponto de vista ~ mpre conferi nos ambitos de uma e da outra U [J
das leis e teorias zool6gicas ................ ...... .. .. 53
'gar de realce ao 'Evolucionismo' - em diferente ~
o Darwinismo no seu tempo.............. .. ........ ..... 67 lanos , naturalmente. Trave mestra do pensamento (
Singularidades do Darwinismo em Portugal ...... . 85 :.n 'estigac;:ao em Biologia, 0 evolucionismo de y
Notas .......... ... .................. ........... ....... ... ............. 93 ~ 'ompanhar a fonnac;:ao universitaria dos licenciando.
Bibliografia .......... .. ........ ...... .... ...... ... .... .... .......... 109 d de 0 seu infcio.

:"este contexto, procurei saber qual 0 impacte das teori lr


\'olucionistas nos cientistas e outros intelect u ai~
rtugueses coetaneos com a sua emergencia e vi vfssim'
di scussao. Tern side 0 desfiar de uma meada
insuspeitamente longa e com voltas frequenternem "
omplexas, mas fascinantes; e nem sequer tenho c
retensao de ter exaurido 0 assunto. Ao longo de tt
Iivro surgirao, a seu tempo, referencias as vanm
publicac;:oes que tenho dedicado a autores portugue se~
no dornfnio do evolucionismo biol6gico.

A disciplina de 'Hist6ria do Pensamento BioI6gico' . err


particular, dirige-se aos estudantes que frequentam (
primeiro ana das Licenciaturas em Biologia. 0 s.et
objecti vo essencial e 0 de Ihes delinear uma panorfuni ~
sobre 0 que tern sido, no decurso dos tempos, a evolu~

6
~~_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ .._ _ _ _ _ _...~_ _ _..~_ li &íH.--ttIDl 9 001 ri

Índice Introdução

7 Confrontado há muitos anos com o ensino das disci plinas


SElO e Darwinismo ............................. .. 11 de 'História do Pensamento Biológico' que melhor
são mudáveis? ............................. . 21 se designaria por 'Evolução das Ideias em Biolo­
~ =Jlànula.As teorias filogênicas de Hae­ gia' - , e de 'Evolução', ambas do tronco comum
Ray-Lankester ............................. .. 41 às Licenciaturas em Biologia da Universidade de Lisboa,
::2;; Escorpionídeos no ponto vista sempre conferi nos âmbitos de uma e da outra um
e teorias zoológicas ......................... . 53 lugar de realce ao 'Evolucionismo' - em diferentes
'1::-::mo no seu tempo ........................... .. 67 planos, naturalmente. Trave mestra do pensamento e
do Darwinismo em Portugal ..... .. 85 investigação em Biologia, o evolucionismo deve
93 acompanhar a formação universitária dos licenciandos
109 desde o seu início.

Neste contexto, procurei saber qual o impacte das teori as


evolucionistas nos cientistas e outros intelectuais
portugueses coetâneos com a sua emergência e vivíssima
discussão. Tem sido o desfiar de uma meada,
insuspeitamente longa e com voltas frequentemente
complexas, mas fascinantes; e nem sequer tenho a
pretensão de ter exaurido o assunto. Ao longo deste
livro surgirão, a seu tempo, referências às várias
publicações que tenho dedicado a autores portugueses
no domínio do evolucionismo biológico.

A disciplina de 'História do Pensamento Biológico', em


particular, dirige-se aos estudantes que frequentam o
primeiro ano das Licenciaturas em Biologia. O seu
objectivo essencial ê o de lhes delinear uma panorâmica
sobre o que tem sido, no decurso dos tempos, a evolução
-
das ideias em Biologia. Quem, quando, como, porque e Esta publica~ao deseja-se, portanto, consultada pelos
em que contexto socio-cultural produziu e comprovou estudantes. Pensando, sobretudo, neles se complementou
tal ideia, eis a problematica de 'Historia do Pensamento o corpo principal com uma profusao de notas finai .
Biologico' . cuja remissao nao deve confundir-se com ados numeros
entre parenteses que percorrem uma parte do texto.
E por demais evidente que 0 cankter preparatorio da Estes referem-se as paginas das disserta~oes comentadas,
disciplina nao consente excessiva minucia, sen do, evitando-se, assim, a repetida cita~ao do mesmo
portanto , apenas esbo~adas as linhas fundamentais do autor e data . As referencias bibliogrMicas, quando
desenvolvimento da Biologia. Nestas condi~oes, a necessario e utiI, tern indica~ao do numero de pagina, ou
participa~ao portuguesa, que nunca foi crucial na paginas, mais especificamente seguidas, logo a seguir a
constru~ao das ideias mais importantes, nao teria sequer, data de publica~ao. Parte da bibliografia classica foi
ou teria pouco, cabimento num curso de tal fndole. Isso, consultada atraves de reimpressoes. Neste caso, para
porem, far-nos-ia correr 0 11SCO de alguns tomarem a evitar confusoes de pagina~ao, que por vezes fazern
omissao como reflexo da inexistencia, no nosso meio, perder urn tempo imenso, segue-se urn criterio em tudo
de ciencia e seus cultores. Ora, tal facto nao representa identico as demais referencias bibliogrMicas, mas
a verdade completa. Houve areas da Historia natural em indica-se 0 autor e/ou a data e pagin4 da reimpressao
que a participa~ao portuguesa foi significativa,justificando entre parenteses rectos. A consulta da lista bibliografica
especial men~ao junto dos estudantes. fin al impedira erronea localiza~ao cronologica do autor
e sua obra.
Uma delas e a do evolucionismo. Poucas pessoas sabedio
que, em Portugal, se afirrnou no plano uni versitario urn Por razoes de simplicidade do titulo do livro e porque
dos primeiros adeptos do Darwinismo e isto numa epoca o pecado nao e grande, abrangeu-se na designa<;ao
em que a doutrina quase so~obrava la fora. E depois, de 'Universidade portuguesa ' , tanto a Universidade
durante mais de meio seculo de controversia nos meios de Coimbra como a Escola Politecnica, a qual, s6
cientfficos, houve, entre nos, continuado apoio as teorias em 1911 seria integrada na reinstalada Universidade de
evolucionistas. Eapenas a primeira parte da histo11a - a Lisboa.
que corresponde ao Darwinismo inicial-, que aqui se
abordara. Os altos e baixos da doutrina serao tidos em
conta na parte final, em que se ensaiara uma compara~ao
com 0 que, na mesma epoca, se passava noutros pafses.

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1
i

~_~_S em Biologia. Quem, quando, como, porquê e Esta publicação deseja-se, pOl1anto, consultada pelos
_ -=~Intexto sócio-cultural produziu e comprovou estudantes. Pensando, sobretudo, neles se complementou
a problemática de 'História do Pensamento o corpo principal com urna profusão de notas finais,
cuja remissão não deve confundir-se com a dos números
entre parênteses que percorrem uma parte do texto,
evidente que o carácter preparatório da Estes referem-se às páginas das dissertações comentadas,
-c2. não consente excessiva minúcia, sendo, evitando-se, assim, a repetida citação do mesmo
:::. apenas esboçadas as linhas fundamentais do autor e data, As referências bibliográficas, quando
,_ .\lmento da Biologia. Nestas condições, a necessário e útíl, têm indicação do número de página, ou
~.;- '3.0 portuguesa, que nunca foi crucial na páginas, mais especificamente seguidas, logo a seguir à
. _;::'0 ideias mais importantes, não teria sequer, data de publicação. Parte da bibliografia clássica foi
::-ouco, cabimento num curso de tal índole. Isso, consultada através de reimpressões. Neste caso, para
"Clr-nos-ia correr o risco de alguns tomarem a evitar confusões de paginação, que por vezes fazem
. :: __ ::omQ reflexo da inexistência, no nosso meio, perder um tempo imenso, segue-se um critério em tudo
:::-.: e seus cultores. Ora, tal facto não representa idêntico às demais referências bibliográficas, mas
completa. Houve áreas da História natural em indica-se o autor e/ou a data e págin<!. da reimpressão
--::cipação portuguesa foi significativa, justificando entre parênteses rectos. consulta da lista bibliográfica
:::enção junto dos estudantes. final impedirá enónea localização cronológica do autor
e sua obra.
., ~::~'::'S é do evolucionismo. Poucas pessoas saberão
se afÍlmou no plano universitário um Por razões de simplicidade do título do livro e porque
-:',:::'::-os adeptos do Darwinismo e isto numa época o pecado não é grande, abrangeu-se na designação
_ _ _ doutrina quase soçobrava lá fora. E depois, de 'Universidade portuguesa', tanto a Universidade
de meio século de controvérsia nos meios de Coimbra como a Escola Politécnica, a qual, só
~, c, entre nós, continuado apoio às teorias em 1911 seria integrada na reinstalada Universidade de
. _:s~.ls. É apenas a primeira parte da história- a Lisboa.
ao Darwinismo inicial que aqui se
e baixos da doutrina serão tidos em
em que se ensaiará uma comparação
,- :-.::esma época, se passava noutros países.

La:rnarquismo e

\ despeito de muito ter procurado não descobri, até


qualquer expressão do em Portugal
na sua época própria, ou quando a teoria foi
public1tada e discutida em Tal período corres­
pondeu, sensivelmente, às primeiras décadas do século
No entanto, a obra capital Philosophie
. encontra ,se nas bibliotecas dos -_.
ao tempo --, mais importantes centros científicos do
país: a Academia Real Ciências de Lisboa e a
Universidade Coimbra. além disso, Lamarck
foi um cienIlsta bem apreciado por intelectuais
portugueses coetâneos, como provam as elogiosas
ao sábio e ao seu sobre os animais sem
vértebras publicadas em Sciencías, das
Artes, e tomo 1, 59-60, revista
editada por emigrados políticos em

Este sIlêncio sobre uma concepção revolucionária, para


além de muito original, da fonnação da biodiversidade,
tenho-o eu atribuído - sem estar inteiramente
seguro - , a uma crise da intelectualidade portuguesa da
época, críse radicada na grande instabilidade em que o
país viveu desde as invasões napo1eónicas até aos anos
de 1830 (Almaça, 1994c). ]\/las, será mesmo assim?
Que argumentos podem aduzir-se a favor desta hipótese?

As quatro pIimeiras décadas século XIX foram


extremamente agitadas em POliugal-- reflexo, aliás, do

11
que se passava na Europa. As invas5es francesas, 0 e 1822, urn interessantfssimo peri6dico (Anna e.51
autoritfuio dominic ingles que lhes sucedeu, a revolu<;ao Sciencias, das Artes, e das Letras) , dirigido
de 1820, a independencia do Brasil e consequentes primeiro, a que ja se aludiu (Vargues e Torgal, 19
problemas politicos e economicos, a repetida perturba<;ao
anti-liberal, 0 absolutismo, a guerra civil e suas sequel as Dos intelectuais que permaneceram em Portugal, II;
impossibilitaram a reorganiza<;ao do pais. Tal sucessao pertenciam a ordens religiosas. Entre estes ,
de acontecimentos nao se sentiria da mesma forma em poucos, se e que algum, terao tornado conhecime I
na<;5es de grande resiliencia intelectual e cientffica, com Philosophie zoologique. E se tomaram, ter-I
institui<;5es bern assentes e preenchidas. Porem, esse parecido obra de urn louco - como pareceu a 0 '
nao era 0 caso de Portugal. Para alem da Universidade, intelectuais europeus - , de tal modo a transfoITIl
apenas ha poucos decenios aberta aos estudos cientfficos, dasespecies se desenquadrava do dogma da cria<f-:
o Real Museu e Jardim Botanico da Ajuda degradava­ seus olhos, 0 estudo da natureza ajustar-se-ia am
-se a olhos vistos e a Academia das Ciencias perdera 0 demonstra<;ao dos atributos de Deus' , como di ~
entusiasmo e 0 esplendor que 0 seu fundador lhe frade Jose Maine. Seja como for, no catalog ,
conferira 1 • biblioteca da Academia das Ciencias, elaborado I
frades em 1825 - e, possivelmente, par eles cantin
A intelectualidade, quase toda de fei<;ao liberal, exilara­ ate ao ano da sua expulsao (1834) - , nao figura ne
-se, ou a isso fora obrigada, em vagas sucessivas, exemplar da Philosophie zoologique (1809), obn
apos 0 perfodo das invas5es napoleonicas. E sintomatico por isso, tera sido posteriormente integrada oa
no que respeita ao que aqui mais nos interessa, que, biblioteca.
logo a partir de 1809, Domingos Vandelli, oorganizador
do ensino e investiga<;ao da Hist6ria natural portuguesa, Mais investiga<;ao permitira certamente elucida
foi deportado para a Ilha Terceira, sendo-Ihe permitido curiosa, e talvez aparente, omissao do pensRIl
depois emigrar para a Gra-Bretanha (Bartolomeu lamarquista entre n6s no seu momenta proprio. ­
Araujo, 1993). So a partir de 1814 poude regressar mais que e sabido que outros refugiados politiC(
a Portugal, onde morreu em 1816. Pela mesma altura, Fran<;a, como Bernardo de Sa Nogueira (futuro rna
outro grupo de afrancesados, entre os quais se de Sa da Bandeira), 0 conde de Linhares e Rebe
contavam Jose Diogo de Mascarenhas Neto, Francisco Carvalho, frequentaram cursos no Museum de P
Solano Constancio e Candido Jose Xavier, foi obri­ institui<;ao onde Lamarck era professor e di vu lg
gada a emigrar para Fran<;a. Aqui editaram, entre 1818 suas ideias transformistas nas tres primeiras dec

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e passava na Europa. As im·asOes francesas, 0 e 1822, urn interessantfssimo periodico (Annaes das
~ ' 0 dominio ingles que lhes sucedeu. a revolu~ao
Sciencias, das Artes, e das Letras), dirigido pelo
,-,0. a independencia do Brasil e consequentes primeiro, a que ja se aludiu (Vargues e Torgal, 1993).
" politicos e economicos, a repetida perturba~ao
o absolutismo, a guerra civil e suas sequelas Dos intelectuais que permaneceram em Portugal, muitos
' llJilitaram a reorganiza~ao do pals. Tal sucessao pertenciam a ordens religiosas. Entre estes, porem,
ecimentos nao se sentiria da mesma fonna em poucos, se e que algum, terao tornado conhecimento da
- de grande resiliencia intelectual e cientifica, com Philosophie zoologique . E se tomaram, ter-Ihes-a
.i~Oes bern assentes e preenchidas. POH!m, esse parecido obra de urn louco - como pareceu a outros
-a 0 raso de Portugal. Para alem da Universidade, intelectuais europeus - , de tal modo a transforma~ao
- .....<: poueos dec6nios aberta aos estudos cientmcos,
das especies se desenquadrava do dogma da cria~ao. A
. _.fuseu e Jardim Botanico da Ajuda degradava­ seus olhos, 0 estudo da natureza ajustar-se-ia antes 'a
os vistas e a Academia das Ciencias perdera 0 demonstra~ao dos atributos de Deus', como disse 0
rna e a esplendor que 0 seu fundador lhe frade Jose Maine. Seja como for, no catalogo da
. I
!TIl .
biblioteca da Academia das Ciencias, elaborado pelos
frades em 1825 - e, possivelmente, por eles continuado
[ectualidade, quase toda de fei~ao liberal, exilara­ ate aa ana da sua expulsao (1834) - , nao figura nenhum
II a isso fora obrigada, em vagas sucessivas, exemplar da Philosophie zoologique (J 809), obra que,
~odo das invas5es napoleonicas. E sintomatico por isso, tera sido posteriormente integrada naquela
~ :-espeita ao que aqui mais nos interessa, que, biblioteca.
.mr de 1809, Domingos Vandelli, 0 organizador
e in vestiga~ao da Historia natural portuguesa, Mais investiga~ao perrnitira certamente elucidar esta
lOflado para a Ilha Terceira, sendo-Ihe perrnitido curiosa, e talvez aparente, omissao do pensamento
emigrar para a Gra-Bretanha (Bartolomeu lamarquista entre nos no seu momenta proprio. Tanto
1993). So a partir de 1814 poude regressar mais que e sabido que outros refugiados politicos em
~aI, onde morreu em 1816. Pela mesma altura, Fran<;a, como Bernardo de Sa Nogueira (futuro marques
grupo de afrancesados, entre os quais se de Sa da Bandeira), 0 conde de Linhares e Rebelo de
:un Jose Diogo de Mascarenhas Neto, Francisco Carvalho, frequentaram cursos no Museum de Paris 2 ,
Constancio e Candido Jose Xavier, foi obri­ institui~ao onde Lamarck era professor e di vulgou as
emigrar para Fran~a . Aqui editaram, entre 1818 suas ideias transforrnistas nas tres primeiras decadas do

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século. além disso, é conhecido que o próprio ~ as outras? Parece-me que esta ideia, basican:~··:~ ..
Lamarck teve alunos portugueses como, exemplo, minou a credibilidade da transformação
José Joaquim Sampaio, Inocêncio da assente, diga-se de passagem, em frouxa e~'.::.
Rocha Galvão e Sousa Horta, dade como mais tarde, nos anos de 1
visconde da Baía. :ogrou desfazer o edifício darwiniano - est;;.
:üicerçado em sólida fundamentação.

Os ternpos tommn·se outros Quando'A origem das espécies' chegou a PorL:'~·


que parece a partir de meados dos anos se:)'::
A ideia da transfoffi1açã.o espécies, desvanecendo a através de traduções francesas (Almaça, 1
da intransponibilidade das fronteiras entre os seres tempos, também entre nós, já eram outros.
continha qualquer coisa aterrador quando, nas suas
lógicas consequências, se estendesse ao homem. Apesar do clima politicamente incerto em que o
Lamarck pressentiu este risco e, por ao conceber após a guerra civil, a sucessão de reformas de :0. ICL:::
o homem como possível resultado da transformação da Silveira, Passos Manuel, Rodrigo da Fonseca c
uma raça dominante de chimpanzé, no fim primeira Pereira de Melo foram colocando Portugal numa
parte de Philosophie zoologique, termina com a frase reorganização, que, naturalmente, beneficiou os ;l"~~ ..
seguinte3 : "Tais seriam as reflexões que poderiam fazer­ culturais e intelectuais. Passos Manuel
-se se o homem, aqui considerado como a raça Reino quando, em Janeiro de 1837, foram criadas ;::
preeminente em questão, não se distinguisse dos animais Politécnica de Lisboa e a Academia Politécnica
senão pelos caracteres da sua organização e se a sua instituições que diversificaram significativamen:e ...
origem não fosse da deles". científica portuguesa.

Mas, talvez pior do isso. O desfazer das barreiras Por outro lado, logo no início da década d~ "co ,
biológicas entre as espécies -. que o essencialismo despertava em POltugal, por int1uência da sÍtuaçàc
ensinara serem indestrutíveis - , poderia suscitar uma francesa, o movimento republicano, a
lógica decorrência, esta bem mais perturbadora que a socializante e federalista, depois moderado ~ ~.~­
origem puramente animal da espécie humana. Se não há pela inspiração positivista e littriana de Gambe:-:.:.
barreiras inultrapassáveis entre as espécies por que há-de distante mentor (Homem, 1993). Tal funda=-:·:c--·
havê-las entre as classes detentoras da riqueza e do poder filosófico-política, caractelistica de correntes pre'=­

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(llta-.....---------~~-~--------------_ _ _ _• • • • •_iiill~~;;--.- - _.. . - - ....~- . - - ~-- _ . . -.


iil_ Para aJem disso, e conhecido que 0proprio e as outras? Parece-me que esta ideia, basicamente, foi
~-~J_ le\'e alunos pOltugueses como, por exemplo, a que minou a credibilidade da transforrnac;ao das especies
oaqui m Barbosa, L.J.de Sampaio, Inocencio da - assente, diga-se de passagem, ern frouxa causali­
'2 Galvao e Manuel Maria Sousa Tavares Horta, dade - , como mais tarde, nos anos de 1860, quase
da BaJa. logrou desfazer 0 edificio darwiniano - este, sim,
alicen;ado em salida fundamentac;ao.

!POS tomam-se outros Quando 'A origem das especies' chegou a Portugal, ao
que parece a partir de meados dos anos sessenta e
,:a d.a transforrnac;ao das especies, desvanecendo a atraves de traduc;oes francesas (Almac;a, 1997), os
ransponibilidade das fronteiras entre os seres vivos, tempos, tamMm entre nos, ja eram outros.
_ J.. a qualquer coisa de aterrador quando, nas suas

onsequencias, se estendesse ao homem. Apesar do clima politicamente incerto ern que 0 pafs viveu
-_.' pressentiu este risco e, par isso, ao conceber apos a guelTa civil, a sucessao de reforrnas de Mouzinho
-.em como possivel resultado da transforrnac;ao de da Silveira, Passos Manuel, Rodrigo da Fonseca e Fontes
~ dominante de chimpanze, no fim da primeira Pereira de Melo foram colocando Portugal numa linha de
a: Philosophie zoologique, terrnina corn a frase reorganizac;ao, que, natural mente, beneficiou os aspectos
---' : '-Tais seriam as reflexoes que poderiam fazer­ culturais e intelectuais. Era Passos Manuel ministro do
:- 0 homem, aqui considerado como a rac;a Reino quando, em Janeiro de 1837, faram criadas a Escola
';'- ~~ re em questao, nao se distinguisse dos animais Politecnica de Lisboa e a Academia Politecnica do Porto,
pe)os caracteres da sua organizac;ao e se a sua instituic;oes que diversificaram significativamente a vida
nao fosse diferente da deles". cientffica portuguesa.

ialyez pior do que isso. 0 desfazer das barreiras Por outro lado, logo no inicio da decada de setenta,
~C'as entre as especies - que 0 essencialismo despertava em Portugal, por influencia da situac;ao polftica
lf3.serem indestrutiveis - , poderia suscitar uma francesa, 0 movimento republicano , a princfpio
,-t...rorrencia, esta bern mais perturbadora que a socializante e federalista , depois moderado e cientista
- ?;.rramente animal da especie humana. Se nao ha pela inspirac;ao positivista e littriana de Gambetta, 0 seu
hrapassi veis entre as especies porque ha-de distante mentor (Homem, 1993). Tal fundamentac;ao
classes detentoras da riqueza e do poder filosofico-polftica, caracterfstica de correntes progressistas

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da epoca, teve assinalavel importancia na divulga~ao do inicialmente, as causalidades lamarquianas~­
Darwinismo entre nos. e desuso e hereditariedade dos caracteres a
ridos - , em bora enfatizasse a produc;ao aleatoric
o positivismo, com efeito, conhecido em Portugal a variabilidade nas popula~5es e 0 sucesso reprodutor
partir da dec ada de sessenta, atrafu a maioria dos portadores de parte dessa variabilidade (selec~ao natu
intelectuais de esquerda, republicanos proximos So a partir de 1883, com a nega~ao da hereditaried
da tendencia federalista (Catroga, 1993). Sugerindo do adquirido (Weismann) - e, consequentemente
urn refonnismo politico assente no racionalismo cientffico, qualquer desempenho evolutivo do uso ou desuso­
nao admira que os centros universitarios da epoca Darwinismo perdeu essa caractenstica inicial. Pas .
actuassem como fontes da sua irradia~ao e que por isso, a designar-se, anos depois, por
significativas figuras cia intelectualidade pOltuguesa como -darwinismd. Em consequencia, a vulgariza~ao cia te
Julio de Matos, Bernardino Machado, Teixeira Bastos, da 'descendencia comum' foi, em Portugal e outros pa
Arruda Furtado e outros exibissem uma salida adesao a europeus, a do Darwinismo inicial.
essa filosofia. Julio de Matos foi urn dos directores de
o Positivismo, revista que se publicou entre 1878 e Por outro lado, uma das obras que malS paI
1881. Arruda Furtado colaborou nesta revista e em ter influenciado os evolucionistas pOltugueses no peri
jornais como A Era Nova e A Republica Federal, de 1865-1890 foi Histoire de la creation des e
abertos amesma corrente. organises d'apres les lois naturelles, de Ernst Rae
urn denodado defensor do Darwinismo e gra
vulgarizador. A tradu~ao francesa deste livro foi publi
Divulga~tio do Darwinismo em 1874 e nele sao difundidas as teorias SObl
evolu~ao sem a devida contrastac;ao, que nao era 11
A dissemina~ao das teorias da evolu~ao biologica em fki! na epoca, entre Lamarquismo e Darwinismo.
Portugal comporta varios aspectos interessantes que,
desde ja, serao real~ados . Porem , ha mais . 0 momento e a forma com
Darwinismo irrompeu na Universidade poItugl
o primeiro e 0 do proprio acesso ao Lamarquismo suscitam reflex5es talvez merecedoras de alargameJJ
atraves do Darwinismo. As duas teorias foram divulgadas outros dominios que nao so 0 da evolu~ao biol6g
conjuntamente. E isto, creio, por duas raz5es. A com~ar, De facto, na decada subsequente a publica~ao
porque a teoria da 'descendencia comum' nao repudiou, primeira edi~ao de 'A origem das especies' (

16
~poc a, teve assinalavel importancia na clivulga<;ao do inicialmente, as causalidades lamarquianas4 - uso
[winismo entre n6s. e desuso e hereditariedade dos caracteres adqui­
ridos - , embora enfatizasse a produ<;ao aleat6ria de
XlSitivismo, com efeito, conhecido em Portugal a variabilidade nas popula<;6es e 0 sucesso reprodutor dos
ric da decada .de sessenta, atra{u a maioria dos portadores de parte dessa variabilidade (selec<;ao natural).
;lectuais de esquerda, republicanos pr6ximos S6 a partir de 1883, com a nega<;ao da hereditariedade
[endencia federalista (Catroga, 1993). Sugerindo do adquirido (Weismann) - e, consequentemente, de
refonnismo politico assente no racionalismo cientifico, qualquer desempenho evolutivo do uso ou desuso -,0
I admira que os centros universitarios da epoca Darwinismo perdeu essa caracteristica inicial. Passaria,
ll assem como fontes da sua irradia<;ao e que por isso, a designar-se, anos depois, por Neo­
rificativas figuras da intelectualidade portuguesa como -darwinism05 . Em consequencia, a vulgariza<;ao da teoria
o de Matos, Bernardino Machado, Teixeira Bastos, da 'descendencia comum' foi, em Portugal e outros paises
uda Furtado e outros exibissem uma s6lida adesao a europeus, a do Darwinismo inicial.
filosofia. Julio de Matos foi urn dos clirectores de
>ositivismo, revista que se publicou entre 1878 e Por outro lado, uma das obras que malS parece
1. Arruda Furtado colaborou nesta revista e em ter influenciado os evolucionistas portugueses no periodo
!aj s como A Era Nova e A Republica Federal, de 1865-1890 foi Histoire de la creation des etres
a
rtos mesma corrente. organises d'apres les lois naturelles, de Ernst Haeckel,
urn denodado defensor do Darwinismo e grande
vulgarizador. A tradu<;ao francesa deste livro foi publicada
Ili!!m;aO do Darwinismo em 1874 e nele sao difundidas as teorias sobre a
evolu<;ao sem a devida contrasta<;ao, que nao era nada
issemina<;ao das teorias da evolu<;ao biol6gica em facil na epoca, entre Lamarquismo e Darwinismo.
u gal comporta varios aspectos interessantes que,
le j a, serao real<;ados. Porem, ha mais. 0 momenta e a forma como 0
Darwinismo irrompeu na Universidade portuguesa
rimeiro e 0 do pr6prio acesso ao Lamarquismo suscitam reflex6es talvez merecedoras de alargamento a
·es do Darwinismo. As duas teorias foram clivulgadas outros dom{nios que nao s6 0 da evolu<;ao biol6gica.
ootamente. E isto, creio, por duas raz6es. A come<;ar, De facto, na decada subsequente a
publica<;ao da
pe a teoria da 'descendencia comum' nao repucliou, primeira edi<;ao de 'A origem das especies' (1859) ,

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o Darwinismo, e com ele 0 evolucionismo, foi tao operacional de investiga~ao, mas era antes uma pro
desacreditado que apenas subsistiu por con tar com 0 de cultura e aptidao intelectual para a manejar. Pe
apoio de personalidades prestigiadas como Wallace, uma questlio colocada pelo Conselho da Faculdacle q
Huxley, Hooker, Haeckel, Vogt e outros. Por que seria atribuia 0 grau, 0 candidato devia, baseando-se no sat
entao 0 problema debatido, em 1865, na Universidade? especifico do tempo, deduzir e documentar a respo:
mais adequada (acto de conclus5es magnas).
A resposta mais simples - e, provavelmente, com boa
parte de verdade - , seria a do habitual atraso com que
No periodo de emergencia do Darwinismo, uma que
as novidades e controversias cientificas da Europa atingiam
particularmente sensfvel e crftica em 'termos de op,
Portugal, argumento ate refor~ado por, aparentemente, 0
entre 0 fixismo/criacionismo e 0 evolucionismo era a
Darwinismo ter chegado ate n6s atraves de tradu~5es .
causalidade da distribui~ao geogrMica das especi(
francesas (Alma~a, 1997) e, portanto, mais tarde. Mas,
Como explicar, aceitando 0 dogma da criac;a06
teni havido mais.
verdade indiscutivel e quase intocada, mesmo em teIlll
Urn encadeamento de circunstancias sugere existir na cientfficos, ate ao seculo XVIII, a despeito do s
universidade de entao uma genuina curiosidade por evidente simbolismo - , que todas as especie
quest5es relacionadas com a evolu~ao biol6gica. Para tivessem dispersado a partir dos Montes Ararat, on
uma boa compreensao de tal sugestao, torna-se pousara a arca de Noe? Como explicar a distribu i ~
necessario entender 0 que era, na epoca, uma prova para geogrMica de especies que vivem longissimo des_
a obten~ao do grau de doutor, 0 que se fara a seguir. Para Montes? E a das que apresentam area de distribui ,
ja, parece ser de relevar que a Uni versidade de Coimbra disjunta? E a das que habitam continentes isolados ~
tera constituido 0 princi pal foco de irradia~ao do extensos oceanos?
positivismo em Portugal, havendo na origem desta
corrente filos6fica entre n6s personalidades de forma~ao Durante muito tempo, e apesar do prestigiado Lineu «
cientifica (Catroga, 1993). fixista, os naturalistas procuraram explica~5es para tani
enigmas, sem as conseguirem. Cria~5es sucessivas­
centros multiplos de cria~a08 figuraram entre as pos /
o Darwinismo e a Universidade solu~5es . Ciente de tais clificuldades, mas manifestan
uma boa integra~ao na perspectiva criacionista.
Na Universidade portuguesa do seculo XIX 0 grau de Conselho da Faculdade de Filosofia propos ,
doutor nao consagrava, como hoje, a capacidade Novembro de 1861, a seguinte questao de exame

18
Danvinismo, e com ele 0 evolucionismo, foi tao operacional de investiga~ao , mas era antes uma prova
acreditado que apenas subsistiu por con tar com 0 de cultura e aptidao intelectual para a manejar. Perante
oio de personalidades prestigiadas como Wallace, uma questao colocada pelo Conselho da Faculdade que
JxJey, Hooker, Haeckel, Vogt e outros. Por que seria atribufa 0 grau, 0 candidato devia, baseando-se no saber
rno 0 problema debatido, em 1865, na Universidade? especffico do tempo , deduzir e documentar a resposta
mais adequada (acto de conclus6es magnas).
resposta mais simples - e, provavelmente, com boa
rte de verdade - , seria a do habitual atraso com que
No perfodo de emergencia do Darwinismo, uma questao
oovidades econtroversias cientfficas daEuropa atingiam
particulat'mente sensfvel e crftica em'termos de op~ao
rtugal, argumento ate refon;ado por, aparentemente, 0
entre 0 fixismo/criacionismo e 0 evolucionismo era a da
!lwinismo ter chegado ate nos atraves de tradU(;6es
causalidade da distribui~ao geografica das especies.
ncesas (Alma~a, 1997) e, portanto, mais tarde. Mas,
Como explicar, aceitando 0 dogma da cria~a06-
Ii havido mais.
verdade indiscutfvel e quase intocada, mesmo em termos
11encadeamento de circunstancias sugere existir na cientfficos, ate ao seculo XVIII, a despeito do seu
iversidade de entao uma genufna curiosidade por evidente simbolismo - , que todas as especies se
~st6es relacionadas com a evolu~ao biologica. Para ti vessem dispersado a partir dos Montes Ararat, onde
la boa compreensao de tal sugestao , torna-se pousara a arca de Noe? Como explicar a distribuic;ao
;essano entender 0 que era, I,la epoca, uma prova para geografica de especies que vivem longfssimo desses
btenyao do grau de doutor, 0 que se fara a seguir. Para Montes ? E a das que apresentam area de distribuic;ao
parece ser de relevar que a Uni versidade de Coimbra disjunta? E a das que habitam continentes isolados por
a constitufdo 0 principal foco de irradia~ao do extensos oceanos?
;itivismo em Portugal, havendo na origem desta
rente filosofica entre nos personalidades de forma~ao Durante muito tempo, e apesar do prestigiado Lineu ser
rltifica (Catroga, 1993). fixista, os naturalistas procuraram explicac;6es para tantos
enigmas, sem as conseguirem. Criac;6es sucessivas7 ou
centros multiplos de criac;a08 figuraram entre as possfveis
)arwinismo e a Universidade soluc;6es. Ciente de tais dificuldades, mas manifestando
uma boa integrac;ao na perspecti va criacionista, 0
niversidade portuguesa do seculo XlX 0 grau de Conselho da Faculdade de Filosofia propos , em
[tor nao consagrava, como hoje, a capacidade Novembro de 1861, a seguinte questao de ex arne de

19
doutoramento a Manuel Paulino d'Oliveira 9 : 'Haveria As especies sao mudaveis?
urn ou mais centros de cria<tao vegetal?'
Foi esta, como ja se viu, a questao proposta, em 18c
Poucos anos depois, em 1865,ja 0 Conselho da mesma para 0 acto de doutoramento em Filosofia de Jill
Faculdade questionava outro candidato ao grau de Augusto Henriques. Questao a que ele respondeu e
doutor, Julio Henriques, de uma forma que prova nao publica<tao de 110 paginas e 2 estampas editada pc
ser alheio ao debate sobre a evolu<tao biol6gica: 'As Imprensa da Universidade (Henriques, 1865).
especies sao mudaveis?' Foi a resposta a esta questao disserta<tao de Henriques compoe-se de tres part{
que abriu em Portugal urn longo perfodo em que A primeira parte mostra, des de logo, a inconfundf\
institui<toes de ensino superior e peri6dicos positivistas e marca de 'A origem das especies', embora Darwin
republicanos protagonizaram a expansao do Darwinismo, uma vez af apare<ta citado lO . Os gran des argumentos I
que foi sucessivamente comentado e discutido aluz de Darwinismo - variabilidade das especies, distribui~,
conhecimentos progressivamente ampliados. geografica e paleontologia - , sao brevemente enu
ciados, propondo-se Henriques, fundamentalmenl
demostrar que: (a) a variabilidade e a regra nos ser
vivos; (b) a biogeografia nao apoia 0 criacionismo; (
o aparecimento dos grupos animais nao seguiu nenhu
gradiente de perfei<tao.

A variabilidade e a regra

o tipo de cada especie nao e fixo conclui Henriques ap


referir numerosos exemplos da variabilidade exibida p
diferentes especies (27). Ate Cuvier, 0 campeao I
fixismo, admitiu que 0 clima exerce a sua ac<tao na co
qualidade do pelo dos mamfferos e que a nutri~ao po
modificaros herbfvoros1 1• A variabilidade persistente
gera<tao em ger~ao conduz ao reconhecimento de rafJ.
ou especies-locais (19).

20
mtoramento a Manuel Paulino d'Oliveira9 : 'Haveria As especies sao mudaveis?
n ou mais centros de criayao vegetal?'
Foi esta, como ja se viu, a questao proposta, em 1865,
ucos anos depois, em 1865, ja 0 Conselho da mesma para 0 acto de doutoramento em Filosofia de Julio
~t,;uldade questionava outro candidato ao grau de Augusto Henriques . Questao a que ele respondeu em
tUtor, Julio Henriques, de uma forma que prova nao publicayao de 110 paginas e 2 estampas editada pela
f alheio ao debate sobre a evoluyao biologica: 'As Imprensa da Universidade (Henriques, 1865). A
pecies sao mudaveis?' Foi a resposta a esta questao dissertayao de Henriques comp6e-se de tres partes.
Ie abriu em Portugal urn longo perfodo em que A primeira parte mostra, desde logo, a inconfundfvel
)tituiy6es de ensino superior e periodicos positivistas e marca de 'A origem das especies' , embora Darwin so
)ublicanos protagonizaram a expansao do Darwinismo, uma vez af apareya citadolO. Os grandes argumentos do
e foi sucessivamente comentado e discutido aluz de Darwinismo - variabilidade das especies, distribuiyao
nhecimentos progressivamente ampliados. geografica e paleontologia - , sao brevemente enun­
ciados, propondo-se Henriques, fundamentalmente,
demostrar que: (a) a variabilidade e a regra nos seres
vivos; (b) a biogeografia nao apoia 0 criacionismo; (c)
o aparecimento dos glUpOS animais nao seguiu nenhum
gradiente de perfeiyao.

