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EAD 2010

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL


UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

MATEMÁTICA
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

Lógica Matemática

Salvador
2010

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

ELABORAÇÃO

Erica Nogueira Macedo


MATEMÁTICA

DIAGRAMAÇÃO

Nilton Rezende

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).


Catalogação na Fonte
BIBLIOTECA DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – UNEB

MACÊDO, Erica Nogueira..


M 141 Lógica matemática - licenciatura em matemática / Erica Nogueira
Macedo. Salvador:
UNEB/ EAD, 2009. (Educação e Tecnologias da Informação e
Comunicação)

60p.

1. lógica - Matemática. 2. Preposições 3. Conectivo I. Título II. Curso


de graduação em matemática III. Universidade aberta do Brasil IV.
UNEB /NEAD

CDD: 510

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luis Inácio Lula da Silva

MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad

MATEMÁTICA
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Carlos Eduardo Bielschowsky

DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Hélio Chaves Filho

SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL


DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES
Celso Costa

COORD. GERAL DE ARTICULAÇÃO ACADÊMICA DA CAPES


Nara Maria Pimentel

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA


GOVERNADOR
Jaques Wagner

VICE-GOVERNADOR
Edmundo Pereira Santos

SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB


REITOR
Lourisvaldo Valentim da Silva

VICE-REITORA
Amélia Tereza Maraux

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO


José Bites de Carvalho

COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro

COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO


Jader Cristiano Magalhães de Albuquerque

COORDENADOR DO CURSO DE MATEMÁTICA


Daniel Cerqueira Góes

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EAD 2010

Caro Cursista,

Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem estru-
turamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura em Matemática na modalidade à distância.

MATEMÁTICA
O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da
área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar conhecimento teórico-prático de maneira
contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos
envolvidos com a disciplina em questão. Cabe Salientar porém, que esse não deve ser o único material a ser uti-
lizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) , as Atividades propostas pelo Professor
Formador e pelo Tutor, as Atividades Complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso
somado compõe os estudos relacionados a EAD.

É importante também que vocês estejam sempre atentos a caixas de diálogos e ícones específicos. Eles aparecem
durante todo o texto e têm como objetivo principal, dialogar com o leitor afim de que o mesmo se torne interlocutor
ativo desse material. São objetivos dos ícones em destaque:

? Você sabia? – convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou infor-
VOCÊ SABIA?
mações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta;

?? SAIBA
Saiba mais – apresenta notas ou aprofundamento da argumentação em desenvolvimento no texto, tra-
MAIS
? zendo conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliem a compreender melhor o conteúdo
abordado;

Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestão de livros, sites, vídeos.
INDICAÇÃO DE você
A partir deles, LEITURA
poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas
ou outros olhares e interpretações sobre aquele tema;

Sugestões de atividades – consistem em indicações de atividades para você realizar autonomamente


SUGESTÃO DE ATIVIDADE
em seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem (ou não) vir a ser aproveitadas pelo professor-
formador como instrumentos de avaliação, mas o objetivo primeiro delas é provocá-lo, desafiá-lo em seu
processo de auto-aprendizagem.

Então caro estudante, encare este material como um parceiro de estudo, dialogue com ele, procure as leituras que
ele indica, desenvolva as atividades sugeridas e, junto com seus colegas, busque o apoio dos tutores e a orienta-
ção do professor formador. Seja autor da sua aprendizagem.

Bom estudo!

Coordenação de Material Didático


GEAD – Gestão de Projetos e Atividades na modalidade a distância

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Apresentação

A lógica é uma ciência de índole matemática fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifes-

MATEMÁTICA
tação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que
essa meta possa ser atingida. Assim, a lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do
pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar. A aprendizagem da lógica não constitui um fim em si.
Ela só tem sentido enquanto um meio de garantir que nosso pensamento proceda corretamente a fim de chegar
a conhecimentos verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a
que chegamos através da apresentação de evidências que a sustentam.

Veja que aplicamos a lógica matemática no nosso dia-a-dia. Tudo o que resolvemos, ou decidimos na nossa vida
depende de um pensamento lógico e bem estruturado. Por exemplo, quando decidimos qual caminho percorrer para
chegarmos ao trabalho mais rápido, levamos em consideração várias hipóteses (distância, congestionamentos,
quantidade de sinaleiras, entre outras.), e através de uma dedução lógica, chegamos a um caminho mais viável.

Um sistema lógico é um conjunto de axiomas e regras de inferência que visam representar formalmente o ra-
ciocínio válido. Diferentes sistemas de lógica formal foram construídos ao longo do tempo quer no âmbito escrito
da Lógica Teórica, quer em aplicações práticas na computação e em Inteligência artificial.

Nesse sentido, este módulo apresenta a vocês um estudo sobre lógica matemática, destacando seus principais
elementos e teorias. Assim, apresenta inicialmente o conceito de proposições e como elas podem se relacionar
através de conectivos lógicos. Em seguida faz uma discussão sobre a álgebra das proposições e estuda técnicas
para simplificar expressões. Este processo chama-se método dedutivo. Finalmente estuda os argumentos, com-
posto de várias proposições com uma conclusão, que a lógica matemática ajuda a verificar a verdade ou falsidade.
É com o estudo dos argumentos e sua validade que conseguimos solucionar vários problemas, inclusive os que
são rotulados como difíceis.

