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A PESQUISA EDUCACIONAL NA PRÁTICA DOCENTE DO ENSINO

FUNDAMENTAL E NA FORMAÇÃO INICIAL


1 Introdução
Atualmente, a pesquisa na educação vem ganhando espaços importantes, fomentando a
participação de professores/educadores de variadas áreas, se tornando uma alternativa de formação em
processo bastante viável e compensatória pela comunidade educativa e pela própria potencialização de
práticas pedagógicas que podem ser socializadas entre os pares da escola, analogamente às reflexões
geradoras de mudanças.
Diante da realidade com a qual a comunidade científica se defronta perante aos condicionantes da
pesquisa, o estudo evidencia mais especificamente, o cenário encarado por professores que estão no
exercício da docência por meio do ato de pesquisar que se dá de variadas maneiras e com diferentes
propósitos, em consonância com discentes do curso de pedagogia, para estabelecer as diferenciações
dessa prática partindo desde a formação inicial até o campo exercido profissionalmente pelos docentes.
Tal averiguação, por assim melhor dizer, é uma possibilidade investigativa tomada à luz das
representações sociais que os sujeitos pesquisados concebem acerca da pesquisa na educação, por
permitir características analíticas não somente do mundo experienciado por cada grupo distintamente
pesquisado, mas por situá-los em uma esfera no qual todos estão imersos, e que, quer queira, quer não,
envolve os contextos sociais e seus possíveis desdobramentos percorridos quando nas suas atividades
desenvolvidas cotidianamente.
Para tanto elencou-se como problema qual representação o professor da educação básica em
exercício e os discentes do curso de pedagogia em processo de formação inicial evidenciam em seus
discursos acerca da pesquisa educacional e como tem se desdobrado os horizontes da pesquisa em seus
fazeres? Tal problema está articulado com o binômio teoriaprática, questão esta bastante latente na
educação e que neste trabalho relaciona-se com o discurso pedagógico levantado por docentes versus
discentes acerca da pesquisa educacional.
Na tentativa de responder ao problema questionado anteriormente, delineou-se como objetivo
geral desvelar as concepções e representações que professores da educação básica do ensino fundamental
e discentes do curso de pedagogia tem acerca da pesquisa educacional, ora evidenciadas em seu percurso
prático e formativo no âmbito escolar e/ou na academia, mais especificamente analisar qual a importância
atribuída à pesquisa pelos professores e discentes pesquisados, bem como identificar as principais
características elencadas pelos pesquisados quanto aos obstáculos no ato de pesquisar.
Para entender melhor a opção pela escolha dos grupos pesquisados, parte-se para um
questionamento fundamental: por que então a preferência para se pesquisar professores da educação
básica e não de outras modalidades de ensino, e por outro lado pesquisar também discentes do curso de
pedagogia? Justamente pelo fato de que, no curso de pedagogia se preparam profissionais para atuarem na
educação infantil e nas séries inicias do ensino fundamental, uma vez que suas práticas serão realmente
evidenciadas quando estiverem no exercício da docência, daí a importância dessa articulação entre
educação básica e formação inicial, no sentido de conhecer mais de perto como a pesquisa está sendo
encarada no dia-adia do professor ao se deparar com suas atividades de sala de aula, situação semelhante
acerca do curso de pedagogia, compreendendo os percursos vividos pelos acadêmicos durante, e não
somente no final do processo formativo, esclarecendo como as pesquisas são desenvolvidas.
Tais perspectivas são pertinentes para uma constituição profissional e identitária na área da
educação, sobretudo porque legitima e dá condições para se defender a cientificidade da pedagogia,
permitindo esboçar possíveis reflexões e apontamentos diante da realidade evidenciada no momento
atual.
