Você está na página 1de 11

A CONFIGURAÇÃO DA FAMÍLIA MODERNA: CONTRASTES ESCOLARES

JULIANA GRIS1
MARIANA SCHULZ MITTANCK2
ROSILEI MARISA COMERLATO3

RESUMO: Tendo em vista a interligação entre família e escola, viemos, por meio deste
trabalho, questionar o tratamento dado às particularidades de cada família. Não se trata
de um questionamento sobre raça, cor, situação econômica, nem mesmo de moral. O
que nos interessa, neste trabalho, é rever o conceito de “família”; dar a este uma
concepção contemporânea. Propomos que a desigualdade na constituição da mesma não
seja inibidora e, nem mesmo, requisito de diferenciação entre as crianças. Perceba-se: o
termo “desigualdade” representa, nesta fala, uma diferença construída a partir de
diversos fatores sócio-históricos particulares. A “diferenciação”, por sua vez, representa
o preconceito, no sentido de considerar uma criança como diferente da outra, pelo
simples fato de não estar inserida numa família “tradicional”. No mais, buscamos
compreender como é dada a relação entre família e escola no sentido mais visível,
prático e pedagógico, ou seja, no sentido de mostrar a importância da participação da
família na escola, assim como as conseqüências dessa participação para as crianças.
Trataremos a família, portanto, como fator indispensável à prática educacional da
criança; nossa preocupação principal, porém, será analisar a conduta da escola quanto a
estas “novas” famílias, ou, mais do que isso, buscar um novo tratamento a esta
particularidade, ou, condicionalidade encontrada na atual conjuntura sócio-educacional.
Em conseguindo compreender esta particularidade, estaremos abrindo espaço a uma
educação de mais qualidade e, principalmente, que proporcione um respeito às
diferenças encontradas no ambiente escolar. Concluímos então com um
questionamento: se escola e família direcionam juntas a vida de uma criança, quais as
medidas a serem tomadas?

Palavras-chave: família, criança, escola.

1
Acadêmica do 3º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) campus Toledo. E-mails para contato: jujugris@hotmail.com ou jujugris@yahoo.com.br.
2
Acadêmica do 2º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) campus Toledo. E-mail para contato: mari.mittanck@hotmail.com
3
Acadêmica do 3º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) campus Toledo. E-mails para contato: metal_lrose@hotmail.com ou
rosilei.comerlato@bol.com.br
A CONFIGURAÇÃO DA FAMÍLIA MODERNA: CONTRASTES ESCOLARES