Assim, este material dará subsídios para que você aprofunde seus estudos sobre lógica matemática e, tenho
certeza, que você conseguirá desvendar vários mistérios lógicos. Espero que vocês se dediquem ao estudo da
lógica, com empenho e disciplina, buscando autonomia própria e organizando seu tempo para que consiga superar
todos os desafios que esta nova modalidade de ensino proporciona.

Bons estudos!

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SUMÁRIO

1 Cálculo Proposicional 13

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1.1 Proposições e conectivos 13

1.1.1 Proposições 13

1.1.2 Classificação das proposições 14

1.1.2.1 Proposições simples 14

1.1.2.2 Proposições compostas 14

1.1.3 Tipos de conectivos 15

1.2 Tabelas verdade e operações lógicas 16

1.2.1 Conjunção (∧) 17

1.2.2 Disjunção (∨) 17

1.2.2.1 Disjunção exclusiva (∨) 18

1.2.3 Condicional (→) 19

1.2.4 Bicondicional (↔) 20

1.2.5 Operações lógicas com proposições compostas 21

1.2.6 Construindo tabelas verdade 22

1.3 Relação de implicação 25

1.4 Relação de equivalência 26

1.5 Sentenças abertas e Quantificadores 28

1.5.1 Sentenças abertas 28

1.5.2 Quantificadores 30

1.5.2.1 Quantificador Universal 30

1.5.2.2 Quantificador Existencial 30

1.6 Negação de proposições 31

1.6.1 Negação de uma conjunção 31

1.6.2 Negação de uma disjunção 32

1.6.3 Negação de um condicional simples 32

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1.6.4 Negação de um bicondicional 33

1.6.5 Negação de proposições quantificadas 33

2 Álgebra das Proposições e o Método Dedutivo 36


MATEMÁTICA

2.1 Álgebra das proposições 36

2.1.1 Propriedades da conjunção 36

2.1.2 Propriedades da disjunção 36

2.1.3 Propriedades da conjunção e disjunção 39

2.2 Método Dedutivo 41

2.2.1 Exemplos 42

2.2.2 Forma normal das proposições 44

2.2.3 Forma normal conjuntiva 44

2.2.4 Forma normal disjuntiva 46

2.2.5 Princípio da Dualidade 47

3 Argumentos e Regras de inferência 49

3.1 Argumentos 49

3.1.1 Validade 50

3.1.2 Argumentos válidos fundamentais 51

3.2 Regras de inferência 51

3.3 Validade de argumentos 52

3.3.1 Validade mediante tabelas verdade 52

3.3.2 Validade mediante regras de inferência 53

3.3.3 Método da demonstração indireta 54

3.4 Aplicações da lógica 55

3.4.1 Problemas interessantes 55

3.4.2 Circuitos 56

3.4.2.1 Portas Lógicas 56

Referência Bibliográfica 59

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MATEMÁTICA

1- Cálculo Proposicional

MATEMÁTICA
Neste capítulo faremos estudo inicial sobre lógica, definindo as proposições, os conectivos e formando novas
proposições. Estas sempre assumem um valor, denominado valor lógico, que pode ser verdadeiro ou falso. Apren-
deremos como efetuar cálculos com estes valores lógicos através de composições em tabelas que denominamos
tabelas verdade. Estudaremos também sobre as sentenças abertas e como podemos transformá-las em proposições.
Convido você a mergulhar neste mundo mágico que é o estudo da lógica matemática.

1.1 Proposições e conectivos


1.1.1 - Proposições

Inicialmente iremos observar as seguintes afirmações:


p: O brasão da Uneb é uma estrela.
q: O Brasil é um país da América do Sul.
r: O dobro de 10 é 20.
s: O conjunto dos divisores de 8 é unitário.

Note que todas as afirmações acima podem ser classificadas em verdadeiras ou falsas; mais precisamente as
afirmações q e r são verdadeiras enquanto as afirmações p e s são falsas.
Toda afirmação que expressa um pensamento de sentido completo, podendo ser classificada em verdadeira ou
falsa é denominada uma proposição ou sentença. As afirmações p, q, r e s citadas acima são proposições.
DEFINIÇÃO: Proposição é toda sentença declarativa que expressa um pensamento de sentido completo e pode
ser classificada como verdadeira ou falsa.
Viu como é simples a definição de uma proposição? Agora precisamos orientações que nos ajudem a sempre
identificar quando estamos diante de uma proposição. Vejamos, então, algumas características para identificá-las:

• Toda proposição tem que ser uma sentença declarativa de sentido “completo”, contendo sujeito e predicado,
não sendo exclamativa nem interrogativa.
• Princípio do terceiro excluído - Uma proposição é verdadeira(V) ou falsa(F); não existe uma terceira possibi-
lidade.
• Princípio da não contradição - Uma proposição não pode ser falsa e verdadeira ao mesmo tempo.

