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ACONTECEU NO

BRASIL,
ENQUANTO O ÔNIBUS
NÃO VEM
De

ROBERTO INNOCENTE
Preanunciados por um som de tambores entram os atores para o prólogo

PRÓLOGO

C: Cidadãos

S: Camponeses

J: Mulheres desta cidade

M: Rapazes

A: Homens de negócios

BB: Moças prosperosas

R: Pobres e ricos

C: Venham perto sem hesitação nenhuma

S: Venham para ouvir

J: Venham para rir (hahaha), chorar (Buá...), pensar (ã?)

M: Que esta história já vocês conhecem bem

A: Que esta história com certeza nos convém

BB: Começou num final de abril

R: Era uma vez no Brasil

C: Nesta história tem os enganos (ganos, ganos, ganos)

S: Brigas (PE-LE-JA)

J: A mísera vida (S - Ajuda eu, miudinho).

M: Paixões

A: Negócios (Lucra, ganha, fatura).

BB: E aquele jeitinho brasileiro que resolve tudo

TODOS: Hein?

BB: É!
C: Venham mais perto deste palco cênico

S: Aqui se passará o crime

J: E mesmo aqui será a salvação (Aleluia, aleluia).

M: Porque toda comédia tem um final feliz

A: E depois de muitas brigas, choros e gritos.

BB: E depois que a trama foi bem contada.

R: Só então, querido público, só então a história será acabada.

C: E para saber melhor o que vamos apresentar

S: Para saber cada coisa até no particular

J: Eis o lugar da ação, a minha casa.

M: Num lugar perdido deste país

A: Seja uma serra ou seja sertão

BB: Praia deserta ou lá no Matão.

R: dá no mesmo porque tudo é o mesmo país

TODOS: Brasil

C: Eu sou Vicente Capador, dono da terra, rico e sem escrúpulos.

S: E eu sou Saci, pobre, sem terra e sirvo esse aí.

J: Eu sou Josefina, mãe dessas meninas.

M: Eu sou Miranda, que canto e danço samba.

A: Eu sou Amarinda e a sua grana é bem vinda

BB: mas como eu, que sou Biro Biro, não tem igual.

R: E eu?

TODOS: E você?

R: E eu, embora seja o último a me apresentar, sou o primeiro do elenco,


Rosendo do Ceará.

TODOS: E daí?

R: Vualá!
TODOS: Ahhhhhh

C: Agora que o quadro está completo (sai)

S: Dada cada informação (sai)

J: Cada um no seu lugar

M: Começa a representação

A: e qual jeito melhor

BB: para bem começar

R: que pegar os instrumentos e uma música tocar

CANÇÃO

esta história já vocês conhecem bem

esta história com certeza nos convém

começou num final de abril

era uma vez no Brasil

seja uma serra ou seja sertão

praia deserta ou lá no Matão.

dá no mesmo porque

é o mesmo país

Brasil

Cena 1 - Entra Saci cantando para atormentar o patrão e Capador.

S: Vida de negro é difícil, é difícil, vou morrer.

C: Pare!!!!!

S: Paro?

C: Sim, pare!

S: Até que enfim o patrão teve uma boa idéia!!!


C: Que idéia imbecil?

S: A de parar um pouco. Nem eu agüentava mais.

C: É para parar de cantar e não de trabalhar!

S: Nho patrão eu não consigo trabalhar sem cantar.

C: Ah! Estes escravos, só querem cantar, mas vê se pelo menos canta


afinado!!!

S: Mas tava afinado Nho patrão, o Nho que vê? (Canta alto para derrubar o
patrão)

C: Ahhhh!!

S: O que aconteceu?

C: O impacto da onda sonora.

S: Ah! Viu como eu canto afinado?

C: Onde já se viu um negrinho como você ter alguma habilidade vocal?

S: Como patrão? E o que o senhor me diz do Milton e da Sandra de Sá?

C: Quem são esses?

S: Como patrão? É tudo gente famosa!

C: Famosa para quem?

S: Para o povo patrão!

C: Ah o povo! Pare de me enredar com este falatório e volte rápido ao trabalho.

S: Não posso!

C: Por que seu abutre?

S: Por que essa minha perna (som racola M) não se mexe!

C: Inferno!!! Comprei você com defeito!!

S: O senhor não é politicamente correto.

C: O que é isso?

S: É se diz portador de necessidades especiais!

C: Ainda assim continua sendo escravo!

S: Não, não, não, a escravidão já acabou faz tempo.


C: Escreverei ao rei para que revogue tal jurisprudência!

S: Ixi, também o rei não está mais patrão.

C: Mataram o rei?

S: Não, mandaram embora!

C: E quem cometeu essa sandice?

S: Parece que foi a tal da republica!

C: Por todos os demônios, só podia ser coisa de mulher!

S: Isso eu não sei, mas agora, todo mundo é igual e livre.

C: Cala boca, no respeitante a esses assuntos você não entende nada.


Enquanto houver gente como eu nos confins desta nação, sempre haverá um
patrão.

S: É louco.

C: E ande logo com este baú antes que eu lhe pregue na cara, uma sonora
bofetada.

S: Desculpe patrão, mas não posso.

C: Como não pode?

S: É que esse braço meu é bobo!

C: Mas não era a perna?

S: Quem falou perna, sempre foi o braço! Quere ver (som racola + tamboro M)

C: Ah, Cale a boca! Assim que chegarmos à fazenda, mandarei te assar no


forno a lenha!

S: Isso se a gente chegar até lá?

C: Por quê?

S: Por que nessas alturas nos já devemos estar tudo amaldiçoado! depois de
ter raptado o último Indi...

C: Ah!

S: É!

C: Ah!

S: É?
C: Ah!

S: Que foi patrão?

C: Já falei para não falar esta palavra em público!

S: E como devo falar?

C: Não fale nada!

S: Então eu lhe digo Nho, esse nada aí há de ser a nossa desgraça.

C: Asno, desgraça coisa nenhuma, aquele nada há de ser minha sorte, pois o
British Musean pagará uma fortuna por ele.

S: Esse tal de Bruch musgo

C: British Musean!

S: isso mesmo aí, pode até pagar, mas as forças da natureza, as almas do
mato e os espíritos dos antepassados hão de se vingar do senhor por ter
roubado o último índio da Floresta amazônica.

C: Eu já disse para você não pronunciar esta palavra.

S: Que palavra?

C: Índio!

S: como?

C: Indio!! Ahhhhh cale a boca, pegue o Baú e continue no caminho.

S: Sim patrão!

C: Para onde está indo?

S: Estou seguindo o caminho nho patrão.

C: Mas não é para lá, é para cá.

S: Mas patrão eu tenho certeza que a gente veio de lá, e tem que ir para cá.

C: não, de cá para lá

S: de lá para cá

C: cá

S: lá

C: .(cala)...... boca, e diga a tropa que me siga.


S: Patrão eu já lhe falei que a tropa não existe mais.

C: Então, cale a boca e me siga sozinho.

S: Vida de negro é difícil, é difícil, vou morrer.

Cena 2 – Entra Biro Biro (disfarçado de Pantaleão)

BB: Ai, ai, ai… pobre Pantaleão, quanta estrada! Um pobre velho caminhando
todo esse tempo para chegar num lugar onde não tem ninguém, não tem
ninguém? Não tem ninguém, não tem ninguém!

