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Soluções alternativas “gambiarras” utilizadas nas manutenções em projetos de iluminação de

monumentos e fachadas em prédios culturais da cidade de São Paulo. Julho/2015


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Soluções alternativas “gambiarras” utilizadas nas manutenções em


projetos de iluminação de monumentos e fachadas em prédios
culturais da cidade de São Paulo.

Maria Lúcia Chedieck Martins - luz_chedieck@yahoo.com.br


Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação – IPOG
São Paulo-SP, 08 de julho de 2014

Resumo

Este artigo tem como interesse apontar, por meio de pesquisa de campo com registro
fotográfico, juntamente com pesquisa bibliográfica, a ausência de manutenção adequada na
iluminação de fachadas e monumentos realizadas no sentido de manter a originalidade dos
projetos de iluminação. Trata-se de uma preocupação que aflige tanto os profissionais de
iluminação, quanto os usuários, arquitetos, engenheiros, paisagistas e demais profissionais
envolvidos nos projetos de iluminação. Com a pesquisa, percebe-se que a ausência da
formação de técnicos especializados nessa área para executar a manutenção dos conjuntos
de luminárias das fachadas e monumentos, provocando descaracterização dos projetos
originais. Entende-se que a causa maior desse problema está na ausência de um plano de
formação de profissionais técnicos especializados em desempenhar a função de manter e
conservar a iluminação de fachadas e monumentos. Com isto, verifica-se a prática de
introduzir soluções alternativas com materiais inadequados, promovendo “gambiarras” em
instalações elétricas e em luminárias, provocando a degradação e, por consequência, a
descaracterização do projeto original do lighting designer. Sem a capacitação de pessoal
para manutenção e reparos, o trabalho do designer de iluminação pode ser desmantelado.

Palavras-chave: Iluminação; Gambiarra; Manutenção; Fachadas e Monumentos;

1 Introdução

Iluminar fachadas e monumentos visa criar uma impressão agradável para quem os observa,
destacando aspectos arquitetônicos e valorizando os monumentos. A iluminação noturna dos
espaços urbanos, os edifícios ou o ambiente de modo geral visa atingir determinados
objetivos, compreendendo segurança, suporte ao desenvolvimento, destaque de áreas
históricas ou espaços públicos. Todavia, apesar de sua importância, a iluminação de espaço
urbano foi, até pouco tempo atrás, bastante negligenciada.
Atualmente, há a ideia de promover critérios estéticos e funcionais de iluminação adequados à
diversidade de estruturas existentes nas cidades, envolvendo inúmeras variáveis tanto das
características arquitetônicas quanto técnicas, da iluminação propriamente dita.
A iluminação artificial pode exercer uma função artística, combinando seus princípios
técnicos com suas múltiplas variáveis de cor, intensidade e foco. Essa técnica é executada por

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015
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um lighting designer, expressão em inglês que denomina o profissional especializado em


iluminação, textualmente “desenhista de luz”.
Esse profissional tem sido cada vez mais requisitado para o planejamento e elaboração de
projetos arquitetônicos, cênicos, de eventos, dentre inúmeros outros, considerando sempre as
características próprias de cada projeto, com as características das fontes luminosas, da
intensidade da iluminação e das cores, criando cenas de efeitos que produzem ambientes
agradáveis e belos.
Percebe-se que, como se trata de um conjunto de técnicas que exigem noções em diversas
áreas, como arquitetura, engenharia civil, paisagismo, eletricidade, dentro de concepções
artísticas, os profissionais envolvidos têm de contar com tais conhecimentos.
Entretanto, percebe-se a falta de um plano de formação e treinamento de técnicos
especializados na área de iluminação para realizar essa tarefa com qualidade, sendo que esse
fato tem provocado problemas em termos culturais, ambientais, sociais e até mesmo
econômicos, principalmente com a prática de soluções alternativas na manutenção de locais
iluminados por lighting designer.
A ausência de formação de profissionais gera esse tipo de soluções alternativas, ou
“gambiarras” nas instalações elétricas e nas luminárias, provocando a degradação e
consequente descaracterização do projeto original, com resultados bastante negativos.
Diante da constante ocorrência desse fato, surgiu a ideia de realizar este trabalho,
investigando, por meio de pesquisa de campo com registro fotográfico, juntamente com
pesquisa bibliográfica e documentos de prédios culturais da cidade de São Paulo, para
verificar através dessas imagens, a degradação e falha na conservação, sem preservar a
originalidade dos projetos de iluminação de monumentos e fachadas.