A variabilidade e a regra

o tipo de cada especie nao e fixo conclui Henriques apos


referir numerosos exemplos da variabilidade exibida por
diferentes especies (27). Ate Cuvier, 0 campeao do
fixismo, adrnitiu que 0 clima exerce a sua aCyao na cor e
qualidade do pelo dos mamiferos e que a nutriyao pode
modificar os herbfvoros ll . A variabilidade persistente de
gerayao em gerayao conduz ao reconhecimento de ragas,
ou especies-locais (19).

21
A variabilidade causada pela ac~ao da natureza manifesta­ gradual, como a do Darwinismo, 0 conceito tipolog:
-se lentamente. Porem, se produzida pelo homem, surge constitufa urn poderoso obstaculo - como viria, de fac
em pouco tempo (21). Assim, a selecrCio artificial, a constituir, dan do lugar ao evolucionismo saltaciorill
resultado da conserva<;ao de certas varia~5es, tern eg Mendelismo, Mutacionismo. Como explicar que I
modificado animais e vegetais domesticos "tornando-os tipo, definido por caracteres essenciais, e porta!
aptos para todos os fins desejados" (22).0 homem tern constantes, evolvia gradualmente para outro, definido 1
conseguido a hibrida<;ao de muitas especies, verificando­ outros caracteres essenciais, tambem constantes?
-se todos os graus de fecundidade entre os hfbridos
(33) . Tudo isto mostra que nos seres vivos "a varia­ Darwin, ciente da importancia da variabilidade
bilidade e a regra, e que como excep<;ao se pode tomar largamente comprovada pela selec~ao artificial- pop
a permanencia dos caracteres" (20). incapaz, na sua epoca, de ultrapassar 0 absurdo
tipologismo - 0 que viria a necessitar da contribui ,
Ter demonstrado a decisiva importancia da variabilidade da genetica das popula<;5es - , defendeu ao longo
foi uma das contribui~5es fundamentais da obra de seu livro 0 esbatimento dos limites da especie: en
Darwin. Atente-se que Darwin tinha em conta 0 que especies e variedades nao haveria senao quantidade
hoje designamos por variabilidade genetica 12 . Ate entao, diferen~as. Nada permitindo a clara delirnita~ao
predominara 0 conceito tipologico de especie - radicado especie, a defini<;ao desta seria, fundamentalmente u
na filosofia essencialista - , que desprezava a questao de experiencia do naturalista 14. Tambo
variabilidade. Conheciam-se, desde sempre, variantes, J. Henriques se ocupou dessa fluidez de fronteiras en
mas estas eram consideradas reprodu<;5es imperfeitas as categorias taxonomic as inferiores. Daf, a aten<;ao (
do tipo da especie e 0 estudo da sua causalidade era concedeu ao hibridismo logo na primeira parte da ~
ignarado. 0 conceito tipologico atingiu a sua maxima disserta~ao.
expressao com Lineu 13 .

Considerava-se a especie definida par certos caracteres Biogeografia e Darwinismo


essenciais, constantes. Os caracteres acessorios, estes
sim eram variaveis, mas, por isso mesmo, de reduzida Buffon (1761, t.IX, 56-128), ao publicar urn ensaio
importancia taxonomica. 0 conjunto dos caracteres biogeografia de mamiferos, abriu perspectivas no as
essenciais consubstanciaria 0 tipo da especie. estudo das causalidades das distribui<;6es geognifi
Compreende-se que, numa perspectiva de evolucionismo Apenas considerou nesse ensaio, mas foi 0 bastaI

22
.abilidade causada pel a acc;ao da natureza manifesta­ gradual, como a do Darwinismo, 0 conceito tipol6gico
lentamente. Porem, se produzida pelo homem, surge constitufa urn poderoso obstaculo - como vitia, de facto,
pouco tempo (21). Assim, a selecr;ao artificial, a constituir, dando lugar ao evolucionismo saltacionista,
uJ tado da conservac;ao de certas variac;6es, tern eg Mendelismo, Mutacionismo. Como explicar que urn
dificado animais e vegetais domesticos "tomando-os ti po, definido por caracteres essenciais , e portanto
os para todos os fins desejados" (22). 0 homem tern constantes, evolvia gradualmente para outro, definido por
lseguido a hibridac;ao de muitas especies, verificando­ outros caracteres essenciais, tambem constantes?
todos os graus de fecundidade entre os hfbridos
. Tudo isto mostra que nos seres vivos "a varia­ Darwin, ciente da importancia da variabilidade ­
dade e a regra, e que como excepc;ao se pode tomar largamente comprovada pela selecc;ao artificial- porem
::rmanencia dos caracteres" (20). incapaz, na sua epoca, de ultrapassar 0 absurdo do
tipologismo - 0 que viria a necessitar da contribuic;ao
demonstrado a decisiva importancia da variabilidade da genetic a das populac;6es - , defendeu ao longo do
uma das contribuic;6es fundamentais da obra de seu livro 0 esbatimento dos limites da especie: entre
w in. Atente-se que Darwin tinha em conta 0 que especies e variedades nao havelia senao quantidade de
~ designamos por variabilidade genetica l 2 . Ate enta~, diferenc;as. Nada permitindo a clara delimitac;ao da
10minara 0 conceito tipo16gico de especie - radicado especie, a definic;ao desta seria, fundamental mente, uma
filosofia essencialista - , que desprezava a questao de experiencia do naturalista 14 . Tambem
abilidade. Conheciam-se, desde sempre, variantes, 1. Henriques se ocupou dessa fluidez de fronteiras entre
; estas eram consideradas reproduc;6es imperfeitas as categorias taxon6micas inferiores. Daf, a atenc;ao que
i po da especie e 0 estudo da sua causalidade era concedeu ao hibridismo logo na primeira parte da sua
)rado. 0 conceito tipo16gico atingiu a sua maxima dissertac;ao.
ressao com Lineu 13 •

Isiderava-se a especie definida par certos caracteres Biogeografia e Darwinismo


~Ilciais, constantes. Os caracteres acess6rios, estes
eram variaveis, mas, por isso mesmo, de reduzida Buffon (1761, t.IX, 56-128), ao publicar urn ensaio de
ortancia taxon6mica. 0 conjunto dos caracteres biogeografia de mamfferos , abriu perspectivas novas no
:nciais consubstanciaria 0 tipo da especie. estudo das causalidades das distribuic;6es geogrc'ificas.
lpreende-se que, numa perspectiva de evolucionismo Apenas considerou nesse ensaio, mas foi 0 bastante,

23
'animais do Velho Continente', 'animais do Novo Todos estes factos, nao as suas interpretac;5es.
Mundo' e 'animais comuns aos dois continentes'. expostos por Henriques na parte introdutoria da .
(13-16). As explica<;5es fomece-las-a subsequenterr:~
Nao se encaixava com simplicidade em nenhuma das de forma a provar que so 0 Darwinismo as contelD]
hipoteses en tao prevalecentes que, nas mesmas regi5es
climaticas de continentes diferentes, vivessem especies
distintas, embora por vezes parecidas. A criac;ao unica, A vida evolveu em series paralelas
seguida da dispersao das especies a partir dos Montes
Ararat, develia logicamente conduzir a que as mesmas As mesmas fun<;5es vitais - nutri<;ao , crescime i
especies, por terem as mesmas exigencia, vivessem em rela<;ao, reprodu<;ao, etc. - , sao realizadas nos difem
todas as regi5es climaticamente identicas. A criac;ao grupos de organismos por estruturas de complexi .
sucessiva, colocando especies diferentes em regi5es muito variada. E ideia muito antiga a de ordenm
climatic as identicas, manifestava-se altamente caprichosa grandes grupos animais e vegetais pela sua complexid
e diffcil de en tender. Que leis poderiam explicar, entao, estrutural crescente. E esta ideia sugeriu outras de
na perspectiva criacionista, a distribuic;ao dos organismos? Henriques nos da conta, referindo-se em particular
animais (10): " .. . observando-se ... uma certa perfei
Por outro lado, havia a questao do povoamento das ilhas gradual desde 0 polipo ate ao vertebrado, nasceu 1
oceanicas. Darwin referiu-se pormenorizadamente as a ideia de que no reino animal havia uma serie,
especies insulares, constatando as afinidades delas com interrompida, de seres sucessivamente mais perfei
as do continente mais proximo e a redu<;ao do seu numero cuja composi<;ao era analoga, e sujeitos ao mesmo p]m
relativamente ao de area identica do continente. Referiu
tam bern a maior propor<;ao de especies endemicas nas Uma breve digressao permitira esclarecer alguns de
ilhas oceanicas. Darwin nao podia aceitar hipoteses termos e enfender melhor a op<;ao seguida
criacionistas, como a de Forbes, de terem existido pontes J. Henriques.
entre as ilhas oceanicas e os continentes proximos delas
como explicac;ao para a semelhan<;a dos povoamentos Aristoteles, urn dos maiores naturalistas de se
[Darwin, 1981, 374-396]. Entao, so a dispersao de introduziu 0 conceito de 'continuidade' em Hi l
algumas especies continentais para as ilhas poderia ex plicar natural. Quando refere que as ascidias diferem
essa semelhan<;a, assim como a especia<;ao insular das plantas, mas estao mais proximas dos animai
explicaria a maior riqueza das ilhas em especies endemicas. as esponjas [Aristoteles, 1983, IV, 681a] ou q

24
roais do Velho Continente', 'animais do Novo Todos estes faetos, nao as suas interpreta~6es, sao
do' e ' animais comuns aos dois continentes'. expostos por Henriques na parte introdutoria da tese
(13-16). As explica~6es fomece-las-a subsequentemente
se encaixava com simplicidade em nenhuma das de forma a provar que so 0 Darwinismo as eontempla.
Iteses entao prevalecentes que, nas mesmas regi6es
a ticas de continentes diferentes, vivessem especies
ntas, embora por vezes parecidas. A cda~ao unica, A vida evolveu em series paralelas .
lida da dispersao das especies a pattir dos Montes
-at, deveria logicamente conduzir a que as mesmas As mesmas fun~6es vitais - nutri~ao, crescimento,
ies, por terem as mesmas exigencia, vivessem em rela~ao, reprodu~ao, etc. - , sao realizadas nos diferentes
s as regi6es climaticamente identicas. A cria~ao grupos de organismos por estruturas de complexidade
~ siva, eolocando especies diferentes em regi6es muito variada. E ideia muito antiga a de ordenar os
atieas identieas, marufestava-se altamente caprichosa gran des grupos animais e vegetais pela sua complexidade
fcil de entender. Que leis podedam explicar, entao, estrutural crescente. E esta ideia sugeriu outras de que
~rspectiva criacionista, a distribui~ao dos organismos? Henriques nos da conta, refedndo-se em particular aos
animais (10): " ... observando-se ... uma certa perfei~ao
)Otro lado, havia a questao do povoamento das ilhas gradual des de 0 po\ipo ate ao vertebrado, nasceu logo
nicas. Darwin referiu-se pormenorizadamente as a ideia de que no reino animal havia uma serie, nao
cies insulares, constatando as afinidades del as com intenompida, de seres sucessivamente mais perfeitos,
I continente mais proximo e a redu~ao do seu numero euja composi~ao era anruoga, e sujeitos ao mesmo plano."
ivamente ao de area identica do continente. Referiu
lem a maior propor~ao de especies endemicas nas Uma breve digressao pennitira esclarecer alguns destes
oceanicas. Darwin nao podia aceitar hipoteses termos e enfender melhor a op~ao seguida por
iorustas, como a de Forbes, de terem existido pontes . J. Henriques.
as ilhas oceanic as e os continentes proximos delas
) explica~ao para a semelhan~a dos povoamentos Aristoteles, urn dos maiores naturalistas de sempre,
win, 1981, 374-396]. Entao, s6 a dispersao de introduziu 0 conceito de 'continuidade' em Historia
o.as especies continentais para as ilhas podeda explicar natural. Quando refere que as ascfdias diferem pouco
semelhan~a, assim como a especia~ao insular das plantas, mas estao mais proximas dos animais que
::aria a maior dqueza das ilhas em especies endernicas. as esponjas [Aristoteles, 1983, IV, 681a] ou que os

25
ceulceos sao tanto animais terrestres (porque inalam 0 (Bonnet, 1781,34): "Entre 0 grau mais baixo e 0 II
ar) como aquaticos (pois nao tern membros e se elevado da Perfei~ao corporal ou espiritual ha urn nlim
alimentam na agua) [Aristoteles, 1983, IV, 697a], ou quase infinito de graus interrnedianos. A sucessao ~
ainda que certos animais tern uma natureza interrnedia graus constitue a Cadeia universal. Ela une to do~
entre a do homem e ados quadrupedes, como os Seres, liga todos os Mundos, abra~a todas as Esfel
macacas [Arist6teles, 1964, II, 502a], e 0 princfpio da Urn unico Ser esta fora desta Cadeia; Aquele qu
continuidade que tern em mente. Porem, como fez." E descreve a natureza, dos minerais aos veger
experimentado naturalista que era, nunca defendeu que destes aos animais, com os interrnediarios que pe
os organismos se podiam ordenar numa sequencia existirem entre uns e outros, terminando com 0 mac
ascendente 15 . Sabia bern que, se uma especie e 'superior' - "urn esbo~o grosseiro do homem, retrato imperfe
a outra em certos caracteres, e 'inferior' noutros. no entanto semelhante e que acaba a admi ra
progressao das Obras de Deus."
Tal conhecimento, impediu-o inclusivamente de explicitar
uma classifica~ao dos animais. Aristoteles utilizou termos Tambem 0 insigne Buffon, igualmente muito inspir
particulares para grupos animais com certas pela filosofia leibniziana l9 , se referira repetidamen
caracteristicas, terrnos que , pela sua propriedade e uma escala de perfei~ao, asuperioridade de umas espe
exaustividade, puderam ser, mais tarde convertidos em relativamente a outras, a forrnas interrnedias, ao pi
categorias taxonomic as, atribuindo-se ao naturalista grego geral da natureza, enfim, apassagem do inorganic(
a autoria da classifica~ao construfda por outrem l6 . vivo. A sua obra monumental, Histoire naturelle, ('
com urn "discurso sobre a maneira de estudar e tral
Apesar de reconhecer que, conforme os caracteres Historia natural" , em que, desde logo, afirrna (Bufl
considerados prioritarios, varios sistemas de classifica~ao 1749, t.I, 12): "A primeira verdade emergente cL
se poderiam conceber, foi Aristoteles que sugeriu aos exame serio da natureza e talvez hurnilhante pru
naturalistas posteriores a ideia de uma scala naturae homem; e que ele proprio deve incluir-se na classe
[Lovejoy, 1978,58], talvez porque isso estivesse na sua animais, a que se assemelha ppr tudo 0 que ne
mente l7 . Na scala naturae muitos autores subsequentes material ... percorrendo depois sucessivamente e ordf
quiseram ver uma serie continua de perfei~ao gradual, damente os diferentes objectos que constituer
imensa e abrangente de tudo 0 que a natureza produz. Uni verso, e pondo-se a cabe~a de todos os seres
Mas, foi Bonnet, urn nota vel naturalista do seculo XVIII, dos, vera com espanto que se po de descer por degJ
fortemente inspirado por Leibniz, que a objectivou quase insensiveis da criatura mais perfeita ate am

26
· eos sao tanto animais terrestres (porque inalam 0 (Bonnet, 1781,34): "Entre 0 grau mais baixo e 0 mais
como aquMicos (pois nao tern membros e se elevado da Petfei~ao corporal ou espiritual ha urn numero
entam na agua) [Aristoteles, 1983, IV, 697a], ou quase infinito de graus intermedianos. A sucessao desses
que certos animais tern uma natureza intermedia graus constitue a Cadeia universal. Ela une todos os
a do homem e ados quadrupedes, como os Seres, Jiga todos os Mundos, abra~a todas as Esferas.
:acos [Aristoteles, 1964, II, S02a], e 0 princfpio da Urn unico Ser esta fora desta Cadeia; Aquele que a
ri nuidade que tern em mente. Porem, como fez." E descreve a natureza, dos minerais aos vegetais,
erimentado naturalista que era, nunca defendeu que destes aos animais, com os intermediarios que pensa
x ganismos se podiam ordenar numa sequencia existirem entre uns e outros, terrninando com 0 macaco l 8
:ndente I5 . Sabia bern que, se uma especie e 'superior' - "urn esbo~o grosseiro do homem, retrato impetfeito,
Itra em celtos caracteres, e 'inferior' noutros. no entanto semelhante e que acaba a admiravel
progressao das Obras de Deus."
;onhecimento, impediu-o inc1usivamente de explicitar
\ classifica~ao dos animais. Atistoteles utilizou termos Tambem 0 insigne Buffon, igualmente muito inspirado
tic ulares para grupos animais com certas pela filosofia leibniziana 19, se referira repetidamente a
.v[ensticas, termos que, pela sua propriedade e uma escala de petfei~ao, asuperioridade de urnas especies
lSri vidade, puderam ser, mais tarde convertidos em relativamente a outras, a formas intermedias, ao plano
gorias taxonomicas, atribuindo-se ao naturalista grego geral da natureza, enfim, a passagem do inorgfmico ao
tori a da classifica~ao construfda por outrem l6 . vivo. A sua obra monumental, Histoire naturelle, abre
com urn "discurso sobre a maneira de estudar e tratar a
sar de reconhecer que, conforme os caracteres Historia natural", em que, desde logo, afirma (Buffon,
,iderados prioritilios, vanos sistemas de classifica~ao 1749, t.I, 12): "A primeira verdade emergente deste
Jderiam conceber, foi Aristoteles que sugeriu aos exame serio da natureza e tal vez humilhante para 0
ralistas posteriores a ideia de uma scala naturae homem; e que ele proprio deve incluir-se na classe dos
I-ejoy, 1978,58], talvez porque isso estivesse na sua animais, a que se assemelha P9r tudo 0 que nele e
tei?_ Na scala naturae muitos autores subsequentes material ... percorrendo depois sucessivamente e orden a­
~ram ver uma serie contfnua de pelfei~ao gradual, damente os diferentes objectos que constituem 0
(sa e abrangente de tudo 0 que a natureza produz. Universo, e pondo-se a cabe~a de todos os seres cria­
foi Bonnet, urn notavel naturalista do seculo XVllI, dos, vera com espanto que se pode descer por degraus
mente inspirado por Leibniz, que a objectivou quase insensfveis da criatura mais pelfeita ate amateria

27
mais inforrne, do animal melhor organizado ate ao mineral desenvolveu esta opiniao; mas, nao a provou minimarn
mais brute; reconhecera que as grada~5es imperceptfveis com factos retirados da propria organiza~ao , 0 qll!
sao a grande obra da natureza "," necessario, sobretudo relativamente aos animais" ,

A perfei~ao das coisas da natureza em rela~ao ao homem A ideia da tendencia para a perfei~ao ligou-se, ass'
e 0 seu escalonamento foi , pOltanto, uma ideia persistente da transforma~ao das especies, sendo mais tarde,
durante seculos e enquadravel na perspectiva criacionista demonstra~ao da inoperi'mcia das alegadas causalicb
do Universo e da vida, Quando foi expressa a primeira lamarquianas, substitufda por urn muito discutido cooo
interpreta~ao evolucionista, insistiu-se na mesma ideia, de 'progresso evolutivo', A serie unica, continua e gra
porem tomada agora no sentido de uma complexifi­ que a natureza parecia percorrer, implicava logic am
ca~ao - ou, por oposi~ao , de uma simplifica~ao - , que os pIanos de organiza~ao dos diferentes gru
estrutural, que, reconhecfvel ao nfvel dos gran des grupos tam bern exibissem continuidade e gradualidade, ou :
animais, perrnitiria seria-los do mais simples para 0 mais em ultima analise, urn plano geral de organiza~ao, BUI
complexo ou no senti do inverso, advogou a existencia de tal plan0 20 : " .. , dissec an~
macaco podia revelar-se a anatomia do hom
Lamarck insistiu nesta ideia em todas as suas obras tomando-se urn outro animal encontrava-se sempl
zoologicas, E particularmente explfcito quando escreve mesmo fundo de organiza~ao, os mesmos sentido ~
[Lamarck, 1986, 18]: "E-se for~ado a reconhecer que mesmas vfsceras, os mesmos ossos, a mesma carn
a totalidade dos animais existentes constitue uma serie e este plano, sempre 0 mesmo, sempre contfnue
de massas, formando uma verdadeira cadeia; e que reina homem ao macaco, do macaco aos quadrupedes,
de uma extremidade a outra desta cadeia, uma quadrupedes aos cetaceos , as aves, aos peixes.
degradar;fio gradual na organiza~ao dos animais que a repteis; este plano, digo-o, bern captado pelo esp i
comp5em, assim como uma diminui~ao proporcionada humano, e urn fiel exemplo da natureza viva
no numero de faculdades destes animais; de forma que, perspectiva mais simples e mais geral sob a qua
se numa das extremidades de tal cadeia se encontram os pode considera-la ..,"
animais mais perfeitos sob todos os aspectos [os
Mamfferos, segundo Lamarck], situam-se necessaria­ Buffon nao incluiu no plano geral os invertebrados, ani!
mente na extremidade oposta os animais mais simples e a que nao concedia suficiente importilncia, Porem, EO
os mais imperfeitos [os Polipos, segundo Lamarck] .. ," Geoffroy Saint-Hilaire, impulsionador da Filos
Mais tarde, acrescentou [Lamarck, 1994,69]: "Bonnet anatomica, fez-se 0 grande defensor do plano goo

28
•infonne, do animal melhor organizado ate ao mineral desenvolveu esta opiniao; mas, nao a provou rninimamente
i bruto; reconheceni que as grada<tOes impercept{veis com factos retirados da propria organiza<tao, 0 que era
a grande obra da natureza ... " necessario, sobretudo relativamente aos animais".

rfeiyao das coisas da natureza em rela<tao ao homem A ideia da tendencia para a perfei<tao ligou-se, assim, a
w escalonamento foi, pOltanto, uma ideia persistente da transforma<tao das especies, sendo mais tarde, apos
Ilte seculos e enquadnivel na perspectiva criacionista demonstra<tao da inoperancia das alegadas causalidades
ni verso e da vida. Quando foi expressa a primeira lamarquianas, substitufda por urn muito discutido conceito
pretayao evolucionista, insistiu-se na mesma ideia, de 'progresso evolutivo' . A selie unica, contfnua e gradual
m tomada agora no sentido de uma complexifi­ que a natureza parecia percorrer, implicava logicamente
o - ou, por oposi<tao, de uma simplifica<tao - , que os pianos de organiza<tao dos diferentes grupos
rural, que, reconhecivel ao nfvel dos grandes grupos tambem exibissem continuidade e graduaJidade, ou seja,
rus, perrnitiria seria-Ios do mais simples para 0 mais em ultima an:il.ise, urn plano geral de organiza<tao. Buffon
)lexo ou no senti do inverso. advogou a existencia de tal plan0 20 : " ... dissecando 0
macaco podia revelar-se a anatomia do homern,
arck insistiu nesta ideia em todas as suas obras tomando-se urn outro animal encontra va-se sempre 0
)gicas. E particulannente explfcito quando escreve mesmo fundo de organiza<tao, os mesmos sentidos, as
larck, 1986, 18]: "E-se for<tado a reconhecer que mesmas visceras, os mesmos ossos, a mesma came ...
ilidade dos animais existentes constitue uma serie e este plano, sempre 0 mesmo, sempre contfnuo do
lSSGS, fonnando uma verdadeira cadeia; e que reina homem ao macaco, do macaco aos quadrupedes, dos
rna extremidade a outra desta cadeia, uma quadrupedes aos cetaceos, as aves, aos peixes, aos
ldac;ao gradual na organiza<tao dos animais que a repteis; este plano, digo-o, bern captado pelo espirito
.oem, assim como uma diminui<tao proporcionada humano, e urn fiel exemplo da natureza vi va e a
mero de faculdades destes animais; de fonna que, perspecti va mais simples e mais geral sob a qual se
rna das extremidades de tal cadeia se encontram os pode considera-Ia ... "
ais mais perfeitos sob todos os aspectos [os
[feros, segundo Lamarck], situam-se necessaria­ Buffon nao incluiu no plano geral os invertebrados, animais
! na extremidade oposta os animais mais simples e a que nao concedia suficiente irnporffincia. Porem, Etienne
~ s imperfeitos [os Polipos, segundo Lamarck] ... " Geoffroy Saint-Hilaire, impulsionador da Filosofia
tarde, acrescentou [Lamarck, 1994,69]: "Bonnet anatomica, fez-se 0 grande defensor do plano geral de

29
organiza~ao animal, assunto sobre que manteve, em
1830, urn debate celebre com Cuvier21.

Cuvier, talvez receoso de alguma sugestao evolutiva


que pudesse emanar da scala naturae - como, de
facto, aconteceu, a despeito da inspira~ao criacio­
nista e fixista dela - , op6s-se a todas estas concep~6es.
Sao notaveis, a este prop6sito, as palavras que escreveu
no prefacio de uma das suas obras fundamentais
(Cuvier, 1817, XX-XXI): " ... nao tive nem a pretensao,
nem 0 desejo de ordenar os organismos de
modo a formar uma linha unica ou a marcar a sua
superioridade reciproca. Vejo mesmo como inexequivel
qualquer tentatiya deste tipo; assim como nao
aceito que os marniferos ou as aves colocadas em
ultimo lugar sejam os mais imperfeitos da sua classe;
ainda menos admito que 0 ultimo dos mamiferos
seja mais perfeito que a primeira das aves, 0
ultimo dos moluscos mais perfeito que 0 primeiro dos
anelideos ou dos zo6fitos; mesmo considerando esta
frase vaga de mais perfeito no sentido de mais
completamente organizado. Nao considerei as rninhas
divis6es e sub-divisOes senao como a expressao graduada .
da semelhan~a dos seres que comp6em cada uma;
e, ainda que haja algo de degrada~ao e de passagem
de uma especie a outra, que nao pode ser negada,
tal disposi~ao esta muito longe de ser geral. A pretensa
escala dos seres nao significa senao uma aplica~ao
err6nea destas observa~6es parciais a totalidade
da cria~ao ... "

30
m iza<;ao animal, assunto sobre que manteve, em
O. urn debate celebre com Cuvier2J.

,-ier, talvez receoso de alguma sugestao evolutiva


pudesse emanar da scala naturae - como, de
0, aconteceu, a despeito da inspira<;ao criacio­
3. e fixista dela - , opos-se a todas estas concep<;5es.

notaveis, a este prop6sito, as palavras que escreveu


prefacio de uma das suas obras fundamentais
yier, 1817, XX-XXI): "". nao tive nem a pretensao,
1 0 desejo de ordenar os organismos de
jo a formar uma linha unica ou a marcar a sua
~rioridade recfproca. Vejo mesmo como inexequfvel
lquer tentatiya deste tipo; assim como nao
ltD que os mamiferos ou as aves colocadas em
iDO lugar sejam os mais imperfeitos da sua classe;

la menos admito que 0 ultimo dos mamfferos


mais perfeito que a primeira das aves, 0
no dos moluscos mais perfeito que 0 primeiro dos
lideos ou dos z06fitos; mesmo considerando esta
e vaga de mais perfeito no sentido de mais
lpletamente organizado. Nao considerei as minhas
s5es e sub-divis5es senao como a expressao graduada
;emellian<;a dos seres que comp5em cada uma;
inda que haja algo de degrada<;ao e de passagem
Jrna especie a outra, que nao pode ser negada,
lisposi<;ao esm muito longe de ser geral. A pretensa
ll a dos seres nao significa senao uma aplica<;ao ~L5 _~%~
~
_____ ~'L '''''''''
,/ "

!flea destas observa<;5es parciais a totalidade


:ria<;ao
E assim, Cuvierconsiderou 0 Reino Animal dividido em
quatro tipos de organizayao completamente indepen­
dentes: Vertebrados, Moluscos, Articulados e Radiados.
A irredutibilidade de qualquer dos tipos foi amplamente
consagrada por Cuvier (1817,57): " ... verificar-se-a
que existem quatro formas principais, quatro pianos gerais
... segundo os quais todos os animais parecem ter sido
model ados e cujas divis5es ulteriores ... nao sao senao
modificayOes muito ligeiras, baseadas no desenvolvimento
ou adiyao de algumas partes, que nao alteram nada a
essencia do plano". Quando verificamos que Cuvier
incluiu no tipo dos Radiados animais tao diferentes como
Equinodermes, Priapulos, Sipunculos, Nemertfneos,
Acantocefalos, Trematodes, Cestodes, Celenterados e
Protozoarios surpreende-nos tao firme convicyao de que
apenas leves alteray5es justificavam as sub-divis5es
dentro de cada tipo de organizayao. Os outros tres tipos
sao, porem, efectivamente mais uniformes no seu plano.

Ora, e precisamente Cuvier que Julio Henriques segue


na sua dissertayao. A embriogenia fundamenta
perfeitamente a divisao de Cuvier em quatro grupos
e e nestes que ha verdadeira sucessao (11). A despeito
da escassez de f6sseis, verifica-se que a quanti­
dade de vida aumentou sucessivamente ate a epoca
actual (36). Quanto mais antigos os f6sseis mais dife­
rem das especies actuais e a compara<;ao de uns
e outras "leva a crer no aperfeiyoamento progressiv~"
(37). De facto, primeiro aparecem os inverte­
brados, depois os vertebrados; nestes, primeiro os

31
peixes, depois os repteis, as aves e, por ultimo, os Lineu e Buffon, pelo contrano, sao amplamente glosac
mamfferos (37). por Henriques. A definic;ao lineana de especie, a princi '
criacionista e fixista, mas aberta ao aparecimento
No entanto, logo nos terrenos paleozoicos se encontram novidades por hibridac;ao no fim da vida do naturali
representantes dos quatro grupos principais e, muitas sueco, e realc;ada por Henriques (48-49).
vezes, os mais perfeitos sao os mais antigos. A
diversidade em cada grupo tambem decresceu "Do mesmo modo pen sou B uffon", escreveu 1. Henriqt
frequentemente. As quatro classes desenvolveram-se (48).0 naturalista frances defendeu, a principio, que
paralelamente, nao sucessivamente, e os animais nao se especies sao imutaveis e, mais tarde, que se modifica
sucederam segundo 0 seu grau de perfeic;ao - sao as aperfeic;oando-se ou degradando-se (49). Por 6ltirr
conclus5es de Henriques (37). Alem disso, nao adoptou 0 conceito de uma variabilidade lirnitada p~
ha distinc;ao completa entre as faunas e floras dos especie, mais concretamente a permanencia indefini
diferentes estratos como alguns autores defendem; ha dos caracteres essenciais e a variabilidade dos acesson
especies que atravessam os diferentes perfodos (42). E, (49). Cuvier, pelo contrario, manteve ao longo de to
muitas vezes, quando referem a extinc;ao de especies, a sua obra uma visao fixista da especie (50-52).
os autores estao, de facto, a considerar 0
desaparecimento de simples variedades (43) . Isto Henriques coloca em oposic;ao duas doutrinas, arnt
deslocava a questao para 0 conceito de especie e com partidanos, que designa por 'teorias' da permanen l
importancia da variabilidade, tema a que Henriques e da variabilidade (53). No entanto, 0 terr
dedicou a segunda parte da sua dissertac;ao. 'variabilidade', que, na sua interpretac;ao de Linel
Buffon, tomara apenas no sentido horizontal e age
tambem investido de uma componente vertical, I

As especies e a variabilidade evolutiva.

Ainda que 0 mencionando, Henriques pas sou sobre John Os Saint-Hilaire, pai e filho, fizeram regressar 0 probler
Ray, obliterando assim 0 facto de, antes do seculo XVIII, da variabilidade asua dimensao inicial. Que a altera>
ter sido afirmada a importancia do meio na variabilidade das condic;5es ambientais - nao a alterac;ao dos hcibi
das plantas e a indispensabilidade de bases estruturais devida a modificac;5es ambientais, como defen(
para a delirnitac;ao especifica, 0 que e relevante para a Lamarck - , induz modificac;ao nos animais e urn fa '
epoca22 • asseguram os Saint-Hilaire. Mas, que isso cau

32
~es, depois os repteis, as aves e, por ultimo, os Lineu e Buffon, pelo contrano, sao amplamente glosados
nfferos (37). por Henriques. A defini<;:ao lineana de especie, a princfpio
criacionista e fixista, mas aberta ao aparecimento de
en tan to, logo nos terrenos paleoz6icos se encontram novidades por hibrida<;:ao no fim da vida do naturalista
resentantes dos quatro grupos principais e, muitas sueco, e real<;:ada por Henriques (48-49).
eg, os mais pelfeitos sao os mais antigos. A
ersidade em cada grupo tambem decresceu "Do mesmo modo pen sou Buffon", escreveu 1. Henriques
luentemente. As quatro classes desenvolveram-se (48). 0 naturalista frances defendeu, a princfpio, que as
ale 1amente , nao sucessi vamente, e os animais nao se especies sao imutaveis e, mais tarde, que se modificam,
ederam segundo 0 seu grau de perfei<;:ao - sao as aperfei<;:oando-se ou degradando-se (49). Por ultimo,
\clus6es de Henriques (37). Alem disso, nao adoptou 0 conceito de uma variabilidade limitada para a
distin<;:ao completa entre as faunas e floras dos especie, mais concretamente a perrnanencia indefinida
~rentes estratos como alguns autores defendem; ha dos caracteres essenciais e a variabilidade dos acess6rios
.ecies que atravessam os diferentes periodos (42). E , (49). Cuvier, pelo contrario, manteve ao Ion go de toda
'tas vezes, quando referem a extin<;:ao de especies , a sua obra uma visao fixista da especie (50-52).
a u tores estao, de facto, a considerar 0
;aparecimento de simples variedades (43). Isto Henriques coloca em oposi<;:ao duas doutrinas, ambas
'Iocava a questao para 0 conceito de especie e com partidanos, que designa por 'teorias' da perrnanencia
rtancia da variabilidade, tema a que Henriques e da variabilidade (53). No entanto, 0 termo
dicou a segunda parte da sua disserta<;:ao. 'variabilidade', que, na sua interpreta<;:ao de Lineu e
Buffon, tomara apenas no senti do horizontal e agora
tambem investido de uma componente vertical, ou
eSDecies e a variabilidade evolutiva.

que 0 mencionando, Henriques passou sobre John Os Saint-Hilaire, pai e filho, ftzeram regressar 0 problema
. ooliterando assim 0 facto de, antes do seculo XVllI, da variabilidade asua dimensao inicial. Que a aJtera<;:ao
afinnada a importancia do meio na variabilidade das condi<;:6es ambientais - nao a altera<;:ao dos habitos .
e a indispensabilidade de bases estruturais devida a modifica<;:6es ambientais, como defendia
.. ;'''?io especffica, 0 que e relevante para a Lamarck - , induz modifica<;:ao nos animais e urn facto,
asseguram os Saint-Hilaire. Mas, que is so cause

33
evolw;ao nunca foi provado. Pai e filho consideram, fanulia, etc. A experiencia tern, todavia, mostrado ql
cautelosamente, que tanto 0 fixismo como 0 especie e uma entidade real e objectiva, diferenu:
evolucionismo sao hip6teses nao comprovadas (Saint­ todas as outras categorias taxon6micas.
-Hilaire, 1847,346-357). Acabam, ambos, por serem
partidanos da 'variabiIidade Iimitada' (58-62).
Critirios de especie
Com Darwin, porem, e muito diferente. Henriques resume
muito bern 0 essencial do Darwinismo (63-68). A Eis 0 tema com que se lnICla a terceira parte
descendencia de toda a biodiversidade a partir de urn disserta<;ao. Como reconhecer que uma amostra
reduzido numero de 'tipos', eventualmente de urn unico; indivfduos pertence a mesma especie? Para alguns aulc
as causas da variabilidade23 , sempre passando pelos pel a semelhan<;a; para outros pela fecundidade; p
elementos reprodutores; 0 tempo, imensIssimo; a selec<;ao muitos por ambas; para quase todos, alem das anteriol
natural como conserva<;ao de varia<;6es favonlveis e pela comunidade de origem (73).
elimina<;ao das prejudiciais; 0 seu paralelo experimental,
a selec<;ao artificial; a competi<;ao e seus resultados A fecundidade de muitos hfbridos inter-especffic
evolutivos; a divergencia evolutiva e a classifica<;ao; as segundo Henriques, inutiliza esse processo como critE
rela<;6es geneal6gicas; enfim, todos os fundamentos do de especie (77). A comunidade de OIigem e muitas ve
Darwinismo. Ate, uma vez mais, a indefini<;ao de Darwin impassIvel de verificar e nilo e pratica. Entao, permanl
na deIimita<;ilo das categorias do grupo-especie (66). a semelhan<;a como criterio exequIvel e objectiv~, p
e dedutfvel do estudo da organiza<;ao (79).
A inquieta<;ao a tal respeito e muito compreensfvel, pois,
explicar a origem das especies era saber como e que
uma nova especie emerge da especie-mae. Pensando­ As especies evolvem
-se, sobretudo, em transforma<;ao de especies - e
Henriques esteve sempre a pensar nisso - , quando se As especies que hoje observamos mantiveram
poderia dizer que come<;ava a especie-filha ou acabava invariaveis relativamente as gera<;6es ascendentes: I
a especie-mae? Nao passaria a especie-filha, outras palavras, sao entidades fixas ou mutaveis? P:
primeiramente, pela fase de subespecie? Se passasse, Henriques nao h3 duvidas: a extensao da variabilici@
entao a subespecie e a especie nao seriam senao etapas a compara<;ao dos organismos f6sseis e actuais, obri~ ,
de uma diferencia<;ao progressiva, como 0 genero, a a rejeitar a hip6tese da permanencia das especies .~

34
)luC;30 nunca foi provado. Pai e filho consideram, faITI11ia, etc. A experiencia tem, todavia, mostrado que a
nelosamente, que tanto 0 fixismo como 0 especie e uma entidade real e objecti va, diferente de
tl ucionismo sao hip6teses nao comprovadas (Saint­ todas as outras categorias taxon6micas.
laire, 1847,346-357). Acabam, ambos, por serem
tidanos da 'variabilidade limitada' (58-62).
Crithios de especie
nDarwin, porem, e muito diferente. Henriques resume
ito bem 0 essencial do Darwinismo (63-68). A Eis 0 tema com que se inicia a terceira parte da
c endencia de toda a biodiversidade a partir de um dissertaC;ao. Como reconhecer que uma amostra de
uzido numero de 'tipos', eventualmente de um unico; indivfduos pertence a mesma esp6cie? Para alguns autores
:ausas da variabilidade23 , sempre passando pelos pela semelhanc;a; para outros pel a fecundidade; para
nentos reprodutores; 0 tempo, imensfssimo; a selecc;ao muitos por ambas; para quase todos, alem das anterioTes,
ural como conservac;ao de variac;5es favoniveis e pela comunidade de origem (73).
nina<;ao das prejudiciais; 0 seu paralelo experimental,
elecc;ao artificial; a competic;ao e seus resultados A fecundidade de muitos hfbridos inter-especfficos,
llutivos; a divergencia evolutiva e a classificac;ao; as segundo Henriques, inutiliza esse processo como criterio
l<;5es geneal6gicas; enfim, todos os fundamentos do de especie (77). A comunidade de origem e muitas vezes
:winismo. Ate, uma vez mais, a indefinic;ao de Darwin impossivel de verificar e nao e pra.tica. Entao, perrnanece
delimitac;ao das categorias do grupo-especie (66). a semelhanc;a como criterio exequfvel e objectivo, pois
e dedutfvel do estudo da organizaC;ao (79).
nquietac;ao a tal respeito e muito compreensfvel, pois,
llicar a origem das especies era saber como e que
a nova especie emerge da especie-mae. Pensando­ As especies evolvem
I sobretudo, em transformac;ao de especies - e
ilriques esteve sempre a pensar nisso - , quando se As especies que hoje observamos mantiveram-se
leria dizer que comec;ava a especie-filha ou acabava invariaveis relativamente as gerac;5es ascendentes? Por
~specie-mae? Nao passaria a especie-filha, outras palavras, sao entidades fixas ou mutaveis? Para
meiramente, pela fase de subespecie? Se passasse, Henriques nao ha duvidas: a extensao da variabilidade,
30 a subespecie e a especie nao seriam senao etapas a comparac;ao dos organismos f6sseis e actuais, obrigam
uma diferenciaC;ao progressi va, como 0 genero, a a rejeitar a hip6tese da permanencia das especies (81).