(saca o disfarce)

Eh, eh, não tem ninguém. Como digo, voltar aos clássicos é sempre a melhor
maneira quando se precisa fazer rastro! Que inferno todo esse povo no meu
encalço! E a policia, com toda a malandragem que tem por aí deveria ter outras
coisas a fazer que não ficar no meu pé… eis porque este país anda mal das
pernas! Eu conheço bem o Brasil… não se tem mais tranquilidade… não se
pode mais trampar em paz que na hora aparece alguém que começa a dar
tiros… não tem mais estilo, eis o problema!

Olha só: agora os homens (os porcos) estão atrás de mim só porque peguei
em empréstimo a pensão daquelas cinquenta velhinhas do prédio do Sol em
Copacabana. Qual o problema de se fazer um empréstimo? As velhinhas
estavam felizes… tava com o dinheiro na mão e não é que passo na frente do
Bar da Assunção? Eu não sei resistir a um dominó… perdi todo o dinheiro!
Então, além dos porcos atrás de mim tem também os credores… não tinha
jeito, só podia ir pra casa da Solange, aquela mina da Rua Joaquim da Silva na
Lapa. E não é que chega a mãe da boazuda dizendo que a mina tá esperando
um bacorinho meu? Grávida! E daí? “Você tem que casar com ela! ”Que é isso
minha Senhora, tá me estranhando”? Se eu tivesse que casar com todas as
moças que engravido, teria mais esposas que a torcida do Flamengo! Não
tinha outro jeito… o negócio era fazer rastro, dar um tempo… só podia ir
embora do Rio! Melhor assim, precisava mesmo tirar umas férias!

(ouve Rosendo chegando)

Está vindo alguém… será que é um x9? Melhor me esconder e ver quem é
antes de ter problemas… (esconde-se).

Cena 3 - Entra Rosendo


Cantando: O Sertão vai virar mar, dói no coração, o medo que algum dia o mar
também vire sertão.

R: Deixa eu parar um pouco que não consigo mais caminhar… (deixa a mala)
Espera, melhor não deixar a mala sozinha com todos os ladrões que tem neste
país! (vai pegar a mala e deixa a sanfona) Oxe, agora esqueci a sanfona!
(deixa a mala e vai pegar a sanfona. Olha para a mala e fala) Quem mandou
você ficar aí? (pega a mala e a sanfona juntas) Oxe, fiquem aqui perto de mim!
Como dizia minha mãe, “um homem prevenido vale por dois”! Acho que tô pelo
menos na metade do caminho… (fala aos seus pés) confere? Confere! Oxe,
mas onde estou? Deixa ver o mapa… (abre a mala para pegar o mapa) Sorte
que tive a esperteza de comprar esse mapa em São Paulo! (com o mapa na
mão. Tenta ler) Ma… ma… ma… Espera, como era que a professora dizia? “MI
com I, MI”, “MO com O, MO”, “ME com E, ME”, “MA com A, MA”, ma-pa…
mapa do Brasil! Oxe, abre ainda mais? Oxe, ainda mais... Oxe, mais ainda!
Quantas palavrinhas… rio Amazonas… Rio de Janeiro… Rio Branco… Rio
Preto… Rio Grande… (pega no sono, cobre-se com o mapa. Acorda) Oxe, é
sempre assim, ler me dá sono! Vamos ver onde fica São Paulo (levanta com o
mapa, o mapa cai em cima dele. Começa a lutar com o mapa e o finaliza) Oxe,
que bicho este mapa! Eis São Paulo! Mas… como pode ser que está escrito
tão pequeno? São Paulo é muito maior! Acho que esse mapa tem alguns
erros… deixa ver a minha terra, o Ceará! Oxe, mas não é possível! Tá escrito
grande demais! Onde eu moro é uma aldeia com quatro casas… eu sabia que
não podia confiar naquele cara da rodoviária… (imitando o cara) “Pega o
caminho para o norte e quando encontrar o caminho para o leste tem a parada
de ônibus.” Faz seis meses que caminho e não encontrei nada! Nunca pensei
que voltar pra minha terra depois de vinte anos de trabalho seria tão difícil…
mas vou chegar lá!

Cena 4 – Biro-Biro e Rosendo

BB: Ei amigo, precisa de ajuda?

R: Tô perdido, comprei este mapa, mas acho que ele tá errado.

BB: Deixe-me ver... ai ai ai ai ai...

R: O que foi?

BB: Ei Ei ei ei ei...

R: O que?
BB: Ih... A coisa tá feia. Este aqui é o Brasil.

R: Obrigado, mas isso eu já sabia.

BB: Bem se vê que o Senhor é uma pessoa inteligente, por nada burra e muito
acima da média.

R: Obrigado, mas eu sou uma pessoa simples como tantas outras.

BB: Ora, ora, não seja modesto, eu sei distinguir de longe uma pessoa
instruída de uma ignorante.

R: Obrigado, mas eu não sou tão instruído.

BB: Ora, o Senhor está a zombar de mim. Eu logo vi que o Senhor é uma
pessoa muito esperta.

R: Esperto sim, a vida me ensinou a me virar em qualquer situação.

BB: Ora, o Senhor está falando justamente com um especialista.

R: O que o Senhor quer dizer?

BB: Quero dizer que o meu lema é: para tudo sempre se dá um jeitinho, por
isso sobre mim já escreveram até livro.

R: Livro?

BB: Fizeram filmes.

R: Filmes?

BB: Novelas!

R: Novelas?

BB: Inclusive teve um cara que escreveu até uma Ópera.

R: O que?

BB: Ópera!!! (imitando um cantor de ópera)

R: Vejo que estou falando com uma pessoa muito famosa.

BB: Uma pessoa muito famosa, conhecida e, sobretudo, uma pessoa muito
procurada.

R: Procurado? Puxa que legal! Que sorte eu tive de encontrar uma pessoa
muito procurada.

BB: Sim, procurado, mas falei baixo.


R: E pensar que eu quando fui para São Paulo tinha na cabeça ser assim como
o Senhor, rico, famoso, mas acabei trabalhando 20 anos como escravo.

BB: Infelizmente nesse mundo cão pra se fazer dinheiro é preciso trabalhar.

R: Isso mesmo!

BB: Então o Senhor deve ter muito dinheiro.

R: Só um pouco só para abrir uma lanchonete.

BB: É, mas para abrir uma lanchonete é preciso só um muito só, e eu duvido
que o Senhor tenha esse dinheiro.

R: Eu tenho sim.

BB: Ótimo! Com esse dinheiro podemos fazer muitas coisas.

R: Como assim, podemos?

BB: Eu gostei muito do Senhor e quero lhe propor uma sociedade, o Senhor
entra com seu dinheiro e eu entro com a minha fama.

R: Não sei se o meu dinheiro tem o mesmo valor da sua fama.

BB: Ora, não se preocupe, eu sou um homem muito altruísta. Vamos discutir os
detalhes. (Saem)

Cena 5 - Entram Capador e Saci

S: (cantarolando) Eu sabia que não era por aqui, que era por ali...

C: Cala a boca e caminha rápido, imbecil!

S: Ah, mas com uma perna só eu caminho devagar.

C: Mas não era o braço?

S: Claro que não, patrão! Sempre foi a perna.

C: Quando chegarmos a Ouro Preto vou te enforcar em praça pública, depois


de picar todinho e espalhar pela cidade.