Exemplos:
• Hoje está muito quente!
Não é uma proposição, pois é exclamativa.
• A Uneb é uma universidade.
É uma proposição.
• 3 + 5 = 9.

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É uma proposição.
• Será que hoje chove?
Não é proposição, pois é interrogativa.
• Quase não se vive sem ele hoje em dia.
MATEMÁTICA

Não é uma proposição, pois não podemos lhe atribuir um valor lógico falso ou verdadeiro.

1.1.2- Classificação das proposições


Agora que nós já sabemos como identificar uma proposição podemos arrumá-las em dois grandes grupos: o
das proposições simples ou atômicas e o das proposições compostas ou moleculares. Veremos agora a definição
destes tipos que vai nos permitir diferenciar uma das outras.

1.1.2.1 - Proposições simples


DEFINIÇÃO: Chama-se proposição simples toda sentença que contém uma única afirmativa.
Geralmente representamos as proposições simples por letras minúsculas do nosso alfabeto: p, q, r, s, t, u, v, ...

Lembramos mais uma vez: cada proposição assume um único valor lógico, que pode ser verdadeiro ou falso.
Exemplos:
p: O brasão da Uneb é uma estrela. V(p) = F.
q: O Brasil é um país da América do Sul. V(q)=V.
r: O dobro de 10 é 20. V(r) = V.
s: O conjunto dos divisores de 8 é unitário. V(s) = F.
Dada uma proposição p, é sempre possível obtermos outra proposição cujo sentido seja contrário ao de p. Esta
proposição é chamada negação de p e é representada por “~ p” (Lê-se: não p).
Exemplos:
• p: 7 – 5 = 2
~ p: 7 – 5 ≠ 2
• q: 3 < 7
~q: 3 ≥ 7
• r: Ana saiu para o trabalho.
~r: Ana não saiu para o trabalho.

Observe que os valores lógicos de uma proposição e de sua negação são contrários, ou seja, se uma proposição
p é verdadeira, a sua negação é falsa; se uma proposição p é falsa, a sua negação é verdadeira. Podemos resumir
este fato na seguinte tabela:

p ~p
V F
F V

1.1.2.2 - Proposições compostas


Podemos construir novas proposições através de combinações de duas ou mais proposições simples. Estas
novas são chamadas de proposições compostas.

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DEFINIÇÃO: Chama-se proposição composta toda proposição formada pela combinação de duas ou mais
proposições.
Costumamos representar proposições compostas através de letras maiúsculas do nosso alfabeto: P, Q, R, S, T, ...
Exemplos:
• P: Ana está doente e não saiu de casa.

MATEMÁTICA
• Q: 5 > 7 ou 5 + 2 = 7
• R: Se 3 divide 6 então 6 é um número par.

As combinações entre as proposições simples que geram as proposições compostas são feitas através de
conectivos.
DEFINIÇÃO: Conectivos são palavras utilizadas para construir proposições compostas a partir de outras pro-
posições dadas.
Nas proposições compostas P, Q e R acima, existem algumas palavras em destaque que fazem a ligação entre
as proposições componentes. Estas palavras são os conectivos. Vejamos então quais são estes conectivos e como
podemos utilizá-los.

1.1.3 - Tipos de conectivos


Temos basicamente quatro conectivos que permitem a construção das proposições compostas. Estes conectivos
admitem símbolos matemáticos especiais que nos permitem traduzir para a linguagem matemática as proposições
compostas. São eles:

Conectivos Símbolos
e ∧
ou ∨
se, então →
se, e somente se ↔

Exemplos: veja algumas proposições simples. Através delas, usando os conectivos, formaremos proposições
compostas. Acompanhe:
p: Ana está doente.
q: Ana saiu de casa.
r: 3 é um número ímpar.
s: 3 divide 6.

Podemos formar as seguintes proposições compostas:


P: p ∧ q: Ana está doente e saiu de casa.
Q: r ∨ s: 3 é um número ímpar ou 3 divide 6.
R: q → p: Se Ana saiu de casa então está doente.
S: s ↔ r: 3 divide 6 se, e somente se, 3 é um número ímpar.
T: ~p ∨ q: Ana não está doente ou saiu de casa.
X: s → ~r: Se 3 divide 6 então 3 não é um número ímpar.

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As proposições compostas também assumem um único valor lógico verdadeiro ou falso. Este valor depende
do conectivo e do valor que cada proposição simples assume. Usamos tabelas para representar os valores lógicos
de proposições compostas; essas tabelas são chamadas de tabelas verdade. Veremos a seguir como construir
essas tabelas.
MATEMÁTICA

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

1. Verifique se cada expressão abaixo é ou não uma proposição.


a) x2 = 9
b) 15 é divisível por 4?
c) 5 < – 3
d) Eu te amo!
e) A Uneb oferece um curso de Licenciatura em Matemática.