Segundo Di Santo, a família e a escola possuíam, prioritariamente, o papel de


repressoras, mas, nas últimas décadas isso tem se modificado. A transmissão do
conhecimento era função da escola; a agência por excelência destinada à transmissão
dos conhecimentos acumulados pela sociedade. Os valores e padrões de
comportamento, por sua vez, eram ensinados e cultivados em casa. Como as demais
instituições sociais, a família e a escola, passam por mudanças que redefinem sua
estrutura, seu significado e o seu papel na sociedade. É o que tem acontecido nos dias de
hoje, em função de diversos fatores, sobretudo, a emancipação feminina. Com isso, os
papéis da escola foram ampliados para dar conta das novas demandas da família e da
sociedade. Esse é um fato que deve, necessariamente, ser levado em consideração
quando se trabalha com a escola. Negá-lo é agir fora da realidade e não obter resultados
satisfatórios. Finalmente, na relação família/educadores, um sujeito sempre espera algo
do outro. E para que isto de fato ocorra é preciso que sejamos capazes de construir de
modo coletivo uma relação de diálogo mútuo, onde cada parte envolvida tenha o seu
momento de fala, onde exista uma efetiva troca de saberes. A construção dessa relação
implica em uma capacidade de comunicação que exige a compreensão da mensagem
que o outro quer transmitir, e para tanto, se faz necessário, a competência e o desejo de
escutar o que está sendo expresso, bem como a flexibilidade para apreender idéias e
valores que podem ser diferentes dos nossos.
Para iniciar, vejamos alguns artigos referentes, contidos no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), capítulo III (do direito á convivência familiar e comunitária):
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no
seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de
pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.
Art. 21. O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e
pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer
deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
competente para a solução da divergência.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais (BRASIL, 2005, p. 15-16).
Ao analisar o contexto sócio-histórico, percebemos algumas alterações no
“quadro de tarefas”, onde a família repassa essa “função” para a escola.
A escola tem ficado com a responsabilidade de instruir e educar os filhos e os
pais esperam “[...] que os professores transmitam valores morais, princípios
éticos e padrões de comportamento, desde boas maneiras até hábitos de
higiene pessoal. Justificam alegando que trabalham cada vez mais, não
dispondo de tempo para cuidar dos filhos” (DI SANTO).
Acrescenta ainda que os pais acreditam que educar em sentido amplo é função
da escola. “E, contraditoriamente, as famílias, sobretudo as desprivilegiadas, não
valorizam a escola e o estudo, que antigamente era visto como um meio de ascensão
social”. Quanto a escola, afirma-se que o êxito do processo educacional é indissociável
da atuação e participação da família, devendo esta estar atenta a todos os aspectos do
desenvolvimento do educando. Perceba-se: respeito pelos conhecimentos e valores que
as famílias possuem, evitando qualquer tipo de preconceito e favorecendo a participação
dos componentes da instituição familiar em diferentes oportunidades, estimulando o
diálogo com os pais e possibilitando-lhes, também, obter um ganho enquanto sujeitos
interessados em evoluir e se aperfeiçoar e como seres humanos e cidadãos
compromissados com a transformação da realidade.
A educação pode ser um fator de coesão, se procurar ter em conta a
diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, evitando tornar-se um
fator de exclusão social. Qualquer política de educação deve estar à altura de
enfrentar um desafio essencial, que consiste em fazer desta reivindicação
legítima um fator de coesão social. É importante, sobretudo, fazer com que
cada um se possa situar no seio da comunidade a que pertencem
primariamente, a maior parte das vezes, em nível local, fornecendo-lhes os
meios de se abrir às outras comunidades. Neste sentido, importa promover
uma educação intercultural, que seja verdadeiramente um fator de coesão e
de paz. Depois, é necessário que os próprios sistemas educativos não
conduzam por si mesmos, a situações de exclusão (DELORS, 2004, p.54).
Analisando um pouco a visão escolar, percebe-se ainda, segundo Di Santo, que
com as mudanças sociais ocorrendo, principalmente da vida econômica que se torna
facilmente instável, do êxodo rural, das conquistas tecnológicas que aumentam as
influências externas sobre a infância e estimulam o consumismo, a violência, a visão de
mundo descomprometida com a solidariedade, valores morais passaram a ser