S: acho que já ouvi esta história em algum lugar

C: impossivel, a minha malvadeza é original


S: (senta no baú) em todo caso se isso acontecer comigo, imagine o que vai
acontecer com o senhor por causa disso aqui (aponta o baú).

C: (puxa o baú. S cai) Não fale desse baú, não o olhe, não o aponte! Esse baú
não existe!

S: Muito bem! (cambalhota pra trás)

C: Aonde você vai?

S: Tem uma casa ali. Vou pedir informação.

C: Pegue o baú!

S: Que baú?

C: Esse baú.

S: Esse baú não existe.

C: Ah! Esse baú não existe?

S: Não! (lazzo 3x) (som tamboro)

C: E isso existe?

S: Existe, patrão. (sobe no palco e pega o baú) O senhor já vai ser


amaldiçoado por ter roubado isso aqui. Inda mais por ficar batendo “ni” mim.

C: Cala a boca, imbecil, e anda!

Cena 6 – Entram BB e R (como que jogados na cena)

(som ônibus que para e sae)

R: Por que você não pagou a passagem?

BB: O que? Não paguei, não pago e não pagaria jamais. Eu, Biro Biro, o
malandro de Copacabana.

R: Mas o dinheiro para pagar a passagem era meu.

BB: Mas eu não me aproveito dos amigos.

R: Mas tá com o meu dinheiro no teu bolso.

BB: O que, você não confia mais em mim?

R: Não foi isso que eu quis dizer.

BB: Acha que eu quero te roubar?


R: Não foi isso que eu quis dizer.

BB: Esta é a recompensa pela minha amizade?

R: Não foi isso que eu quis dizer.

BB: Então cale a boca e não fale mais nada.

(Pausa)

R: E agora, vai saber onde nós estamos.

BB: Não se preocupe, daqui a pouco aparece alguém e a gente pede


informação.

Cena 7 – Entra Josefina

(som galinhas)

Pi Pi Pi Pi Pi

J: Jurema, Janaína, cadê minhas galinha, vamos ver quem pôs ovo hoje, quem
pôs ovo hoje. Quem vai pra panela, quem não pôs ovo hoje vai pra panela.
Jurema, deixe-me ver, botô ovo hoje? Não boto? (chuta a galinha e xinga)
desgramada sem vergonha. Janaína, deixe-me ver, o quê? Tu também não
botô ovo? (chuta e escorrega pela rampa) (Sentada no chão): Papa que papiu,
nem as galinhas estão ajudando, que custa pôr um ovinho por dia, um ovinho
por dia é tudo que eu peço. Eu vô me embora, vô, vô me embora. Vai ser hoje
que eu vô me embora – Eu vô é me embora (cantando)! Cinqüenta anos,
cinqüenta anos cuidando dos filhos, cuidando do marido e tudo isso por quê?
Pra aquele sem vergonha do Januário de 1 2 3 de Oliveira 4. Desgramado,
cachorro, safado, sem vergonha, eu dô duro o dia inteiro, e ele só colchão e
fronha. Fazer o quê? Maldito dia que passou por aqui aquele rabo de saia de
20 anos, com aqueles peito empinado pra lua, aquela bunda de tanajura. O quê
que ela tem que eu não tenho? O quê que eu tenho que ela não tem? Deixe
pra lá, fazer o quê? É uma desgraceira atrás da outra, uma desgraceira atrás
da outra, 50 anos criando sozinha 12 filhos, quase 13, mas dando conta,
graças ao Bom Deus. Fazer o quê?

Saudade dos bichinhos. Primeiro os meninos foram embora, depois as menina.

Galvez se embrenhou no mato, foi pro Acre. Tiradentes foi pra Minas, tô
preocupada com esse menino, nunca mais deu notícia. Cicinho foi pro Ceará e
viro padre, Graças a Virgem Minha Nossa Senhora. Tarsila tá em São Paulo,
não perde aquela mania de pintar pé grande que nunca vi. Dumonzinho foi o
primeiro a voar daqui, cientista, inventor o menino. Getúlio não, esse fui eu
mesma que pus pra correr. Vai mandar em outro lugar que quem manda aqui é
tua mãe. Assisinho largou o machado e pegou a caneta. Virou escritor. Anita foi
pro Sul. Ficou louca pelo italiano... o Garibaldi. Luís, ah, esse sim eu sinto
saudade, depois que foi embora nunca mais tocaram aqui um bom forró pé de
serra. Carminha se bandeou pro estrangeiro. Cheia de rebolado e fruta na
cabeça. Agora tá aí Miranda que era apegada por demais com Carminha
querendo imitar a irmã de qualquer jeito. Se ao menos passasse por aqui dois
pretendentes que prestassem, quem sabe assim a vida melhorasse ou não?

Cena 8 – Entram BB e R

BB: Bom dia linda Senhora.

J: Bom dia pra quem?

BB: Pra essa linda Senhora.

J: Tá gozando da minha cara?

BB: De maneira alguma minha Senhora. A gente logo vê que por trás dessa
carcaça pútrida, fedegosa, encarrilhada existe uma mulher.

J: Quanta, quanta gentileza. (Irônica)

BB: Eu sempre consigo ver o que tem por trás das aparências.

R: E o que é que tem?

J: Não tem nada. O que é que vocês querem?

R: Precisamos saber onde a gente tá, porque como não pagamos a passagem
fomos jogados pra fora do ônibus.

J: Vocês não pagaram a passagem?

BB: O que? Você não pagou a passagem?

R: Não, o dinheiro tava contigo.

BB: Mas era só pedir que eu teria pagado. A Senhora me desculpe, mas ele é
meio ingênuo e não entende nada.

R: Eu não sou ingênuo não, entendo muito bem.

BB: Não vamos ficar discutindo na frente dessa Senhora.

J: Por mim, podem discutir o quanto quiserem.

BB: Mas de maneira alguma, a gente precisa saber onde estamos.


J: Vocês estão aqui na minha casa.

BB: Muito bem, mas qual é a região?

R: Bairro?

BB: Cidade?

R: Estado?

J: Muita pergunta, eu não lembro mais de nada. Eu só sei que passa por aqui,
uma vez por semana, um ônibus que leva pra cidade.

R: Como uma vez por semana? Vamos ter que esperar?

J: É, a menos que prefiram ir a pé.

BB: Ah não, isso de jeito nenhum. A Senhora não teria por acaso um quarto
para alugar?

J: Eu tenho sim, mas... (faz sinal de dinheiro)

BB: O meu amigo paga.

J: Vou pedir pras minhas filhas arrumar a cama pro Senhor.

BB: Filhas?

J: Sim, Amarinda e Miranda.

BB: Muito interessante. Creio que a estadia será muito agradável.

R: Por que agradável?

BB: Deixa que eu te explico.

Cena 9 – Entram S e C

C: Ô de casa! Tem alguém aí?

J: O que o Senhor deseja?

C: Onde está o patrão?

J: O que o Senhor quer?

C: Quero falar com o proprietário!

J: Eu sou a proprietária.
C: Como? Que absurdo! A Senhora é uma mulher!

J: O que tem de absurdo em ser mulher?

C: Não! Absurdo é uma mulher ser dona de terras. (Sobe no baú) As mulheres
estão tomando conta deste país! Vou escrever ao rei...