35
Se fossem pennanentes, como explicar que, quanto mais Em primeiro lugar, a variabilidade, que passa semi
modemas, mais se assemelham as que hoje conhecemos por "modifica<;oes das fun<;oes de gera<;ao", sobre
(85)? E a enonne variabilidade estrutural que se observa, quais "tern imediata ac<;ao todos os agentes extem(
por exemp)o, nas diversas ra<;as de caes (82)? (95). Em segundo lugar, a ac<;ao demorada da sele<X
natural, "contra a qual obram principalmente
A cria<;ao (mica, as caUistrofes, as migra<;oes de faunas cruzamentos entre os individuos modificados e as esp6:
e floras povoando regioes onde a vida fora aniquilada, de que derivam" e para cuja eficacia contrib
as cria<;oes sucessivas - nada explica 0 que observamos poderosamente "muitas vezes 0 isolamento, impeclind
(87). Ao passo que as distribui<;oes geogr:ificas, ac<;ao das especies primitivas e a emigra«.ao" (96). Enfi
a classifica<;ao geneal6gica dos organismos, a unidade varios 'tipos' originais no inicio da vida, pois, se
coerente de especies f6sseis e actuais sao amplamente concli<;oes fisicas nao eram as mesmas em toda a pal
explicadas pela hip6tese da mutabilidade (84-85). A eles tiveram de ser diversos: "Os quatro pIanos
transforma<;ao das especies e a mais confonne com organiza<;ao animal hoje existentes podiam ja ser distinl
os factos (91). no princfpio das coisas" (102).

Porem, neste caminho, Lamarck tern de ser rejeitado. E 0 homem? "Se a teoria da mutabilidade deve ~
Nao existe desenvolvimento progressiv~, nem mesmo adoptada, 0 homem, como animal que e, esta fl{
uma serie animal. 0 que ha, de facto, sao quatro tipos compreendido". Assim se deduz da sua comparacr
de organiza<;ao independentes e observaveis tanto com os antropomOlfos (103). Alem disso, prova·
nas especies actuais como nas f6sseis. E nem sempre geografica e historicamente que as diferentes ra~
os animais men os perfeitos precederam os mais per­ humanas se situam a niveis distintos (106-107).
feitos (93).

Entao, persiste 0 Darwinismo como unica teoria valida Comentarios


para explicar a 'transfonna<;ao' das especies. Todos os
problemas que 0 fixismo nao explica, nem as causalidades A disserta<;ao de Julio Henriques reproduz as idei
lamarquianas justificam, sao esc1arecidos por Darwin. fundamentais de Darwin sobre a evolu<;ao e s u
Em breve revisao (95-102), Henriques toma as quest6es causalidades. Reprodu-Ias tao bern que compartilha co
ja anteriormente abordadas. Real<;arei del as apenas o celebre naturalista das mesmas incertezas. Assu
alguns aspectos fulcrais. a repetida indecisao sobre a delimita<;ao de especi

36
;ossem permanentes, como explicar que, quanta mais Em primeiro lugar, a variabilidade, que passa sempre
demas, mais se assemelham as que hoje conhecemos por "modifica90es das fun90es de gera9ao", sobre as
)? E a enorme variabilidade estrutural que se observa, quais "tern imediata aC9ao todos os agentes extemos"
exemplo, nas diversas ra9as de dies (82)? (95). Em segundo lugar, a aC9ao demorada da selec9ao
natural, "contra a qual obram principalmente os
riac;:ao (mica, as catastrofes, as migra90es de faunas cruzamentos entre os indivfduos modificados e as especies
)fas povoando regioes onde a vida fora aniquilada, de que derivam" e para cuja eficacia contribue
riac;:oes sucessivas - nada explica 0 que observamos poderosamente "muitas vezes 0 isolamento, impedindo a
). Ao passo que as distribui90es geograficas, aC9ao das especies prirnitivas e a ernigra<i.ao" (96). Enfim,
assifica9ao genealogica dos organismos, a unidade varios ' tipos' originais no infcio da vida, pois, se as
rente de especies fosseis e actuais sao amplamente condi90es ffsicas nao eram as mesmas em toda a parte,
licadas pela hipotese da mutabilidade (84-85). A eles tiveram de ser diversos: "as quatro pIanos de
.sforma9ao das especies e a mais conforme com organiza9ao animal hoje existentes podiam ja ser distintos
actos (91). no princfpio das coisas" (102).

~m , neste caminho, Lamarck tern de ser rejeitado. E 0 homem? "Se a teoria da mutabilidade deve ser
I existe desenvolvimento progressivo, nem mesmo adoptada, 0 homem, como animal que e, esta nela
I serie animal. a que ha, de facto, sao quatro tipos compreendido" . Assim se deduz da sua compara9ao
organiza9ao independentes e observaveis tanto com os antropomorfos (103). Alem disso, prova-se
especies actuais como nas fosseis. E nem sempre geogrMica e historicamente que as diferentes ra9as
nimais menos perfeitos precederam os mais per­ human as se situam a nfveis distintos (106-107).
)5 (93).

io, persiste 0 Darwinismo como unica teoria valida Comentarios


. explicar a 'transforrna9ao' das especies. Todos os
Ilemas que 0 fixismo nao explica, nem as causalidades A disserta9ao de Julio Henriques reproduz as ideias
rrquianas justificam, sao esclarecidos por Darwin. fundamentais de Darwin sobre a evolu9ao e suas
ifeve revisao (95-102), Henriques toma as questoes causalidades. Reprodu-Ias ilio bern que compartilha com
nteriorrnente abordadas. Real9arei delas apenas o celebre naturalista das mesmas incertezas. Assim,
ns aspectos fulcrais. a repetida indecisao sobre a delimita9ao de especies

37
e variedades, tao repisada por ser na epoca funda­ Ha, no entanto, que sublinhar que Henriques nao fu~
mental para a aceitac;ao da evoluc;ao gradual. Assim ao compromisso de considerar 0 homem tambem COl
tambem, 0 aprofundado tratamento da variabilidade produto da mesma evoluc;ao que os restantes animai5
que, por mais dilatada que se concebesse, nao permi­ tentar demonstra-Io consagrou 0 capitulo final (1 03- 1C
tiria aceitar inteiramente a evoluc;ao gradual sem 0 da sua dissertac;ao. Nunca se pode esquecer que
rompimento do conceito tipologico de especie ou, por proprio Darwin, na sua obra capital, apenas inseriu, qw
outras palavras, sem a completa apreensao do conceito a termina-la, uma frase sobre esta quesHio [Dar\,
populacional. 1981a, 458]: "Far-se-a luz sobre a origem do homer
a sua historia". E fe-Ja de facto, mas bastante mais taI
Nesta via, e de realc;ar 0 born entendimento de Henriques em 1871 [Darwin, 1981b].
sobre 0 papel da migrac;ao e isolamento na origem de
novas especies (96), a despeito de, na epoca, ainda nao o compromisso de Heruiques teve desenvolvimento.
ter sido suficientemente explicitada a multiplicac;ao como ana seguinte, em concurso para professor substituto
principal processo de especiac;ao. Por outro lado, a ideia Faculdade de Filosofia, apresentou uma pequc
de que as especies evolvem verticalmente, por dissertac;ao sobre a antiguidade do homem (Heruiqu
transformac;ao no tempo, parece ter dominado a mente 1866). Neste trabalho, basicamente de indole p
de Henriques, embora, pOl' vezes, utilize a expressao -historica, reservou a ultima parte (23-28) para, aI
'teoria (ou hipotese) da transformac;ao' no sentido mais breves descric;oes de cranios humanos f6sseis, reaf1flj
geral de 'evoluc;ao das especies' e como sinonimo de a sua convicc;ao de que a origem do homem tamber
outras denominac;oes, tambem nao muito precisas, como aplicavel a 'teoria da transformac;ao' , a despeito de:,{
'teoria da vaIiabilidade' ou 'da mutabilidade'. contrano (26) " ... tao fortemente defendido pelas cren
religiosas e por grande parte dos homens de cienci
Alem disso, e de assinalar a fidelidade de lHenriques aos Acrescenta mais adiante (27): "Nenhum acontecimel
quatro pianos de organizac;ao animal de Cuvier - ideia notivel, nenhuma circunstancia extraordinana acompant
criacionista e fixista destinada a arredar qualquer hipotese a aparic;ao do homem ... no decorrer do tempo, DI
de relacionamento genealogico entre os grupos - , e 0 momento da vida da Terra, apareceu ele como milha
engenho com que os liga aos quatro ou cinco prototipos de seres que 0 tinham precedido ... "
referidos pOl' Darwin. Atingir urn acordo entre autoridades
consagradas era, ao tempo, uma boa medida de Professor catedrMico em 1874, Julio Henriques (1
capacidade pOI' patte de urn candidato a doutor. 1928) foi urn notavel botanico da Universidade

38
rriedades, tao repisada por ser na epoca funda­ Ha, no entanto, que sublinhar que Henriques nao fugiu
ltal para a aceitaC;30 da evoluc;ao gradual. Assim ao compromisso de considerar 0 homem tambem como
bern, 0 aprofundado tratamento da variabilidade produto da mesma evoluc;ao que os restantes animais; a
, por mais dilatada que se concebesse, nao permi­ tentar demonstra-Io consagrou 0 capItulo final (103-107)
aceitar inteiramente a evoluc;ao gradual sem 0 da sua dissertac;ao. Nunca se pode esquecer que 0
pimento do conceito tipologico de especie ou, por proprio Darwin, na sua obra capital, apenas inseriu, quase
as palavras, sem a completa apreensao do conceito a termina-Ia, uma frase sobre esta questao [Darwin,
llacional. 1981 a, 458]: "Far-se-a luz sobre a origem do homem e
a sua historia". E fe-la de facto, mas bastante mais tarde,
a via, e de realc;ar 0 born entendimento de Henriques em 1871 [Darwin, 1981b].
eo papel da migrac;ao e isolamento na origem de
is especies (96), a despeito de, na epoca, ainda nao o compromisso de Henriques teve desenvolvimento. No
do suficientemente explicitada a multiplicac;ao como ana seguinte, em concurso para professor substituto da
;ipal processo de especiac;ao. Por outro lado, a ideia Faculdade de Filosofia, apresentou uma pequena
~ue as especies evolvem verticalmente, por dissertac;ao sobre a antiguidade do homem (Henriques,
;formac;ao no tempo, parece ter dominado a mente 1866). Neste trabalho, basicamente de Indole pre­
[enriques, embora, por vezes, utilize a express30 -historica, reservou a ultima parte (23-28) para, apos
ia (ou hipotese) da transformac;ao ' no senti do mais breves descric;oes de cranios humanos fosseis, reafirmar
1 de 'evoluc;ao das especies ' e como sinonimo de a sua convicc;ao de que a origem do homem tambem e
IS denominac;oes, tambem nao muito precisas, como aplicavel a 'teoria da transformac;ao' , a despeito de ser 0
ia da variabilidade' ou 'da mutabilidade' . contrano (26) " ... tao fortemente defendido pel as crenc;as
religiosas e por grande parte dos homens de ciencia."
Q.disso, e de assinalar a fidelidade de J.Henriques aos Acrescenta mais adiante (27): "Nenhum acontecimento
ro pIanos de organizac;ao animal de Cuvier - ideia nomvel, nenhurna circunstancia extraordinana acompanhou
ionista e fixista destinada a arredar qualquer hip6tese a aparic;ao do homem ... no decorrer do tempo, num
lacionamento genealogico entre os grupos - , eo momenta da vida da Terra, apareceu ele como milhares
nho com que os liga aos quatro ou cinco prototipos de seres que 0 tinham precedido .. ."
idos por Darwin. Atingir urn acordo entre autoridades
agradas era, ao tempo, uma boa medida de Professor catedratico em 1874, Julio Henriques (1838­
cidade por parte de urn candidato a doutor. 1928) foi urn notavel botanico da Universidade de

39
Coimbra. Autor de numerosas publicaq6es sobre Gastrula e planula. As teorias filogenicas d
taxonomia, agricultura e historia da Botanica, dirigiu 0 Haeckel e de Ray-Lankester
Instituto Botanico e 0 lardim Botanico da Universidade
e fundou, em 1880, a Sociedade Broteriana. Eis 0 tHulo da dissertaqao apresentada em 1883 I
concurso a urn lugar de professor substituto de ZooIt
da Escola Politecnica de Lisboa (Bumay, 1883). Edw
Bumay, 0 seu autor, subordinou 0 tema a tratru
dominic da 'Morfogenia animal' , mais geral, segundc
(12), que 0 de 'Filogenia', cingido a"genese dos grup

Para Bumay, sendo 0 evolucionismo (,transformisr


'naturalismo') ja ponto assente, nao valia a pena rer:
os argumentos pro e contra. 0 que se tomava a~
necessario era estudar as relaq6es e 0 grau de parente
entre os grupos, as transiq6es que se estabeleceram e
eles e 0 seu posicionamento na serie animal (13). POI
os recursos proprios da Zoologia, mesmo contando (
a Paleontologia, nao bastam para resolver problema
Filogenia. So a ontogenia, baseando-se no 'princi
biogenico fundamental de MUller' os podera solucic
(13). Isto porque, no encadeamento de especies qUi
tern sucedido, desaparecendo amaioria sem deixarfOs
(14) " ... cada uma ... deixou em heranqa a que (
nasceu 0 seu cunho tfpico, 0 qual, a cada reproduqa(
nova forma constituida, esta tern de afectar ante~
atingir os seus caracteres proprios e definitivos."

Alem disso, a ontogenia comparada das diversas esp6


permite estabelecer, pela semelhanqa recfproca das f'
do seu desenvolvimento ou pel a semelhanqa dessas f~

40

imbra. Autor de numerosas publica<;:5es sobre Gastrula e planula. As teorias filogenicas de

onomia, agricultura e historia da Botanica, dirigiu 0 Haeckel e de Ray-Lankester

tituto Botanico e 0 Jardim Botanico da Universidade


mdou, em 1880, a Sociedade Broteriana. Eis 0 tftulo da disserta<;:ao apresentada em 1883 para
concurso a urn lugar de professor substituto de Zoologia
da Escola Politecnica de Lisboa (Burnay, 1883). Eduardo
Bumay, 0 seu autor, subordinou 0 tema a tratar ao
dornfnio da 'Morfogenia animal', mais geral, segundo ele
(12), que 0 de 'Filogenia', cingido a"genese dos grupos".

Para Bumay, sendo 0 evolucionismo (,transformismo',


'naturalismo') ja ponto assente, nao valia a pena repisar
os argumentos pro e contra. 0 que se tomava agora
necessario era estudar as rela<;:5es e 0 grau de parentesco
entre os grupos, as transi<;:5es que se estabeleceram entre
eles e 0 seu posicionamento na serie animal (13). Porem,
os recursos proprios da Zoologia, mesmo contando com
a Paleontologia, nao bastam para resolver problemas de
Filogenia. So a ontogenia, baseando-se no 'principio
biogenico fundamental de MUller' os podera solucionar
(13). Isto porque, no encadeamento de especies que se
tern sucedido, desaparecendo a maioria sem deixar fosseis
(14) " ... cada uma ... deixou em heran<;:a a que dela
nasceu 0 seu cunho tfpico, 0 qual, a cada reprodu<;:ao da
nova forma constitufda, esta tern de afectar antes de
atingir os seus caracteres proprios e definiti vos."

Alem disso, a ontogenia comparada das diversas especies


permite estabelecer, pel a semelhan<;:a recfproca das fases
do seu desenvolvimento ou pela semelhan<;:a dessas fases

41
com 'tipos definitivos' da serie zoologica, a proximidade hereditariedade abreviada e da adaptac;ao recfpn
dos parentescos e a comunidade das origens entre os [ambas de Haeckel] ti vessem actuado m ;
diversos grupos (14). energicamente. "

Burnay enfileirava, pOlS, no numeroso grupo de A inspirac;ao para a sua teorizac;ao, e leis di versas CI
evolucionistas que via na lei biogenetic a a solu<;ao dos que a acompanhou, fora Haeckel busca-Ia sobretu
problemas da genealogia do Reino Animal. Mas, como ao notavel trabalho de Fritz MUller sobre
e quanta e que a ontogenia revela da filogenia? Eis uma desenvolvimento ontogenico de crustaceos, que e
questao que se debate ha mais de um seculo. naturalista, urn alemao trabalhando no Brasil, realiz;
sob uma perspecti va darwiniana. A mais geral assen;
de MUller tera side a de que a hist6ria evolutiva
Ontogenia e filogenia uma especie sera preservada no seu desenvolvimel
tanto mais perfeitamente quanta mais longa fOl
Haeckel (1874 , 359) definiu a 'lei biogenetica' da serie de estados pelos quais ele passa e com tru
seguinte forma : "A ontogenia e uma repeti~ao, uma maior realidade quanta mais 0 modo de vida (
recapitulac;ao breve e rapida da filogenia. " Assim, jovens se aproximar do dos adultos e as particularida<
percorrendo desde 0 infcio do desenvolvimento dos estados jovens indi viduais nao hajam side antecipac
embrionario a serie de fases transit6rias pelas quais a nem adquiridas independentemente.
especie pass a, seria possfvel reconhecer, segundo
Haeckel, 0 percurso evolutivo dos seus ascendentes des de Nesta perspectiva, quanto mais directo fo sse
os tempos mais recuados. Sabendo-se que sao as fases desenvol vimento do ovo are aforma adulta, menos fielme
mais antigas da evoluc;ao as menos conhecidas pela a
a ontogenia recapitularia a filogenia devido abrevia~c
fragilidade dos primeiros seres e improbabilidade da sua estados que 0 desenvolvimento directo implica. E ai l
fossiliza~ao, 0 valor da ontogenia resultaria inestimavel menos fiel seria par a isso se juntar a acc;ao da adapta(
para delas termos algum conhecimento. reciproca, pois, nao seriam modificados apenas os org:
afectados pela 'influenciaexterior' , mas tambem out
Haeckel pensava, no entanto, que 0 esboc;o filogenetico orgaos correlacionados com aqueles.
trac;ado pel a ontogenia seria habitualmente infiel e "tanto
mais quanto, no decurso do tempo, a adaptac;ao tivesse Se a ontogenia recapitulasse a filogenia haveria, eot
predorninado sobre a hereditariedade24 e que as leis da paralelismo entre a serie formada pel os sucessivos esta

42
'" 'tipos definitivos' cia serie zool6gica, a proximidade hereditariedade abreviada e da adapta<;ao recfproca
; parentescos e a comunidade das origens entre os [ambas de Haeckel] tivessem actuado mais
eTSos grupos (14). energicamente. "

may enfileirava, pOlS, no numeroso grupo de A inspira<;ao para a sua teoriza<;ao, e leis diversas com
lucionistas que via na lei biogenetica a solu<;ao dos que a acompanhou, fora Haeckel busca-la sobretudo
blemas da genealogia do Reino Animal. Mas, como ao notavel trabalho de Fritz MUller sobre 0
Lanto e que a ontogenia revela cia filogenia? Eis uma desenvolvimento ontogenico de crustaceos , que este
stao que se debate M mais de urn seculo. naturalista, urn alemao trabalhando no Brasil, realizara
sob uma perspectiva darwiniana. A mais geral asser<;ao
de MUller tera side a de que a hist6ria evolutiva de
ogenia e filogenia uma especie sera preservada no seu desenvolvimento
tanto mais perfeitamente quanto mais longa for a
ekel (1874, 359) definiu a 'lei biogenetica' da serie de estados pelos quais ele passa e com tanto
linte forma: "A ontogenia e uma repeti<;ao, uma maior realidade quanto mais 0 modo de vida dos
pitula<;ao breve e nipida da filogenia ." Assim, jovens se aproximar do dos adultos e as particularidades
:orrendo desde 0 infcio do desenvolvimento dos estados jovens indi viduais nao hajam side antecipacias
,rionano a serie de fases transit6rias pelas quais a nem adquiricias independentemente.
~ie passa, seria possivel reconhecer, segundo
:kel, 0 percurso evolutivo dos seus ascendentes desde Nesta perspectiva, quanto mais directo fosse 0
mpos mais recuados. Sabendo-se que sao as fases desenvolvimento do ovo ate aforma adulta, menos fielmente
; antigas da evolu<;ao as menos conhecidas pela a ontogenia recapitularia a filogenia devido aabrevia<;ao de
liciade dos primeiros seres e improbabilidade da sua estados que 0 desenvolvimento directo implica. E ainda
liza<;ao, 0 valor da ontogenia resultaria inestimavel menos fiel seria por a isso se juntar a ac<;ao da adapta<;ao
del as termos algum conhecimento. recfproca, pois, nao seriam modificados apenas os orgaos
afectados pela 'influencia exterior', mas tambem outros
:kel pensava, no entanto, que 0 esbo<;o filogenetico orgaos correlacionados com aqueles.
do pela ontogenia seria habitualmente infiel e "tanto
quanto, no decurso do tempo, a adapta<;ao tivesse Se a ontogenia recapitulasse a filogenia haveria, entao,
)minado sobre a hereditariedade24 e que as leis da paralelismo entre a serie formada pelos sucessivos estados

43
embrionanos e a que assinala 0 sucessivo aparecimento ontogenia pela Monerula, 0 ovo, que "perde 0 seu nu
dos grupos. Ambas, porem, seriam tam bern paralelas ap6s a fecunda~ao" . A este estado inicial da onto!!e
a uma terceira, design ada por Haeckel "do seguir-se-iam, sucessivamente, as fases de Ovulum (
desenvolvimento sistematico", serie forrnada pelo conjunto com nucleo), Morula (embriao esf6rico e monod6rmi
de tipos de organiza~ao vivendo em simultaneidade e de Planula (larva ciliada, didermica, sem boca) e GastT
cujo estudo se ocupa a anatornia comparada (Haeckel, (larva com boca e intestino). Estas fases ontogeni
1874,275-276).0 mesmo paralelismo das series, todas recapitulariarn os estados sucessi vos da vida anin
qualificadas de 'evolutivas' por Haeckel, era interpretado respectivamente, Amoeba, Synamoeba, Planae~
por Agassiz (1869) como consequencia da ordem de Gastraea.
cria~ao divina.
Neste amontoado de hipoteses, a gastraea, derival
Assirn estavam as coisas - numa perspectiva sin­ do nfvel protozoario, constituiria a forma ancestral
tctica - , quando Bumay escreveu a sua disserta~ao. todos os Metazoarios. Derivada da planaea '
invagina~ao, a gastraea seria formada por u
Nao tardaria que a recapitula~ao fosse muito
controvertida, prolongando-se 0 debate ate aos nossos endoderme com fun~ao digestiva e uma ectoder
dias 25 • sensorial e locornotora. A boca prirnitiva, proStOl
estabelecia a comunica~ao entre 0 exterior eo estorn;
Inspirado pela lei biogenetica, Burnay abordou a quesmo primitivo, progaster. Apoiada por uns, combatida
da origem dos metazoanos, confrontando para isso duas outros, a teoria da gastraea deveria responder a u
teorias da epoca: a da 'gastraea', de Haeckel, e a da serie de requisitos para que Bumay a considera
'planula', de Lankester. Sobre cada uma apresentou uma plausfvel. Bumay analisou-os urn a urn.
sfntese e uma crftica, concIuindo com uma hip6tese
pessoal sobre a origem dos rnetazoarios. Em primeiro lugar, importaria saber se a fase gastruI
comum aontogenia de todos os Metazoanos. Bur:
concIuiu que sim, que "urn saco bifoliado e dotadc
A 'teoria ' da gastraea uma abertura" , a gastrula, e de facto com'
independentemente do processo de gastrula~ao (28).
Haeckel explicou 0 aparecimento da vida atravcs da resto, 0 proprio Haeckel havia admitido que a invagina
gera~ao espontanea de moneras, pequenas gotas de
tern urn valor secundario na ontogenese, podendo
citoplasma, sem nucleo, que seriam recapituladas na modificada26 •

44
lrionanos e a que assinala 0 sucessivo aparecimento ontogenia pela Monerula, 0 ovo, que "perde 0 seu nucleo
gropos. Ambas, porem, seriam tam bern paralelas apos a fecunda~ao". A este estado inicial da ontogenia
rna terceira, design ada por Haeckel "do seguir-se-iam, sucessivamente, as fases de Ovulum (ovo
volvimento sistematico", serie fonnada pelo conjunto com nucleo), Morula (embriao esferico e monodermico),
pas de organiza~ao vivendo em simultaneidade e de Planula (larva ciliada, didermica, sem boca) e Gastrula
I estudo se ocupa a anatomia comparada (Haeckel, (larva com boca e intestino). Estas fases ontogenic as
~ , 275-276). 0 mesmo paralelismo das series, todas recapitulariam os estados sucessivos da vida animal,
ificadas de 'evolutivas' por Haeckel, era interpretado respectivamente, Amoeba, Synamoeba, Planaea e
Agassiz (1869) como consequencia da ordem de Gastraea.
~ao divina.
Neste amontoado de hipoteses, a gastraea, deriva~ao
ill estavam as coisas - numa perspectiva sin­ do nfvel protozoario, constituiria a forma ancestral de
a - , quando Bumay escreveu a sua disserta~ao . todos os Metazoarios. Derivada da planaea por
tardaria que a recapitula~ao fosse muito invagina~ao, a gastraea seria formada por uma

rovertida, prolongando-se 0 debate ate aos nossos endoderme com fun~ao digestiva e uma ectoderme
5 sensorial e locomotora. A boca primitiva, prostoma,
estabelecia a comunica~ao entre 0 exterior e 0 est6mago
rado pela lei biogenetic a, Bumay abordou a questao primitivo, progaster. Apoiada por uns, combatida por
igem dos metazoan os , confrontando para isso duas outros, a teoria da gastraea deveria responder a uma
as da epoca: ada 'gastraea', de Haeckel, e a da serie de requisitos para que Bumay a considerasse
IUla', de Lankester. Sobre cada uma apresentou uma plausfvel. Bumay analisou-os urn a urn.
se e uma critica, concluindo com uma hipotese
)al sobre a origem dos metazoarios. Em primeiro lugar, importaria saber se a fase gastrular e
comum a ontogenia de todos os Metazoarios. Burnay
concluiu que sim, que "urn saco bifoliado e dotado de
'0 ria , da gastraea uma abertura" , a gastrula, e de facto comum,
independentemente do processo de gastrula~ao (28). De
kel explicou 0 aparecimento da vida atraves da resto, 0 proprio Haeckel havia admitido que a invagina~ao
:ao espontanea de moneras, pequenas gotas de tern urn valor secundario na ontogenese, podendo ser
Jasma, sem nucleo, que seriam recapituladas na modificada26 .

45
Depois, havia que averiguar se "a gastrula e homologa
em todas as suas representa<;5es". Bumay definia como
homologas 27 "as form as que tern urn mesmo valor
morfologico, isto e, que tern urn desenvolvimento paralelo
desde a sua origem ate ao seu destino", precisando que,
em rela<;ao aos caracteres da fase gastrular, a questao
da sua homologia filetica se reduziria a abertura que
neles existe (29). Para Bumay, os folhetos sao homologos
porque pro vern sempre da blastula e, morfogene­
ticamente, produzirao estruturas com fun<;5es gerais
a
identicas. Quanto abertura gastrular, consequencia de
processos distintos de gastrula<;a0 28 , nao se pode
considerar a homologia (31).

Seria tambem necessario demonstrar que a gastrula


derivou primitivamente da blastula por invagina<;ao. Com
tal inten<;ao, Bumay apresentou uma revisao das formas
gastrulares e dos processos de gastrula<;ao, seguindo
Haeckel. Pretendia averiguar se todos os processos
poderiam derivar-se da archigastrula invaginata, fase
ontogenica caracterfstica dos "representantes inferiores
de certas classes animais" (32). Esta hipotese haeckeliana
contava com varios argumentos a favor. Havia, porem,
urn argumento contra, muito importante para Bumay: e
que a delamina<;ao, que se observa em hidroides e
esponjas , nao pode considerar-se, contrariamente a Eduardo Burnay
opiniao de Haeckel, derivada da invagina<;ao (39). (Cortesia da Professora DOlltora Maria Alzira Almosler Ferreira)

E, como poderia a gastraea originar-se a partir da


planaea? Que vantagens adviriam para urn organismo

46
Depois, havia que averiguar se "a gastrula e homologa
~m todas as suas representaC;6es". Burnay definia como
lomologas 27 "as forrnas que tern urn mesmo valor
norfologico, isto e, que tern urn desenvolvimento paralelo
lesde a sua origem ate ao seu destino", precisando que,
~m relac;ao aos caracteres da fase gastrular, a questao
ill sua homologia filetica se reduziria a abertura que
leles existe (29). Para Bumay, os folhetos sao homologos
)orque provem sempre da blastula e, morfogene­
icamente, produzirao estruturas com func;6es gerais
denticas. Quanto a abertura gastrular, consequencia de
)rocessos distintos de gastrulac;a028 , nao se pode
:onsiderar a homologia (31).

leria tambem necessario demonstrar que a gastrula


lerivou primitivamente da bhistula por invaginac;ao. Com
al intenc;ao, Burnay apresentou uma revisao das formas
~astrulares e dos processos de gastrulac;ao, seguindo
-Iaeckel. Pretendia averiguar se todos os processos
loderiam derivar-se da archigastrula invaginata, fase
mtogenica caracteristica dos "representantes inferiores
le certas classes animais" (32). Esta hipotese haeckeliana
ontava com varios argumentos a favor. Havia, porem,
1m argumento contra, muito importante para Burnay: e
lue a delaminac;ao, que se observa em hidroides e
:sponjas, nao pode considerar-se, contrariamente a Eduardo Bumay
(Cortesia da Professora Doutora Maria Alzira Almoster Ferreira)
lpiniao de Haeckel, derivada da invaginac;ao (39).

~, como poderia a gastraea originar-se a partir da


,/anaea? Que vantagens adviriam para urn organismo

6
que se alimenta em contacto com 0 ambiente ­
planaea - , em "recolher e diminuir a sua superffcie d
nutri~ao, deixando-a comunicar com 0 meio nutriti\
por apenas uma pequena abertura?" Nem mecani
camente, nem fisiologicamente, se pode expJicar
invagina~ao da planaea, e a conclusao de Burnay (4 J

"0 argumento de Haeckel de que 0 processo invaginati\1


se caracteriza explicitamente no desenvolvimento do
metazoarios mais elementares, isto e, dos organismo
que, por mais prox.imos do tipo ancestral, mais fielmen~
o devem representar na sua ontogenia - esse argumento
dizemos, nada prova, pois a delamina<;:ao se observl
tambem nos metazoarios infeliores." (44) .

Enfim, seria ainda preciso esclarecer se 0 progaster e c


prostoma realmente representam 0 estomago primitivo c
a boca plimitiva. Ambos os problemas deveriam resolver­
-se, escreveu Burnay (44), dentro do grupo "cujo
desenvolvimento nao ultrapassa a forma de gastrula, ou
cujas larvas gastrulares tem vida independente." No que
respeita ao primeiro, Burnay nao duvida "que a cavidade
gastrular tenha todo 0 valor de um estomago primordial".
Nos celenterados enos espongimios, independentemente
das fun~6es de digestao e absor~ao serem muito
rudimentares, nao se, pode atribuir a cavidade interna
outro papel fisiologico (45).

Porem, quanto "ao valor fisiologico do prostoma a


quesUio e mais complexa." Pois se fosse a delamina<;:ao
o processo primitivo de gastrula~ao , 0 oriffcio da

41
que se alimenta em contacto com 0 ambiente - a
planaea - , em "recolher e diminuir a sua superffcie de
nutri9ao, deixando-a comunicar com 0 meio nutritivo
por apenas uma pequena abertura?" Nem mecani­
camente, nem fisiologicamente, se pode explicar a
invagina9ao daplanaea, e a conclusao de Burnay (43).
"0 argumento de Haeckel de que 0 processo invaginativo
se caracteliza explicitamente no desenvolvimento dos
metazO<lrios mais elementares, isto e, dos organismos
que, por mais pr6ximos do tipo ancestral, mais fielmente
o devem representar na sua ontogenia - esse argumento,
dizemos, nada prova, pois a delamina9ao se observa
tambem nos metazoarios inferiores." (44).

Enfim, seria ainda preciso esclarecer se 0 progaster eo .


prostoma realmente representam 0 estomago primitivo e
a boca prirnitiva. Ambos os problemas deveriam resolver­
-se, escreveu Bumay (44), dentro do grupo "cujo
desenvolvimento nao ultrapassa a forma de gastrula, ou
cujas larvas gastrulares tern vida independente." No que
respeita ao primeiro, Bumay nao duvida "que a cavidade
gastrular tenha todo 0 valor de urn estomago primordial".
Nos celenterados enos espongianos, independentemente
das fun90es de digestao e absor9ao serem muito
rudimentares, nao se. pode atribuir acavidade intema
outro papel fisiol6gico (45).