insignificantes, dá lugar a novas estruturas, tanto da família quanto da escola que, por
sua vez, tende a questionar a capacidade das crianças, principalmente daquelas que lhe
dão mais trabalho, seja em termos de aprendizagem seja em termos de disciplina, e, o
que é mais grave, questiona sua própria capacidade de educar essas crianças. Este
posicionamento da escola também modifica profundamente as relações destas famílias,
que se afastam ainda mais do ambiente escolar.
Vejamos agora o que a lei diz sobre a responsabilidade pelas crianças: "É dever
da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
prioridade absoluta, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão" (Art. 227 da Constituição
Federal). Eis a relação família-escola que chegamos: a família repassa sua
responsabilidade à escola e esta reclama pela formação ampla dos alunos que os pais
transferiram para ela. O espaço que deveria transmitir conteúdos curriculares passa a
significar a oportunidade de suprir a falta dos pais (lembre-se, esta causada por diversos
fatores cotidianos, como empregos e separações, por exemplo...).
Este “suprir a falta” implica em ensinar o que é “saudável”; fazer com que a
criança encontre um “motivo para viver”, por assim dizer. Implica ainda, em casos mais
particulares, na única oportunidade de alimentação da criança; na única forma de acesso
à cultura e lazer, à profissionalização... Implica na medida de tratamento à ordem;
formando as mesmas para que sejam dignas, conheçam o respeito e a liberdade. Para
que possam conviver em suas famílias e comunidades, sem discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão; como diz a lei...
A escola precisa se reestruturar para atender às necessidades de seus alunos,
respeitando e acolhendo todo espectro da diversidade humana. Reconhecemos que é um
desafio. Um desafio necessário para o reconhecimento do aluno em potencial. Que
exige uma nova postura pedagógica frente à relação desenvolvimento/aprendizagem. A
partir de uma visão sócio-histórica que compreenda as diferenças enquanto construções
culturais, percebendo como lidar com o indivíduo que se relaciona e expressa o
movimento da sociedade em que vive (Vigotsky, 1989).
Lembrando o Mestre Paulo Freire, acreditamos que "a educação sozinha não
transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é
progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da eqüidade e não da injustiça,
do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não
temos outro caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a
distância entre o que dizemos e o que fazemos".
Numa sociedade caracterizada pelas constantes alterações a nível sociocultural,
uma das mudanças mais visíveis que temos acontece dentro da família,
especificadamente nas em que os casais com filhos se separam ou divorciam. Alguns
autores, situam como causa principal da sua dissolução as mudanças socioeconômicas
das últimas décadas, que fizeram emergir um número cada vez maior de jovens esposas
com pequenas famílias e que se tornaram financeiramente independentes. Este autor
registra, também, outras causas: uma maior aceitação social do divórcio como meio de
resolver uniões difíceis; a crescente movimentação em direção à igualdade entre os
sexos; e as leis sobre o divórcio e a união estável. Já Ariès (1973) considerou que a
ampliação excessiva do conceito de individualismo, à custa do conceito de família,
explicaria o decrescente desinteresse por essa instituição. Cada um com os seus
motivos, o que não será assunto aqui para nos aprofundarmos, sabemos que, quem mais
sofre com essa decisão é justamente quem não tem nada a ver com ela; o filho, ou os
filhos do casal. Esta é inevitavelmente um momento muito difícil para uma criança,
provavelmente até mesmo o mais difícil pelo qual terá de passar na sua infância.
Crosby (1975) trata essa questão por outra óptica. Para ele não têm fundamento as
críticas de que a família seria a maior causa, o principal agente de doença mental dos
seres humanos; isto é, que ela seja percebida como uma instituição que oferece modelos
rígidos que impedem o desenvolvimento saudável das crianças. Os que situam a família
nesse plano confundem mudança com destruição, deixando de observar as demandas
impostas pela sociedade contemporânea, marcada por aceleradas mudanças. Nessa
perspectiva restrita estão aqueles que procuram debitar a conta de diversos problemas
sociais, como abuso de drogas, alcoolismo, aids ou homossexualismo, à família
permissiva.
As crianças são colocadas diretamente no embate e sofrem muito mais que
os pais, que deixam de ser marido e mulher, mas continuam pai e mãe[...]”.
diz ainda que, “quando já estava presente um relacionamento de confiança
