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Alguns cuidados na elaboração e na utilização de procurações

» Iuri Cardoso de Oliveira

1. INTRODUÇÃO

A procuração consubstancia uma autorização para que


determinada(s) pessoa(s) atuem em seu nome de outra(s), com sua autorização
e, juridicamente, como se esta(s) fosse(m).

Pode ser dada ao advogado, para representar o cliente em juízo,


ou a qualquer pessoa, advogado ou não, para que este, em seu nome, pratique
atos ou administre interesses perante uma pessoa, órgão ou instituição, em
determinadas situações (descritas na própria procuração) nas quais o
interessado, pretenso titular do direito ou interesse, não possa ou não queira
estar presente.

Transparece que, pela sua importância para a segurança de ambas


as partes - outorgante e outorgado - bem como dos terceiros perante os quais
aquele é por este representado, a procuração deve ser redigida de forma clara,
com observância dos requisitos legais e tendo em mira os atos a serem
praticados e os interesses a serem administrados.

Não obstante, o cotidiano dos que trabalham em órgãos públicos


dos três poderes mostra que defeitos na elaboração e/ou utilização de
procurações, quando não impedem a apreciação dos pedidos formulados,
comprometem a celeridade da tramitação dos processos.

O presente trabalho tem por escopo abordar os cuidados na


elaboração e na utilização de uma procuração. Para tanto, faz, a partir do art.
654 do Código Civil de 2002, uma análise dos requisitos necessários para a
elaboração de procurações, à luz, inclusive, da jurisprudência; trata da
legitimidade das exigências decorrentes do poder regulamentar, aborda
questões processuais vinculadas ao processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal e a processos judiciais, trazendo diversos casos
já enfrentados nos Tribunais e a doutrina sobre os pontos mais significativos
do assunto.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Análise do art. 654 do Código Civil de 2002

Reza o Código Civil instituído pela Lei nº 10.406/2002:

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar


procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que
tenha a assinatura do outorgante.

§ 1º O instrumento particular deve conter a indicação do


lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do
outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a
extensão dos poderes conferidos.

§ 2º O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir


que a procuração traga a firma reconhecida.

O preceptivo em apreço corresponde ao art. 1.289 do Código


Civil anterior, Lei nº 3.071/16, in verbis:

Art. 1.289. Tôdas as pessoas maiores ou emancipadas, no


gôzo dos direitos civis, são aptas para dar procuração mediante
instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do
outorgante. (Redação dada pela Lei nº 3.167, de 1957).

§ 1º O instrumento particular deve conter designação do


Estado, da cidade ou circunscrição civil em que fôr passado, a
data, o nome do outorgante, a individuação de quem seja o
outorgado e bem assim o objetivo da outorga, a natureza, a
designação e extensão dos poderes
conferidos. (Redaçãodada pela Lei nº 3.167, de 1957).

§ 2º Para o ato que não exigir instrumento público, o


mandato, ainda quando por instrumento público seja outorgado,
pode substabelecer-se mediante instrumento
particular. (Redação dada pelaLei nº 3.167, de 1957).

§ 3º O reconhecimento da firma no instrumento particular é


condição essencial à sua validade, em relação a
terceiros. (Redação dada pela Lei nº 3.167, de 1957).
2.1.1. Capacidade do outorgante e assinatura deste

Dispõe o Código Civil de 2002:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer


pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não


tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem


exprimir sua vontade.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à


maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por


deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por


legislação especial.

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos,


quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida
civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,


mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se
o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;


V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o
menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

À luz do Código Civil, o outorgante absolutamente incapaz deve


ser representado por seu representante legal, sendo esta a única pessoa que
precisa assinar a procuração, a qual, no entanto, deve nominar e qualificar
ambos.

Já na procuração outorgada por relativamente incapaz, este deve


estar assistido, devendo constar no instrumento de mandato o nome, a
qualificação e a assinatura tanto do outorgante quanto do assistente.

2.1.2. Breves notas quanto ao mandatário

Dispõe o art. 666 do Código Civil de 2002:

Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não


emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação
contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis
às obrigações contraídas por menores.

É admissível, portanto, a outorga de procuração a menor entre


dezesseis e dezoito anos não emancipado, só tendo o mandante, entretanto,
ação contra ele de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às
obrigações contraídas por menores.

Quem pretende outorgar procuração a servidor público em


atividade, deve ter especial ao seu regime jurídico, pois, no direito
administrativo, há normas proibitivas da atuação do servidor, como
procurador ou intermediário, junto a repartições públicas.

Por exemplo, a Lei nº 8.112/90, que dispõe sobre o regime


jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais, no inciso XI do seu art. 117, proíbe o servidor de
atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo
quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até
o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro.

A propósito, dispõe a Instrução Normativa INSS/PRES nº 45, de


06 de agosto de 2010 (DOU DE 11/08/2010):

Art. 395. Todas as pessoas capazes, no gozo dos direitos


civis, são aptas para outorgar ou receber mandato, excetuando-se:
I - os incapazes para os atos da vida civil, ressalvado o
menor entre dezesseis e dezoito anos não emancipado, que
poderá ser apenas outorgado, conforme o inciso II do art.
160 do RPS e o art. 666 da Lei nº 10.406, de 2002; e

II - os servidores públicos civis e os militares em atividade,


que somente poderão representar parentes até o segundo grau,
sendo que tratando de parentes de segundo grau, a representação
está limitada a um beneficiário e de parentes de primeiro grau,
será permitida a representação múltipla.

§ 1º Para fins de recebimento de benefício, somente será


aceita a constituição de procurador com mais de uma procuração
ou procurações coletivas, nos casos de representantes
credenciados de leprosários, sanatórios, asilos e outros
estabelecimentos congêneres ou nos casos de parentes de
primeiro grau.

§ 2º Entenda-se como parentes em primeiro grau os pais e os


filhos, e como parentes em segundo grau os netos, os avós e os
irmãos.

No processo administrativo, em regra, o instrumento de mandato


poderá ser outorgado a qualquer pessoa, advogado ou não, salvo disposição
legal em sentido contrário, como se dessume do inciso IV do art. 3º da Lei nº
9.784/99, in verbis:

Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos perante a


Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam
assegurados:
(...)
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo
quando obrigatória a representação, por força de lei.

Todavia, no processo civil, o art. 36 do CPC exige que a parte


esteja representada em juízo por quem possua capacidade postulatória, ou seja,
bacharel em direito regularmente inscrito no quadro de advogados da Ordem
dos Advogados do Brasil.

Acerca da dispensa da capacidade postulatória, Nery Júnior e


Nery (2006, p. 208) ensinam:

Só quando a lei expressamente o permitir é que pode haver a


dispensa de capacidade postulatória para procurar em juízo. Não
pode o juiz, sem lei que o autorize, dispensar a capaacidade
postulatória e autorizar quem não seja advogado ou membro do
Ministério Público a subscrever petição inicial e procurar em
juízo. Nas causas de valor até vinte salários mínimos, não é
exigida a capacidade postulatória nos juizados especiais cíveis
(LJE9º caput), sendo necessária a presença do advogado apenas
nas causas de vinte a quarenta salários mínimos e para interpor
ou responder eventual recurso (LJE 41§ 2º). Na justiça do
trabalho o empregado pode reclamar pessoalmente, sem
necessidade de advogado (CLT 791 caput). Também não se exige
capacidade postulatória para a impetração de HC (CPP
654 caput; EOAB 1º § 1º).