2 O lugar das Representações Sociais na pesquisa educacional
Todas as formas de expressão, seja ela verbal, gestual e de outras procedências estão vinculadas
aos grupos interativos que os indivíduos estão contidos presentes na sociedade. Há uma
interconectividade entre o que se faz, o que se pensa e o que se fala, gerando uma rede de significados
alimentados durante as relações intersubjetivas travadas pelos sujeitos, quando em contato direto ou
indiretamente com o objeto de conhecimento e/ou com os próprios sujeitos entre si.
Construídas nas interações sociais, as representações sociais acabam por se constituir, portanto,
em mediações entre os sujeitos e o mundo, interpenetrando sentimentos, idéias, biografias, ideologias,
fundindo as histórias dos sujeitos com as histórias das nações; e apropriadas pelos sujeitos para dar
sentido às suas ações, à sua vida. Ou seja, como expressão e construção do sujeito, como produto e
processo de apropriação do mundo pelo pensamento... (BORTOLINI, 2009, p.29).
Neste sentido, as experiências vivenciadas pelos indivíduos no dia-a-dia da escola associam-se aos
contextos construídos no âmbito extra-escolar, somando-se dialeticamente, e conduzindo a sedimentações
mais significativas para a apropriação fundamentada de saberes que possam ser conduzidos a ações
geradas em diferentes dimensões nos grupos de atuação que os sujeitos fazem parte.
As caracterizações com as quais podem revelar mais sucintamente as múltiplas realidades do
contexto escolar, quanto à pesquisa, mediada pelas representações sociais é a pesquisa qualitativa, pois
nesta “[...] o valor de qualquer elemento não provém de sua objetividade em abstrato, mas do significado
atribuído em um sistema (GONZÁLEZ REY, 2005, p.100). Então, não se trata de informações puramente
fornecidas desconexas dos outros momentos e lugares vividos pelos sujeitos, mas a coexistências desses
elementos em profunda interligação.
Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca envolver os sujeitos participantes de
forma a voltarem sobre si próprios como condição necessária a externalização dos procedimentos cabíveis
ao seu desempenho no decurso da pesquisa, contribuindo dessa forma para a representação dos fatos
advindos de sua participação. Como bem aponta Berger e Luckmann (2007), “[...] o homem, ao se
exteriorizar, constrói o mundo no qual se exterioriza a si mesmo. No processo de exteriorização projeta na
realidade seus próprios significados”. (p.142, grifos do autor).
Muitos pesquisadores valorizam mais as técnicas de pesquisas que buscam informações
subentendidas/discursivas, por conter aspectos representacionais das situações pesquisadas e se valerem
da essência das informações colhidas, podendo ser analisadas posteriormente à luz das representações
sociais, pois contribuem para um enfoque mais realista do fenômeno pesquisado.
De acordo com Bortolini (2009) “[...] a representação constrói uma realidade própria que tem
relação estreita com a experiência concreta, mas é maior/menor/diferente dela (p.33)”. Há uma oscilação
que depende do grau de concreticidade que o indivíduo pode apresentar em relação ao discurso e ao
vivido. Alguém pode traduzir seu pensamento como uma idealização em poder conseguir fazer o que fala,
contrapondo-se, por outro lado, com a realidade que condiz com o que de fato faz, e não consegue expor
objetivamente esse fato, mas que, porém traz alguns traços das vivências que faz parte do seu ciclo de
vida.
Portanto, as representações sociais se caracterizam como uma fonte muito rica de informações,
pois as situações são construídas numa processualidade que nega níveis préconcebidos e que não
contribuem para a construção de outros pressupostos escondidos por trás das situações representadas
pelos sujeitos que participam das pesquisas. Por outro lado, pesquisar na educação não dá condições
inteiramente objetivas de entender os contextos sem, contudo utilizar das questões que podem ser
analisadas qualitativamente pelo pesquisador por meio das representações, a menos que ele opte pela
pesquisa quantitativa, que é outra questão contrária à qual se concebe nessa discussão. Assim, a pesquisa
educacional consegue adquirir resultados exitosos, quando parte de uma perspectiva de subjetividade, por
considerar elementos analíticos encarados pelo pesquisador ao se deparar com os contextos explorados,
tanto por ele próprio, como pelos próprios sujeitos participantes da pesquisa que estão envolvidos.