Porem, quanto "ao valor fisiol6gico do prostoma a


questao e mais complexa." Pois se fosse a delamina9ao
o processo primitivo de gastrula9ao, 0 oriffcio da

47
gastraea seria uma simples contingencia mecanica, que sera a causalidade da segrega~ao precoce e (d
so secundruiamente poderia adquirir a fun~ao de uma admissIvel a inrup~ao do blastoporo pela especificid
boca (45). "Partindo do principio que 0 prostoma eo funcional de cada camada celular (52)
oriffcio da invagina~ao, a observa~ao mostra que pode
funcionar" como boca; boca ou anus, alternadamente ou a
Como a crftica 'teoria' da gastraea mostrou nao ~
nao; que pode desaparecer, formando-se urn novo oriffcio; considerar-se a delamina~ao derivada da invagina<;;
que a neo-forrna~ao muitas vezes ocupa 0 lugar da procurar-se-a investigar se a reversibilidade invers
primeira abertura, podendo corresponder a boca ou ao possIvel (53). A delamina~ao, que, na filogenia, te
anus do adult0 29 , etc. Os meritos e as impossibilidades produzido a planula, e contrariada, na ontogenja, p(
da 'teoria' da gastraea sao, por fim, diagnosticados por que Lankester desjgnou por 'segrega~ao precoce', i ~
Burnay (47). e, a forma~ao, logo na primeira divisao de segmenta<;l
de duas celulas com potencialidades distintas. Da ulte~
multiplica~ao de uma e outra constituem-se dois grup
A 'teo ria ' da planula celulares, tambem distintos, que virao a formar a blasUl
Esta surge, assim, com dois hemisferios, 0 derico e
A planula de Lankester teni sido uma forma ancestral enterico (54). A segrega~ao precoce impede a fonnaC?
dos metazoarios derivada dos protozmirios. Seria uma do embriao didermico por delamina~ao. Este fonnc
estrutura didermica com uma abertura, 0 blastoporo, e -se-a, natural mente, por invagina~ao do hemisfer
urn estomago, 0 entero, ou arquentero, hipoteticamente enterico no derico. Burnay concluiu, por isso, que
derivada de uma forma blastular primitiva par delamina~ao invagina~ao se poderia conceber como derivada de u
da parede desta. 0 contraste entre os meios externo e processo de delamina~ao primjtivo, pelo des v:
interno da blastula primitiva teria sido a causa primeira ontogenico da segrega~ao precoce (55).
da diferencia~ao da parede em ectoderrne e endoderme.
o blastoporo teni surgido por inrup~ao da parede. Na blastula prirnitiva, as condi~5es do meio para as celU);
da parede monodermica eram diferentes de urn lado
Burnay prop5e-se analisar se: (a) a ontogenia valida a outro. Do lade interno, as celulas confrontavam-se COl
deriva~ao prirnitiva da pHlnula a partir da blastula, (b) a as substancias organic as acumuladas no blastocelio; d
segrega~ao precoce da ectoderrne e da endoderrne pode lado extemo com urn meio aquatico, essencialmen
explicar os desvios do processo de delarnina~ao, (c) a inorganico. Bumay via nesta diferen~a a causalidade d
diferen~a entre os meios externo e interno da blastula delamina~ao prirnitiva da parede monodermica (57).

48
;traea seria uma simples contingencia medinica, que sera a causalidade da segrega~ao precoce e (d) e
secundariamente poderia adquirir a fun~ao de uma adrnissfvel a inrup~ao do blastoporo pela especificidade
:a (45). "Pattindo do principio que 0 prostoma eo funcional de cada camada celular (52)
ffcio da invagina~ao , a observa~ao mostra que pode
cionar" como boca; boca ou anus, alternadamente ou Como a critica a 'teoria' da gastraea mostrou nao poder
I; que pode desaparecer, formando-se urn novo orificio; considerar-se a delamina~ao derivada da invagina~ao,
~ a neo-forma~ao muitas vezes ocupa 0 lugar da procurar-se-a investigar se a reversibilidade inversa e
rneira abettura, podendo conesponder a boca ou ao possivel (53). A delamina~ao, que, na filogenia, teria
IS do adult0 29 , etc. Os meritos e as impossibilidades produzido a planula, e contrariada, na ontogenia, pelo
' teoria' da gastraea sao, por fim, diagnostic ados por que Lankester designou por 'segrega~ao precoce', isto
may (47). e, a forma~ao, logo na primeira divisao de segmenta~ao,
de duas celulas com potencialidades distintas. Da ulterior
multiplica~ao de uma e outra constituem-se dois grupos
'teo ria ' da planula celulares, tambem distintos, que viraG a formar a blastula.
Esta surge, assim, com dois hernisferios, 0 derico e 0
)lanula de Lankester tenl sido uma forma ancestral enterico (54). A segrega~ao precoce impede a forma~ao
; metazoarios derivada dos protozofuios. Seria uma do embriao diderrnico por delarnina~ao. Este forrnar­
rutura didermica com uma abertura, 0 blastoporo, e -se-a, naturalmente, por invagina~ao do hernisferio
l estomago, 0 entero, ou arquentero, hipoteticamente enterico no derico . Burnay concluiu, por isso, que a
ivada de uma forma blastular primitiva por delarnina~ao invagina~ao se poderia conceber como derivada de urn
parede desta. 0 contraste entre os meios externo e processo de del a mina~ao primiti vo, pelo desvio
~mo da blastula prirniti va teria side a causa primeira ontogenico da segrega~ao precoce (55).
diferencia~ao da parede em ectoderme e endoderme.
Jlastoporo ted surgido por inrup~ao da parede. Na blasulla prirnitiva, as condi~6es do meio para as celulas
da parede monodermica eram diferentes de urn lade e
may prop6e-se analisar se: (a) a ontogenia valida a outro. Do lade interno, as celulas confrontavam-se com
iva~ao primitiva da planula a pattir da blastula, (b) a as substancias organicas acumuladas no blastocelio; do
%ga~ao precoce da ectoderme e da endoderme po de lado externo com urn meio aquatico, essencialmente
Jlicar os desvios do processo de delarnina~ao, (c) a inorganico. Burnay via nesta diferen~a a causalidade da
eren~a entre os meios externo e interno da blastula delamina~ao prirnitiva da parede monodenmca (57).

49
A plfmula primitiva fonnada por delamina<fao nao tinha concluiu que, logicamente, a 'teoria' correcta seria a
comunica<fao com 0 exterior. Nas fonnas actuais em 'gastraea delaminada' ou a da 'planula estomatizac
que intervem 0 mesmo processo verifica-se haver ruptura hip6teses sin6nimas (66) que removeriam os obstacul
da parede e prolongamento da ectoderme para dentro tanto de uma como da outra. Por razoes quase
do arquentero (estom6deo). Teni sido urn fen6meno de etimol6gicas, Burnay preferiu a primeira expressao p
inrup<fao identico que fez surgir a boca primitiva e 0 a sua 'nova teoria'.
estomago primitivo na planula (60).
A valida<fao da 'teoria da gastraea delaminada' esta
Tambem a 'teoria' da planula foi criticada por Burnay nas recapitula<foes em organismos actuais que refere:
(62-63), que aduziu contra ela dois argumentos principais: a gastraea , fonna ancestral dos metazoarios derive
ausencia de represent~ao actual da planula e necessidade dos protozoarios, esta actualmente representada
de admitir simultaneidade nos processos de bifolia<fao ontogenia dos metazoan os (gastrula) enos Gastreac
blastular e de fonna<fao da boca (64). e em Olynthus; (b) 0 processo primitivo de delamina~
e recapitulado em esponjas e hidr6ides; (c) nos Ca'
em que se verifica delamina<fao observa-se tambt
ConclusCio forma<fao da boca por inrup<fao e i nterioriza<fao
ectodenne na regiao bucal (estom6deo).
Perante as criticas que teceu as ' teorias' de Haeckel e
de Lankester, propos-se Burnay retirar da compara<fao
delas uma nova 'teoria' . Comentarios

Ambas concordam na deriva<fao dos primitivos Inspirada pela lei biogenetica, uma das mais prec()(
metazOllrios de uma forma didermica, por seu lado e directas consequencias do Darwinismo, a disserta~
derivada de uma primitiva bHistula. Simplesmente, a de Eduardo Burnay nao foge ao estilo das dem
gastraea teria uma boca, mas a planula nao, provas academicas da epoca. Sem qualquer indi(
consequencias de diferentes processos de gastrula<fao de investiga~ao experimental, 0 autor limita-se
originais: a invagina<fao na forma<fao da gastraea e a confrontar hip6teses no sentido de fazer erner:
delamina<fao na origem da pHinula. Ora Burnay defendia uma outra que parecesse l6gica e permitisse ultrapa_ ~
que a primitiva forma didermica teria uma boca, mas algum obstaculo interposto as primeiras. Poi d .
que teria surgido por delamina~ao (66). Entao, Burnay encastelamento de factos e conjecturas que Burn

50
IfulUla primitiva fonnada por delamina~ao nao tinha concluiu que, logicamente, a 'teoria' correcta .seria a da
IUnica<;ao com 0 exterior. Nas fonnas actuais em 'gastraea delaminada' ou a da 'planula estomatizada' ,
intervem 0 mesmo processo verifica-se haver ruptura hipoteses sinonimas (66) que removeriam os obstaculos,
larede e prolongamento da ectoderme para dentro tanto de uma como da outra. Por raz5es quase so
rquentero (estomodeo). TenJ. sido urn fenomeno de etimologicas, Burnay preferiu a primeira expressao para
p<;ao identico que fez surgir a boca primitiva eo a sua 'nova teoria' .
mago primitivo na planula (60).
A valida~ao da 'teoria da gastraea delaminada' estaria
lbem a ' teoria' da planula foi criticada por BUlTIay nas recapitula~5es em organismos actuais que refere: (a)
53), que aduziu contra ela dois argumentos principais: a gastraea, fonna ancestral dos metazoarios derivada
ncia de representa~ao actual da planula e necessidade dos protozoarios, esta actualmente representada na
dmitir simultaneidade nos processos de bifolia~ao ontogenia dos metazofuios (gastrula) enos Gastreados
tular e de forma~ao da boca (64) . e em Olynthus; (b) 0 processo primitivo de delarnina~ao
e recapitulado em esponjas e hidroides; (c) nos casos
em que se verifica delamina~ao observa-se tambem
clusiio forma~ao da boca por inrup~ao e interioriza~ao da
ectodenne na regiao bucal (estomodeo).
nte as crfticas que teceu as 'teorias ' de Haeckel e
ankester, propos-se Bumay retirar da compara~ao
; uma nova 'teoria'. Comentarios

las concordam na deriva~ao dos primltlvos Inspirada pela lei biogenetica, uma das mais precoces
lZoclrios de uma forma didennica, por seu lado e directas consequencias do Darwinismo, a disserta~ao
Jada de uma primitiva blastula. Simplesmente, a de Eduardo Bumay nao foge ao estilo das demais
ra ea teria uma boca, mas a planula nao, provas academicas da epoca. Sem qualquer indicio
equencias de diferentes processos de gastrula~ao de investiga~ao experimental, 0 autor limita-se a
nais: a invagina~ao na fonna~ao da gastraea e a confrontar hipoteses no senti do de fazer emergir
nina<;ao na origem da planula. Ora Burnay defendia uma outra que parecesse logic a e permitisse ultrapassar
1 primitiva forma didermica teria uma boca, mas algum obstaculo interposto as primeiras. Foi deste
:e ria surgido por delamina~ao (66). Entao, Burnay encastelamento de factos e conjecturas que BUlTIay

51
chegou a duas 'teorias sin6nimas', das quais seleccionou Estudo dos Escorpiomdeos no ponto de vista (
uma em tennos quase s6 etimol6gicos ! leis e teorias zoologicas

Deve, no entanto, notar-se que 0 tema abordado - a Esta disserta~ao, apresentada em 1890 por Balt2
origem dos metazoarios - , nao era, nem hoje e, a
Os6rio substitui~ao da cadeira de Zoologia na Esc
pacffic0 3 !. Alndindo a uma etapa evoluti va que tera Politecnica de Lisboa (Os6rio, 1890), consta de d
ocorrido ha cerca de 1000 milh5es de anos, sem vestfgios partes: (1) As teorias e (2) Estudo dos Escorpionfdc
f6sseis conhecidos, naturalmente que quase tudo tera Cada uma esta dividida em vanos capftulos.
ficado para a especula~ao, que, muitas vezes, s6 encontra
limites no inverosfmil ou excessivamente complexo.
Acresce que, no tempo de Burnay ainda se estava muito A especie
longe do estabelecimento de urn metodo e da
manipula~ao de tecnicas que, com maior objectividade, Nada no mundo e invariavel: e esta a concep~
pennitissem lidar com problemas de filogenia. mecanica do mundo - 0 monismo - , resultado
"influencia da teoria da evolu~ao sobre 0 movime
Eduardo Bumay (1853-1924) foi professor de Zoologia filos6fico contemporaneo" (5). Entao, as especies I
e, depois, de Qufmica da Escola Politecnica, mais tarde podem ter permanecido imutaveis na sua hist6ria,
Faculdade de Ciencias da Universidade de Lisboa. como nao 0 sao actualmente, realidade que poden
Doutor em Medicina, assinou algumas publica~5es de comprovar experimental e comparativamente. A v
Zoologia e Antropologia. come~ou, certamente, por uma ou mais fom
rudimentares que originaram linhas de descenden<
Atraves destas linhas atingiram-se os mais variados gr
de complexidade.

Estas formas elementares, ancestrais, por ve


persistiram ate hoje. :E 0 caso de Olynthus 32 , de (
derivam todas as especies de esponjas caJcarias (8).
ontogenia nao e mais que uma hist6ria resumida
filogenia, que conta a largos tra~os 0 que esta descn
miudamente" (9) . Sao os seres mais elementaI

52
egou a duas 'teorias sinonimas', das quais seleccionou Estudo dos Escorpionideos no ponto de vista das
na em teTInOS quase so etimologicos ! leis e teorias zool6gicas

~ve, no entanto, notar-se que 0 tema abordado - a Esta disserta<;ao, apresentada em 1890 por Baltasar
igem dos metazoarios - , nao era, nem hoje e, a
Osorio substitui<;ao da cadeira de Zoologia na Escola
cific0 31. Aludindo a uma etapa evolutiva que tera Politecnica de Lisboa (Osorio, 1890), consta de duas
orrido ha cerca de 1000 milh6es de anos, sem vestfgios partes: (1) As teorias e (2) Estudo dos Escorpionfdeos.
;seis conhecidos, naturalmente que quase tudo tera Cada uma esta dividida em varios capftulos.
ado para a especula<;ao, que, muitas vezes, so encontra
lites no inverosfmil ou excessivamente complexo.
resce que, no tempo de Burnay ainda se estava muito A especie
1ge do estabelecimento de urn metodo e da
mipula<;ao de tecnicas que, com maior objectividade, Nada no mundo e invariavel: e esta a concep<;ao
IDitissem lidar com problemas de filogenia. mecanica do mundo - 0 monismo - , resultado da
"influencia da teoria da evolu<;ao sobre 0 movimento
uardo Burnay (1853-1924) foi professor de Zoologia filosofico contemporaneo" (5). Entao, as especies nao
lepois, de Qufmica da Escola Politecnica, mais tarde podem ter permanecido imutaveis na sua historia, tal
;uldade de Ciencias da Universidade de Lisboa. como nao 0 sao actualmente, realidade que podemos
utor em Medicina, assinou algumas publica<;6es de comprovar experimental e comparativamente. A vida
)logia e Antropologia. come<;ou, certamente, por uma ou mais formas
rudimentares que originaram linhas de descendencia.
Atraves destas linhas atingiram-se os mais variados graus
de complexidade.

Estas formas elementares , ancestrais, por vezes


persistiram ate hoje. E 0 caso de Olynthus 32 , de que
derivam todas as especies de esponjas calcarias (8). "A
ontogenia nao e mais que uma historia resumida da
filogenia, que conta a largos tra<;os 0 que esta descreve
miudamente" (9). Sao os seres mais elementares,

53
'inferiores', os que apareceram primeiro. Depois, a. As especies subtraem-se a ela migrando (28).
medida que nos aproximamos dos tempos actuais, vao concorrencia sexual implica uma luta real entre indi vfclu
surgindo os "seres organizados pela ordem da do mesmo sexo ou urn ritual que a evita, facultandc
complexidade da sua estrutura" (9). reprodu~ao sem elimina~ao de competidores (29).

A comunidade de origem e revelada pela unidade de A selec~ao natural e 0 resultado da concorrencia. ~


organiza~ao em cada grupo, independentemente das luta pela existencia, os mais aptos - os que adquire
adapta~6es que exibam os seus membros. E a urn caracter, por insignificante que seja, que os ton
hereditariedade que explica os caracteres comuns como 'superiores' - , tern maior probabilidade de sobreyj\
explica a existencia de orgaos rudimentares (10): (30). A prova expelimental, embora indirecta, esta I
" ... orgaos que eram Uteis para os indivfduos de que selec~ao artificial (31). Porem, qual e a causa d
descendem os que os possuem actualmente sem varia~6es que, eventualmente, avantajarao os se'
utilidade." E ainda a comunidade de origem que da portadores?
coerencia aclassifica~ao natural e que permite interpretar,
juntamente com 0 estudo das migra~6es activas e Neste ponto, Osorio assume-se como Lamarquista (3:
passivas, a distribui~ao geografica dos organismos (12). As altera~6es das condi~6es do meio ocasionariam
altera~ao das necessidades, que, por seu lad
A variabilidade das especies actuais e de observa~ao modificariam os habitos. Tal modifica~ao causaria mai
corrente (16). Nas bacterias, medusas, himenopteros uso de certos orgaos, que, por isso, se desenvolveria
parasitas, cirripedes, etc., a varia~ao e enorme e de mais. A acumula~ao hereditaria das diferen~as devid
diversos tipoS33. ao uso provocaria a transforma~ao da especie (33-3(
Darwin nao teve em devido peso "a ac~ao directa (
As especies nao sao, pois, imutaveis (26). E nao 0 sao mei0 35 , isto e, da alimenta~ao, do clima, et<
devido a selec~ao natural e a luta pel a existencia. A independentemente da selec~ao natural" (36).
selec~ao natural e urn corolano do teorema enunciado
por Malthus 34 , como 0 e tambem a concorrencia vital "Uma outra teoria, invocando causas bern di versas d
(27). que 0 Darwinismo apregoa na forma~ao das especi
... [e a] teoria da segrega~ao de Moritz Wagner" 3~
A concorrencia manifesta-se em rela~ao ao meio e aos Para Osorio, 0 proprio Darwin e Haeckel preferiran
indivfduos da me sma especie ou de especie diferente. teoria de Wagner ao Darwinismo. Eis os fundament

54
leriores', os que apareceram primeiro. Depois, a As especies subtraem-se a ela migrando (28). A
tdida que nos aproximamos dos tempos actuais, vao concorrencia sexual irnplica uma luta real entre individuos
-gindo os "seres organizados pela ordem da do mesmo sexo ou urn ritual que a evita, facultando a
nplexidade da sua estrutura" (9). reprodu<;:ao sem elimina<;:ao de competidores (29).

:omunidade de origem e revelada pela unidade de A selec<;:ao natural e 0 resultado da concorrencia. N a


anizac;ao em cada grupo, independentemente das luta pela existencia, as mais aptos - as que adquirem
tptac;:6es que exibam os seus membros. E a urn canicter, par insignificante que seja, que as tome
editariedade que explica os caracteres comuns como 'superiores' - , tern maior probabilidade de sobreviver
llica a existencia de orgaos rudimentares (10): (30). A prova experimental, embora indirecta, esta na
orgaos que eram uteis para os indivfduos de que selec<;:ao artificial (31). Porem, qual e a causa das
cendem os que as possuem actualmente sem varia<;:6es que, eventual mente, avantajarao as seus
idade." E ainda a comunidade de origem que da portadores?
incia aclassifica<;:ao natural e que permite interpretar,
.amente com a estudo das migra<;:6es activas e Neste ponto, Osorio assume-se como Lamarquista (33).
livas, a distribui<;:ao geografica dos organismos (12). As altera<;:6es das condi<;:6es do meio ocasionariam a
altera<;:ao das necessidades, que, par seu lado,
ariabilidade das especies actuais e de observa<;:ao modificariam os habitos. Tal modifica<;:ao causaria maior
ente (16). Nas bacterias, medusas, himenopteros usode certos orgaos, que, por isso, se desenvolveriam
.sitas, cirrfpedes, etc., a varia<;:ao e enorme e de mais. A acumula<;:ao hereditana das diferen<;:as devidas
rsos tipoS33. ao uso provocaria a transfonna<;:ao da especie (33-36).
Darwin nao teve em devido peso "a ac<;:ao directa do
species nao sao, pois, imutaveis (26). E nao 0 sao mei0 35 , isto e, da alimenta<;:ao, do clima, etc.,
do a selec<;:ao natural e a luta pela existencia. A independentemente da selec<;:ao natural" (36).
:c;:ao natural e urn corolario do teorema enunciado
3
vIalthus 4, como 0 e tambem a concorrencia vital "Uma outra teoria, invocando causas bern diversas das
que 0 Darwinismo apregoa na forma<;:ao das especies
... [e a] teoria da segrega<;:ao de Moritz Wagner" (39).
ncorrencia manifesta-se em rela<;:ao ao meio e aos Para Osorio, 0 proprio Darwin e Haeckel preferiram a
'iduos da mesma especie ou de especie diferente. teoria de Wagner ao Darwinismo. Eis os fundamentos

55
da teoria de Wagner: urn grupo de indi vfduos emigra da forma ou de cor, se transportam sempre para os objectos
area da sua especie; por selec~ao, adapta-se as novas ou para junto dos animais aos quais se assemelham de
condi~6es de vida do meio colonizado; reproduzindo-se mais pert0 38 pela sua cor ou pela sua forma" (47). Para
entre si, os colonizadores formarao uma especie Osorio, este principio explicaria, mais satisfatoriamente
diferente36 . E seguem-se numerosos exemplos de varia~ao que a selec~ao, os fenomenos mimeticos. De resto,
associada com migra~ao e isolamento, umas vezes Osorio aderia francamente a teoria de Wagner:
correspondente, de facto, a forma~ao de novas especies, considerando-a uma altemativa a selec~ao natural (49).
outras a subespecies e variantes ecofenotfpicas (40-46).
Osorio mostrou bern a inquie~ao ja no seu tempo latente
Entre os exemplos referidos inc1ui 0 do coelho de Porto por nao se compreender com clareza como e que
Santo, mais pequeno que 0 das popula~6es continentais a selec~ao poderia, por si so, fazer emergir novidades.
e derivado de alguns exemplares af abandon ados por Neste caminho, ainda que pouco convictamente, referiu
Zarco, quando, em 1418, descobriu a ilha.Haeckel tambem a 'selec~ao fisiologica' de Romanes 39 , segundo
atribuiu-Ihe estatuto especifico, denominando-o Lepus a qual" ... num dado momento, 0 aparelho reprodutOi
huxleyi, e considerou-o uma excelente prova do papel .., sofre altera~6es que nao perrnitem a fecunda~ao senao
do isolamento na forma~ao de novas especies 37 • entre indivfduos da mesma variedade" (54). Enfim
urn isolamento fisiologico, que, tal como 0 isolamentc
Outro exemplo aduzido por Osorio como demonstrativo por semelhan~a de Wagner, nao tinha causalidade
da teoria de Wagner foi 0 do elevado nllinero de esp6cies bern definida.
endemic as de aves das Ilhas de Sao Tome e do Principe
(41). "Os indivfduos das varias especies a quem a
emigra~ao isola dos seus pares, deixam de cruzar-se o indivfduo
com eles e passam a transmitir aos seus descendentes
os caracteres adquiridos no novo habitat" (42). Refere Osorio apela a uma serie de conceitos da biologia teoric~
tambem a opiniao de Haeckel, que nao via na teoria da para justificar a lei da recapitula~ao (74). Toma com(
segrega~ao de Wagner uma altemativa a selec~ao natural, ponto de partida as regras de von Baer relativas a(
mas antes urn caso particular da selec~ao (47). desenvolvimento individual (64): (a) a diferenciac;a(
histologica e morfologica crescente, causando (
Wagner, porem, fOra mais longe. Admitira que "os animais aperfei~oamento continuo do corpo de urn arUmal e (b
que nascem com quaisquer modifica~6es indjviduais, de a forma geral do tipo a que ele pertence, tornando­

56
"

1
~

de Wagner: um grupo de indivíduos emigra da forma ou de cor, se transportam sempre para os objectos
~~ - ~3 sua espécie; por selecção, adapta-se às novas ou para junto dos animais aos quais se assemelham de
de vida do meio colonizado; reproduzindo-se mais pert038 pela sua cor ou pela sua forma" (47). Para
:::"e si, os colonizadores formarão uma espécie Osório, este princípio explicaria, mais satisfatoriamente
. E seguem-se numerosos exemplos de va..riação que a selecção, os fenómenos miméticos. De resto,
com migração e isolamento, umas vezes Osório aderia francamente à teoria de Wagner,
- : ~'espondente, de facto, à formação de novas espécies, considerando-a uma alternativa à selecção natural (49).
::-.13 a subespécies e variantes ecofenotípicas (40-46).

Osório mostrou bem a inquietação já no seu tempo latente


:: - os exemplos referidos inclui o do coelho de Porto por não se compreender com clareza como é que
3:C=---.:. mais pequeno que o das populações continentais a selecção poderia, por si só, fazer emergir novidades.
- ---.\ado de alguns exemplares aí abandonados por l\'este caminho, ainda que pouco convictamente, referiu
-::0. quando, em 1418, descobriu a ilha.Haeckel também a 'selecção fisiológica' de Romanes 39 , segundo
- ':uiu-Ihe estatuto específico, denominando-o Lepus a qual" ... num dado momento, o aparelho reprodutor
i, e considerou-o uma excelente prova do papel .., sofre alterações que não permitem a fecundação senão
. - :sJlamento na formação de novas espécies 37 • entre indivíduos da mesma variedade" (54). Enfim,
um isolamento fisiológico, que, tal como o isolamento
exemplo aduzido por Osório como demonstrativo por semelhança de Wagner, não tinha causalidade
de Wagner foi o do elevado número de espécies bem definida.
de aves das Ilhas de São Tomé e do Príncipe
"OS indivíduos das várias espécies a quem a
isola dos seus pares, deixam de cruzar-se o indivíduo
. - e:es e passam a transmitir aos seus descendentes
, _.:cr2cteres adquiridos no novo habitat" (42). Refere Osório apela a uma série de conceitos da biologia teórica
a opinião de Haeckel, que não via na teoria da para justificar a lei da recapitulação (74). Toma como
_ ~. _ 2-"'';- c<v de Wagner uma alternativa à selecção natural, ponto de partida as regras de von Baer relativas ao
. _~ -.:.r.les um caso particular da selecção (47). desenvolvimento individual (64): (a) a diferenciação
histológica e morfológica crescente, causando o
porém, fôra mais longe. Admitira que "os animais aperfeiçoamento contínuo do corpo de um animal e (b)
_:: r.:'S2em com quaisquer modificações individuais, de a forma geral do tipo a que ele pertence, tomando-se

57
progressivamente mais especial. O tipo caracteriza-se considera" (74). É nesta base que Osório
pela posição relativa dos orgãos e é independente do segunda parte da sua dissertação -
grau de perfeição: o grau de perfeição apenas depende Escorpionídeos' .
da diferenciação. Por isso, o mesmo tipo pode
-se em graus de perfeição muito diferentes e o mesmo
grau de perfeição pode ser atingido em tipos diferentes4o . Relações e origem dos Escorpionídeos

Da mesma que a espécie não é imutável, também Porquê os escorpionídeos? Porque surgem no re::-.~
o indivíduo não é indivisível (64). É composto por fóssil antes das aranhas e nenhum zoólogo os consic:e:' .
unidades cada vez mais simples "até chegar à forma 'inferiores' a elas (78), o que, à luz do transfor:a::
em que os elementos constitutivos deles são apenas poderia parecer contraditório. Constituem, aSSi::TL __ ::-'
governados pelas leis da química" (65). A 'lei de divisão interessante problema da evolução paleontológica ­
do trabalho fisiológico', de Milne-Edwards, único, pois, com os mamíferos e as aves, por exe=-::-_=-, '
a associação de orgãos com funções diferentes sucede algo de idêntico (78).
(66). Porém, quando um orgão desempenha uma função
muito importante, pode desenvolver-se de tal modo Para melhor situar a questão, Osório apresent2 "'::-:-,_
que atrofia os orgãos vizinhos (70). Trata-se, neste caso, resenha sobre os Artrópodes. Começa pelo registo fC~~,
do 'princípio de compensação dos orgãos', de E.G. (81): as trilobites, já numerosas no Câmbrico, atín~~::-.::.:-:'
Saint-Hilaire. O desenvolvimento de um orgão pode o seu apogeu de diversidade no Silúrico, dimin'Jir2=-::- - •
modificar o desenvolvimento de outros, muitas vezes Devónico e desapareceram no Permo-Carbó-.-::,::.
distantes do primeiro, mas a ele ligados fisiologicamente Quanto aos restantes artrópodes: os MerostomacL, ~
(70): é o 'princípio da cOlTelação do crescimento', de os Escorpionídeos surgiram no Silúrico, os Inse.:::: s ;:
Darwin. Crustáceos no Devónico, os Miriápodes, re5L:-::~'
aracnídeos e crustáceos macruros no Permo-Carb2:-:: ~ •
Estes e outros princípios conduziram Osório à conclusão o apogeu dos Merostomados OCOlTeu no De,órj,:::
de que, estudando a ontogenia de uma espécie e
verificando que formas animais estão nela sucessivamente trilobites, que Osório descreve '
representadas, é legítimo concluir "que essas formas 83), eram incluídas pela maioria dos zoólogos
foram os seus ascendentes directos e representam assim, nos Crustáceos41 • Também o eram os Xifosu:\-:,
mais ou menos integralmente, a genealogia do ser que se Osório designa globalmente por Limulus42 e

58

Jgressi vamente mais especial. 0 ti po caracteriza-se considera" (74). E nesta base que Osorio abordara a
a posi~ao relativa dos orgaos e e independente do segunda parte da sua disserta~ao - 'Estudo dos
m de perfei~ao; 0 grau de perfei~ao apenas depende Escorpionfdeos' .
di ferencia~ao. Por isso, 0 mesmo tipo pode realizar­
: em graus de perfei~ao muito diferentes e 0 mesmo
tU de perfei~ao pode ser atingido em tipos diferentes 40 . ReZar;oes e origem dos Escorpionfdeos

mesma forma que a especie nao e imutavel, tam bern Porque os escorpionfdeos? Porque surgem no registo
ndivfduo nao e indivisfvel (64). E composto por fossil antes das aranhas e nenhum zoologo os considerava
dades cad a vez mais simples "ate chegar a forma 'inferiores' a elas (78), 0 que , aluz do transforrnismo,
que os elementos constitutivos deles sao apenas poderia parecer contraditorio. Constituem, assim, urn
rem ados pel as leis da qufmica" (65). A 'lei de divisao interessante problema da evolu~ao paleontologica - nao
trabalho fisiologico', de Milne-Edwards, rege unico, pois, com os mamfferos e as aves, por exemplo,
lssocia~ao de orgaos com fun~6es diferentes sucede algo de identico (78).
). Porem, quando urn orgao desempenha uma fun~ao
ito importante, pode desenvolver-se de tal modo Para melhor situar a questao, Osorio apresenta uma
atrofia os orgaos vizinhos (70). Trata-se, neste caso, resenha sobre os Artropodes. Come~a pelo registo fossil
' principi0 de compensa~ao dos orgaos', de E.G. (81): as trilobites, ja numerosas no Cambrico, atingiram
It-Hilaire. 0 desenvolvimento de urn orgao pode o seu apogeu de diversidade no Silurico, diminuiram no
lificar 0 desenvolvimento de outros, muitas vezes Devonico e desapareceram no Permo-Carbonico.
lIltes do plimeiro, mas a ele Jigados fisioJogicamente Quanto aos restantes artropodes: os Merostomados e
I: eo 'principio da correla~ao do crescimento', de os Escorpionfdeos surgiram no SilUI1CO, os Insectos e
,vm. Crustaceos no Devonico, os Miriapodes, restantes
aracnfdeos e crustaceos macruros no Permo-Carbonico;
s e outros princfpios conduziram Osorio aconclusao o apogeu dos Merostomados ocorreu no Devonico.
lue, estudando a ontogenia de uma especie e
icando que formas animais estao nela sucessivamente As trilobi tes, que Osorio descreve sumariamente (81­
::sentadas, e legftimo concluir "que essas formas 83), eram inclufdas pela maioria dos zoologos do tempo
n os seus ascendentes directos e representam assim, nos Crustaceos 41 • Tambem 0 eram os Xifosuros, que
ou menos integralmente, a genealogia do ser que se Osorio designa global mente por Limulus 42 e descreve e

59
compara com as trilobites (83-85). Osorio encontrava
urn parentesco muito estreito entre trilobites e xifosuros,
mas tambem diferenc;as, as quais realc;ou.

Assim,o 'aguilhao caudal movel' dos xifosuros falta em


geral as trilobites. Como 0 embriao dos primeiros nao
tern aguilhao (telson), que so aparece nas fases ulteriores
do desenvolvimento, e as trilobites tambem nao (quando
muito, exibem urn pigidio terminado por estilete), Osorio
admitia que os xifosuros provem das trilobites (85).

Por outro lado, enquanto 0 abdomen das trilobites e


formado por aneis, 0 dos xifosuros nao apresenta vestfgios
de segmentac;ao. Porem, no estado embrionario, estes
ultimos exibem oito segmentos abdorninais, 0 que tambem
os aproxima das trilobites (86).

Enfim, os xifosuros tern dois pares de olhos, enquanto


as trilobites tern apenas urn par. Mas, nem esta diferenc;a
os afasta definitivamente, pois nas trilobites ha
conformac;6es muito diversas dos olhos, existindo ate
formas, as primeiras, que os nao tern (86).

Quanto aos Euripterfdeos - que Osorio deno­


rnina merostomas 43 - , conviventes com as trilobites
durante 0 Silurico, sao muito proximos dos Baltazar Os6rio

escorpionfdeos (89). 0 cefalotorax, a disposic;ao das


pinc;as, a existencia de duas especies de olhos, a
articulac;ao e forma do abdomen, a terminac;ao do
abdomen por urn orgao de combate, os cinco pares de

60
lpara com as trilobites (83-85). Os6rio encontrava
parentesco muito estreito entre trilobites e xifosuros,
; tam bern diferenc;as, as quais realc;ou.

im,o 'aguilhao caudal movel' dos xifosuros falta em


u as trilobites. Como 0 embriao dos primeiros nao
aguilhao (telson), que so aparece nas fases ulteriores
lesenvolvimento, e as trilobites tambem nao (quando
to, exibem urn pigfdio teoonado por estilete), Osorio
litia que os xifosuros provem das trilobites (85).

outro lado, enquanto 0 abd6men das trilobites e


Gado par aneis, 0 dos xifosuros nao apresenta vestfgios
:egmentac;ao. Porem, no estado embrionario, estes
nos exibem oito segmentos abdominais, 0 que tambem
proxima das trilobites (86).

im, os xifosuros tern dois pares de olhos, enquanto


ilobites tern apenas urn par. Mas, nem esta diferenc;a
afasta definitivamente, pois nas trilobites ha
formac;5es muito diversas dos olhos, existindo ate
nas, as primeiras, que os nao tern (86).

mto aos Euripterfdeos - que Osorio deno­


a mer6stomas 43 - , conviventes com as trilobites
ante 0 Silurico, sao muito proximos dos Baltazar Os6rio
)rpionfdeos (89). 0 cefalotorax, a disposic;ao das
;as, a existencia de duas especies de olhos, a
~ulac;ao e forma do abd6men, a terminac;ao do
6men por urn orgao de combate, os cinco pares de
patas e 0 numero e disposi<;ao dos segmentos que ne
se contam , tudo isto os aproxima (89-90).

Tambem os xifosuros, provavelmente os representanJ


directos das trilobites (90), sao, de acordo com nota ~(
zoo logos da epoca, como Claus e Lankester, rnui
proximos dos escorpioes (92). 0 obstaculo aderi ac,;.
dos escorpioes a partir dos xifosuros estaria, para OsOri
no facto de estes ultimos serem aquaticos 44 . Enta
Osorio engendra uma adapta<;ao directa avida terres(
por necessidade de aquisic,;ao de respira<;ao aerea. 1
aquisi<;ao tena surgido em xifosuros que ficaram a sa:
ao levantar-se 0 fundo oceanica (93). E, com ela, pas.
imediatamente 0) a "identidade dos Limulus com (
escorpioes".