2.1.3. Indicação do lugar onde foi passado

A expressão em liça, contida no § 1º do art. 654 do CC/2002,


corresponde à frase "designação do Estado, da cidade ou circunscrição civil
em que fôr passado", inserta no § 1º do art. 1.289 do CC/1916, e nada mais é
do que a menção à localidade onde foi emitido o instrumento de mandato.

2.1.4. Qualificação do outorgante e do outorgado

A epigrafada locução, contida no no § 1º do art. 654 do CC/2002,


corresponde à expressão "o nome do outorgante, a individuação de quem seja
o outorgado", inserida no § 1º do art. 1.289 do CC/1916.

Transparece que o legislador pretende que, nos instrumentos de


mandato, conste a identificação e qualificação do outorgante e do outorgado.

No que concerne à qualificação, Silva (1994, p. 664) ensina:

Qualificação. Na terminologia do Direito Processual, seja


civil ou penal, a qualificação é tomada no conceito de
identificação.

E, nesse sentido, a qualificação compreende a anotação de


todos os elementos individualísticos da pessoa, como nome,
idade, nacionalidade, estado, profissão, domicílio ou residência, a
fim de que, por eles, bem se individualize a pessoa.

Os precitados "elementos individualísticos da pessoa" compõem


um rol meramente exemplificativo, pois, a depender da relação jurídica em
questão, pode ser imperiosa a indicação de outros elementos. À título de
exemplo, cumpre colacionar a exposição de Oliveira (2011), relativa ao
processo do trabalho:
A Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da
Justiça do Trabalho, ao tratar da autuação dos processos judiciais
(Capítulo I do Título VI), estabelece, no art. 23, que constarão
dos registros de autuação dos processos judiciais da Justiça do
Trabalho de 1º e 2º graus, exceto se a informação não estiver
disponível nos autos ou nos sistemas informatizados do Tribunal,
os dados que, ao longo dos seus quatro incisos, especifica com
relação ao cadastro geral do processo, ao registro das partes, ao
registro de advogados e estagiários e ao cadastro relativo às
partes e advogados.
No que pertine ao registro das partes (inciso II), este deverá
conter os seguintes dados: a) nome completo e endereço; b) RG
(e órgão expedidor); c) CNPJ ou CPF; d) CEI (número da
matrícula do empregador pessoa física perante o INSS); e) NIT
(número de inscrição do trabalhador perante o INSS); f) PIS ou
PASEP; g) CTPS; h) pessoa física ou pessoa jurídica; i)
empregado ou empregador; j) ente público (União/Estado-
Membro/Distrito Federal/Município); l) código do ramo de
atividade do empregador [05]; m) situação das partes no
processo (ativa/não ativa).
A Consolidação em apreço cuida da identificação das partes
na Seção IV, na qual estabelece que o Juiz zelará pela precisa
identificação das partes no processo, a fim, dentre outras coisas,
de viabilizar o cumprimento das obrigações fiscais e
previdenciárias (art. 32), e que, salvo impossibilidade que
comprometa o acesso à Justiça, o Juiz do Trabalho determinará
às partes a apresentação das seguintes informações (art. 33):
a) no caso de pessoa física, o número da CTPS, RG e órgão
expedidor, CPF e PIS/PASEP ou NIT (Número de Inscrição do
Trabalhador);
b) no caso de pessoa jurídica, o número do CNPJ e do CEI
(Cadastro Específico do INSS), bem como cópia do contrato
social ou da última alteração feita no contrato original, constando
o número do CPF do(s) proprietário(s) e do(s) sócio(s) da
empresa demandada.
O parágrafo único do art. 33 reza que, não sendo possível
obter das partes o número do PIS/PASEP ou do NIT, no caso de
trabalhador, e o número da matrícula no Cadastro Específico do
INSS — CEI, relativamente ao empregador pessoa física, o Juiz
determinará à parte que forneça o número da CTPS, a data de seu
nascimento e o nome da genitora.

Merece destaque o seguinte precedente do STJ no sentido de que


o lançamento na procuração do nome de todos os autores, com a devida
qualificação, tem o condão de suprir a ausência da sua individuação na petição
inicial.

CIVIL / PROCESSUAL. DEFEITO DA INICIAL.


SUPRIMENTO. TEM-SE POR SUPRIDA A FALTA DE
INDIVIDUAÇÃO DOS AUTORES, NA INICIAL, PELO
CONTEUDO DA PROCURAÇÃO, ONDE SE ACHAM OS
NOMES DE TODOS, COM A DEVIDA QUALIFICAÇÃO.

(REsp 11.096/MG, Rel. Ministro DIAS TRINDADE,


TERCEIRA TURMA, julgado em 20/08/1991, DJ 16/09/1991, p.
12634)

Também é digno de relevo o precedente do TRF3 no sentido da


possibilidade de a falta de qualificação do outorgante na procuração ser
suprida por outros elementos residentes nos autos.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO


FISCAL. REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. PODERES DE
OUTORGA. PROCURAÇÃO SEM QUALIFICAÇÃO DO
OUTORGANTE. FORMALIDADE SUPRIDA. ELEMENTOS
DE CONVICÇÃO. CONGRUÊNCIA. EXERCÍCIO DO
MANDATO E INTERESSE DO MANDANTE. SENTENÇA
ANULADA. PROSSEGUIMENTO DO FEITO. 1. Caso em que
a irregularidade, aferida na origem, refere-se à falta de
identificação do outorgante da procuração e, pois, de que tivesse
poderes para a representação da sociedade: extinção do processo,
sem exame do mérito, decretada por defeito de representação
processual. 2. Com relação aos poderes, a sociedade,
representada por um dos sócios, conforme contrato social exibido
e conferido no Cartório de Notas, outorgou procuração, por
instrumento público, a Valter Neves Marques, inclusive para
contratar e dispensar advogados com poderes da cláusula ad
judicia. 3. Embora somente na apelação, a embargante informou
que o mandato judicial foi outorgado não diretamente pelos
sócios, mas pelo procurador constituído na forma do instrumento
público supracitado, elucidando e superando, pois, a dúvida
quanto à regularidade da representação processual. 4. A falta de
qualificação formal do outorgante no próprio instrumento de
mandato judicial é de ser relevada, quando razoavelmente
suprida por outros elementos, em favor do princípio da
representação, no caso mais do que aparente, porquanto, na
espécie, aferida congruência, e não colidência, entre o exercício
do mandato e os interesses do mandante. 5. A extinção do
processo, sem exame do mérito, afigura-se solução processual de
gravidade, que não se justifica pelo exame das provas
produzidas, e diante das circunstâncias específicas do caso
concreto. (AC 200161110026876, DESEMBARGADOR
FEDERAL CARLOS MUTA, TRF3 - TERCEIRA TURMA,
DJU DATA:24/03/2004 PÁGINA: 361.)

Entretanto, é diametralmente oposto o entendimento da Seção


Especializada em Dissídios Individuais – Subseção 1 (SDI-1) do Tribunal
Superior do Trabalho, como se vê na sua Orientação Jurisprudencial nº 373, in
verbis:

Orientação Jurisprudencial da SDI-1

373. REPRESENTAÇÃO. PESSOA JURÍDICA.


PROCURAÇÃO. INVALIDADE. IDENTIFICAÇÃO DO
OUTORGANTE E DE SEU REPRESENTANTE. (redação
alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.11.2010
- IUJ-85600-06.2007.5.15.0000) - Res. 170/2010, DEJT
divulgado em 19, 22 e 23.11.2010

É inválido o instrumento de mandato firmado em nome de


pessoa jurídica que não contenha, pelo menos, o nome da
entidade outorgante e do signatário da procuração, pois estes
dados constituem elementos que os individualizam.