3 A pesquisa na visão de acadêmicos e práticos Existem algumas diferenciações extremistas na
pesquisa educacional que dificultam uma interação pelos profissionais da educação. Os professores
práticos muitas vezes negam os saberes dos acadêmicos, e vice-versa. O que acontece é um
distanciamento em que professores consideram as produções dos iniciantes muito utópicas e distantes da
realidade, como se fossem proposições impossíveis e incongruentes com o espaço escolar. Do outro lado,
àqueles que estão no princípio do encontro com a área da educação, se profissionalizando, destituem os
professores práticos de saberes e técnicas científicas que elevam a ciência educacional, enaltecendo a
cientificidade pelo ato de pesquisar na pedagogia, descaracterizando aspectos práticos externalizados
pelos docentes em ação. Tal situação é muito bem explicitada por Zeichner (1998), um notável
pesquisador que aborda sobre a formação de professores e reflexividade em seus estudos, quando nos diz
que “os mundos dos pesquisadores acadêmicos e dos pesquisadores-professores raramente se cruzam”
(p.217). Estas situações tampouco contribuem para a evolução da escola, pois a própria comunidade
educacional se cruza diante de questões obsoletas, uma vez que se poderia partir para preocupações mais
emergenciais, buscando juntos – professores e futuros professores – as respostas para os problemas
vigentes na escola. Assim, buscando responder à altura do que se propõe este trabalho, utilizou-se como
metodologia uma abordagem qualitativa, realizando uma pesquisa de campo com 14 professores da
educação básica (do sexo feminino – atualmente exercendo a docência), na modalidade de ensino
fundamental, em 02 (duas) escolas da rede pública de ensino da cidade de Caxias-MA – situadas em áreas
periféricas da cidade – concomitantemente com 14 discentes do curso de pedagogia de uma IES particular
(do 6° bloco/noturno; diferentemente de muitas outras pesquisas que fazem com discentes egressos, esta
valorizou o processo em que os acadêmicos estão em contato com alguns elementos da pesquisa
científica), no qual utilizou-se um questionário com 11 questões discursivas, relativas à pesquisa
educacional, para cada grupo de sujeitos pesquisados. Posteriormente, partiu-se para a técnica da Análise
do Discurso, um componente rico e ao mesmo tempo essencial no desvelamento das informações contidas
nas falas dos pesquisados, compatível com a presente pesquisa. Para melhor esclarecer essa técnica,
Araújo (2004), diz que:
A análise do discurso parte da descontinuidade e da singularidade do enunciado em certas
formações, isto é, grupo(s) de enunciados que articulam objetos, designam papel ao sujeito, dispõem e
compõem referenciais, ligam-se a domínios associados e são dotados de uma materialidade que enseja
certos usos e reutilizações. (p.232).
Trata-se de discursos que consideram uma complexidade de vivências conduzidas por cada sujeito
em todos os grupos que frequentam, e que apresentam aspectos subjetivos importantes para a construção
de informações e de conhecimentos pelo pesquisador.
As análises e discussões a seguir vão intercruzar-se entre discentes e professores, para um melhor
entendimento do contexto evidenciado em cada caso.
Quando questionado sobre a concepção acerca da pesquisa educacional, a maioria das professoras
disseram que: “Se trata de uma busca de novos conhecimentos para aprimorar o ensino”; outras
enfatizaram ser: “Uma investigação prática acerca da realidade educacional”.
Nota-se que foram bem específicas. Nesse sentido a pesquisa é tida como algo elementar,
assemelhando-se a outros conceitos redutíveis que se fazem presentes no discurso pedagógico, não tendo
nenhuma característica plausível. Já os acadêmicos têm conceitos mais bem formulados; dois dos
participantes abordaram o seguinte:
“É uma pesquisa que relata a realidade da educação, identificando seus fatores, problemas e
soluções para se chegar a uma análise e conclusão”.
