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3.1.4.

1 História dos candlesticks

“As velas exaurem-se para dar luz aos homens.”

Provérbio japonês

Os japoneses começaram a utilizar a análise técnica para transacionar no longínquo século


XVII. Apesar

de a análise ser muito diferente da iniciada por Charles Dow por volta de 1900, muitas das
“traves

mestras” eram muito similares. O “o quê” (os preços) era muito mais importante do que “o
porquê”

(notícias, resultados etc.). Toda informação conhecida está refletida nos preços, os quais
compradores e

os vendedores estabelecem com base em suas expectativas e suas emoções (medo, ganância
etc.); assim,

os mercados flutuam e o preço atual pode não refletir o valor real da empresa.

Os conceitos de análise técnica introduzidos pelos japoneses estão mais relacionados à


visualização

da informação no nível de preços do que à análise técnica propriamente dita. A base da análise
técnica

japonesa são as candlesticks (velas), cujo desenvolvimento remonta ao século XIX. Muito do

conhecimento nessa área é atribuído a um lendário comerciante de arroz, nascido com o


nome de Kosaku

Kato e que posteriormente, ao ser adotado pela família Homma, se tornou Sokyo Munehisa
Homma.

O samurai de cem trades vitoriosos

A cultura do oriente nos fascina por sua riqueza, suas tradições e sua história. A análise técnica
também

faz parte desse contexto, uma vez que os gráficos de candles são originários do Japão feudal e
têm sido

usados há mais de 200 anos na região. Naquela época, o país vivia um clima militarista; os
conflitos

eram tantos que os japoneses se referem a esse período da história como Sengoku Jidai
(tempo do país
em guerra). Esse momento se reflete na nomenclatura de alguns padrões de candles, como
counterattack

lines (linhas de contra-ataque) ou three advancing white soldiers (três soldados brancos que
avançam).

O surgimento da Bolsa de Arroz

O centro comercial do Japão estabeleceu-se em Osaka, uma cidade portuária, o que favorecia
em muito o

comércio, em uma época na qual as viagens por terra eram demoradas e, muitas vezes,
bastante

perigosas. O comércio do arroz era a base da economia, sendo esse produto, efetivamente, a
moeda

nacional. Não é surpresa, portanto, que alguns mercadores desse grão se tenham tornado
extremamente

ricos. Um desses homens era Yodoya Keian, reconhecido por sua incrível capacidade de
transportar e

distribuir arroz. Seu poder cresceu de tal maneira que o primeiro local (Bolsa) de comércio de
arroz foi

formado em seu jardim.

O Japão era extremamente segmentado em classes, e o governo militar, chamado de Bakufu,


ficou

preocupado com a riqueza e o poder dos mercadores. Yodoya teve seus bens confiscados pelo
governo

por ter um “estilo de vida” acima de sua condição social. Apesar da intervenção
governamental, o

embrião da Bolsa japonesa de comércio de arroz estava lançado e o mercado que existia nos
jardins de

Yodoya foi, mais tarde, oficializado como Bolsa de Arroz Dojima (Dojima Rice Exchange).

Surge Munehisa Homma

O comércio do arroz representava a riqueza de Osaka. Fazendeiros de todo o Japão podiam


mandar sacas

desse produto para lá, pois elas poderiam ser mantidas em armazéns da cidade. Em troca,
recebiam um
cupom representativo do valor, o qual poderia ser vendido a qualquer momento. Começava,
assim, a

formação de um dos dois primeiros mercados de futuros do mundo. Somente na Bolsa Dojima
operavam

cerca de 1.300 traders de arroz. Nesse período, havia no Japão uma rica família de fazendeiros,

chamada Homma. Sua base de negociação era a cidade de Sakata, uma área onde o comércio
de arroz

também era bastante forte. Em torno de 1750, o patriarca da família Homma morreu, e o
controle dos

negócios passou para Munehisa Homma. Um primeiro aspecto que tornou evidente as
capacidades de

Munehisa foi o fato de que se tratava do filho mais novo. Na forte tradição hierárquica
japonesa, o posto

deveria ser assumido pelo filho mais velho, mas a família já conhecia os talentos de Munehisa.