família-escola, e esta acolhe o aluno de maneira satisfatória, os sentimentos
de abandono e medo do futuro diminuem. Em geral, tais pessoas conseguem
comunicar-se melhor com as próprias oportunidades que o mundo oferece e
geralmente tiveram o privilégio do estímulo familiar, impulsionando e
apontando o compromisso com a dignidade, a possibilidade de conquistar os
próprios sonhos, alicerçando condições para que as pessoas acreditem em si
mesmas e ajam com vistas ao sucesso (DI SANTO).
Porém, os pais têm um papel fundamental no processo de adaptação da criança à
nova realidade. Não poderão evitar que a criança sofra, mas poderão minimizar esse
sofrimento, encarando esse acontecimento como algo que já vem sendo pensado e
decidido, de longo prazo, por ser uma união infeliz que necessite a separação física do
casal para sempre. Esta separação que irá alterar todo o conceito de família que a
criança tinha, ainda a obriga a enfrentar a saída de um dos progenitores de casa,
consequentemente perdendo o contato diário com esta figura. Cada criança reage de
uma forma dependendo da sua personalidade, da dos pais, da sua idade e maturidade.
Os sentimentos mais freqüentes serão o de angústia, medo de perda, abandono, culpa
raiva, negação, tristeza, revolta e, poderão agravar se os pais não souberem como lidar
com esses sentimentos, pois desde o momento em que os pais resolvem se separarem, é
importante prepararem os seus filhos para o que vai acontecer, explicando aos filhos em
conjunto e de forma sensata e calma, as alterações que irão ocorrer. O fato de estarem
todos juntos permite à criança encarar esta situação como uma decisão mútua, acordada
por ambos os pais, de forma madura e racional. Aos filhos, poderá ser difícil
compreender e aceitar essa nova realidade. Cabe aos pais, sempre que necessário, e com
a devida paciência, voltar a repetir o anteriormente explicado, com outras palavras todas
as vezes que a criança sentir necessidade. É muito importante que os pais tenham esse
cuidado, esse diálogo com os filhos sobre a separação, explicar aos filhos que estes não
são culpados da situação, de que já existiu amor entre os pais, que o amor pelos filhos
irá manter-se para sempre pois é impossível de mudar. Desta forma, além de ajudar a
criança a lidar com os sentimentos de culpa, estarão validando e combatendo o medo de
perder o amor e o contato com os pais, em especial do que sai de casa.
O diálogo entre os pais após a separação é fundamental nesse processo de
adaptação da criança nesta nova realidade, por si só, o divórcio não é sinônimo de
problemas emocionais nas crianças mas, é necessária a consciência de que a
parentalidade não termina ou diminui após o divórcio, verificando-se a necessidade de
continuidade e estabilidade das relações afetivas com ambos os pais, e um adequado
entendimento e respeito entre os progenitores. Quanto às rotinas diárias, estas são
importantes que permaneçam, como a hora de acordar, deitar, ir para a escola, das
refeições. Este procedimento permite minimizar a sensação de intranquilidade e
turbulência que caracteriza este período, conseqüência de todo o desmoronar da imagem
familiar que a criança possuía. Estas atividades e rotinas permitem à criança a sensação
de alguma normalidade no seu ambiente, transmitindo-lhes segurança e conforto.
É importante que as crianças continuem a freqüentar a mesma escola se possível, se não
que se mantenha as redes de contacto que possuía antes da separação como amigos,
colegas de escola e outras atividades extracurriculares. Uma mudança mal pensada, a
falta de cuidado com novas amizades ou influencias pode acarretar em más companhias
e más atitudes como o isolamento, a agressividade, o refúgio nas drogas o que gera uma
série de outros agravos. E a manutenção da mesma rede de contatos é uma importante
forma de obterem apoio de pessoas significativas, confiáveis e que possibilitam diversão
e o esquecimento por momentos do processo difícil que estão passando. No mesmo
sentido, a família alargada, como avós, tios, primos, poderá ser uma forte fonte de
apoio, compreensão e, em muitos casos, oferecem modelos de organização familiar, em
que a criança pode procurar compreensão e estabilidade. E na escola, instituição
indispensável para o crescimento e desenvolvimento de uma criança em sociedade,
espaço onde a criança passa boa parte do dia, se relaciona com adultos e crianças com
variadas personalidades e atitudes, o mais importante neste momento é que se tenha
claro a situação em que vive a família, com quem o aluno ficou morando, o professor
conhecendo a situação tem maior segurança em agir sob certas situações e acima de
tudo deve se preservar e valorizar as diferenças e mudanças, apreendendo com elas,
