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George Tseklis

JOGOS OCULTOS
ESCOLHA RACIONAL NO CAMPO DA POLÍTICA COMPARADA

T rad ução d e: L uiz Pau lo R o uau et


T ítu l o d o o r ig in a l c m in g lê s :
N e s te d G a m e s : R a lim ia l C h o ic e in C o m p a r u ti v e P o litic s

C o p y r ig h t © 1 9 9 0 b y T h e R e g e n ts o f th e U n iv e rs ity o f C a lif o r n i

D a d o s I n te r n a c io n a is d e C a ta lo g a ç ã o n a P u b l ic a ç ã o ( C I P )
( C â m a r a B r a s i l e i r a d o L iv r a , S P , B r a s il)

T s c b e lis , G e o r g e
J o g o s O c u l to s : E s c o lh a R a c io n a l n o C a m p o d a P o l ític a C o m ­
p a ra d a / G e o r g e T se b e Jis ; tr a d u ç ã o L u i z P a u Jo R o u a n e l. - S ã o P a u ­
lo: E d ito r a d a U n iv e r s i d a d e d e S ã o P a u lo , 1 9 9 8 . ( P o n ta , 17).

T ítu l o o r ig in a l: N e s te d G a m e s .
B ib lio g r a f ia .
IS B N : 8 5 -3 1 4 -0 4 2 5 -8

I. E s c o lh a S o c ia l 2 . I n s titu i ç õ e s P o l ític a s C o m p a r a d a s
3. T e o ria d o s Jo g o s I. T ítu l o II. S é r ie .

9 7 -5 4 8 5 C D D - 3 2 0 . 0 1 13

ín d ic e s p a ra c a tá lo g o s is te m á tic o :

I . P o l ític a C o m p a r a d a : C i ê n c ia s P o l ític a s 3 2 0 .0 1 1 3

D ir e ito s e m lín g u a p o r tu g u e s a r e s e r v a d o s à

E d u s p - E d ito r a d a U n iv e r s i d a d e d e S ã o P a u lo
A v . P r o f . L u c ia n o G u a l b e r to , T r a v e s s a J, 3 7 4
6 o a n d a r - E d . d a A n tig a R e ito r ia - C i d a d e U n iv e rs itá r ia
0 5 5 0 8 - 9 0 0 - S ã o P a u lo - S P - B r a s il F ax (0 1 1 )8 1 8 -4 1 5 1
T e l. ( 0 1 1) 8 1 8 - 4 0 0 8 / 8 1 8 - 4 1 5 0 - e -m a il: e d u s p @ e d u .u s p .b r

P r in te d in B r a z il 1998

F o i f e ito o d e p ó s ito le g a l
BSC SH
SUMÁRIO

L ista de F ig u r a s ...................................................................................................... 11
L ista de T a b e la s ...................................................................................................... 13
A g ra d e c im e n to s ...................................................................................................... 15

1. Jogos O cultos e R a c io n a lid a d e .................................................................... 17


2. Em D efesa do E nfoque da E scolha R a c io n a l........................................ 33
A p êndice ao C apítulo 2 ................................................................................. 57
3. Jogos de D uas Pessoas com Payoffs V a riá v e is ...................................... 61
A pêndice ao C apítulo 3: A .......................................................................... 87
A pêndice ao C apítulo 3: B ........................................................................... 93
4. Jogos com Regras Variáveis, ou a P olítica da
M u d an ça In s titu c io n a l.................................................................................... 97
5. P or que os M ilitantes do Partido T rabalhista B ritânico
C om etem Suicídio P o lític o ? ........................................................................ 121
A pêndice ao C apítulo 5 ................................................................................. 155
6. O C onso ciacio n alism o na Perspectiva da E scolha R a c io n a l............ 157
7. A C oesão das C oligações E leitorais F ra n c e s a s ..................................... 181
A p êndice ao C apítulo 7 ................................................................................. 219
8. C o n c lu s õ e s .......................................................................................................... 221

B ib lio g ra fia ............................................................................................................... 233


ín d ice R e m issiv o ..................................................................................................... 245
LISTADEFIGURAS

3 .1. Jogo de três pessoas


3.2. R epresentação gráfica de um jo g o de n pessoas
3.3. R epresentação gráfica de um subjogo de duas pessoas (ver
C apítulo 5)
3.4A R epresentação gráfica de jo g o oculto do C apítulo 5
3.4B R epresentação gráfica de jo g o oculto do C apítulo 6
3 .4C R epresentação gráfica de jo g o oculto do C apítulo 7
3 .5A R epresentação gráfica dos p a yo jfs no jo g o do dilem a dos
prisioneiros
3.5B R epresentação gráfica dos p a yo jfs no jo g o do im passe
3.5C R epresentação gráfica dos p a yo ffs no jo g o do galinha
3 .5D R epresentação gráfica dos p a yo ffs no jo g o do seguro
3.6. R epresentação gráfica dos p a yo ffs no jo g o do d ilem a dos
prisioneiros num plano
3 .7. R epresentação gráfica dc um jo g o do dilem a dos
prisioneiros no plano {p, q)
3.8. R epresentação gráfica de um jo g o do im passe no
p lano (/;, q)
3.9. R epresentação gráfica de um jo g o do galinha no plano (p, q)
3.10. R epresentação gráfica de um jo g o do seguro no plano (p, q)
4 .1. In stitu içõ e s eficientes c redistributivas
4 .2 A P osições dos atores antes da apresentação de um a questão
institucional
4 .2B P osições dos atores após a apresentação de um a questão
institucional - instituição de consolidação
G E O R G E T S E B E L IS

4 .2 C P osições dos atores após a apresentação de um a questão


in stitucional - instituição redistributiva
4.3. R ep resentação esquem ática do projeto institucional
5.1. O jo g o da reindicação de p arlam entar 110 nível do distrito
5 .2. O jo g o da reindicação no nível do partido
6 . IA E q u ilíbrio com petitivo num espaço unidim ensional
6.1B E q u ílibrio num espaço unidim ensional com m onopólio do
p o d er de fixar a agenda
6.2 A Jogo do galin h a em que a cooperação m útua c parte do
co n junto de P areto
6.2B Jogo do galinha em que a cooperação m útua não faz parte
do conjunto de P areto
7.1. S im plex (triângulo) bidim ensional
7.2. E m pate entre e dentro das coligações num sim plex
b id im ensional
7 .3. Á reas em que a cooperação ou a com petição entre os
p arceiros aum enta num sim plex bidim ensional
7 .4. R ep resentação gráfica de teorias rivais da coesão de
coligação num sim plex bidim ensional
7 .5. R ep resentação dos resultados eleitorais de p rim eiro turno
(PS, PCF, direita) num sim plex bidim ensional
7.6. R ep resentação dos resultados eleitorais de prim eiro turno
(R PR , U DF, esquerda) num sim plex bidim ensional
LISTADETABELAS

3.1. M atrizes de p a yo jfs e definições de quatro jo g o s


3.2. P ro priedades dos quatro jo g o s em term os da teoria dos jogos
5.1. O jo g o da reindicação no nível do distrito
5.2. F u n ção da m argem de vitória na eleição de 1974 na freqüência de
d issensão na C âm ara dos C om uns no período 1974-1979
6.1. Payojfs de jo g o s possíveis entre as elites
7 .1. Payoffs dc jo g o s possíveis entre parceiros de coligação
7 .2. M atriz de p a y o ff geral para um parceiro de coligação
7 .3. F u n ção de diversas variáveis na coesão das coligações francesas
7.4. F u n ção de diversas variáveis na coesão das coligações francesas
vencedoras no p rim eiro turno
7.5. F u n ção de diversas variáveis na coesão das coligações francesas
perd edoras no prim eiro turno
7.6. P ro xim idade dos dois parceiros da esquerda quando se aproxim am
da vitória
AGRADECIMENTOS

Estive trabalhando neste livro por vários anos. A o longo desse p erío ­
do tive o privilégio de estar em universidades d iferentes: W ashington U n i­
versity, S tanford, D uke e a U niversity o f C alifórnia, em Los A ngeles. E sta
ú ltim a (UCLA) pro p o rcio n o u -m e o tem po n ecessário para te rm in a r o p ro ­
je to , e o A cadem ic S enate e o International S tudies and O verseas P rogram
rne fo rn ece ram valioso au x ílio fin an ceiro , q u e to rn o u m in h a ta refa bem
m ais fácil.
D u ran te esses anos, e em todas essas universidades, tive a boa sorte
d e u su fru ir da ajuda, dos desafios e dos com entários convergentes ou diver­
g entes de num erosos colegas. Sem essa ajuda, este livro não existiria (pelo
m enos em sua form a atual).
R o bert B ates, com o editor, colega e am igo, detém o recorde m undial
d e su g estõ es b em -su ced id as (ou seja, sugestões feitas e aceitas) p ara um
m anuscrito. E le leu e releu incansavelm ente Jogos O c u lto s *, fazendo a cada
vez im p o rtan tes o b serv açõ e s. N o que m e co n c ern e, c o n stitu iu um a c o la ­
boração m uito proveitosa. Sou grato a ele por seus conselhos e apoio.
G ostaria de agradecer a Jam es D eN ardo, M iriam G olden, Peter Lange e
M ichael W allerstein por lerem , de form a continuada, sucessivos esboços, e p o r
me aconselharem (às vezes de form a contínua, tam bém ) com infinita tolerância.
Jam es Booth, John Freem an, Jeffry Friden, G eoffrey G arrett, H erbeit Kit-
c h e lte R obert Putnam leram o que diversas vezes considerei o rascunho final do
m anuscrito e me persuadiram de que era necessário mais um a correção.

* A e x pressão “jo g o s o c u lto s" procura v e rter a ex p ressão iw xia tfiiim c x, que pode se r m ais bem co m p reend ida num a
referên c ia às céle b re s bon ecas russas, e m b u tid as um as nas outras, c m o rd em c re scen te d e lam anho. (N . d o T.)
16 GEORGE TSE B E U S

V á ria s p esso as Jeram cap ítu lo s sep arad o s, ou fizeram co m en tário s


q u a n d o os ap resen tei em diversas co n ferê n cia s: Arun A graw al, R o b e rt
A xelrod, S haun B ow ler, D avid Brady, P ain ela C am erra-R ow e, John F ere-
jo h n , C la rk G ib so n , B ern a rd G rofm an, V irginia H au fler, B rian H um es,
S h an to lyengar, Paul Johnson, W illiam K eech, E dw ard L ehoucq, Jeannette
M oney, T h o m as R ochon, S usan R o se-A ck erm a n , B a rb a ra S ale rt, Jam es
S co tt, Teddy S eid e n feld , K enneth S hepsle, D avid S o sk ice, John S p rag u e
e Sve S teinm o.
G ostaria de agradecer a ajuda de M ary L am prech e S ylvia Stein, da U ni­
versity o f C alifó rn ia Press. O trabalho delas m elhorou em m uito a q u alid a­
de do livro.
P articipação em conferências sobre jo g o s conectados o rganizadas por
F ritz S ch arp f no M ax -P lanck-Institut für G esellschaftsforschung, em C o lô ­
nia, A lem anha, ajudaram -m e a esclarece r m inhas idéias a respeito dos fun ­
dam en tos teóricos dos jo g o s ocultos.
A m aior parte do C apítulo 6 foi publicada no Journal o f Theoretical
P olitics sob o títu lo “E lite Interaction and C onstitution B u ild in g in C onso ­
ciatio n al D em o c ra cie s” [Interação entre elites e fo rm ação de con stitu ição
em d em o cracias co n so ciacio n a isj. É reiinpresso aqui com a autorização da
S ag e P u b lic atio n s Ltd. P artes do C apítulo 7 foram p ublicadas no B ritish
Jo u rn a l o f Political Science sob o título “T he C ohesion o f French E lectoral
C o alitio n s” |A coesão das coligações eleitorais fran ce sa sl. E ssas partes são
reim p ressas aqui com a perm issão da C am bridge U niversity P ress. G ostaria
de ag rad e cer a E lin o r O strom e Ivor C rew e, os editores desses jo rn a is, a s ­
sim com o aos anônim os conselheiros por suas recom endações.
A inspiração m usical foi fo rnecida ao longo dos anos por W olfgang
A m adeus M ozart. Ele sem pre esteve presente quando necessário.
1

JOGOS OCULTOS E RACIONALIDADE

E ste livro analisa casos em que um ator, con fro n tad o com um a série
dc csco lh as, não seg u e a altern ativ a que p arec e ser a m elhor. A o longo
deste livro, o leitor verificará que os m ilitantes do Partido T rabalhista b ri­
tân ico q ue consideram os seus MPs (m em bros do P arlam ento) m oderados
dem ais podem votar para substituí-los, em bora a sua esco lh a p o ssa levar à
p erd a de um a cadeira para o Partido Trabalhista. V erá com o as elites b el­
gas, q ue na bibliografia consociacional são consideradas de caráter acom o­
dad o e contem porizador, às vezes iniciam um co n flito político. F in alm en ­
te, co n statará que os partidos políticos franceses, em certas circunstâncias,
não ap o iam o seu p arce iro de co lig açã o , levando a p ró p ria co lig açã o ao
fracasso.
P o r que despertam curiosidade situações em que um ator escolhe um a
alternativa que parece ir contra os seus próprios interesses, ou que pode não
ser a m elhor a escolher nas circunstâncias existentes? P or que elas neces­
sitam de explicação? As escolhas que parecem não ser as m elhores que um
ato r po d e adotar são intrigantes porque a m aioria dos intérpretes sustenta
(pelo m enos im plicitam ente) que as pessoas tentam co m p o rtar-se de um a
m an eira que prom ova ao m áxim o a realização de seus objetivos im plícitos,
ou seja, fazem escolhas ólim as. O objetivo deste livro é fornecer um a e x ­
po sição sistem ática, em piricam ente precisa e teo ricam en te coerente das e s ­
colhas aparentem ente subótim as, isto é, aquelas que não são as m elhores.
O s ex em plos seguintes ilu stram a im p o rtân c ia c freq ü ên c ia das esco lh as
ap aren tem en te subótim as no cam po da política.
G E O R G E TSE U E LIS

/. ALG U M A S ESCO LHAS APARENTEM ENTE SU BÓ TIM AS

U rho K ekkonen foi eleito presid en te da F in lâ n d ia p ela prim eira vez


em 1956. A sua gestão foi tão b em -sucedida que ocupou o cargo por vinte
e cin co anos. Foi, segundo D uverger (1978, 63), “ a m ais longa e poderosa
p resid ê n cia da história finlandesa” . P ara nossos p ropósitos, o que in teres­
sa é com o essa presidência se tornou possível. A ssim , exam ino as p referê n ­
cias c o c o m p o rtam en to dos atores envolvidos na e le iç ã o p resid e n cial da
F in lâ n d ia de 1956.
S egundo a lei finlandesa, as eleições presidenciais são conduzidas por
um co lég io eleitoral especial com posto por trezen to s m em bros. U m a elei­
ção pode requerer dois turnos caso nenhum candidato aicance a m aioria dos
votos. Os dois candidatos m ais votados com petem então num segundo tur­
no, asseg urando assim que o ganhador receba a m aioria dos votos.
E m 1956, três candidatos p articiparam do p rim eiro turno: o defensor
da refo rm a agrária U rho K ekkonen, o so cialista K arl-A u g u st F agerholm e
o co n serv ador da situação Juo Kusti Paasikivi. O adversário que mais am ea­
çava K ekkonen, apoiado pelo Partido C om unista, era o conservador P aasi­
kivi. S eria de esperar que os com unistas apoiassem K ekkonen no prim eiro
tu rn o com todos os seus 56 votos. Em vez disso, apenas catorze co m u n is­
tas su frag aram o n om e de K ekkonnen; a m aioria (42 dos 56) votaram no
can d id ato socialista. T ratava-se de um a divisão no in terio r do P artido C o­
m u n ista? N ão. F agerholm desagradava in ten sam e n te aos com unistas.
P o r que a m aioria dos com unistas escolheu não apoiar o candidato de
sua preferência, K ekkonen, ou seja, por que escolheram um com portam ento
su bótim o? Para entender a lógica do voto com unista, devem os analisar toda
a h istória da eleição de 1956, Paasikivi foi elim inado no prim eiro turno, com
84 vo to s, c o n tra 1 14 dados a F ag erh o lm e 102 a K ekkonen. N o segundo
turno, qu ando K ekkonen enfrentou F agerholm , os com u n istas votaram e x ­
clu sivam ente no prim eiro. K ekkonen foi eleito com 151 votos; Fagerholm
foi derro tado com 149.
E m b o ra os co m u n istas p referissem K ekkonen, votaram em F ag er­
holm no p rim eiro tu rn o p a ra e lim in ar da d isp u ta o m ais am eaçador,
P aasik iv i. O s com unistas não seguiram sua p referê n cia no prim eiro turno
p ara p ro m over o resultado de sua preferência no segundo. O s com unistas
co m p reen deram que carecia de base a pretensa questão do prim eiro turno:
“ Q ual dos três candidatos vocês p referem ?” A votação do p rim eiro turno
e ra um ca m inho que levava ao segundo tu rn o , e a um a c o m p etição tanto
en tre K ek k o n en e P aasik iv i quanto en tre K ekkonen e F ag erh o lm . D ado
q ue K ek k onen p o d e ria d e rro ta r F ag erh o lm m as não P aasikivi no últim o
tu rn o , os seus partid ário s tom aram as m edidas n ecessárias p ara assegurar
a vitória final de K ekkonen: elim inaram do últim o turno o adversário mais
p erig o so de K ekkonen, P aasikivi.
J O G O S O C U l.T O S 19

U m ator vota de m aneira estratégica ou so fisticad a (em contraposição


à m aneira sincera) quando, num ou m ais turnos de u m a série de votações,
vota co n tra suas p referências a fim dc assegurar um resultado final de sua
p referência. S egundo essa definição, em 1956 os com unistas votaram e s ­
trategicam ente. Se tivessem votado sinceram ente, K ekkonen teria recebido
144 votos no p rim eiro turno, P aasikivi, 84 e F agerholm , 72. N o entanto , no
turno seguinte, no qual K ekkonen teria enfrentado P aasikivi, este teria ga­
nho a eleição. A ssim , o com portam ento dos com unistas, surpreendente à pri­
m eira vista, m ostra-se ser o m elhor sob um exam e mais atento. Foi, de fato,
a m anifestação de um voto estratégico.
E ste é o fim da história factual. N o entanto, não é o fim da investiga­
ção conceituai. F arquharson (1969) conseguiu retraçar um histórico do voto
so fisticado até P línio, o Jovem , c G ibbard (1973) concluiu que o voto e s ­
tratég ico é possível em todos os sistem as eleito rais reso lu to s1. A p o ssib ili­
d ade de alterar o resultado pelo voto sofisticado conduz a um a nova série
de questões. O voto estratégico era possível tanto para os so cialistas q u an ­
to p ara os c o m u n istas? S e o fo sse , p o deriam os s o cia lista s ter votad o de
m odo a evitar que K ekkonen fosse eleito?
A resp o sta a am bas as questões é afirm ativa. Os socialistas tam bém
p oderiam ter votado estrategicam ente e ev itad o a eleição de K ekkonen. D e
fato, se tivessem retirado o seu candidato no p rim eiro ou no segundo turno,
o d uelo en tre K ekkonen e P aasikivi te ria te rm in a d o com a d erro ta de
K ekkonen, com o te ria sido o desejo dos so cialistas. P or que não seguiram
essa estra tég ia ? Se o voto estratégico dos com unistas não era o erro qu e pa­
recia ser à prim eira vista, m as um co m portam ento racional (isto é, otim iza-
dor), e se o voto estratégico tam bém estava à disposição dos socialistas, então
os so cialistas escolheram um a opção subótim a: votar sinceram ente. P or quê?
P ara votar estrategicam ente, os líderes socialistas precisariam ter ex­
p licado para seus próprios m ilitantes e eleitores por que estavam aban d o ­
nando o seu ap a re n tem en te b em -sucedido ca n d id ato - um a ta refa difícil.
E sse constrangim ento significava que a liderança socialista estava envolvida
sim ultaneam ente em dois jo g o s diferentes. N a arena parlam entar, ond e de­
via ser decidido qual seria o presidente da F in lân d ia, o voto estratégico era
a escolha ótim a (a m elhor possível). N a arena interna (partido), porém , onde
o q u e estava em jo g o era a m anutenção da fidelidade entre m ilitantes e elei­
to re s, o voto so fistic ad o não e ra possível. C o n sid era d as em c o n ju n to as
co n seqüências do voto estratégico em anibos os cam pos, o voto estra tég i­
co deixava de ser ótim o.
A situação era d iferente para os com unistas por duas razões. Em p ri­
m eiro lugar, K ekkonen não era o candidato com unista, mas era um d efen ­

I . S istem as eleitora is reso lu to s são aqueles q u e e x clu em em p ates. Para um a p rova sim ilar q u e não req u er reso lu ­
ç ão , nesse se n tid o , v e r Selnvarz { 1982).
70 G E O R G E T S IÍIIE U S

so r da reform a agrária, de m odo que os com unistas não precisavam ex p li­


car p o r q ue não votavam em seu próprio candidato. Em segundo lugar, os
p artidos com unistas em todo o inundo (pelo m enos em 1956) eram co n h e­
cidos pela o b serv ân cia do princípio de “cen tralism o d em o crático ” , o qual
p rescrev e q ue, um a vez to m ad a um a dec isão , e la deve ser o b ed e cid a. O
cen tralism o dem ocrático m inim iza a discórdia interna e propicia à liderança
a n ecessária liberdade de m ovim ento. A ssim , em b o ra os com u n istas ta m ­
bém estivessem envolvidos em jo g o s em m últiplas arenas, as restrições na
arena interna não eram im portantes, e a escolha ó tim a na arena p arlam en­
tar era a estra tég ia ótim a global2.
E ssa história apresenta um a série de enigm as. N o início, os com unistas
pareciam ag ir de m aneira subótim a. T ão logo foi explicado o seu com por­
tam ento com o voto estratégico, a questão passou a s er o m otivo por que os
so cialistas votaram sinceram ente, com portando-se dc m odo subótim o. Tão
logo se pôde en tender o com portam ento socialista, ou seja, quando foi ex ­
plicad o com o sendo um com portam ento ótim o, então a questão se deslocou
para o m otivo do com portam ento d iferente dos dois partidos, a saber, por
qu e o co m portam ento ótim o para um era subótim o para o outro.
O s enigm as apresentados na situação finlandesa não são isolados. Em
geral, as situações de representação política geram envolvim ento sim u ltâ­
neo em vários jo g o s: no jo g o p arlam entar e no jo g o eleitora) propriam ente
dito para os representantes no C ongresso, num jo g o de barganha e num jo g o
en tre o líder e as bases para os representantes do sindicato, num jo g o na po­
lític a in tern acio n al e na p o lític a d o m é stica p ara os líd eres nacionais. A
interação entre econom ia e política tam bém pode ser co n c eitu a d a com d i­
versos jo gos jogados pelos m esm os atores.
O estu d o de qualquer um desses jogos de m aneira isolada pode levar
a enigm as análogos ao do caso finlandês. S om ente o estu d o de toda a rede
de jo g o s em que o ator está envolvido revelará as m otivações desse ator e
ex p licará o seu com portam ento.
A lgum as vezes, o envolvim ento do ator em diversos jo g o s ao m esm o
tem po é acidental. D ois jo g o s geralm ente independentes se vinculam : irna-
ginem -se negociações salariais cm algum país do O cidente na década de 1960
e depois na década de 1970. N o prim eiro caso, o jo g o pode ser estudado iso­
ladam ente. N o segundo, devem ser levadas em conta as conseqüências do
choque do petróleo de 1973. O utras vezes, as instituições são concebidas ex­
plicitam ente para alterar os resultados de jogos isolados. C om parem os as de­
liberações de um parlam ento com as deliberações de um jú ri ou do Suprem o
Tribunal. N o prim eiro caso, a participação do público e de diversos grupos

2. N este pon to , p o d er-se-ia perg u n tar por q u e os d o is p artid o s são o rg an izad o s de m odo d ifere n te e ten tar e x p li­
c ar a sua o rg an ização c om o unia resp o sta ó tim a a o b jetiv o s d iv erso s, ou um a a d ap tação ó tim a a c o n d içõ es d i­
versas. Fazer isso , porem , esl;í ulcin d o e scop o cio p resen te livro.
J O G O S O C U LT O S 21

dc pressão é garantida estruturalm ente. N o segundo, são tom adas todas as


m edidas para assegurar a independência dos jo g a d o res em relação a qualquer
consideração externa ao próprio jogo. F inalm ente, algum as vezes a vincula-
ção entre as diferentes arenas pode ser ela própria parte de um a luta política:
econom istas conservadores defendem a separação dos jo g o s econôm icos dos
jogos políticos, porque acreditam que o livre m ercado produz resultados eco ­
nôm icos eficientes e que a intervenção do governo é um em pecilho à eficiên ­
cia. O utros acreditam que a ação do governo (que pode ser subótim a do pon ­
to de vista estritam ente econôm ico) corrige as conseqüências politicam ente
inaceitáveis geradas pelo m ercado. D e modo geral, pode-se argum entar que
as dem ocracias contêm situações nas quais os jogos não são jogados de m a­
neira isolada e, portanto, as escolhas podem parecer subótim as.

//. JOGOS OCULTOS: A LÓGICA DA


ESCOLHA APARENTEMENTE SUBÓTIMA

A p rem issa segundo a qual as pessoas prom ovem ao m áxim o a reali­


zação de seus objetivos não é o único ponto de partida possível p ara um a
ex p licação da escolha subótim a. P oder-se-ia afirm ar que os partidos fin lan ­
d eses com eteram equívocos; que os m ilitantes ingleses, as elites belgas e
os p artidos franceses analisados nos C apítulos 5, 6 e 7 respectivam ente co ­
m eteram erro s; ou que todos esses ato res p o lític o s foram m otivados por
o utras forças, com o o hábito ou a inveja; ou que os m ilitantes com unistas
ou tra b a lh ista s pertencem a cu ltu ras d iversas. P o d er-se-ia d esco n sid e ra r
tam bém as ações individuais e argum entar no sentido de que tais questões
não são im portantes, que o que im porta cm ciência política são ca ra cte rís­
ticas “ sistêm ica s” gerais, e não as propriedades individuais.
E ste livro não segue nenhum a dessas direções. Ju ntam ente com a p rin ­
cipal corrente da ciência política contem porânea, sustento que a atividade
h um ana é o rie n tad a pelo objetivo e é instrum ental e que os atores in d iv i­
duais c institucionais tentam prom over ao m áxim o a realização de seus o b je­
tivos. A este pressuposto fundam ental cham o p ressuposto da racionalidade.
D iferentem ente de outros, porém , torno explícito tal pressuposto, d e­
rivo suas co n seq ü ên c ias e b aseio-m e nele ao fo rm u lar explicações. A lém
d isso , assum o que, a cada passo, os atores políticos respeitam as exigências
do com portam ento racionai. N esse sentido, a ação racional c explicitam ente
um dos principais tem as deste livro; em outras palavras, este livro consiste
num a abordagem dc escolha racional no terreno da p o lític a com parada.
O C apítulo 2 enum era as exigências da racionalidade. M ostro que um a
dessas exigências é a obediência às prescrições da teoria dos jo g o s sem pre
q ue os indivíduos interagem entre si. A ssim , utilizo a teoria dos jo g o s para
estu d a r as interações entre atores políticos diferentes.
22 G E O R G E T S E B E L IS

O C apítulo 3 explica o m aterial fundam ental da teoria dos jo g o s u ti­


lizado no livro. N a teo ria dos jo g o s, os jo g a d o res enfrentam um a série de
o p ções (estratégias); quando cada um escolhe um a estratégia, os jo g a d o res
d eterm inam ju n to s o resultado do jo g o , recebendo os payojfs* associados a
esse resultado. P ara en contrar a solução de um problem a, a te o ria dos j o ­
gos su stenta que as regras do jo g o (que d eterm inam as estratégias d isp o n í­
veis) e os p a yo ffs dos jo g ad o res são fixos. U m a vez fixadas as regras e os
p a yo ffs, os atores escolhem estratégias ótim as para si m esm os; cada jo g a ­
d o r esco lh e um a e stra tég ia que m axim ize o seu p a yo ff, levando em conta
o q u e os outros jo g a d o res fazem . E sta exposição especifica que a teo ria dos
jo g o s não deixa espaço p ara a ação subótim a.
C om o pode existir a ação subótim a? C om o pode um ator com um a sé­
rie de opções A , ..., A , na qual A. parece ser ótim a, esco lh er algo diferente
de A.?
C asos de escolhas aparentem ente subótim as são na verdade casos de
d isc o rd â n c ia en tre o ato r e o observador. P o r q u e o ator e o o b serv ad o r
d isco rd ariam no que se refere ao que seria o curso ótim o da ação? E xistem
duas po ssibilidades: ou o ator de fato escolhe um a estra tég ia não-ótim a, ou
o o b servador está enganado.
H á dois casos em que o ator escolhe de m aneira subótim a: se não pu ­
d er esco lh er racionalm ente3, ou se com eter um erro. P or razões que ex p o ­
n ho no C apítulo 2, não penso que o prim eiro caso seja im portante no estudo
dos fenôm enos políticos. O segundo caso não pode o correr com freqüência,
pois, se o ator reconhece que estava enganado, é de presum ir que co rrija o
seu com portam ento.
H á tam bém dois casos em que o o b servador p o d e não reco n h e cer o
curso racional da ação. P rim eiro, o observador com ete um erro, pensando
que a ação ótim a é A., quando não é. S egundo, o o b serv ad o r pensa que o
co n ju n to de ações possíveis se lim ita a A ,, ..., A n, quan d o não é o caso -
po d e haver algum as outras opções, inclusive um a m elhor que A..
E ste livro estu d a ações aparentem ente subótim as porque são os casos
em geral dc desacordo entre ator e observador. A ssim , exam ino as razões
p elas quais o o b servador deixou de reconhecer a ação ótim a. R esum indo,
o arg u m ento principal deste livro é que, se, com in fo rm ação adequada, a
e sco lh a de um ator parecer subótim a, é porque a p ersp ectiv a do o b serv a­
d o r está incom pleta. O observador centra a sua atenção em apenas um jo g o ,
m as o ator está envolvido em toda um a rede de jo g o s - o que cham o dc j o ­
g os ocultos. O que parece subótim o a partir da perspectiva de um único jo g o
é na v erdade ótim o quando é considerada toda a rede de jogos.

*. O ptam os p o r m an ter n o o rig in al o term o p u x o jf, q u e neste c o n tex to sig n ific a o g an h o , o p ag am en to , o p rêm io
ou a .sanção u um a certa ação. (N. do T.)
3. E xplico essa.s e x ig ên c ias tle esco lh a racional 110 C ap ítu lo 2.
J O G O S O C U LTO S

H á duas razões principais para a discordância entre ato r e observador.


P rim eiro , a o pção A. não é ótim a porque o ator está envolvido em jo g o s em
diversas arenas, m as o observador centra a sua atenção na arena principal.
O o b serv ador desaprova as escolhas do ator porque vê as im plicações das
esco lh as do ator apenas na arena principal, C ontudo, quando são exam ina­
das as im plicações em outras arenas, a esco lh a do ator é ótim a. Esse caso
d e jo g o s ocultos cham o de jo g o s em m últiplas arenas.
N o segundo caso, a opção A.t não é ó tim a porque o ator “ inova” , ou
seja, torna m edidas para aum entar o núm ero de opções disponíveis, de modo
q u e algum a nova opção é agora m elhor do que A.. A u m en tar as opções d is­
po n íveis significa na verdade m odificar as regras do jo g o que definem as
op çõ es de que ca d a jo g a d o r dispõe. N esse caso, o o b servador não vê que
o ato r está envolvido não apenas num jo g o na arena principal, mas tam bém
num jo g o sobre as regras do jo g o . E sse caso de jo g o s o cu lto s den o m in o
p ro jeto in stitu cio n al4.
A m bos os tipos de jo g o s ocultos (jogos em m últiplas arenas e p ro je­
to in stitu cional) podem levar a escolhas aparentem ente subótim as. N o caso
d e jo g o s em m últiplas arenas, o observador an alisa o jo g o na arena princi­
pal sem levar em conta fatores contextuais, en q u an to o ator percebe que o
jo g o está oculto num jo g o m aior que define com o os fatores contextuais (os
o u tro s terrenos) influenciam os seus p a yo ffs e os dos outros jogadores. N o
ca so do projeto institu cio n al, o jo g o na arena principal está inserido num
jo g o m aior quando as próprias regras do jo g o são variáveis; nesse jo g o , o
co n ju n to de opções disponíveis é co nsideravelm ente m aior do q u e no jo g o
o rig in al. O ator agora está apto a escolher a p artir do novo conjunto um a
estra tég ia que é até m elhor do que a sua opção ó tim a no conjunto inicial.
Um elem ento de surpresa está presente em todos os casos de d isco r­
d ân cia en tre o ator e o observador. O fator que pode variar é a intensidade
ou m ag n itude da surpresa. A lgum as vezes o ato r e o o b servador discordam
nos d etalh es, de m odo que o ator parece co m eter um erro bem pequeno;
o utras vezes o o b servador pensa, a priori, q u e o curso exatam ente oposto
da ação é que era o apropriado, de m odo que o ator parece esco lh er to ta l­
m ente co n tra seus próprios interesses. D e um ponto de vista teórico, todos
os casos de escolha subótim a são difíceis de explicar. D e um ponto de vis­
ta em p írico, apenas sérias discordâncias entre o b servador e ator indicam al­
g u m a p ercepção in c o rreta por parte do o b serv ad o r ou alg u m a im p o rtan te
inad eq u ação das teorias existentes.
P ara cada um dos dois tipos de jo g o s ocultos (jogos em m últiplas are­
nas e projeto in stitu cio n al) o livro fornece duas c o n trib u iç õ es essen ciais:
u m a su bstancial e um a m etodológica. N o caso de jo g o s em m últiplas are­

4 . 0 m otivo p ulo qu;il uso a e x p ressão p ro je to in stitu cion al, em vez de jo% o in stitu c io n a l se to m ar,í e lm o no
C ap ítu lo 4.
G E O R G E T S E IIE U S

nas, q u alq u er um dos lances do jo g a d o r possui conseqüências em todas as


aren as; um a alternativa ótim a em um a arena (ou jo g o ) não será nec essaria­
m ente ó tim a em relação a toda a rede de arenas nas q u ais o ator está e n ­
volvido. E m bora o observador dc cipenas um jo g o considere algum com por­
ta m en to irracional, ou equivocado, o co m p o rtam en to é na verdade ótim o
d en tro dc um a situação mais com plicada. O ator pode esco lh er um a estra­
té g ia su b ó tim a num jo g o sc essa e stra tég ia co n se g u ir m a x im izar os seus
p a y o ffs , quando são consideradas todas as arenas. A con trib u ição su b stan ­
cial desse exam e dos jo g o s em m últiplas arenas c que ele apresenta um a m a­
n eira sistem ática de levar em co n sta os fatores co n tex tu ais (a situação em
o u tras arenas). Tais fatores contextuais influenciam os p a yo ffs dos atores
num a arena, levando à escolha de estratégias diferentes. A ssim , os resu lta­
dos do jo g o são diferentes quando se levam em conta os fatores contextuais.
N o caso do projeto institucional, um ator racional procura aum entar o
núm ero de alternativas, am pliando desse m odo o seu esp aço estratégico. Em
vez de lim itar-se a um a escolha entre estratégias disponíveis, ele redefine as
regras de todo o jogo, escolhendo entre um a gam a m aior de opções. D essa
m aneira, as m udanças institucionais podem ser explicadas com o planejam en­
to consciente pelos atores envolvidos. N o caso do projeto institucional, a dis­
co rd ân cia entre ator e observador deriva do fato de que o observador não an­
tecipa a inovação política efetuada pelo ator. Tivesse o observador sabido que
existiam opções adicionais, ele teria concordado cm que um a das novas o p ­
ções era ótim a. D esse m odo, o projeto institucional fornece um a m aneira sis­
tem ática de pensar a respeito das instituições políticas. As instituições não
são consideradas som ente com o coerções herdadas, mas possíveis objetos da
ativ id ad e hum ana.
O m odo convenciona] da teoria dos jogos de lidar com problem as dos
jo g o s cm m últiplas arenas ou no projeto institucional é considerar todos os
atores envolvidos em todas as arenas existentes, descrever todas as estratégias
disponíveis, acrescentar todas as possíveis inovações estratégicas e resolver
esse jo g o gigantesco. N o jo g o gigantesco, todos os fatores contextuais (ou­
tros atores e arenas relevantes) e institucionais (regras de possíveis jogos) são
levados em consideração. Se isso fosse possível, e se tanto o ator com o o ob­
servador estivessem resolvendo esse jogo gigantesco, não haveria discordân­
cia possível sobre o que constitui a ação ótim a. Todavia, sem elhante em prei­
tada, heróica, é im possível - pelo menos para propósitos práticos.
P ara reduzir esse problem a a dim ensões que possam ser controladas
e m ostrar as razões da d iscordância entre atores e o bservadores, trato cada
ca so de esco lh a ap a re n te m e n te n ão -ó tim a (jo g o s em m ú ltip las arenas c
pro jeto in stitu cio n al) em separado. U tilizo um m odelo te cn ica m en te sim ­
ples para rep resen tar jo g o s em m últiplas arenas. N o C apítulo 3, exponho a
relação en tre o m eu m odelo e as abordagens tradicionais da teoria dos j o ­
gos. Tal representação conduz a resultados em piricam ente interessantes, ao
JOGO.S O C U LTO S

m esm o tem po em que m antém o nível de esp ecializaç ão m atem ática e x i­


g id o no secundário.
T ecnicam ente, jo g o s em m últiplas arenas são jo g o s com pa yo ffs va­
riáveis; o jo g o é jo g a d o na arena principal, e as variações dc p a yo ffs nessa
aren a são d eterm inadas pelos eventos de um a ou m ais arenas. A natureza
do jo g o final m uda, dependendo da ordem dc m agnitude desses p a y o ffs, da
p o ssib ilidade de os jo g ad o res se com unicarem ou nào en tre si e da rep eti­
ção ou não do jo g o ao longo do tem po.
T ecnicam ente falando, ainda, a m udança institucional é ap resen tad a
com o um problem a de m axim ização intertcniporal, onde surgem co m p lica­
ções po rque eventos futuros não podem scr claram ente antecipados. A in ­
fo rm ação disponível a respeito de eventos futuros é de crucial im portância
para a escolha de tipos d iferentes de instituições.
R ecapituJando, na presença dc inform ação adequada, se os atores não
esco lh em o que p arece ser a estratégia ótim a é po rq u e estão envolvidos em
jo g o s o cultos: jo g o s em m últiplas arenas ou projeto institucional. Jogos cm
m ú ltip las arenas são rep resen tad o s te cn ica m en te por jo g o s com p a yo ffs
v ariáveis. O s fatores contextuais determ inam as variações dos p a yo ffs e são
refletidos por eles. O p a y o ff do jo g o na arena principal varia de acordo com
a situ ação prevalecente nos outros jo g o s, e os atores m axim izam a sua ação
q u an d o levam em conta esses pa yo jfs variáveis. A ex p ressão p ro jeto in sti­
tucional refere -se à inovação política refere n te às regras do jogo. Os a to ­
res esco lhem entre os d iferentes jo g o s possíveis, ou seja, entre os possíveis
co n ju n tos de regras. N esse caso, am pliam o seu espaço estratég ico e e sc o ­
lhem um a opção que antes não estava disponível.
Indiquei que a d iscordância entre ator e o b servador deriva ou de um a
e sco lh a errada por parte do ator, ou da perspectiva incom pleta do o b serv a­
dor. Q u ando pressupom os a racionalidade do ator, o p rim eiro caso (o m e­
nos im p o rtan te) é elim inado. O caso restante pode ser ex p licad o pela e s ­
tru tu ra de jogos ocultos na qual as escolhas parecem ser subótim as num jo g o
porque o o b servador não leva em consideração que o jo g o na arena prin c i­
pal está inserido dentro de um a rede de outras arenas, ou num jo g o de or­
dem su p erio r em que as p róprias regras são variáveis. D en tro desse e n fo ­
q ue d e escolha racional e adm itindo que haja inform ação adequada, o c o n ­
ceito d e jo g o s ocultos é a única explicação p ara a escolha de estratégias apa­
ren tem ente subótim as.

///. ESQUEMA DO LIVRO

O livro descreve situações em que os atores não escolhem a alterna­


tiva aparentem ente ótim a porque estão envolvidos em jogos ocultos, ou seja,
fatores contextuais ou institucionais têm um a im portância predom inante.

B S C S H / UFRGS
G E O R G E T S E B E L IS

O s dois tipos de jo g o s ocultos (jogos em m últiplas arenas c projeto


in stitu cio n al), em princípio, requerem tratam ento equivalente. N a prática,
co n tu d o , há um a assim etria. F orneço um tratam ento teó rico com pleto dos
jo g o s em m ú ltip las aren a s, ex traio im p lic açõ es d essa ab o rd ag e m e te sto
essas im plicações em situações em píricas diferentes. T rato o projeto in sti­
tucional de m aneira m enos rigorosa - deduzo um a tipologia das instituições
e o bservo tipos diferentes dc instituições nos capítulos em píricos que co rres­
po n d em a essa tipologia. T rato o pro je to in stitu cio n al de m a n eira m enos
ex au stiv a do que os jo g o s em m últiplas arenas po rq u e a m udança in stitu ­
cional, p o r definição, envolve inovação política, e é difícil (se não im pos­
sível) co n h e cer suas regras, e mais difícil ainda dispor de um a teo ria co m ­
p le ta so b re elas. R ik e r (19 8 6 ) co n sid e ra o d e sen v o lv im e n to da inovação
p olítica um a arte, em contraposição à cicncia, dá-lhe o nom e de herestéticci,
e afirm a q ue não se podem co nhecer as suas leis. Sejam as leis do projeto
in stitucional incognoscíveis ou apenas desconhecidas, essa questão é dem a­
siado im p o rtante p ara ser deixada dc fora de um livro que adota um a m e­
to d o lo g ia de esco lh a racional. N o entanto, o atual estado de conhecim ento
das in stitu ições ju stifica a ausência de rigor teórico.
Tal assim etria de tratam ento é clara na diferença em term os dc preci­
são teó rica entre os C apítulos 3 e 4. D e igual m odo, em cada um dos ca p ítu ­
los em píricos (5, 6 e 7), os efeitos do contexto ocupam a parte principal da
exposição, c apenas a seção final discute a política da m udança institucio­
nal. E m bora, teoricam ente, cada razão para a escolha não-ótim a m ereça tra­
tam ento igual, na prática há no livro um tem a principal e um m enos im por­
tante: no principal, adm ite-se que as instituições são constantes, e exam ino
apenas os efeitos do contexto político (jogos em m últiplas arenas). N o tem a
m enor, ou secundário, estudo a m udança de regras (projeto institucional).
A apresentação está organizada da seguinte m aneira: o C apítulo 2 exa­
m in a d e m o do d etalh ad o as im p lic açõ es do en fo q u e da e sc o lh a racional.
M o stro com o e por que essa abordagem difere de outros program as de pes­
q u isa no cam po das ciên cia s sociais. A ab ordagem co n tém um a s érie de
ex igências para os atores políticos: a ausência de crenças contraditórias, a
ausên cia de preferências intransitivas, e a ob ed iên cia a axiom as de cá lcu ­
lo de pro b abilidade e às regras da teoria dos jo g o s (para nom ear apenas al­
g u m as). Q uão realista é tal enfoque? U m a vez definido o cam po de ap li­
cab ilid ad e da teoria, o enfoque de escolha racional constitui um a legítim a
c fecu n d a abordagem da realidade.
N o C apítulo 3, estabeleço a fundam entação teórica dos jo g o s em m úl­
tip las arenas: são jo g o s com p a yo jfs variáveis, cm que os p a yo ffs do jo g o
na aren a p rincipal são in flu en ciad o s pela situ ação prev alece n te em o u tra
arena. O capítulo exam ina jo g o s sim ples de dois jo g a d o res com p a yo ffs va­
riá v eis, fo rn ece n d o a b ase p ara ap licaç õ es su b se q ü en te s. É ex a m in ad a a
relação en tre os jo g o s mais conhecidos (o dilem a dos prisio n e iro s, o jo g o
JO G O S O C U LT O S 27

do "g alinha", o jo g o do seguro e o jo g o do im passe) e são identificados os


seus eq u ilíb rio s, fam iliarizando o leitor com as suas propriedades teóricas.
In tro d u z -se a d istinção en tre jo g o s de um a só jo g a d a e jo g o s iterativos, e
as diferenças de resultados são derivadas teoricam ente. F inalm ente, exam ino
os resu ltad o s de está tic a com parada (por exem plo, o que acontece com a
freq ü ên c ia da esco lh a de estratégias diferentes quando esses jo g o s são ite­
rativos e os pa yo jfs dos jo g a d o res variam ). C ada capítulo em pírico aplica
de m an eira concreta e diferente o conceito de jo g o s em m últiplas arenas nos
p aíses da E u ro p a O cidental.
O C ap ítu lo 3 forn ece o fu ndam ento te ó rico d ire to p ara os capítulo s
em p íricos subseqüentes, e refiro-m e constantem ente a seus resultados. L e i­
tores pouco fam iliarizados com a técnica poderiam apenas aceitar sem ques­
tio n ar as referências do C apítulo 3. N esse caso, podem ver neste livro pouco
m ais do que três capítulos em píricos com débeis conexões entre si. S eria
m uito m ais proveitoso se tentassem seguir a m atem ática elem entar do C a­
p ítu lo 3 p ara c o m p reen d er a ló g ica dos arg u m en to s su b se q ü en te s. N este
caso, tornar-sc-á evidente a unidade dos capítulos em píricos com o d em on s­
trações da lógica dos jo g o s ocultos e ficarão m ais claros outros casos pas­
síveis de sem elhante tratam ento teórico. O que é exigido p ara a total co m ­
p reen são do livro não é um co n h e cim e n to p rév io de m a tem átic a, m as a
vontade de estu d a r o C apítulo 3 de m odo que se esteja fam iliarizado com
seus argum entos quando forem em pregados.
O C ap ítu lo 4 tra ta do projeto in stitu cio n al. C onstitui um estu d o das
co ndições necessárias para o projeto institucional, um a classificação dos di­
ferentes tipos de projeto institucional e um a discussão das condições sob as
q u ais é provável que ocorram . As instituições são divididas em eficientes
(aquelas que prom ovem os interesses de todos ou da m aioria dos atores) e
redistributivas (aquelas que prom ovem os interesses de um a coalizão contra
outra). E stas últim as (redistributivas) se subdividem em instituições dc co n ­
so lid ação (instituições destinadas a prom over os interesses dos vencedores)
e instituições de tipo new d ea l (instituições destinadas a dividir as co lig a­
ções existentes e tra n sfo rm ar perdedores em vencedores). S ustento que a
teo ria sobre as instituições tem usualm ente se lim itado a apenas um desses
três casos, e não se estendeu a todos os três. O fracasso em com preender a
natureza com plexa das instituições gerou extrapolações e inferências incor­
retas a respeito delas. A lguns autores (m arxistas, sobretudo) vêem as insti­
tuições exclusivam ente com o redistributivas; outros (econom istas, p rincipal­
m ente) vêem -nas com o exclusivam ente eficientes. F inalm ente, especifico as
co ndições sob as quais a construção da instituição eficiente ou redistributiva
prevalece. C ada um dos capítulos em píricos subseqüentes do livro apresen ­
ta de m aneira mais sistem ática um exem plo de cada categoria de instituição.
A plico depois o qu ad ro teórico definido nos C ap ítu lo s 2, 3 e 4 a três
fen ô m enos políticos em três países diferentes: os partidos políticos e as re­
GEORGE TSE B E U S

lações entre líderes c m ilitantes no Partido T rabalhista britânico, o sin d ic a­


lism o e o projeto institucional na B élgica e a p o lític a eleitoral e a coesão
dc colig ação na Q uinta R epública francesa. O s exem plos foram escolhidos
p o r sua diversidade, de m odo a dem onstrar a co e rê n cia lógica, a v ersatili­
d ade co n creta e a precisão em pírica do esquem a dos jo g o s ocultos.
O livro com o um todo adota o princípio da com paração entre os siste­
m as mais diferentes (Przew orski e Teune 1970). E studam -se três casos d ife­
rentes na política da E uropa O cidental, os quais envolvem atores diversos,
conccrncm a países diversos e dizem respeito a assuntos diversos. Em todos
os ca so s, ap licam -se algum as p ro p o siçõ es sim ples sobre co m p o rtam en to
racional: m udanças em payoffs ou instituições levam os atores a m odificar
as suas escolhas de estratégias (de equilíbrio). C onseqüentem ente, o contexto
p o lítico e as instituições políticas influenciam de m aneira previsível.
Os capítulos são apresentados em ordem de com plexidade crescente.
O C ap ítu lo 5 exam ina a interação entre as m assas e as elites num contexto
d e com p etição eleitoral. O jo g o principal é a interação entre os p arlam en ­
tares trab alh istas britânicos e os m ilitantes de seu d istrito eleitoral, e esse
jo g o está oculto num jo g o de co m petição eleitoral entre os partidos. O C a­
p ítulo 6 adota a perspectiva inversa: o jo g o principal é a interação entre as
elites. Tal interação, porém , é influenciada pela interação entre cada elite
p o lític a c as m assas que ela representa. O jo g o principal c parlam en tar c
está o culto num jo g o entre as elites c as m assas. O C apítulo 7 tra ta da si­
tu ação mais com plicada na qual quatro partidos se organizam em duas co ­
ligações, e cada partido tem que levar em co n ta várias arenas: o jo g o no
âm b ito n acional, o jo g o com petitivo entre as coligações no nível d istrital.
N o q ue co nccrne ao projeto institucional, o C apítulo 5 apresenta o caso das
in stitu içõ es redistributivas do tipo new deal, o C apítulo 6 dem onstra com o
o peram as in stitu iç õ es eficientes, e o C ap ítu lo 7 m ostra com o coligações
v encedoras diferentes adotam instituições de co n so lid ação diferentes.
O C apítulo 5 trata dos partidos políticos c do relacionam ento entre a
lid eran ça e os m ilitantes do partido. Os distritos eleitorais do Partido T ra­
b alh ista revoltam -se ocasionalm ente contra os seus M Ps c substituem -nos
por serem m oderados dem ais. A lgum as vc/.cs, na eleição subseqüente, o Par­
tido T rab alhista perde a cadeira. Um tal com portam ento suicida é en ig m á­
tico d entro de um quadro de esco lh a racional. Os fenôm enos de conflitos
de rein d icaç ão do candidato para d isp u ta r a ca d eira e as suas c o n seq ü ên ­
cias destrutivas são estudados na fo rm a de um jo g o repetido entre eleitores
m ilitan tes, MPs em atividade c líderes trabalhistas, jo g o que está oculto num
jo g o com petitivo entre o Partido C onservador e o P artido Trabalhista no nível
d istrital c no plano nacional. C o nsidera-sc ótim o o com portam ento aparen­
te m en te suicida dos m ilitantes nesse jo g o o cu lto po rq u e tem a ver com a
co n stru ção de um a reputação de firm eza que irá d esen co rajar a m oderação
dos seus representantes.
JO G O S O C U LT O S 29

O esquem a dos jo g o s ocultos explica o m otivo pelo qual estudos em ­


píricos anteriores (sobretudo estudos que tentam estabelecer as forças relati­
vas dos eleitorados e das lideranças pelo exam e da freqüência dos conflitos
de reindicação do candidato e os seus resultados [Janosik 1968; M cK enzie
1964; R anney J965, 1968]) centram -se nas variáveis explicativas erradas e
chegam assim a conclusões duvidosas. A lém disso, o esquem a dos jogos ocul­
tos revela a im portância das mudanças institucionais feitas sob pressão dos m i­
litantes do distrito entre 1979 e 1981. C ontrariam ente à bibliografia existen­
te (K ogan e Kogan 1982; W illiam s 1983), sustento que a principal m udança
no Partido T rabalhista foi o deslocam ento para a esquerda nas preferências
políticas dos sindicatos na década de 70, e não as subseqüentes m odificações
institucionais que refletiram e cristalizaram esse deslocam ento.
O C ap ítu lo 6 ab o rd a a q u estã o do co n so ciacio n a lism o e do p ro jeto
in stitu cional. D c acordo com a literatura consociacional (L ehm bruch 1974;
L ijp h art 1969, 1977; M acR ae 1974), profundas clivagens políticas e sociais
não levam a situ a çõ es explosivas e instáveis en q u a n to as elite s políticas
atu arem de m a n eira co n tem p o rizad o ra. O utros autores (B illie t 1984;
D ierickx 1978) afirm am que o que explica o com portam ento contem pori-
zad o r das elites nos países consociacionais é a p ossibilidade de negociação
de pacotes (package cleals*) contra questões específicas: em questões de im ­
p o rtân cia assim étrica é possível a barganha de votos. Se essas explicações
estivessem corretas, haveria duas conseqüências. Em prim eiro lugar, as e li­
tes não teriam m otivos para iniciar conflitos políticos. Em segundo lugar,
não haveria necessidade de instituições consociacionais, ou seja, instituições
esp ecialm ente concebidas para m inim izar o conflito. Segundo essas teorias,
tan to a deflagração de um co nflito quanto a instituição consociacional p a­
recem constituir atividades subótim as.
A fim de explicar esses enigm as dc com portam ento subótim o, utilizo
o esq u em a dos jo g o s ocultos. C onsidero as elites políticas belgas envolvi­
das em jogos ocultos. E las jogam o jo g o parlam entar entre si, enquanto cada
elite p articu larm en te está envolvida num jo g o com suas bases. E ste jo g o
en tre cada elite e as m assas que elas representam influencia os payoffs do
jo g o parlam entar. S ustento que o com portam ento das elites políticas é ó ti­
mo no quadro dos jo g o s ocultos, m esm o que possa não ser ótim o em q u a l­
q u er jo g o considerado isoladam ente, e m ostro que o com portam ento ótim o
no jogo o cu lto envolve por vezes a d eflag raçã o de c o n flito s pelas elites.
F o rn eço um a explicação consistente do projeto das instituições belgas. F i­
nalm ente, utilizo o esquem a dos jo g o s ocultos para explicar os cálculos dos
atores e o fracasso das negociações relativas ao Pacto de E gm ont, que p re­
ten d ia resolver a situação de B ruxelas cm 1977.

* P uckuge dca ls, (ermo d a prática eo n g ressu al am ericana, cm q u e v ário s ite n s são ju n ta d o s num a ún ica unitlade
para facilitar a aprovação. (N. d o T.)
G E O R G E T S E B E L IS

O C apítulo 7 tra ta da política eleitoral e da coesão das coligações na


Q u in ta R ep ú b lica francesa. O sistem a eleitoral francês req u er cooperação
e fo rm a ção de co lig açõ es en tre p artid o s d ife ren tes no seg u n d o tu rn o das
eleições. D entro de cada coligação, no segundo turno, o partido que chega
em segundo lugar no prim eiro turno tem de tra n sferir os seus votos ao ven­
cedor. A té que ponto é efetiva a tra n sferê n cia dos votos dos partidos para
o seu parceiro no segundo turno?
M odelos espaciais de votação e de com petição entre os partidos (Bar-
tolini 1984; R osenthal e Sen 1973, 1977) fazem a seguinte previsão: os co ­
m unistas votarão com os so cialistas no segundo turno porque os so cia lis­
tas se situam m ais à esquerda do que os partidos de tendências direitistas.
Todavia, os socialistas não serão aliados estáveis p ara os com unistas por­
q ue os so cialistas não se sentem n ecessariam ente m ais próxim os dos com u ­
nistas do que dos partidos de direita. P ortanto, os so cialistas desfrutam de
um a “ vantagem p o sicio n ai” sobre os com unistas na p o lític a eleitoral e na
form ação de coligações (B artolini 1984, 110). A rgum entos análogos podem
ser ap resentados com relação aos partidos de direita. C om o a d istância ideo­
lógica é m enor do que entre socialistas e co m unistas, haverá um a ex p e cta­
tiva m aior de transferência de votos dentro da direita que dentro da esquerda.
N a verdade, porém , todos os partidos transferem votos de m aneira interm i­
tente. P or que os partidos prefeririam dar um a cadeira para a coligação ri­
val em vez de ajudar a vitória do parceiro?
P ara ex p licar esse co m p o rtam en to subótim o, co n sid e ro o jo g o entre
parceiros em seu nível nacional com o oculto dentro de um jo g o co m p etiti­
vo entre coligações e 110 jo g o entre parceiros de coligação no plano distrital.
As co ndições locais prevalecentes determ inam os p a yo ffs de cada jogador,
e estes determ inam a probabilidade de cooperação. A co n c lu são do e n fo ­
que dos jo g o s ocultos é que as transferências de votos são determ inadas pelo
b alan ço das fo rças num d istrito . E sse balan ço inclui a fo rç a relativ a das
co lig ações e a força relativa dos parceiros dentro de cada coligação. A van­
tagem te ó rica da abordagem jo g o s ocultos é que ela d em onstra que todos
os p artidos obedecem às m esm as leis e se com portam de m aneira sim ilar
no q u e concerne à coesão da coligação e à tran sferên cia de votos. A co m ­
paração da abordagem jo g o s ocultos com explicações alternativas tais com o
m odelos espaciais, p esquisa de opinião (Jaffré 1980) e abordagens psico-
so cio lógicas (C onverse e Pierce 1986; R ochon e P ierce 1985) indica diver­
sas v antagens desse enfoque: parcim ônia te ó rica, co n g ru ên c ia com outras
teo rias existentes e precisão descritiva.
A p erfo rm a n ce da abordagem jo g o s ocultos em cada estudo de caso
não deve afastar os leitores da questão principal: todos os casos em píricos,
que vão da política de coligação à política partidária, e de questões de ideo­
logia a questões de consolidação institucional, são aplicações da m esm a teo ­
ria. O objetivo essencial deste livro é dem onstrar que o contexto político e
JO G O S O C U LT O S 31

as instituições políticas se com portam de m aneira previsível, explicar por


q u e o co rrem tais regularidades e fornecer um a form a sistem á tica dc lidar
com fen ô m en o s p o lític o s com plexos. A ên fa se na p alav ra s istem á tica se
deve à m inha esperança dc qu e o livro torne esse m étodo p articu lar de e s ­
tudo am plam ente acessível. Tornar acessível a produção do conhecim ento é,
acredito, um objetivo im portante de qualquer em preendim ento científico.
2

EM DEFESA DO ENFOQUE DA ESCOLHA RACIONAL

A racionalidade, com o a defini no Capítulo 1, nada mais é que um a cor­


respondência ótim a entre fins e m eios. Já que é difícil im aginar processos po­
líticos sem a relação m eios/fins, essa definição pode parecer tautológica, inó­
cua e trivial a ponto de sua discussão se tornar dispensável.
Essas im pressões são falsas. Em prim eiro lugar, não é verdade que o en ­
foque da escolha racional seja o único possível em política. A S eção I deste ca­
pítulo lem bra aos leitores que a lista de enfoques alternativos é bastante extensa.
Em particular, teorias com o a teoria sistêm ica e o funcionalism o estrutural não
se ocupam dos atores, c outras, com o a psicanálise, a psicologia social e o be-
haviorism o não consideram os atores com o necessariam ente racionais. Em se­
gundo lugar, a m inha definição de racionalidade não é inócua: a S eção II deste
capítulo dem onstra que essa definição sim ples de racionalidade im põe ao ator
m uitas exigências. E specificam ente, os atores racionais devem ser coerentes
(não possuir crenças ou desejos contraditórios), decidir de acordo com as regras
do cálculo de probabilidades e interagir com outros atores de acordo com as
prescrições da teoria dos jogos. Em conseqüência, a questão sensata passa a ser
não se as pessoas sem pre se desviam da racionalidade, mas sc as pessoas se lhe
am oldam . D e fato, a m aioria das objeções à abordagem da escolha racional su ­
gere que o pressuposto de racionalidade não é trivial, mas antes um a exigência
irrealística; de acordo com essas objeções, não existem atores racionais (e pro­
vavelm ente não podem existir). A Seção III discute essas objeções. Indico que
há boas razões pelas quais os atores políticos devem ser racionais (um enfoque
norm ativo), e razões adicionais pelas quais os atores políticos podem ser estu­
dados utilizando o enfoque da escolha racional (um enfoque positivo). A Seção
IV enum era as principais vantagens do enfoque da escolha racional.
J4 G E O R G E TSE B E L IS

/. O QUE O ENFOQUE DA ESCOLHA RACIONAL NÃO É

Podem -se distinguir duas am plas categorias de teorias que não assum em
qualquer correspondência entre meios e fins. A prim eira não tem qualquer pre­
ocupação com os atores com o unidades de análise. A segunda estuda os atores,
mas não assum e que sejam racionais.
( I) Teorias sem atores. Análises sistêm icas (Easton 1957), estruturalism o
(H olt 1967), funcionalism o da direita (Parsons 1951) ou da esquerda (H ollo-
way e Picciotto 1978) e teorias da m odernização (A pter 1965) são representantes
proem inentes dessa abordagem . Explicações dos fenôm enos sociais ou políti­
cos são fornecidas em termos holísticos, em referência ao sistem a com o um todo.
E m bora a existência de atores racionais não seja negada, o estudo de seus pro ­
cessos de tom ada de decisão é considerado secundário ou desim portante. E xpli­
cações válidas são ou causais ou funcionais. Em outros term os, os processos ou
estruturas podem ser explicados ou pelos processos e estruturas antecedentes, ou
por suas conseqüências benéficas para os processos subseqüentes, para as estru­
turas e para o próprio sistem a.
Tais teorias têm por objeto dc atenção algo diferente da abordagem da
escolha racional. Contudo, às vezes é possível um a tradução de um program a
dc pesquisa para outro. P or exem plo, a m odernização econôm ica tem co n se­
qüências políticas (K autsky 1971), porque gera interesses econôm icos expres­
sos por coligações políticas. Essas coligações podem ou não alcançar seus ob ­
jetivos, devido às necessidades contidas nas estruturas existentes, ou devido às
ações de outras coligações. Ou a necessidade de ordem política nos países do
T erceiro M undo (H untington 1968) pode ser atribuída a um grupo específico
de atores (geralm ente elites) e a seus interesses em determ inadas form as de or­
ganização política.
Tais exem plos indicam que existe um a tradução entre o nível individual
e o agregado. U m exam e mais atento do processo de tom ada de decisão do ator
pode indicar p o rq u e situações com condições antecedentes sim ilares evoluem
d e m aneira diferente, e dem onstrar ainda o caráter fecundo de tal tradução.
Existem casos, porém , em que essas traduções específicas entre progra­
mas de pesquisa não são possíveis. Considerem os o argum ento de Coser (1971):
“O conflito dentro das estruturas burocráticas e entre essas estruturas fornece
os meios para evitar a ossificação e o ritualism o que am eaçam as suas form as
de organização” 1. H á dois sentidos possíveis: a prim eira interpretação é um a
proposição de estática com parada, na qua! sistem as com estruturas burocráti­
cas conflitantes dem onstram graus mais baixos de ossificação e ritualism o do
que sistem as dotados dc estruturas burocráticas não-conflitantes; a segunda in­
terpretação tenta explicar a existência de conflito por sua função. O prim eiro
argum ento pode ser testado em piricam ente e revelado verdadeiro ou falso. Tal

l . Ver Lilstcr ( 1983, p. 59).


J O G O S OCU LTO S

interpretação não pretende ser explicativa. A frase “fornece os m eios para evi­
tar” p oderia ser substituída por “tem o efeito de reduzir” , e pode-se procurar
um a explicação em term os de escolha racional para essa regularidade em pírica.
A segunda interpretação não pode ser traduzida em term os de escolha racio­
nal, porque não existe ator com o objetivo im plícito de evitar a ossificação e o
ritualism o; “o sistem a” é um a abstração para um conjunto de indivíduos com
interesses e objetivos diversos ou conflitantes. R esulta q u e o surgim ento do
conflito não pode ser explicado nos term os de suas conseqüências benéficas
p ara as estruturas burocráticas; tem de ser explicado com o um a agregação de
com portam entos adotados para prom over objetivos particularísticos.
R efiro-m e a um a explicação tipo “ atalho” ou “caixa-preta” sem pre que
pode ser feita um a tradução de teorias que não levam em conta o ator para o en ­
foque da escolha racional. N esse caso, a fim de enfatizar o quadro m acro, o m e­
canism o de um fenôm eno social ou político não será descrito com pletam ente.
O nde um a tal tradução é im possível, não é possível en contrar q uaisquer mi-
crom ecanism os com patíveis com os resultados agregados observados, dando
a entender que nenhum processo causai pode explicar o fenôm eno. A ssim , de-
frontam o-nos com um caso do que é conhecido com o correlação espúria.
A razão pela qual tal tradução entre program as de pesquisa é im portante se
deve ao princípio do individualismo m etodológico, que estabelece que todos os
fenôm enos sociais podem e devem ser explicados em termos das ações dos indi­
víduos que operam sob determ inadas coerções. Elster (1983) sustenta que esse
princípio é um caso especial do reducionism o existente em qualquer ciência.
Situadas entre as teorias do ator racional e aquelas que não levam em conta
o ator estão aquelas teorias que derivam os resultados políticos das ações de
agregados sociais inform ais: classes ou grupos. Esses agregados são conside­
rados racionais (no sentido de m eios/fins que defini no início deste capítulo),
mas a sua própria existência perm anece inexplicada cm term os de racionalida­
de. A nalisem os o conflito econôm ico e social. Poder-se-ia centrar a análise no
conflito entre grupos diferentes de trabalhadores, ou no conflito entre ram os di­
ferentes da indústria (trabalhadores e capitalistas tom ados em conjunto). Em
vez disso, M arx julgava que os trabalhadores e o capital são atores unificados
na tentativa de m axim izar as suas respectivas prosperidades (salários agrega­
dos para os trabalhadores e lucros agregados para os capitalistas). Segundo esse
enfoque, a luta de classes, m otor da história, resulta do fato de que o produto
é fixo em qualquer época e deve ser dividido entre capitalistas e trabalhadores.
O bservem os que, segundo esse enfoque, tanto o trabalho quanto o capital são
considerados atores unitários e que a com petição entre capitalistas por m erca­
dos ou entre trabalhadores por em pregos é descartada pelo modelo em sua form a
mais sim plificada2. Tam bém está ausente o conflito entre ram os da indústria.

2. Rm outras purles d c siui obni, M arx trata d o problem a dc m últiplos jo g ad o res (capitalistas e tr;iballnidores) sem .
contudo, abordar ;is interações entre eles. O exem plo m ais lam oso é a taxa decrescente de lucro, discutida cm Das
G E O R G E TSEBELIS

Tais pro b lem as foram abordados em elaborações posteriores (P rzew orski e


W allerstein 1982, 1988). O s resultados, porém , são radicalm ente diferentes
daqueles da teoria original.
(2) Teorias com atores não-racionais. A fonte da não-racionalidade não
pode ser os objetivos do ator - De giistibus non est disputandum . Os objetivos
podem ser egoístas ou altruístas, idealistas ou m aterialistas. A única fonte de
não-racionalidade deve ser um a ruptura na relação entre m eios e fins em nos­
sa definição de racionalidade.
Tal ruptura pode ocorrer de duas m aneiras: ou por um a ação impulsiva, ou
através de um a fonte mais profunda de irracionalidade (B oudon 1986, 294). A
investigação sobre am bos os tipos dc irracionalidade sc origina na psicologia, e
pode ser situada em duas classes distintas. A prim eira classe inclui teorias que
explicam as ações resultantes de motivações afetivas ou im pulsivas (por exem ­
plo, revoluções explicadas por meio da teoria da “ privação relativa” [G urr
1971]). N essa classe de teorias, com portam entos em desacordo com os cálcu­
los racionais podem ser observados e explicados pelo observador externo c acei­
tos pelo próprio ator. Contudo, tal com portam ento não pode ser sistem ático ou
m esm o freqüente, com o dem onstro abaixo.
N a segunda classe, o motivo para um co m portam ento irracional é um
constructo teórico, que pode ser inacessível tanto ao observador quanto ao ator.
Tais teorias incluem o “instinto de im itação” (G abriel Tarde), a “ falsa consciên­
cia” (Friedrich Engeis), as “pulsões inconscientes” (Sigm und Freud), o “ hábi-
tus” (P ierre Bourdieu), a “cultura nacional” (G abriel A lm ond e Sidney Verba),
ou forças com o “ resistência à m udança” ou “inércia”3.
M ais um a vez, talvez seja possível traduzir essas teorias para um enfo­
qu e de escolha racional. C onform e sustenta este livro, certas ações podem
parecer irracionais pelo fato dc o quadro de referência não ser apropriado. Por
exem plo, Sam uel Popkin e R obert Bates, em vez de usar o conceito de “eco­
nom ia m oral” , com o faz Jam es Scott, explicam os costum es e com portam en­
tos nas sociedades rurais por m eio de argum entos baseados na escolha racio­
nal4. B haduri (1976) explica a “ resistência à m u dança” , ou seja, por que os
cam p o n eses de B engala ocidental resistem às inovações tecnológicas que
m elhorariam a produtividade; ele afirm a que tais m elhorias reduziriam a dívi­
da, term inando assim a dependência dos pobres em relação aos ricos. C onse­
qüentem ente, os proprietários ricos se oporiam à inovação a fim de preservar
os seus interesses de longo prazo.

K íi/iintl, que pode .ser repiüsentada nu form a de um jo g o dc dilem a do prisio n eiro entre capitalistas. Ver Boudon
(1977).
3. Para um exam e crílico de algum as d essas teorias, ver B arry (1978).
4. Ver Popkin (1979), Bales (1983) e Seoll (1976). U m a interpretação d iferente d a obra d e Scolt p oderia .ser qu e ela
fornece as razões eslruiuiais para o com portam ento a verso ao risco dos cam poneses. A questão da aversão ao risco
é discutida no apêndice ao presente capítulo.
JO G O S O CU LTO S

Em outros casos, o enfoque da escolha racional traduz as variáveis inde­


pendentes dos estudos existentes em variáveis dependentes c explica as co n ­
clusões de outros estudiosos. B oudon, por exem plo, produz um m odelo sim ­
ples de escolha racional para explicar urna das mais intrigantes descobertas do
The A m erican S o ld ier (S touffer 1965): que pilotos que pertenciam a grupos
que recebiam prom oções freqüentes estavam insatisfeitos, ao passo que os
policiais m ilitares estavam satisfeitos com um sistem a no qual as prom oções
eram raras5. Segundo a exposição de Boudon, os indivíduos com preendem as
ca ra cte rístic as do sistem a e investem os seus esforços em consonância com
ele; se a probabilidade de recom pensa é pequena, a utilidade esperada de um
grande esforço é negativa, e as pessoas param de fazê-lo. Se a probabilidade
de recom pensa é grande, as pessoas tentam m elhorar a sua situação, e aqueles
q ue fracassam ficam insatisfeitos.
D e modo análogo, Converse (1969) em prega um m odelo dc aprendiza­
do para fornecer um a explicação extrem am ente elegante e excepcionalm ente
precisa (seu R2 chega a nada m enos que 0,86) de algum as diferenças de “cul­
tura cívica” entre os cinco países estudados por A lm ond e Verba (1963). S egun­
do a explanação de Converse, a identificação partidária pode ser aprendida por
m eio da participação em instituições dem ocráticas. Q uanto mais antigas forem
tais instituições, mais estáveis serão as atitudes partidárias produzidas. E sse
pressuposto sim ples, juntam ente com a história das cinco nações, pode expli­
car as diferenças de estabilidade partidária que A lm ond e Verba atribuíam às
diferenças de “cultura cívica” . A lém disso, o tem po pode explicar as diferen­
ças entre eleitores antigos e novos, bem com o as diferenças dc sexo (na m aio­
ria dos países só recentem ente as m ulheres obtiveram o direito de voto).
Para explicar tais fenôm enos Converse utiliza o aprendizado, e não um
m odelo de escolha racional. Contudo, passos adicionais podem ser dados para
traduzir suas descobertas para um a explicação tipo escolha racional. Conver­
se sustenta que o tem po não é um ator causai, em bora seja um indicador cô ­
m odo d e algum outro processo que ocorre ao longo do tem po: o aprendiza­
do. Se no lugar do aprendizado* se considerar um processo de atualização
bayesiano, as conclusões de Converse podem ser explicadas em term os de es­
colha racional. Pessoas mais velhas possuem princípios mais fortes porque for­
m aram tais princípios através de um a longa experiência (um núm ero mais alto
de eventos relevantes). Portanto, torna-se mais difícil para elas rever as suas
atitudes. Pessoas mais jovens possuem princípios menos consistentes, e cada
nova ex p eriência é im portante na form ação de suas crenças ou atitudes. As
m ulheres, nos países que som ente há pouco conquistaram o sufrágio fem ini-

5. Ver Boudon (1979). A s d escobertas originais apareceram em Sto u lle r (1965).


6. A atualização bayesiíina dc inform ação ocorre quando um indivíduo revê as probabilidades que atribuía a um evento,
de acordo to m a fórm ula de Bayes (Skyrm s 1986). N essa tórm ula, quanto m ais sólidos forem os princípios, me­
nos serão m odilicados por inform ação conflitante.
G E O R G E TSE B E LIS

110 , são sem elhantes aos jovens eleitores, nesse enfoque7. Conseqüentem ente,
as d escrições de eventos históricos ou explicações de escolha não-racional
podem ser traduzidas para o esquem a apropriado de escolha racional.
R ecapitulando, o enfoque da escolha racional não é o único possível na
abordagem dos fenôm enos políticos; enfoques alternativos ou estudam fenôm e­
nos sociais e políticos utilizando atores que não tentam otim izar o alcance de seus
objetivos, ou sim plesm ente excluem os atores com o unidades de análise.
N em sem pre é possível traduzir as relações postuladas pelos diferentes
program as de pesquisa. Se for possível, em bora não seja realizada, um a tradu­
ção de algum a agenda de pesquisas para um a abordagem da escolha racional,
será feita um a referência a um a explicação tipo atalho (ou caixa-preta). Se for
im possível, com o no caso de Coser, o resultado será um a correlação espúria.

//. O QUE O ENFOQUE DA ESCOLHA RACIONAL É

A tarefa aqui é derivar as im plicações da correspondência m eios e fins no


que concerne à definição de racionalidade. F aço um a distinção entre dois tipos
diferentes de exigências para a racionalidade: exigências fr a c a s de racionali­
d ade e exigências fo rte s de racionalidade. O prim eiro tipo assegura a coerên­
cia interna entre preferências e crenças; o segundo introduz exigências de va­
lidação externa (a correspondência das crenças com a realidade). M esm o as
exigências fracas de racionalidade são às vezes difíceis de atender, o que levanta
a im portante questão da factibilidade e/ou vantagem de assum ir que os atores
políticos são efetivam ente racionais, um a questão a que respondo na Seção III.

1. E x ig ên cia s F racas de R a c io n a lid a d e

D iscuto as seguintes exigências dc racionalidade: (1) a im possibilidade


de crenças ou preferências contraditórias, (2) a im possibilidade de preferências
intransitivas, e (3) obediência aos axiom as do cálculo de probabilidades. A s pri­
m eiras duas referem -se ao com portam ento do ator racional sob condições de
certeza; a terceira regula o com portam ento do ator racional sob situação de
risco.
A d efesa de um sistem a axiom ático (neste caso, a com binação de exigên­
cias que definem a racionalidade) geralm ente im plica a dem onstração da p lau­
sibilidade dessas exigências (axiom as). Contudo, pode-se desenvolver um ar­
g u m ento m elhor m ediante a elucidação das conseqüências indesejáveis da
violação de tais exigências; quanto mais catastróficas forem essas conseqüên­

7. Para um a exposição an álo ga dc cseolha racional .sobre o conccilo <lo identificação partidária, ver Fiorina (1981) c
Calvert e M cK uen (1985).
JO G O S OCU LTO S 39

cias, mais persuasivo será o argum ento. N as dem onstrações que seguem , u ti­
lizo o dinheiro para dem onstrar conseqüências indesejáveis ou catastróficas. A
vantagem de utilizar dinheiro para m edir a desejabilidade das conseqüências
é a co m preensão im ediata de que as escolhas possuem conseqüências “ob je­
tivas” para a prosperidade dos indivíduos. N o entanto, todos os m eus argum en­
tos podem ser reconstituídos com as unidades abstratas de utilidade {útiles), ou
algum outro m uneraire não-m onetário satisfatório.
(1) A im possibilidade de crenças ou preferências contraditórias. Em ló­
gica form al há duas proposições relevantes. A prim eira afirm a que a conjun­
ção entre um a proposição e sua negação é um a contradição8. A segunda su s­
tenta q ue se pode derivar qualquer coisa de um antecedente falso. Se um a
p roposição é urna crença, essas duas leis da lógica indicam que qualquer coi­
sa decorre de crenças contraditórias. Portanto, se um ator tem crenças contra­
ditó rias, ele não pode raciocinar9. Se um a proposição é um a preferência, a
co m binação das duas leis indica que qualquer coisa decorre de preferências
contraditórias. A ssim , se um ator tem preferências contraditórias, ele pode es­
colher q ualquer opção.
N ote-se aqui que a contradição se refere a crenças ou preferências num
dado m om ento de tempo. A im possibilidade de crenças ou preferências contra­
ditórias não exclui nem a m udança de crenças ou preferências ao longo do tem ­
po nem a m anutenção de um a preferência num contexto e de outra num con­
texto diferente. E, portanto, mais fraca do que o axiom a da “independência de
alternativas irrelevantes” , no qual se assum e que o ator faz a m esm a escolha
entre duas alternativas, existam ou não outras alternativas (A rrow 1951).
(2) A im possibilidade de preferências intransitivas. O axiom a da “transi-
tividade das preferências” estabelece que, se um ator prefere a alternativa a à
alternativa b , t b a c , então necessariam ente ele prefere a a c 111. D em onstrou-se
que se pode criar um a “ m áquina de dinheiro” (fazer um m onte dc dinheiro) a
partir de um a pessoa com preferências intransitivas (D avidson, M cLinsey, e
Suppes 1954). Isso é dem onstrado corno segue: suponham os que um a pessoa
prefira a a b, b a c e c a a. Se ela detém a, alguém poderia persuadi-la a trocá-
lo p o rc , desde que ela pague um a quantia (digam os um dólar). Alguém poderia
persuadi-la tam bém a trocar c por b, m ediante o pagam ento de outra quantia
(digam os outro dólar). D epois, alguém poderia persuadi-la a trocar/; p o r« , com
um pagam ento adicional (outro dólar). O bserve-se que ela está exatam ente na
m esm a situação inicial (ela detém a)\ só que está três dólares mais pobre. Em
cada transação, ela m elhorou suas posses de acordo com as suas preferências.
D evido à intransitividade de suas preferências, porém , encontra-se monetaria-

8. É, de lato, a le i de A ristóteles do terceiro excluído, que pode ser estabelecida tom ial m ente com o /'&(-/>) = F. onde
/•' corresponde a “ falso".
9. Popper (1962) utiliza esse aigumento para rejeitar o raciocínio dialético (que aceita contradições) com o im possível.
10. Um princípio análogo de transitividade em lógica assegura a possibilidade do raciocínio.
40 G E O R G E TSE B E L IS

m ente pior do que antes. Se essa m áquina dc lazer dinheiro continua em opera­
ção, ela pode “m elhorar” a sua situação até chegar ao ponto dc m orrer dc fome.
Essas duas exigências de racionalidade fazem parte de qualquer exposi­
ção de tipo escolha racional, porque garantem a capacidade dos atores de m a­
xim izarem . A terceira exigência da racionalidade fraca tem a ver com a função
objetiva que os atores racionais procuram m axim izar.
(3) O bediência aos axiom as do cálculo de probabilidade. E ssa proposi­
ção é a mais contra-intuitiva e a mais difícil de sustentar; a prova é apresenta­
da no apêndice deste capítulo. É preciso introduzir a função objetiva que um
ator racional m axim iza. N este livro, assum o que os atores racionais m axim i­
zam a sua utilidade esperada, isto é, o produto da utilidade que derivam de um
evento, m ultiplicada pela probabilidade de que esse evento o c o rra".
A proposição estabelece que, sc um a pessoa quiser apostar, na crença
dc que a probabilidade de ganhar m ultiplicada pelo prêm io é igual à proba­
b ilid ad e de perder m ultiplicada pelo preço da a p o sta12, e se, em seus cá lcu ­
los, ela não obedecer às regras do cálcido de probabilidades, certam ente per­
d erá dinheiro'*.
N o que nos concerne, essa proposição indica que qualquer indivíduo cujo
cálculo não obedece aos axiom as do cálculo de probabilidades certam ente paga
um preço (independente de certos eventos se produzirem ou não) pela falta de
consistência de suas crenças. P or ora, não im porta saber até que ponto as pro­
babilidades estim adas pelo indivíduo correspondem ou não a freqüências ob­
jetivas. E le pode superestim ar ou subestim ar as probabilidades; pode ser otim is­
ta ou pessim ista. A única restrição da prova é que queira aceitar apostas justas,
isto é, apostas com utilidade esperada igual a zero.
N os casos anteriores, os indivíduos foram penalizados por desvios das
regras de coerência. A lgum as dessas regras, dc não-contradição e de transiti-
vidade, por exem plo, podem parecer intuitivam ente agradáveis c claras. O u ­
tras, com o a obediência aos axiom as do cálculo de probabilidades, podem pa­
recer contra-intuitivas e/ou irrealistas. N ão obstante, qualquer desvio dessas

1 I. Falando estritam ente, não liá ra/ã o paru que a regra de decisão faça parle da definição de racionalidade. Com efeilo,
pode-.se m ili/a r regras diferentes de decisão e derivar previsões diferentes. Por exem plo, i-crejohn c l iurina ( 1074)
ulilizum o crilério m inim ax de a rrependim ento para explicar por q u e as pessoas votam ív e r A m erica n Poiiiicai
Science Review 11975, 69: 908-960] sobre um a d iscussão extensa gerada pelo artigo). O utros critérios .seriam o
e riiúno m axim ini (L u ce e R ailía 1957), ou o misto (Tsebelis 1986), ou o critério de m últiplos estágios (Levi 1980).
C ontudo, agran d o m aioria dos estudos no cam po da escolha racional assum em que os atores racionais m axim izam
a sua utilidade esperada, e este livro não constitui uma exceção a isso.
11. Em term os técnicos, apostas com utilidade esperada igual a 7.ero. Q uem aposta ganha 1 dólar se um a m oeda der
cara e perde 1 se der coroa, ou ganha 5 se adivinhar corretam ente o resultado do la nçam ento dc um dado não-vi-
ciado. e paga 1 dólar se perder. N ote-se que as chances de unia ap o sta ju sta são bem maiores d o que as chances
que as pessoas aceitam ao participar em loterias ou jo g a r em cassinos.
I 3. No apêndice deste capítulo, dem onstro que, se um indivíduo está querendo fazer um a série de apostas justas (Juii
heis) e os seus valores de plausibilidade não obedecem ãs regras do cálculo de probabilidades, um a “aposta cega"
(Dních lio o k ) pode ser feita contra ela. O s term os aposta ju sta (Jiiir bet) e “aposta cega” (Dtiich liaok) são delini-
dos 110 apêndice deste capítulo.
J O G O S O CU LTO S 41

regras é urn desvio das exigências fracas de racionalidade, e resultará cm um a


perda de dinheiro.
Em todos os casos, não foram considerados eventos no m undo real: cren­
ças devem ser consistentes (internam ente), mas não devem corresponder neces­
sariam ente a situações no m undo real. Além disso, as penalidades eram im postas
independentem ente do que sc passa no m undo. Por exem plo, não há penalida­
de para a crença num a invasão im inente dos m arcianos, enquanto a pessoa que
tem essa crença agir de m odo coerente com ela, ou seja, preparar-se p ara a
invasão. A fim dc afastar possibilidades desse tipo, precisam os voltar-nos agora
para as exigências externas de racionalidade. '

2. E x ig ê n c ia s fo r te s cie r a c io n a lid a d e

As exigências fortes de racionalidade estabelecem um a correspondência


entre crenças ou com portam ento e o m undo real. A discussão que segue con­
cerne à distinção entre crenças, probabilidades c estratégias, conduzindo à prova
de três exigências fortes de racionalidade:

1. As estratégias são m utuam ente ótim as em equilíbrio ou, em equilíbrio, os


jo g ad o res obedecem às prescrições da teoria dos jogos.
2. Em equilíbrio, as probabilidades aproxim am -se das freqüências objetivas.
3. Em equilíbrio, as crenças aproxim am -se da realidade.

É mais fácil desenvolver essas exigências na ordem inversa. Em prim ei­


ro lugar, é preciso atentar para o qualificativo “em equilíbrio” que está presen­
te nas três exigências. H á duas razões para essa qualificação. A prim eira é ne­
gativa: a teoria da escolha racional não pode descrever atos dinâm icos; não pode
explicar os cam inhos que os atores irão seguir para chegar aos equilíbrios pres­
crito s14. A segunda é positiva: o equilíbrio é definido com o um a situação da qual
nenhum ator tem incentivo para desviar-se. Logo, não im porta de que modo o
equilíbrio é atingido, os atores racionais perm anecerão nele.
(1) O bediência às prescrições da teoria dos jogos. O conceito de equi­
líbrio de N ash é o conceito fundam ental da teoria dos jo g o s 15. Os jogadores uti­
lizam estratégias m utuam ente ótim as em equilíbrio: realizam um a com binação
estratégica da qual ninguém tem incentivo para desviar-se. Segundo essa d e ­
finição, pode haver mais de um equilíbrio num jogo. O problem a passa a ser o
de esco lh er o m ais razoável16. Q uando há mais de um eq u ilíb rio razoável, a

14. Em jo g o s ilerativos. é possível q u e uma ou m ais trajetórias de eq u ilíb rio sejam com putadas d e m odo qu e os suo­
res m udem o seu eom poruunenio ao longo d o tempo, mas tecnicam ente e stão sem pre em equilíbrio.
15. N ash ( 1 9 5 1). John N ash é um dos fundadores da te oria dos jogos.
16. liste é o problem a dos relinam enios d o conceilo de equilíbrio de N ash. D iversas soluções foram propostas: eq u i­
líbrios perfeitos (SeIten 1975). equilíbrio propriam ente dito (M yerson 1978), equilíbrios seqüenciais (Kreps eW il-
42 G E O R G E TSE B E U S

co o rd en ação entre os jogadores torna-se um problem a. Se a coordenação fa­


lhar, cada jogador escolherá um a estratégia de equilíbrio, mas essas estratégias
co rresponderão a equilíbrios diferentes: o resultado não será um eq u ilíb rio 17.
Um jo g a d o r tam bém poderia desviar-se da sua estratégia de equilíbrio sem ser
p en alizado18. E sse desvio, porém , pode induzir outros jogadores a m udar suas
estratégias, seja por ficarem em situação pior do que no equilíbrio, seja porque
podem ficar ainda m elhor. Em am bos os casos, o desv io do equilíbrio pode
g erar um a série de ajustes m útuos, levando ao equilíbrio anterior ou a um ou­
tro equilíbrio de N ash.
A ssim , o co n c eito de eq u ilíb rio de N ash é um a co n d ição n ec essária
(m as não suficiente) para a estabilidade dos resultados. U m o b servador não
deve e s p e ra r que um a situ ação seja estável se ela estiv er fora de eq u ilíb rio
pelo fato de um dos jo g ad o res ter um incentivo p ara m odificar as suas ações.
N esse sentido, o conceito de equilíbrio é tautológico no contexto dc escolha
racio n al19. O s equilíbrios são, por definição, as únicas com binações de estra­
tég ias m utuam ente ótim as.
(2) A s probabilidades subjetivas aproxim ar-se-iam das freq ü ê n cia s o b ­
je tiv a s 2". E ssa exigência tam bém depende de um a análise de equilíbrio. N a
teoria dos jogos, as crenças ao longo da trajetória do equilíbrio são atualizadas
de acordo com a regra de B ayes. Em outros term os, cada jo g a d o r u tiliz a da
m elhor m aneira as estim ativas prévias de probabilidade e a nova inform ação
qu e ele consegue obter do am biente. Se as probabilidades estim adas não se
aproxim arem das freqüências objetivas, os atores racionais terão condições de
m e lh o rar os seus resultados a longo prazo, revisando as suas estim ativas de
probabilidade. S uponham os, por exem plo, que alguém adote a crença de que
apostar cara é um a aposta ju sta num cara-ou-coroa (ele tem 50% de probabi­
lidade dc conseguir cara). S uponham os tam bém que a m oeda seja cunhada de
tal m odo que seja de um terço a probabilidade de dar cara. D epois que ficar

son 1982b) «eq u ilíb rio * estáveis (K ohlberg e M ertcns 1986). A lguns desses conceitos são discutidos no C apítulo
3. Contudo, o leitor interessado deve consultar os artigos originais, assim com o V an D a m m e ( 1984) noquc.se relere
ao reliicioiianictilo entre e ssas subespécies dc equilíbrios de Nash.
17. Um exem p lo sim ples é um jo g o do galinha, cm qu e am bos os jo g ad o res dirigem um carro d iretam ente um para
o outro porque acreditam que o o ponente irá capitular, ou am bos capitulam porque acreditam que o o ponente co n ­
firmará em frente. O C up/tulo 3 e x p iica alguma* das propriedades d o jo g o do g alinha (c h u k en gum e).
18. lilc não seria recom pensado por esse desvio. N esse caso, a posição original não teria sid o um equilíbrio; haveria
apenas um a indiferença por parte d o jo g ad o r en tre a estratégia de equilíbrio e algum a outra estratégia. Em jo g o s
com equilíbrios baseados em estratégias m istas, a regra é a indifeiença entre as estratégias.
19. E ssa ó a posição predominante entre os estudiosos d a teoria dos jogos. Para unia prova de que somente os equilíbrios de
Nash podem ser soluções racionais para jo g o s sim ultâneos, ver Uacharach (1987). Para visões divergentes concernentes
a jogos seqüenciais, ver Heriiheim (1984), Peaive (1984) e particularm ente líonamio (1988). A razão para a
discordância é que, nos jogos seqüenciais, o cálculo dos equilíbrios envolve evidências ccmtrufnctuuis que, p o rdetini-
ção, não têm condições de verdade. Paru um a posição intermediária relativa ao conceito de equilíbrio perfeito, ver
Binmore (1987).
20. E ssa asserção é sim ilar àquilo que, nos escritos econôm icos, é conhecido co m o e xpectativas racionais (ver M utli
1961; Lucas 1982).
JO G O S O CU LTO S 4.1

evidente que as perdas são mais freqüentes do que os ganhos, o jo g a d o r irá re­
ver a sua estim ativa de probabilidade c alterar suas apostas.
(3) A s crenças aproxim ar-se-iam da realidade. O argum ento que apóia
essa exigência é tam bém um argum ento de equilíbrio. Todas as crenças dos jo ­
gadores racionais num a conduta de equilíbrio são atualizadas de acordo com
a regra de B ayes. A ssim , o ator pode escolher em qualquer ponto a sua estra­
tégia ótim a em conform idade com suas crenças. A otim idade m útua das estra­
tégias dos jogadores (dadas as suas crenças) fornece a cada um deles inform a­
ção sobre as crenças de seu oponente. Se no processo do jo g o um participante
não atualiza a sua inform ação, ele pode ficar vulnerável e o seu oponente en ­
tão pode explorar esse fato: o oponente pode se dar conta de que a sua situa­
ção pode ser m elhorada dadas as crenças equivocadas do prim eiro ator. Em tal
situação, ou um dos jogadores m odificaria as suas crenças, ou o outro m udaria
a sua estratégia. D e modo que um a tal situação não é um equilíbrio21.
Em conseqüência, de acordo com as exigências fortes de racionalidade,
as crenças e o com portam ento não apenas têm de ser com patíveis com o têm
tam bém de corresponder ao m undo real (em equilíbrio). A penalidade para des­
vios da racionalidade forte será um nível reduzido de bem -estar22.
Todos os argum entos concernentes seja à racionalidade fraca seja a for­
te são norm ativos. Sustentam que o com portam ento deve refletir as prescrições
da utilidade esperada ou da teoria dos jogos; em caso contrário, o ator pagará
um preço. Pode-se concordar com o valor norm ativo desses argum entos e ain­
da assim não acreditar que a escolha racional possui qualquer valor descritivo.
O argum ento tom aria a seguinte forma: é verdade que, num m undo idealm en­
te racional, as pessoas deveriam com portar-se, e o fariam , de acordo com as
prescrições da escolha racional, mas o m undo real é bem diferente de tal m un­
do de escolha racional. N o m undo real as pessoas estão dispostas a pagar o preço
de seus erros ou de suas crenças; m esm o que as pessoas reais quisessem obe­
decer a tais prescrições, elas seriam sim plesm ente incapazes de efetuar todos
os cálculos e côm putos requeridos; calcular os equilíbrios de N ash m esm o para
jo g o s sim ples não é fácil, e o nível de com plexidade aum enta de m aneira as­
tro n ô m ica quando nos aproxim am os de situações realistas23.
Existe algum a razão para acreditar que o enfoque da escolha racional seja,
na term inologia de Kcynes, não apenas normativo, m as tam bém positivo?24 Em

2 1. Hxiste outra situação, caracterizada pelas crenças que não causam im pacto sobre o com portam ento; desse modo,
não liá razão para m odilicá-las. Considero lais crenças inócuas e não a s abordo. A crença em D eus (sem .suple­
m entos de im perativo m oral) chega tão perto quanto possível de tais crenças.
22. I.em bro ao leitor c|ue todas as provas podem ser repetidas substituindo-se dinheiro por útiles. Nesse caso. poder-
se-ia falar de um a redução d a utilidade em vez de redução do bem-estar.
23. A q uestão da com plexidade dos cálculos estratégicos apenas recentem ente tornou-se objeto de investigações sé­
rias. Ver Kalai e Stanford (1988), R ubinstein (1986) e A breu (1986).
24. Kcynes (1891, 34-35) distingue entre "U nia ciência positiva | ...| um corpo de conhecim ento .sistemático concer­
nente ao q u e é; lim a ciência norm ativa ou regulativa |...| um corpo de conhecim ento sistem atizado que discute os
critérios d o que deve ser”.
44 G E O R G E TSEI1EU S

outros term os, devemos acreditar que as pessoas reais não apenas devem com -
portar-se, mas tam bém se com portam de acordo com as exigências da escolha
racional? Exam ino essas questões na próxim a seção.