“É um estudo ao qual se busca o conhecimento, para consequentemente materializar alguma ideia
ao qual se busca respostas”.
As visões contidas nessas falas são as mais complexas do estudo; os demais acadêmicos
associaram a um nível de apropriação de conhecimentos e resoluções de problemas educacionais. Ainda
assim, acadêmicos também representam a pesquisa educacional de forma fragmentada e sem maiores
aprofundamentos, embora sendo poucos.
A prática da pesquisa é realizada por quase todos os professores, apenas dois disseram não fazer.
E quanto aos acadêmicos mais da metade realizam pesquisas, os demais não.
Porém, as respostas estão muito associadas ao que eles consideram ser pesquisa, portanto, embora
alguns façam, mas não sabem que fazem, principalmente no que diz respeito aos acadêmicos, que se
mostraram com algumas características duvidosas do que seja pesquisa.
Quanto à importância da pesquisa na prática docente três das professoras disseram: “Muito
importante, pois adquirir conhecimento é sempre prazeroso e necessário para um bom desempenho
educacional”.
“Se torna relevante por tratar de uma estratégia metodológica que subsidiará a prática docente”
“É um trabalho indispensável para a formação pessoal e para a comunidade acadêmica científica”
Outra disse ainda: “Não trabalhamos com pesquisa a fundo e nem ao pé da letra, não quero dizer
que não conheço este tipo de trabalho, mas leio e sei que é importante”. Nesse discurso, existe uma
grande contradição explícita, pois não há interesse algum pela pesquisa, fato este apresentado
inicialmente na fala como algo negativo, enfatizando logo depois o lado positivo. As demais professoras
relacionaram como importantes na condução do ensinar e aprender pelos conhecimentos adquiridos ao
longo do ato de pesquisar. Vez por outra, algumas acabam desfocando realmente o caráter contribuidor da
pesquisa em sua prática docente, partindo do princípio de que, umas valorizam, outras nem se quer dão o
seu devido valor.
Na visão dos acadêmicos os contributos da pesquisa dizem respeito ao seguinte:
“É essencial, pois ela reflete as práticas educacionais do professor e aluno, tendo como referência
o aprendizado e a interação aluno e professor”.
“É importante, pois é através do resultado da pesquisa que o professor e o próprio pesquisador
avaliará, e, principalmente se fundamentará através da pesquisa”.
“Por meio dela é que iremos desenvolver o nosso senso crítico quanto a realidade investigada, e
para o nosso futuro TCC, além de contribuir para a melhoria da educação”.
A importância dada à pesquisa na formação inicial é mais valorizada do que na prática docente,
uma vez que os iniciantes estão desejosos por novos conhecimentos e descobrindo novos horizontes em
suas vidas, tanto pessoal, quanto vislumbrando um campo profissional efetivo. Assim, o que tem
adquirido na prática da pesquisa, como mostra na fala de outros é o fato de: “Observar as grandes
dificuldades educacionais, e conhecer de que forma melhorar e como se dá essa problemática”; bem como
um retorno satisfatório em que: “A pesquisa nos permite uma compreensão maior da realidade, além de
nos possibilitar conhecimentos e contato com o objeto a ser pesquisado”.
A respeito dos critérios e objetivos levantados pelos professores para realizar alguma pesquisa,
apenas uma respondeu: “Ver a escola como um espaço que suscite a aprendizagem de forma significativa,
desafiadora e inteligente”; todas as demais responderam simplesmente por considerar “mais informações,
conhecimentos e aprendizagens”. É interessante as falas das professoras, pois desde o começo das
respostas estão fazendo menção à apropriação de mais conhecimentos, como se a pesquisa gerasse
somente essa alternativa. Tal análise contribui para entender que a concepção de pesquisa realmente é
simplista, não dando margem a outras práticas e reflexões de cunho abstrativas e importantes, uma vez
que não saíram do mesmo ciclo de conjunto de palavras.