2. Dê o valor lógico de cada uma das proposições abaixo.


a) O número 17 é primo.
b) Fortaleza é capital do Maranhão.
c) Tiradentes morreu afogado.
22
d) O valor arquimediano de π = .
7
e) (3 + 5)2 = 32 + 52.
f) – 1 < – 7.
g) 0,131313... é uma dízima periódica simples.
h) A expressão n2 – n + 41 para n ∈ ℕ só produz números primos.
i) O produto de dois números ímpares é sempre um número ímpar.
j) – 4, 4 e 0 são raízes da equação x3 – 16x = 0.
k) As raízes da equação x3 – 1 = 0 são todas reais.
l) O número 125 é um quadrado perfeito.
m) O número 1728 é um cubo perfeito.

Respostas: 01. São proposições os itens (c) e (e).


02. V – F – F – V – F – F – V – F – V – V – F – F – V

1.2 - Tabelas verdade e operações lógicas


Vimos que uma proposição é uma sentença declarativa a qual assume um valor lógico verdadeiro ou falso. Vimos
também que a partir de proposições simples podemos construir outras através dos conectivos. Aprenderemos
agora como calcular o valor lógico de uma proposição composta, levando em conta o valor lógico das proposições
simples que a compõe.
Como o valor da proposição composta depende também do conectivo utilizado para formá-la, veja primeiro o
valor lógico que, individualmente, a proposição, composta de apenas duas proposições simples, assume de acordo
com o conectivo utilizado.

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1.2.1 - Conjunção (∧)

Ao utilizarmos o conectivo ∧ entre duas proposições simples p e q obtemos uma nova proposição composta,
denominada conjunção entre p e q e denotada por p ∧ q (lê-se: p e q). O valor lógico desta proposição composta
só será verdadeiro se ambas as proposições simples forem verdadeiras; caso contrário, assumirá o valor falso.

MATEMÁTICA
Uma tabela que representa todas as possibilidades de valores lógicos é denominada tabela verdade. A tabela
verdade de uma conjunção é:

p q p∧q
V V V
V F F
F V F
F F F

Exemplos:
• p: 9 é um número primo.
q: 5 é um número ímpar.
P: p ∧ q: 9 é um número primo e 5 é um número ímpar.
Como p é falsa e q é verdadeira a proposição composta p ∧ q é falsa.

• p: A neve é fria.
q: A Lua é um satélite.
Q: p ∧ q: A neve é fria e a Lua é um satélite.

Como p e q são ambas verdadeiras a proposição composta p ∧ q é verdadeira.


Viu como é simples? Basta verificar o valor lógico de cada proposição simples e, de acordo com o conectivo,
saberemos o valor lógico da proposição composta. Conheceremos mais um conectivo!

1.2.2 - Disjunção (∨)


Ao utilizarmos o conectivo ∨ entre duas proposições simples p e q obtemos uma nova proposição composta,
denominada disjunção entre p e q e denotada por p ∨ q (lê-se: p ou q). O valor lógico desta proposição composta
será verdadeiro se uma das proposições simples for verdadeira; só assumirá o valor falso se ambas as proposições
forem falsas.

A tabela verdade de uma disjunção é:


p q p∨q
V V V
V F V
F V V
F F F

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Exemplos:
• p: A laranja é azul.
q: Alagoas é um Estado do nordeste.
R: p ∨ q: A laranja é azul ou Alagoas é um Estado do nordeste.
MATEMÁTICA

Como p é falsa e q é verdadeira então a proposição p ∨ q é verdadeira.

• p: 5 é um número primo.
q: 3 é divisor de 11.
S: ~p ∨ q: 5 não é um número primo ou 3 é divisor de 11.
Como p é verdadeira temos que ~p é falsa, e q é também falsa; logo, a proposição composta ~p ∨ q é falsa.

Observe que nesse exemplo usamos a proposição ~p, a proposição q e o conectivo ∨; veja que para construir-
mos proposições compostas basta utilizar proposições simples e conectivos. A proposição ~p é simples e apenas
expressa sentido contrário a proposição p.
Este tipo de disjunção é também chamado de disjunção inclusiva, ou seja, basta uma das proposições ser ver-
dadeira para a proposição composta ser verdadeira, incluindo a possibilidade de ambas serem verdadeiras.
Há outro tipo de disjunção: a exclusiva que só assume o valor lógico verdadeiro se uma das proposições for
verdadeira, excluindo-se o caso de serem ambas verdadeiras.

1.2.2.1 - Disjunção exclusiva (∨)


Ao utilizarmos o conectivo ∨ entre duas proposições simples p e q, obtemos uma nova proposição composta,
denominada disjunção exclusiva entre p e q e denotada por p ∨ q (lê-se: ou p ou q). O valor lógico dessa proposição
composta será verdadeiro se uma das proposições simples for verdadeira, mas não ambas; assumirá o valor falso
caso as simples assumirem o mesmo valor lógico.
A tabela verdade de uma disjunção exclusiva é:

p q p∨ q
V V F
V F V
F V V
F F F

Exemplos:
• p: 5 é um número par.
q: 5 é um número ímpar.
T: p ∨ q: Ou 5 é um número par ou um número ímpar.
Como p é falsa e q é verdadeira a proposição composta p ∨ q é verdadeira.
• p: Hortência foi jogadora de basquete.
q: Ana Moser foi jogadora de vôlei.
M: p ∨ q: Ou Hortência foi jogadora de basquete ou Ana Moser foi jogadora de vôlei.
Como p e q são verdadeiras, a proposição composta p ∨ q é falsa, pois se trata de uma disjunção exclusiva.

