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Dos direitos do nascituro e do

embrião no Direito Brasileiro

I - DOS DIREITOS DO NASCITURO


A situação jurídica do nascituro está abarcada
por diversas áreas do direito. Contudo é no
direito civil que se inicia esta discussão. Afinal,
ao tratarmos do nascituro estamos nos
referindo ao início da personalidade.

Falar dos direitos do nascituro, portanto, é


falar além de uma mera expectativa de direito,
é falar de direitos desde a concepção. Diante
dessa realidade, os direitos da personalidade
tornaram-se tema de grande importância,
alcançando posição de destaque tanto na
doutrina quanto nas legislações. O Código
Civil conferiu-lhe tratamento especial em um
capítulo, denominado: Dos Direitos da
Personalidade.
A lei estipula expressamente que a
personalidade civil inicia-se com o nascimento
da pessoa com vida, porém não se esqueceu
de salvaguardar os direitos do nascituro, que
por obvio, tem proteção no sistema jurídico
pátrio.

Nesse sentido, há reconhecimento dos


direitos da paternidade ainda no útero, o
nascituro pode ainda ser credor de prestações
alimentícias, receber doações e legados e
recolher a título sucessório. É permitida sua
inserção na família, presumindo-o concebido
na constância do casamento, se nascer entre
os 180 dias depois de estabelecida a
convivência conjugal e 300 dias subsequentes
à dissolução dessa sociedade conjugal.

Contudo, antes de se adentrar a partir de qual


momento devem ser assegurados os direitos
do nascituro, fazem-se necessários
estabelecerem-se os conceitos de nascituro,
embrião e feto.

Nascituro é aquele que irá nascer, que foi


gerado, porém não nasceu ainda. Em outras
palavras, nascituro é o ser já concebido e que
está pronto para nascer, mas que ainda está
no ventre materno. O nascituro tem sido
objeto de muitas discussões para o Direito,
pois este se preocupa com aquele que há de
nascer, reconhecendo-lhe direitos que
algumas vezes não dependem do nascimento.
Vale ressaltar que nascituro não se confunde
com concepturo e o natimorto. O concepturo é
também chamado de prole eventual, é aquele
que nem concebido foi. Já o natimorto é o
nascido morto que deverá ser registrado em
livro próprio do Cartório de Pessoas Naturais.
O embrião humano é a fusão dos gametas
masculino (espermatozoide) e feminino
(óvulo), determinante da união de seus
núcleos numa única célula (zigoto), num
processo que se denomina fecundação. É
como uma célula ou grupo de células capazes
de se desenvolver em um ser humano, desde
que interagindo em ambiente adequado.
Haverá embrião a partir da fecundação, isto é,
da união dos gametas masculino e feminino,
que constituem uma nova célula composta de
46 cromossomos e vocacionada à vida
autônoma.
Já o feto é um estágio de
desenvolvimento intrauterino que tem início
após oito semanas de vida embrionária,
quando já se podem ser observados braços,
pernas, olhos, nariz e boca, e vai até o fim da
gestação.
Agora que já conceituados, ainda que de
maneira sucinta, resta outra pergunta, a partir
de que momento começa a vida? Tal pergunta
perdurou-se por séculos, e há diversas teorias
tentando responde-la, portanto, é imperiosa a
demonstração das mesmas.

TEORIA CONCEPCIONISTA
A teoria concepcionista salienta que o início
da vida se baseia no fato da vida humana ter
sua origem na fecundação do óvulo pelo
espermatozoide, momento este denominado
pelas ciências humanas como concepção.

Portanto, se adotada essa teoria, não poderá


haver pesquisas com embriões, mesmo que
fertilizados in vitro, pois isto implicaria em uma
conduta prevista no Código Penal Brasileiro, o
aborto.
Em suma a teoria concepcionista sustenta
que os direitos desde a concepção do zigoto
até sua transformação em embrião é feto
viável e que, garantidas as condições naturais
pode haver o desenvolvimento à condição
humana plena. Desse modo, a Constituição e
o Código Civil Brasileiro garantem a
integridade de tal ser humano, o seu direito de
evoluir, protegido do engenho humano
contrário, da condição de vida humana em
potencial à vida humana de fato.
Essa teoria é adotada pela artigo 2º do Código
Civil, que dispõe: “A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida, mas
a lei põe a salvo, desde a concepção os
direitos do nascituro”.
Estão ainda garantidos os direitos do embrião
na constituição, mais precisamente em seu
artigo 5º, caput, que trata do direito à vida:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida [...]”.
Com esse entendimento, se observa que as
propriedades características da pessoa
humana, ou seja, todo o material genético, já
estão presentes no embrião. Assim, nota-se
que o embrião já é considerado ser humano
com vida própria, sendo garantido, portanto,
no ordenamento jurídico, a tutela do embrião
e do nascituro.