2 Iluminação de monumentos e fachadas

A iluminação de monumentos e fachadas constitui uma forma de comunicação artística e sua


expressão no meio urbano em seu período noturno. Iluminar ambientes e objetos é uma
técnica que exige conhecimentos de arquitetura, paisagismo, eletricidade e das possibilidades
dos diversos e diferentes equipamentos, para proporcionar um ambiente. A visão, juntamente
com a percepção da luz, é um dos principais sentidos que possibilitam às pessoas perceber o
espaço, com características determinantes para o comportamento em relação a esse espaço. A
iluminação – natural ou artificial -, produz efeitos que influenciam a interação das pessoas
com o ambiente construído. Assim, a maneira como cada indivíduo interpreta o espaço a
partir de sua visão, compreende a cultura, as relações, as atividades e emoções (VARGAS,
2011).
Dependendo de suas características e a forma de distribuição, a luz proporciona interpretações
diferenciadas de um mesmo espaço ou objeto, pois o aspecto subjetivo da percepção da luz
provoca alterações comportamentais e de humor, as quais determinam avaliações a respeito
do espaço físico e da qualidade dos ambientes construídos, provocando atração ou repulsa. A
iluminação, destacando significados positivos, faz com que um visitante passe mais tempo no
local, enquanto que, em caso contrário, sua reação será oposta e logo deixará o ambiente. As
sensações visuais provocadas pelo ambiente serão duradouras e influenciarão futuras atitudes
(VARGAS, 2011).
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Prédios oficiais, templos religiosos, monumentos e construções históricas são iluminados à


noite para chamar a atenção e criar um ambiente agradável, valorizando-os e, servindo ainda
como atração turística, atraindo até mesmo novos negócios para a comunidade. O artista
plástico e engenheiro eletrônico Roger Nardoni, considerado o primeiro lighting designer na
França, criador do termo em francês “concepteur lumière”, em uma entrevista à Revista Lume
Arquitetura, de acordo com Maio (2008, p. 7) destaca:
Urbanismo diurno não é a mesma coisa que o urbanismo noturno. A cidade à noite
nada tem a ver com a cidade durante o dia. É uma outra cidade. Há novos conceitos
surgindo na Europa, como por exemplo, que nós devemos eleger um prefeito para a
noite, diferente do prefeito da cidade durante o dia.

A iluminação adequada de uma paisagem pode desempenhar um verdadeiro papel de


catalisador, ao revelar toda a sua beleza e diversidade e ao encorajar, simultaneamente, a sua
redescoberta ao cair da noite. O design da iluminação consiste em projeto tão complexo
quanto a arquitetura, pois oferece múltiplas possibilidades ao recriar ambientes e proporcionar
significativas mudanças na paisagem. A iluminação noturna é de suma importância para dar o
destaque desejado ao objeto ou edifício iluminado, o que pode aumentar a complexidade do
projeto de design. A respeito da luz elétrica, artificial, tem-se em Miguez (2014, p. 4):
A luz artificial é um fenômeno fascinante. Ao contrário da luz geral vinda do sol,
cujas características são determinadas pela natureza, a luz elétrica é específica,
particular. Podemos modificar a fonte luminosa, sua posição, intensidade, cor, obter
efeitos múltiplos, criando e recriando diferentes climas em um mesmo espaço. Com
ela é possível revestir sem estuque, pintar sem tinta. Provocar um efeito pode ser tão
rápido quanto atenuá-lo, ou até retirá-lo. A luz é um agente muito poderoso e é
importante ter controle sobre ela.