Precedente:

IUJ 85600-06.2007.5.15.0000 - Red. Min. Ives Gandra


Martins Filho

Julgado 16.11.2010 - Decisão por maioria

Histórico:

Redação original – DEJT divulgado em 10, 11 e 12.03.2009

Nº 373 Irregularidade de representação. Pessoa jurídica.


Procuração inválida. Ausência de identificação do outorgante e
de seu representante. Art. 654, § 1º, do Código Civil

Não se reveste de validade o instrumento de mandato


firmado em nome de pessoa jurídica em que não haja a sua
identificação e a de seu representante legal, o que, a teor do art.
654, § 1º, do Código Civil, acarreta, para a parte que o
apresenta, os efeitos processuais da inexistência de poderes nos
autos.
2.1.5. Data da outorga

O requisito ora em comento corresponde à data de emissão do


instrumento de mandato.

A jurisprudência do STJ vem admitindo que, em demandas


previdenciárias, seja exigido dos autores a instrução da petição inicial com
procurações atualizadas, contemporâneas à propositura da demanda,
considerando-se que os feitos previdenciários possuem como nota distintiva o
fato de, após o decurso de longo intervalo de tempo, serem extintos sem
resolução de mérito em face do falecimento do demandante anteriormente ao
ajuizamento da ação. Além disso, no entender da referida Corte Superior, tal
exigência é valida para manter atualizado o endereço dos postulantes e até
para verificar o seu real interesse na demanda.

PROCESSUAL CIVIL. PROCURAÇÃO


DESATUALIZADA. SUBSTITUIÇÃO. PODER
DISCRICIONÁRIO. PROVIDÊNCIAS SANEADORAS.
PECULIARIDADES DAS DEMANDAS
PREVIDENCIÁRIAS.

Pode o juiz da causa, no exercício de seu poder


discricionário e objetivando assegurar a constituição da relação
jurídica processual, ordenar a regularização da representação
desatualizada, tendo em vista as peculiaridades das demandas
previdenciárias.

Precedentes.

Recurso não conhecido.

(REsp 196.356/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA


FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 06/08/2002, DJ
02/09/2002, p. 220)

PREVIDENCIARIO. CORREÇÃO DE BENEFICIOS


PAGOS COM ATRASO. EXIGENCIA DE PROCURAÇÕES
ATUAIS SOB PENA DE INDEFERIMENTO DA INICIAL.
POSSIBILIDADE.

1. NÃO E NADA DESARRAZOADO EXIGIR DOS


AUTORES, EM DEMANDA PREVIDENCIARIA, QUE
INSTRUAM A INICIAL COM PROCURAÇÕES ATUAIS,
POIS, TENDO EM VISTA A NATUREZA PUBLICA DA
DEMANDA (AUTARQUIA FEDERAL NO POLO PASSIVO)
CORRETO FOI O ENTENDIMENTO DO JUIZO
MONOCRATICO, CONFIRMADO PELO TRIBUNAL "A
QUO", NO SENTIDO DE QUE E DE SE CONFERIR DA
VALIDADE DE MANDATO OUTORGADO A MAIS DE
QUATRO ANOS.

2. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.

(REsp 164.198/SC, Rel. Ministro FERNANDO


GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado em 28/04/1998, DJ
01/06/1998, p. 212)

Tais fundamentos podem justificar a exigência de atualização


dos instrumentos de mandato em que alguém recebe de outrem poderes para,
em seu nome, praticar atos ou administrar interesses, para manter atualizado o
endereço do interessado ou da parte, conforme se trate de processo
administrativo ou judicial; para verificar a existência de real interesse em que
o procedimento administrativo ou o processo judicial tenha ainda curso; para
que a Administração evite pagar indevidamente a mandatários que não mais
representam os antigos outorgantes, reais titulares de créditos.

A exigência em apreço é uma formalidade essencial à garantia


dos direitos do próprio outorgante.

2.1.6. Objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes


conferidos

Dispõe o Código Civil de 2002:

Art. 660. O mandato pode ser especial a um ou mais


negócios determinadamente, ou geral a todos os do mandante.

Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de


administração.

§ 1o Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros


quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária,
depende a procuração de poderes especiais e expressos.

§ 2o O poder de transigir não importa o de firmar


compromisso.
Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou
o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele
em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.

Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante


procuração, por instrumento público, com poderes especiais.

Art. 1.985. O encargo da testamentaria não se transmite aos


herdeiros do testamenteiro, nem é delegável; mas o testamenteiro
pode fazer-se representar em juízo e fora dele, mediante
mandatário com poderes especiais.

A Instrução Normativa INSS/PRES nº 45/2010 dispõe:

Art. 404. O instrumento de mandato perderá validade, efeito


ou eficácia nos seguintes casos:

I - revogação ou renúncia;

II - morte ou interdição de uma das partes;

III - mudança de estado que inabilite o mandante a conferir


poderes ou o mandatário a exercê-los; ou

IV - término do prazo ou conclusão do feito.

Parágrafo único. Entende-se por conclusão do feito quando


exauridos os poderes outorgados pelo mandante ao mandatário,
constantes no instrumento de mandato com poderes específicos.

Art. 405. Tratando-se de mandato outorgado com poderes


gerais, o instrumento de mandato terá validade enquanto não
ocorrerem as situações mencionadas no art. 404, observando que
um mandato posterior revoga o anterior.

Quanto às hipóteses de revogação e término do prazo, referidas,


respectivamente, nos incisos I e IV do art. 404 da Instrução Normativa
INSS/PRES nº 45/2010, releva colacionar, a título ilustrativo, o entendimento
que o STJ sobre elas tem adotado em casos não relativos ao direito
previdenciário.

PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. DECISÃO DO


STJ. DESCUMPRIMENTO. CONTRATO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVOGAÇÃO.
INCONFORMISMO. DETERMINAÇÃO DE EXCLUSÃO
DOS PATRONOS NA CAUSA. NÃO OBSERVÂNCIA
PELO TJRJ. RECLAMAÇÃO PROCEDENTE.

1. Todo o imbróglio se origina de ação ordinária de


impugnação de ato administrativo da Comissão de
Desapropriação de Terras do Galeão proposta pela Cia
Brasília, em razão de decisão de não ressarcimento no
valor das terras em discussão, mas tão-somente pelas
benfeitorias que a mesma fizera no local. A referida
Comissão concluiu que o aludido terreno pertencia à União
antes mesmo da desapropriação direta de toda a área
ocidental da Ilha do Governador. A então autora pugnou
por indenização baseada no valor real e atual do terreno.

A sentença acolheu o pedido formulado pela parte para


indenizar a autora, anulando a decisão administrativa da
Comissão de Desapropriação de Terras do Galeão, em
dinheiro correspondente ao justo valor dos referidos
imóveis, ao tempo da desapropriação, atendendo-se à
desvalorização da moeda, sem levar em conta a
valorização decorrente dos melhoramentos ocasionados
pelos serviços públicos, conforme for apurado na
execução.

Interposta apelação pela União e em momento anterior a


seu julgamento, a Reclamante atravessa petição, já por
intermédio de seu novo procurador - Siqueira Castro
Advogados - noticiando a revogação expressa da outorga
anterior e fazendo juntar aos autos procuração ad judicia.