Do estudo da distribui<;ao geografica dos escorpionicb


actuais (94-97) conclui que: (a) se distribuem qu a:
exclusivamente na zona intertropical, (b) vivem qu~
sempre em ilhas ou em habitats vizinhos do rna
(c) algumas das regioes em que abundam sao proxim;
ou tern comunica<;oes faceis com habitats de xifos un
e (d) ha generos que sao exclusivos de urn dac
continente.

"Estabelecidas as analogias entre as trilobites e (


Limulus, entre estes e os escorpioes, vejamos qual e
grupo dos articulados com que estes animais se prendel
intimamente" (98). Por isso, Osorio procurou fonnas
passagem entre "os caracteres que sao peculiares a(
patas e 0 numero e disposi«ao dos segmentos que neles
se con tam, tudo isto os aproxima (89-90).

Tambem os xifosuros, provavelmente os representantes


directos das trilobites (90), sao, de acordo com notaveis
zoo logos da epoca, como Claus e Lankester, muito
proximos dos escorpioes (92). 0 obstaculo aderiva«ao
dos escorpioes a partir dos xifosuros estaria, para Osorio,
no facto de estes ultimos serem aqu<iticos 44 • Entao,
Osorio engendra uma adapta«ao directa a vida terrestre
por necessidade de aquisi«ao de respira«ao aerea. Tal
aquisi«ao teria surgido em xifosuros que ficaram a seco
ao levantar-se 0 fundo oceanico (93). E, com ela, passa
imediatamente (!) a "identidade dos Limulus com os
escorpioes" .

Do estudo da distribui«ao geogra£ica dos escorpionfdeos


actuais (94-97) conclui que: (a) se distribuem quase
exc1usivamente na zona intertropical, (b) vivem quase
sempre em ilhas ou em habitats vizinhos do mar,
(c) algumas das regioes em que abundam sao proximas
ou tern comunica«oes faceis com habitats de xifosuros
e (d) ha generos que sao exclusivos de urn dado
continente.

"Estabelecidas as analogi as entre as trilobites e os


Limulus, entre estes e os escorpioes, vejamos qual e 0
gropo dos articulados com que estes animais se prendem
intimamente" (98). Por isso, Osorio procurou formas de
passagem entre "os caracteres que sao peculiares aos

61
aracnfdeos e os que pertencem especialmente aos Tornava-se, todavia, necessano considerar Ot
escorpioes" (99). Encontrou-os em certos pedipalpos, articulados, por exemplo os OnicOforos. Via-se ne
pelo que, concluiu que "as divergencias entre os origem dos Miriapodes e dos Insectos (108). Mas ~
escorpioes e as aranhas ficam ate certo ponto atenuadas mesmo assim? Os onicoforos tern a capacidade
pel a existencia de caracteres que se encontram nos entretecer rapidamente uma teia", escreveu Osorio (l
pedipalpos, e a lacuna que parecia existir entre elas fica, sempre baseado na autoridade de zoologos coev
ate certo ponto, preenchida" (100). Alem disso, segundo Huxley, na sua ontogenia pre~
afectam a forma de urn escorpionfdeo. Parece, I
Porem, era necessario saber se os escorpioes se pouco provavel que os onicoforos possam considc
relacionam com outro grupo de articulados, por exemplo -se miriapodes ou seus ascendentes (110). Talvez u
com os crustaceos. Osorio refere varias afinidades outros, mais os crustaceos, fossem deri vados
estruturais, mas uma diferen<;:a profunda, a respi­ trilobites (111).
ra<;:ao. No entanto, ate tal diferen<;:a seria ultrapassavel
atendendo as varias especies de caranguejos que se Quanto aos Insectos havia uma variedade de opirr
adaptaram a vida terrestre 45 e conseguem viver longos sobre a sua deriva<;:ao: (a) dos onicOforos, juntam(
perfodos de emersao (102). Alem disso, ao tempo, a com os miriapodes, (b) dos aracnfdeos, por sua
divisao dos Artropodes em Traqueados e Branquiados derivados dos escorpioes, (c) dos crustaceos (1
encontrava-se diminufda pela opiniao de varios Fosse como fosse, uma coisa tinha Osorio por Ce
zoologos ilustres, 0 que mostrava a pouca importancia usando, para isso, varias altemativas de relacionamc
da respira<;:ao para a separa<;:ao de crustacoes e genealogico: "os escorpionfdeos sao antepassados D
escorpioes (104). ou menos proximos dos insectos" (114). Dadas
analogias do sistema nervoso de escorpioes e insec
E havia mais formas de esclarecer 0 parentesco sugerido Osorio era de opiniao que os escorpionfdeos devi
por tantas analogi as. Muitos isopodes, por exemplo, retirar-se da classe dos aracnfdeos e colocar-se "a
assemelham-se tanto as trilobites na forma do corpo dos insectos" (117).
"que seria lfcito admitir que estas sao os seus
antepassados" (105). Era esta, pelo menos, a opiniao Em conclusao da sua analise, Osorio acentua (
de Edmond Perrier. Entao, "os escorpioes como os os escorpioes tern "as maiores analogi as com to,
isopodes seriam assim descendentes das trilobites" (106). os articulados, 0 que nada admira, se admitindo
E as trilobites deveriam incluir-se nos crustaceos. teorias transformistas, for considerado como um
:nideos e os que pertencem especialmente aos Tomava-se, todavia, necessario considerar outros
)[pi6es" (99). Encontrou-os em certos pedipalpos, articulados, por exemplo os Onic6foros. Via-se neles a
) que, concluiu que "as divergencias entre os origem dos Miriapodes e dos Insectos (108). Mas, seria
)fpi6es e as aranhas ficam ate certo ponto atenuadas mesmo assim? Os onicoforos tern a capacidade "de
l existencia de caracteres que se encontram nos entretecer rapidamente uma teia", escreveu Osorio (108),
ipalpos, e a lacuna que parecia existir entre elas fica, sempre baseado na autoridade de zoologos coevos 46 .
certo ponto, preenchida" (100). Alem disso, segundo Huxley, na sua ontogenia precoce
afectam a forma de urn escorpionfdeo. Parece, pois,
em, era necessario saber se os escorplOes se pouco provavel que os onic6foros possam considerar­
cionam com outro grupo de articulados, por exemplo -se miriapodes ou seus ascendentes (110). Talvez uns e
1 os crustaceos. Osorio refere varias afinidades outros, mais os crusrnceos, fossem deri vados das
uturais, mas uma diferenc;a profunda, a respi­ trilobites (111).
10 . No entanto, ate tal diferenc;a seria ultrapassavel
ldendo as vanas especies de caranguejos que se Quanto aos Insectos havia uma variedade de opini6es
ptaram a vida terrestre45 e conseguem viver longos sobre a sua derivac;ao: (a) dos onicoforos, juntamente
'odos de emersao (102). Alem disso, ao tempo, a com os miriapodes, (b) dos aracnfdeos, por sua vez
sao dos Artropodes em Traqueados e Branquiados derivados dos escorpi6es, (c) dos crustaceos (112).
ontrava-se diminufda pela opiniao de varios Fosse como fosse, uma coisa tinha Osorio por certa,
logos ilustres, 0 que mostrava a pouca importancia usando, para isso, vanas alternati vas de relacionamento
respirac;ao para a separac;ao de crustacoes e genealogico: "os escorpionfdeos sao antepassados mais
)[pi6es (104). ou menos proximos dos insectos" (114). Dadas as
analogias do sistema nervoso de escorpi6es e insectos,
lVia mais fOlmas de esclarecer 0 parentesco sugerido Osorio era de opiniao que os escorpionfdeos deviam
tantas analogias. Muitos isopodes, par exemplo, retirar-se da classe dos aracnfdeos e colocar-se "a par
~rnelham-se tanto as trilobites na forma do corpo dos insectos" (117).
e seria lfcito admitir que estas sao os seus
~passados" (105). Era esta, pelo menos, a opiniao Em conclusao da sua analise, Osorio acentua que
Edmond Perrier. Entao, "os escorpi6es como os os escorpi6es tern "as maiores analogias com todos
ooes seriam assim descendentes das trilobites" (106). os articulados , 0 que nada admira, se admitindo as
; trilobites deveriam incluir-se nos crustaceos. teorias transformistas, for considerado como urn dos

63
seus ascendentes" (117). Terfamos, pois, nos utiliza~aode dados de urn autor portugues, Barbosa (
escorpionfdeos 47 , urn grupo tao generalizado que nao Bocage, para ilustrar 0 papel do isolamento na forma<;:
repugnaria consideni-Io como uma imagem modern a do de endemismos.
que teni sido 0 ascendente comum aos grandes grupos
de artr6podes. BaHasar Machado da Cunha Os6rio (1855-1926) f
professor de Zoologia na Escola Politecnica, depois
partir de 1911, Faculdade de Ciencias da Universidal
Comentarios de Lisboa, e director do Museu Bocage (1920-192:
Foi autor de trabalhos de taxonomia ictiol6gica
A disserta~ao de Os6rio nao destoa das anteriormente carcinol6gica48 e hist6ria da Zoologia.
analisadas no estilo e objectivos: manifestar erudi~ao e
actualiza~ao parajustificar as melhores op~5es obre 0
tema seleccionado. Com efeito, desfilam pelo trabalho
de Os6rio figuras gran des da Zoologia do seculo XlX:
Lamarck, Darwin, Wallace, Haeckel, Huxley, M.Wagner,
Romanes, von Baer, Cuvier, Milne-Edwards, Claus,
Lankester, Fritz MUller, Gegenbaur e outros cujas opini5es
analisou - a meu ver nem sempre de forma muito
critica. As ideias que expandiu sobre a filogenia dos
artr6podes - algumas das quais nos parecem hoje
ro~ar pel a infantilidade - , tinham, quase sempre, a
chancela dos nomes ilustres que seguiu.

Urn curioso pormenor e de real~ar, pois parece prenunciar


tempos e estilos que haviam de vir. Os6rio observou,
por vezes, exemplares de especies referidas no seu texto
e que existiam no Museu de Lisboa. Assim fez, por
exemplo, com os escorpionfdeos de Portugal e das
col6nias portuguesas (94-95) e com geocarcinfdeos de
Sao Tome (102). Outro exemplo de assinalar e a

64
IS ascendentes" (117). Teriamos, pois, nos utilizac;ao de dados de urn autor portugues, Barbosa du
orpionfdeos 47 , urn grupo tao generalizado que nao Bocage, para ilustrar 0 papel do isolarnento na formac;ao
ugnaria considenl-lo como uma imagem moderna do de endernismos.
~ tera sido 0 ascendente comum aos grandes grupos
artr6podes. Baltasar Machado da Cunha Os6rio (1855-1926) foi
professor de Zoologia na Escola Politecnica, depois, a
partir de 1911, Faculdade de Ciencias da Universidade
mentarios de Lisboa, e director do Museu Bocage (1920-1925).
Foi autor de trabalhos de taxonomia ictiol6gica e
lissertac;ao de Os6rio nao destoa das anteriormente carcinol6gica48 e hist6ria da Zoologia.
lisadas no estilo e objectivos: manifestar erudic;ao e
llalizac;ao para justificar as melhores opc;6es obre 0
la seleccionado. Com efeito, desfilam pelo trabalho
8s6rio figuras grandes da Zoologia do seculo XIX:
narck, Darwin, Wallace, Haeckel, Huxley, M.Wagner,
manes, von Baer, Cuvier, Milne-Edwards, Claus,
tkester, Fritz MUller, Gegenbaur e outros cujas opini6es
.lisou - a meu ver nem sempre de forma muito
ica. As ideias que expandiu sobre a filogenia dos
"6podes - algumas das quais nos parecem hoje
ar pela infantilidade - , tinham, quase sempre, a
ncela dos nomes ilustres que seguiu.

l curioso pormenor e de realc;ar, pois parece prenunciar


lpOS e estilos que haviam de vir. Os6rio observou ,
vezes, exemplares de especies referidas no seu texto
ue existiam no Museu de Lisboa. Assim fez, por
mplo, com as escorpionfdeos de Portugal e das
5nias portuguesas (94-95) e com geocarcinfdeos de
I Tome (102) . Outro exemplo de assinalar e a

65
o Darwinismo no seu tempo
Confonne inicialmente se assinalou, 0 Lamarquis
nao parece ter tide entre nos, na epoca prop
seguidores ou contraditores que publicassem as s
ideias relativamente a doutrina. Algumas hipote
para essa omissao em Portugal foram ja expostas
princfpio, em 'Lamarquismo e Darwinismo'. Ate M po
tempo, porem, a opiniao geral era a de que a gr31
autoridade de Cuvier, criacionista e catastrofi:
levara a oblitera~ao do Lamarquismo na sua epoc
Epossivel que isso tambem tenha, de facto, contribu
para abafar 0 Lamarquismo em Portugal, pois Cm
era aqui muito apreciado (Alma~a, 1994).

Sabe-se hoje, no entanto, gra~as ao profundo traba


efectuado por Laurent (1987), que, em Fran
ao contrano do que tern sido di vulgado, 0 Lamarquis
foi discutido e consubstanciado durante todo 0 peri<
anterior a publica~ao de 'A origem das especii
E se alguem saiu menos vitorioso desse trabalho
Cuvier e 0 seu anti-evolucionismo e nao 0 LamarquisJ
De resto, nao foi so em Fran~a que tal acontec
Em Edimburgo, RJameson (1774-1854), geol(
e mineralogista, apoiou 0 Lamarquismo (Secord, 19
nas decadas de 1830 a 1850. 0 seu discfpulo-R.E.GJ:
(1793-1874), que, a partir de 1827, foi prafes
de Anatomia e Zoologia na Universidade de Lonru
aqui continuou a suportar a doutrina de Lama
(Desmond,1984).
o Darwinismo no seu tempo
Confonne inicialmente se assinalou, 0 Lamarquismo
nao parece ter tido entre nos, na epoca propria,
seguidores ou contraditores que pUblicassem as suas
ideias relativamente a doutrina. Algumas hip6teses
para essa omissao em Portugal foram ja expostas no
principio, em 'Lamarquismo e Darwinismo'. Are ha pouco
tempo, porem, a opiniao geral era a de que a grande
autoridade de Cuvier, criacionista e catastrofista,
levara aoblitera<;ao do Lamarquismo na sua epoca49 •
Epossivel que isso tambem tenha, de facto, contribufdo
para abafar 0 Lamarquismo em Portugal, pois Cuvier
era aqui muito apreciado (Alma<;a, 1994).

Sabe-se hoje, no entanto, gra<;as ao profundo trabalho


efectuado por Laurent (1987), que, em Fran<;a,
ao contrano do que tern sido divulgado, 0 Lamarquismo
foi discutido e consubstanciado durante todo 0 perfodo
anterior a publica<;ao de 'A origem das especies'.
E se alguem saiu menos vitorioso desse trabalho foi
Cuvier eo seu anti-evolucionismo e nao 0 Lamarquismo.
De resto, nao foi so em Fran<;a que tal aconteceu.
Em Edimburgo, RJameson (1774-1854), ge610go
e mineralogista, apoiou 0 Lamarquismo (Secord, 1991)
nas decadas de 1830 a 1850. 0 seu discipulo-R.E.Grant
(1793-1874), que, a partir de 1827, foi professor
de Anatomia e Zoologia na Universidade de Londres,
aqui continuou a suportar a doutrina de Lamarck
(Desmond, 1984).

67
Acontece que os naturalistas que debateram 0 Estabeleceu-se, assim, urn relacionamento estrei
evolucionismo e refon;aram 0 Lamarquismo em Franc;a multfmodo entre a teoria, ou teorias, biologica(s) e ~
durante a primeira metade do seculo XIX, ainda que doutrinas ou sistemas, relacionamento que e
numerosos, nao faram todavia figuras de primeiro plano, fundamentado em copiosfssima e especializ'
daquelas que, notoriamente, 'fazem' ou 'desfazem' as bibliografia. Abordar sumariamente tao comple
grandes teorias do seu tempo. Tiveram urn obvio 'efeito relac;6es poderia ser mais nefasto pela obrigatoria ligeiJ
de massa', como Laurent (1987) faz notar, mas nao do tratamento, do que util para 0 fim que se tern
protagonizaram acontecimentos fundamentais. vista. Por isso, na sfntese breve, por paises, que
seguir-se, tentar-se-a restringir ao mais essencial 0
Seja como for, atraves do Darwinismo e conjuntamente neles significava 0 Darwinismo nas ultimas decadru
com ele e que 0 Lamarquismo foi discutido na seculoXIX.
Universidade portuguesa entre 1865 e 1890. E, portanto,
o Darwinismo inicial que, como ja se referiu, as Desejar-se-ia cingir tal sfntese aos aspectos cientffi
dissertaC;6es tern em conta. Na fase a que 0 presente do Darwinismo, pois foi no plano biologico est
livro se reporta, as conclus6es de Weismann - que que ele se discutiu na Universidade portuguesa. Por
dariam abertura ao Neo-darwinismo - , nao haviam como se verificara, isso nao e possivel, de tal fOJ
ainda, aparentemente, chegado a Portugal, apesar de o Darwinismo transbordou da comoda neutralid
publicadas nos anos de 1880. cientffica, escapando para 0 grande publico as
que introduzido em muitos pafses, entre os quai~
o Darwinismoe, segundo Mayr(1991), umconjuntode que, eventual mente, mais influenciariam a cuI
cinco teorias: evoluc;ao, descendencia comum, multiplicac;ao portuguesa da epoca. Isto nao facilita a compar<l
de especies, gradualismo e selecc;ao natural. Mais do que que se almejava, mas tamMm nao a inutiliza com
suficiente para ter importantfssimas repercuss6es na tamente, como se vera.
sociedade. Par isso, a amplidao das suas implicac;6es e 0
prestfgio cientffico e neutralidade ideologica de Darwin
levaram diversas doutrinas da epoca a tentarem apropriar­ Gni-Bretanha
-se do Darwinismo. Social-darwinismo, racismo, eugenia,
vanos sistemas filosoficos, religi6es e ideologias politicas Na Gra-Bretanha, nomeadamente em Inglatem
procuraram integrar ou, pelo contrario, repudiar 0 crfticas e comentarios ao Darwinismo foram, naturalm
Darwinismo ou uma ou outra das suas partes constituintes. imediatos a publicac;ao da primeira edic;ao (1859) d

68
lOlece que os naturalistas que debateram 0 Estabeleceu-se, assim, urn relacionamento estreito e
L1cionismo e refon;aram 0 Lamarquismo em Fran~a multfmodo entre a teoria, ou teorias, bioI6gica(s) e ess3S
nte aprimeira metade do seculo XIX, ainda que doutrinas ou sistemas, relacionamento que esta
erosos, nao foram todavia figuras de primeiro plano, fundamentado em copiosfssima e especializada
elas que, notoriamente, 'fazem' ou 'desfazem' as bibliografia. Abordar sumariamente tao complexas
ies teorias do seu tempo. Tiveram urn 6bvio 'efeito rela~6es poderia ser mais nefasto pela obrigat6ria ligeireza
l3Ssa', como Laurent (1987) faz notar, mas nao do tratamento, do que uti! para 0 fim que se tern em
gonizaram acontecimentos fundamentais. vista. Por isso, na sfntese breve, por pafses, que vai
seguir-se, tentar-se-a restringir ao mais essencial 0 que
:omo for, atraves do Druwinismo e conjuntamente neles significava 0 Darwinismo nas ultimas decadas do
ele e que 0 Lamarquismo foi discutido na seculo XIX.
~rsidade portuguesa entre 1865 e 1890. E, portanto,
rwinismo inicial que, como ja se referiu, as Desejar-se-ia cingir tal sfntese aos aspectos cientfficos
rta<;6es tern em conta. Na fase a que 0 presente do Darwinismo, pois foi no plano biol6gico estl1to
se reporta, as conclus6es de Weismann - que que ele se discutiu na Universidade portuguesa. Porem,
n abertura ao Neo-darwinismo - , nao haviam como se verificara, isso nao e possivel, de tal forma
, aparentemente, chegado a Portugal, apesar de o Darwinismo transbordou da c6moda neutralidade
;adas nos anas de 1880.
cientffica, escapando para 0 grande publico assim
que introduzido em muitos pafses, entre os quais os
rwinismo e, segundo Mayr (1991), urn conjunto de
que, eventualmente, mais influenciariam a cultura
eorias: evolu<;ao, descendenciacomum, multiplica<;ao
portuguesa da epoca. Isto nao facilita a compara<;ao
ecies, gradualismo e selec<;ao natural. Mais do que
que se almejava, mas tambem nao a inutiliza comple­
~nte para ter importantfssimas repercuss6es na
tamente, como se vera.
lade. Por isso, a amplidao das suas implica<;6es e 0
~a cientffico e neutralidade ideol6gica de Druwin
n diversas doutrinas da epoca a tentarem apropriar­
Gra.-Bretanha
)arwinismo. Social-darwinismo, racismo, eugenia,
sistemas filos6ficos, religi6es e ideologias polfticas
Na Gra-Bretanha, nomeadamente em Inglaterra, as
'aram integrar ou, pelo contrario, repudiar 0
crfticas e comentarios ao Darwinismo foram, naturalmente,
rismo ou uma ou outra das suas partes constituintes.
imediatos a publica<;ao da primeira edi<;ao (1859) de 'A

69
origem das especies'. Ellegard (1958), em trabalho de morosa e custosamente definitiva dos problemas. A p!
nota vel profundidade, da conta do que foi a recep<;ao ca~ao de 'A origem' foi precedida de dois ens'
ao Darwinismo na imprensa peri6dica britanica entre esbo~ados por Darwin em 1842 e 1844. Antes d!
1859 e 1872. Para este autor, 0 interesse geral do Malthus, Darwin acreditava na harmonia e perfe]
publico no Darwinismo foi, quase todo, devido a dois no<;oes que rejeitou anteriormente a Setembro de 18:
factos inter-relacionados: (a) implica<;oes religiosas e Depois de 0 ler, ajustou a sua nova teoria as anI
ideol6gicas e (b) influencia na perspectiva tradicional cren<;as. Assim, no ensaio de 1844 persiste na j
(bfblica) da hist6ria da humanidade e da natureza humana. da adapta<;ao perfeita e da estrutura te6rica
inicialmente, the estava associada. Por fim, em 1
Tais factos prendem-se, urn e outro, com a muito debatida escreveu que "os seres vivos parecem perfeitos ap
questao da teologia do pr6prio Darwin. Greene (1975) no grau exigido pela nossa teoria, designadament
entende-o como urn defsta evolutivo a data em que capacidade de disputarem com os competidores m
compos 'A origem das especies'. Mas, Ospovat (1980), area de distribui<;ao."
sequenciando as vanas defini<;oes de Darwin para Deus,
cria<;ao, desfgnio, plano, etc., encontra-lhe urn Toda a vida de Darwin decorre, alias, em perman
desenvolvimento consistente desde a ortodoxia da debate e questionamento das coisas. A excel
juventude ao agnosticismo dos ultimos anos. As suas biografia de Browne (1995) mostra 0 desenrolar (
concep<;oes tefstas das primeiras fases (1838-1844) atitude na primeira fase da vida de Da~win. 01
teriam sido, segundo Ospovat, gradualmente autores tambem 0 acentuam. Desde ajuventude, a(
abandonadas. Para Brown (1986), porem, a teologia de parece por influencia comtiana, Darwin manifestl
Darwin caracteriza-se, em cada estado da sua evolu<;ao, suas qualidades de penetrante investigador, de
por notavel ambivalencia, particularmente na fase final, procurando 0 significado e as causas (Schweber, 1
que Brown classifica de urn tefsmo 'agn6stico'
intermitente. De contradit6rio ha aqui quanto baste para o impacte de 'A origem' no publico britanic
exemplificar a evolu~ao da interioridade de uma di versificado e concordante com a educa<;ac
personalidade genial. prepara<;ao cientffica dos vanos estratos. EUegard C
distingue dois tipos de questoes: (1) a transmuta<;2
Porem, M mais. As hesita~oes de Darwin quanto as especies e (2) a selec<;ao natural. A primeira, rea
ideias de Malthus, por exemplo, bern documentadas por publico menos culto, nao aceitando a origem do he
Ospovat (1979), sao significativas de uma reflexao entre os macacos. 0 publico de cultura intermed

70
~em das especies'. Ellegard (1958), em trabalho de
morosa e custosamente definiti va dos problemas. A publi­
hel profundidade, d§. conta do que foi a recep<;ao
ca<;ao de 'A origem ' foi precedida de dois ensaios,
)arwinismo na imprensa periodica britanica entre
esbo<;ados por Darwin em 1842 e 1844. Antes de ler
9 e 1872. Para este autor, 0 interesse geral do
Malthus, Darwin acreditava na harmonia e perfei<;ao,
lico no Darwinismo foi, quase todo, devido a dois
no<;5es que rejeitou anteriormente a Setembro de 18385 °.
os inter-relacionados: (a) implica<;5es religiosas e
Depois de 0 ler, ajustou a sua nova teo11a as anti gas
'logicas e (b) influencia na perspecti va tradicional
cren<;as. Assim, no ensaio de 1844 persiste na ideia
~ca) da historia da humanidade e da natureza humana. da adapta<;ao perfeita e da estrutura teorica que,
inicialmente, Ihe estava associada. Por fim, em 1859,
factos prendem-se, um e outro, com a muito debatida
escreveu que "os seres vivos parecem perfeitos apenas
tao da teologia do proprio Darwin. Greene (1975)
no grau exigido pela nossa teoria, designadamente na
lde-o como um defsta evolutivo a data em que
capacidade de rusputarem com os competidores na sua
)OS 'A origem das especies'. Mas, Ospovat (1980),
area de rustribui<;ao."
~nciando as vanas defini<;5es de Dmwin para Deus,
:ao , desfgnio, plano, etc., encontra-Ihe um
Toda a vida de Darwin decorre, alias, em permanente
lVolvimento consistente desde a ortodoxia da
debate e questionamento das coisas. A excelente
ltude ao agnosticismo dos ultimos anos. As suas
biografia de Browne (1995) mostra 0 desenrolar desta
~p<;5es tefstas das primeiras fases (1838-1844)
atitude na primeira fase da vida de Darwin. Outros
rn sido, segundo Ospovat, gradual mente
autores tambem 0 acentuam. Desde ajuventude, ao que
tonadas. Para Brown (1986), porem, a teologia de
parece por influencia comtiana, Darwin manifestou as
in caracteriza-se, em cada estado da sua evolu<;ao,
suas qualidades de penetrante investigador, de tudo
)t§.vel ambivalencia, particularmente na fase final,
procurando 0 significado e as causas (Schweber, 1979).
3rown classifica de um tefsmo 'agnostico '
Litente. De contraditorio h§. aqui quanta baste para
o impacte de 'A origem' no publico britanico foi
)lificar a evolu<;ao da interioridade de uma
di versificado e concordante com a educa<;ao e a
ali dade gerual.
prepara<;ao cientffica dos vanos estratos. Ellegard (1958)
distingue dois tipos de quest5es: (1) a transmuta<;ao das
J, h§. mais. As hesita<;5es de Darwin quanta as
especies e (2) a selec<;ao natural. Aprimeira, reagiu 0
je Malthus, por exemplo, bem documentadas por
publico menos culto, nao aceitando a origem do homem
at (1979), sao significativas de uma reflexao
entre os macacos. a publico de cultura intermedia via

71
no Darwinismo uma irredutfvel conflitualidade com a se explicaria 0 aparecimento dos orgaos e facul dal
cosmogonia crista. Para 0 melhor preparado mais complexas, incluindo a estrutura intelectual e IIl4
culturalmente, 0 Darwinismo afectava a interpreta<;ao do homem. A propria religiosidade, interpretada
teleologica cia natureza, a estrutura cia explica<;ao cientifica benefica na luta pela existencia, poderia explicar-se at:ra
e a rela<;ao entre factos e valores morais e esteticos. Os do naturalismo empfrico.
argumentos contra 0 Darwinismo tambem variavam com
a educa<;ao do publico. A ausencia de especies Tudo isto era irreconciliavel com a posi<;ao ideali :
intermedias e a nao verifica<;ao experimental da -intuicionista e cindiu os proprios cientistas. A exten
transmuta<;ao estavam ao alcance de muitos; a esterilidade de metodos puramente cientfficos a temas que ate er
dos hfbridos e a reversibilidade das variedades ao tipo haviam permanecido fora do ambito da ciencia tome
original como prova cia imutabiliciade das es¢Cies, apenas Darwinismo uma teoria revolucionaria e explos
de alguns. (Ellegard, 1958).

Os problemas suscitados pela selec<;ao natural foram As sociedades cientfficas britanicas na decada 5
apenas discutidos na imprensa de maior qualidade, sequente a publica<;ao de 'A origem' tiveram
permanecendo 0 grande publico amargem dos principios procedimento peculiar (Burkhardt, 1988). ConsideraJ
fundamentais. Somente 0 publico mais culto discutiu a o Darwinismo uma especula<;ao exterior ao co
selec<;ao natural, separando-se duas correntes (Ellegard, cientifico e ignoraram-no, a menos que as investiga~
1958): os Darwinistas empflicos e os anti-darwinistas realizadas, sobretudo taxonomicas, confirmas~
idealistas. Esta ultima era a posi<;ao mais representada ou rejeitassem a teoria. Nenhuma sociedade cientf
no publico em geral. Os factos em si nao eram discutidos , londrina apresentou uma revisao do livro de Darw
mas sim a sua interpreta<;ao, que variava com a as referencias a ele constaram, sobretudo, dos discu
perspectiva ideologica e religiosa de cada urn. anuais dos presidentes dessas sociedades, discu
em que se comentavam os principais acontecime i
A selec<;ao natural podia admitir urn Deus criador do cientfficos do ano anterior. No entanto, Thomas I
mundo e das suas leis, mas tomava-o superfluo. A por exemplo, baniu 0 livro de Darwin do
interpreta<;ao teleologica da natureza tao radicada na discurso presidencial da Sociedade Linean~
forte corrente da Teologia Natural, estimadissima pelos Londres, em 1860. Todavia, algumas socieru
britanicos, tambem desaparecia, dando lugar aadapta<;ao cientfficas escocesas apresentaram revis6es de 'A ori ~
par selec<;ao de variabiliciade aleatoria. Da mesma forma (Burkhardt, 1988).

72
Darwinismo uma irredutfvel conflitualidade com a se explicaria 0 aparecimento dos orgaos e faculdades
mogonia crista . Para 0 melhor preparado mais complexas, incluindo a estlUtura intelectual e moral
lturalmente, 0 Darwinismo afectava a interpreta<;ao do homem. A pr6pria religiosidade, interpretada como
~logiea da natureza, a estrutura da expIica<;ao cientffica benefica na luta pela existencia, poderia expIicar-se atraves
relayao entre factos e valores morais e esteticos. Os do naturalismo empflico.
:umentos contra 0 Darwinismo tambem variavam com
~duca<;ao do publico. A auseneia de especies Tudo isto era irreconciliavel com a posi<;ao idealista­
ermedias e a nao verifica<;ao experimental da -intuicionista e cindiu os proprios cientistas. A extensao
lsmuta<;ao estavam ao a1canee de muitos; a estelilidade de metodos puramente eientfficos a temas que ate entao
~ hfbridos e a reversibilidade das variedades ao tipo haviam permanecido fora do ambito da cieneia tomou 0
~aJ como prova da imutabiIidade das especies, apenas Darwinismo uma teoria revolueionaria e expJosiva
L1guns. (EUegard, 1958).

problemas suscitados pela seJec<;ao natural foram As sociedades cientffieas britanicas na decada sub­
nas diseutidos na imprensa de maior qualidade, sequente a publica<;ao de 'A origem' tiveram urn
a
oanecendo 0 grande publico margem dos princfpios procedimento peculiar (Burkhardt, 1988). Consideraram
iamentais. Somente 0 publico mais cuIto discutiu a o Darwinismo uma especula<;ao exterior ao corpo
:<;ao natural, separando-se duas COlTentes (EIJegard, cientffico e ignoraram-no, a menos que as investiga~6es
&) : os Darwinistas empfricos e os anti-darwinistas realizadas, sobretudo taxon6micas, eonfirmassem
listas. Esta ultima era a posi<;ao mais representada ou rejeitassem a teoria . Nenhuma sociedade cientffica
ublico em geral. Os factos em si nao eram discutidos, londrina apresentou uma revisao do livro de Darwin e
sim a sua interpreta<;ao, que variava com a as referencias a ele constaram, sobretudo, dos diseursos
lecti va ideo logica e religi osa de cada urn. anuais dos presidentes dessas sociedades, discursos
em que se comentavam os principais acontecimentos
iec<;ao natural podia admitir urn Deus eriador do cientfficos do ana anterior. No entanto, Thomas Bell,
.fo e das suas leis, mas tomava-o superfluo. A por exemplo, baniu 0 livro de Darwin do seu
Jcetac;:ao teleol6gica da natureza tao radicada na discurso presidencial da Sociedade Lineana de
corrente da Teologia Natural, estimadfssima pelos Londres, em 1860. Todavia, algumas sociedades
icos, tambem desaparecia, dan do lugar aadapta~ao eientfficas eseocesas apresentaram revisOes de 'A origem'
~lec~ao de variabilidade aleat6ria. Da mesma forma (Burkhardt, 1988).