A iluminação elétrica, no entanto, exige que sejam cumpridas diversas normas e, portanto, o
lighting designer deve observar alguns itens, como as normas da concessionária de energia,
cuidados relacionados à segurança, observar metas de sustentabilidade, selecionar
equipamentos adequados atendendo às especificações técnicas, elaborar documentação do
projeto, analisar devidamente o alvo da iluminação, proceder à análise econômica do projeto,
resolver as questões relacionadas à construção como um todo, atender aos requisitos do
cliente e acompanhar o trabalho de fornecedores e do pessoal que executa da obra
(REICHARDT, 2014).
Todos os pontos necessários têm que, necessariamente, ter sua execução realizada por um
profissional técnico capacitado, pois há, certamente, grande complexidade nisso tudo e,
portanto, se o designer de iluminação não executar essas tarefas cruciais, surge a questão
sobre quem mais poderia fazer.
Na história da iluminação, as galerias de arte foram os precursores das soluções avançadas,
pois a iluminação é necessária para valorizar os objetos de arte expostos. Durante o passar dos
anos, a arquitetura e a arte desenvolveram-se e passaram por grandes transformações. O
problema básico de iluminação continua, mas, devido à grande utilização de superfícies de
vidro, atualmente tornou-se mais grave. Os diversos aspectos do design de iluminação devem

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partir das necessidades da arte e da arquitetura, utilizando os mais adequados métodos e


conhecimentos de arquitetura e iluminação elétrica (OKSANEN; NORVASUO, 2014).
Como o sucesso de um projeto de iluminação é resultado de vários e diferentes aspectos, com
crescente complexidade, o mercado de trabalho para designers de iluminação tem se
ampliado. Certos aspectos, como conhecimento técnico e estético, respeito ao limite do
orçamento apresentado ao cliente, integração do trabalho com os demais profissionais
envolvidos no empreendimento, apoio técnico eficiente de fornecedores e relacionamento
apropriado com administradores da obra são requisitos fundamentais para esse sucesso. A luz
de um ambiente contribui para direcionar o comportamento das pessoas ao oferecer sensações
agradáveis ou não. Assim, a escolha correta do tipo de iluminação é o fator essencial para
proporcionar o bem-estar das pessoas e, para que isso aconteça, é necessário que o designer de
iluminação conheça os conceitos luminotécnicos para adequar a iluminação aos espaços e às
sensações desejadas, compreendendo o Índice de Reprodução de Cor (IRC), o Fluxo
Luminoso, Temperatura de Cor e a Eficiência Energética (BORIN, 20xx).
O comparativo entre a fonte de luz artificial e natural é o IRC, medido em uma escala de zero
a cem, na qual, quanto mais alto o índice, melhor a reprodução de cor. A quantidade de luz
emitida por uma fonte luminosa é o Fluxo Luminosa, medido em lúmen, sendo que a
Eficiência Energética é o indicativo da melhor relação entre a iluminação necessária e a
potência instalada em um ambiente (BORIN, 20xx).
Nas interações do indivíduo com o ambiente, a percepção e a cognição compõem um sistema
com associação de estímulos específicos e estímulos, influenciando comportamentos futuros.
Quanto ao aspecto conforto, observa-se em Castro et al. (2006, apud VARGAS, 2011, p. 90),
que cita:
[...] vários critérios relativos à percepção visual, como contrastes, ângulos de visão,
ofuscamentos e níveis de iluminamento, que podem interferir nas atividades
produtivas e provocar desajustes à saúde, influenciando na avaliação e,
consequentemente, nas relações afetivas travadas com o lugar, sejam elas positivas
ou negativas.

Ao agirem no indivíduo, as sensações visuais provocam significados e valores objetivos e


subjetivos envolvendo aspectos socioeconômicos, culturais e até questões fisiológicas,
influenciando comportamentos individuais e coletivos nos relacionamentos desenvolvidos nos
ambientes iluminados. Para que a iluminação seja eficiente e sejam cumpridos objetivos de
sustentabilidade e de economia, além da utilização de fios e cabos apropriados, é necessário
proceder à escolha correta das lâmpadas, cada qual com sua característica própria. Na tabela
abaixo são apresentados tipos de lâmpadas disponíveis no mercado.