2. Em 12 de novembro de 2010, a Companhia Brazília


peticiona informando a revogação de mandato de
patrocínio outorgado a Siqueira Castro Advogados
Associados e firmando, a si próprio, como único
representante da empresa.

Em 2 de dezembro de 2010, Carlos Roberto Siqueira


Castro requer o desentranhamento da petição
mencionada, ao fundamento de que a procuração que lhe
fora outorgada conferia poderes em caráter irrevogável e
irretratável, razão porque não poderia ser revogada.

Em 13 de dezembro de 2010 proferi decisão no sentido de


que, em análise dos documentos carreados aos autos,
ainda que as partes tivessem convencionado cláusulas de
irrevogabilidade, por se tratar de contrato fundado na
confiança, tem o mandante a faculdade de revogá-lo
unilateralmente a qualquer tempo, a despeito da referida
restrição, o que não impedia, por sua vez, que a parte
interessada ingressasse com ação idônea, para o fim de
discutir as cláusulas do contrato de honorários e, ao juízo
de origem, pleiteasse medidas acautelatórias
eventualmente necessárias para o fim de discutir-se o
contrato supostamente firmado entre as partes.

3. Contra tal decisão, foi interposto agravo regimental,


incluído em pauta de julgamento, mas que sofreu pedido
desistência, formulado pelas advogadas Christiane
Pantoja e Angela Burgos Moreira.

Em 29 de março de 2011, sou oficiado pelo


Desembargador Jorge Luiz Habib nos seguintes termos:
"Encaminho a cópia da decisão proferida no Agravo de
Instrumento em epígrafe, solicitando a V. Exa. as
providências contidas no mencionado decisum".

4. A decisão que proferi, nos autos do Recurso Especial n.

894.911/RJ, ao contrário do que faz crer o interessando


Siqueira Castro Advogados, em memorias apresentados
em 14.4.2011, deixou muito bem estabelecido que a
procuração então outorgada aos advogados do escritório
Siqueira Castro Advogados estaria revogada, restando
assegurada à parte eventual pleito de reparação de danos,
caso entendesse pertinente. O decisum transitou em
julgado, até porque o então agravante Siqueira Castro
Advogados desistiu do recurso interposto.

5. Ora, a parte interessada, em memoriais, tenta manobrar


os termos da decisão - claramente - desrespeitada, sob a
seguinte afirmação: "é que a decisão proferida nos autos
do recurso especial 894.911 - supostamente desrespeitada
pelo Desembargador reclamado, tão-somente entendeu
pela possibilidade de revogação de mandato outorgado a
a advogado diante dos termos art. 682, do CC/2002". A
decisão reclamada é suficientemente clara ao afirmar que,
em sendo possível a revogação da procuração, em razão
de o contrato de mandato se fundar, essencialmente, na
fidúcia, razão não haveria na manutenção do procurador
como representante de empresa que afirmava o
rompimento do elemento fundamental à manutenção do
acordo, qual seja, a confiança. Diante da ausência de tal
elemento e, considerando a possibilidade de resolução em
perdas e danos, homologuei a retirada de Siqueira Castro
Advogados dos autos.

Sublinhe-se que o interessado, não obstante a


interposição do agravo regimental, dele desistiu,
provocando seu trânsito em julgado.

6. Pela simples leitura da parte final da decisão agora


reclamada, vê-se, portanto, que o comando jurisdicional é
claro: a procuração está revogada.

7. Reclamação julgada procedente, com o acolhimento do


requerido pelo Ministério Público Federal, no tocante à
extração de peças dos autos para instruir ofícios a serem
encaminhados para o Conselho Nacional de Justiça e à
Ordem dos Advogados do Brasil para que seja investigada
a ocorrência de eventuais irregularidades.

(Rcl 5.685/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL


MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2011, DJe
17/08/2011)

CIVIL E PROCESSUAL. MANDATO. PRAZO.


VALIDADE. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.
DESISTÊNCIA. AÇÃO PRETENDENDO O
RESSARCIMENTO INTEGRAL DAS IMPORTÂNCIAS
PAGAS. RETENÇÃO DETERMINADA EM PERCENTUAL
INFERIOR AO PREVISTO CONTRATUALMENTE.
CLÁUSULA ABUSIVA. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR, ARTS. 51, II, 53 E 54. CÓDIGO CIVIL, ART.
924. I. Válida a outorga de poderes conferidos aos advogados da
ré, quando esta ocorreu dentro do prazo de validade da
procuração original dada ao representante local da empresa no
Distrito Federal. II. A C. 2a Seção do STJ, em posição adotada
por maioria, admite a possibilidade de resilição do compromisso
de compra e venda por iniciativa do devedor, se este não mais
reúne condições econômicas para suportar o pagamento das
prestações avençadas com a empresa vendedora do imóvel
(EResp n. 59.870/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, DJU de
09.12.2002). III. O desfazimento do contrato dá ao comprador o
direito à restituição das parcelas pagas, porém não em sua
integralidade, admitida a retenção de percentual suficiente para
fazer face às despesas administrativas da ré, diretas e indiretas,
em relação ao imóvel. Elevação do percentual. IV. Recurso
especial conhecido em parte e parcialmente provido. (REsp
139.278/DF, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 26/06/2003, DJ 08/09/2003, p.
330)

O § 3º do art. 13 da Lei nº 8.112/90 prescreve que a posse poderá


dar-se mediante procuração específica.

Em sede de direito processual, o Código de Processo Civil, em


seu art. 38, prescreve que, para a prática dos atos de receber citação inicial,
confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao
direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso,
a procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou
particular assinado pela parte, não habilita o advogado, fazendo-se mister a
outorga, na procuração, de poderes especiais, para que aquele possa praticar
qualquer desses atos.

Koehler (2003), ao afirmar a necessidade de concessão de


poderes especiais na procuração para arguição de suspeição da parte
representada pelo seu advogado, doutrina:

2.18.É necessário que sejam concedidos poderes especiais


na procuração para que o causídico possa argüir exceção de
suspeição?

O CPC de 39 exigia poderes especiais expressos na


procuração para argüição de suspeição pelo advogado. Após 73,
o CPC não mais exige poderes especiais para isso (basta a
cláusula ad judicia). Esse entendimento é corroborado por
decisões em Recursos Especiais da 3ª e 4ª Turmas do STJ.

Contudo, ainda hoje há decisões de Tribunais que exigem


poderes especiais na procuração para que o advogado possa
excepcionar de suspeição o juiz, fundamentando-se no caráter
essencialmente pessoal dessa argüição. [exempli gratia, acórdão
unânime da 4ª T. do STJ no Resp 86.858-SP, rel. Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira; DJ, de 24.06.1996, n. 75.449; e também o
acórdão unânime 5.184, TJAL em sessão plena de 16.11.1993, na
ExSusp 5.207, rel. Des. Hélio Cabral; Adcoas, de 10.06.1994, n.
143.873; Jurisp. Alagoana 9/26. Vimos ainda acórdãos unânimes
do TJMA (1ª Câmara), do TJMS (2ª Turma) e do TAMG (2ª
Câmara)]. (grifos originais)
O Código de Processo Penal, por sua vez, exige a outorga de
poderes especiais para que o procurador possa exercer o direito de
representação (art. 39); oferecer queixa, devendo constar do instrumento do
mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando
tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente
requeridas no juízo criminal (art. 44); renunciar expressamente ao exercício
do direito de queixa (art. 50); aceitar o perdão no processo (art. 55) ou fora
dele (art. 59); recusar o juiz (art. 98) e suscitar incidente de falsidade
documental (fl. 146).