III. É REALISTA O ENFOQUE DA ESCOLHA RACIONAL?

U m a resposta freqüente à questão acim a é: “Não im porta; as pessoas agem


‘com o s e ’ fossem racionais” . A explicação total desse ponto dc vista particu­
lar é apresentada no fecundo artigo dc Friedm an, “T he M cthodology o f Positive
Econom ics” . Friediman (1953, 14) afirma: “D escobrir-se-á que hipóteses real­
m ente im portantes e significativas possuem ‘pressupostos’ que são represen­
tações descritivas trem endam ente im precisas da realidade e, de m odo geral,
q uanto m ais significativa for a teoria, mais irrealistas serão os pressupostos
(nesse sentido). [...] Para ser im portante [...] um a hipótese deve ser descritiva­
m ente falsa em seus pressupostos” (grifo meu).
Friedm an apresenta três exem plos diferentes para apoiar a “F -tw ist” (“ten­
dência F ”), com o o econom ista Paul S am uelson (1963) cham a a tese do “com o
se” . O prim eiro exem plo é sobre os hábeis jogadores de bilhar, que executam
suas tacadas “com o se” soubessem as com plicadas fórm ulas m atem áticas que
descrevem a trajetória ótim a das bolas. O segundo trata de firm as que agem
“com o se” fossem m axim izadoras da utilidade esperada. O terceiro concerne
às folhas de um a árvore; F riedm an (1953, 19) sugere “ a hipótese de que as
tolhas se posicionam com o se cada um a procurasse deliberadam ente m axim izar
a q uantidade de luz solar que rcccbc” .
U m argum ento análogo pode ser form ulado em pregando o conceito de
H ernpel (1964) de “explicação potencial” - um a explicação que é correta se
todas as prem issas forem verdadeiras. N ozick (1974) desenvolveu esse con­
ceito em sua discussão da “explicação potencial fundam ental” . Ele afirm a que
um a explicação potencial fundam ental 6 im portante m esm o que não seja ver­
dadeira, porque revela im portantes m ecanism os que influenciam o fenôm eno
que está sendo exam inado. De acordo com esses argum entos, urna explicação
pode ser im portante m esm o que as suas prem issas não sejam verdadeiras.
D esse m odo, torna-se irrelevante a questão da verdade do pressuposto de um a
teoria.
O argum ento “com o sc” sustenta que o p ressuposto de racionalidade,
independentem ente de sua precisão, é um meio de m oldar o com portam ento hu­
mano. U m a tal posição epistcm ológica da racionalidade-com o-m odelo não ape­
nas é parcial e insatisfatória, com o tam bém é responsável em alto grau pela se­
guinte situação: de um lado, várias explicações de escolha racional utilizam o
argum ento “com o sc” para justificar pressupostos exageradam ente irrealistas;
de outro, os cientistas em píricos não confiam nas explicações de escolha racio­
nal pelo fato de serem irrelevantes para o m undo real.
JO G O S OCU LTO S 45

O argum ento da racionalidade-com o-m odelo não c satisfatório pela se­


guinte razão: os pressupostos de um a teoria são, num sentido trivial, tam bém
conclusões da teoria. Segue-se que um cientista que quer propor os pressupos­
tos “trem endam ente im precisos” que Friedm an deseja que ele faça adm ite que
o co m p ortam ento “ trem endam ente im preciso” pode ser gerado com o um a
conclusão de sua teoria. A ssim , qualquer cientista interessado no realism o das
co n clu sões e explicações da teoria deveria preocupar-se igualm ente com o
realism o das proposições. N o que diz respeito à abordagem da escolha racio­
nal, é incoerente u tiliz ar falsas proposições com o base para as explicações
depois de ter aguinentado, com o fiz, que de falsos pressupostos pode-se deri­
var q u alquer coisa.
Proponho um a resposta diferente para a questão do realism o. N o lugar do
conceito de racionalidade com o um m odelo de com portam ento hum ano, pro ­
ponho o conceito de racionalidade com o um subconjunto de com portam ento
hum ano. A m udança de perspectiva é im portante: não afirm o que a escolha
racional pode explicar qualquer fenôm eno e que não há lugar para outras ex ­
plicações, mas sustento que a escolha racional é um a abordagem m elhor para
situações em que a identidade e os objetivos dos atores são estabelecidos, e as
regras da interação são precisas c conhecidas pelos atores em interação. À m e­
dida que os objetivos dos atores tornam -se confusos, ou à m edida que as regras
d a interação tornam -se m ais fluidas e im precisas, as explicações de escolha
racional irão tornar-se m enos aplicáveis. N orton Long (1961, 140-141) forne­
ceu um argum ento similar:

L id a m o s a q u i c o m a e s s ê n c ia d a p r e v is ib ilid a d e n a s q u e s tõ e s s o c ia i s . S e s a b e m o s q u e o jo g o
q u e e s tá s e n d o jo g a d o é b e is e b o l e q u e X c o h o m e m tia te rc e ira b a s e , p e lo fa lo d e c o n h e c e r m o s a s u a
p o s iç ã o e o jo g o q u e e s tá s e n d o j o g a d o p o d e m o s d iz e r m a is a te s p e i lo tia s a tiv id a d e s d c X n o c a m p o
d o q u e p o d e r ía m o s s e o e x a m in á s s e m o s e n q u a n to p s ic ó lo g o s o u p s iq u ia tr a s . S e e s le n ã o Ib s s e o c a s o ,
X p o d e r ia s e r p a rte d e u m h o s p íc io , e n ã o d e u m c a m p o d e b e is e b o l. O c o m p o r t a m e n to d c X n ã o é u m a
ra c io n a l id a d e d e s e n c a r n a d a , m a s u m c o m p o r t a m e n lo d e n tro d c u m a a tiv id a d e g r u p a i o r g a n iz a d a q u e
p o s s u i m e ta s , n o r m a s , e s tr a té g ia s e p a p é is q u e f o rn e c e m o te r r e n o p a ra a r a c io n a l id a d e . O b e is e b o l e s ­
t r u tu r a a s itu a ç ã o .

A drnito que os jo g o s políticos (ou a m aioria deles) estruturam ig u a l­


m en te a situação, e que o estudo dos atores políticos sob o pressuposto da
racio n alidade é um a aproxim ação legítim a de situações, m otivações, cá lcu ­
los e com portam entos reais. A presento cinco argum entos para dem onstrar o
m otivo pelo qual os indivíduos tentam os cálculos descritos na Seção II, ou
pelo qual adotam o com portam ento prescrito por tais cálculos, ou ainda pelo
qual m ediante esses cálculos é possível aproxim ar-se do resultado agregado
das ações individuais.
A rgum ento I. Relevância das questões e da inform ação. Segundo as pro ­
pried ad es norm ativas do enfo que da esco lh a racional, as pessoas preferem
adequar-se ao com portam ento descrito pela teoria (caso contrário, podem ter
46 G E O R G E TSE B E LIS

de pagar um preço). E ssa tendência varia em proporção direta com a dim en­
são das paradas do jogo: por exem plo, candidatos tentam obter mais inform a­
ção sobre as escolhas das pessoas num distrito em que há um a disputa acirra­
da do que num distrito “ seguro” ; os partidos gastam mais recursos tentando
ca lcu la r as conseqüências de um a m udança constitucional do que as co n se­
qüências de um a lei sim ples.
A lém disso, se a inform ação estiver disponível, as pessoas estarão mais
aptas a aproxim ar-se dos cálculos requeridos pela escolha racional do que se
os p a yo jfs não forem bem conhecidos ou apenas aproxim ados25. Com efeito, al­
gum as das mais bem -sucedidas aplicações do enfoque da escolha racional di­
zem respeito a instituições, norm as e com portam entos do C ongresso e da bu­
rocracia dos Estados U nidos (ou seja, o estudo de situações bem estruturadas)
(F enno 1978; Ferejohn 1974; F iorina 1974; H am m ond e M iller 1 9 8 7 ;M ille re
M oe 1983; Shepsle e W eingast 1981).
A rgum ento 2. A prendizado. As propriedades norm ativas do m odelo de
esco lh a racional sugerem que as pessoas envolvidas em atividades repetidas
aproxi m am -se do com portam ento ótimo pelo m étodo de tentativa e erro. De fato,
probabilidades subjetivas convergirão para freqüências objetivas à m edida que
a inform ação adicional se tornar disponível pela iteração. P o r conseguinte, quase
não se pode mais distinguir o resultado final dos cálculos de escolha racional.
Esse caso é descrito num dos exemplos de Friedm an: o dos hábeis jogadores de
bilhar. O s jogadores de bilhar não com preendem as leis da óptica geom étrica,
mas são m uito receptivos às im plicações de tais leis para o seu jogo. D e modo
similar, os eleitores conseguem utilizar avaliações retrospectivas c colocar para
fora políticos incom petentes, em sistem as de eleição em dois turnos, m esm o que
não lem brem as plataform as dos diversos candidatos, ou não consigam discri­
m inar entre eles (Fiorina 1981; Key 1968).
O aprendizado não é independente da relevância das questões e da infor­
mação. P oder-se-ia esperar um a correlação entre a velocidade do aprendizado
e a relevância da questão, conform e indica o argum ento 1. A lém disso, a co n ­
vergência para o com portam ento ótim o é m ais rápida à m edida que aum enta a
freqüência do problem a da tom ada de decisões.
O aprendizado é um a atividade consciente; pressupõe que aquele que
tom a a decisão seja capaz de detectar erros do passado. U m a explicação baseada
no conceito do aprendizado produz os m esm os resultados que a abordagem da
escolha racional, mas utiliza pressupostos bem mais frágeis.
Argum ento 3. A heterogeneidade dos indivíduos. Suponham os que, em vez
de sustentar o pressuposto de que todos os indivíduos podem efetuar cálculos
de escolha racional, ou de que todos os indivíduos são capazes de aprender em
tentativas repetidas, adotem os o pressuposto mais realista de que a m aioria dos

25. No Capítulo 3, apresento o teorem a popular (fulk ilw orem ) üos jo g o s repetidos, o qual e stab elece q u e em jogos
com inform ação incom pleta é possível um;i am pla gania d e resultados.
JO G O S O CU LTO S 47

ind iv íd u o s não é sofisticada, em bora um a pequena pro p o rção seja capaz de


efetu ar sem elhantes cálculos. O que ocorrerá com o equilíbrio?
Para sim plificar ainda mais as coisas, suponham os que um a série de in­
divíduos tenha de escolher percursos em sua carreira. S uponham os que a
m aioria deles tenha um a percepção bastante sim plista da realidade e expecta­
tivas in co rretas, mas um a pequena porcentagem seja cap az de cálcu lo s de
escolha racional. Em bora os indivíduos não sofisticados tom em decisões não
inform adas (e subótim as), os mais inform ados anteciparão esse com portam en­
to e co m p ensá-lo-ão com um com portam ento concebido da m aneira ex a ta­
m ente oposta. P o r exem plo, se há um excesso de m édicos, os indivíduos
sofisticados irão tornar-se engenheiros ou advogados. D esse modo, o resulta­
do social irá aproxim ar-se do equilíbrio que iria prevalecer se todos os atores
fossem sofisticados.
Esse argum ento foi apresentado por H aitiw anger e W aldinan (1985), os
q uais provaram que os equilíbrios com alguns atores sofisticados tenderão a
equilíbrios em que todos os atores são sofisticados no caso de “efeitos de satu­
ração ” , ou seja, 110 caso em que cada ator fica em pior situação quanto m aior
fo r o núm ero de outros atores que fazem a m esm a escolha que ele26.
A m aioria dos bens econôm icos exibem propriedades de efeitos de satu­
ração, porque um aum ento da dem anda eleva o preço e piora a situação dos com ­
pradores adicionais. N ão posso afirm ar que os fenôm enos políticos dem onstram
propriedades de saturação m ais freqüentes do que os econôm icos. C ontudo, o
núm ero de casos de efeitos de saturação já é suficientem ente grande, e em to­
dos esses casos um equilíbrio com um pequeno núm ero de atores sofisticados
praticam ente não pode ser distinguido de um equilíbrio no qual todos os ato­
res são sofisticados.
A rgum ento 4. Seleção natural. Os m esm os resultados de com portam ento
podem ser fundam entados, porém , em pressupostos ainda mais frágeis. S upo­
nham os que haja “populações” diferentes de pessoas definidas por suas reações
diversas quando se defrontam com a m esm a situação. A lém disso, suponham os
que, quando as decisões são tom adas e as recom pensas ou penalidades são dis­
tribuídas, os indivíduos menos bem -sucedidos sejam elim inados. A longo pra­
zo, os com portam entos mais bem -sucedidos são reforçados, e o resultado se
aproxim a da escolha ótim a sem qualquer cálculo consciente de m eios e fins por
parte das pessoas envolvidas27. N o exem plo de Friedm an, as firm as m axim izam
os seus lucros esperados com o resultado de tal processo evolutivo. D e m aneira
análoga, se se excluírem considerações a longo prazo (com o na consistência ao

26. 0 caso oposto , no qual c ad a agente f ia i cm m elhor situ ação quan to m ais v e /c s outros agentes e sco lh erem o
m esm o com p o rtam en to que o seu (com o com prar p rogram as de c om putador), é ch am ado de ifc iln xinéruico.
H altiw anger e W aldm an (1 985) provaram que, nesse caso, os a g en tes so fisticad o s im itam o co m p o rtam en to
do s não-sollsticailos, de m odo que os últim os têm um efe ito desp ro p o rcio n al so b re o equilíbrio.
27. 0 resultado se apro x im a d a e sco lh a ó tim a desde que a p opulação com a esco lh a ó iim a ex ista n o início d o e x ­
perim ento.
G E O R G E TSE15EUS

longo do tem po e/ou ideologia), políticos que tentam m axim izai- os seus votos
terão um a laxa de sobrevivência m aior do que aqueles que não o fazem . A lon­
go prazo, a população do últim o tipo será elim inada.
E sse enfoque evolucionista adota os pressupostos mais frágeis sobre as
m otivações e cálculos dos indivíduos. N a verdade, atribui toda a explicação a
fatores am bientais. P or esse motivo, a explicação c passível da seguinte críti­
ca: um com portam ento particular não é necessariam ente ótim o porque a razão
para a sua seleção natural pode não ter sido o com portam ento sob investigação,
mas algum a outra característica. Portanto, os argum entos evolucionistas podem
ser utilizados para apoiar a otim ização dos com portam entos som ente após ter
elim inado explicações alternativas.
A rgum ento 5. Estatística. E sse argum ento diz respeito à m édia da popu­
lação. A dm itam os o seguinte: apenas um a pequena proporção de um a popula­
ção em prega cálculos racionais; apenas um a pequena proporção é capaz de
ap ren d izado; argum entos evolucionistas aplicam -se som ente a um segm ento
restrito da população. Suponhanos, além disso, que a m aioria restante da p o ­
pulação tom e decisões ao acaso ou por algum processo equivalente. Suponha­
m os, por exem plo, que alguns são otim istas e outros pessim istas, alguns estão
dispostos a assum ir riscos c outros são avessos a riscos, e alguns são influen­
ciados positiva ou negativam ente em suas decisões pelos líderes de opinião (por
exem plo, Ronald Reagan ou Jane Fonda).
Para tornar as coisas mais concretas, suponham os que a racionalidade seja
um com ponente pequeno mas sistem ático de qualquer indivíduo, e que todas as
outras influências sejam distribuídas aleatoriam ente. O com ponente sistem áti­
co possui um a m agnitude x , e o elem ento aleatório é norm alm ente distribuído
com um a variância s2. Sob tais pressupostos, cada indivíduo da população exe­
cutará um a decisão no intervalo [.v - (2s), x + (2^)] em 95% do tem po. Se con­
siderarm os, porém , um a am ostragem de um m ilhão de indivíduos, a m édia in­
dividual tom ará um a decisão no intervalo [x- (2^/1000), x + (2 s /1000)] em 95%
do tem po. Isso pode ser com provado por propriedades estatísticas da m édia: a
decisão racional que adm itim os ser apenas um “com ponente pequeno mas sis­
tem ático” aproxim ou-se, pelo indivíduo m édio de nossa am ostra, a um fator de
mil vezes, da do indivíduo aleatório. Portanto, a análise da escolha racional pode
ser totalm ente im precisa no que se refere a indivíduos específicos, mas bastante
exata no que concerne à m édia individual2*.
H á duas objeções possíveis a esse argum ento estatístico. Em prim eiro lu­
gar, adm itim os que não existe o problem a da agregação, isto é, adm itim os que a
agregação é equivalente a um a som a aritm ética. Todavia, conform e dem onstra

28. A diíeren ça en tre esse argum ento e o argum ento 3 c que. aqui, agentes são decididam ente independentes; no ar­
gum ento 3, algutis agentes er;im capazes de antecipar o com portam ento de outros c trocar a sua escolha de acor­
d o com isso. A lém disso, 110 argum ento 3, supunha-se que os agentes não solisticíidos tinham visões parciais; aqui.
todos os agentes são norm alm ente d istribuídos em to m o d e ulgm n valor ceuUnl.
J O G O S OCU LTO S 49

o fecundo trabalho de A rrow (1951), agrupam entos (conio as sociedades) po­


dem dem onstrar propriedades que são totalm ente divergentes das propriedades
de suas partes constituintes (indivíduos). Em segundo lugar, equiparei arbitraria­
mente à racionalidade o com ponente sistem ático de um a decisão. N ão obstante,
exatam ente o m esm o argum ento pode ser apresentado caso se substitua qual­
q u er outra regra de tom ada de decisão com o um com ponente sistem ático.
A m bas as objeções possuem méritos: se questões de agregação que se as­
sem elham às descritas no teorem a de Arrow são im portantes, o argum ento esta­
tístico não é válido. Além disso, se qualquer outro com ponente sistem ático for
m ostrado com o parte do processo de tom ada de decisão, a decisão gravitará em
torno desse com ponente sistem ático, independentem ente de sua natureza. Se,
por exem plo, se m ostrar que as pessoas são sistem aticam ente avessas a riscos,
então a aversão ao risco deverá ser incluída nos cálculos estatísticos, e o com ­
portam ento dos grupos dem onstrará um a aversão bastante forte ao risco.
S e a objeção concernente ao argum ento estatístico em favor da escolha
racional está essencialm ente correto, por que c apresentado esse argum ento?
Em prim eiro lugar, ao que eu saiba, não existem outras posições que defendam
con\por\entessistem áticos de tom ada de decisão2y. Em segundo lugar, a confia­
bilidade da abordagem da escolha racional não reside som ente no argum ento
estatístico; reside nos cinco argum entos apresentados. C ada argum ento é mais
geral porém mais fraco do que o anterior. Todavia, tom ados em conjunto, d e­
lineiam o leque de casos em que é legítim a a abordagem da escolha racional.
A validade aum enta quando estão envolvidas as elites (exceto quando podem os
utilizar o argum ento estatístico para as m assas). A validade é garantida na prá­
tica pela existência de pequenas proporções de atores racionais no caso de
efeitos de saturação. A lém disso, é mais provável que os resultados sejam cor­
rigidos em situações repetidas em que as pessoas aprendem , ou são selecionadas
naturalm ente, do que em jogos não-iterativos.
R esum indo, a abordagem da escolha racional possui um indiscutível
apelo normativo. Tam bém dem onstrei que possui um valor positivo. C ontraria­

29. E nfatizo :i palavra sislenuíiico porque, (le oulro modo, teorias dc cultura nacional ou d e so cialização política cons-
liiuiriam exceções. A d isputa sistem ática .sobre a questão chi racionalidade tom ou d uas direções. A prim eira está
a ssociada a T v c rsk y e K ah n e m a n (1 9 8 l), e a Kalmeman cTvcrsky (1979). e a Kalineman, Slovic eT v ersk y (19S4),
e diz respeito ao enquadram ento das decisõcs. E xperim entos indicaram im portantes desvios das legrns da mnxi-
m ização esperada da utilidade q uando as probabilidades são m uito p equenas ou as utilidades m uito abrangentes
(tais com o as questõ es de vida ou dc morte). A segunda é a abordagem d a satisfação (xaiisliu itx a p p n x id i) asso­
ciada a Sim on ( 1957), M arch ( 1978) e a Nelson cW inter ( 19S2), a qual supõe que as pessoas escolhem não a melhor
o pção entre alternativas diferentes, m as um a q u e é "suficientem cntc boa", ou e steja acim a de algum lim ite do
aceitabilidade. A ijucstão crucial no que diz respeito a esse segundo enfoque c a dc sab er sc as pessoas irão ater-
se à sua escolha se algum a alternativa melhor se apresentar. No prim eiro caso, h á um a correspondência entre a e s ­
c olha racional e a da satisfação: a otim ização se refere ao total das alternativas, e a satisfação relerc-se a um co n ­
ju n to restrito. A m bos os métodos, porém , produ/.em os m esm os resultados quando aplicados ao m esm o conjunto
de alternativas (Kiker e O rdeshook 1973). N o segundo caso, porém , o s resultados são diferentes, c não há possi­
bilidade de tradução dc um program a de pesquisa para o outro. Esses dois program as (enquadram ento e satisfa­
ção) têm a vantagem de um a precisão em pírica, mas foram apresentados até agora com o objeções a defesas espe-
cílicas de program as de escolha racional, e não com o alternativas teóricas.
50 G E O R G E TSE H E U S

m ente à justificativa predom inante entre os sim patizantes da escolha racional,


que sustenta que a validade do enfoque da escolha racional se baseia em boas
previsões, afirm o que constitui um a aproxim ação legítim a dos processos reais.
As pessoas se aproxim arão das prescrições da escolha racional quando as
questões em jo g o forem im portantes, e o grau de aproxim ação irá variar com
a inform ação. Além disso, existem razões de aprendizado, de evolução e de es­
tatística pelas quais o pressuposto do com portam ento otim izador (racional) é
apropriado.
O argum ento aqui apresentado constitui o que M usgrave (1981) cham a
de “pressupostos de dom ínio” : condições necessárias para a abordagem da es­
colha racional. P or exem plo, ações em preendidas em situações não-iterativas
p o r indivíduos com poder de decisão (com o em situações de crise) não são ne­
cessariam ente adequadas para previsões com base na escolha racional. N o en ­
tanto, um a tal abordagem poderia desem penhar im portante papel heurístico; po­
deria indicar o leque de possibilidades para atores diferentes, dem onstrando por
que certas decisões foram ou não tom adas. A escolha racional não pode pre­
tender explicar todo o com portam ento hum ano. Som ente o com portam ento em
situações abrangidas pelos m eus cinco argum entos pode constituir o dom ínio
das aplicações sensatas da escolha racional.
E sses argum entos dem onstram ainda que, dentro do dom ínio de apli­
cabilidade da escolha racional, o pressuposto de racionalidade constitui um a
aproxim ação m uito boa da realidade. N os term os de M usgrave (1981), para
os tipos de casos abrangidos por m eus cinco argum entos, o pressuposto de
racionalidade é um a “prem issa de n egligibilidade” : um a prem issa q u e se
aproxim a tão bem da realidade que m erece ser feita.

IV. A S VANTAGENS DO ENFOQUE DA ESCOLHA RACIONAL

M esm o que adm itam os que sob dadas circunstâncias os atores tentam
fazer o m elhor que podem , por que levar o argum ento até as suas últim as co n ­
seqüências lógicas e pressupor a racionalidade? Por que tentar evitar a qualquer
custo explicações que incluam fatores irracionais ou erros?
Em particular, no que concerne ao tem a deste livro, por que se su rp re­
ender quando as pessoas fazem escolhas subótim as, e tentar explicar tais e s ­
colhas por interm édio dos jo g o s ocultos? P or que, sem pre que o observador
d iscorda dele a respeito do curso ótim o da ação, não concluir sim plesm ente
q u e o ato r é não-racional, ou que com eteu um erro? Q ual a razão por trás
dessa obsessão pelo enfoque da escolha racional? P or que não realizar um ex ­
perim ento crucial concernente ao pressuposto de racionalidade e rejeitar a ra­
cio nalidade se os atores escolherem de m aneira subótim a, com o é feito na
psicologia experim ental? A final de contas, esse é o tratam ento usual de q u al­
q u er hipótese nas ciências sociais. E xpondo dc m aneira clara: “por que abor-

B S C S H / UFRGS
J O G O S O CU LTO S 51

recer-se com a invenção de epiciclos para salvar o enfoque da escolha racio ­


nal?”30 E xistem várias razões.
O cien tista social que adm ite que os atores se com portam de m aneira
racional efetu a urna redução e ao m esm o tem po fo rm u la um a declaração de
propósitos. E fetua um a redução porque substitui um a série de processos, tais
com o o aprendizado, a cognição, ou m ecanism os de seleção social, por seus
resultados. N ão afirm a que os processos reais que as pessoas utilizam para to ­
m ar suas decisões racionais são as fórm ulas m atem áticas em pregadas na teoria
da decisão, ou na teoria dos jogos, mas que essas fórm ulas conduzem os cien ­
tistas, de m aneira sim ples e sistem ática, aos mesm os resultados. Faz um a decla­
ração de propósitos porque o núcleo do estudo consistirá em outros fatores que
influenciam ou determ inam os fenôm enos sociais.
A abordagem da escolha racional centra-se nas coerções impostas aos atores
racionais - as instituições de um a sociedade. P arece paradoxal que o enfoque da
escolha racional não esteja preocupado com os indivíduos ou atores e centre a
sua atenção nas instituições políticas e sociais. A razão desse paradoxo é simples:
assum e-se que a ação individual é um a adaptação ótim a a um am biente insti­
tucional e se sustenta que a interação entre os indivíduos é um a resposta otim izada
na relação recíproca entre am bos. A ssim , as instituições predom inantes (as re­
gras do jo g o ) determ inam o com portam ento dos atores, os quais, por sua vez,
produzem resultados políticos ou sociais.
Tal enfoque apresenta quatro vantagens principais sobre os seus concor­
rentes: clareza e parcim ônia teóricas, análise de equilíbrio, uso extensivo do ra­
ciocínio dedutivo e intercam bialidade entre os indivíduos.
(1) Clarez.a e parcim ônia teóricas. Talvez a vantagem com parativa mais
óbvia de meu enfoque resida em sua clareza e parcim ônia teóricas. As explica­
ções são colocadas em term os institucionais, contrapostas a term os de psicolo­
gia ou do processo cognitivo. Os resultados são expostos mais com o escolhas
deliberadas do que com o erros. Em conseqüência, explicações ad hoc são elim i­
nadas. Se não ocorrer o com portam ento teórico previsto, não poderá ser invoca­
da a noção de erro para explicar o resultado efetivo. A incongruência entre a
teoria e a realidade é atribuída mais à inadequação da teoria que a erros dos ato­
res. D essa form a, o enfoque da escolha racional presta-se a testes em píricos
mais estritos do que a m aioria dos outros enfoques teóricos. A iém disso, o leque
de aplicações potenciais da teoria é lim itado por sua recusa em aceitar erros
com o explicações de com portam entos*1. Em bora haja fenôm enos que não pos­
sam ser explicados em term os de escolha racional, o que a escolha racional pode
explicar o faz extrem am ente bem, devido à sua parcim ônia e clareza teóricas.

30. Foram inventados c o n tin u am en te e p iciclo s para ex p licar a s a n o m alias d o sistem a p tolom aico. Um fenôm eno
análogo ocorreu antes d a invenção da te oria da relatividade. A strônom os tentavam explicar as anom alias inven­
tando ‘‘planetas ocultos", ou seja, planetas cuja existência explicariam as anom alias observadas.
31. F.m alguns textos teóricos so b re os jo g o s, os "erro s'' ou pequenas perturbações sã o utilizados c om o m eios para
descob rir propriedades estáveis dos eq u ilíb rio s d c Nash (Selten 1975).
52 GEORGE TSEBEU S

(2 ) A nálise de equilíbrio. U m a im portante conseqüência m étodo ógica


da concepção da escolha racional, e que é um tem a recorrente <10 longo o 1-
vro, é a estática com parada. Considera-se que fenôm enos sociais ou po íticos
recorrentes estão em equilíbrio, e as propriedades desses equilíbiios sao estu ­
dadas e com paradas. O com portam ento “em eq u ilíb rio ” s ig n ‘^ c£l 1 ue os at0"
res envolvidos num curso de ação recorrente são considerados despiovido s de
quaisquer incentivos para desviar-se desse rum o. Tal pressLip0St0 e um co ro ­
lário direto do pressuposto de racionalidade: se um ator racional tivesse um in­
centivo para desviar-se (ou seja, m elhorar suas co n d içõ es) de seu com pot la­
m ento anterior, esse com portam ento seria por d efinição não-otuno.
O s argum entos de equilíbrio são em pregados de três foi mas 1 eientes.
Em prim eiro iugar, são em pregados para d e s c o b r i r o c o m p o r t a m e n t o ótim o dos
atores. P o r exem plo, em m inha breve exposição sobre a histói ia eleitora fin­
landesa, os socialistas não usaram urna estratégia de e q u ilíb ^ 0 no ca m p o a
eleição presidencial; essa observação levou à descoberta de um jo g o ocu to 110
qual considerações partidárias internas desem penharam im p o ita n te p ap el. O
com portam ento dos socialistas foi explicado então com o um a estiategia e equi­
líbrio (ótim a) nesse jo g o oculto.
N a segunda forma, os argum entos de equilíbrio são utilizados paia 1 espon-
der a questões condicionais e conduzir a previsões testáveis em piricam ente. Se
um dos parâm etros do modelo mudar, então um ator poderá m odihcai seu com ­
portam ento cm resposta a essa mudança; essa m udança de estrategw p <
o oponente a mudar a sua estratégia; e isso levará o prim eiro ator a o u tia s m oci-
flcações e assim por diante. A análise do equilíbrio ajuda-nos a prever o resu t.i-
do final desse processo infinito. A lgum as vezes, a previsão é conti a-intuitiva,
porque, sem a ajuda das ferram entas m atem áticas, o cérebro hum ano e incapaz
de efetuar o núm ero infinito de cálculos necessários para fornecer a resposta as
proposições condicionais do tipo: o que aconteceria se o valoi do p aram etio ^
aum entasse?32 Para dar um exem plo, 0 que ocorreria se a duraçao de um a pena
para um crime particular aum entasse? A intuição pura levar-nos-ia a espeiai que
a freqüência desse crim e declinasse. N o entanto, análises da teoria os jogos
levaram à conclusão de que m odificar a punição dos criminosos nãoateta o seu
com portam ento em equilíbrio; ao contrário, afeta o comportamento a po icia .
Em terceiro lugar, os argum entos de equilíbrio são utilizados p a ia c ínn-
nar explicações alternativas. Considerem os os argum entos teóricos q u e pieten-
dem explicar padrões recorrentes com o erros, tal com o a ilusão do jr n e n o na
. . . , ... . ✓fvito com freq ü en c ia no
econom ia keynesiana; com o hábitos e rituais, com o e reuu ^ 1

• • n-.ri o u e o an alista en co n tre a so-


32. A questão legítim a. ..este ponto, e a seguinte: "se a teoria dos jo g o s e neccssaria p..r. 1 ^ ^ ScçfKJ é
Jtiç;io entiio como é passível íios atores resolver o pro b lem a; A icsi
, i . n..r •! um resiiltíioo agregado. Ar-
(iiie cálculos teóricos de jocos reais constituem apenas um a das m aneiras de ciiegai •
' rcais ao m esm o resultado,
cum entos cvolucionistas, de aprendizado ou de m edia estatística levariam os atou. .
b ..nire policia e c rim in o sos. Lm
33. Ver T se b efrs(l9 S 9), em que c apresentado e resolvido um sin ifilc sc plausível jo g ° 1 ^ irijc u h r m e n te um •iu
equilíbrio, a modificação d o / x m # d e um jogador afeta o com portam ento do oponente. ar
m ento d a s penalidades diminui o núm ero d e patrulhas policiais.
JO G O S O CU LTO S

cam po da antropologia cultural; ou com o dotados de um sentido sim bólico,


com o é freqüente no terreno da ciência política. Segundo a teoria da escolha
racional, qualquer explicação que sc baseie cm com portam ento subótim o é, na
m elhor das hipóteses, incom pleta; e, na pior delas, errada.
(3) R aciocínio dedutivo. Os argum entos apresentados num a análise de
escolha racional são form ais, isto é, são construídos de acordo com as regras
d a m atem ática ou da lógica. A vantagem desse processo é que os argum entos
form ais (supondo-se que estejam corretos) preservam a verdade. A s conclusões
dos m odelos apresentados trazem consigo a verdade dos pressupostos que os
geraram . Em outros term os, não sc pode argum entar contra um teorem a (em ­
bora se possa, com efeito, discutir as suas prem issas), U tilizando um a te rm i­
nologia provocativa, alguém poderia afirm ar que todos os modelos da escolha
racional são tautológicos. E ssa qualidade tautológica, longe dc ser trivial, é di­
fícil de ser obtida. Provavelm ente, a lição mais im portante c inequívoca d eri­
vada do desenvolvim ento dos “ parad o x o s” da esco lh a racional foi a de que
utilizar raciocínios não rigorosos conduz com freqüência a conclusões erradas34.
Já que os m odelos de escolha racional são tautológicos, eles possuem duas
características distintas. A prim eira é que, se um m odelo dc escolha racional leva
a previsões que posteriorm ente se revelam falsas, os pressupostos têm de ser
m odificados. Isso se deve ao fato de que os m étodos de derivação das conclu­
sões são rigorosos e conservam a verdade; não há nada nas conclusões que não
haja nas prem issas. O rigor lógico não é um a propriedade exclusiva dos m odelos
form ais, mas, nesses m odelos, os cálculos são m ecânicos e, portanto, fáceis de
com provar. P revisões falsas levam a um a m odificação im ediata das prem issas
de um m odelo, diferentem ente das discussões sobre a lógica do argum ento.
A segunda característica que deriva do caráter tautológico dos m odelos
d a escolha racional é que eles perm item o acúm ulo de conhecim ento. Isso ocor­
re porque m esm o os modelos que conduzem a previsões falsas são essencial­
m ente “corretos” . U m a vez form ulado o modelo, ele perm ite a generalização:
um conjunto particular de prem issas conduz a resultados específicos e requer
u m a m odificação das prem issas ou prem issas adicionais para produzir um a
adequação entre teoria c realidade. É por isso que as descobertas de A rrow e
M cK elvey estim ularam um a im portante onda de pesquisas sobre a im portân­
cia das instituições35.
A credito que o uso de raciocínio dedutivo p assará a ter um a influência
im portante c duradoura no cam po da ciência política. A té o m om ento, um pro­

34. A s pessoas se surpreenderam eom o te orem a d a possibilidade de A rrow (1951), porque elas jam ais haviam im a­
ginado a incom patibilidade de cinco restrições que pareciam tão triv iaise inócuas. O resultado de M cKelvey (1976),
que indica a onipresença de ciclo s em regras m ajoritárias, teve um im p acto sim ilar. M uitas d escobertas d a te oria
dos jo g o s possuem um im portante valor de surpresa devido ao fato d e que as interações entre os jog ad o res racio ­
nais geram resultados im previstos.
35. Ver Arrow (1951) e M cK elvey (1976). Para trabalhos m ais recentes sobre as instituições, ver S h ep sle (1979) e
W eingast (1984), Riker (1980) e Schw artz (1985).
54 G E O R G E TSE B E LIS

cedim ento com um entre os especialistas de ciência política tem sido observar
um a regularidade em pírica, depois estabelecê-la m ediante m étodos estatísticos
e finalm ente produzir um argum ento plausível com patível com a regularidade
o bservada. O s argum entos dedutivos da esco lh a racional d em onstraram de
m aneira conclusiva que a últim a parte desse procedim ento (a apresentação de
argum entos plausíveis em apoio às regularidades em píricas) não é equivalente
à argum entação teórica. C ada passo dc um argum ento indutivo plausível não
preserva inteiram ente a verdade, de m odo que, por volta do final do argum en­
to, o que é deixado de fora pode ser tão im portante quanto o que foi preserva­
do ou até mais im portante.
(4) Intercambialidade de indivíduos. Com o o único pressuposto dos atores
é a sua racionalidade, eles carecem de qualquer outra característica ou identi­
dade. São intercam biáveis36. C om o pode um com unista francês ser considera­
do intercam biável com um dem ocrata cristão italiano? O que aconteceu com a
história? O que aconteceu com a cultura? O que aconteceu com a tradição lo­
cal? Q ue tipo de explicação é essa que parece excluir tudo o q u e é im portante?
É verdade que qualificativos históricos, tem porais, culturais, raciais ou
outros não entram diretam ente em qualquer explicação de tipo da escolha ra­
cional. C ontudo, “A ponte entre as observações históricas e a teoria reside na
substituição de variáveis por nom es próprios dos sistem as sociais ao longo da
pesquisa com parativa” (Przew orski e Teune 1970, 25). O program a de pesqui­
sa tipo escolha racional não é o único que tenta substituir características ou com ­
portam entos étnicos ou raciais pelos objetivos dos atores ou das instituições que
os produzem . Se os italianos são cínicos, os alem ães obedientes e os m exica­
nos descrentes do governo, conform e indica C ivic C ulture (A lm ond e Verba
1963), isso não se deve ao fato de serem italianos, alem ães ou m exicanos. A
S eção III forneceu exem plos de com o algum as das descobertas de A lm ond e
Verba podem ser explicadas em term os das instituições existentes e do pressu­
posto da racionalidade.
D etenho-m e agora num ator intercam biável particular: o leitor. Segundo
o enfoque da escolha racional, os resultados são explicados com o as escolhas
ótim as dos atores num a dada situação. U m a explicação bem -sucedida de esco ­
lha racional descreve as instituições dom inantes e o contexto no qual os atores

36. São intercam biáveis desde que possuam os mesmos gnsios. Conform e já li vc oportunidade do argumentar, os gostos
são considerados exógenos íis explicações no cam po dsi escolha racional. Poder-sc-ia utilizar os graus de liberda­
de gerados pela exogeneidade dos gostos, e fornecer um a ex plicação de qualcjuer fenôm eno cm term o s do “esco­
lha racio n al”. Por exem plo, pode-se apresentar um a ex p licação tipo e sco lh a racional da votação argum entando
cjue existe um a satisfação intrínseca ao ato de volar (R iker c O rdeshook 1968). Para um argum ento sobre o cará­
ter tautológico desse enfoque, ver Barry (1978). Tem o evitar a arm adilha de d edicar a parte essencial de m inha
exposição aos gostos a lrib u in d o “g ostos-padrão” aos meus agentes. Sem elhante “goslo-padrão” para os atores po­
líticos e ti reeleição, pois ela é um a co ndição necessária para a tin g ir q u alq u er outro objetivo político. Por exem ­
plo, n o Capítulo 5, considera-se que os m ilitantes d o Partido T rabalhista b ritânico possuem p referências ideoló­
gicas, m us nfvon po nto de sacrificar o candidato d o pu n id o ; as elites b elgas têm p referências sobre os resultados,
mas não a ponto de lhes custar a sua reeleição; e os partidos franceses querem m elhorar as suas próprias posições
eleitor,lis sem afe tar as chances eleitorais de suas coligações.
J O G O S OCU LTO S 55

operam , persuadindo o leitor de que ele faria a m esm a escolha se estivesse na


m esm a situação.
Tal é a noção de Verstehen (entendim ento, com preensão), central da co n ­
cepção w eberiana de ciência social. W eber distingue dois tipos de Verstehen'.
com preensão observacional direta e com preensão explanatória, que “procura
apreender a ‘motivação’ ou a causa final do com portam ento ‘situando o ato num
contexto inteligível e mais abrangente de significado’” (D allm ayr e M cCarthy
1 9 7 7 ,21).
O conceito de com preensão explanatória foi rejeitado pela tradição posi­
tivista nas ciências sociais, porque pressupõe algum a “ identificação por em pa-
tia” , “experiência p essoal” ou “capacidade instrospectiva” e, portanto, trata-
se de um processo ou m étodo subjetivo (Abel 1948; R udner 1966). A lém disso,
explicações de tipo Verstehen são apenas explicações potenciais, que estab e­
lecem a possibilidade de certas relações ou conexões, e não podem ser testa­
das em piricam ente porque o fenôm eno explicado via em patia não pode ser re­
produzido. P or motivos análogos, o conceito de Verstehen foi incorporado pela
trad ição h erm enêutica da ciência social (Taylor 1965).
U m a conseqüência im ediata da m inha com preensão de Verstehen é que
tan to a rejeição positivista quanto a apropriação h erm enêutica do conceito
foram apressadas e mal expostas. A intercam bialidade de indivíduos, ou Ver­
stehen, tal com o é aplicada neste livro e em outros enfoques de escolha racio­
nal, é im une a críticas positivistas: o entendim ento não depende de nenhum a
capacidade psicológica subjetiva de em patia, mas da aplicação de regras estri­
tas de com portam ento otim izador sob certas coerções.
A lém disso, a crítica à testabilidade se baseia na posição epistem ológica
d a sim etria entre explicação e previsão (H em pel 1964). E ssa posição episte­
m ológica particular foi rejeitada pela m aioria dos filósofos da ciência (Scriven
1962). É possível prever sem explicar (os exem plos óbvios incluem a previsão
do tem po e prognósticos econôm icos), ou para explicar eventos a posteriori que
não poderiam ter sido explicado a priori (guerras preem ptivas*). E m bora fe­
nôm enos sociais únicos possam incidentalm ente ser com preendidos, ainda que
não reproduzidos (e portanto as suas explicações não são testáveis e não levam
a previsões), tais explicações não são m enos científicas do que proposições tes­
táveis que conduzem a previsões. A ssim , a intercam bialidade de indivíduos ou
atores e a intercam bialidade com o leitor não são um a exclusividade da abor­
dagem da escolha racional. Ao contrário, são a sua força: constituem um esforço
consciente para aplicar padrões de explicação científica às ciências sociais37.
Por todos esses motivos, a hipótese da racionalidade não se situa no m es­
mo nível de outras hipóteses no cam po da explicação racional. De fato, é o co n ­

* De prceinpção, que na lei internacional e o d ireito de um beligerante de apoderar-se de b ens de um país neutro
com a devida com pensação ao proprietário. (N. do T.)
37. Par.) um a análise sim ilar do con ceito de Verstehen, ver S d i a r p íe Ryll (J98S).
56 G EORGE TSEBEU S

ceito central de todo o program a de p esquisa da esco lh a racional. L akatos


(1970) cham a tais conceitos de “ heurística negativa” , indicando com isso que,
enquanto durar o program a de pesquisa, eles não podem ser m odificados. Para
atingir esse objetivo, cada program a de pesquisa form a um cinturão protetor em
torno desses conceitos, um a série de hipóteses auxiliares que Lakatos cham a
de “ h eurística positiva” . Essas hipóteses auxiliares precisam ser m odificadas
se houver incongruências entre as previsões de um a teoria e a realidade.
C om efeito, Lakatos sustenta que não podem os jam ais efetuar um expe­
rim ento crucial com base num a hipótese isolada - sem pre testam os hipóteses
associadas. Se os resultados desses testes forem negativos, peJo menos um a das
hipóteses elem entares que form a o conjunto de hipóteses deve ser rejeitada, mas
não sabem os necessariam ente qual delas. C hegando a esse ponto, alguns dos
co n ceitos ou hipóteses da heurística positiva precisam ser sacrificados para
salvar a heurística negativa.
Todos os m odelos apresentados no presente livro colocam dois tipos de
pressupostos: a racionalidade dos atores, no sentido definido neste capítulo, e
determ inadas estruturas institucionais. C onjuntam ente, esses pressupostos le­
vam a explicações ou previsões. Se essas explicações ou previsões se revela­
rem falsas, então alguns dos pressupostos iniciais terão de ser m odificados. O
conceito de heurística negativa de Lakatos indica que as m odificações apropria­
das dentro do program a de pesquisa da escolha racional são as únicas concer­
nentes à descrição das estruturas institucionais, e não o pressuposto da racio­
nalidade. Já que esse pressuposto é o núcleo da escolha racional e da econo ­
mia, e constitui a base im plícita da corrente principal da ciência política, não
há razão para rejeitá-lo toda vez que surgir um a anom alia.
E ste livro elabora o conceito de jogos ocultos de modo a explicar os pro­
b lem as e anom alias não com o falhas da racionalidade, m as com o indicações
do im pacto sistem ático dos fatores contextuais ou institucionais. Q uando esses
fatores são levados em conta, o com portam ento dos atores torna-se inteligível.
R ecapitulando, o enfoque da escolha racional assum e que o com porta­
m ento do indivíduo é um a resposta ótim a às condições de seu m eio e ao
com portam ento de outros atores. U nia explicação bem -sucedida da escolha ra­
cional descreve instituições prevalecentcs e contextos existentes, persuadindo
o leitor de que a ação em preendida era a m elhor e de que ele teria adotado o
m esm o procedim ento na mesm a situação.
É hora de aplicar o princípio da racionalidade a alguns casos concretos. Pri­
meiram ente, porém , antes de efetuar aplicações especificas, são necessárias algu­
mas noções elem entares da teoria dos jogos. Elas são fornecidas no Capítulo 3.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 2

P o r questão de sim plicidade, todos os argum entos u tilizam din h eiro


para ex p ressar utilidades. C ontudo, cada argum ento p o d e ser reproduzido
com ú tile s, ou seja, um tuimerciire a b stra to e lin ear de u tilid a d e. A rrow
(1965) e P ratt (1964) definiram a aversão ao risco com o o grau de co n c a­
v id ad e de u m a fu n ção de u tilid a d e, de m odo que em m in h a ex p o siç ão o
uso de ú tiles em lugar dc dinheiro inclui d efinições eco n ô m icas p ad ro n i­
zadas de p ropensão ou de aversão ao ris c o 1.
Para provar que a obediência aos axiom as do cálculo de probabilidades é
um a exigência fraca de racionalidade é utilizada um a versão diferente mas
equivalente dos axiom as de Kolm ógorov2. Esses axiom as são os seguintes:

A l . N en h um a p ro babilidade é m enor que zero. F o rm alm en te, P (i) > = 0.


A2. A p ro b ab ilid a d e de um evento ce rto e um . F o rm alm en te, P (I) = 1.
A 3. Se i e j são dois eventos m utuam ente e x c lu d en te s, en tão P (i ou j ) =
P( 0 + P(f).

D em onstro a seguinte proposição: Se um a pesso a q u er fa z e r um a série


d e a p ostas ju sta s, e os seus valores de plausibilidade não obedecem aos axio ­
m as do cálculo de probabilidades, então pode se r fe ita contra ela um a “apos­
ta c e g a ” (D utch Book).

1. C ontudo, visões d e atitu d es e m relação ao risco q u e são d efin id as co m o n ão -lin carid ad cs no c álcu lo individual
de probab ilid ad e s (Cliew 1983; E dw ards 1954; Fishburn 1983; K alinem an e T v ersk i 1979; K arm ark ar 1978;
M acliimt 1982) vio lam os p ressu p o sto s d a m inha con cep ção de racionalidade.
2. A ndrci N ikolaievitch K olm ógorov, um m atem ático russo, fundou o c álcu lo a x io m ático d e pro b ab ilid ad es.
G E O R G E T S E B E L IS

São necessárias duas definições para a prova. P rim eiro, um a aposta ju sta
(fair bet) é definida com o um a aposta que tem a seguinte propriedade: se al­
guém qu er apostar um a som a de dinheiro (digam os a) e receber um som a de
dinheiro (digam os b), se ele ganhar a aposta, então a razão ctl(a + b) (o quo-
ciente da aposta) é igual à probabilidade de ganhar. U m a aposta ju s ta é por
d efinição aquela na qual o quociente de aposta é igual à probabilidade de ga­
nhar, ou, o que é equivalente, um a aposta justa é um a aposta com um a utilida­
d e esperada igual a zero.
U m a aposta ce g a foi feita contra alguém q u an d o a som a da aposta,
não im p orta o que aconteça no m undo real, é perdida.
A p ro v a p ro ced e em três etap as e d em o n stra as c o n se q ü ê n c ia s de
v io lar ca d a ax io m a (S kyrm s 1986).

/. VIOLAÇÃO DO AXIOMA A l

S u p o n h am o s q u e um ind iv íd u o atrib u a um a p la u sib ilid ad e negativa


a um ev ento. S egue-sc então que ele considera ju s ta um a aposta com q u o ­
c ien te de a p o sta [a/{a + b )J n eg ativ o . P o rtan to , e sta rá d isp o sto a a c eita r
ap o sta com ganhos (a) neg ativ o s e p erdas (b ) p o sitiv as3.
Exem plo. S c um ind iv íd u o atribui u m a p la u sib ilid ad e de - 0,2 a um
evento e, e le esta rá disposto a ac eita r um a ap o sta na qual ele ganha - 60 se
e for verdadeiro, e paga 10 se e for falso. C om efeito , tal ap o sta tem um
q u o cien te de aposta de - 0,2, que é igual à p lausibilidade de e. O resultado
da ap o sta será - 10 se e se revelar falso e - 60 se e se rev elar verdadeiro .

2. VIOLAÇÃO DO AXIOMA A2

H á dois casos possíveis: pode-sc co n sid e rar que um ev e n to ce rto (I)


p ossui p la u sib ilid ad e m aior ou m enor que 1. S u p onham os u m a p o ssib ili­
dade m aior que 1 atribuída a I. N esse caso, u m a ap o sta que tem um q u o ­
cien te de aposta m aior que 1 é considerada ju s ta . L ogo, a ap o sta será ac ei­
ta com ganhos (a) negativos e perdas (b ) positivas.
Exemplo. Se um indivíduo atribui um a plausibilidade de 1,5 a um evento
certo e, ele estará querendo ganhar - 10 se e for verdadeiro e pagar 30 se e for
falso. D e fato, essa aposta tem um quociente de aposta 30/(- 10 + 30) = 1,5.
S uponham os agora que um indivíduo atribua um a plausibilidade de m e­
nos que 1 a um evento ccrto e. N esse caso, ele está inclinado a ganhar contra e
num quociente dc aposta particular. Em outros term os, irá aceitar um a aposta
com ganhos negativos e perdas positivas: urna ação lam entável.

3. N ote-se q u e o quo cien te d c aposta é negativo enquunto o valor abso lu to dos ganhos for m en o r do q u e ns perdas.
JO G O S O C U LTO S 59

E xem plo. Se um in d iv íd u o atribui p la u sib ilid a d e 0,75 a um ev en to


certo e, esta rá q u erendo ganhar - 75 se e for verdadeiro, e pagar - 25 (ou
seja, receber 25) se e for falso. D e fato, essa aposta tem um q u o cien te de
a p o sta - 7 5 /(- 25 - 75) = 0,75.

3. VIOLAÇAO DO AXIOMA A3

N o v am ente, há dois casos possíveis: um indivíduo atribui um valor de


plau sibilidade a um evento com posto (i ou j) m aior ou m enor que a som a de
plausibi 1idades de eventos elem entares (m utuam ente ex c lu d en te s) i e j.
S u p o n h a m o s p rim eiro que Pfi ou j j < Pfi,) + P (j). Q uando o in d iv í­
duo atribui plausibilidade P(i) ao evento i, está disposto a aceitar um a aposta
q u e p ag a 1 - P(i) se i oco rrer, e perde P(i) se i não ocorrer. D e fato, o
q u o cien te de aposta é P{i). D e m odo análogo, se a p la u sib ilid a d e de j é
P(j), ele está disposto a aceitar um a aposta que p ag a 1 - P(j) se j o correr
e p aga P (j) se j não ocorrer. F inalm ente, se a p lau sib ilid ad e de (i ou j ) c
P (i ou ./), ele está inclinado a aceitar um a aposta q u e p ag a P(i ou j ) se (i
ou j ) não o c o rrer e p ag a I - P (i ou j ) se (/ ou j ) o c o rre r4. V ejam os agora
o q ue acontece se as três apostas forem aceitas.
H á três resu ltad o s possív eis: i o co rre e j não, j ocorre e i não, ou
nenhum dos dois ocorre.
Se i o co rrer e j não, I - P (i) é ac eito com o o p a lp ite co rreto co n ­
cern en te a /, P(J) é pago para o palpite errado concernente a j, e 1 - P (i ou
j ) é p ag o para o palp ite errado concernente a (/ ou j) . O resultado líquido
d essas tra n sa çõ es é 1 - P (i) - P(J) - (I - P (i ou j) . D epois da sim p lific a ­
ção , o resu ltad o líquido é P (i ou j) - P(i) - P(j).
Se j ocorrer e i não, o indivíduo paga P(i) p ara o palp ite errad o co n ­
cernente a i, recebe 1 - P(J) pelo palpite correto concernente a j, e p ag a I
- P (i ou j ) p ara o palpite errad o co n cern en te a (i ou j) . O resu ltad o líq u i­
do dessas tran saçõ es é n ovam ente P (i ou j ) ~ P (i) - P(J).
Se não o corre i nem j, o indivíduo paga P (i) e P(J) p ara os palpites
errad o s co n c ern en te s a i e j , e recebe P (i ou j ) p a ra o p a lp ite co rreto
co n c ern en te a (/ ou j) . O resultado líquido e n ovam ente P (i ou j ) - P (i) -
P(J).
A ssim , não im porta qual seja a situação do m undo real, o indivíduo
receb e de sua série de apostas um resu ltad o líq u id o de P (i ou j ) - P(i) -
P{j). N o en tan to , esse resu ltad o líquido, por h ipótese, é negativo.
Suponham os P(1 ou'}) > Pfi) + PfjJ. N o caso anterior, o indivíduo queria
aceitar o que era considerado com o apostas justas para \,p a r a ] , e contra (i ou

4. O.s leitores pod em 1'acilmcnle c o m p ro v ar q u e ess;i ap o sta tam bém é just;i.


60 G E O R G E T S E B E L IS

j) . D e m aneira análoga, estará disposto a apostar contra i, contra j e a fa v o r de


(i ou j y . R eproduzindo as etapas do argum ento anterior, podem os m ostrar que
desta vez o resultado líquido será P(i) + P (j) - P (i ou j) . O resultado líquido,
por definição, é negativo.
CQ D.

5. O s leitores sc lem bram de que, se gundo a defin ição dc um a aposta justa, p o d e-se ace itar um a ap o sta a favor ou
c o n tra um ev en to , q u an d o a ap o sta é ju sta.
JOGOS DE DUAS PESSOAS COM PAYOFFS VARIÁVEIS

A firm ei no C apítulo 1 que rep resen taria jo g o s em m últiplas arenas


com o jo g o s com payojfs variáveis, jogos em que os payoffs do jo g o na arena
p rincipal são influenciados pelas condições predom inantes em outra arena.
E ste cap ítulo serve a dois propósitos: explicar por que os jo g o s em m ú lti­
p las aren a s p odem ser rep resen tad o s p o r jo g o s com p a y o ffs variáveis, e
in tro d u zir o leitor no estudo de jo g o s com p a yo ffs variáveis.
A S eção I analisa a relação entre conceitos com uns da teoria dos j o ­
gos, tais com o os equilíbrios e subjogos, de um lado, e jogos em arenas m úl­
tiplas, de outro, e explica o uso do conceito de jo g o s ocultos na análise de
situações políticas. N um a tentativa dc fam iliarizar os leitores com conceitos
fundam entais da teoria dos jogos, a Seção II exam ina quatro tipos diferen­
tes de jo gos de duas pessoas (o dilem a do prisioneiro, o jo g o do seguro ou
da boisa de valores, o jo g o do galinha e o jo g o do im passe). A seção intro­
d uz os jogos de um a só jo g ad a, as suas soluções (os seus equilíbrios) e os
tipos de representações visuais utilizados ao longo do livro. A S eção III tra ­
ta dos m esm os quatro jogos quando são possíveis estratégias contingentes
ou correlacionadas. M ostro que, neste caso, os equilíbrios dos quatro jogos
se m ultiplicam . N o entanto, quando são possíveis estratégias contingentes,
a pro b abilidade de equilíbrios diferentes varia com o tam anho dos payojfs
de cad a jogador. S ustento que, para os quatro jogos, a probabilidade de co ­
operação aum enta quando os payoffs para cooperação aum entam , e quando
os p a yoffs em caso de deserção dim inuem . E ssa é a principal descoberta, e
será u sada reiteradam ente até o final do livro. A S eção IV m ostra que ex a­
tam ente as m esm as relações entre os payoffs e a cooperação sc m antêm no
caso de jogos iterativos.
62 G E O R G E T S E B E L IS

U m a observação sobre o m étodo de apresentação. A S eção III contém


resu ltad os utilizados reiteradam ente nos capítulos subseqüentes. P ara fa c i­
litar a com preensão, apresento o argum ento na S eção III e provo-o fo rm al­
m ente nos dois apêndices deste capítulo. E scolhi essa lo rm a de ap resen ta­
ção p a ra to rn a r o resto do livro acessível a leitores sem fam iliarid ad e com
a técn ica. O m esm o princípio de clareza de ex p o sição se aplica aos apên ­
dices: o A pêndice A é m ais sim ples e tra ta do jo g o do dilem a dos p risio ­
n eiros, que recebeu tanta atenção na literatura especializada; o A pêndice B
g en eraliza as suas conclusões p ara os três jo g o s restantes. A m bos os a p ê n ­
d ices co ntêm não apenas m aterial técnico, mas tam bém im portantes argu ­
m entos que não podem ser estabelecidos sem referê n cia a equações ou fi­
guras e q u e serão ex trem am en te úteis para p essoas q ue, além de ler este
livro, g ostariam de aplicar a m esm a linha de raciocínio a outros problem as.

I. JOGOS, SU BJO G OS E JO G OS OCULTOS

P o r que e com o variam os payojfs de um jo g o ? Para resp o n d er a essa


q u estão , introduzo um jo g o siniples de três pessoas q u e dem onstra a lógi­
ca dos argum entos que seguem .
A F igura 3.1 representa um esquem a de um jo g o de trê s.p e sso as, no
q ual um jo g a d o r (neste caso, o jo g a d o r 1) faz o p rim eiro m ovim ento, e os
ou tro s dois se m ovem sim ultaneam ente. A seqüência de m ovim entos é in ­
dicad a pela convenção de que escolhas anteriores (q u e aparecem no alto da
árvore que rep resen ta o jo g o ) são conhecidas por todos os jo g a d o res s u b ­
seq ü en tes e que os m ovim en tos sim u ltân e o s são in d icad o s p elas linhas
po n tilh adas, cham adas de conjuntos de inform ação. U m co n ju n to de infor­
m ação in d ica que o jo g a d o r que escolhe não é ca p az de discrim inar entre
os nós conectados p elo con ju n to de inform ação e, conseqüentem ente, não
co n h ece o m ovim ento do jo g a d o r que o precede.
N a F ig u ra 3.1, o jo g a d o r 1 m ove-se prim eiro, escolhe se vai para a e s ­
q u erd a ou para a d ireita e, m ediante essa escolha, determ ina se os dois o u ­
tros jo g a d o res irão seguir o lado direito ou o esquerdo da árvore do jo g o .
A figura indica tam bém que os outros dois jo g a d o res se m ovem sim ultanea­
m en te porque o jo g a d o r 3 tem de m over-se sem co n h ecer (devido ao co n ­
ju n to de inform ação) a escolha do jo g a d o r 2. C ontudo, am bos sabem se o
jo g a d o r 1 escolheu o lado direito ou o esquerdo da árvore.
A escolha de um a estratégia por cada jo g a d o r conduz a um resultado
determ inado conjuntam ente, que im plica um p a y o ff p ara cada jo g ad o r. E s­
ses p a yo ffs podem ser positivos ou negativos. O s pa yo ffs são indexados por
jo g ad o r. H á 23 = 8 resultados possíveis, e os p a yo ffs de cada jo g a d o r são
rep resentados com o um a coluna em cada um dos nós inferiores da árvore
q u e rep resenta o jo g o . P or convenção, o p a y o ff do jo g a d o r 1 vem im presso
J O G O S O C U LTO S 63

em p rim eiro lugar (no alto de cada coluna), o p a y o ff do jo g a d o r 2 vem em


segundo lugar (110 m eio) e o do jo g a d o r 3 em terceiro lugar (em baixo). U m a
o u tra con venção que adoto neste livro é que os jo g a d o re s de núm ero ím ­
p ar são m ulheres, e os de núm ero par são hom ens. P articularm ente, p ara os
jo g o s de duas pessoas que constituem a m aioria dos jo g o s do livro, 0 p ri­
m eiro jo g a d o r é fem inino e 0 seu adversário é m asculino.

F i g u r a 3 .1 J o g o d c tr ê s p e s s o a s .

U m a vez que todos os jo g a d o res são racionais, efetu arão suas e sc o ­


lhas de acordo com as regras da teoria dos jo g o s ; assim , irão esco lh er es­
tratég ias m utuam ente ótim as (isto é, de eq uilíbrio), co n fo rm e observei no
C ap ítu lo 2. P articularm ente os jo g ad o res 2 e 3 efetu arão escolhas m utua­
m en te ótim as co rrespondentes à escolha do jo g a d o r l 1. P or sua vez, o j o ­
g ad o r de n úm ero 1 pode esco lh er a sua estra tég ia ó tim a por duas razões.
P rim eiro , pode antecipar as reações de seus oponentes em cada um de seus
lances (porque conhece os seus p a yo ffs e pressupõe racionalidade da parte
d eles). Em segundo lugar, conhece seus próprios p ayoffs. L ogo, escolherá
a e stra tég ia que m axim iza os seus p a y o ffs , dado q u e os outros dois jo g a ­
d ores irão em pregar suas estratégias de equilíbrio.
A te o ria dos jo g o s desenvolveu um c o n c e ito m u ito im p o rta n te que
sim p lifica tais situações: o conceito de subjogos (O rd esh o o k 1986, 139).
Para os nossos propósitos, um subjogo é um jo g o entre dois ou m ais jo g a ­
d o res q u e pode ser co m p letam en te isolado dos jo g o s que o circundam c
p o d e ser resolvido por si próprio (ou seja, podem ser com putados os equi-
líbrios).
O jo g o representado na F igura 3 . 1 possui dois subjogos: 0 Jado direito
e o lado esquerdo da árvore, que são definidos pela esco lh a do jo g a d o r 1.

1. Nii S e ç ão II. e x p lico co m o são calc u lad a s e ssas cscolluis m utu am en te ótim as.
64 G E O R G E T S E B E L IS

Em am bos os subjogos, podem ser calculadas as estratégias de equilíbrio ,


de m o d o que o jo g a d o r 1 sabe (devido ao p re ssu p o sto de racio n alid ad e)
com o os jo g a d o res 2 e 3 irão responder à sua esco lh a inicial e pode e sc o ­
lher a o pção que irá m axim izar os seus payojfs.
Finalm ente, o observador que conhecer os payojfs dos três jogadores po ­
derá efetuar os m esm os cálculos, resolver o jogo e prever o seu resultado. E
esse o enfoque da teoria dos jogos para a situação apresentada na F igura 3.1.
A nalisem os agora as seguintes com plicações: suponham os que o jo ­
gador 1 é a “ n atureza” , ou seja, algum tipo de loteria que decide qual dos
dois subjogos os outros dois jogadores (os jo g ad o res 2 e 3) irão jo g a r2. O ra,
co n sid erem os que “jo g a d o r 1” é um a expressão reduzida para designar um a
série de jo g a d o res que interagem entre si e escolhem em conjunto um a ou
o utra estratégia. E m bora cada jo g a d o r possa ser racional, a escolha final não
p recisa ser a m e lh o r q u e eles podem efetu ar c o letiva m e n te. E nfim , c de
m aneira m ais coerente com o que afirm ei até agora, é possível que o jo g a ­
d o r 1 esteja envolvido em jo g o s em m últiplas arenas e que os seus payoffs
d ep en d am das situ a çõ es em todas essas aren a s. Em todos esses casos, o
o b serv ador não conhece os p a yo ffs do jo g a d o r 1.
O desconhecim ento dos payoffs do jo g a d o r 1 to rn a im possível ao ob ­
serv ad or an alisar a situação e descobrir o que fará o jo g a d o r 1; co n seq ü en ­
tem ente, o observador não pode resolver o jogo. C ontudo, ainda é possível
resolver am bos os subjogos e afirm ar que, ind ep en d en tem en te do fato dc
0 jo g a d o r I esco lh er o lado direito ou o esquerdo, os dois .outros jo g a d o ­
res responderão com a escolha de estratégias m utuam ente ótim as (no sub-
jo g o correspondente). A s estratégias de eq u ilíb rio p a ra o subjogo do lado
esquerdo podem ou não ser as m esm as, do ponto de vista do com portam ento
dos atores, que as estratégias do jo g o do lado direito. P or exem plo, é po s­
sível que, sob um determ inado conjunto de condições (isto é, se o jo g a d o r
1 esco lh er o subjogo do lado direito), a m elhor o pção do jo g a d o r 2 é ser
agressivo, m as, sob um outro conjunto dc condições (se o jo g a d o r I e sc o ­
lher o lado esquerdo, por exem plo), a sua m elhor o pção é ser conciliador.
S e as estratégias de equilíbrio em am bos os subjogos forem as m es­
m as do ponto de vista com portam ental, conhecer a escolha do jo g a d o r 1 não
é n ecessariam ente com preender o que farão os jo g a d o res 2 e 3. Se, porém ,
as estratégias de equilíbrio nos dois subjogos forem d iferentes do ponto de
vista com portam ental, o observador não poderá prever o com portam ento dos
jo g a d o res 2 e 3. E, se o observador acreditar que os jo g a d o res 2 e 3 estão
jo g a n d o o subjogo do lado direito, quando na verdade estão jo g a n d o o sub ­
jo g o do lado esquerdo, então ele fará previsões erradas sobre o com porta­
m ento deles e ficará surpreso com o co m p o rtam en to real. Isso inclui o e le­

2. 1'ssa conccituiiçfio dos e v en to s aleatórios c padrfio na teorin d o jo g o , p articu la rm en te em jo g o s com in ío rm a-


çiío in co m p leta (H arsanyi 1967-68).
J O G O S O C U LT O S 65

m en to -su rpresa que encontrarem os em cada um dos estudos em píricos neste


livro. L íderes políticos ou partidários ou outros partidos políticos d eso rd e­
narão os jo g o s que estudam os; a desordem é suficiente para que os princi­
pais atores m odifiquem o seu com portam ento m utuam ente ótim o (suas es­
tratég ias de equilíbrio).
P o r q ue, para es tu d a r as situ a çõ es p o lític as, u sar essa co m p lic ad a
co n ceitu ação em que alguns dos jogadores possuem payoffs conhecidos pelo
ob serv ad o r e outros não? P or que não representar a situação com o um jo g o
com um n úm ero apropriado de atores racionais, de m odo que seja in c lu í­
do ca d a aspecto relevante de um a situação p olítica? S ão dois os m otivos.
P rim eiro, a situação pode ser realm ente com o a descrevi, ou seja, algum ator
pode ser um agrupam ento social, ou natureza, ou esta r envolvido em outra
arena. S egundo, m esm o que fosse possível um a representação de todos os
aspectos relevantes de um a situação política, jo g o s com plicados com o esse
são g eralm ente refratários à an álise3.

F i g u r a 3 .2 R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d e u m j o g o cie n p e s s o a s .

A F ig u ra 3.2 ilustra situação sem elhante. R epresenta um jo g o com n


jo g ad o res. As setas com duas direções indicam as interações entre os d ife­
rentes p articipantes do jo g o . S uponham os que as especificações ap ro p ria­
das dessas setas conduzam a um a representação precisa do jo g o de n pes­
soas. D ado que a solução desse jo g o é im possível, com o podem os estudar
a situação? A resposta da teoria dos jo g o s é o conceito de subjogos.

3. Para um a e xce çã o notável, ver A usten -S m ilh e Banks (19SS). em que um jo g o d e m últiplos e stág io s e n tre e le i­
tores, p a rtido s e c o lig aç õ es é e stu d ad o detalhadam ente. 0 arligo é ex tre m a m en te inovador, pelo tato de tratar
a form ação d e colig ação c om o uni jo g o n ão-eooperativo, ao m esm o tem p o em q u e e x am in a a aren a legislativa
e a eleitoral e, co n tra riam e n te às c ren ças pred o m in an tes (as leis de D uverger), d em o n stra a p o ssib ilid a d e de
voto estraté g ico e m sistem as e leito rais prop o rcio n ais. Contudo, o e n fo q u e ad o tad o é c o m p lic ad o d o p o m o de
vista a n alítico , a d esp eito d o falo de que. c om o eles adm iiem , d escartem a "g en e ra lid a d e em favor d a p o ssi­
bilidade de tratam en to analítico".
66 G E O R G E T S E IJE U S

F i g u r a 3 .3 R e p re s e n ta ç ã o g rá fic a d e u m s u b jo g o d e d u a s p e s s o a s .

A F ig u ra 3.3 apresenta um subjogo de m aneira esquem ática4. A s se ­


tas com duas direções que ligam os jo g a d o res 1 e 2 com o resto dos jo g a ­
d ores da F igura 3.2 foram elim inadas. Em outros term os, num subjogo, por
d efinição, os fatores contextuais não exercem in flu ên cia algum a.
Se fosse possível estudar o com plicado jo g o da F igura 3.2, ou se esse
jo g o pudesse ser reduzido a subjogos, com o na F igura 3.3, não haveria n e­
cessidade de estudar jo g o s em m últiplas arenas. Infelizm ente, q uase sem pre
o jo g o apresentado na F igura 3.2, em bora seja um a representação com pleta
e p recisa da realidade, não pode ser abordado; e q u ase sem pre o subjogo
apresentado na F igura 3.3, em bora sim ples e passível de ser abordado, é um a
representação im precisa ou irreal de situações sociais ou políticas. C om pa­
rados com essas representações inadequadas, os jo g o s em m últiplas arenas
po d em ser c o n c eitu a d o s com o jo g o s em q u e a situ a ção prev alece n te nas
outras arenas determ ina os payoffs dos jogadores na arena principal.
C o nsiderem os a eleiçã o do p residente finlandês, ap resen tad a no in í­
cio do C apítulo I . O que cham am os, em linguagem com um , “o jo g o na are­
na p arlam en tar” é, nos term os da teo ria dos jo g o s, um a série de subjogos
p o ssív eis. Q ual desses subjogos será realm ente jo g a d o pelos atores p a rla ­
m entares depende das ações dos outros atores (os m ilitantes e eleitores de
cad a p artido). S e os m ilitantes e eleitores escolhem p erm an ecer com o o b ­
servadores passivos da arena parlam entar (com o fizeram os com unistas), ou
se esco lhem in terv ir ou am eaçar in terv ir (com o fizeram os so cia lista s), é
esco lh id o c jo g a d o um subjogo particular. D esse m odo, jo g o s em m últiplas
arenas constituem um m eio p a ra estudar todos os subjogos possíveis que
d ep en d em de fatores contextuais.

4. Um jo g o pode possuir diversos subjogos, c Ciida subjogo pode, p o r sua vez, c o n tcr vários subjogos. A lém d isso,
dois a lo re s pod em e sln r env o lv id o s em d iversos subjogos. A l;ig u ra 3.2 n ão p reten d e ap re sen tar e ssas c o m ­
plicações. Por c lareza de e x p o sição , apresen to aqui apen as um subjogo.
J O G O S O C U LT O S 67

O u tro m odo de expressar a m esm a idéia passa pelo conceito de f a t o ­


res externos, ou seja, conseqüências que a interação entre dois outros par­
tidos tem p ara terceiros partidos. Se se puder d esp rezar os fatores externos,
então a in teração entre dois atores poderá ser estu d ad a de m aneira isolada
e as prev isões sobre o com portam ento de cada ator p o derão ser acuradas;
é o caso da F ig u ra 3.3. Se, porém , os fatores externos forem im portantes e
terceiro s partidos reagirem ao jo g o entre os dois jo g a d o res, então p recisa­
m os estu dar esses fatores externos. U m a m aneira de estudá-los é considerá-
los d e form a explícita e co n stru ir um m odelo com pleto da interação entre
todos os partidos interessados; é o caso da F ig u ra 3.2. O u tra m aneira de e s ­
tu d ar a in teração entre dois jo g a d o res com fatores externos é co n c en trar-
se no im pacto das reações de terceiros partidos à interação dos p rincipais
jo g a d o re s; é o en fo q u e dos jo g o s ocultos. A F ig u ra 3.4 fornece re p re se n ­
tações g ráficas de jo g o s ocultos do gênero.
N a F ig u ra 3.4A , todos os outros jo g ad o res da F ig u ra 3.2 são su b sti­
tu ídos p or um jo g a d o r (“ natureza” ), o qual determ ina os p a yo ffs dos dois
jo g a d o res na arena principal. A F igura 3.4A representa essencialm ente um

í - 2

N atureza

F ig u ra 3 .4 A R c p re s c n ta ç a o g rá fic a d e jo g o o c u lto d o C a p ítu lo 5.

F ig u ra 3 .4 B R c p r e s c n ta ç a o g rá fic a d e jo g o o c u lto d o C a p ítu lo 6.

2 | Coligação

i 3 t* } Coligação

F ig u ra 3 .4 C R e p rc s c n ta ç a o g rá fic a d e jo g o o c u lto d o C a p ítu lo 7.


GEORGE TSE B E U S

p r o b le m a d e e s tá tic a c o m p a r a d a : c o n d iç õ e s e x te r n a s m o d ific a m os p a yo ffs


d o s a to r e s , e p r e c is a m o s c a lc u la r e c o m p a r a r o s e q u ilíb r io s d e d o is jo g o s
d i f e r e n t e s ( v e r C a p ítu lo 2 ). N o C a p f tu lo 5 é a p r e s e n ta d a u m a a p lic a ç ã o
c o n c r e ta d e tal j o g o e m m ú ltip la s a re n a s , o n d e o s p a yo ffs d o s m ilita n te s e
d o s p a rla m e n ta re s d o P a rtid o T r a b a lh is ta b r itâ n ic o s e rã o d e c id id o s p o r u m
f a l o r e x te r n o : o j o g o c o m p e titiv o e n tr e o s p a r t i d o s n o â m b ito d i s tr ita l.
A m b o s o s j o g a d o r e s n a a re n a p r in c ip a l p o s s u e m p a yo ffs d ife r e n te s e, p o r
c o n s e g u in te , e s c o lh e r ã o e s tr a té g ia s d ife r e n te s d e a c o rd o c o m o c a r á t e r d e
seu 'd is t r i t o e le ito r a l: m a rg in a l* o u se g u ro .
N a F ig u ra 3 .4 B , to d o s o s jo g a d o r e s a d ic io n a is d a F ig u ra 3 .2 fo ra m re ­
d u z id o s a d o is j o g a d o r e s ; as a ç õ e s d o jo g a d o r X í a fe ta m o s p a yo ffs d o j o ­
g a d o r 1, e as a ç õ e s d o jo g a d o r X 2 a fe ta m o s p a yo ffs d o jo g a d o r 2. N o C a ­
p ítu lo 6 , f o rn e ç o u m e x e m p lo e s p e c ífic o d e u m j o g o d e s s e tip o . A s e lite s
b e lg a s jo g a r ã o u m j o g o e n tr e si m e s m a s n a a re n a p a rla m e n ta r, e o p a y o ff
d e c a d a u m a d e p e n d e r á d a in te r a ç ã o c o m o s s e u s p a rtid á r io s b e m c o m o d a
s itu a ç ã o n a a re n a e le ito r a l.
A F ig u ra 3 .4 C a p re s e n ta u m a s itu a ç ã o m a is c o m p lic a d a e m q u e o jo g o
e n tr e d o is p a rc e iro s n u m a c o lig a ç ã o é a fe ta d o p e la c o m p e tiç ã o e n tr e a s u a
c o lig a ç ã o e u m a c o n c o r r e n te . O C a p ítu lo 7 a p lic a e s s a r e p r e s e n ta ç ã o d e
jo g o s e m m ú ltip la s a re n a s a o e s tu d o d a s c o lig a ç õ e s e le ito r a is f ra n c e s a s .
O s le ito re s p o d e m e s te n d e r as fig u ra s à v o n ta d e . P o d e - s e p e n s a r n o s
c a s o s e m q u e a p e n a s o s payoffs d c u m jo g a d o r s ã o a fe ta d o s p o r a lg u m j o ­
g a d o r o u e v e n to e x te r n o . N e s s e c a so , a re p r e s e n ta ç ã o g r á f ic a a s s e m e lh a - s e
a u m g a m a m a is d o q u e a um pi ( c o m o n a F ig u ra 3 .4 B ). P o d e - s e im a g in a r
q u e o p a y o ff d e u m j o g a d o r d e p e n d e d c d o is e v e n to s o u jo g a d o r e s e x te r n o s ,
e a s s im p o r d ia n te . F in a lm e n te , p o d e -s e c o m e ç a r a a p lic a r o m e s m o q u a ­
d ro a jo g o s d e trê s p e s so a s .
R e s u m in d o , j o g o s e m m ú ltip la s a re n a s in tr o d u z e m o c o n te x to p o l ít i ­
c o em p r o b le m a s da te o r ia d o s j o g o s . O s p a y o jfs d o s jo g a d o r e s n a a re n a
p r in c ip a l v a ria m d e a c o rd o c o m a s itu a ç ã o p r e d o m in a n te e m o u tra s a re n a s ,
o u d e a c o rd o c o m o s m o v im e n to s e fe tu a d o s p e lo s j o g a d o r e s n e s sa s a re n a s .
A u tilid a d e d o s jo g o s e m m ú ltip la s a re n a s re s id e n o e s tu d o d e s itu a ç õ e s e m
q u e o c o n te x to p o lític o c im p o r ta n te e a s itu a ç ã o é tã o c o m p lic a d a q u e se
to rn a n e c e s s á r io r e f e r ir -s e a fa to r e s e x ó g e n o s .

//. ALG U NS JO G OS SIM PLES D OIS-POR-D O IS

O s le ito re s já s a b e m q u e o s payoffs d o s j o g o s p o d e m v a ria r d e a c o r ­


d o c o m o s u b jo g o q u e o s a to re s jo g a m r e a lm e n te . O q u e re s ta v e r é c o m o

Favor c o n su lta r noui do C ap ítu lo 5, p. 122. (N . d o T.)


J O G O S O C U LT O S 69

e s s a s v a ria ç õ e s n o s payoffs a fe ta m o c o m p o r ta m e n to d o s jo g a d o r e s n a a re n a
p r in c ip a l c q u a is as c o n s e q ü ê n c ia s d e s s a s v a ria ç õ e s p a ra o s e q u ilíb rio s (o u
se ja , as p re v is õ e s e m p ír ic a s ) d e jo g o s d ife r e n te s . E s ta s e ç ã o e s tu d a q u a tr o
jo g o s s im p le s d o is - p o r -d o is d e u m a só j o g a d a : o d ile m a d o p r is io n e ir o , o
j o g o d o s e g u ro , o j o g o d o g a lin h a * e o j o g o d o im p a s s e .
A T a b e la 3.1 a p re s e n ta a m a triz g e n é ric a d e p a yo ffs d e s s e s q u a tr o j o ­
g o s . C a d a jo g a d o r te m u m a c s c o lh a e n tr e d u a s e s tr a té g ia s . P a ra s im p lif ic a r
as c o is a s , s u p o n h o q u e , n o s q u a tro jo g o s , o s j o g a d o r e s p o d e m e s c o lh e r e n tre
as m e s m a s d u a s e s tr a té g ia s : c o o p e ra ç ã o o u d e s e r ç ã o . A e s c o lh a d e u m a e s ­
tra té g ia p o r c a d a jo g a d o r lev a a u m r e s u lta d o d e te r m in a d o e m c o n ju n to q u e
im p lic a um p a y o ff p a r a c a d a u m d o s jo g a d o r e s . P o r q u e s tã o d e s im p lic id a ­
de, o s p a yo jfs e m to d o s o s jo g o s s ã o s im b o liz a d o s p e la s m e s m a s le tr a s (T,
R , P e O ); o q u e d ife r e é a o rd e m d e s s e s p ayojfs e m c a d a j o g o . N o c a s o d c
c o o p e r a ç ã o m ú tu a , c a d a jo g a d o r re c e b e u m a r e c o m p e n s a R. ( R é u m a le ­
tra m n e m ô n ic a p a ra R e c o m p e n s a , e i é a in d e x a ç ã o d o j o g a d o r , o u s e ja ,
p o d e s e r I o u 2). N o c a s o d e d e s e r ç ã o m ú tu a , c a d a j o g a d o r r c c e b e u m a p e ­
n a lid a d e P.t (P d e n o ta P e n a lid a d e ). S e u m c o o p e ra e n q u a n to o o u tro é d e r ­
ro ta d o , o jo g a d o r c o o p e ra tiv o r e c e b e o p a y o ff d e o tá r io (O d e O tá rio ) e o
jo g a d o r d e r r o ta d o rc c e b e o p a y o ff d e te n ta ç ã o T (T d e T e n ta ç ã o ).

Tabela 3.1. M atrizes de payoffs e definições de quatro jo g o s.

C o o p e raç ão D ese rçã o


C o o p e raç ão R ,R 2 0 ,T ,
D ese rçã o T |0 2 P iP’

T i > R . > P. > O : D i l e m a d o s p r i s i o n e i r o s


T i > P. > R > O : J o g o d o im p a s s e
T i > R ( > s \ > P.: J o g o d o g a l i n h a
Ri > T > P > O .: J o g o d o s e g u r o

A a p re s e n ta ç ã o in ic ia c o m o j o g o d c d u a s p e s s o a s m a is f re q ü e n te e
fa m ilia r: o d ile m a d o s p r is io n e ir o s . O j o g o foi in v e n ta d o p o r F lo o d (1 9 5 2 ),
e T u c k e r (1 9 5 0 ), q u e in v e n to u a h is tó r ia d e a p o io , lh e d e u o n o m e p e lo q u a l
é c o n h e c id o 5. O j o g o fo i u s a d o p a ra e s tu d a r o p r o b le m a d a o c o r r ê n c ia d e
c o o p e ra ç ã o e n tr e a to re s r a c io n a is c o m in te r e s s e s p ró p rio s . A o c o rr ê n c ia d c

* O jo g o d o g a lin h a (chicken g a m e) c a conhecida d isp u ta enire d u as pessoas a o volante de d o is c a n o s que sc


dirig e m em a lia v elocidade um c o m ra o outro pura q u e um dos do is d e sen e . (N. do T.)
5. A h istó ria é a seguinte: do is p risio n eiro s suspeitos dc um c rim e vio len to sTio m antidos cm c elas d iferen tes, e
a c ad a um c o ferec id o o seguinte aco rd o pelo p rom otor: "Se você c o n fe ssar c o ou tro prisio n eiro não o fizer,
você será lib ertad o ; se o ou tro prisio n eiro tam bém confessar, você receb erá um a sen ten ça m oderada. Se ne­
nhum de vocês confessar, vocês receberão lim a sentença m en o r do que .se am bos c o n fessarem ; se o o u tro c o n ­
fessar, mas você não. você receb erá a sentença m áxim a” .
70 GEORGE TSE B E U S

c o o p e ra ç ã o é im p o r ta n te p a r a a f ilo s o fia p o lític a ( T a y lo r 1 9 7 6 ), p a r a a p o ­


lític a i n te r n a c io n a l ( d ile m a d a s e g u r a n ç a [ J e r v is 1 9 7 8 ] e d e s a r m a m e n to
[ R a p o p o rt 1 9 6 0 ]) e p a ra a e c o n o m ia p o lític a ( c a r té is [ L a v e r 1 9 7 7 ], a ç õ e s
c o m b i n a d a s [ L a n g e 1 9 8 4 ], e s tu d o d o in te r c â m b io e c o n ô m ic o e s o c ia l
[ C a lv e r t 1 9 8 5 ], a ç ã o c o le tiv a [A x e lro d 1 9 8 3 ; H a r d in 19 7 1 ], b e n s p ú b lic o s
[H e a d 1 972; S a m u e ls o n 1954] e m e r c a d o s [ H a rd in 1 9 8 2 ]).
O j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s p o s s u i d u a s c a ra c te r ís tic a s . P r im e i­
ro , a d e s e r ç ã o é a e s tr a té g ia d o m in a n te p a r a c a d a jo g a d o r . D om inante é o
t e r m o t é c n ic o e m p r e g a d o p a ra in d ic a r q u e s e g u ir e s s a e s tr a té g ia d e ix a o j o ­
g a d o r e m s itu a ç ã o m a is v a n ta jo s a , não im porta o que o outro fa ç a . A s s im ,
a d e s e r ç ã o c i n c o n d ic io n a lm e n te a m e lh o r e s tr a té g ia p a r a c a d a jo g a d o r . S e ­
g u n d a c a ra c te r ís tic a : e s c o lh e n d o a e s tr a té g ia d o m in a n te e d e s e r ta n d o , a m ­
b o s o s jo g a d o r e s v ê e m -s e d e fr o n te d e u m r e s u lta d o s u b ó tim o , o u s e ja , d e s -
c o b r e m - s e e m p io r s itu a ç ã o d o q u e s e tiv e s s e m e s c o lh id o a e s tr a té g i a d c
c o o p e ra ç ã o .
A re la ç ã o e n tr e os p a yo jfs d ife r e n te s p a r a o d ile m a d o s p r is io n e ir o s
é a s e g u in te :

T. > R. > Pj > Oj (3.1)

P o d e - s e v e rif ic a r q u e , s o b a c o n d iç ã o (3 .1 ) , c a d a jo g a d o r fic a n u m a
p o s iç ã o m a is v a n ta jo s a d o q u e q u a n d o d e s e r ta , n ã o im p o r ta o q u e o o u tro
f a ç a (d o m in â n c ia ). C o m e fe ito , s e o o p o n e n te e s c o lh e c o o p e ra r , a d e s e r ç ã o
p r o p ic ia u m p a y o ff m a io r ( T ) d o q u e a c o o p e ra ç ã o (R .). D e m o d o s im ila r,
s e o o p o n e n te e s c o l h e d e s e r ta r , a d e s e r ç ã o é a in d a m e l h o r (Pj) d o q u e a
c o o p e r a ç ã o ( O j ) . O r e s u lta d o é q u e a m b o s o s jo g a d o r e s s e v ê e m c o m u m
r e s u lta d o s u b ó tim o p o r q u e c a d a u m re c e b e P n o lu g a r d e R .
E s s a re la ç ã o d e d o m in â n c ia e n tr e as d u a s e s tr a té g ia s d i s p o n ív e is fo r­
n e c e u m f o rte in c e n tiv o p a ra c a d a jo g a d o r d e s e r ta r . D e fa to , n ã o só u m a
e s p e r a d a m a x im iz a ç ã o d e u tilid a d e , m a s ta m b é m u m a a m p la g a m a d e r e ­
g ra s d e d e c is ã o (o c rité r io m a x im in c o c rité rio m in im a x d e a rr e p e n d im e n to ,
p a ra m e n c io n a r a p e n a s d o is ) r e q u e r q u e , s e e x is te u m a e s c o lh a e n tr e u m a
e s tr a té g ia d o m in a n te e u m a d o m in a d a , a d o m in a n te é m elh o r.
O d ile m a d o s p r is io n e ir o s r e s id e n o s e g u in te : e le s p r e f e r ir ia m p o d e r
c o m u n ic a r- s e e c o m b in a r a s u a d e fe s a d e u m m o d o ta l q u e a m b o s f ic a s s e m
c m m e lh o r s itu a ç ã o . C o n tu d o , n a a u s ê n c ia d e c o m u n ic a ç ã o , c a d a u m p o d e
e s c o lh e r o u a e s tr a té g ia d o m in a n te , q u e c o lo c a r á a a m b o s e m p io r s itu a ç ã o ,
o u a e s tr a té g ia d o m in a d a , e r e c e b e r o p a y o ff d e o tá r io , O r
S e in v e r te r m o s , p a r a c a d a jo g a d o r , a o r d e m d a p e n a lid a d e Pj e d a r e ­
c o m p e n s a R ., e n tã o é g e ra d o u m j o g o d ife r e n te : o d o im p a s s e . O o r d e n a ­
m e n to d o s d ife re n te s p a yo ffs n u m j o g o d o im p a s s e é o s e g u in te :

T. > Pj > Rj > Oj (3 .2 )


J O G O S O C U LT O S 71

O j o g o d o im p a s s e te m s id o e m p r e g a d o e x te n s iv a m e n te n a lite ra tu ra
e s p e c i a li z a d a e m r e la ç õ e s in te r n a c io n a is ( O y e 1 9 8 6 ; S n y d e r e D i e s in g
19 7 7 ). C o m p a r tilh a c o m o d ile m a d o s p r is io n e ir o s a c a r a c te r í s t ic a d e te r
u m a e s tr a té g ia d o m in a n te ( d e s e r ç ã o ) . D if e r e , c o n tu d o , p e lo fa to d e q u e a
d e s e r ç ã o n ã o p r o d u z u m re s u lta d o su b ó tim o : a m b o s o s jo g a d o r e s fic a m em
m e lh o r s itu a ç ã o c o m a d e s e r ç ã o m ú tu a d o q u e c o m a c o o p e ra ç ã o .
O s d o is jo g o s r e s ta n te s , o d o g a lin h a e o d o s e g u ro , p o s s u e m a c a r a c ­
te r í s t i c a c o m u m d e n ã o c o n te r e m u m a e s tr a té g i a d o m in a n te . N o j o g o d o
g a lin h a , a d e s e r ç ã o m ú tu a é o p io r r e s u lta d o p o s s ív e l p a ra a m b o s o s j o g a ­
d o re s . A c o n d iç ã o ( 3 .3 ) re p r e s e n ta o s p a yo ffs p a ra o j o g o d o g a lin h a .

T. > R. > O. > P. ( 3 .3 )

O m e d o d e c h e g a r a e s s e p io r r e s u lta d o p o s s ív e l, n o q u a l o p a y o ff p a ra c a d a
jo g a d o r é P., p o d e ( s o b c o n d iç õ e s a s e re m e s p e c ific a d a s s u b s e q ü e n te m e n ­
te ) le v a r a m b o s o s jo g a d o r e s a c o o p e ra r.
N o j o g o d o s e g u ro , a c o o p e r a ç ã o m ú tu a é o r e s u lta d o p r e f e r id o . O s
p a yo ffs d o j o g o s e g u e m a c o n d iç ã o (3 .4 ).

R. > T. > P. > O, (3 .4 )

C o n f o r m e o b s e rv e i n o C a p í tu l o .2, a ra c io n a lid a d e im p lic a q u e o s j o ­


g a d o re s a ja m c o n fo r m e as p r e s c r iç õ e s d a te o r ia d o s j o g o s , e s c o lh e n d o e s ­
tra té g ia s m u tu a m e n te ó tim a s. A e s s e s p a re s d e e s tr a té g ia s dei o n o m e d e e s ­
tr a t é g i a s d e e q u il í b r i o d e N a s h , e s ta b e le c e n d o a lé m d i s s o q u e a e s c o lh a
d e la s le v a r á a re s u lta d o s d e e q u ilíb rio . O s e q u ilíb r io s s ã o re s u lta d o s e s tá ­
ve is p o r q u e n e n h u m jo g a d o r te m in c e n tiv o p a ra d e s v ia r -s e d a e s tr a té g ia se
o o p o n e n te n ã o m u d a r a su a . Q u a is s ã o o s e q u ilíb rio s d e s s e s q u a tr o jo g o s ?
N o d ile m a d o s p ris o n e iro s e no im p a s s e , o s j o g a d o r e s tê m c o m o e s tr a ­
té g ia d o m in a n te a d e s e rç ã o . A s s im , o r e s u lta d o e m a m b o s o s jo g o s c a in ter-
s e c ç ã o d a s e s tra té g ia s d e “d e s e r ç ã o ” , e os payoffs s ã o ( P (, P 2). O s d o is jo g o s
re s ta n te s tê m d o is e q u ilíb rio s c a d a u m . N o j o g o d o g a lin h a , se o j o g a d o r I (o
jo g a d o r d a lin h a ) e s c o lh e d e s e rta r, o j o g a d o r 2 (o j o g a d o r d a c o lu n a ) fic a em
m e lh o r s itu a ç ã o se c o o p e ra r, c s e o j o g a d o r 2 c o o p e ra , o jo g a d o r 1 fic a m e ­
lh o r se d e s e rta r. A s s im , a d e s e rç ã o d o j o g a d o r 1 e a c o o p e ra ç ã o d o jo g a d o r 2
s ã o e s tr a té g ia s m u tu a m e n te ó tim a s; u m a v e z e s c o lh id a s tais c o m b in a ç õ e s , os
j o g a d o r e s n ã o tê m in c e n tiv o s u n ila te ra is p a ra d e s v ia r-s e d a e s tr a té g ia e s c o ­
lh id a . P o r ra z õ e s a n á lo g a s , a c o o p e ra ç ã o d o jo g a d o r 1 e a d e s e rç ã o d o j o g a ­
d o r 2 fo rm a m ta m b é m um e q u ilíb rio . O s payoffs n e s se s d o is e q u ilíb rio s são
(T j, 0 2) e ( O r T 2). N o jo g o d o se g u ro , s e u m j o g a d o r e s c o lh e c o o p e ra r, o o u tro
fic a e m m e lh o r s itu a ç ã o se c o o p e ra r, m as, se u m j o g a d o r e s c o lh e d e s e rta r, o
o u tro fic a m e lh o r se d e s e r ta r ta m b é m . E s s e ra c io c ín io in d ic a q u e o s r e s u lta ­
d o s ( R (, R ,) e ( P (, P ) sã o d o is e q u ilíb rio s d o jo g o .
72 GEORGE TSEBEU S

E m jo g o s c o m e q u ilíb rio s m ú ltip lo s , é p o s s ív e l q u e u m d e le s s e ja e s c o ­


lh id o p o r a m b o s o s jo g a d o r e s . N o j o g o d o s e g u ro , p o r e x e m p lo , a m b o s (R
R ,) e (P , P ) s ã o e q u ilíb rio s , m a s o p r im e ir o c o lo c a a m b o s o s jo g a d o r e s e m
m e lh o r s itu a ç ã o . A s s im , c a d a jo g a d o r p o d e p re v e r q u e ta n to e le q u a n to o seu
o p o n e n te e s c o lh e rã o c o o p e ra r, e o re s u lta d o s e rá ( R ,, R ,) . É p o s s ív e l ta m ­
b é m q u e n ã o p o s s a s e r fe ita e s s a e s c o lh a e n tr e o s e q u ilíb rio s . N o j o g o d o
g a lin h a , ta n to (T ,, 0 2) q u a n to (O ,, T 2) s ã o e q u ilíb rio s , m a s n ã o h á u m m eio
ó b v io d e e s c o lh e r e n tr e e ie s. O jo g a d o r d a lin h a p r e f e r e o p rim e ir o ; o j o g a ­
d o r d a c o lu n a p re fe re o se g u n d o . E s s a d iv e rg ê n c ia d e p r e f e r ê n c ia s g e ra u m
p r o b le m a d e c o o rd e n a ç ã o e n tr e o s d o is jo g a d o r e s . S e , d e a lg u m a m a n e ira ,
u m jo g a d o r d e ix a c la r o q u e n ã o irá c o o p e ra r, o o u tro irá a q u ie s c e r e c o o p e ­
rar. S e a c o m u n ic a ç ã o n ã o é p o s s ív e l, o u fa lh a , a m b o s p r e c is a m d e s e r ta r
( p o rq u e c a d a u m te n to u f o r ç a r o seu p r ó p rio e q u il í b r i o p r e f e r id o s o b re o
o u tro ) , o u p re c is a m a m b o s c o o p e ra r ( p o rq u e c a d a u m te m ia a d e s e rç ã o do
o u tro ). A s s im , a m u ltip lic id a d e d c e q u ilíb rio s é u m a f o n te d e in s ta b ilid a d e
d e re s u lta d o s . T rê s d o s q u a tro j o g o s a p re s e n ta m e q u ilíb rio s ú n ic o s ou a p o s ­
s ib ilid a d e d c e s c o lh a e n tr e v á rio s e q u ilíb rio s . N o jo g o d o g a lin h a , p o ré m , a
e s c o lh a e n tr e o s e q u ilíb rio s é p ro b le m á tic a .

— l----------i----------1----------i—
Jo g o do dile m a d o s p risio n eiro s
T > R> P> O

F i g u r a 3 .5 A R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d o s p a y o ffs n o j o g o d o d i l e m a d o s p r i s i o n e i r o s .

Jo g o d o im passe
T >R >P >O

F i g u r a 3 .5 B R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d o s p a y o ffs n o j o g o d o im p a s s e .