73
Bentham, em 1868, e Lyell, em 1867 e 1868, em publicaram-se oito traduc;:6es 5J de diversas edi~6
Inglaterra, acabaram com as duvidas sobre a teoria da inglesas, 0 que sugere nao ter sido 'A origem' urn gran
descendencia comum (Hodge, 1988), embora nao se fracasso comercial em Franc;:a (Stebbins, 1988).
possa esquecer 0 papel que Huxley e Hooker
desempenharam na defesa do Darwinismo nos seus Os autores que tern estudado a recepc;:ao do Darwinisr
primeiros tempos. A partir de 1868, 0 Darwinismo em Franc;:a reconhecem 0 entusiasmo diminuto, ou mesr
passou a discutir-se fundamentalmente no contexto da a hostilidade, com que af foi recebido. Conry (197
selecc;:ao natural e possibilidade deste processo cliferencial afirma que 0 Darwinismo "foi escandalo, pois substitt
conduzir a produc;:ao de orgaos complexos. Pode, a composic;:ao do relati vo e do aleat6rio a orde
portanto, concluir-se que 0 Darwinismo apenas comec;:ou estabelecida e necessana."E a ordem estabelecida a par
·a afirmar-se na sua patria de origem a partir da primeira de 1851 era a do Segundo Imperio: urn ImperadOI
dec ada ap6s a publicac;:ao de 'A origem'. uma Igreja Cat6lica suportando-se mutuamente. Pa
Farley (1974) tudo na epoca the foi negativo em Fran~
a ideologia, a religiao, a filosofia polftica, a gera~
Franr;a cientffica mais destacada. Personalidades cientffic
prestigiadas, como Flourens e Quatrefages, fora
Ao despontar 0 Darwinismo, havia ja em Franc;:a urn manifestos adversanos do Darwinismo.
pass ado longo de meio seculo de discussao sobre a
transformac;:ao das especies. Diferentes epis6dios desta o repudio do Darwinismo seguiu vias muito semelhant
hist6ria tern sido tocados no decorrer do presente as que, alguns decenios antes, se haviam opos
trabalho. Para muitos franceses da dec ada de 1860 e ao Lamarquismo: (a) urn conceito embriogenico irnpm
subsequentes, Darwin nao fizera mais do que reavivar a a ideia de 'evoluc;:ao', (b) a irredutfvel independenc
ideia ja antiga de Lamarck, tanto mais que, repita-se, 0 dos quatro grandes grupos animais de Cuvier e (
Darwinismo nao repudiou as causalidades lamarquianas. o conceito essencialista de especie. Reduzindo a ide
Talvez por isso, 0 Darwinismo foi silenciado na Academie de 'evoluc;:ao' ao desenvolvimento embrionano, retira\
des Sciences. A imprensa peri6dica, no entanto, publicou -se-Ihe a conotac;:ao hist6rico-geol6gica que
recens6es criticas de 'A origem das especies', umas transforrnismo e a descendencia com urn implicaJ
mais favoraveis do que outras. 0 livro, porem, s6 foi Considerando total mente independentes os plan
pela primeira vez traduzido em frances em 1862, sen do de organizac;:ao de Vertebrados, Moluscos, Articulad
esta a traduc;:ao da 3a . edic;:ao inglesa. Ate 1883, e Radiados desfazia-se qualquer ideia de parente

74
ntham, em 1868, e Lyell, em 1867 e 1868, em publicaram-se oito tradu<;5es Sl de diversas edi<;5es
~aterra, acabaram com as duvidas sobre a teoria da inglesas, 0 que sugere nao ter side 'A origem' urn grande
~cendencia comum (Hodge, 1988), embora nao se fracasso comercial em Fran<;a (Stebbins, 1988).
~sa esquecer 0 papel que Huxley e Hooker
,empenharam na defesa do Darwinismo nos seus as autores que tern estudado a recep<;ao do Darwinismo
meiros tempos. A partir de 1868, 0 Darwinismo em Fran<;a reconhecem 0 entusiasmo diminuto, ou mesmo
sou a discutir-se fundamentalmente no contexto da a hostilidade, com que af foi recebido. Conry (1974)
:q:ao natural e possibilidade deste processo diferencial afirma que 0 Darwinismo "foi escandalo, pois substitufa
lduzir a produ<;:ao de orgaos complexos. Pode, a composi<;ao do relativo e do aleatorio a ordem
tanto, conc1uir-se que 0 Darwinismo apenas come<;ou estabelecida e necessana."E a ordem estabelecida a partir
innar-se na sua patria de origem a partir da primeira de 1851 era a do Segundo Imperio: urn Imperador e
ada apos a publica<;ao de 'A origem'. uma Igreja Cat6lica suportando-se mutuamente. Para
Farley (1974) tudo na epoca the foi negativo em Fran<;a:
a ideologia, a religiao, a filosofia politica, a gera<;ao
m;a cientffica mais destacada. Personalidades cientfficas
prestigiadas, como Flourens e Quatrefages, foram
despontar 0 Darwinismo, havia ja em Fran<;a urn manifestos adversanos do Darwinismo.
;ado longo de meio seculo de discussao sobre a
sforma<;ao das especies. Diferentes episodios desta o repudio do Darwinismo seguiu vias muito semelhantes
Dria tern sido tocados no decorrer do presente as que, alguns decenios antes, se haviam oposto
alho. Para muitos franceses da decada de 1860 e ao Lamarquismo: (a) urn conceito embriogenico imposto
~equentes, Darwin nao fizera mais do que reavivar a a ideia de 'evolu<;ao', (b) a irredutfvel independencia
3. j a antiga de Lamarck, tanto mais que, repi ta-se, 0 dos quatro grandes grupos animais de Cuvier e (c)
Ninismo nao repudiou as causalidades lamarquianas. o conceito essencialista de especie. Reduzindo a ideia
ez por isso, 0 Darwinismo foi silenciado na Acadimie de 'evolu<;ao' ao desenvolvimento embrionano, retirava­
,)ciences. A imprensa periodica, no entanto, publicou -se-Ihe a conota<;ao historico-geologica que 0
ns5es criticas de 'A origem das especies', umas transforrnismo e a descendencia comum implicam.
) favoraveis do que outras. 0 livro, porem, so foi Considerando totalmente independentes os pIanos
primeira vez traduzido em frances em 1862, sendo de organiza<;ao de Vertebrados, Moluscos, Articulados
a tradu<;ao da 3a . edi<;ao inglesa. Ate 1883, e Radiados desfazia-se qualquer ideia de parentesco

75
entre os grupos animais. Definindo a 'especie' com -Alemanha
caracteres essenciais, invariaveis , destrufa-se 0
gradualismo evolutivo, funclamento tanto do Lamarquismo A primeira tradu~ao alema de 'A origem das esp6cies
como do Darwinismo. publicada em 1860. Seguiram-se mais quatro tradu,
ao mesmo tempo que outras obras de Darwin tamber
o envolvimento cientffico da escola positivista de editavam em lingua alema. Isto e sigrilficativo do inten
Littre, reconhecendo limita~6es ao poder da Ciencia, que envolveu 0 Darwinismo na Alemanha. 0 debate S(
pois este nao deve ultrapassar 0 que a observa~ao, a teoria foi imediato apublica~ao da primeira tradu<;al
a experimenta~ao e a compara~ao consentem, nao 'A origem' e implicou naturalistas, fil6sofos, clero e put
permitiu a aceita~ao do Darwinismo na dec ada de 1860 culto. Em interessante analise, Montgomery (1S
(Farley, 1974). descreve os Darwinistas alemaes dos primeiros terr
como, geralmente,jovens, frequentemente com opin
Foi a escola antropo16gica que, a despeito da oposi~ao religiosas e sociais nao convencionais e radicados
de Quatrefages, deu abertura ao Darwinismo em universidades mais pequenas e menos famosas. A zooll
Fran~a , atraves da controversia entre monoge­ de invertebrados era 0 principal domfnio a que e
nistas e poligenistas 52 (Conry, 1974). Ravia uma forte jovens professores se dedicavam.
adesao ao transformismo entre os antropologistas e
os poligenistas foram atrafdos pelo Darwinismo (Corsi, o antagonismo com a Igreja, particularmente co
1985). A relutancia a aceita~ao do papel inovador Cat6lica, e com os privilegios aristocraticos foi a no
da selec~ao natural foi, no entanto, muito grande nos Darwinistas alemaes. Liberais e nacionalistas taml
em Fran~a5 3 . Assim, a partir de 1870, Lamarck perdeu eram comuns entre eles (Weindling, 1989). Politicamc
o estatuto de precursor ou de modelo para tomar porem, sao menos contrastados com os opositore:
o de rival ou associ ado de Darwin, podendo dizer-se Darwinismo (Montgomery, 1988).
que, ao come~ar 0 seculo XX , 0 Darwinismo
nao estava, nem podia estar, introduzido em Fran~a Entre todos os adeptos do Darwinismo, sobre
(Conry, 1974). Darwin rejeitava 0 conceito de pro­ Raeckel, com 26 anos em 1860. Anti-cleric~
gresso evolutivo, de tendencia para a perfei~ao, que crescentemente nacionalista, foi 0 grande propaganc
compunha a estrutura do Lamarquismo. E era Lamarck do Darwinismo na Alemanha e fora dela (Weindl
revificado que no fim do seculo XIX se cultivava em 1985). Mas, outros notaveis bi61ogos 0 acompanhar
Fran~a. Schleiden, Moritz Wagner, C.Vogt, Fritz M ill

76
re os grupos animais. Definindo a 'especie' com Alemanha
acteres essenciais, invariaveis, destrufa-se 0
:lualismo evoluti yo, fundamento tanto do Lamarquismo A primeira traduc;ao alema de 'A origem das esp6cies' foi
'10 do Darwinismo. publicada em 1860. Seguiram-se mais quatro traduc;5es,
ao mesmo tempo que outras obras de Darwin tambem se
~n vol vimento cientffico da escola positi vista de editavam em lfngua alema. Isto e significati vo do interesse
:re, reconhecendo limitac;6es ao poder da Ciencia, que envolveu 0 Darwinismo na Alemanha. 0 debate sobre
s este nao deve ultrapassar 0 que a observaC;ao, a teoria foi imediato apublicac;ao da primeira traduc;ao de
xperimentac;ao e a comparac;ao consentem, nao 'A origem' e implicou naturalistas, fil6sofos, clero e publico
mitiu a aceitac;ao do Darwinismo na dec ada de 1860 culto. Em interessante analise, Montgomery (1988)
dey, 1974). descreve os Darwinistas alemaes dos primeiros tempos
como, geralmente,jovens, frequentemente com opini5es .
a escola antropol6gica que, a despeito da oposic;ao religiosas e sociais nao convencionais e radicados nas
Quatrefages, deu abertura ao Darwinismo em universidades mais pequenas e menos famosas. A zoologia
n<;a, atraves da controversia entre monoge­ de invertebrados era 0 principal domfnio a que estes
as e poligenistas 52 (Conry, 1974). Ravia uma forte jovens professores se dedicavam.
:;ao ao transformismo entre os antropologistas e
{)ligenistas foram atrafdos pelo Darwinismo (Corsi, o antagonismo com a Igreja, particularmente com a
5). A relutancia a aceitac;ao do papel inovador Cat6lica, e com os pri vilegios aristocraticos foi a norma
selecc;ao natural foi, no entanto, muito grande nos Darwinistas alemaes. Liberais e nacionalistas tambem
Franc;a53 • Assim, a partir de 1870, Lamarck perdeu eram comuns entre eles (Weindling, 1989). Politicamente,
statuto de precursor ou de modelo para tomar porem, sao menos contrastados com os opositores ao
~ rival ou associ ado de Darwin, podendo dizer-se Darwinismo (Montgomery, 1988).
, ao comec;ar 0 seculo XX, 0 Darwinismo
estava, nem podia estar, introduzido em Franc;a Entre todos os adeptos do Darwinismo, sobressai
nry, 1974). Darwin rejeitava 0 conceito de pro­ Raeckel, com 26 anos em 1860. Anti-clerical e
so evolutivo, de tendencia para a perfeic;ao, que crescentemente nacionalista, foi 0 grande propagandista
pUnha a estrutura do Lamarquismo. E era Lamarck do Darwinismo na Alemanha e fora dela (Weindling,
ficado que no fim do seculo XIX se cultivava em 1985). Mas, outros notaveis bi610gos 0 acompanharam:
.a. Schleiden, Moritz Wagner, C.Vogt, Fritz Muller,

77
Gegenbaur, Weismann, Claus, Dohrn, etc., nem todos lttilia
com as mesmas posi<;6es religiosas ou ideol6gicas.
Se medirmos 0 sucesso do Darwinismo pel::
Adversarios do Darwinismo foram cientistas mais idosos, vulgariza<;ao, poderemos dizer que, em ltaIia, ele foi TIC
mais ortodoxos do ponto de vista religioso, com melhores ate ao fim do seculo XIX. A difusao da vulgari2
posi<;6es profissionais e sociais. Entre eles, paleontologistas cientffica neste pafs coincidiu com a publica<;~
partidarios do catastrofismo, anatornistas de fonna<;ao 'A origem das especies' e, por isso, nao e de estn
tipol6gica, alguns botanicos experimentais (para os quais que a ltaIia se inclua no pequeno grupo de na<;6es er
a hibrida<;ao de especies elirninaria qualquer eventual 'A origem' foi mais cedo traduzida (primeira edi<;ao it
diferencia<;ao evolutiva). Bronn e Virchow sao os mais publicada em 1864). Cientistas, fil6sofos, vulgariza
conhecidos oponentes ao Darwinismo. Estes e outros e intelectuais em geral estiveram bern representados
adversarios do Darwinismo rejeitaram fonnas hist6ricas os primeiros Darwinistas italianos: Canestrini, FiliPI
de explica<;ao dos fen6menos observaveis na biodi­ Filippi, Delpino, Mantegazza, De Sanctis, M.Lesson
versidade actual. Tambem houve, des de logo, detractores como
exemplo, 0 anatornista Bianconi, 0 fil6sofo B. Croc
Haeckel tomou-se professor da Universidade de lena em soci610go V. Pareto (Pancaldi, 1983).
1864, tendo af como cole gas Strasburger e Gegenbaur,
entre outros. Empreendeu apaixonadamente a divulga0io A adesao ao Darwinismo - na epoca, a mais alru
do Darwinismo, ao ponto de Darwin recear que tanta expressao do evolucionismo - , nao foi, no ent
paixao, e ferocidade com que Haeckel a defendia, unifonne. Delpino, 0 mais estimado interlocutor ita
suscitassem oposi<;ao a sua teoria. No entanto, Haeckel de Darwin, aceitava a evolu<;ao, mas dava-Ihe
atribufa a selec<;ao urn papel limitado. Para ele, 0 interpreta<;ao religiosa, perspectivando-a teleologican
Darwinismo inclufa 0 Lamarquismo e a recapitula<;ao. Foi Fogazzaro, interpretou-a como uma outra express
ele 0 responsavel pela introdu<;ao no Darwinismo do existencia de Deus, criando urn 'evolucionismo cri,
conceito de especies 'inferiores' e 'superiores', que nao Mantegazza, antrop610go, e Tommasi, positivista, f
existem na teoria, fazendo tambem nela convergir aspectos cepticos relativamente a selec<;ao natural.
sociais e intelectuais. Tomou-se, por isso, mais vulneravel
as crfticas cientfficas, embora 0 seu sucesso como Nas universidades italianas, que eram muitas em !
popularizador da teoria tenha sido crescente (Montgomery, do seculo XIX - consequencia da unifica<;ao de \
1988). Em Portugal, os seus livros tiveram 0 maior exito. estados - , a adesao ao Darwinismo nao consti

78
;e nbaur, Weismann, Claus, Dohm, etc., nem todos Italia
l as mesmas posi<;5es religiosas ou ideol6gicas.
Se medirmos 0 sucesso do Darwinismo pel a sua
ers an os do Darwinismo foram cientistas mais idosos, vulgariza<;ao, poderemos dizer que, em ItMa, ele foi not3.vel
; ortodoxos do ponto de vista religioso, com melhores ate ao fim do seculo XIX. A difusao da vulgariza<;ao
;6es profissionais e sociais. Entre e1es, paleontologistas cientffica neste pafs coincidiu com a publica<;ao de
idanos do catastrofismo, anatomistas de forma<;ao 'A origem das especies ' e, por isso, nao e de estranhar
6gica, alguns botfmicos experimentais (para os quais que a It:ilia se inclua no pequeno grupo de na<;5es em que
)rida<;ao de especies eliminaria qualquer eventual 'A origem' foi mais cedo traduzicla (primeira edi<;ao italiana
~encia<;ao evolutiva). Bronn e Virchow sao os mais public ada em 1864). Cientistas, fil6sofos, vulgarizadores
lecidos oponentes ao Darwinismo. Estes e outros e intelectuais em geral esti veram bern representados entre
:rsanos do Darwinismo rejeitaram formas hist6ricas os primeiros Darwinistas italianos: Canestrini, Filippo De
xplica<;ao dos fen6menos observclveis na biodi­ Filippi, Delpino, Mantegazza, De Sanctis, M.Lessona, etc.
.dade actual. Tambem houve, desde logo, detractores como, por
exemplo, 0 anatomista Bianconi, 0 fil6sofo B. Croce e 0
~kel tomou-se professor da Universidade de Jena em soci61ogo V. Pareto (Pancaldi, 1983).
~, tendo af como colegas Strasburger e Gegenbaur,
~ outros. Empreendeu apaixonadamente a divulgaqao A adesao ao Darwinismo - na epoca, a mais alargada
larwinismo, ao ponto de Darwin recear que tanta expressao do evolucionismo - , nao foi, no entanto,
ao, e ferocidade com que Haeckel a defendia, uniforme. Delpino, 0 mais estimado interlocutor italiano
.tassem oposi<;ao asua teoria. No entanto, Haeckel de Darwin, aceitava a evolu<;ao, mas dava-Ihe uma
ufa a selec<;ao urn papel limitado. Para ele, 0 interpreta<;ao religiosa, perspecti vando-a teleologicamente.
tinismo inclufa 0 Lamarquismo e a recapitula<;ao. Foi Fogazzaro, interpretou-a como uma outra expressao da
I respons3.vel pela introdu<;ao no Darwinismo do existencia de Deus, criando urn 'evolucionismo cristao'.
eito de especies 'inferiores' e 'superiores' , que nao Mantegazza, antrop6logo, e Tommasi, positivista, foram
~m na teOlia, fazendo tambem nelaconvergir aspectos cepticos relativamente a selec<;ao natural.
is e intelectuais. Tomou-se, por isso, mais vulnen'ivel
iticas cientfficas, embora 0 seu sucesso como Nas universidades italianas, que eram muitas em finais
larizador da teoria tenha sido crescente (Montgomery, do seculo XIX - consequencia da unifica<;ao de vanos
). Em Portugal, os seus Iivros tiveram 0 maiorexito. estados - , a adesao ao Darwinismo nao constituiu a

79
regra. A seculariza~ao das universidades foi lenta e modemidade. Com as novas perspectivas assim abe
apenas a contrata~ao de professores estrangeiros, acultura espanhola, 0 Darwinismo entrou no pais II
evolucionistas, designadamente em Floren~a e Turim, amplamente (Glick, 1988).
propiciou a extensao do Darwinismo ao ensino (Pancaldi,
1983). Corsi (1985) faz notar que em Italia, tal como o pensamento teocratico, bern radicado em sect(
em Fran~a, se separava a evolu~ao do Darwinismo, tradicionais de grande peso institucional e socio-cultl
dando-se preferencia a Spencer, Haeckel e vers6es op6s-se quanta poude atendencia modem a, seculariz
reformadas doLamarquismo. 0 Lamarquismo persistiu e racionalista . A sociedade espanhola, ml
em Italia nas primeiras decadas do seculo XIX e a isso di vidida, tomava, sempre que possivel, qualquer que '
nao tera sido estranho 0 facto de naturalistas como Bonelli intelectual ou cientffica como pretexto para fun dame
e Lessone terem sido alunos de Lamarck. as suas diferen~as polfticas. E assim, a alian<;a
Igreja com a direita tradicional constituiu uma fn
Tal como noutros paises, as implica~6es do Darwinismo de repudio do Darwinismo, 0 qual, para come
na filosofia, polftica e religiao foram imensas. Positivistas inutilizava a interpreta~ao literal da Bfblia. Porer
e socialistas utilizaram 0 Darwinismo contra 0 poder; os sectarismo nao ficou por aqui. No liberali~
anarquistas foram mais cepticos, pois 0 seu ideal de radical tambem foram frequentes as ati tudes
coopera~ao dificilmente se conciliava com a 'luta pela intransigencia, por vezes ate mal consubstanci,
existencia'. Para Pancaldi (1983),0 prestfgio cientifico (Nunez, 1969).
de Darwin e a sua neutralidade filosofica, polftica e
religiosa, suscitaram uma apropria~ao por doutrinas Pode, portanto, dizer-se que a modemiza~ao cult
diversas e a seculariza~ao iniciada em 1861. Foram estas e cientffica em Espanha come~ou nos anos de 1:
as principais raz6es do seu grande exito na segunda A filosofia positi vista generalizava-se no i
metade do seculo XIX. a partir de 1875. A primeira tradu~ao castelhan :
'A origem das especies' e de 1877, sendo pr
dida, em 1876, da tradu~ao de 'A descend€.
Espanha do homem'. Outras tradu~6es se suceder
No entanto, logo a partir dos primeiros anos do dec
A revolu~ao liberal de 1868 marcou 0 ponto de viragem de 1860, 0 Darwinismo teve em Espanha os
da vida cientffica em Espanha. Estagnada e marginalizada defensores e, sobretudo, os seus contraditores (Nu
anteriormente, encaminhou-se, a partir daf para a 1969).

80
ra. A seculariza<;ao das universidades foi lenta e modemidade. Com as novas perspectivas assim abertas
nas a contrata<;ao de professores estrangeiros, acultura espanhola, 0 Darwinismo entrou no pafs mais
[ucionistas, designadamente em Floren<;a e Turim, amplamente (Glick, 1988).
:>iciou a extensao do Darwinismo ao ensino (pancaldi,
3). Corsi (1985) faz notar que em Italia, tal como o pensamento teocnitico, bern radicado em sectores
Fran<;a, se separava a evolu<;ao do Darwinismo, tradicionais de grande peso institucional e s6cio-cultural,
do-se preferencia a Spencer, Haeckel e vers5es opos-se quanta poude atendencia modema, secularizada
nnadas do Lamarquismo. 0 Lamarquismo persistiu e racionalista. A sociedade espanhola , muito
[tilia nas primeiras decadas do seculo XIX e a isso dividida, tomava, sempre que possfvel, qualquer questao
tern side estranho 0 facto de naturalistas como Bonelli intelectual ou cientffica como pretexto para fundamentar
~ssone terem side alunos de Lamarck. as suas diferen<;as polfticas. E assim, a alian<;a da
Igreja com a direita tradicional constituiu uma frente
;omo noutros pafses, as implica<;5es do Darwinismo de repudio do Darwinismo, 0 qual, para come<;ar,
losofia, polftica e religiao foram imensas. Positivistas inutilizava a interpreta<;ao literal da Bfblia. Porem, 0
:ialistas utilizaram 0 Darwinismo contra 0 poder; os sectarismo nao ficou por aqui. No liberalismo
quistas foram mais cepticos, pois 0 seu ideal de radical tambem foram frequentes as atitudes de
lera<;ao dificilmente se conciliava com a 'luta pela intransigencia, por vezes ate mal consubstanciadas
encia'. Para Pancaldi (1983), 0 prestfgio cientffico (Nunez, 1969).
)arwin e a sua neutralidade filosOfica, politica e
iosa, suscitaram uma apropria<;ao por doutrinas Pode, portanto, dizer-se que a modemiza<;ao cultural
-sas e a seculariza<;ao iniciada em 1861. Foram estas e cientffica em Espanha come<;ou nos anos de 1860.
incipais raz5es do seu grande exito na segunda A filosofia positivista generalizava-se no pais
de do seculo XIX. a partir de 1875. A primeira tradu<;ao castelhana de
'A origem das especies' e de 1877, sendo prece­
dida, em 1876, da tradu<;ao de 'A descendencia
anha do homem'. Outras tradu<;5es se sucederam.
No entanto, logo a partir dos primeiros anos do decenio
'olu<;ao liberal de 1868 marcou 0 ponto de viragem de 1860, 0 Darwinismo teve em Espanha os seus
:la cientffica em Espanha. Estagnada e marginalizada defensores e, sobretudo, os seus contraditores (Nunez,
ionnente, encaminhou-se, a partir daf para a 1969).

81
Assim, varios catedraticos de Historia natural, como No clima de redprocas intransigencias em que,
Antonio Machado y Nunez e Odon de Buen, respecti­ Espanha nesta epoca so 0 concurso de vanos fac t
vamente das Universidades de Sevilha e Barcelona, permitiria a incorpora<;ao do Darwinismo na cie
e Rafael Garcia Alvarez, do Instituto de Granada, de oficial: a moderniza<;ao da investiga<;ao, a generaliz
Ffsica, como Enrique Serrano y Fatigati, do Instituto de do positivismo da escola de Littn~, mais abel
Vitoria, e de Anatomia, como Peregrfn Casanova, inova<;ao cientffica, a discussao da teoria pel as ideol(
da Faculdade de Medicina de Valencia, foram apoiantes polfticas e sociais, foram os factores que contribu
do Darwinismo desde a primeira h~ra. Garcia Alvarez para que tal se verificasse.
foi urn dos principais difusores da teoria darwinista
em Espanha e Casanova foi disdpulo de Haeckel,
cujas obras, tambem em Espanha, desempenharam
urn papel essencial na divulga<;ao do evolucionismo
(Nunez, 1969).

Detractores do Darwinismo tambem os houve e em


grande numero. Logo na abertura do Ano lecti vo
de 1859-1860 da Universidade de Santiago, Jose
Planellas Giralt, catedratico de Historia natural, atacou
o Darwinismo. Jose de Letamendi, do Ateneu de
Barcelona, fa-Io-ia tarnbem, urn ana mais tarde. Francisco
Flores Arenas, catedratico de Medicina da Universidade
de Sevilha, identicamente, na abertura do Ano lectivo
de 1866-1867. Mas, houve mais. Emflio Ruelin,
di vulgador cientffico, Frei Ceferino Gonzalez, antes de
ser arcebispo de Sevilha, Gaspar Nunez de Arce, em
poema, Lucas Garda Martin, catedratico de Medicina
de Salamanca, Juan Vilanova y Piera, catedratico de
Paleontologia de Madrid, etc., sao outras figuras
destacadas do volumoso grupo de anti-darwinistas
(Nunez, 1969).

82
sirn, varios catedraticos de Historia natural, como No clima de recfprocas intransigencias em que vivia
Ironio Machado y Nunez e Odon de Buen, respecti­ Espanha nesta epoca so 0 concurso de varios factores
nente das Universidades de Sevilha e Barcelona, permitiria a incorpora<;ao do Darwinismo na ciencia
~afael Garcia Alvarez, do Instituto de Granada, de oficial: a modemiza<;ao da investiga<;ao, a generaliza<;ao
,ica, como Enrique Serrano y Fatigati, do Instituto de do positivismo da escola de Littn~, mais aberto a
oria, e de Anatomia, como Peregrfn Casanova, inova<;ao cientifica, a discussao da teoria pelas ideologias
Faculdade de Medicina de Valencia, foram apoiantes polfticas e sociais, foram os factores que contribuiram
Darwinismo desde a primeira hora. Garcia Alvarez para que tal se verificasse.
urn dos principais difusores da teoria darwinista
. Espanha e Casanova foi discfpulo de Haeckel,
as obras, tamMm em Espanha, desempenharam
l papel essencial na divulga<;ao do evolucionismo

unez, 1969).

tractores do Darwinismo tamMm os houve e em


nde numero. Logo na abertura do Ano lectivo
1859-1860 da Universidade de Santiago, Jose
nellas Giralt, catednitico de Historia natural, atacou
)arwinismo. Jose de Letamendi, do Ateneu de
celona, fa-Io-ia tamMm, urn ana mais tarde. Francisco
res Arenas, catednitico de Medicina da Uni versidade
~evilha, identicamente, na abertura do Ano lectivo
1866-1867. Mas, houve mais. Emflio Huelin,
ulgador cientffico, Frei Ceferino Gonzalez, antes de
arcebispo de Sevilha, Gaspar Nunez de Arce, em
rna, Lucas Garda Martin, catedratico de Medicina
)alamanca, Juan Vilanova y Piera, catedratico de
~ontologia de Madrid, etc., sao outras figuras
:acadas do volumoso grupo de anti-darwinistas
nez, 1969).

83
Singularidades do Darwinismo em Portugal

Na sec~ao anterior procurou dar-se uma ideia de co


tera side 0 irromper do Darwinismo em paises que, r
tradicionalmente, influenciavam a cultura portuguesa
decenio de 1860, Portugal era urn pafs cientificamt
atrasado. Apenas despontava, no domfnio da Taxono
zoologica, Barbosa du Bocage, que, ate ao fim do sec
desenvolveria notavel produc;ao cientffica (Alm,
1993c). Na Botanica, apos 0 desaparecimento
Brotero em 1828, ainda estava para chegar a ep
grande da Taxonomia, com JUlio Henriques, em Coim
e Pereira Coutinho, em Lisboa.

Nestas condic;6es, nao seria de estranhar que num I


com a conformac;ao religiosa, sociologica e institucic
que Portugal exibia ness a epoca, a di vulgac;ao
Darwinismo, e com ele da evoluc;ao biologica, tive
ocorrido mais tardiamente. Foi 0 que sucedeu noul
paises, afastados da Europa e certo, mas, nem por il
muito diferentes de Portugal no plano cientffico de en
Eo caso do Japao, por exemplo, onde so a partir
1877 se comec;ou a falar de Darwinismo (Shimao, 19:
Mesmo assim, foram estrangeiros que introduziraI
Darwinismo nas Universidades de Toquio e de Qui(
Na China, so a partir de princfpios do seculo )C
Darwinismo foi conhecido (Freeman, 1986).

Em Portugal, como ja se referiu, foi 0 proprio Conse


de professores da Universidade - que dita ,
Singularidades do Darwinismo em Portugal

Na secc;ao anterior procurou dar-se uma ideia de como


tera sido 0 irromper do Darwinismo em pafses que, mais
traclicionalmente, influenciavam a cultura portuguesa. No
decenio de 1860, Portugal era urn pafs cientificamente
atrasado. Apenas despontava, no domfnio da Taxonomia
zoologica, Barbosa du Bocage, que, ate ao fim do seculo,
desenvolveria notavel produc;ao cientffica (Almac;a,
1993c). N a Botanica, apos 0 desaparecimento de
Brotero em 1828, ainda estava para chegar a epoca
grande da Taxonomia, com JUlio Henriques, em Coimbra,
e Pereira Coutinho, em Lisboa.

Nestas condic;6es, nao seria de estranhar que num pafs


com a conformac;ao religiosa, sociologica e institucional
que Portugal exibia nessa epoca, a divulgac;ao do
Darwinismo, e com ele da evoluc;ao biologica, tivesse
ocorrido mais tardiamente. Foi 0 que sucedeu noutros
pafses, afastados da Europa e certo, mas, nem por isso,
muito cliferentes de Portugal no plano cientffico de entao.
E 0 caso do Japao, par exemplo, onde so a partir de
1877 se comec;ou a falar de Darwinismo (Shimao, 1981).
Mesmo assim, foram estrangeiros que introduziram 0
Darwinismo nas Universidades de Toquio e de Quioto.
Na China, so a partir de princfpios do seculo XX 0
Darwinismo foi conhecido (Freeman, 1986).

Em Portugal, como ja se referiu, foi 0 proprio Conselho


de professores da Universidade - que ditava as

85
quest6es de doutoramento - , a demonstrar grande apenas em poucas universidades a recep<;ao foi positi1
curiosidade pel a evolu<;ao biologic a e suas causalidades tal como sucedeu na Alemanha nas universidad
e a desejar ve-la discutida. 0 encadeamento das quest6es perifericas e menos conceituadas. Na Noruega
colocadas a Paulino d'Oliveira, em 1861, e a Julio Darwinismo foi introduzido tardiamente na Academia (
Henriques, em 1865, e muito sugestivo a este respeito. Ciencias (1869) e na Universidade de Oslo (anos
A documentada resposta de Paulino d'Oliveira enquadra­ 1870), encontrando forte oposi<;ao em cfrcul
-se na perspectiva criacionista, sem que Darwin ou universitanos, a ponto de Axel Blytt (1843-1898), 1=
mesmo Lamarck sejam chamados acola<;ao (Alma<;a, ser darwinista, ter dificuldades em tornar-se profes~
1997). A de Julio Henriques foi a que se viu na sec<;ao da Universidade de Oslo (Lie, 1985).
respectiva deste livro.

Ha, no entanto, que real<;ar que Julio Henriques, logo no A Universidade e 0 debate cientifico
ana seguinte (1866) e por sua propria iniciativa, pois se
tratava agora de uma disserta<;ao para 0 lugar de A singularidade da Universidade portuguesa esta, n
professor substituto, estendeu 0 Darwinismo aespecie so em ser ela propria a fomentar a discussao
humana. Note-se que esta logica e inevitavel decorrencia Darwinismo, como tambem em manter acesa, dural
do evolucionismo so foi sufragada por Darwin em 1871. cerca de cinquenta anos, essa inclina<;ao. Com efeito,
o sucesso das provas e da carreira academica de Julio temas evolucionistas tiveram a primazia nos concur.
Henriques tambem sugere que 0 Conselho da Faculdade para docente universitario que se sucederam adisserta~
de Filosofia tinha a deliberada inten<;ao de aprofundar de doutoramento de Julio Henriques (1865): CODCW
urn tema que andava no ar e nao era inocuo. para professor substituto da Universidade de Coirnl
do proprio Julio Henriques (1866); concursos p:
Esta e a primeira especificidade da Universidade professor substituto de Zoologia da Escola Politecn
portuguesa, Hio singular quanta e certo que 0 pafs, nem de Lisboa de Eduardo Bumay (1883) e Baltasar Os6
do ponto de vista sociologico, nem do da sua (1890); concurso para assistente de Ciencias Biologi l
religiosidade tradicional, exibia qualquer prepara<;ao ou da Universidade do Porto de Americo Pires de Li
interesse pela absor<;ao de novidades cientfficas tao (1913). Deve notar-se que, nestes concursos, a esco
revolucionarias. Nao se esque<;a como as institui<;6es do tema ja era do proprio candidato. Nao soubess
cientfficas mais prestigiadas da Gra-Bretanha, Fran<;a e eles ser bern recebida pela institui<;ao a questao escoIb
Alemanha reagiram ao Darwinismo. Em Espanha e ItaIia e, certamente, seleccionariam outra.

86
est5es de doutoramento - , a demonstrar grande apenas em poucas universidades a recep<;ao foi positiva,
riosidade pela evolu<;ao biologica e suas causalidades tal como sucedeu na Alemanha nas universidades
! d.esejar ve-la discutida. 0 encadeamento das quest5es
perifericas e menos conceituadas. Na Noruega, 0
locadas a Paulino d'Oliveira, em 1861, e a Julio Darwinismo foi introduzido tardiamente na Academia das
~nriques, em 1865, e muito sugestivo a este respeito. Ciencias (1869) e na Universidade de Oslo (anos de
jocumentada resposta de Paulino d'Oliveira enquadra­ 1870), encontrando forte oposi<;ao em cfrculos
• na perspectiva criacionista, sem que Darwin ou universiUirios, a ponto de Axel Blytt (1843-1898), por
:smo Lamarck sejam chamados a cola<;ao (Alma<;a, ser darwinista, ter dificuldades em tornar-se professor
n). A de Julio Henriques foi a que se viu na sec<;ao da Universidade de Oslo (Lie, 1985).
pectiva deste livro.

,110 entanto, que real<;ar que Julio Henriques, logo no A Universidade e 0 debate cientifico
) seguinte (1866) e par sua propria iniciativa, pois se
:ava agora de uma disserta<;ao para 0 lugar de A singularidade da Universidade portuguesa esta, nao
fessor substituto, estendeu 0 Darwinismo aespecie so em ser ela propria a fomentar a discussao do
oana. Note-se que esta logica e inevitavel decorrencia Darwinismo, como tambem em manter acesa, durante
~volucionismo so foi sufragada por Darwin em 1871.
cerca de cinquenta anos, essa inclina<;ao. Com efeito, os
ucesso das provas e da carreira academica de Julio temas evolucionistas tiveram a primazia nos concursos
uiques tambem sugere que 0 Conselho daFaculdade para docente universitano que se sucederam adisserta<;ao
:;'ilosofia tinha a deliberada inten<;ao de aprofundar de doutoramento de Julio Henriques (1865): concurso
tern a que andava no ar e nao era inocuo. para professor substituto da Universidade de Coimbra
do proprio Julio Henriques (1866); concursos para
1 e a primeira especificidade da Universidade professor substituto de Zoologia da Escola Politecnica
uguesa, tao singular quanta e certo que 0 pafs, nem de Lisboa de Eduardo Burnay (1883) e Baltasar Osorio
ponto de vista sociologico, nem do da sua (1890); concurso para assistente de Ciencias Biologicas
~osidade tradicional, exibia qualquer prepara<;ao ou
da Universidade do Porto de Americo Pires de Lima
resse pela absor<;ao de novidades cientfficas tao (1913). Deve notar-se que, nestes concursos, a escolha
Ilucionarias. Nao se esque<;a como as institui<;5es do tema ja era do proprio candidato. Nao soubessem
tfficas mais prestigiadas da Gra-Bretanha, Fran<;a e eles ser bern recebida pela institui<;ao a quesffio escolhida
'lanha reagiram ao Darwinismo. Em Espanha e It<ilia
e, certamente, seleccionariam outra.