Tem-se, do quanto até aqui se expôs, que a elaboração de um


instrumento de mandato em que alguém receba de outrem poderes para, em
seu nome, praticar atos ou administrar interesses, demanda o conhecimento da
legislação a estes relativa, para que, de antemão, se tenha ciência da
necessidade de conferência de algum poder especial para o bom desempenho
do mandato.

A jurisprudência é farta em exemplos de pretensões frustradas


pela inobservância das normas acima referidas.

Observe-se que a Seção Especializada em Dissídios Individuais –


Subseção 2 (SDI-2) do Tribunal Superior do Trabalho, em sua Orientação
Jurisprudencial nº 151, demonstra entendimento no sentido de que a
inobservância do requisito ora apreço consubstancia vício insanável quando
verificado apenas na fase recursal, à luz do item II da Súmula nº 383 do TST.
Senão vejamos:

Orientação Jurisprudencial da SDI - 2

151. AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE


SEGURANÇA. IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO
PROCESSUAL VERIFICADA NA FASE RECURSAL.
PROCURAÇÃO OUTORGADA COM PODERES
ESPECÍFICOS PARA AJUIZAMENTO DE RECLAMAÇÃO
TRABALHISTA. VÍCIO PROCESSUAL INSANÁVEL. (DEJT
divulgado em 03, 04 e 05.12.2008)

A procuração outorgada com poderes específicos para


ajuizamento de reclamação trabalhista não autoriza a propositura
de ação rescisória e mandado de segurança, bem como não se
admite sua regularização quando verificado o defeito de
representação processual na fase recursal, nos termos da Súmula
nº 383, item II, do TST.
Cumpre observar a existência de cizânia na jurisprudência do
STJ acerca da necessidade de, na procuração, ser conferido expressamente ao
outorgado poder para substabelecer, consoante se infere do cotejo da ementas
a seguir colacionadas:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO. PETIÇÃO DE
SUBSTABELECIMENTO A ADVOGADO POR QUEM NÃO
DETÉM PODERES NOS AUTOS PARA SUBSTABELECER.
RECURSO ASSINADO POR ADVOGADO SEM
PROCURAÇÃO. SÚMULA 115/STJ. PETIÇÃO
ELETRÔNICA. A IDENTIDADE DO SUBSCRITOR DA
PETIÇÃO NÃO CORRESPONDE COM O TITULAR DO
CERTIFICADO DIGITAL. ARTS. 1º, § 2º, III, E 18 DA Lei
11.419/2006 E DOS ARTS. 18, § 1º, e 21, I, DA RESOLUÇÃO
N. 1/ 2010 DO STJ. DESCUMPRIMENTO.

1. A apresentação de agravo regimental assinado por


advogada sem poderes nos autos atrai a incidência da Súmula
115/STJ: "Na instância especial é inexistente recurso interposto
por advogado sem procuração nos autos".

2. A Seção de Protocolo de Petições desta Corte certifica que


o nome do advogado que consta como subscritor da presente
petição não confere com o nome do titular do certificado digital
cadastrado para assinar os documentos autorizados a serem
transmitidos eletronicamente.

3. Considerar-se-á inexistente a petição subscrita por


advogado cuja identidade não corresponda com a do titular do
certificado digital, em face do descumprimento do disposto nos
arts. 1º, § 2º, III, e 18 da Lei 11.419/2006 e dos arts. 18, § 1º, e
21, I, da Resolução n.

1/2010, do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.

4. Agravo regimental não conhecido, com aplicação de


multa.

(AgRg no Ag 1298584/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/10/2011, DJe
03/11/2011)

Processual civil. Capacidade postulatória de advogado


substabelecido. Renúncia do advogado substabelecente.
- Havendo expressa outorga de poderes a advogado para
substabelecer, o advogado substabelecido deterá capacidade
postulatória mesmo diante da renúncia do advogado
substabelecente.

- Não existindo outorga expressa desses poderes ,


remanescerá, na mesma circunstância, capacidade postulatória ao
advogado substabelecido se existir, por parte do mandante, ato
inequívoco de ratificação.

Recurso provido.

(REsp 556.240/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,


TERCEIRA TURMA, julgado em 21/10/2004, DJ 11/04/2005, p.
289)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


RECEBIDOS COMO AGRAVO. PETICIONÁRIO QUE
RECEBE SUBSTABELECIMENTO DE ADVOGADA SEM
PODERES PARA SUBSTABELECER. NÃO
CONHECIMENTO. SÚMULA N. 115-STJ.

I. "Na instância especial é inexistente recurso interposto por


advogado sem procuração nos autos" (Súmula n. 115 do STJ).

II. Agravo não conhecido.

(AgRg no REsp 534.630/RS, Rel. Ministro ALDIR


PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
09/09/2003, DJ 13/10/2003, p. 374)

Processual Civil. Recurso Especial. Ação de conhecimento


sob o rito ordinário. Procuração ad judicia. Poder expresso para
substabelecer. Desnecessidade. Substabelecimento válido.
Apelação subscrita por advogado substabelecido. Preliminar de
não conhecimento afastada.

- A autorização expressa para substabelecer não é requisito


essencial à validade do substabelecimento, uma vez que o
mandato pressupõe o poder para (o mandatário) substabelecer a
terceiro;

ficará o substabelecente, entretanto, responsável pelos atos


do substabelecido. Precedentes.

- Recurso especial a que se dá provimento.


(REsp 456.129/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 11/11/2002, DJ 16/12/2002, p.
330)

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO JUDICIAL.


SUBSTABELECIMENTO. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA.
DESNECESSIDADE. ARTIGOS 38 DO CPC E 1.300 DO CC.

- A procuração geral para o foro habilita o advogado para a


prática de todos os atos do processo, a exceção daqueles para os
quais se exigem poderes especiais, não incluído entre estes o de
substabelecer. Inteligência do artigo 38 do Código de Processo
Civil.

- A ausência de autorização expressa para substabelecer


apenas enseja responsabilidade pessoal do substabelecente pelos
atos do substabelecido, nos termos da regra inserta no artigo
1.300 do Código Civil. Precedente do STJ.

- Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 319.325/RJ, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA


TURMA, julgado em 20/11/2001, DJ 04/02/2002, p. 598)

Com o nítido desiderato de evitar o estabelecimento de


semelhante controvérsia nos processos administrativos previdenciários no
âmbito do no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social, reza a Instrução
Normativa INSS/PRES nº 45/2010:

Art. 396. É permitido o substabelecimento dos poderes


referidos na procuração, a qualquer pessoa, advogado ou não,
desde que o poder para substabelecer conste expressamente no
instrumento de procuração originário.

2.2. Exigências decorrentes do poder regulamentar

A teor do art. 24, XI da Constituição Federal, a União, os Estados


e Distrito Federal possuem competência para legislar sobre procedimentos em
matéria processual, a qual não se confunde com a competência privativa para
legislar sobre direito processual, prevista no art. 22, I da Carta Magna.
Demais disso, aos Municípios compete legislar sobre assuntos de
interesse local, nos termos do art. 30, I da Lex Legum.