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Vamos conhecer mais um conectivo? Espero que esteja curioso(a) para saber como serão as combinações dos
valores lógicos nos próximos conectivos. Veja que o processo é sempre o mesmo: sabemos o valor lógico das
proposições simples e, de acordo com o conectivo, sabemos o valor lógico da proposição composta.

1.2.3 - Condicional (→)

MATEMÁTICA
Ao utilizarmos o conectivo → entre duas proposições simples p e q, obtemos uma nova proposição composta,
denominada condicional entre p e q e denotada por p → q (lê-se: se p então q). O valor lógico desta proposição com-
posta será falso se a primeira proposição for verdadeira e a segunda falsa; e será verdadeiro nos demais casos.

A tabela verdade de uma condicional é:

p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V

Exemplos:
• p: O mês de agosto tem 40 dias.
q: A Terra é quadrada.
P: p → q: Se o mês de agosto tem 40 dias, então a Terra é quadrada.
Como p e q são falsas, a proposição p → q é verdadeira.

• p: O número π é irracional.
q: O ano tem 5 meses.
Q: p → q: Se o número π é irracional, então o ano tem 5 meses.
Como p é verdadeira e q é falsa, a proposição p → q é falsa.

Sobre este conectivo temos algumas observações a fazer:


• numa proposição condicional, o primeiro termo chama-se antecedente e o segundo, consequente;
• a condicional não afirma que o consequente se deduz (é uma consequência) do antecedente; simplesmente
estabelece uma relação entre seus valores lógicos;
• a condicional p → q pode ser lida como p, somente se q ou ainda q, se p. Isto nos diz que p é uma condição
suficiente para ocorrer q e/ou que q é uma condição necessária para ocorrer p.

Exemplos:
• p: O pássaro canta. (antecedente)
q: O pássaro vive. (consequente)
R: p → q: Se o pássaro canta, então vive.
Esta mesma condicional pode ser lida como:
O pássaro cantar é uma condição suficiente para ele estar vivo.
O pássaro viver é uma condição necessária para ele cantar.
O pássaro canta, somente se está vivo.

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• p: Joana é baiana. (antecedente)


q: Joana é brasileira. (consequente)
S: p → q: Se Joana é baiana, então é brasileira.
MATEMÁTICA

Esta condicional também pode ser lida como:


Joana ser baiana é uma condição suficiente para ela ser brasileira.
Joana ser brasileira é uma condição necessária para ela ser baiana.
Joana é brasileira, se é baiana.

Toda proposição condicional p → q está associada a três outras proposições condicionais:
• RECÍPROCA: q → p
• CONTRÁRIA (ou inversa): ~ p → ~ q
• CONTRAPOSITIVA (ou contra-recíproca): ~ q → ~ p

Exemplos:
• p: 5 + 6 = 11
q: 3 é um número primo.
T: p → q: Se 5 + 6 = 11 então 3 é um número primo.
Recíproca: Se 3 é um número primo, então 5 + 6 = 11.
Contrária: Se 5 + 6 ≠ 11, então 3 não é um número primo.
Contrapositiva: Se 3 não é um número primo, então 5 + 6 ≠ 11.

• p: T é um triângulo equilátero.
q: T é um triângulo isósceles.
M: p → q: Se T é um triângulo equilátero, então T é isósceles.
Recíproca: Se T é um triângulo isósceles, então T é equilátero.
Contrária: Se T não é eqüilátero, então T não é isósceles.
Contrapositiva: Se T não é isósceles, então T não é equilátero.

Algumas dessas novas proposições condicionais têm valor lógico associado ao valor lógico da proposição con-
dicional original. Veremos esta relação um pouco mais tarde quando estivermos estudando sobre as implicações
lógicas e as relações de equivalência. Conheceremos então o último conectivo.

1.2.4 - Bicondicional (↔)


Ao utilizarmos o conectivo ↔ entre duas proposições simples p e q, obtemos uma nova proposição compos-
ta, denominada bicondicional entre p e q e denotada por p ↔ q (lê-se: p se, somente se q). O valor lógico desta
proposição composta será falso se as proposições tiverem valor lógico diferente; e será verdadeiro se elas tiverem
valor lógico igual.
A bicondicional p ↔ q também pode ser lida de uma das seguintes maneiras:
• p é condição necessária e suficiente para ocorrer q.
• q é condição necessária e suficiente para ocorrer p.
A tabela verdade de uma bicondicional é:

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p q p↔q
V V V
V F F
F V F

MATEMÁTICA
F F V

Exemplos:
• p: O losango tem 4 lados.
q: O losango é um polígono.
P: p ↔ q: O losango tem 4 lados se, e somente se é um polígono.
Como p e q são verdadeiras a proposição p ↔ q é verdadeira.