87

~~
Porem, voltando as dissertac;5es de Burnay e Osorio, ha ja esta esboc;ada na secc;ao introdutoria. Nao 0 (
mais particularidades a realc;ar. A primeira e que ambas sido porque os naturalistas portugueses so acederam
dao a evoluc;ao como facto assente e partem para a conhecimento de 'A origem' atraves de tradu >
resoluc;ao de quest5es de filogenia. A inl1uencia de francesas, de que a primeira surgiu em 1862.
Haeckel e da elegante simplicidade com que este define
a lei biogenetica - simplicidade tao enganosa nas suas A influencia da cultura francesa em Portugal foi enOl
consequencias - , sao notorias nos dois naturalistas ate a Segunda Guerra Mundial. A cultura cientffica,
portugueses. Burnay, preso ao conceito morfologico da particular, foi quase totalmente dominada, durant
gastrula, viu nela a recapitulac;ao que validaria a hipotese seculo xrx, por literatura francesa, original ou traduz;
da Gastraea. Todavia, valorizando mais a forma do que Para 0 comprovar, basta referir a origem da bibliogr.
o processo de gastrulac;ao, tao ligado a hipotese como dos autores cujas dissertaC;5es sao analisadas neste ti '
o seu resultado final, tenta escapar as dificuldades,
hibridando duas teorias alternativas. Henriques (1865) refere cerca de trinta livros ou arti~
todos em frances, a excepc;ao de dois ou tres de Lir
Outra singularidade, vejo-a na forma perspicaz como em latim. Sao naturalistas de lingua francesa os s
Osorio tratou a 'migrac;ao e isolamento' de Moritz autores (Milne-Edwards,Cuvier, De Candolle, Bn
Wagner. Quase chegava a teoria da especiac;ao alopatrica, d'Orbigny, Isidore Geoffroy Saint-Hilaire, BuB
nao fOra a incapacidade de bern entender a selecc;ao Flourens, Lamarck, Naudin, Vogt, etc.) ou britani(
natural e, daf, quere-Ia substitufda por, em vez de como Darwin e Lyell, mas traduzidos em frances.
reforc;ada com, a 'rnigrac;ao e isolamento'.
Burnay (1883) cita menos de uma dezena de ob
todas traduzidas em frances ou originariamente nc
A influencia da cultura francesa lingua, da autoria de Quatrefages, Huxley, Kolliker, a
Haeckel, Ray Lankester, etc.
Nesta conforrnidade, po de perguntar-se por que e que,
entao, 0 Darwinismo so foi discutido na Universidade Osorio ja refere uma meia duzia de trabalhos em in)
em 1865, ou seja, cerca de seis anos depois da primeira (Ray Lankester, FMtiller, Claus, etc.) e cerca de 4(
edic;ao de 'A origem das especies'. Tinha havido em autores de lfngua francesa (Lamarck, E.Perrier
1861, quando do doutoramento de Paulino d'Oliveira, Beneden, Claude Bernard, Milne-Edwards, Bufl
excelente e apropriada ocasiao para 0 fazer. A resposta Blanchard,.Gervais, etc.) ou que escreveram ou fOJ

88
rem, voltando as dissettac;oes de Bumay e Os6rio, ha ja est a esboc;ada na secc;ao introdut6ria. Nao 0 tera
lis particularidades a realc;ar. A primeira e que ambas sido porque os naturalistas pottugueses s6 acederam ao
o a evoluc;ao como facto assente e pattern para a conhecimento de 'A origem' atraves de traduc;oes
;oluc;ao de questoes de filogenia. A influencia de francesas , de que a primeira surgiu em 1862.
teckel e da elegante simplicidade com que este define
~i biogenetica - simplicidade tao enganosa nas suas A influencia da cultura francesa em Pottugal foi enorme
nsequencias - , sao not6rias nos dois naturalistas ate a Segunda Guerra Mundial. A cultura cientffica, em
rtugueses. Bumay, preso ao conceito morfol6gico da patticular, foi quase totalmente dominada, durante 0
;trula, viu nela a recapitulaC;ao que validaria a hip6tese seculo XIX, por literatura francesa, original ou traduzida.
Gastraea. Todavia, valorizando mais a forma do que Para 0 comprovar, basta referir a origem da bibliografia
Irocesso de gastrulac;ao, tao ligado a hip6tese como dos autores cujas dissertac;oes sao analisadas neste livro.
;eu resultado final, tenta escapar as dificuldades,
lridando duas teorias alternativas. Henriques (1865) refere cerca de trinta livros ou artigos,
todos em frances, a excepc;ao de dois ou tres de Lineu,
rra singularidade, vejo-a na forma perspicaz como em latim. Sao naturalistas de lfngua francesa os seus
5rio tratou a 'migrac;aoe isolamento' de Moritz autores (Milne-Edwards, Cuvier, De Candolle, Broca,
gner. Quase chegava a teoria da especiaC;ao alopatrica, d'Orbigny, Isidore Geoffroy Saint-Hilaire, Buffon,
) fOra a incapacidade de bern entender a selecc;ao Flourens, Lamarck, Naudin, Vogt, etc.) ou britanicos,
ural e, daf, quere-la substitufda por, em vez de como Darwin e Lyell, mas traduzidos em frances.
)rc;ada com, a 'rnigrac;ao e isolamento' .
Burnay (1883) cita menos de uma dezena de obras,
todas traduzidas em frances ou originariamente nesta
rljluencia da cultura francesa lingua, da autoria de Quatrefages, Huxley, Kolliker, Claus,
Haeckel, Ray Lankester, etc.
;ta confonnidade, pode perguntar-se por que e que,
10,0 Darwinismo s6 foi discutido na Universidade Os6rio ja refere uma meia duzia de trabalhos em ingles
1865, ou seja, cerca de seis anos depois da primeira (Ray Lankester, F.Mliller, Claus, etc.) e cerca de 40 de
;ao de 'A origem das especies ' . Tinha havido em autores de lfngua francesa (Lamarck, E.Perrier, Van
1, quando do doutoramento de Paulino d'Oliveira, Beneden, Claude Bernard, Milne-Edwards, Buffon,
~lente e apropriada ocasiao para 0 fazer. A resposta Blanchard, Gervais, etc.) ou que escreveram ou foram

89
traduzidos em frances como Haeckel, Oken, Virchow, Conforme ja se referiu em 'Lamarquismo e Darwinism
Herbert Spencer, Huxley, Darwin, Moritz Wagner, jornais e revistas posi ti vistas vefcularam as idei
Lombroso, Wallace, Lyell, Gegenbaur, etc. evolucionistas. Em tal extensao, participaram profesSOl
universitfuios, mas nao so; outros intelectuais republican
E, portanto, plausfvel que 0 conhecimento do Darwinismo e positivistas colaboraram na divulga~ao do DarwiniSII
tenha sido retardado entre nos sobretudo pela
dependencia de bibliografia em lfngua francesa por parte Albino Giraldes (1826-1888), professor de Zoologia
dos naturalistas portugueses. Universidade de Coimbra, publicou 0 texto de ur
conferencia sobre Darwinismo que devetia ter si
proferida no Clube Conimbricense, mais tarde Grerr
o Darwinismo sai da Universidade Literario Conimbricense, em 1877, mas que nao 0 j
por circunstancias imprevistas (Giraldes, 1878). Cc
Outra questao que sera de interesse estudar, visto que inspira~ao positivista e prosa literana e anti-cleric
a adesao dos nossos naturalistas ao evolucionismo parece Giraldes af exp5e os fundamentos do Darwinis[
evidente, e a de saber quando e como as ideias sobre inicial (Alma~a, 1993a), resvalando embora para
a evolu<;ao e 0 Darwinismo passaram da Universidade interven~5es sociais do Darwinismo.

para a educa~ao a nfvel secundario.


Julio de Matos (1856-1922), medico e positivi~
Nos Estados Unidos, onde 0 Darwinismo se tornou comtiano, publicou urn longo ensaio (Matos, 1879) cc
dorninante na comunidade cientffica logo apos 1859, essa dois objecti vos essenciais. 0 primeiro e 0 de justiiica
passagem foi relativamente nipida e, a partir da decada recusa de Auguste Comte em aceitar, em 1836,
de 1880, come~aram a surgir textos escolares transformismo. 0 segundo e 0 de explicar por que eq
contemplando a perspectiva evolucionista (Larson, 1987). aluz do positivismo coetaneo 0 transformismo se de'
Em Portugal, isso esta por esclarecer, embora certos integrar na verdade cientffica. Como facilmente
livros dos princfpios do seculo XX e destinados ao ensino depreende a diferen~a esta nas causalidades, insuficienl
liceal ou estreitamente relacionados com as marerias nele e ingenuas as de Lamarck, confirmada e categ6ric,
professadas nas classes terminais,ja abordem 0 tema 54 . selec~ao natural (Matos, 1879).

A extensao do Darwinismo ao grande publico tambem Outro positivista, Horacio Esk Ferrari, aplicou, em tenn
se verificou em Portugal no perfodo de 1865-1890. apologeticos, 0 Darwinismo social a Portugal (Ferra

90
uzidos em frances como Haeckel, Oken, Virchow, Conforme ja se referiu em 'Larnarquismo e Darwinismo' ,
:rbert Spencer, Huxley, Darwin, Moritz Wagner, jornais e revistas positi vistas vefcularam as ideias
mbroso, Wallace, Lyell, Gegenbaur, etc. evolucionistas. Em tal extensao, participaram professores
uni versitarios, mas nao s6; outros intelectuais republicanos
portanto, plausfvel que 0 conhecimento do Darwinismo e positivistas colaboraram na divulga9ao do Darwinismo.
Iha sido retardado entre n6s sobretudo pela
:>endencia de bibliografia em lfngua francesa por parte Albino Giraldes (1826-1888), professor de Zoologia da
; naturalistas portugueses. Universidade de Coimbra, publicou 0 texto de uma
conferencia sobre Darwinismo que deveria ter sido
proferida no Clube Conimbricense, mais tarde Gremio
Darwinismo sai da Universidade Literario Conimbricense, em 1877, mas que nao 0 foi
por circunstancias imprevistas (Giraldes, 1878). Com
tra questao que sera de interesse estudar, visto que inspira9ao positivista e prosa literaria e anti-clerical,
iesao dos nossos naturalistas ao evolucionismo parece Giraldes af expoe os fundamentos do Darwinismo
dente, e a de saber quando e como as ideias sobre inicial (Alma9a, 1993a), resvalando embora para as
volu9ao e 0 Darwinismo passaram da Universidade interven90es sociais do Darwinismo.
a a educa9ao a nfvel secundario.
Julio de Matos (1856-1922), medico e positivista
s Estados Unidos, onde 0 Darwinismo se tornou comtiano, publicou urn longo ensaio (Matos, 1879) com
oinante na comunidade cientffica logo ap6s 1859, essa dois objectivos essenciais. Oprimeiro e 0 de justificar a
sagem foi relati vamente rapida e, a partir da dec ada recusa de Auguste Comte em aceitar, em 1836, 0
1880, come9aram a surgir textos escolares transfonnismo. 0 segundo e 0 de explicar por que e que
templando a perspectiva evolucionista (Larson, 1987). aluz do positivismo coetaneo 0 transfonnismo se devia
Portugal, isso esta por esclarecer, embora certos integrar na verdade cientffica. Como facilmente se
os dos princfpios do seculo XX e destinados ao ensino depreende a diferen9a esta nas causalidades, insuficientes
al ou estreitamente relacionados com as materias nele e ingenuas as de Lamarck, confirmada e categ6rica a
fessadas nas classes tenninais,ja abordem 0 tema54 • selec9ao natural (Matos, 1879).

:xtensao do Darwinismo ao grande publico tambem Outro positivista, Horacio Esk Ferrari, aplicou, em termos
rerificou em Portugal no periodo de 1865-1890. apologeticos, 0 Darwinismo social a Portugal (Ferrari,

91
1879). Considerando os portugueses "uma rac;a organi­ Notas
camente atrasada", 0 seu aperfeic;oamento s6 seria
posslvel atraves da "sobrevivencia dos indivfduos melhor I 0 fundador da Academia Real das Ciencias de Lisboa ( 1
adaptados". Afinal, 0 que verdadeiramente preocupava DJoao de Braganc;a (1719-1806), segundo duque de LaI0e5
este positivista - que nao compreendeu 0 que uma interessante personalidade do Iluminismo portug
Darwin, se e que 0 leu, quis significar com 'selecc;ao Estudou Humanidades e Filosofia e Direito Canonico. Vivel
Inglaterra durante 0 go verno do Marques de Pombal, ap
natural' - , e que fosse dada "a preferencia dos incapazes
regressando a Portugal apos a morte de DJose. Com 0
nos cargos publicos." desaparecimento a Academia perdeu muito do fulgor q l
caracterizou nas ultimas duas decadas do seculo XVIII .
Tambem Eduardo Bumay publicou, de Agosto a
Dezembro de 1881, no jornal 'Comercio de Portugal', 2 Ver de Vitorino Nemesio, Exilados (1828-1832), s.d.,
urna serie de artigos de inspirac;ao darwiniana C8umay, Bertrand, Lisboa.

1881). Trata-se de urna replica a crftica que Oliveira


3 A traduc;ao e minha. Ver 1.-B.-P.-A.Lamarck [1994, 304] .
Martins diIigiu a urn seu livro, replica que 0 autor
englobou no titulo geral de 'Uma controversia 4 Romanes (1895) percebeu esta questao com toda a clru
antropol6gica' (Alrnac;a, 1995). distinguindo os 'darwinistas' dos 'neo-darwinistas' . Tam
Mayr (1982a, 4-6) tern abordado, modernamente, a queslli.o ,
Enfim, referir-se-a Francisco de Arruda Furtado (1854­ relaciona com as diferentes interpretac;oes sobre 0 desemp<
1887), que foi 0 grande popularizador do Darwinismo evolutivo da 'hereditariedade phistica' (soft heredity) (
'hereditariedade dura' (hard heredity) .
na epoca em causa. Nern 0 ataque do clero ac;oriano
local 0 impediu de publicar uma obra vasta neste dominio,
5 V. nota 4. Romanes (1895, 12) refere-se concretamente it ~
obra que ja foi anteriormente comentada (Almac;a, 1997). 'neo-darwiniana', ou 'ultra-darwiniana', tennos que afirm
Arruda Furtado, republicano e positivista littriano, criado anos antes para distinguir 0 seleccionismo puro de Wa
procurou, inclusivamente, realizar investigac;ao sobre e Weismann, exc1usiva causalidade evolutiva para estes auli
biogeografia causal ac;oriana. Para isso, manteve relac;5es . do Darwinismo inicial, que concede tambem ao uso algum p
epistolares com Darwin, brevemente interrompidas, tal evolutivo.
como a investigac;ao projectada, pela morte, em 1882,
6 Ver Genesis, capItulo 8.
do celebre naturalista ingles.
7 Hip6tese defendida, entre outros, por Agassiz (1 84
d'Orbigny et Gente (1851) .

92
9). Considerando os portugueses "urna rac;a organi­ Notas
nente atrasada", 0 seu aperfeic;oarnento s6 seria
sfvel atraves da "sobrevivencia dos indivfduos rnelhor 1 0 fundador da Academia Real das Ciencias de Lisboa (1779),
lptados". Afinal, 0 que verdadeiramente preocupava DJoao de Braganr;a (1719-1806), segundo duque de LafOes, foi
e positivista - que nao cornpreendeu 0 que uma interessante personalidade do Iluminismo portugues.
l'.vin, se e que 0 leu, quis significar com 'selecc;ao Estudou Humanidades e Filosofia e Direito Canonico. Viveu em
Inglaterra durante 0 go verno do Marques de Pombal, apenas
llTal' -, e que fosse dada "a preferencia dos incapazes
regressando a Portugal ap6s a morte de DJose. Com 0 seu
,cargos pUblicos."
desaparecimento a Academia perdeu muito do fulgor que a
caracterizou nas ultimas duas decadas do secuJo XVIII.
nbern Eduardo Bumay publicou, de Agosto a
~.ernbro de 1881, no jomal 'Comercio de Portugal', 2 Ver de Vitorino Nemesio, Exilados (1828-1832), s.d., 149,
a serie de artigos de inspirac;ao darwiniana (Burnay, Bertrand, Lisboa.
:1). Trata-se de uma replica a crftica que Oliveira
3 A tradur;ao e minha. Ver l-B.-P.-A.Lamarck [1994, 304] .
rtins dirigiu a urn seu livro, replica que 0 autor
)obou no titulo geral de 'Uma controversia
4 Romanes (1895) percebeu esta questao com toda a c1areza,
'opoI6gica' (Almac;a, 1995). distinguindo os 'darwinistas' dos 'neo-darwinistas ' . Tambem
Mayr (1982a, 4-6) tern abordado, modemamente, a questao, que
lin, referir-se-a Francisco de Arruda Furtado (1854­ relaciona com as diferentes interpretar;oes sobre 0 desempenho
7), que foi 0 grande popularizador do Darwinismo evolutivo da 'hereditariedade pi<istica' (soft heredity) e da
~poca em causa. Nem 0 ataque do clero ac;oriano 'hereditariedade dura' (hard heredity).

J 0 impediu de publicar urna obra vasta neste dornfnio,


5 V. nota 4. Romanes (1895, 12) refere-se concretamente aescoJa
1 que ja foianteriormente comentada (Almac;a, 1997).
'neo-darwiniana', ou 'ultra-darwiniana', term os que afirma ter
ucla Furtado, republicano e positivista littriano, criado anos antes para distinguir 0 seleccionismo puro de Wallace
;urou, inclusivamente, realizar investigac;ao sobre e Weismann, exc1usiva causalidade evolutiva para estes autores,
:eografia causal ac;oriana. Para isso, manteve relac;6es . do Darwinismo inicial, que concede tam bern ao uso algum papel
(olares com Darwin, brevemente interrompidas, tal evolutivo.
10 a investigac;ao projectada, pela morte, em 1882,
6 Ver Genesis, capitulo 8.
elebre naturalista ingles.

7 Hipotese defendida, entre outros, por Agassiz (1841) e

d'Orbigny et Gente (1851).

93
8 Diversos autores defenderam a cria~ao multipla. Ver, por 15 Lovejoy [1978, 56]. Para a genese dos priDcipios
exemplo, Swainson (1835) e De Candolle (1855). plenitude e da continuidade ver 0 capitulo :2 da obra ame
Ver ainda Mayr (1982b), sobretudo capitulos 7 e 8, e Alo
9 Foi publicada urn analise da disserta~ao apresentada por
(1993a).
Manuel Paulino d'Oliveira (Oliveira, 1862) por Alma~a (1997).
Paulino d'Oliveira acabou por se basear em De Candolle (1855), 16 Este facto e amplamente referido por historiadores da Biole
o grande tratado de fitogeografia fixista que explica a distribui~ao Ver Nordenskiold (1928, 38-39), Singer [1989,42-43], Cole (l
geografica das plantas atraves da existencia, no passado, · de 26-27) e Alma~a (1991).
centros multiplos de cria~ao.
17 Para Cole (1944, 28), indubitavelmente que estava.
!OCom efeito, apenas na pagina 15 ha uma referencia a Darwin
(Henriques, 1865). No entanto, s6 na pagina 73 nos aperce­ 18E na terceira parte do tomo IV de Bonnet (1781), intitu
bern os de que seguiu uma tradu~ao francesa de 'A origem das 'Vista geral da progressao gradual dos seres' , que ele aprese
especies' . em 30 capftulos, a descri~ao da natureza.

IIA constata~ao e do proprio Henriques (1865, 17) e baseada 19 As ideias de harmonia do universo, continuidad
emCuvier[l992,113-114]. gradualidade da natureza perpassam a obra de Buffon. Ver,
particular, Buffon (1749, t.I, 'Premier discours'; 1765, tXIII,
12 Nas pr6prias palavras de Darwin [1981, 72]: " ... estou
la nature').
fortemente inclinado para suspeitar que a mais frequente causa
da variabilidade pode atribuir-se ao facto de os elementos 20 Buffon (1766, t.XIV, 28) . Como Mayr (1982b, 336) obser
reprodutores masculino e feminino terem sido afectados antes a generaliza~ao de Buffon com base nos estudos anat6mico
do acto da concep~ao". seu colaborador Daubenton, foi essencial par.
desenvolvimento do conceito de 'unidade do tipo', por
13 E.Mayr tern apresentado em varias obras discussoes sobre os lado indispensavel 11 emergencia da morfologia idealist
conceitos de especie e suas implica~6es na Biologia evolutiva. subsequentemente, da anatomia com parada.
Ver Mayr (1982b, capitulo 6). Ver ainda, pois sao marcantes na
genese dos modern os conceitos de espeGie , Mayr (1942) e 21 Debate magnificamente comentado, bern como
Stebbins (1950) . personalidades cientfficas de Etienne Geoffroy e Cuvier.
Appel (1987).
14De Darwin [1981, 104] : "Por isso, na decisao sobre se uma
forma deve ser hierarquizada como especie ou como variedade 22John Ray viveu de 1627 a 1705. Uma completa mODogr
s6 a opiniao de naturalistas muito experimentados parece ser de sobre este naturalista foi publicada por Raven (1950) . Sob
seguir." 'especie' ver, em particular, Raven (1950, 189-190).

94
Diversos autores defenderam a cria<;:ao multipla. Vcr, por
L\ Lovejoy [1978, 56]. Para a genese dos princlplOs da
(emplo, Swainson (1835) e De CandoJle (1855).
plenitude e da continuidade ver 0 capitulo 2. da obra anterior.
Ver ainda Mayr (1982b), sobretudo capftulos 7 e 8, e Alma<;:a
Foi publicada urn analise da disserta<;:ao apresentada por
(I 993a).
!an uel Paulino d ' Oliveira (Oliveira, 1862) por Alma<;:a (1997).
lUlino d 'Oliveira acabou por se basear em De Candolle (1855),
16 Este facto e amplamente referido por historiadores da Biologia.
grande tratado de fitogeografia fixista que explica a distribui<;:ao
Ver Nordenskiold (1928, 38-39), Singer [1989,42-43], Cole (1944,
:ografica das plantas atraves da existencia, no passado, de
26-27) e Alma<;:a (1991).
OlIOS multiplos de cria<;:ao.

17 Para Cole (1944, 28), indubitavelmente que estava.


Com efeito, apenas na pagina 15 ha uma referencia a Darwin
[enriques, 1865) . No entanto, s6 na pagina 73 nos aperce­
18 E na terceira parte do tomo IV de Bonnet (1781), intitulada
mos de que seguiu uma tradu<;:1io francesa de 'A origem das
'Vista geral da pro.gressao gradual dos seres', que ele apresenta,
Jecies' .
em 30 capftulos, a descri<;:ao da natureza.

A. constata<;:ao e do proprio Henriques (1865, 17) e baseada


19 As ideias de harmonia do universo, continuidade e
I Cuvier[1992, 113-114].
gradualidade da natureza perpassam a obra de Buffon. Ver, em
particular, Buffon (1749, t.l, 'Premier discours'; 1765, tXIII, 'De
)las proprias palavras de Darwin [1981, 72]: " ... estou
la nature').
temente incJinado para suspeitar que a mais frequente causa
variabilidade pode atribuir-se ao facto de os elementos
20 Buffon (1766, t.XIV, 28) . Como Mayr (1982b, 336) observou,
Ifod utores masculino e feminino terem sido afectados antes
a generaliza<;:ao de Buffon com base nos estudos anatomicos do
acto da concep<;:ao".
seu colaborador Daubenton , foi essencial para 0

desenvolvimento do conceito de 'unidade do tipo', por seu


:.Mayr tern apresentado em varias obras discuss6es sobre os
lado indispensavel a emergencia da morfologia idealista e,
._eitos de especie e suas implica<;:6es na Biologia evolutiva.
subsequentemente, da anatomia comparada.
Mayr (l982b, capitulo 6). Ver ainda, pois sao marcantes na
te5e dos modernos conceitos de especie , Mayr (1942) e
21 Debate magnificamente comentado, bern como as
l biflS (1950).
personalidades cientificas de Etienne Geoffroy e Cuvier, por
Appel (1987).
Ie Darwin [1981, 104]: "Por isso, na decisao sobre se uma
oa deve ser hierarquizada como especie ou como variedade
12 John Ray viveu de 1627 a 1705. Uma completa monografia
opiniao de naturalistas muito experimentados parece ser de
sobre este naturalista foi publicada por Raven (1950). Sobre a
!ir. n
'especie' ver, em particular, Raven (1950,189-190).

95
23 Entre elas 0 uso e desuso, bern como a acc;:ao directa das Metschnikoff, que descobriu ser a digestao nos metaz '
condic;:oes ffsicas da vida. Estas componentes lamarquista e primitivos intracelular e fagocftica, defendeu que 0 ascen e
geoffroyista que Darwin intufa actuarem atraves dos elementos dos metazoarios nao necessitaria de boca nem de intesti
reprodutores, fazem do Darwinismo inicial uma teoria tam bern Com efeito, nos Celenterados, 0 grupo que estaria mais pro:ti
receptiva a 'hereditariedade plastica'. Ver nota 4. da gastraea, a larva - parenqufmula, ou pta.nula - , e sOli
Tambem neste grupo, a endoderme raramente se forma
24 Recorde-se que a lei da recapitulac;:ao foi enunciada numa invaginac;:ao. Sao mais frequentes os processos de delamina
epoca em que a hereditariedade dos caracteres adquiridos era (segregac;:ao de grupos celulares, com ou sem mitoses, cada
tida por certa. constituindo urn folheto germinativ~). Ver Hyman (19
248-283). Por outro lado, desde cedo se controverteu tamb§
Garstang (1922) foi urn dos seus primeiros crfticos de conjunto.
25 realidade da gastrula como unidade morfologica. 0 embl
Nao so criticou a recapitulac;:ao em si, como tambem a sua didermico assume formas muito variadas e nao relaciona
causalidade. Com efeito, Haeckel considerou a filogenia como umas com as outras. Assim sendo , defendeu Paste.
a causa medinica da ontogenia. Reconhecendo a recapitulac;:ao a gastrulac;:ao nao pode ser definida morfologicamente, ape
como inspiradora para a paleontologia, mas geradora de funcionalmente . Num interessante artigo, Sacarrao (19:
confusao em embriologia, Garstang faz notar que a sucessao seguidor da linha de Pasteels, define a gastrulac;:ao cc
filetica de adultos - que da corpo afilogenia - , e 0 produto de o processo ontogenico que assegura a disposic;:ao essen·
ontogenias sucessivas. Por isso, a ontogenia nao recapitula a e definitiva dos materiais para a organogenese, conduzi
filogenia; cria-a. Na medida em que cada adulto resulta do seu a diferenciayao de dois grupos celulares - ectoderm
proprio processo de desenvolvimento, qualquer modificac;:ao endoderme - , fisiologicamente antagonistas.
nesse adulto significa uma modificayao na sua ontogenia. Assim,
o que a embriogenia de uma especie nos revel a e urn padrao de 27 E ambfgua a noc;:ao de homologia seguida por Bun
desenvolvimento com vestfgios de ontogenias ancestrais e, daf, que, muito provavelmente, a retirou de Giard [1911] , al
relac;:oes fiJogeneticas com outros organismos. Mas nao revela que cita varias vezes na sua dissertac;:ao. Entende-se [
vestfgios, ainda que tenues, dos seus ascendentes adultos. mesmo exemplificando como fez Giard, 0 que signific
George (1933) apresenta uma perspectiva diferente da para os autores "mesmo valor morfol6gico" e "desenvolvimc
recapitulayao, a de urn paleontologista. Algumas publicayoes paralelo". Boas definic;:oes de 'caracteres homologos' sao a
mais recentes sobre esta interessante questao sao as de de Beer Brusca and Brusca (1990, 25-26): "Caracteres hom61o
(1958), Jagersten (1972), Gould (1977) e Goodwin, Holder and sao os que tern a mesma origem evolutiva, ie a me~
Wylie eds. (1983). base genetica, e a mesma sequencia desenvolvimental"
por outras palavras. " .. . que estao presentes em dois ou [I

26 A formac;:ao do embriao didermico - gastrula - , por thones e sao filogenetica e ontogeneticamente tn


invaginac;:ao era 0 ponto forte da 'teoria' da gastraea. Porem, veis ate ao mesmo caracter nalgum ascendente comum a e:
comec;:ou muito cedo a ser controvertida. Logo na epoca, thones".

96
Entre elas 0 uso e desuso, bern como a acc;:ao directa das Metschnikoff, que descobriu ser a digestao nos metazoarios
ndic;:6es ffsicas da vida. Estas componentes lamarquista e primitivos intracelular e fagocltica, defendeu que 0 ascendente
::offroyista que Darwin intufa actuarem atraves dos elementos dos metazoarios nao necessitaria de boca nem de intestino.
rprodutores, fazem do Darwinismo inicial uma teoria tambem Com efeito, nos Celenterados, 0 grupo que estaria mais proximo
:ceptiva it 'hereditariedade pUistica'. Vel' nota 4. da gastraea, a larva - parenqufmula, ou planula - , e solida.
Tambem neste grupo , a endoderme raramente se forma por
Recorde-se que a lei da recapitulac;:ao foi enunciada numa invaginac;:ao. Sao mais frequentes os processos de delaminac;:ao
oca em que a hereditariedade dos caracteres adquiridos era (segregac;:ao de grupos celulares, com ou sem mitoses, cada urn
La pOI' certa .
constituindo urn folheto germinativo) . Ver Hyman (1940,
248-283). Por outro lado, desde cedo se controverteu tambem a
Jarstang (1922) foi urn dos seus primeiros crfticos de conjunto. realidade da gastrula como unidade morfologica. 0 embriao
to so criticou a recapitulac;:ao em si, como tambem a sua didermico assume formas muito variadas e nao relacionadas
lSalidade. Com efeito, Haeckel considerou a filogenia como umas com as outras. Assim sendo , defendeu Pasteels ,
:ausa mecanica da ontogenia. Reconhecendo a recapitulac;:ilo a gastrulac;:ao nao pode s.e r definida morfologicamente, apenas
1110 inspiradora para a paleontologia, mas geradora de funcionalmente . Num interessante artigo , Sacarrao (1952) ,
llusilo em embriologia, Garstang faz notar que a sucessao seguidor da linha de Pasteels, define a gastrulac;:ao como
:tica de adultos - que da corpo it filogenia - , e 0 produto de o processo onrogenico que assegura a disposic,:ao essencial
ogenias sucessivas. Por isso, a ontogenia nao recapitula a e definitiva dos materiais para a organogenese, conduzindo
Igenia; cria-a. Na medida em que cad a adulto resulta do seu it diferenciac;:ao de dois grupos celulares - ectoderme e
prio processo de desenvolvimento, qualquer modificac;:ao endoderme - , fisiologicamente antagonistas.
se adulto significa uma modificac;:ao na sua ontogenia. Assim,
Ie a embriogenia de uma especie nos revel a e urn padrao de 27 E ambfgua a noc;:ao de homologia seguida par Burnay,
~nvolvimento com vestfgios de ontogenias ancestrais e, daf, que, muito provavelmente, a retirou de Giard [1911], autor
r;6es filogeneticas com outros organismos. Mas nao revela que cita varias vezes na sua dissertac;:ao. Entende-se mal,
i gios, ainda que tenues, dos seus ascendentes adultos. mesmo exemplificando como fez Giard , 0 que significava
Irge (1933) apresenta uma perspecti va di ferente da para os autores "mesmo valor morfologico" e "desenvolvimento
pitulac;:ao, a de urn paleontologista. Algumas pubJicac;:6es paralelo" . Boas definic;:6es de 'caracteres homologos' sao as de
; recentes sobre esta interessante questao sao as de de Beer Brusca and Brusca (1990, 25-26): "Caracteres homologos
8), Iagersten (1972), Gould (1977) e Goodwin, Holder and sao os que tern a mesma origem evolutiva, ie a mesma
e eds. (1983).
base genetica, e a mesma sequencia desenvolvimental" ou,
por outras palavras. "". que estao presentes em dois ou mais
formac;:ao do embriao didermico - gastrula _, por taxones e sao filogenetica e ontogeneticamente trac;:a­
;nac;:ao era 0 ponto forte da 'teoria' da gastraea. POl'em, veis ate ao mesmo caracter nalgum ascendente comum a esses
~o u muito cedo a ser controvertida . Logo na epoca, taxones".

97
28 Ver nota 26. e talvez tam bern Tardfgrados - , falta uma autentica
troc6fora. Nos filos deste grupo que sao celomados, 0 cc
29 Quando Burnay escreveu a sua dissertas;ao ainda nao havia tern formas;ao geralrnente esquizocelica. Urn terceiro grupo,e
sido efectuada a distins;ao essencial entre Protost6mios e exibe segmentas;ao espiral, mesoderme originando-s
Deuterost6mios, embora fossem conhecidas sequencias blast6mero 4d e larva troc6fora (nos casos em que 0 em
desenvolvimentais de animais destes dois grandes grupos. nao tern grandes reservas vitelinas). Todos aprese
Enquanto nos primeiros a boca embrionaria (blast6poro) origina esquizoceloma. Inc1uem-se neste grupo os Anelfdeos, Equi
a boca do animal adulto, nos Deuterost6mios 0 blast6poro Pogon6foros , Insectos , Miriapodes e, possivelm'
oblitera-se ou origina 0 anus e a boca e uma neo-formas;ao. Onic6foros. Para Willmer (1990, 354) s6 os grupos c1araIl
A estes dois super-filos de animais bilaterios tem-se conferido celomados devem incluir-se nos Protost6mios s.s. Os
significado evolutivo diferente. Hyman (1940, 30-39) caracteriza­ -celomados serao mais correctamente denominados Spi.
-os como tendencias divergentes na evolus;ao dos bilaterios o grande conjunto de filos antigamente inc1ufdo no supe
a partir de turbelarios acel6ides primitivos. Para urn lado, dos Protost6mios parece, assim, polifiletico . Qu
os Protost6mios - animais com segmentas;ao espiral, aos Deuterost6mios parecem formar urn grupo mais homo~
desenvolvimento determinado, mesoderme originando-se a e talvez relacionado com outro super-filo, 0 dos LofofOl
partir do blast6mero 4d, larva troc6fora. Inc1uiriam os filos De qualquer forma, estes ultimos exibem varios caractere
de Acelomados e Pseudocelomados e mais os Anelideos, Spiralia.
Moluscos, Artr6podes e filos menores relacionados com estes
ultimos. Para 0 outro, os Deuterost6mios - segmentas;ao radial, 30 No passado, aplicou-se por vezes a designas;ao de Gastr
desenvolvimento indeterminado, mesoderme originando­ aos Celenterados por se considerar que representavar
-se a partir de evaginas;5es . do arquentero, larva gastrula de desenvolvimento suspendido. A fase OlyntJII
'dipleurula' .Compreenderiam os filos dos Quetognatas, Ascetta, representa 0 tipo mais simples de estrutura das es(
Equinodermes, Hemicordados e Cordados. As ideias de Hyman _ urn vasa adelgas;ado na base com urn 6sculo na extrerr
sao expressas num filograma (Hyman, 1940, fig.5). Discute-se livre e numerosos poros inalantes na parede; estes I
hoje a real validade evolutiva destes super-filos. Willmer comunicar directamente a agua com a cavidade paraga
(1990) desvaloriza significativamente 0 peso que outrora revestida de coan6citos. 0 Olynthus nao existe no estado a
lhes foi conferido. Assim, uma serie de filos - alguns represent a apenas uma fase jovem do desenvolviment
platieimintas e Gastr6tricos, Nematodes, Nematomorfos, esponjas ca1carias.
Crustaceos, Quelicerados , talvez tambem Rotfferos e
Acantocefalos - , todos inclufdos nosProtost6mios,
exibe apenas limitadas indicas;oes de segmentas;ao espiral e nao 31 Hyman (1940,248-253) sintetiza as hip6teses sobre a (
apresenta nem larva troc6fora, nem mesoderme com origem dos metazoarios prevalecentes ate as primeiras deca<
no blast6mero 4d. A outro grupo de protost6mios - alguns nosso seculo. Contrap5e, designadamente, as ideias de H
platielmintas e Entoproctos, Nemertfneos, Sipunculos, Moluscos as de Metschnikoff e Lankester sobre tal questao. A

98
Yer nota 26. e talvez tambem Tardfgrados - , falta uma autentica larva
troc6fora. Nos filos deste grupo que sao celomados, 0 celom a
Quando Burnay escreveu a sua disserta~ao ainda nao havia tern forma~ao geralmente esquizocelica. Urn terceiro grupo, enfim,
10 efectuada a distin~ao essencial entre Protost6mios e exibe segmenta~ao espiral, mesoderme originando-se no
:uterost6mios, em bora fossem conhecidas sequencias blast6mero 4d e larva troc6fora (nos casos em que 0 embriao
senvolvimentais de animais destes dois grandes grupos. nao tern grandes reservas vitelinas). Todos apresentam
quanto nos primeiros a boca embriomiria (blast6poro) origina esquizoceloma. Incluem-se neste grupo os Anelideos, Equiuros,
)()Ca do animal adulto, nos Deuterost6mios 0 blast6poro Pogon6foros, Insectos, Miriapodes e, possivelmente,
utera-se ou origina 0 anus e a boca e uma neo-forma~ao . OnicOforos. Para Willmer (1990, 354) s6 os grupos claramente
::stes dois super-filos de animais bilatenos tem-se confendo celom ados devem incluir-se nos Protost6mios s.s. Os nao­
niiicado evolutivo diferente. Hyman (1940, 30-39) caracteriza­ -celomados serao mais correctamente denominados Spiralia .
como tendencias divergentes na evolu~ao dos bilaterios o grande conjunto de filos antigamente inclufdo no super-filo
lartir de turbelarios acel6ides primitivos . Para urn lado, dos Protost6mios parece, assim, polifiletico . Quanto
Protost6mios - animais com segmenta~ao espiral, aos Deuterost6mios parecem formar urn grupo mais homogeneo
envolvimento determinado, mesoderme originando-se a e talvez relacionado com outro super-fiIo, 0 dos Lofoforados.
tir do blast6mero 4d, larva troc6fora. Incluiriam os filos De qualquer forma, estes ultimos exibem varios caracteres dos
Acelomados e Pseudocelomados e mais os Anelfdeos, Spiralia.
luscos, Artr6podes e filos menores relacionados com estes
nos. Para 0 outro, os Deuterost6mios - segmenta~ao radial, 30No pass ado, aplicou-se por vezes a designa~ao de Gastreados
Bnvolvimento indeterminado, mesoderme originando­ aos Celenterados por se considerar que representavam urn
a partir de evagina~6es do arquentero, larva gastrula de desenvolvimento suspendido. A fase Olynthus, ou
.Ieurula' .Compreenderiam os filos dos Quetognatas, Ascetta, representa 0 tipo mais simples de estrutura das esponjas
inodermes, Hemicordados e Cordados. As ideias de Hyman - urn vasa adelga~ado na base com urn 6sculo na extremidade
expressas num filograma (Hyman, 1940, fig.5). Discute-se livre e numerosos poros inalantes na parede; estes fazem
a real validade evolutiva destes super-filos. Willmer comunicar directamente a agua com a cavidade paragastnca,
10) desvaloriza significativamente 0 peso que outrora revestida de coan6citos. 0 Olynthus nao existe no estado adulto;
foi conferido. Assim, uma serie de filos - alguns representa apenas uma fase jovem do desenvolvimento das
elmintas e Gastr6tricos, Nematodes, Nematomorfos, esponjas caJcarias.
;tkeos, Quelicerados, talvez tambem Rotfferos e
ntocefalos - , todos inclufdos nos Protost6mios,
: apenas Iimitadas indica~6es de segmenta~ao espiral e nao 31 Hyman (1940, 248-253) sintetiza as hip6teses sobre a origem
.enta nem larva trocOfora, nem mesoderme com origem dos metazoarios prevalecentes ate as primeiras decadas do
last6mero 4d. A outro grupo de protost6mios - alguns nosso seculo. Contrap6e, designadamente, as ideias de Haeckel
~lmintas e Entoproctos, Nemertfneos, Sipunculos, Moluscos as de Metschnikoff e Lankester sobre tal questao. A maior