Tipo de lâmpada Características


Incandescentes São as mais comuns nas casas brasileiras, porém, emitem pouca luz
e mais calor, consumindo mais energia.
Fluorescentes tubulares São indicadas para escritórios e salas de estudo que precisem de
iluminação potente e uniforme. Apresentam baixo consumo de
energia e boa duração.
Fluorescentes compactas São bastante usadas em banheiros e cozinhas. As de baixa potência

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podem ser utilizadas em lugares de passagem, como corredores.


Podem ser mais caras que as incandescentes, porém, apresentam
longa vida útil, o que proporciona economia em longo prazo.
Halógenas / Dicroicas São muito utilizadas em projetos de decoração, devido ao facho de
luz direcionado, proporcionando um ambiente aconchegante. Em
alguns modelos conta com refletor espelhado multifacetado
dicroico.
LED São a melhor opção no mercado, atualmente, apesar do uso
doméstico ser pouco difundido. Apresenta excelente vida útil e
redução do consumo em até 90%. As lâmpadas de LED têm a
vantagem de iluminar mais sem esquentar. Pode ser usada na sala
para dar destaque a determinados móveis, objetos e esculturas; nos
quartos e salas, em nichos de gesso ou marcenaria, e até mesmo na
varanda como pontos de luz.
Tabela 1 - Tipos de lâmpadas disponíveis no mercado
Fonte: VARGAS (2011)

A iluminação pública nos centros urbanos contribui para que seus habitantes desfrutem do
espaço público também à noite, com maior segurança, prevenindo a criminalidade,
embelezando as áreas urbanas e, ainda, valorizando monumentos históricos, paisagens,
jardins, avenidas, dentre outros espaços. Certamente que, se o sistema de iluminação pública
de uma cidade receber uma manutenção correta, a própria imagem da cidade será melhorada.
A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANELL, autarquia vinculada ao Ministério das
Minas e Energia, que atua como órgão fiscalizador da produção, transmissão e
comercialização de energia elétrica, apresenta regulamentação perante os municípios no
sentido de contribuir para o desenvolvimento social (segurança, lazer e turismo) e econômico
da população (gastos excessivos com materiais incorretos nas instalações e a ausência de
manutenção periódica).

3 Projeto de iluminação de monumento e fachadas

Um projeto de iluminação de monumentos ou fachadas exige planejamento por parte do


lighting designer, e é necessário cumprir algumas etapas, como visita técnica; estudo do
histórico do prédio; planejamento, programação da ampliação e remodelação da rede de
iluminação, caso seja necessário; estabelecer as especificações técnicas dos diversos
materiais; controle da qualidade do material; armazenamento adequado; orientação a respeito
de como devem ser realizadas as instalações; fixação dos equipamentos; e orientação
posterior a respeito da manutenção, visando, dessa forma, conservar o projeto original.
O planejamento da iluminação tem de considerar as três dimensões dos objetos que serão
iluminados. Dessa forma, provocar a percepção do espaço público e do privado, além de
mostrar a forma como a cidade é usada. A luz, por sua vez, tem de estar relacionada e em
proporção com o espaço físico que ilumina. A distância entre o ponto luminoso e as
superfícies verticais determina a iluminação de um determinado espaço, e este é o conceito
que se deve reproduzir na iluminação da cidade, dando a sensação de segurança que o espaço
é capaz de provocar. É a distância entre o ponto luminoso e a superfície iluminada que
influencia os requerimentos exigidos na distribuição da luz pelas luminárias. É isso também

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que determina as sombras do espaço delineado e o aspecto da forma e da textura de um