J: Se o Senhor não está satisfeito pode ir embora!

S: Não, a Senhora não ligue que o meu patrão não sabe o que diz.

C: cale a boca, imbecil! Quem autorizou você a falar?

J: Aqui todo mundo tem o direito de falar o que quer!

C: Ele não tem direito nenhum porque é um servo!

R: O que o Senhor quer dizer? Eu também trabalhei como servo por muitos
anos. É um trabalho como qualquer outro.

C: E quem é esse que se mete na minha conversa?

BB: Alto lá que ninguém fala assim com meus amigos.

C: E quem é esse outro que se mete na minha conversa? Essa cara não me é
estranha...

R: O meu amigo é muito procurado! Em todo o país!

BB: Procurado? Heheh... Conhecido.

J: Me diga, o que o Senhor quer?

C: Esse idiota aqui me fez perder o caminho. Onde fica o ponto de ônibus?

J: É aqui mesmo, mas passa só uma vez por semana. (som trompette) E
acabou de passar, mas se o Senhor quiser, posso te hospedar.

C: Dada a gravidade do assunto e a problemática da questão, aceito seu


convite. E mais: vamos estabelecer uma trégua. Falarei ao meu amigo Requião
para que não confisque a sua terra.

J: Vou falar para minhas filhas que preparem mais duas camas.

C: Duas camas?

J: Sim, uma para o Senhor e outra para o menino.

C: Esse aí não dorme em cama, no máximo em uma estrebaria.

J: Muito bem, então Biro Biro e Rosendo vão para o quarto da cá, capador vai
para o quarto de lá e o menino vem comigo.
S: Qualquer lugar que não seja com esse aí.

BB: Precisa de ajuda com a bagagem?

C: (joga-se sobre o baú) que bagagem?

R: Essa aí!

S: Não se preocupe que isso aí não existe.

BB: Como não existe? É um baú muito bonito. Com certeza tem uma coisa
muito importante dentro.

C: O primeiro que chegar perto do meu baú é um homem morto. Saci, pegue o
baú e se arranque!

S: Não posso patrão!

C: Por quê?

S: Porque tô com as mãos ao alto. (Lazzo: Ao alto! Ao baixo).

S: Melhor ir logo antes que aconteça alguma coisa pior. (Sai)

(Rosendo bate com a mala na cabeça de Josefina)

J: Pata que papiu!

C: Sobre o que estávamos falando?

BB: Sobre aquele baú.

C: Que baú? (Sai)

BB: Ah! Entendi... Boca de siri.

R: Boca de siri?

BB: Sim! Bico fechado! (Sai)

R: Que história é essa de bico fechado? Bico de quem?

J: Você é do Nordeste?

R: Sim, do Ceará!

J: Ah, gente boa... Simplex, simplex! (Sai)

R: Que simplex o que? (Sai)

Cena 10 – Miranda e Amarinda


M: O lelê, o lalá, chegaram os forasteiros, agora eu vou casar. Até que enfim
chegaram os forasteiros.

A: Pin... Sinto o cheiro do dinheiro.

M: Sinto o perfume do amor.

A: Os negócios vão esquentar.

M: Mainha disse que tem um que parece artista de cinema.

A: Quatro pessoas, 20 reais, 2 semanas, 234,32 reais.

M: E tem um bonitinho que sabe até tocar sanfona.

A: Café da manha, papel higiênico, absorvente, 384 mil reais.

M: Será que você só pensa em dinheiro?

A: E você só pensa no amor.

M: Mas o amor é tudo.

A: O dinheiro é tudo.

M: Não se compra amor com dinheiro.

A: Se compra sim.

M: Não.

A: Sim

M: Não.

A: Por quê?

M: Porque... quando chega a paixão, palpita o coração, me falta até o ar.

Sonho com a presença dele, com os olhinhos dele, quero até beijar.

Mas o amor nunca se compra e tudo fica triste se ele não chegar,

Minha irmã, juro por Deus que a vida é só amar.

A: De que vale o amor se o dinheiro acabar.

Logo chegam os filhos e as contas pra pagar.

Pra tudo dar certo, dinheiro é essencial,


Não basta puro afeto, você vai se dar mal.

E no casamento, ninguém fica a contento,

Vem as traições e o tormento.

Cena 11 – Entra J

J: Pupa que papiu. O que você tá fazendo aí deitada sua preguiçosa? Sempre
sonhando!

A: Preguiçosa!

J: E tu o que tá fazendo aí, sempre calculando sua alucinada.

M: Alucinada!

A: A culpa não é minha, é da Miranda.

M: Não senhora, da Amarinda.

A: Da Miranda

M: Da Amarinda

J: Chega. Se esses quartos não tiverem pronto daqui 3 segundos, eu, eu, ai ai
ai ai ai. E que 3, que 2, que 1. Ahhhhhhhhh

Cena 12 – Entra BB e C

BB: Onde estão as filhas de Josefina?

C: Me deram um quarto que não tem chave. Ladrão! Ah, você!!!

BB: Ahhh, você! Que feliz coincidência, não via a hora de falar com o Senhor.

C: Comigo?

BB: Queria levar um “téti a téti” com o Senhor sobre aquele assunto do bico
fechado.

C: Bico fechado?

BB: É, do bico fechado.


C: Bico fechado?

BB: É, do bico fechado.

C: Não entendo.

BB: Não entende, então adivinha. Três letras. Primeira:

C: Sapato, chute, bola.

BB: Isso, segunda.

C: Borboleta, urubu, avião.

BB: Isso, terceira.

C: Dedo, três, um.

BB: Isso!

C: Bola, avião, um, baú!

BB: Isso, o Senhor poderia me contar o que tem dentro desse baú.

C: O Senhor tem que esquecer de ter visto um baú.

BB: O Senhor quer ser meu inimigo?

C: Não me importa nada ser seu amigo ou inimigo.

BB: Se quer assim, assim será. O Senhor acaba de ganhar um inimigo.

Cena 13 - Entram R e S (cada um de um lado do palco)

R: Mas onde é que foi o Biro Biro?

S: Ah, que a Dona Josefina poderia ser uma ótima mãe… (batem de frente,
caem, cambalhota na rampa. Para R) Obrigado por ter me defendido contra o
meu patrão.

R: Que nada! A gente devia se unir e acabar com os patrões.

S: CUT! Se fosse assim aí seria muito bom, principalmente contra os patrões


do tipo arrogante, que são os piores.

R: Não, os piores são aqueles que humilham, como aquele que me xingou, me
cuspiu e me espezinhou!
S: Não, não… piores são aqueles que maltratam, como aquele que me batia,
me chutava e me mordia!

R: Não! Os piores são aqueles que exploram como aquele que exigiu, não
pagou e me demitiu!

S: Você não entende nada!

R: Você que não entende nada!

S: Cala a boca que você é um empregado!

R: Cala a boca você que é um criado!

S: Seu idiota!

R: Seu burro! (se seguram pela camisa. Se soltam)

S: (irônico) É, a gente deveria se unir contra os patrões, né? Mas isso nunca
vai acontecer.

R: E por que não?

S: Porque a gente é besta demais pra fazer uma revolução.

R: Como assim besta demais? “A união faz a força!”

S: Força de quem?

R: A força do povo! Porque “o povo unido jamais será vencido”!

S: Vencido por quem?