• p: A Bahia é um Estado do sul.


q: O Brasil é uma república.
Q: p ↔ q: A Bahia é um Estado do sul se, e somente se o Brasil é uma república.
Como p é falsa e q é verdadeira a proposição p ↔ q é falsa.

• p: A laranja é amarela.
q: A laranja é uma fruta.
R: p ↔ q: A laranja ser amarela é condição necessária e suficiente para ela ser uma fruta.
R: p ↔ q: A laranja ser uma fruta é condição necessária e suficiente para ela ser amarela.

Algumas observações são importantes. A bicondicional p ↔ q nos diz que p é uma condição necessária e
suficiente para ocorrer q e vice-versa. Podemos perceber que a bicondicional se decompõe em uma conjunção de
duas condicionais: a de p com q e a de q com p. Isto que dizer que ter a expressão p ↔ q é a mesma coisa que
ter a expressão (p → q) ∧ (q → p).

1.2.5 - Operações lógicas com proposições compostas

As proposições compostas podem também se relacionar entre si através dos conectivos estudados, formando novas
proposições compostas. Estas proposições serão formadas por duas ou mais simples e por vários conectivos.
Sendo assim, precisamos estabelecer normas para identificar qual o conectivo predominante. Além disto, também
são usados sinais como ( ), [ ] e { }.
Ao realizarmos operações lógicas com proposições compostas, devemos observar a ordem dos conectivos e dos
sinais ( ), [ ] e { }. Em relação à presença dos sinais, primeiro resolvemos ( ), em seguida [ ] e por fim { }. Porém,
no que se refere aos conectivos, devemos obedecer à seguinte ordem:
1. Negação
2. Conjunção ou disjunção (o que ocorrer primeiro)
3. Condicional
4. Bicondicional
Seguindo estes critérios, podemos agora identificar qual tipo de proposição composta estamos trabalhando. Isto

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se dá através do último conectivo a ser operado. Por exemplo:

• P: ~ p ∧ ~ q é uma conjunção.
• Q: p → q ∨ ~ p é uma condicional.
• T: ~ (p ∨ ~ q) é uma negação.
MATEMÁTICA

• V: (p → r) ∨ (~ p) é uma disjunção.
• W: p ↔ s → q é uma bicondicional.

Veja agora como calcular o valor lógico de uma proposição composta por vários conectivos. Observe que vamos
utilizar os mesmos procedimentos vistos para cada conectivo em separado. Considere para os exemplos seguintes
que p e r são proposições verdadeiras e que q uma proposição falsa.

Exemplos:
• P: ~ p ∧ ~ q = F ∧ V = F
Logo o valor lógico da proposição P é falso.

• Q: p → q ∨ ~ p

Primeiro teremos que resolver a disjunção q ∨ ~p = F ∨ F = F. Em seguida, resolveremos a condicional entre


o valor lógico de p e o valor lógico que resultou da disjunção (F). Assim, temos V → F = F.
Logo o valor lógico da proposição Q é falso.
• V: (p → r) ∨ (~ p)

Neste caso, temos a presença do sinal ( ); portanto resolveremos primeiro (p → r) que assume valor lógico
verdadeiro pois V → V = V e também (~p) que assume valor lógico falso pois p é verdadeiro. Assim temos por
fim a disjunção V ∨ F = V. Logo o valor lógico da proposição V é verdadeiro.

Viu como não é complicado conhecer o valor lógico de uma proposição composta por vários conectivos? Nos
exemplos apresentados conhecíamos o valor lógico de cada uma das proposições simples e através dos conectivos
pudemos conhecer o valor lógico das compostas. E se não conhecêssemos o valor lógico das proposições simples?
Neste caso, precisaríamos estudar todas as combinações possíveis de valor lógico entre as proposições simples.
Ao listar todas estas possibilidades, estamos escrevendo a tabela verdade da proposição composta.

1.2.6 - Construindo tabelas verdade


Já que conhecemos as tabelas verdade de cada uma das operações lógicas, podemos construir a tabela verdade
de qualquer proposição composta. Estas tabelas vão depender da quantidade de proposições simples envolvidas e
dos conectivos utilizados nas composições das compostas. Inicialmente deveremos definir a quantidade de linhas
que uma tabela verdade deverá ter. Esta quantidade está de acordo com o seguinte teorema:
TEOREMA: A tabela verdade de uma proposição composta com n proposições simples componentes contém
exatamente 2n linhas.
Prova: Sabemos que toda proposição simples pode assumir apenas um dos dois valores lógicos: verdade ou falsidade.
Portanto, para uma proposição composta de n proposições simples, há tantas possibilidades de atribuição dos valores V
e F a tais componentes quantos são os arranjos com repetição n a n dos dois elementos V e F. Logo, temos A2,n = 2n.
Assim, uma proposição composta de 2 proposições simples possui uma tabela verdade com 22 = 4 linhas; uma

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proposição composta de 3 proposições simples possui uma tabela verdade com 23 = 8 linhas. A quantidade de
colunas depende da quantidade de operações lógicas que precisamos realizar.
Veremos agora como construímos tabelas verdade de proposições compostas. Os valores iniciais a serem
colocados na tabela estão em negrito; os demais serão calculados através dos conectivos.