edifício.
A perspectiva longitudinal de pontos brilhantes enfatiza a tridimensionalidade do espaço
urbano, revelando a regularidade longitudinal das superfícies horizontais; tornando-se um
guia ótico, que permite prever o trajeto de uma rua longa antes de que ela termine. Interage
com a emissão da luz agregando ritmo às sombras das superfícies verticais delineadas, as
quais conferem variação às ruas, modelando o volume e o curso de um espaço, facilitando sua
percepção (MASCARÓ, 2006).
Para que todos esses requisitos sejam cumpridos adequadamente, torna-se necessário
instrumentalizar e formar o técnico responsável, para que fiquem mantidas as especificações
do projeto de acordo com as informações atualizadas a respeito das especificações técnicas
das unidades de iluminação pública. Na manutenção, a presença desse profissional é
importante para remover, suprimir ou reinstalar equipamentos danificados, sempre de acordo
com as especificações do projeto original de iluminação. Nos casos em que houver
necessidade de realizar modificações devido a existência de material obsoleto no mercado, o
técnico, sempre que possível, deve consultar o lighting designer, impedindo realizar
alterações que possam desconfigurar o projeto inicial e, com isto, evitar a realização das
gambiarras que podem descaracterizar a iluminação e o próprio ambiente.
A iluminação noturna de ambientes públicos pode ter objetivos sociais ou econômicos, que
incluem a segurança, o apoio ao desenvolvimento, destacar áreas históricas ou os espaços
verdes e, ainda, para enviar mensagens. Os objetivos quanto à iluminação de ruas, avenidas e
espaços urbanos podem ser diferentes entre comunidades diversas, sendo instalada para a
segurança e visibilidade de motoristas, para criar a sensação de segurança entre os vizinhos de
um bairro ou ser instalada em uma área de jogos ou de prática de esportes, para permitir sua
utilização à noite. Assim, em muitas áreas centras das cidades, a iluminação artificial constitui
um elemento estético que contribui para atrair consumidores aos estabelecimentos comerciais
da região iluminada (MASCARÓ, 2006).
Apesar de sua importância, até pouco tempo atrás, a iluminação de espaços urbanos era uma
área negligenciada por arquitetos, urbanistas e até mesmo iluminadores. Atualmente, a ideia
consiste em promover critérios de iluminação estéticos e funcionais adequados à diversidade
de estruturas encontradas nas cidades, o que resulta em inúmeras variáveis que devem ser
consideradas em um projeto de iluminação (MASCARÓ, 2006).
Dessa forma, se o projeto de iluminação requer um lighting designer devidamente capacitado
para estudar as múltiplas variáveis existentes no espaço urbano, estudando desde o histórico
do local ou do monumento a ser iluminado, planejar e estabelecer as especificações técnicas
dos materiais que devem ser utilizados, para conservar o projeto original, a manutenção
também precisa ser realizada por um técnico capacitado.
Assim, é evidente que para cumprir todas especificações técnicas o profissional responsável
pela manutenção deve ser capacitado para isso, instrumentalizado e formado de acordo com
as especificações técnicas atualizadas de iluminação pública.

4 Análise fotográfica do Museu da Imagem e do Som

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A pesquisa fotográfica foi realizada no prédio do Museu da Imagem e do Som – MIS,


localizado na avenida Europa, distrito de Pinheiros, bairro nobre da cidade de São Paulo. O
MIS, museu público estadual vinculado à Secretaria Estadual da Cultura, foi inaugurado em
1970, com a finalidade de registrar a imagem e o som do passado e do presente, criando um
centro de referências para a pesquisa audiovisual brasileira, em seus aspectos humanos,
sociais e culturais. Atualmente, após uma extensa reforma de adequação técnica, o museu
conta com cinco mil metros quadrados, além de um estacionamento. Observa-se na Figura 1 a
fotografia do museu. A manutenção da iluminação do Museu da Imagem e do Som, como é
possível constatar através de algumas fotografias, tem sido bastante falha, na qual se percebe
a utilização de soluções alternativas – as gambiarras –, o que acaba dando um aspecto
bastante negativo, de desleixo, transparecendo a falta de cuidados técnicos na realização dos
serviços de conservação.
A falta de profissionais preparados para realizar a manutenção dentro dos preceitos técnicos,
atendendo às especificações do projeto original acaba resultando na degradação da iluminação
dos prédios e monumentos, fazendo com que percam todas as características originais,
deixando de cumprir os objetivos estipulados na concepção do projeto do lighting designer.
Foram encontrados projetores de piso com vidro trincado e com a borda de concreto
apresentando vazamentos; luminárias apagadas; luminárias quebradas; gambiarras com
luminárias diferentes do conjunto original, dentre outros problemas.
As imagens obtidas das soluções alternativas adotadas não permitem identificar os materiais
utilizados como recurso para consertar ou realizar a manutenção do equipamento de
iluminação do Museu da Imagem e do Som.
Verificou-se, através de um questionário aplicado no local, que o técnico responsável pela
manutenção das instalações elétricas do projeto luminotécnico compõe parte do setor de
manutenção geral do museu, dividindo essa atividade com outras funções.

