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ANO LETIVO 2018/2019

Nome: ____________________________________ Nota: ____________________


Data: _______________________________________Tomei conhecimento: __________

Lê o seguinte capítulo com atenção.

Elogio do subúrbio

Cresci nos subúrbios1 de Lisboa, em Benfica, então quintinhas, travessas, casas


baixas, a ouvir as mães chamarem ao crepúsculo
– Víííííííítor
num grito que, partido da Rua Ernesto da Silva, alcançava as cegonhas no cume das
árvores mais altas e afogava os pavões no lago sob os álamos 2. Cresci junto ao castelito
das Portas que nos separava da Venda Nova e da Estrada Militar, num país cujos postos
fronteiriços eram a drogaria do senhor Jardim, a mercearia do Careca, a pastelaria do
senhor Madureira e a capelista3 Havaneza do senhor Silvino, e demorava-me à tarde na
oficina de sapateiro do senhor Florindo, [(…). (…)] Cresci entre o senhor Paulo que
consertava com guitas e caniços as asas dos pardais, e os Ferra-o-Bico cuja tia fugiu
com um cigano. Os meus amigos tinham nomes próprios tremendos
(Lafaiete, Jaurés)
e habitavam rés-do-chão de janelas ao nível da calçada onde se distinguiam
aparelhos de rádio gigantescos, vasos de manjerico e madrinhas de chinelos.
Na época em que aos treze anos me estreei no hóquei em patins do Futebol
Benfica, o guarda-redes enchumaçado como um barão medieval apontou-me ao
pasmo dos colegas
– O pai do ruço é doutor
no que constituiu de imediato a minha primeira glória desportiva e a primeira
tenebrosa responsabilidade, a partir do momento em que o treinador, a apalpar-me os
músculos com os olhos, preveniu numa careta de dúvida
– Sempre estou para ver se lhes chegas ó ruço que o teu pai no rinque era lixado
para a porrada.
Hoje, se vou a Benfica não encontro Benfica. Os pavões calaram-se, nenhuma
cegonha na palmeira dos Correios (já não existe a palmeira dos Correios, a quinta dos
Lobo Antunes foi vendida)
o senhor Silvino, o senhor Florindo e o senhor Jardim morreram, ergueram prédios
no lugar das casas, mas eu suspeito que por baixo destes edifícios de cinco e seis e sete
e oito e nove andares, num ponto qualquer sob marquises e sucursais de banco, o
senhor Paulo ainda conserta, com guitas e caniços, as asas dos pardais, o Lafaiete e o
Jaurés jogam ao virinhas. Não há pavões nem cegonhas e contudo a acácia dos meus
pais, teimosa, resiste. Talvez que só a acácia resista, que só ela sobeje desse tempo

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como o mastro, furando as ondas, de um navio submerso. A acácia basta-me.


Arrasaram as lojas e os pátios, mas a acácia resiste. Resiste. E sei que junto do seu
tronco, se fechar os olhos e encostar a orelha ao seu tronco, hei de ouvir a voz da
minha mãe chamar
– Antóóóóóóóónio
e um miúdo ruço atravessará o quintal, com um saco de berlindes na algibeira,
passará por mim sem me ver e sumir-se-á lá em cima no quarto, a sonhar que ao
menos a mulher de Sandokan não o obrigaria nunca a comer puré de batata nem sopa
de nabiças durante o tormento do jantar.
António Lobo Antunes, Livro de Crónicas, 4.ª ed., D. Quixote, 2000

1. Subúrbios: arrabaldes; 2. Álamos: árvores ornamentais; 3. Capelista: pequena loja de


quinquilharias; 4. Jesus Correia: conhecido desportista português que se destacou no
hóquei.

Após teres lido o texto, responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que
se seguem.

1. Indica se as afirmações V(verdadeiras) ou F(falsas).


a. O texto pode ser dividido em duas partes, correspondentes a épocas
distintas: o passado e o presente.
b. A primeira parte vai de “ cresci em Benfica” até “…para a porrada”.
c. A segunda parte inicia-se com o nome comum “Hoje”.
d. Os limites do bairro onde vivia o autor são “…a drogaria do senhor Jardim, a
mercearia do Careca, a pastelaria do senhor Madureira e a capelista
Havaneza do senhor Silvino, e a oficina de sapateiro do senhor Florindo…”
e. O autor recorda a sua infância como um tempo de alegria, de amor, mas
também com saudade.
f. O cronista já não vive em Benfica como o comprova a frase: “já não existe a
palmeira dos Correios, a quinta dos Lobo Antunes foi vendida…”.
g. Na descrição do espaço da sua infância, o cronista refere várias pessoas pelo
seu nome e/ou atividade a que se dedicavam, o que indica um carater
intimista nessa altura.
h. O elemento físico que une o passado e o presente é a acácia.