Jo go d o galinha
T> R > O > P

F i g u r a 3 .5 C R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d o s p a y o ffs n o j o g o d o g a l i n h a

—I---------- 1—
Jo g o d o seg u ro
R >T>P> O

F i g u r a 3 .5 D R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d o s p a y o ffs n o j o g o d o s e g u r o .
JO G O S O C U LT O S 73

U m a f o n te a d ic io n a l de in s ta b ilid a d e d e riv a d a q u e s tã o d e s a b e r se o
r e s u lta d o c r a ó tim o p a ra a m b o s o s jo g a d o r e s o u p o d e ria s e r m e lh o r a d o : a
q u e s tã o d o ó tim o d e P a re to , T e c n ic a m e n te , u m re s u lta d o é c h a m a d o d e ó ti­
m o de Pareto q u a n d o é im p o s s ív e l m e lh o r a r o p a y o ff de u m jo g a d o r se m r e ­
d u z ir o d o o u tro . U m r e s u lta d o q u e n ã o é u m ó tim o d c P a r e to a p re s e n ta a
s e g u in te f o n te d c in s ta b ilid a d e : o s jo g a d o r e s s a b e m q u e , se a g ire m ju n to s ,
p o d e rã o m e lh o r a r o s p a yo ffs d e a lg u n s d e le s (o u d e to d o s ) . J á q u e a c o m u ­
n ic a ç ã o é p r o ib id a , p o r é m , n ã o é p o s s ív e l e s s e a c o rd o . A s F ig u ra s 3 .5 e 3 .6
r e p r e s e n ta m a r e la ç ã o e n tr e os p a yo ffs d o s d if e r e n te s j o g o s e o p r o b le m a
d o ó tim o d e P a re to .
A F ig u r a 3 .5 é u m a re p r e s e n ta ç ã o g r á f ic a d o s pa yo ffs d e u m jo g a d o r
e m c a d a jo g o . A F ig u ra 3 .5 A m o s tra o s payoffs n u m j o g o d o d ile m a d o s p r i­
s io n e iro s a o lo n g o d e um e ix o . A F ig u ra 3 .5 B m o s tr a q u e o im p a s s e p o d e
s e r g e ra d o se a o r d e m d e P e R f o r in v e rtid a . A F ig u r a 3 .5 C d e m o n s tra q u e
u m a in v e rs ã o d e P e O. tra n s fo r m a u m jo g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s n u m
jo g o d o g a lin h a . A F ig u ra 3 .5 D d e m o n s tra q u e u m a in v e rs ã o d c R ; e T p r o ­
d u z u m j o g o d o s e g u ro . S e r e p r e s e n ta r m o s o s p a yo ffs d e c a d a jo g a d o r d e
um j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s ao lo n g o d e c a d a u m d o s d o is e ix o s d a
F ig u ra 3 .6 , t e r e m o s um g r á f ic o d o jo g o .
A F ig u ra 3 .6 re p r e s e n ta u m jo g o d o d ile m a d o s p ris io n e iro s p o r q u e a
o r d e m d o s payojfs d e c a d a jo g a d o r é a n á lo g a à d a F ig u ra 3 .5 A . N o C a p ítu ­
lo 6 , u tiliz o u m a re p re s e n ta ç ã o s im ila r d o jo g o d o g a lin h a p a ra a n a lis a r a m a ­
n e ir a c o m o as in s titu iç õ e s b e lg a s p ro d u z e m re s u lta d o s ó tim o s d e P a re to . O s
le ito re s p o d e m c o m p r o v a r q u e n e s sa f ig u r a trê s p o n to s re p r e s e n ta m o s r e ­
s u lta d o s ó tim o s d e P a re to : ( T |t 0 2), ( R ,, R 2) e ( 0 |5 T 2). P a ra c a d a re s u lta -

F i g u r a 3 .6 R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d o s p a y o ffs n o j o g o d o d i l e m a d o s p r i s i o n e i r o s n u m p la n o .
74 GEORG E TSEH EU S

d o , é im p o s s ív e l m e lh o ra r o p a y o ff d e u m jo g a d o r se m p r e ju d ic a r o o u tro .
D e m o d o in v e rs o , h á u m re s u lta d o q u e , se f o r e s c o lh id o , p ro d u z r e s u lta d o s
in s a tis f a tó r io s p a ra a m b o s o s jo g a d o r e s : (P , P ). E s s e é e x a ta m e n te o e q u i­
líb r io d o j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s . P o r ta n to , q u a n d o o s jo g a d o r e s
d e s s e j o g o e s c o lh e m s u a s e s tr a té g ia s d o m in a n te s , p r o d u z e m u m r e s u lta d o
q u e n ã o é ó tim o d e P a re to . N o te -s e , to d a v ia , q u e , p a ra re a lm e n te m e lh o r a r
e s s e r e s u lta d o , e le s p re c is a m v io la r as re g ra s d o j o g o , as q u a is e s p e c ific a m
q u e n ã o d e v e h a v e r c o m u n ic a ç ã o e d e a lg u m m o d o “ g a n h a r ju n to s ” .
O s e q u ilíb r io s d o s trê s jo g o s re s ta n te s e s tã o in c lu íd o s n o c o n ju n to d c
P a r e to . N o j o g o d o im p a s s e , o r e s u lta d o ( P l , P ) é a s e g u n d a p r e f e r ê n c ia
p a ra c a d a jo g a d o r , e a m b o s n ã o p o d e m m e lh o r a r o s se u s p a yo ffs q u e r u n i-
la te ra lm e n te ( p o rq u e [ P (, P 2] é u m e q u ilíb rio ), q u e r c o le tiv a m e n te ( p o rq u e
a c o m b in a ç ã o d c p a yo ffs é o ó tim o d e P a r e to ) 6. N o j o g o d o s e g u ro , o e q u i­
líb r io ra z o á v e l é o r e s u lta d o q u e c a d a j o g a d o r p r e f e r e e m p r im e ir o lu g ar.
A s s im , n ã o h á d ú v id a s s o b re a s u a o tim id a d e d e P a re to . F in a lm e n te , n o j o g o
d o g a lin h a , o ú n ic o r e s u lta d o q u e n ã o c o r r e s p o n d e a o ó tim o d e P a r e to é
a n á lo g o a o r e s u lta d o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s ( P |5 P 2); c o n tu d o , e s s e r e ­
s u lta d o n ã o é u m e q u ilíb rio .

Tabela 3.2 P ropriedades dos quatro jo g o s em term os da teoria dos jo g o s.

E q u ilíb rio s É a E q . Ó tim a d e P a r e to ?

D ile m a d o s p r is io n e ir o s P ,P 2 N ão

Im p asse P .P . S im

G a lin h a ° , t 2, t , o 2 S im

S e g u ro R l R 2- P l P 2 S im

A T a b e la 3 .2 re s u m e as c a ra c te r ís tic a s d o s q u a tr o jo g o s e as fo n te s d e
i n s ta b ilid a d e de c a d a u m . R e s u m in d o o a rg u m e n to : o s e q u ilíb rio s d e N a s h
s ã o re s u lta d o s q u e sã o e s tá v e is em re la ç ã o a d e s v io s u n ila te r a is , p o r q u e n e ­
n h u m jo g a d o r re c e b e in c e n tiv o p a ra d e s v ia r -s e ; o s p o n to s ó tim o s d e P a r e ­
to sã o e s tá v e is cm re la ç ã o a c o lig a ç õ e s u n iv e rs a is p o r q u e n ã o é p o s s ív e l d e s ­
v ia r - s e d e ta is p o n to s se m p r e ju d ic a r a lg u n s jo g a d o r e s . S e g u e -s e q u e , n u m
j o g o d e d u a s p e s s o a s , um r e s u lta d o q u e é u m e q u ilíb r io d e N a s h e é u m ó t i ­
m o d e P a re to n ã o p o d e s e r m o d ific a d o u n ila te r a lm e n te ou c o le tiv a m e n te . O
j o g o d o im p a s s e e o d o s e g u ro a p re s e n ta m re s u lta d o s e s tá v e is p o r q u e a m ­

6. O s leitores podem com provar e sses po n to s se inverterem os nom es dos p o n to s (P,, P J e <R,, R.) na Fig u ra 3.5,
e transform arem o jo g o d o dilem a dos p risio n eiro s num jo g o do im passe.
JO G O S O C U LT O S 75

b o s tê m u m e q u ilíb rio r a z o á v e l d c N a s h ú n ic o , q u e é o ó tim o d e P a re to . O


e q u ilíb rio s in g u la r d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s n ã o é ó tim o d e P a r e to , e os
jo g a d o r e s n ã o p o d e m m e lh o r a r s e u s p a yo ffs se m v io la r as re g ra s d o jo g o .
O j o g o d o g a lin h a p o s s u i d o is e q u ilíb rio s , a m b o s o s q u a is s ã o ó tim o s d e
P a r e to , e n ã o h á m e io d e e s c o lh e r e n tr e o s d o is . E m to d a e s s a d is c u s s ã o ,
o s e q u ilíb rio s d e c a d a j o g o n ã o d e p e n d e m d o tam anho d o s payoffs', d e p e n ­
d e m a p e n a s d a n a tu r e z a d e c a d a jo g o , o u se ja , d a ordem d o s payoffs.
I s s o c o m p le ta a d e s c r iç ã o d a s p r o p rie d a d e s r e le v a n te s d o s q u a tr o j o ­
g o s e m te r m o s d a te o r ia d o s j o g o s . N o te - s e , to d a v ia , q u e a c o m u n ic a ç ã o
e n tr e o s j o g a d o r e s n ã o fo i a d m itid a e m n o s s a a n á lis e . É h o ra d e e x a m in a r
o s m e s m o s j o g o s q u a n d o s e p e rm ite c o m u n ic a ç ã o e o s jo g a d o r e s p o d e m
c o o r d e n a r s u a s e s c o lh a s d e e s tr a té g ia s o u - o q u e s e rá e s ta b e le c id o d a q u i
p a ra a f re n te - u til iz a r e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s o u c o rr e la c io n a d a s .

///. ESTRATÉG IAS CONTINGENTES E VARIAÇÕES D E P A Y O F FS

N a p r e s e n te s e ç ã o s u s te n to q u e , q u a n d o s ã o i n tr o d u z id a s e s tr a té g ia s
c o n tin g e n te s o u c o rr e la c io n a d a s , as p r o p rie d a d e s d o s q u a tr o jo g o s m u d a m
d e m a n e ira s u b s ta n c ia l. E m p a rtic u la r, so b c e rta s c o n d iç õ e s q u e e s p e c ifiq u e i,
a c o o p e r a ç ã o p o d e d e s e n v o lv e r- s e n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s .
A lé m d iss o , q u a n d o sc p e rm ite m e s tra té g ia s c o rr e la c io n a d a s , a p ro b a b ilid a d e
d a e s c o lh a d e c a d a e s tr a té g ia p a rtic u la r v a ria d e a c o rd o c o m o s payoffs d o
jo g o . C o n f o r m e a firm e i na in tro d u ç ã o d e s te c a p ítu lo , a p re s e n to a q u i o a rg u ­
m e n to d e m a n e ira in fo r m a l. N o a p ê n d ic e , re p ito d e m a n e ira f o rm a l e p r e ­
c is a o a rg u m e n to p rin c ip a l, a s sim c o m o p o n to s r e le v a n te s a d ic io n a is .
C o n s id e r e m o s a s e g u in te s itu a ç ã o : d o is j o g a d o r e s j o g a m o j o g o d o
d ile m a d o s p r is io n e ir o s ; q u a n d o o p r im e ir o ( o j o g a d o r d a lin h a ) e s c o lh e
c o o p e ra r, o s e g u n d o e s c o lh e c o o p e ra r c o m p r o b a b ilid a d e p. D o r a v a n te d e ­
n o m in a - s e p a p r o b a b ilid a d e d e in s tr u ç ã o 7. A lé m d is s o , a d m ita m o s q u e , se
o jo g a d o r d a lin h a e s c o lh e r d e s e rta r, o jo g a d o r d a c o lu n a e s c o lh e r á d e s e r ­
t a r ta m b é m c o m p ro b a b ilid a d e q. D o r a v a n te , q é a p r o b a b ilid a d e d e r e t a ­
l ia ç ã o 8. E s s e e n f o q u e u s a o c o n c e ito d e e s tr a té g ia s c o r r e la c io n a d a s ( c a d a
j o g a d o r e m p r e g a u m a e s tr a té g i a d ife r e n te , d e a c o rd o c o m a e s tr a té g i a d o
o p o n e n te ) . O e n fo q u e e c o n g ru e n te c o m as e x ig ê n c ia s fra c a s d e r a c io n a li­
d a d e in tr o d u z id a s n o C a p ítu lo 2 y. D e fa to , e s s e e n fo q u e r e q u e r a c re n ç a em
ta is p r o b a b ilid a d e s , in d e p e n d e n te m e n te d o f u n d a m e n to d e s s a c re n ç a . P a ra
g e ra r ta is e s tr a té g ia s c o rr e la c io n a d a s A u m a n n ( 1 9 7 4 ) e m p r e g a u m a rtifíc io

7. E m prego esse te rm o p orque um jo g a d o r pode p e n sar qu e pode in stru ir o seu o p o n en te a c o o p erar se fornecer
um exem plo.
8. E m prego o te rm o para in d ic ar q u e a esco lh a d a d eserção pode provocar um a reação p o r p arte d o o ponente.
9. M ais p recisam en te, d e n tro d a teoria .subjetiva dos jo g o s d efen d id a p o r Bayes. Ver K adane e L nrkey (1982).

B S C S H UFRGSI
GEORGE TSE B E U S

c o m u m d e a le a to rie d a d e . Im a g in e m o s , p o r e x e m p lo , q u e se a tire u m a m o e d a
p a ra o a lto e , s e e la d e r c a ra , o jo g a d o r 1 j o g a C , e o jo g a d o r 2 jo g a C c o m
p r o b a b ilid a d e p. S c d e r c o ro a , o jo g a d o r 1 j o g a D c o jo g a d o r 2 jo g a D c o m
p ro b a b ilid a d e q.
A u m a n n (1 9 7 4 ) ta m b é m e m p r e g a p r o b a b ilid a d e s s u b je tiv a s ( d if e re n ­
te s ) d e o c o r r ê n c ia d o m e s m o e v e n to c o m o u m s in a l p a ra g e ra r a c o o r d e n a ­
ç ã o d e e s tr a té g ia s . M o u lin (1 9 8 2 ) e s ta b e le c e a d is tin ç ã o e n tr e e s tr a té g ia s
c o rr e la c io n a d a s a u to - im p o s ta s (is to é, c a d a jo g a d o r m e lh o r a a su a s itu a ç ã o
se as s e g u ir), e c e n á rio s in ib id o re s , q u e to le ra m r e s u lta d o s q u e n ã o sã o a u to -
im p o s to s e r e q u e r e m a m e a ç a s p a ra s e re m m a n tid o s . M o u lin u tiliz a jo g o s
in fin ito s p a ra g e ra r o s s e u s c e n á r io s in ib id o re s : p r o m e te - s e a u m jo g a d o r
q u e q u a lq u e r d e s v io d o r e s u lta d o c o m b in a d o s e rá s e v e r a m e n te p u n id o n o
r e s ta n te d e um j o g o in fin ito . E m g e ra l, o s jo g a d o r e s p o d e rã o d e s e n v o lv e r
e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s se p u d e re m se c o m u n ic a r, s e p u d e re m e s ta b e lc c c r
c o n tr a to s p o r e s c r ito , o u se p u d e re m in g r e s s a r n u m a in te r a ç ã o ite ra tiv a . E m
c a d a u m d e s s e s c a s o s , p a r a c o o r d e n a r o u c o r r e la c i o n a r s u a s e s tr a té g ia s
p o d e m u til iz a r a s u a c o m u n ic a ç ã o a n te r io r , s e u s c o n tr a to s o u o se u c o m ­
p o r ta m e n to em r o d a d a s a n te r io r e s d o jo g o .
E c la r o q u e a r e a lid a d e é m ais c o m p lic a d a d o q u e e s s a s s im p lific a ç õ e s.
P o r e x e m p lo , a c o m u n ic a ç ã o p o d e s e r lim ita d a , o s s in a is p o d e m s e r m ais ou
m e n o s c la r o s , a s p r o m e s s a s p o d e m s e r fe ita s , m a s o s e u c u m p r im e n to p o d e
n ã o s e r t o ta lm e n te o b r ig a tó rio , e p o d e e s ta r p r e s e n te o o p o rtu n is m o . A p e ­
n a s r e c e n te m e n te ta is f e n ô m e n o s fo ra m in v e s tig a d o s p e lo e s tu d o d e jo g o s
ite r a tiv o s ( B e n d o r e M o o k h e r je e 1 9 8 7 ). D e v id o à i m p o r tâ n c ia d o s j o g o s
ite ra tiv o s, b e m c o m o a o seu u s o fre q ü e n te n a s e q ü ê n c ia d e s te liv ro , tra to do
a s s u n to c m s e p a r a d o na S e ç ã o IV. É n e c e s s á r io a p ro f u n d a r a in v e s tig a ç ã o
s o b re a p o s s ib ilid a d e d a s e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s o u c o rr e la c io n a d a s e s o ­
b re a fo rm a c o m o sã o g e ra d a s e m a n tid a s as p r o b a b ilid a d e s p e q. E n q u a n ­
to iss o , p a ra g e ra r p ro p o s iç õ e s p a ra j o g o s e m q u e e s s a s e s tr a té g ia s sã o p o s ­
s ív e is u tiliz o o s c o n c e ito s d e e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s e c o rr e la c io n a d a s .
A u m a n n ( 1 9 7 4 , 68 ) p ro v a q u e o u s o d e e s tr a té g ia s c o rr e la c io n a d a s e m
jo g o s n ã o -c o o p e ra tiv o s p o d e p ro d u z ir u m a a m p la v a rie d a d e d e e q u ilíb r io s " ’.
A q u i, u s o e s s e te o re m a p a ra d e s c o b r ir as c o n d iç õ e s n e c e s s á r ia s e s u fic ie n te s
p a ra a e s c o lh a d a c o o p e ra ç ã o p o r c a d a jo g a d o r. E m p a rtic u la r, a u tiliz a ç ã o
d a s p r o b a b ilid a d e s de in s tr u ç ã o (jy) e re ta lia ç ã o (q) to rn a p o s s ív e l o e x a m e
d o s q u a tr o jo g o s n o m e s m o q u a d ro a n a lític o .
A p o s s ib ilid a d e d e e s tr a té g ia s c o r r e la c io n a d a s c m q u a lq u e r u m d o s
q u a tr o jo g o s leva c a d a j o g a d o r a e s c o lh e r a e s tr a té g ia q u e m a x im iz a su a u ti­

10. A distin çã o entre jo g o s c ooperativos e n ã o -cooperativos baseia-.se na p o ssib ilid ad e de estab e le ce r contratos
e ntre os jo g a d o re s: em jo g o s cooperativos, tais contratos são possíveis; c m jo g o s n ão-coopcrativos, não o são.
A im iam i (1 974J p rova a ex istê n cia <le eq u ilíb rio s para o s q u ais o v eto r p a y o ff não e stá c o n tid o d e n tro do
invólucro conv ex o dos eq u ilíb rio s d e estratég ia m istos.
J O G O S O C U LTO S 77

lid a d e e s p e r a d a . A s e q u a ç õ e s (3 .5 ) e ( 3 .6 ) d ã o as u tilid a d e s e s p e r a d a s d e
c a d a e s tr a té g i a . P o r m o tiv o s d e s im p lic id a d e , o ín d ic e i é r e tir a d o d o s
p a yo jfs.

E U (D ) = T ( I - q ) + P q ( 3 .5 )

E U (C ) = R p + 0 ( 1 - p ) ( 3 .6 )

E m te rm o s d e u tilid a d e e s p e r a d a , a c o o p e ra ç ã o s e rá e s c o lh id a sc:

E U (C ) - E U (D ) > 0 (3 .7 )

R e o r d e n a n d o o s te r m o s , ( 3 .7 ) é e q u iv a le n te a:

(R - 0 ) p + ( T - P )q > ( T - O ) ( 3 .8 )

A s s im , q u a n d o ( 3 .8 ) f o r v e r d a d e ir a p a r a u m jo g a d o r , e le e s c o l h e r á
c o o p e ra r. D e m o d o in v e rs o , p o r m e io d e (3 .8 ), o s le ito re s p o d e m f a z e r m e ­
lh o re s p r e v is õ e s s o b re o m o m e n to em q u e é p ro v á v e l q u e o c o rr a a c o o p e ­
ra ç ã o . A r e f e r ê n c ia às in e q u a ç õ e s ( 3 .1 ) a ( 3 .4 ) m o s tra q u e to d a s as q u a n ti ­
d a d e s e n tr e p a r ê n te s e s n a in e q u a ç ã o ( 3 .8 ) sã o p o s itiv a s p a ra to d o s o s j o g o s .
Is s o in d ic a q u e , à m e d id a q u e a u m e n ta m as p r o b a b ilid a d e s p e q, é m a is p r o ­
v á v e l a e s c o lh a d a c o o p e ra ç ã o .
U m e x a m e d e (3 .8 ) ta m b é m c o n d u z a a lg u m a s o b s e rv a ç õ e s a re s p e ito
d o im p a c to d a s v a ria ç õ e s d e payoffs so b re a p ro b a b ilid a d e d e c o o p e ra ç ã o n o s
q u a tr o j o g o s . P o r e x e m p lo , q u a n d o R (o p a y o ff para c o o p e r a ç ã o m ú tu a )
a u m e n ta , o v a lo r d c (R - S ) n o la d o e s q u e rd o d e ( 3 .8 ) c re s c e , e, p o rta n to , é
m a is p ro v á v e l q u e ( 3 .8 ) s e ja v e rd a d e ira e é m a is p ro v á v e l p o r ta n to q u e se
e s c o lh a c o o p e ra r. Q u a n d o P (o p a y o ff p a ra d e s e r ç ã o m u tu a ) a u m e n ta , o la d o
e s q u e r d o d c (3 .8 ) d im in u i, e é m e n o s p ro v á v e l q u e ( 3 .8 ) s e ja v e rd a d e ira , e
e n tã o é m e n o s p ro v á v e l q u e s e ja e s c o lh id a a c o o p e ra ç ã o . Q u a n d o T (o p a y o ff
p a ra d e s e r ç ã o u n ila te ra l) a u m e n ta , ta n to o la d o e s q u e r d o q u a n to o d ire ito d e
(3 .8 ) a u m e n ta m , m a s o la d o e s q u e rd o a u m e n ta m a is le n ta m e n te p o rq u e T é
m u ltip lic a d o p o r um n ú m e ro m e n o r q u e 1. A s s im , c m e n o s p ro v áv e l q u e (3 .8 )
s e ja v e rd a d e ira , c , p o r ta n to , a c o o p e ra ç ã o s e t o rn a m e n o s p ro v á v e l. F in a l­
m e n te , q u a n d o O (o p a y o ff p o r te r s id o lev a d o à c o o p e ra ç ã o e n g a n o s a p e lo
o p o n e n te ) a u m e n ta , ta n to o la d o d ire ito q u a n to o e s q u e r d o d e ( 3 .8 ) d im i­
n u e m , m as o la d o e s q u e r d o d e c rc s c e m a is le n ta m e n te p o r q u e O é m u ltip li­
c a d o p o r um n ú m e ro m e n o r q u e I . A s s im , c m a is p ro v á v e l q u e (3 .8 ) s e ja v e r­
d a d e ira , e a c o o p e ra ç ã o s e to rn a m a is p ro v á v e l.
O le ito r e n c o n tr a rá , nos A p ê n d ic e s A c B d e s te c a p ítu lo , u m n ú m e ro
m a io r d e o b s e rv a ç õ e s e d e p ro v a s fo rm a is . A q u i a p e n a s r e a firm o d u a s d a s
p r o p o s iç õ e s p ro v a d a s n o s a p ê n d ic e s .
GEORGE TSE B E U S

P roposição 3.6. N u m d ile m a d o s p r is io n e ir o s , n u m j o g o d o s e g u ro o u


d o g a lin h a , q u a n d o sã o p o s s ív e is as e s tr a té g ia s c o rr e la c io n a d a s , a p r o b a b i ­
lid a d e d e c o o p e ra ç ã o a u m e n ta c o m R e O (o s p a yo jfs p a ra c o o p e ra ç ã o ).
O s ig n i f ic a d o d a p r o p o s i ç ã o 3 .6 p o d e s e r m e l h o r c o m p r e e n d id o s e
to m a r m o s p o r r e f e r ê n c ia a T a b e la 3 .1 , q u e a p re s e n ta a m a triz d e p a yo ffs d e
to d o s o s j o g o s . C o n f o r m e in d ic a a T a b e la 3 .1 , R é a r e c o m p e n s a p a ra c o o ­
p e ra ç ã o m ú tu a , e O é o p a y o ff d z o tá r io q u a n d o u m c o o p e r a e o o p o n e n te
d e s e r ta . P a r a o j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , a m b o s o s p a yo jfs e s tã o li­
m ita d o s : a r e c o m p e n s a p a ra c o o p e r a ç ã o m ú tu a ( R ) n ã o p o d e e x c e d e r o
p a y o ff d e te n ta ç ã o (T ), n e m p o d e o p a y o ff d e o tá r io (O ) e x c e d e r a p e n a li­
d a d e p a ra d e s e r ç ã o m ú tu a (P ) (c o n d iç ã o 3 .1 ). E s s a s o b s e rv a ç õ e s n o s lev am
a o s ig n if ic a d o in tu itiv o d a p ro p o s iç ã o 3 .6 p a ra u m j o g o d o d ile m a d o s p r i­
s io n e iro s : a c o o p e ra ç ã o é m a is p ro v á v e l q u a n d o a p r e d o m in â n c ia d a d e s e r ­
ç ã o s o b re a c o o p e ra ç ã o é m e n o s a c e n tu a d a . P a ra o j o g o d o g a lin h a e o d o
s e g u ro , o r a c io c ín io é s im ila r, a in d a q u e n ã o h a ja u m a e s tr a té g ia d o m in a n ­
te . U m a u m e n to n a s r e c o m p e n s a s p a r a c o o p e r a ç ã o t o r n a m a is a tr a e n te a
c o o p e ra ç ã o ( q u e n ã o é d o m in a d a ).
A p r o p o s iç ã o s e g u in te r e la c io n a a p r o b a b ilid a d e d e c o o p e r a ç ã o c o m
a r e c o m p e n s a p a ra te n ta ç ã o (T ) e a p e n a lid a d e m ú tu a p a ra d e s e r ç ã o (P ).
P roposição 3.7. N u m d ile m a d o s p r is io n e ir o s , n o j o g o d o s e g u ro o u
n o d o g a lin h a , q u a n d o s ã o p o s s ív e is e s tr a té g ia s c o r r e la c io n a d a s , a p r o b a ­
b ilid a d e d e c o o p e ra ç ã o d im in u i c o m T e P (o s p a yo jfs p a r a d e s e r ç ã o ).
A s p r o p o s iç õ e s 3 .6 e 3 .7 f o rn e c e m i n fo r m a ç ã o v á lid a p a r a o d e s e n ­
v o lv im e n to d a c o o p e ra ç ã o dentro do m esm o ce n á rio ; e m c e n á r io s d i f e r e n ­
te s , o s v a lo re s d e p e g, as p r o b a b ilid a d e s d e in s tr u ç ã o e d e r e ta lia ç ã o , sã o
d ife r e n te s d e m a is p a r a p e r m itir q u a is q u e r c o m p a r a ç õ e s .
P o d e p a r e c e r q u e n ã o s e p r e c i s a d a t e o r i a d o s j o g o s p a r a c o n c lu i r
q u e , s e o s p a yo ffs d e u m jo g a d o r a p a rtir d a e s c o lh a d e d e te r m in a d a e s tr a ­
té g i a a u m e n ta m , é m a is p r o v á v e l q u e o j o g a d o r e s c o l h a e s s a e s tr a té g ia .
H á d u a s r a z õ e s p e la s q u a is tal o b je ç ã o é in c o r r e ta . A p r im e ir a é q u e o d e ­
s e n v o lv im e n to d a te o r ia d o s jo g o s n o s e n s in o u q u e a p u r a in tu iç ã o é u m a
c o n s e l h e ir a d e e x tr e m a im p o r tâ n c ia , m as m u ito p o u c o c o n fiá v e l, e o q u e
p o d e p a r e c e r ó b v io p o d e ta m b é m e s ta r c o m p le ta m e n te e rra d o . A s e g u n d a
r a z ã o é q u e a ló g ic a d e s s e s a rg u m e n to s r e p o u s a s o b re o d e s e n v o lv im e n to
d e e s tr a té g ia s c o rr e la c io n a d a s . P a ra d e s e n v o lv e r ta is e s tr a té g ia s s ã o n e c e s ­
s á ria s p r o m e s s a s , a m e a ç a s , a m e a ç a s a c re d itá v e is o u c a s tig o s . T ais c o n c e i­
to s s ã o i m p o r ta n te s p a ra u m a c o m p r e e n s ã o d o c o m p o r ta m e n to d o s a to re s
p o l ít ic o s " . N o c a s o p a rtic u la r d e u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , a i n ­
tu iç ã o d e q u e u m a m u d a n ç a n o s p a yo ffs d e u m jo g a d o r i n d u z ir á u m a m u ­

II. A lógica das am eaças acreditáveis e não-acreditáveis é usada dc m aneira extensa no Capítulo 6, e m q u e os m i­
litantes do P artid o T rab alh ista britânico nm caçam substituir os seus representantes se não forem sufieietilem en-
J O G O S O C U LT O S 79

d a n ç a n a e s tr a té g i a e s tá c o m p l e ta m e n te e r r a d a s e o j o g o f o r d e u m a só
jo g a d a e s e n ã o fo re m p e rm itid a s e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s ( c o n f o r m e in d i­
c a a S e ç ã o II).
A s p r o p o s iç õ e s 3 .6 c 3 .7 s e m a n tê m ta m b é m p a r a o j o g o d o s e g u ro e
p a ra o d o g a lin h a . A o b s e rv a ç ã o é m u ito im p o r ta n te : c o n fo r m e a firm e i no
C a p ítu lo 1 e n o v a m e n te n a in tr o d u ç ã o d e s te c a p ítu lo , j o g o s e m m ú ltip la s
a re n a s p o s s u e m p a yo jfs v a riá v e is , e as v a ria ç õ e s d o s pa yo ffs n o s j o g o s em
q u e s ã o p e rm itid a s e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s p r o d u z e m o s m e s m o s r e s u l ta ­
do s in d ep endentem ente da natureza do jo g o \ o s re s u lta d o s d e p e n d e m a p e ­
n a s d o ta m a n h o d o s payoffs.
N o s C a p ítu lo s 5 , 6 e 7 d e s c re v o s itu a ç õ e s e m q u e o s a to r e s e s tã o e n ­
v o lv id o s e m jo g o s e m v á ria s a re n a s , e as c o n d iç õ e s p r e d o m in a n te s e m o u ­
tr a s a r e n a s d e te r m in a m o s p a yo jfs n a a r e n a p r in c ip a l. E m c o n s e q ü ê n c i a ,
q u a n d o m u d a m as c o n d iç õ e s n u m a a re n a , variam os p a y o ffs n a a re n a p r in ­
c ip a l. S e fo re m p o s s ív e is e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s , e s s a v a ria ç ã o i n d u z ir á os
a to r e s a m u d a re m s u a s e s tr a té g ia s n a a re n a p r in c ip a l. D e s s e m o d o , a s p r o ­
p o s iç õ e s 3 .6 e 3 .7 s ã o u s a d a s c o m f re q ü ê n c ia p a r a in v e s tig a r o im p a c to d a s
c o n d iç õ e s p r e d o m in a n te s n u m a a re n a s o b re as e s tr a té g ia s d o s a to r e s p o lí­
tic o s n a a re n a p rin c ip a l.

IV. JO G O S ITERATIVOS

N e s ta s e ç ã o , tra to c m s e p a r a d o d o s jo g o s ite r a tiv o s d e v id o à s u a p o ­


s iç ã o d e d e s ta q u e n a lite ra tu ra d a te o r ia d o s j o g o s e p e lo f a to d e se p r e s ta ­
re m a o d e s e n v o lv im e n to d e im p o r ta n te s c o n c e i t o s te ó r ic o s , ta is c o m o as
a m e a ç a s a c r e d i tá v e is o u n ã o - a c r e d itá v e is e a s p r o m e s s a s , c o n c e i t o s q u e
e m p r e g o n o s c a p ít u lo s s u b s e q ü e n te s . C o n tu d o , a in v e s tig a ç ã o d o s jo g o s
ite r a tiv o s c o n d u z e x a ta m e n te às m e s m a s c o n c lu s õ e s q u e o e s tu d o d o s j o ­
g o s c o m e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s : o q u e im p o r ta n ã o é a o r d e m , m a s o ta ­
m a n h o d o s d ife r e n te s payojfs.
Q u a n d o o s j o g a d o r e s e n tr a m n u m a i n te r a ç ã o ite r a tiv a , e s tã o in te r e s ­
s a d o s e m m a x im iz a r o s s e u s payojfs a o lo n g o d e to d o o p e río d o d e in te r a ­
ç ã o . A s s im , p o d e m e s c o lh e r e s tr a té g ia s s u b ó tim a s n o j o g o d e u m a só j o g a d a
s e ta is e s tr a té g ia s a u m e n ta re m o s se u s p a yo ffs e m j o g o s r e p e tid o s .
I m a g in e m o s d o is j o g a d o r e s q u e p a rtic ip a m d o j o g o d o d ile m a d o s p r i ­
s io n e iro s u m d e te r m in a d o n ú m e r o d e v e z e s . U m d e le s (o p r im e ir o jo g a d o r ,
p o r e x e m p lo ) p o d e d e c la r a r ao o u tro q u e irá c o o p e r a r n a p r im e ir a ro d a d a
e c o n ti n u a r a c o o p e r a r e n q u a n to o o u tr o c o o p e r a r ta m b é m ; se , p o r é m , o
o p o n e n te d e s e r t a r u m a v e z q u e s e ja , e le d e s e r ta r á e m to d a s as i n te r a ç õ e s
s u b s e q ü e n t e s ( F r ie d m a n 1 9 7 7 ). S e o o p o n e n te a c r e d i ta r e m s u a a m e a ç a ,
a m b o s c o o p e r a r ã o e m e lh o r a r ã o s e u s p a yo jfs p o r q u e e m c a d a in te r a ç ã o
r e c e b e r ã o Rj e m v e z d e P..
G E O R G E T S E IW U S

A s ite r a ç õ e s têm um e fe ito tã o im p o r ta n te p o r q u e p o d e m g e ra r e s tr a ­


t é g ia s c o r r e la c i o n a d a s . N u m j o g o ite r a tiv o , o s jo g a d o r e s p o d e m e s c o lh e r
s u a s e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s c o m b a s e n a e s c o l h a d e se u o p o n e n te n a (s )
r o d a d a ( s ) a n te r io r ( e s ) . S e fo r f e ita s e m e lh a n te e s c o lh a c o n tin g e n te , u m a o p ­
ç ã o v iáv e l n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s s e rá a c o o p e ra ç ã o .
S o m e n te n a d é c a d a d e 5 0 , é p o c a e m q u e a c o o p e ra ç ã o m ú tu a e ra o r e ­
s u lta d o p e rs is te n te d o s jo g o s re p e tid o s d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , é q u e se
to r n o u c o n h e c i d o d o s te ó r i c o s e x p e r i m e n t a is ( d o s j o g o s ) ( L u c e e R a if f a
1 9 5 7 ) o f a to d e jo g o s ite ra tiv o s p o s s u íre m e q u ilíb rio s d ife r e n te s d o s jo g o s
d e u m a só j o g a d a . N o n ív e l te ó ric o , a e x is tê n c ia d e e q u ilíb rio s m ú ltip lo s foi
p ro v a d a na d é c a d a d e 7 0 ( F rie d m a n 19 7 1 ). E n tr e ta n to , s o m e n te a p a r tir d a
o b r a de A x c lro d ( 1 9 8 1 , 1984) é q u e s e to rn a r a m c o n h e c id o s d e u m p ú b li­
c o m a is a m p lo d o is fa to s : p r im e ir o , q u e e m g e ra l o s jo g o s ite r a tiv o s p o s ­
s u e m e q u il í b r i o s d if e r e n te s d o s j o g o s d e u m a s ó j o g a d a e, s e g u n d o , q u e
s o b re tu d o a c o o p e ra ç ã o m ú tu a n u m d ile m a d o s p r is io n e ir o s r e p e tid o c o n s ­
titu i uin e q u ilíb rio .
T a n to a d e s c o b e r ta d e q u e o s jo g o s ite ra tiv o s p o s s u e m e q u ilíb rio s d i ­
f e re n te s d o s jo g o s d e u m a só j o g a d a , q u a n to a d e q u e e ra p o s s ív e l a c o o p e ­
ra ç ã o n u m jo g o d o d ile m a d o s p ris io n e iro s ite ra d o f in ito p a re c e ra m b a s ta n te
p ro b le m á tic a s . A ra z ã o d is s o é o c h a m a d o “ a rg u m e n to d e in d u ç ã o r e tr o a ti­
v a ” , q u e s e a p re s e n ta da s e g u in te fo rm a : c o m o a ú ltim a ro d a d a c c o n h e c id a
d e a n te m ã o , a m b o s o s j o g a d o r e s irão d e s e rta r n e s sa ú ltim a ro d a d a p o rq u e n ã o
h a v e rá c o n s e q ü ê n c ia s no fu tu ro . D a d o e s s e c o n h e c im e n to c o m u m , a m b o s o s
j o g a d o r e s irã o d e s e r ta r n a p e n ú ltim a r o d a d a . E n tã o , o p r o c e s s o d e d e c is ã o
d e s d o b ra - s e d e m a n e ira s im ila r a té a p rim e ira r o d a d a , q u a n d o a m b o s o s j o ­
g a d o re s d e s e r ta r ã o p o rq u e n ã o h a v e rá fu tu ro a in flu e n c ia r. L o g o , se o n ú m e ro
d e r o d a d a s fo r c o n h e c id o , a m b o s o s jo g a d o r e s irã o j o g a r “ d e s e r ç ã o to d o o
te m p o ” (A A L D , d e ali defect, q u e é c o m o c h a m o e s s a e s tr a té g ia p e rm a n e n ­
te d e d e s e rç ã o ).
A x e lro d ( 1 9 8 1 , 3 0 7 ) c o n je c tu ro u q u e , s e o n ú m e r o d e i te r a ç õ e s n ã o
f o s s e c o n h e c id o , o s re s u lta d o s s e ria m d ife r e n te s . E l e s u s te n to u q u e , “ c o m
u m n ú m e r o in d e f in id o d e ite r a ç õ e s , p o d e e m e r g ir a c o o p e r a ç ã o ” . E s s a c o n ­
j e c t u r a é fa ls a , m a s a in d a a s sim m u ito s a c o n s id e r a m v e rd a d e ira .
P o d e - s e m o s tr a r q u e , s e o n ú m e r o d e i te r a ç õ e s é fin ito , m e s m o q u e
e s s e fa to s e ja ig n o ra d o , o m e s m o a rg u m e n to p o d e s e r a p re s e n ta d o , f a z e n ­
d o d e A L L D a e s tr a té g ia a p ro p r ia d a (C a rro ll 1 985; T h o m p s o n e F a ith 1981,
3 7 8 - 3 7 9 ). I m a g in e m o s j o g a r u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s e m d u a s
ou trê s p a rtid a s , m a s sem s a b e r q u a n ta s p a rtid a s ire m o s jo g a r . P o d e m o s r a ­
c io c in a r c o m o s e g u e : se o j o g o f o r d e d u a s p a rtid a s , a e s tr a té g ia ó tim a s e rá
A L LD ; se fo re m trê s as ite r a ç õ e s , e n tã o a e s c o lh a ó tim a a in d a será A L LD ;
p o r ta n to , n ã o im p o r ta q u a l o n ú m e r o re a l d e ite r a ç õ e s , d e v e re m o s u s a r
A L LD . D e m o d o m a is g e ra l, s e a m b o s o s j o g a d o r e s s o u b e re m q u e irã o in ­
te r a g ir u m n ú m e r o fin ito d e v e z e s , h á a lg u m n ú m e r o f in ito q u e e le s s a b e m
J O G O S O C U LT O S ,Sl

q u e j a m a is a lc a n ç a rã o (d ig a m o s 1 0 0 100). S c o j o g o f o r d e u m a só jo g a d a ,
a m b o s irã o d e s e r ta r . S e o j o g o f o r d e d u a s p a r tid a s , iria m a d o ta r A L LD
(c o m o s u g e re o a rg u m e n to d e in d u ç ã o re tro a tiv a ); a m e s m a e s tr a té g ia é a d o ­
ta d a se o n ú m e r o d e ite ra ç õ e s fo r trê s o u q u a tro , e a ssim p o r d ia n te . D e fa to ,
p o d e -s e d e s e n v o lv e r um a rg u m e n to in d u tiv o : p a ra u m n ú m e r o fin ito d e r o ­
d a d a s , A L LD s e rá a m e lh o r r e s p o s ta d e u m jo g a d o r p a ra o o u tro . N ã o im ­
p o rta , p o r ta n to , q u a l é o n ú m e r o e x a to d e ite r a ç õ e s , c a d a j o g a d o r c o n tin u a rá
jo g a n d o A L L D 12.
O a rg u m e n to é g e n é ric o ; s e ja o u n ã o d o c o n h e c im e n to d o s jo g a d o r e s
o n ú m e r o d e ro d a d a s , se e le s s o u b e re m q u e é fin ito , irã o j o g a r A LLD . A lé m
d is s o , c o m o o b s e rv a C a r ro ll ( 1 9 8 5 ), c o m o o s h u m a n o s n ã o jo g a m j o g o s
in fin ito s ( p o rq u e “ o s h u m a n o s n ã o to m a m d e c is õ e s s o b re q u a lq u e r c o is a
p a ra s e m p r e ! ” ), a im p o r tâ n c ia d a e x is tê n c ia d c e q u ilíb r io s c o o p e ra tiv o s e m
ite r a ç õ e s in fin ita s é p ro b le m á tic o .
E s s a lin h a d e ra c io c ín io e lim in a d e u m a v e z p o r to d a s a c o o p e ra ç ã o :
em to d o s o s c a s o s , a m b o s o s jo g a d o r e s s a b e m q u e o se u o p o n e n te irá u ti­
liz a r a in d u ç ã o r e tr o a tiv a . P o r ta n to , a m b o s jo g a r ã o A L L D . I n d e p e n d e n t e ­
m e n te d c s c r o n ú m e r o d c ite ra ç õ e s 10 o u 1 m ilh ã o , d e s a b e re m o u n ã o e s s e
n ú m e ro , n a m e d id a e m q u e e le é fin ito ( e e s s e é u m c o n h e c im e n to c o m u m ) ,
a m b o s o s j o g a d o r e s jo g a r ã o A LLD .
N ã o o b s ta n te , e s s e é a p e n a s u m c a s o e s p e c ia l em q u e A L LD é a e s ­
c o lh a ó tim a . S e o s e u a d v e rs á r io j o g a r A LLC ( c o o p e r a ç ã o em to d a s as r o ­
d a d a s d o jo g o ) , para você ainda será preferível A L LD . A lé m d is s o , s e e le la n ­
ç a r u m a m o e d a p a ra o a lto a n te s d e c a d a r o d a d a e c o o p e r a r se d e r c a ra ,
d e s e r ta n d o e m c a s o c o n tr á rio , ALLD a in d a s e rá o m e lh o r p a ra v o c ê . S c o
s e u a d v e r s á r io e m p r e g a r o u tr o a r tif íc io a le a tó r io e c o o p e r a r e m 6 0 % d o
te m p o , A L LD a in d a p r o d u z ir á o m e lh o r r e s u lta d o p a ra v o c ê . F in a lm e n te , se
o se u a d v e rs á r io a lte rn a r C e D a c a d a c in c o v e z e s , a in d a d e v e ria s e r a d o ­
ta d o A LLD . F a la n d o d e m o d o g e ra l, se u m jo g a d o r s o u b e r q u e o s e u o p o ­
n e n te u s a rá algum a e s tr a té g ia q u e n ã o s e ja d e p e n d e n te d e su a p r ó p ria e s ­
tra té g ia , e le irá p r e f e r ir j o g a r A LLD . V o c ê d e v e a b a n d o n a r ALLD a p e n a s se
a c re d ita r q u e o seu a d v e rs á r io irá u tiliz a r a lg u m a fo rm a d e e s tr a té g ia c o n ­
tin g e n te . E s ta a n á lis e re p r o d u z e x a ta m e n te a p r o p o s iç ã o 3.5 d o A p ê n d ic e
A d e s te c a p ítu lo : n o j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , e n q u a n to o s j o g a d o ­
re s n ã o u tiliz a r e m e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s , n ã o p o d e d e s e n v o lv e r- s e a c o ­
o p e ra ç ã o e n tr e a d v e rs á r io s r a c io n a is , c o m i n te r e s s e s p ró p rio s .
F u n d a m e n t a lm e n te , a in d u ç ã o re tr o a tiv a e li m in a a p o s s ib ilid a d e d e
e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s p o r q u e e la d á a c a d a jo g a d o r u m a in fo r m a ç ã o s o ­
b re a c s c o lh a in c o n d ic io n a l d e e s tr a té g ia d o a d v e rs á rio : A LLD . D e fa to , se

12. í: íáeil m o strar q u e, nu lógica form al, a sen ten ça “(/)(I ) = > </) e (/;(2) = > q) e (/j(3) = > q ) e... e = >
</)" é e quivalente à sen ten ça “( /j(I) ou i>(2 ) ou /j(3 ) ou... ou />(")) = > </”- Podem os tirar a p rova se pensarm os
que /;(/) é a sentença "sc o núm ero de iterações to r i", e </ é a sentença “jo g o ALLD”.
H2 G E O R G E T S E B E L IS

v o c ê s o u b e r q u e s e u o p o n e n te jo g a r á A L L D , in d e p e n d e n t e m e n te d e s u a
p r ó p ria e s tr a té g ia , v o c ê irá p r e f e r ir j o g a r A L LD ta m b é m . O b s e r v e m o s q u e
a in d u ç ã o r e tr o a tiv a é u m a r a z ã o p o s s ív e l p a ra q u e se u o p o n e n te p o s s a e s ­
c o lh e r A L LD . O u tr a s r a z õ e s sã o ta m b é m p o s s ív e is : e le p o d e te r u m a in te ­
lig ê n c ia lim ita d a o u s e r b e lic o s o ; n e s s e c a s o a m e lh o r e s tr a té g ia s e ria ta m ­
b é m A L LD . E le p o d e a in d a s e r g e n til e e s ta r d is p o s to a j o g a r A L L C ; tam bém
neste caso A L LD s e ria a m e lh o r re s p o s ta . A s s im , A L LD r e v e la -s e u m a e s tr a ­
té g ia q u e p o d e s e r u s a d a n ã o a p e n a s c o n tr a u m o p o n e n te ra c io n a l (u m o p o ­
n e n te q u e u s a in d u ç ã o re tro a tiv a ) , m a s ta m b é m s e m p r e q u e s e u o p o n e n te
n ã o u s a r e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s .
T o d a v ia , to d o s o s e x p e rim e n to s in d ic a m q u e jo g a d o r e s s o f is tic a d o s
ig n o ra m as p r e s c r iç õ e s d a in d u ç ã o r e tro a tiv a . C o m e fe ito , n o s “ to rn e io s d e
A x e lro d ” , n o s q u a is p a rtic ip a m c ie n tis ta s p o lític o s , p s ic ó lo g o s , c ie n tis ta s d a
c o m p u t a ç ã o e e c o n o m i s ta s , a s e s tr a té g i a s m a is b e m - s u c e d i d a s f o ra m a s
“ b o a z in h a s ” , isto é, a q u e la s q u e ja m a is p r e s c r e v ia m a d e s e r ç ã o em p r im e ir o
lu g ar. A e s c o lh a d e e s tr a té g ia s “ b o a z in h a s ” e r a c o m u m m e s m o q u a n d o o s
j o g a d o r e s s a b ia m d e a n te m ã o o n ú m e r o e x a to d e ro d a d a s .
E s s a d is c r e p â n c ia e n tr e p re s c riç õ e s d a te o ria d o s jo g o s e o c o m p o r ta ­
m e n to e fe tiv o fo i e x p lic a d a p o r F u d e n b e rg e M a s k in (1 9 8 6 ), q u e p ro v a ra m
um “ t e o r e m a p o p u l a r ” (folk theorem ) s o b re jo g o s i te r a t i v o s 13. O t e o r e m a
p o p u la r e s ta b e le c e q u e “ q u a lq u e r r e s u lta d o r a c io n a l in d iv id u a l p o d e s u rg ir
c o m o u m e q u ilíb rio d e N a s h em jo g o s re p e tid o s in fin ita m e n te c o m u m fa ­
to r d e d e s c o n to s u fic ie n te m e n te p e q u e n o ” (F u d e n b e r g e M a s k in 1 9 8 6 , 5 3 3 ).
E m te rm o s n ã o -té c n ic o s , o te o r e m a s ig n ific a q u e algum r e s u lta d o q u e d á a
c a d a jo g a d o r n ã o m e n o s d o q u e e le p o d e ria e s p e ra r re c e b e r p o r s u a p ró p ria
c o n ta p o d e s e r e s tá v e l. F u d e n b e rg e M a s k in p ro v a ra m q u e a p r o p o s iç ã o é
v e rd a d e ira n ã o a p e n a s p a ra jo g o s re p e tid o s in fin ita m e n te , m a s p a ra j o g o s d e
ite r a ç õ e s f in ita s (d e s d e q u e e s s e n ú m e r o s e ja s u f ic ie n te m e n te g r a n d e ) se
h o u v e r in fo r m a ç ã o in c o m p le ta , o u se ja , in c e rte z a s o b re o s payoffs d o o p o ­
n e n te . S e o p r im e iro jo g a d o r n ã o c o n h e c e r o s payoffs d e seu a d v e rs á rio , e n tã o
p o d e a c re d ita r q u e h á u m a p e q u e n a p ro b a b ilid a d e d e q u e tais p ayoffs to rn e m
ra c io n a l p a ra o s e g u n d o a c o o p e ra ç ã o m ú tu a . N e s s e c a s o , e le p o d e e s c o lh e r
c o o p e ra r, e a c o o p e ra ç ã o m ú tu a s e rá o r e s u lta d o d e c a d a ite r a ç ã o d o jo g o .
I n fo r m a ç ã o in c o m p le ta é s u fic ie n te p a ra e lim in a r a d is tin ç ã o e n tr e u m n ú ­
m e ro fin ito e u m n ú m e r o in fin ito d e r o d a d a s 14, F u d e n b e rg e M a s k in p r o v a ­
ram q u e u m a e s tr a té g ia c o o p e ra tiv a p o d e ria s e r o re s u lta d o d e e q u ilíb rio d e
u m jo g o ite ra tiv o q u a n d o o n ú m e r o d e ite ra ç õ e s é fin ito ( se h á in fo r m a ç ã o
in c o m p le ta ) o u in fin ito .

13. Tcmvimis populares (Jiilk ilwoivms) são proposições pressupostas como verdadeiras bem antes tle sim prova formal.
14. Ver tam b ém K reps ei al. (1 9 8 2), em qu e é apresen tado o seguinte a rgum ento: a in certe za so b re o co n h ec i­
m ento q u e seu o p o n en te tem d e que você sabe q u e e le sabe... q u e um d o s d o is é racio n al é su ficien te para
gerar estraté g ias coop erativ as e m eq u ilíb rio .
JO G O S O C U LT O S

O te o r e m a p o p u la r m u ltip lic a o n ú m e r o d e e q u ilíb r io p a ra j o g o s r e ­


p e tid o s , C o m e fe ito , p o d e -s e d iz e r q u e q u a lq u e r r e s u lta d o ra c io n a l in d iv i­
d u a l é u m e q u ilíb r io d e N a s h p a ra o jo g o i te r a tiv o 15. A s c o n s e q ü ê n c ia s d o
te o r e m a p o p u la r p a r a n o s s o s q u a tr o j o g o s s ã o a s s e g u in te s : n u m j o g o d o
d ile m a d o s p r is io n e ir o s , c a d a jo g a d o r p o d e g a ra n tir a si m e s m o P., in d e p e n ­
d e n te d o q u e o o u tro f a ç a . L o g o , q u a lq u e r r e s u lta d o q u e d á a c a d a jo g a d o r
p e lo m e n o s P. p o d e s e r u m e q u ilíb rio . P a r tic u la r m e n te , o s j o g a d o r e s p o d e m
c h e g a r n ã o só a o r e s u lta d o ( R ,, R 2), c o n fo r m e d e m o n s tra r a m o s e x p e r im e n ­
to s d e A x e lro d , m a s ta m b é m a q u a lq u e r p o n to q u e s e ja s u p e rio r d e P a re to
a (P , P 2), o u s e ja , a q u a lq u e r p o n to s itu a d o a n o r d e s te d e ( P |5 P ) n a F ig u ­
ra 3 .6 . N u m j o g o d o g a lin h a , c a d a j o g a d o r p o d e g a r a n tir a si m e s m o O..
A s s im , q u a lq u e r r e s u lta d o q u e P a re to d o m in e ( O r 0 2) p o d e s e r o e q u ilíb rio
d e u m j o g o d o g a lin h a re p e tid o . F in a lm e n te , n o j o g o d o s e g u ro , o r e s u lta ­
d o r a c io n a l in d iv id u a l (m axim in) p a ra c a d a j o g a d o r é P.. P o r ta n to , q u a lq u e r
r e s u lta d o s u p e rio r d e P a re to a (P , P ) p o d e s e r u m e q u ilíb rio . E s s a d e s c o ­
b e rta é im p o r ta n te , p o r q u e in d ic a q u e s e p o d e m u s a r j o g o s r e p e tid o s p a ra
a ju d a r a m b o s o s j o g a d o r e s a a lc a n ç a r a á re a d e P a re to . U tiliz o ta is d e s c o ­
b e rta s n o C a p ítu lo 4 , a o d is c u tir o p r o je to d a s in s titu iç õ e s , e n o C a p ítu lo 6 ,
p a r a e x p lic a r a s in s titu iç õ e s b e lg a s .
A s ite r a ç õ e s s u b s titu íra m u m o u o s d o is e q u ilíb rio s d e c a d a j o g o p o r
u m a in fin id a d e d e e q u ilíb rio s . E x is te m a lg u m a s p r e v is õ e s p o s s ív e is n o q u e
c o n c e r n e a o s jo g o s ite ra tiv o s , o u a in fin id a d e d e e q u ilíb r io s to rn a a s p r e ­
v is õ e s se m s e n tid o ? A r e s p o s ta à p rim e ir a q u e s tã o é a firm a tiv a , m a s , p a ra
e x p o r as r a z õ e s , p r e c is a m o s a v a n ç a r n a p ro v a d e F u d e n b e rg e M a s k in .
F u d e n b e rg e M a s k in (1 9 8 6 ) s u s te n ta m q u e o s jo g a d o r e s p o d e m c h e ­
g a r a a lg u m a c o rd o q u e e s p e c ifiq u e p a ra c a d a jo g a d o r u m a c o m b in a ç ã o d e
e s tr a té g ia s . C a d a jo g a d o r , e n tã o , p o d e f a z e r u m a a m e a ç a ao o p o n e n te d e
q u e , se e le se d e s v ia r d o a c o rd o , s o fr e r á o c a s tig o m á x im o p o s s ív e l. U m a
ta l a fir m a ç ã o é u m a a m e a ç a rea l a p e n a s s e o a d v e r s á r io p e r d e r m a is n a s
i te r a ç õ e s s u b s e q ü e n te s d o q u e te m a g a n h a r s e s e d e s v ia r n u m a ite r a ç ã o ,
D e s s e m o d o , s e o n ú m e r o d e r o d a d a s s u b s e q ü e n te s f o r “ s u f ic ie n te m e n te
a lt o ” , a p r o m e s s a d e p u n iç ã o é u m a a m e a ç a re a l. A p ro v a d e m o n s tra q u e
s e m p r e h á um n ú m e r o ta l d e ite r a ç õ e s q u e to r n a as a m e a ç a s a c re d itá v e is .
C o n tu d o , o n ú m e r o e fe tiv o d e p e n d e d o s p a yo ffs d e c a d a jo g a d o r . C o n s id e ­
r e m o s , p o r e x e m p lo , u m j o g a d o r n u m jo g o d o d ile m a d o s p ris io n e iro s c o n tr a
d o is a d v e rs á r io s d ife r e n te s . U m d e le s te m o s p a yo ffs ( T = 6 , R = 5, P = 2,
0 = 1 ) . A s s im , s e o a d v e rs á r io d e s e rta r, e le g a n h a r á 1 u n id a d e (6 em v e z
d e 5) n a p r im e ir a v e z ; d a í e m d ia n te , re c e b e r á a p e n a s 2 em v e z d e 5 ( u m a
p e r d a líq u id a d e 3) em c a d a ite ra ç ã o d o jo g o . O s p a yo ffs d o s o u tro s o p o ­

15. M uis p recisam en te, co m o eq u ilíb rio perfeito. O s eq u ilíb rio s p erfeito s sã o eq u ilíb rio s d c N ash q u e não são
m antid o s por a m eaças não -acred itáv eis ( S d te n 1975).
G EO RG H TSE IIE LIS

n e n te s s ã o ( T = 6 , R = 4 , P = 3, O = 1). P o r c o n s e g u in te , s e e le d e s e rta r,
irá g a n h a r 2 u n id a d e s ; d a í e m d ia n te , re c e b e r á 3 e m v e z d e 4 ( u m a p e rd a
líq u id a d e 1 ) e m c a d a i te r a ç ã o d o jo g o .
Q u a l é o o p o n e n te m a is v u ln e rá v e l à a m e a ç a d e r e ta lia ç ã o p e rm a n e n te
(A L L D )? O b v ia m e n te , a p e rd a n o p r im e ir o c a s o é m u ito m a is a lta d o q u e
n o s e g u n d o , e o p r im e ir o o p o n e n te te m m a is p ro b a b ilid a d e d o q u e o s e g u n ­
d o d e r e s p e ita r o a c o rd o . N a v e rd a d e , u m a i te r a ç ã o a m a is é s u fic ie n te p a ra
f a z e r o p r im e ir o a d v e rs á r io r e s p e ita r o a c o rd o , p o r é m n o s e g u n d o s ã o n e ­
c e s s á r ia s m a is d e d u a s ite r a ç õ e s . D e s s a f o rm a , q u a n d o o s g a n h o s p o r c o o ­
p e ra ç ã o a u m e n ta m , ou o s g a n h o s p o r d e s e r ç ã o d im in u e m , s ã o e x ig id o s h o ­
riz o n te s d e te m p o m e n o r e s p a r a q u e sc d e s e n v o lv a a c o o p e r a ç ã o . N e s s e
s e n tid o , q u a n d o o s p a yo jfs p a ra c o o p e ra ç ã o a u m e n ta m o u o s pa yo ffs p a ra
d e s e r ç ã o d im in u e m , a c o o p e ra ç ã o s e t o m a m a is p ro v á v e l (o d e s e n v o lv im e n ­
to d a c o o p e ra ç ã o r e q u e r h o r iz o n te s d e te m p o m a is c u rto s ).
D e ta lh a r a p ro v a d e F u d e n b e rg e M a s k in s e ria u m e x e rc íc io m a te m a ­
t ic a m e n te c o m p lic a d o . N o e n ta n to , a e s s ê n c ia d e se u a rg u m e n to n ã o é d i­
f e r e n te d o s a rg u m e n to s q u e a p re s e n te i n e m d a p ro p o s iç ã o q u e p ro v e i n a S e ­
çã o III e n o s A p ê n d ic e s A e B d e s te c a p ítu lo . A r a z ã o m a is p r o fu n d a p a ra
e s s a c o in c id ê n c ia é q u e o s j o g o s r e p e tid o s p e rm ite m o d e s e n v o lv im e n to d c
e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s o u c o rr e la c io n a d o s ; lo g o , to d a s as p r o p o s iç õ e s p r o ­
v a d a s n o c a s o g e ra l ta m b é m se s u s te n ta m n o c a s o e s p e c ia l.

V. CONCLUSÕES

N a S e ç ã o I, e x p u s o s m o tiv o s p e lo s q u a is o s jo g o s e m m ú ltip la s a r e ­
n a s s ã o jo g o s c o m payoffs v a riá v e is , e p e lo s q u a is e v e n to s o u m o v im e n to s
d e o u tro s jo g a d o r e s em o u tra s a re n a s a fe ta m o s p a yo ffs n a a re n a p rin c ip a l.
N a s s e ç õ e s s u b s e q ü e n te s , a p re s e n te i q u a tr o jo g o s d ife r e n te s d e d o is j o g a ­
d o r e s ( d ile m a d o s p r is io n e ir o s , j o g o d o im p a s s e , d o g a lin h a e d o s e g u ro ),
p rim e ir a m e n te c o m o jo g o s d e u m a só j o g a d a , se m e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s ,
d e p o is o s m e s m o s j o g o s c o m e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s , e f in a lm e n te u m a r­
r a n jo d e jo g o s ite r a tiv o s . E m jo g o s d e u m a ú n ic a p a rtid a se m e s tr a té g ia s
c o n tin g e n te s o o r d e n a m e n to d o s p a yo ffs é s u fic ie n te p a r a c a lc u la r o s e q u i­
líb rio s . O n ú m e r o d e e q u ilíb rio s d e n tr o d e u m j o g o te m i m p o r tâ n c ia p a r ti­
c u la r p o r q u e a e x is tê n c ia d e v á rio s e q u ilíb rio s p o d e p r o d u z ir re s u lta d o s in s ­
t á v e is . H á a p e n a s u m j o g o e m q u e o n ú m e r o d e e q u ilíb r io s r a z o á v e is é
m a io r q u e um : o j o g o d o g a lin h a . D o s j o g o s r e s ta n te s , o d ile m a d o s p r is io ­
n e iro s p r o d u z u m tip o d ife r e n te d e in s ta b ilid a d e : o e q u ilíb rio ú n ic o é i n fe ­
r io r d e P a r e to . E m j o g o s d e u m a ú n ic a p a rtid a , o s jo g a d o r e s n ã o p o d e m
m e lh o r a r o s s e u s re s u lta d o s .
O e s tu d o d e jo g o s d e u m a só jo g a d a se m e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s c o n ­
f ir m a o q u e se a firm o u n o C a p ítu lo 1 d a s e g u in te f o rm a : fic a a im p r e s s ã o
JO G O S O C U LT O S

d e q u e a r a c io n a lid a d e e u m a e x ig ê n c ia re s tritiv a . U m a v e z im p o s ta a e x i­
g ê n c ia , o n ú m e r o d e e q u ilíb rio s p o s s ív e is é re s trito e a lg u m a s v e z e s in s a ­
tis f a tó r io ( c o m o n o c a s o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s ) . A s itu a ç ã o m u d a d r a s ­
tic a m e n te , p o ré m , q u a n d o s e p e rm ite m e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s : o n ú m e ro
d e e q u ilíb rio s to rn a - s e in fin ito . N o c a s o d a s e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s , a ra ­
c io n a lid a d e (e a te o r ia d o s j o g o s ) , lo n g e d e s e r r e s tritiv a d e m a is , to rn a - s e
in s u f ic ie n te m e n te r e s tritiv a .
E s s a im p o rta n te d e s c o b e r ta s o la p a o s a rg u m e n to s c o n tr a a r a c io n a lid a ­
de. N ã o é v e rd a d e q u e o c o m p o r ta m e n to e fe tiv o d o h o m e m é m ais v a ria d o
do q u e o q u e p o d e m p ro d u z ir o s m o d e lo s q u e p re s s u p õ e m ra c io n a lid a d e . A o
c o n tr á rio , o p r e s s u p o s to d e r a c io n a lid a d e p o d e p r o d u z ir u m a v a ria b ilid a d e
m a io r d e r e s u lta d o s d o q u e e x is te m n a re a lid a d e . D e fa to , a v a ria b ilid a d e dc
r e s u lta d o s p ro d u z id o s p e lo s m o d e lo s d e e s c o lh a r a c io n a l é tão a m p la q u e é
p re c is o im p o r re s triç õ e s a d ic io n a is d e m o d o a p r o d u z ir u m a c o rr e s p o n d ê n ­
c ia e n tr e o s m o d e lo s e a re a lid a d e .
D e n tre o n ú m e ro in fin ito d e re s u lta d o s , a q u e le s e m q u e a e s tr a té g ia d e
c o o p e r a ç ã o é e s c o l h i d a c o m m a io r f r e q ü ê n c ia to r n a m - s e m a is p r o v á v e is
q u a n d o o s payoffs R e O a u m e n ta m e o s payoffs T c P d im in u e m , indepen ­
d entem ente da natureza do jogo. R e s u lta d o s a n á lo g o s sã o p ro d u z id o s n o c a so
d e jo g o s ite ra tiv o s. E s s a s im ila rid a d e s e d e v e a o falo d e q u e as ite r a ç õ e s p e r­
m ite m o d e s e n v o lv im e n to d e e s tra té g ia s c o n tin g e n te s o u c o rr e la c io n a d a s .
A re la ç ã o e n tre a d im e n s ã o d o s payojfs e a p ro b a b ilid a d e d as d ife re n te s
e s tra té g ia s em jo g o s c o m e s tra té g ia s c o n tin g e n te s é f o rn e c id a p e la s p ro p o s i­
ç õ e s 3 .6 e 3.7: a p ro b a b ilid a d e d e c o o p e ra ç ã o a u m e n ta q u a n d o a u m e n ta m os
p a yo jfs r e s u lta n te s de c o o p e ra ç ã o (R e O ), e d im in u i q u a n d o a u m e n ta m os
p ayoffs r e s u lta n te s d a d e s e r ç ã o (T e P). E m p re g o ta is p r o p o s iç õ e s a o lo n g o
d e s te livro p a ra e s tu d a r jo g o s em m ú ltip la s a re n a s , ou seja, jo g o s c o m payoffs
v a riá v e is , em q u e a s itu a ç ã o p re v a le c e n te n u m a a re n a a fe ta o s payoffs d e um
jo g o na a re n a p rin c ip al.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 3: A

I re i p r o v a r u m a s é rie d e p r o p o s iç õ e s q u e re la c io n a m a p r o b a b ilid a d e
d e c o o p e ra ç ã o c o m o s p a yo ffs d ife r e n te s e c o m as p r o b a b ilid a d e s d e i n s ­
tr u ç ã o e r e ta lia ç ã o e m u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s .
A r e p r e s e n ta ç ã o g r á f i c a d e ( 3 .8 ) n o p la n o (/;, q) é d a d a n a F ig u r a
3 .7 , e f o rn e c e i n te r e s s a n te s insights s o b re a s it u a ç ã o 1. N a F ig u r a 3 .7 , a p r o ­
b a b ilid a d e d e in s tr u ç ã o p e s tá r e p r e s e n ta d a ao lo n g o d o e ix o h o r iz o n ta l, e
a p r o b a b ilid a d e d e r e ta lia ç ã o q e s tá r e p r e s e n ta d a a o lo n g o d o e ix o v e r t i ­
c a l. E s s a s p r o b a b ilid a d e s p o d e m to m a r q u a lq u e r v a lo r n o in te r v a lo [0, 1],
d e m o d o q u e a m b a s p o d e m s e r r e p r e s e n ta d a s p o r q u a lq u e r p o n to d e n tr o
d o q u a d r a d o d e f in id o p e lo s p o n to s 0 , 1 , ( 1 , 1) e 1. C h a m o e s s e q u a d ra d o
d e q u a d r a d o d a u n id a d e . A F ig u r a 3 .7 a ju d a a r e s p o n d e r à q u e s tã o : “q u e
c o m b in a ç õ e s d e p e q p r o d u z ir ã o a e s c o lh a d a c o o p e r a ç ã o n o j o g o d o d i­
le m a d o s p r is io n e ir o s ? ” A E q u a ç ã o ( 3 .8 ) f o r n e c e as c o n d iç õ e s n e c e s s á r ia s
e s u fic ie n te s p a ra a e s c o lh a d e c o o p e ra ç ã o p o r p a rte d e u m jo g a d o r r a c io ­
n a l, c o m in te r e s s e s p r ó p rio s .
A lin h a r e ta E = 0 r e p r e s e n ta o c a s o d e i n d if e re n ç a e n tr e c o o p e ra ç ã o
e d e s e r ç ã o . C o m e fe ito , q u a n d o E = 0 , a u tilid a d e e s p e r a d a p a r a c a d a e s ­
tr a té g ia é a m e s m a . E = 0 c o rta o e ix o p n o p o n to p i = ( T - 0 ) / ( R - O ) e
o e ix o q n o p o n to <r/, = ( T - 0 ) / ( T - P ) 2. D e ( 3 .1 ) s e g u e - s e q u e c a d a u m a

]. A rigor, a Fig u ra 3.7 d e v eria rep rese n ta r o pro b lem a d a e sco lh a p a ra am b o s os jo g a d o re s. Seria necessário,
portanto, um e sp aç o q u ad rid im en sio n al. Sem elh an te represen tação , p o rém , n ão é possív el g e o m etricam en te, e
o e spaç o b id im en sio n al d a figura é su ficiente para p ro d u zir to d as as c o n clu sõ es req u erid as para os capítulos
su b se q ü en tes d o livro.
2. Para c a lc u lar o v alo r />, o n d e a lin h a E = 0 c o rta o eixo/> é p reciso u sa r (3.8) e estab e le ce r o lado d ireito igual
a zero e q igual a zero. O resultado desse procedim ento é />, = (T - 0 ) /( R - O ). A nalogam ente, se estabelecerm os
G E O R G E T S E B E L IS

d e s s a s q u a n tid a d e s c m a io r q u e 1. A lin h a p + q = 1 r e p r e s e n ta o c a s o em
q u e d o is j o g a d o r e s d e c id e m s u a s e s tr a té g ia s d e m a n e ira in d e p e n d e n te um
d o o u t r o 3. E s s a d e fin iç ã o d e in d e p e n d ê n c ia é e q u iv a le n te à d e fin iç ã o m ais
f a m ilia r d a in d e p e n d ê n c ia e s ta tís tic a '1. S e g u e -s e q u e a lin h a p + q = 1 fic a
sem p re a s u d o e s te d e E = 0 n a F ig u ra 3 .7 .

Dilema dos prisioncitos (T > R > P > O)


Pi > 1

F ig u ra 3 .7 R c p r c s c n t a ç a o g r á f i c a d c u m j o g o d o d i l e m a d o s p r i s i o n e i r o s n o p l a n o (/?, q).

P a r a c o m p r e e n d e r o s ig n if ic a d o p r á tic o d e s s a s o b s e rv a ç õ e s , p r e c is a ­
m o s v o lta r a n o s s o s p r e s s u p o s to s : q u e a m b o s o s j o g a d o r e s s ã o r a c io n a is no
s e n tid o d e q u e p ro c u r a m m a x im iz a r as su a s u t ilid a d e s e s p e r a d a s , e q u e têm
in te r e s s e s p r ó p rio s n o s e n tid o d e q u e as s u a s f u n ç õ e s d e u tilid a d e n ã o in ­
c lu e m o p a y o ff d a o u t r a p a rte c o m o u m a r g u m e n to d a fu n ç ã o . C o n f o r m e
loi o b s e rv a d o , n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , a lin h a E = 0 ja m a is
c o r ta a lin h a d a in d e p e n d ê n c ia (p + q = 1). E x p r e s s o f o rm a lm e n te :
P roposição 3.1. N u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , o s jo g a d o r e s
r a c io n a is , in d e p e n d e n te s e c o m in te r e s s e s p r ó p r io s ja m a is irã o c o o p e ra r.
E s s a p r o p o s iç ã o é u m m e r a r e f o r m u la ç ã o d o q u e a fir m a m o s n a S e ­
ç ã o I, o u s e ja , q u e a d e s e r ç ã o é a e s tr a té g ia d o m in a n te d c u m j o g o d o di-

o lado direito dc (3.8J cm zero c p cm zero, podem os calcular o pom o t/[ = ('I' - S )/(T - PJ d a iiitersecção dc F. = 0

3. De fato, ao lo ngo d a lin h a />-*-</= 1. />, isto é. ;i p ro b ab ilid ad e c o nd icion al d c co o p eração q u an d o o o u tro coo­
pera, é igual a 1 • q, ou seja, ;i p ro b ab ilid ad e c ondicional d e co o p eraç ão q u an d o o outro d eserta. D esse modo.
o ou tro jo g a d o r c o o p era ou d e serta com a m esm a p ro b ab ilidade, in d e p en d en tem ente d o q n c ía z o o u tro jo g a ­
dor. E m outras p alavras, cada um dos do is jo g a d o re s decide sobre o .sen cu rso d c a ção in d e p en d en tem en te di>
outro. Rstc é ex atam en te o caso que investiguei na S eção 1.
4. A independência e statística c d efinida com o o caso em que a prob ab ilid ad e c o ndicional d c c o o p eração (quando
o outro c o o p era) é igual à p ro b ab ilid ad e inco n d icio n al de c o o p eração . C o ntud o , um a vez q u e a prob ab ilidade
incondicio n al de co o p eraç ão é a m édia po n d erad a da.s p ro b abilid ad es co n d icio n a is de c o o p eração q u an do o
o p onen te c o o p era e q u an d o o op o n en te deserta, q u an d o e.ssas d uas p ro b ab ilid ad es c o n dicio n ais são iguais, a
sua m éd ia (a p ro b ab ilid ad e in co n d icio n al) é tam bém igual.
J O G O S O CU LTO S

le m a d o s p r is io n e ir o s , e o e q u ilíb rio d e N a s h d e s s e jo g o é a d e s e rç ã o m ú tu a .
N o e n ta n to , a i n tr o d u ç ã o d a s p r o b a b ilid a d e s d e in s tr u ç ã o (/?) e r e ta lia ç ã o
(q) to rn a m p o s s ív e l i n tr o d u z ir e x p lic ita m e n te a c o n d iç ã o d e j o g a d o r e s in ­
d e p e n d e n te s . A lé m d iss o , c o n fo r m e fic a rá c la r o n o A p ê n d ic e B , a i n tr o d u ­
ç ã o d a s p r o b a b ilid a d e s d c in s tr u ç ã o (/;) e d e r e ta lia ç ã o (q) t o rn a p o s s ív e l
u m tr a ta m e n to u n ific a d o d o s q u a tr o j o g o s .
A F ig u ra 3 .7 p o d e s e r u s a d a p a ra c a lc u la r as p r o b a b ilid a d e s m ín im a s
d a i n s tr u ç ã o ( / r i!) e d a r e ta lia ç ã o (<?*) r e q u e r id a s p a r a q u e s e d e s e n v o lv a
c o o p e ra ç ã o . O le ito r p o d e c o m p r o v a r a p a rtir d e s s a f ig u r a q u e a c o o p e ra ç ã o
é p o s s ív e l a p e n a s q u a n d o p > p* ( to d o s o s p o n to s n a á re a s o m b r e a d a r e s p e i­
ta m e s s a c o n d iç ã o ) . D e m o d o s im ila r , p a ra to d o s o s p o n to s d a á re a s o m ­
b r e a d a , o u s e ja , p a ra to d o s o s p o n to s p a ra o s q u a is a c o o p e ra ç ã o é p o s s ív e l,
q > g * 5. A p a rtir d a F ig u ra 3.7 é fác il c a lc u la r p* = (P - 0 ) / ( R - O ) e q * =
( T - R ) /( T - P ) f'. T a n to /?* q u a n to q* sã o p o s itiv o s p o r c a u s a d e (3 .1 ).
P ro p o siçã o 3.2. N o j o g o d o d ile m a d o s p r is i o n e i r o s , só é p o s s ív e l
c o o p e ra ç ã o se a p r o b a b ilid a d e d e in s tr u ç ã o p fo r m a io r q u e p* = (P - O )/
(R - O ).
P ro posição 3.3. N o j o g o d o d ile m a d o s p r is i o n e i r o s , s o m e n te é
p o s s ív e l c o o p e ra ç ã o se a p ro b a b ilid a d e d e r e ta lia ç ã o q fo r m a io r q u e q * =
(T - R)/(T - P ).
A c o m b in a ç ã o d a s p r o p o s iç õ e s 3.1 a 3 .3 c o m a in e q u a ç ã o ( 3 .8 ) f o r ­
n e c e u m a e x p re s s ã o s im p le s d a s c o n d iç õ e s n e c e s s á r ia s c s u fic ie n te s p a ra o
d e s e n v o lv im e n to d e c o o p e r a ç ã o n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s .
P ro posição 3.4. A s c o n d iç õ e s n e c e s s á r ia s e s u f ic ie n te s p a ra c o o p e ­
r a ç ã o n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s s ã o p > (P - 0 ) / ( R - O ) e q >
(T - 0)/(T - P ) - ( R - S)/j /(T - P ).
T o d a s e s s a s p r o p o s iç õ e s in d ic a m u m f a lo f u n d a m e n ta l: n ã o s u rg ir á
c o o p e r a ç ã o s e s e d e s e n v o lv e r o t ip o e rr a d o d e d e p e n d ê n c i a e n tr e o s d o is
a to r e s . S e u m d e le s a c r e d i ta q u e o seu c o m p o r t a m e n to c o o p e r a l iv o s e rá
e x p lo r a d o , e n q u a n to a s u a d e s e r ç ã o in d u z ir á o seu o p o n e n te a c o o p e ra r , os
j o g a d o r e s a c a b a m p o r e s ta b e le c e r o tip o e rr a d o d e c o m u n ic a ç ã o p a ra c o o ­
p e r a ç ã o m ú tu a .
O u tr a i m p lic a ç ã o d e s s a s p r o p o s iç õ e s é a s e g u in te :
P roposição 3.5. Q u a lq u e r s o lu ç ã o c o o p e ra tiv a p a r a o j o g o d o d ile m a
d o s p r is io n e ir o s v io la p e lo m e n o s u m a d a s trê s c o n d iç õ e s s e g u in te s - a ra ­
c io n a lid a d e , o in te r e s s e p r ó p rio o u a in d e p e n d ê n c ia d e d e c is õ e s .
A p r o p o s iç ã o 3 .5 c o n s titu i u m a lg o r itm o p a ra g e ra r s o lu ç õ e s c o o p e ­
r a tiv a s n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s . C o n f o r m e m o s tr o n o C a p ítu ­
lo 4 , a lg u m a s i n s titu iç õ e s s ã o c o n c e b id a s p a ra r e s o lv e r a c o o rd e n a ç ã o d o s

5. O s valores de p* c «y* sfio calcu lad o s com o segue: estab eleça o lado d ireito de (3.8) igual a zero, e </ = I, e c a l­
cule p*. R siabclcça o halo d ireilo de (3.8) em zero e p - I e c alcu le </*.
6. />* pode se r c alc u lad o se, e m (3.S), su b stitu irm o s </ p o r I . D esse m udo c n co u iram o s o v alo r m ín im o de p para
o qual í 3.8) se é v erd ad eira. Pela m esm a razão , p odem os calc u lar </* se sub stitu irm o s p p o r 1 cm (3.8).
90 G E O R G E T S E B E L IS

p r o b le m a s d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , e e s s e c o ro lá rio n o s c a p a c ita a e s tu ­


d ar a sua co n cep ção .
N e s te p o n to , d e v e m o s f a z e r u m a o b s e rv a ç ã o a d ic io n a l s o b re e s tr a té ­
g ia s c o r r e la c io n a d a s e jo g a d o r e s in d e p e n d e n te s . T r a d ic io n a lm e n te , n a t e o ­
ria d o s jo g o s e x is te m d o is ra m o s : j o g o s c o o p e ra tiv o s e j o g o s n ã o -c o o p e r a -
tiv o s . N a te o r ia d o s j o g o s c o o p e r a t iv o s , o s j o g a d o r e s s ã o a u to r i z a d o s a
e s ta b e le c e r c o n tr a to s d e c o m p r o m is s o ; n a te o r ia d o s j o g o s n ã o -c o o p e r a ti-
v o s , n ã o o sã o . N o s te r m o s d a F ig u r a 3 .7 , a te o r ia d o s j o g o s n ã o -c o o p e r a -
tiv o s p o d e s e r r e p r e s e n ta d a p e la lin h a d a i n d e p e n d ê n c ia (p + q = 1 ), p o r ­
q u e c a d a jo g a d o r d e te r m in a o s e u p r ó p rio c u r s o d e a ç ã o i n d e p e n d e n te d o
o u tro . A te o r ia d o s jo g o s c o o p e ra tiv o s p o d e s e r r e p r e s e n ta d a p e lo s p o n to s
( 0 , 0 ) e ( 1 , I) d e s s a s f ig u r a s , p o r q u e o s c o n tr a to s d e c o m p r o m is s o tê m o
e f e i to d e c r ia r r e s u lta d o s c o n d ic io n a is : to d o s o s jo g a d o r e s d e c la r a m q u e
ir ã o c o o p e r a r s e o o u tro a s s im o fiz e r, e s a b e m q u e s e rã o p e n a liz a d o s se
n ã o m a n tiv e r e m a p r o m e s s a . C o n f o r m e in d ic a a f ig u r a , p o r é m , e n tr e o s
c a s o s c la r o s d e j o g o s c o o p e ra tiv o s e n ã o -c o o p e r a tiv o s e x is te u m a i n fin ita
v a rie d a d e d e o u tro s j o g o s , n o s q u a is s e p o d e f a z e r p r o m e s s a s m a s q u e s e ­
rã o m a n tid a s a p e n a s p a rc ia lm e n te , p o d e -s e a c r e d ita r n a s a m e a ç a s a p e n a s
p a rte d o te m p o o u a c o m u n ic a ç ã o p o d e fra c a s s a r .
U tiliz o a F ig u r a 3 .7 p a ra d e m o n s tra r o im p a c to d a s v a ria ç õ e s n o s p a y ­
o ffs s o b re a p r o b a b ilid a d e d e c o o p e ra ç ã o n u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io ­
n e ir o s . C o n f o r m e o b s e r v e i, a s u p e r f íc i e s o m b r e a d a d a F ig u r a 3 .7 r e p r e ­
s e n ta to d o s o s p a re s d e p e q q u e le v a m a c o o p e ra ç ã o n u m j o g o d o d ile m a
d o s p r is io n e ir o s . C á lc u lo s g e o m é tr ic o s e le m e n ta r e s p r o d u z e m a s e g u in te
f ó r m u la p a ra a s u p e r f íc ie d a á re a s o m b r e a d a 7:

F pii = (R - P ) 2/ [ 2 ( T - P>(R - O ) ] (3 . IA )

P o d e - s e c a lc u l a r a g o ra o im p a c to d a v a ria ç ã o d e d ife r e n te s p a r â m e ­
tro s d a m a triz d e p a yo ffs d e c a d a j o g o s o b re a s u p e rf íc ie d a á re a s o m b r e ­
a d a . À m e d id a q u e a u m e n ta a s u p e rf íc ie d e s s a s á re a s , m a is c o m b in a ç õ e s
de p e q (a in te r d e p e n d ê n c ia d o s d o is jo g a d o r e s d e s e n v o lv id a n o c a s o e s ­
p e c íf ic o ) s ã o s u fic ie n te s p a ra p r o d u z ir c o o p e ra ç ã o . Is s o n ã o s ig n if ic a , p o ­
ré m , q u e o s v a lo re s e fe tiv o s de /; e q d e s e n v o lv id o s n u m a i n te r a ç ã o e s p e ­
c íf ic a irã o e x c e d e r as c o m b in a ç õ e s c rític a s e s p e c ific a d a s p e la s p r o p o s iç õ e s
3 .2 e 3 .3 . P o r c o n s e g u in te , n o m e lh o r d o s c a s o s , e s s a in v e s tig a ç ã o p o d e
p r o d u z i r r e s u lta d o s m é d io s r e la tiv o s à p r o b a b i l id a d e d e c o o p e r a ç ã o em
s itu a ç õ e s d iv ersa s* . A e x p re s s ã o p ro b a b ilid a d e de co o p e ra çã o é u tiliz a d a

7. A área sombre;id;i é um triângulo retân g u lo com lados (I - />*) e (I - </*). A su b stitu iç ão de p* e </* a p artir das
proposiçõ es 3.2 c 3.3 p roduz o resu ltad o d e (3,9).
8. Para apro fu n d ar ainda m ais o arg u m en to , seria preciso fazer su p o siçõ es so b re a d istrib u ição de p e </ em situ a ­
çõ es d iferen tes. No e n tan to , c o n fo rm e e stab eleci nu S eção III, tais co n jec tu ras não ex istem . O pressu p o sto im ­
p líc ito do restan te d este ap ên dice é q u e a d istrib u ição é u n ifo rm e ao lo ngo d o q u a d rad o unitário.
J O G O S O C U LT O S 91

n o s e n tid o d e m é d ia -e n tre - a s -s itu a ç õ e s \a verage-across-settings], i n d ic a n ­


d o a s u p e rf íc ie d a á re a s o m b r e a d a n a F ig u ra 3 .7 .
D a s o b s e rv a ç õ e s p re c e d e n te s p o d e m s e r d e riv a d a s trê s o u tra s p r o p o ­
siç õ e s.
P ro p o siçã o 3.6. N u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s c o m e s t r a t é ­
g ia s c o n tin g e n te s , a p r o b a b ilid a d e d e c o o p e r a ç ã o a u m e n ta c o m R e O .
A p r o v a d e s s a p ro p o s iç ã o p o d e s e r e f e tu a d a p o r m e io d a c o m p r o v a ­
ç ã o d e q u e o s s in a is d a s p r im e ir a s d e riv a d a s d e F ( e m (3.1 A ) c o m r e s p e i­
to a R e O s ã o p o s itiv o s .
P r o p o siçã o 3.7. N u m j o g o d o d ile m a d o s p r is i o n e i r o s c o m e s tr a té ­
g ia s c o n tin g e n te s , a p r o b a b ilid a d e d e c o o p e r a ç ã o d im in u i c o m T e P.
A p r o v a d e s s a p r o p o s iç ã o p o d e s e r e fe tu a d a p o r m e io d a c o m p r o v a ­
ç ã o d e q u e o s s in a is d a s p r im e ir a s d e riv a d a s d e F d e m (3.1 A ) c o m r e s p e i­
to a T e P s ã o n e g a tiv o s .
T o d a s e s s a s p r o p o s iç õ e s e s p e c ific a m as c o n d iç õ e s s o b a s q u a is p o d e
d e s e n v o lv e r - s e c o o p e r a ç ã o e n tr e o s jo g a d o r e s r a c io n a is , c o m i n te r e s s e s
p r ó p r io s - q u a n d o s ã o p o s s ív e is e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s . N e s s e c a s o , o s
j o g a d o r e s p o d e m c o o p e r a r s e ja p o r q u e s ã o e n s in a d o s a f a z ê - lo , s e ja p o r ­
q u e tê m m e d o d e r e ta lia ç ã o .
A s p r o p o s iç õ e s 3 .6 e 3 .7 , e m c o n ju n ç ã o c o m a e q u a ç ã o ( 3 .1 ) , in d i ­
c a m q u e , p a r a u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , a p r o b a b ilid a d e d e c o ­
o p e ra ç ã o a lc a n ç a o se u m a io r v a lo r q u a n d o as d ife r e n ç a s ( T - R ) e (P - O )
te n d e m a d e s a p a r e c e r . E s s a s d e s ig u a ld a d e s in d ic a m , p o r é m , q u e a re la ç ã o
d e d o m in â n c ia e n tr e as e s tr a té g ia s d e d e s e r ç ã o e c o o p e ra ç ã o te n d e m a d e ­
s a p a re c e r. I m a g in e m o s , p o r e x e m p lo , u m a m a tr iz d e p a yo ffs d e u m d ile m a
d o s p r is io n e ir o s c o m R m u ito m a io r d o q u e P ( d o ra v a n te , R » P ). N e s s e
c a s o p a rtic u la r, o s p a yo ffs p a ra c o o p e ra ç ã o m ú tu a p o d e m s e r te n ta d o re s o
b a s ta n te p a ra q u e o s jo g a d o r e s d e s c o n s id e re m a d o m in â n c ia , N o e n ta n to ,
o q u e s ig n if ic a R » P ? S ig n if ic a q u e o im p o r ta n te p a ra c a d a jo g a d o r é a
r e a ç ã o d o o p o n e n te , e q u e c a d a jo g a d o r é b a s ta n te d ependente d o a d v e r s á ­
rio . C o m e fe ito , d e v id o a R » P, as d ife r e n ç a s e n tr e T e R e e n tr e P e O
s ã o p e q u e n a s n o q u e c o n c e r n e à d ife r e n ç a e n tr e c o o p e ra ç ã o m ú tu a o u d e ­
s e rç ã o m ú tu a . O q u e im p o r ta n e s se c a s o n ã o é ta n to a v a n ta g e m d a e s tr a ­
té g i a d o m in a n te , m a s se o r e s u lta d o f o rn e c e rá o p a y o ff d e R o u P.
U m a u m e n to n o s v a lo r e s m ín im o s d e p ( /;* ). o u <7 (<?*) in d ic a q u e
e x is te m p o u c o s v a lo re s d e p c cj q u e s a tis fa z e m a e q u a ç ã o (3 .8 ). P o r e x e m ­
p lo , u m a u m e n to n o p r ê m io d e te n ta ç ã o (T ) in d ic a q u e a p e n a s u m a lto
g ra u d e m e d o d a r e ta lia ç ã o in d u z ir á a c o o p e ra ç ã o . D e m o d o in v e r s o , um
a u m e n to n o p a y o ff d e o tá r io (O ) in d ic a q u e b a ix o s v a lo re s d e p p o d e m se r
s u fic ie n te s p a ra a c o o p e ra ç ã o - d e s d e q u e o s v a lo re s c o rr e s p o n d e n te s d e q
s e ja m s u f ic ie n te m e n te a lto s p a ra s a tis f a z e r (3 .8 ).
E n tr e ta n to , q u a n d o u m a m a triz d e p a y o ffs é s e n s ív e l a in s tr u ç ã o (/?)
e a r e ta lia ç ã o (<r/)? U m e x a m e d a F ig u ra 3 .7 in d ic a q u e , s e p* < q*, o in ­
92 G E O R G E T S E B E L IS

te r v a lo d e v a lo re s d e p q u e in d u z e m c o o p e ra ç ã o c m a io r d o q u e o in te r v a ­
lo c o rr e s p o n d e n te d e q. E m o u tro s te rm o s , h a v e rá a lg u n s p a re s d e v a lo re s
p e q c o m p < q ta is q u e o s p a re s in v e rs o s d c íy e /? n ã o s ã o s u f ic ie n te s
p a r a o s u rg im e n to d e c o o p e ra ç ã o .
D iz -s e q u e u m a m a triz d c p a yo ffs é sen síve l a instrução q u a n d o v a ­
lo re s a lto s d e p cm r e la ç ã o a q (o u se ja , /;* a lto cm re la ç ã o a q *) s ã o n e ­
c e s s á r io s p a ra in d u z ir c o o p e ra ç ã o . D iz - s e q u e u m a m a tr iz d e p a yo ffs é s e n ­
s ív e l a reta lia çã o q u a n d o v a lo re s a lto s d e q e m r e la ç ã o a p {q* a lto e m
r e la ç ã o a /?*) s ã o r e q u e r id o s p a ra in d u z ir c o o p e ra ç ã o . Q u a l a d i fe r e n ç a d e
p a yo ffs e n tr e a s m a tr iz e s s e n s ív e is a in s tr u ç ã o e a r e t a li a ç ã o , r e s p e c ti v a ­
m e n te ? D e m o d o in v e rs o , d a d a u m a m a tr iz d e p a y o ffs , é m e l h o r te n ta r
in s tr u ir o s e u o p o n e n te o u a m e a ç á -lo ? I n v e s tig a n d o as c o n d iç õ e s d a d e s i ­
g u a ld a d e p* > q*, o b te m o s :
P roposição 3.8. A c o n d iç ã o n e c e s s á r ia e s u fic ie n te p a ra a m a tr iz d e
p a y o ffs s e n s ív e l a in s tr u ç ã o (p* > q*) é

R + P > T + O ( 3 .2 A )

A s p r o p o s iç õ e s 3 .6 , 3 .7 e 3 .8 in d ic a m o im p a c to d c q u a lq u e r m o d if ic a ç ã o
d e p a r â m e tr o s d a m a tr iz d c p a yo ffs. E m p a r tic u la r , as p r o p o s iç õ e s 3 .6 e
3 .7 lid a m c o m a probabilidade d e c o o p e ra ç ã o , e a p ro p o s iç ã o 3 .8 , c o m as
razões p a ra c o o p e ra ç ã o . E m te r m o s lig e ira m e n te d ife r e n te s , as p r o p o s iç õ e s
3 .6 e 3 .7 a p re s e n ta m im p lic a ç õ e s c o m p o r ta m e n ta is , e a p r o p o s iç ã o 3 .8 te m
u m c o n te ú d o m o tiv a c io n a l. P o r e x e m p lo , é p r o v á v e l q u e u m a u m e n to d e
T o u d e O ( p ro p o s iç ã o 3 .8 ) tra n s fo r m e u m a m a tr iz d o d ile m a d o s p r is i o ­
n e ir o s d e s e n s ív e l a in s tr u ç ã o e m s e n s ív e l a re ta lia ç ã o .
APÊNDICE AO CAPÍTULO 3: B

A p r e s e n to a r e p r e s e n ta ç ã o g r á f ic a d c ( 3 .8 ) p a ra o s trê s j o g o s r e s ta n ­
te s (d o im p a s s e , d o g a lin h a e d o s e g u ro ) , e d e p o is p r o v o q u e as p r o p o s i ­
ç õ e s 3 .6 e 3 .7 s e s u s te n ta m i n d e p e n d e n te m e n te d a n a tu r e z a d o jo g o .
O s v a lo re s d e p , q , p * c <7 * s ã o c a lc u la d o s a p a r tir d e (3 .8 ) , o q u e
se m a n té m p a ra to d o s o s jo g o s ; s e g u e - s e q u e to d o s o s j o g o s te r ã o a m e s m a
e x p re s s ã o p a ra m é tr ic a d e p r q , /;* e q* c o m o f u n ç õ e s d o s p a yo jfs (T, R ,
P, O ). D e fa to , p a r a to d o s o s jo g o s :

/>, = ( T - 0 ) / ( R - O ) ( 3 .1 B )

ç , = (T - 0 ) /( T - P) ( 3 .2 B )

p * = (P - 0 ) / ( R - O ) ( 3 .3 B )

q * = ( T - R ) /( T - P) ( 3 .4 B )

É fácil c o m p ro v a r q u e , d e v id o às c o n d iç õ e s d e d e fin iç ã o d o s q u a tro jo g o s,

p v q > 1 e /;* , <r/*> 0 p a r a u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s


p r q >\ e /?*, q !i‘> 1 p a ra u m j o g o d o im p a s s e
/?!> 1 , <7 , < I, p * < Ü, q*> 0 p a r a u m j o g o d o g a lin h a

p t < 1 , q > I, /;* > 0 , q*< 0 p a r a u m j o g o d o s e g u ro .

A F ig u r a 3 .8 a p re s e n ta u m a r e p r e s e n ta ç ã o g r á f ic a d o j o g o d o im p a s ­
s e 110 p la n o (j), q). P e lo f a to d e ta n to p* q u a n to q* s e re m m a io r e s q u e 1,
a lin h a E = 0 d e f i n i d a p e la ( 3 .8 ) e s tá s e m p r e f o r a d o q u a d r a d o u n itá r io .
94 G E O R G E T S E B E L IS

Jogo do impasse (T > P > R > O)

q,>q’ >i

F i g u r a 3 .8 R e p r e s e n t a ç ã o g r á f i c a d c u m j o g o d o i m p a s s e n o p l a n o (/>, q).

D e s s e m o d o , n ã o h á v a lo re s p o s s ív e is p a ra p e q q u e p r o d u z a m c o o p e r a ­
ç ã o n u m j o g o d o im p a s s e .
A F ig u ra 3 .9 m o s tra u m a re p re s e n ta ç ã o g r á f ic a d o j o g o d o g a lin h a no
p la n o (]}, q). P e lo fa to d e p * s e r n e g a tiv o , q u a lq u e r v a lo r d a p ro b a b ilid a d e
d e in s tr u ç ã o p o d e in d u z ir c o o p e ra ç ã o . A lin h a E = 0 c o rta a lin h a d e in d e ­
p e n d ê n c ia (p + q = 1 ), o q u e s ig n ific a q u e o s jo g a d o r e s in d e p e n d e n te s p o ­
d e m e s c o lh e r c o o p e ra r n u m jo g o d o g a lin h a . A s u p e rf íc ie d a á re a s o m b r e a ­
d a d a F ig u ra 3 .9 p o d e s e r c a lc u la d a c o m o a d ife r e n ç a n a s s u p e rfíc ie s d e d o is
triâ n g u lo s re tâ n g u lo s : o p r im e iro triâ n g u lo p o s s u i la d o s (1 - p *) e (1 - <?*);
o s e g u n d o p o ssu i la d o s - p* c (1 - t?,)1. D e p o is d e m a n ip u la ç õ e s a lg é b ric a s ,
a s u p e rf íc ie d a á re a s o m b re a d a é c a lc u la d a :

= (O + R - 2 P ) /2 ( T - P ) ( 3 .5 B )

É f á c il c o m p r o v a r q u e F a u m e n ta q u a n d o S o u R a u m e n ta m ( p o r ­
q u e S c R a p a r e c e m a p e n a s n o n u m e r a d o r d e ( 3 .5 B ) . É fá c il c o m p r o v a r
ta m b é m q u e F „ d e c re s c e q u a n d o T a u m e n ta , p o is T a p a re c e a p e n a s n o d e ­
n o m in a d o r d e ( 3 .5 B ). É m a is d ifíc il c o m p r o v a r q u e F d e c re s c e q u a n d o P
a u m e n ta , p o is P a p a re c e c o m u m s in a l n e g a tiv o ta n to n o n u m e r a d o r q u a n ­
to n o d e n o m irfa d o r. T o d a v ia , a p r im e ir a d e riv a d a d c F c o m r e s p e ito a P

I . O.s leitores dev em lem b rar-se d e que p * 6 negativo.