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Figura 1 – Museu da Imagem e do Som – MIS


Fonte: MIS (2014)
Nas fotografias apresentadas nas figuras seguintes, é possível observar a existência de
luminárias apagadas na entrada do Museu da Imagem e do Som.

Figura 2 – Luminária apagada


Fonte: Elaboração própria

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Figura 3 – Luminárias apagadas na entrada do prédio


Fonte: Elaboração própria

Todas essas luminárias apagadas, como se observa nas fotografias, compõem o conjunto de
iluminação da fachada do prédio do Museu da Imagem e do Som e, a ausência do foco de luz
dessas lâmpadas descaracterizam totalmente o efeito visual que, de acordo com a proposta
original do projeto de iluminação, deveria alcançar.
Mas a situação não se restringe às lâmpadas apagadas, mas vai além, com a utilização de
arranjos alternativos sem qualquer qualidade, empregando materiais desconhecidos e fora dos
padrões técnicos, como se observa nas fotografias das figuras seguintes.

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Figura 4 – Luminária danificada


Fonte: Elaboração própria

A Figura 4 apresenta uma luminária completamente danificada e, pelo material depositado na


mesma, dá a impressão de que se trata de um fato existente a bastante tempo, tendo em vista a
quantidade de material estranho que ali se encontra. Percebe-se também a utilização de
materiais desconhecidos nos consertos efetuados, como é possível constatar no rejunte
colocado na luminária da Figura 5.

Figura 5 – Luminária “remendada” com material desconhecido


Fonte: Elaboração própria

A manutenção da iluminação do Museu da Imagem e do Som, pelo que se constata nas


imagens registradas, não atende aos profissionais de iluminação, descaracterizando o trabalho
de arquitetos, engenheiros e paisagistas, representando um enorme descaso para com os
usuários e visitantes do museu.

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Tanto nas luminárias colocadas na parte superior (Figura 6), com o foco direcionado para
baixo, quanto aquelas colocadas no solo, com foco direcionado para o alto (Figura 7), é
possível constatar o descaso e, pior, fios e cabos colocados displicentemente, sem proteção
alguma, apesar de ser uma iluminação não permanente, sendo refletores para eventos,
observa-se uma falta de critério com sua segurança.

Figura 6 – Luminária apagada


Fonte: Elaboração própria

Os consertos “provisórios”, com a utilização de materiais desconhecidos, são constantes,


resultando em manutenção sem nenhuma qualificação técnica, dando um aspecto deplorável
ao conjunto iluminado.
Constata-se, nestas fotografias, que não há um responsável técnico de manutenção
devidamente capacitado para realizar os serviços de manutenção em conformidade com o
projeto do lighting designer e nem mesmo atendendo às regras básicas de iluminação elétrica.

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Figura 7 – Cabos displicentemente dispostos


Fonte: Elaboração própria

A pesquisa fotográfica restringiu-se ao prédio do Museu da Imagem e do Som de São Paulo,


mas, ao que parece, esse tipo de manutenção com materiais alternativos é uma constante em
quase todas as fachadas e monumentos iluminados de São Paulo, pois não há formação de
profissionais para realizar tal serviço. O desleixo com fios, cabos, luminárias e demais
equipamentos é visível, criando situação de risco de choque elétrico para os visitantes e
usuários do museu.

Figura 8 – Luminária de solo inutilizada


Fonte: Elaboração própria

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Em vez de substituir as peças estragadas, em muitos casos há um “quebra-galhos” provisório


que se estende indefinidamente, criando situação de risco para a segurança dos usuários e
visitantes do MIS.