R: Pelos patrões! “Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe
faz a hora, não espera acontecer.” (2x) (S levanta hipnotizado e os dois
dançam)

S: Ah, que toda vez que isso aconteceu, me deram tantas pauladas que
amaciou o meu ímpeto.

R: Se você pensar assim, já perdeu o jogo.

S: Mas não tem nem um time, quanto mais um jogo! (sai)

R: O que é isso, companheiro? Amigo… camarada… não desista! A luta


continua!

É a gente não tem cara de panaca, a gente não tem jeito de babaca, a gente
não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela

É
a gente quer valer o nosso amor

a gente quer valer nosso suor

a gente quer valer o nosso humor

a gente quer do bom e do melhor

a gente quer viver uma nação

a gente quer ser um cidadão

Cena 14 - Entra Miranda (ouve a música e começa a dançar)

M: Oxe, que música mais linda!

R: Obrigado, mas é você que dança muito bem!

M: Não, não, não… o senhor é que toca muito bem! Você deve ser aquele
rapaz lá do Norte, Nordeste…

R: Sim, me chamo Rosendo! E você deve ser uma das filhas de Josefina.

M: Sim, me chamo Miranda, às suas ordens.

R: Que nome lindo! Perfeito para uma canção!

M: Nunca ninguém pensou em fazer uma canção com meu nome!

R: (inspirando-se) “Miranda, Miranda… com seu cheiro de lavanda colocou


meu coração numa ciranda”!

M: Rosendo, Rosendo… eu tô vendo que você já tá até tremendo!

R: É você que me expira…

M: Expira?

R: Inspira!

M: Ah! Você é tão fofinho e gentil…

R: Você que é fofinha e gentil… (lazzo de repetição até que M bate o nariz na
cabeça de R)

M: Oxe! Que cabeça dura! Pare de me contradizer! (sai)

R: As mulheres… não dá pra entender… (suspira) Ah, já estou apaixonado!


(sai)
Cena 15 – Entra Miranda seguida de Biro-Biro

BB: (Entra xingando) Maldito Capador, ele me paga.

M: Oxi, o Rosendo foi embora...

BB: Deve ser uma das filhas de Josefina.

M: Deve ser o artista de cinema.

BB: Que gatinha! Sonhei que um dia eu era um trovador...

M: O que é isso?

BB: O que?

M: O Sr. Estava olhando a minha bunda!

BB: Sim, não, a Senhora tem bunda?

M: É claro que tenho!

BB: Deixa eu ver.

M: Óh!

BB: É verdade, a senhora tem bunda.

M: Viu, tava olhando a minha bunda.

BB: Sim, não, tava olhando a qualidade do tecido!

M: O senhor é costureiro?

BB: Não, eu sou carnavalesco.

M: Ahhhh (desmaia)

BB: O que é isso?

M: Eu sempre sonhei em ser rainha da bateria.

BB: Mas eu sou o chefe da Beija-Flor.

M: Não!

BB: Sim! (dançam) O chefe!

M: Ah, que sonho!


BB: Eu estou aqui para realizar seus sonhos...

M: Como assim?

BB: Comissão de frente, 10. Recuo da bateria, 10. Harmonia, 10. Somando
todos os quesitos, você acaba de conseguir um Destaque no meu Desfile!

M: E quando a gente começa?

BB: Esta noite (jogo de máscaras). Primeiro ensaio!

Cena 16 – Entra Amarinda

A: Mas bah! Cadê a pamonha da minha irmã?

BB: Essa deve ser a outra filha de Josefina.

A: Vou descontar um dia de trabalho

BB: (para M) Espere aqui. (para A) Quem seria esta maravilha da natureza?

A: Amarinda.

BB: Amarinda!!!

A: Isso, e não tenho tempo a perder.

BB: Nem eu! Pra mim tempo é dinheiro.

A: Isso mesmo, tendo em vista que o senhor gastou 3 segundos do meu


tempo, sendo que cada segundo vale 8 reais, isso significa que eu já gastei 24
reais com o senhor!

BB: Vejo que a senhora é uma maravilha da contabilidade.

A: Acha?

M: Ôô!

BB: Espere um minutinho... (para M) Pois não?

M: Se o senhor está interessado na minha irmã eu vou-me embora.

BB: Não, eu só estou pedindo para ela não atrapalhar nosso ensaio. Espere.

A: Se você está interessado na minha irmã eu vou-me embora.


BB: Claro que não, estou pedindo para ela não atrapalhar nossas contas.
Espere... (para M) Hoje a noite no meu quarto ensaiaremos a gafieira. Espere...
(para A) Esta noite você leva seu currículo no meu quarto. Espere.

M: O que tanto você fala com Amarinda?

BB: Ela fica enchendo meu saco com aquelas contas. Espere.

A: O que tanto você fala com Miranda?

BB: Ela fica enchendo meu saco com aquela dança. Espere... (para M) Depois
vamos treinar um pouco de quadril. Espere... (para A) Você leva o currículo e
depois eu testo você.

Cena 17 - Entra Josefina seguida de Saci

J: Amarinda, Miranda, cadê essas duas que não fizeram nada o dia inteiro?
(Saem A e M)

BB: Eu sabia que essas duas gatinhas não resistiriam ao meu encanto.

J: Ah, que a chegada desses forasteiros já ta dando muita confusão, tô vendo


que vão me dá mais trabalho.

J: Vê se não me atrapalha. Já tenho trabalho por demais.

S: Se a Senhora quiser eu ajudo a Senhora.

(J e S começam a rir alternadamente)

J: Ta rindo do que?

S: Não sei, a Senhora que começou.

J: Ajuda no que menino? Eu sei que você foge do trabalho como o diabo foge
da cruz.

S: É verdade.

J: Então...

S: Mas a Senhora tem que entender que tem trabalho que se trabalha porque
tem que trabalhar, tem trabalho que se trabalha porque se quer trabalhar, ou
seja, tem trabalho que é bom e se trabalha com gosto, mas tem aqueles outros
trabalhos que se trabalhar sem querer se trabalhar, mas que tem que trabalhar
do mesmo jeito. Entendeu?
J: Não.

S: Eu também não, mas se a Senhora quiser eu lhe ajudo.

J: Deixa pra lá, que eu mesma faço.

S: Viu, não sirvo pra nada.

J: Como assim?

S: Não sirvo pra nada.

J: Mas por que você tá me dizendo isso menino?

S: Que tudo na minha vida, nada deu certo.

J: É...

S: É...

J: A vida é mesmo assim.

S: Pode até ser pior.

J: A gente faz, faz e acaba sem nada e sem ninguém.

S: Pode até começar sem ninguém.

J: Como assim, você não tem ninguém?

S: Ninguém.

J: Nem uma mãe?

S: Ninguém, eu fui achado no mato por uma negra lavadeira.

J: Achado no mato?

S: É, ela me levou pra casa dela, mas o marido dela não quis que eu ficasse.

J: Não quis?

S: Foi, daí fui dado pro primo dela da cidade grande.

J: Cidade grande?

S: Ele era muito esperto e me mandou pedir esmola no semáforo.

J: Que perigo.

S: É, mas daí eu fugi, e fui morar embaixo da ponte.

J: E ponte é lugar de se morar, menino?


S: Num é, mas fazer o que?

J: Meu Deus.

S: Foi aí que eu resolvi ir embora, voltar pro Campo.