Assim, aos olhos desta teoria, e tendo em


vista o embrião como pessoa em potencial, o
mesmo merece respeito e dignidade que é
dado a todo homem, a partir do momento da
concepção. Inclusive merecendo o devido
amparo jurídico para que não seja tratado
como objeto.

TEORIA GRADUALISTA OU
DESENVOLVIMENTISTA
Para esta doutrina, no início de seu
desenvolvimento o ser humano passa por
uma série de fases: pré – embrião, embrião e
feto. Sendo que, em cada fase o novo ente
em formação apresenta características
diversas.

Salienta essa teoria que não há vida humana


desde a concepção e o embrião, ainda, não
tem caráter humano, sendo comparado a um
mero aglomerado celular. Destarte para os
desenvolvimentistas a vida humana somente
vai merecer respeito à medida de seu
desenvolvimento progressivo, devendo ele ser
gradativo e conforme o desenvolvimento
embrionário e fetal.

TEORIA DA NIDAÇÃO
Nidação é o momento em que o embrião se
fixa na parede do útero, ocorrendo à partir do
4º (quarto) dia da fecundação.

Segundo este entendimento, com o fenômeno


da nidação o embrião já adquire vida. Assim,
é pela implantação que o ovo adquire
viabilidade e determina o estado gravídico da
mulher. Isto posto, antes da nidação apenas
havia um aglomerado de células que
constituiria posteriormente as bases do
embrião.

Esta teoria é defendida por vários


ginecologistas, que utilizam o argumento de
que o embrião fecundado em laboratório
morre se não for implantado no útero de uma
mulher, o que por si só não possuí relevância
jurídica. Como o início da vida ocorre somente
com a implantação e nidação do ovo no útero
materno, não há nenhuma vida humana em
um embrião fertilizado em laboratório e,
portanto não necessita de proteção como
pessoa humana.

TEORIA DAS PRIMEIRAS ATIVIDADES


CEREBRAIS
Se a vida acaba quando o cérebro para, seria
lógico supor que ela só começa quando o
cérebro se forma. Este é o pensamento dos
defensores da corrente das primeiras
atividades cerebrais.

Tal teoria demonstra-se verdadeiramente


lógica, uma vez que este critério é utilizado
para se definir o momento da morte, inclusive
para fins de doação de órgãos, devendo servir
também de orientação para a definição do
início da vida.

TEORIA NATALISTA
A teoria mencionada parte do pressuposto
que a aquisição da personalidade opera-se à
partir do nascimento com vida.

Partindo deste entendimento, constata-se


que, o embrião, não sendo considerado
pessoa, possui mera expectativa de direito.

Destarte, segundo essa teoria, a


personalidade da pessoa tem início a partir do
parto, desde que nascido com vida, o que por
si só seria uma visão extremamente legalista.
Assim, o nascituro seria um ser em potencial
e com expectativas de direitos, pois para que
tenha os direitos que lhe são reservados
ainda em sua existência intrauterina, é
necessário que nasça com vida.
No entanto, para os natalistas, o nascituro não
é considerado pessoa, ele apenas tem, desde
sua concepção, uma expectativa de direitos,
que está sob a condição do nascimento com
vida, assim como preceitua o art. 2º do Código
Civil.
O fato de afirmar que a personalidade tem
início a partir do nascimento com vida, não
quer dizer que o nascituro não tenha direito
antes do nascimento. Se o nascituro, durante
toda a fase intrauterina, tivesse
personalidade, não haveria necessidade da lei
distinguir, os direitos, ou melhor, a expectativa
de direitos que se consolidam com o
nascimento com vida.