Figura 9 – Gambiarra com fios espalhados


Fonte: Elaboração própria

A iluminação externa também sofre com a manutenção inadequada, descaracterizando


totalmente o projeto de iluminação. Além disso, com a colocação imprópria de equipamentos,
luminárias e fios, o aspecto geral fica prejudicado, dando a clara impressão de um local
descuidado.
A falta de manutenção adequada, além de criar risco para as pessoas que visitam o museu,
provoca o desfoque das luminárias, enfeando o que deveria embelezar. A falta de focos de luz
existentes no projeto original, cria sombras que obscurecem o objeto que deveria estar claro,
na intensidade projetada, como se observa nas figuras 10 e 11.

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Figura 10 – Luminárias externas sem manutenção


Fonte: Elaboração própria

Figura 11 – Iluminação externa fora das especificações


Fonte: Elaboração própria

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Os consertos, ou gambiarras, como é possível observar, são realizados de qualquer maneira,


sem nenhum tipo de cuidado, nem com os aspectos estéticos, nem com as normas técnicas de
eletricidade. Alguns locais apresentam fios e cabos pendurados, luminárias diferentes das
constantes no projeto original de iluminação e outros elementos mal elaborados.
Com isto, há degradação visual do espaço público, além da situação de risco para visitantes e
usuários do espaço do museu. Torna-se evidente a necessidade de contar com profissionais
devidamente capacitados para os serviços de conservação e de manutenção da iluminação dos
espaços públicos.

Figura 12 – Fios pendendo, luminárias apagadas


Fonte: Elaboração própria

Como se constata através da observação das fotografias acima, o projeto original de


iluminação do Museu da Imagem e do Som da cidade de São Paulo está bastante
descaracterizado, com visíveis gambiarras nas instalações de luminárias, refletores e fiação, o
que, além de prejudicar visualmente o prédio do museu, cria risco aos visitantes e usuários
desse espaço público.

5. Conclusão

O cenário urbano modifica-se do dia para a noite. Com a iluminação artificial noturna, a
paisagem oferece situações diferentes para se apreciar e perceber o espaço urbano e, assim, há
oportunidade de criar um desenho luminoso que sirva de marco à área iluminada, passando a
fazer parte do cenário noturno.
É preciso considerar que a cidade é um produto eminentemente histórico cuja expressão liga a
estrutura social às formas espaciais, formando um todo. A ideia da iluminação deve seguir

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essa visão como orientação dos espaços urbanos, nos quais a cidade se materializa e se
expressa no conjunto de espaços privados articulados aos espaços públicos, criando múltiplas
faces.
Diante disso tudo, o papel do lighting designer se torna cada vez mais importante na
valorização dos espaços urbanos à noite. A iluminação de espaços públicos tem sido requerida
por diversos e diferentes motivos, sendo um complemento indispensável à arquitetura dos
edifícios e à concepção artística de monumentos e, ainda, à beleza natural de áreas verdes.
Entretanto, iluminar não significa colocar mais luz, mas sim de realizar uma iluminação
melhor, valorizando o espaço urbano, evitando a poluição luminosa e o ofuscamento,
colocando luminárias e equipamentos com desenho artístico agradável e eficiente em seus
objetivos. Isso tudo só pode ser realizado com um projeto adequado concebido por um
lighting designer e, claro, contando com profissionais capacitados para conservar e manter,
pois, em caso contrário, em pouco tempo tudo estará descaracterizado, como se observa na
pesquisa fotográfica aqui exposta.
Espera-se que essa situação seja superada, pois há diversos projetos de iluminação pública nos
centros urbanos do País, incluindo sistemas de trânsito, parques, praças, monumentos,
conjuntos habitacionais, hospitais, centros de compras e instalações de lazer. Essas instalações
têm recebido projetos com critérios inovadores que levam em consideração a sustentabilidade
e demais aspectos ambientais.
A capacitação do lighting designer, do arquiteto, do engenheiro e do paisagista é fato comum,
entretanto, a inexistência de capacitação dos responsáveis pela conservação e manutenção dos
locais iluminados faz com que todo o trabalho da concepção e instalação de um projeto de
iluminação seja prejudicado.

Referências

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