Os acadêmicos disseram que para realizar suas pesquisas, os critérios e objetivos levados em conta
também dizem respeito a “ampliação de conhecimentos”, como em outras falas “para subsidiar a prática
docente”, expressados pela maioria dos respondentes; ainda assim uma disse que é: “Com o intuito de se
compreender o espaço e o objeto a ser pesquisado”. Dessa forma, fazer pesquisa assemelha-se mais a
reprodução e conhecimento de teorias, que um momento de construção e evolução de ideias pessoais e
visões políticas durante a formação inicial.
4 Dificuldades e desafios na construção da pesquisa
Algumas indagações que levam o pesquisador a se questionar são primeiras aproximações
racionais que ajudam a se enveredar pelos campos da pesquisa, como por exemplo: “O que devo
pesquisar?” “Para que pesquisar?” “E para quem pesquisar?”. Posto estas questões surge inúmeras
respostas, levando o pesquisador a adotar parâmetros lógicos das ideias mais pertinentes e compatíveis
com sua realidade, tendo um norte objetivo para se poder guiar.
As dificuldades apresentadas na construção da pesquisa foram expressas de variadas dimensões
pelos acadêmicos. Dentre as mais expressivas, pode-se citar:
“Desmotivação, preguiça de estudar, a leitura, o tempo”;
“Focar o que desejar buscar”;
“A disponibilidade dos entrevistados”;
“A falta de conhecimento, o medo de desenvolver uma pesquisa e não saber organizar os dados da
pesquisa”
“A falta de apoio da escola”.
Pela variedade de respostas e o sentido com que estão sendo aferidas, os acadêmicos estão
entendendo como funciona o contexto que gira em torno do ato de pesquisar. Isso pressupõe que diante
dos momentos conflituosos os quais, vez por outra se deparam, enriquecem e ajudam na
maturação/compreensão dos fenômenos pesquisados, alargando um universo de possibilidades, que
fundamentará as pesquisas posteriores.
No entender das professoras, a maioria disse ser “a falta de tempo” o maior vilão da história.
Outra informou que: “Acredito que para quem tem interesse, não há dificuldades”. Foi colocado também
uma técnica como meio obstaculizante: “A pesquisa de campo”; e poucas mostraram um discurso
constituído de uma neutralidade: “As dificuldades são relativas; onde dependerá de como é feita tal
pesquisa”.
Assim, a pesquisa educacional mostra muitos impasses que demandam esforços do pesquisador. O
maior desafio como forma de superação dessas lacunas é o interesse e a motivação, como bem retratou
uma das falas acima. É preciso atitudes e compromissos, não deixando de pairar um comodismo
deturpante da atividade de pensar e fazer ciência.
Quando o sujeito se propõe a pesquisar, deve abraçar a causa, investindo no tempo,
principalmente da leitura, da informação, do conhecimento, da reflexão pelos seus contínuos momentos
de interação com o objeto pesquisado e os elementos que fazem parte da construção dessa trajetória. E
como diz González Rey (2005, p.92) “a pesquisa é e será sempre uma tarefa para os que se assumem
como sujeitos da produção do conhecimento”.
Portanto, a educação só ganhará mais espaço, quando os professores e educadores mostrarem
elementos claros e fundamentais de sua área, pesquisando, incentivando e apresentando reais situações
que a escola faz, pode e consegue obter resultados exitosos na aprendizagem dos alunos, fruto do trabalho
do professor. Tais características são essenciais para a construção da legitimidade da pedagogia, contudo,
do sucesso da escola. Por outro lado, contribui para a desmistificação de preconceitos de que a pesquisa
educacional é apenas um trabalho qualquer, quando na verdade é coerente e transformadora.