MATEMÁTICA
Exemplos:
• P: ~p ∧ q

p q ~p ~p ∧ q
V V F F
V F F F
F V V V
F F V F

Observe que a tabela possui 4 linhas, pois são envolvidas duas proposições simples, portanto, o número de
linhas é 22 = 4. Veja também que ao colocarmos os valores lógicos das proposições fazemos uma alternância, ou
seja, a proposição p teve os seus valores lógicos agrupados VV e depois FF; já a proposição q teve os seus valores
lógicos alternados VF e VF. Devemos sempre obedecer a este critério para que a tabela verdade liste realmente
todas as possibilidades.
• Q: ~(p ∧ ~q)

p q ~q p ∧ ~q ~(p ∧ ~q)
V V F F V
V F V V F
F V F F V
F F V F V

Novamente temos uma tabela com apenas duas proposições simples e, portanto, com apenas quatro linhas.
• R: p → (q ∨ ~p) ∧ ~q

p q ~p q ∨ ~p ~q (q ∨ ~p) ∧ ~q p → (q ∨ ~p) ∧ ~q
V V F V F F F
V F F F V F F
F V V V F F V
F F V V V V V

Nesta tabela verdade temos novamente 4 linhas, pois são apenas duas proposições simples; a quantidade de colu-
nas aumentou, pois precisaremos fazer um maior número de passos para cumprir toda a proposição composta.

• S: p → [q ∨ (r ↔ ~q)]

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EAD 2010

p q r ~q r ↔ ~q q ∨ (r ↔ ~q) p → [q ∨ (r ↔ ~q)]
V V V F F V V
V V F F V V V
V F V V V V V
MATEMÁTICA

V F F V F F F
F V V F F V V
F V F F V V V
F F V V V V V
F F F V F F V

Nesta tabela verdade, passamos a ter oito linhas, pois temos três proposições simples (p, q, r) e 23 = 8. A
distribuição dos valores lógicos das proposições também tem que ser alternada. Neste caso, temos os valores de p
arrumados de 4 em 4; os valores de q arrumados de 2 em 2 e os valores de r arrumados de 1 em 1. É importante
lembrar-se desta arrumação para que a tabela verdade contenha todas as possibilidades de valores lógicos.

Considerando os resultados apresentados na tabela verdade de uma proposição composta, podemos classifica-lá
de três formas. Uma proposição composta é dita ser:

• TAUTOLOGIA quando o seu valor lógico é sempre verdade, independente dos valores lógicos das proposições
componentes.
• CONTRADIÇÃO quando o seu valor lógico é sempre falso, independente dos valores lógicos das proposições
componentes.
• CONTINGÊNCIA quando ela não é tautologia nem é contradição.

As proposições compostas estudadas anteriormente são todas contingências.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

1. Construa a tabela verdade das seguintes proposições compostas:


a) ~(p ∨ ~q)
b) ~(p → q)
c) p ∧ q→ p ∨ q
d) ~p → (q → p)
e) q ↔ ~q ∧ p
2. Classifique cada uma das proposições compostas acima como: tautologia, contradição ou
contingência.
Além de classificar as proposições quanto ao seu valor lógico, podemos relacioná-las entre
si. Existem duas relações importantes que podemos estabelecer entre as proposições. São elas:
implicação e equivalência. Veja a descrição de cada uma a seguir.

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1.3 - Relação de implicação


Na relação de implicação, verificaremos quando uma proposição (seja ela simples ou composta) implica em
outra; isto acontece sempre que não ocorre a situação VF, ou seja, a primeira proposição ser verdadeira e a segunda
falsa.
DEFINIÇÃO: Dizemos que uma proposição P implica logicamente (ou apenas implica) uma outra proposição Q

MATEMÁTICA
quando Q é verdadeira sempre que P for verdadeira. Em outras palavras, nas suas tabelas verdade não ocorre VF.
Notação: P ⇒ Q (lê-se: P implica Q)

Veja um exemplo clássico de relação de implicação entre proposições:


• p: Ana é baiana.
q: Ana é brasileira.

Sendo p verdadeira, não tem como q ser falsa. Assim, podemos afirmar neste caso que p implica q.
• 2|4 ⇒ 2|4x5

Como 2 é divisor de 4, com certeza, 2 será divisor de 4x5. Assim condicional “se 2 é divisor de 4, então 2 é
divisor de 4x5” é verdadeira.
Algumas observações precisam ser feitas quando temos uma relação de implicação. São elas:
• os símbolos → e ⇒ são distintos: o primeiro é o símbolo da operação lógica condicional e o segundo é o
símbolo da relação que estabelece que a condicional P → Q é uma tautologia;
• dizer que P ⇒ Q é equivalente a dizer que a condicional P → Q é tautológica, ou seja, para verificarmos se
vale a implicação P ⇒ Q, podemos utilizar as tabelas-verdade;
• se P ⇒ Q, então não ocorre V(P) = V e V(Q) = F.