JO G O S O C U LT O S 95

lago ic covarde (T > P > R > O)


p, > I p" < 0
q ,> l q*>0

F i g u r a 3 .9 R e p r e s e n i a ç ã o g r á f i c a d c u m j o g o d o g a l i n h a n o p l a n o (p , q ).

r e v e la -s e n e g a tiv a (so b as re s triç õ e s im p o s ta s p e la in e q u a ç ã o 3 .3 ) 2 . T o d a s


e s s a s v a ria ç õ e s d e F s ã o e s p e c ific a d a s p e la s p r o p o s iç õ e s 3 .6 e 3 .7.
A F ig u ra 3 .1 0 m o stra u m a re p re s e n ta ç ã o g r á f ic a d o j o g o d o s e g u ro n o
p la n o (p, q). P e lo fa to d e q* s e r n e g a tiv o , q u a lq u e r v a lo r d a p r o b a b ilid a d e
d e re ta lia ç ã o q p o d e in d u z ir c o o p e ra ç ã o . A lin h a E = 0 c o r ta a lin h a d e
in d e p e n d ê n c ia (j? + q = 1 ), o q u e s ig n if ic a q u e o s j o g a d o r e s in d e p e n d e n te s
p o d e m e s c o lh e r c o o p e ra r n u m jo g o d o s e g u ro . A s u p e rfíc ie d a á re a s o m b r e ­
a d a d a F ig u ra 3 .1 0 p o d e s e r c a lc u la d a c o m o a d ife r e n ç a e n tr e as s u p e rfíc ie s
d o s d o is triâ n g u lo s re tâ n g u lo s : o p r im e ir o triâ n g u lo p o s s u i la d o s (1 - /?*) e
(1 - q*)\ o s e g u n d o p o s s u i la d o s - q* e (I - /;,). D e p o is d a s m a n ip u la ç õ e s a l­
g é b ric a s , a s u p e rf íc ie d a á re a s o m b r e a d a é c a lc u la d a c o m o :

F c = ( 2 R - P - T ) /2 ( R - O ) ( 3 .6 B )

É f á c il c o m p r o v a r q u e F sc a u m e n ta q u a n d o P o u T d im in u e m ( p o r ­
q u e T e P a p a re c e m a p e n a s n o n u m e r a d o r d c 3 .6 B c o m s in a l n e g a tiv o ). E
fá c il c o m p r o v a r ta m b é m q u e F a u m e n ta q u a n d o O a u m e n ta , p o is O s u r ­
g e a p e n a s n o d e n o m in a d o r d c ( 3 .6 B ) c o m u m s in a l n e g a tiv o . U m te s te d a
p r im e ir a d e riv a d a d e F c o m r e s p e ito a R in d ic a q u e F se a u m e n ta q u a n d o

2. Dc; u m a m uneira m ais sim p les, p orque F < I (l; é ap en as parle d o q u a d rad o u n itário ), d im in u ir o num erador
c o d enom inad or da m esm a q u an tid ad e (2P) dim inui o v alo r de F^.
96 G E O R G E T S E B E IJS

/ügo <íoseguro (R >r>P>O j


Pi ^ 1 P’ >°

F i g u r a 3 . 1 0 R e p r e s e n t a ç ã o g r á l i c a cie u m j o g o d o s e g u r o n o p l a n o (/?, q ).

R a u m e n ta ( s o b as re s triç õ e s im p o s ta s p e la in e q u a ç ã o [ 3 .4 j) ?. T o d a s e s s a s
v a ria ç õ e s d c F sc s ã o e s p e c ific a d a s p e la s p r o p o s iç õ e s 3 .6 c 3.7.
D e m a n e ira a n á lo g a , as d e riv a d a s d e ( 3 .6 B ) c o m r e s p e ito a P e a T
s ã o n e g a tiv a s e c o m r e s p e ito a R e a O s ã o p o s itiv a s . E m c o n s e q ü ê n c ia , as
p r o p o s iç õ e s 3 .6 e 3 .7 s c m a n tê m p a ra o s trê s j o g o s ( d ile m a d o s p r is io n e i­
ro s, j o g o d o g a lin h a c j o g o d o s e g u ro ) .

3. (ifi> iemio.v .simples, jú q u e F_ < J ( F ó «penas purie d o (ju;jdi;)clo u n iiá iio ), d im in u ir tanlo o num erador
quanto o d en o m in ad o r da m esm a quan tid ad e (2R ) dim inui o v alo r d e I7 ..
4

JOGOS COM REGRAS VARIÁVEIS,


OU A POLÍTICA DA MUDANÇA INSTITUCIONAL

N o C a p f tu lo 2, d e fin i ra c io n a lid a d e c o m o u m c o m p o r ta m e n to ó tim o


v o lta d o p a ra u m o b je tiv o . P rc ss u p õ c -s e , a ssim , q u e o c o m p o r ta m e n to d e c a d a
a to r é a re s p o s ta ó tim a p a ra o c o m p o rta m e n to d o s o u tro s p a rtic ip a n te s , bem
com o p a ra a estrutura institucional existente. O C a p ítu lo 3 c o n c c n tr o u -s c
n o p r im e ir o tip o d e o tim iz a ç ã o : as e s tra té g ia s m u tu a m e n te ó tim a s , q u e são
o te m a d a te o ria d o s jo g o s . O p re s e n te c a p ftu lo f o c a liz a o s e g u n d o tip o d e
o tim iz a ç ã o , q u e se re fe re à in te r a ç ã o e n tr e in d iv íd u o s c in s titu iç õ e s .
S e g u n d o a tra d iç ã o d a e s c o lh a ra c io n a l, a a b o rd a g e m u su a l d a s in s ti­
tu iç õ e s é e s tu d a r o s tip o s d e c o m p o r ta m e n to q u e e la s c a u s a m . A in v e s tig a ­
ç ã o d o s p a d r õ e s r e c o r r e n t e s d e c o m p o r ta m e n to r e m o n ta às in s t it u i ç õ e s
p r e v a le e e n te s , e e s s e s p a d rõ e s sã o e x p lic a d o s c o m o o c o m p o r ta m e n to ó t i ­
m o d ia n te d a s re s triç õ e s e x e rc id a s p o r e s s a s in s titu iç õ e s (B o u d o n 1 9 8 4 ).
E s te c a p ítu lo p a rte d a q u e s tã o d e c o m o o s in d iv íd u o s e s c o lh e m seu
c o m p o r ta m e n to ó tim o s o b c o e rç õ e s e d e p o is te o r iz a s o b re o f e n ô m e n o in ­
v e rs o : p o r q u e e c o m o as p e s s o a s m u d a m as c o e rç õ e s d o j o g o q u e e la s j o ­
g a m . E m o u tro s te r m o s , o c a p ítu lo tra ta as in s titu iç õ e s c o m o e n d ó g e n a s e
e x a m in a -a s c o m o re s u lta d o s de a tiv id a d e s p o lític a s c o n s c i e n te s 1.
O c a p ít u lo lid a c o m c a s o s e m q u e u m o u m a is j o g a d o r e s te n ta m
m o d if ic a r as re g ra s d e um jo g o . E m p r im e ir o lu g ar, e s c la re ç o a e x p re s s ã o
regras d o jo g o \ n a q u a lid a d e d e s u b p ro d u to s , to rn a r -s e - á c la r o q u e m o d i­
f ic a ç õ e s d e pa yo ffs e m o d K ic a ç õ e s d e re g r a s s ã o as ú n ic a s m u d a n ç a s p o s ­
s ív e is q u e p o d e m s e r feita? n u m j o g o e q u e , e m c o n s e q ü ê n c i a , j o g o s em

I . U m a a bordagem sim ilar d as in stitu içõ es que icg cm ;is rela çõ e s c n lrc trab alh ado res e e m p resário s p o d e ser e n ­
con tra d a em L ange (1987).
9H G E O R C E S T S E B E L IS

m ú ltip la s a re n a s e m u d a n ç a in s titu c io n a l sã o as c la s s e s m u tu a m e n te e x c lu ­
s iv a s e c o le tiv a m e n te e x a u s tiv a s d o s jo g o s o c u lto s .
N a te o r ia d o s jo g o s , um jo g o é d e fin id o c o m o u m trip é c o m p o s to p o r u m
c o n ju n to d e jo g a d o r e s , um c o n ju n to d e e s tr a té g ia s p a ra c a d a j o g a d o r e u m
c o n ju n to d e payojfs p a ra c a d a jo g a d o r. O s payojfs p a ra c a d a j o g a d o r sã o u m a
fu n ç ã o d a s e s tr a té g ia s q u e c a d a jo g a d o r e s c o lh e . P o r s u a v e z , as e s tr a té g ia s
d is p o n ív e is p a ra c a d a jo g a d o r d e p e n d e m d o s m o v im e n to s d i s p o n ív e is p a ra
c a d a u m d e le s , d a s e q ü ê n c ia d o s lan c e s (a o rd e m c m q u e o s jo g a d o r e s se m o ­
v e m ) e d a in fo r m a ç ã o d isp o n ív e l a n te s d e c a d a j o g a d a 2. C h a m o d c regras do
j o g o o c o n ju n to d c jo g a d o r e s , o c o n ju n to d e m o v im e n to s p e rm itid o s , a s e ­
q ü ê n c ia d e s sa s jo g a d a s e a in fo rm a ç ã o d isp o n ív e l a n te s d e c a d a jo g a d a . E s s a
d e fin iç ã o é c o n g ru e n te c o m o u s o c o m u m d a p a la v ra regra, m a s to rn a e x p líc ito
q u e as re g ra s in c lu e m to d a s as c a ra c te rístic a s d e u m jo g o , e x c e to se u s payojfs.
A s re g ra s in c lu e m s o b re tu d o o c o n ju n to d e jo g a d o r e s , b e m c o m o o c o n ju n to
d e e s tra té g ia s d isp o n ív e is p a ra c a d a jo g a d o r.
D e a c o rd o c o m m in h a d e fin iç ã o d c re g ra s , s e u m j o g o v a ria , is s o sc
d e v e a v a ria ç õ e s n o s p a yo ffs o u n a s re g r a s (o u e m a m b o s ). J o g o s e m m ú l­
tip la s a re n a s c o n c e n tr a m - s e n o p r im e ir o tip o d e v a ria ç ã o ; a m u d a n ç a in s ­
titu c io n a l lid a c o m o s e g u n d o tip o .
D e m o d o m a is e x p líc ito , a m u d a n ç a in s titu c io n a l p o d e e n v o lv e r u m a
o u m a is d a s s e g u in te s c o is a s : ( 1 ) u m a m u d a n ç a n o c o n ju n to d e j o g a d o r e s
(im a g in e m o s um g o v e rn o q u e e s c o lh e e n tre le g is la r p o r d e c re to e a p re s e n ta r
a le g is la ç ã o p o r m e io d o P a rla m e n to ); (2 ) u m a m u d a n ç a n a s jo g a d a s p e rm i­
tid a s ( im a g in e m o s u m a c o m is s ã o q u e a p re s e n ta u m p ro je to d c lei c o m b a s e
e m reg ra s a b e rta s - e m e n d a s são p e rm itid a s - ou reg ra s fe c h a d a s - se m e m e n ­
d a s); (3 ) u m a m u d a n ç a n a s e q ü ê n c ia d o jo g o (im a g in e m o s u m g o v e rn o q u e
p e d e u m v o to d e c o n fia n ç a à C â m a ra A lta d o P a r la m e n to a n te s d e s e a p re ­
s e n ta r d ia n te d a C â m a ra B a ix a )3; (4 ) u m a m u d a n ç a n a a v a lia ç ã o d is p o n ív e l
( im a g in e m o s u m g o v e rn o q u e d e c la ra ao P a r la m e n to q u e a v o ta ç ã o d e u m
p ro je to d e lei s e ria c o n s id e r a d a u m v o to d e c o n fia n ç a ) 4.
A s m u d a n ç a s n a s re g r a s s ã o às v e z e s o r d e n a d a s p o r re g r a s d e o rd e m
s u p e rio r. N e s s e c a s o , o m u n d o p o lític o e s tá a lta m e n te e s tr u tu r a d o . N o s P a r­
la m e n to s , p o r e x e m p lo , r e g u la m e n to s e s tr ita m e n te c o n s titu c io n a is o u i n te r ­
n o s p r e s c r e v e m q u a is m u d a n ç a s d e re g ra s s ã o p o s s ív e is e s o b q u a is c o n d i­
ç õ e s. P o d e - s e e s tu d a r e s s e s c a s o s c o n s id e r a n d o o j o g o in s e r id o n a s re g ra s
e s tá v e is d e o r d e m s u p e rio r. C o n tu d o , n ã o a p re s e n to e s s e s c a so s n o s c a p ítu ­
lo s e m p ír ic o s d e s te livro.

2. L eitores fam iliarizados c o m a teoria dos jo g o s reconhecerão qu e a trinca é um a trad u ção verbal d a definição de uni
jo g o em form a norm al. A análise subseqüente reflete a definição d e um jo g o em form a exten siv a (Selten 1975).
3. Na Itália, em m arço d e 1972, o p residente L eone d issolveu o Parlam ento após a d erro ta d o gov ern o no senado,
sem e sp erar pela v otação na câm ara (A llum 1973, p. 125).
4. lisse é p recisam en te o efeito do A rtigo 49.3 da co n stitu ição da Q u in ta R ep ú b lica francesa, con fo rm e m ostro no
C ap ítu lo 7.
J O G O S O C U LT O S 99

E m o u tra s o p o r tu n id a d e s , as re g r a s d e o r d e m s u p e r io r f o rn e c e m a p e ­
n a s u m q u a d ro d e n tro d o q u a l o s a to re s tê m d e m o v e r-se . A m o d if ic a ç ã o d a s
le is n o i n te r io r d e u m q u a d r o c o n s ti tu c i o n a l é u m b o m e x e m p lo d is s o . O
C a p ítu lo 7 e x ib e u m c a s o d o g ê n e ro d e m o d if ic a ç ã o d a lei e le ito r a l n a F ra n ç a .
É p o s s ív e l, e n fim , q u e n ã o h a ja u m q u a d ro e x p líc ito d a s m o d if ic a ç õ e s
p e rm itid a s , c a s o e m q u e a u m e n ta m c o n s id e r a v e lm e n te as p o s s ib ilid a d e s d e
m o d ific a ç ã o d e reg ra s. A m u d a n ç a c o n s titu c io n a l é o e x e m p lo m ais c a ra c te r ís ­
tic o d isso . O C a p ítu lo 5 tra ta d a m u d a n ç a n o s e s ta tu to s d o P a rtid o T ra b a lh is ta
b ritâ n ic o , e o C a p ítu lo 6 a b o rd a as m u d a n ç a s c o n s titu c io n a is n a B é lg ic a .
U m a a b o rd a g e m d a m u d a n ç a in s titu c io n a l e m q u e a s r e g r a s d o jo g o
s ã o e n d ó g e n a s a p r e s e n ta d iv e r s a s q u e s tõ e s . Q u a l a im p o r tâ n c ia d a s in s t i ­
tu iç õ e s ? A s in s titu iç õ e s s ã o c o n c e b id a s d e m o d o e x p líc ito o u sã o o p r o d u ­
to d a e v o lu ç ã o s o c ia l? A s i n s titu iç õ e s p r o m o v e m o s i n te r e s s e s d e u m a to r
ou d e u m a c o lig a ç ã o o u d e to d a a s o c ie d a d e ?
N a d is c u s s ã o a seg u ir, u tiliz o o te rm o instituição p a ra in d ic a r as re g ra s
fo rm a is d e u m jo g o p o lític o o u so cial re c o rre n te . N a d is tin ç ã o e n tr e in s titu i­
ç õ e s e n o rm a s o u c o s tu m e s p re s s u p õ e -s e q u e as re g ra s sã o fo rm a is . S u p õ e -
s e q u e a s re g ra s s ã o c o n h e c id a s p e lo s jo g a d o r e s e q u e c a d a jo g a d o r e s p e ra
q u e q u a lq u e r o u tro jo g a d o r as sig a. O term o recorrente é re d u n d a n te n a d e ­
fin iç ã o , p o is as re g ra s , m e s m o q u e a p lic a d a s a p e n a s u m a v e z , v isa m s e m p re
c o b rir u m a g a m a m ais o u m en o s e x te n s a d e c a so s sim ila re s. N o e n ta n to , o p tei
p o r in c lu ir o te r m o e x p lic ita m e n te , p o is o e m p r e g o c o m fre q ü ê n c ia .
A s r e g r a s d o j o g o p o lític o o u s o c ia l r e g u la m a r e la ç ã o e n tre :

1. A tores políticos. S ã o e x e m p lo s as r e la ç õ e s e n tre g o v e rn o e o p o s iç ã o e os


a rtig o s c o n s titu c io n a is q u e d e fin e m se é p o s s ív e l (sis te m a s p a rla m e n ta re s )
o u im p o s s ív e l (sis te m a s p re s id e n c ia lis ta s ) s u b s titu ir a c o lig a ç ã o n o p o d er.
2 . A tores institucionalizados. O s e x e m p lo s in c lu e m as re la ç õ e s e n tre g o v e r­
n o s e s ta d u a is e fe d e ra is , o u e n tre o le g is la tiv o , o e x e c u tiv o e o ju d ic iá rio .
3 . A tores institucionalizados e cidadãos individuais. S ã o b o n s e x e m p lo s as
leis trib u tá r ia s e as d e fin iç õ e s d o s d ire ito s d o h o m e m e d o c id a d ã o q u e
fig u ra m e m p o s iç ã o p ro e m in e n te em to d a c o n s titu iç ã o .
4 . C idadãos individuais. O d ire ito à p r o p rie d a d e o u o s re g u la m e n to s c o n ti­
d o s n o c ó d ig o c iv il e n o c ó d ig o p e n a l, b e m c o m o as c o n v e n ç õ e s d e c o o r­
d e n a ç ã o s o c ia l ( c o m o o p e río d o d o h o rá rio d e v e rã o o u d ir ig ir n a la d o
d ire ito d a e s tr a d a ) ilu s tra m e s s e tip o d e rela ç ão .

O c a p ítu lo e s tá o rg a n iz a d o em q u a tro s e ç õ e s . A S e ç ã o I e n fa tiz a o c a ­


r á te r d u ra d o u r o d a s in stitu iç õ e s . E x a m in o as in s titu iç õ e s c o m o in v e s tim e n ­
to s, e in d ic o q u e o te m p o é u m fa to r e s s e n c ia l p a ra c o m p r e e n d ê - la s 5. A S e ­

.s, T om o e m p re sta d o o con ceito d c investim entos d e Hates (1985). Sou g raio a R o b eri Bates p o r p ô r à n iialia dis­
p osição esse in teressan te artigo.
G E O R G E S T S E B E L IS

ç ã o II c o n c e n tr a - s e na q u e s tã o d a o rig e m d a s in s titu iç õ e s . A S e ç ã o III d is ­


tin g u e d o is tip o s d e in s titu iç õ e s : in stitu iç õ e s e f ic ie n te s , q u e c o n tr ib u e m p a ra
a p r o s p e r id a d e d c to d o s o u q u a s e to d o s o s a to r e s p o s s ív e is , e in s titu iç õ e s
r e d is tr ib u tiv a s , q u e p r o m o v e m o s in te r e s s e s d e u m a c o lig a ç ã o e s p e c ífic a .
E s s a d is tin ç ã o é u m a a b s tr a ç ã o m e to d o ló g ic a , e m o s tr o q u e p r a tic a m e n te
to d a s as in s titu iç õ e s d a v id a real p o s s u e m u m c a rá te r m is to . N a S e ç ã o IV ,
d is c u to a im p o r tâ n c ia d c d is tin g u ir e n tr e in s titu iç õ e s e fic ie n te s c re d is lrib u -
tiv a s , e e s p e c u lo s o b re as c o n d iç õ e s q u e to rn a r ia m m a is p ro v á v e l a e s c o lh a
d a s in s titu iç õ e s e fic ie n te s e m d e tr im e n to d a s r e d is trib u tiv a s .
E s te c a p ítu lo é m e n o s rig o ro s o e m te rm o s te ó r ic o s d o q u e o a n te rio r,
s o b re tu d o n o q u e se re f e r e à d is c u s s ã o q u e a p r e s e n ta d a s in s titu iç õ e s r e ­
d is tr ib u tiv a s . I s s o s c d e v e a o fa to d e q u e a m u d a n ç a d a s re g ra s d c u m jo g o
é u m a f o rm a e s s e n c ia l d e in o v a ç ã o p o lític a , e a in o v a ç ã o d e s a f ia te o r ia s e
r e g ra s . A s s im , d e s e n v o lv o e s te c a p ítu lo d e u m a m a n e ira m a is in d u tiv a , e
o r g a n iz o , d is c u to e c la s s if ic o id é ia s e te o r ia s d ife r e n te s s o b re a c ria ç ã o d a s
in s titu iç õ e s . O s c a p ítu lo s r e s ta n te s irã o f o r n e c e r e x e m p lo s d o s d ife r e n te s
tip o s d e in s t it u i ç õ e s , r e la c io n a n d o o c a r á t e r d e c a d a u m a e a p o lític a d e
se u p r o je to c o m o s c o n c e ito s a q u i d e s e n v o lv id o s .

/. INSTITUIÇÕES COMO INVESTIMENTOS

N a in tr o d u ç ã o d o p re s e n te c a p ítu lo d e fin i as in s titu iç õ e s c o m o as re g ra s


f o r m a is d o s j o g o s p o lític o s o u s o c ia is , c o n s e q ü e n t e m e n t e c o m o c o e rç õ e s
e x e rc id a s s o b re o s a to re s in d iv id u a is ou p o lític o s . C a d a a to r te n ta rá m a x im iz a r
se u s o b je tiv o s e m b o ra p e rm a n e ç a c o a g id o p e la s in stitu iç õ e s . O p r o b le m a a re ­
s o lv e r, p o r ta n to , é o d a m a x im iz a ç ã o s o b c o e r ç õ e s r'. É p o r e s s e m o tiv o q u e
a o lo n g o d o liv ro u tiliz o a e x p re s s ã o projeto institucional, em v e z d e jo g o s
in stitucionais. P o d e - s e m o s tr a r fo rm a lm e n te , n e s te c a so , q u e a d e c is ã o ó t i ­
m a d e p e n d e tanto d a f u n ç ã o a m a x im iz a r (o s o b je tiv o s d o a to r) quanto d as
c o e rç õ e s im p o s ta s (in s titu iç õ e s ) (T h e il 1968, 3 6 -4 3 ). E s s a c o n c lu s ã o ó b v ia
é o p o n to d e p a rtid a d e m in h a in v e s tig a ç ã o s o b re as in s titu iç õ e s : o s a to re s m a ­
x im iz am se u s o b je tiv o s s e ja p e la m u d an ç a d e su a s e s tra té g ia s , seja p e la m u d an ç a
d o c e n á r io in s titu c io n a l q u e tra n s fo r m a s u a s e s tr a té g ia s e m re s u lta d o s .
J á s e a firm o u q u e c e rta s e s tr u tu r a s p o d e m p r o d u z ir d e te r m in a d o s ti­
p o s d e e q u ilíb rio s (S h e p s le 19 8 6 ). C o m r e s p e ito às le g is la tu ra s , S h a p le y e
S h u b ik ( 1 9 5 4 ) ju lg a m q u e é m a is fá c il b lo q u e a r a le g is la ç ã o e m le g is la tiv o s

6. A teoria dos jo g o s p oderia ter fornecido unia d escrição m ais acurada d o problem a, mas, infelizm ente, ainda não
se d esen v o lv eu a p o nto d e p oder lid ar com o problem a d o e q u ilíb rio q u a n d o o p róprio jo g o é variáv el, com o
ó o presente caso. O pequeno núm ero d e tentativas nesse .sentido indica que, a p artir de um a p revisão lim itada,
não só a e sco lh a das e stratég ias m uda em função do n úm ero d e jo g a d as que o jo g a d o r consegue a n tecipar, mas
tam b ém que au m en tar o n úm ero de jo g a d as não leva n ecessariam en te à ap ro x im ação das estraté g ias de e q u ilí­
b rio (R ice 1976).

B S C S H / UFRGS
JO G O S O C U LT O S 101

b ic a m e ra is 7. S h e p s le ( 1 9 7 9 ) d e m o n s tra q u e a d iv is ã o ( c o m is s õ e s ), a e s p e ­
c ia liz a ç ã o d o tra b a lh o ( a lo c a ç õ e s p o r ju r is d iç õ e s ) o u m e c a n is m o s d e m o n i­
to r a m e n to ( re g r a s d e c o n tr o le d a a p r e s e n ta ç ã o d e e m e n d a s ) p o d e m g e ra r
e q u ilíb r io s p o lític o s . K o r n b c r g (1 9 6 7 ) j u lg a q u e d e b a te s c ir c u n s c r ito s ou
l im ita ç õ e s d o a s s u n t o e m d e b a te to rn a m m a is p r o v á v e l a a p r o v a ç ã o d o
p r o g r a m a “ d e g o v e r n o ” . D i P a lm a ( 1 9 7 6 ) s u s te n ta q u e o p o d e r d ir e to d e
a p ro v a r a le g is la ç ã o c m c o m is s õ e s , p a rtid o s f ra c o s , f a lta d e p r io r id a d e p a ra
o s p r o je to s d o g o v e rn o e m in o ria s fo rte s p r o d u z e m le g is la tiv o s in c a p a z e s
d e e n f r e n ta r q u e s tõ e s p a s s ív e is d e p r o v o c a r d iv is ã o e c o n tr o v é rs ia , isto é,
l e g is la tiv o s q u e só a p ro v a m p r o je to s p a r tic u la r is ta s , ro tin e ir o s .
C o m r e s p e ito às leis e le ito r a is , D u v e r g e r ( 1 9 5 4 ) s u s te n to u q u e s is te m a s
e le ito r a is p lu ra is g e ra m s is te m a s b ip a rtid á rio s * . A q u e s tã o d a fo rm a d e c o n ­
ta g e m d o s v o to s n o P a r la m e n to p a ra a p o ia r t a n to o s p r o je to s d o g o v e r n o
q u a n to o p r ó p rio g o v e rn o é d e e n o rm e im p o r tâ n c ia p a r a a e fic á c ia e a e s ta ­
b ilid a d e d o g o v e rn o : o fa to d e a c o n s titu iç ã o r e q u e r e r u m a m a io r ia d e v o to s
a f a v o r o u c o n tr a o s p r o je to s d o g o v e rn o , o u o p o d e r d o P a r la m e n to d e d e ­
le g a r a u to r id a d e le g is la tiv a ao g o v e rn o e x e rc e m g ra n d e im p a c to s o b re a le ­
g is la ç ã o . A p r e s e n ç a d e g o v e rn o s d e m in o r ia s e to rn a p o s s ív e l p o r re g ra s q u e
c o n ta m as a b s te n ç õ e s e m fa v o r d o g o v e rn o (S tro m 1 9 8 4 ). A v o ta ç ã o s e c r e ta
p o d e in flu e n c ia r o s re s u lta d o s d o s v o to s, c o m o s e s a b e p e la s e le iç õ e s g e ra is .
O s e g u in te e x e m p lo in d ic a q u e m e s m o p e q u e n o s p o rm e n o re s in s titu c io ­
n a is p o d e m te r re s u lta d o s im p o rta n te s e p r e v is ív e is . O c a s o e s p e c ífic o p ro v é m
d a h is tó ria p o lític a d a a n tig a A le m a n h a F e d e ra l, m as e x is te m m u ita s s itu a ç õ e s
q u e r e p ro d u z iria m su as c o n d iç õ e s e s se n c ia is . E m a b ril d e 19 7 2 , o g o v e rn o de
W illy B r a n d t e n fr e n to u u m a m o ç ã o d e “ d e s c o n fia n ç a c o n s tr u tiv a ” ( A rtig o 67
d a L ei F u n d a m e n ta l d a RFA). A m a io ria q u e a p o ia v a o g o v e rn o e ra e x íg u a , e
te m ia - s e q u e h o u v e s se d e fe c ç õ e s n a v o ta ç ã o s e c re ta d e 2 7 d e a b ril. P o r e s se
m o tiv o , B ra n d t s o lic ito u ao s m e m b ro s d e su a m a io ria q u e n ã o p a rtic ip a s se m
d a v o ta ç ã o . Tsso lhe p e rm itiria m o n ito ra r o c o m p o r ta m e n to d o s d e p u ta d o s de
s u a c o lig a ç ã o . O r e s u lta d o foi q u e o s p la n o s d a o p o s iç ã o f a lh a ra m , p o rq u e n ão
c o n s e g u ir a m o b te r v o to s d is s id e n te s d o la d o d o g o v e rn o , e d e s s e m o d o n ão
o b tiv e r a m a m a io r ia e x ig id a (S c h w a r tz e n b e rg 1979).
S e re la c io n a m e n to s c a u s a is c o m o o s f o rn e c id o s p e lo e x e m p lo a c im a
s e e s ta b e le c e m e n tr e i n s titu iç õ e s e r e s u lta d o s , e n tã o u m a to r p o l ít ic o ou
u m a c o lig a ç ã o d e a to re s p o lític o s p o d e a g ir s o b re a c a u s a d e m o d o a m o ­
d if ic a r seu e fe ito . P o r e x e m p lo , o s a to re s p o lític o s p o d e m r e d u z ir o s lim i­
te s im p o s to s à s e p a r a ç ã o e n tr e o s p o d e re s p a ra p r o d u z ir m a is le g is la ç ã o ,
p o d e m a lte r a r o s p o d e re s d a q u e le q u e d e fin e a a g e n d a p a ra m o d if ic a r os
re s u lta d o s d e u m p r o c e s s o d e lib e ra tiv o ( M c K e lv e y 1 979; S h e p s le e W c in -

7. Ver tam bém I led lu u d ( 1984).


8. Para um estud o q u e rem onta a ex istê n cia d a lei :i um sécu lo antes d o p erío d o c o b erto por D uverger. ver Riker
{1982).
102 C E O R C E S T S E M iU S

g a s t 1 9 8 4 ), p o d e m m o d if ic a r as m a io r ia s r e q u e r id a s ( q u a l i f i c a d a e m v e z
d e s im p le s ) e p o d e m c o n f e r ir a d e te r m in a d o s a to r e s o p o d e r d e v e to , p o ­
d e m n e g a r p o d e r d e v e to a d e te r m in a d o s a to r e s e a s s im m o d if ic a r , d e
m a n e ira s ig n if ic a tiv a , o s re s u lta d o s p o lític o s , e p o d e m a in d a m u d a r o p r o ­
c e s s o d e v o ta ç ã o d e p ú b lic o p a ra s e c r e to , o u v ic e - v e rs a , b e m c o m o m o d i­
f ic a r p o lític a s o u g o v e rn o s .
D e s s a f o rm a , o a r g u m e n to s o b re o p a p e l d a s i n s titu iç õ e s r e c e b e u m
im p u ls o a d ic io n a l. D e in íc io , d e fin i as in s titu iç õ e s c o m o c o e rç õ e s . M o s tre i
d e p o is q u e , p e lo fa to d e as in stitu iç õ e s p ro d u z ire m , s is te m a tic a m e n te , c e rto s
tip o s d e re s u lta d o s , p o d e m se r m o d ific a d a s d e m o d o a a lte ra r re s u lta d o s p o ­
líticos. O c o n h e c im e n to dos resultad o s o b tid o s p o r in stitu içõ e s d ife ren te s p o d e m
tra n s fo r m a r p re fe rê n c ia s p o lític a s e m p re fe rê n c ia s in s titu c io n a is . E n tã o , a to ­
res d ife re n te s p ro c u ra rã o e s c o lh e r in stitu iç õ e s d ife re n te s , e n e s se jo g o d e e s c o ­
lha in stitu c io n a l h a v e rá n o v o s e q u ilíb rio s . N a s p a la v ra s d e S h e p s le , p o d e m o s
p a s s a r d e e q u ilíb rio s in stitu c io n a is a in stitu iç õ e s d e e q u ilíb rio 9.
U m a d isc u s s ã o m u ito in te re s s a n te o c o rre u e n tr e R ik e r (1 9 8 0 ) e S h e p s le
(1 9 8 6 ) s o b re a q u e s tã o d c s a b e r se p r e f e r e n c ia s re la tiv a s a in s titu iç õ e s p o ­
d e m o u n ã o a lc a n ç a r um e q u ilíb rio . A m b o s c o n c o rd a m e m q u e as d e c is õ e s
s o b re p o lític a s e fe tu a d a s p e la re g ra d a m a io ria p o d e m c o n d u z ir a c ic lo s p o ­
lític o s , q u e as in stitu iç õ e s p o lític a s c ria m “e q u ilíb rio s in d u z id o s p e la e s tr u tu ­
ra ” e q u e as p re fe rê n c ia s p o lític a s p o d e m g e ra r p re fe rê n c ia s p o r in stitu iç õ e s .
R ik e r s u s te n ta q u e p r e fe rê n c ia s p o r in s titu iç õ e s le v a rã o a c ic lo s n a e s c o lh a
d a s in stitu iç õ e s . J á S h e p s le a firm a , em e s sê n c ia , q u e e s se s c ic lo s a p re s e n ta m
u m p e río d o m u ito m a is lo n g o e q u e , p o rta n to , se a s s e m e lh a m a e q u ilíb rio s .
P a r e c e - m e q u e , e m b o r a a m b o s e s te ja m c o rr e to s e m s e u s a rg u m e n to s ,
d e ix a m d e a b o rd a r, d e m o d o e x p líc ito , u m p o n to m u ito im p o rta n te : c o m o a
e x p e c ta tiv a de v id a d a s in stitu iç õ e s c m u ito m aio r d o q u e a d as p o lític a s , tan to
as c o n s e q ü ê n c ia s de u m a e s c o lh a in stitu c io n a l c o m o a in c e rte z a q u e a c e rc a
s ã o e le m e n to s m u ito m a is im p o rta n te s n o c á lc u lo . A s s im , a tra n s iç ã o d a s
p r e f e r ê n c ia s p o r p o lític a s p a ra as p r e f e r ê n c ia s p o r in s titu iç õ e s n ã o é n e m
a u to m á tic a n e m im e d ia ta . C a d a c id a d ã o , p o r e x e m p lo , é o b r ig a d o a p r e e n ­
c h e r u m a d e c la r a ç ã o a n u a l de ren d im e n to s . P a ra o c id a d ã o q u e d e s e ja p a g a r
m e n o s im p o s to s ao lo n g o d o te m p o , a p re s e n ta m -s e as s e g u in te s o p ç õ e s: p r e ­
e n c h e r u m a d e c la r a ç ã o “ h o n e s ta ” ; u tiliz a r b r e c h a s e x is te n te s ; p r e s s io n a r o
C o n g r e s s o p a ra o b te r a lg u m a s b re c h a s a d ic io n a is d e im p o r tâ n c ia p a rtic u la r
p a ra e le ; o u a in d a p re s s io n a r p o r u m a re fo rm a trib u tá ria g e ra l. C a d a p o lític a
te m c u s to s e s p e ra d o s , q u e v a ria m c o m a id e o lo g ia , a in fo rm a ç ã o e a p ro b a ­
b ilid a d e d c s u c e s s o d o a to r - em o u tro s term o s, v a ria m c o m a id e n tid a d e d o
ator. P a ra u m c id a d ã o in d iv id u a l q u e a c re d ita q u e o p r o b le m a é p e s s o a l, a
e s c o lh a s e lim ita , d e fa to , às d u a s p r im e ira s a lte rn a tiv a s . P a ra u m a c o m p a ­

9. E sse dcb ale .sobre p referên cias por in stitu içõ es pode se r su b su m id o ao debato filo só fico m ais geral sobre p re­
ferên c ia s e n tre p referên cias, ou m ilitarism o d a reg ra (H arsanyi 1977; Je ffery 1974).
J O G O S O CU LTO S

n h ia o u um ra m o d a in d ú s tr ia q u e a c re d ita q u e o p r o b le m a d iz r e s p e ito a
u m a c a te g o r ia m a is a m p la d e p ú b lic o , a t e r c e ir a p o d e s e r a e s c o lh a ó tim a .
P a ra o p re s id e n te d o s E s ta d o s U n id o s , o u d e u m d o s d o is p rin c ip a is p a rtid o s,
a q u a rta e s c o lh a p o d e s e r p o s s ív e l e p re fe rív e l.
C o n tu d o , m a is im p o rta n te d o q u e a d ife r e n ç a n o s c á lc u lo s é a d ife r e n ­
ç a n a s c o n s e q ü ê n c ia s . O p rim e iro c a so a p re s e n ta u m a e s c o lh a in d iv id u a l c o m
c o n s e q ü ê n c ia s d c m e n o r m o n ta ; o s e g u n d o o fe re c e u m a e s c o lh a p o lític a co m
c o n s e q ü ê n c ia s d e c u rto e, p o s s iv e lm e n te , m é d io a lc a n c e ; o t e r c e ir o r e p r e ­
s e n ta u m a m u d a n ç a in s titu c io n a l c o m c o n s e q ü ê n c ia s d e lo n g o p raz o .
N o n ív e l te ó r ic o , a e s c o lh a e n tr e d u a s i n s titu iç õ e s p o d e s e r c o n s id e ­
r a d a u m a d e c is ã o a rr is c a d a q u e irá g e ra r d o is flu x o s d if e r e n te s d e r e n d a ,
p o is a s itu a ç ã o s e re p e te ao lo n g o d o te m p o " ’. S u p o n h a m o s q u e u m a m a io ria
s im p le s s e ja s u fic ie n te p a ra m o d if ic a r u m a in s titu iç ã o e q u e h a ja u m a c o ­
lig a ç ã o m a jo r itá ria q u e p r e f e r ir ia u m a in s titu iç ã o d ife r e n te e m d e tr im e n to
d e u m a j á e x is te n te . A m a io r ia p o d e e s c o lh e r, e n tã o , e n tr e d u a s o p ç õ e s .
E m p r im e ir o lu g a r, o s a to r e s p o d e m p r e v e r q u e u m a m u d a n ç a i n s t it u c io ­
na l h o je irá d e s e n c a d e a r m o d if ic a ç õ e s s u c e s s iv a s d e in s titu iç õ e s , e p r e f e r ir
e n tã o s u s te n ta r u m a in s titu iç ã o a c e itá v e l p a ra a m in o r ia em tro c a d e u m a
m a io r e s ta b ilid a d e in s titu c io n a l. O C a p ítu lo 6 a p re s e n ta u m e x e m p lo d e s s e
p r o c e d i m e n t o n a C o n s titu iç ã o b e lg a . E m s e g u n d o lu g a r, a m a io r ia p o d e
d e c id ir, c o n c e b e r e r e a l iz a r u m a m u d a n ç a i n s titu c io n a l c o n tr a a v o n ta d e
d a m in o r ia . O s C a p ítu lo s 5 e 7 e x ib e m c a so s s e m e lh a n te s e x tr a íd o s d a v id a
p o lític a d o R e in o U n id o e d a F ra n ç a .
O a s p e c to d e in v e s tim e n to d a s in s titu iç õ e s d e c o rr e d o fa to d e q u e as
p e s s o a s u tiliz a m r e c u r s o s p a ra c ria r in s titu iç õ e s ; e , u m a v e z c ria d a s , as in s ­
titu iç õ e s g e ra m , c o m o te m p o , u m f lu x o d e re n d a , o u s e ja , c o n s titu e m r e ­
c u rs o s q u e p o d e m s e r e m p r e g a d o s a q u a lq u e r m o m e n to n a a re n a p o lític a .
O d ile m a q u e s e s e g u e p a ra j o g a d o r e s d ife r e n te s é s c d e v e m te n ta r e fe tu a r
u m in v e s tim e n to d e c u rto p ra z o e a lto r e to r n o , o u u m d c lo n g o p ra z o c o m
p e q u e n a s ta x a s d e re to rn o . N a S e ç ã o III, c a ra c te riz o e s se s d o is p ro c e d im e n to s
d ife r e n te s d e f o rm a ç ã o d e in s titu iç õ e s c o m o e fic ie n te e r e d is tr ib u tiv o , m as
p r im e ir o e x p lic o c o m o s a b e m o s q u e a c o n s tr u ç ã o d e in s titu iç õ e s é o r e s u l­
ta d o d e um p r o je to c o n s c ie n te .

11. ESCOLHA RACIONAL V E R SU S EXPLICAÇÕES EVOLUCIONISTAS

“N ã o h a v e ria n e c e s s id a d e d e re g ra s sc o s h o m e n s c o n h e c e s s e m tu d o ” ,
s u s te n ta F r ie d r ic h H a y e k ( 1 9 7 6 , 2 1 ). M a is o u m e n o s n a m e s m a lin h a d e
ra c io c ín io , W illia m s o n ( 1 9 8 5 ) a firm a q u e as in s titu iç õ e s sã o n e c e s s á ria s ju s -

10. A siuuiçno se torna m ais c o m p licad a q uando se c o n sid era o p ro b lem a d a rep resen tação de in teresses d ifere n ­
tes pelo s p o lítico s e as po ssib ilid a d es de v otação sincera ou estraté g ica do ú ltim o , n um a estru tu ra instiiu-
104 G liO R G IiS T S E B E L IS

t a in e n tc e m v irtu d e d as c a p a c id a d e s lim ita d a s d a m e n te h u m a n a , e d o fato


d e q u e o c o m p o r ta m e n to h u m a n o é “ p r e te n s a m e n te r a c io n a l, m a s n a p r á ­
tic a o é d c fo rm a lim ita d a ” (S im o n 19 5 7 , x x iv ). N a a u s ê n c ia d e tal “ r a c io ­
n a lid a d e lim ita d a ” , a a tiv id a d e h u m a n a p o d e ria b a s e a r - s c n o p l a n e ja m e n ­
to , p o is to d o s o s re s u lta d o s p o lític o s e s o c ia is p o d e ria m s e r a n te c ip a d o s d e
m o d o p re c is o .
A b ib lio g ra f ia e c o n ô m ic a a p re s e n ta d u a s o u tra s c o n d iç õ e s p a ra a e x is ­
tê n c ia d a s in stitu iç õ e s : o p o r tu n is m o e e s p e c ific id a d e d o a tiv o . O opo rtu n is­
m o se r e fe re à d is c r e p â n c ia e n tr e as p ro m e s s a s ex ante e o c o m p o r ta m e n to
ex p o st. E sp ec ificid a d e do ativo in d ic a q u e a to r e s d ife r e n te s p o s s u e m r e ­
c u rs o s d ife r e n te s ; p o s s u e m , p o rta n to , in te re s s e s p e rm a n e n te s n a id e n tid a d e
u n s d o s o u tro s . N a a u s ê n c ia d e o p o r tu n is m o , p r o s s e g u e o a rg u m e n to , as
p r o m e s s a s p o d e ria m s u b s titu ir as in s titu iç õ e s , p o is a p a la v r a d c u m a p e s s o a
v a le r ia ta n to q u a n to os se u s a to s. N a a u s ê n c ia d e e s p e c ific id a d e d o a tiv o , a
c o m p e tiç ã o d e m e rc a d o s u b s titu iria as in stitu iç õ e s (A lc h ia n 1984; W illia m so n
Í 9 8 5 , 2 6 -3 2 ).
U m a v e z q u e as trê s c o n d iç õ e s ( r a c io n a lid a d e lim ita d a , o p o r tu n is m o
e e s p e c ific id a d e d o a tiv o ) s ã o fre q ü e n te s n a v id a re a l, o e s tu d o d a s in s titu i­
ç õ e s m e lh o r a a n o s s a c o m p r e e n s ã o d o s f e n ô m e n o s s o c ia is . E s s a s o b s e r v a ­
ç õ e s c o n c o rd a m c o m o s a rg u m e n to s d a S e ç ã o I, s e g u n d o o s q u a is as in s ti­
tu iç õ e s a u x ilia m as p e s so a s a lid a r c o m p r o b le m a s e s itu a ç õ e s re c o r r e n te s
q u e n ã o p o d e m s e r a n te c ip a d o s . E s s e é o m o tiv o p e lo q u a l as p e s so a s pro ­
je ta m as in s titu iç õ e s .
A m in h a p o s iç ã o d ife r e d e u m a p a rte im p o r ta n te d a b ib lio g ra f ia q u e
p r o c u r a e x p lic a r a s p e c to s e s s e n c ia is d a a tiv id a d e h u m a n a ( s e ja n o q u e se
re f e r e às in s titu iç õ e s o u à m o ra lid a d e ) em te r m o s d e p r in c íp io s e v o lu c io -
n i s t a s " . P o r e x e m p lo , a e m e r g ê n c ia d o E s ta d o é e x p lic a d a c o m o a s o lu ç ã o
c o o p e r a t iv a p a r a u m p r o b le m a d e d ile m a d o s p r is io n e ir o s d e n p e s s o a s
(T a y lo r 1 9 7 6 ). H a y e k ( 1 9 5 5 , 3 9 ) s u s te n ta q u e i n te r e s s a n te s p r o b le m a s te ­
ó r ic o s e m e r g e m “ a p e n a s n a m e d id a e m q u e s e o b s e rv a m r e g u la rid a d e s q u e
n ã o fo ra m p r o je ta d a s p o r n in g u é m ” . H a y e k (1 9 7 9 ) a p re s e n ta u m a e x p li c a ­
ç ã o e v o lu c io n is ta s e g u n d o a q u a l a o r d e m “ e m e r g e ” d e re g ra s e s p o n tâ n e a s ,
d e m o d o m u ito s e m e l h a n t e à q u e la p e la q u a l a o r d e m e a e f i c iê n c i a s ã o
c ria d a s p e lo m e r c a d o , s e g u n d o A d a m S m ith .
E x a m in e m o s e s sa s p o s iç õ e s d c m o d o m ais d e ta lh a d o . S u p o n h a m o s q u e
“ s u r j a ” u m p a c to e n tr e a m a io r ia d a s p e s s o a s . S e e s s e p a c to p r o m o v e r os
in te r e s s e s de a lg u m a s p e s s o a s e p r e ju d ic a r o s in te r e s s e s d o s r e s ta n te s , t o r ­
n a -s e n e c e s s á r io im p ô -lo , de m o d o q u e a in s titu iç ã o c a p a z d e f a z ê - lo p re -

co m o o legisliiiivo. N o re.si;»Uc d o cjp íiu Jo , íie\c;iriü evse.s /jjoblejiiiis d e repi-e.seni;ifiio e cnco))i;i


coletiv a para concenlr;ir-m e nu c riação (ias instituições.
11. I\in i o a sp ecto institucionnl, ver S ch o tter (1 9 8 1 ) ou H ayek (1973, 1976, 1979); no que se refere ao itspecio
m oral, ver A x elro d (19844) u G m itliier (1986).
JO G O S O C U LT O S

c is a se r p r o je ta d a c o n s c ie n te m e n te . S e , p o ré m , p re s s u p u s e rm o s s im e tria c n trc
o s in d iv íd u o s , d u a s p o s s ib ilid a d e s s e a p re s e n ta m : o u to d o s ju lg a m p r e f e r í ­
vel r e s p e ita r e s s e p a c to o u to d o s p re fe re m v io lá - lo . E s c o lh e r u m d o s la d o s
d a r u a p a ra d ir ig ir o u e s c o lh e r f u so s h o r á r io s s e ria m e x e m p lo s d a p r im e i­
ra s itu a ç ã o ; p a g a r o s im p o s to s s e ria u m e x e m p lo d a s e g u n d a . N o p r im e iro
c a s o , o s p a c to s s e im p õ e m p o r fo rç a p r ó p ria . N o s e g u n d o , iss o n ã o o c o r ­
re , p o r q u e o s i n d iv íd u o s p r e f e r e m v io la r o p a c to , n ã o i m p o r ta n d o o q u e
o s o u tro s fa ç a m . M a is e s p e c ific a m e n te , a p r im e ir a s itu a ç ã o é u m j o g o de
m e ra c o o rd e n a ç ã o , e n q u a n to o s e g u n d o p o d e to m a r c o m o m o d e lo u m jo g o
d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s .
O ú n ic o c a s o e m q u e u m a e x p lic a ç ã o e v o lu c i o n is t a é s a ti s f a t ó r i a c
n o q u e s e re f e r e a u m j o g o d e m e r a c o o rd e n a ç ã o , o u s e ja , n o q u e se re fe re
ao p a c to q u e s e a u to - im p õ e . O m o tiv o d is s o é q u e a p e n a s p a c to s d e s s e tip o
d is p e n s a m m e c a n is m o s d c im p o s iç ã o .
O s o u tro s tip o s d e in s titu iç ã o q u e p o d e m su rg ir, d e a c o rd o c o m a b i­
b lio g r a fia e v o lu c io n is ta , sã o a q u e le s q u e r e s o lv e m a lg u m p r o b le m a d o tip o
d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s . C o n tu d o , e s s e s a rg u m e n to s e v o lu c io n is ta s e x i ­
g e m a lg u n s m e c a n is m o s e x ó g e n o s d e im p o s iç ã o o u n e g a m a r a c io n a lid a d e
d o s a g e n te s e m a lg u m a e ta p a d o a rg u m e n to . N o q u e s e r e f e r e a o j o g o d o
d ile m a d o s p r is io n e ir o s , s u s te n to u -s e q u e as ite r a ç õ e s p o d e m to rn a r p o s s í­
ve l a e s c o l h a d e c o o p e ra ç ã o m ú tu a ( A x e lr o d 1 9 8 4 ; S c h o tte r 1981; T a y lo r
1 9 7 6 ), e p o d e m le v a r o r e s u lta d o p a ra a f ro n t e ir a d e P a r e to . N o e n ta n to ,
s e , e m c a d a ite r a ç ã o , o s jo g a d o r e s c o n h e c e r e m a e s tr u tu r a d o j o g o , e le s
ta m b é m s a b e m q u e f ic a rã o e m m e lh o r s itu a ç ã o s e e s c o lh e re m d e s e rta r. N o s
te r m o s d a p r o p o s iç ã o 3 .5 , so b condições de inform ação com pleta, a c o o ­
p era çã o entre agentes racionais, interesseiros e independentes não pode d e ­
sen vo lver-se num jo g o tipo dilem a dos prisioneiros. O s a rg u m e n to s e v o lu ­
c io n is ta s s a c r ific a m o p r e s s u p o s to d a ra c io n a lid a d e . C o n f o r m e m o stre i na
d is c u s s ã o d e F u d e n b e rg e M a s k in , n o C a p ítu lo 3, a rg u m e n to s d e e s c o lh a
ra c io n a l s a c r ific a m o p r e s s u p o s to d e in fo r m a ç ã o c o m p le ta .
A x e lro d ( 1 9 8 4 ), p o r e x e m p lo , s u s te n ta q u e n ã o se e x ig e r a c io n a lid a d e
p a ra q u e s u rja c o o p e ra ç ã o , e q u e m esm o as e s p é c ie s a n im a is ou o s m ic ró b io s
“ c o o p e ra m ” . S e u e n fo q u e p re s s u p õ e in fo rm a ç ã o p e rfe ita . C o n tu d o , o a rg u ­
m e n to d c A x e lro d n e g lig e n c ia o falo d e q u e a r a c io n a lid a d e n ã o a p e n a s c
d e s n e c e s s á ria , c o m o ta m b é m é u m e m p e c ilh o ao d e s e n v o lv im e n to d e c o o p e ­
ra ç ã o , p o is c a d a a g e n te ra c io n a l sa b e q u e irá g a n h a r se s e d e s v ia r d as reg ra s.
A s s im , a lé m de to d a s as p o s s ív e is in s titu iç õ e s “ e m e r g e n te s ” , a p e n a s
p a c to s q u e s e a u to - im p õ e m ( p ro b le m a s p u r o s d e c o o rd e n a ç ã o ) p o d e m s o ­
b r e v iv e r sem m e c a n is m o s d e im p o s iç ã o . P o s tu la d o s d e q u e a e x is tê n c ia d as
in s titu iç õ e s m e lh o r a a s itu a ç ã o d e to d o s n ã o sã o s u fic ie n te s p a ra e x p lic a r
as in s t it u i ç õ e s p o l ít ic a s , p o is e la s e m g e ra l o m ite m p a r te d a h is tó r ia : a
im p o s iç ã o d c p a c to s . E m to d o s o s o u tro s c a s o s , o p la n e ja m e n to h u m a n o
c o n s c ie n te e o s in te r e s s e s q u e e m b a s a m fa z e m p a rte d o explanandum .
106 GF.ORGE S T S E B E U S

E m o u tro s te r m o s , as e x p o s iç õ e s c v o lu c io n is ta s e x p lic a m as i n s titu i­


ç õ e s p e la i n d ic a ç ã o d o s in te r e s s e s q u e c o n d u z ir ia m à s u a c r ia ç ã o . C o n tu ­
d o , p e lo m e n o s d e s d e a f e c u n d a o b r a d e O ls o n ( 1 9 6 5 ), v im o s c o m p r e e n ­
d e n d o q u e a c o m u n id a d e d c in te r e s s e s é u m a c o n d iç ã o n e c e s s á r ia m a s n ã o
s u fic ie n te p a ra q u e as p e s s o a s o r g a n iz e m e p r o m o v a m e s s e s in te r e s s e s . N ã o
é v e r d a d e q u e “ a p en a s n a m e d id a c m q u e a lg u m tip o d c o r d e m e m e r g e
e m r e s u lta d o d c u m a a ç ã o in d iv id u a l, m a s sem s e r p ro jeta d a p o r a lg u m
in d iv íd u o é que surge um problem a que requer e x p lic a ç ã o ” ( H a y e k 1 9 5 5 ,
3 9 ; g r if o m e u ). E m b o ra o s p r o b le m a s d e s u b p r o d u to s , isto é , c o n s e q ü ê n ­
c ia s n ã o p r e te n d id a s d a a tiv id a d e h u m a n a , n e c e s s ite m d e e x p lic a ç ã o t e ó r i ­
c a e m te r m o s d o s o b je tiv o s q u e fo ra m p r o m o v id o s c o n s c ie n te m e n te e q u e
c o n d u z ir a m a re s u lta d o s n ã o p r e te n d id o s , as e x p o s iç õ e s e v o lu c io n is ta s sã o ,
n a m e lh o r d a s h ip ó te s e s , i n c o m p le ta s , p o r q u e , c o m o o u tr a s v a r ia n te s d e
e x p lic a ç ã o f u n c io n a l nas c iê n c ia s s o c ia is , p r e te n d e m “ e x p lic a r ” u m a in s ti­
tu iç ã o t o m a n d o c o m o r e f e r ê n c ia as s u a s c o n s e q ü ê n c ia s b e n é f ic a s , se m a
e x is t ê n c i a d e u m a to r c o n s c ie n te . C o n tu d o , u m a v e z q u e e x is t e u m a to r
c o n s c ie n te , é fá c il c o m p r e e n d e r p o r q u e d e v e ria s e r c ria d a u m a in s titu iç ã o
e s p e c íf ic a c o m c o n s e q ü ê n c ia s b e n é fic a s p a ra to d o s.
O C a p ítu lo 3 fo rn e c e u u m a e x p lic a ç ã o rac io n a ) p a ra a e s c o lh a d a c o o ­
p e ra ç ã o n u m j o g o d o d ile m a d o s p ris io n e iro s: in fo r m a ç ã o in c o m p le ta . N o s
c a p ítu lo s s u b s e q ü e n te s, te n to e x p o r as s o lu ç õ e s in stitu c io n a is c o m o e s c o lh a s
c o n s c ie n te s d o s a to r e s e n v o lv id o s , a ssim q u e p e rc e b e m q u e as in s titu iç õ e s
e x is te n te s a n te rio rm e n te e s ta v a m e m c o n flito c o n s ta n te c o m se u s in te resse s.
N o C a p ítu lo 5, p o r e x e m p lo , m ilita n te s d o P a rtid o T r a b a lh is ta b ritâ n ic o te n ­
ta m re p e tid a s v e z es, sem s u c e s s o , in flu e n c ia r a p o lític a p a rtid á ria , até p e rc e ­
b e re m q u e a m a n e ira a p ro p r ia d a d e e x e rc e r in flu ê n c ia d u r a d o u r a s o b re as
p o lític a s d o p a rtid o é r e f o r m u la r as in stitu iç õ e s p a rtid á r ia s . N o C a p ítu lo 6 ,
p a ra re s o lv e r sé rio s p ro b le m a s re g io n a is , as e lite s b e lg a s e m p re g a m re c u rs o s
e c ria m in stitu iç õ e s fe d e ra is q u e a trib u e m d ire ito s e x c lu s iv o s a c a d a c o m u n i­
d a d e p a ra d e c id ir s o b re q u e s tõ e s d e im p o rtâ n c ia p a ra c ia . N o C a p ítu lo 7, ap ó s
c e rc a d c trin ta a n o s d e e s ta b ilid a d e d o s is te m a e le ito ra l n a Q u in ta R e p ú b lic a
f ra n c e s a , c o lig a ç õ e s v e n c e d o ra s m o d ific a m o s is te m a e le ito ra l d o p a ís p a ra
p e rm a n e c e r n o poder.
A s s im , as m u d a n ç a s in stitu c io n a is p o d e m d e m o ra r a o c o rre r, c iss o c ria
c o m f re q ü ê n c ia a im p re ss ã o e rrô n e a o u d e e s ta b ilid a d e , ou d e len ta e v o lu ç ã o
d a s in stitu iç õ e s . C o n tu d o , o m o tiv o d a le n tid ã o n a m u d a n ç a in s titu c io n a l é a
in c e rte z a q u e e n v o lv e as in stitu iç õ e s p o lític a s , o q u e as to rn a s e m e lh a n te s a
in v e s tim e n to s de lo n g o p ra z o , c o n fo rm e d e fe n d i n a S e ç ã o I. A o p e rc e b e re m
q u e o r e s u lta d o p o lític o é d e s v a n ta jo s o p a ra e le s , o s a to re s p o lític o s n ã o te n ­
t a m , n e c e s s a r ia m e n te , m o d if ic a r d e im e d ia to as in s titu iç õ e s p o lític a s . A o
c o n trá rio , c o n tin u a m a tra b a lh a r d e n tro d o m e s m o q u a d ro in stitu c io n a l, e s ­
p e ra n d o q u e , na p ró x im a o c a siã o , c o n d iç õ e s e x te rn a s a ja m a seu favor. S o ­
m e n te a p ó s u m a sé rie d e f ra c a s so s é p ro v á v e l q u e a in stitu iç ã o p o lític a s e ja
J O G O S O C U LT O S 107

q u e s tio n a d a . M e s m o e n tã o , p o ré m , le v a te m p o p a ra q u e s c f o rm e m n o v a s
c o lig a ç õ e s p o lític a s e m to rn o d e n o v a s s o lu ç õ e s in stitu c io n a is .
M e s m o q u e n ã o h o u v e s s e v a n ta g e m n e m m e to d o ló g ic a n e m s u b s ta n ­
c ia l p a ra u m a e x p o s iç ã o e v o lu c io n is ta d a s in s titu iç õ e s p o lític a s , h a v e ria um
s é rio in c o n v e n ie n te : u m a tal e x p o s iç ã o d e ix a r ia n a s o m b r a o a s p e c to m a is
i m p o r ta n te d a s in s titu iç õ e s p o lític a s - o p la n e ja m e n to h u m a n o c o n s c ie n te .
N a S e ç ã o III, a b o rd o o s d ife r e n te s tip o s d e i n s titu iç õ e s q u e o p la n e ja m e n to
h u m a n o c o n s c ie n te p ro d u z .

III. INSTITUIÇÕES EFICIENTES E REDISTRIBUTIVAS

A d a m S m ith c o n s id e r a d e s e já v e l q u e to d o s “ p e rs ig a m s e u s p r ó p rio s
in te r e s s e s d e s u a p r ó p ria m a n e ira ” ( H a y e k 19 7 6 , 153). A r a z ã o q u e f u n d a ­
m e n ta e s s a c r e n ç a , a lé m d o a rg u m e n to b e m c o n h e c id o d a “ m ã o in v is ív e l” ,
é q u e is s o c o n s titu i u m a r e g ra g e ra l q u e to d o s p o d e m u s a r; lo g o , n e n h u m a
p e s s o a e s p e c ífic a o u g r u p o d e p e s s o a s n a s o c ie d a d e é s is te m a tic a m e n te p r i­
v ile g ia d o . S e M a rx j u lg a e s s e a rg u m e n to in a c e itá v e l, n ã o é a p e n a s p o r q u e
n ã o a c e ita o a rg u m e n to d a m ã o in v is ív e l (n a v e rd a d e , su a o b r a e s tá re p le ta
d c e x e m p lo s d e a ç õ e s q u e le v a m a o p r ó p rio f ra c a s s o d e n tr o d o s is te m a c a ­
p i ta l is ta ) , m a s ta m b é m p o r q u e p e r c e b e u m a d e s ig u a l d a d e f u n d a m e n ta l e
s is te m á tic a , e p o r ta n to u m a in ju s tiç a , n u m a t r o c a e m q u e a p e s s o a v e n d e
s u a p r ó p r i a f o rç a d e t r a b a lh o c o m o u m a m e r c a d o ria . P a r a S m ith , a tro c a
d o tra b a lh o p o r d in h e ir o , c o m o q u a lq u e r o u tra fo rm a d e c o m é r c io , a u m e n ta
a e f i c iê n c ia d a a lo c a ç ã o d c r e c u r s o s . P a r a M a rx , a o c o n tr á rio , a “ f u n ç ã o ”
d e s s a tro c a é a c ria ç ã o d a m a is -v a lia , a r e p r o d u ç ã o d o p r ó p rio s is te m a c a ­
p ita lis ta e, p o r ta n to , a r e p r o d u ç ã o d a s d e s ig u a ld a d e s s o c ia is .
N ã o c re io q u e o a rg u m e n to p o s s a s e r re s o lv id o n e s se n ív e l te ó ric o . O
e x e m p lo d a s re la ç õ e s s o c ia is c a p ita lis ta s p o d e a ju d a r-n o s a c o m p r e e n d e r q u e
a m a io r ia d a s in s titu iç õ e s c u m a c o m b in a ç ã o d e e fic iê n c ia e r e d is trib u iç ã o ,
o u p e lo m e n o s p o d e s e r e x a m in a d a c o m o tal. A s s im , fa ç o a d is tin ç ã o e n tr e
d o is tip o s id e a is d e in s titu iç õ e s , q u e c h a m o d c eficientes e redistributivas.
A d is tin ç ã o é im p o r ta n te m e to d o lo g ic a m e n te p o rq u e , e m b o ra d iv e r s a s o b ra s
n a b i b li o g r a f ia s o b re o a s s u n to e x a m in e m a p e n a s u m tip o d e in s titu iç ã o ,
r e s u lta m c o m f r e q ü ê n c ia c o n c lu s õ e s d e s a u to r iz a d a s a r e s p e ito d e to d a s as
in stitu iç õ e s .
C h a m o d e e fic ie n te s a s in s titu iç õ e s q u a n d o e la s m e lh o ra m (c o m r e s ­
p e ito a o status q u o ) a c o n d iç ã o d c to d o s (o u q u a s e to d o s ) o s in d iv íd u o s ou
g r u p o s n u m a s o c ie d a d e . S e m e lh a n te s in s titu iç õ e s te ria m o a p o io u n â n im e
(o u q u a s e ) d a s o c ie d a d e . O e x e m p lo m a is a c a b a d o d e tal in s titu iç ã o s e ria
u m a q u e r e s o lv e s s e p r o b le m a s d e c o o rd e n a ç ã o o u d o d ile m a d o s p r is io n e i­
ro s. C h a m o as in s titu iç õ e s d e r e d is trib u tiv a s q u a n d o e la s m e lh o ra m as c o n ­
d iç õ e s d c um g r u p o n a s o c ie d a d e em d e trim e n to d e o u tro . T ais in stitu iç õ e s
G E O R C E S T S E liE U S

F i g u r a 4 .1 I n s t i t u i ç õ e s e f i c i e n t e s e ic c l i s t r i b u t i v a s .

s e ria m a p o ia d a s a p e n a s p o r u m a p a rte d a p o p u la ç ã o d e u m a s o c ie d a d e . O
e x e m p lo m a is p r o e m in e n te d e tal le g is la ç ã o s ã o as le is e le i to r a is 12.
A F ig u ra 4.1 m o stra u m a re p re s e n ta ç ã o g rá fic a d a s in stitu iç õ e s e fic ie n ­
tes e re d is trib u tiv a s n u m jo g o c o m d o is jo g a d o r e s . S e S Q r e p re s e n ta o stcitus
q u o , a á re a s o m b re a d a r e p re s e n ta as in stitu iç õ e s e fic ie n te s, p o is as v a n ta g e n s
d e a m b o s o s jo g a d o re s a u m e n ta m e m c o m p a r a ç ã o c o m o stcitus quo. O resto
d o d ia g r a m a r e p r e s e n ta as in s titu iç õ e s re d is tr ib u tiv a s , p o is a v a n ta g e m d e
um j o g a d o r d im in u i em re la ç ã o ao status quo. É p ro v á v e l q u e as in stitu iç õ e s
p o lític a s rea is e s te ja m fo ra d o s lim ite s e n tre as d u a s c a te g o ria s . A s p e rc e p ­
ç õ e s d o s a to re s p o lític o s e m r e la ç ã o a o im p a c to d e u m a in s titu iç ã o v a ria m ,
c o m p lic a n d o a in d a m a is a situ a ç ã o . C o n tu d o , a m a io r fo n te d e p ro b le m a s n a
c o n c e p ç ã o d a s in stitu iç õ e s e fic ie n te s é q u e o s a to re s d isp o rã o d e p la n o s a lte r­
n a tiv o s e m re la ç ã o ao r e s u lta d o d e s e ja d o . N a F ig u r a 4 .1 , p o r e x e m p lo , o s
jo g a d o r e s 1 e 2 irã o p re fe rir o s p o n to s S, c S2, re s p e c tiv a m e n te ; e , e m b o ra a
e s c o lh a e n tr e o status quo a n te r io r e q u a lq u e r u m d e s s e s p o n to s s e ja u m a
q u e s tã o d e e fic iê n c ia , a e s c o lh a e n tr e S e S , é u m a q u e s tã o d e r e d is trib u i-
çã o . A d e s p e ito d e s s a s o b je ç õ e s , in titu lo d e d is tr ib u iç ã o e fic ie n te q u a lq u e r
m o v im e n to a p a rtir d o status quo d e n tro d a á re a so m b re a d a .
A r g u m e n to s r e la tiv o s à e f ic iê n c ia d a s i n s titu iç õ e s p o d e m s e r e n c o n ­
tra d o s n a s o b r a s d e P la tã o , d e T h o m a s M o ru s e d o s s o c ia lis ta s u tó p ic o s ,

12. A distin çã o e n tre in stitu içõ es red istrib u tiv as e eficien tes to m a co m o base a c o ligaç ão q u e im p lem en ta a in s­
tituição. e não o lu g ar o n d e sc o rig in a a iniciativa, c om o a d istin ção e n tre “d o topo para a ba.se" e “d a base
pa ra o to p o " q u e ap arece em B anting e S im eon ( 1985).
JO G O S O C U LTO S 109

a s sim c o m o e m A d a m S m ith . D c m o d o g e ra l, a p re o c u p a ç ã o c o m a e fic iê n c ia


e m b a s a a m a io r ia d o s a rg u m e n to s e c o n ô m ic o s . P o d e - s c e n c o n tr a r a rg u m e n ­
to s e x p líc ito s s o b re a r e d is tr ib u iç ã o em M a rx , em M a q u ia v e l, c m M o s c a ,
e m M ic h e ls c n a m a io r ia d o s a u to r e s q u e s e o c u p a m d a d i s t r ib u i ç ã o d o
p o d e r n a s o c ie d a d e . E x a m in o c a d a tip o id e a l e m s e p a r a d o .

/ . In s titu iç õ e s e fic ie n te s

P o r q u e a s e m a n a tem s e te d ia s ? P o r q u e o s m o to r is ta s in g le s e s d iri­
g e m d o la d o d ir e ito d a r u a ? P o r q u e as le is p r o íb e m o t r a b a lh o a o s d o ­
m in g o s ? P o r q u e c a d a p a ís d a E u r o p a o c id e n ta l te m u m f u s o h o rá rio d i f e ­
r e n te ? P o r q u e te m o s h o r á r io s d e v e rã o ? P o r q u e as p e s s o a s c r ia r a m “ o
E s t a d o ” , o u s e ja , u m a in s tâ n c ia c e n tr a l c o m o m o n o p ó lio d c u m p o d e r
c o e rc iv o le g ítim o ?
A r e s p o s ta c o s tu m e ir a a e s s a s q u e s tõ e s e n v o lv e a rg u m e n to s d e e f i ­
c iê n c i a . E m p r im e ir o lu g a r, o s r e s u lta d o s d e u m e s ta d o d c a n a r q u i a s ã o
c o m p a r a d o s c o m o s r e s u lta d o s d e a lg u m tip o d c o r d e m . E m s e g u n d o lu ­
g a r, m o s tr a - s e q u e to d o s fic a m e m m e lh o r s itu a ç ã o q u a n d o é i m p o s to a l­
g u m tip o d e o r d e m . E m te r c e ir o lu g ar, e o a rg u m e n to a q u i p o d e to rn a r -s e
p r e c ip ita d o e v a g o (c o rn o n a e x p lic a ç ã o c v o lu c io n is ta d a s in s titu iç õ e s ) , a
o r d e m é a c e ita p o rq u e é e f i c ie n t e n o s te r m o s d e P a r e to , o u s e ja , p o r q u e
m e lh o r a as c o n d iç õ e s d e to d o s . E x a m in e m o s e s s e s a rg u m e n to s p o r m e n o r i­
z a d a m e n te .
É v e rd a d e q u e , n o q u e s e re fe re a p r o b le m a s d e c o o rd e n a ç ã o o u jo g o s
d c d ile m a d o s p r is io n e ir o s , q u a s e q u a lq u e r tip o d e o r d e m r e p r e s e n ta u m a
m e lh o r ia em re la ç ã o à a n a rq u ia 13. S e as p e s so a s s ã o in d if e re n te s e m r e la ç ã o
à s s o lu ç õ e s p o s s ív e is , te re m o s e n tã o u m a in s titu iç ã o p u r a m e n te e fic ie n te
p r o je ta d a p a ra r e s o lv e r p ro b le m a s d e c o o rd e n a ç ã o . T o d a v ia , e s s a s itu a ç ã o é
e x tr e m a m e n te im p r o v á v e l 1'1. E m a is f re q ü e n te as p e s s o a s s e c o n fr o n ta r e m
c o m p r o b le m a s d o tip o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s . D is c u to e m d e ta lh e as
s o lu ç õ e s in s titu c io n a is p a ra o s p r o b le m a s d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s d e v i­
d o à s u a f r e q ü ê n c ia e à s u a im p o r tâ n c ia c o n c e itu a i.

D igo i/iKiM’ porq u e, dc o u tro modo, p o d er-se-ia defender, co m b ase n isso, um a d ita d u ra b rutal. lim b o ra um a
ditadura possa rep rese n ta r um a m elhoria de e ficiên cia em relação íi a n aiq u ia . e la pode não ser d esejad a por
n inguém da p opulação. F.sse é um e rilério im portante para d istin g u ir e n tre e x em p lo s d ifere n tes d e in stitu i­
ç ões e ficientes. M esm o q u e a a n arq u ia seja o resu ltad o q u e as p esso as p refiram em ú ltim o lugar, e las podem
ter preferên c ia s e n tre tipos d iferen tes de ordens.
M esm o um p ro b lem a a p aren tem en te inócuo, c om o cm qual lado da rua as p esso as g o stariam d e dirigir, pode
im plicar d isco rd ân cia (co m o 110 pleb iscito sueco sobre a q u estão in d icad a). Na v erdade, os p ro p rietário s de
c arros terão um in teresse velado pelo .\initis t/ito, c o.s fabrican tes dc au to m ó v eis irão p referir um a m udança
d a lei. P arece-m e que é p reciso utilizar caso s ex trem am en te triv iais (com o atra v essar a ru a co m o sinal verde
ou verm ellio) para fo rn ecer e x em p lo s de instituições de c o o rd en ação pura.
110 G E O R C E S T S E liE U S

N a b ib lio g r a f ia e s p e c ia liz a d a fo ra m p r o p o s ta s d iv e r s a s s o lu ç õ e s q u e
c o n d u z e m a c o o p e ra ç ã o n u m jo g o d e d ile m a d o s p r is io n e iro s. R e s u m o -a s to ­
d a s, m a s c o n c e n tro -m e n as s o lu ç õ e s in stitu c io n a is . D e a c o rd o c o m a p r o p o ­
s iç ã o 3.5 n o A p ê n d ic e A d o C a p ítu lo 3, e s s a s s o lu ç õ e s v io la m o p r e s s u p o s to
d a ra c io n a lid a d e , d o in te re s s e p ró p rio o u d a in d e p e n d ê n c ia d o s jo g a d o r e s .
(1 ) Violações da racionalidade. A rth u r S tin c h c o m b e (1 9 8 0 ) a p re s e n ta
a q u e s tã o : “ P o r q u e a m a io r ia d a s p e s s o a s e x e rc e m su a p r o fis s ã o ? ” . E le r e s ­
p o n d e q u e c o n s ta n te m e n te s ã o re s o lv id o s jo g o s d e d ile m a d o s p r is io n e ir o s
“ s e m s e q u e r te r e m s e c o lo c a d o e f e tiv a m e n te n a e x p e r iê n c ia c o ti d i a n a d a
m a io ria d e n ó s ” . S u a r e s p o s ta in d ic a q u e o s in d iv íd u o s n ã o te n ta m m a x im iz a r
s e u s o b je tiv o s e, p o rta n to , n e g a m o p r e s s u p o s to d a ra c io n a lid a d e .
(2 ) Violações do interesse próprio. S e c a d a j o g a d o r , ao j o g a r o j o g o
d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , te m e m m e n te c o n s id e r a ç õ e s o u tra s q u e n ã o o
in te r e s s e p r ó p r io , e n tã o o r e s u lta d o d e v e s e r c o o p e r a ç ã o m ú tu a . N o c a s o
m a is ó b v io , c a d a jo g a d o r p o d e e s ta r p r e o c u p a d o c o m o b e m - e s ta r d e seu
o p o n e n te . C o m o a lte rn a tiv a , o s jo g a d o r e s p o d e m e s ta r in te r e s s a d o s n a s o ­
b r e v iv ê n c ia d e s u a e s p é c ie , c o m o n a b io lo g ia e v o lu c io n is ta ( A x e lr o d e H a ­
m ilto n 1 9 81; M a y n a r d S m ith 19 8 2 ). N a v e rd a d e , a b i o lo g ia e v o lu c io n is ta
u tiliz a u m a f o rç a c a u sa i d e n o m in a d a adaptação reprodutiva, q u e e x p lic a a
s o b r e v iv ê n c ia d a s e s p é c ie s q u e m a x im iz a m o n ú m e r o d e su a p r o le ( E ls te r
19 8 3 ). E m to d o s e s s e s c a s o s , p o d e -s e m o s tr a r q u e o r e s u lta d o d e s s a s c o n ­
s id e r a ç õ e s a ltr u ís ta s é a m o d if ic a ç ã o d o s p a y o ffs d o j o g o . T a y lo r (1 9 7 6 )
m o s tro u q u e e s s a m o d if ic a ç ã o p o d e s e r s u fic ie n te p a ra tra n s f o r m a r u m jo g o
d e d ile m a d o s p r is io n e ir o s n u m j o g o d o s e g u ro ( E ls t e r 1 9 7 8 ; S e n 1 9 6 7 ).
(3 ) Violações da independência. E s s a v io la ç ã o p o d e e fe tu a r- s e d e d u a s
f o rm a s: p o r a lg u m tip o d e a r g u m e n to a u to - r e f le x iv o o u m o ra l, o u p e la c r i a ­
ç ã o d a s in s titu iç õ e s a p ro p r ia d a s .
(a ) A rgum entos a uto-reflexivos e m orais. A r g u m e n to s c o m o a te o r ia
d o s m e ta jo g o s d e H o w a rd ( 1 9 7 1 ) e o im p e r a t i v o c a te g ó r ic o k a n ti a n o se
in c lu e m n a p r im e ir a c a te g o r ia . S e u p o n to c o m u m é q u e e m p r e g a m a lg u m
tip o d e e x p e r im e n to m e n ta l q u e , s e f o r a c e ito , r e s o lv e r á o d ile m a e m fa ­
v o r d a s o lu ç ã o c o o p e ra tiv a .
H o w a rd ( 1 9 7 1 ) s o lu c io n a o p r o b le m a f a z e n d o o s a to re s e m p r e g a re m
e s tr a té g ia s c o n d ic io n a is , isto é, re s p o s ta s às e s tr a té g ia s d o o u tro . R e p e tin d o
d u a s .v e z e s e s s e e x p e rim e n to in te le c tu a l, e le o b té m u m a s itu a ç ã o e m q u e a
c o o p e ra ç ã o m ú tu a é o e q u ilíb rio d e N a s h d e u m n o v o jo g o . A s o lu ç ã o k a n -
tia n a s c b a s e ia na q u e s tã o : “o q u e o c o rr e r ia sc o m eu o p o n e n te r e a g is s e d a
m e s m a m a n e ira q u e e u ? ” . A m b a s as s o lu ç õ e s a u m e n ta m as p r o b a b ilid a d e s
d e in s tr u ç ã o e d e r e ta lia ç ã o a té seu v a lo r m á x im o ( v e r C a p ítu lo 3) c, p o r ­
ta n to , c ria m u m a to ta l i n te r d e p e n d ê n c ia e n tr e o s jo g a d o r e s . C o n tu d o , a m ­
b o s fo ra m c ritic a d o s c o m o irr a c io n a is , p o is, q u a lq u e r q u e s e ja a e x a tid ã o
d o a rg u m e n to , c a d a jo g a d o r , n o ú ltim o m o m e n to , d e c id e d e m a n e ira in d e ­
p e n d e n te d o ( s ) o u tro ( s ) jo g a d o r ( e s ) . D e s s e m o d o , a d e c is ã o d e c a d a j o g a ­
J O G O S O C U LTO S III

d o r n ã o p o d e te r e fe ito s o b re o o p o n e n te . E m o u tro s te r m o s , s e ja q u a l fo r
o r a c io c ín io , ele não exerce qualquer efeito causai s o b re o o p o n e n te .
(b ) A rranjos institucionais. H á d iv e rs a s m a n e ira s p e la s q u a is as in s ti­
tu iç õ e s p o d e m p r o m o v e r a c o o p e ra ç ã o n u m jo g o d e d ile m a d o s p ris io n e iro s.
Facilitando a com unicação e o m onitoram ento. R a p o p o r t ( 1 9 7 4 , 18)
u t il iz a o e x e m p lo d a e v a c u a ç ã o o r d e n a d a d e u m te a t r o c m c h a m a s p a ra
s u s te n ta r q u e e x is te um c o n flito e n tr e a r a c io n a lid a d e in d iv id u a l e a c o le ­
tiv a : a r a c i o n a lid a d e c o le tiv a “ e s tá i n c o r p o r a d a e m to d o a to s o c ia l d i s c i ­
p lin a d o , p o r e x e m p lo , n a e v a c u a ç ã o o r d e n a d a d c u m te a t r o e m c h a m a s ,
e m q u e a g ir d e a c o rd o c o m a ‘r a c io n a lid a d e in d iv i d u a l ’ ( te n ta r s a ir o m a is
r á p id o p o s s ív e l) p o d e r e s u lta r n u m d e s a s tre p a r a to d o s , o u se ja , p a ra c a d a
a to r ‘r a c io n a l in d iv id u a l’ ” . E s s e é u m b o m e x e m p lo e m q u e a in te r d e p e n ­
d ê n c ia d e e s c o lh a s p o d e s e r o b s e r v a d a ( p o r u m a t e r c e ir a p e s s o a ) e c o m ­
p r o v a d a ( p e lo s p r ó p rio s a to re s ). A s s im , é o m o n ito ra m e n to q u e t o r n a p o s ­
s ív e l a e v a c u a ç ã o o r d e n a d a 15.
Perm itindo contratos de com prom isso. S e d o is jo g a d o r e s c o n f r o n t a ­
d o s c o m u m d ile m a d o s p r is io n e ir o s fiz e re m a fir m a ç õ e s c o m o “ E u c o o p e ­
ra re i s e o m e u o p o n e n te c o o p e r a r ” , e a s s in a re m c o n tr a to s d e c o m p r o m is s o
c o m e s s a f in a lid a d e , o r e s u lta d o s e rá a c o o p e ra ç ã o m ú tu a ( M y e r s o n 19 8 7 ).
N a v id a re a l, m u ita s in s titu iç õ e s s o fis tic a d a s tê m e x a ta m e n te e s s e p r o p ó s i­
to: p e r m itir q u e as p e s s o a s a s s in e m c o n tr a to s d e c o m p r o m is s o , t o rn a n d o -
lh e s im p o s s ív e l r e n e g a r s u a s p r o m e s s a s 16.
M odificando a m atriz de p a y o f f do jo g o . O g o v e rn o o u a lg u m o u tro
a g e n te e x te r n o p o d e ria e s ta b e le c e r re c o m p e n s a s p a ra a c o o p e ra ç ã o o u p e ­
n a lid a d e s p a ra a tra iç ã o . O r e s u lta d o é a t r a n s fo r m a ç ã o d o j o g o d o d ile m a
d o s p r is io n e ir o s n u m jo g o d o s e g u ro o u d o g a lin h a . N e s s e s c a s o s , a e s tr a ­
té g ia n ã o - c o o p e r a tiv a n ã o é m a is d o m in a n te , c p o d e m s e r a d o ta d a s s o lu ­
ç õ e s c o o p e ra tiv a s .
T ransform ação do jo g o . S h e p s le e W e in g a s t (1 9 8 1 ) s u s te n ta m q u e o
m o tiv o d a e x is t ê n c i a d e ta n to s p r o je to s d e “ f u n d o s d e m e l h o r ia s ” (j?ork
ba rrei ) n o C o n g r e s s o d o s E s ta d o s U n id o s n ã o é a p r á tic a d a t r o c a d e fa v o ­
re s p o lític o s e n tr e p a r la m e n ta r e s ( logroU ing ), m a s o f a to d e q u e to d o s o s
p r o je to s s ã o r e u n id o s e m p r o je to s g ig a n te s c o s . C o m e fe ito , é m e n o s - p r o ­
v á v e l q u e a tro c a d e f a v o r e s , p o r si s ó , p r o d u z a a u n a n im id a d e s o b re p r o ­
j e t o s d c f u n d o s d e m e lh o r ia d o q u e e s s e a rr a n jo in s titu c io n a l, p o r q u e e s se
ú ltim o n ã o p e r m i te q u a lq u e r tip o d e c o m p o r t a m e n to o p o r tu n i s ta . C a d a
m e m b r o d o C o n g r e s s o m a n té m s u a o r d e m d e p r e f e r ê n c ia s ; e le p r e f e r ir ia
q u e o se u p r o je to f o s s e a c e ito e to d o s o s o u t r o s ( ig u a l m e n t e i n e f ic a z e s )

15. RxuTy o Hardin (1982) também sustentam que a racionalidade individual, e não a coletiva, dirige u evacuação
ordenada.
16. C onsiderem -se todos os p orm enores legais e com plicações que p erm item ao ven d ed o r c ao com p rad o r d e um a
casa e tc tu a r su a tran sação de m an eira sim ultânea.
C E O fíG E S T S E H E U S

fo ss e m re je ila d o s . P o ré m , e s s e id ea l n ã o p o d e re a liz a r -s e . E le te m d e a c e ita r


o p a c o lc o u e n te r r a r o p r o je to , i n c lu s iv e o se u p r ó p r io . E m t e r m o s d o
m o d e lo d e s e n v o lv id o n o C a p ítu lo 3 , p = q = I- N ã o h á p o s s ib i li d a d e d e
d e s e r ç ã o p o r p a rte d e um p a rla m e n ta r sem d e s e n c a d e a r a r e ta lia ç ã o im e d ia ta
e a u to m á tic a p o r p a rte d o s r e s ta n te s . T a y lo r c W a a rd ( 1 9 8 2 ) s u s te n ta r a m
q u e c a s o s d e b e m p ú b l ic o d u v id o s o c o m o o s r e s u l ta d o s d c v o ta ç õ e s e m
q u e a d e c is ã o d c u m in d iv íd u o (o “ p i v ô ” ) é s u f i c ie n t e p a ra m o d if ic a r o
r e s u lta d o , n ã o s ã o e x e m p lo s d e u m j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s , m as
d e u m j o g o d o g a lin h a . R u n g e ( 1 9 8 4 ) p e n s a q u e as i n s titu iç õ e s p r o p ic ia m
m e lh o r c o o rd e n a ç ã o p o r q u e c ria m j o g o s d o s e g u ro . A s s im , e m d iv e r s o s
c a s o s , q u a n d o e m e r g e c o o p e ra ç ã o , p o d e -s e s u s te n ta r q u e n ã o se tra ta m a is
d e um j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s .
C riação de um quadro assim étrico. A p r in c ip a l c a r a c te r ís tic a d e s e ­
m e lh a n te s a b o rd a g e n s é q u e e la s m o d ific a m o j o g o in ic ia l p e la p re s u n ç ã o
d e a lg u m tip o d e a s s im e tr ia e n tr e o s d o is jo g a d o r e s . U m d e le s p o d e d e c la ­
r a r s u a p o s iç ã o , o u é o jo g a d o r p r in c ip a l; o o u tro r e s p o n d e , o u a d a p ta seu
c o m p o r ta m e n to à n o v a s itu a ç ã o . B r a m s ( 1 9 7 5 , 6 0 7 ) a d m ite a c o m u n i c a ­
ç ã o e n tr e o s j o g a d o r e s e p a p é is d is tin to s d o líd e r e d o s e g u id o r, p a ra o b te r
a “ ú n ic a s a íd a lim p a d o d ile m a ” .
T h o m p s o n e F a ith (1 9 8 1 ) a fir m a m q u e as in s titu iç õ e s s o c ia is f o r n e ­
c e m e fe tiv a m e n te e s s e c e n á r io a s s im é tric o , n o q u a l o s in d iv íd u o s q u e s e e n ­
c o n tr a m e m p o s iç ã o s u p e rio r n a h ie r a rq u ia p o d e m a s s u m ir c o m p r o m is s o s ,
e a q u e le s e m p o s iç ã o m a is b a ix a e s c o lh e m , a p a r t i r d a í, s u a s e s tr a té g ia s .
E m o u tr o s t e r m o s , a lid e r a n ç a d e fin e a s r e g r a s d o j o g o e as p e n a lid a d e s
p a ra a d e s o b e d iê n c ia , e o s m e m b ro s d a o r g a n iz a ç ã o d e c id e m a d e q u a r - s e ou
n ã o às re g ra s . T h o m p s o n c F a ith s u s te n ta m q u e c o m a u x ílio d e s s e m o d e lo
p o d e m s e r c o m p r e e n d id a s a m a io r ia d a s s itu a ç õ e s s o c ia is ( m e s m o as e le i ­
ç õ e s ) . D if e r e n te m e n te d e B ra m s , a firm a m q u e o seu q u a d ro a s s im é tr ic o é
s u b s ta n c ia lm e n te d iv e r s o d o d ile m a d o s p r is io n e iro s .
Iterações. C o n f o r m e e x p u s n o C a p ítu lo 3, q u a n d o rev i o “ te o r e m a p o ­
p u la r ” e a p ro v a d e F u d e n b e rg e M a sk in (1 9 8 6 ), a c o o p e ra ç ã o m ú tu a p o d e
s e r u m e q u ilíb r io ( p e r f e ito ) n a r e p e tiç ã o d o j o g o d o d ile m a d o s p r is io n e i­
ro s, q u a n d o há u m n ú m e ro in fin ito d e r o d a d a s o u q u a n d o a in fo rm a ç ã o e s tá
in c o m p le ta .
R e s u m in d o o q u e a firm a m o s s o b re as in s titu iç õ e s e fic ie n te s : e la s im ­
p u ls io n a m o s re s u lta d o s e m d ire ç ã o à f ro n te ir a d e P a r e to , o u se ja , m e lh o ­
ram a s itu a ç ã o p a ra to d o s (o u q u a s e to d o s) o s j o g a d o r e s . R e s o lv e m p r o b le ­
m a s d e c o o rd e n a ç ã o o u d o d ile m a d o s p r is io n e ir o s . I n s titu iç õ e s e fic ie n te s
q u e re s o lv e m p r o b le m a s d e c o o rd e n a ç ã o sã o b a s ta n te ra ra s , m as, c o m o n e s ­
se c a s o o s a c o rd o s s c a u to -im p õ e m , n e s se c a so , e la s p o d e m s e r c o n s e q ü ê n ­
c ia d a e v o lu ç ã o s o c ia l, c o n fo r m e m o stre i n a S e ç ã o II. A b ib lio g ra f ia s o b re
o a s s u n to p r o p ô s s o lu ç õ e s n ã o in stitu c io n a is p a ra o d ile m a d o s p ris io n e iro s ;
in c lu e m v io la ç õ e s d a r a c io n a lid a d e o u d o i n te r e s s e p r ó p r io e a rg u m e n to s
J O G O S O C U LTO S

a u to - r e f le x iv o s o u m o ra is. M a is fre q ü e n te s e c o n v in c e n te s , 110 e n ta n to , são


as te n ta tiv a s d e p r o je ta r in s titu iç õ e s q u e e lim in e m o s p ro b le m a s d o d ile m a
d o s p r is io n e ir o s . T a is in s titu iç õ e s a p re s e n ta m as s e g u in te s c a r a c te r ís tic a s :
f a c ilita m a c o m u n ic a ç ã o e o m o n ito ra m e n to , p e rm ite m c o n tr a to s d e c o m ­
p ro m is s o , m o d ific a m a m a triz d e p a y o ff d o j o g o , tra n s fo r m a m o jo g o , c ria m
u m q u a d ro a s s im é tr ic o o u c ria m u m j o g o ite ra tiv o .
O C a p ítu lo 6 a p re s e n ta um c a s o d e in stitu iç ã o e fic ie n te : a c o n s titu iç ã o
b e lg a . M o s tro q u e 0 p ro je to in stitu c io n a l é s o fis tic a d o o b a s ta n te p a ra p r o m o ­
v e r a c o o p e ra ç ã o m ú tu a e n tre e lite s p o r c e rto te m p o , ao p a sso q u e , e m o u tro s
m o m e n to s, e le m e lh o ra a in d a m ais o s res u lta d o s s o c ia is, d e ix a n d o 0 p o d ei' d e
to m a d a d e d e c is ã o p a ra o s g ru p o s m ais e n v o lv id o s n a q u e s tã o .