5 A pesquisa como fio condutor da mudança
A pesquisa educacional mostra, em maior profundidade, elementos que poderiam estar ocultos
sobre a ação educativa, e por não existir um tempo destinado à reflexão, ao pensamento do que se está
fazendo no dia-a-dia de sala de aula, se perde oportunidades de fazer um trabalho melhor propiciando
uma variedade complexa de alternativas a serem desenvolvidas na escola.
Dos avanços pelos quais muitas sociedades têm passado, um dos principais fatores tem sido a
execução de pesquisas em vários âmbitos, identificando quais as dificuldades para se poder chegar ao
ponto crucial, viabilizando a condução de procedimentos e alternativas de transformações dos cenários
encontrados em suas respectivas características emblemáticas.
Muitos autores e pesquisadores procuram mostrar a relevância do ato de pesquisar esclarecendo as
imensas características adquiridas pela mesma. E no que se refere ao professor, existem ganhos que
perpassam as suas realizações pessoais, uma vez que a pesquisa não se configura como satisfação pessoal,
mas abrange uma totalidade gerando diferentes graus de transformações nos vários grupos contidos pela
área pela qual se desenvolve a pesquisa. Assim, O professor-pesquisador traz uma característica que o
diferencia dos demais colegas.
Ele transforma sua docência em atividade intelectual cuja empiria (aquilo que ele observa) é
fornecida por sua atividade de ensino, pela atividade de aprendizagem dos alunos, pela sua própria
aprendizagem, pela rebeldia de alguns alunos, pela incapacidade de aprendizagem de outros devido à falta
de condições cognitivas prévias, em conteúdo ou de estrutura, de condições didáticas apropriadas, ou
ainda de carência de condições materiais. E, finalmente, por transformar sua prática em função dessa
atividade e, eventualmente, publicar suas conclusões, exercitando sua capacidade teórica ou reflexiva e
beneficiando-se, com suas experiências, os colegas professores. Quando isso acontecer, sua reflexão
prestará à escola, ao ensino, à educação, e, por conseqüência, à aprendizagem um inestimável serviço.
(BECKER, 2010, p. 20).
São esses os retornos notórios que a pesquisa pode proporcionar. Além de alcançar
inteligibilidade, quem pesquisa adquire estruturas cognoscitivas mais coerentes para refletir diante das
divergências afrontadas nas imprevisibilidades, agindo em contrapartida com ações efetivas e envolvendo
uma gama maior de sujeitos da comunidade escolar, que se apropriam de seus contributos valiosos para a
educação.
A pesquisa educacional não é a panacéia para os problemas educacionais; isso não foi, nem jamais
será, mas é uma, entre muitas outras, alternativas potencialmente eficazes para que o professor adote em
seu fazer pedagógico, e não se reduza as mesmas práticas que cansam os alunos e torna as aulas
desagradáveis e irritantes.
A acomodação dos professores diante de sua prática pedagógica repetitiva pode ser rompida com a
prática da pesquisa, pois o olhar do professor para a sala de aula, a sua concepção de educação pode ser
transformada perante o imenso conhecimento que determinados fenômenos ainda têm a nos oferecer,
enquanto aprendizes. (MACIEL, 2004, p.109).
Pesquisando, o professor estará contribuindo no seu processo auto-formativo, e quem mais ganha
com isso é ele, e consequentemente a sua escola, pois estará aplicando suas aprendizagens e
conhecimentos na sala de aula, gerando expectativas e resultados positivos entre alunos e seus próprios
pares, possibilitando a mudança, a inovação, a transformação de uma dada realidade para melhor.

É preciso aprender a pensar, aprender a aprender continuamente como uma condição de


reconstrução do conhecimento e transformação pela via da inovação de situações engessadas na escola,
que se apresentam com caráter reprodutivistas dificultando a passagem para o novo, o encontro com a
materialidade executada, de fato. Condições essas proporcionadas, substancialmente pela pesquisa, além
do fato de fazer com que a escola deixe de ser um espaço com interposições meramente reducionistas.