Munehisa foi um verdadeiro cientista do mercado. Ele desenvolveu teorias e passou a guardar

informações detalhadas (registros históricos) sobre condições de clima, preços do arroz e


negociações

realizadas. Para compreender a fundo a psicologia dos investidores, analisou os movimentos


de preços

do arroz mesmo em diligências ocorridas na época em que os trades eram realizados no jardim
de

Yodoya.

Não demorou muito para que Munehisa passasse a atuar e também a dominar a grande Bolsa

Dojima, onde acumulou uma fortuna gigantesca. Suas técnicas eram tão precisas que ele não
via a

necessidade de se fazer presente em Osaka. Desenvolveu um sistema de troca de informações


no qual

homens eram posicionados sobre telhados de casas no caminho entre Sakata e Osaka e, por
meio de

bandeiras, comunicavam as instruções de compra e venda geradas por Munehisa.

Conta a história que Munehisa conseguiu fazer cerca de cem trades vitoriosos
consecutivamente.
Diante de tamanho poder e conhecimento, o governo contratou Munehisa Homma como
consultor

financeiro e concedeu a ele o título de Samurai. Nada mal para um analista técnico sem
habilidade

alguma com a do, nome dado à espada samurai. Das teorias desse guerreiro dos mercados
evoluíram as

técnicas de candlesticks que hoje são utilizadas e pesquisadas em todo o mundo.

Figura 3.5 Leitura da vela ou candlesticks

Fonte: Elaborada pelo autor.

Meu primeiro contato com candlesticks foi em 1996, quando li o livro de Steve Nison[1].

Há alguns anos, eu conheci Steve Nison nos Estados Unidos e ele depois nos deu a honra de

participar de uma palestra na Trader Brasil, em que, de forma muito simplista, afirmou:
“Candlesticks é

uma TV em cores e gráficos de barras, uma TV preto e branco”. Curiosidade ridícula: ele me fez
ir com

ele na cozinha do hotel para descobrir a fruta que ele tinha comido no café da manhã. Era jaca.
E ele

adorou.

Quando comparado aos tradicionais gráficos de barras, o de candlesticks mostra inúmeras

vantagens, como ser mais atraente em termos visuais e de mais fácil interpretação. Cada
candlesticks

mostra mais claramente os movimentos dos preços; assim, um trader pode comparar
imediatamente a

relação entre a abertura e o fechamento, bem como entre o máximo e o mínimo. A conexão
entre a

abertura e o fechamento é considerada vital e constitui a essência das candlesticks. As velas


brancas

indicam pressão compradora, e as pretas, pressão vendedora.

3.1.5 Gráfico de linhas × gráfico de velas

Gráfico 3.6 Gráfico de linhas × gráfico de velas

Fontes: Ilustração do autor.


O gráfico de linha, feito somente com os preços de fechamentos, fornece-nos informações

incompletas. Repare na diferença entre a referência constante do mesmo gráfico em linha e


com velas: no

primeiro, temos fundos ascendentes e, no segundo, fundo duplo de mesma altura.

3.1.5.1 Corpos compridos × curtos

Em termos gerais, quanto mais comprido for o corpo, mais intensa é a pressão compradora ou
vendedora.

De maneira análoga, as velas curtas indicam um movimento reduzido de preços e representam

consolidação. As velas longas brancas mostram uma forte pressão compradora e, quanto mais
longa ela

for, mais distante o preço de fechamento está do preço de abertura. Isso indica que os
compradores foram

bastante agressivos. Mas, atenção! Apesar de as velas brancas compridas serem normalmente
bullish,[2]

seu significado mais real depende de sua posição no contexto mais amplo da análise técnica.

3.1.5.2 Clímax de compra e de venda

Depois de grandes e longas quebras, uma vela branca comprida pode marcar um ponto de
virada

potencial ou um nível de suporte. Se as compras se tornarem muito agressivas depois de uma


grande

subida, pode significar que há um clima bullish excessivo e que se assistiu a um buying climax
(clímax

de compra), geralmente sinalizado por uma vela de reversão como um enforcado com o dobro
do volume

normal médio.

Gráfico 3.7 Buying climax na Vale5

Fonte: Cortesia

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