2 . In s titu iç õ e s r e d is tr ib u tiv a s

O m e u tra ta m e n to d a s in s titu iç õ e s r e d is trib u tiv a s c m e n o s te ó r ic o d o


q u e o d a s in s titu iç õ e s e fic ie n te s . N ã o sei a té o n d e p o d e ir a te o r iz a ç ã o s o ­
b re as in s titu iç õ e s r e d is trib u tiv a s . O p r o b le m a é q u e a p re s e n ta r u m a m u d a n ­
ç a in s titu c io n a l c o n tr a p o s ta a o u tra é u m a q u e s tã o d e e s c o lh a p o lític a e d e
f o rm a ç ã o d e c o lig a ç ã o . A m e s d e c o m e ç a r, c o n tu d o , te m o s d e r e c o n h e c e r
e m a p e a r o u n iv e rs o d a s in s titu iç õ e s r e d is trib u tiv a s .
A s in stitu iç õ e s re d istrib u tiv a s p o d e m s e rv ir a d o is p ro p ó sito s d istin to s:
p r e s e r v a r o s in te re s s e s d a c o lig a ç ã o d o m in a n te o u u m a n o v a m a io r ia c o m ­
p o s ta d o s p e rd e d o re s a n te rio re s e d e a lg u n s d o s v e n c e d o re s a n te rio re s . C h a ­
m o 0 p rim e iro tip o d e instituição de consolidação, p o is a m a io ria é p re s e r­
v a d a e m e lh o ra s u a p o s iç ã o . O s e g u n d o tip o c h a m o d e instituição tipo "new
d e a l”, p o rq u e m o d ific a as p o lític a s d e m a n e ira s ig n ific a tiv a e a lte ra a m a io ­
ria. Tal a lte ra ç ã o p o d e o rig in a r-s e n a m in o ria q u e d e s e ja fa z e r p a rte d o g o ­
v e rn o , o u p o d e s u rg ir c o m o u m a a b e rtu ra d e u m d o s p a rc e iro s d a m a io ria
a n te rio r em fa v o r d a m inoria. A F ig u ra 4 .2 e s c la re c e a d istin ç ã o e n tre in s ti­
tu iç õ e s d e c o n s o lid a ç ã o e tip o new deal.
I m a g in e m o s um p a rla m e n to c o m trê s a to r e s p o lític o s ( p a r tid o s ) , n e ­
n h u m d o s q u a is d isp õ e d a m aio ria d o s v o to s. O q u e a c o n te c e sc fo r a p re s e n ­
ta d a u m a im p o r ta n te q u e s tã o in stitu c io n a l? A a p re s e n ta ç ã o d e u m a q u e s tã o
in stitu c io n a l e m n o s s a s o c ie d a d e p o d e se r c o n c e itu a d a c o m o a a p re s e n ta ç ã o
d c q u a lq u e r o u tra q u e s tã o (p o lític a ). A F ig u ra 4 .2 A fo rn e c e u m a r e p re s e n ta ­
ç ã o d e s sa s itu a ç ã o n u m e s p a ç o u n id im c n sio n a l. C o m o o s a to re s 1 e 2 e s tã o
m ais p ró x im o s um d o o u tro , fo rm a m a c o lig a ç ã o g o v e rn a m e n ta l, e n q u a n to o
a to r 3 p e rm a n e c e na o p o s iç ã o . A s F ig u ra s 4 .2 B e 4 .2 C s ã o d u a s c o n s e q ü ê n ­
c ia s p o s s ív e is d a a p re s e n ta ç ã o d e u m a n o v a q u e stã o .
N a F ig u ra 4 .2 B a in tr o d u ç ã o d a n o v a in s titu iç ã o é a p o ia d a p e la c o li ­
g a ç ã o q u e e s tá 110 p o d e r (a to r e s I e 2 ) e c o m b a tid a p e la o p o s iç ã o ( a to r 3).
O s a to re s I e 2 p ro m o v e m a n o v a in s titu iç ã o p o r q u e e la s e rv e a s e u s in te -
U4 GEORGES TSE B E U S

F ig u ra 4 .2 A P o s iç õ e s d o s a to re s a n te s d a a p r e s e n ta ç ã o d e u m a q u e s tã o in s titu c io n a l.
F ig u ra 4 .2 B P o s iç õ e s d o s a to re s a p ó s a a p re s e n ta ç ã o d c u m a q u e s tã o in s titu c io n a l - in s t i­
tu iç ã o d e c o n s o lid a ç ã o .
F ig u ra 4 .2 C P o s iç õ e s d o s a to re s a p ó s a a p r e s e n ta ç ã o d e u m a q u e s tã o in s titu c io n a l - in s t itu i­
ç ã o re d is trib u tiv a .

re s s e s m a is d o q u e o status quo ( p re s s u p o n d o -s e r a c io n a lid a d e ). A s s im , a


F ig u ra 4 .2 B r e p r e s e n ta o re s u lta d o d a in tr o d u ç ã o d c u m a in s titu iç ã o d e c o n ­
s o lid a ç ã o . O C a p ítu lo 7 a p re s e n ta ta) in s titu iç ã o d e c o n s o lid a ç ã o d e m o d o
d e ta lh a d o : a lei e le ito r a l f ra n c e s a . N o C a p ítu lo 7 , v o lto a e s s a f ig u r a e e x ­
p lic o c o m o s e d e ra m as m u d a n ç a s n o s is te m a e le ito r a l. D e m o d o g e ra l, as
leis e le ito r a is s ã o o e x e m p lo m a is re p r e s e n ta tiv o d e in s titu iç õ e s d e c o n s o ­
lid a ç ã o , p o is e la s p o s s u e m p r o p rie d a d e s r e d is tr ib u tiv a s b e m c o n h e c id a s e
s ã o e s ta b e le c id a s p e lo g o v e rn o , isto é , p e la c o lig a ç ã o a n te rio r.
N a F ig u ra 4 .2 C , a in tr o d u ç ã o d a n o v a in s titu iç ã o é a p o ia d a p o r u m a
n o v a m a io r ia . O s a to re s 2 e 3 e n c o n tr a m - s e m a is p r ó x im o s e n tr e si d o q u e
o s a to r e s 1 e 2 a p ó s a a p re s e n ta ç ã o d a n o v a q u e s tã o in s titu c io n a l, d e m o d o
q u e a c o lig a ç ã o a n te r io r s e r o m p e e se fo rm a u m a n o v a c o lig a ç ã o . A i n i ­
c ia tiv a p a r a e s s a n o v a in s titu iç ã o p o d e te r p a rtid o d o a to r 3 , q u e a n te r io r ­
J O G O S O CU LTO S /1 5

m e n te e s ta v a e x c lu íd o d o p o d e r a fim cie r o m p e r a c o lig a ç ã o q u e e s ta v a n o


p o d e r, o u p o d e te r p a rtid o d o a to r 2 , q u e q u e r ia p r o m o v e r s e u s in te r e s s e s
a in d a m a is e j u lg o u m a is p r o v e ito s a a a lia n ç a c o m o a to r 3. I n d e p e n d e n ­
t e m e n te d e c o m o a n o v a in s titu iç ã o fo i i n tr o d u z id a , a F ig u r a 4 .2 C m o s tr a
q u e e la é a p o ia d a p o r a lg u n s d o s v e n c e d o r e s a n te r io r e s ( a t o r 2 ) e p e lo s
p e rd e d o r e s a n te r io r e s ( a to r 3 ), d e fo rm a q u e s e tr a ta d e u m in s titu iç ã o d o
tip o new deal. O C a p ítu lo 5 f o rn e c e u m e x e m p lo d e u m a in s titu iç ã o new
d ea l n a e s tr u tu r a in te r n a d o P a rtid o T r a b a lh is ta b ritâ n ic o .
O u tr o e x e m p lo d e in s titu iç ã o re d is trib u tiv a d o tip o new d ea l é a a d o ­
ç ã o d o d ire ito d e v o to n o s p a ís e s e u ro p e u s . N e s s e c a so , u m a d a s d u a s f a c ­
ç õ e s c o n c o rr e n te s d a c la s s e d o m in a n te , o s c o n s e r v a d o r e s e o s lib e ra is , o f e ­
re c ia m o d ire ito d e v o to p a ra q u e p u d e s se m s e r re c o m p e n s a d o s p e lo s n o v o s
e le ito r e s n a s p ró x im a s e le iç õ e s ( B e n d ix 1964; P o g g i 1 978; R o th 1973).
P a ra in s e r ir e s s a d is c u s s ã o d o s d ife r e n te s tip o s d e p r o je to in s titu c io n a l
n o q u a d ro d o s s u b jo g o s , im a g in e m o s o jo g o e n tr e o s a to re s 1 e 2 e a e s tr u ­
tu ra in s titu c io n a l e x is te n te (S Q ). S e a e s tr u tu r a in s titu c io n a l m u d a , o s d o is
a to r e s p a rtic ip a m d e u m j o g o d ife r e n te . N a v e rd a d e , o s jo g a d o r e s p o d e m
j o g a r d iv e rs o s jo g o s p o s s ív e is . E s s e s j o g o s s ã o r e p r e s e n ta d o s p e lo s n ú m e ­
ro s 1, ..., n na F ig u ra 4 .3 . A s s im , o j o g o a tu a l e s tá in s e rid o n u m j o g o m a io r
q u e d iz r e s p e ito às re g r a s d o s j o g o s . N u m a r e p r e s e n ta ç ã o e s q u e m á tic a , o
j o g o d a m u d a n ç a in s titu c io n a l c o n s is te em p a rtir d a e s tr u tu r a in s titu c io n a l
(S Q ) p a ra u m a d a s o u tra s e s tr u tu r a s . E s s a tra n s iç ã o p o d e e fe tu a r- s e d e trê s
m a n e ira s . E m p r im e ir o lu g a r, p o d e e fe tu a r- s e c o m a c o n c o rd â n c ia d o s a to ­
re s , p o r q u e e le s ju lg a m q u e is s o s e ja d e se u in te r e s s e c o m u m . N e s s e c a so ,
a m u d a n ç a p r o d u z u m a in s titu iç ã o e fic ie n te . E m s e g u n d o lu g ar, s e u m d o s
a to re s te m e m m ã o s o p o d e r in s titu c io n a l, p o d e m o d if ic a r a in s titu iç ã o d e
a c o rd o c o m s e u s p r ó p rio s in te re s s e s . N e s s e c a so , re firo -m e a in s titu iç õ e s d e
c o n s o lid a ç ã o . E m te r c e ir o lu g a r, o a to r m a is f ra c o p o d e b u s c a r r e f o r ç o s ,
fo rm a r c o lig a ç õ e s e m o d ific a r a in s titu iç ã o q u e n ã o lh e fo i fa v o rá v e l. N e s ­
s e c a so , r e firo -m e a in s titu iç õ e s new deal.
O s c ie n tis ta s s o c ia is d is c o rd a ra m s o b re a n a tu r e z a d a s in s titu iç õ e s d e
m o d o g e ra l e d a s in stitu iç õ e s re d is trib u tiv a s e m p a rtic u la r. O s e c o n o m is ta s ,
p o r e x e m p lo , d iz e m q u e to d a s as in stitu iç õ e s sa o im p u ls io n a d a s p o r a lg u m
tip o d e s e d e d e e fic iê n c ia . N o q u e se re fe re às in s titu iç õ e s r e d is tr ib u tiv a s ,
a lg u n s c ie n tis ta s s o c ia is a c re d ita m q u e as in s titu iç õ e s d e c o n s o lid a ç ã o são
e x tre m a m e n te fre q ü e n te s ; o u tro s a d o ta m a p o s iç ã o d e q u e as in s titu iç õ e s new
d ea l sã o e s s e n c ia is p a ra a c o m p r e e n s ã o d a p o lític a . P o d e m o s c la s s if ic a r a
c o n c e p ç ã o m a rx is ta d o E s ta d o e d as in stitu iç õ e s n a p rim e ir a c a te g o r ia ( in s ­
titu iç õ e s d e c o n s o lid a ç ã o ) . D e fa to , p a ra a a n á lis e m a rx ista , ta n to a p o lític a
c o m o as in s titu iç õ e s sã o e x p lic a d a s p o r s u a s c o n s e q ü ê n c ia s b e n é fic a s , n ão
p a ra o s is te m a c o m o u m lo d o (c o m o no c a s o d o f u n c io n a lis m o ) , m a s p a ra
a c la s s e d o m in a n te . O p r ó p rio M a rx fo rn e c e a n á lis e s p o r m e n o r iz a d a s d o s
m o tiv o s p e lo s q u a is o s d ire ito s in d iv id u a is sã o fo rm a is e d e c o m o e le s são
116 G E O R G E S T S E IIE U S

F ig u ra 4 .3 R e p r e s e n ta ç ã o e s q u c m á lia i d o p r o je to in s lilu c io n a l.

d c fato n e c e s s á r io s p a ra a re p ro d u ç ã o d o p ró p rio s is te m a c a p ita lis ta 17. A s in s ­


titu iç õ e s q u e s e p a ra m a e s fe r a e c o n ô m ic a d a e s fe r a p o lític a p o d e m s e r n o ­
v a m e n te e x p lic a d a s e m te rm o s d o s in te r e s s e s a lo n g o p ra z o d a b u r g u e s ia
(P o g g i 1978).
R ik e r (1 9 8 3 ) p e n s a q u e as q u e s tõ e s new deal suo a e s s ê n c ia d a p o líti­
ca. E m su a e x p o s iç ã o , o s p e rd e d o re s s e m p re te n ta m tra z e r à b a ila n o v as q u e s ­
tõ e s , ro m p e r as m a io ria s e x is te n te s e in g re s s a r n o g o v e rn o . A p o s s ib ilid a d e
e x is te s e m p re , p o rq u e há s e m p re u m a a lte rn a tiv a q u e p o d e d e rr o ta r o síalus
quo. P a ra a p ro v e ita r e s sa p o s s ib ilid a d e , as m in o ria s tê m d c p ô r e m d e s ta q u e
u m a q u e s tã o p r o e m in e n te q u e c ric u m a n o v a m a io ria . D e a c o rd o c o m e s sa
e x p lic a ç ã o , a e s c ra v id ã o n o s E s ta d o s U n id o s e ra u m q u e stã o new deal.
E m to d o s o s c a so s , a e s c o lh a d c u m a in s titu iç ã o re d is trib u tiv a e m d e ­
trim e n to d e o u tra é a c o m p a n h a d a p o r d is c u r s o p ú b lic o re la tiv o a o in te re s s e
g e ra l. N o c a s o d o d ire ito d e v o to , o a rg u m e n to p o d e s e r c o n s tr u íd o d e m a ­
n e ira m a is s im p le s e s in c e ra d o q u e n o s o u tro s c a so s d e m u d a n ç a i n s titu c io ­
n al. N o c a s o d a s m o d ific a ç õ e s d o s is te m a e le ito ra l n a F ra n ç a , m o stro n o C a ­

17. Ver M m x, "S o b re a QucMfio Judaícíi'*. eserilo em 1843. O texto ap arece em M arx (1963).
JO G O S O C U LTO S 117

p ítu lo 7 q u e o d is c u rs o id e o ló g ic o foi m e n o s c o n v in c e n te e m a is d ifíc il d e


p ro d u z ir. C o n tu d o , e x is te m a rg u m e n to s em fa v o r d e d ife re n te s s is te m a s e le i­
to ra is q u e n ã o fa z e m r e f e r ê n c ia a p r e o c u p a ç õ e s p a r tid á r ia s in s tr u m e n ta is
im e d ia ta s . E n tre e le s , a rg u m e n to s e m p ro l d a e s ta b i li d a d e g o v e rn a m e n ta l
( p a ra s is te m a s p lu ra lis ta s ) e d a r e p r e s e n ta ç ã o fie l d a o p in iã o p ú b lic a ( p a r a
a r e p r e s e n ta ç ã o p r o p o rc io n a l) .
P a ra r e s u m ir a a rg u m e n ta ç ã o , a firm e i q u e as in s titu iç õ e s s ã o d e d o is
tip o s : e f ic ie n te e r e d is tr ib u tiv a . A s in s titu iç õ e s r e d is tr ib u tiv a s p o d e m s e r
c la s s if ic a d a s , a in d a , c m in s titu iç õ e s new dea l e d e c o n s o lid a ç ã o . D iv e rs a s
d is c u s s õ e s a r e s p e ito d a s in s titu iç õ e s c o n c e n tr a m - s e n u m a d e s s a s c a te g o ­
rias: o s e c o n o m is ta s só e s tu d a m as in s titu iç õ e s e f ic ie n te s , o s m a r x is ta s a n a ­
lis a m a p e n a s as in s titu iç õ e s d e c o n s o lid a ç ã o , e o s lib e r a is a p e n a s a s in s ti­
t u iç õ e s d o tip o n ew deal. N o e n ta n to , g e n e r a l iz a ç õ e s a p r e s s a d a s p o d e m
le v a r a c o m p r e e n d e r m al a q u e s tã o d o e x a m e d a s r e la ç õ e s e n tr e e s s a s trê s
c a te g o r ia s e e n te n d e r s o b q u a is c o n d iç õ e s se to rn a m a is p ro v á v e l o s u r g i­
m e n to d e u m a in s titu iç ã o e n ã o o u tra . L im ito - m e a e s p e c u la r a re s p e ito , sem
a p r e s e n ta r u m a c o n c lu s ã o p a ra e s te c a p ítu lo .

IV. EM LUGAR DA CONCLUSÃO: INCERTEZA E EFICIÊNCIA

E x a m in e i n e s te c a p ítu lo trê s a s p e c to s im p o r ta n te s d a s in s titu iç õ e s . E m


p r im e ir o lu g a r, as i n s titu iç õ e s n ã o p o d e m s e r e x a m in a d a s a p e n a s a c u rto
p ra z o , p o is su a s c o n s e q ü ê n c ia s se e s te n d e m a lo n g o p ra z o . A p rin c ip a l c o n ­
trib u iç ã o d a s in s titu iç õ e s é q u e a u m e n ta m a e s ta b ilid a d e d o jo g o p o lític o ;
p o r ta n to , fa c ilita m o s c á lc u lo s d o s a to re s p o lític o s .
O s e g u n d o a s p e c to e s tu d a d o fo i q u e as in s titu iç õ e s n ã o p o d e m s e r e x ­
p lic a d a s n u m q u a d ro e v o lu c io n is ta ( e x c e to n o c a s o triv ia l d a s in s titu iç õ e s
d e m e r a c o o r d e n a ç ã o ) , p o is , m e s m o q u e e m e r g is s e m d e e s c o lh a s d e s c e n ­
t r a liz a d a s , in d iv id u a is , a in d a p r e c is a r ia m d e u m a f o rç a d e im p o s iç ã o c e n ­
tra liz a d a p a ra s e re m im p le m e n ta d a s .
O te rc e iro a s p e c to a b o rd a d o foi q u e as in stitu iç õ e s p o d e m s e rv ir tan to
a os in te re s s e s d a s o c ie d a d e c o m o u m to d o q u a n to ao d e c e rto s a to re s p o líti­
c o s . D if e r e n te s tra d iç õ e s p o lític a s (d ire ita versus e s q u e r d a ) e d is c ip lin a re s
( e c o n o m ia versus c iê n c ia p o lític a ) e n fa tiz a m u m ou o u tro d e s s e s d o is tip o s
de in stitu iç ã o , q u e c h a m e i de in stitu iç ã o e fic ie n te e re d istrib u tiv a . A m a io ria
d a s in stitu iç õ e s re p re s e n ta m u m m isto d e s sa s d u a s c a ra c te rístic a s .
A q u e s tã o q u e p r e c is a a in d a se r r e s p o n d id a é: q u e tipos d e in s titu iç õ e s
tê m m a io r p r o b a b ilid a d e d e .ser r e d is tr ib u tiv a s e q u a is p o d e m s c r e f i c ie n ­
te s ? L o g o , q u a n d o é m a is p ro v á v e l q u e o d is c u r s o p ú b lic o s o b re a e f ic iê n ­
c ia s e ja b e m f u n d a m e n ta d o e p e rs u a s iv o ?
I m a g in e m o s u m a in s titu iç ã o c o m u m h o r iz o n te te m p o r a l e s p e r a d o d e
c u rto p r a z o ( p o r e x e m p lo , a lei e le ito r a l n u m p a ís e m q u e o c o s tu m e é q u e
G E O R G E S T S E B E L IS

a m a io r ia c rie s u a p r ó p ria lei e le ito r a l) . C o m p a re m o s e s s e c a s o a o d c um


p a ís e m q u e o s is te m a e le ito r a l e s tá e s ta b e le c id o n a C o n s titu iç ã o . E m q u a l
d e s s e s c a so s a lei e le ito ra l é m a is re d is trib u tiv a ? O p rim e iro p a ís p a re c e p o s ­
s u ir u m a in s titu iç ã o c la r a m e n te r e d is trib u tiv a . N a v e rd a d e , e s p e r a - s e q u e o
g o v e rn o p r o je te a lei d e a c o rd o c o m s e u s p r ó p r io s in te r e s s e s ; e v e n to s f u ­
tu ro s p o d e m s e r a n te c ip a d o s , e a e s c o lh a p o d e s e r f e ita d e m o d o q u a s e to ­
t a lm e n te s e g u ro .
J á n o s e g u n d o p a ís , e s p e r a - s e q u e o s is te m a e le ito r a l s o b re v iv a a u m a
s é rie d e e le iç õ e s . P o d e m o s d iz e r q u e e s s a e x p e c ta tiv a d e v id a m a is a lta in ­
d ic a m a io r e f ic iê n c ia n o s e n tid o d e fin id o n e s te c a p ítu lo ? H a v e r ia u m a te n ­
ta ç ã o a re s p o n d e r d e m o d o a fir m a tiv o a e s s a q u e s tã o . C o n tu d o , c o n s id e r a n ­
d o - s e o s c a s o s d o R e in o U n id o e d o s E s ta d o s U n id o s , p o d e o fa to d e s e u s
s is te m a s e le i to r a is p e rm a n e c e r e m i n a lte r a d o s s e r in te r p r e ta d o c o m o u m a
in d ic a ç ã o d e q u e s ã o d e s e ja d o s p e la m a io r ia d a p o p u la ç ã o ? P e n s o q u e n ã o .
M e s m o q u e a lg u é m a firm e q u e a m e ta d e d a p o p u la ç ã o d o s E s ta d o s U n id o s
q u e n ã o p a rtic ip a d a s e le iç õ e s p r e f e r e o a tu a l s is te m a e le ito r a l e q u e r p e r ­
m a n e c e r n u m e s ta d o d e a lie n a ç ã o , s e ria b e m d ifíc il m a n te r u m a rg u m e n to
s im il a r e m re la ç ã o ao R e in o U n id o . A li, a A l ia n ç a D e m o c r á t ic a L ib e ra l-
S o c ia l r e p r e s e n ta e n tr e um q u in to e u m te r ç o d o s v o to s ( d e p e n d e n d o d a
e le iç ã o ) e in c lu iu a e x ig ê n c ia d e re p r e s e n ta ç ã o p r o p o rc io n a l em s e u p r o g ra ­
m a e le ito r a l.
C o n s id e re m o s as leis d o a partheid, o u , u m e x e m p lo a in d a m e lh o r, as
le is d a e s c r a v id ã o . S e u s h o r iz o n te s d c te m p o e s p e r a d o s e r e a is e ra m b a s ­
ta n te a lto s , m a s iss o n ã o c o n s titu i u m in d ic a d o r s u fic ie n te d e e fic iê n c ia , p o is
e le s i n flu e n c ia v a m d e m a n e ira s is t e m á t ic a e c la r a o e q u il í b r i o d e f o r ç a s
e n tr e g r u p o s d ife r e n te s . D e s s e m o d o , o f a t o r q u e p e rm ite d i s c r im in a r e n ­
t r e i n s titu iç õ e s e fic ie n te s e re d is tr ib u tiv a s n ã o é o q u a n to e la s d u r a m (se u
h o r iz o n te d e te m p o ) , m a s a in c e r te z a d o s r e s u lta d o s q u e p r o d u z e m . C o m
e fe ito , s e o s a to re s q u e p r o je ta m as in s titu iç õ e s p o d e m p r e v e r s u a s c o n s e ­
q ü ê n c ia s p a ra o s d ife r e n te s g r u p o s p o lític o s o u s o c ia is , e n tã o p o d e m f a v o ­
re c e r, d e m a n e ira s is te m á tic a , u m d e s s e s g r u p o s . S e , c o n tu d o , n ã o p o d e m
p r e v e r as c o n s e q ü ê n c ia s r e d is trib u tiv a s, e n tã o seu ú n ic o g u ia s e rá o a u m e n to
d a e fic iê n c ia d a in stitu iç ã o .
F in a lm e n te , a n a lis e m o s o a rg u m e n to d o “ v éu d e ig n o râ n c ia ” d e R a w ls
( 1 9 7 1 ). S o b o v é u , o s in d iv íd u o s têm d e e s c o lh e r e n tr e s o c ie d a d e s (o u s e ja ,
in stitu iç õ e s ) se m c o n h e c e r o lu g a r q u e o c u p a rã o n e s sa s s o c ie d a d e s . A reg ra
d e d e c is ã o d e R a w ls r e q u e r q u e o s in d iv íd u o s o p te m p e la s o c ie d a d e q u e g a ­
r a n ta o m á x im o p a ra o s in d iv íd u o s m e n o s p riv ile g ia d o s (o c rité rio m axim in).
A s o lu ç ã o d e H a rs a n y i ( 1 9 7 5 ) p a ra o m e s m o e x p e rim e n to m e n ta l p r e s c re v e
a e s c o lh a d a s o c ie d a d e q u e o f e r e ç a o m á x im o p a ra o in d iv íd u o m é d io 18. D e

I 8. A regra de tom ada de d ecisão não c a única d iferen ça erilre R aw ls e H arsanyi. A lém d isso, o p rim eiro está
inte ressa d o em m ax im izar a riq u eza: o segu n d o , em m axim izar as u tilidades. Ver Howe e R oem er (1 9 S I).
JO C O S O C U LT O S II9

m o d o g e ra l, a m a io ria d o s a rg u m e n to s m o ra is d a lib e r a l- d e m o c ra c ia a d o ta m
a s re g ra s ( in s titu iç õ e s ) q u e sã o m ais v a n ta jo s a s p a ra u m a “ s o c ie d a d e ” , q u e
é r e p r e s e n ta d a c o m o u m c o n ju n to d c in d iv íd u o s in d if e re n c ia d o s ( G a u th ie r
1986).
P a r e c e - m e q u e o a rg u m e n to d o v éu d e ig n o râ n c ia d e R a w ls é e s s e n ­
c ia l p a ra a p r o je ç ã o d e i n s titu iç õ e s e fic ie n te s . E m s e u c a s o , as p e s s o a s q u e
p r o je ta m as in s titu iç õ e s n ã o d is p õ e m d c c e rte z a a lg u m a em re la ç ã o às p o ­
s iç õ e s q u e o c u p a rã o n a n o v a s o c ie d a d e , e é s u a p r ó p r ia ig n o râ n c ia q u e as
lev a a c o n c e b e r u m a s o c ie d a d e q u e d e ix a a to d o s e m m e lh o r s itu a ç ã o . C o n ­
tu d o , é p r e c is a m e n te p o r q u e n ã o o p e ra m o s s o b e s s e v éu d e ig n o râ n c ia , m as
p o s s u ím o s in fo r m a ç ã o (in c o m p le ta , se m d ú v id a ) ou e x p e c ta tiv a s o b re e v e n ­
to s fu tu r o s , q u e as in s titu iç õ e s r e a lm e n te e x is te n te s n ã o s ã o e x c lu s iv a m e n ­
te e fic ie n te s .
E m o u tro s te rm o s, o c o n h e c im e n to p re c is o d o s tip o s d e re s u lta d o s q u e
u m a in s titu iç ã o p ro d u z ir á tra n s fo rm a o v o to p e lo s r e s u lta d o s cm v o to p e la s
in stitu iç õ e s. A e s c o lh a d e in stitu iç õ e s é o e q u iv a le n te s o fis tic a d o d a e s c o lh a
d e p o lític a s o u d a e s c o lh a d e resu lta d o s. A a u s ê n c ia d e c o n h e c im e n to p r e c i­
so so b re o s re s u lta d o s p ro d u z id o s p o r u m a in s titu iç ã o fará, p o ré m , c o m q u e
o s c rité rio s d e a d o ç ã o ex ante s e ja m d ife re n te s d o c a rá te r p a rtid á rio d o s re ­
s u lta d o s q u e e la p o d e pro d u zir.
D e s s e m o d o , a in c e rte z a o u , in v e rsa m e n te , a in fo rm a ç ã o so b re o s re s u l­
ta d o s d e u m a in stitu iç ã o (q u e j o g a d o r a p e s s o a se rá , n o a rg u m e n to d e R a w ls )
é o fa to r d e d is c rim in a ç ã o e n tre p ro je to s in stitu c io n a is d ife re n te s . A in fo r m a ­
ç ã o p e rfe ita p ro d u z in stitu iç õ e s red istrib u tiv a s. A in c e rte z a c o m p le ta p ro d u z
in stitu iç õ e s p u r a m e n te e fic ie n te s. A m b a s as c o n d iç õ e s s ã o tip o s id e a is q u e
d ific ilm e n te e x is te m n a rea lid a d e . É p o r isso q u e as in stitu iç õ e s red istrib u tiv a s
e e fic ie n te s r a ra m e n te e x is te m em su a fo rm a p u ra.
A c la s s if ic a ç ã o d a s in s titu iç õ e s e m e fic ie n te s e r e d is trib u tiv a s c o n c lu i
a d is c u s s ã o d o p r o je to in s titu c io n a l e a a p re s e n ta ç ã o te ó r ic a d o q u a d ro d o s
jo g o s o c u lto s . É o m o m e n to , a g o ra , d e a p lic a r a te o r ia d e s e n v o lv id a n o s C a ­
p ítu lo s 2, 3 e 4 a s itu a ç õ e s p o lític a s em p a ís e s d a E u r o p a O c id e n ta l.
5

POR QUE OS MILITANTES DO PARTIDO TRABALHISTA BRITÂNICO


COMETEM SUICÍDIO POLÍTICO?

E m j u lh o d e 1975, o P a rtid o T r a b a lh is ta d o d is tr ito d e N e w h a m N o rth -


E a s t r e je ito u s e u r e p r e s e n ta n te , o R t. H o n . R e g in a ld P r e n tic c , c o m o c a n d i­
d a to o fic ia l d o P a rtid o T r a b a lh is ta n a e le iç ã o q u e s e a p ro x im a v a . N e s s a c p o -
c a , P r e n ti c c c r a u m m in is tr o d o g a b in e te tr a b a lh is ta . N a e le i ç ã o s e g u in te
( 1 9 7 9 ) , P r e n ti c e , r e p r e s e n ta n d o o P a r tid o C o n s e r v a d o r n u m d i s t r it o tó ri
s e g u ro , t o rn o u - s e m in is tro d o g o v e rn o T h a tc h e r. S e u s u c e s s o r e m N e w h a m
d e s is tiu d a i n d ic a ç ã o um p o u c o a n te s d a e le iç ã o d e 1 9 7 9 , d e p o is d e f a lh a r
n a te n ta tiv a d e c o n s e g u ir a p o io p a ra a s u a c a n d id a tu r a p o r p a rte d o s m ili­
ta n te s d o P a r tid o T r a b a lh is ta d e N e w h a m , q u e s e n tira m q u e e le n ã o e r a
s u fic ie n te m e n te e s q u e r d is ta . E m re s u lta d o , o P a rtid o T r a b a lh is ta p e rd e u e s s a
c a d e ir a n a e le iç ã o d e 1979 ( M c C o n n ic k 19 8 1 ).
E s s e c a s o é s in g u la r p o rq u e c o n s titu i a ú n ic a o c a siã o d a h is tó ria b ritâ n i­
c a e m q u e u m v o to d istrita l e lim in o u u m m in istro . C o n tu d o , o s c o n flito s e n tre
o s d istrito s e se u s re p re s e n ta n te s n ã o s ã o n o v id a d e , n e m foi e s s e o ú n ic o c a so
e m q u e tais c o n flito s lev a ra m u m p a rtid o à d e rro ta . E m 1971, p o r e x e m p lo ,
D ic k T a v e rn e foi d e s a u to riz a d o p o r seu d is trito e m L in c o ln ; T a v c rn e re n u n ­
c io u im e d ia ta m e n te e fo i re e le ito co m 5 8 % d o s v o to s, d e rro ta n d o ta n to o c a n ­
d id a to d o P a rtid o C o n s e rv a d o r (1 8 % ) q u a n to o c a n d id a to o fic ia l d o P a rtid o
T r a b a lh ista ( 2 3 % ) '. E d d ie M iln c foi e x p u ls o p e lo d ire tó rio d istrita l d o p a rtid o
e m 13Jyth. C o rn o T av ern e, c o n c o rre u c o m o c a n d id a to in d e p e n d e n te d o P a r ti­
d o T r a b a lh is ta e foi re e le ito (B ra d le y 1981). M a rg a re t M c K a y , d e C la p h a m ,
foi f o rç a d a a re n u n c ia r em 1970, so b p re s s ã o d e m ilita n te s lo ca is. S u a c a d e ira

1. W illiam s (1983, 34). I’;ir;i um a e x p o sição p o rm en o rizad a dos a eo n iecim en io s m as d e um p o nto d e v ista par­
cial, ver Taverrne (1974).
122 G E O R G E T S E B E L IS

e ra m a rg in a l* e fo i p e rd id a p a ra o s c o n s e rv a d o re s n a e le iç ã o d e 1970 (D ic k s o n
1975). E m m a rç o d e 1983, B o b M e llis h (o ex-w hip**) re n u n c io u à s u a c a d e i­
ra e m B e rm o n d s e y , d e v id o à p re s s ã o d e m ilita n te s lo ca is. F o i s u b s titu íd o p e lo
líd e r d e s se s m ilita n te s , P c te r T a tch e l, q u e foi in d ic a d o p e lo P a rtid o T ra b a lh is ­
ta . N a e le i ç ã o s u p le m e n ta r , o s c o n s e r v a d o r e s e o s a n tig o s p a r t id á r io s d e
B e rm o n d s e y n o P a rtid o T r a b a lh ista v o tara m a fa v o r d o c a n d id a to lib e ra l, q u e
v e n c e u p o r c e rc a d e n o v e m il vo to s. U m a d a s c a d e ira s tra b a lh is ta s m ais s e g u ­
ra s n a á re a d e L o n d r e s fo i p e rd id a (W illia m s 1983).
T o d o s e s s e s p a rla m e n ta re s fo ra m r e je ita d o s p o r s e u s d is tr ito s tra b a lh is ­
ta s p o r q u e n ã o e ra m s u fic ie n te m e n te e s q u e r d is ta s 2. C o n tu d o , c a d a u m a d e s ­
sa s s u b s titu iç õ e s re s u lto u n a p e rd a d e u m a c a d e ir a tra b a lh is ta . O s m ilita n ­
te s d o P a rtid o T r a b a lh is ta p r e fe re m r e a lm e n te u m p a rla m e n ta r c o n s e r v a d o r
o u um tra b a lh is ta in d e p e n d e n te ( p ro v a v e lm e n te h o s til ao P a rtid o T r a b a lh is ­
ta ) a u m p a rla m e n ta r p o litic a m e n te m o d e r a d o q u e d e f e n d a a b a n d e ir a t r a ­
b a lh is ta ? P re fe r e m re a lm e n te q u e se u p a rtid o p e r c a c a d e ir a s n o P a r la m e n ­
to ? P o r q u e o s m ilita n te s d o P a rtid o T r a b a lh is ta c o m e te m s u ic íd io p o lític o ?
P o r q u e e m p u r r a m s e u p a rtid o p a ra o p r e c ip íc io ?
E s s e c o m p o rta m e n to só é e n ig m á tic o p o rq u e p r e s s u p o n h o q u e o s m ili­
ta n te s p o lític o s s ã o ra c io n a is e p re fe re m u m p a rla m e n ta r d e seu p ró p rio p a r­
tid o ao r e p r e s e n ta n te d e u m p a rtid o a d v e rs á rio . S e se p a rtir d o p re s s u p o s to
c o n trá rio e m a m b o s o s a s p e c to s , e n tã o n ã o h a v e rá e n ig m a a lg u m a e x p lic a r.
S e se p re s u m ir, p o r e x e m p lo , q u e o s m ilita n te s são “ fa n á tic o s , e x c ê n tric o s e
e x tre m is ta s ” , seu c o m p o rta m e n to p o d e rá se r e x p lic a d o p o r e s s e s a trib u to s 3. A
q u e s tã o p a s sa a ser, e n tã o , p o r q u e o s m ilita n te s tê m e s s e s atrib u to s.
O p r o b le m a d o c o m p o r ta m e n to a p a r e n te m e n te s u ic id a n ã o s e re f e r e
e x c lu s iv a m e n te a o s m ilita n te s d o P a rtid o T r a b a lh is ta b ritâ n ic o . U s u a lm e n te
p r e s u m im o s , p o r e x e m p lo , q u e o s p a rtid o s p o lític o s d e s e ja m c a rg o s . C o m
e fe ito , o p r e s s u p o s to é tã o triv ia l q u e a p a re c e p o r v e z e s n a d e fin iç ã o d e un i
p a rtid o p o lític o '1. P o ré m , o s re s u lta d o s d e a lg u n s e v e n to s , c o m o as c a m p a ­
n h a s p r e s id e n c ia is n o r te - a m e ric a n a s d e 1964 o u 1 9 7 2 , q u a n d o B a rry G o ld -
w a te r e G e o r g e M c G o v e rn fo ra m o s c a n d id a to s d o s d o is p rin c ip a is p a rtid o s ,
s u s c ita r a m q u e s tõ e s s o b re a v a lid a d e d o s p r e s s u p o s to s . D c m o d o a n á lo g o ,
a r e tira d a d o P a r tid o C o m u n is ta F r a n c ê s d o g o v e rn o e d a c o lig a ç ã o d e e s ­

* M cir^iiuil sc refere iiqui à m argem d a v itó ria, ind ican d o , no caso, q u e c ia foi pequ en a. F.m o p o sição a c a d e i­
ras m arginais, tem os as seguras, aquelas em que o p a n id o ven ced o r o b têm larga m argem d e van tag em na e le i­
ção. (N . do T.)
** W hip, chicote, term o u sad o no d ireito p arlam en tar inglês, para d esig n ar c erto s d e putados dos C om uns q u e têm
a m issão d e a rreg im en tar seus p ares 110 m o m en to da v o tação , a fim d e g ara n tir a d isc ip lin a d o v o to e im p ed ir
que c erto s m em b ro s se abstenbam . P, d iferen te d o nosso líd e r de ban cad a. (N . do T.)
2. S egundo Y oung (1983, 2 -3 ), disp u tas a n álo g as sã o relatadas por O stro g o rsk i. M iliband {1961, 26) e n co n tra
j á e m 1902 disp u tas e n tre m ilitan ies e p arlam en tares d o Partido T rabalhista.
3. A citação c d o diário de B. W cbb. Ver M cK cnzie (1964, 505).
■4. Ver SeJileviftgei' ( 1984), c m q u e se d e lh ie u m p u n id o p o lítico c o m o tim u “e q u ip o d c p erseguição d e cargos".
JO G O S O C U LT O S 123

q u e rd a e m 1 9 8 4 p o d e m lev a r a q u e s tio n a r a té q u e p o n to o s c o m u n is ta s d e ­
s e ja v a m d e f a to p a rtic ip a r d o g o v e rn o .
O p r e s e n te c a p ítu lo a b o rd a o s d ile m a s p o lític o s q u e lev a m a lid e r a n ­
ç a d o P a rtid o T r a b a lh is ta e o s se u s m ilita n te s a c o n fr o n to s , a s sim c o m o as
e s tr a té g ia s e s c o lh id a s p o r c a d a u m d o s la d o s . P r e s s u p õ e - s e q u e d irig e n te s
e m ilita n te s p o s s u a m o b je tiv o s p o lític o s d ife re n te s c o m p e lo m e n o s u m p o n to
em c o m u m : a m b o s p re fe re m q u e c a n d id a to s tra b a lh is ta s s e ja m e le ito s p a ra
o P a r la m e n to . C o m b a s e n iss o , o c a p ítu lo te n ta u rn a r e c o n s tru ç ã o ra c io n a l
d a in te r a ç ã o e n tr e m ilita n te s e líd e r e s t r a b a lh is ta s a p ó s a S e g u n d a G u e rra .
N u m a e s c a la m a is a m p la , e s te c a p ítu lo tr a ta d a r e la ç ã o e n tr e o b je tiv o s a
lo n g o p r a z o e a c u rto p ra z o , e d e p ro b le m a s d e re p u ta ç ã o e id e o lo g ia , c o m o
n o c a s o d o P a rtid o C o m u n is ta F ra n c ê s . A b o r d o e s s e p o n to n a c o n c lu s ã o .
O c a p ítu lo s e d iv id e e m trê s p a rte s . A S e ç ã o I a p re s e n ta u m m o d e lo
s im p le s d e in d ic a ç ã o de c a n d id a to s n o â m b ito d is tr ita l. O m o d e lo é u m jo g o
e n tr e o c a n d id a to o u o p a rla m e n ta r e o s m ilita n te s d o d is trito . M o s tr o q u e ,
s e o j o g o é d e u m a ú n ic a p a rtid a s o b c o n d iç õ e s d e in fo r m a ç ã o p e rfe ita , n ão
e x is tir ã o c o n flito s d e re in d ic a ç ã o d o c a n d id a to . C o n tu d o , d e s d e q u e s c to r­
n e m p o s s ív e is e s tr a té g ia s c o n tin g e n te s , ou q u e o j o g o s e to rn e ite r a tiv o , o
c o m p o r ta m e n to a p a re n te m e n te s u ic id a d o s m ilita n te s to rn a - s e p a rte d e u m a
e s tr a té g ia r a c io n a l. D e s s e m o d o , a fim d e e s tu d a r as d ife r e n ç a s e n tr e as c a ­
d e ira s m a rg in a is e as c a d e ira s s e g u ra s n o P a rla m e n to , c o n s id e r o q u e o jo g o
ite ra tiv o e s tá in s e r id o n o jo g o c o m p e titiv o e n tr e o s p a rtid o s n o d is tr ito e le i­
to ra l. N a S e ç ã o II, a m p lio o q u a d ro p a ra in c lu ir c o m o j o g a d o r e s a d ic io n a is
o C o m itê E x e c u tiv o N a c io n a l e a C o n v e n ç ã o d o P a rtid o T ra b a lh is ta . N o v a ­
m e n te , o j o g o é e s tu d a d o s u c e s s iv a m e n te c o m o j o g o d e u m a só jo g a d a e
c o m o u m c a s o ite ra tiv o , e c o m o s im p le s ou in s e r id o n a c o m p e tiç ã o e n tr e o s
p a rtid o s n o â m b ito n a c io n a l. A a n á lis e d a S e ç ã o I I I c o n c e n tr a - s e n a s m u d a n ­
ç a s d a s re g ra s d o s p a rtid o s e n tr e 1979 e 1981 e n a c ria ç ã o d o P a rtid o S o ­
c ia l D e m o c ra ta (S D P - S o c ia l D e m o c ra tic P a rty ). N e s s e p o n to , s u s te n to q u e
a p rin c ip a l m u d a n ç a c o n c e r n e n te ao P a rtid o T r a b a lh is ta n ã o c o n s is tiu n a re ­
v is ã o d e se u s e s ta tu to s , m a s n a a lte ra ç ã o d a c o m p o s iç ã o d o C o m itê E x e c u ­
tiv o N a c io n a l.
A o lo n g o d e to d o e s te c a p ítu lo , p e rc o r r o u m a fa ix a e s tr e ita , te n ta n d o
e v it a r o C i la q u e s e r i a d e s c a r ta r o p r o b le m a c o m a a fir m a ç ã o d c q u e o s
a tiv is ta s s ã o irr a c io n a is o u c o m e te m e rro s , e o C a r ib d e q u e é p r o d u z ir u m
m o d e lo s im p le s q u e n ã o c o rr e s p o n d a à r e a lid a d e . R e s o lv o o p r o b le m a c o m
a a p re s e n ta ç ã o d e u m a s é rie d e m o d e lo s q u e v ã o d o m a is s im p le s a o m a is
c o m p lic a d o ; a p e n a s o ú ltim o m o d e lo fo rn e c e a d e s c r iç ã o c o m p le ta d o j o g o
e n tr e m ilita n te s e p a rla m e n ta re s t r a b a lh is ta s . N o e n ta n to , o p r o p ó s ito d o s
m o d e lo s in te r m e d iá r io s n ã o é p u r a m e n te d id á tic o . C a d a u m a p re s e n ta o u
u m a p a rte im p o r ta n te d a s itu a ç ã o n o P a rtid o T r a b a lh is ta , o u u m a d e s c r iç ã o
a c u ra d a d a s itu a ç ã o n o s p a rtid o s d e o u tro s p a íse s. N e s s e s e n tid o , o s m o d e lo s
s ã o ú te is p a ra c o m p a r a ç õ e s e n tr e d ife r e n te s s itu a ç õ e s e fe tiv a s o u p o s s ív e is .
124 GEORGE TSE B E U S

/. UM MO DELO SIM PLES D E INDICAÇÃO D E CANDIDATOS

I n ic io c o m d o is “f a to s e s tiliz a d o s ” , o u s e ja , e n u n c ia d o s q u e se s u s te n ­
ta m n ã o só n a m é d ia , m a s ta m b é m n a m a io r p a rte d o te m p o , d e m o d o q u e
p o d e m s e r c o n s id e r a d o s a p ro x im a ç õ e s le g ítim a s d a r e a lid a d e . E m p r im e i­
ro lu g ar, o s m ilita n te s tra b a lh is ta s s ã o p o litic a m e n te m a is e x tr e m a d o s (o u
s e ja , e s tã o m a is à e s q u e r d a n o e s p e c tr o q u e vai d a e s q u e r d a à d ire ita ) d o
q u e ta n to o s e le ito r e s em g e ra l c o m o o s e le ito r e s d e s e u p a rtid o e m p a r t i ­
c u la r. P o d e - s e e n c o n tr a r a p o io p a ra e s s a te s e c m B u tle r ( 1 9 6 0 , 5 ), q u e a fir­
m a q u e o d ile m a e s s e n c ia l d o s líd e re s d o p a rtid o c o n s is te e m q u e

s e u s m a is le a is c d e v o ta d o s s e g u id o r e s te n d e m a te r c o n c e p ç õ e s m a is e x tr e m a d a s d o q u e e l e s p r ó ­
p r io s , e a e s ta r e m a in d a m a is d is t a n te s d a m a s s a q u e e f e tiv a m e n t e f o r n e c e o s v o to s . O s líd e r e s d o
p a r ti d o tê m d e c o n c i l i a r a q u e le s q u e o s a p o ia m c o m d in h e ir o o u t r a b a lh o v o lu n tá r io , c o m o e o r p o
c o n s id e r á v e l d e e le it o r e s m o d e r a d o s c u ja s a titu d e s o s to r n a m m a is s u s c e t í v e i s d e m u d a r d e p a r ti­
d o , d i v id i n d o a s s im o s v o to s d a e le iç ã o s e g u in te .

E p s te in (1 9 6 0 , 38 5 ) c o n s id e ra o s m ilita n te s “ s im p a tiz a n te s lea is e z e lo so s


d o p a rtid o ” e a fir m a q u e é a n a tu r e z a v o lu n tá r ia e a m a d o r a d a s a s s o c ia ç õ e s
e le ito r a is n o R e in o U n id o q u e a tra i e s s e s “ e n tu s ia s ta s ” p a ra a c a u s a d o p a rtid o ,
e m p a r tic u la r n o n ív e l d a lid e r a n ç a lo c a l, o n d e “ o q u e im p o r ta s ã o c a rr e ir a s
f e ita s p o r p r in c íp io s , e n ã o p o r p r o f is s ã o ” . E n tre o s e s tu d io s o s q u e fiz e ra m
o b s e rv a ç õ e s s im ila r e s s o b re as o p in iõ e s p o lític a s d o s m ilita n te s p a rtid á r io s
d e v e -s e in c lu ir O s tro g o rs k i ( 1 8 9 2 ), D u v e rg e r ( 1 9 5 2 ) c K ey ( 19 5 8 ). M a y (1 9 6 9 ,
2 3 8 ) a p re s e n ta “ um c o n ju n to fo rm id á v e l d c h is to r ia d o r e s , p o lític o s , c ie n t is ­
ta s p o lític o s e j o r n a l is t a s ” q u e e n d o s s a m a te s e d o e x tr e m is m o d o s m ilita n ­
tes. S u a l is ta in c lu i m a is d e u m a d ú z ia d e n o m e s 5.
A lé m d is s o , in d íc io s m a is d ire to s a fa v o r d a te s e d o e x tr e m is m o do
d is trito e le ito ra l s ã o fo rn e c id a s p o r E p s te in ( 1 9 6 0 ), R a n n e y (1 9 6 5 ) e D ic k so n
(1 9 7 5 ). T o d o s e le s e s tu d a r a m c o n flito s d e r e in d ic a ç ã o n o s d o is p r in c ip a is
p a rtid o s b r itâ n ic o s , id e n tific a n d o d iv e rs o s c a s o s e m q u e o p a rla m e n ta r e n ­
tra em a tr ito coiri se u d is tr ito p e lo fa to d e s e r m u ito m o d e r a d o , e n e n h u m
c a s o e m q u e o p a rla m e n ta r te n h a re c e b id o s a n ç õ e s d e seu e le ito r a d o p o r se r
d e m a s ia d o ra d ic a l6. M in k in ( 1 9 7 8 , 11) a firm a : “P o r ra z õ e s d e c a rá te r ta n to

5. No cjue c o n ce rn e a te n tativ as teó rica s d e e x p lica r o fen ô m e n o d o rad ic alism o m ilita n te, ver M ay (1 9 7 3 ) e
T se belis (19SS). E ntre os que d isco rd am d a lese e sião Rose (1962), W hiteley ( 1983) e W eicli e S tu d lar (1983).
A ldrich (1 9 8 3 a, 1983b), que Iraballuni com b ase em m odelos d o w n so n ian o s d e m ilitan tes p artid ário s, adota
em e ssên c ia o m esm o p ressu p o sto , su p o n d o que os m ililan tes apóiam o c an d id ato de sua p relerêiieia d e seu
p artido ou se ab stêm de fazê-lo. A fim d e ev ilar detalh es e c ríticas d esn ec essá rias, q u an d o e m p reg o o term o
m ilitantes, refiro -m e ao C o n selh o de D ireção G eral (GMC - G eneral M an ag em en t C ouncil) d o d istrito, q u e é o
c orp o dirig e n te d o d istrito e e.stá en v o lv id o no processo de in d ic aç ão d o c and id ato . A té o n d e sei, en q u an to
e xistem m uitas q u eix as d e que esse co rp o não é rep resen tativ o d o e leito ra d o p orque é m uito id eo ló g ico , nin­
g uém afirm o u q u e não é m ais e x trem ad o d o q u e os e leito res trab alh istas,
fi. D ickson (1 9 7 5 ), q u e cobriu o p erío d o m ais lo ngo (1948 -1 9 7 4 ), en co n tra trin ta e cin co casos de reindicação
uos dois p a rtid o s, d o s q u a is d e zo ito p o r d iv e rg ê n cias p o líticas. O ito d o s d o ze caso s de co nflito de re in d i­
c aç ão do 1'ariido T rab a lh ista term in aram com a vilória do d istrito eleito ral.
J O G O S O C U LTO S 125

in s tru in e n la l q u a n to id e o ló g ic o , a d ire ita e ra e m g e ra l fa v o rá v e l a u m a m a io r


in d e p e n d ê n c ia p a ra o PLP (P a rlia m e n ta ry L a b o u r p arty , P a rtid o T r a b a lh is ta
P a r la m e n ta r) , a e s q u e r d a a fa v o r d e m e n o r i n d e p e n d ê n c ia ” .
H á d u a s e x p lic a ç õ e s p o s s ív e is p a ra as d ife r e n ç a s id e o ló g ic a s e n tr e os
p a rla m e n ta re s e o s m ilita n te s d o seu d istrito e le ito ra l. A p rim e ira é d ire ta m e n ­
te e le ito ra l: o s p a rla m e n ta re s te n ta m re p r e s e n ta r se u e le ito r d istrita l m e d ia ­
no, a fim d e s e r v ito rio s o n as e le iç õ e s . A s e g u n d a e x p lic a ç ã o é ta m b é m e s ­
s e n c ia lm e n te e le ito r a l, e m b o ra o ra c io c ín io s e ja m e n o s d ire to : é a p o s iç ã o d o
p a rtid o , n ã o a p o s iç ã o p e s so a l d o r e p re s e n ta n te , q u e d e te r m in a su a p r o b a b i­
lid a d e d e re e le iç ã o ; as p o s iç õ e s p o lític a s im p o rta m m e n o s p a ra a re e le iç ã o
d o q u e p a ra a s c a rr e ir a s p o lític a s ; o s p a rla m e n ta re s q u e re m a g ra d a r à lid e ­
ra n ç a p a rtid á ria , p o rq u e e la c o n tro la o s re c u rso s p o lític o s ; a lid e ra n ç a d o p a r­
tid o ó m o d e ra d a p o r c a u s a d e c o n s id e ra ç õ e s e le ito r a is ; em c o n s e q ü ê n c ia , a
m e lh o r m a n e ira d e q u e o s p a rla m e n ta re s d isp õ e m p a ra p r o m o v e r su a s c a r­
r e ira s p o lític a s é a m o d e ra ç ã o p o lític a . A m b o s o s a rg u m e n to s c o n d u z e m ao
m e s m o re s u lta d o : m o d e ra ç ã o d o s p a rla m e n ta re s . P a ra as fin a lid a d e s d e s te c a ­
p ítu lo , n ã o há ra z ã o p a ra in v e s tig a r a im p o rtâ n c ia re la tiv a d e c a d a a rg u m e n to .
O s e g u n d o f a lo e s tiliz a d o é q u e o s d is tr ito s e le ito r a is ta m b é m e s tã o
i n te r e s s a d o s n o s s e rv iç o s d e s e u s r e p r e s e n ta n te s . A p r o p o s iç ã o se e x p lic a
p o r si s ó . P a ra in d íc io s e m p ír ic o s o s le ito r e s p o d e m r e p o r ta r - s e a C a in ,
F e r e jo h n e F i o r i n a ( 1 9 8 7 ). D ic k s o n ( 1 9 7 5 ) r e l a ta q u e s e te e n tr e t r i n ta e
c in c o c o n flito s n o p e río d o e n tr e 1948 e 1 9 7 4 d e v e ra m -s c ao f a to d e te re m
o s p a rla m e n ta re s n e g lig e n c ia d o s e u s c o m p r o m is s o s e le ito r a is p a ra coiri seu
d is tr ito 7.
S im p lific o a g o ra o p ro c e s s o d e in d ic a ç ã o d o c a n d id a to e fo rm a liz o -o no
nível d o d is trito e le ito ra l. A v a n ta g e m d e s sa a b o rd a g e m é q u e e la e x p lic a a
ló g ic a d o s a to re s d e m a n e ira g rad u a l e c o m p re e n siv a . A d e s v a n ta g e m e s tá no
falo de q u e , p o r falta re m n e s ta se ç ã o im p o rta n te s a to re s e in stitu iç õ e s , o e s ­
tu d io s o d e p o lític a b ritâ n ic a e s ta r á a d ia n te d a e x p o s iç ã o , a n te c ip a n d o o b je -
ç õ e s q u e só s e rã o a b o rd a d a s n a S e ç ã o II, em q u e a p re s e n to o n ív el n a c io n a l
n a fo rm a d e jo g a d o r e s a d ic io n a is e e s tu d o o seu im p a c to no p la n o d istrita l.
E m su a fo rm a m ais s im p le s , c a n d id a to s a o P a r la m e n to a p re s e n ta m su a s
p r o p o s ta s p o lític a s p e ra n te o C o n s e lh o d c D ir e ç ã o G e ra l (G M C - G e n e ra l
M a n a g e m e n t C o u n c il, o u m ilita n te s d is tr ita is ) , s e g u in d o - s e a in d ic a ç ã o d o
re p re s e n ta n te p e lo G M C X. S im p lific a n d o a in d a m a is, e x a m in o o p ro c e s s o d e
re in d ic a ç ã o * , n o q u a l o p a rla m e n ta r em e x e rc íc io fa z s u a s e s c o lh a s c a p re ­
s e n ta s u a f o lh a d e s e rv iç o s: e s s a f o lh a d e s e rv iç o s in c lu i s u a lin h a p o lític a

7. Outros oilo deveram-sc a falhas pessoais e à idade do parlamentar, que podem .ser considerados de natureza .similar.
8. liles p ronu n ciam um d iscurso p o lítico que não dura m ais do que q u in z e m in u to s (R an n ey 1965).
* P o r a m jlito on processo d c iv iiu lia n iio deve entender-se o processo de nova csco llia d o c andidato q u e já exer­
ceu um m andato. E v itam o s c riar nm n eologism o para verter rexelectiim (N . do T ) .
126 GEORGE TSE B E U S

( m o d e r a d a o u r a d ic a l) e o s e rv iç o p re s ta d o e m fa v o r d o d is trito 9. A n a lis o em
s e g u id a a e s c o lh a d o s m ilita n te s e n tr e e s ta b e le c e r s a n ç õ e s (p e la re je iç ã o d a
re in d ic a ç ã o , o u p e la r e c u s a a tra b a lh a r p a ra e le ) o u r e c o m p e n s a s ( c o n f irm a n ­
d o a in d ic a ç ã o e o fe r e c e n d o se u s p ré s tim o s p e s s o a is p a ra a c a m p a n h a ).
N o q u e d iz r e s p e ito a o s s e rv iç o s a o d is tr ito e le ito r a l, n ã o h á p r o b le m a
p a r tic u la r : q u a n to m a is fiz e r, m e lh o r s e rá a s u a s itu a ç ã o . Q u a n to à lin h a
p o lític a , p o r é m , o p a rla m e n ta r e n fr e n ta o s e g u in te d ile m a : d a d o q u e o s m i­
lita n te s sã o m a is e x tr e m a d o s d o q u e o s e le ito r e s c o m u n s , s e e le f o r m o d e ­
ra d o , irá a g ra d a r ao e le ito r a d o , m e s m o q u e p o s s a p e rd e r a in d ic a ç ã o ; s e fo r
r a d ic a l, o b te r á a in d ic a ç ã o , m a s p ro v a v e lm e n te irá p e rd e r a e le iç ã o . L o g o ,
p r e f e r e s e r m o d e r a d o s e s o u b e r q u e o s m ilita n te s n ã o irã o p u n i-lo , e p r e f e ­
re s e r ra d ic a l s e s o u b e r q u e o s m ilita n te s irã o p u n ir a m o d e ra ç ã o . O p io r re ­
s u lta d o q u e o c a n d id a to p o d e e s p e r a r é s e r m o d e r a d o e p e rd e r a i n d ic a ç ã o 10.
N a v e rd a d e , o s p a rla m e n ta re s tra b a lh is ta s e s tã o c ie n te s d a s b a rg a n h a s
p o s s ív e is e n tr e a lin h a p o lític a e o s s e rv iç o s a o d is tr ito , e te n ta m u s a r o s
s e rv iç o s p a r a s u b s titu ir o p rim e iro , c o rn o in d ic a m as s e g u in te s a firm a ç õ e s
d e p a rla m e n ta re s , e n c o n tr a d a s e m C a in , F e re jo h n e F io rin a ( 1 9 8 7 , 86 ):

- M e u d is trito é s u f ic ie n te m e n te p e q u e n o p a ra q u e , s e v o c ê fo r a tiv o , a c o is a se e s p a ­
lh e . I s s o t o r n a a s u a b a s e f ir m e . Q u a n t o m a is f o r t e f o r m in h a r e p u t a ç ã o j u n t o à a s s o c i a ç ã o
d i s t r i t a l , m a is lo n g e p o s s o i r n a p o lít ic a .
- A a s s i s t ê n c i a s o c i a l m e a ju d a a o b t e r a lg u m a in d e p e n d ê n c i a e m r e l a ç ã o à te n d ê n c i a
e s q u e r d i s t a n a m á q u i n a d o p a r ti d o .
- S e a s e ç ã o d is trita l d o p a rtid o s e n tir q u e o p a rla m e n ta r é n e g lig e n te , e la p o d e rá p r e ­
j u d i c a r m u it o . U m a b o a r e p u t a ç ã o p o d e c o m p r a r o p e r d ã o p a r a q u a l q u e r u m .

E m c a d a d is tr ito e e m c a d a e le iç ã o , as b a rg a n h a s e n tr e o s s e rv iç o s e a
lin h a p o lític a g ra v ita m n u m a o u n o u tra d ire ç ã o ; a lg u n s d is tr ito s s e rã o m a is
s e n s ív e is à lin h a p o lític a , o u tro s ao s s e rv iç o s. N e s te c a p ítu lo , p r e s s u p o n h o
a e x is tê n c ia d a s b a rg a n h a s e c o n c e n tr o -m e p r in c ip a lm e n te n a lin h a p o lític a .
Q u a n d o a firm o q u e u m p a rla m e n ta r fo i tã o m o d e r a d o q u e foi s u b s titu íd o p o r
s e u d is tr ito e le ito r a l, e n te n d o q u e o d is trito e s ta v a m a is p r e o c u p a d o c o m p o ­
s iç õ e s p o lític a s , o u o p a rla m e n ta r n ã o p re s to u s e rv iç o s s u fic ie n te s a seu d is ­
trito p a r a c o m p e n s a r su a s p o s tu ra s m o d e ra d a s , o u a m b a s as c o is a s .

9. E sla e xpo sição ev ita q uestões d e o p o rtu n ism o (por exem p lo , o p arlam en tar p ro n u n ciar um d iscu rso d iferente
de seu co m p o rtam en to usual). A m inha apresentação tam bém e v ila qu e stõ es de voto p rospectivo e retro sp e c ­
tivo: os m ilitan tes a cred itam n o d iscu rso ou no c o m p o rtam en to ? lin lim , a m inha sim p lificação d e scarta a
c om petiçã o e n tre d iferen tes c an d id ato s trab a lh istas pela in d icação . C o n tu d o , e la p o d e ser d efe n d id a c om o
um a a p ro x im ação razoável d o p ro cesso de rein d icação : antes tle 1979, o p arla m e n tar e ra rein d icad o au to ­
m aticam ente, a m enos q u e o GMC fizesse algum a objeção ã su a atu ação ; após 1979, as regras p assaram a e x i­
g ir que, a n tes d c in iciar o p ro ce sso de reindicação, um a m o ção para c o n tin u ar com o p arlam en tar em ex er­
c ício fosse rejeitada pelo GMC. E x am in o os detalh es in stitu cio n ais na Seção III.
10. C a sos em q u e o c an d id ato in g ressa na co m p etição eleito ral co m o ind ep en d en te e vence a e leiç ão , a d esp eito
d c ter sid o rejeitad o pelo p artido dc seu d istrito , são m uito raros.
J O G O S O C U LT O S 127

P o r se u la d o , a o e f e tu a r u m a e s c o lh a o s m ilita n te s p re c is a m le v a r em
c o n ta d o is tip o s d e c rité r io s : p r e f e r e m g a n h a r a e le iç ã o a p e rd ê - la , m a s ao
m e s m o te m p o p r e f e r e m r e p r e s e n ta n te s r a d ic a is a m o d e r a d o s . S e o s e g u n ­
d o c rité r io f o r m a is f o rte q u e o p r im e ir o , a o r d e m d e p r e f e r ê n c ia d o s m ili­
ta n te s s e rá a s e g u in te : ( 1 ) o re s u lta d o p re f e r id o é a v itó r ia d e u m r e p r e s e n ­
t a n t e r a d ic a l; ( 2 ) p r e f e r e m te r u m r e p r e s e n ta n te r a d ic a l, m e s m o q u e e le
p e r c a ; (3 ) p r e f e r e m te r u m r e p r e s e n ta n te m o d e r a d o ; (4 ) o p io r r e s u lta d o
s e ria u m p e rd e d o r m o d e ra d o .
S e fo s s e e s s a a v e rd a d e ira e s tr u tu r a d e p r e f e r ê n c ia d o s m ilita n te s , e le s
s e m p re v o ta ria m c o n tr a c a n d id a to s m o d e ra d o s , e to d o s o s re p r e s e n ta n te s d o
d is t r it o s e r ia m r a d ic a is . D e v id o a se u e x tr e m is m o , a p e n a s u m a p e q u e n a
p o r c e n ta g e m d e s s e s re p r e s e n ta n te s c o n q u is ta ria c a d e ir a s n o P a r la m e n to . O
r e s u lta d o s e ria o P a rtid o T r a b a lh is ta s e r s e m p re d e rr o ta d o , e n u n c a a lc a n ç a r
o g o v e rn o . U m a a n á lis e s im ila r le v o u a lg u n s p a rla m e n t a r e s e p o l ít ic o s a
a b a n d o n a r o P a rtid o T r a b a lh is ta e m 1981 e a c ria r o P a rtid o S o c ia l D e m o ­
c ra ta (B r a d le y 1981). P a r a o s q u e c o m p a r tilh a m e s s a a n á lis e , o s e x e m p lo s
d e p e rd a s d e c a d e ira s n o in íc io d e s te c a p ítu lo n ã o d e v e tê -lo s s u rp r e e n d id o .
A o c o n tr á rio , e s s e s e x e m p lo s fo rn e c e m in d íc io s em a p o io d e tal a n á lis e . O
q u e p re c is a s e r e x p lic a d o é p o r q u e a f re q ü ê n c ia d e ta is in c id e n te s é tã o b a ix a
e p o r q u e o P a rtid o T r a b a lh is ta n ã o p e rd e u s u a p o s iç ã o d e u m d o s d o is m a io ­
res p a rtid o s n o R e in o U n id o .
S e o s m ilita n te s p r e f e r e m c o n q u is ta r u m a c a d e ir a a te r u m r e p r e s e n ­
ta n te ra d ic a l, e n tã o s u a o r d e m d e p r e f e r ê n c ia é a s e g u in te : ( 1 ) u m p a rla m e n ­
t a r r a d ic a l; (2 ) u m p a rla m e n ta r m o d e r a d o ; (3 ) u m r e p r e s e n ta n te ra d ic a l q u e
p e rc a , e (4 ) u m p e rd e d o r m o d e ra d o . E s s a o r d e m d e p r e f e r ê n c ia p r e s s u p õ e
( c o m o t o d a a b ib lio g ra f ia s o b re o a s s u n to ) q u e o s m ilita n te s s ã o r a d ic a is ,
m a s q u e o s in te r e s s e s d o p a rtid o v ê m e m p r im e ir o lu g ar.
N e s te c a p ítu lo , e x a m in o as c o n s e q ü ê n c ia s d e a m b o s o s p e rfis d e p r e ­
f e rê n c ia . N o e n ta n to , a p o s iç ã o q u e d e fe n d o e q u e e x p lic a o c o m p o r ta m e n to
d o s m ilita n te s é q u e e le s tê m a s e g u n d a e s tr u tu r a d e p r e f e r ê n c ia ( p re fe re m
u m p a rl a m e n t a r m o d e r a d o a u m p e r d e d o r r a d i c a l) , e a lg u m a s v e z e s e s s a
o rd e m d e p r e f e r ê n c ia é c o n h e c id a d o p a rla m e n ta r, a lg u m a s v e z e s n ã o . N o
p r im e ir o c a s o , r e f iro - m e a u m j o g o c o m in fo r m a ç ã o c o m p le ta e, n o s e g u n ­
d o , a u m j o g o c o m in fo r m a ç ã o in c o m p le ta .
A F ig u r a 5.1 r e p r e s e n ta o s d ile m a s d e c a n d id a to s e m ilita n te s n a f o r ­
m a d e u m j o g o . O c a n d id a to ( jo g a d o r 1 ) p r e c i s a e s c o l h e r e n tr e a e s tr a té ­
g ia m o d e r a d a e a e s tr a té g ia e x tr e m a d a . E m s e g u id a , o s m ilita n te s (jo g a d o r
2 ) p r e c is a m e s ta b e le c e r s a n ç õ e s o u r e c o m p e n s a s . S e o p a r l a m e n t a r e m
e x e rc íc io e s c o lh e o e x tr e m is m o , o s payoffs s ã o p a ra o p a rla m e n ta r e R 2
p a ra o G M C . S e o p a r la m e n ta r é m o d e r a d o e o G M C e s ta b e le c e s a n ç õ e s ,
o s p a yo jfs s ã o P, p a ra o r e p r e s e n ta n te e P 2 p a ra o G M C . S e o p a rla m e n ta r
é m o d e r a d o e o G M C o g r a t i f i c a , o s p a yo ffs sã o T ( p a r a o p a r l a m e n t a r e
O , p a ra o GM C.
GEORGE TSE B E U S

P e n s e m o s n u m j o g o c o m in fo r m a ç ã o c o m p le ta , o u s e ja , e m q u e to d o s
os p a yo jfs sã o c o n h e c id o s p e lo s a to r e s , e te n te m o s r e p r o d u z ir o r a c io c ín io
d o p a rl a m e n t a r 1'. E le p r e f e r e s e r m o d e ra d o ; p o ré m o G M C p r e f e r e q u e e le
s e ja e x tr e m a d o . A lé m d is s o , e le s a b e q u e a m o d e r a ç ã o p o d e c o n d u z ir à
p e rd a d a in d ic a ç ã o . S e a m o d e r a ç ã o fo s s e s e r r e c o m p e n s a d a , e le d e c id iria
s e r m o d e r a d o ; c o n tu d o , se a m o d e r a ç ã o f o s s e r e c e b e r s a n ç ã o , e le e s c o lh e ­
ria s e r r a d ic a l.

MP

1, R,
Oj K;

F i g u r a 5 . 1 O j o g o d a r e i n d i c a ç ã o d c p a i l a m c n l a r n o n ív e l d o d i s t r i t o .

E s s a in fo rm a ç ã o e s tá p re s e n te n o s p re s s u p o s to s d e n o sso m o d elo : a p r i­
m e ira o rd e m de p r e fe rê n c ia d o s m ilita n te s p r e s u m e q u e o s m ilita n te s p r e f e ­
rem q u e se u s re p re s e n ta n te s s e ja m id e o lo g ic a m e n te e x tre m a d o s a q u e se jam
e le ito s (fo rm a lm e n te , q u e 0 2 < P ,); a se g u n d a o rd e m d e p re fe rê n c ia d o s m ili­
ta n te s p re s u m e q u e p re fe re m te r se u s re p re s e n ta n te s e le ito s a a d o ta r s a n çõ e s
c o n tra e le s (fo rm a lm e n te , q u e 0 2 > P 2). A ssim , se 0 2 < P 2, o p a rla m e n ta r em
exercício sem pre escolherá ser rad ic a l c s e r r e in d ic a d o . S e 0 2 > P ,, o p a rla ­
m e n ta r s e rá s e m p re m o d e ra d o , e o GM C s e m p re irá a q u ie sc e r.
N o te -s e q u e , em a m b o s o s c a so s , n ã o h á sa n ç ã o . D e s s e m o d o , e s s e m o ­
d e lo c o n d u z d ire ta m e n te ao C a rib d e d a im p re c is ã o e m p íric a . N ã o a p e n a s c a ­
re c e d e p re c is ã o , c o m o n ão c c a p a z d e e x p lic a r o e n ig m a in ic ia l d o c o m p o r­
ta m e n to s u ic id a d o s m ilita n te s . N o p rim e iro c a so , a s a n ç ã o é u m a a m e a ç a
a c re d itá v e l e p o rta n to n ã o é e x e c u ta d a p o r q u e o p a rla m e n ta r t r a n s ig e 12. N o

1 I. M ais p recisam en te, e les possuem co n hecim en to m útuo, nu seja. am b o s c o nhecem os p u y u ffs um do outro,
cada um sabe q u e am bos c o nhecem os respectivos pttynjjx, cada um sa b e que am bos sabem q u e am b o s co­
nhecem os resp ectiv o s p a yo jfs...
I 2. O parla m e n tar crê q u e, se os m ilitantes forem solicitados a c u m p rir sua am eaça, e les o farão, pois c tle seu
JO G O S OCULTOS 129

segundo caso, a sanção não é uma ameaça acreditável, porque não é do inte­
resse dos militantes levá-la a cabo. Todavia, esse modelo simples demonstra
a lógica da interação entre parlamentares e distritos eleitorais e serve de ex­
plicação para a esmagadora maioria dos distritos do Reino Unido. Afinal, o
comportamento aparentemente suicida dos militantes constitui um enigma não
por causa de sua alta freqüência, mas por sua mera existência.
Por que os resultados catastróficos apresentados na introdução deste ca­
pítulo não são reproduzidos por esse modelo? Há três respostas possíveis para
isso. Em primeiro lugar, nesse modelo, pressuponho que os payoffs de ambos
os jogadores são de conhecim ento mútuo. Se presumo, porém, que o parla­
mentar não conhece a ordem dos payoffs dos militantes, se ele apreende erro­
neamente suas intenções, sobretudo se acredita que os militantes não irão exe­
cutar suas ameaças quando, na verdade, o GMC não está disposto a aceitar um
representante m oderado, o resultado do jogo da reindicação é exatam ente
moderação e sanção. Isso conduz duplamente à boca de Cila - porque des­
carta o problema quando aceita que os militantes preferem ser derrotados a
ser representados por um parlamentar moderado, e porque pressupõe erros da
parte de um ator racional (o parlamentar).
A segunda possibilidade é que são possíveis estratégias contingentes,
ou que o jogo é iterativo; logo, o com portam ento de hoje do GMC fornece
algum a inform ação sobre o seu com portam ento no futuro. Nesse caso, faz
sentido para um GMC adotar sanções mesmo que O, > P2, enviando um sinal
para futuros jogadores de que não vê a m oderação com bons olhos. A his­
tória de D ick Taverne representa um exemplo perfeito de sinalização num
jog o iterativo. Conform e observei na introdução, Taverne apresentou-se
com o candidato trabalhista independente contra o candidato oficial de seu
partido e ganhou a cadeira. A eleição seguinte ocorreu oito meses mais
tarde, e os trabalhistas reconquistaram a cadeira de Lincoln. Os militantes
estavam dispostos a perder a cadeira numa eleição para deixar claro que
Taverne era inaceitável, mas conseguiram, oito meses depois, reconquistar
a cadeira com um representante mais apropriado. Essa resposta é aceitável
se se pressupuser um núm ero infinito de iterações do jo g o 13. N o entanto, o
pressuposto de iterações infinitas é questionável.
A terceira possibilidade é uma com binação de incerteza e iterações.
Esse é o caso a investigar14. Conform e observei no Capítulo 3, no caso de

13. V er a d is c u s s ã o d a p ro v a d e F u d en b crg c M ask in d o le o rem a p o p u la r c a in d u ç ã o reiro aliv a d is c u tid a n o C a p ítu lo 3.


14. N a b ib lio g ra lia e c o n ô m ic a , o jo g o d a F ig u ra 5.1 é d e n o m in a d o d e p a n id o x o d a c a d c ia d e lo jas, e foi ap re se n ta d o
p ela p rim e ira v e z p o r S e ltc n (1 9 7 8 ). A h is tó ria e s lili/.a d a é q u e u m a c a d e ia d c lo jas e n fre n ta c o n c o rrê n c ia tle u m a
s é rie d e lo jas, u m a c m c a d a c id a d e . C a d a c o m p e tid o r p rec isa d e c id ir .sc v ai o u n ã o e n tra r no m e rc a d o , e a ca d e ia
d e lo ja s p re c is a d e c id ir s e irá a p lic a r s a n ç õ e s n a fo rm a d e g u e rra d e p re ç o s ou s e v ai tra n sig ir. O p a ra d o x o o c o rre
q u a n d o , s o b c o n d iç õ e s d e in fo rm a ç ã o c o m p le ta , e p o r u m n ú m e ro fiu ilo d e v ez es, o c o m p o rta m e n to ó tim o é tra n ­
sig ir, m a s u m a c a d e ia d e lo jas “irra c io n a l” p o d e llc a r c m m e lh o r s itu a ç ã o s c p u n ir se u co n c o rre n te m a is im ed ia to ,
c ria n d o u m a re p u ta ç ã o d e se r d u ra, o q u e d is s u a d e n o v o s c o n c o n e n te s . P ara u m e s tu d o m in u c io s o d e s s e e d e o u tro s
jo g o s s im ila re s c o m o p re s s u p o sto cie in fo rm a ç ã o in c o m p le ta , v e r T ro c k e l (1 98 6 ).
GEORGE TSEBE U S

jogos de iteração finita com inform ação incom pleta, pode-se dizer que
qualquer resultado racional individual constitui um equilíbrio perfeito. Além
disso, as proposições 3.6 e 3.7 indicam que a probabilidade de cscolhcr uma
das estratégias varia com a magnitude dos payojfs. Essa inform ação pode
ser usada para investigar o jogo da reindicação sob condições de inform a­
ção incom pleta e iterações.
Tabela 5.1 0 jo g o da reindicação no nível do distrito.

D istrito e leito ral

R eco m p en sa S a n çã o
R ad ical R )t R 2 o ,, t 2
MP
M o d erad o T .’ 0 2 P r P2

M P: T , > R , = O , > P,
D istrito e leitoral: T , = R , > O , > P , ou
T , = R , > P, > O ,

A T abela5.1 reproduz o jogo de dois-por-dois da Tabela 3.1; só os no­


mes das estratégias diferem. O jogador 1 (o MP) tem a escolha de uma postu­
ra extrem ada ou moderada; o jogador 2 (o GMC) tem a escolha de sancionar
ou recompensar. Utilizei os símbolos-padrão apresentados no Capítulo 3 para
representar os payojfs. Em nosso jogo, a ordem desses payojfs e a seguinte:
Tj > R, = O, > P, para o M P (5.1)
T2 = R, > O, > P2 se o GMC faz uma ameaça não-acreditável (5.2)
T2 = R2 > P2 > 0 2 se o GMC faz uma ameaça acreditável (5.2')
Os payojfs para o MP se assemelham aos payojfs dc um jogo do gali­
nha. Os do GMC se assemelham ou ao jogo do galinha, a inequação (5.2),
ou ao jogo do dilema dos prisioneiros, a inequação (5.2’). A única diferen­
ça formal é que uma das desigualdades em cada caso é substituída por uma
igualdade. A razão é que, conforme indica o jogo da Figura 5.1, os m ilitan­
tes não têm de responder se seu MP tem uma postura extremista. Assim, se
o MP é radical, o resultado do jogo é sempre o mesm o (Rj = O, e R2 = T,).
Conform e observei no Capítulo 3, a escolha das estratégias, no jogo
iterativo, não depende da natureza do jogo, mas da magnitude dos payojfs.
Em particular, com o indicam as proposições 3.6 e 3.7, quando os payojfs
para extrem ism o (R, e O ,) aum entam , ou os payojfs para m oderação (T, e
P ) dim inuem , torna-se mais provável a escolha de uma postura radical. De
m odo análogo, quando os payojfs da reindicação ou da recom pensa (R2 e
JO G O S OCULTOS ííí

0 2) aum entam , ou os payoffs da sanção (T, e P2) decrescem , as recom pen­


sas se tom am mais prováveis. Podem os usar essas descobertas para estu­
dar os resultados do jogo iterativo da reindicação.
Tentem os interpretar as proposições 3.6 e 3.7 no contexto do jogo es­
pecífico. Quando é provável a substituição do parlam entar, ou seja, quando
é m ais provável que ele será moderado e que os m ilitantes adotarão san­
ções? A resposta é fornecida pelas proposições 3.6 e 3.7: c mais provável
que o MP venha a ser moderado quando os payoffs para extrem ism o (R, e
0 () dim inuem , ou quando os payoffs para m oderação (T, e P () aum entam .
É mais provável que o GMC venha a punir quando os payoffs para recom ­
pensa (R, e S2) dim inuem , ou os payoffs para sanção (T, e P2) aum entam .
N um a matriz dc p a yoff com todas essas características, c provável a subs­
tituição dos MPs por militantes distritais, porque o MP tem suas razões para
ser moderado, mas os militantes dão mostras de que não aceitarão um re­
presentante moderado. Exam inem os a situação em distritos trabalhistas di­
ferentes para com provar se essas condições são atendidas.
Para exam inar os payoffs cm distritos eleitorais diferentes precisam os
analisar o jogo da reindicação no distrito não isoladam ente, mas em cone­
xão com o jogo com petitivo entre os dois partidos. D esse modo, os payoffs
do jogo da reindicação variam de acordo com a situação com petitiva entre
os dois partidos no distrito. Essa observação é a chave que não só vincula
a situação com petitiva no distrito aos payoffs do jogo da reindicação, mas
tam bém vincula a situação com petitiva no distrito à probabilidade de que
cada jogador escolha estratégias diferentes.
Considerem os um a cadeira segura do Partido Trabalhista. E razoável
supor que, se o atual MP for moderado, ele pode ser substituído sem risco de
perder a cadeira para os conservadores. Assim, o valor de P7 é mais alto, e
aum enta a probabilidade de sanção da parte do GMC. Contudo, a segurança
da cadeira indica que a reindicação pelo GMC praticam ente assegura a vitó­
ria eleitoral; portanto, o valor de P, diminui, levando a um aumento na pro­
babilidade de que o MP atual apresente uma postura extremada. Assim , no
caso de cadeiras seguras, aum enta a probabilidade de MPs extremados. Essa
conclusão é partilhada por Epstein (1960, 387), que afirma: “Q uanto mais
segura a cadeira, mantidas as outras condições, mais vulnerável será o MP à
pressão partidária local”.
Consideremos agora um a cadeira marginal. Argum entos análogos in­
dicam que o valor de R ) diminui, porque a escolha de um a postura radical
reduz a probabilidade de ganhar a cadeira. Pelo mesmo pressuposto, o valor
de O0 aum enta, porque a reindicação do atual MP (moderado) aum enta a pro­
babilidade de conquistar a cadeira. Nesse caso, será mais provável a escolha
de uma postura moderada e de transigência. Bochel e Denver (1983, 49) for­
necem indícios de que, no caso de cadeiras marginais, os militantes fazem
ponderações eleitorais.
LU GEORG1:: IS!: III: LIS

N o que concerne aos conservadores, Epstein (1960, 388) descobriu


que MPs de cadeiras seguras foram rem ovidos, enquanto três MPs de ca­
deiras m arginais (Yates, A stor e K irk) foram reindicados, apontando a
m arginalidade do distrito com o a razão de sua reindicação. No caso de
Yates, Epstein (1960, 379-380) sustenta que ele “não teria renunciado se
lhe tivessem pedido para fazê-lo, e qualquer tentativa de rem ovê-lo teria
sido politicam ente perigosa para a causa conservadora. Yates, um vetera­
no de cam panhas políticas, conquistou a cadeira com apenas 478 votos,
em 1955, retirando-a do Partido T rabalhista, que a conquistara nas três
eleições anteriores”.
Enfim, exam inem os um a cadeira segura do Partido Conservador. N es­
se caso, a substituição de um representante trabalhista m oderado por um
radical não terá im pacto sobre a probabilidade de conquista da cadeira.
Portanto, o valor de P2 é alto, é mais provável que o GMC adote sanções e
é mais provável a existência de representantes extrem ados. As provas do
extrem ism o de distritos fracos são fornecidas por W illiams (1983, 28), que
afirm a ter a oposição de tendência esquerdista partido das cadeiras segu­
ras dos tóris.
Um exame mais atento dos payojfs em tipos diferentes dc distritos indi­
ca que a não-reindicação de MPs não deve observar-se com freqüência pelo
fato de que, nos distritos marginais, os militantes estariam mais dispostos a
aceitar MPs moderados, ao passo que, nas cadeiras seguras trabalhistas ou
tóris, os MPs antecipariam as reações dos militantes. Dessa forma, a ocorrên­
cia efetiva de conflito de reindicação indica duas coisas: a existência de um
jogo iterativo com informação incompleta, e a existência de payojfs que a
longo prazo tornam racional para os militantes o envio de um a mensagem
que mostre que não aceitarão MPs moderados.
Resumindo o raciocínio, é mais provável que as cadeiras seguras dos
conservadores ou dos trabalhistas sejam ocupadas por representantes extre­
mados, e que as cadeiras marginais sejam preenchidas por representantes
moderados. Contudo, por se tratar de um jogo iterativo, não estão excluídos
outros resultados. Em particular, é possível, embora não muito provável, ob­
servar moderação e sanções cm todos os três tipos de distritos. As sanções
podem ser interpretadas como um sinal da parte do GMC de que a modera­
ção é insatisfatória e de que, no futuro, candidatos a MPs precisam assumir
uma plataform a política mais extrem ada se quiserem ser reindicados.
Tendo essa análise em mente, que conclusões podemos extrair da fre­
qüência observada de sanções? Quando as sanções são utilizadas com fre­
qüência, significa isso que os distritos exercem seus direitos mais do que
quando não são observadas sanções ? Significa isso que os militantes são
mais radicais ou, talvez, que os candidatos são mais moderados? Não há in­
dícios suficientes para responder a nenhuma dessas questões. Atrás forneci
indícios de que, no Partido Conservador, três MPs sobreviveram ao proces­
JOG OS OCULTOS

so de reindicação porque suas cadeiras eram marginais. N ão se constatou a


existência de eventos sim ilares no Partido Trabalhista. Que inferências po­
dem os extrair disso? Os distritos conservadores fazem menos ou mais pon­
derações eleitorais do que os trabalhistas? N enhuma inferência nesse senti­
do pode ser extraída desses dados.
A razão pela qual não se pode extrair qualquer inferência sobre os
jogadores com base na freqüência de casos é que eles são congruentes com
duas explicações diam etralm ente opostas: que os distritos eleitorais traba­
lhistas não exam inam o problem a da reindicação com base em reflexões
eleitorais, e que os MPs trabalhistas não recebem sanções porque previram
que, se escolhessem posições moderadas, não seriam reindicados. Por não
haver como discrim inar entre essas duas explicações diam etralm ente opos­
tas com base na freqüência observada de sanções, a freqüência observada
é desprovida de significado.
Cientistas políticos e jornalistas discutiram durante muito tempo a na­
tureza secreta do processo de reindicação. Ranney (1965, 3) chama-o de
“jardim secreto da política britânica”. Epstein (1960, 374) afirma: “Estudar
relações de associação entre o MP e o distrito requer a intromissão num as­
sunto que, como escreveu um MP em resposta à minha investigação, ‘é pri­
vado, pessoal e confidencial” ’. Contudo, ambos os setores concentram sua
pesquisa empírica nas freqüências de rejeição dos MPs.
Essa análise dem onstra que é despropositado extrair inferências da fre­
qüência de rejeição dos MPs, mas sugere a probabilidade de que uma dife­
rença significativa caracterize as crenças e ações políticas dos representan­
tes de cadeiras marginais e seguras. Os representantes de cadeiras marginais
serão mais moderados. Contudo, em seu estudo em pírico, Janosik (1968,
145) não encontra nenhuma diferença entre ambos. Ele conclui: “A nature­
za e extensão dos desvios variou pouco entre distritos sólidos e marginais”.
De modo mais geral, o estudo da eleição de 1979, em Nuffield, com prova
que, “mais um a vez, qualquer um que examine o registro da indicação de
candidato fica impressionado pelo pouco de política que ele contém” (Butler
e Kavanagh 1980, 208).
D iante dessa prova, parece que mais uma vez enfrentamos o Caribde da
imprecisão empírica. O meu modelo prevê que MPs de distritos marginais serão
mais moderados e prestarão mais serviços ao distrito do que MPs de distritos
trabalhistas seguros. Serão falsas essas previsões?
Sem provas obtidas em pesquisas de opinião eu não poderia testar o
impacto da marginalidade sobre os serviços ao distrito eleitoral. Todavia, Cain,
Ferejohn e Fiorina (1987, 95) fizeram isso e descobriram que MPs de cadei­
ras marginais prestaram mais serviços aos distritos eleitorais do que MPs de
cadeiras seguras. Utilizando um modelo próbite para calcular o impacto da
margem de vitória sobre a prestação de serviços locais, constataram um coe­
ficiente altamente negativo (-0,023, sendo 0,01 o nível significativo).
B S C S H I UFRGS
GEORGE TSEUEL1S

Q uanto às posições políticas dos MPs, testei m inha tese com dados da
Câm ara dos Com uns na legislatura 1974-1979. A variável independente foi
a m arginalidade do distrito: a diferença de percentagem pontual entre o MP
trabalhista e o segundo candidato'5. A variável dependente foi o núm ero de
vezes que cada MP trabalhista votou com o Partido Conservador na legisla­
tura de 1974-1979, causando a derrota política do governo trabalhista. Se­
gundo N orton (1980), o governo trabalhista perdeu vinte e duas dessas
votações devido a dissensões; dessas votações, doze delas eram projetos de
devolução de direitos à Escócia e ao País de Gales; as dez restantes cons­
tituíram derrotas políticas do governo devido a dissensões. No apêndice a
este capítulo são apresentados os porm enores relativos à construção do con­
junto de dados.
Correlacionei a freqüência de dissensão em nove votações sensíveis a
razões políticas com a margem de vitória eleitoral dos MPs na eleição de
1974. O resultado é que, quanto mais m arginal for o distrito, mais prová­
vel será que o MP vote com a oposição conservadora: a correlação entre a
margem de vitória eleitoral e o número de vezes em que um MP trabalhis­
ta vota com a oposição é - 0,224.
A Tabela 5.2 apresenta os dados em forma resumida. Os distritos elei­
torais são dicotomizados em “seguros” (se a margem de vitória for > 20 pon­
tos) e “marginais” (se a margem de vitória for < 20 pontos)16. Os MPs se
dividem em “leais”, se votam com o governo, e “desleais”, se divergem pelo
menos uma vez. A Tabela 5.2 demonstra que os MPs leais provêm mais de
cadeiras seguras do que de cadeiras marginais (114 para 72); MPs desleais
provêm mais de cadeiras marginais do que de cadeiras seguras (83 para 63);
além disso, cadeiras seguras produzem mais MPs leais do que desleais (114
para 63); e as cadeiras marginais produzem mais MPs desleais do que leais
(83 para 72).
U tilizando o mesm o conjunto de dados, fiz um a regressão do núme­
ro de vezes em que um MP trabalhista votou contra o governo (ou se abs­
teve) em relação à margem de sua vitória eleitoral; o coeficiente padroni­
zado da variável "m argem ” foi - 0,24, e era estatisticam ente significativo
no nível 0,0001 (t - estat > 4); contudo, o R2 do modelo foi baixo: 0,06.
Pode-se argum entar que a significância estatística é um a função do
número de casos e que, com um número tão alto de casos (332), a signifi­
cância estatística está assegurada e portanto c irrelevante. É certo que a
significância estatística depende do número de casos observados e que, se
eu tivesse coligido dados diferentes, poderia não ter encontrado o mesmo

15. O s chulos sfto e x im id o s d c C ru ig (1 9 8 4 ).


16. A m a rg e m m é d ia d e v itó r ia é 2 3 ,7 p o n to s ; as m a rg e n s s ã o tã o a ltn s p o rq u e é re g ra n a s e le iç õ e s b ritâ n ic a s a
p re s e n ç a d e c a n d id a to s d e u m te rc e iro p a rtid o . P o r e x e m p lo , u n i r e s u lta d o e le ito ra l d e 5 0 % , 2 5 % , 2 5 % p r o ­
d u z u m a m a rg e m d e v itó ria d e v im e e c in c o p o n to s p e rc e n tu a is .
JO G O S OCULTOS 135

nível de significância. Todavia, esse argum ento atua exatam ente no senti­
do oposto: o teste em pírico faz parte do projeto da pesquisa. Com o em
estudos anteriores, eu poderia ter trabalhado com um questionário de uma
amostra de MPs, o que teria limitado o número de casos, posto em dúvida
a m edida em que suas afirm ações correspondem a suas atitudes ou a seu
com portam ento, ou as três coisas conjuntam ente. Escolhi, em vez disso,
exam inar o universo de MPs (na Câmara dos Comuns na legislatura de 1974-
1979) e o universo das dissensões politicam ente significativas e instrum en­
tais (aquelas que causaram a derrota do governo trabalhista, de modo que
não podem ser consideradas simbólicas).

Tabela 5.2. Funçao da margem de vitória na eleição dc 1974 na frequência de dis-


sensão na Câm ara dos Com uns na legislatura de 1974-1979.

C a d e ira se g u ra C a d e ira m arg in al T otal


(m arg e m > 20 ) (m a rg em < 20 )

L eais 114 72 186


(d issen sã o = 0)
D esleais 63 83 146
(disscíisíío < 0)
T otal 177 155 332

Pode-se argum entar que, mesmo nessas votações, importantes para o


governo trabalhista, alguns MPs de esquerda votaram com o Partido Con­
servador para causar a derrota do governo (votação estratégica). Para tes­
tar esse argum ento eu precisaria de dados sobre a localização dircita-esquer-
da independentem ente do voto dissidente, dados que não tenho. Contudo,
na ausência do voto estratégico, os indícios existentes corroboram enfati­
cam ente a minha teoria.
Entretanto, o grau de adequação do modelo é baixo, indicando clara­
mente que existem aspectos adicionais da interação entre os MPs e seus
distritos eleitorais, aspectos que não foram apreendidos até o momento por
esse modelo. Quais são eles? No modelo até agora apresentado, não exis­
te um m ecanism o centra) para m anter unidos os distriíos. A descrição for­
necida até o m om ento é mais adequada para explicar o processo descen­
tralizado das eleições prim árias norte-am ericanas do que o processo de
reindicação britânico. De fato, esse m odelo sim ples prevê m uito bem os
resultados nos Estados U nidos. Os representantes de distritos m arginais
dos Estados Unidos representam seus eleitores locais de maneira mais fiel,
mas os representantes que ocupam cadeiras mais seguras possuem maior
136 GEORGE TSEBELIS

liberdade de movim ento, ou seja, há uma “estreita associação entre inde­


pendência eleitora] e independência política” (Cain, Ferejohn e Fiorina
1987, 206)17.

II. DISTRITOS ELEITORAIS, O NEC E A CONVENÇÃO ANUAL


A Seção I pode ter causado irritação aos estudiosos da política britâ­
nica, por ter criado a im pressão de que os MPs possuem uma substancial
liberdade de escolha em suas posições políticas, de m odo muito sem elhante
a seus colegas no Congresso norte-am ericano. Essa im pressão é falsa. A di­
versidade de opiniões entre os MPs britânicos é substancialm ente mais baixa
do que entre seus colegas norte-am ericanos, com o indicam as freqüências
de dissensão. Philip Norton (1975) mediu a percentagem de votos na C â­
mara dos Comuns quando um ou mais MPs se desviaram da linha do par­
tido; e encontrou menos de 3% de todos os votos, exceto nas legislaturas
de 1959 e 1966. Em cada um desses casos, o governo possuía um a m aio­
ria expressiva, de modo que poderia sem dificuldade perm itir-se perder al­
guns votos sem sofrer conseqüências políticas (Norton, 1975). O grau de
coesão dos partidos britânicos era tão alto que, na década de 60, Samuel
Beer (1969, 350) escreveu que não havia motivos para medi-la. Essa “dis­
ciplina prussiana” (nos term os de Beer) se csvaeceu após 1974, com o vi­
mos nos testes em píricos da Seção I, mas ainda perm aneceu alta pelos
padrões am ericanos.
A razão da discrepância de coesão entre o Reino Unido e os Estados
U nidos é a existência de disciplina partidária nos países europeus. Os MPs
britânicos raras vezes podem votar livrem ente sobre questões de im por­
tância política. N esta seção, exam ino um dos m ecanism os que produzem
opiniões políticas e com portam ento uniform es no nível nacional. Requer a
introdução de um jogador adicional: o Com itê Executivo N acional (NEC
- N ational Executive Com m ittee) do Partido Trabalhista.
O NEC tem o direito de veto aos candidatos parlam entares. Form al­
mente, esse poder de veto é admitido pela cláusula IX, da seção (3) dos
estatutos do partido, que estipula: “A indicação dos candidatos do Paitido Tra­
balhista para as Eleições Parlamentares não deve ser considerada terminada
até que o nome da pessoa indicada tenha sido apresentado na reunião do Co­
mitê Executivo Nacional, e sua indicação tenha sido devidamente endossa­
da”. De modo mais geral, o NEC tem o poder de “im por os Estatutos, as
Ordens em vigor, e as Regras do partido, e adotar qualquer ação que consi­
dere necessária para tal propósito, seja por meio de desfiliação de um a orga­

17. E m iip o io a e s s a te s e . v e r T u rn c r (1 9 5 1 ), M a c ra e (1 9 5 8 ), M a y h e w (1 9 6 6 ), S h a n n o n (1 9 6 8 ), B ra d y (1 9 7 3 ) e
F io rin a (1 9 7 4 ).
JOG OS OCULTOS m

nização, ou expulsão de um indivíduo, ou outras” 1*. Ranney descreve quatro


formas diferentes do exercício do poder de veto do NEC com relação a deci­
sões do GMC: exclusão da lista b (a lista de candidatos não patrocinados pe­
los sindicatos), expulsão do partido, manutenção dos nomes fora da lista dos
pré-indicados, e retirada do apoio19.
Segundo os estatutos do partido, a decisão do GMC precisa ser apro­
vada pelo NEC211. O modelo sim ples apresentado na Seção I pode ser agora
suplem entado com porm enores institucionais adicionais.
A Figura 5.2 representa um a explicação sim plificada, porém mais
confiável, do jog o da reindicação. Os payoffs não surgem nos nós finais
da árvore dos jogos, com o é usualm ente o caso, porque isso com plicaria
desnecessariam ente o raciocínio. O estudo exaustivo do jogo sim ples no
nível distrital nos ajuda a entender com o esse jogo mais com plicado é jo ­
gado pelos diferentes partidos. Examinem os um jogo de um a única parti­
da com inform ação perfeita, como o descrito pela Figura 5.2. Observemos
que o NEC, e não o GMC, tem a últim a palavra. D ado isso, no jogo de
um a única partida o GMC não irá tom ar decisões que o NEC poderá reverter.

MP

F ig u ra 5 .2 O jo g o d a re in d ic a ç ã o no nível d o p arlid o .

Dois fatores determ inam a posição do NEC. O prim eiro é sua com po­
sição política: se a ala direita do partido controla a maioria do NEC, o GMC
reconhecerá que é inútil apresentar candidatos de esquerda, porque serão

18. C lá u s u la IX , s e ç ã o 2 , p a rá g ra fo (c ). d o s e s ta tu to s d o p a rlid o ( L a b o u r P a rty 1 9 8 4 -1 9 8 5 , p . 9 ). F.m v iriu d e da


c o n tín u a in s e rç ã o o u e lim in a ç ã o d e p a rá g ra fo s , o n ú m e ro d e a rtig o s , s e ç õ e s e p a rá g ra fo s m u d a d e a c o rd o
c o m o a n o d e p u b lic a ç ã o d o s e s la lu lo s .
19. R a n n e y ( 1 9 6 5 , 1 5 4 -1 6 6 ) e n c o n tra c in c o c a s o s d c e x p u ls ã o d o p a rtid o c c in c o c a s o s d e r e tira d a d e a p o io e m
d e z c a s o s d e v e to d o N EC n o p e río d o e n tr e 1945 c 1964.
2 0 . A d e c is ã o d o N RC p o d e s e r q u e s tio n a d a , e m ú ltim a in s tâ n c ia , n a c o n v e n ç ã o a n u a l d o p a rlid o . I n lro d u z o e s s a
c o m p lic a ç ã o n a d is c u s s ã o .
GEORGE TSEBE U S

elim inados. Se a ala esquerda do partido controla o NEC, o GMC sabe que
o NEC respeitará suas escolhas.
O segundo fator que influencia o julgam ento do NEC é a questão de
saber se a cpoca é apropriada para a nacionalização de um conflito essen­
cialm ente local. Esse segundo fator irá atenuar o prim eiro (a com posição
política do NEC) e aum entar a gam a de candidatos aceitáveis pelo NEC.
Esses dois fatores, conjuntam ente, indicam os motivos pelos quais os
dados empíricos apresentados na Seção I provocam tanto alarde. O primeiro
fator indica que o NEC é responsável, em últim a instância, pelas crenças,
atitudes e com portam ento políticos dos MPs; o segundo indica que o NEC
lançará mão de seus direitos para intervir de acordo com a situação políti­
ca e contra posições extremistas.
O parlam entar pode raciocinar com o segue: se o NEC for dom inado
pela direita, o GMC com preenderá que opor-se a ele é inútil. C ontudo,
mesm o que o GMC não com preenda bem a situação, o NEC recusará a lis­
ta, ou retirará dela todos os candidatos esquerdistas não aceitáveis. No pior
dos casos, e se a situação política for apropriada, am eaçará o distrito com
a desfiliação. Sc o NEC for dominado pela esquerda, as margens de esco­
lha do candidato serão lim itadas. Se ele for rejeitado pelo GMC, disporá
de pouca ajuda. Prentice, por exemplo, recebeu uma carta de apoio de 180
MPs, mas ainda assim foi rejeitado por seu distrito c pelo NEC (Kogan c
K ogan 1982, 31).
D esse modo, se o jogo é considerado de um a só jogada com inform a­
ção perfeita, não há possibilidade de discordância pública entre os MPs, os
distritos eleitorais e o NEC, assim com o não havia possibilidade de diver­
gência entre um MP e o GMC no jogo sim plificado no nível distrital. A ra­
zão é que ameaças acreditáveis são respeitadas e, em conseqüência, o outro
jogador capitula; ameaças não-acreditáveis não são levadas a cabo. O jogo
nesta seção difere do jogo da Seção I pelo fato de que a introdução do NEC
produz resultados que são independentes das opiniões políticas dos m ilitan­
tes distritais. O NEC pode, m ediante seu poder de veto, rejeitar qualquer
candidato que julgue inaceitável por razões políticas. Se o NEC é dom ina­
do pela direita, os distritos aquiescem. Se o NEC é dom inado pela esquer­
da, os MPs aquiescem . Esse modelo cxplica a disciplina dos partidos polí­
ticos britânicos e a esm agadora maioria dos casos de reindicação em que
não ocorrem quaisquer disputas entre o distrito, o MP e o NEC. Porém, tanto
quanto o exem plo correspondente na Seção I, não pode explicar conflitos
entre os atores.
Se, todavia, o jogo entre MPs, militantes c o NEC é considerado um
jogo iterativo com informação incompleta, a análise anterior (que supunha
informação perfeita) permanece basicamente válida, embora se tornem pos­
síveis resultados que indiquem discordância entre MPs e m ilitantes, ou en­
tre militantes e o NEC. Assim, e possível ver distritos eleitorais apoiando um
JO G O S OCULTOS

candidato que é rejeitado pelo NEC, numa tentativa de um a afirmação polí­


tica com vistas ao futuro. É possível também que os MPs apresentem con­
cepções que são inaceitáveis para o seu GMC, porque contam com o apoio
do NEC.
Epstein (1960) e Ranney (1965) apoiam essa análise. Epstein (1960,
385) afirma:
C laram ente, é o MP cujo d esvio d a orientação da liderança nacional se volta para o centro,
distante d a ortodoxia partidária tradicional, que tem problem as em sua associação distrital. Em acrés­
cim o, ó duvidoso que unia associação possa punir um MP po r votar contrariam ente às co nccpçõcs
da seção loca! do partido se, ao fazê-lo, estiver seguindo a orien tação cia lid eran ça nacional do par­
tido. C o m efeito , q u ando alguns poucos distritos trabalhistas reagiram conlra seus MPs que ap o ia­
ram o rearm am ento da A lem anha, a liderança nacional do partido interveio para proteger os MPs.