Não se faz pesquisa se não haver uma boa prática da leitura, da reflexão, dos questionamentos que
inquietam as mentes sedentas por conhecer o que ainda não se conhece; não se faz pesquisa sem que haja
condições problematizadoras do que se apresenta à sua frente, dos diferentes contextos de realidades
surgidas no seu mundo existencial e em torno dos condicionantes enfrentados no seu dia-a-dia de
trabalho; não se faz pesquisa somente pela reprodução das teorias já defendidas por outros, embora tenha-
se que utilizá-las para fundamentar teoricamente os trabalhos, sem porém, evidentemente apenas repetir
as mesmas coisas como se não existisse o próprio construto crítico de ideias do pesquisador, ora
corroborando, ora refutando certos ideais apresentados por outrem e construindo suas próprias teorias
advindas dos ensinamentos práticos de sua profissão ou dos momentos que se defrontou outrora; não se
faz pesquisa se não tiver atitude para começar a dar os primeiros passos, e ninguém irá segurar nas mãos
de ninguém induzindo às iniciativas, mas sim o contrário, partir do próprio ser em consonância com os
conflitos que o afligem, pois somente quem vive determinados acontecimentos, sabe como proceder para
que encontre as saídas ou os acertos de uma caminhada a qual se está percorrendo.
Os professores pesquisados apresentam percepções fragmentadas acerca da pesquisa educacional,
e se acomodam, muitas vezes com suas simples práticas de sala de aula, colocando o tempo como um
obstáculo na construção da pesquisa. Tais perspectivas são advindas de seus processos formativos que
obtiveram no passado.
Já os que estão em formação inicial apresentaram um entendimento mais coerente do que seja
pesquisa, colocando em evidência elementos didático-metodológicos, bem como a leitura, como impasses
na construção da pesquisa, mas que não compromete o seu desenvolvimento.
Os professores em geral têm um mundo de oportunidades, os alunos mais ainda, porém não estão
sabendo usufruir dos meios que lhes cercam para produzir conhecimento, para alavancar aprendizagens e
poder utilizar socialmente o que se aprende na escola, uma vez que é uma mão de duplo sentido, onde
professores e alunos ensinam e aprendem continuamente.
Pesquisar na educação significa ampliar os horizontes do cabedal informativo que cada um vai
construindo em suas respectivas singularidades, potencializando as práticas pedagógico-metodológicas
dos professores em exercício sem que as aulas sejam fazeres rotinizados e desmotivantes. Por outro lado,
quem está em processo formativo, consegue aproximar-se da realidade educacional sem que sofra
impactos desalentadores quando estiver em contato com a sala de aula, além de possibilitar a construção
de suas próprias posições teóricas, que ajudarão, sobremaneira, na constituição de sua profissionalidade.
A pesquisa na docência deve também somar-se à pesquisa acadêmica permitindo uma troca
enriquecedora de saberes e práticas que possam ajudar a sanar as dificuldades apresentadas na
comunidade escolar, pois quem já está atuando em sala de aula defende aspectos práticos experienciados
em sua profissão, em contrapartida, quem está na academia também troca experiências novas e
atualizadas advindas das tendências da educação, adquiridas no percurso formativo dos indivíduos.
Enfim, nada de antagonismos desimportantes, pois todos estão com os mesmos objetivos, buscando
contribuir para uma qualidade da educação, que faça dos sujeitos, não meros espectadores de sua vida,
mas coautores e partícipes de suas próprias mudanças, que podem estar sendo desabrochadas por todos os
professores/educadores, sejam os já formados ou os que estão em formação inicial.
Assim, estar-se-á transformando a educação para melhor, para um futuro digno e mais humano,
contudo, com sentido, ações e intenções realmente democráticas.

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