evitando a discriminação e principalmente o abandono, encarando o processo,
investindo na educação inclusiva e individual se for necessário, o papel do professor
como mediador do processo, bem como a necessidade de constituir junto aos estudantes
valores e conceitos para uma vida harmoniosa e plena em cidadania, são tarefas
relativamente complexas mais necessárias. Respeito pelos conhecimentos e valores que
as famílias possuem, favorecendo a participação dos componentes da instituição
familiar em diferentes oportunidades, estimulando o diálogo com os pais e
possibilitando-lhes, também, obter um ganho enquanto sujeitos interessados em evoluir
e se aperfeiçoar e como seres humanos e cidadãos compromissados com a
transformação e melhoramento da realidade.
E em caso de crianças “marginalizadas”?! Reflitamos um pouco sobre a escola
que temos e a escola que queremos e os conceitos sobre uma escola alienada e uma
escola cidadã. Qual a leitura que temos do ECA nos seus artigos referentes à educação?
Como desmistificar o ECA como um "instrumento protetor de marginais"? qual a
importância de se trabalhar junto os órgãos e instituições de defesa da criança e do
adolescente (Conselho Tutelar, Conselho Estadual, Delegacia de Polícia da Criança e do
Adolescente etc.)? Ora, o envolvimento da escola com os mesmos e o reconhecimento
da urgência de se ultrapassar da pedagogia da denúncia e da constatação poderão
representar uma passagem para uma práxis que proclame como finalidade a garantia
efetiva dos direitos presentes na Constituição...
É fato notório que a escola pública precisa redimensionar seu projeto político e
pedagógico para que se torne uma escola cidadã. Segundo Gadotti (1995), são
necessárias algumas diretrizes básicas, dentre as quais estão: a autonomia da escola,
incluindo uma gestão democrática, a valorização dos profissionais de educação e de
suas iniciativas pessoais. Oportunizar uma escola de tempo integral para os alunos, bem
equipada, capaz de lhe cultivar a curiosidade e a paixão pelos estudos, a curiosidade e a
paixão pelos estudos, a valorização de sua cultura, propondo-lhes a espontaneidade e o
inconformismo. Inconformismo traduzido no sentimento de perseverança nas utopias,
nos projetos e nos valores, elementos fundadores da idéia de educação e eficazes na
batalha contra o pessimismo, a estagnação e o individualismo.
Uma escola cidadã, viabiliza a produção de projetos individuais, a partilha de
projetos coletivos e tem a articulação entre ambos, um fator importante para a realização
de ações e sonhos imbuídos de um significado político e social mais amplo (Machado,
1997). Para Machado, a impossibilidade de uma abertura para sonhos, fantasias e
projetos individuais, conduz a uma espécie de morte da personalidade, tanto a carência
de alimentos conduz à morte física e que no plano social, a ausência de projetos
coletivos costuma constituir-se em um problema crítico, responsável pelo surgimento de
conflitos.
Ao falarmos sobre família e escola, nos dias de hoje, temos que levar em
conta um conjunto de determinantes da nossa realidade concreta que, cada
vez mais, exige o desenvolvimento de outros olhares, competências e
habilidades para nos relacionarmos com os demais integrantes da sociedade
(DI SANTO, 2007).
E como alcançar a coletividade proposta por Machado? O que é necessário para que
todos tenham o mesmo acesso e possibilidades? Como a escola pode se colocar diante
das diferenças encontradas no âmbito da “constituição familiar”4?
Como sujeitos em constante interação, precisamos focar a atenção em nossos
padrões de atitudes e comportamentos para, mais consciente e criticamente,
percebermos nossas ações como seres humanos que interagem num mundo a
cada dia mais imprevisível, interdependente, desafiante, que não comporta
visões unilaterais e preconceituosas, mas valoriza como fundamental vincular
visões alternativas, desenvolvimento sistêmico, relações intra e inter
pessoais, responsabilidades, direitos e valores humanos (DI SANTO, 2007).
Não há como significar/ caracterizar uma família atual; não existe um modelo
único nem um que represente os demais, o que se tem é uma diversidade de modelos
familiares singulares, com identidades próprias, mas que mantêm entre si inúmeros
traços em comum, uma vez que cada família consiste num agrupamento de pessoas
unidas por laços consangüíneos, com uma história característica, que propicia a vivência
das mais diversas situações e tem a responsabilidade básica de proteger seus membros e
prover-lhes a subsistência. O que não é garantia de que realmente atue nesse sentido.
O “antigo”5 modelo de família nuclear, onde o pai é o mantenedor, a mãe cuida
da harmonia da casa e os filhos são obedientes, principalmente à figura paterna, é um