Assim, é juridicamente possível que cada uma das entidades


federadas, tanto no exercício da competência de legislar sobre o processo
administrativo em seu âmbito, como no do poder regulamentar, estabeleça
requisitos para a apresentação da procuração nestes procedimentos
administrativos, desde que sem ofensa à competência privativa da União para
legislar sobre direito civil e processual (art. 22, I da CF), sem exceder o poder
regulamentar e que busque estabelecer rotinas administrativas que sejam
eficazes e que agreguem segurança ao desempenho da função administrativa.
Nesse sentido é a jurisprudência:

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. MANDADO


DE SEGURANÇA. LICENCIAMENTO DE VEICULOS POR
INTERMEDIO DE PROCURADOR. ART. 1288 DO CODIGO
CIVIL. PORTARIA RESTRITIVA. PRINCIPIO DA
LEGALIDADE. SEGURANÇA CONCEDIDA. I - POR MERA
INTERPRETAÇÃO DO TEOR DO ARTIGO 1288, DO
CODIGO CIVIL, E POSSIVEL A IMPETRANTE OUTORGAR
PODERES, MEDIANTE PROCURAÇÃO, PARA QUE
FUNCIONARIO SEU PROMOVA O LICENCIAMENTO DE
VEICULOS JUNTO A ORGÃO DO PODER PUBLICO. II -
VIOLA O PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA
LEGALIDADE PORTARIA QUE, AO REVES DE EXERCER
PODER REGULAMENTAR, EXTRAPOLA OS LIMITES DE
LEI FEDERAL E CRIA RESTRIÇÃO ANTES
INEXISTENTES. III - REMESSA OFICIAL DESPROVIDA.
SENTENÇA CONFIRMADA. (REO 95030371074,
DESEMBARGADORA FEDERAL LUCIA FIGUEIREDO,
TRF3 - QUARTA TURMA, DJ DATA:06/08/1996 PÁGINA:
54734.) (grifos nossos)

ADMINISTRATIVO. LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO


IMPETRANTE. PRELIMINAR REJEITADA.
ADMINISTRATIVO. EXERCÍCIO DA ADVOCACIA.
ATENDIMENTO EM AGÊNCIAS DO INSS. LIMITAÇÃO À
QUANTIDADE DE REQUERIMENTOS. EXIGÊNCIA DE
AGENDAMENTO PRÉVIO COM HORA MARCADA.
EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE PROCURAÇÃO
PARA CARGA DOS AUTOS. IN 57/01. GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS PRESERVADAS. LEGALIDADE
OBSERVADA. 1 - O legislador arquitetou em princípio
constitucional a indispensabilidade e imunidade do advogado,
segundo a dicção do artigo 133 da Constituição Federal, que,
contudo, em melhor e mais acurada interpretação, leva-nos à
conclusão de que tais garantias dirigem-se, exclusivamente, a sua
atuação junto à Justiça, não compreendendo atividades voltadas
ao âmbito administrativo. 2 - A Lei nº 8.213/91, artigo 109, e o
Decreto n. 3048/99, artigos 156 a 159, versam sobre o pagamento
de benefício, por meio de procurador do beneficiário, com
algumas restrições, que não implica afirmar que se tratam de
obstáculos opostos ao atendimento do procurador, com esteio na
Resolução nº 06/2006-Presidência do INSS. 3 - Inexistência nos
autos de prova de violação a direito líquido e certo a ser
amparado, faltando, assim, fundamentos fáticos e jurídicos
autorizadores da concessão da segurança pleiteada, sendo certo
que eventuais regras de organização do atendimento na autarquia
em questão não configuram, em tese, violação a direito, pois é
providência que visa ao tratamento igualitário de todos os
segurados, representados ou não. 4 - Quanto à exigência de
apresentação de procuração para carga dos autos de processo
administrativo, nos termos da Instrução Normativa nº 57/01,
não se trata de exigência feita somente ao advogado.
Lembremos que no presente caso estamos a tratar de outorga
de mandato para o qual a atuação do advogado não é
imprescindível, muito pelo contrário, o próprio beneficiário
possui o direito de postular administrativamente qualquer
benefício. Saliente-se, ademais, que o ato impugnado emanou
de autarquia previdenciária, ou seja, órgão público voltado
ao atendimento de forma direta e imediata a uma imensa
massa de usuários oriundos dos mais diversos segmentos
sociais, onde há forte pressão pelo atendimento eficiente, o
qual, reafirme-se, é voltado a ter como norma geral a
inexistência de qualquer tipo de intermediário. Assim, há
necessidade de criação de rotinas administrativas que sejam
eficazes e que agreguem segurança aos órgãos públicos, como
o fez o INSS através da edição da IN 57/01. 5 - Apelação
desprovida. (AMS 200261100035770, JUIZ CONVOCADO
RICARDO CHINA, TRF3 - SEXTA TURMA, DJF3 CJ1
DATA:19/04/2011 PÁGINA: 1203.) (grifos nossos)

Cita-se como exemplo a Instrução Normativa INSS/PRES nº


45/2010, que dispõe:

Art. 397. Nos instrumentos de mandato público ou particular


deverão constar os seguintes dados do outorgante e do outorgado,
conforme modelo de procuração do Anexo IV:

I - identificação e qualificação do outorgante e do outorgado;


II - endereço completo;

III - objetivo da outorga;

IV - designação e a extensão dos poderes;

V - data e indicação da localidade de sua emissão; e

VI - indicação do período de ausência, e o nome do país de


destino, caso se trate de viagem ao exterior.

§ 1º Toda e qualquer procuração passada no exterior só terá


efeito no INSS depois de autenticada pelo Ministério de Relações
Exteriores ou consulados, exceto as oriundas da França,
conforme Decreto nº 3.598, de 12 de setembro de 2000.

§ 2º O instrumento de mandato em idioma estrangeiro será


acompanhado da respectiva tradução por tradutor público
juramentado, após legalização do documento original pela
autoridade consular brasileira, exceto as oriundas da França,
conforme Decreto nº 3.598, de 12 de setembro de 2000.

§ 3º Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma


somente será exigido quando houver dúvida de autenticidade do
instrumento.

Art. 398. O original da procuração deve ser apresentado no


início do atendimento, cadastrado no Sistema Informatizado de
Controle de Procuradores e anexado aos autos, acompanhado dos
seguintes documentos:

I - para o procurador advogado: carteira da OAB e CPF; e

II - para os demais procuradores: documento de identificação


e CPF.

2.3. Questões processuais

2.3.1. No processo administrativo no âmbito da Administração


Pública Federal

Nos termos da Lei nº 9.784/99, nos processos administrativos,


deve ser observado, entre outros o critério de observância das formalidades
essenciais à garantia dos direitos dos administrados (art. 2º, VIII), tendo o
administrado, perante a Administração, o direito à facilitação do exercício de
seus direitos e do cumprimento de suas obrigações (art. 3º, I).
Os vícios da procuração são passíveis de saneamento, à luz do
art. 40 do referido diploma legal, in verbis:

Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados


ao interessado forem necessários à apreciação de pedido
formulado, o não atendimento no prazo fixado pela
Administração para a respectiva apresentação implicará
arquivamento do processo.

Não obstante, a jurisprudência é no sentido de que o vício na


representação do administrado, caso não saneado, pode ensejar o não
conhecimento do pleito deste e o arquivamento do pedido formulado à
Administração.