J: E foi...

S: Foi então que o Seu Capador, meu patrão, me encontrou no mato, e até
hoje eu trabalho pra ele.

J: É, a vida é assim mesmo.

S: É.

J: Fazer o que?

S: O que? (com esperança)

J: Você precisa de uma mãe.

S: Preciso.

J: Mesmo?

S: Mesmo!

J: Então eu vou ser sua mãe.

S: Ótimo!!!

Cena 18 (entra Capador)

C: Saci... cadê você? Volte logo pro trabalho.

S: Eu vou, mas o Senhor peça com educação senão eu conto pra minha mãe.
(Sai)

C: Mãe? Que história é essa de mãe?

J: Todo mundo tem direito de ter uma mãe. (Sai)

C: Mãe, acho que o sol tá fritando os miolos deles.

Cena 19 (entra Amarinda)


A: (entra ao fundo) Parado aí! Mas bah, estava mesmo procurando o senhor.

C: (resmungando) Ah, você! Vê se isso é jeito de parar uma pessoa no meio do


caminho.

A: Claro, o quarto se paga antecipado, e o senhor ainda não pagou.

C: Mas vou pagar.

A: Mas se o Senhor pagar atrasado eu terei um grande prejuízo.

C: Ma...

A: As taxas do banco são 25% ao dia...

C: Ma...

A: Vou ter um prejuízo de 284,37 reais.

C: Pago!

A: Paga?

C: Pago! Pago! Pago! A Sra deve ser a administradora do local.

A: Quem me dera fosse, mas aqui não posso fazer nada. Ninguém entende
nada de negócios.

C: Eu entendo tudo.

A: Mesmo?

C: Eu sou um gênio da economia.

A: Um gênio?

C: Sim, vou explicar. O tema deste país é reconverter.

A: Reconverter?

C: Sim, antes era o ouro branco.

A: Açúcar?

C: Sim, milhares de negrinhos cortando cana e enchendo nossos bolsos de


dinheiro.

A: E daí?

C: O açúcar acabou e fomos para Minas, o ouro amarelo.

A: Pão de queijo?
C: Não, as pepitas. Mandamos todo o ouro para o exterior.

A: Que prejuízo.

C: Mas aqui ficaram as igrejas.

A: Aleluia.

C: Mas daí a mina secou.

A: E daí?

C: Fomos para o ouro mole.

A: A tapioca?

C: Não, o látex.

A: Borracha!

C: Sim, trouxemos os nordestinos e os jogamos nos seringais. Mas isso


também acabou.

A: E daí?

C: Ouro verde, o café, sudoeste do país. Mas isso também acabou.

A: E agora?

C: Agora não tem mais nada.

A: E daí?

C: Já falei que eu sou um gênio da economia?

A: Falou!

C: Pois eu vou lhe contar um segredo.

A: Pode confiar em mim.

C: A sra viu meu baú?

A: Sim.

C: Sabe o que tem dentro?

A: Não.

C: Contém um artigo antropoecológico de raridade absoluta que o British


Museum pagará milhões de dólares.

A: E o que é?
C: Psiii (cochicho)

A: Que idéia genial.

C: Não falei que eu sou um gênio da economia?

A: Eu também tenho uma ótima idéia. Podemos fazer uma sociedade.

C: Que idéia é essa?

A: O Sr. Já viu minha irmã?

C: Não.

A: Quando o Sr. Conhece-la verá que é muito linda.

C: E daí?

A: Mulata.

C: E daí?

A: Típica brasileira que os estrangeiros adoram.

C: Ahhhh!!!! E daí?

A: Poderíamos rapta-la e vendê-la no exterior. Ganharemos muito dinheiro.

C: Ótima idéia.

A: Já falei que eu sou um gênio da economia?

C: Ainda tem lugar no baú. Vamos discutir os detalhes do rapto.

A: Vamos discutir a divisão do lucro.

Cena 20 - Saci (sai do esconderijo e sobe no palco)

S: Que coisa mais estranha o discurso destes dois… raptar Miranda? E o pobre
do nada, que faz três dias que ta fechado no baú sem tomar um ar… (desmaia)
será que ainda tá vivo? E se eles raptarem a Miranda e jogarem ela dentro do
baú, aí sim que os dois não vão conseguir respirar mesmo. Preciso fazer
alguma coisa! Mas fazer o quê? Vou matar o seu Capador! Não, que vou sujar
a mão e ainda vou preso… Vou chamar a polícia! Não, que aqui não tem nem
orelhão… vou falar com os homens do Greenpeace! Não, ultimamente eles tão
muito ocupados com as baleias… Já sei! Vou libertar o nada (dança). E a
Miranda? Pra impedir que raptem a Miranda eu vou pedir a ajuda de alguém.
Cena 21 - Entra Miranda

M: Sací, você viu o Rosendo por aí?

S: Não. Eu também tô atrás dele.

M: Ah! Então vou procurar ele lá no quarto do Capador.

S: Não. (puxa M para trás)

M: Por quê? (puxa S para frente)

S: Porque não! (puxa M para trás) Não é bom para uma moça ir no quarto de
um homem.

M: Mas a minha irmã foi.

S: (ergue M no ombro) Mas a tua irmã é que nem o porco do meu patrão.

M: Como assim? Você tá dizendo que minha irmã é uma porca?

S: Não, meu patrão é um porco e sua irmã é como o porco do meu patrão.

M: Isso mesmo, então minha irmã é uma porca.

S: Ih, Miranda eu não entendo nada de bicho, mas não vá para o quarto dele.

Cena 22 - Entra Capador (vê Miranda)

C: Que maravilha! Que feliz encontro! (S tenta esconder M, C derruba S do


palco) Você deve ser Miranda!

M: Sim, euzinha!

C: Quanto mede? Quanto pesa? Busto: 95. Cintura: 65. Dê uma


requebradinha…

S: Seu Capador, tem alguém mexendo no seu baú!

C: Não, não é possível! (para M) Você, não saia daí, não se mexa porque pode
extraviar. (M fica estática. C para S) Vamos pegar o ladrão com a boca na
botija!

S: Eu não posso, patrão.


C: Por quê?

S: Porque eu não tenho as mãos.

C: Mas não eram as pernas?

S: Nunca foi as pernas, sempre foram as mãos.

C: Quando a gente chegar na fazenda vou te picar todinho! (sai)

S: Miranda!

M: Já posso me mexer?

S: Pode! Vá se esconder dentro do seu guarda-roupa!

M: Por quê?

S: Faça o que eu tô mandando que depois eu te explico. (empurra ela para a


parte de trás do palco. M sai.) Preciso agir. Vou começar libertando o nada e
pedindo ajuda pro Rosendo.

Cena 23 – Josefina (estendendo roupas no varal) e Biro Biro

J: Venha já aqui que eu quero ter uma conversinha com o senhor.

BB: Sobre o que, Dona Josefina?

J: Eu soube que o senhor anda colocando minhoca…

BB: Minhoca?

J: Sim! Minhoca na cabeça de minhas filhas!

BB: Mas que conversa é essa, minha senhora?

J: Eu conheço bem esse tipinho como o senhor…

BB: Tipinho como eu? Como assim?

J: (nostálgica) Quando eu tinha 20 anos e fui lá pro Rio de Janeiro… conheci


um homem, dancei com ele até o amanhecer… (cena do baile). Ele me
prometeu mundos e fundos e quando eu vi foi-se embora.