No entanto, o jogo iterativo entre distritos eleitorais e o NEC se vincu­


la ao jogo competitivo entre os partidos no nível distrital e no âmbito nacio­
nal, Se o Partido Trabalhista for com petitivo num distrito, é provável que
todos os atores apoiem a moderação e tentem conquistar a cadeira. Nesse caso,
os payoffs para moderação aumentam para o MP, para o distrito e para o NEC;
e é mais provável que cada ator promova (o MP ou um NEC moderado) ou
aceite (os militantes locais ou um NEC de tendência esquerdista) uma Jinha
política moderada e menos provável que requeira (os militantes locais ou um
NEC de esquerda) ou aceite (o MP ou um NEC moderado) políticas radicais.
Não se sabe o número de vezes em que os distritos eleitorais capitu­
laram diante da autoridade do NEC e não apresentaram candidatos que não
seriam aprovados: ninguém tem acesso ao “jardim secreto da política bri­
tânica”. Sabe-se, porém , que três MPs que sobreviveram a conflitos de
reindicação com seus distritos eleitorais em 1956, conseguiram isso depois
que os representantes do NEC ameaçaram de desfiliação a seções distritais
do partido (Janosik 1968, 60).
Os estudos em píricos apontam quase sem pre para a questão do equi­
líbrio de poder entre os distritos e o NEC. Os indícios apresentados são a
freqüência dos vetos efetivos: M cK enzie (1964, 552) cita M ark A bram s,
que sustenta que “a Câm ara dos Transportes tem agora sob seu patrocínio
centenas de cadeiras seguras”, apenas para discordar dele21. Ranney (1965)
afirma que o poder da Câmara dos Transportes é mais nominal do que real.
N ora Beloff, correspondente político, ataca Ranney no O bserver de 16 dc
agosto dc 1964, escrevendo:

2 1 . J o rn a lis ta s e p o lític o s c o s tu m a v a m c h a m a r o N EC d e “C â m a ra d o s T ra n v p o ite s ” p o rq u e , a té o fin a l d a d é c a ­


d a d e 8 0 ( q u a n d o s e m u d o u p a ra W a lw o rth R o a d ), c ie s e lo c a liz a v a e m S n iitli S q u a re W c stm in s tc r, 110 m e s ­
m o p re d iu e m q u e o m a io r .sin d icato b ritâ n ic o , 0 T ra n s p o rt atid G e n e ra l W o rk c is U n io n ( S in d ic a to (io s T ra ­
b a lh a d o re s c m T ra n s p o rto ), lin h a s u a s e d e .
140 GEORGE TSEBE U S

U m a das principais conclusões d a p esquisa de R anney é que as o rganizações centrais dos


dois partidos dispõem de m uito m enos poder para im por candidatos do que o público supõe. Se o
p rofessor tivesse interceptado as ligações telefônicas en tre o escritório central, os agentes regionais
e as sedes distritais, poderia estar m enos propenso a desprezar por ser “quase n u la” a influência do
escritó rio central.

Janosik (1968, 132) critica Beloff, sugerindo que, para alguns escritores po­
líticos, “Não importa quantas acusações se revelem sem fundamentos, aque­
les que sentem que o NEC com certeza deve ter controle sobre a indicação
dos candidatos parlam entares acabam insistindo em que o pesquisador não
deveria ter ido tão fundo, c que o NEC de fato dispõe desses poderes”.
A minha análise sugere que o NEC tem esse poder, e que indícios em ­
píricos na forma de vetos efetivos, mem orandos internos ou cham adas te­
lefônicas são irrelevantes; seu poder provém da estrutura do jogo da rein­
dicação, no qual o NEC possui poder de veto sobre os indicados. Esse poder
de veto é atenuado unicam ente pela conjuntura política geral; se o NEC
julgar que as circunstâncias são inapropriadas, não intervirá. Se esse po­
der de veto raram ente é exercido é porque raramente precisa ser exercido.
Contudo, está sem pre presente o poder de veto da liderança partidária cen­
tral. E a liderança pode am eaçar usá-lo sem pre que sentir que tais am ea­
ças são necessárias. A mal-afamada frase de Harold W ilson, em meio à crise
do M ercado Comum Europeu, resume-o de form a adm irável: “Tudo o que
eu digo é observem . Todo cão tem perm issão para m order um a vez, mas
pensa-se diferente de um cão que morde sem pre. Se houver dúvidas de
que o cão que está mordendo não é porque obedece à sua consciência, mas
porque é considerado viciado, então acontecem coisas a esse cão. Pode ser
que não tenha sua licença renovada quando isso se tornar necessário” (The
Tim es, 3 de m arço de 1967, p. 1).
O meu argum ento não difere daquele apresentado pelos autores da
C onstituição am ericana no que se refere ao poder de veto presidencial.
N o Federalist, n° 74, H am ilton (H am ilton, M adison e Jay 1961, p. 446)
argum entou que fundam entalm ente o poder de veto não precisa ser em ­
pregado para ser efetivo:
Um poder dessa n atureza no executivo operará de m aneira silen cio sa c im perceptível, em ­
bora com força. Q uando os hom ens, com prom etidos com objetivos injustificáveis, têm consciência
de que as reações podem vir de um a esfera que não controlam , eles quase sem pre, pelo m ero re­
ceio de en co n trar oposição, se ab sterão de fazer aquilo que se apressariam a fazer se não tem essem
im pedim entos externos.

A ssim , a freqüência do exercício de fato do veto não pode ser invocada


para estabelecer a relatividade de um poder.
Existe mais um im portante indício em pírico no que concerne ao po­
der relativo dos distritos eleitorais e do NEC. Ranney (1968, 153) dem ons­
tra que o número de exemplos em que o NEC não excluiu MPs rebeldes, ou
JO G O S OCULTOS 141

não vetou candidatos de tendência esquerdista é muito maior do que o nú­


mero de vetos. A lguns desses casos em que o veto era politicam ente justi­
ficável mas não foi aplicado diz respeito a cadeiras seguras dos conserva­
dores, de modo que se pode argum entar que o NEC não se deu ao trabalho
de rejeitar um a decisão distrital politicam ente inócua. O utros casos, porém ,
referem -se a cadeiras seguras ou marginais em que o NEC teria todos os
motivos para intervir. O caso mais marcante ocorreu em 1955, quando o Par­
tido Trabalhista Parlam entar (Parliam entary Labour party - PLP) deixou de
aplicar um a moção de repúdio a Aneurin Bevan e a sete outros MPs. N es­
se caso particular, a disputa foi apaziguada antes que o NEC tivesse de
obrigar seus distritos a não reindicá-los.
Pode-se dizer que essa prova em pírica contradizia a teoria até aqui
desenvolvida. Se o NEC dispõe do poder, por que não utilizá-lo no momento
mais oportuno? D e modo similar, se o poder não é empregado quando ne­
cessário, com o sabem os que ele existe?
Essas questões nos conduzem a analisar o últim o jogador no modelo:
a convenção anual do Partido Trabalhista. D e acordo com os estatutos do
partido, essa é a m aior autoridade dentro do Partido Trabalhista; pode-se
recorrer a ela a respeito de qualquer decisão.
Espero que até aqui o leitor tenha com preendido suficientem ente a
lógica do modelo para saber qual seria o impacto de um quarto (e últim o)
jogador no jogo da reindicação. A existência desse quarto jogador deixa
inalterada a lógica do modelo, mas pode m odificar os resultados, do m es­
mo modo que a existência do NEC m odificou os resultados, mas não a
lógica do m odelo inicial no nível distrital.
M ais um a vez, num modelo de jogo de um a só jogada com inform a­
ção perfeita, não existem possibilidades de conflito aberto. M esmo que exis­
tam diferenças, cada ator pode prever a vontade da maioria na convenção
anual; dado isso, o NEC sabe quais decisões serão aprovadas. Com essas
duas inform ações, o GMC sabe quais MPs ele pode rejeitar. Enfim , dada
toda essa inform ação, os MPs sabem o que é preciso para ser reindicado.
Se a r%alidade é mais com plicada do que esse m odelo, é porque o
jo g o é iterativo , e os jog adores operam sob condições de inform ação
incom pleta. Em sem elhante jogo, os jogadores não só jogam o jog o em
cada rodada, com o tam bém se preocupam com a inform ação que reve­
lam a seu oponente por m eio da escolha de estratégias. Em bora a esco­
lha de um a estratégia que conduz a um resultado que o próxim o jo g a ­
dor reverterá possa não ser ótim a para a presente rodada, ela envia um
sinal de que o jogador quer se m over para um equilíbrio diferente e que
seu com portam ento pode persistir no futuro. Se o GMC de um distrito
seguro do Partido C onservador mantém a rejeição de candidatos m ode­
rados, isso pode levar o NEC a aceitar sua indicação porque é indiferen­
te para o partido qual venha a ser o representante específico do distrito.
142 GEORGE TSEBE U S

Com efeito, o NEC tem a opção entre aquiescer e excluir todo o distrito
c, em algum as circunstâncias, a segunda escolha pode ter um alto preço.
Enfim , esse jogo iterativo se liga ao jogo com petitivo entre os dois
partidos tanto no nível distrital quanto no plano nacional. Logo, variações na
situação com petitiva dos partidos modificam os payojfs do jogo, influencian­
do a probabilidade de que cada ator vete a decisão do anterior. Em distritos
marginais, há uma maior probabilidade de que a política seja moderada por­
que, em tais distritos, os payojfs dos jogadores moderados aumentarão, e os
payoffs dos jogadores radicais diminuirão, tornando mais prováveis a esco­
lha de estratégias moderadas e de aquiescência.
Se o NEC vetou e puniu severam ente MPs no fina! dos anos 40, foi
porque o partido estava no auge de sua força no pós-guerra e podia per­
m itir-se perder cadeiras. Além disso, MPs rebeldes sim patizavam com o
bloco com unista. O NEC teria justificativas para não agir contra Bevan e
seu grupo porque o parlido estava debilitado em 1955 e não podia permi-
tir-se perder MPs. Som e-se a isso que Bevan e seus amigos estavam forta­
lecidos dentro do partido, e sua expulsão poderia ter criado sérios proble­
mas na convenção anual.
Com o ocorreu com o modelo da Seção I, os testes em píricos deste
m odelo mais com plicado exigiriam dados referentes a m arginalidade, a
favores políticos e a posições políticas. Seriam necessárias também infor­
m ações referentes aos diferentes grupos de MPs que foram eleitos sob
condições diferentes de com petição entre trabalhistas e conservadores e
com posições diferentes do NEC, e ainda o núm ero de vezes em que foram
reindicados. N ão testo aqui o modelo mais com plicado.
Um caso que indica com o mudanças na situação (ou seja, nos payoffs
dos jogadores) podem influenciar o resultado final é relatado por Rush
(1969). Em 1962, John Palm er foi indicado para representar Croydon
North-W est e foi aceito pelo NEC. Em 1966, foi reindicado por seu distri­
to, mas o NEC recusou-se a endossá-lo. O distrito protestou na convenção
anual de 1966, mas foi derrotado. O NEC “impôs seu próprio candidato”
(The Guardian, 10 de março de 1966). Rush (1969, 140) especula: “Não
está claro se isso foi um equívoco, um reflexo da crescente ansiedade que
a séria doença de Hugh Gaitskell estava causando no Partido Trabalhista,
ou se as concepções esquerdistas de Palm er estavam em m aior evidência
durante e após a eleição de 1964”. Tudo nas explicações de Rush (com
exceção do “equívoco”, pois não há tal verbete no dicionário da escolha
racional) reflete algum a modificação dos payoffs do NEC.
Recapitulando e concluindo, há quatro jogadores relevantes no jogo da
reindicação. Se o jogo é de uma só jogada com informação perfeita, não há
possibilidade de divergência aberta entre os atores. Isso não significa que haja
uma concordância no tocante a qual solução é ótima. Significa apenas que o
ator que tem o último lance pode impor sua vontade sobre os demais. Se for
JO G O S OCULTOS

um jogo iterativo com informação incompleta, divergências abertas tornam-


se sinais dos atores a indicar seus desejos de se moverem para um equilíbrio
diferente. Nesse jogo iterativo, o valor dos diferentes payojfs influencia a pro­
babilidade dc que os jogadores adotem estratégias diferentes. Como o jogo da
reindicação está inserido dentro de um jogo competitivo entre os partidos, o
valor desses payoffs depende da situação competitiva entre os partidos no ní­
vel distrital e no plano nacional. De modo geral, MPs de distritos marginais
são mais moderados e estão mais voltados para a prestação de serviços.
Q uanto ao equilíbrio interno do partido, pode-se observar o seguin­
te: se o partido for forte no nível nacional, o equilíbrio interno se inclinará
para a convenção anual e para o NEC. Se o NEC possuir a m esm a maioria
política que a convenção anual, o NEC passará a ser o jogador final, aum en­
tando trem endam ente seu poder. Se o GMC for congruente com o NEC e
com a convenção anual, o GMC terá a últim a palavra. D esse modo, MPs que
se movem para a direita da linha partidária arriscam -se a encontrar oposi­
ção não só da parte dos militantes de seu distrito, mas também do próprio
NEC. N esse caso, o NEC não tentará salvá-lo da fúria de seu GMC. Isso
explica por que MPs que desafiaram a linha partidária a partir de posições
m oderadas tiveram a sua reindicação recusada pelos militantes dc seu dis­
trito sem queixa da parte do NEC. Essas são algumas das razões contextuais
que deslocam o equilíbrio de poder de um ator para o outro. Fatores insti­
tucionais, porém , influenciam igualm ente os resultados finais. Esse é o
núcleo da Seção III.

III. EQUILÍBRIO DE PODER E INSTITUIÇÕES


As diferenças políticas entre o conjunto do grupo parlamentar e os distri­
tos eleitorais tornam -se mais visíveis durante a convenção anual do Partido
Trabalhista22. Nas décadas de 50 e 60, a convenção anual votou resoluções que
apoiavam a liderança do partido (ou seja, o líder e o grupo parlamentar), por­
que a maioria da convenção era dominada pelo voto dos sindicatos (que eram
em grande parte moderados e representavam mais de 80% dos votos). A prin­
cipal exceção a essa regra foi a convenção de Scarborough em 1960, quando
Hugh Gaitskell foi derrotado na questão do desarmamento unilateral. Ele usou
todo o seu poder para reverter a decisão em 1961.
Na década de 70, porém , a situação com eçou a mudar lentamente: os
sindicatos se deslocaram para a esquerda. Segundo W illiams (1983, 30), três
foram as razões principais dessa m odificação. Em prim eiro lugar, houve
m udanças na cúpula dos dois principais sindicatos. A virada foi acidental
no caso do sindicato dos trabalhadores em transportes (Transport and G e­

2 2 . P a ia u m a e x c e le n te d e s c riç ã o d o s p ro c e d im e n to s d e n tro d a c o n v c n ç fio a n u a l, v e r M in k in (1 9 7 8 ).


144 GEORGE TSEBELIS

neral W orkers), m arginal mas suficiente para alterar a liderança no sindi­


cato dos trabalhadores em em presas de engenharia (Engineering Workers).
Em segundo lugar, os trabalhadores manuais tradicionais m igraram para a
esquerda cm reação à retração das suas indústrias. Em terceiro e mais im ­
portante lugar, o equilíbrio dentro do bloco dos sindicatos pendeu para
o lado dos sindicatos do setor público e do setor de escritório e adm inis­
tração. A m inoria ativa nesses sindicatos era m uito mais ideológica do que
os trabalhadores dos sindicatos tradicionais.
Essas mudanças se refletiram tanto nas resoluções da convenção anual
do Partido Trabalhista como na com posição do NEC. O NEC se com põe de
29 mem bros, sete dos quais representam os distritos e doze, os sindicatos.
Em 1964, somente os representantes dos distritos eram de esquerda; o equi­
líbrio dc forças era de oito para a esquerda e vinte para a direita23. Por volta
de 1974, a maioria dos sindicatos havia se unido com os distritos, invertendo
o equilíbrio de forças, de modo que quinze eram agora dc esquerda e cator­
ze, de direita. Essa predom inância da esquerda foi confirm ada em 1978:
dezoito contra onze (Finer 1981, 114).
A liderança partidária, porém, adotou políticas m oderadas tanto no
governo corno na oposição. No final da década de 60, Harold W ilson apli­
cou uma política econômica rígida, com sucesso declinante enquanto esteve
no governo. No entanto, o documento “Em Lugar do Conflito” [In the Place
o f Strife], criou a mais im portante discórdia política entre a liderança e os
membros. A secretária do Emprego, Barbara Castle, elaborou um docum en­
to onde propunha a reforma estrutural e operacional dos sindicatos. O go­
verno tentou aprovar as propostas a despeito das objeções do NEC, dos sin­
dicatos e da massa de filiados. O governo não sc deteve até ter certeza dc
que faltavam votos no Parlamento (McLean 1978). Butler c Pinto-Duschinsky
(1971, 267) argum entam que esses incidentes estão relacionados com um
declínio no número de filiados ao partido no final da década de 60.
Além disso, a liderança partidária optou por ignorar as resoluções da
convenção anual. Os distritos apresentaram resolução após resolução procu­
rando induzir o PLP a acatar as decisões da convenção24. Em 1973, o progra­
ma do Partido Trabalhista propunha a nacionalização de 25 outras indústrias.
Logo após a publicação do documento, Harold W ilson deixou claro que não
tinha intenção de aplicar essa política caso fosse eleito. De modo similar,
enquanto o programa estava se tornando cada vez mais radical, a campanha

2 3 . N a é p o c a , o NHC lin h a 2 8 m e m b ro s .
2 4 . E m 19 7 0 , p o r e x e m p lo , a p re s e n to u -s c u m a re s o lu ç ã o q u e s o lic ila v a a o g o v e rn o q u e " e v ita s s e o e rro fa ta l d e
ig n o ra r o s d e s e jo s e a s v o z e s d o s d is trito s e o r g a n iz a ç õ e s a filia d a s , d c o n d e d e riv a o s u p o rte c n f o rç a d o
m o v im e n to tra b a lh is ta " (l.a b o u r P a rty 1 9 70, 17 1 ). O u tra r e s o lu ç ã o a firm a v a : " E s ta c o n v e n ç ã o a c r e d ita q u e
o s líd e re s d o P a rtid o I r a b a lh is ta P a rla m e n ta r, e s te ja m n o g o v e rn o o u n a o p o s iç ã o , d e v e m re fle tir a s c o n c e p ­
ç õ e s e a s p ira ç õ e s d o m o v im e n to tra b a lh is ta e s in d ic a lis ta , a d e q u a n d o s u a s p o lític a s à s d e c is õ e s d a c o n v e n ­
ç ã o a n u a l" (C o n fe re n c e R e p o rt 1 9 70, ISO).
JO G O S OCULTOS 145

de James Callaghan em 1979 era francamente moderada. A descrição mais


acurada da cam panha trabalhista foi apresentada num a charge do Sunday
M irror, em que uma caricatura de Callaghan dizia: “Se vocês precisam de um
deputado conservador, eu sou esse homem”.
O grupo parlam entar podia ignorar os m em bros do partido e a con­
venção anual porque possuía uma dupla fonte dc legitim idade e de poder.
Além de representar os filiados, o grupo parlam entar representa os eleito­
res, ou seja, o eleitorado em geral25.
Para o m ilitante médio, porém, a situação se desenvolveu da seguin­
te maneira: quando o Partido Trabalhista estava no poder, o grupo parlam en­
tar tomou decisões que divergiram flagrantem ente da vontade da m assa de
filiados, justificando-as com razões econômicas. Quando na oposição, de­
fendeu posições igualmente inaceitáveis para agradar a opinião pública. Os
m ilitantes com eçaram a perceber que a suposta resolução im perativa da
convenção fazia muito barulho, mas não significava nada. M inkin (1978,
330) relata que, para os membros do Partido Trabalhista, o governo “revo­
gou os com prom issos de m andato, ignorou decisões da convenção e levou
a cabo políticas que colidiram com alguns dos princípios básicos do parti­
do”. Em 1973, após W ilson declarar sua intenção de ignorar as resoluções
da convenção a respeito das nacionalizações, foi form ado o grupo mais in­
fluente da “esquerda externa” : a “Cam panha pela D em ocracia do Partido
Trabalhista” (CLPD - Campaign for Labour Party Democracy).
A “esquerda externa” diferia da “interna” (grupos de deputados como
o “Grupo da Tribuna”) no sentido de que seu objetivo era persuadir e mobi­
lizar a massa de filiados do partido. Com efeito, o sucesso da “esquerda
externa” nos distritos e nos sindicatos era espetacular: em 1974, entre os
membros da CLPD estavam quatro distritos mas nenhum ramo dos sindica­
tos. Por volta de 1977, o número de distritos havia crescido para 74, e o nú­
mero de setores dos sindicatos havia alcançado 25. Por volta de 1980, os nú­
meros era 107 e 112 respectivamente (Kogan e Kogan 1982, 42).
A estratégia da CLPD era simples: em vez de abandonar o partido (co­
mo fizeram os m ilitantes no final da década de 60) ou escrever slogans e
m anifestos (um a estratégia do início da década de 70), os m ilitantes de
esquerda gastaram seu tempo e energia na elaboração de projetos de em en­
das constitucionais. Seu raciocínio era que, se a política é form ulada efe­
tivam ente pelo grupo parlam entar e pelo líder, para tom ar decisões políti­
cas fundam entais é preciso controlar o grupo parlam entar e o líder.
A esquerda externa tinha dois alvos principais. Para controlar o gru­
po parlam entar, queria transform ar o processo de reindicação a fim de
aum entar a dependência do deputado em relação ao GMC. Para controlar

25 . M c K c n z ic (1 9 8 2 ) u iirn ia q u e a rep re se n ta ç ã o d o e le ito ra d o te m p rio rid a d e s o b re a rep re se n ta ç ã o d e se u d istrito .


M6 GEORGE TSEBELIS

o líder, queria elegê-lo não pelo grupo parlam entar, mas por um colégio
eleitoral diferente, no qual fosse levada em consideração a opinião da massa
de filiados. A discussão seguinte centraliza-se no primeiro alvo, a “reindica­
ção referendada” aprovada na convenção de Brighton em 197926.
A CLPD utilizou “resoluções-m odelo” para coordenar o apoio do dis­
trito em questões fundamentais. Uma vez que cada distrito tinha o direito
de enviar um a resolução à convenção do partido, a CLPD utilizou seu bo­
letim para publicar o texto que distritos sim patizantes poderiam submeter
à convenção. A reindicação referendada foi apresentada doze vezes em 1975,
45 vezes em 1976, 79 vezes em 1977, 67 vezes em 1978, e 22 vezes em
1979 (nessã época, outras questões tam bém eram im portantes) (Kogan e
K ogan 1982, 28).
A proposta de reindicação referendada foi adotada pela Convenção
de Brighton (1979), após a derrota eleitoral do Partido T rabalhista. Se­
gundo Ron H ayw ard, o secretário geral do partido, “A razão [da derrota
eleitoral] foi que, por bem ou por mal, o gabinete apoiado pelos deputa­
dos ignorou as decisões do Congresso e da Convenção. Não foi outra coi­
sa...” (Butler e Kavanagh 1984).
A reindicação referendada, tal como foi votada pela convenção de Brigh­
ton, consistia numa reunião especial do Com itê de Direção Geral entre o 18o
e o 36° mês seguinte à eleição “para exam inar se o M em bro do Parlam ento
deve ou não ser indicado como candidato potencial ao Parlam ento” (cláusu­
la XIV, seção 7, parágrafo [a]).
(e). A reu nião ex trao rd in ária a que se referiu no p arág rafo (a) acim a deve ex am in ar
um a reso lu ção p ara in d icar o M em bro do P arlam ento co m o can d id ato p o ten cial, e se a reso ­
lução for aprovada, o nom e do M em bro do Parlam ento deve ser subm etido ao C om itê Executivo N a­
cional p ata endosso [...]
(0 - Se a resolução a que se refere o parágrafo (e) acim a não for aprovada, o m encionado
en con tro deve ex am inar um a outra resolução, a de que esse grupo deve iniciar o procedim ento para
a escolha de um candidato potencial ao Parlam ento de acordo com a seção (3) desta cláu su la27

A Cláusula XIV, seção 7, torna a reindicação do MP mais a regra que


a exceção, com o fora o caso antes. A ntes, o GMC tinha de se m obilizar
contra seu MP; agora, o MP solicita o apoio do GMC. Antes, o GMC preci­
sava fornecer ao NEC razões para não reindicar o seu MP. A gora não são
exigidas tais razões. Logo, essa fórm ula reduz drasticam ente os custos de
rejeição do MP.

2 6 . O .seg u n d o alv o , a e le iç ã o d o líd e r p o r u m c o lé g io e le ito ra l c o m p o s to d e 3 0 % d e d is trito s , 3 0 % d e M Ps e 4 0 %


d e .sin d ic a to s, fa lh o u c m 19 7 9 . U m te rc e iro o b je tiv o foi a lc a n ç a d o c m 1 9 7 9 - o p ro g ra m a d o p a rtid o d e v e ­
r ia s c r d e lin e a d o p e lo NEC.
2 7 . R e la to d a 7 8 ' C o n v e n ç ã o A n u a l d o P a rtid o T ra b a lh is ta , B rig h to n (L a b o u r P a rty 1 9 7 9 , 4 4 4 ).
JO G O S OCULTOS 147

Observou-se no passado que m odificações sim ilares de regras podem


ter tido um im pacto espetacular, em especial quando as massas estão en­
volvidas. D uverger (1954) descobriu que, entre 1927 e 1946, o núm ero de
mem bros do Partido Trabalhista declinou de m aneira drástica. Isso se de­
veu em grande parte ao fato de que a regra vigente do contract out de fi­
liação aos partidos foi substituída pela regra do contract in*, a qual exigia
que os trabalhadores assinassem um formulário para pagar suas contribui­
ções e tornar-se m em bros do Partido Trabalhista, em vez de assinarem um
form ulário somente se não desejassem filiar-se, com o era antes. A filiação
voltou a crescer com a readoção do sistem a de contract out, em 1946. De
modo similar, houve um declínio de dez pontos percentuais na participação
eleitoral na H olanda após 1967, quando o voto deixou de ser obrigatório
(Crewe 1981, 241). Seria de esperar que, no caso sob discussão, a dim inui­
ção dos custos da reindicação pudesse conduzir a um a maior mobilização
das massas, bem com o a maiorias e resultados totalm ente diferentes.
Essa, porém, não foi a intenção dos autores da resolução, nem foi o
seu resultado. O processo de indicação perm anece nas mãos do Com itê de
D ireção Geral, que constitui um subconjunto reservado do distrito (e, como
sustentam alguns, com viés esquerdista). A cláusula não foi introduzida para
aum entar a participação dos filiados e, para o grupo restrito de pessoas que
participavam do processo de reindicação, os custos da participação foram
bem baixos no início. Desse modo, a mudança institucional não implica uma
mudança de com posição do colégio eleitoral no distrito. Em bora isso faci­
lite a rejeição, não há razão para crer que os m em bros do GMC se sentis­
sem intim idados, anteriorm ente, pela dificuldade do processo.
Além disso, a mudança não im plica um a alteração nas pessoas que
com põem o Parlam ento. N a verdade, a rejeição de um a reindicação deve
ser mais a exceção que a regra, pois, conform e mostrei na Seção I, ela in­
dica que o MP não reconheceu o equilíbrio de forças existente. Como ex­
põe Chris M ullin, da CLPD: “O propósito da reindicação era mudar a ati­
tude dos MPs, não necessariam ente mudar os MPs. Já houve um a mudança
perceptível em suas atitudes” (W illiam s 1983, 43). W illiam s tam bém for­
nece indícios de que MPs que já haviam sido reindicados estavam votando
de modo diferente de seus colegas que ainda iam passar pela reindicação.
Dada essa análise, ele conclui: “Potencialm ente, portanto, os CLPs podem
influenciar os votos de 60% , e não de 30% do colégio” para a escolha do
líder do partido (W illiam s, 1983, 45).
Houve um a mudança perceptível nas políticas e (após o cisma do Parti­
do Social D em ocrata) na com posição do Partido Trabalhista. Contudo, o
processo causai indicado pelas citações acima é incorreto. A mudança nas

P e lo c o n tr ita o u t a c o ta é c o b ra d a a u to m a tic a m e n te , a n ã o s e r q u e o m e m b ro e x p r e s s e p o r e s c rito s u a re c u ­


sa ; n o c on tra ct in, a c o ta s o m e n te é c o b ra d a c o m o c o n s e n tim e n to d o in te re s s a d o . (N . d o T .)
GEORGE TSEBELIS

políticas não é o resultado da mudança no processo de reindicação e do papel


mais proem inente dos militantes nesses processos. Podemos utilizar o m o­
delo desenvolvido neste capítulo para exam inar mais de perto as causas do
deslocam ento político para a esquerda e da mudança no grupo parlam entar
do Partido Trabalhista. Examinando a Figura 5.2, os leitores podem verifi­
car que a cláusula XIV, seção 7, modifica o procedim ento no meio da árvore
do jogo, isto é, modifica os payojfs do jogo, mas não modifica apropria árvore
do jogo. Com efeito, as mudanças facilitarão a rejeição dos MPs moderados
pelo GMC. Além disso, pode evitar sérios confrontos entre o MP e os m ili­
tantes do distrito que poderiam desencorajar os eleitores trabalhistas. Toda­
via, essas regras não mudam o processo subseqüente: a decisão do GMC ainda
é sujeita à aprovação pelo NEC. Apenas na medida em que o NEC, por suas
próprias razões políticas, decide não intervir na política Jocal, os distritos
possuem relativa liberdade de movimento.
D ado que o jogo permanece essencialmente o mesmo, o leitor não deve
esperar qualquer m odificação de resultados se é um jogo de uma só jogada
com inform ação perfeita. Todos os resultados ocorrem com a aprovação do
NEC e da convenção anual. Se, no entanto, o jogo é considerado iterativo
com informação incompleta, a modificação de payojfs introduzida pela clá­
usula XIV, seção 7, terá algum impacto sobre a m odificação do equilíbrio
de forças em favor do GMC. M esmo num jogo iterativo, porém, o impacto
dessa mudança é marginal, com parado com um a mudança na maioria den­
tro do NEC e da convenção anual2*. Com efeito, mudar a com posição dos
dois últim os jogadores do jog o da reindicação m odifica os resultados do
jogo. Um a vez que, com o regra geral, os MPs têm de ser aprovados pelo
NEC, um NEC de direita aceitará moderados e rejeitará radicais, e um NEC
de esquerda adotará a política oposta2y. Assim , a im portante mudança que
caracteriza o Partido Trabalhista (pelo menos no que se refere à indicação
de MPs) não é a mudança das instituições, mas a m odificação da maioria
dentro do NEC e da convenção anual. Para em pregar a term inologia de
Paterson (1967, 41), não cra mais o caso de que “o núcleo de direita do
partido bate pesado e com força” .
Para que m inha exposição seja com pleta, preciso responder a duas
questões. (1) Se o aspecto essencial é a mudança no equilíbrio de forças no
NEC, e não a m udança institucional, por que a CLPD se em penhou tanto
pela reindicação referendada? Por que não lutaram pela m udança insti­
tucional, quando já haviam ganho a batalha essencial, ou seja, quando já

2 8 . C r id d le ( 1 5 8 4 , 2 2 0 -2 2 5 ) c o n to u o ito M Ps q u e niio f o ra m r e in d ic a d o s a n te s d a e le iç ã o d o 1 9 8 3 . B u llc r e


K a v a n a g li (1 9 8 4 , p . 5 3 ) re la ta m q u e " a p en a s o ito M Ps p e rd e ra m d o la to s u a s c a d e ira s d e v id o à re in d ic a ç ã o
re fe re n d a d a ’’ (g rifo m e u ). O le ito r j á s a b e q u e o n ú m e ro e fe tiv o d e M P s n ã o -re in d ic a d o s n ã o é u m in d ic a ­
d o r re le v a n te p a ra a c o m p re e n s ã o d a im p o rtâ n c ia d o p ro c e ss o , e q u e a re in d ic a ç ã o re fe re n d a d a n ã o e r a e s ­
s e n c ia l p a r a e s s a s re je iç õ e s d e M Ps p e lo s d is trito s .
2 9 . li s s a r e g ra g e ra l, p o ré m , e s lá s u je ita à s c o n d iç õ e s v e rific a d a s n o n ív e l n a c io n a l.
JO G O S OCULTOS

haviam em palm ado o NEC e a convenção anual? (2) Por que não introdu­
ziram uma alteração institucional mais efetiva, se o equilíbrio de forças era
tão favorável?
A resposta à prim eira questão é direta: a CLPD lutou por essas m u­
danças institucionais porque elas exercem um im pacto (pequeno, mas dig­
no de nota) sobre o equilíbrio de forças entre a esquerda e a direita dentro
do partido, pois a cláusula XIV, seção 7, desloca o equilíbrio de forças para
o lado dos GMCs c parece ser mais estável do que m aiorias tem porárias.
Além disso, dependendo das condições políticas reinantes, o NEC pode
achar que a intervenção no âmbito local pode ter um im pacto negativo glo­
bal para o partido e pode deixar de exercer seu poder de veto.
A resposta à segunda questão é mais com plicada: a CLPD não intro­
duziu m udanças mais efetivas porque não eram factíveis na época (se é que
o seriam algum dia) para o Partido Trabalhista. A m odificação m ais radi­
cal teria sido derrogar de uma vez por todas o poder de veto do NEC. U m a
m odificação desse gênero elevaria o distrito ao papel de juiz final do com ­
portam ento do MP (ver a análise na Seção I e o jogo na Figura 5.1). Sem e­
lhante alteração teria significado a am ericanização do Partido Trabalhista,
no sentido de que deixaria de existir uma autoridade central no partido. O
GMC de cada distrito estaria apto a indicar os candidatos de sua escolha sem
enfrentar qualquer obstáculo e, a longo prazo, o grupo parlam entar com -
por-se-ia de MPs sem quaisquer vínculos com uns, mas que refletiriam fiel­
mente o GMC de seus distritos.
Em vez de lutar pela descentralização (distritos versus liderança cen­
tral), a CLPD escolheu lutar pela questão de quem está no controle no pla­
no central: a convenção e o NEC ou o grupo parlamentar. Essa escolha era
estratégica: a CLPD não podia contar com o apoio dos sindicatos na ques­
tão da descentralização. Os sindicatos dispõem do voto em bloco e contro­
lam a maioria da convenção anual. Um a tentativa de descentralização ter-
se-ia constituído num ataque direto ao poder político dos sindicatos. O tempo
todo a CLPD foi bastante sensível à questão das alianças com os sindicatos;
com o afirmou um de seus líderes:
As seções d istritais do Parlido T rabalhista possuem m enos de 10% dos m ais de sete m ilhões
de votos na convenção do parlido. O único m eio que a C L PD teve de co n q u istar m aioria nas su ­
cessivas convenções foi capturar os votos cm bloco dos sindicatos, enfatizando que estam os lutan­
do pela im plem entação de políticas sindicais, e evitando a todo custo qualquer ação que nossos ad­
versários pudessem caracterizar como um ataque aos sindicatos (grilo m eu) (K oelble 1987, 260).

U m a luta pela descentralização teria sido perdida porque os sindicalistas


teriam votado contra ela.
A Figura 4.2 ajuda-nos a visualizar as escolhas estratégicas da CLPD.
Considerem os a situação na década de 60. D e m odo esquem ático, existe
um a coligação entre o grupo parlam entar e os sindicatos, os jogadores 1 e
150 GEORGE TSE B E U S

2 da Figura 4.2A. Em Brighton, os militantes introduziram uma nova ques­


tão: a reform a constitucional. Essa reforma poderia ser ou a descentraliza­
ção (nenhum controle sobre o processo de indicação por parte das autori­
dades centrais do partido), ou a reindicação referendada. N o prim eiro caso,
os sindicatos (jogador 2 na Figura 4.2) se alinharia com o grupo parlam entar
(Figura 4.2B) e a reform a seria derrotada; no segundo caso, os sindicatos
(jogador 2) se alinhariam com os militantes (jogador 3) e o resultado, con­
forme mostra a Figura 4.2C, seria uma instituição new deal.
O fato de terem as modificações essenciais no processo de indicação
sido feitas por uma mudança nas maiorias, e não por uma modificação das
instituições, é corroborado pela história do cisma entre o Partido Trabalhista
e o SDP. Após a convenção anual de Wembley, em janeiro de 1981, foi cria­
do o Conselho de Democracia Social, que dois meses mais tarde (março de
1981) se tornou o Partido Social Democrata (SDP - Social D emocratic Party).
Contudo, mesmo antes de março de 1981, a divergência entre os futuros lí­
deres do SDP e os do Partido Trabalhista acerca das políticas não era segre­
do. “Em Io de agosto, David Owen, Shirley W illiams e W illiam Rodgers pu­
blicaram um carta no Guardian em que declaravam sua crença em políticas
quase totalmente contraditórias com a corrente geral de opinião dos distritos”
(Kogan c Kogan 1982, 69). W illiams (1983, 46) sustenta que os líderes do
partido chegaram a essa decisão após crescente descontentam ento e longa
hesitação durante toda a década de 70.
Um visão interna (e portanto parcial) do processo é dada por Bradley
(1981, 55), que diz: “Roy Jcnkins afirma agora que teria vetado Taverne e
provocado uma divisão no Partido Trabalhista no início da década de 70”.
Contudo, o deslocam ento para a direita que o partido imprimiu quando es­
tava no governo, no período entre 1974 e 1979, renovou as esperanças da
direita. Bradley (1981, 63) nota que “A fundação da CLV (Cam paign for
Labour Victory, Campanha pela Vitória Trabalhista) foi um sinal da aguda
ansiedade que muitos social-democratas sentiam por volta de 1977. Alguns
deles já estavam , em caráter privado, com eçando a encarar a divisão do
Partido Trabalhista como inevitável” . Seu relato deixa claro que havia uma
mudança progressiva das idéias da “Gangue dos Três” (Owen, W illiams e
Rodgers), que iniciaram o SDP mesmo antes da derrota eleitoral de 1979.
Bradley conclui que a principal m odificação do Partido Trabalhista foi
a mudança de maioria do NEC e da convenção anual, e não a mudança das
instituições (em bora não deva ser subestim ado seu im pacto sobre a crista­
lização do equilíbrio de forças). No centro dessa mudança dc maioria es­
tava um a m udança exógena: o realinham ento político dos sindicatos. Em
conseqüência, um a alteração do alinham ento dos sindicatos pode inverter
a situação para o estado anterior. Após três vitórias consecutivas do Parti­
do Conservador, há sinais de que os sindicatos percebem a im portância de
seu papel numa nova transform ação do Partido Trabalhista.
JO G O S OCULTOS 151

IV. CONCLUSÕES
O capítulo foi iniciado com um enigma: por que os militantes do Parti­
do Trabalhista substituem seus deputados e provocam a derrota eleitoral de
seu partido? Para investigar a resposta, desenvolvi um modelo de reindicação
de MP. Esse modelo e suas variações indicavam que, sob condições de infor­
mação perfeita e num jogo de uma só partida, não há possibilidade de con­
flito aberto, não só entre MPs e seus distritos, mas também entre os distritos
e o NEC, e entre o NEC e a convenção anual. Além disso, é sempre o último
ator com poder de veto que impõe sua vontade. Contudo, se o jogo é iterativo
e a informação é incompleta, torna-se racional para os militantes rejeitar seus
MPs moderados, mesmo que prefiram um outro MP trabalhista um conser­
vador. A longo prazo, criam um reputação dc serem duros e podem ensinar
seus representantes a seguir mais estritamente a vontade do GMC. D e modo
similar, os conflitos entre os distritos e o NEC podem ser interpretados como
sinais de um desejo de deslocar o equilíbrio das forças políticas para a es­
querda ou para a direita. Esse jogo da reindicação está inserido dentro de um
jogo competitivo entre os partidos no plano do distrito e no âmbito nacional.
Esse jogo competitivo modifica alguns dos payojfs dos atores e aumenta ou
diminui a probabilidade de certas estratégias:
• Um a disputa acirrada num distrito reforça a posição do MP moderado.
Um disputa acirrada no plano nacional fortalece a posição dos modera­
dos dentro do partido, ao mesm o tempo em que reforça a im portância dc
cada distrito específico, que tem condições de chantagear a liderança cen­
tral do partido.
• C ongruência política entre qualquer ator e um ator com poder de veto
aum enta o potencial de barganha do primeiro ator; é por isso que MPs que
se desviam da linha do partido para posições m oderadas são rejeitados
por seus distritos sem interferência do NEC.
• O equilíbrio de poder é influenciado por arranjos institucionais. A força
ou a influência dos diferentes atores não pode ser avaliada pela freqüência
de discrepâncias ou pela freqüência de resultados particulares, pois o con­
flito aberto entre atores nesse jogo particular não indica nem fraqueza
nem força.
A análise das mudanças que a CLPD introduziu na constituição do Par­
tido Trabalhista em 1979 revelou-se muito menos importante do que usual­
mente sugere a bibliografia especializada. Descobriu-se que a mudança na
posição política dos sindicatos possibilitou essas mudanças, além dc ser a
causa direta do deslocamento político do Partido Trabalhista.
Enfim, os militantes escolheram a reindicação referendada no lugar de
algumas reformas institucionais mais drásticas (descentralização), por razões
152 GEORGE TSEBELIS

estratégicas: conquistar o apoio dos sindicatos. Ao optar por disputar o con­


trole no nível central, os líderes da CLPD conseguiram conquistar todo o par­
tido no início da década de 80, mas perdem-no novamente à medida que a
maioria do NEC e da convenção anual se desloca para a direita. Em 1982, o
NEC foi reconquistado pela direita, o shadow cabinet* foi em grande parte de
direita e teve início a perseguição oficial da militância de esquerda.
Num sentido mais geral, o capítulo trata da questão da irracionalida­
de motivada. Os militantes estavam escolhendo o que teria sido um a estra­
tégia suicida num jogo de um a só partida, porque estavam envolvidos num
jogo iterativo e inserido dentro de outro. Ao escolher substituir seus MPs m o­
derados mesm o quando isso tivesse conseqüências desastrosas para o parti­
do, com o dem onstraram os exemplos na introdução do capítulo, estavam
enviando um sinal para os outros candidatos e para a liderança do partido:
não podiam contar com sua lealdade ao partido e à estrutura do jogo da
reindicação para im por-lhes o que consideravam soluções inaceitáveis. A
cada vez que os militantes rejeitavam um MP, enviavam um sinal adicional
e criavam uma reputação de “dureza” ou de “irracionalidade” ou, para em­
pregar o termo de Webb, de “fanatism o”. N o futuro, poderiam beneficiar-
se dessa reputação, pois ou os MPs não se atreveriam a ser m oderados, ou
o NEC pensaria duas vezes antes de se envolver numa disputa com o GMC.
O fenôm eno da irracionalidade motivada é freqüente na política. Con­
siderem os líderes como Kadafi ou Khomeini. Parecem ser irracionais não
só pelos padrões ocidentais, mas por praticam ente qualquer matriz possí­
vel de payoffs. O seu com portam ento não pode ser explicado em term os
de jogos de um a só partida. Isso pode tornar-se inteligível apenas se fo­
rem estudados jogos iterativos com inform ação incom pleta, nos quais pode
ser útil a longo prazo criar um a certa imagem.
D e um m odo ainda mais geral, jogos como aquele que os militantes
trabalhistas jogam podem ajudar-nos a com preender a questão da constru­
ção de reputação e sua importância. Um ator constrói sua reputação quan­
do escolhe ações que parecem subótim as e podem ser explicadas unicam en­
te com o resultado de algum a característica particular. M anter alguém as
próprias prom essas não cria um a reputação de confiabilidade quando é de
seu interesse mantê-las. No entanto, se a m anutenção das suas prom essas
conduzir a uma perda im portante, então pode-se construir uma reputação
de confiabilidade. M ais tarde, essa reputação, estabelecida com base cm sa­
crifícios de curto prazo, pode servir de trunfo, assim com o os m ilitantes
usam com o um trunfo sua reputação de irracionalidade.
Enfim, problemas em que a ideologia é um importante fator de tomada
de decisões podem ser abordados de maneira análoga. A forma tradicional de

F s p é e ie d c “ g o v e rn o p a ra le lo ” , f o rm a d o p o r m e m b ro s d o p a rtid o q u e n ã o e s tá n o g o v e rn o m a s q u e p r e te n ­
d e te r s u a s o p in iõ e s re s p e ita d a s p e la s itu a ç ã o . (N . do
JOG OS OCULTOS 151

lidar com a ideologia no programa de pesquisa da escolha racional é exóge-


no, como um mecanismo para diminuir custos de informação (Downs 1957).
A minha abordagem sugere como abordar ideologias de forma endógena: é
possível que tenham sido adotadas como soluções para jogos recorrentes.
Pode não fazer sentido, por exemplo, o fato de os comunistas, a curto prazo,
não quererem participar dc coligações governam entais. Se, todavia, intro­
duzirmos considerações a longo prazo, perm anecer fiel à doutrina de “não-
intervenção na crise do capitalismo” pode ser uma estratégia ótima.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 5:
CONSTRUÇÃO DE CONJUNTO DE DADOS RELATIVOS
A MODERAÇÃO E A MARGINALIDADE

O núm ero de deputados trabalhistas eleitos na eleição de outubro de


1974 foi de 319. H ouve treze substituições na legislatura 1974-1979. E s­
ses deputados trabalhistas adicionais são tratados com o ocorrências inde­
pendentes, aum entando o núm ero de ocorrências para 332.
O governo trabalhista perdeu vinte e duas votações por causa de dissen-
são dos MPs trabalhistas entre 1974 e 1979 (Norton, 1980, 491-493). Dessas
vinte e duas derrotas causadas por dissensão, doze se referiam a projetos de
devolução de direitos. As dez restantes foram as seguintes:
1. 29 de janeiro de 1975: emenda do governo ao Projeto de Segurança Social.
2. 2 de julho 1975: emenda do governo à cláusula 20 do Projeto da Indústria.
3. 2 de julho dc 1975: emenda do governo para suprimir o anexo 3 ao Pro­
jeto da Indústria.
4. 17 de julho de 1975: emenda do Partido Conservador ao Projeto Finan­
ceiro sobre VAT nos aparelhos de televisão adotados
5. 4 de agosto de 1975: moção do governo de desaprovação da emenda da
Câmara dos Lordes que suprime a cláusula 4 do Projeto Financeiro Ha­
bitacional.
6. 10 de m arço de 1976: moção do governo sobre gastos públicos.
7. 10 de novem bro de 1976: em enda dos Lordes ao Projeto de R egula­
m entação do Trabalho das D ocas, apresentado contra o governo.
8. 13 de julho de 1977: nova cláusula ao Projeto de Código Criminal apre­
sentada contra o governo.
9. 5 de dezembro de 1977: derrota do governo na moção de adiamento que se
seguiu ao debate extraordinário sobre a questão dos agentes da Coroa.
156 GEORGE TSEBE U S

10. 7 de fevereiro de 1979: emenda à cláusula 4 do Projeto de Enfermeiras,


Parteiras e Inspetores de Saúde, apresentada em oposição ao governo.
Norton fornece os nomes dos MPs que votaram contra o governo nes­
ses dez casos, ou se abstiveram em nove (falta o exem plo n° 7). Utilizei a
som a dos votos negativos e as abstenções nessas nove derrotas para cons­
truir m inha variável dependente.
0 CONSOCIACIONÀLISMO NA PERSPECTIVA DA ESCOLHA RACIONAL

A interação entre as elites c as massas na tom ada de decisões políti­


cas é um a questão importante na teoria dem ocrática. Questões cruciais di­
zem respeito à im portância da participação das m assas no processo de to­
m ada de decisões e suas conseqüências. A bibliografia a respeito dessas
questões se encontra dividida.
Para a escola elitista, a elite é o modo principal de tom ada de
decisões” (Prew itt e Stone 1973, 152). Como M osca (1939, 156) afirmou,
é im possível para as m assas “exercer seu direito de opção e controle de
qualquer m aneira reai ou efetiva”. Para M ichels (1949, 166-169), a elite
dom inante é um a “casta fechada” que controla a sociedade.
Para a escola pluralista, ao contrário, a com petição entre as elites pelo
apoio popular define a dem ocracia (Bentley 1908; D ahl 1956; Lindblom
1977; Truman 1951). Para serem eleitos, os líderes políticos precisam aten­
der os desejos reais ou antecipados do eleitorado (Sartori 1978, 72-80). A
com petição entre as elites por cargos públicos faz com que suas decisões
respondam às aspirações das massas (Schum peter 1947). As dem onstrações
mais claras dessa proposição são os cham ados m odelos “dow nsianos” de
com petição partidária, nos quais as preferências do eleitorado são consi­
deradas fixas, e os partidos políticos tentam adotar posições que maximizem
a porcentagem de votos obtidos.
U m a descrição com pleta dos processos dem ocráticos de tom ada de
decisão deve levar em conta tanto os canais horizontais de influência
entre as diferentes elites quanto os canais verticais entre as elites e as
massas que elas representam . O presente capítulo incorpora ambos os ca­
nais, apresentando um modelo geral dc tom ada de decisão pelas elites em
G EORGE TSEBE IJS

contextos nos quais as m assas exercem pressões significativas sobre seus


representantes.
O capítulo constrói um quadro geral para abordar três questões. Em
prim eiro lugar, sob quais condições é possíve] que as eJites políticas em so­
ciedades segm entadas busquem estratégias de acomodação, ou seja, estraté­
gias que visem resolver questões polêmicas quando existe apenas um con­
senso m ínim o?1 Em segundo lugar, se as elites escolhem tais estratégias por
longos períodos de tempo, por que suas bases “segm entadas” continuam a
votar nelas? A terceira questão é: com o podem as instituições políticas pro­
mover estratégias de acomodação?
As preocupações particulares deste capítulo são com os padrões de
conflito, de acomodação e de construção institucional em dem ocracias con-
sociacionais. Os argum entos são teóricos, isto é, enunciados condicionais,
independentes de especificações temporais ou espaciais particulares. Por ra­
zões de sim plicidade expositiva, utilizo exemplos de um país (Bélgica) que
apresenta a vantagem de ter passado por um processo de constante remode-
lam ento institucional.
O pressuposto que em basa a exposição é que as elites políticas parti­
cipam de jogos em duas arenas diferentes: a parlam entar e a eleitoral. Cada
lance que fazem tem conseqüências em ambas as arenas2. M ais precisam en­
te, as elites políticas se envolvem num jogo parlam entar que está oculto ou
inserido dentro de um jogo eleitoral.
A Seção I descreve o caso belga de acordo com a bibliografia conso-
ciacional. Entretanto, analisar as elites seja com o independentes, com o faz
a bibliografia consociacional, seja com o meros representantes das massas
fornece uma descrição fraca da interação entre as elites, assim com o da
interação entre as elites e as massas, ou seja, entre a arena parlam entar e a
eleitoral. Segundo a bibliografia sobre as dem ocracias consociacionais, as
elites ficam em melhor situação quando agem de maneira acomodadora. Em
conseqüência, essa bibliografia não é capaz de explicar o fenôm eno do
conflito iniciado pelas elites. Para explicar tal com portam ento, a Seção II
introduz um quadro teórico de jogo no qual os interesses e avaliações di­
vergentes da situação política por parte das elites e das massas gera um jogo
em múltiplas arenas, a arena parlam entar se conecta com a arena eleitoral,
e a situação na arena eleitoral afeta os payoffs das elites na arena parlam en­
tar. A Seção III aplica esse quadro a casos de tom ada de decisão e de cons­
trução institucional na Bélgica. Na conclusão, discuto as vantagens desse
quadro e suas demais aplicações.

]. P a ia a d e f in iç ã o d e aco m o d a çã o , v e r L ijp b a rt (1 9 6 8 , 103).


2 . A id é ia n ã o é n o v a . C o n c c itu a ç õ e s a n á lo g a s p o d e m s e r e n c o n tra d a s e m M a q u ia v e l c e m O s tro g o rs k i. E x e m p lo s
m a is re c e n te s e re le v a n te s p o d e m s e r e n c o n tra d o s e m F e n n o ( 1 9 7 8 ); e m F io rin a ( 1 9 7 4 ); e m D c n z a u , R ik e r e
S lic p sle (9 8 5 ); e e m to d a a b ib lio g ra fia s o b re “ v o ta ç ã o re tro s p e c tiv a ” (F io rin a 1 9 8 1 ; K e y 1 9 6 6 ; K ic w ic t 19 8 3 ).
JO G O S OCULTOS 159

I. “ACOMODAÇÃO ” E VOTO SOFISTICADO


Quando um ator político se vê defronte de uma série de decisões apre­
sentadas de maneira seqüencial, ele pode considerar cada um a delas ou como
um evento isolado (um objeto de escolha per se) ou com o parte de uma
seqüência de escolhas (uma etapa intermediária rumo a um resultado final).
No primeiro caso, ele escolhe a alternativa de sua preferência. Essa manei­
ra de votar é denominada voto sincero. No segundo caso, ele com preende
que a questão im ediata não é relevante; o que im porta é a escolha de um
cam inho para chegar ao resultado final. Essa forma de voto é cham ada voto
estratégico ou sofisticado. O leitor não fam iliarizado com o conceito pode
julgar útil reportar-se ao exemplo finlandês do Capítulo 1, em que se mos­
tra que os com unistas votaram de maneira estratégica para assegurar a elei­
ção de seu candidato favorito, Kekkonnen3. Investigo os insights gerados
pelo voto sofisticado e aplico-os ao estudo das dem ocracias consociacionais.
O principal tema da bibliografia sobre as dem ocracias consociacionais
é a coexistência de “divisões plurais agudas e estreita cooperação entre as
elites” (Lijphart 1977, 2). Como coloca Lijphart (1968, 103-104):
A política holandesa c um a política de acom odação. Esse é o segredo de seu êxilo. O
term o acom odação é em pregado aqui no senlido cie um a solução d e q uestões passíveis de
provocar divisões e conflitos nos quais existe apenas um consenso m ínim o. [...] U m elem ento
d ecisivo dessa concepção é a ausência de um consenso político ab ran gente, m as não unia au ­
sência com pleta de consenso. [...] A segunda exigência crucial é que os líderes dos blocos
auto-suficientes precisam estar particularm ente convencidos de que é desejável p reservar o
sistem a. E eles precisam q uerer e se r capazes de superar as distân cias en tre os blocos m utua­
m ente isolados e de resolver disputas sérias num contexto am plam ente não consensual.

Se com preendo corretam ente Lijphart, os blocos mutuamente isola­


dos na população (católicos, liberais, socialistas) gostariam de que seus re­
presentantes adotassem uma posição intransigente. Contudo, os líderes com ­
preendem que o sistem a como um todo seria eventualm ente destruído se
todos perm anecessem inflexíveis. Logo, votam de m aneira sofisticada, le­
vando em conta não só a questão efetiva, mas também as conseqüências a
longo prazo de sua votação repetidamente não-acomodadora.
L ijphart parece sugerir que as elites políticas têm um a preocupação
genuína com o sistem a político. Porém, esse m otivo para um com porta­
mento de contem porização não é o único possível. Em outro artigo, Lijphart
discute o “governo exercido por um cartel de elites”, o que sugere um com ­
portam ento mais interesseiro por parte das elites políticas (em M cRae 1974,
70-89). É possível tam bém que am eaças ou pressões externas expliquem

3. O u tra in te re s s a n te a p lic a ç ã o d o v o to s o fis tic a d o , tio c u s o d o C o n g re s s o n o rte -a m e ric a n o , p o d e s e r e n c o n tra d a


c m R ik e r (1 9 8 3 ) e e m D e n z a u , R ik e r e S h e p s le ( 1 98 5 ).
160 GEORGE TSEBELIS

esse com portam ento contem porizador. Cameron (1978) sustenta que é mais
provável que disputas partidárias internas cessem na presença de um am ­
biente com petitivo internacional e num a econom ia aberta. K atzenstein
(1985) afirm a que pequenos países (inclusive aqueles de tipo consociacio-
nal) têm m elhor desem penho na econom ia internacional e m elhoram sua
perform ance econôm ica porque optam por um am biente político estável.
O utra explicação enfatizaria que as elites praticam com portam ento contem ­
porizador porque possuem horizontes de tem po mais am plos do que as
massas (A xelrod 1984).
Em bora essas explicações forneçam m otivações diferentes (mas não
m utuam ente excludentes), todas elas explicam o com portam ento contem ­
porizador das elites pela invocação de um interesse de ordem superior às
solicitações dos eleitores. O denom inador com um dessas explicações do
consociacionalism o é que os atores políticos votam contra seus interesses
imediatos para assegurar interesses mais importantes a longo prazo, ou seja,
votam de m aneira estratégica. N ão é incom um um conflito desse gênero
entre interesses a longo e a curto prazo. Na verdade, sustentou-se que a
escolha de interesses a longo prazo em detrim ento de outros a curto prazo
é a característica mais importante do com portam ento humano (Elster 1983;
Shubik 1982, 63).
Essa explicação do consociacionalism o apresenta um a série de pro­
blem as. O prim eiro é que ele se concentra nas elites e ignora suas bases.
Será a acom odação um a estratégia aceitável para as bases? Se assim for,
por que elas não mudam suas posições? Se não for, por que não substituem
seus líderes? D iscrepâncias a curto prazo entre o com portam ento da elite e
as aspirações da massa não são raras. Afinal, a m aioria dos governos tem
de tom ar decisões impopulares quando a ocasião o exige. No entanto, uma
tal discrepância não pode existir por m uito tem po, especialm ente se as
questões são consideradas importantes. As elites têm de explicar seu com ­
portam ento e persuadir as massas, ou serão substituídas por rivais mais
com petitivos4.
O segundo problem a é que, em bora o consociacionalism o e o voto
sofisticado possam explicar a acomodação da elite, eles se concentram nas
decisões das elites, e deixam de fora a estratégia intraelites. Essa om issão
do aspecto estratégico do com portam ento das elites gera problem as tanto
no nível teórico quanto no empírico. O problem a teórico é que o com por­
tam ento de uma elite é independente do das outras elites. É sem pre m e­
lhor para cada elite votar de maneira sofisticada, pelo menos do ponto de
vista da adoção e implementação de políticas. Se a acom odação é o resul­

4 , E s s a é lim a d a s p r in c ip a is c r í tic a s à s te o r ia s c o n s o c ia c io n a is . C o m e l e it o , K e c c li (1 9 7 2 ) e B a rry (1 9 7 5 a .


1 9 7 5 b ), e n lre o u tro s , s u s te n ta ra m q u e , c m d iv e rs o s d e s s e s paí.ses, o s p a rtid á rio s n ã o p a re c e m s e r tã o p o la riz a ­
d o s c o m o a b ib lio g r a f ia c o n s o c ia c io n a l p re v ira .
JO G O S OCULTOS 161

tado do voto sofisticado, então o com portam ento ótim o para cada elite é a
contem porização, independentem ente do que as outras elites farão. Pode-
se im aginar casos, porém, em que a intransigência seria um a m elhor solu­
ção do que a acom odação, por exem plo, se alguém souber que o seu opo­
nente irá adotar um a estratégia de acomodação. A ssim , a acom odação não
pode ser, de form a incondicional, a m elhor opção para as elites.
O problem a em pírico com o voto sofisticado e com a bibliografia
consociacional é que não se espera jam ais que as elites iniciem conflitos
por si próprias, em bora possam recorrer a isso se forem forçadas por suas
bases. Contudo, outros estudos sugerem que ocasionalm ente ocorrem con­
flitos iniciados pelas elites. D eRidder, Peterson e W irth (1978, 101), por
exem plo, sustentam que, para todas as fontes de divisão no sistem a políti­
co belga, “mais do que as questões decorrentes das clivagens, as clivagens
são invocadas ou parcialm ente m obilizadas para gerar apoio para um a
questão oriunda de outras fontes de com petição política”3.
Na Seção II, apresento um modelo para enfrentar esses problem as e
para providenciar um quadro mais adequado para o estudo das dem ocra­
cias consociacionais.

//. JOGOS OCULTOS: A ARENA ELEITORAL EA PARLAMENTAR


D c acordo com a literatura consociacional, nas dem ocracias conso­
ciacionais a sociedade se organiza em segm entos ou pilares, as bases são
polarizadas e as elites demonstram com portamento com tem porizador (Lehm-
bruch 1974; Lijphart 1969, 1977; Lorw in 1971; M cRae 1974; Steiner
1974). Para apreender essa diferença em term os de preferências, em prego
o seguinte m odelo. Cada segm ento da população e seus representantes
devem escolher entre duas estratégias diferentes: estabelecer com prom is­
sos com outros partidos (C) ou ser intransigente (I). As escolhas de que
dispõem as elites e as massas são as mesmas, mas suas ordens de preferên­
cia diferem . A Tabela 6.1 é em sua essência um a réplica da Tabela 3.1,
com nomes diferentes para as estratégias. A presenta as diferenças entre os
líderes e as bases de acordo com o ordenam ento dos resultados. Por ques­
tão de sim plicidade, são considerados apenas dois atores.
O resultado preferido das bases (que são polarizadas) é ser intransi­
gente quando os outros jogadores celebram com prom issos. De acordo com
a term inologia do Capítulo 3, chamo esse pa yoff de T (de Tentação). Para
as bases a situação inversa (cias fazem com prom issos enquanto todos os
dem ais são intransigentes) é o pior resultado possível. Denom inem os esse

5 . V er la m b e m C o v e ll (1 9 8 1 ).
1(2 GEORGE TSEBE U S

p a yo ff de O (de Otário). Os outros dois resultados sim étricos de com pro­


misso m útuo (R de recom pensa) ou intransigência m útua (P de penalida­
de) pode ser ordenado de qualquer modo. Se se preferir intransigência
mútua, trata-se de um jogo do im passe (Abram s 1980). Se a cooperação
mútua c preferida, trata-se de um dilem a dos prisioneiros.
Para as elites, assim com o para suas bases, o resultado preferido é
ser intransigente quando o adversário busca com prom issos. O segundo me­
lhor resultado é o com prom isso mútuo. Enfim , transigir com um oponen­
te intransigente e evitar o conflito é preferível à intransigência mútua. Esse
tem or da intransigência mútua é o que distingue a preferência da elite da
das massas. Assim , para as elites é um jogo do galinha.
Esses jogos sim ples representam fielm ente o com portam ento atribu­
ído aos líderes e às bases pela bibliografia consociacional. Para as bases,
existe um a estratégia dom inante de intransigência. Independentem ente de
ser um jogo do im passe, ou um dilem a dos prisioneiros, e independente­
mente da estratégia seguida por seus oponentes, a estratégia dom inante das
bases é evitar com prom isso. Os líderes têm medo das conseqüências da
intransigência m útua e preferem o com prom isso m útuo. C ontudo, se um
grupo dem onstrar intransigência, o outro irá transigir.

Tabela 6.1 Payoffs de jo g o s possíveis entre as elites.


C (o m p ro m isso ) I(n lra n sig c n c ia )
C (o m p ro m isso ) R.-R, O ,, t 2
l(n tra n sig c tie ia ) T i, o2 p ,,p 2

T > P .> R ;> 0 (: Im p asse


T > R > P > O : D ilem a d o s p risio n eiro s
T .> R (> 0 .> P.: Jo g o d o g a lin h a

Com o as elites interagiriam nessa situação? Em particular, por que


levariam as preferências de suas bases em consideração quando jogam entre
si? No Capítulo 5, dei uma descrição com pleta do jogo entre as bases (os
m ilitantes) e os líderes (os MPs) no caso do Partido Trabalhista britânico.
O ponto crucial é que os líderes podem ser substituídos se não prom ove­
rem as políticas que suas bases defendem . Nas dem ocracias consociacio­
nais, o m ecanism o de escolha do líder não opera tanto no nível eleitoral
geral quanto dentro de cada segm ento político, partido ou pilar da socie­
dade, onde as elites com petitivas podem substituir os líderes que não se
ajustam às expectativas de suas bases. Também vimos, no Capítulo 5, que
a substituição efetiva dos líderes não é necessária para com preender que a
coerção eleitoral é eficaz.
JO G O S OCULTOS 163

A ssim , os líderes precisam levar em conta as preferências de suas


bases, devido à existência da arena eleitoral. Porém suas próprias prefe­
rências, definidas na arena parlam entar, têm a intransigência mútua como
o resultado menos preferido. As desigualdades (6.1), (6.2) e (6.3) apre­
sentam a ordem de preferências nos três jogos possíveis:
A rena eleitoral T cj > Pei > Rei > O ci (im passe) (6.1)
T, > R.. > P > O,, (dilem a dos prisioneiros) (6.2)
A rena parlam entar T > R()i > S . > Ppj (jogo do galinha) (6.3)
Os índices e e p indicam respectivam ente a arena eleitoral e a parla­
mentar, e o índice i refere-se aos partidos ou grupos que participam do jogo.
Há um a diferença importante entre construir um modelo do com por­
tam ento das elites com o o resultado de um jogo e considerá-lo um mero
caso de voto sofisticado. A minha opção por usar a teoria dos jogos apre­
ende explicitam ente o fenôm eno de interação entre as elites. Em bora, no
voto sofisticado, um ator possa ser mais esperto do que os outros e usar a
previsão para prom over seus interesses, na teoria dos jogos os diversos
oponentes não podem pressupor o comportamento dos demais. Efetuam suas
escolhas num ambiente em que os resultados dependem não apenas de suas
próprias estratégias, mas igualm ente das escolhas dos outros.
Para tornar clara essa diferença de poder de explicação, analisem os
o jog o na arena parlam entar. Segundo a bibliografia sobre o voto sofis­
ticado, cada elite possui um a escolha inequivocam ente m elhor - contem ­
porizar. Segundo a minha representação baseada na teoria dos jogos, con­
tudo, no jog o do galinha (inequação 6.3), com o indica o Capítulo 3, a
m elhor escolha de cada jogador depende da escolha do oponente (ele es­
colheria contem porizar se o adversário fosse intransigente, e seria intran­
sigente se ele contem porizasse). A diante neste capítulo, mostro que o caso
de conflito iniciado pelas elites é uma conseqüência direta da escolha ba­
seada nesse m odelo, ao passo que a bibliografia do voto sofisticado não
consegue explicá-lo.
Para com preender como as elites jogam o jogo oculto, exam inem os
dois casos extrem os. Num, os líderes jogam o jogo na arena parlam entar,
de modo que jogam o jogo do galinha (descrito pela desigualdade [6.3]).
No segundo, os líderes representam fielm ente as aspirações de suas bases
c jogam o jogo na arena eleitoral, de modo que jogam o jogo do impasse
(desigualdade [6.1] ou o dilem a dos prisioneiros (inequação [6.2]). Na
verdade, os líderes estão interessados em ambas as arenas. Em conseqüência,
seus payoffs efetivos serão uma com binação convexa dos payoffs nas duas
arenas. Escolho a com binação linear por causa de sua sim plicidade. Em
term os algébricos:
164 GEORGE TSEBELIS

PO. = kPOd + (1 - k) PO . (6.4)


onde PCX representa os payoffs (T, R, O ou P) do jogador i, e k está no
intervalo [0, I] e indica o peso da arena eleitoral ou o peso das m assas nas
decisões dos líderes ([1 - k\ indica o peso da arena parlam entar). Se as
m assas atribuem grande im portância a um a questão, então o valor de k
aum enta, e as m argens de manobra das elites dim inuem . Substituí, na fór­
mula (6.4), toda a discussão do Capítulo 5 pelo parâm etro sim ples k. No
novo jogo, os jogadores são elites políticas, e seus payoffs são dados por
um a com binação linear dos payoffs da arena parlam entar e da eleitoral.
A equação (6.4) pode gerar três ordens diferentes de payoffs para cada
jogador. Elas são dadas pelas desigualdades (6.1), (6.2) e (6.3). Contudo,
os jogadores não precisam atribuir o mesm o peso às duas arenas (ter o
mesm o valor de k)\ logo, podem classificar de modo diferente seus payoffs.
Assim , há nove (3 x 3) jogos ocultos possíveis diferentes que podem ser
jogados por dois jogadores. Retornarei a essa observação ao discutir o caso
do conflito iniciado pelas elites. Essa idéia sim ples suscita e pode esclare­
cer a distinção de Sartori (1976, 143) entre política visível e invisível:
N um p rim eiro e d esin teressa nte sen tid o , um a larg a latia do pro cesso político esc ap a à
v isib ilid ad e, po r ser dem asiiulo pequena, e p o rque não pod em os m an ter nossos focos inves-
tig ativ o s sobre tu d o . N um seg u n d o sen tid o , a p o lítica in v isív el é d elib erad am en te o cu lta, e
co n siste de su a parle d esag rad áv el e corrupta: fundos p o lítico s, esp ó lio s, clien telas e neg ó cio s
escuso s. [...] S om os [...] rem etid o s a um a terceira m aneira de d iv id ir a p arte v isív el da parte
in v isível d a po lítica, de acordo com a qual a p rim eira co rresp on d e aos d iscu rso s e p ro m essas
d estin ad as ao s m eios de co m u n ica ção de m assa, e n q u an to a seg u n d a co rresp on d e aos tra to s e
d iscu rso s para co n su m o ao pé do o u v ido . E ssa é a d istin ção que se ap lica à nossa d iscu ssão .

Se as elites jogam apenas na arena eleitoral, então as massas são im­


portantes no processo de tom ada de decisão, e o jogo é o dilem a dos pri­
sioneiros ou o impasse. Existem estratégias dom inantes, e as escolhas são
claras e incondicionais. E por isso que a política visível, ou seja, a políti­
ca destinada a ser vigiada (e aprovada) pelas m assas, possui um caráter
ideológico e polarizado, com o sustenta Sartori. Contudo, se as elites jo ­
gam apenas na arena parlam entar e podem tom ar suas próprias decisões,
então se trata do jogo do galinha. Suas escolhas são condicionadas à estra­
tégia dos oponentes; se o adversário é intransigente, escolhe-se transigir
em vez de enfrentá-lo. A política se torna mais pragm ática. A diferença
entre política visível e política invisível está ligada ao peso relativo da arena
eleitoral e da parlam entar, e ambas se refletem no valor do parâm etro k,
que indica a influência das massas no processo de tom ada de decisões.
De que modo as elites avaliam a arena parlam entar e a eleitoral? Em
outros term os, que variáveis influenciam o valor de /c? A cho que existem
dois fatores cruciais; informação e monopólio de representação. Investigo
o im pacto de ambos.
JOG OS OCULTOS 165

(1) Informação. Temos que discrim inar entre dois casos: se as m as­
sas dispõem de informação sobre o que as elites estão fazendo, e se as massas
sabem por que as elites agem da maneira que agem. O segundo é condici­
onado pelo prim eiro.
Se as m assas conhecem , com preendem e com partilham as razões para
o com portam ento da elite, sua própria m atriz de p a y o ff pode ser m odifi­
cada para assem elhar-se à m atriz da elite. O jogo se torna um jog o do
galinha não só para os líderes, mas também para as bases. Se, todavia, as
massas sabem o que as elites estão fazendo e discordam de suas políticas,
o grau de liberdade que as elites possuem decresce pelo menos na medida
em que as m assas controlam a ação das elites. Enfim, se os custos da in­
form ação são elevados, as elites dispõem de alto grau de liberdade em
relação ao controle pelas massas. O bviam ente, a política invisível será fa­
cilitada se a questão não possuir uma relevância pública, se houver outra
questão im portante que atraia a atenção das pessoas, se a questão for tão
com plicada que o público não possa com preendê-la, ou se ela for m antida
em segredo. Assim , a relevância e a visibilidade da questão limitam a li­
berdade das elites, aum entando o valor de k.
(2) M onopólio de representação. A relação entre o eleitorado e as elites
políticas pode ser conceituada com o no Capítulo 5. Um pressuposto im ­
plícito do modelo era que havia um conjunto de representantes dentro do
qual as bases (m ilitantes) podiam escolher a substituição do seu MP. Se
não houvesse outros representantes em perspectiva (no caso de um NEC
hostil, por exem plo), rejeitar o atual MP não faria sentido para o distrito.
Em nosso modelo, não pode haver escolha alternativa para as massas, pois
as elites possuem controle m onopolístico e o eleitorado não é capaz dc
recom pensar ou punir as elites. Posto de outro modo, a com petição eleito­
ral é essencial para a dem ocracia.
Estendo-m e mais sobre esse ponto porque ele é im portante para a com ­
preensão do modo de funcionamento das dem ocracias consociacionais. Con-
centrem o-nos num segm ento (pilar) de uma dem ocracia consociacional. De
acordo com a bibliografia sobre o assunto, esses segm entos não se comu-

F igu ra 6.1 A E q u ilíb rio c o m p eliliv o n um esp aç o im id im cn sio n al.


l-ig uta 6.1 B E q u ilíb rio num esp aço u n id im en sio n al co m m o n op ó lio d o p o d er d e lix ar a ag en d a.
166 GEORGE TSEISELIS

nicam entre si, e as barreiras de saída paru cada um são altas. Analisemos
um espaço político unidim ensional, tal com o o apresentado na Figura 6.1.
Exam inem os, além disso, duas elites diferentes que com petem nessa di­
mensão e a posição do eleitor mediano. Sob as condições especificadas por
Downs (em essência, a im possibilidade de abstenção), as duas elites con­
correntes convergirão para a posição do eleitor m ediano. Isso é válido in­
dependentem ente da distribuição da opinião dentro do pilar. Com efeito,
sem considerar o fato de que as opiniões políticas das bases são unimodais
ou bim odais, e independentem ente da política im plem entada anteriorm ente
(o status quo), o sucesso eleitoral dentro do pilar im plica convergência para
a posição do eleitor m ediano. Logo, a com petição entre as duas elites é
suficiente para conduzi-las às posições políticas do eleitor mediano.
Com parem os essa situação com petitiva com a Figura 6.1B, na qual
há apenas um a elite política. As massas ou aceitam as novas propostas da
elite, ou perm anecem na situação anterior. A posição do status quo torna-
se agora crucial, pois essa elite política particular está em posição dc
“chantagear” suas bases. A elite pode propor qualquer coisa no intervalo
SQ-SQ'. De vez que os eleitores precisam escolher entre essa proposição e
o status quo anterior, qualquer proposição no intervalo SQ -SQ' será acei­
ta. Segue-se que, numa situação de monopólio, as massas não podem im­
por sua vontade. Não têm outra escolha senão aceitar um a ampla gam a de
políticas prom ovidas pelas elites.
Os fatores que influenciam a disponibilidade de uma elite rival são a
relevância das questões, os custos de ingresso das novas elites no jogo elei­
toral (geralm ente, restrições impostas pela legislação eleitoral) e os recur­
sos que a elite controla (existências de sólidas organizações e endosso por
parte de outras organizações m onopolistas, com o a Igreja).
Existem indícios de que na Bélgica, até a década de 60, se m anteve
um monopólio de representação com base em fundam entos ideológicos, e
subseqüentem ente sobre bases organizacionais: B illiet (1984, 120 e 123)
afirma que “há uma predom inância católica na educação c na ação social,
dois setores que se expandiram enorm em ente nos últim os trinta anos”, e
que “os pilares organizacionais não se limitam a ser ativos como canais de
distribuição, mas também se envolvem na elaboração e im plem entação de
políticas” . Huyse (1984) explica o processo de adaptação secular dos di­
ferentes pilares, assinalando que os pilares desenvolveram novos serviços
(para os idosos e os inválidos), ou ocuparam atividades que se originaram
externam ente a elas (órgãos de ajuda lega) às classes mais baixas). As eli­
tes ficam assim bastante à vontade na arena eleitoral, e jogam o jogo do
galinha na arena parlam entar.
Em bora, no que se refere à sociedade belga, possam os descrever as
razões para o m onopólio dc representação dentro de cada pilar, ainda não
foi resolvido o problema teórico do monopólio de representação e das bar­
JOG OS OCULTOS 167

reiras. Tentativas analisadas pela bibliografia sobre o voto em term os espa­


ciais indicam que é de im portância fundam ental o objetivo potencial do
ingressante6. E de presum ir que a(s) elite(s) existente(s) tentarão im pedir o
ingresso mediante a adoção de uma postura que irá desencorajar os novos
aspirantes. Se os aspirantes potenciais quiserem tornar-se os representantes
mais importantes de seu pilar, podem ser facilmente desencorajados porque
as elites podem posicionar-se de tal modo que nenhum novo entrante se
tornará mais popular do que elas próprias. Se, porém, os novos desafiantes
estiverem interessados simplesmente em agir como grupo de chantagem , seu
ingresso não pode ser barrado por manobras políticas, mas pode ser apenas
prevenido por pressões institucionais tanto dentro dos partidos quanto no
nível eleitoral geral. Tais pressões são produzidas por sistem as eleitorais
plurais ou por barreiras de entrada em sistem as proporcionais.
N ão pretendo ter explicado adequadam ente com o se pode efetuar um
m onopólio de representação. O problema é crucial, porque, para com pre­
ender exatam ente de que form a as elites avaliam as duas arenas, e para
realizar testes em píricos sistem áticos de meu m odelo, é necessária um a de­
term inação independente de k1. Ainda assim, temos um a base suficiente para
um a aplicação inicial.
Resum indo o argum ento: se as elites usufruem de um m onopólio de
representação dentro do pilar ou se os custos da informação relativos ao com ­
portam ento da elite são altos, o valor de k é baixo; então, as elites são menos
pressionadas pela arena eleitoral e jogam um jogo do galinha. Se houver
com petição de elite dentro do pilar e os custos da informação forem baixos,
o valor de k é alto; logo, as elites têm de adequar-se às exigências das mas­
sas, e resulta um jogo do dilem a dos prisioneiros ou do impasse.
D epois de exam inar os fatores que influenciam o valor de k (a in­
fluência das m assas no processo de tom ada de decisão), um ponto mais
im portante requer atenção antes dc aplicarm os o modelo à política belga:
saber se os atores jogam um jogo de uma só jogada ou um jogo iterativo.
A sim plificação mais apropriada do modelo para o modo como as eli­
tes enfrentam uma questão importante é um jogo de um a só jogada. A razão
é que, para uma questão importante, as paradas do jogo são muito altas, de
modo que não se pode barganhar com outras questões ou prom essas sobre
comportamento futuro. Neste caso, conforme mostrei no Capítulo 3, o fator
decisivo na determ inação da escolha de estratégias c o ordenam ento dos
payoffs, e não seus valores efetivos. Os jogos descritos nesta seção, assim
com o os jogos gerados por qualquer com binação de payoffs descritos por
(6.1), (6.2) e (6.3), possuem soluções estudadas exaustivam ente cm termos
fi. P a ra u m a r e v is ã o d a b ib lio g ra fia , v e r S h e p s lc e C o lie n ( 19 8 8 ).
7. A lé m d is s o , p o d e -s e o b je la r q u e o s c u s to s d a in fo rm a ç ã o d e p e n d e m d o fa to d e s a b e r s e e x is te u m m o n o p ó lio
d c re p re s e n ta ç ã o . C o m p e tiç ã o v ig o ro s a e n tre p o lític o s c o n c o rre n te s r e d u z irá o s c u s to s d a in fo rm a ç ã o e a s s e ­
g u r a r á q u e a in fo rm a ç ã o re le v a n te a tin ja a s m a ss a s .
GEORGE TSEBE U S

de estratégias puras. Assim, no caso de jogos de uma só jogada, podem ser


prontam ente aplicadas as conclusões da Seção I do Capítulo 3.
Se, porém , as questões forem de im portância menor, podem -se efe­
tuar barganhas entre questões. Em conseqüência, o m elhor modo de abor­
dar a situação é por interm édio de um jogo iterativo. Conform e vim os no
Capítulo 3, o valor dos payojfs influenciará a escolha de estratégias nos
jogos iterativos (ou em jogos em que são possíveis estratégias correla­
cionadas). D c modo geral, conform e indicam as proposições 3.6 e 3.7, um
aum ento de T ou de P torna mais provável a escolha de deserção, mas um
aum ento de R ou O torna mais provável a escolha de cooperação, inde­
pendentem ente de saber se o jogo em questão é um jog o do dilem a dos
prisioneiros ou do galinha.
A relação entre payoffs e estratégias indica que seria possível prever
(dc form a probabilística) o com portam ento das elites políticas se se pu­
desse efetuar algumas avaliações no que respeita aos payoffs e ao valor de
k envolvidos em cada caso. Ou, de maneira menos am biciosa e mais rea­
lista, podem -se fazer alguns enunciados de estática com parada a respeito
de que tipo de com portam ento seria mais provável sob cada condição.
Resum indo diversos pontos im portantes: as elites políticas dispõem
de capacidades diferenciadas de envolver-se em jogos parlam entares; seus
payoffs na arena parlam entar são estabelecidos pela arena eleitoral; os cus­
tos da inform ação e o m onopólio de representação são condições cruciais
que determ inam esses payoffs; à m edida que aum entam os custos da infor­
mação, dim inui o valor de k\ a política torna-se então invisível, e o jogo
entre as diferentes elites assem elha-se ao jog o do galinha; à m edida que
aum enta o m onopólio de representação, as elites são capazes de escolher
suas próprias políticas, ignorando os desejos de suas bases. Independente­
mente do valor de k, o jogo entre as diferentes elites pode ser um jogo de
um a só jogada ou iterativo, de acordo com a relevância da questão. Se o
jogo é de um a só jogada, apenas a classificação dos payojfs determ ina as
estratégias ótim as. Se o jogo é iterativo, são possíveis cálculos ao longo
do tem po ou internos às questões, tornando im portantes os valores dos
payojfs efetivos. No caso d os jogos iterativos, a probabilidade de coopera­
ção aum enta quando R ou O aum enta, enquanto T ou P decresce. U tilizo
agora essas intuições para exam inar a política belga.

///. ESTUDOS SOBRE A POLÍTICA BELGA


A Bélgica é hoje um país com três grupos lingüísticos (francês, ho­
landês e alem ão); a constituição reconhece duas com unidades culturais
(francesa e flam enga), trcs regiões geográficas (Valônia, FJandres e B ru­
xelas), as quais não coincidem com as com unidades culturais, e um govcr-
JOG OS OCULTOS 169

no central. H á três fam ílias políticas (católicos, liberais e socialistas), as


quais criaram um a densa rede de organizações e instituições sociais e eco­
nômicas (Borella 1984).
As três fam ílias políticas representam os três “pilares” da sociedade
belga, de acordo a bibliografia consociacional. Isso significa que os três
partidos políticos conseguiram m onopolizar a representação dos segm en­
tos correspondentes da população. Contudo, entre 1958 e 1961, as divi­
sões territoriais adquiriram um a certa importância. A população de Flandres
excedeu a população de língua francesa, e a industrialização progrediu ra­
pidam ente em Flandres, enquanto que Valônia entrava em crise econôm i­
ca. De 1968 a 1978, a unidade das três fam ílias políticas belgas foi posta
severam ente à prova pela questão territorial: em 1968, houve um cism a
entre os cristãos flam engos e os de língua francesa (Partido Social Cristão
[PSC] e Partido Cristão do Povo [CVP]). Em 1972, os liberais se dividi­
ram (Partido da Reform a Liberal fPRL] e Partido da L iberdade e do Pro­
gresso [PVV]). Em 1978, foi a vez dos socialistas (PSB [para os de língua
francesa] e BSP [para os flam engos] (M abille 1986, 328).
N esta seção, para explicar a política belga, utilizo o modelo gerado
na Seção II em quatro casos diferentes: (1) exam inar o caso do conflito
iniciado pelas elites; (2) exam inar o projeto das instituições consociacionais
com o um jogo iterativo; (3) estudar um evento histórico particular (o Pacto
dc Egm ont) com o um jogo de uma só jogada, e (4) estudar algum as con­
clusões da bibliografia sociológica a respeito das clivagens.

/. C o nflito inicia do p e la s elites


A m inha exposição pode ter passado a im pressão, até aqui, de que,
em virtude de ser o jogo na arena parlam entar influenciado pelo jogo elei­
toral, as elites que têm a intenção de com tem porizar (pelo bem com um ou
por qualquer outra razão) são impedidas de fazê-lo pelas massas. Esse é o
tem a geral da bibliografia consociacional; no entanto, é um a explicação
que tem sido criticada ultim am ente. M uitos cientistas políticos acreditam
agora que as elites políticas exercem papéis importantes na criação de con­
flitos e na m obilização das massas para seus interesses de cunho particu­
lar. O fenôm eno do conflito iniciado pelas elites foi analisado por outros
estudos. Schattschneider (1960, 5) escreve sobre os políticos que tentam
“realocar o poder mediante a adm inistração do escopo do conflito”. Para
Riker (1983), a essência da política consiste na introdução de novas ques­
tões que dividem a coligação vencedora e criam possibilidades de novas
coligações. Bates (1974, 1982) c Sklar (1963, 1979) escreveram extensa­
mente sobre o fenôm eno do conflito iniciado pelas elites na Africa. Sabei
(1981) analisa por que grupos de liderança .sindical podem ser intransi­
170 GEORGE TSEBE U S

gentes. Um exem plo de conflito iniciado pelas elites c dado pelas m obili­
zações de m assa em torno de questões lingüísticas no início dos anos 60,
em particular no caso da m obilização flam enga com relação ao status de
Bruxelas, em 1961 (De Ridder e Fraga 1986, 378). Os flam engos estavam
muito mais bem organizados e mobilizados dos que os valões e consegui­
ram pôr a questão na ordem do dia nacional. Teorias consociacionais, porém,
não só deixam de explicar esse tipo de com portam ento das elites, com o
ainda ignoram a sua existência (Covell 1981). Pode o modelo que desenvolvi
aqui explicar esse conflito iniciado pelas elites em moldes consociacionais?
Para aum entar a parte do segm ento que elas representam no jogo
parlam entar, as elites políticas podem m obilizar seus seguidores. Como o
jogo parlam entar é um jog o do galinha, segue-se que um dos jogadores
pode forçar o ponto de equilíbrio em (T , 0 2) se ele próprio se com pro­
meter prim eiram ente com a estratégia de intransigência. Pode escolher uma
questão que seja ao mesm o tem po im portante para seus partidários (alto
T () e destituída de im portância para seus oponentes (alto 0 2). Pode então
m obilizar seus partidários para m ostrar aos outros partidos que fala a sé­
rio. Ou pode usar essa manobra política para desencorajar ou elim inar ri­
vais potenciais dentro de seu próprio pilar. N a verdade, nesse ponto, ele
pode explicar a suas bases que os representa fielm ente, ao mesm o tempo
em que convence seus oponentes de que perdeu o controle da situação e de
que o outro partido precisa capitular. Se a questão for bem escolhida, ele
fará o que quiser e receberá crédito dos outros jogadores. Pode usar esse
crédito na rodada seguinte, quando receber um ultim ato de seu oponente c
tiver de capitular. Se não existirem tais questões de interesse assim étrico,
o conflito conduzirá ao resultado m utuam ente tem ido (P P ).
Como alternativa, o valor de k para um segm ento da população pode
ser tão alto que a ordem de preferência da elite correspondente no jogo
oculto é o do dilem a dos prisioneiros, enquanto a ordem de preferência da
outra elite pode continuar sendo o jogo do galinha. Nesse caso, um a elite
dispõe de uma estratégia dominante de intransigência, enquanto a outra tem
de transigir e fazer concessões.

2. P rojeto in stitucion al
O projeto institucional que estudamos é um caso em que o jogo oculto
(parlam entar, com pressões por parte da arena eleitoral) é iterativo. Esse
jogo é ou o dilem a dos prisioneiros ou o do galinha, dependendo do valor
que k assumir*. Em ambos os casos, existem im portantes problem as de co-

S. O ú n ic o c a s o e m q u e e s s e e n u n c ia d o n ã o é v e rd a d e iro é q u a n d o a s m a ss a s jo g a m u m j o g o d o im p a s s e (e s lã o
c x lre m a m e n te p o la riz a d a s ), e a s e lile s n ã o lê m m a rg e n s d e m a n o b ra (e x is tê n c ia d c e lite s c o m p e titiv a s e in-
JOG OS OCULTOS 171

F ig u ra 6 .2 A Jo g o do g alin ha cm q u e a co o p era ção m ú tu a c p arte do co n ju n to d c P areto.

F igu ra 6 .2B Jo g o do g alin ha em q u e a c o o p era ção m ú tu a não faz p arte d o c o n ju n to d c Parcto.

ordenação: na falta de coordenação, ambos os jogadores podem term inar


com resultados indesejáveis. No entanto, se ambos os jogadores puderem
coordenar suas atividades, qua) seria o resultado mais desejável?
A resposta im ediata é cooperação mútua: (R,, R2). Não obstante, ima­
ginem os um jogo do galinha com os seguintes payoffs (sim étricos): T =
6, R ; = 3, Oj = 2, Pj = 0‘\ Se os dois oponentes jogassem esse jogo duas
vezes e concordassem em cooperar, seu p a yoff seria seis. Se, porém, con­
cordassem em desertar em certas rodadas enquanto seus oponentes estives­
sem cooperando, seu pa yoff seria oito. Vemos agora que a melhor estraté­
gia (presum indo a com unicação) depende dos payoffs efetivos. As Figuras
6.2A e 6.2B ilustram as escolhas ótim as sob condições diferentes.
As Figuras 6.2A e 6.2B representam os payoffs de cada jogador num
jogo do galinha. Na Figura 6.2A, a cooperação mútua é o melhor resulta­
do para ambos os jogadores; na Figura 6.2B, o m elhor resultado é produ­
zido pela alternância entre deserção e cooperação com o oponente. Em

lo riiu iç ã o p e rfe ita ), o u ns tê m m u ito p e q u e n a s . C o n tu d o , m e s m o n e s s e c í i s o im p ro v á v e l, o s re s u lta d o s q u a liu i-


tiv o s a p re s e n ta d o s n e s ta s e ç ã o p e rm a n e c e m in a lte ra d o s .
9 , E x a ta m e n te o m e s m o a rg u m e n to p o d e s e r a p re s e n ta d o e m re la ç ã o a o d ile m a d o s p ris io n e iro s se P. = 2 .5 . P o r
m o tiv o d e c o n v e n iê n c ia , a p re s e n to o a rg u m e n to d o p rin c íp io a o tim p u n i o jo g o d o g a lin h a ; c o n tu d o , o s le i­
to re s d e v e m le m b ra r-s e d e q u e in e re firo no jo g o o c u lto e m g e ra l, q u e p o d e s e r d o g a lin h a , d ile m a d o s p r is io ­
n e iro s , o u u m jo g o e m q u e o s d o is jo g a d o re s tê m o rd e n s d ife re n te s d e p a y o jfs.
172 GEORGE TSEBE U S

term os técnicos, (R , R ) está incluído no conjunto de Pareto no primeiro


caso, mas não no segundo. Em term os algébricos, a condição necessária e
suficiente para que os payoffs sejam representados pela Figura 6.2A é
R 2(T, - O ,) + R ,(T 2 - 0 2) > T ,T 2 - 0 , 0 2 (6.5)111
É fácil com provar que, à m edida que aum enta T. ou O. aum enta a
probabilidade de que o ponto (R,, R2) não esteja no conjunto de P areto '1.
À m edida que aum enta R; aum enta a probabilidade de que (R,, R2) esteja
incluída nesse conjunto. A lternativam ente, a intuição geom étrica das Fi­
guras 6.2A e 6.2B sugere que, à m edida que R ; aum enta, torna-se mais
provável que o ponto (R |5 R2) esteja acim a da linha que liga os pontos
(T , 0 ?) e (T2, O j), com o na Figura 6.2A. Inversam ente, à m edida que
aum enta T ou (> (o resto permanecendo igual), torna-se mais provável que
o ponto (R , R2) se situe abaixo da linha que liga os pontos (T t, 0 2) e (T,,
0 (), com o na Figura 6.2B. Além disso, conform e observei no Capítulo 2,
à m edida que aum enta T ou Pi5 diminui a probabilidade da escolha de uma
estratégia de com prom isso. Ainda, à m edida que aum enta R. ou O. aum en­
ta a probabilidade de com prom isso.
Traduzam os agora essas observações da teoria dos jogos para termos
políticos. Quando os payoffs R de cooperação mútua são elevados, a esco­
lha de estratégias cooperativas é tanto mais racional individualmente quanto
ótim a coletivam ente. Nesse caso, é fácil explicar o com portam ento coope­
rativo das elites pelo fato de serem elevados os benefícios oriundos da
cooperação mútua. Infelizm ente, as coisas nem sem pre são tão diretas.
O increm ento de T. reflete a importância elevada que um partido atri­
bui a im por sua vontade numa questão particular. Sc a questão particular
não é muito im portante para o outro partido (alto O), aum enta a probabi­
lidade de dois eventos: o ponto (R r R2) não é mais ótim o de Pareto e o
outro partido precisa abrir mão da questão específica. Se, porém , a m es­
m a questão é relevante para ambos os partidos, o com prom isso é im pro­
vável, pois um alto T e um baixo O aum entam a probabilidade de intran­
sigência por parte de ambos os jogadores.
As conseqüências são duplas. Em prim eiro lugar, se um a questão é
muito importante para um partido e menos para o outro, são possíveis duas
soluções: ou um a cooperação mútua ou o segundo partido cede às exigên­
cias do prim eiro. Num jogo iterativo, os dois partidos podem ou escolher
cooperação mútua ou alternar rodadas de deserção e de cooperação. A so­
lução coletivam ente melhor depende dc (R (, R2) ser parte ou não do con­

10. E ssi) in e q u a ç ã o é d e riv a d a d a fo rm u la ç ã o d a e q u a ç ã o d a lin h a re la q u e p a s s a p e lo s p o m o s (T ,, O ,) e (O ,, T .). c


a s s e g u r a cjuc o p o u to ( R ,, R .) s itu a -s e a n o rd e s te d e le .
I I . Is so p o d e s e r c o m p ro v a d o s e c h e c a rm o s a s p rim e ira s d e riv a d a s d e (6 .5 ) n o q u e s e re fe re a o s payuff.s d ife re n te s.
JO G O S OCULTOS 173

junto de Pareto, ou, com o alternativa, de (6.5) ser válida ou não. Porem,
não é fácil efetuar a avaliação, c os atores políticos não precisam concordar
necessariam ente com seus valores. Em segundo lugar, sobre questões de in­
teresse mútuo (alto T e baixo O para ambos os jogadores), a cooperação é
altam ente necessária, mas extrem am ente improvável.
Analisemos questões que demonstram a relevância da matriz de payoff.
Na Bélgica, a com unidade flam enga tem tradicionalm ente bastante inte­
resse em m anter sua autonom ia na esfera da educação e nos assuntos cul­
turais; a com unidade dos valões se interessa pela descentralização econô­
mica com relação tanto às decisões sobre investimento com o àquelas sobre
gastos. Em nosso jogo, questões de grande interesse para um a com unidade
(alto T) são de baixa relevância para a outra (alto O). A presentam -se duas
soluções possíveis. Se (R , R,) é parte do conjunto de Pareto, ou seja, se
a desigualdade (6.5) for válida, a melhor solução é a cooperação mútua, e
ambas as com unidades decidiriam as duas questões em conjunto, Se a de­
sigualdade não for válida, a com unidade dos valões deve decidir sobre
questões de descentralização econôm ica, e a com unidade flam enga sobre
políticas culturais. Poder-se-ia im aginar um a concordância tácita na qual
os grupos diferentes se alternariam na tom ada de decisões. Tal é a análise
de B illiet (1984, 124), que afirma: “Não é a Constituição, mas um a série
de pactos que determ ina as regras, os órgãos de consulta e as técnicas de
consulta” . A exposição de Dierickx (1978, 144) sobre o conflito adm inis­
trativo belga é sim ilar: “o conflito pode m uitas vezes ser regulam entado
com a ajuda de package cleals*\ é útil fazer concessões onde a relevância
é baixa para ganhar algo quando a relevância for alta” . Contudo, com o
poderiam ser im postos tais pactos e package dea lsl O que im pediria um
grupo específico e seus representantes de esquivar-se de suas obrigações,
ou de afirm ar que a situação mudou, e que sim plesm ente não podiam mais
aceitar o acordo? Tais casos são possíveis, e poderiam destruir as inten­
ções cooperativas das elites.
Acordos tácitos e package deals são possíveis, e, sob certas condições,
podem fornecer soluções não-conflitivas. Todavia, não há garantia de que se­
melhantes soluções funcionem, pois cada grupo ou coligação de grupos pode
ainda requerer controle sobre o processo de decisão em questões relevantes
para outros grupos. Uma condição mais eficiente para evitar o conflito em
tais situações é a institucionalização do processo de decisão. Em vez de deci­
dir sobre questões controversas, os diferentes grupos podem decidir acerca de
procedimentos a respeito dos quais seus interesses coincidem. Especificamen­
te, podem delegar autoridade ao grupo mais afetado pela questão.
Desse modo, podem ser projetadas instituições para fornecer uma base
perm anente para a solução de conflitos em que existe um a assim etria na
Package ilcals, v e r n o ta à p. 29 .
174 GEORGE TSEÜELIS

relevância das questões para os diferentes grupos, sob a condição de que


(R , R ,) não faça parte do conjunto de Pareto. Essa é essencialm ente a
explicação que H eisler (1973, 215) fornece do processo de dédoublem ent
(desdobram ento) iniciado cm 1962 pelo governo Lefevre-Spaak: a separa­
ção adm inistrativa era funcional e precedeu a autonom ia cultural. Ele afirma
que o “dédoublem ent ajudou a converter questões com pressão política em
questões passíveis de tratam ento técnico”. Tal é a situação se o com pro­
misso mútuo não estiver no conjunto de Pareto.
Em term os mais gerais, as tradições filosófica e política do liberalis­
mo e do federalism o utilizam a im portância assim étrica de questões dife­
rentes para grupos diferentes de pessoas. Em vez de prom over uma solu­
ção uniform e que seria aplicada a toda a população ou a todo o território,
a solução liberal e a federal conferem aos diferentes grupos ou unidades
territoriais o direito de decidir sobre questões que os afeta. A solução do
problem a escolar é uma dem onstração da criação de instituições liberais
na Bélgica. Em 1951, os sociais-cristãos estavam sozinhos no governo e
votaram a lei Harmel, que privilegiava as escolas católicas. Em 1955, quan­
do os socialistas e os liberais chegaram ao poder, votaram a lei CoIIard,
que im punha padrões uniform es para as escolas seculares e cristãs. Em
1958, os sociais-cristãos venceram novam ente as eleições, mas assinaram
um pacto com a liderança do partido socialista e do liberal, que salvaguar­
dou credos filosóficos diferentes, assegurou a livre escolha de escola e for­
neceu ajuda governam ental a todas as formas de educação. Esse pacto tor­
nou-se a lei de 29 de maio de 1959 (M abille 1986, 322).
As soluções institucionais adotadas na Bélgica incluem a substituição
do princípio de territorialidade pelo de escolha individual da língua; vetos
m útuos e m aiorias especiais; descentralização e autonom ia de grupo; “si-
netas de alarm e” (sonnettes d ‘alarm e), ou seja, controle da pauta pelos gru­
pos lingüísticos sobre questões de especial interesse; e a criação de insti­
tuições especiais para perm itir que os grupos m onitorem a execução de
políticas de interesse especial (Covell 1981). O ponto com um a todos es­
ses dispositivos institucionais é a característica de conferir prioridade ao es­
tabelecim ento da agenda ou jurisdição exclusiva sobre as questões direta ou
indiretam ente (poder de veto).
Contudo, não excluím os a possibilidade de que o resultado do com ­
prom isso mútuo esteja efetivam ente no conjunto de Pareto, nem devem os
fazê-lo. N a verdade, existem atores políticos na Bélgica que acreditam que
a melhor solução política está dentro de um quadro unitário. Cada partido
político abriga tendências unitárias e regionalistas. Especificam ente, dentro
do Partido C ristão do Povo, os dois líderes mais im portantes, os ex-pri-
meiros-ministros Leo Tindemans e Wilfried M artens, discordam precisam en­
te sobre essa questão. Nos termos de nosso modelo, o primeiro acredita que
a melhor solução pode ser encontrada mediante concessões mútuas (que [6.5]
JO G O S 0'CU LT0S 175

6 verdadeira). O segundo favorece soluções regionalistas. A diferença entre


regionalistas e seus oponentes é que os primeiros acreditam que podem obter
m elhores resultados se separarem as questões e criarem jurisdições exclusi­
vas do que m ediante a cooperação m útua (que [6.5] não é verdadeira),
enquanto os últimos acreditam que as questões são sim étricas e que o com ­
prom isso mútuo é melhor do que um a com binação de decisões unilaterais.
Até aqui, concentrei-m e em três dos quatro resultados de um subjo-
go. Não discuti o resultado da intransigência mútua. O tem or desse resul­
tado faz a elite desejar o com prom isso, e a falta de com prom isso mútuo
ou coordenação (em alternâncias entre com prom isso e intransigência) pode
conduzir a isso.
Conform e dem onstrei anteriorm ente, um aum ento do valor de T. ou
um decréscim o no valor de O. reduz igualm ente a probabilidade de que
cada jogador escolha cooperar. Tais condições ocorrem se uma questão é
im portante para ambos os partidos. N esse caso, a deserção m útua é o re­
sultado mais provável. Se ambos os partidos pudessem aum entar o pa yoff
para a intransigência mútua, esse resultado particular não seria tão doloroso.
O estudo das instituições belgas indica que foram feitos esforços bem-
sucedidos para aum entar os payoffs para deserção mútua: quando o confli­
to parece inevitável, ele é adiado. Por exemplo, o A rtigo 59-b da C onsti­
tuição im põe que a legislação relativa à com posição e com petência dos
órgãos com unitários e regionais “deve ser aprovada com um voto da m aio­
ria dentro de cada grupo lingüístico de ambas as Casas, desde que a m aio­
ria dos m em bros de cada grupo esteja presente e sob condição de que o
número total de votos a favor dos dois grupos lingüísticos atinja dois ter­
ços dos votos válidos” (Rudd 1986, 122). Além disso, qualquer revisão
constitucional de monta, além de maiorias qualificadas, requer um enun­
ciado por parte do governo dos artigos a serem revistos, um a dissolução
do Parlam ento, novas eleições, e a form ação e m anutenção de um a nova
coligação de governo.
O resultado de tais exigências restritivas para a efetuação de refor­
mas é que alguns parlam entos eleitos para realizar revisões constitucionais
não aprovaram nenhuma: as legislaturas de 1965-1968, 1968-1971 e 1978-
1981. Além disso, como inform a um “D ossier de Centre de Recherche et
dT nform ation Socio-Politique”, em 1983 o texto da C onstituição estava
incompleto: havia um Artigo 107c (desde 1980) e um Artigo 107d (desde
1970), mas nenhum A rtigo 107b (CRISP 1983, 5). O nosso modelo base­
ado na teoria dos jogos, no entanto, pode fornecer um a razão mais inte­
ressante c menos óbvia para a ausência de reform as do que a dificuldade
das exigências: conform e observei acima, o tem or dos payoffs de intransi­
gência mútua (P) torna mais provável a cooperação. Com efeito, à m edida
que P decresce, aum enta a probabilidade de cooperação. As soluções ins­
titucionais adotadas na Constituição belga, porém , aum entam o valor de P
176 GEORGE TSEBELIS

m ediante o adiantam ento do conflito, tornando desse modo menos prová­


vel a cooperação. Dessa forma, paradoxalm ente, a adoção de medidas que
reduzem as conseqüências da divergência (m aiorias qualificadas, adiam en­
to de conflitos) aum enta a freqüência de discordância.
A presentei um a explicação racional das instituições consociacionais.
O motivo para a adoção de semelhantes artifícios institucionais, de acordo
com minha exposição, é duplo: inserir os resultados do jogo oculto dentro
da fronteira de Pareto (ou seja, tornar os resultados coletivam ente ótim os)
e aum entar os payoffs de intransigência mútua por m eio do adiam ento do
conflito sem pre que ele parecer inevitável.
Segundo meu relato, as instituições consociacionais prim eiram ente
separam as questões que, em outros países, estão geralm ente ligadas e
depois conferem jurisdição a grupos sobre questões que lhes concernem
(Shepsle 1979). A exposição difere da explicação do consociacionalism o
por m eio de package deals fornecida por B illiet (1984) e por D ierickx
(1978). Se os package deals fossem suficientes para resolver os proble­
mas, o desenvolvim ento de instituições com vistas à redução dos conflitos
teria sido redundante. Se as explicações de B illiet e de D ierickx estives­
sem corretas, e os package deals fossem suficientes, a aplicação de recur­
sos para a construção de instituições consociacionais teria sido um a estra­
tégia subótima. A própria existência de instituições consociacionais indica
um a desconfiança fundam ental entre grupos diferentes e a necessidade de
m ecanism os com força im positiva para a adm inistração do conflito12.