PROCESSO ADMINISTRATIVO - RECURSO


INTERPOSTO POR TERCEIRO - AUSENCIA DE
REPRESENTAÇÃO - NÃO CONHECIMENTO DAS RAZÕES
- REJEIÇÃO DE PLANO - EXCESSO DE FORMALIDADE
NÃO CONFIGURADA - NOTÓRIA CIÊNCIA DO AUTOR
QUANTO À NECESSIDADE DA PROCURAÇÃO. LEI
9784/99. PROVIMENTO DO APELO - INVERSÃO DO ÔNUS
DA SUCUMBÊNCIA. 1. O processo administrativo deve ser
analisado sob o enfoque constitucional, devendo ser pautado,
portanto, pelos princípios da razoabilidade, eficiência,
instrumentalidade das formas, contraditório e ampla defesa,
devido processo legal, dentre outros. 2. A decisão que rejeitou o
recurso do contribuinte por ausência de procuração não se mostra
excessiva, visto que o ofício que lhe fora enviado para intimar
quanto à decisão proferida no processo administrativo fez
constar, de forma clara e objetiva, que, caso o autor quisesse
interpor recurso, deveria, "além de fazer referência ao número do
processo supra, estar, obrigatoriamente, acompanhado de cópia
do estatuto ou do contrato social da pessoa jurídica e também,
quando assinado por procurador, da competente procuração"
(Ofício nº 772/DG/ESDF, expedido em 26/01/06). 3. Se não
bastasse tal advertência, a parte requerente já tinha sido
informada, em oportunidade anterior, que eventual manifestação
a ser apresentada no processo administrativo deveria conter,
"obrigatoriamente, a assinatura (semelhante à dos atos
constitutivos), com a identificação nominal do signatário, e a
comprovação da sua capacidade para assinar ou outorgar poderes
para representação mediante envio de cópia dos atos constitutivos
da empresa onde conste a cláusula de administração ou gerência
e, se for o caso, da procuração, sob pena de não conhecimento
das alegações e do seu desentranhamento dos autos" (Ofício nº
6228 ANP/CEFP/DF, expedido em 09/05/05). 4. O recurso
subscrito pelo contador da empresa no Processo Administrativo,
sem a devida representação, não pode ser considerado como mera
irregularidade, visto que plenamente ciente da exigência
processual. Invocar a incidência dos princípios constitucionais
nesta oportunidade é o mesmo que beneficiar a empresa autuada
de sua própria torpeza. 5. A conduta do autor infringiu, inclusive,
o inciso III do artigo 63 da Lei 9.784/99, legislação que discorre
sobre as normas gerais do processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal. 6. Reforma da sentença é medida
que se impõe. 7. Ficam invertidos os ônus sucumbenciais. 8.
Agravo retido do contribuinte não conhecido e apelação provida.
(AC 200761020088974, DESEMBARGADORA FEDERAL
CECILIA MARCONDES, TRF3 - TERCEIRA TURMA, DJF3
CJ1 DATA:18/02/2011 PÁGINA: 629.)

TRIBUTÁRIO. COMPENSAÇÃO. VÍCIO DE


REPRESENTAÇÃO. INDEFERIMENTO DO PEDIDO NA VIA
ADMINISTRATIVA. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE, DA PROPORCIONALIDADE, DA
EFICIÊNCIA E DO INFORMALISMO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO.. 1. De acordo com o art. 14 do Estatuto
Social, a representação da empresa em atos que impliquem na
sua responsabilidade deverá ser feita por dois diretores ou por um
diretor e um procurador, devendo, ainda, a outorga de procuração
ser assinada por dois diretores da empresa, o que não foi
respeitado em relação às compensações formalizadas às fls.
60/61, 66, 68, 70, 72 e 74 do Processo Administrativo n.º 11080-
066.187/02-07. 2. A impetrante procedeu à correção do vício de
representação, anexando, ainda que intempestivamente, novas
procurações ao processo administrativo, com o que restaram
ratificados os atos praticados anteriormente. 3. A conduta da
autoridade coatora ao não homologar o pedido de compensação
por vício de representação da impetrante, o qual restou sanado,
viola os princípios do informalismo, pelo qual se pauta a
Administração Pública, da razoabilidade (sobre a feição de
proporcionalidade entre meios e fins), bem como da eficiência,
na medida em que não atende ao dever de boa administração,
tanto na atuação do agente fazendário, quanto no modo em que
restou estruturado e disciplinado o processo administrativo sub
judice. 4. Sentença mantida. (APELREEX 200471000255127,
OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA, TRF4 - SEGUNDA
TURMA, D.E. 19/08/2009.)

2.3.2. No processo judicial


2.3.2.1. Recurso sem procuração e impossibilidade de regularização
da representação postulatória na fase recursal

A jurisprudência do STJ e do TST é no sentido de que a


regularização da representação postulatória, por aplicação do art. 13 do CPC,
não pode ser feito na fase recursal, ressalvada, no caso do entendimento da
Corte Trabalhista, a hipótese de mandato tácito.

PROCESSO CIVIL. REPRESENTAÇÃO


POSTULATORIA. A FALTA DE INSTRUMENTO DE
MANDATO CONSTITUI DEFEITO SANAVEL NAS
INSTANCIAS ORDINARIAS, APLICANDO-SE, PARA O FIM
DE REGULARIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO
POSTULATORIA, O DISPOSTO NO ART. 13 DO CPC.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

(RESP 199400193432, PAULO COSTA LEITE, STJ -


CORTE ESPECIAL, DJ DATA:19/12/1994 PG:35223 RSTJ
VOL.:00068 PG:00383.)

NA INSTANCIA ESPECIAL É INEXISTENTE RECURSO


INTERPOSTO POR ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO NOS
AUTOS. (Súmula 115, CORTE ESPECIAL, julgado em
27/10/1994, DJ 07/11/1994 p. 30050)

Súmula nº 164 do TST

PROCURAÇÃO. JUNTADA (nova redação) - Res.


121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

O não-cumprimento das determinações dos §§ 1º e 2º do art.


5º da Lei nº 8.906, de 04.07.1994 e do art. 37, parágrafo único,
do Código de Processo Civil importa o não-conhecimento de
recurso, por inexistente, exceto na hipótese de mandato tácito.

Súmula nº 383 do TST

MANDATO. ARTS. 13 E 37 DO CPC. FASE


RECURSAL. INAPLICABILIDADE (conversão das
Orientações Jurisprudenciais nºs 149 e 311 da SBDI-1) - Res.
129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - É inadmissível, em instância recursal, o oferecimento


tardio de procuração, nos termos do art. 37 do CPC, ainda que
mediante protesto por posterior juntada, já que a interposição de
recurso não pode ser reputada ato urgente. (ex-OJ nº 311 da
SBDI-1 - DJ 11.08.2003)

II - Inadmissível na fase recursal a regularização da


representação processual, na forma do art. 13 do CPC, cuja
aplicação se restringe ao Juízo de 1º grau. (ex-OJ nº 149 da
SBDI-1 - inserida em 27.11.1998)

Tendo em vista que, como visto, a jurisprudência do TST


excepciona a hipótese de mandato tácito, cumpre trazer à colação o magistério
de Leite (2008, p. 416-417):

Embora a jurisprudência majoritária não faça distinção entre


mandato tácito e mandato apud acta, parece-nos factível dizer o
mandato tácito decorre de um conjunto de atos praticados pelo
advogado em nome da parte ou da sua simples presença em
audiência, embora nos autos não conste o instrumento de
mandato. No mandato tácito, o mandatário, isto é, o advogado,
estará autorizado apenas a praticar os atos inerentes aos poderes
da cláusula ad judicia. Logo, náo poderá praticar atos jurídicos
que dependam da outorga de poderes especiais, como confessar,
desistir, transigir, renunciar, receber, dar quitação, substabelecer,
etc. É o que se infere do art. 38 do CPC. Exatamente por isso o
TSTS não admite o substabelecimento feito por advogado
detentor de mandato tácito, nos seguintes termos:

'MANDATO TÁCITO. SUBSTABELECIMENTO


INVÁLIDO. É inválido o substabelecimento de advogado
investido de mandato tácito.' (TST/SBDI-1 OJ 200)

Já o mandato apud acta exsurge pela presença do advogado


em juízo em nome da parte, desde que o ato de nomeação do
patrono da parte seja solenemente registrado na ata
correspondente. No mandato apud acta deve ser observadas as
restrições do art. 38 do CPC, em função do que os poderes do
advogado são apenas os da cláusula ad judicia, salvo se houver
previsão expressa de outorga de poderes especiais na própria ata
de audiência.