BB: E depois, o que aconteceu?


J: Eu fui correndo pra casa, pra casar com Januário, antes que descobrissem
que o filho não era dele.

BB: E daí?

J: Daí que o Senhor tá querendo fazer a mesma coisa com as minhas filhas.

BB: Não, imagina.

J: Não foi o senhor que andou dizendo para Miranda ir dançar não sei onde?

BB: Sim, mas...

J: E pra Amarinda calcular não sei o que na firma de não sei quem?

BB: Sim, mas...

J: Mas o que?

BB: Mas é que eu só quero fazer alguma coisa boa com as suas filhas.

J: Coisa boa, sei, sei...

Cena 24 – Entra Rosendo

R: Estava mesmo procurando você.

BB: Eu estava tendo um téti a téti com essa adorável Senhora.

R: O téti a téti já acabou! (Sai)

BB: Pô Rosendo, você sempre empatando a minha onda.

R: É que eu preciso da sua ajuda.

BB: Ajuda? Você acha que eu tenho cara de criança esperança?

R: É que o Capador...

BB: O que tem o Capador?

R: O Capador não tem nada. É que a Miranda...

BB: O que tem a Miranda?

R: A Miranda não tem nada.

BB: Mas se o Capador não tem nada e a Miranda não tem nada, o que eu
tenho com isso?
R: Nada.

BB: Como se eu não tivesse nada o que fazer...

R: Ei, Malandro. A Miranda vai ser raptada, quem vai fazer isso é o Capador.
Já que você é meu amigo...

BB: Eu?

R: E sócio!

BB: Ahhh!!!

R: Então você tem que me ajudar.

BB: É pra prejudicar o Capador?

R: É!

BB: Pode contar comigo! (Sai)

R: Agora eu tenho que preparar um plano!

Cena 25 – Entra Miranda

M: Oxe, fiquei pura naftalina! Que história é essa de ficar no guarda-roupa?

R: Miranda?

M: Rosendo?

R: O que você faz aqui?

M: Como assim?

R: É muito perigoso.

M: Por que perigoso?

R: Porque…

M: Por quê?

R: Porque…

M: Por quê?

R: Porque sim! Agora não posso explicar, se esconda em algum lugar, sei lá…
no guarda-roupa!
M: Você também quer me mandar pro guarda-roupa… eu achava que você era
diferente, que você fosse me dar carinho, mas você é igual a todos os homens!
(chora)

R: Não é isso, Miranda! (M chora) É que eu… (M chora). É que eu te amo e


não quero te perde-la.

M: Ah, palavras, palavras… mas você é como os outros, quer me trancar no


guarda-roupa.

R: Não, não é assim.

M: É!

R: Não é!

M: É!

R: Não é!

M: É!

R: Tá bom, é!

M: Não é não! Você sempre quer ter razão. (sai)

R: Não, Miranda, não queria contradizê-la. Melhor perder o amor de Miranda do


que vê-la escrava do Capador. (sai)

CANÇÃO DA NOITE

Canto de um Povo de um Lugar – Caetano Veloso

Todo dia o sol levanta

E a gente canta

Ao sol de todo dia

Fim da tarde a terra cora

E a gente chora

Porque finda a tarde

Vem a noite a lua mansa

E a gente dança

Venerando a noite
Cena 26 – Entram Amarinda e Capador

A: Não faça barulho, todos dormem e ninguém perceberá nada. (Saem)

Cena 27 – Entram Saci, Rosendo e Biro Biro

R: Está tudo certo, você pega o lugar de Miranda e eu o lugar do nada.

S: E eu?

R e BB: Pssi!!!!!! (Saem)

Cena 28 – Entram Capador e Amarinda

A: Esta é a chave do quarto da minha irmã.

C: Temos que pegar o sonífero.

A: Senhor Capador, vai o senhor na frente.

C: Eu jamais faria essa grosseria, primeiro as damas.

A: Não, vai o senhor primeiro.

C: Eu não conheço o caminho.

A: É depois do banheiro, primeiro quarto à direita.

Cena 29 – Entram Biro Biro (disfarçado de Miranda) e Rosendo (disfarçado de


Índio) e Saci

S: Mas que belezura, linda, se eu não soubesse que era você já estaria
apaixonado.

R: Você pare que a Miranda é minha.

S: Mas eu não posso nem fazer um elogio na moça?

R: Não, não pode?


S: Por quê?

R: Porque não!

(Briga)

BB: Pessoal, sou eu. Biro Biro. Vamos fazer a troca.

Cena 30 – Capador e Amarinda

A: Trouxe o sonífero

C: Sim! (Saem)

Cena 31 – Rosendo e Saci

S: Agora você vai ter que dar um jeito de entrar no baú!

R: Deixa comigo! (Pula do palco e fica agachado perto da rampa)

Cena 32 – Capador, Amarinda e Biro Biro (disfarçado de M) dentro do saco

(Sobem com BB pela rampa da direita)

A: Agora é só colocar dentro do baú!

C: Vamos até meu quarto!

Cena 33 – Entra Josefina

J: O que vocês estão fazendo aqui essa hora? E esse saco?

A: O Seu Capador pediu que eu limpasse o seu quarto. E esse é o lixo.

(Saem)
Cena 34 – Miranda e Saci

S: Miranda, o que você faz aqui? Ninguém pode te ver!

M: Por quê?

S: Porque aqui tem um homem do saco que come moças! Volte pro guarda-
roupa!

M: Então eu vou!

(Rosendo, que estava agachado, sobe no palco).

R: Pobre Miranda!

S: Agora não é hora de sentimentalismo. Vá até o quarto do Capador e entre


no baú!

Cena 35 – Entra Josefina

S: Eu tava mesmo procurando a senhora.

J: Por que meu filho?

S: O seu Capador e Amarinda tão fazendo uma coisa terrível!

J: Venha me contando que eu vou resolver tudo.

Cena 36 – Entra Capador e Amarinda

C: Amarinda!

A: Capador!

C: Até agora deu tudo certo!

A: Deu!

C: Agora é só esperar o dia amanhecer...

A: O ônibus chegar...

C: E ir embora!
A: Senhor Capador, eu fiz uns cálculos e vamos ganhar muito dinheiro.

C: Muito dinheiro!

A: Tive uma idéia!

C: Não me diga...

A: Ao invés de vender minha irmã, poderíamos alugá-la.

C: Por quê?

A: Porque ganharíamos mais dinheiro.

C: E o negócio poderia crescer!

A: E virar uma trading company!

C: Oh yes!!!

A: Podemos começar com as mulatas.

C: Mulatas.

A: Crianças!

C: Crianças!

A: Órgãos!

C: Órgãos!

C: Calma!

A: O que foi?

C: Os impostos... (Lazzo com nomes de impostos)

Amarinda desmaia

C: O que foi?

A: Melhor vende-la e acabar com tudo!

Cena 37 – Entra Saci

S: (Assusta os dois e corre pelo palco) Patrão! O senhor não sabe o que
aconteceu, patrão! Aconteceu uma coisa terrível!
C: Cala a boca! Senão vai acordar todo mundo!

A: Posso estrangulá-lo?

C: Ainda não! Deixe ele contar o que está acontecendo primeiro.

S: Eu tava lá no seu quarto, patrão...