Conclui-se que o nascituro, de acordo com


esta teoria, não tem personalidade jurídica
nem capacidade de direito, sendo protegido
pela lei apenas os direitos que terá
possivelmente ao nascer com vida, os quais
são taxativamente enumerados pelo Código
Civil.
Inclusive, o embrião humano, aos olhos desta
teoria, ainda sem atividade encefálica, pode
ser utilizado para pesquisas em prol de outras
vidas humanas.

O NASCITURO NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO
“Aquele que há de nascer, cujos direitos a lei
põe a salvo. Aquele que, estendo [sic]
concebido, ainda que não nasceu e que, na
vida intrauterina, tem personalidade jurídica
formal, no que atina aos direitos de
personalidade, passando a ter personalidade
jurídica material, alcançando os direitos
patrimoniais, que permaneciam em estado
potencial, somente com o nascimento com
vida.” (DINIZ, 2011, p.10)¹

O Código Civil de 2002 trata do início da


personalidade em seu artigo 2º, cujo conteúdo
formado por duas orações peca por
contradição, em que sua parte inicial adere à
teoria natalista “nascimento com vida”, para
assegurar os direitos ao nascituro, e sua parte
final à teoria concepcionista, onde preceitua o
seguinte: “Põe a salvo desde a concepção os
direitos do nascituro”, ou seja, traz ao mesmo,
tutela aos seus direitos, sejam eles materiais,
morais, patrimoniais, desde a concepção.
Apesar da proteção assegurada ao nascituro,
este ainda não possui personalidade jurídica
de fato, mas sim nada mais do que o respeito,
desde o momento de sua concepção, ficando
a personalidade jurídica condicionada ao
nascimento com vida, para que, então, o
indivíduo possa incorporar e deter todos dos
direitos pessoais e patrimoniais resguardados
legalmente.

Segundo o autor Sergio Abdala Semião,


temos que:
“Os direitos do nascituro, para não afrontarem
o caráter universal dos direitos do nascido,
para não contradizerem a 1ª parte do Artigo 2º
do C., e para protegerem seus prováveis
interesses durante o período da gestação,
restringem-se e limitam-se àqueles que são
especificadamente previstos na lei. É a
taxatividade dos direitos do
nascituro (SEMIÃO, 2000, p.68).”²

Os direitos do nascituro, portanto, são


limitados. Sendo assim, a ideia é de que a
personalidade jurídica subdivide-se em duas,
quais sejam a formal e a material. O nascituro
possui apenas a primeira que tange os
direitos de personalidade, enquanto que a
segunda só é adquirida depois do nascimento
com vida e está atrelada aos direitos,
sobretudo patrimoniais.

Assim, restando demonstrado que, apesar de


tudo, o nascituro é titular de direitos, é
importante elenca-los um a um.

DIREITO À VIDA
O direito à vida é superior aos demais direitos
do ser humano, sendo indiscutível sua
importância, que, portanto, atinge o nascituro
mesmo nesta condição suspensiva de
direitos.
A vida é assegurada na Constituição
Federal em seu artigo 5º caput:
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no país a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos seguintes termos:”.

DIREITO A ALIMENTOS
O nascituro, segundo a Lei no 8.560/1992, em
seu artigo 7º possui o direito a alimentos
provisionais ou definitivos do reconhecido,
que deles necessitar:
“Art. 7º. Sempre que na sentença de primeiro
grau se reconhecer a paternidade, nela se
fixarão os alimentos provisionais ou definitivos
do reconhecido que deles necessite.”

Pela teoria concepcionista, fica evidente o


direito aos alimentos desde a concepção para
o desenvolvimento do feto e sua conseqüente
afirmação da personalidade jurídica após o
nascimento com vida.

Conclui-se, portanto, que os alimentos não


devem ser compreendidos num sentido literal,
pois possuem uma conotação de dignidade,
que inclusive é salvaguardada
pela Constituição, abrangendo também
vestimentas, remédios, habitação. É um
direito irrenunciável, sendo sua principal
finalidade assegurar o direito à vida da
criança.
A jurisprudência concede na grande maioria
das vezes o direito provisional de alimentos
ao nascituro:

Ação de Indenização – Em podendo a


obrigação decorrente do direito a
alimentos começar antes do nascimento e
depois da concepção, têm os pais,
mesmos tratando-se de direito
personalíssimo, legitimidade para pleiteá-
los pelo nascituro, que será indiretamente
beneficiado, enquanto se nutrir do sangue
de sua mãe, e diretamente após seu
nascimento, pois já que o Código
Civil coloca a salvo os direitos do
nascituro, e não dispõe este ainda de
personalidade civil, os legitimados para
representá-lo desde a gestação seriam os
pais. Gravidez decorrente de uso de
anticoncepcional falso – Alimento –
Legitimidade ativa dos pais para pleitear
indenização em nome do nascituro (TAMG –
AGI. Acórdão 0321247-9, 20-12-2000, 3ª
Câmara Cível – Rel. Juiz Duarte de Paula).

DIREITO A REPRESENTAÇÃO
O nascituro tem assegurada sua
representação assim como os filhos já
nascidos e também pelo
artigo 1.779 do Código Civil considerar a falta
do poder familiar, onde então se outorga a
curatela.
Portanto, presente no texto legal na seção
que trata do poder familiar, os pais devem
representar os filhos até os dezesseis anos e
assisti-los após esta idade
(artigo 1.634 inciso V e artigo 1.690 do CC).
Na ausência dos pais ou quando estes não
puderem representá-los será nomeado
representante legal.
DIREITO DE RECEBER DOAÇÃO
De acordo com o artigo 538 do Código Civil
de 2002, a doação é o “contrato em que uma
pessoa, por liberdade, transfere do seu
patrimônio bens ou vantagens para o de
outra”, desde que os aceite. E ainda, o
artigo 542 do Código Civil preconiza: “A
doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita
pelo seu representante legal.”
Neste dispositivo encontramos uma
incoerência, pois: se a doação ao
absolutamente incapaz tem aceitação
presumida (independente da anuência do
representante legal) prevista no
artigo 543 do Código Civil; porque ao
nascituro precisa de aceitação do
representante?
Porém esta incoerência jurídica se resolve
quando o doador aguarda o nascimento do
donatário para realizar a doação.
Todavia, com a doação ao nascituro, se o
nascimento se der sem vida, a doação será
considerada inexistente, como se nunca
tivesse ocorrido e o bem volta a incorporar o
patrimônio do doador.

DIREITO DE SUCEDER
O Código Civil, em seu artigo 1.798 prega:
“Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas
ou já concebidas no momento da abertura da
sucessão.” É um direito eventual, que se torna
um direito pleno, a partir do seu nascimento
com vida.
Portanto, nascendo o individuo com vida, são
realizados os tramites sucessórios no
momento da abertura da sucessão. Nascendo
ele sem vida, e tendo herdeiros da legítima
recolhido a herança, ocorre a mesma situação
da renúncia da herança, pois é considerado o
renunciante como se nunca tivesse sido
herdeiro.

O nascituro, embora não tenha personalidade


de acordo com o Código Civil, tem capacidade
para adquirir por testamento. Morto o testador
antes de seu nascimento, a titularidade da
herança ou legado fica, provisoriamente, em
suspenso. Se o nascituro nascer com vida,
adquire naquele instante o domínio de tais
bens.
A INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ
O tema vem sendo calorosamente discutido
na atualidade, e inclusive, é alvo de diversos
protestos por uma parcela da população, pois
há adeptos das diversas teorias supracitadas,
que dizem justamente a respeito do inicio da
vida. O Projeto de Lei nº 5069/2013, que
tipifica como crime contra a vida o anúncio de
meio abortivo e prevê penas específicas para
quem induz a gestante à prática de aborto,
vem sendo severamente criticado por uma
parcela da sociedade, que afirma
veementemente que o aborto seria um direito
da mulher, e que, inclusive, um feto não seria
um ser humano autônomo, sendo parte
integrante do corpo da mulher, tendo esta o
direito de fazer com que bem entender com
ele.