99
plausibilidade estaria, segundo Hyman, em supor a deriva~ao se adapta ao conceito ainda predominante no seu ter
dos metazoarios a partir de uma colonia, esferica e oca, de celulas (conceito tipoI6gico). Assim, cita casos de varia<;ao eti
f1ageladas . Colonia em que teni ocorrido, primeiramente, uma ecologica, parasitaria, etc.
diferencia<;ao em celulas somatic as e reprodutoras e, depois,
outra diferencia<;ao em celulas perceptivas e locomotoras, por urn 34 Robert Malthus (1766-1834), 0 primeiro dos economista
lado, e nutritivas, por outro, atraves da migra<;ao das ultimas para Cambridge - como 0 denominou Lord Keynes em 1933
o interior. 0 ancestral diploblastico e solido assim formado foi defendeu que: a capacidade de crescimento da popuh
diferentemente denominado : parenqufmula (Metschnikoff), (humana) e muito maior do que a capacidade da terra
planula (Lankester), ou estereogastrula (embriao didermico sem produzir alimentos; a popula<;ao, nao encontrando ObStfiCl
boca nem arquentero, formado por delamina~ao). Neste ancestral aumenta em progressao geometrica; os alimentos aumer
hipotetico, 0 alimento seria captado pel as celulas superficiais e apenas em progressao aritmetica. Daqui deduziu que a dificul4
transmitido as celulas amiboides internas, que tambem de subsistencia exerce uma forte e constante pres sao restr
alimentariam as celulas sexuais. Urn tufo de cflios sensoriais, ou sobre 0 crescimento da popula<;ao. Generalizando para os aniJ
celulas sensoriais especiais, no polo anterior completaria esta e plantas, refere como restri~6es os insucessos da reprodll
representa~ao do ancestral comum a celenterados e platielmintas. a doen<;a e a morte prematura; no homem, a miseria e 0 'i
Meio seculo depois e a despeito do enorme progresso em biolo­ Ver Malthus [1970,53-54].
gia celular e bioqufmica, a situa<;ao nao esta significativamente
melhorada. Willmer (1990, cap.7) reve a questao da origem dos 35 Diga-se de passagem que Lamarck tambem nao, como p
metazoarios, real<;ando dois grupos de teorias: as 'coloniaisl a sequencia causal descrita por Osorio nas paginas 33 a 3
/fIageladas' e as 'sinciciais/multiciliadas'. Ambos os grupos sua disserta<;ao. Osorio, neste ponto, foi iludido pelo auto!
convergem num 'ancestral planular-~celoide' como primeiro transcreveu.
metazoario. A partir daf abrem-se hipoteses de monofiletismo e
polifiletismo na evolu<;ao dos metazoarios, hipoteses que se 36 Mais uma vez, Os6rio foi trafdo pe10 autor que sc
encontram em amplo debate. Para discussao de uma das teorias (Lannessan). A hipotese de Wagner nao contraria em m
do grupo 'sinciciais/multiciliadas' ver Hadzi (1963). evolu~ao por selec<;ao natural. Complementa-a e explica (
o isolamento geografico e genetico sao indispensave i
32Ver nota 30. Na filogenia imaginada por Haeckel, a Gastraea especia<;ao. A hipotese de Wagner, de resto, viria a estar, m
teria originado duas estruturas diferentes: 0 Protascus, de que anos depois, na genese da teoria da especia<;ao alopa
derivariam os Zoofitos, eo Prothelmis, origem dos Vermes. 0 designadamente por efeito fundador. Sobre a teoria da espec
Olynthus seria a recapitula<;ao ontogenica do ascendente comum alop<itrica verMayr (1942,1963,1970).
as esponjas calcarias . Ver Haeckel (1874, 456).
37A forma de Porto Santo, a mesma de resto que a da M<
33Osorio refere formas de variabilidade de diversa causalidade e A<;ores, foi durante muito tempo considerada como peTtetJ
para demonstrar que a especie nao e 'imutfivel' e, por isso, nao a uma subespecie mediterranea do coelho-bravo, OryclO

100
~::.jade estaria, segundo Hyman, em supor a derivação se adapta ao conceito ainda predominante no seu tempo
. - ..:'2oários a partir de uma colónia, esférica e oca, de células (conceito tipológico). Assim, cita casos de variação etária,
~:::':5, Colónia em que terá ocorrido, primeiramente, uma ecológica, parasitária, etc.
em células somáticas e reprodutoras e, depois,
em células perceptivas e locomotoras, por um 34Robert Malthus (1766-1834), o primeiro dos economistas de
" . ,;tritívas, por outro, através da migração das últimas para Cambridge - como o denominou Lord Keynes em 1933 - ,
:r. O ancestral diploblástico e sólido assim formado foi defendeu que: a capacidade de crescimento da população
:~-~-:er:1ente denominado: parenquímula (Metschnikoff), (humana) é muito maior do que a capacidade da terra para
- .:': Lankester), ou estereogástrula (embrião didérmico sem produzir alimentos; a população, não encontrando obstáculos,
__ .."I arquêntero, formado por delaminação). Neste ancestral aumenta em progressão geométrica; os alimentos aumentam
- : :;:'::'::0. o alimento seria captado pelas células superfieiais e apenas em progressão aritmética. Daqui deduziu que a dificuldade
_ :~ltído às células amibóides internas, que também de subsistência exerce uma forte e constante pressão restritíva
~::r:llía'11 as células sexuais. Um tufo de cílios sensoriais, ou sobre o crescimento da população. Generalizando para os animais
.:' sensoriais especiais, no pólo anterior completaria esta e plantas, refere como restrições os insucessos da reprodução,
do ancestral comum a celenterados e platielmintas . a doença e a morte prematura; no homem, a miséria e o vício.
. oé.:do depois e a despeito do enorme progresso em biolo­ Ver Malthus [1970,53-54].
_ : :-.::a, e bioquímica, a situação não está significativamente
-lia, Willmer (1990, cap.7) revê a questão da origem dos 35Diga-se de passagem que Lamarck também não, como prova
realçando dois grupos de teorias: as 'coloniais/ a sequência causal descrita por Osório nas páginas 33 a 36 da
~ ..das' e as 'sinciciais/multicíliadas'. Ambos os grupos sua dissertação. Osório, neste ponto, foi iludido pelo autor que
- t:· ;e'11 num 'ancestral planular-acelóide' como primeiro transcreveu.
A partir daí abrem-se hipóteses de monofiletismo e
:'::;500 na evolução dos metazoários, hipóteses que se 36 Mais uma vez, Osório foi traído pelo autor que seguiu
:-::-'::11 em amplo debate. Para discussão de uma das teorias (Lannessan). A hipótese de Wagner não contraria em nada a
- =, 'sinciciais/multiciliadas' ver Hadzi (1963). evolução por selecção natural. Complementa-a e explica como
o isolamento geográfico e genético são indispensáveis na
:~ :-.~:a 30. Na filogenia imaginada por Haeckel, a Gastraea especiação. A hipótese de Wagner, de resto, viria a estar, muitos
.~ . ~§:inado duas estruturas diferentes: o Protascus, de que anos depois, na génese da teoria da especiação alopátrica,
. ~:-:2:::1 os Zoófitos, e o Prothelmis, origem dos Vermes. O designadamente por efeito fundador. Sobre a teoria da especiação
:,_; seria a recapitulação ontogénica do ascendente comum alopátrica ver Mayr (1942, 1963, 1970).
ê': -':5 calcárias. Ver Haeckel (1874, 456).
37 A forma de Porto Santo, a mesma de resto que a da Madeira
-.: refere formas de variabilidade de diversa causalidade e Açores, foi durante muito tempo considerada como pertencente
~ :'::~."::Estrar que a espécie não é 'imutável' e, por isso, não a uma subespécie mediterrânea do coelho-bravo, Oryctolagus

101
cuniculus huxleyi (Haeckel, 1874). Hoje é incluída na subespécie continuamente de um animal de outra espécie. (-f
O. cuniculus algirus (Loche, 1867), que vive em toda a Europa 'superior' passa, durante o seu desenvolvimento. :::: =­
e ilhas mediterrâneas e atlânticas. Foi prática comum a partir da semelhantes aos estados de desenvolvimento do:,
Idade Média povoar as ilhas que se iam descobrindo com 'inferiores' .
coelhos e outras espécies. Os marinheiros asseguravam-se,
assim, de que, em eventuais regressos às ilhas, aí encontrariam 41 A filogenia do filo dos Artrópodes e dos grandes
algum alimento. De resto, mesmo em circunstâncias diferentes, o constituem - Trilobitomorfos, Queliceriformes, C n::-:~:-:­
utilizaram-se, também a partir da Idade Média, pequenas ilhas Crustáceos é discutida desde há muito, o que, natcc:':-:-~­
situadas em rios ou lagos para conservar coelhos, difíceis de tem incidências na classificação. Ainda que a maioria
manter em recintos fechados. Ver Robin (1984). aceite a origem anelidiana dos Artrópodes, nem se:
questão é incontroversa. Há os que defender:: ­
38 Esta tendência, a existir, conduziria ao que Cuénot (1932,388­ 'artropodização' ocorreu através de duas ou mai:,
389) denominou 'isolamento psíquico'. Bastaria a existência de tal independentes originadas em 'proto-platielmintas·. E:·:~, :~:-:­
forma de isolamento para ser possível qualquer processo de consequentemente, hipóteses monofiléticas, difilé: ~
especiação, inclusi vamente o simpátrico, por cruzamento exclusivo polifiléticas para o conjunto que, aqui, seguindo uma .~.~ :::
entre semelhantes. A experiência não mostra que este seja o caso. monofilética, se designa por 'filo dos Artrópodes'. Porér::. ~:~-­
do filo há ainda questões não solucionadas, decorrend.:
39 Ignoro que publicação consultou Osório para referir a 'selecção indecisão taxonómica: (a) são ou não homólogos os
fisiológica' de Romanes, visto que não cita nenhuma. De qualquer birramosos das trilobites e dos crustáceos? (b) são
forma, o isolamento e a selecção fisiológica formam o corpo da homólogas as mandíbulas dos unirrâmios e as dos ex,:::.
obra de Romanes (1897,3°. voL), portanto publicada anos depois Optei pela taxonomia de Brusca and Brusca (1990) e. ;::::--:':'~:.
da dissertação de Osório. considerarei os grandes grupos de artrópodes re~::­
inicialmente como subfilos. A sistemática seguida por O,.
40K.E.von Baer (1792-1876) foi um dos mais notáveis zoólogos sua dissertação era, pois, bastante diferente da actua:. : : - ­
do século XIX. Verificou, independentemente de Cuvier, que os este assunto intrigante e apaixonante da filogenia e c las;;:~::
quatro grandes tipos de organização animal por este dos Artrópodes e suas subdivisões ver ainda, por
consagrados numa base anátomo-comparativa se distinguem, Anderson (1973) e Willmer (1990).
igualmente, pela embriogenia. A sua concepção tipológica do
desenvolvimento animal está patente nas proposições que se 42 Os Xifosuros são actualmente representados p ~.
englobam na 'lei biogenética de von Baer': (1) durante o espécies distribuídas por três géneros, um dos quais é :...
desenvolvimento os caracteres gerais aparecem antes dos
especiais, (2) a partir dos caracteres mais gerais diferenciam-se 43 A classificação dos Queliceriformes tem
os menos gerais e, finalmente, os especiais, (3) no decurso do controvertida, entre outras razões pela incerteza C2. ~
desenvolvimento um animal de uma espécie diverge taxonómica dos Picnogonídeos (aranhas-do-mar). Per.5a-õ~ ~.

102
lieulus huxleyi (Haeckel, 1874). Hoje e inclufda na subespecie continuamente de urn animal de outra especie, (4) urn animal
cWliculus algirus (Loche, 1867), que vive em toda a Europa 'superior' passa, durante 0 seu desenvolvimento, por estados
a.a s mediterraneas e atlanticas. Foi pnitica Comum a partir da semelhantes aos estados de desef!volvimento dos animais
!Ie Media povoar as ilhas que se iam descobrindo com 'inferiores' .
Ihos e outras especies. Os marinheiros assegura vam-se,
rn, de que, em eventuais regressos as ilhas, af encontrariam 41 A filogenia do filo dos Artropodes e dos grandes grupos que
lID a1imento. De resto, mesmo em circunstancias diferentes, o constituem - Trilobitomorfos, Queliceriformes, Unirramios e
zaram-se, tambem a partir da Idade Media, pequenas i1has Crustaceos - , e discutida desde ha muito, 0 que, natural mente
ldas em rios ou lagos para conservar coelhos, diffceis de tern incidencias na classificar;ao. Ainda que a maioria dos autores
,ler em recintos fechados . Ver Robin (1984). aceite a origem anelidiana dos Artropodes, nem sequer esta
questao e incontroversa. Ha os que defendem que a
ta tendencia, a existir, conduziria ao que Cuenot (1932,388­ 'artropodizar;:ao' ocorreu atraves de duas ou mais linhas
denominou 'isolamento psfquico'. Bastaria a existencia de tal independentes originadas em 'proto-platielmintas'. Existem,
13 de isolamento para ser possivel qualquer processo de consequentemente, hip6teses monofileticas, difileticas e
:iac;:ao, inclusivamente 0 simpatrico, por clUzamento exclusivo polifileticas para 0 conjunto que, aqui, seguindo uma hipotese
semelhantes. A experiencia nao mostra que este seja 0 caso. monofiletica, se designa por 'filo dos Artropodes' . Porem, dentro
do filo ha ainda questoes nao solucionadas, decorrendo disso
lOra que publicar;:ao consultou Osorio para referir a 'selecr;:ao indecisao laxonomica: (a) sao ou nao hom610gos os apendices
6gica' de Romanes, visto que nao cita nenhuma. De qualquer birramosos das trilobites e dos crustaceos? (b) sao ou nao
!l, 0 isolamento e a selecr;ao fisiologica formam 0 corpo da hom610gas as mandibulas dos unirramios e as dos crustaceos?
de Romanes (1897, 3°. voL), portanto pubJicada anos depois Optei pela taxonomia de Brusca and Brusca (1990) e, portanto,
--ertar;:ao de Osorio. considerarei os grandes grupos de artr6podes referidos
inicialmente como subfilos. A sistematica seguida por Osorio na
:.von Baer (1792-1876) foi urn dos rna is notaveis zoo logos sua dissertar;:ao era, pois, bastante diferente da actual. Sobre
:ulo XIX. Verificou, independentemente de Cuvier, que os este assunto intrigante e apaixonante da filogenia e classificar;ao
o grandes tipos de organizar;:ao animal por este dos Artr6podes e suas subdivisoes ver ainda, por exemplo,
grados numa base anatomo-comparativa se distinguem, Anderson (1973) e Willmer (1990).
aente, pela embriogenia. A sua concepr;:ao tipol6gica do
'olvimento animal esta patente nas proposir;:oes que se 42 Os Xifosuros sao actualmente representados por cinco
lam na 'lei biogenetica de von Baer ' : (1) durante 0 especies distribufdas por tres generos, urn dos quais e Limulus.
,'ol vimento os caracteres gerais aparecem antes dos
ais , (2) a partir dos caracteres mais gerais diferenciam-se 43 A classificar;:ao dos Queliceriformes tern sido muito
lOS gerais e, finalmente, os especiais, (3) no decurso do controvertida, entre outras razoes pel a incerteza da posir;:ao
"oh imento urn animal de uma especie diverge taxon6mica dos Picnogonideos (aranhas-do-mar). Pensa-se hoje

103
que os Picnogonfdeos serao urn grupo-irmao dos Quelicerados padrao mais generalizado e os Escorpionfdeos, a despei
e, por isso, atribue-se a ambos os grupos a hierarquia taxon6mica especiaJizac;:6es que exibem, a maior aproximac;:ao daquele
de 'classe' . Nos Quelicerados incluem-se duas sub-classes : Os restantes aracnfdeos compartilham urn pad r­
Merostomados e Aracnfdeos. Os Merostomados, provavelmente desenvolvimento que podeni ter derivado do dos Xifo.
existentes desde 0 Pre-cambrico tardio, exibem 0 prossoma mas nao do dos escorpi6es (Anderson , 1973, 41 j

coberto por urn escudo, olhos compostos, geralmente reduzidos, cladogramas modernamente estabelecidos sugerem q
e tel son longo e agudo. Dentro dos Merostomados, duas ordens: Onicoforos derivaram da linha anelidiana, os Tardfgradt
Euripterfdeos (escorpi6es-de-agua) e Xifosuros (caranguejos­ linha dos Onic6foros e os Artr6podes da dos Tardfgrados,
-de-ferradura) . Os Euripterfdeos - 'mer6stomas' , para isto no Pre-cambrico. Sugerem ainda uma origem comum p;
Os6rio - , viveram ate ao Permico em ambientes aquMicos e Trilobitomorfos, Queliceriformes e Crustaceos, tambem n
estarao na origem dos escorpi6es , inicialmente tam bern aquaticos. cambrico, a origem dos Miriapodes na linha dos Crustac~
Os escorpi6es so transitaram para 0 ambiente terrestre no Ordovfcico, e ados Insectos na linha dos Miriapodes , no S
Carb6nico. Ver Brusca and Brusca (1990). -devonico. Tudo isto seguindo a hip6tese monofiletica da 01

dos Artr6podes (Brusca and Brusca, 1990, 683-686) .


44 Na epoca em que Osorio apresentou a sua dissertac;:ao,
ignorava-se que os escorpionfdeos foram , inicialmente, aquaticos 48 Outros elementos sobre Baltasar Os6rio como carcinoll
e s6 depois invadiram a terra. Sao, por isso, animais e evolucionista podem ver-se em Almac;:a (l993a ,b) .
secundariamente terrestres.
49 Burkhardt (1977, 6), par exemplo, escreveu: "Os biogra
45 Mais concretamente a vida semi-terrestre, pois estes Lamarck da viragem do seculo investiram-se, caracteristicar
caranguejos - certas especies de Geqcarcinfdeos, Ocipodfdeos da dupla tarefa de recuperar Lamarck da obscuridade pal
e Grapsfdeos - , dependem da agua do mar para a reproduc;:ao tinha sido projectado por Cuvier e promover a cau:
e desenvolvimento larvar. As branquias destes caranguejos explicac;:ao neo-Iamarquista da evoluc;:ao." Para Conry (197
estao protegidas em camaras semi-fechadas onde a humidade e o Lamarquismo servira, ate 1870, "para contestar a origina
conservada. de Darwin ou para 0 desacreditar subtilmente, e clandestina
por assim dizer, na medida em que Lamarck nao estava
46 Nao se trata de uma teia como a que tecem muitas aranhas, relevado das condenac;:6es de Cuvier."
mas sim de filamentos produzidos por uma substancia adesiva.
Tal substancia e segregada por glandulas especiais que abrem 50 Darwin leu 0 livro de Malthus em Outubro de 1838.
na extremidade das papilas orais. 0 onic6foro projecta-a sobre
a presa e a secrec;:ao endurece rapidamente em torno desta. 51 A hist6ria das traduC;:6es francesas de 'A origem das esp
e curiosa. Nero tradutores, nem prefaciadores das ~
47 No que respeita ao desenvolvimento embrionirio, sao os francesas foram cientistas de algum renome, 0 que mos(
Xifosuros que retem, entre os queliceriformes modernos, 0
certo ponto, 0 alheamento do meio cientffico fr

104
! os Picnogonfdeos serao um grupo-irmao dos Quelicerados padrao mais generalizado e os Escorpionfdeos, a despeito das
lOr isso, atribue-se a ambos os grupos a hierarquia taxonomica especializa<;oes que exibem, a maior aproxima<;ao daquele padrao.
'c1asse ' . Nos Quelicerados incluem-se duas sub-classes: Os restantes aracnfdeos compartilham um padrao de
rostomados e Aracnfdeos. Os Merostomados, provavelmente desenvolvimento que podera ter derivado do dos Xifosuros,
stentes desde 0 Pn!-ciimbrico tardio, exibem 0 prossoma mas nao do dos escorpioes (Anderson, 1973, 414). Os
':TtO por um escudo, olhos compostos, geralmente reduzidos, cladogramas modernamente estabelecidos sugerem que os
Ison longo e agudo . Dentro dos Merostomados, duas ordens: Onicoforos derivaram da linha anelidiana, os Tardfgrados da
ipterfdeos (escorpioes-de-agua) e Xifosuros (caranguejos­ linha dos Onic6foros e os Artr6podes da dos Tardfgrados, tudo
-ferradura). Os Euripterfdeos - 'merostomas', para isto no Pre-cambrico. Sugerem ainda uma origem comum para os
,rio - , viveram ate ao Permico em ambientes aquaticos e Trilobitomorfos, Queliceriforrnes e Crustaceos, tambem no Pre­
rao na origem dos escorpioes, inicialmente tambem aquaticos. cambrico, a origem dos Miriapodes na linha dos Crustaceos, no
escorpioes so transitaram para 0 ambiente terrestre no Ordovfcico, e ados Insectos na Iinha dos Miriapodes, no Siluro­
:>6nico. Ver Brusca and Brusca (1990). -devonico. Tudo isto seguindo a hipotese monofiletica da origem
dos Artropodes (Brusca and Brusca, 1990,683-686).
·a epoca em que Os6rio apresentou a sua disserta<;ao,
rava-se que os escorpionideos foram, inicialmente, aquMicos 48Outros elementos sobre Baltasar Osorio como carcinologista
) depois invadiram a terra . Sao, por isso, animais e evolucionista podem ver-se em Alma<;a (1993a,b).
ndariamente terrestres.
49 Burkhardt (1977,6), por exemplo, escreveu: "Os biografos de

:ais concretamente a vida semi-terrestre, pois estes Lamarck da viragem do seculo investiram-se, caracteristicamente,
19uejos - certas especies de Geocarcinfdeos, Ocipodfdeos da dupla tarefa de recuperar Lamarck da obscuridade para que
lpsfdeos - , depend em da agua do mar para a reprodU(;:ao tinha sido projectado por Cuvier e promover a causa da
;envolvimento larvar. As branquias destes caranguejos explica<;ao neo-Iamarquista da evolu<;ao." Para Conry (1974,40),
protegidas em camaras semi-fechadas onde a humidade e o Lamarquismo servira, ate 1870, "para contestar a originalidade
:rvada. de Darwin ou para 0 desacreditar subtilmente, e clandestinamente
por assim dizer, na medida em que Lamarck nao estava ainda
J se trata de uma teia como a que tecem muitas aranhas, relevado das condena<;oes de Cuvier."
im de filamentos produzidos por uma substancia adesiva.
Ibstancia e segregada por glandulas especiais que abrem 50 Darwin leu 0 livro de Malthus em Outubro de 1838.
tremidade das papilas orais. 0 onic6foro projecta-a sobre
;a e a secre<;ao endurece rapidamente em torno desta. 51A hist6ria das tradu<;oes francesas de 'A origem das especies'
e curiosa. Nem tradutores, nem prefaciadores das edi<;oes
que respeita ao desenvolvimento embriomirio, sao os francesas foram cientistas de algum renome, 0 que mostra, ate
nos que retem, entre os queliceriformes modemos, 0 certo ponto, 0 alheamento do meio cientffico frances

105

~
relativamente a obra capital de Darwin. Sobre esta questao vel' ajustamentos adaptativos por selecqao eram admitidos.
Farley (1974), Corsi (1985) e Stebbins (1988) . Nas principais formaqao de estruturas complexas por diferenciali.
bibliotecas portuguesas sao comuns as tradu<;:6es frances as de reprodutora nao podia aceitar-se. Varios evolucionistas
' A origem ' de Clemence Royer, Barbier e Moulinie. passaram do Lamarquismo (evoluqao gradual) ao Mutacioni
(evoluqao saltacionista) por nao acreditarem na efecti viJ
52 A doutrina judaico-crista da unidade de origem dos homens inovadora da selecqao natural (Almaqa, 1994). A teoria dal
tern rafzes muito antigas e foi convertida em dogma par Santo adaptaqao, que faz surgir a forma antes da funqao (!)
Agostinho, em 415 . Todos os homens, qualquer que seja a sua representa mais do que urn desvio para nao admitir a sele
cor, estatura, voz ou caracterfstica natural, tiveram a sua origem positiva dos fenotipos melhor adaptados a certas circunstan
no mesmo plasma primitivo, proclamou Santo Agostinho . A o que se verifica, na realidade, eque os evolucionistas franc
descoberta da America e dos indios que a povoavam, sem (e outros) que se mantiveram alheados da operacionali
contacto conhecido com 0 Velho Mundo, gerou urn movimento genetico-populacional nunca compreenderam 0 papel evoll
contra aquele dogma que nem 0 decreto papal de 1512 ­ da diferencialidade reprodutora e, por isso, da selecqao posi
assegurando que os indios tambem descendiam de Adao e Existe uma copiosa bibJiografia sobre a reacqao do meio ceint
Eva - , conseguiu apaziguar. A partir de entao, sucederam-se frances de fins do seculo XIX e princfpios do seculo )0
hip6teses sobre a origem unica (monogenismo) ou multipla Darwinismo. Indicar-se-ao apenas, pois sao da autori.
(poligenismo) da humanidade e consequente discussao. investigadores que viveram tal controversia no seu pro
Apoiadas, uma e outra, pOI' notaveis antropologistas, as duas tempo, Le Dantec (1910), Blaringhem (1911) e Giard (1911 J
hip6teses foram discutidas ate ao seculo XIX numa perspectiva
criacionista. Po de dizer-se, em sfntese, que para os monogenistas 54 Refiram-se, em particular, 'Elementos de Zoologia '
haveria uma unica especie humana subdividida em varias raqas Maximiliano Lemos, publicado em 3". ediqao (1901) pela Liv:
ou variedades; para os poligenistas, existiriam diversas especies Chardron, Porto, e 'Liq6es de Zoologia para a 6'. e 7". cla
humanas, cujo numero e subdivis6es variavam com os autores . dos Lyceus', de Bernardo Ayres, editado (1907) pel a Li \-'J
o transformismo, a que varios antropologistas aderiram, 0 Cruz, Braga. 0 primeiro inclui urn capftulo final de 'N04
desenvolvimento da Pre-hist6ria e a descoberta de hom ens sobre 0 Transformismo', em que se discute a 'imutabilidade
f6sseis tornaram esteril 0 confronto entre monogenistas e a 'transformaqao sucessiva' das especies. 0 autor transmi
poligenistas. Daf em diante, confessada ou nao, a perspectiva ideia do aperfeiqoamento progressivo das especies e comPl
do homem resultante, tal como os restantes seres vivos,de uma a doutrina atraves da variabilidade das especies, hereditaried
evoluqao gradual, desvaneceria as mitologias relacionadas com selecqao natural, ccincorrencia vital e correiaq6es de crescimc
a origem de todos ou so de alguns em Adao e Eva. Sobre esta ExpJica a transformaqao peJa direcqao que a seJecqao
questao ver, por exemplo, Topinard (1877, 1885). concorrencia imprimem a hereditariedade. Curiosamente,
define, nem contrasta, 0 Lamarquismo e 0 Darwinismo, eml
53Ate bern dentro do seculo XX, a reacqao ao papel criativo da refira os autores de uma e outra teoria. 0 livro de Bernl
selecqao natural foi muito forte em Franqa. Pequenos Ayres vai muito mais longe. Trata tambem 0 transformismo I

106
tivamente a obra capital de Darwin. Sobre esta questao ver ajustamentos adaptativos por selecc;:ao eram admitidos, mas a
ey (1974), Corsi (1985) e Stebbins (1988). Nas principais formac;:ao de estruturas complexas por diferencialidade
iotecas portuguesas sao comuns as tradur;oes frances as de reprodutora nao poctia aceitar-se. Varios evolucionistas notaveis
lrigem' de Clemence Royer, Barbier e Moulinie. passaram do Lamarquismo (evoluc;:ao gradual) ao Mutacionismo
(evoluc;:ao saltacionista) por nao acreditarem na efectividade
doutrina judaico-crista da unidade de origem dos homens inovadora da selecc;:ao natural (Almac;:a, 1994). A teoria da pre­
raizes muito anti gas e foi convertida em dogma por Santo adaptac;:ao, que faz surgir a forma antes da func;:ao (!), nao
stinho, em 415. Todos os homens, qualquer que seja a sua representa mais do que urn desvio para nao admitir a seJecc;:ao
estatura, voz ou caracterfstica natural, tiveram a sua origem positiva dos fenotipos melhor adaptados a certas circunstancias.
Desmo plasma primitivo, proclamou Santo Agostinho. A o que se verifica, na realidade, e que os evolucionistas franceses
oberta da America e dos indios que a povoavam, sem (e outros) que se mantiveram alheados da operacionalidade
acto conhecido com 0 Velho Mundo, gerou urn movimento genetico-populacional nunca compreenderam 0 papeJ evolutivo
ra aqueJe dogma que nem 0 decreta papal de 1512 ­ da diferencialidade reprodutora e, par isso, da selecc;:ao positiva.
gurando que os indios tambem descendiam de Adao e Existe uma copiosa bibliografia sobre a reacc;:ao do meio ceintffico
- , conseguiu apaziguar. A partir de entao, sucederam-se frances de fins do seculo XIX e princfpios do seculo XX ao
teses sobre a origem unica (monogenismo) ou multipla Darwinismo. Indicar-se-ao apenas, pois sao da autoria de
igenismo) da humanidade e consequente discussao. investigadores que viveram tal controversia no seu proprio
ladas, uma e outra, por notaveis antropologistas, as duas tempo, Le Dantec (1910), Blaringhem (1911) e Giard (1911).
:eses foram discutidas ate ao seculo XIX numa perspectiva
ionista. Pode dizer-se, em sfntese, que para os monogenistas S4 Refiram-se, em particular, 'Elementos de Zoologia', de
ria uma unica especie humana subdividida em varias rac;:as Maximiliano Lemos, publicado em 3". edic;:ao (1901) pela Livraria
uiedades; para os poligenistas, existiriam diversas especies Chardron, Porto, e 'Lic;:oes de Zoologia para a 68 • e 78 • classes
mas, cujo nlirnero e subdivisoes variavam com os autores . dos Lyceus', de Bernardo Ayres, editado (1907) pela Livraria
ansformismo, a que varios antropologistas aderiram, 0 Cruz, Braga. 0 primeiro inclui urn capitulo final de 'Noc;:oes
lvolvimento da Pre-hist6ria e a descoberta de homens sobre 0 Transfonnismo', em que se discute a 'imutabilidade' ou
,is tornaram esteril 0 confronto entre monogenistas e a 'transformac;:ao sucessiva' das especies. 0 autor transmite a
enistas. Dar em diante, confessada ou nao, a perspectiva ideia do aperfeic;:oamento progressivo das especies e comprova
)mem resultante, tal como os restantes seres vivos,de uma a doutrina atraves da variabilidade das especies, hereditariedade,
«raO gradual, desvaneceria as mitologias relacionadas com selecc;:ao natural, concorrencia vital e correlac;:6es de crescimento.
~em de todos ou s6 de alguns em Adao e Eva. Sobre esta Explica a transformac;:ao pel a direcc;:ao que a selecc;:ao e a
ao ver, por exemplo, Topinard (1877, 1885). concorrencia imprimem a hereditariedade. Curiosamente, nao
define, nem contrasta, 0 Lamarquismo e 0 Darwinismo, em bora
: bern dentro do seculo XX, a reacc;:ao ao papel criativo da refira os autores de uma e outra teoria. 0 livro de Bernardo
sao natural foi muito forte em Franc;:a. Pequenos Ayres vai muito mais longe. Trata tambem 0 transformismo num

107
---.

capitulo intitulado 'Leis gerais dos animais'. Come~a por referir Bibliografia
exemplos de 'adaptabilidade': adapta~ao dos orgaos dos
sentidos, mimetismo, sociedades anima is, vantagens da vida AGASSIZ, L., 1841. De la succession et du developpeme
social, modifica~6es produzidas por influencia do meio e 0 etres organises ala surface du globe terrestre, dans les difJ
exercfcio ou inac~ao dos orgaos. Depois a hereditariedade (sem ages de la nature. Wolfrath, Neuchiitel.
mendelismo) e a selec~ao artificial (met6dica). Enfim, 0

transformismo, que, para B.Ayres, e uma consequencia imediata AGASSIZ, L., 1869. De l'espece et de la ciassijicafi,
da hereditariedade e da adaptabilidade. Contrasta 0 Lamarquismo Zoologie. Bailliere, Paris.
e 0 Darwinismo, distinguindo as causalidades de urn e outro e
enfatizando a luta pela existencia e a selec~ao natural. Termina ALMA<;A, C., 1991. As ciassificar;oes zool6gicas. As]
referindo a lei biogenetica e real~ando as contribui~6es de Serres hist6ricos. Museu Bocage, Lisboa.
e Fritz MUller na sua constru~ao.
0 ensino secundario foi
institufdo em Portugal por Pass os Manuel, em 1836. IncJuiu ALMA<;A, c., 1993a. Evolutionism in Portugal. Museu Be
desde 0 princfpio uma disciplina de Hist6ria Natural, cujo titulo Lisboa.
rigoroso foi variando com as sucessivas reformas que incidiram
neste grau de ensino. ALMA<;A, c., 1993b. The beginning of Portuguese carcine
In: History of carcinology, FTruesdale ed., p. 31-34. Ball
55 Julio Xavier de Matos foi urn distinto psiquiatra formado, em Rotterdam.
1880, na Escola Medica do Porto. Transferiu-se para Lisboa em
1911, sendo nomeado professor de clfnica psiquiatrica da ALMA<;A, C., 1993c. Bosquejo hist6rico da Zoolog;,
Faculdade de Medicina e director cJfnico do Manic6mio Miguel Portugal. Museu Bocage, Lisboa.
Bombarda. Autor de importante obra cientffica no domfnio da
Psiquiatria foi, tambem, 0 fundador de outro manic6mio em ALMA<;A, C., 1994a. Evolutionism and Mendelism . ~
Lisboa, depois denominado Hospital Julio de Matos. Dirigiu Bocage, Lisboa.
com Ricardo Jorge e Miguel Artur a revista 0 Positivismo.
Homem de grande cultura foi, ainda, escritor e crftico. Entre as ALMA<;A, C., 1994b. Lamarck et I'evolutionisme au Port
suas obras figura 'Hist6ria Natural Ilustrada', em seis volumes, In: llCJe congr. nat. soc. hist. scient. Amiens, 1994, Lam
publicada em 1880-1881. p.689-693.

ALMA<;A, C., 1995. Uma controversia antropol6gica de


(Oliveira Martins e Eduardo Burnay). Museu Bocage, Li!

ALMA<;A, c., 1997. Early evolutionism in Portugal. Publicc.


Avulsas, Museu Bocage, 2". Serie, 1.

108
lio intitulado 'Leis gerais dos animais'. Com~a por referir Bibliografia
Iplos de 'adaptabilidade': adaptar;ao dos orgaos dos
ios, mimetismo, sociedades animais, vantagens da vida AGASSIZ, L., 1841. De la succession et du developpement des
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! 0 princfpio uma disciplina de Hist6ria Natural, cujo titulo Lisboa.
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io Xavier de Matos foi urn distinto psiquiatra formado, em Rotterdam.
, na Escola Medica do Porto. Transferiu-se para Lisboa em
, sendo nomeado professor de clinica psiquiatrica da ALMA~A, C., 1993c. Bosquejo hist6rico da Zoologia em
Idade de Medicina e director clfnico do Manic6mio Miguel Portugal. Museu Bocage, Lisboa.
barda. Autor de importante obra cientifica no dominio da
liatria foi, tam bern, 0 fundador de outro manic6mio em ALMA~A, C., 1994a. Evolutionism and Mendelism. Museu
)a, depois denominado Hospital Julio de Matos. Dirigiu Bocage, Lisboa.
Ricardo Jorge e Miguel Artur a revista 0 Positivismo.
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