3. O Pacto de E gm on t (1977)
O Pacto de Egm ont foi um a tentativa dos principais partidos belgas
de criar um com prom isso institucional para solucionar o status de B ruxe­
las, que cra um ponto de conflito entre a com unidade flam enga e a dos
valões. Como Bruxelas falava predom inantem ente o francês, se ela se tor­
nasse um a área independente, a Bélgica sc dividiria em três regiões, duas
das quais falariam a língua francesa. De outro modo, a Bélgica se dividi­
ria numa com unidade de língua francesa e outra de língua holandesa. Como
a questão era de im portância fundam ental para am bas as com unidades,
concessões feitas nesse caso não poderiam ser com pensadas por ganhos em
12. O s le ito re s p o d e ria m o b je ta r q u e e x a m in e i a p e n a s q u e s tõ e s d e o tim iz a ç ã o d e P a re to , is to é, r a c io n a lid a d e
c o le tiv a , m a s q u e o p ro b le m a e s s e n c ia l s e re fe re a o c o n f lito e n tre ra c io n a lid a d e in d iv id u a l (o u p a rtic u la riz a -
d a ) e c o le tiv a . E m o u tr o s te rin o s , e m b o ra e u te n h a m e c o n c e n tra d o 11a n e c e s s id a d e d e c r i a r in s titu iç õ e s , n ão
d e m o n s tre i c o m o é o b tid o 0 c o n s e n s o e m to rn o d a s in s titu iç õ e s , lis s u o b je ç ã o é c o rre ta . C o n tu d o , c o n fo rm e
m o s tre i 110 C a p ítu lo 3 , ite ra ç õ e s 011 c o m u n ic a ç ã o c o n d n z e m a a lg u m re s u lta d o ra c io n a l in d iv id u a l; lo g o . é
p o s s ív e l a l c a n ç a r a f ro n te ira d e P a re to . U m a v e z q u e a s e lite s e s tã o e m c o n s ta n te in te ra ç ã o , s ã o c a p a z e s de
r e c o n h e c e r q u a n d o s e e n c o n tra m n u m a s itu a ç ã o n ã o ó tim a d e (P a re to ), o u s e ja , u m a s itu a ç ã o e m q u e n e c e s s i­
ta m d e in s titu iç õ e s . F.m c o n s e q ü ê n c ia , p o d e m c o rrig ir .sua aç ão .
JO G O S OCULTOS 177

outras questões. De acordo com os pressupostos de que se partiu na Seção


II, a questão de Bruxelas precisa ser exam inada com o um jogo de uma só
jogada. Segundo Covell (1982, 457-458):
O p acto d e E g inont foi n eg o ciad o cm 1977 com o p arle do p ro cesso d e form ação do
governo. A equ ip e de neg o ciação in clu ía o provável p rim eiro-m in istro e os p resid en tes dos
p rov áv eis p artid o s d a co lig ação . [...] O pacto foi neg o ciad o nm n p erío d o de três sem an as, em
seg red o e num rilm o in ten so , que in clu ía d iv ersas sessõ es que d u rav am a no ite in teira. [...] O
isolam en to e o seg red o com que as neg o ciaçõ es p ro sseg u iram c ria ram o que eles descrev em
co m o esp írito d e eq u ip e. S u scitaram tam bém as su sp eitas d aq u eles q u e foram ex clu íd os das
nego ciações e criaram um a situ ação em que os n eg o ciad o res fica ram m ais p reocup ad o s em
p reserv ar su as relaçõ es m útuas do que em b u scar apoio de su as o rg an izaçõ es p artid árias.
C ada lado ch eg o u a acre d ita r que o prin cip al o b stácu lo ao a co rd o não era o '‘a d v ersário ’' com
q u em n eg o ciav am , m as as su as p ró p rias b ases, que teriam de aceitar os aco rd os. N a verdade,
as reaçõ es n eg ativ as d e seus p artid ário s foram su b estim ad as p or todos os n eg o ciad o res.

O pacto só poderia ser im plementado por interm édio de leis aprova­


das pelo Parlam ento. Leo Tindem ans, então prim eiro-m inistro, não era
favorável às cláusulas regionalistas do pacto e procurou adiar sua im ple­
mentação. Além disso, a com posição do Parlam ento não era favorável à
im plem entação do Pacto de Egmont. Em outubro de 1978, M artcns, pre­
sidente do Partido Cristão do Povo (CVP), devolveu as negociações aos
presidentes dos partidos. Nessa nova rodada, alguns dos presidentes am e­
açaram iniciar um a crise governam ental devido à falta de progresso na
im plem entação do Pacto de Egmont. Então, Tindem ans (CVP) renunciou,
bloqueando ainda mais o processo.
Lijphart (1977, 182) julga que o com portam ento contem porizador das
elites é um a variável independente e pode ser usada sem pre que for neces­
sário. Afirma: “Quanto mais extrem a for a condição de clivagem e de iso­
lamento m útuo, mais provável será a percepção dos sinais dc perigo. Tão
logo é reconhecido o perigo, podem ser aplicados os rem édios” . L ijphart
denom ina a isso profecia autonegadora.
O estatuto independente das elites na teoria de L ijphart foi um dos
principais atrativos de sua versão do consociacionaiism o, pois, diferente­
mente das versões apresentadas por Lorwin (1971), Lehm bruch (1974) e
Steiner (1969), ela serve prescritivam ente de ferram enta política para uso
das elites sem pre que detectem o perigo dc conflito cultural13. Contudo, os
eventos que envolvem o Pacto de Egm ont não corroboram um a teoria da
independência das elites: claram ente as elites não podem evitar o conflito
quando as questões em jogo são importantes para todos os partidos.
Covell (1982) expõe a fase de negociação do pacto com o um jogo
do dilem a dos prisioneiros, e o estágio de im plem entação com o um jogo
do im passe. O problem a que suas explicações colocam é que a intransi­

13. V er m m b e m H a lp c rn (1 9 8 6 ).
GEORGE TSEBELIS

gência é a estratégia dom inante nesses dois jogos de urna única partida.
Assim , as negociações teriam falhado de saída. No entanto, está essencial­
mente correta sua intuição de que é importante saber se as elites negociam
por si próprias ou se as massas estão envolvidas no processo.
Q ue intuições sobre o Pacto de Egm ont podem os obter a partir do
modelo apresentado na Seção II? As negociações ocorreram debaixo de ex­
trem o segredo; portanto, o valor de k se aproxim ava de zero na fase de
negociação. D urante as três sem anas, os negociadores estiveram jogando
um jogo do galinha, em que suas decisões eram orientadas pelo tem or do
fracasso e da perpetuação do stcitus qtto de Bruxelas. Além disso, com o se
com unicavam ao longo das negociações, eles conseguiram desenvolver
estratégias contingentes e conduzir o resultado para a fronteira de Pareto.
A possibilidade de com unicação e de barganha, ou seja, a possibilidade de
estratégias contingentes, pode conduzir um jog o de uma só jogada entre as
elites ao mesm o resultado que um jogo iterativo: à fronteira de Pareto.
No estágio de im plem entação, os acordos tornaram -se públicos, e o valor
dc k aumentou violentamente. Ainda, uma vez que as massas não interagiam
entre si nem negociavam , não eram mais possíveis as estratégias contin­
gentes. O jogo tornou-se um dilem a dos prisioneiros, ou um jogo do im ­
passe, de modo que a intransigência passou a ser a estratégia dominante.
Todavia, os presidentes dos partidos, os quais não estavam diretam ente vin­
culados aos eleitores (baixo k), continuaram a ver no jogo um jogo do
galinha e utilizaram a ameaça última (para um jogo do gaiinha): derrubar
o governo. Isso, porém , não representou um a am eaça para pessoas como
Tindem ans, para quem a intransigência era a estratégia dom inante, e que
preferiu então a renúncia à ratificação do Pacto de Egmont.
O modelo apresentado na Seção II perm itiu-m e explicar importantes
aspectos da política belga: a questão do conflito iniciado pelas elites, o pro­
jeto institucional e eventos históricos como o Pacto de Egmont. Explicações
alternativas não consideram, ou não podem considerar essas questões. Como
vimos, as teorias consociacionais e as teorias do voto sofisticado deixam de
reconhecer ou explicar a existência de conflito iniciado pelas elites. Além
disso, outras abordagens (como as de Dierickx e de Billiet) que tentam ex­
plicar a acomodação mediante package deals e barganhas entre questões di­
ferentes deixam de explicar a forma específica das instituições belgas.

4. Segm entação
O m esm o enfoque de jogos ocultos pode ser usado para entender a
importância de algumas características sociológicas das dem ocracias conso­
ciacionais, como a segmentação. De acordo com as análises clássicas, a frag­
m entação tende a produzir conflito político (Alm ond 1956). Contudo, se
JO G O S OCULTOS 179

as diversas com unidades não se comunicam entre si, é provável que as di­
ferentes elites políticas exerçam um monopólio de representação sobre seus
segm entos respectivos. Daalder (1966, 214) descreve a sociedade holande­
sa com o foi apresentada por K ruijt, “o mais antigo estadista dos estudos
Verzuiling” : as pessoas vão à escola; pertencem a sindicatos, associações de
rádio e partidos políticos; e lêem jornais e livros exclusivam ente dentro do
âmbito de seu pilar (zitilen). Se não houver com petição dentro do pilar, não
há nenhuma competição. Essa situação concede às elites políticas uma grande
liberdade de ação. Se, contudo, houver com petição interna, as elites políti­
cas irão refletir fielm ente os sentim entos de seu eleitorado (ver Seção II).
N a Irlanda do N orte, onde a com petição política ocorre dentro de
cada segm ento, tentativas de com prom issos falham inevitavelm ente por­
que os líderes extrem istas são capazes de mobilizar as massas (Lijphart 1977;
Schm itt 1974). Pode-se com parar o caso irlandês com a situação na H o­
landa descrita por D aalder (1966), onde os partidos estabelecidos m anti­
veram sua força política. Além disso, a despeito do sistem a eleitoral abso­
lutam ente proporcional, candidatos concorrentes dentro de cada pilar não
receberam mais do que 16% dos votos. A situação m odificou-se com ple­
tamente desde que foi descrita por Daalder: as elites políticas não usufruem
mais de privilégios m onopolísticos, pois tendências seculares da política
holandesa aum entaram o número de partidos e o grau de volatilidade elei­
toral (Thung, Peelen e Kingmans 1982). Se essa tendência secular tivesse
preservado as fronteiras dos pilares, a política holandesa ter-se-ia tornado
bastante conflitiva. O que ocorreu, no entanto, foi que a im portância dos
próprios pilares declinou, de modo que as razões para conflito na socieda­
de holandesa foram eliminadas.
Na Bélgica, os partidos políticos desfrutaram de um monopólio de re­
presentação até que a questão étnica se tornou proem inente. Comparem os o
fracasso eleitoral da nova U nião D em ocrática Belga, em 1946, com o su­
cesso subseqüente dos partidos regionalistas (Lorwin 1966, 167) e o cisma
de todos os partidos nacionais em grupos flam engos e valões (Heisler 1973).
De acordo com meu modelo, as elites políticas que perderam seu m o­
nopólio irão refletir de m aneira acurada os sentim entos de seus eleitores
regionais. No entanto, esse sentim entos podem tam bém ter m udado: é
possível que as diferentes com unidades não sejam mais antagônicas. A s­
sim, não se pode fazer uma previsão nesse caso.

IV. CONCLUSÕES
Teóricos pluralistas afirmaram que as sociedades fragm entadas estão
fadadas à instabilidade política. Os teóricos consociacionalistas concentram-
se no com portam ento político das elites, sustentando que, se as elites assu­
GEORGE TSEBELIS

mirem com prom issos, o Estado será estável, a despeito das divisões no âm­
bito das massas. Essas teorias foram criticadas por sua inconsistência con­
ceituai, por seu caráter tipológico estático e pela discrepância com os fatos.
Há duas questões fundam entais. Existem discrepâncias entre as aspi­
rações das massas e o com portam ento das elites? Sob que condições e com
que conseqüências? Podem os dizer que as diferenças entre as concepções
das elites e das massas são mais uma indicação de voto sofisticado que um
fenôm eno cultural.
Contudo, o voto estratégico não é capaz de dar conta das escolhas
contingentes, com o aquelas feitas pelas elites políticas. O uso da teoria dos
jogos possibilitou a distinção entre jogos de um a só jogada e jogos itera­
tivos, que produziram resultados diferentes. Além disso, os jogos iterativos
foram usados para descrever duas situações diferentes: quando o com pro­
m isso mútuo produz um resultado ótim o de Pareto, e quando a fronteira
de Pareto é atingida somente pela alternância entre com prom isso e intran­
sigência do jogador. A prim eira é o caso mais sim ples, e, enquanto a elite
usufrui do m onopólio de representação, ela pode optar pelo com prom isso.
O segundo caso é mais com plicado e pode requerer o uso dos artifícios
constitucionais para que seja im plem entado um com prom isso ótim o de
Pareto. Com relação a questões de im portância assim étrica, as instituições
conferem jurisdições exclusivas e delegam total autoridade ao grupo en­
volvido. Q uanto a questões de im portância sim étrica, as instituições mini­
mizam as conseqüências da divergência pela postergação do conflito.
N a ausência de instituições específicas, as elites podem iniciar con­
frontos políticos a fim dc indicar que a questão é relevante, ou para de­
sencorajar rivais potenciais dentro do segmento. As teorias consociacionais
explicam esse uso estratégico do conflito e da m obilização.
Exam inei diversas questões sociológicas dentro do âmbito desse mo­
delo. O que ocorre, por exem plo, se o m onopólio de representação é dis­
putado dentro de um pilar, ou se um pilar se dissolve? No prim eiro caso,
o resultado é extrem am ente conflituoso; no segundo, é indeterm inado.
O modelo sim ples do ator racional tem o potencial de com binar teo­
rias como o consociacionalism o c a distinção de Sartori entre política visí­
vel e política invisível. Pode também explicar fenôm enos relacionados com
o surgim ento de instituições e de conflitos iniciados pelas elites, fenôm e­
nos que, até hoje, só eram explicados por teorias parciais. N esse sentido,
constitui um a excelente dem onstração da tradução e síntese de teorias dife­
rentes num m odelo mais sim ples, em piricam ente acurado e teoricam ente
frutífero, baseado no princípio da escolha racional.
7

A COESÃO DAS COLIGAÇÕES ELEITORAIS FRANCESAS

A form ação de coligações envolve cooperação e com petição, mas a


dinâmica entre esses dois elementos ainda não foi analisada sistem aticam en­
te. A bibliografia da teoria dos jogos concentra-se exclusivam ente no aspec­
to cooperativo dos participantes de um a coligação de governo (Axelrod
1970; Dodd 1976; Luebbert 1983; Riker 1962). A questão que essa biblio­
grafia coloca é qual coligação irá formar-sc, e não quais coligações (uma
vez form adas) têm probabilidade de perdurar. Além disso, o pressuposto do
jogo de soma zero feito explícita ou im plicitam ente por esses autores im ­
plica que as coligações form adas sejam de tam anho mínimo - um a conclu­
são em piricam ente im precisa1.
R econhecer que estratégias cooperativas e com petitivas coexistem
dentro de um a aliança im plica que a coesão de um a aliança é, por sua vez,
um a variável a explicar. Para analisar esse problem a, utilizo o quadro teó­
rico dos jogos ocultos: considero que os partidos políticos perseguem es­
tratégias em duas arenas diferentes mas vinculadas e que suas escolhas são
afetadas não só pelo equilíbrio de forças entre as coligações, mas também
pelo equilíbrio de forças dentro de cada coligação. O jogo entre os parcei­
ros está contido dentro do jogo entre as coligações.
C onsidero que os parceiros de cada coligação jogam um jogo com
payojfs variáveis. Os payoffs variam de acordo com o resultado de um jogo
(competitivo) entre as coligações. D esse modo, os partidos se vêem numa

I. G ro fm a n ( 1 9 8 2 , 8 6 ) a p re s e n ta u m m o d e lo d e fo rm a ç ã o d e p io to c o lig a ç ã o b a s e a d o e m p ro x im id a d e id e o ló ­
g ic a , s e g u n d o o q u a l a s c o lig a ç õ e s p o d e m n ã o le r u m ta m a n h o m ín im o . S e u m o d e lo , c o n tu d o , ta m b é m p r e ­
s u m e q u e as “ p ro to c o lig a ç õ e s . u m a v e z fo rm a d a s , p e rm a n e c e m in d is s o lú v e is " .
GEORGE TSEBELIS

situação em que seus payojfs variam de acordo com o equilíbrio específi­


co de forças entre as coligações e têm de escolher estratégias que possu­
am im plicações para o equilíbrio de forças tanto dentro das coligações como
entre elas.
Pode-se entender o conflito de classes com o um jogo entre parceiros
c coligações, pois cada classe social se defronta com a outra quando ataca
seu próprio problem a de ação coletiva, e a influência política depende, em
últim a instância, de qual classe resolve de forma mais efetiva o problem a
da ação coletiva2. As eleições prim árias nos E stados U nidos apresentam
outro caso em que o m esm o quadro teórico pode ser útil. A com petição
entre os candidatos pelas indicações do partido podem produzir feridas in­
curáveis, prejudicando assim as chances de vitória do partido. Em conse­
qüência, tanto os atores quanto os observadores têm de considerar que as
iniciativas tom adas nas prim árias exercem um im pacto sobre a eleição ge­
ral. Enfim , com o vim os no Capítulo 5, as tendências ou facções políticas
dentro dos partidos se deparam com jogos em m últiplas arenas: a decisão
que tom am de prom over ou minar a unidade partidária tem conseqüências
sobre a condição com petitiva do partido.
O presente capítulo focaliza ao mesm o tem po a interação entre os
parceiros e entre as coligações. O número de arenas aumenta. Além do jogo
no plano nacional, analiso o jogo competitivo entre as coligações e o jogo
entre os parceiros. Além disso, neste capítulo, disponho de dados suficien­
tes (sobre resultados eleitorais) para concentrar-m e nas implicações em pí­
ricas do modelo e testar o enfoque dos jogos ocultos. O quadro é suficien­
temente amplo para permitir testes empíricos, e por razões que se tornarão
óbvias escolhi as eleições francesas de 1978 como o caso de teste.
Este capítulo se organiza nas seguintes seções: na Seção I, são dadas
as razões para a escolha da França como estudo de caso. Os possíveis re­
sultados das eleições francesas são apresentados num diagram a que facili­
ta especulações intuitivas sobre as escolhas de estratégias partidárias. Na
Seção II, a validade dessas intuições é exam inada por meio do quadro teó­
rico dos jogos ocultos. N a Seção III, as proposições empíricas derivadas da
teoria dos jogos ocultos são testadas com os dados eleitorais da França. Na
Seção IV, lima anom alia nos dados leva a uma distinção entre política visí­
vel e política invisível e as leis que regem essa distinção. Na Seção V, as
conclusões do enfoque dos jogos ocultos são com paradas com explicações
alternativas das eleições francesas. N a Seção VI, os resultados das seções

2. O u o e q u ilíb rio d c fo rç a s se ri u líio fa v o rá v e l a u m Indo q u e e le n ã o p r e c is a s u p e ra r s e u p ro b le m a d e a ç ã o c o le -


I ív íi . O IT e c W ie s e n ih a l (1 9 8 0 ) a firm a m q u e foi is s o o q u e iic o n tc c e u c o m o c o n f l ito <lc c la s s e s n o fin a l d o s é ­
c u lo X IX : o s c a p ita lis ta s n ã o p re c is a v a m o rg a n iz a r-s e n o p la n o n a c io n a l. R ls te r (1 9 8 5 , 3 4 6 ) e P rz e w o rs k i (1 9 S 5 )
fo rn e c e m in d íc io s d e q u e a c o n c e p ç ã o m a rx is ta d e lu ta d e c la s s e s p o d e s e r a p r e e n d id a p o r m e io d e s s a a b o r­
d a g e m fo rm a l, p o is a f o rç a q u e u n illc a c a d a c la s s e é a c o m p e tiç ã o c o n tr a o u tra c la s s e . E m o u tro s te rm o s , as
c la s s e s , a n te s d e s e lo rn n rc m c la s s e s p a r a si m e sm a s , s c (o rn a m c la s s e s c o n tr a o u tra c la s se .
JOG OS OCULTOU

anteriores são usados para estudar as recentes m odificações nas leis elei­
torais francesas (1985 e 1986) e dem onstrar que foram resultado de um pla­
nejam ento institucional consciente da parte dos vencedores que desejavam
consolidar suas posições.

I. POR QUE A FRANÇA?


A Quinta República francesa é um excelente exemplo para estudar a
estabilidade das coligações. Sob a Quinta República, e pelo menos até 1984,
as quatro principais fam ílias políticas (os gaullistas, atualm ente chamados
de RPR; os giscardianos, cham ados de UDF; os socialistas, que desde 1971
são denom inados PS; e os com unistas, o PCF) form aram duas coligações
concorrentes, a direita e a esquerda. A com petição entre a esquerda e a di­
reita conduziu à progressiva elim inação (sob a Q uinta República) dos par­
tidos de centro (Chapsal e Lancelot 1969). D uverger (1968) cham a esse sis­
tem a de (jtiadrille bipolciire e explica que sua m ecânica se deve ao sistem a
eleitoral particular utilizado nas eleições para a A ssem bléia Nacional (com
exceção das eleições de 1986) na Q uinta R epública francesa, a saber, a
m aioria em dois turnos (doravante SEMDT). Em cada distrito (cirron-
dissem ent), cada um a das quatro principais famílias políticas apresenta can­
didatos para o primeiro turno de votação. Se nenhum candidato receber uma
m aioria absoluta, então, no segundo turno, realizado um a semana após, o
partido que chegar em segundo lugar dentro de cada coligação usualm ente
endossa e apóia o candidato mais forte da coligação (désistem ent). Essa
disciplina interna à coligação é o resultado de acordos entre os partidos, mas
não é obrigada pela lei eleitoral. A dificuldade de obedecer a essa decisão
resultou cm casos de “com petição triangular” (com petindo entre si um can­
didato de um a coligação e dois candidatos da outra).
No âmbito nacional, a estabilidade das coligações eleitorais francesas
foi questionada diversas vezes:
• A direita passou de um período de predomínio gaullista (1958-1974), me­
diante um lento reequilíbrio de forças sob Valéry Giscard d ’Estaing, a um
apoio ambivalente a Giscard pelo partido gaullista em 1981.
• A esquerda apresentou um único candidato no prim eiro turno das elei­
ções presidenciais de 1965, dividiu-se nas eleições presidenciais de 1969,
assinou o program a com um de governo em 1972, permaneceu unida até
pouco antes das eleições legislativas de 1978, quando o programa comum
se estilhaçou, voltou a unir-se para as eleições de 1981 no prim eiro pe­
ríodo do governo (do prim eiro-m inistro Pierre M auroy), apenas para di-
vidir-se novamente no verão de 1984 (após a saída dos m inistros com u­
nistas do governo).
GEORGE TSEBELIS

Essa história de conflito e cooperação não é única. Em todas as de­


m ocracias europcias, os partidos se unem às coligações do governo ou as
deixam (os casos da Quarta República francesa e da Itália são os exemplos
mais conhecidos). O que é exclusivo da França é que tanto as forças coo­
perativas quanto as forças com petitivas crescem aos olhos do público, pois
o sistem a eleitoral favorece tanto a com petição (no prim eiro turno) com o
a cooperação (no segundo turno). Conform e verem os, um a grande vanta­
gem disso é que a visibilidade das m anobras estratégicas dentro das coli­
gações ou entre elas proporciona oportunidades para a realização de pes­
quisa empírica.
D uverger (1954) dem onstrou as implicações das leis eleitorais para os
sistem as partidários. Na representação proporcional, os partidos enfatizam
suas diferenças para o eleitorado. Após a eleição, são form adas as coliga­
ções de governo e a com petividade eleitoral anterior é substituída pela co­
operação dentro do governo (pelo menos enquanto durar a coligação). Em
sistem as eleitorais plurais, os dois principais partidos tentam construir suas
coligações eleitorais e, à m edida que as eleições se aproxim am , reduzem
as diferenças intrapartidárias perante o publico.
N a França, porém , cada partido precisa fazer duas coisas. Prim eiro,
afirm ar sua própria linha política (caso contrário, irá perder apoio no pri­
meiro turno); no segundo turno, porém, precisa prom over a coligação dentro
da qual busca controlar o governo. Essa situação é análoga às prim árias
norte-am ericanas, que são seguidas por eleições congressuais ou presiden­
ciais. A im portante diferença é que, nos Estados U nidos, um a convenção
nacional ou a mera passagem do tempo pode curar as feridas das primárias^.
Na França, os dois turnos são separados apenas por sete dias, de modo que
os partidos não dispõem do tempo para mudar suas estratégias. A simulta-
neidade das eleições, assim com o a visibilidade das estratégias (as coliga­
ções são formadas antes da eleição e diante do eleitorado) tornam especi­
alm ente vantajoso analisar a política francesa.
Se os dois parceiros de um a coligação chegam muito longe nas críti­
cas mútuas no prim eiro turno, não terão tempo de mudar de estratégia no
segundo turno e cicatrizar as feridas (m esm o que queiram ). A lguns dos
votos do perdedor dentro de cada coligação não serão transferidos para o
vencedor; portanto, no segundo turno decisivo, a coligação pode perder. No
entanto, se um partido não é suficientem ente crítico em relação a seu par­
ceiro no prim eiro turno, pode perder os votos decisivos que o colocariam
à frente no prim eiro turno e assim conferir-lhe o direito de representar a
coligação no segundo turno decisivo.

3. D iv e rs a s v e z e s , p o ré m , a p a s s a g e m <!o ic m p o n ã o foi s u f ic ie n te p a ra c u r a r a s fe rid a s , e o s c a n d id a to s n ã o e n ­


d o s s a ra m s e u s c o n c o rre n te s tio p a rtid o , o u m ilita n te s d e u m c a n d id a to d e rro ta d o n a s p rim á ria s u n ira m -s e ao
o u tro p a rtid o (J o lin s o n e G ib s o n 1974).
JO G O S OCULTOS

Esclarecida a situação que pretendo tom ar com o m odelo, apresento


agora o próprio m odelo. Inicio analisando um único distrito representado
num espaço particular. Essa representação aum enta a nossa com preensão
da dinâm ica da coesão e da com petição no plano local.
Ignoremos por enquanto as divisões internas que afetam a direita e a
existência de partidos menores tanto na direita quanto na esquerda, c exa­
minemos a seguinte com petição eleitoral (sim plificada): a direita (em con­
junto) enfrenta os dois partidos da esquerda, os socialistas e os com unis­
tas. O triângulo eqüilátero da Figura 7.1 pode representar essa com petição
triangular*1.

F ig u ra 7.1 S im p lcx b id im en sio n al.

Podem os m ostrar que a soma das distâncias de qualquer ponto den­


tro do triângulo aos lados do triângulo é igual à altura do triângulo. Essa
propriedade geom étrica pode ser utilizada para mapear os diferentes resul­
tados eleitorais numa disputa entre três partidos em pontos dentro do tri­
ângulo eqüilátero. Cada lado do triângulo recebe o nome de um partido (ou
coligação), e as distâncias entre qualquer ponto M e cada lado do triângu­
lo representam a porcentagem de votos do partido (ou coligação) correspon­
dente. Por definição (se ignorarmos os outros partidos), essas percentagens
somam 100%. Fixar a altura do triângulo em 100 produz um a correspon­
dência perfeita entre a percentagem de votos de um partido e a distância
do lado correspondente do triângulo. A Figura 7.1 representa o resultado
eleitoral num distrito em que a coligação de direita recebeu 40% dos vo­
tos, os socialistas 35% e os com unistas os restantes 25%.

4. A F ig u ra 7 . 1 c o n c c n tra -s e n as d iv isõ e s im e rn a s d a es q u e rd a . P aru e x a m in a r a d ire ita , s e ria re le v a n te a c o m p e tiç ã o


tria n g u la r d u a l (e n tre a e s q u e rd a , o s g a u llis ta s e o s g is c a rd ia n o s ). D o m o d o g e ra ), o e s p a ç o a p ro p ria d o p a ra re ­
p re s e n ta r re s u lta d o s e le ito ra is é u m e s p a ç o e u c lid ia n o « -d im e n s io n a l (o n d e n ó o n ú m e ro <!e p a rtid o s ) e o c o r ­
re s p o n d e n te s im p le x d im e n s io n a l n - 1 . 0 triâ n g u lo d a F ig u ra 7.1 é n a v e rd a d e u m s im p lc x b id im e n s io n a l.
GEORGE TSEBE U S

A Figura 7.2 apresenta o mesm o espaço de resultado, mas com algu­


mas linhas adicionais significativas. C', S' e D ’ são os pontos m édios dos
lados que representam , respectivam ente, os com unistas, os socialistas e a
direita. C’S' representa todas as possíveis distribuições de votos entre so­
cialistas e com unistas que provocaram em pates entre as coligações. Com
efeito, em qualquer ponto de C'S' a direita recebe 50% dos votos; os dois
partidos da esquerda, portanto, receberam os restantes 50% . O segm ento
GC' representa todos os casos em que se mantêm as duas condições seguin­
tes: os socialistas dominam a esquerda, e a direita e a esquerda têm a mesma
quantidade de votos. O segm ento GS' representa o caso oposto em que a
esquerda é dom inada pelos com unistas. A linha vertical DD' representa os
em pates dentro da esquerda. Ao longo dessa linha, os com unistas e os so­
cialistas recebem a mesma porcentagem de votos. No entanto, na parte su­
perior do segm ento (GD), a coligação de esquerda é derrotada; na parle
inferior (G D 1), a esquerda conquista a cadeira.

F ig u ra 7 .2 E m p ate e n tre e d e n tro d as c o lig aç õ e s num sim p lex b id im en sio n a l.

A área C'GD ’S representa todos os resultados eleitorais em que a es­


querda vence e os socialistas são o parceiro mais forte da coligação. A área
S'GD'C representa o caso em que a esquerda vence, mas é dom inada pelos
com unistas. D entro dessas áreas, deve-se distinguir dois casos: o caso A,
em que um dos dois parceiros da coligação recebe uma maioria absoluta de
votos (triângulos SC’D' e CS'D'), e o caso B, em que, para vencer no segun­
do turno, um dos dois parceiros precisa do apoio do outro (triângulo C ’D'G
para o caso dos socialistas, e S’D'G para o caso dos com unistas). Claram en­
te, em tal situação, podem os esperar razoavelm ente que o parceiro mais
fraco possua um considerável potencial de barganha.
No que concerne aos resultados eleitorais, podemos distinguir duas zo­
nas sensíveis: a zona vertical em torno do segm ento DD' e a zona horizon­
JO G O S OCULTOS

tal em torno de C'S', com o indica a-Figura 7.3. Os resultados eleitorais que
previsivelm ente se localizarão dentro da zona vertical não dizem com cer­
teza qual dos dois parceiros representará a esquerda no segundo turno. Seria
de esperar que, nessa área, o aspecto com petitivo da política partidária so­
brepujasse o cooperativo. Os resultados eleitorais que, segundo a previsão,
estarão dentro da zona horizontal da Figura 7.3 não dizem com certeza qual
coligação vencerá. Assim , é provável que predom ine o aspecto cooperati­
vo da política entre as coligações5. N ote-se também que a natureza da com ­
petição é bastante diferente se se espera que a esquerda conquiste um a
cadeira (parte inferior) ou perca urna (parte superior). No prim eiro caso,
está em jogo um a cadeira; no segundo, está em jogo apenas um título
honorífico.
D

F ig u ra 7 .3 Á re a s e m q u e a c o o p e ra ç ã o o u a c o m p e tiç ã o e n tre o s p arc e iro s a u m e n ta num


sim p iex b id im en sio n al.

Em suma, é provável que ocorra cooperação quando estiver em jogo


um a cadeira (zona horizontal), mas quando os parceiros forem quase do
mesm o tamanho (zona vertical) é mais provável que haja com petição. Con­
tudo, essas intuições políticas geradas geometricamente são incompletas sob
diversos aspectos. Em prim eiro lugar, as duas zonas não são mutuamente
excludentes; não se poderá confiar intuitivam ente na interseção das duas
zonas (a área em torno de G) em que cada parceiro da esquerda tem apro­
xim adam ente 25% dos votos, Em segundo lugar, as duas zonas não preen­
chem coletivam ente todo o espaço do resultado; assim , para pontos fora das
zonas, não dispom os de previsão alguma. Em terceiro lugar, as duas zonas
não são definidas de maneira teórica ou acurada; é difícil dizer, portanto,
se um ponto pertence ou não a cada uma delas. Poderem os lidar com es­

5 . N a S e ç ã o IV é e x a m in a d a u n ia h ip ó te s e a lte rn a tiv a d o C a p ítu lo 5 , o u s e ja , q u e p a ra m e lh o ra r s u a p o s iç ã o a


lo n g o p ra z o u m d o s p a rtid o s iria e s p o n ta n e a m e n te a c e ita r u m a d e rro ta d a c o lig a ç ã o .
GEORGE TSE R E U S

sas circunstâncias dentro do mesmo quadro teórico? É essa a questão que


passam os a estudar agora.

II. O ENFOQUE EM TERMOS DOS JOGOS OCULTOS


Exam inem os agora de modo mais minucioso o jogo entre os dois par­
ceiros de um a coligação. Suponhamos que cada partido possua duas estra­
tégias alternativas: cooperar com seu parceiro (C) ou desertar (D). Por co­
operação entendo a prom oção dos interesses da coligação; por deserção
quero dizer a prom oção de interesses partidários e a crítica aberta ao par­
ceiro. Claram ente, no mundo real, os interesses da coligação e do partido
não precisam necessariam ente estar em conflito, nem os partidos se lim i­
tam a duas estratégias alternativas. Por exemplo, pode-se prom over os in­
teresses partidários sem criticar explicitam ente o parceiro de coligação, ou
sem atacar direta ou indiretam ente o parceiro. Será abandonado em breve
o pressuposto de que cada partido possui apenas duas estratégias. Por ora,
porém , exam inem os os resultados desse jogo de dois jogadores e tentemos
im aginar os payojfs para ambos os jogadores.
Um partido (jogador) se beneficia mais quando segue uma linha par­
tidária, enquanto o seu parceiro promove os interesses da coligação (em ter­
mos de estratégias, quando ele usa D enquanto o seu parceiro usa C). Esse
resultado preferido pelo jogador i é chamado de T. (de Tentação). O pior
resultado desejado é a situação inversa: quando um partido carrega o peso
da coligação, enquanto o parceiro prom ove seus próprios interesses. Essa
é a interseção da estratégia C com a D do oponente. Esse resultado menos
desejado é cham ado de O. (de Otário).
Os outros dois resultados possíveis são cooperação mútua com payojfs
R. (de Recom pensa) e deserção mútua com payojfs P. (de Penalidade) para
o jogador i. Sabemos que esses dois payojfs se localizam no intervalo [ 0 |(
T.], mas não sabem os qual dos dois resultados cada jogador prefere. D es­
considerando os em pates, são possíveis dois ordenam entos:

X > P. > R; > O i (7 .1 )


T. > R. > P. > Oi (7 .2 )

Se (7.1) descreve as preferências dos partidos, então o jogo entre os


partidos é um im passe, e eles jam ais formariam coligações, pois, quando
um partido deserta, ele obtem o melhor resultado ou o segundo. Se tiver de
ocorrer cooperação, a ordem descrita em (7.1) não pode se manter.
Se (7.2) se mantiver, então o jogo entre os partidos é um dilem a dos
prisioneiros. Cada jogador fica em melhor situação quando se serve de uma
JO G O S OCULTOS

estratégia partidária (não im portando o que o outro partido faz), mas, se


ambos adotarem essa estratégia, ver-se-ão em situação pior do que se não
tivessem feito coligação.
Tabela 7.1. Payojfs de jogos possíveis entre parceiros de coligaçao.

C (o o p c ra r) D ( e s c r la r )

C (o o p cra r) R r R2 O ,, T ,

D (c s c rla r ) T,, o2 P ,. P ,

> P > R ( > O .: J o g o d o im p a s s e

> R > P > CV: D i le m a d o s p r is io n e ir o s

> T . > P. > O .: J o g o d o s e g u r o

> R > O > P .: J o g o d o g a li n h a

Dois outros arranjos dc payojfs são possíveis e teoricamente interessantes:


T, > R. > O j > Pj (7.3)
R. > T > P. > O. (7.4)
Se (7.3) se mantiver, o jogo entre os dois parceiros da coligação é um
jogo do galinha, e o pior resultado possível para cada parceiro é deserção
mútua. Se (7.4) se mantiver, trata-se de um jogo do seguro, no qual o me­
lhor resultado possível é cooperação mútua.
A Tabela 7.1 reproduz a Tabela 3 .1 e representa o jogo entre os par­
ceiros no nível nacional. É mais provável que a ordem de preferência para
cada partido seja dada por (7.2). De fato, é mais provável que cada parceiro
de cada coligação prefira criticar o seu parceiro e ganhar votos, de modo
que o jogo é um dilem a dos prisioneiros. Pode-se argum entar que a crítica
entre parceiros não é incondicionalm ente a m elhor estratégia. Neste caso,
tanto (7.3) como (7.4) se sustentam, e o jogo é do galinha ou do seguro. Se
o jog o é de um a só jogada e não são possíveis estratégias contingentes,
conform e vim os na Seção I do Capítulo 3, então essas m odificações da
matriz de pa yoff produzirão resultados diferentes. Se, porém , são possíveis
estratégias contingentes, como indicam as proposições 3.6 e 3.7, somente
a magnitude dos payojfs diferentes, e não sua ordem, é que determ ina a pro­
babilidade de adoção de estratégias diferentes.
No entanto, esse não é o único jogo. O jogo está embutido dentro de
um jogo com petitivo entre as coligações e de um jogo entre os parceiros de
coligação no nível distrital. As cadeiras parlam entares vão para o membro
mais forte da coligação vencedora. Logo, os incentivos para cooperação ou
190 GEORGIi TSEBE U S

deserção são modificados pelo jogo eleitoral no plano distrital. Para deter­
minar a m ecânica desses jogos embutidos particulares no âmbito do distri­
to, procedo da seguinte maneira: (1) construo um a nova matriz de pa yoff que
leva em conta a utilidade dos eventos no plano distrital (como conquistar uma
cadeira ou ajudar seu parceiro a conquistar uma), e (2) avalio o impacto da
nova matriz de pa yoff sobre a probabilidade de cooperação.

1. A nova m atriz de payoff


Essa m atriz é construída adicionando aos payoffs da matriz original
no nível nacional (Tabela 7.J) os payojfs esperados do jog o no plano
distrital. Para calcular esses payoffs esperados, temos de definir as utilida­
des e as probabilidades de eventos diferentes no plano distrital.
D uas distribuições de probabilidade têm de ser definidas no espaço
dos resultados eleitorais (o triângulo da Figura 7.3). As probabilidades pv
(v de vitória) e pprox (prox de proxim idade) são definidas, respectivamente,
com o as probabilidades de que o resultado previsto constitua um em pate
entre as coligações ou entre os parceiros. M ais precisam ente, pv é um a fun­
ção crescente da proxim idade do resultado de em pate entre as coligações
(p é igual a 1 no segm ento C’S' da Figura 7.3, e 0 no segm ento SC e no.
ponto D). Em term os algébricos:
d pv// d vitória > 0 (7.5)6
De modo similar, p é um a função crescente da proxim idade do re­
sultado de um em pate entre parceiros da esquerda (p é igual a I no seg­
mento DD' da Figura 7.3, e a 0 nos pontos C e S). Em term os algébricos:
d pprox/ d proxim idade > 0 (7.6)
Chamemos de V. a utilidade para o partido i de um a cadeira pela co­
ligação. Essa utilidade será diferente se a cadeira vai para o partido i ou para
seu parceiro. Esses dois valores possíveis de V. chamemos de G. (de ganhar)
e A. (dc ganho do aliado), respectivamente. Os valores de G. e A. são defi­
nidos em piricam ente. Parece sensato, porém, afirm ar que, em todos os ca­
sos, G. > A., porque é m elhor para um jog ador com interesses próprios,
com o um partido, ganhar um a cadeira do que deixá-la para seu parceiro.
Além disso, o valor de A pode ser negativo; um partido pode preferir que
seu parceiro perca a cadeira. Rivalidades locais ou considerações a longo
prazo podem explicar tais payoffs.
6. d é o s ig n o d c d e riv a d a p a rc ia l. A in e q u a ç ã o 7 .5 e s ta b e le c e q u e a v a riá v e l pv a u m e n ta à m e d id a q u e a u m e n ta
a v a riá v e l v itó ria .
JO G O S OCULTOS 191

Podem os agora calcular o valor esperado de um a cadeira com o o pro­


duto de sua utilidade (V ) pela probabilidade de obtê-la (pv). No caso de um a
cadeira em disputa, pode-se assegurar a vitória som ente se ambos os par­
tidos cooperarem . Em caso de com petição, é provável que o parceiro mais
forte desista de transferir os votos necessários no segundo turno e assim
perca. Esse raciocínio sugere que a utilidade da cooperação m útua é maior
no plano local do que no plano nacional. M ais precisam ente, devem os
acrecentar a utilidade esperada de um a cadeira à utilidade da cooperação
mútua. Em term os algébricos:
R. = R., + pvV. (7.7)
onde R. é a nova utilidade (no nível local), R.. é a utilidade no plano nacio­
nal, p é definida por (7.5), e V . é o u G. ou A..
A discussão anterior diz respeito à disputa entre coligações por cadei­
ras no Parlamento. O que ocorre com a disputa dentro da coligação? A ques­
tão crucial relativa a essa disputa é quem deve representar a coligação no
segundo turno. Cham em os de U ; a utilidade de o partido i representar a
coligação no segundo turno. Se a previsão é de derrota, essa representação
terá significado m eram ente sim bólico. Cham em os de REPj o valor de I I
nesse caso. A representação da coligação, no entanto, pode ser de impor­
tância capital quando está em jogo um a cadeira. Cham em os de S E o valor
de U. no caso de previsão de vitória.
O valor de S E é sempre positivo e maior do que R E P, porque os par­
tidos preferem ganhar cadeiras. Contudo, não está claro, teoricam ente, se
o valor de REP. é positivo ou negativo. Pode-se argum entar em ambos os
sentidos. Um partido pode preferir representar a esquerda a despeito da pro­
babilidade de derrota, porque pensa que isso melhoraria sua posição perante
seu parceiro e, no futuro, com um melhor equilíbrio de forças entre as co­
ligações, aum entaria sua probabilidade de ganhar a cadeira. Porém, o par­
tido pode achar também que representar a esquerda quando ela perde é uma
responsabilidade para o futuro.
Tabela 7.2. M atriz de pa y o ff geral para um parceiro da coligaçao.

C (ooperar) D (eserlar)
C (oopcrar) R = R ’ + Vpv
O
O

D (escrtar) T = T ' + U p,,,,, p

N oia: Payoffs sã o fu n çõ es da p robabilidade d c um em pate entre c o lig a ç õ e s (p ) ou d c uni


em pate entre parceiros (p ). V é o valor d e ob ten ção d e um a cadeira por um partido
(G ) ou por seu aliad o (A ). U c o valor d e representar a c o lig a ç ã o quando a previsão é
que ela vença (SE ) ou perca (R EP).
192 G EO RC E TSEBE U S

Podem os agora calcular o valor esperado da representação de uma


coligação como o produto de sua utilidade (U.) por sua probabilidade (p ).
Essa utilidade esperada m odificará os payojfs no plano nacional: se for
positiva, aum entará a tentação de desertar e dim inuir o pa yoff áe. “otário”.
D e fato, os parceiros terão um incentivo adicional a ser agressivos entre si
se puderem assegurar a representação da coligação e (talvez), de quebra,
ganhar unia cadeira. Inversamente, ser tratado como um otário será mais pe­
noso. Em term os algébricos:
Tj = T.' + Pproí[U. (7.8)
°i = °; - Pp„„u i (7-9)
onde T. e CX são as novas utilidades no plano local, T.' e O.' são as utilida­
des no plano nacional, p é definido por (7.6), e U é REp! ou SE.
A Tabela 7.2 representa a nova matriz de pa yoff para o jogo oculto em
cada distrito eleitoral. Para simplificar, são apresentados apenas os payojfs
do jogador da fileira horizontal; portanto, o índice i foi retirado7. A natu­
reza do jogo oculto representado pela nova matriz é variável. Para valores
apropriados dos diferentes parâm etros, pode se tornar um jogo do seguro
(na área próxim a ao segm ento C'S' da Figura 7.3 e para valores suficiente­
mente altos de V ), pode continuar sendo um dilem a dos prisioneiros, ou
pode tornar-se um jogo do galinha (na área próxim a ao segm ento DD' da
Figura 7.3 e para valores negativos de U). Pode também tornar-se um jogo
diferente, no qual o ordenam ento dos payojfs dos jogadores não é o m es­
mo, e o ordenam ento de cada jogador é dado por qualquer um a de (7.2),
(7.3) ou (7.4). Contudo, dado que as estratégias contingentes são possíveis
e concordam com as proposições 3.6 e 3.7, não estam os preocupados com
mudanças na natureza do jogo eleitoral, mas apenas com a magnitude dos
payojfs de cada jogador.

2. A COESÃO DAS COLIGAÇÕES


No Capítulo 3, demonstrei que, num jogo do dilema dos prisioneiros,
da galinha ou do seguro, a probabilidade de cooperação aum enta quando
aumentam os payojfs para cooperação (R ou O), e decresce à medida que au­
mentam os payojfs para deserção (T ou P)K. Examinemos agora o impacto das

7. l i ú til le m b ra r, p o ré m , q u e to d o s o s p a râ m e tro s s ã o in d e x a d o s p e lo p a rtid o , e o v a lo r tle u m a c a d e ira a d i c io ­


n a l p a ru o s c o m u n is ta s p o d e .ser b e m d if e r e n te d o v a lo r p a ra o s s o c ia lis ta s . E m c o n s e q ü ê n c ia , to d a s a s p r o p o ­
s iç õ e s c o m p a ra tiv a s q u e .seg u em c o n c e rn e m a o c o m p o rta m e n to d o h u w m u p a rtid o (s o b re s u lta d o s e s p e ra d o s
d ife re n te s ), e n ã o c o m p a ra ç õ e s d e p a rtid o s d ife re n te s.
8. A x e lro d (1 9 8 4 , 2 0 2 -2 0 3 ) e M a y n a rd S m ith (1 9 8 2 , 2 0 7 -2 0 8 ) p ro v a m ta is p ro p o s iç õ e s n o q u e to c a a o j o g o d o
d ile m a d o s p ris io n e iro s .
JOG OS OCULTOS

variações de payoffs ou distâncias das linhas RR' (em pate entre parceiros) e
C'S' (em pate entre coligações). Podemos distinguir os seguintes casos:
V é negativo. V negativo significa que é negativo o valor de ganhar
um a cadeira adicional (G) ou o valor de o parceiro ganhar um a cadeira
adicional (A). Anteriorm ente, excluím os a prim eira possibilidade, mas não
a segunda. Se A for negativo, então, quanto mais próxim o um aliado esti­
ver de ganhar um a cadeira, mais alta será a probabilidade de vencer (ine-
quação [7.5]), e mais decrescerá a recom pensa para cooperação mútua (R
na Tabela 7.2). Contudo, quanto mais R decrescer, mais a traição se torna­
rá um a estratégia atraente, pois a sua dom inância se torna mais acentuada.
D esse modo, sc A for negativo, ou seja, se, para um partido, o valor da ob­
tenção de um a cadeira por seu parceiro for negativo, então quanto mais
próxim o estiver a coligação de disputar a cadeira, m aior será a probabili­
dade de o partido sabotar seu parceiro.
V é positivo. Raciocínio análogo para V positivo indica que a coesão
de coligação aum enta quando a vitória está próxima. Particularm ente, por­
que para cada partido G > A, o parceiro dom inante de um a coligação será
mais sensível à proxim idade da vitória. Podemos resum ir esses resultados
na seguinte proposição:
Proposição 7.1. Quando V é positivo, a coesão de coligação aum en­
ta quanto mais próximo o resultado previsto estiver de um em pate entre as
coligações; ela decresce quando V é negativo.
U épositivo. U positivio significa que é positivo o valor de ganhar uma
cadeira (SE), ou sim plesm ente de representar a esquerda (REP). A presen­
tei argum entos que mostram por que para SE o caso é sem pre esse e para
REP é verdadeiro na m aior parte do tempo. É sem pre verdade que, quanto
mais próxim o o resultado previsto estiver de um em pate entre os parceiros,
mais alta será a probabilidade dc um empate (inequação [7.6)). Assim, como
indica a Tabela 7.2, se U c positivo, o valor de T (a tentação de desertar)
aum enta, e o valor de O decresce (o medo de ser enganado aum enta). Isso
significa que a predom inância da deserção torna-se mais pronunciada, tor­
nando mais provável a escolha da estratégia D.
U é negativo. Raciocínio análogo para U negativo indica que a coe­
são de coligação aum enta quando os dois parceiros são aproxim adam ente
iguais. Sustentei que isso ocorrerá se um partido não quiser representar a
esquerda quando a previsão é de que ela perca (REP < 0). A seguinte pro­
posição resum e esses resultados:
Proposição 7.2. Quando U é positivo, a coesão de um a coligação de­
cresce quanto mais próxim o o resultado previsto estiver de um em pate en­
tre os parceiros; ele aum enta quando U é negativo.
Consideradas juntas, as proposições 7.J e 7.2 indicam (1) que, na maior
parte do tem po (exceto quando o valor da obtenção de um a cadeira pelo
aliado é negativo), a coesão de coligação aum enta quando o resultado pre­
194 G E 0R G E TSEHEUS

visto está próximo de um empate entre coligações; e (2) que, na maior par­
le do tem po (exceto quando é negativo o valor de representar a coligação
quando a propensão é que ela perca), a coesão de um a coligação decresce
quando o resultado previsto está próximo de um empate entre parceiros.
A representação algcbrica mais sim ples dessas duas proposições é a
seguinte equação:
coesão = c + (aV) vitória - (bU) proxim idade (7 .IO)9
na qual coesão corresponde à coesão da coligação, c é um a constante, vi­
tória corresponde à proxim idade do resultado previsto de um em pate en­
tre coligações, proxim idade corresponde à proxim idade do resultado pre­
visto de um em pate entre parceiros, V é u utilidade para um partido de uma
cadeira ganha pela coligação, e U é a utilidade para um partido de repre­
sentar a coligação no segundo turno. O apêndice a este capítulo fornece a
definição algébrica exata dessas variáveis. Os coeficientes a e b são posi­
tivos, com o indicam as proposições 7.1 e 7.2.
Um a com paração dessas conclusões com as intuições propostas no fi­
nal da Seção I indica o seguinte:
O estatuto epistcm ológico das proposições 7.1 e 7.2 e da equação
(7.10) é diferente das conclusões da Seção I. Proposições sim ilares foram
conjecturadas no final da Seção I; são derivadas aqui do enfoque tipo jo ­
gos ocultos. A atenção dada a essa diferença não é um a declaração de pre­
ferência epistem ológica. Derivar proposições em vez de postulá-las tem as
vantagens de generalidade, de melhor aproxim ação e de especificação das
condições sob as quais a proposição é válida. Trato cada vantagem corno
um ponto separado.
A equação (7.10) não diz respeito unicam ente à política francesa.
Pode abranger casos de coesão de coligação com o os observados nas pá­
ginas 181-183, desde que possamos medir as variáveis independentes.
A equação (7.10) abrange todo o espaço de resultado. Podemos portan­
to gerar c testar previsões sobre a intersecção da zona vertical e da horizon­
tal, assim como sobre as áreas não abrangidas por essas zonas. Na verdade,
as dicotomias sim ples geradas pelas duas zonas são agora substituídas por
contínuos de resultados. Além disso, técnicas de cálculo permitem que subs­
tituamos a fórmula linear da equação (7.10) por aproximações mais precisas.
Em bora minhas conjecturas estivessem em grande parte corretas, es-
tavam equivocadas em dois pontos. Esse é outro caso em que a mera intui­

9. A e q u a ç ã o (7 .1 0 ) p o d e s e r d e riv a d a f o rm a lm e n te n a fo rm a d e u m a a p ro x im a ç ã o d e p rim e ira o rd e m d e u m a


s é rie d c T a y lo r d a p ro b a b ilid a d e d e c o o p e ra ç ã o m ú iu a (o u s e ja , c o e s ã o ), c a s o s e u s e a r e g ra d e trê s c o m p o s -
l;i. poi.s o s .sig n o s d a s p r im e ir a s d e riv a d a s re q u e rid a s s ã o fo rn e c id o s n o te x to . E s s a o b s e rv a ç ã o in d ic a q u e s e
p o d e ria a u m e n ta r a p re c is ã o d a a p ro x im a ç ã o e u s a r r o tin a s d e e s tim a ç ã o n ã o -lin e a re s p a ra a p a rte e m p íric a .
N ã o s ig o e s s a d ire ç ã o aq u i.
JO G O S OCULTOS 195

ção, que pode constituir um guia útil para a investigação, conduz a conclu­
sões incorretas que o raciocínio formal mais rigoroso consegue evitar. A
coesão nem sempre aum enta quando as duas coligações têm força igual, A
condição para tal com portam ento é que o partido mais fraco na coligação
queira que seu parceiro ganhe a cadeira. Isso não é um pressuposto trivial
nem em piricam ente correto nesse caso. Além do mais, a coesão nem sem ­
pre decresce quando os dois parceiros possuem força igual. A condição para
tal com portam ento é que ambos os partidos queiram representar a coliga­
ção m esm o quando ela está propensa a perder. Isso, novamente, não é um
pressuposto trivial, mas revela-se com o em piricam ente correto.

III. TESTANDO A COESÃO


Para testar a equação (7.10) utilizo os resultados das eleições de março
de 1978 para a Assem bléia Nacional Francesa. As razões para escolher esse
ano ficarão claras a partir de um breve esboço da história relevante da Q uin­
ta R epublica francesa.
De 1958 a 1974, os gaullistas dominaram a direita, que estava à frente
do governo, D e 1974 a 1981, sob a presidência de Giscard d ’Estaing, criou-
se um novo equilíbrio de forças dentro da direita, e o predom ínio gaullisla
foi posto em xeque. N a verdade, a U D F foi fundada um mês antes das elei­
ções de 1978, a fim de superar uma ameaça eleitoral mais efetiva ao pre­
dom ínio gaullista.
Esse período caracterizou-se também por um a mudança no equilíbrio
de forças dentro da esquerda, quando o novo Partido Socialista, fundado em
Epinay em 1971, tornou-se o partido mais popular da França. A prim eira
eleição nacional cm que o Partido Socialista se tornou o mais popular da
França e passou a ser a força dom inante dentro da esquerda foi a de 1978,
Enfim, em bora em 1978 a esquerda tenha chegado perto da vitória, ela ob­
teve o poder apenas de 1981 a 1986.
Esse breve apanhado ilustra que as eleições de 1978 apresentaram
duas características im portantes para este estudo:
1. Am bas as coligações eram competitivas. A mbas as coligações possuíam
força quase igual em 1978, quando a votação para a esquerda no prim ei­
ro turno foi de 49,5% , comparados aos 46,3% em 1973 e 55,8% em 1981
(W right 1983, 190). Com o am bas as coligações tinham um tam anho
aproxim adam ente igual, seria de esperar, com base na teoria aqui desen­
volvida, coesão máxim a dentro das coligações.
2. Ambas as coligações não eram coesas. Tanto na direita quanto na esquer­
da, estava-se produzindo um importante deslocam ento no equilíbrio inter­
no de forças. As duas famílias políticas da direita competiram amplamente
196 C EORÜE TSEliELIS

no primeiro turno, e o Partido Socialista dem onstrou seu predomínio den­


tro da esquerda pela primeira vez em 1978.
Por esses dois motivos, seria de esperar que durante a eleição de 1978
forças centrípetas e centrífugas se acentuassem ainda mais. Assim , essa elei­
ção particular é especialm ente apropriada com o caso-teste para um a teo­
ria da coesão de coligação. U tilizei, portanto, os resultados eleitorais dos
474 distritos da França m etropolitana em 1978m.
Antes de passar aos testes empíricos, as variáveis indicadas pela teo­
ria têm de ser operacionalizadas em term os dos dados. Cabem duas obser­
vações aqui. Prim eira, com o operacionalizam os a variável dos resultados
previstos? Para substituir essa variável utilizo os resultados do prim eiro
turno. Isso pressupõe nos partidos uma percepção bastante acurada do re­
sultado eleitoral, um pressuposto legítimo dado o retorno da cam panha elei­
toral que os partidos obtêm tanto de seus m ilitantes quanto das pesquisas
eleitorais (que, na França, podem ser efetuadas mas não publicadas na úl­
tim a sem ana da cam panha). Uma vez equiparado o resultado esperado com
0 resultado efetivo no prim eiro turno, é im ediata a operacionalização das
variáveis de posicionam ento: vitória e proximidade.
Em segundo lugar, como operacionalizam os a variável coesão? Já afir­
mei que, se um partido não coopera com seu parceiro, mas, ao invés disso,
denuncia agressivamente as suas posições políticas, então, mesm o que essa
posição se m odifique no dia seguinte ao prim eiro turno, seus partidários
julgarão difícil transferir seus votos para o partido considerado inimigo pou­
cos dias antes. A com petição, por conseguinte, resulta na transferência ine­
ficiente de votos entre os dois parceiros no segundo turno. Utilizo a dife­
rença entre os votos de um a coligação no segundo turno e a soma de votos
dos parceiros no prim eiro turno com o o m elhor indicador da coesão de
coligação11.

10. S ã o d e s c o n s id e ra d o s o s d e p a rta m e n to s d c a lé m -m a r (D O M ) c o s te rritó rio s ( TOM).


1 1. E s s a o p c r a c io n a liz a ç ã o a p r e s e n ta n m p ro b le m a p e lo la to d e ig n o ra r v o to s tra n s fe rid o s q u e n ã o a p a re c e m 110
n ív e l a g re g a d o . P o r e x e m p lo , s e o P a rtid o S o c ia lis ta re p re s e n ta a e s q u e rd a n o s e g u n d o tu rn o , n ã o é p o s s ív e l
d is c rim in a r e n tr e o s s e g u in te s c a s o s : ( i ) to d o s o s c o m u n is ta s tra n s fe re m s e u s v o to s e (2 ) a lg u n s c o m u n is ta s
s e a b s tê m e n q u a n to a lg u n s q u e s e a b s tiv e ra m n o p rim e iro tu r n o v o ta m n o P a rtid o S o c ia lis ta (o u v o ta m p e la
d ire ita , e n q u a n to a lg u n s v o to s d a d ire ita s ã o tra n sfe rid o s p a ra o P a rtid o S o c ia lis ta ). In fe liz m e n te , n ã o h á c o m o
c o rrig ir ta is fa lá c ia s e c o ló g ic a s c o m d a d o s a g re g a d o s . C o n tu d o , d e v id o a o c lim a e le ito ra l p o la riz a d o , n ã o
p e n s o q u e a “ in v is ib ilid a d e '’ d a s tra n s fe rê n c ia s a g re g a d a s s e ja m u ito s ig n ific a tiv a . A lé m d is s o , n e s s a d is c u s ­
s ã o , é ig n o ra d a a in te ra ç ã o e n tre lid e ra n ç a s p a rtid á ria s , re p re s e n ta n te s lo c a is d o s p a rtid o s c e le ito re s . N a
v e rd a d e , o s re s u lta d o s e m p íric o s p o d e m s e r a trib u íd o s a e s tra té g ia s e la b o ra d a s n o p la n o n a c io n a l o u n o â m b ito
ío e a l, e s tra té g ia s s e g u id a s fie lm e n te p e ío s e le ito re s . C o m o a lte rn a tiv a , p o d e m s e r c o n s id e ra d o s c o rn o o r e ­
s u lta d o d e d e c is õ e s in d e p e n d e n te s to m a d a s p e lo s e le ito re s n o m e io p o lític o e s p e c ífic o . Is so n ã o s ig n ific a q u e
n ã o h a ja v o to s e s tra té g ic o s , ou s e ja , v o ta ç ã o c o n trá ria à s p re fe rê n c ia s n o m in a is , p o is , c o m o m o s tre i, o s p a r­
tid o s (011 e l e ito re s ) a lg u m a s v e z e s n ã o tra n s fe re m to d o s o s v o to s p a ra s e u p a rc e iro (tr a n s f e r ê n c ia in c o m p le ta
d e v o to s ). D e m o d o m a is re a lis ta , p o d e r-s c -ia a rg u m e n ta r q u e p a rtid o s d ife re n te s p o s s u e m n ív e is d ife re n te s
d e c o n tro le s o b r e .seus e le ito re s , e q u e e s s e c o n tro le a u m e n ta teicris paríbus d a d ire ita p a r a a e s q u e r d a e d o s
p a rtid o s m o d e ra d o s p a r a o s ra d ic a is . N o e n ta n to , o p to p o r ig n o ra r e s s a p a rte d a in te ra ç ã o e n tre e le ito re s e
JOG OS OCULTOS 197

Falta esclarecer um ponto. Poder-se-ia pensar que o máximo de coe­


são de um a coligação ocorre quando os votos no segundo turno são iguais
à soma dos votos dos parceiros no primeiro furno. Nesse caso, o parceiro dá
à coligação o mesmo número de votos que ele teve no primeiro turno. O que
ocorre, porém , se a coligação obtém mais votos no segundo turno do que
conseguiu no primeiro? Isso acontece de fato com bastante freqüência, por­
que o com parecim ento eleitoral aum enta m ais ou menos em dois pontos
percentuais (Denis 1978, 981). No entanto, essa m elhoria no com parecim en­
to eleitoral no segundo turno pode dever-se mais a fatores gerais (com o a
percepção do grau de disputa ou a importância política do resultado) do que
especificam ente a condições locais. Assim, a coesão explicaria a variação na
transferência de votos, quando se leva em conta esse aum ento geral no se­
gundo turno. Portanto, o distrito em que a coligação ganha o maior aum en­
to percentual de votos é o mais coesivo. Note-se que essa conceituação do
problema conduz a testes mais conservadores, porque já não se considera que
a transferência de todos os votos do primeiro turno para o representante de
um a coligação é tudo o que um partido pode fazer por seu parceiro.
Essa conceituação da coesão implica a exclusão de diversos distritos do
conjunto de dados. Em primeiro lugar, exclui todos os distritos em que a vi­
tória foi decidida no primeiro turno. Em segundo lugar, cxclui distritos carac­
terizados por com petição triangular (dois candidatos da m esm a coligação
concorrendo no segundo turno). Nesse caso, seria inapropriado somar os vo­
tos dos candidatos que competem entre si. Em terceiro lugar, exclui distritos
em que é apresentado no segundo turno apenas um candidato. N esse caso,
uma das duas coligações não pôde apresentar um candidato no segundo tur­
no (devido à votação mínima necessária imposta pela lei eleitoral), ou não
quis fazê-lo (por ter entendido que não tinha chances de vitória); não há,
portanto, com o avaliar essa coesão. Dos 474 distritos, setenta (15% ) estão
numa dessas três categorias. A primeira é de longe a mais freqüente; inclui
44 distritos em que havia apenas um candidato da direita, que venceu no pri­
meiro turno. Tais eventos são, de fato, casos de coesão máxima da direita,
nos quais um dos dois parceiros põe o interesse da coligação acima de seu
próprio. Tais casos deveriam, por conseguinte, ser incluídos no conjunto de
dados da direita, e ser-lhes-á conferido o nível máximo de coesão (que aca­
ba sendo de 0,091). Mas esses casos não podem ser incluídos no conjunto de
dados da esquerda, porque não é dada nenhum a indicação da coesão da es­
querda. Desse modo, a minha investigação empírica concerne a 448 distritos
para a direita e apenas 404 para a esquerda.

p a rtid o s . N o q u e s e g u e , ttà o im p o rta se ns transferências de votos sc originam nns c ú p u la s p ;irtitl/i i í í j s , n o s


c a n d id a t o s lo c a is o u n o s p r ó p rio s e le ito re s . A s ra z õ e s p a r a e s s a e s c o l h a s ã o a s ó b v ia s c o n s e q ü ê n c ia s
s im p lillc a d o ra s p a ra a c o n s tru ç ã o d o m o d e lo .
GHORGH iSE H E U S

Essa regra de contagem favorece a minha própria teoria, pois casos


com proxim idade mais baixa recebem menor taxa de coesão (com o prevê
a teoria). Tenho dois argum entos em defesa de minha escolha. O prim eiro
é teórico. Escolhi operacionalizar a coesão com o a diferença dc votos en­
tre dois turnos porque se tratava de um indicador objetivo, facilm ente ob­
tenível e quantificável. A conseqüência negativa é que o referente em píri­
co particular da coesão não é definido na ausência de um segundo turno.
Todavia, independentem ente do referente em pírico de coesão, casos em que
um candidato se retira em favor de seu parceiro devem ser contados como
casos de coesão máxima. O segundo argum ento é empírico. Os sinais dos
coeficientes de regressão permanecem os mesmos se os 44 distritos forem
retirados do conjunto de dados.
Para conveniência dos leitores, é repetida aqui a equação a ser testa­
da, a equação (7.10).
coesão = c + (aV )vitória - (bU )proxim idade (7.10)
Os leitores também estão lembrados de que essa equação foi derivada sob
o pressuposto sim plificador de que os votos eram divididos em três partes:
os dois parceiros de um a coligação e a coligação oposta (unificada). Essa
sim plificação foi necessária para introduzir um espaço de resultados bidi­
mensional (triângulo eqiiilátero), em vez de um simplex (n - 1^dim ensio­
nal. E hora de abandonar esse pressuposto sim plificador e analisar as ou­
tras partes envolvidas. A equação (7.10) indica que, quanto menor for a di­
ferença dc tam anho entre os dois parceiros de um a coligação, mais fraca
será a coesão da coligação (se U for positivo). Em outros term os, quanto
mais forte for o segundo parceiro dc uma coligação, menos coesiva será a
coligação. Raciocínio análogo num espaço multidim ensional mais com pli­
cado sugere que outros aliados importantes reduzem a coesão da coligação
da m esm a maneira que faz um único aliado. Esse raciocínio indica que, por
razões dc coerência teórica, deve ser introduzido na equação (7.10) um
term o adicional que expresse a força de outros aliados.
coesão = c + (aV )vitória - (bU )proxim idade - (d)outros (7.11)
Um exame da equação (7.11) indica que ela é a mesma equação (7.10)
acrescida de um term o adicional. Introduziu-se esse term o para controlar
a im portância de outros aliados na coligação.
Pode-se analisar um increm ento de (7.1 1): a identidade do oponente
modifica o valor dc uma cadeira adicional. Na França, por exemplo, onde
o Partido Com unista esteve excluído do jogo político por longo tempo e os
partidos de direita usaram deliberadam ente propaganda anticom unista para
minar os socialistas, seria de esperar que a transferência de votos dentro da
JOG OS OCULTOS 199

direita fosse muito mais fácil e mais efetiva contra um adversário com unista
do que contra um socialista. Poder-se-iam esperar resultados sem elhantes
para a coesão da esquerda quando o seu oponente de direita era o RPR e
seu líder Jacques Chirac; ambos eram considerados muito conservadores.
D e fato, Jaffré (1980) m ostra indícios que corroboram a segunda conjec­
tura, mas não a primeira.
A Tabela 7.3 indica o resultado da estimativa da equação (7.11) quan­
do se utiliza o procedim ento comum dos mínimos quadrados (M Q C )12. A
prim eira linha da Tabela 7.3 representa os resultados da estimativa da equa­
ção (7.11) nos 141 casos em que o PCF representou a esquerda (e o PS teve
de transferir seus votos no segundo turno). A tabela tam bém apresenta a R2
da estim ativa com os valores dos coeficientes escritos em cim a de cada
célula e a estatística t em baixo entre parênteses.
Tabela 7.3. Função de diversas variáveis na coesão das coligaçoes francesas.

C oliga ça o Repr N R2 C ons V itória Prox Adv. O utros

Esquerda PCF 141 0 ,5 6 - 0 ,3 6 0 ,4 3 - 0 ,0 6 0 ,0 0 2 - 0 ,3 6


(- 10) (1 0 ) (- 2 ,2 ) (0 ,5 ) (- 5,8)
EsqucjxJa PS 263 0 ,0 9 - 0,07 0 ,0 6 0 ,0 3 7 - 0 ,0 0 - 0,25
(- 1,9) (2 ,2 ) (1 ,5 5 ) (- 0 ,4 ) (- 4 ,5 )
D ireita UDF 2Ü5 0 ,4 4 0 ,0 5 0 ,0 9 - 0 ,1 0 - 0 ,0 2 - 0,35
(U ) (1,9 ) (- 6 ,7 ) (- 4 ,7 ) (- 8,1)
Direita RPR 243 0,53 0,07 0 ,0 5 - 0,08 - 0 ,0 2 - 0 ,4 4
(2,0 ) (1,4 ) (- 6 ,8 ) (- 6 ,3 ) (- 11,6)

N ota: A s d iferen tes variáveis in clu em sua probabilidade dc vitória, a dislância entre os par­
ceiros, a ex istên cia de outros aliad os e a identidade d o adversário. (C on sid era-se Adv.
o RPR para a esquerda c o PS para a direita.)

D e doze coeficientes estim ados (de vitória, de proxim idade e outros


para cada uma das quatro famílias políticas), um tem o sinal trocado e dois
não são significativos no nível 0,05 (t < 2); os nove restantes são signifi­
cativos em praticam ente qualquer nível de confiança. Em três dos quatro ca­
sos, a adequação do modelo é bastante satisfatória (R2 de 0,44 a 0,56). A

12. A v a riá v e l fic tíc ia a d ic io n a l c a c re s c e n ta d a a (7 .1 1 ) p a ra a id e n tid a d e d o a d v e rsá rio . P o d e r-s e -ia s u s te n ta r q u e


M Q C n ã o é a p ro p ria d o n e s s e c a s o , p o is o s re s íd u o s p o d e m s e r c o rre la to s . P o ré m , u tiliz a r M QC n ã o c o m p ro ­
m e te a e s tim a tiv a a o in tro d u z ir u m v ié s, e m b o ra d im in u a s u a e f ic iê n c ia , to rn a n d o a s h ip ó te s e s d e te s te m a is
c o n s e rv a d o ra s . A s s im , s e o s c o e fic ie n te s cie M QC s e re v e la m e s ta tis tic a m e n te s ig n ific a tiv o s , is s o s e m a n té m
« fnrtiori p a r a o s c o e fic ie n te s d e M QG (H a n u s h e k c J a c k s o n 19 7 7 ).
200 GEORGE TSEBE U S

única exceção é o caso da transferência de votos do Partido Comunista, que


produz um a adequação bem ruim e o único coeficiente com sinal trocado'3.
O que fazer com a adequação insatisfatória do modelo para os eleito­
res com unistas? Por que os eleitores comunistas agem de modo diferente dos
seguidores dos outros partidos? Para o estudioso da vida política francesa
isso não deve surpreender. O Partido Com unista iniciou uma vigorosa cam ­
panha contra os socialistas no verão de 1977, quando chegaram a um im­
passe as negociações pelo program a com um da esquerda. D urante toda a
cam panha eleitoral, o Partido Com unista recusou-se a com prometer-se com
a “disciplina da esquerda”, porque julgou que as discussões de transferên­
cia de votos eram prematuras e constituíam um desvio da questão principal:
as negociações por um program a com um (Lavau e M ossuz-Lavau 1980,
138). Assim , a estratégia eleitoral do PCF perm aneceu literalm ente desco­
nhecida até o últim o momento. Foi após o prim eiro turno (e apenas um a se­
m ana antes do segundo), em 13 de março, que os três partidos da esquerda
se encontraram e assinaram um vago acordo político que incluía transferên­
cia de votos. Esse acordo funcionou somente por um a semana, e todos os
parceiros denunciaram -no depois do segundo turno.
D ada a ausência de uma estratégia clara para os eleitores do PCF, não
é de adm irar que as transferências de votos pelos eleitores com unistas se
assemelhem a um ruído aleatório, e a adequação do modelo ao com porta­
mento com unista é fraca. Isso, porém, é apenas parte da explicação, e não
é a mais interessante.

IV. POLÍTICA VISÍVEL E POLÍTICA INVISÍVEL


Há outra maneira de explicar as táticas eleitorais do Partido Com unis­
ta. Tentemos reconstituir a situação política no distrito eleitoral im ediata­
mente após o prim eiro turno. Uma coligação conquistou mais de 50% dos
votos e, se tudo o mais perm anecer igual e a transferência de votos fu n cio ­
nar, ela irá conquistar a cadeira no segundo turno. N esse caso, o menor
parceiro da coligação vencedora desem penha o papel mais im portante: se
transferir os volos, pode transform ar uma boa perform ance eleitoral numa
vitória parlam entar; se não transferir uma parte dos votos, pode provocar
uma derrota eleitoral. Assim , a questão política que interessa entre os dois
turnos é saber com o o menor parceiro da coligação vencedora transferirá
seus votos. A atenção pública se concentra no partido mais fraco da coli­
gação vencedora. Se os votos totais de uma coligação o situam na segunda
posição no prim eiro turno, então pode-se alegar com o desculpa que a co-

I 3 . C o n tra ria m e n te a J a ffré { 1 9 8 0 ), o s re s u lta d o s in d ic a m q u e o o p o n e n te n ã o fa z q u a lq u e r d ife re n ç a p a r a a c o ­


e s ã o d a e s q u e rd a , m a s o fa z p a ra a d a d ire ita .

B S C S H / UFRGS
JO G O S OCULTOS 201

ligação perderia de qualquer modo, e a atenção pública se concentra nas


transferências de votos do parceiro mais fraco do oponente.
De acordo com esse raciocínio, seria de esperar que os partidários do
parceiro mais fraco de um a coligação corressem para resgatar seu parcei­
ro (como indica a Seção II) apenas quando os votos com binados da coli­
gação o situam à frente no primeiro turno, tornando visível o jogo dos ven­
cedores esperados em geral e do parceiro menor em particular. Nesse caso,
o parceiro menor do vencedor esperado atrai a atenção da opinião pública
e, com isso, espera ser punido pela falta de apoio ao parceiro. Desse modo,
espera-se “jogo lim po” apenas quando a coligação totalizar mais de 50%
dos votos no primeiro turno. Examinem os essa conjectura com relação aos
com unistas. A Tabela 7.4 reproduz a análise da Tabela 7.3 apenas para a
coligação que chega em prim eiro no primeiro turno. O R2 do modelo salta
de 0,09 para 0,58, e os coeficientes são altam ente significativos com o si­
nal correto.

Tabela 7.4. Função de diversas variáveis na coesão das coligações francesas ven­
cedoras no primeiro turno.

C o liga ça o Rcpr N R2 C ons V itória Prox A dv. O utros

Esquerda PCF 98 0 ,7 4 • 0 ,3 4 0 ,4 7 - 0 ,1 3 0 ,0 0 3 - 0,25


(- 12) (1 4 ) (- 6 ,2 ) (1 .2 ) (- 5,4)
Esquerda PS 109 0 .5 8 - 0,26 0,31 - 0 ,0 4 0 ,0 0 - 0 ,2 4
(- 8,2) (H ) (- 1,8) (0 ,1 7 ) (- 4 ,5 )
D ireita UIDF 118 0,61 - 0,04 0 ,1 9 - 0 ,1 3 - 0 ,0 0 - 0 ,2 9
(- 0,7) (3,4 ) (- 7 ,7 ) (- 0 ,8 2 ) (- 6,2)
D ireita RPR 123 0 ,7 0 - 0,13 0 ,2 8 - 0 ,1 2 - 0 ,0 0 - 0,35
(- 2,7) (5,6 ) (- 8 ,2 ) (- 1,0) (- 6,9)

Afinal, será que os com unistas eram excelentes estrategistas? Agiram


com o deveriam sempre que estavam visíveis, isto é, quando eram o segun­
do partido e a tendência era a esquerda conquistar a cadeira? Baseado nos
seguintes indícios, parece que sim. Uma análise das transferências de vo­
tos relatados numa edição especial do Le M onde revela dois padrões dis­
tintos de transferência de votos dentro da esquerda; m ostra que os votos co­
m unistas foram transferidos para o candidato socialista, mas não vice-ver-
sci. Resultados análogos foram relatados em pesquisas conduzidas por Jaffrc
(1980). Em nível mais teórico, Bartolini (1984) discute a vantagem da po­
sição dos socialistas, que estão situados mais no centro da arena política e
recebem, portanto, todos os votos com unistas no segundo turno.
202 GEORGE TSEUELIS

Entretanto, corno indica a Tabela 7.4, os seguidores dos outros parti­


dos adotaram exatam ente a mesm a estratégia que os com unistas. Na ver­
dade, a adequação do modelo e a significância dos coeficientes aum entam
substancialm ente quando, em cada caso, os únicos distritos considerados são
aqueles em que cada coligação estava à frente no prim eiro turno. D esse
modo, para todos os partidos, a coesão aum enta quando é necessário, quan­
do a política é visível, ou seja, quando um a coligação tem grande chance
de conquistar a cadeira.
O que ocorre quando uma coligação parece perder 110 prim eiro turno,
ou seja, quando recebe menos de 50% dos votos? A Tabela 7.5 trata dessa
questão. A adequação do modelo cai drasticam ente, e a significância dos
coeficientes dim inui. No entanto, o aspecto com petitivo da interação entre
os parceiros de coligação perm anece: quanto mais próxim os estiverem um
do outro, mais votos faltarão no segundo turno. M as, quanto mais próxima
um a coligação estiver da vitória, mais os parceiros prejudicarão um ao ou­
tro. G raças à teoria dos jogos ocultos, desenvolvida neste livro, a interpre­
tação desse resultado é imediata; cada partido atribui utilidade negativa à
conquista por seu parceiro de um a cadeira adicional. Assim , sem pre que
houver uma desculpa formal viável, 011 sem pre que a atenção pública não
estiver concentrada em seu com portam ento, cada partido prejudicará seu
próprio parceiro.

Tabela 7.5. Função de diversas variáveis na coesão das coligaçoes francesas per­
dedoras no prim eiro turno.

C o liga ça o Rcpr N R2 C ons V itória Prox Adv. O utros

Esquerda PCI7 43 0 ,2 2 0 ,2 2 - 0 ,1 6 - 0 ,0 6 - 0 ,0 0 - 0 ,4 6
(1,7 ) (- 1,5) (- 0 ,7 4 ) (- 0 ,41) (- 2,3)
Esquerda PS 154 0 ,0 8 0,05 - 0 ,0 4 0,01 0 ,0 0 - 0 ,1 6
(1,4 ) (- 1,4) (0,5 8 ) (0,4 2 ) (- 2 ,8 )
Direita UDF 87 0 ,2 4 0,11 0,01 - 0 ,0 8 - 0,03 - 0,29
0 ,2 ) (0 ,1 9 ) (- 2 ,3 ) (- 3 ,8 ) (- 2 ,5 )
D ireita RPR 120 0 ,4 6 0 ,2 3 - 0,13 - 0 ,0 7 - 0,01 - 0,24
(5 ,9 ) (- 3,8) (- 4 ,5 ) (- 5 ,2 ) (- 5 ,2 )

D essa form a, as diferenças de com portam ento segundo se esteja à


frente ou atrás no primeiro turno podem ser atribuídas a graus diferentes dc
visibilidade que caracterizam as duas posições. O padrão de auxílio a um
parceiro quando for necessário se a política é visível, mas de prejuízo ao
parceiro quando a política é invisível, reflete-se 110 com portam ento da UDF
JOG OS OCULTOS 201

para com os gaullistas e de ambos os parceiros da esquerda, mas não é ob­


servável no com portam ento dos gaullistas. Esses resultados indicam que a
confusão na linha política da liderança do Partido Com unista não produziu
resultados diferentes dos outros partidos. As estratégias e com portam ento
são fundam entalm ente iguais. Varia apenas o grau de precisão.
Uma análise sim ilar pode ser feita para os coeficientes da Tabela 7.5.
D eve-se lembrar, porém , que esses coeficientes não são estatisticam ente
significantes, e que os resultados são, portanto, menos confiáveis. Além dis­
so, nesse caso, uma vez que os coeficientes são todos negativos, não há efei­
to de conchavo; portanto, a com paração não interessa muito.
A análise acim a indica que o jogo político é jogado com base em ter­
mos totalm ente diferentes de acordo com a visibilidade ou não do com ­
portam ento do parceiro em cada coligação. Essa conclusão é congruente
com diversas outras análises. Sartori (1976), por exemplo, sustenta que a(s)
lei(s) de D uverger não funcionam no plano do sistem a partidário, mas ape­
nas no do partido, um a vez que as estratégias do partido fazem parte da po­
lítica visível; assim , considerações eleitorais não podem ser a única base
para as escolhas do partido. Dentro do partido, porém , existem facções que
agem sem qualquer restrição (política invisível); portanto, cálculos eleito­
rais determ inam a política das facções. Conclusões análogas foram expos­
tas no Capítulo 6, em que diferenças de visibilidade mudaram a natureza
do jogo entre as diferentes elites políticas belgas.
No plano teórico, a bibliografia sobre a relação agente-principa! em
econom ia apóia-se nessa distinção e nas oportunidades que um processo
frouxo de m onitoram ento propicia a um agente (Jensen e M eckling 1976;
Klein, Crawford e Alchian 1978). Essa bibliografia sugere que, sem pre que
está em ação um m ecanism o de monitoramento, o com portam ento das pes­
soas se m odifica, na m edida da eficácia desse m ecanism o. N ão im porta
quão óbvia possa parecer essa proposição, temos poucos exem plos em pí­
ricos dela. A razão disso é o segredo da política invisível.
O predom ínio da pura com petição na política invisível tem um a con­
seqüência importante. A sabedoria convencional é que os eleitores france­
ses escolhem de duas maneiras diferentes no prim eiro e no segundo turno:
“no prim eiro o eleitor escolhe; no segundo, elim ina” (Converse e Piercc
1986, 356). M inha análise indica, porém, que o partido dom inante da coli­
gação vencedora do prim eiro turno pode esperar receber o apoio de seu
parceiro, ao passo que o partido dominante da coligação perdedora perde­
rá alguns dos votos de seu parceiro. O resultado será que o vencedor do pri­
meiro turno pode estar quase certo do sucesso no segundo turno. Assim, não
há diferença essencial de resultados entre o prim eiro e o segundo turno.
Com efeito, dos 448 distritos houve apenas 35 casos em que a esquerda
chegou em prim eiro lugar no prim eiro turno, mas perdeu no segundo
(7,8%), e dezoito casos em que ocorreu a mesma coisa com a direita (4,0%).
204 GEORGE TSEIIEU S

Em apenas 11,8% dos distritos o vencedor do prim eiro turno não ganhou
a cadeira.
Podemos fazer uma observação final a partir de um a com paração entre
as Tabelas 7.4 e 7.5: o com portam ento com petitivo dentro da direita é re­
duzido onde existe um adversário com unista, independentem ente de ser a
política visível ou invisível. Essa conclusão é consistente com o fato de ter
o Partido Com unista estado supostam ente fora do sistem a político na maior
parte do período pós-guerra.
Para resumir, a diferença na distribuição da força eleitoral no plano lo­
cal explica, em grande parte, a variação na de transferências de votos dentro
das coligações. Os partidos (todos) são mais cooperativos com seus parceiros
quando está em jogo uma cadeira, e mais competitivos quando possuem força
aproximadamente igual. No entanto, se o primeiro turno sugere a probabilida­
de de uma derrota (política invisível), cada partido prejudica o seu parceiro.

V. JOGOS OCULTOS E EXPLICAÇÕES ALTERNATIVAS


Já que as eleições francesas foram objeto de inúm eros estudos, pos­
so com parar as conclusões do enfoque dos jogos ocultos com aqueles ge­
rados por outras perspectivas teóricas ou empíricas. A com paração pode ser
efetuada em dim ensões diferentes: adequação em pírica (sem pre que os
dados forem suficientem ente próximos para perm itir com parações), parci­
m ônia e congruência com teorias existentes.
N um a pesquisa relatada por Jaffré (1980), descobriu-se que os com u­
nistas votaram fortem ente pelos socialistas no segundo turno, ao passo que
os socialistas não retribuíram. As descobertas de Jaffrc são corroboradas por
dados apresentados na edição especial do Le M onde, à qual nos referimos
atrás. Explanações de votação espacial podem explicar tal diferença: os elei­
tores com unistas não têm outra opção a não ser votar no candidato socia­
lista no segundo turno, enquanto os socialistas podem escolher a direita em
lugar dos com unistas. Segundo as teorias de votação espacial e as desco­
bertas em píricas de Jaffré, a coesão na esquerda é mais alta quando os so­
cialistas representam a esquerda. As descobertas de Jaffré são apresentadas
na parte de cim a da Figura 7.4A. As áreas som breadas indicam coesão es­
perada mais alta, e a com paração visual mostra a extensão da diferença nas
conclusões dessas teorias. Como revela a Figura 7.4A, Jaffré descobre que
os resultados na parte esquerda do triângulo (quando a esquerda é repre­
sentada por um socialista) produzem coesão mais elevada. Contudo, não
pode explicar as variações de coesão nem quando a esquerda é represen­
tada por um com unista nem quando é representada por um socialista.
Rochon e Pierce (1985, 439) estudam a coesão das coligações fran­
cesas e concluem : “A regra geral tanto para com portam ento solidário como
JO G O S OCULTOS 205

Figura 7 .4 R ep resen lação gráfica d e leorias rivais da c o csã o d c co lig a ç a o num sim p lcx (tri­
â n gulo) b idim ensional.
206 G EORCE TSEBELIS

para cooperação entre os dois partidos será que a coligação é mais harm ô­
nica quando é menos necessária, ou seja, quando não está em jogo o êxito
de um dos dois partidos na conquista dc um a cadeira legislativa” . Os da­
dos usados por Rochon e Pierce são diferentes dos apresentados neste ca­
pítulo, e a análise que fazem captura características mais ao longo do tem ­
po que em cortes transversais. Com efeito, seus dados abrangem tanto as
eleições de 1967 quanto as de 1978. N a m edida em que generalizam seus
resultados, porém , são possíveis algumas com parações.
O argum ento de Rochon e Pierce é um argum ento de equilíbrio, uma
vez que exam inam um longo período de tem po (mais de dez anos) c sus­
tentam que não existem diferenças tem porais no com portam ento do parti­
d o 14. Sustentei em outro lugar que a afirmação “a coligação é harm ônica
quando não é necessária” não pode ser verdadeira em equilíbrio; nenhum
dos dois parceiros da esquerda entraria numa coligação se ela fosse falhar
no momento em que era necessária (Tsebelis 1988a). Se, por equívoco, fi­
zessem isso um a vez, seu erro poderia scr corrigido em eleições subseqüen­
tes. A explicação que Rochon c Piercc (1985, 447-448) fornecem para seus
achados em píricos é social-psicológica: “O partido defende seus interesses
de modo m uito sem elhante a indivíduos que defendem sua auto-im agem
quando sc defrontam com a desagradável constatação de que um amigo o.s
está passando para trás... Tentam atrapalhar o sucesso do amigo” . Essa ex­
plicação tam pouco pode ser um argum ento de equilíbrio: se os candidatos
do partido agirem em ocionalm ente (Rochon e Pierce utilizam a palavra in­
veja para descrever o com portam ento dos candidatos socialistas), serão
substituídos por candidatos mais racionais, que irão m axim izar os votos do
partido ou da coligação.
Podemos agora com parar o método de estática com parada da escolha
racional com a explanação social-psicológica apresentada por Rochon e
Pierce. O que é singular na abordagem da escolha racionai é que ela sus­
tenta que a ação individual é uma resposta ótim a a pressões existentes e a
outras ações individuais. O com portam ento ótim o é, portanto, auto-explica-
tivo. O analista não precisa explicar por que um indivíduo fez o melhor que
podia sob dadas circunstâncias. Ao contrário, o que se precisa explicar é o
motivo pelo qual as pessoas fazem outras escolhas que não as ótim as, ou
por que têm motivos não-instrumentais com o a inveja quando as paradas do
jogo político são tão altas. Como indica a Figura 7.4B, a form ulação ori­
ginal de Rochon e Pierce espera coesão mais alta na parte superior e infe­
rior do triângulo quando um a cadeira não está em jogo.