4
No sentido de identificação de parentesco, sanguíneo ou não, independente de grau de proximidade.
5
O termo indica um modelo ultrapassado, por assim dizer, no sentido de não ser mais o modelo padrão,
além de expressar a característica sócio-histórica dessa mudança na sociedade.
modelo que, praticamente, vai sendo substituído pela “família igualitária”6. E essa é a
estrutura dessas famílias.
Nessa sociedade competitiva em que vivemos esse homem atual, que não é
mais a figura principal na família e muitas vezes não consegue sequer
alimentar sua prole, está, cada vez mais, sujeito à desesperança, à depressão,
ao alcoolismo, descambando muitas vezes para a violência, numa tentativa de
se impor junto à mulher e aos filhos. [...] Nesse sentido, e frente a um
conjunto de novos e diferenciados arranjos familiares existentes em nosso
meio social, falar em "família desestruturada" como se falava um tempo
atrás, não encontra mais repercussão, pois, se antigamente havia um ideal
para identificação no sentido de existir uma família modelo, "estruturada" e
"normal", com a qual as crianças e jovens deveriam se espelhar, hoje,
provavelmente, é mais indicado, mais alentador, que os educadores repensem
e procurem compreender as famílias dos/as seus/suas alunos/as como
portadoras de semelhanças e diferenças, sem menosprezar a relevância que os
contextos social e cultural podem ter como demarcadores de características
de diversidades e não de "faltas" e de "carências" (DI SANTO, 2007).
Vemos ainda:
Os desafios a que os professores têm estado sujeitos, nas últimas décadas,
têm sido muitos e nem sempre eles conseguem responder adequadamente a
todas as sugestões que emanam dos documentos de política educativa.As
características dos alunos são cada vez mais variadas, o que só vem reforçar a
ideia de que o professor tem que se adaptar a esta diversidade crescente que
caracteriza a sociedade e a escola dos nossos dias. Para isso, precisa de
encontrar formas de trabalho cada vez mais motivadoras e eficazes para um
público que apresenta interesses, conhecimentos prévios e formas de estar na
vida muito diferenciadas. Esta realidade leva a que os professores, no seu
trabalho quotidiano, tenham que inserir mais um importante elemento: a
valorização da diversidade enquanto riqueza social (CÉZAR. AZEITEIRO).
Di Santo diz ainda que há de se deixar de lado explicações como as que se
referem à “famílias desestruturadas”, o que não traz qualquer benefício ao aluno nem
mesmo à escola, substituindo-as por visões inclusivas, que não comportam qualquer
discriminação. Nesse sentido, a família de cada aluno deve ser respeitada como ela é e
todos os alunos devem receber tratamento igualitário e, na medida do possível,
individualizado, que possibilite o desenvolvimento das suas potencialidades,
respeitando suas particularidades, estimulando sua criatividade e a interação com os
demais.
Com certeza, os papéis da família e da escola se modificaram ao longo das
últimas décadas. Com as mudanças sociais ocorrendo, principalmente da vida
econômica que se torna facilmente instável, do êxodo rural, das conquistas tecnológicas
6
Todos têm que trabalhar. Essa é uma conseqüência da nova estruturação social, na qual as conquistas
femininas de igualdade levaram a mulher a assumir seu espaço no mercado de trabalho, equiparando-se
ao homem, tornando a figura paterna fragilizada e, muitas vezes, inexistente, como nos casos em que a
mulher assume a maternidade como produção independente Conseqüentemente, grande parte das famílias
atuais é chefiada pelas mulheres. E essa é a estrutura dessas famílias.
que aumentam as influências externas sobre a infância e estimulam o consumismo, a
violência, a visão de mundo descomprometida com a solidariedade, valores morais
passaram a ser insignificantes, dá lugar a novas estruturas, tanto da família quanto da
escola que, por sua vez, tende a questionar a capacidade das crianças, principalmente
daquelas que lhe dão mais trabalho, seja em termos de aprendizagem seja em termos de
disciplina, e, o que é mais grave, questiona sua própria capacidade de educar essas
crianças. Hoje, praticamente vencidas enormes resistências de parte a parte, graças,
também à legislação específica, família e escola são co-autoras das decisões
administrativas e pedagógicas, o que acaba favorecendo e facilitando a educação dos
estudantes, principalmente daqueles que desafiam os docentes, exigindo deles maior
dedicação e capacidade de confronto e resolução de conflitos.
Como vivermos é como educaremos, e conservaremos no viver o mundo que
vivemos como educandos. E educaremos outros com o nosso viver com eles,
o mundo que vivermos ao conviver.
Mas que mundo queremos? Quero um mundo em que meus filhos cresçam
como pessoas que se aceitam e se respeitam, aceitando e respeitando outros
num espaço de convivência em que os outros os aceitam e respeitam a partir
do aceitar-se e respeitar-se a si mesmos. Num espaço de convivência desse
tipo, a negação do outro será sempre um erro detectável que se pode e se
deseja corrigir. Como conseguir isso? (PRATA).
A escola deve partir do princípio de que as diferenças7 devem ser respeitadas e
que somente assim a criança aprenderá a aceitar-se e a respeitar-se e,
consequentemente, ter este “sentimento”8 para com os outros. Conclui-se, portanto, que
somente a partir desse sentimento/ percepção da mudança na constituição familiar e,
principalmente, o respeito à mesma, será possível a interação necessária entre estas para
que o espaço de formação/preparação seja eficiente em sua prática!

REFERENCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: 1988 – texto constitucional


de 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais de
n. 1, de 1992, a 52, de 2006, e pelas Emendas Constitucionais de Revisão de n. 1 a 6, de
1994. – 24. Ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2006.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente/ Secretaria dos Direitos Humanos;


Ministério da Educação, Assessoria de Comunicação Social. – Brasília: MEC, ACS,
2005.

7
Lembrar que esta palavra está empregada no sentido de “desigualdade”, ou seja, uma diferença
construída historicamente, independentemente da vontade dos envolvidos. Note-se, também, que esta é
produto de toda uma conjuntura social...
8
No sentido de aprendizagem e compreenção.
CÉSAR, Margarida. AZEITEIRO, Ana. Todos diferentes, Todos iguais! Artigo
disponível em:
http://cie.fc.ul.pt/membros/mcesar/textos%202002/Todos%20diferentes.pdf
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da
comissão internacional sobre educação para o século XXI. 9ª ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2004.

DI SANTO, Joana Maria R. Família e escola, uma relação de ajuda. Artigo disponível
em: http://www.centrorefeducacional.pro.br/famiescola.htm.

DI SANTO, Joana Maria R. Interação Família – Escola. Artigo disponível em:


http://www.centrorefeducacional.pro.br/infamesco.htm

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Paz e Terra. Rio de Janeiro,
1981.

GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo. Cortez, 1990.

MACHADO, José Nilson. Ensaios transversais: Cidadania e Educação. São Paulo.


Escrituras Editora, 1977.

PRATA, Maria Regina dos Santos. A produção da subjetividade e as relações de poder


na escola: uma reflexão sobre a sociedade disciplinar na configuração social da
atualidade. Universidade Estácio de Sá, Mestrado em Educação.
VIGOTSKY, L.S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 2a ed. São Paulo.
Ícone, 1989.

Você também pode gostar