Se for verdade que o nascituro é titular de


direitos a partir da concepção e da
personalidade civil a partir do nascimento com
vida, nos termos do art. 2º do Código Civil,
não menos certo que esse direito à vida,
consagrado pela legislação civil, não
prevalece quando está em causa outros
valores como a saúde pública e a dignidade
da mulher.
Por essa razão, enquanto os
artigos 124, 125 e 126 do Código Penal em
detrimento ao direito à vida, punem a
interrupção da gravidez através da prática do
aborto, o art. 128 do Código Penal, em
homenagem à saúde pública e à dignidade da
mulher, permite a interrupção da gravidez
praticada por médico quando se visa “salvar a
vida da gestante” ou “quando a gravidez é
resultante de estupro e o aborto é precedido
de consentimento da gestante ou de seu
representante legal”.
Nesses casos a doutrina corrente faz alusão
ao “aborto legal”, mas essa expressão tem
sido combatida pelos juristas católicos
conservadores, dentre os quais o deputado
federal Hélio Bicudo e o tributarista Ives
Gandra da Silva Martins, sob o argumento de
que o aborto é sempre ilegal, pois
a Constituição Federal assegura a
inviolabilidade do direito à vida e o
art. 128 do Código Penal não descriminaliza o
aborto, apenas limita a enunciar que nos
aludidos casos ocorre exclusão da
punibilidade e não do crime.
A discussão, ao que tudo indica é bizantina,
pois carece de embasamento científico, e se
oferece viciada por preconceitos puramente
religiosos. Além da vida
a Constituição assegura os direitos
fundamentais à liberdade, à propriedade, mas
a própria Constituição e a legislação
infraconstitucional asseguram restrições e
limitações aos referidos direitos. O aborto
legal deve ser tratado como uma questão de
saúde pública e de cidadania, e não uma
questão a ser enfrentada à luz do Código
Penal.

II – DOS DIREITOS DO EMBRIÃO


Para que sejam respeitados os direitos do
embrião, o mesmo deve ser considerado
como pessoa. Aceitar que o embrião é vida
humana, significa reconhecer que ele é uma
pessoa, e por isso deve ser respeitado como
tal.

Porém, a realidade não se apresenta desta


forma, e os direitos do embrião, são por
muitas vezes violados, o que, por exemplo,
pode ser constatado pelos protestos
supracitados, que ignoram o fato de que o
embrião pode ser considerado como ser
humano, dotado, portanto, de direitos. O ser
humano, e no caso, o embrião, detendo a
qualidade de pessoa, é portador da dignidade
ética e titular de direitos inatos, inalienáveis e
imprescritíveis, como o direito à vida, ao qual
o Estado deve respeito, por ser assegurado
pelo nosso ordenamento jurídico.

Exemplos não faltam em nosso sistema


jurídico.
A Constituição Federal, em seu
artigo 5º caput, assegura:
Artigo. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no país a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos seguintes termos;

O artigo 2º do Código Civil de 2002 expõe: “A


personalidade civil da pessoa começa do
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,
desde a concepção, os direitos do nascituro”.
A Lei no 8.560/1992, em seu artigo 7º,
assegura ao nascituro o direito a alimentos
provisionais ou definitivos do reconhecido,
que deles necessitar: “Sempre que na
sentença de primeiro grau se reconhecer a
paternidade, nela se fixarão os alimentos
provisionais ou definitivos do reconhecido que
deles necessite.”.
O Estado tem a obrigação de prover um
desenvolvimento digno e sadio ao nascituro e
a mãe tem direito a realização do atendimento
pré e perinatal, conforme demostra o Estatuto
da Criança e do Adolescente , nos
artigos 7º e 8º:
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a
proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento
sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência.
Art. 8º É assegurado à gestante, através do
Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e
perinatal.

O nascituro é também detentor do direito à


vida, de forma que cabe ao Estado a sua
proteção, sem tirar, é claro, a
responsabilidade da genitora de protegê-lo, de
forma que, não atente contra a vida do feto,
interrompendo a vida que se desenvolve em
seu útero.

O direito à vida é, antes de mais nada, pré-


requisito para o exercício de qualquer dos
direitos inerentes ao indivíduo, e, portanto,
deve ser respeitado preliminarmente, já que
se violado, os demais direitos que dele
possam resultar serão violados
automaticamente.

Sendo uma vida de fato, o nascituro possui os


mesmos direitos de qualquer pessoa como
ser humano. Se o embrião se desenvolver e
nascer com vida, a ele serão assegurados
todos os direitos inerentes aos já nascidos.