14. N a v e rd a d e , c ie s e x a m iiu im o c o m p o ru im e n to d o s c a n d id a to s s o c ia lis ta s a p ó s a s e l e iç õ e s d e 1 967 e I97X e


n ã o e n c o n tra m d ife re n ç a s e s ta tís tic a s e n tre a s d u a s a m o s tra g e n s , d e m o d o q u e c o m b in a m o s d a d o s d e a m b a s .
N ã o h á n a d a n o a rtig o q u e in d iq u e q u e o c o m p o rta m e n to d o s c a n d id a to s s o c ia lis ta s s e ria o u p o d e ria te r sid o
d if e r e n te e n tre e s s e s d o is p o n to s 110 te m p o .
JO G O S OCULTOS 207

Um a vez que a afirm ação “a coligação é mais harm ônica quando é


m enos necessária” não pode ser verdadeira se os atores forem racionais,
propus uma modificação verbal mínima, coerente com as descobertas em ­
píricas de Rochon e Pierce: “A coligação é mais harm ônica quando a ten­
dência é que ela pcrca um a cadeira” (Tsebelis 1988a, 236). Com indica a
Figura 7.4C, minha reform ulação das descobertas dc Rochon e Pierce es­
pera coesão mais alta na metade superior do triângulo quando a tendência
é que a esquerda perca cadeiras.
A Figura 7.4D apresenta uma versão sim plificada do enfoque dos jo ­
gos ocultos, na qual se espera que a coesão seja mais alta quando a esquerda
se aproxim a da divisão m eio-a-m eio a partir de cim a, ou quando ela está
bem atrás. Por que essas figuras e conclusões são tão divergentes?
Em primeiro lugar, tentemos concentrar-nos nas descobertas de Jaffré.
Com o vim os na Seção IV, não existe diferença fundam ental entre o com ­
portam ento dos com unistas e o dos outros partidos. A m esm a equação pode
explicar o com portam ento de todos os partidos. O que muda é o tam anho
dos coeficientes, e não o sinal. Tanto Jaffré como Le M onde julgam o com ­
portam ento dos com unistas diferente porque estão interessados na descri­
ção, e não na explicação das transferências de votos. Portanto, estão ausen­
tes de suas análises as variáveis explicativas apropriadas.
Explicações espaciais foram apresentadas para dar conta da diferen­
ça no padrão de transferências de votos dentro da esquerda (Bartolini 1984;
Rosenthal e Sen 1973, 1977). De fato, vimos que em geral os com unistas
são parceiros mais fiéis do que os socialistas. Contudo, explicações políti­
cas não são suficientes para dar conta das variações no com portam ento par­
tidário. Como observam os, todos os partidos transferem seus votos melhor
quando seu parceiro necessita deles c a política é visível, e pior quando
obtêm um núm ero igual ou quase igual de votos ao de seus parceiros de
coligação. Explicações espaciais de votos não dizem por que o m esm o par­
tido às vezes transfere seus votos de modo efetivo, e outras vezes não o faz.
A teoria dos jogos ocultos fornece a razão adicional para a falha na trans­
ferência de votos: com petição dentro da coligação, que é o resultado da pro­
xim idade de escores dos dois partidos no prim eiro turno.
A sabedoria convencional, expressa por Jaffré e Le M onde - de que
os com unistas transferiram seus votos de maneira mais efetiva do que os so­
cialistas - pode ser explicada até certo ponto, mas pode também ser ques­
tionada. Se os socialistas parecem ser mais com petitivos do que os com u­
nistas, segue-se que, quando a esquerda é liderada por um com unista no
plano distrital, o socialista está em geral ligeiram ente atrás e, quando o so­
cialista está à frente, o com unista está significativam ente atrás.
A Tabela 7.6 confirm a essa expectativa. A prim eira coluna indica que,
nos distritos em que os socialistas lideram a esquerda, os com unistas per­
manecem cerca de dez pontos percentuais atrás, independentem ente de quão
20H GEORGE TSEBE U S

próxima da vitória esteja a coligação. A segunda coluna dem onstra que, nos
distritos em que os com unistas lideram, quanto mais próxim o da vitória es­
tiver a coligação, menor será a diferença entre os dois partidos no prim ei­
ro turno. Assim , a razão pela qual os com unistas transferem seus votos me­
lhor do que os socialistas é a distribuição de votos em distritos diferentes:
nos distritos com unistas, os com unistas e os socialistas recebem aproxim a­
dam ente o mesm o número de votos; nos distritos liderados pelos socialis­
tas, os socialistas estão bem à frente dos com unistas.
Tabela 7.6. Proxim idade dos dois parceiros da esquerda quando se aproxim am tia
vitória.
Vantagem socialista Vantagem com unista

G eral 0 ,9 0 8 0 ,9 1 6
(núm ero d c ca so s) (3 0 2 ) (1 4 6 )
vitória > 0 ,9 5 0 ,9 0 9 0 ,9 3 8
(nú m ero d c ca so s) (1 5 8 ) (85)
vitória > 0 ,9 7 0,9 0 7 0 ,9 4 3
(núm ero d c casos) (1 1 3 ) (53 )
vitória > 0 ,9 9 0 ,9 1 0 0 ,9 5 9
(núm ero dc casos) (38 ) cio
N oia: V itória = 1 sig n ifica um a d ivisão dc 50-50% d o s votos entre as co lig a ç õ e s.
Proxim id ad e = 1 sig n ifica d ivisã o igual d os votos entre o s parceiros.

A esquerda esteve próxim o da vitória em 1978 devido ao rápido cres­


cim ento do Partido Socialista. Isso, porém , teve efeito negativo sobre a
coesão da esquerda. Com entaristas políticos salientaram na época que isso
provocou reações por parte da liderança com unista. Essa análise mostra que
o rápido crescim ento dos socialistas suscitou um problem a adicional para
a unidade da esquerda: os socialistas com eçaram a fazer reivindicações
sobre distritos que tradicionalm ente eram representados por candidatos co­
munistas. Isso criou tensões e resultou em transferência de votos incompleta
da parte do Partido Socialista.
A Figura 7.5 representa graficamente os resultados eleitorais do pri­
meiro turno no sim plex (triângulo) bidimensional da Seção I. A figura fo­
caliza a força relativa dos dois partidos de esquerda (PCF, PS).
A Figura 7.6 apresenta os mesm os resultados eleitorais do primeiro
turno, mas o foco desta vez está na força relativa dos partidos da direita. Os
diferentes distritos aparecem na forma de pontos num triângulo que repre­
senta a UDF, o RPR e a esquerda. Para facilitar com parações visuais a esca­
la da Figura 7.6 e a mesma da Figura 7.5. Note-se a diferença na distribui­
ção espacial das duas coligações quando se com param os dois triângulos. A
JO G O S OCULTOS 209

Figura 7.5 R epresentação d os resultados eleitorais d o p rim eiro turno (PS, PCF, direita) num
sim p lex b idim ensional.

Figura 7 .6 R ep resen taçao d os resultados eleitorais d o p rim eiro turno (RPR, UDF, esquerda)
num sim plex bidim ensional.

direita está se expandindo ao longo do eixo horizontal e abaixo dele (polí­


tica visível); a esquerda se concentra em torno da origem e se expande ao
longo do eixo vertical. Segundo afirmei anteriorm ente, porém, sempre que
a distribuição dos resultados eleitorais se dá ao longo do eixo horizontal e
abaixo dele, a coligação possui coesão máxima. Sempre que a distribuição
se dá ao longo do eixo vertical, aumenta a competição.
Assim , a vitória da direita em 1978 pode ser atribuída a dois fatores:
um a qualidade melhor em geral das transferências e um a distribuição (as­
sim étrica) mais favorável da força entre os parceiros, o que m elhorou ain­
da mais a qualidade da transferência.
A explicação das discrepâncias entre as descobertas de Rochon e
Pierce e a minha própria é mais difícil. Há diversas linhas possíveis de ar­
2 /0 G EORGE TSEBELIS

gumentação. Hm primeiro lugar, seus dados diferem dos meus; logo, as duas
teorias explicam fenôm enos diferentes, ou, no jargão epistem ológico, são
incom ensuráveis (Kuhn 1962). Em segundo lugar, ambas as teorias discu­
tem os mesmos fenôm enos e deixam para os costum eiros critérios em píri­
cos de qualidade de adequação a decisão sobre a m elhor abordagem 15. Em
terceiro lugar, seria possível com binar as descobertas em píricas de ambas
as teorias num a teoria mais geral dos ciclos eleitorais (Tsebelis 1988a).
Podc-se apresentar argum entos favoráveis e contrários a cada uma dessas
três linhas de raciocínio.
Em volumosa análise das eleições francesas, Converse e Pierce (1986)
dedicam dois capítulos ao estudo da participação eleitoral e do fluxo de
votos no segundo turno, com parando suas descobertas com análises ante­
riores de Rosenthal e Sen (1973, 1977). A conclusão destes últim os foi que
modelos de votação espacial explicam a participação no segundo turno, en­
quanto Converse e Peircc (1986, 351) acham que a participação no segun­
do turno “pode ser explicada em term os de sim patias partidárias, mas não
por um senso de distância entre direita e esquerda”. Converse e Pierce
(1986, 353) explicam a diferença nas conclusões, observando que Rosenthal
e Sen utilizam dados agregados c localizações dircita-esquerda “em feixe”
dos partidos.
Tanto Rosenthal e Sen quanto Converse e Pierce investigam anos elei­
torais diferentes dos analisados pelo presente capítulo’f'. Além disso, ambos
usam tanto dados individuais quanto agregados no que se refere às posições
de direita e esquerda dos eleitores e partidos, também ausentes deste capí­
tulo. Finalm ente, as variáveis dependentes em seus estudos (abstenções, vo­
tos nulos ou votos por partido no segundo turno) estão relacionadas mas não
são idênticas à coesão, variável dependente neste estudo. Q ualquer com en­
tário sobre seus achados, portanto, deve ser considerado um a tentativa. Já
que, na conclusão final, Converse e Pierce afirm am que há espaço para
m aiores investigações, podem ser relevantes algumas das conclusões da pre­
sente investigação.
Converse e Pierce demonstram conlusivam ente que abstenções e flu­
xos de voto não podem ser explicados exclusivamente por modelos de vo­
tação espacial. Além disso, o melhor modelo em term os de adequação foi o
“heurístico” apresentado por Rosenthal e Sen (1973), no qual as variáveis
independentes eram a proximidade de um a disputa (medida pela diferença

15. E m b o ia q u a lq u e r c o m p a ra ç ã o s e g u n d o o s c ritc rio .s -p a d rã o d e q u a lid a d e d e a d e q u a ç ã o (R J) e s ig n ific â n c ia


e s ta tís tic a ( t) fo s se m e x tre m a m e n te v a n ta jo s o s p a ra u a b o rd a g e m d o s jo g o s o c u lto s , s e ria in ju sto c o m R o c h o n
e P iev c e, p o is tê m p o u c o s a rg u m e n to s b a s e a d o s e m d a d o s , c tra ta m m u ito m a is cie c a s o s in d iv id u a is q u e d e
d a d o s a g re g a d o s .
16. C o n tu d o , u m a d a s e l e iç õ e s c o b e rta s p o r e s s e s e s tu d o s foi a d e 19 6 7 , q u e , c m te rm o s d e s e u c lim a p o lític o
g e ra l, foi s im ila r à d e 19 7 8 , p o is n a m a io ria d o s d is trito s lio u v e u m a d is p u ta e n tre u m c a n d id a to d a e s q u e r­
d a ( u s u a lm e n te c o m u n is ta ) e u m c a n d id a to <la d ire ita (u s u a lm e n te g a u llis ta ).
JO G O S OCULTOS 211

entre os que estão à frente e os que estão atrás na cam panha) e a escolha
(medida pelo número de candidatos no segundo turno). São necessárias al­
gumas variáveis explanatórias adicionais. Segundo parece, é exatamente isso
que Converse e Pierce capturam com uma variável “sim patia partidária”.
A sim patia partidária possui, porém, o estatuto de um a variável inde­
pendente num estudo social-psicológico no qual ela pode ser m edida por
questões apropriadas de um a pesquisa de opinião; numa explicação de es­
colha racional, sentim entos de sim patia ou de com petição com outros par­
tidos e, o que é mais pertinente, as conseqüências com portam entais de tais
sentim entos precisam ser derivados das características do m eio político e
da racionalidade dos atores. É justam ente isso que a variável proximidade
em meu modelo captura: sentim entos de sim patia variam inversamente com
a com petição entre os parceiros durante a cam panha eleitoral, e essa com ­
petição é um a função da aproximação entre os parceiros. Assim , o enfoque
dos jogos ocultos dá um passo além das descobertas de Converse e Pierce:
fornece um a explicação para os sentim entos de sim patia ou com petição que
Converse e Pierce consideram dados.
O modelo deste capítulo apresenta resultados mais parcim oniosos e de
precisão em pírica do que os enfoques anteriores. Além disso, apresenta uma
explicação para a sim patia partidária que se baseia ein forças contextuais
que atuam no plano distrital: a distribuição de votos entre partidos e entre
coligações.

VI. LEIS ELEITORAIS COMO PROJETO INSTITUCIONAL


Até aqui utilizei o primeiro tipo de jogos ocultos (jogos em múltiplas
arenas) para afirmar que a coesão de coligação é a resposta ótim a dos par­
tidos uns aos outros e ao sistem a eleitoral. N esta seção final, inverto o ar­
gum ento e me concentro no segundo tipo dc jogos ocultos: projeto institu­
cional. D em onstro que, devido aos resultados desfavoráveis à esquerda que
o sistem a eleitoral produziu de maneira coerente, o governo socialista in­
troduziu, em 1985, a representação proporcional (RP). Pelo m esm o m oti­
vo, a coligação de direita restabeleceu o sistem a eleitoral de maioria nos
dois turnos (SEMDT) quando chegou ao poder um ano depois. D e acordo
com a tipologia apresentada no Capítulo 4, esta seção sustenta que o siste­
ma eleitoral era um a instituição de consolidação: um a vez no poder, cada
coligação tentou consolidar sua própria posição usando com o principal ins­
trum ento o sistem a eleitoral.
O Partido Socialista emergiu das eleições de 1978 como o partido mais
forte da França; suas aspirações governamentais foram , porém , seriam en­
te prejudicadas pelo SEMDT. O aliado dos socialistas era o mais fraco dos
partidos restantes. Assim, o resultado da aliança foi a derrota da esquerda.
212 GEORGE TSEBELIS

Sim ulações dos resultados eleitorais indicam que, se as eleições de 1978 ti­
vessem sido conduzidas sob representação proporcional, a esquerda teria
ganho (M eyer 1978).
A vitória potencial da esquerda em 1978 sob RP não é razão suficiente
para o estabelecim ento do sistem a eleitoral de RP pela esquerda em 1985.
Como a perform ance das instituições foi avaliada a longo prazo, com o mos­
tra o Capítulo 4, para produzir argum entos convincentes devem os mostrar
que o SEMDT funcionou contra os interesses a longo prazo da esquerda.
Outras sim ulações dos resultados eleitorais indicam que, sob RP, a esquer­
da não teria ganho em 1981 (Bon 1985). Não teria sido sido sensato, por­
tanto, mudar o sistem a eleitoral por razões partidárias, dado que essa mu­
dança não parece produzir resultados que tendam sistem aticam ente para um
lado ou para o outro. Além disso, pode-se afirmar que a mudança para RP
ocorreu porque a esquerda havia prom etido isso tanto no program a comum
de governo quanto na cam panha eleitoral de François M itterrand.
Sim ulações de resultados eleitorais sob sistem as eleitorais diferentes
produziram os seguintes resultados: em geral, o SEMDT, com parado à RP,
produz sub-representação da coligação perdedora, sub-representação das for­
ças que recusam a polarização política17, sub-representação das forças mar­
ginais da direita e da esquerda e sub-representação do menor partido dentro
de cada coligação (Parodi 1983). Tais simulações expressam, porém, apenas
um valor indicativo, pois sustentam que as pessoas votam da mesma manei­
ra independentem ente do sistema eleitoral: não existe o voto estratégico.
Para com preender as estratégias que conduziram às duas modificações
sucessivas das regras, precisam os exam inar mais de perto alguns dos even­
tos políticos dos anos 80, Em 1981, M itterrand disputou pela terceira vez
o segundo turno de lima eleição presidencial e venceu pela prim eira vez.
Sua eleição assinalou a prim eira vez em que a esquerda ocupou o cargo de
presidente sob a Q uinta República. Ele dissolveu im ediatam ente o Parla­
mento (eleito em 1978; tinha uma maioria hostil) e conduziu a esquerda à
sua prim eira vitória legislativa sob a Quinta República. A vitória foi am plia­
da a tal ponto pelo SEMDT que o Partido Socialista (com 282 cadeiras) con­
trolou a m aioria absoluta na A ssem bléia N acional sem depender dos 43
votos com unistas.
Embora o apoio comunista não fosse formalmente necessário, M itter­
rand convidou os com unistas a participar do governo. A coligação durou até
o verão dc 1984, quando o gabinete M auroy foi substituído pelo gabinete
Fabius, no qual não havia ministros com unistas. Durante essa época, as ten­
sões entre os dois partidos aum entaram e, conseqüentem ente, os com unis­
tas passaram a insinuar que não estava assegurada a disciplina republicana

17. T íií .s Ibcçíi.s fo r;» » o s p a rtid o s cio c e n tro , p r a tic a m e n te e lim in a d o s tle s d e 1 9 7 4 , e u d is p u ta p r e s id e n c ia l e in re
G is c a rd e M itte rra n d .
JO G O S OCULTOS

(votar no segundo turno no candidato da esquerda que estivesse à frente).


D uverger (1982) ja havia recom endado há m uitos anos aos socialistas a
mudança do sistem a eleitoral para que não ficassem reféns dos com unistas.
N este ponto, observo o seguinte:
M itterrand e o Partido Socialista. Eles poderiam utilizar o efeito am­
plificador do partido na vantagem obtida dentro de cada coligação para con­
seguir um a importante parcela dos votos (supondo o apoio comunista). To­
das as pesquisas indicavam, porém, que não havia chance de que a esquerda
(uma aliança entre socialistas e com unistas) pudesse vencer as eleições de
1986'*. M esmo que esse apoio estivesse assegurado, o equilíbrio de forças em
condições de SEMDT teria sido extrem am ente favorável à direita. The
Economist (3 de novembro de 1984) projetou os resultados da eleição euro­
péia para as eleições nacionais sob sistemas eleitorais diferentes e dem ons­
trou que a modificação do sistema eleitoral era a estratégia dominante dos so­
cialistas: com SEMDT, os socialistas obteriam 45 cadeiras, os comunistas 26
e os conservadores 403. Com RP, no plano nacional, os números correspon­
dentes seriam 100, 53 e 205. Não obstante, as razões mais importantes para
a mudança no sistem a eleitoral eram de caráter estratégico, e não aritm éti­
co: a situação política e econôm ica havia provocado sérias divergências e
dividira a esquerda. O Partido Socialista tinha maior mobilidade e potencial
de coligação devido à sua posição de pivô ao longo do eixo direita-esquer-
da. O SEMDT polarizou as várias famílias políticas, impedindo que o Parti­
do Socialista explorasse as suas vantagens dc pivô. Por exemplo, se os dois
partidos da direita não conseguissem obter um a maioria dos votos, seriam
forçados a escolher entre uma coligação com o Partido Poujadista de Jean
M arie Le Pen (posição bastante desconfortável) e uma coligação voltada para
o centro19. Essa possibilidade aum entaria as chances dos socialistas de per­
manecer no governo, aumentando o poder político do presidente da Repúbli­
ca, que teria então poder para construir e manter a coligação no governo20.
Partido Comunista. O partido se viu mais isolado e mais m arginali­
zado. A escolha não era entre participar ou não de um governo (não se pode
saber se ele queria ou se poderia encontrar aliados), mas como podia ob­
ter mais cadeiras na Assem bléia Nacional. As características do SEMDT e

18. N as e l e iç õ e s e u ro p é ia s d e I9 S 4 , c o m RP, o P a rtid o C o m u n is ta re c e b e u 1 1% d o s v o to s (K m ip p 19 8 7 ).


I 9 . O ú n ic o Ik le r soci;iliM ;i q u e n ã o c o m p a rtilh o u a p re fe rê n c ia p o r u m s is te m a d e Kí’ foi M ic h e l R o c a rd , q u e ,
n a é p o c a , re n u n c io u a o p o s to d e m in i.stio d e E .siado (Ministre d'Etiti ) e d e m in is tro d a A g ric u ltu ra , e x p li­
c a n d o q u e , s o b RP, o s s o c ia lis ta s ja m a is r e c o n q u is ta ria m a m a io ria . N a é p o c a , e s p e c u lo u -s e n a im p re n s a s o ­
b re o.s r e a is m o tiv o s d e .sua re n ú n c ia . | P a rtid o P o u jad i.sta , d e riv a d o d e P ic rrc P o u ja d e , fu n d a d o r, e m 1956,
d a U n iã o d e d e fe s a d o s c o m e rc ia n te s e a r te s ã o s d a F ra n ç a . M o v im e n to e p a rtid o p o p u la r d c d ire ita , n o fin a l
d a Q u a rta R e p ú b lic a , c a ra c te riz a d o p o r re iv in d ic a ç õ e s c o rp o ra tiv a s e p e la re c u sa d e u m a e v o lu ç ã o s o c io e c o -
n ô m ic a . (N . d o T .). |
2 0 . A o p in iã o d o s e s tu d io s o s e m r e la ç ã o a o p o d e r d a p re s id ê n c ia e s tá d iv id id a . A lg u n s .su s te n ta m q u e o p r e s i­
d e n te te ria p e rd id o p o d e r p o rq u e n ã o te ria s id o a p o ia d o p o r u m a m a io r ia e s tá v e l. V er D u v e rg e r e m i.c Mon­
de (2 9 d e m a io d e 19 8 5 ).
2 14 CEORÜK TSEBELIS

da RP tornavam tal escolha clara: em condições de SEMDT, o menor parti­


do da menor coligação é praticam ente eliminado. Conseqüentem ente, a pre­
ferência dos com unistas era por RP.
RPR e UDF. Os partidos da direita defenderam os interesses opostos
aos do Partido Socialista. Sabiam que o SEM D T poderia am pliar a sua vi­
tória, assegurando-lhes um a m aioria confortável. Sabiam tam bém que o
SEM DT poderia aum entar a sua coesão, tornando-os independentes de qual­
quer apoio da direita (Frente Nacional de Le Pen) ou da esquerda (Partido
Socialista). Portanto, a escolha era clara: ambos os partidos eram a favor
do SEMDT, sendo que os gaullistas dem onstravam maior disposição favo­
rável porque com essa aliança eles teriam a parte do leão.
Foram essas as preferências dos diversos partidos. Os dois partidos da
esquerda, por motivos diferentes, preferiam a RP; os dois partidos da D i­
reita preferiam o SEMDT. A retórica oficial de ambos os lados utilizou ar­
gum entos relativos à função das instituições, à eqüidade e à estabilidade do
governo. No entanto, como a esquerda possuía uma esm agadora maioria na
A ssem bléia Nacional, a disputa se decidiu facilmente: a nova lei eleitoral
foi aprovada em 11 de julho de 1985, menos de um ano antes das eleições
legislativas. Impôs a RP e um aum ento de 491 para 577 no núm ero de ca­
deiras na A ssem bléia N acional.
Essa explicação é justa com os partidos envolvidos, ou se trata de uma
cínica distorção de seus motivos? Quais eram os motivos “reais” dos ato­
res? É difícil responder imediatamente a essa questão, pois nenhum ator ad­
mitiria motivações partidárias. No entanto, podem ser apresentados indícios
indiretos. Pode-se presum ir que, sc a escolha sobre as leis eleitorais envol­
veram princípios, as opiniões dos diferentes atores deveriam perm anecer es­
táveis ao longo do tempo; se, ao contrário, envolveram considerações táti­
cas, com o foi m encionado anteriorm ente, as opiniões dos atores políticos
deveriam variar.
M itterrand era um dos principais atores envolvidos na reform a elei­
toral; por isso, concentro-m e nas opiniões e proposições expressas por ele.
O prim eiro indício provém do discurso de M itterrand na quarla convenção
nacional da UDSR, em 1950. Ele estabelece as regras da escolha das leis
eleitorais:
N ão incluo nenhum elem ento doutrinai. O esquem a eleitoral que escolh o deve resultar de
uma opinião política. [...] Na verdade, há alguns ponlos que (ornam essa opção necessária. Em pri­
meiro lugar, qual é o interesse da Nação? Depois, qual é o interesse da maioria da qual faço parte?
Enfim, qual é o interesse do meu paitido? E decidirei quando tiver respondido a essas três questões
(Chagnollaud 1985, 95; [a partir da tradução do autor]).

Parece que as respostas a essas três questões variaram ao longo do


tempo, pois M itterrand mudou muitas vezes de opinião sobre o sistem a elei­
toral. N a segunda convenção da UDSR (1948), cie chamou a RP de “néfcis-
JOG OS OCULTOS 215

te” e declarou seu apoio ao SEMDT. Como m inistro, em 1950, recusou-se


a assinar uma lei eleitoral essencialm ente m ajoritária com alguns elem en­
tos de representação proporcional. M ais tarde, em 1950, propôs um siste­
ma de m aioria no prim eiro turno no plano clépartem ental (distrito com
membros múltiplos), que foi rejeitado pelo seu partido. Em 1951, votou pelo
sistem a eleitoral dos “apparentem ents”2\ Entre 1953 e 1955, adotou diver­
sas iniciativas para prom over um sistem a majoritário no plano distrital. Em
1958, apoiou a reform a gaullista do sistem a eleitoral. Em 1968, fez suas
prim eiras proposições tímidas em favor da RP. Em 1970 e em 1971, suas
declarações tornaram -se bastante óbvias e desde então sua preferência peia
RP perm aneceu estável22.
Esse relato indica que na mente dos atores políticos o sistem a eleito­
ral não possuía o estatuto ou a estabilidade da constituição23. Com efeito,
o período de estabilidade do SEMDT sob a Quinta República (27 anos) foi
excepcional na história francesa. Só uma vez o sistem a eleitoral durara mais
tem po (1889-1919). Por coincidência, foi o mesm o SEMDT adotado pela
Quinta República24.
No entanto, a reforma eleitoral dc M itterrand não foi nem extrem amen­
te bem -sucedida nem duradoura. Não foi bem -sucedida porque os partidos
da direita conseguiram obter uma ligeira maioria de cadeiras (291 em 577)
na nova Assembléia Nacional. Não durou muito tempo porque a nova m aio­
ria restaurou o SEMDT um ano após sua abolição (10 de julho de 1986).
As m otivações que estavam por trás da nova modificação são óbvias
pela explicação anterior: foi um esforço consciente da direita para conso­
lidar sua posição m ajoritária. O que merece um a descrição mais detalhada
são as m anobras políticas que tornaram essa m odificação possível. O que
vem a seguir dem onstra que para realizar seu objetivo o novo prim eiro-
ministro e líder da maioria, Jacques Chirac, usou magistralm ente as insti­
tuições existentes.
A coligação de governo da direita obteve nas eleições de 1986 ape­
nas três cadeiras acim a da maioria exigida de 288. No entanto, essa m aio­
ria não apoiava solidam ente o plano do prim eiro-m inistro de restaurar o
SEMDT. Em primeiro lugar, os aliados (especialm ente os independentes) não
estavam tão entusiasm ados com o SEMDT com o os gaullistas. Em segundo
lugar, discutia-se a redução do número de cadeiras para 491, em vez de 577,

2 1 . O s is te m a d o s "ii/i/xitciiicniciits ” er;i u m m is to d c e le m e n to s p ro p o rc io n a is e m a jo ritá rio s q u e p e rm itia a f u ­


s ã o d c p a rtid o s d ife re n te s c m á re a s d ife re n te s. A fin a lid a d e e o re s u lta d o d e s s e s is te m a foi e x c lu ir o s g a u llis ta s
c o s c o m u n is ta s d a m a io ria d a s c a d e ira s , c ria n d o u m a m a io ria c e n tris ta . V er C h a p s a l c L a n c e lo t (1 9 6 9 ).
2 2 . P a ra u m a e x p lic a ç ã o c o m p le ta e s u a s fo n te s , v e r C h a g n o lla u d ( 1 9 8 5 . 1 0 1 -1 0 3 ).
2 3 . C h a g n o lla u d fo rn e c e e x p lic a ç õ e s h is tó ric a s s im ila re s d e o u tra s o p in iõ e s p re s id e n c ia is d u ra n te a Q u in ta R e ­
p ú b lic a fra n c e s a .
2 4 . O s is te m a e le ito ra l foi m o d ific a d o d o z e v e z e s n a F ra n ç a d e s d e 18 7 1 , s c tc v e z e s n e s te s é c u lo : u m a m é d ia d c
u m a m o d ific a ç ã o a c a d a o ito o u d o z e a n o s . d e p e n d e n d o d a b a s e d e c á lc u lo . V er LcC Jall (1 9 8 5 ).
216 G EORGE TSEBELIS

o que impediria que alguns membros da A ssem bléia N acional se reeleges­


sem. Em terceiro lugar, e mais importante, a necessidade de reformulação
dos distritos estava se tornando óbvia, e os aliados tem iam que Charles
Pasqua, o novo ministro do Interior e fiel amigo dc Chirac, baseasse seus
cálculos em grande parte nos interesses do partido gaullista.
Para Chirac, a situação era a seguinte: a oposição, tanto da esquerda
(socialistas e com unistas) quanto da direita (Frente Nacional), unira-se con­
tra sua reforma eleitoral; e os membros atuais de sua maioria na Assem bléia
N acional que não seriam eleitos sob o SEMDT provavelmente derrubariam
a proposta da reforma eleitoral. M esmo no caso improvável de que a m aio­
ria deles dem onstrasse um excepcional espírito de auto-sacrifício, três de­
serções seriam suficientes para derrotar o plano de Chirac. Por esses m oti­
vos, Chirac sabia que um debate aberto sobre a reforma eleitoral no plenáriç)
da Assem bléia N acional m odificaria seu projeto, concedendo vantagens po­
líticas significativas para a oposição.
A única maneira de superar esse impasse era não perm itir a discussão
da reforma eleitoral na Assembléia Nacional. No Capítulo 6, discuti as van­
tagens mantidas pelos detentores de monopólios, os quais podem apresen­
tar suas propostas e tê-las aprovadas ou rejeitadas sem discussão. Nesse tipo
particular de situação, pode ser adotada qualquer proposta rem otam ente
superior ao status quo. No caso da reforma dc Chirac, porém, praticam ente
não havia nenhum a reforma eleitoral majoritária que pudesse ter sido ado­
tada pela maioria da A ssembléia Nacional eleita em 1986.
Por conseguinte, além dc não aceitar quaisquer em endas (“questão fe­
chada” ), Chirac aproveitou-se de um artigo da constituição e recorreu à
chantagem . O A rtigo 49.3 estabelece que qualquer projeto de lei pode ser
transform ado pelo governo numa questão de confiança25. Em conform ida­
de com o Artigo 49.3, o projeto governamental é aceito sem votação. Se for
apresentada pelo plenário uma moção de desconfiança, essa moção (e não
o projeto do governo) será debatida e votada. O papel do A rtigo 49.3 é
mudar o tem a de discussão e forçar os deputados da m aioria a apoiar o
governo apesar de sua divergência sobre um item específico da legislação.
Pode-se usar a Figura 4.2 para visualizar a situação. Consideremos que
o jogador 1 representa a sólida coligação de Chirac (o RPR e parte da UDF)
e o jogador 2, aqueles de seus aliados que sc opõem à reforma eleitoral. A
apresentação do projeto de lei desloca a situação da Figura 4.2A para 4.2C,
na qual alguns dos deputados da frágil maioria de Chirac teriam votado com
a esquerda (jogador 3) para derrotar o projeto de lei. O A rtigo 49.3 força
a volta da disputa ao eixo original da Figura 4.2A; estabelece que a ques­
tão sob exame não é o projeto de lei, mas o próprio governo, a respeito do

2 5 . S e u m p ro je to d c le i c a p re s e n ta d o a o p le n á rio d;i A s s e m b lé ia N iic io iw l p e lo g o v e rn o , é c h im w d o do p r o je ­


to ; s c é a p re s e n ta d o p o r u m d e p u iu d o , e c lu im a d o d e proposU i.
JO G O S OCULTOS 217

qual os jogadores 1 e 2 se coligaram. Para usar a term inologia do Capítulo


4, a reform a eleitoral cra um a instituição de consolidação.
M esmo esse método de adoção, porém , não teria sido bem -sucedido
junto aos deputados que soubessem com certeza que estavam condenados na
eleição seguinte. O projeto do governo teria de esconder seu calcanhar-de-
aquiles: a operação de reformulação distrital. Fornecer informação sobre a
reform ulação distrital teria perm itido aos deputados da maioria efetuar os
cálculos apropriados e teria levado à perda de votos. O segundo passo do go­
verno não era somente adiar a reformulação distrital - o problema da insu­
ficiência de votos apareceria em qualquer tentativa subseqüente de aprovar
o projeto mas tirá-la da jurisdição do Parlam ento. O Artigo 38 propicia
meios constitucionais para realizar essa operação, pois fornece ao governo
a autorização para legislar por decreto em determ inada área: nesse caso, a
reform ulação distrital.
Vimos no Capítulo 4 o papel da incerteza na adoção das instituições:
quando a incerteza diminui, tornam -se mais prováveis instituições eficien­
tes. Os efeitos redistributivos do sistem a eleitoral entre a direita e a esquer­
da estavam claros, motivo pelo qual ambos os atores tomavam a iniciativa
da reform a sem pre que se apresentava a oportunidade. Contudo, em bora a
reforma fosse de modo geral profícua para a direita, não o era para todos
os seus representantes no Parlam ento, devido à questão da reform ulação
distrital. Ignorem os por um momento a esquerda e concentrem o-nos exclu­
sivamente na direita. Do ponto de vista dos seus interesses coletivos, a re­
forma eleitoral era necessária, pois prom ovia o interesse de todos os seus
membros. Tomando com o referência exclusivam ente a direita e utilizando
a term inologia do Capítulo 4, o SEMDT era um a instituição eficiente. Para
ser prom ovida, um requisito essencial era a incerteza sobre quais membros
do Parlam ento seriam atingidos pela reforma. O A rtigo 38 propiciou ao go­
verno o necessário “véu de ignorância” e perm itiu que ele prom ovesse a
instituição eficiente (para a direita).
A retórica de Chirac incluía o argum ento de que o SEMDT era um
“pilar” da constituição. Foram, porém, o uso magistral das instituições por
parte de Chirac e a com binação dos Artigos 49.3 e 38 que possibilitaram
sua vitória. Como era esperado, os socialistas propuseram uma moção de
desconfiança, que recebeu apenas 284 votos e foi derrotada (Avril e Gicquel
1986, 175). A aprovação do SEMDT foi ao mesm o tempo um triunfo parti­
dário para o partido gaullista, pois, mediante o Artigo 38, Charles Pasqua
tornou-se o condutor exclusivo do processo de reform ulação distrital.
Essa explicação da m udança institucional confirm a diversas afirm a­
ções feitas no Capítulo 4. Em primeiro lugar, as instituições resultam de um
projeto consciente. Em segundo lugar, podem ser usadas com o armas numa
disputa política; seu uso torna-se cada vez m ais necessário quando uma
maioria c estreita e problem ática, como foi o caso da direita francesa após
GEORGE TSEBE U S

1986. Em terceiro lugar, os atores políticos criarão instituições para con­


solidar suas posições ou am pliar suas vitórias. Em quarto lugar, o papel da
inform ação para a criação de tipos diferentes de instituições (eficiente em
contraposição a redistributiva) e a manipulação consciente da informação
(A rtigo 38) por alguns jogadores (o governo) são cruciais para prom over
as instituições desejadas,

VIL CONCLUSÕES
No início de 1978, as pesquisas de opinião indicavam dc maneira uni­
form e que a esquerda estava à frente numa disputa acirrada entre as duas
coligações. Em março, a esquerda perdeu a eleição. A situação foi habilmen­
te apreendida pelo título de im portante análise sociológica dos resultados:
França dos votos da esquerda para a direita (Capdevielle et al. 1981). Por
que isso ocorreu? A explicação que apresentei indica que o rápido cresci­
mento do Partido Socialista, que se esperava fosse a força condutora na vi­
tória eleitoral da Esquerda, enfraqueceu a conversão à esquerda porque criou
no primeiro turno um a distribuição de votos desfavorável para a coesão da
esquerda e gerou um a má transferência de votos.
M itterrand alterou o sistema eleitoral que produziu tais resultados des­
favoráveis e o substituiu pela representação proporcional. A vitória eleito­
ral da direita em 1986 inverteu a situação e o sistem a eleitoral anterior foi
restabelecido.
A teoria dos jogos ocultos fornece assim não só uma descrição acura­
da mas também uma explicação do funcionamento do sistem a eleitoral fran­
cês c de como todos os partidos políticos se com portam da mesma forma.
A coesão das coligações (de cada coligação) aum enta quando é necessária
(quando as coligações possuem divisão igual de votos) e a política é visível.
A com petição entre os partidos (todas as quatro fam ílias políticas) aumenta
quando os parceiros dentro de cada coligação têm a mesm a força.
A teoria pode explicar variações na coesão das coligações, algo que
as teorias de votação espacial não podem. Com efeito, de acordo com a úl­
tima, não há razão para tal variação. Além disso, o enfoque dos jogos ocul­
tos é capaz de dem onstrar por que algumas explicações sociopsicológicas
que se baseiam em conceitos com o a inveja estão erradas, bem como o que
reside por trás de variáveis independentes, com o sentim entos de sim patia
ou de com petição entre os partidos: a distribuição de votos entre os parcei­
ros e entre as coligações. Finalm ente, o enfoque dos jogos ocultos prom e­
te outras aplicações, exploradas no Capítulo 8.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 7:
DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS

rpr: núm ero de votos para os gaullistas (no prim eiro turno).
udf: núm ero dc votos para os giscardianos (no prim eiro turno).
ps: num ero de votos para os socialistas (no prim eiro turno).
pc: núm ero de votos para os com unistas (no prim eiro turno).
reg: núm ero de votos registrados.
pturno: núm ero de votos no prim eiro turno.
sturno: núm ero de votos no segundo turno.
tesq: núm ero de votos para os socialistas, os com unistas e os aliados
no prim eiro turno.
tdir: núm ero de votos para os gaullistas, os giscardianos e os aliados
no prim eiro turno.
esq: número de votos para o candidato da esquerda no segundo turno.
dir: núm ero de votos para o candidato da direita no segundo turno.
vitória: j - abs1 (pturno/2 - tcsq)/reg
proxe: 1 - abs (ps - pc)/reg
proxd: 1 - abs (udf - rpr)/reg
outresq: (tesq - ps - pc)/reg
outrdir: (tdir - udf - rpr)/reg
advesq: variável dicotôm ica com valor 0 se o adversário é socialista.
advdír: variável dicotôm ica com valor 0 se o adversário é gauilista.
coeesq: (esquerda - tesq)/reg
coedir: (direita - tdir)/reg

I. a b s = v a lo r a b s o lu to .
CONCLUSÕES

Em lugar de resum ir os principais resultados de cada capítulo do li­


vro e sugerir novas aplicações para eles, extrai de cada capítulo os temas
recorrentes. Este livro oferece um enfoque de escolha racional para ques­
tões de política com parada, com referência particular à política da Europa
ocidental. Concretam ente, trata de dois ternas distintos: contexto político
c instituições políticas. Em conseqüência, sigo aqui este esquema: a Seção
I discute a questão da racionalidade; a Seção II trata de questões de con­
texto político (ou seja, jogos em m últiplas arenas); a Seção III diz respeito
a instituições políticas (isto é, o projeto institucional), e a Seção IV apre­
senta um a observação final.

/. RACIONALIDADE
O livro partiu do pressuposto de que as pessoas são racionais, ou seja,
elas se orientam por objetivos e escolhem os meios ótim os de alcançar esses
objetivos. O pressuposto im plícito de racionalidade é o denom inador co­
mum da m aioria das pesquisas em ciências sociais. O livro se distinguiu
do conjunto da pesquisa em política com parada por tornar explícito o pres­
suposto de racionalidade, extraindo todas as suas conseqüências e até m es­
mo utilizando as mais exigentes delas para derivar proposições testáveis
sobre países, partidos e instituições diferentes.
O pressuposto dc racionalidade e suas conseqüências (essencialm en­
te, a teoria dos jogos e a estática com parada) já exerceram e continuarão a
exercer im portante impacto sobre a ciência política. São duas as razões para
222 G EORC E TSEBE U S

esse impacto. A prim eira é que a racionalidade não é uma recém -chegada
na política, nas cicncias sociais ou na filosofia. Esse pressuposto pode re­
m ontar aos ideadores da constituição norte-am ericana, aos filósofos do Ilu-
m inism o ou à G récia antiga; na verdade, a maior parte da civilização oci­
dental se fundam enta nele. A escolha racional sim plesm ente leva a idéia
de racionalidade a seus lim ites lógicos. N esse sentido, faz parte de um a
tradição duradoura e se aproxim a de outras abordagens correntes na ciên­
cia política.
A segunda razão para o impacto do pressuposto de racionalidade, e a
mais importante, é que a racionalidade, juntam ente com suas conseqüências
(em outros term os, a teoria da escolha racional), pode evidenciar sérias
om issões ou erros do raciocínio intuitivo. Os paradoxos revelados pela es­
colha racional proliferaram ao longo dos anos, indicando que nossas intui-
ções não são guias confiáveis para com preender o mundo à nossa volta. Por
exemplo, depois da obra de Olson (1965) sobre a ação coletiva, fenômenos
conhecidos como os grupos sociais, em lugar de serem aceitos como dados,
tornam -se objeto de investigação. A incompatibilidade de algumas caracte­
rísticas elem entares da racionalidade e da eqüidade descobertas por Arrow
(1951) lançou nova luz sobre as instituições, dem ocráticas ou não. Votação,
abstenção, ignorância racional e informação são agora investigadas de no­
vas maneiras. O denominador comum de todas essas novas abordagens é a
crença de que somente o raciocínio intuitivo não é suficiente, de que é de­
sejável, sempre que possível, um raciocínio dedutivo mais rigoroso.
U tilizando um a perspectiva histórica, pode-se com parar o im pacto de
grandes program as de pesquisa como o behaviorism o e a escolha racional.
O im pacto durador da revolução com portam ental foi ter ela m odificado
nossa concepção do que constitui prova em pírica adequada. Para alcançar
conclusões em píricas, em vez de apresentar exem plos históricos que cor­
roboram um a assertiva geral, é hoje amplam ente aceito que deve ser estu­
dada toda um a população de eventos ou um a am ostra aleatória dela. O
im pacto duradouro do program a de pesquisa da escolha racional é que ele
muda nossa concepção do que constitui raciocínio teórico e coerente. Não
é verdade que o raciocínio teórico e coerente só pode ser encontrado em
m odelos formais, assim com o não é verdade que só se pode alcançar con­
clusões em píricas corretas mediante sofisticadas técnicas estatísticas. O que
é verdadeiro, porém , é que tanto a sofisticação m etodológica do program a
behaviorista quanto o rigor dedutivo de m odelos form ais podem ajudar
pesquisadores contem porâneos a atingir conclusões que som ente os mais
potentes espíritos podem alcançar sem tais ferram entas.
A credito que o pressuposto de racionalidade terá enorm e im pacto
organizador sobre as ciências sociais. Hoje o program a da escolha racio­
nal é criticado por ser ou trivial ou dem asiado exigente e restritivo. Este
livro oferece dois m otivos pelos quais essas acusações erram o alvo. O pri­
JO G O S OCULTOS 223

meiro foi apresentado no Capítulo 2, onde sustentei que processos com o o


aprendizado, a seleção natural, a heterogeneidade de indivíduos e a média
estatística podem conduzir aos mesmos resultados que a racionalidade. Sem ­
pre que tais condições se produzirem , a racionalidade propiciará um a boa
aproxim ação da realidade. O segundo motivo foi apresentado nos capítu­
los em píricos do livro (5, 6, 7), que dem onstraram concretam ente o poder
elucidativo do pressuposto de racionalidade.
Em cada capítulo encontramos um quebra-cabeças porque supus que
os atores eram racionais; não obstante, o seu com portam ento observado
pareceu não-ótimo. Portanto, o pressuposto de racionalidade define essen­
cialm ente o objeto deste livro.
O Capítulo 5 investigou o comportamento aparentem ente suicida dos
militantes do Partido Trabalhista britânico. Esse com portam ento só requer
explicação porque adotei explicitamente o pressuposto de racionalidade. De
m odo análogo, se o com portam ento dos m ilitantes parecia estranho, foi
porque norm alm ente se afirm a que seu com portam ento tem de fazer sen­
tido. Se fôssem os capazes de pressupor que os militantes são “fanáticos”,
com o B. Webb os descreve, ou que seu com portam ento não é instrumental
por ser determ inado por princípios, como afirma Epstein (1960, 385), não
haveria problema.
O Capítulo 6 concentrou-se no com portam ento contem porizador das
elites belgas. D entro da bibliografia consociacional, afirm ou-se que as eli­
tes belgas são independentes das massas que representam e possuem a capa­
cidade de fazer com promissos e acomodações. Se essa descrição estivesse
correta, seria de esperar que as elites belgas jam ais iniciassem conflitos
políticos. M as a bibliografia em pírica indica que às vezes o fazem. O utra
explicação do com portam ento contem porizador das elites na Bélgica foi a
barganha entre questões. Se essa explicação estivesse correta, as elites não
precisariam envolver-se na criação de instituições. A criação de instituições
teria de ser uma atividade redundante e, por consum ir recursos, subótima.
O Capítulo 7 investigou a coesão das coligações eleitorais francesas.
N a eleição francesa de 1978, não houve transferência de votos entre os
parceiros das coligações do modo com o indicavam as pesquisas, ou como
teriam previsto as teorias de votação espacial. Segundo essas teorias, não
deveria haver variação na qualidade das transferências dc votos dos diver­
sos distritos. A minha pesquisa, assim como as descobertas de Converse e
Pierce (1986), indicam que tais variações existem . Converse e Pierce uti­
lizaram identidades partidárias para explicar essas variações. Em bora as
identidades partidárias sejam variáveis independentes em sua explicação,
neste livro considerei-as um com portam ento ótim o sob as coerções do sis­
tem a eleitoral e a distribuição de votos no nível distrital.
O princípio de racionalidade e suas derivações forneceram os princi­
pais instrum entos que nos perm itiram observar por que algumas questões
224 GEORGE TSEBE U S

em píricas colocadas por investigações anteriores eram desprovidas de sen­


tido. Com efeito, vim os no Capítulo 5 que houve um debate acadêm ico
significativo sobre a força relativa do NEC contra os diferentes distritos
trabalhistas. Os argum entos nesse debate envolveram freqüências observa­
das de discordância entre os distritos e o NEC. Alguns acadêm icos e jorna­
listas em pregaram tem po e recursos para investigar “o jardim secreto da
política britânica”. U tilizaram técnicas engenhosas para descobrir não só
divergências públicas e visíveis, mas também privadas e invisíveis, com o
telegram as ou chamadas telefônicas entre o NEC e os distritos. Contudo, a
freqüência de divergência pública não indica poder; indica apenas im per­
feições inform acionais no jogo entre os distritos c o NEC. N a verdade, a
freqüência observada de divergências entre dois atores é irrelevante para
qualquer distribuição de poder. Nesse caso, o pressuposto de racionalidade
foi usado para avaiiar a validade dos argum entos empíricos.
O princípio da racionalidade e o correspondente método de estática
com parada tam bém podem conduzir à descoberta de argum entos teóricos
equivocados. D iscuti no Capítulo 7 um a explanação socíopsícoiógica da
relação entre aliados dentro de cada coligação apresentada por Rochon e
Pierce (1985). Consideraram as tensões no interior de cada coligação uma
indicação da inveja dos candidatos socialistas de seus aliados com unistas.
A conclusão de seu relato foi que “a coligação é mais harm ônica quando
é menos necessária” (Rochon e Pierce 1985, 439). Expliquei que essa des­
crição não pode ser verdadeira em equilíbrio e não pode valer por longo
período de tem po. Pelo menos um dos dois aliados teria rejeitado uma
aliança que não oferecesse nada quando fosse necessário. O princípio da
racionalidade e a análise da estática com parada perm itiram , assim , que
testássem os a validade de outros argum entos teóricos.
Enfim , por causa do princípio da racionalidade, decidi não aceitar
explicações históricas ou culturais fáceis. No Capítulo 7, expliquei a ano­
malia do com portam ento com unista. Pude fornecer um a explicação histó­
rica dos m otivos pelos quais os com unistas agiram dc modo diferente dos
outros partidos: eles não possuíam estratégia (ate o últim o m om ento).
Assim, fazia sentido afirmar que seu comportamento se assemelhava a ruído
aleatório. Além disso, todo um arrazoado referente à subeultura com unista
teria fornecido outra possível explicação do com portam ento com unista. A
explicação do com portam ento com unista apresentada no Capítulo 7 é bem
diferente. Os com unistas agem exatam ente da m esm a maneira que os ou­
tros partidos quando o modelo é especificado corretam ente e são levadas
em conta as restrições impostas pela opinião pública. Esse argum ento de­
monstra a inlercam biaüdade entre os atores mencionada no Capítulo 2. O
com portamento comunista é explicado unicamente pela racionalidade e pelas
restrições, sem referência a qualquer outro atributo não incluído explicita­
mente no modelo. Comunistas, socialistas, gaullistas e giscardianos se com ­
JO G O S OCULTOS 225

portam exatam ente da m esm a m aneira (com variações no tam anho dos
coeficientes), e seu com portam ento é determ inado pelo mesm o fator: pa­
reçam estar ganhando ou perdendo no prim eiro turno.
O pressuposto de racionalidade é responsável, portanto, pela escolha
dos tópicos de pesquisa, pelo teste dos argum entos teóricos ou em píricos e
por algum as das conclusões do livro.

II. CONTEXTO POLÍTICO


U tilizei neste livro um a teoria dos jogos elem entar para criar um
m odelo da interação entre atores políticos diferentes. A teoria dos jogos
difere de outras variações do program a da escolha racional (teoria da de­
cisão, teoria da escolha social ou teoria econôm ica) por criar um modelo
explítico da interação entre agentes que podem efetuar escolhas contingentes.
Dois dos jogos estudados no Capítulo 3 (o dilem a dos prisioneiros e o jogo
do im passe) possuem estratégias dominantes: cada jogador dispõe de um a
estratégia incondicionalm ente melhor. No que se refere aos outros dois jo ­
gos (do galinha e do seguro), o com portam ento ótim o de cada jogador
depende da escolha do oponente.
U sualm ente os jogos são estudados por seus equilíbrios; não se dá
atenção às variações dos payojfs. Este livro adotou um a perspectiva dife­
rente. D em onstrou que, quando são possíveis estratégias correlacionadas
(ou contingentes), é o valor do p a yo ff que determ ina a probabilidade de
adoção de estratégias diferentes. O mesm o resultado pode ser provado no
caso de jogos iterativos, seguindo a prova de Fudenber e M askin ( 1986)
do teorem a popular (segundo o qual qualquer resultado racional para um
indivíduo pode ser considerado um equilíbrio perfeito num jogo iterativo
com um horizonte de tempo suficientem ente longo). O Capítulo 3 provou
duas proposições fundam entais, que passei a usar no restante do livro. Es­
sas duas proposições (3.6 e 3.7) relacionam a m agnitude dos payojfs com
a probabilidade de estratégias diferentes em jogos iterativos, e são condi­
ções necessárias para o desenvolvim ento de jogos em m últiplas arenas.
Jogos em múltiplas arenas descrevem a situação em que um ator está
envolvido ao mesm o tempo em dois ou mais jogos ou, o que é equivalen­
te, situações com fatores externos. Os eventos ou as ações de um terceiro
jogador numa arena influenciam os payoffs dos jogadores na arena princi­
pal, e a magnitude dos payojfs determ ina as estratégias dos jogadores. For­
neço exem plos da aplicabilidade da teoria dos jogos ocultos, depois reca-
pitulo as principais descobertas dos capítulos anteriores.
A plicabilidade. No Capítulo 5, o jogo entre MPs e m ilitantes estava
oculto dentro da com petição eleitoral entre trabalhistas e conservadores no
plano distrital. A segurança da obtenção da cadeira determ inou os payoffs
226 GEORGE TSEBE U S

de ambos os jogadores e, portanto, a probabilidade de adoção de estraté­


gias diferentes. De modo sim ilar, o jogo entre m ilitantes e o NEC estava
oculto dentro do jogo com petitivo nacional entre os dois principais parti­
dos, e essa com petição determ inou os recursos disponíveis ao NEC e aos
m ilitantes em cada ponto no tempo.
Outra maneira de pensar sobre o Capítulo 5 é que ele apresentou re­
sultados de estática com parada, com parando distrito seguro e distrito m ar­
ginal, ou partidos britânicos centralizados e partidos norte-am ericanos des­
centralizados. Com efeito, em cada distrito, a força relativa dos trabalhistas
(ou seja, um evento exógeno) determ ina os diferentes payojfs do jogo, c
esses payojfs determ inam, por sua vez, o com portam ento dos atores (m ili­
tantes e MPs). A exposição diagram ática do argum ento do Capítulo 5 foi
apresentada na Figura 3.3A.
Podem -se encontrar freqüentem ente abordagens análogas para situa­
ções políticas sem o quadro téorico dos jogos ocultos. Tais explicações apre­
sentam analogias estruturais com a análise do C apítulo 5.
No cam po das relações internacionais, a teoria da estabilidade hege­
m ônica sustenta que “estruturas hegem ônicas de poder dom inadas por um
único país têm mais probabilidade de conduzir ao desenvolvimento de re­
gim es internacionais fortes cujas regras são relativam ente precisas e têm
bom grau de obediência” , e que “pode-se esperar que o declínio das estru­
turas hegem ônicas de poder preceda um declínio na força dos regim es eco­
nôm icos internacionais correspondentes” (Keohane 1981, 132).
Uma explicação das citações anteriores é que os países hegem ônicos
e os países menores ingressam num jogo iterativo1. Um terceiro jogador, a
natureza ou a história, decide se o país hegem ônico é forte ou fraco2. No
caso de um poder hegem ônico, os países pequenos dependem do país
hegem ônico, agindo de uma maneira cooperativa que gera “regimes inter­
nacionais fortes” e “regras” . D ependência significa que o com portam ento
cooperativo ou não-cooperativo por parte do país hegem ônico é essencial
para a o bem -estar dos países menores. No vocabulário deste livro, para
os países pequenos, R » P; portanto, de acordo com as proposições 3.6 e
3.7, os países pequenos agem de m aneira cooperativa. O declínio do po­
der hegem ônico dim inui a dependência dos países m enores e aum enta a
probabilidade de estratégias não-cooperativas.
Outro exem plo pode ser fornecido pelo papel dom inante das em pre­
sas privadas nas sociedades capitalistas. Lindblom (1977) insiste em afir­
m ar que a em presa não é apenas um lobby a mais e que as autoridades
públicas precisam dar atenção particular às exigências políticas das firmas.

1. A m a io ria d o s a n a lis ta s a firm a q u e s c tra ta d c u m jo g o d o d ile m a d o s p ris io n e iro s , m a s, c o m o m o s tro u o C a p í­


tu lo 3 , p e lo fa to d c o jo g o s e r ite ra tiv o , o q u e im p o rta é a m a g n itu d e d o s payoffs, c n ã o s u a o rd e m .
2 . D o m e s m o m o d o q u e u m te rc e iro jo g a d o r d e c id ia s e u m d is trito c r a s e g u ro o u m a rg in a l, n o C a p ítu lo 5.
JOG OS OCULTOS

A idéia não é nova. A análise m arxista salientou por muito tem po o fato
de que a “burguesia” é a classe dom inante no capitalism o. Przew orski
(1980) interpretou o conceito gram sciano de hegem onia dentro dessa li­
nha, sustentando que, nas sociedades capitalistas, qualquer outra classe
depende dos detentores dos meios de produção, pois somente os capitalis­
tas possuem o poder para investir3. Em term os de jogos em m últiplas are­
nas, um a certa distribuição inicial da riqueza e dos meios de produção tornou
outras classes dependentes da burguesia. Para todo grupo ou classe social
em seu jogo do dilem a dos prisioneiros com as em presas, R » P, e, de
acordo com os argum entos anteriores, é provável a cooperação.
M uitos autores julgam que a ruptura do consenso social na década de
70 é o resultado da manutenção de um dólar supervalorizado que leva ao
térm ino das taxas fixas de câm bio, à súbita ascensão do preço do petróleo,
ao protecionism o crescente, à inflação, à recessão, à depressão e à crise
econôm ica (Berger 1981; Boltho 1982; Bruno e Sachs 1985; G oldthorpe
1984; Gourevitch 1986). Novam ente, no vocabulário deste livro, um cho­
que exógeno modifica os payojfs dos atores de tal modo que a cooperação
se torna menos provável.
Bates (1983, 14-16) oferece outro caso de m odificação da probabili­
dade de cooperação pela matriz de payojfs do jogo. Em sua reinterpretação
de The Niter, de E vans-Pritchard, Bates insiste em dizer que os vínculos
transversais existentes entre as tribos são mecanism os indutores de coope­
ração. Com efeito, quando um homem possui um a esposa de outro grupo,
ele tem um interesse material na cooperação com esse grupo, pois o pa yoff
dc tentação se reduz quando ele briga com o grupo de sua esposa: “ela pode
tornar a vida bastante desagradável para ele” . M ais uma vez, a redução de
T na matriz dc p a yoff do jogo tem a conseqüência de aum entar a probabi­
lidade de cooperação (proposição 3.7).
Em todos esses estudos, reaparece o m esm o tema: algum choque
exógeno ou condições diferentes explicam as diferenças na matriz de payojfs
dos jogadores, matriz que afeta a probabilidade de cooperação. Todas es­
sas análises baseiam -se fortem ente num pressuposto im portante e não-de-
clarado: o de que a interação é iterativa e a inform ação, incom pleta, ou de
que os atores são capazes de desenvolver estratégias correlacionadas, por­
que, com o indicou a minha análise no Capítulo 3, tais análises não sc sus­
tentam em jogos de uma só jogada sem estratégias correlacionadas.
No Capítulo 6 exam inei o problem a inverso: o jogo entre as elites
estava oculto na relação principal-agente que cada líder m antinha com suas
bases, c essa relação determ inava os payoffs das elites no jogo parlam en­

3 . A m a io ria d o s m a rx is ta s , p o ré m , n e g a ria m q u e tra b a lh a d o re s e c a p ila li.sta s e s tã o e n v o lv id o s n u m jo g o d o d i­


le m a d o s p ris io n e iro s . S e a m e lh o r a ç ã o p a r a a c la s s e ira b a lh a d o ra é a re v o lu ç ã o , e n tã o o m o d e lo a p ro p ria d o
p a r a a in te ra ç ã o e n tre c a p ita lis ta s e tra b a lh a d o re s é o jo g o d o im p a s se .
GEORGE TSEBE U S

tar. A Figura 3.3B apresentou lima descrição sum ária do argum ento do
Capítulo 6: as bases influenciam os payojfs de seus respectivos líderes num
esquem a que lem bra a letra grega pi.
U m a explicação análoga do tipo pi pode ser encontrada na exposição
do fracasso da emenda Powell na Câmara dos Deputados dos Estados Uni­
dos, tal com o foi relatada por Denzau, Riker e Shepsle (1985). Em 1956,
quando estava sendo discutido na Câmara dos Deputados um projeto de lei
sobre ajuda federal à educação, um representante negro do H arlem , Adam
Clayton Powell, apresentou uma emenda onde especificava que a ajuda fede­
ral deveria scr dada somente àquelas escolas que não praticassem segrega­
ção4. Existem indícios substanciais de que a liderança republicana votou a
favor da emenda para derrotar o projeto de lei na votação final no plenário.
O cx-presidente Truman advertira a liderança dem ocrata sobre a probabili­
dade desse resultado e pedira aos democratas que votassem contra a emenda
Powell; desse modo, pelo menos as escolas (independentemente da segrega­
ção) receberiam ajuda federal (ver Congre.ssional Record, vol. 102, Parte 9,
p. 11 758). Suas advertências não foram levadas em conta. Como antecipara
Truman, a emenda foi aceita e o projeto de lei emendado foi rejeitado. N o­
venta e sete votos mudaram de “sim ” na emenda para “não” na aprovação do
projeto final, indicando uma parcela significativa de votação sofisticada.
Segundo Denzau, Riker e Shepsle (1985), os republicanos poderiam
votar estrategicam ente, enquanto os dem ocratas liberais não o podiam ,
devido h relação de cada grupo com seu distrito: os dem ocratas liberais
provinham de distritos mais sensíveis às questões raciais. Os representan­
tes passariam por maus bocados se tentassem explicar aos eleitores seu voto
sofisticado contra a em enda Powell.
Putnam (1988) adotou um enfoque sim ilar no que ele cham a de jogo
em dois níveis. Ele exam ina conferências econôm icas internacionais dc
cúpula cujos acordos finais devem caracteristicam ente ratificados pelos par­
lamentos nacionais. Tanto D enzau, R iker e Shepsle quanto Putnam utili­
zam, cm suas explicações, jogos seqüenciais, em contraposição aos jogos
sim ultâneos deste livro: no primeiro turno, as elites interagem ; no segun­
do, as bases apoiam ou desaprovam.
A xeirod (1987) estudou a interação entre política interna e política
internacional usando o que ele chama de “paradigm a gam a” . Concentrou-
se na interação entre, de um lado, a adm inistração norte-am ericana e a
liderança soviética c, de outro, a opinião pública norte-am ericana. Forne­
ceu razões para não tratar da relação entre os líderes soviéticos e o públi­
co soviético. O resultado é que seu esquem a explanatório assem elha-se à
letra gam a, e não à letra pi.

4 . 1’a n i u s p o rm e n o re s d a h is tó r ia e d o s d ife re n te s g r u p o s p o lític o s q u e e s ta v a m p o r trá s d a e m e n d a P o w e ll. d o


p ro je to d e le i e d o siatus i/uo a n te rio r, v e r R ik e r (1 9 8 3 ).
JO G O S OCULTOS 229

Scharpf (1987) em pregou uma abordagem sem elhante para analisar a


economia política de quatro países europeus nos anos 70. Lange (1984) uti­
lizou um modelo conceituai análogo para investigar negociações entre o tra­
balho e o capital. Lange e Tsebelis (1988) usaram um modelo de negociação
com informação incompleta no qual atores externos (militantes operários, go­
verno, concorrência internacional) influenciam os payoffs dos trabalhadores
e do capital para explicar atividades grevistas em países capitalistas. Tsebelis
(no prelo) utiliza o quadro dos jogos ocultos para investigar o im pacto da
política interna sobre as sanções econômicas internacionais. Para investigar a
questão do comércio europeu de gás, Alt e Eichengreen (1988) desenvolve­
ram os conceitos de jogos paralelos e jogos superpostos.
A pesar das diferenças, todos esses estudos com partilham a caracte­
rística de que um ou dois partidos influenciam a maneira pela qual as eli­
tes políticas interagem entre si. Novam ente, em todos esses casos, o pres­
suposto não-explicitado é que os jogos são iterativos e que a inform ação é
incom pleta; de outro modo, mudanças nos payoffs não alterariam necessa­
riam ente o com portam ento dos atores, com o dem onstrou o Capítulo 3.
No Capítulo 7, o jogo do dilem a dos prisioneiros entre os parceiros
de cada coligação no plano nacional estava oculto dentro de um jogo no
âm bito distrital, as condições prevalecentes no plano local determ inaram
os payoffs de cada jogador, os quais, por sua vez, determ inaram a proba­
bilidade de coesão dentro de cada coligação. A representação resum ida do
argum ento é apresentada na Figura 3.3C.
Não conheço outro estudo que utilize essa representação ou uma si­
milar. Contudo, pode-se im aginar que o mesm o enfoque será útil sem pre
que duas coligações se enfrentarem : por exem plo, as relações Leste-O este,
ou a interação entre trabalho e adm inistração5.
Resum o das descobertas. Vimos no Capítulo 5 que a freqüência de
divergência entre os militantes e o NEC não revelou qualquer inform ação
sobre a distribuição de poder dentro do partido. Em jogos de um a só jo ­
gada com inform ação perfeita não há possibilidade de conflito aberto en­
tre militantes e MPs, ou entre m ilitantes e o NEC. O conflito pode surgir
apenas sob condições de informação incompleta: um processo de sinaliza­
ção que indica o desejo de um ator de escolher um equilíbrio diferente no
jogo da reindicação. Portanto, a divergência franca pode ser um sinal
em itido por qualquer ator e não apresenta relação com o poder. A única
previsão significativa que pode ser feita nesse contexto provém do quadro
dos jogos ocultos: pelos pressupostos do modelo, os distritos marginais têm
mais probabilidade de ter MPs moderados do que os distritos seguros. Testes
em píricos sobre a dissensão entre 1974 e 1979 na C âm ara dos Comuns
corroboraram as expectativas teóricas.
5. S u s te n u m d o q u e tr a b a lh o e c a p ita l s e c o m p õ e m d e v á ria s o rg u n iz a ç õ e s c iid a um .
2J0 GEORCE TSEHELIS

No C apítulo 6 criei um modelo explícito das interações entre os jo ­


gadores para explicar conflitos iniciados pelas elites. As elites estiveram
envolvidas num jogo do galinha e, ao iniciarem o conflito, tentaram esco­
lher o equilíbrio de Nash mais vantajoso. Nem a bibliografia consociacio-
nal nem a teoria da votação sofisticada poderiam explicar esse fenômeno,
pois evitaram o uso de conceitos da teoria dos jogos. Em conseqüência,
não podem explicar o com portam ento contingente.
No Capítulo 7 apliquei a teoria dos jogos ocultos a um teste empírico
mais estrito. Encontrei um a série de regularidades em píricas que corrobo­
raram suas previsões, ao mesmo tempo em que falsearam aquelas feitas por
m odelos espaciais ou por outras teorias. A análise dos jogos ocultos tam ­
bém me perm itiu explicar conceitos sociopsicológicos tais com o a identi­
dade partidária. Segundo minha exposição, a distribuição de forças entre
as quatro fam ílias dá conta das variações nas afinidades partidárias.
Concretam ente, a teoria dos jogos ocultos é uma forma de transplan­
tar o contexto para a teoria dos jogos. N a verdade, em vez de sustentar
que as pessoas jogam num vácuo, ela mostra que esses jogos estão inseri­
dos em alguma rede dc ordem superior. Essa rede de jogos, em minha abor­
dagem, determ ina os payoffs dos jogadores.
Todos os meus resultados apontam para a conclusão de que o con­
texto político é im portante de maneira previsível, pois influenciam os pay­
offs dos diferentes jogadores nos jogos ocultos, e esses payoffs influenciam
a escolha das estratégias.

///. INSTITUIÇÕES POLÍTICAS


A bibliografia da escolha racional costum a classificar as instituições
como coerções impostas às ações de atores racionais. O Capítulo 4 investi­
gou o problem a inverso: o problem a do projeto institucional. Essa discus­
são representa a exploração de um território não-m apeado. Pode-se afirmar
que a mais im portante contribuição desse capítulo residiu em sua classifi­
cação das instituições em eficientes e redistributivas. Além disso, forneceu
um a classificação das instituições redistributivas em instituições de consoli­
dação e de new deal. Essa distinção particular é importante porque explica­
ções anteriores se limitaram a extrapolar a partir de uma dessas categorias.
Para os econom istas, as instituições são eficientes; para os m arxistas, são
consolidadoras; para os liberais, são do tipo new deal. Sustento que é mais
frutífero reconhecer tipos diferentes de instituição, especulando sobre a
probabilidade de que a falta de informação acerca de eventos futuros pro­
duza m ais instituições eficientes do que redistributivas, enquanto a infor­
m ação perfeita sobre eventos futuros produzirá instituições redistributivas
ou de consolidação ou da variedade new deal.
JO G O S OCULTOS

Os capítulos em píricos do livro analisaram as instituições a partir do


pressuposto de que eram dadas de modo exógeno e estudaram o com por­
tam ento hum ano dentro do quadro institucional existente. No entanto,
dem onstrei em cada capítulo por que alguns ou todos os atores não esta-
vam satisfeitos com os resultados produzidos pelas instituições existentes.
Essa observação levou ao estudo da mudança institucional com o urna ati­
vidade política deliberada.
No C apítulo 5, a análise das instituições do Partido Trabalhista nos
term os da teoria dos jogos dem onstrou que, contrariam ente ao que se acre­
ditava, a cláusula da reindicação referendada não alterou de maneira fun­
dam ental o equilíbrio de forças entre a esquerda e a direita, ou entre os
distritos eleitorais e a liderança. Em vez disso, refletiu a mudança no equi­
líbrio de forças que resultou do deslocam ento dos sindicatos para a esquerda
durante os anos 70. Essa modesta reforma institucional era o m elhor que
os m ilitantes dos distritos podiam fazer, porque era a única reform a que
os sindicatos podiam apoiar. Os novos estatutos do Partido Trabalhista
constituíram um exemplo de instituição redistributiva da variedade new decil,
pois realinharam parte da coligação vencedora anterior (os sindicatos) com
os perdedores anteriores (os militantes dos distritos), a fim de redistribuir
o poder dentro do partido.
M ostrei no Capítulo 6 que as instituições mais do que a barganha de
votos podem produzir resultados consociacionais. A própria existência de
instituições consociacionais indicou que a barganha de votos entre ques­
tões assim étricas não foi uma solução suficiente para a adm inistração dos
conflitos em dem ocracias consociacionais. Podem os dizer que o papel das
instituições é exatam ente o oposto: em lugar de facilitar a barganha dc
votos, as instituições conferem jurisdições exclusivas sobre questões de im­
portância assim étrica. Ao fazer isso, as instituições belgas levam o resulta­
do ate a fronteira de Pareto, e são eficientes.
O Capítulo 7 dem onstrou dc que maneira se pode usar as instituições
com o recursos na disputa política, e com o se podem criar as instituições
redistributivas da variedade de consolidação. Cada coligação no poder esco­
lheu um sistem a eleitoral que melhorasse sua posição às custas do perdedor.
Além disso, o elem ento de incerteza foi manipulado estrategicam ente com
o uso do A rtigo 38 da C onstituição, de form a que o resultado fosse efi­
ciente para os m em bros da coligação majoritária.
A política da mudança institucional foi descrita com poucos detalhes
no Capítulo 6, no qual as instituições adotadas levaram o resultado para a
fronteira de Pareto. No entanto, isso foi tratado de m aneira mais extensa
nos C apítulos 5 e 7, nos quais a m udança institucional fez parte do pró­
prio conflito político. Tanto no Capítulo 5 com o no Capítulo 7 tive de
explicar que as mudanças institucionais específicas são resultados ótimos,
ou seja, m ostrar que ficaram em m elhor situação do que as coligações
232 C EORGE TSEBELIS

existentes anteriorm ente, e que nenhum a outra opção factível colocaria a


coligação vencedora em melhor situação.
A minha classificação das instituições e minhas conjecturas sobre as
precondições inform acionais das instituições eficientes e redistributivas es­
tão, todavia, longe de serem afirmações teóricas. A investigação teórica das
questões e os testes sistem áticos da teoria estão por fazer.

IV. UMA NOTA FINAL


O sucesso do quadro dos jogos ocultos em cada um dos tópicos abor­
dados neste livro variou de acordo com a qualidade dos dados, assim como
com a existência de teorias bem desenvolvidas. Esse sucesso não deve des­
viar os leitores, porém , da mais importante realização: é essencialm ente a
m esm a teoria que é testada em cada contexto.
O núcleo da teoria consiste de algumas idéias bem sim ples: escolhas
aparentem ente subótim as indicam a presença de jogos ocultos (seja jogos
em m últiplas arenas, seja projeto institucional); em jogos em m últiplas are­
nas, eventos ou estratégias numa arena influenciam a maneira pela qual o
jog o é jogado em outra arena; o projeto institucional se refere à escolha
das regras, em contraposição à escolha das estratégias dentro das regras
existentes. A com binação dessas idéias foi suficiente para explicar um a
variedade de fenôm enos, e a generalidade do tratam ento indica que as apli­
cações podem multiplicar-se.
Os fenôm enos aqui abrangidos não esgotam de modo algum a lista
de aplicações dos jogos ocultos ou do projeto institucional. Na introdução
e nas conclusões dos Capítulos 5, 6 e 7, indiquei possíveis aplicações dos
jogos ocultos. Elas incluem teoria das coligações, conflito de classes, po­
lítica de facções, questões políticas internacionais/internas, reputação, ide­
ologia e o estudo das instituições.
Este livro dem onstrou m aneiras de utilizar a idéia dc jogos ocultos
em apenas três áreas da política com parada da E uropa O cidental: form a­
ção de instituições,.política partidária e coligações. N ão pretende ser a
ultim a palavra sobre qualquer uma dessas questões. Luta para ser um a das
prim eiras palavras numa abordagem em ergente da política com parada.
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ÍNDICE REMISSIVO

Acom odação, estratégias de. Ver Estratégias dc C álculo de probabilidade: racionalidade e, 40.
acom odação. C allaghan, Jam es, 145.
A m eaças: na teoria dos jogos, 78, 7 9 , 83-84, Câmara de D eputados dos Estados Unidos: vo­
128-129, 130, 138, 178. tação estratégica na, 228.
A nálise de sistem as: c cicncia política, 33, 34. Campanha pela Dem ocracia do Partido Traba­
Anarquia: e orclem, 109. lhista (CLPD): estratégias eleitorais da, 145,
Aposta cega. Ver Dutc/i Book. M 9-J50; formação e crescim ento da, J45;
Aprendizado: cscolha racional e, 3 7 -3 8 ,4 6, 223. e indicação dc candidatos parlamentares,
Arena eleitoral: elites e, 158, 163, 164-165. 146, 151-152; influência da, 145-150.
Arena parlamentar: elites e, 158, 163-165, 168, Campanha pela Vitória Trabalhista (CLV): for­
169-170. mação da, 150.
Arena principal: nalureza da, 22. Capitalismo: e múltiplas arenas, 227.
Atores não-racionais,: escolha racional c, 37; Centralism o democrático: os partidos com unis­
teorias com , 35-38. tas e o, 20.
Atores: e escolha racional, 56, 222-223, 230; e Chirac, Jacques, 199, 215; estratégia parlamen­
as instituições, 104, 105, 106, 1 13-115; re­ tar de, 216-218.
lação com observadores, 22, 24; e regras do C iência política: análise de sistem as e, 33, 34;
jogo, 99-100; teorias sem , 34-35. análise marxista da, 27, 35, 107, 109, 116-
Baycs: c racionalidade, 37, 42, 43. I 17, 227, 230; com atores não-racionais,
Bchaviorism o, 222. 36-38; conflito socioecon ôm ico e, 35; eco ­
Bélgica: consocionalism o na, 28, 29, 158, 166- nomia, 27; estruturalismo e, 33, 34; funcio­
167, 169, 176, 223; constituição da, 173, nalism o e, 34; m odernização e, 34; e racio­
175; educação com o questão p olílíca na, cínio dedutivo, 53-54; sem atores, 33-35.
173, 174; partidos políticos na, 169; políti­ C iências sociais: racionalidade e as, 222.
ca na, 17, 21, 28, 29, 68, 73, 83, 99, 106, Coligações: caráter das, 30, 106, 181, 224; co ­
113, 158-159, 161, 167, 168-179, 223; esão das, 192-200, 204-206, 207-208, 233;
com o sociedade segmentada, 169-170, 173, com petição na formação de, 181; coopera­
174, 176-177, 178-179. ção na formação de, 181; politien francesa,
Bevan, Aneurin: e dissensão no Partido Traba­ 183-187, 190-195, 197-198, 201-203, 223-
lhista, 141, 142. 225; com o jogos ocultos, 181-182, 188-195,
Brandt, W illy, 101. 2 0 7 ,2 1 8 ; e instituições redistributivas, 113-
246 G EORGE TSEBELIS

115, 117-118, 215-218; e interesses parti­ iterativo, 79-81, 85, 105, 112-113; Pacto de
dários, 188-189, 194, 1 9 5 ,2 0 3 -2 0 4 ,3 2 1 0 - Egmont com o, 177-178; soluções institucio­
2 1 1 ,2 1 2 -2 1 3 ,2 1 4 , 2 2 3 ,2 2 9 , 232; e payoffs nais para o, 109-112; solu ções para o, 87-
variáveis, 181-182, 188-192; e a teoria dos 92.
jogo s, 181. Downsianos, m odela1;. Ver M odelos espaciais de
Comitê Executivo Nacional (NEC), 123; e candi­ votação.
datos a MP, 136-143, 146, 148, 151-152, Dutch Book (aposta cega), 40; definição, 57-58.
J65; com prom issos com , 141-142; estraté­ Educação: com o questão política na Bélgica,
gias eleitorais do, 137-138; influência dos 173, 174.
sindicatos no, 144; poder de veto sobre o Elites: e arena eleitoral, 158, 163, 164, 168, 169-
GM C, 136-139, 140-142, 143, 148, 149, 170; c arena parlamentar, 158, 161-164,
224, 226, 229; recusa Pulmer, 142. 168, 169-170; e estratégias de acomodação,
Com petição: com o estratégia política, 183, 186- 159-160, 1 6 1 ,1 6 9 -1 7 0 , 173-174, 177-178,
187, 195, 204; na formação de coligações, 179, 223; iniciam conflito, 169-170, 178,
181. 180, 223, 229; interação entre, 157, 158,
Comportamento humano: racionalidade e, 43- 160, 162, 165-167, 228-229; e massas, 159,
5 0 ,5 2 , 56, 97, 110; racionalidade com o m o­ 165, 169-170, 180, 223; participação em
delo de, 44-45; racionalidade com o subcon­ m últiplas arenas, 158, 163-164; na tomada
junto de, 45. de decisões, 157-158, 163, 165, 178.
Com prom isso: e intransigência, 161-163, 164, Equilíbrio, 7 1. 74, 82, 8 9 ,2 3 0 ; definição, 41-42,
169-170, 176-177. 61; escolha racional e, 5 2 -5 3 , 6 3 -6 4 , 72,
C onflito: iniciado pelas elites, 169-170, 178, 130,222; estratégias contingentes e, 76-77,
180, 223, 230; na sociedade segm entada, 82-83, 84-85, 230; instituições e, 100-102;
178-179. ótim o de Pareto e, 7 4 , 112; e previsões, 52-
Conjuntos de inform ação, 62. 5 3 ,6 4 ; teoria dos jogos e, 41 -43, 47, 61, 80,
C onselho de Direção Geral (GM C): e candida­ 2 2 1 -2 2 2 .
tos parlamentares, 125-128, 130-131, 133, Escolha racional: abordagem estatística e, 48-
138, (46-148, 149, 151, 152; com prom is­ 50, 223; aplicabilidade da, 45, 49-50, 55-
sos por parte do, 128-129; estratégias elei­ 56; e aprendizado, 37, 46, 223; e argumen­
torais do, 127-129, 130-131; poder de veto to “com o se”, 44; atores e, 56, 223, 230,
do NEC ao, 136-138, 140-142, 143, 148, 231; e atores não-racionais, 36-37; clareza
149, 224, 2 2 6 ,2 2 9 . c parcimônia teóricas da, 51; e equilíbrio,
C onsocionalisino, 159, 160, 161-162, 165-166, 52, 62-64, 72, 130, 222, 224; e estratégias
1 6 9 -1 70 .2 3 l;n a Bélgica, 28, 29, 158, 166, contingentes, 90; Friedman e, 4 4 ,4 5 ,4 6 ,4 7 ;
168-169, 176-177, 223; c disponibilidade inform ação disponível e, 4 5 -4 6 , 127-128,
de inform ação disponível, 165, 168; nuture- 229; c instituições, 103-107, 180; e inter-
za d o , 160, 161; e payojfs variáveis, 162;e cam bialidade de indivíduos, 5 4 -5 5 , 223,
projeto institucional, 29, 158, 169, 170-176. 224; militantes políticos e, 122-123, 151,-
Ver uunbétn Estratégias dc acomodação. 152, 223, 225-226, 229; partidos políticos
Cooperação: no dilem a dos prisioneiros Gog°)> e, 122-123; na política, 17, 21-22, 26, 35-
7 1 ,7 7 ,8 7 -9 2 , 1 10-113, 192, 227; com o es­ 38; e raciocínio dedutivo, 39, 53-54; e s e ­
tratégia ótim a, 172-173; com o estratégia leção natural, 4 7 -4 8 , 223; e a teoria dos
política, 171-175, 184, 186-187, 188-190, jog o s, 6 2 -6 4 , 71; vantagens da, 50-54;
196, 227; na formação de coligações, 181. W eber e, 55. Ver também Racionalidade.
Dem ocracia: caráter da, 157-158; consouona- Estabilidade hegemônica: e jogos iterativos, 226.
lism o numa, 159, 160, 161, 164-166, 169- Estados Unidos: eleiçõ es primárias nos, 184;
170, 231; tom ada de decisões numa, 157- processos políticos n o s,122, 135-136, 140,
158, 164-166. 226.
D ilem a dos prisioneiros (jogo), 69-70, 72-76, EsliUica comparativa. Ver Equilíbrio.
8 4 ,9 6 , 105, 107, 109, 162, 163, 168, 170, Estratégias contingentes: no dilem a dos prisio­
171, 188, 225; cooperação no, 71, 78, 87- neiros (jogo), 75-76, 77, 84, 87-92; eq u ilí­
92, 110-112, 192, 227; estratégias contin­ brio com , 76, 82-83, 84-85; escolha racio­
gentes no, 7 5 -7 6 , 78, 84, 87-92, 110-111; nal e, 89; e jogos iterativos, 79-84, 123, 129-
JO G O S OCULTOS 247

131; na política. 7 8 , 123, 164, 180, 189, Ideologia,48, 164, 166, 18l;eracionalidade, 30,
227; na teoria dos jog o s, 75-79. 103, 123, 152, 232.
Estratégias corrclacionuúas. Ver Estratégias co»- Imp<asse (jogo), 69, 70, 71, 72, 74, 84, 93, 94,
tingentes. 162, 177-178, 188, 2 2 5 ,2 2 7 .
Estratégias de acom odação: elites e, 158-159, Indução retroativa: na teoria dos jog o s, 80-82.
161, 169-170, 173-174, 179, 223; e o inte­ Informação disponível: consocionalism o e, 165-
resse próprio, 159-160; m otivações para, 166, 168; escolha racional e, 46, 128 ,2 2 8 -
159-160. Ver tumbém Consocionalism o. 229.
Estratégias ótim as, 17, 21-22, 70; cooperação e, Instituições eficientes, 100, 107-113, 118-119,
\n -\1 3 \p a yo JJs variáveis e, 79, 8 0 -8 1, 98, 231; definição, 107-108; caráter das, 109-
127-129, 130-132, 171, 225-226; raciona­ 110, 116.
lidade e, 41-42, 206-207, 211. Ver também Instituições políticas, 100-101, 107, 108, 113,
Estratégias subótim as. 117-119, 230-231.
Estratégias subótim as, 17-21, 2 2 -2 3 , 2 4 , 30; Instituições redistributivas, 100, 107, 113-117,
jogos ocultos e, 5 0 -5 1, 52, 232. I 19, 231; caráter das, 113, 116, 230; co li­
Estruturalismo: e ciência política, 33, 34. gações e , 113-115, I 18, 215-218; de con ­
Fagerholm, Karl-Auglist, 18. solidação, 27, 28, 115-117, 183, 2 1 1, 2 15,
Fatores externos: e jogos ocultos, 67-68. 217, 218, 230-231; de consolidação, d efi­
Finlândia: Partido Comunista na, 18-20, 66; elei­ nição, 113; definição, 107-108; de new deal,
ções presidenciais na, 18-20, 52, 159; 27, 28, 115-117, 150, 230; de new deal.
Kekkonen eleito presidente da, 18-20, 159; definição, l 13; Partido Trabalhista, 23 I.
Partido Socialista na, 19-20, 52, 66. Instituições; atores e, 104-105, 106, 113-115,
França: coligações políticas na, 183-185, 223- 2 3 0 -2 3 1; definição, 99, 100, 102; equilíbrio
225; eleições de 1978 na, 182, 195,200,206, nas, 100-101, 102, 168, 206; escolha racio­
2 0 9 .2 1 1 -2 1 3 ,2 1 8 ,223;eleições de 1986 na, nal e, 103-106, 180,230; com o investim en­
215-216, 218; estabilidade política na, 183, tos, 99, 10 0 -103; e jogos ocultos, 115-116.
2 14; evolução do sistem a eleitoral, 211-218; 181; mudanças nas, 103, I 18, 231; origem
partidos políticos, 183-185, 195, 198-199, das, 100, 103-106; papel das, 97, 98, 101-
212-214, 224, ver também pelos nomes dos 103, 104; com o solu ções para o jo g o do
partidos ; política da Quinta República, ver dilem a dos prisioneiros, 109, 111-113.
França, política na; política na, 17, 28, 30, Interesses partidários: coligações e, 188-190,
6 8, 99, 106, 114, 123, 183-185, 195-218, 193-194, 195, 2 0 2 -2 0 3 ,2 1 0 -2 1 1 ,2 1 3 ,2 1 4 ,
2 23-224; projeto institucional na política, 223, 2 2 9 ,2 3 2 .
183; representação proporcional na, 211- Intransigência: com prom isso e, 161, 162, 163,
215; sislcm a eleitoral na, 183-187, 189-190, 164, 170, 176-177.
1 9 5 .2 1 2 -2 0 4 ,2 1 0 -2 1 1 ,2 2 2 . Investimentos: instituições com o, 99, 100-103.
Friedman, Milton: e escolha racional, 44-45, 46, Irlanda do Norte: enquanto sociedade segm en­
47. tada, 179.
Funcionalism o; e ciência política, 34. Irracionalidade motivada, 152.
G aitskell, llu g h , 142, 143. Jenkins, Roy, 150.
G alinha (jogo), 6 9 ,7 1 ,7 2 ,7 4 -7 5 ,7 8 ,7 9 , 84, 93, Jogo: definição de, 6 2-64, 98.
9 5, 96, 112, 130, 162, 163, 164, 168, 170, Jogos de três pessoas: e payojfs variáveis, 62-
171, 178, 189, 192, 225, 230. 68, 226.
G aullista, partido (R PR ), 183, 195, 1 9 9 ,2 0 3 , Jogos dois-por-dois, 68-75, 79-80, 84, 130.
208, 214, 215-216, 224. Jogos em múltiplas arenas. Ver M últiplas arenas.
Giscard d ’Estaing, Valéry, 183, 195. Jogos iterativos: dilem a dos prisioneiros e, 79-
G iscardiano, partido (U D F), 183, 1 9 5 ,2 0 2 ,2 0 8 , 80, 84-85, 104-105, 1 12-113; estabilidade
214, 216, 224. hegem ônica e, 226; estratégias contingen­
Goldwater, Barry: militantes políticos e, 122. tes e, 7 9 -8 2 , 84-85; 123, 129-130; 230;
Grã-Bretanha: política na, 27-28, 121-156,225- payojfs variáveis e, 79, 85, 139, 168, 225;
226. Ver também pelos nomes dos partidos. teorema popular, 82, 225.
H erestética, 26. Jogos ocultos: coligações com o, 181-182, 188-
Holanda: enquanto sociedade segm entada, 179. 195, 207, 218; e escolhas subótim as, 5 0 -5 1,
2 4H GEORGE TSEBE U S

52, 62-64, 232; fatores externos e, 67-68; Observadores: relacionam entos com atores, 22,
instituições e, I 15-116, 181; natureza dos, 24.
22-24, 26-27, 225, 227, 230; política c, 158, Ordem: anarquia e, 109.
169, 170, 1 8 1 -1 8 4 ,2 2 6 ,2 2 8 ,2 2 9 ; tipos de, Ótimo de Pareto, 72-75, 83, 105, 109, 171, 172,
23-24. 173, 174, 176, 178, 180, 2 3 1; e equilíbrio,
Jogos políticos. Ver Política. 74, I 12.
Kant, Immamiel, 110. Paasikivi, Juo Kusíi, 18, 19.
Kckkonen, Ujho: eleito presidente da Finlândia, Pacto Egmont (1977), 169, 176-178; com o jogo
18-19, 159. do dilem a dos prisioneiros, 177.
Kolm ógorov, Andrei N ikolevilch, 57. Palmer, John: recusado pelo N EC , 142.
Lógica formal. Ver R aciocínio dedutivo. Partido Comunista Francês (PCF), 122, 198-200,
M achiavelli, N iccolo, 109. 204, 2 1 3 -2 )4 , 224; estratégias eleitorais do,
Mar*, Karl, 35, 107. 109. 2 00-201, 204, 2 07-209, 2 13-214, 224.
Massas: elites e, 159-160, 164, 169-170, 180, Partido comunista: e ceturalismo dem ocrático,
223; na tomada de decisões, 157-158, 178. 20; na Finlândia, 18-20, 66; na França, ver
McGovern, George: militantes políticos e, 122. Partido C om unista Francês.
McKay, Margaret: recusada por se» disiriloelei- Partido Conservador (britânico): cadeiras mar­
loial, 121. ginais do, 132-133, 226.
M ellish, Bob: recusado por seu distrito eleito­ Partido .Social Dem ocrata (inglês): criação do,
ral, 122, 123, 127, 158.
Militantes políticos: e escolha racional, 122-123, Partido Socialista (PS), 183, 195, 199-200,206,
152, 22 5 -2 2 6 , 229; e G oldwaler, J22; e 207, 208, 210, 217, 224; estratégias eleito ­
McGovern, 122; preferências dos, 127-128. rais do, 204, 213.
M ilne, Eddie: recusado por seu distrito eleito­ Partido socialista: na Finlândia, 19-20, 52, 66;
ral, 121. na Fi ança. Ver Partido Socialista (PS).
Mitterrand, François, 212, 213, 214, 2J5, 218. PartidoTraballiífíla (britânico), 17,28-29,99, 106,
M odelos espaciais de votação, 3 0 .2 0 4 ,2 0 7 ,2 1 0 , 115; aumento na afiliação, 147; Bevan e a
2 18, 223, 230. dissensão no, 141, 142; Com issão Executi­
M odernização, teoria da: e ciência política, 34. va Nacional, ver C om issão Executiva Nacio­
M onopólio da representação: criação do, 167; nal (NEC); conflito da liderança com as ba­
efeitos do, 165-167, 179, 180, 216. ses, 144-145, 162-163; Conselho de Direção
M onis, Thom as, 108. Geral, ver C onselho de D ireção Geral
MPs: candidatos a e a CLPD, 146-149, 151-152; (GM C ); controle sobre os M Ps, 125-127,
candidatos a c o GM C, 125-138, 131, 133, 136-137, 138-139.140-142, 2 2 4 ;convenção
138, 145-148, 149, 151; candidatos a c o am ialdo, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 148,
NEC, 136-143, 146, 148, 151-152, 165;con- 149; declínio na afiliação, 144, 147; defec­
tiole do Partido Trabalhista sobre os, 124- ções do, 121-122, 126-127; diferenças ideo­
126, 136-137, 138, 141-142,224; diferenças lógicas dos militantes com os M Ps, 121-126,
ideológicas com os militantes, 121-126,225- 225-226, 229; dissensão no, Í2 I-Í2 3, 134-
226,229; estratégias eleitorais dos, 126, 127- 135, 144-145, 150, 155-156; indicações dos
129, 130-132, l4 l;ea !in lia d o p j)H id o , J26; candidatos parlam entares, 123, 125-127,
motivações dos, 12 4 -126; reindicação dos, 131-133, 136-143, 145-148, 151-153; in­
ver Partido Trabalhista: indicação dc candi­ fluência dos sindicatos no, 143-144, 231;
datos parlamentares; relacionamento com os militantes e “suicídio" político do, 121-123,
distritos eleitorais; serviços prestados ao dis­ 127, 128. 150-J5 J, 223; moderação no, 125-
trito, I25-J26, 13 3 -134. 129, 131-133, 138, 141-142, 143, 162; polí­
Múltiplas arenas: capitalism o e, 226-227; natu­ ticas do, 125,126, 144, 145,162; posição dos
reza das, 2 3-24, 27, 2 8 , 225; participação militantes no, 124, 125, 126, 163, 2 3 1; prin­
das elites nas, I58, 163-164; e payoffs va­ cípios políticos do, 124-125, 145; regras do,
riáveis, 63-64, 66, 79, 84-85, 158, 164,225; 136, 146; regras do, com o instituição de new
cm política, 6 6 ,6 8 , 158-166, 181-182, 232; deul, 150, 230, 231; regras do, com o insti­
subjogo e, 66, 69. tuição redistribuliva, 230-231; tentativa dc
Nash, equilíbrio de. Ver Equilíbrio. descentralização, 149.
JOG OS OCULTOS 249

Partidos políticos: c escolha racional, 123; m o­ Realidade: racionalidade e, 43, 50, 222.
tivação dos, 122-123. R ealização dos objetivos: m axim ização da, 17,
Pasqua, Charles, 216, 217. 21, 24, 4 0 , 110, 157, 225.
Payojfs variáveis: coligações e, 181-182, 188- Regras do jogo: atores e, 99, 100; m odificação
(92; consocionalism o e, 161-162; e estra­ das, ver Regras variáveis; natureza das, 97-
tégias ótim as, 78-79, 80-81, 98, 127-129, 100.
130-132, 171, 225-226; falores externos e, Regras variáveis: natureza das, 97-99; e payojfs
68; jog o s de três pessoas e, 6 2-68, 226; e variáveis, 97-98, 112-113; e política, 100;
jogos ilerativos, 7 9 , 85, 139, 168, 225; e projeto institucional, 23, 25, 26, 98, 232.
múltiplas arenas e, 64, 7 9 , 84, 158, 164, Reputação, 28, 123, 126, 151, 152, 232.
225; regras variáveis e, 97-98, 112-113. Sam uelson, Paul, 44.
Payofjs, modificação dos. Ver Payojfs variáveis. Seguro (jogo do), 69, 71-74, 78, 79, 83, 84, 93,
Platão, 108. 95-96, 189, 192, 225.
Plínio, o Jovem, 19. Seleção natural: escolha racional e, 47-48, 223,
Poder de veto: natureza do, 140. Serviço ao distrito eleitoral. Ver MPs: serviços
Política: com petição com o estratégia na, 184, ao distrito eleitoral.
186-187, 195, 203; cooperação com o estra­ Sinal, sinalização, 76, 129, 131, 132, 141, 143,
tégia na, 171-173, 184, 186-187, 188-190, 150, 152, 180, 229.
19 6 ,2 2 7 ; escolha racional na, 17,21 -22,26, Sindicatos: deslocam ento político para a esquer­
36-38; nos Estados Unidos, 122, 136; estra­ da dos, 143; influência no NEC, 144; in­
tégias contingentes na, 79, 123, 164, 180, fluência no Partido Trabalhista, 143-144,
189, 227; na França, 1 7 ,2 8 ,3 0 , 6 8 ,9 9 , 106, 149; mudança na com posição dos, 143-144.
113, 123; na Grã-Bretanha, 28, 121-156; Sistem as eleitorais: e projeto institucional, 211-
irracionalidade motivada na, 152; e jogos 218. Ver também Fiança.
ocultos, 158, 169, 171, 181-182, 225, 228, Smith, Adam, 107, 109.
229; m últiplas arenas na, 66, 68-69, 158- Sociedade segmentada, 158, 161, 162, 165-166,
166, 181 -182, 232; regras variáveis e, 99- 167, 169-170, 178-179; Bélgica com o. 169-
100; e a teoria dos jogos, 163-164. 170, 173. 174, 176, 179; conflito na. 179;
Pow ell, Adam Clayton, 228. Holanda com o, 179; Irlanda do Norte com o,
Prentice, Reginald: recusado por seu distrito 179.
eleitoral, 121, 138. Subjogo: definição, 63; e múltiplas arenas, 66,
Previsões: equilíbrio e, 52-53, 64. 69; na política, 131.
Projeto institucional: con socion alism o e, 29, Taverne, Dick, recusado por seu distrito eleito­
158-159, 169, 170-176; natureza do, 23-24, ral, 121, 129, 130.
2 7 ,2 9 , 100, 1094-105, 118,232; na política Teorema popular. Ver Jogos ilerativos.
francesa, 18 2 -183; regras variáveis e, 2 3 ,2 5 , Teoria dos jogos: ameaças na, 78, 79, 83, 128-
26, 98, 232; sistem as eleitorais e, 211-218. 129, 130, 139, 178; coligações na, 181, 184-
P sicologia social, 30, 206, 2 1 1 ,2 1 8 , 224, 230. 187, 190-194, 196-199,201-203; doininun-
R aciocínio dedutivo: ciência política e, 53; es­ cia na, 70; e equilíbrio, 41-44, 47, 61, 80,
colha racional e, 39, 53-54. 222; escolha racional e, 63, 7 1; estratégias
Racionalidade: Bayes e, 37, 4 2 ,4 3 ; e cálculo efe contingentes na, 75-79; indução retroativa
probabilidade, 40; e as ciências sociais, 222- na, 80-82; natureza da, 2 2 , 24, 26; política
223; e comportamento humano, 43-5 I, 52, e, 163-165; e racionalidade, 42-44, 5 1, 221 -
56, 97, 110, 222; e crenças contraditórias, 222, 234.
39; definição, 33, 38-44, 97, 221; e estra­ Tom ada de decisões: numa dem ocracia, 157-
tégias ótim as, 4 1-42, 62-64, 206-207, 211; 158; elites na, 157, 163, 177-178; massas
exigên cias “ fortes” (externas) de, 41-44; na, 157-158, 177-178.
exigências “fracas” (internas) dc, 38-41, 57; Tnimun, Hnrry S., 228.
e preferências intransitivas, 39-40; e proba­ Verstehen : conceito de, 55.
bilidades subjetivas, 42-43; e realidade, 43, Voto: estratégico ou sofisticad o, 19-20, 135,
50, 222; teoria dos jogos e, 42-44, 5 1, 2 2 1- 159,1 60, 163, 180, 230; sincero, 159.
222, 225; testabilidade, 51, 55-56, 222-223. Weber, Max: e escolha racional, 55.
Ver também Escolha racional. W ilson, Harold, 140, 144, 145.
BSCSH

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