C: O que você tava fazendo no meu quarto?

S: Eu tava no seu quarto arrumando as suas coisas, patrão, quando de repente


o baú...

C: Quem mandou você olhar para o meu baú?

S: eu não queria olhar patrão, eu nem gosto do seu baú... Só que ele começou
a dar uns pulos altos assim!

C: Pare de falar asneiras! Onde já se viu um baú pular?

S: Se o senhor não acredita, vá ver com seus próprios olhos!

A: Posso estrangulá-lo? Mordê-lo? Uns tapinhas?

C: Não, não, não! Vamos fazer o seguinte: Vá lá buscar meu baú e traga aqui!

S: Não posso, patrão!

C: Por quê?

S: Não consigo nem olhar o seu baú, quanto mais pegar nele! (Lazzo: Não
vai?).

C: Pode estrangular!

(Amarinda vai, mas Saci se abaixa e ela pega o Capador).

S: Então eu vou!

C: O que será que tem esse baú?

A: Deve ser a louca da minha irmã que está ensinando o Índio a sambar!

C: Pode ser!

Saci volta com o baú.

S: Bú,bú,bú!!! (Assustando Amarinda e Capador)


C: Muito bem, onde estão os pulos?

S: Não sei, estavam aqui até agora.

A: Posso estrangulá-lo?

S: Não, espere aí... Pula, pula, pula.(Senta no baú)

C: Pode estrangulá-lo!

(Nesse momento saem de dentro do baú BB disfarçado de Miranda e Rosendo


disfarçado de Índio)

C: O que está acontecendo? Macacos me mordam.

A: Nunca vi minha irmã tão endiabrada!

C: Quando capturei este Índio ele era uma criatura tranqüila.

A: E como abriram o baú se não estavam com a chave?

C: Boa pergunta.

S: É a maldição que caiu sobre o senhor.

C/A: Cruz credo!

S: Eu sabia que isso ia acontecer.

C/A: Vá de reto!

S: Agora o senhor vai ser atacado pelos espíritos da natureza.

C: Epa Rei.

S: Tá vendo o seu Bruto musgo?

C: Cala a boca! Pare com essa baboseira toda. E vocês dois voltem para o
baú!

BB/R: uh, uh, uh

C: Voltem senão eu chamo a polícia!

A: Não pode chamar a polícia!

C: Ah, que inferno! Se não voltarem para o baú vou chamar meu capataz

Cena 38 – Entra Josefina


J/S/M: (Atrás do palco) Pape satan alepe!!!

J/D: Vocês não vão chamar ninguém porque daqui a três segundos vocês vão
descer no inferno mais profundo. E que três, e que dois e que um...

C: Ai pelo amor de Deus seu demônio. Eu sempre fiz o mal e o senhor deveria
levar isso em consideração.

J/D: Verdade, mas isso é uma situação de mal com finalidade de bem, ou seja,
de bem com finalidade de mal (lazzo). Em suma, não tenho que dar satisfação
a ninguém. Eu sou o diabo e faço tudo do jeito que o diabo gosta. E que 3, e
que 2, e que 1...

A: Espere aí! A culpa não é minha!

J/D: De quem é então?

A: Do Capador!

J/D: Do Capador?

A: Do Capador!

S: (Para Capador) Quer que eu a estrangule?

J/D: Jura por sua mãe que ficou corcunda de tanto criar você e seus irmãos?

A: Juro!

J/D: Caim! E que 3, e que 2, e que 1!

C: Seu demônio, mas que diabo você tem? Que inferno! Ah, me desculpe,
quem sabe não poderíamos conversar, eu poderia...

BB/M: Não é assim que se faz para corromper alguém...

J/D: Calem a boca que isso aqui não é um debate público. O único jeito de
vocês dois não irem para o fogo do inferno é arrependerem-se e devolverem a
liberdade àqueles dois!

C: Não poderia ser só arrependimento?

J/D: Não, tem que devolver a liberdade.

C: Bem, então eu me arrependo.

A: Eu também me arrependo.

C: E devolvo a liberdade àqueles dois.

A: E devolvo a liberdade àqueles dois milhões de dólares!


J/D: Agora que estão arrependidos, vamos cumprir o ritual. Curvem-se a 90º.
Agora que a culpa foi perdoada, recebam dos prisioneiros uma grande pedata.

C/A: O que?

J/D: Uma bicuda!

Cena 39 – Entra Miranda

M: Ô gente, vocês me deixaram trancada no guarda-roupa o dia inteiro. Que


fantasias são essas? Mainha, você está disfarçada de vaca? Biro-Biro?
Rosendo?

C/A: O que? Disfarce?

A: Por que minha irmã está aqui e ali?

C: Sua estúpida, fomos enganados!

A: Enganados?

J/D: Isso mesmo! Foram pagos com a mesma moeda.

S: Ô mãe, eles queriam vender o índio para o Bruto Musgo, mas eu libertei ele!

C: Seu lazarento, o que você fez?

J: (Dá uma vassourada na cabeça do Capador) Parado aí que ninguém


maltrata filho meu!

C: Esse filhote de cruz-credo não é seu filho.

J: Por que não?

S: Por que não?

Todos: Por que não?

S: Mamãe!

J: Rosendo meu filho, não tem nada que você queira me dizer?

R: Tenho sim! Eu quero me casar com Miranda

J: Então pode levar a menina

BB: Pera aí, vocês não vão me deixar aqui sozinho?!

J: Tudo bem que já se viu de tudo nessa vida, mas casamento a três é demais.
BB: não foi isso que eu quis dizer. Tendo em vista que a Miranda dança e o
Rosendo toca, eles poderiam fazer uma dupla de sucesso. E eu poderia ser o
manager.

Todos: Anh?

BB: O empresário!

Todos: Ahhh!!!

J: Para Capador e Amarinda) E vocês?

C: Eu estou acabado, esse índio era minha última salvação porque na verdade
eu não tenho absolutamente nada!

Todos: Ohhhh!

A: E os seringais?

C: Desmatados!

A: E a serra?

C: Pelada!

A: E as usinas?

C: Falidas!

A:O senhor está pobre?

C: Aquele índio era a última possibilidade de me reerguer!

S: Eu estou precisando de um criado, se o senhor quiser pode trabalhar para


mim!

C: Cala a boca imbecil! Vê como fala!

Todos: Cala a boca você que é pobre!

A: Não era exatamente um homem pobre que eu queria para mim, mas eu
gostei do senhor. Tive uma idéia.

C: Que idéia?

A: Podemos montar um camelô na Bahia!

A: Fica claro que 80% é meu e 20% é seu.

C: De maneira nenhuma, 20% para você e 80% para mim. Você tem que
entender...
A: Eu não tenho que entender nada.

(Discussão)

J: Chega!

S: A sociedade começa bem!

J: Agora que todos têm em mente um futuro, tomem seu rumo que esse Brasil
é grande e tem lugar para todo mundo. Só não se esqueçam dessa história
porque o que aconteceu aqui não deve se repetir nunca mais.

S: E tem que lembrar por quanto tempo? Um ano basta?

Todos: Não, mais!

S: 5 anos?

Todos: Não, mais!

S: 10 anos?

Todos: Não, mais!

S: 15 anos?

Todos: Isso, assim está bom!

S: Ahhh, e depois?

Todos: Depois é só esquecer!

FIM

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