CONCLUSÃO
Restou evidente, após analise do tema, de
que o direito brasileiro tutela, de fato, os
direitos do nascituro e do embrião, ainda que
de forma limitada. Por obvio, os direitos
garantidos não são exatamente àqueles
dados à pessoa nascida com vida, contudo,
ainda lhe são garantidos certos direitos que
estão previstos pelo nosso ordenamento, e
inclusive, reconhecidos na prática, no
cotidiano, de diversos âmbitos do direito.

No caso de um tema tão relevante e discutido


atualmente, o nascituro se destaca no
ordenamento jurídico brasileiro pela “atenção”
adquirida, apesar do fato de sequer ter
nascido.

A discussão se inicia logo no princípio


do Código Civil, no art. 2º, que como já
mencionado, parece adotar as duas correntes:
a natalista e a concepcionista, sendo,
portanto, contraditório.
A legislação nacional estabelece o início da
personalidade da pessoa a partir do
nascimento com vida. Contudo, o nascituro
não se encaixa nesse quadro, e o argumento
errôneo de que ele faz parte das dos órgãos
da mulher não pode prosperar. Ele já tem
forma própria, já possui uma composição
genética completa, igual ao de um ser
humano adulto. Por que, então, deixá-lo de
lado no Direito?

O concebido já e para a Medicina considerado


pessoa e, por serem duas disciplinas
totalmente relacionadas, Medicina e Direito
andam cada vez mais juntos em suas
decisões. Portanto, por que ele também não
pode ser considerado “uma pessoa” para esse
Direito?

Em outras palavras, e lembrando das


recentes manifestações que ocorreram em
nosso país acerca do tema, parte da
população recusa-se a enxergar o nascituro
como ser humano, ignorando o fato de que o
mesmo já pode ser tutelado pelo direito, não
sendo somente de um objeto desprovido de
vida, passível de ser descartado ao bel prazer
da “mãe”.

Assim como o Brasil, o Direito Internacional


também reconhece o direito a alimentos, à
curatela, à filiação, à integridade física, à
imagem, direito de receber doações, de
representação, de suceder, a posse em nome
do nascituro e, o mais primordial deles: o
direito à vida.

Muitos julgados admitem a personalidade do


nascituro; outros, no entanto, não a declaram
por não considerá-lo pessoa. Exemplos disso
são os processos de danos causados ao
nascituro e que são relegados a segundo
plano, principalmente os danos morais. Danos
esses que podem afetar o desenvolvimento
natural do feto no presente e no futuro.
Danos, em que o nascituro se encontra na
posição de sujeição, pois não possui
instrumentos físicos de defesa. Entende-se,
portanto, que, pelas mudanças que a
Medicina vêm sofrendo nos últimos anos, a
teoria concepcionista é a que mais se adequa
ao Direito, ou melhor, ao Biodireito.
Quanto ao momento da concepção, o que se
pode afirmar com certeza é que sem a
nidação não é possível que o ser humano
possa se desenvolver, sequer adquirir
personalidade jurídica que lhe garanta exercer
seus direitos, posto que sua sobrevivência
sem a ocorrência do fenômeno é nula.

Em conexão com isto, também se entende


que não há como considerar que ao embrião
que ainda não fora implantado no corpo da
mulher seja garantido os mesmos direitos que
ao nascituro intrauterino, visto que aquele
ainda não atingiu o estágio que lhe permita
desenvolver-se e adquirir seguramente
personalidade jurídica.

Não obstante, faz-se necessário que haja


mudanças na legislação vigente, em especial,
no Código Civil, a fim de promover adaptação
a esse momento histórico inovador para que
tanto profissionais da área médica como
juristas possam ter a segurança de como
introduzir críticas e melhoramentos ao tema.
BIBLIOGRAFIA
¹Maria Helena Diniz citada por Juliana Simão
da Silva e Fernando Silveira de Melo Plentz
Miranda na Revista Eletrônica Direito, Justiça
e Cidadania – Volume 2 – nº 1 – 2011, p.10.

²SEMIÃO, Sergio Abdalla. Os direitos do


nascituro: aspectos cíveis, criminais e do
biodireito. 2 ed. Ver., e atual. E ampl. Belo
Horizonte: Del Rey, 2000.

Leonardo Araújo Porto de Mendonça

Fonte:
https://leonardoapmendonca.jusbrasil.com.br/a
rtigos/325703422/dos-direitos-do-nascituro-e-
do-embriao-no-direito-brasileiro

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