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1. Para cada uma das afirmações que se seguem, escreve a letra


correspondente a verdadeira (V) ou falsa (F), de acordo com o sentido do texto.

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 a. O concurso pretende incentivar os jovens a escreverem cartas.


 b. Qualquer pessoa pode participar desde que escreva uma carta sobre o tema
indicado.
 c. Os participantes podem concorrer individualmente ou em grupo.
 d. Um estrangeiro pode participar desde que resida em Portugal.
 e. Haverá dois vencedores.
 f. Um jovem com 15 anos a 25 de janeiro de 2009 é impedido de participar no
concurso.
 g. O concurso está associado a um outro concurso internacional.
 h. As composições devem ser enviadas pelo correio ou entregues em mão às
entidades promotoras do concurso.
 i. Os resultados do concurso serão divulgados no Dia Mundial dos Correios.
 j. As cartas apresentadas a concurso poderão ser devolvidas aos
concorrentes se tal for solicitado.

2. Assinala, em cada item, a alternativa que completa cada afirmação de acordo


com o sentido do texto.
a. Para apresentar um trabalho a concurso, os candidatos podem produzir
 uma composição de qualquer género, que respeite o tema indicado e que
tenha entre 500 e 1000 palavras.
 uma carta, com um trabalho recente e inédito e que tenha entre 500 e
1000 palavras.
 uma composição em forma de carta, que respeite o tema indicado, com
500 ou mais
palavras e não mais de 1000.
b. Para o trabalho ser aceite, o candidato deve enviá-lo
 até ao dia 27 de fevereiro, com a indicação de nome completo e data de
nascimento, acompanhado de fotocópia de bilhete de identidade,
passaporte ou cédula pessoal.
 devidamente identificado com a indicação de morada, nome completo e
data de nascimento e acompanhado de fotocópia de documento de
identificação, até ao dia 27 de fevereiro.
 identificando-o com nome completo, data de nascimento e morada e
acompanhado de fotocópia de bilhete de identidade, passaporte ou cédula
pessoal, com a data de 27 de fevereiro.

Grupo II
1. A relação existente entre as palavras “árvore” e “acácia” é de.
a. Hiperonímia - hiponímia.
b. Holonímia - meronímia.
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c. Meronímia - holonímia.
d. Hiponímia - hiperonímia.

2. Completa as frases com a forma do verbo apresentado entre parênteses, de


acordo com o tempo e o modo indicados.
a. É pena que os bairros [perder: presente do conjuntivo] identidade.
b. Se o bairro [ter: pretérito imperfeito do conjuntivo] mais árvores, [ser: condicional]
ótimo.
c. Todos [intervir: pretérito perfeito do indicativo] na remodelação do bairro.
d. Todos [dar: pretérito perfeito composto do indicativo] o nosso contributo, mas os
jovens [fazer: futuro simples do indicativo]

3. Assinala a resposta correta.

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a. Ele come uma laranja. c. Eles querem que tu vás com o


Ele a come. patrão.
Ele come-na. Eles querem-o.
Ele come-a. Eles o querem.
b. Nós fizemos o trabalho. Eles querem-no.
Nós fizemos-lhe. d. Tu vais pedir a sua mão.
Nós fizemo-lo. Tu vais a pedir.
Nos fizemos-o. Tu vais pedi-la.
Tu vais pedir-a.
4. Indica se as afirmações são V(verdadeiras) ou F(falsas).
a. Na frase “não fume pela sua saúde”, as aspas delimitam uma enumeração.
b. Na frase, (…)em Benfica, então quintinhas, travessas, casas baixas,(…), a vírgula
separa elementos de uma enumeração.
c. Na frase, (…) – O pai do ruço é doutor,(…), o uso do travessão indica uma frase em
discurso direto.
d. Na frase, “Cresci junto ao castelito das Portas que nos separava…”, a palavra
sublinhada desempenha a função de pronome relativo.

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Curso de Técnico de Restauração e Cozinha

5. Identifica o intruso em cada uma das alíneas.


a. Jardim – cardume – girândola - cáfila.
b. Amorzinho – cafezinho – pratinho - paizinho.
c. Astuto – elegante – musical – rude.
d. Para – de – com - abaixo.
e. Ser – estar – ficar – comer.
f. Mas – porém – contudo – quando.
g. Comboios-fantasmas – sociais-democratas – salvas-vidas.

6. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelos grupos sublinhados.


a. Ele vivia em Benfica.
b. Infelizmente, já não há nada em Benfica.
c. A mãe chamava o filho.
d. Os amigos fugiram.

Agora, vais escrever uma carta a um(a) amigo(a), contando os acontecimentos que deram
origem a este alvoroço em 1383. O teu texto deve estar dividido em três partes e deve ter um
mínimo de 150 palavras.

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