Registre-se, ainda, que se impõem mais duas considerações com


relação à ausência de mandato, tendo em vista a jurisprudência do TST, in
verbis:

Orientações Jurisprudenciais da SDI-1:


349. MANDATO. JUNTADA DE NOVA PROCURAÇÃO.
AUSÊNCIA DE RESSALVA. EFEITOS (DJ 25.04.2007)

A juntada de nova procuração aos autos, sem ressalva de


poderes conferidos ao antigo patrono, implica revogação tácita
do mandato anterior.

374. AGRAVO DE INSTRUMENTO. REPRESENTAÇÃO


PROCESSUAL. REGULARIDADE. PROCURAÇÃO OU
SUBSTABELECIMENTO COM CLÁUSULA LIMITATIVA DE
PODERES AO ÂMBITO DO TRIBUNAL REGIONAL DO
TRABALHO. (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010)

É regular a representação processual do subscritor do agravo


de instrumento ou do recurso de revista que detém mandato com
poderes de representação limitados ao âmbito do Tribunal
Regional do Trabalho, pois, embora a apreciação desse recurso
seja realizada pelo Tribunal Superior do Trabalho, a sua
interposição é ato praticado perante o Tribunal Regional do
Trabalho, circunstância que legitima a atuação do advogado no
feito.

No tocante à OJ TST SBD1-1 nº 349, tem-se que, como a juntada


de nova procuração aos autos, sem ressalva de poderes conferidos ao antigo
patrono, implica revogação tácita do mandato anterior, se este vier a praticar
algum ato processual após a juntada do novel instrumento de mandato, a
situação será de prática de ato processual por outorgado sem mandato.

Contudo, impende observar que, no caso do substabelecimento


que não contenha a cláusula "sem reserva de poderes", o STJ presume que a
representação da parte é exercida conjuntamente pelos advogados
substabelecente e substabelecido, conforme julgado a seguir ementado:

AGRAVO REGIMENTAL. AUSÊNCIA DE


ARGUMENTOS CAPAZES DE INFIRMAR OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.
SUBSTABELECIMENTO. CLÁUSULA DE RESERVA DE
PODERES. OMISSÃO.

1. Não merece provimento recurso carente de argumentos


capazes de desconstituir a decisão agravada.

2. Se não consta do substabelecimento, expressamente, a


cláusula "sem reserva de poderes", presume-se que a
representação da parte ficará a cargo dos advogados
substabelecente e substabelecido, em conjunto.

(AgRg no Ag 651.598/SP, Rel. Ministro HUMBERTO


GOMES DE BARROS, CORTE ESPECIAL, julgado em
06/03/2006, DJ 28/08/2006, p. 202)

Já no que concerne à OJ TST SBD1-1 nº 374, é correto afirmar


que, à luz do entendimento nesta sufragado, caso a procuração
ad judicia limite os poderes à prática de atos processuais no âmbito do
Tribunal a quo, lícito será ao advogado outorgado interpor os recursos cabíveis
perante este, para que, cumpridas as formalidades legais, sejam apreciados
pelo Tribunal ad quem.

2.3.2.2. Procuração em autos apensados

Sobre o tema em liça, Nery Júnior e Nery (op. cit., p. 211)


ensinam:

É de reputar-se existente o mandante e regular a


representação da parte, quando a procuração se encontrar em
autos apensos aos autos principais (JSTF 174/92)

Não obstante, a jurisprudência do TST relativiza tal


entendimento:

Orientação Jurisprudencial da SDI-1:

110. REPRESENTAÇÃO IRREGULAR. PROCURAÇÃO


APENAS NOS AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO
(inserido dispositivo) - DEJT divulgado em 16, 17 e 18.11.2010

A existência de instrumento de mandato apenas nos autos


de agravo de instrumento, ainda que em apenso, não legitima a
atuação de advogado nos processos de que se originou o agravo.

3. CONCLUSÃO

A elaboração e a utilização de uma procuração requerem que


sejam considerados os múltiplos aspectos expostos ao longo do presente
trabalho, em ordem a se evitar a ocorrência de vícios que, se não impedirem a
apreciação do pedido formulado pelo interessado/parte, podem comprometer a
celeridade da tramitação dos processos administrativos ou judiciais de seu
interesse.
À vista da controvérsia sobre um dos aspectos anteriormente
abordados, é preferível que, por uma questão de segurança jurídica, seja
seguida a corrente mais formalista na elaboração ou na utilização de
instrumentos de mandato, para prevenir a existência de eventual entendimento
acerca da ocorrência de um dos vícios referidos.

REFERÊNCIAS

DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 9ª


ed., Salvador: Juspodivm, 2008, vol. I.

DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 5ª ed., São Paulo:


Saraiva, 1999.

DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual


Civil. 13ª. ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

KOEHLER, Frederico Augusto Leopoldino. Um estudo sobre os


aspectos polêmicos das exceções processuais (arts. 304 a 314 do CPC). Jus
Navigandi, Teresina, ano 8, n. 66, 1 jun. 2003 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/4106>. Acesso em: 8 abr. 2012.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual


do Trabalho. 6ª ed., São Paulo: LTr, 2008.

MARTINS, Sheila Luft. Breves apontamentos sobre a


procuração. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 77, 01/06/2010. Disponível
em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7887. Acesso em 13/04/2012.

MOLITOR, Ulysses Monteiro. O art. 44 do CPP e a


procuração no juízo criminal. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n.
1294, 16 jan. 2007 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9398>.
Acesso em: 13 abr. 2012.

NEGRÃO, Theotonio. Código de Processo Civil e Legislação


Processual em Vigor. 30ª ed., São Paulo: Saraiva, 1999.

NERY JÚNIOR, Nélson, NERY, Rosa Maria Andrade. Código


de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante. 9ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006.

OLIVEIRA, Iuri Cardoso de. Execução de ofício de


contribuições sociais na Justiça do Trabalho e identificação das
partes. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2897, 7 jun. 2011 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19280>. Acesso em: 9 abr. 2012.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 11ª ed., Rio de


Janeiro: Forense, 1994.

Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico
publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: OLIVEIRA, Iuri Cardoso de. Alguns
cuidados na elaboração e na utilização de procurações. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 20 abr. 2012.
Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.36509&seo=1>. Acesso em: 13 mar.
2019.

fonte: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,alguns-cuidados-na-elaboracao-e-na-
utilizacao-de-procuracoes,36509.html

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