Exemplo:
• Temos que p ∧ q ⇒ p ∨ q, pois a condicional p ∧ q → p ∨ q é uma tautologia, ou seja, sua tabela verdade
só admite valores lógicos verdadeiros.

p q p∧q p∨q p∧q→p∨q


V V V V V
V F F V V
F V F V V
F F F F V

A implicação lógica goza de algumas propriedades. Sejam P, Q e R proposições, a implicação lógica satisfaz as
propriedades:
• Reflexiva: P ⇒ P, qualquer que seja a proposição P.
• Transitiva: Se P ⇒ Q e Q ⇒ R então P ⇒ R.

Como podemos ver, para saber se uma proposição implica outra ou não precisamos conhecer bem os valores
lógicos da condicional (→), que já foram estudados anteriormente. Agora conheceremos a segunda relação entre
as proposições.

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1.4 - Relação de equivalência


A relação de equivalência nos permite verificar quando duas proposições (simples ou compostas) são equiva-
lentes, ou seja, quando estas têm sempre valor lógico igual.
DEFINIÇÃO: Dizemos que uma proposição P é logicamente equivalente a outra proposição Q quando P e Q
têm as mesmas tabelas verdade.
MATEMÁTICA

Notação: P ⇔ Q

Exemplos:
• p: O pássaro respira.
q: O pássaro está vivo.

Observe que se p é verdadeira, q também a será. De maneira recíproca, se q é verdadeira, então p também será.
Assim podemos dizer que p e q sempre terão o mesmo valor lógico. Portanto, neste caso, p e q são equivalentes.
• 2|8 ⇔ mdc(2, 8) = 2
A bicondicional “2 é divisor de 8 se, e somente se, o máximo divisor comum de 2 e 8 é 2” é verdadeira.

Quando tratamos de uma relação de equivalência, temos também algumas observações a fazer:

• os símbolos ↔ e ⇔ são distintos: o primeiro é o símbolo da operação lógica bicondicional e o segundo, é


o símbolo da relação que estabelece que a bicondicional P ↔ Q é uma tautologia;
• dizer que P ⇔ Q é equivalente a dizer que a bicondicional P ↔ Q é tautológica, ou seja, para verificarmos se
vale a equivalência P ⇔ Q, podemos utilizar as tabelas-verdade.

Exemplo:
• A proposição p → q é equivalente a proposição p → p ∧ q pois possuem tabelas verdade iguais além da
proposição (p→q) ↔ (p → p ∧ q) ser uma tautologia. Vamos ver:

p q p→q p∧q p→p∧q


V V V V V
V F F F F
F V V F V
F F V F V

p→q ~q → ~p (p→q) ↔ (p → p ∧ q)
V V V
F F V
V V V
V V V

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• Vejamos novamente um exemplo já citado: a bicondicional p ↔ q é equivalente à conjunção (p→ q) ∧ (q → p).


Esse exemplo nos reafirma que a bicondicional equivale à conjunção de duas condicionais que são recíprocas.
Vejamos esta equivalência através da tabela verdade.

p q p↔q p→q q→p (p → q) ∧ (q → p)

MATEMÁTICA
V V V V V V
V F F F V F
F V F V F F
F F V V V V

Ou seja, a bicondicional [p ↔ q] ↔ [(p → q) ∧ (q → p)] é tautológica.

p↔q (p → q) ∧ (q → p) [p ↔ q] ↔ [(p → q) ∧ (q → p)]


V V V
F F V
F F V
V V V

Viu como não é complicado mostrar quando duas proposições são equivalentes? Basta para isto conhecer bem
os valores lógicos de uma bicondicional, também estudados anteriormente.

A equivalência lógica também possui algumas propriedades. Sejam P, Q e R proposições, a equivalência lógica
satisfaz as propriedades:
• Reflexiva: P ⇔ P.
• Simétrica: Se P ⇔ Q então Q ⇔ P.
• Transitiva: Se R ⇔ P e P ⇔ Q então R ⇔ Q.

Chegou o momento de compararmos as condicionais que vimos anteriormente: a recíproca, a contrária e a


contrapositiva. Para visualizar melhor a relação entre estas condicionais, vamos construir suas tabelas verdade.
Vejamos então:

Proposições simples condicional recíproca contrária contrapositiva


p q p→q q→p ~p → ~q ~q → ~p
V V V V V V
V F F V V F
F V V F F V
F F V V V V

Observe que as condicionais p → q e ~q → ~p são equivalentes; possuem o mesmo valor lógico na tabela
verdade. Podemos concluir, então, que a condicional e sua contrapositiva são equivalentes. Para melhor ilustrarmos
esta equivalência, considere as seguintes proposições simples:

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p: O pássaro está vivo.


q: O pássaro canta.

Isso significa que tanto faz escrevermos “Se o pássaro está vivo, então canta” ou “Se o pássaro não canta,
então não está vivo.”
MATEMÁTICA

De maneira análoga, as condicionais q → p e ~p → ~q são equivalentes. Podemos concluir então que a recí-
proca e a contrária são equivalentes.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

1. Usando tabelas verdade mostre as implicações:


a. q ⇒ p → q b. q ⇒ p ∧ q ↔ p

2. Mostre as relações de equivalência abaixo, usando tabelas verdade.


a. p ∧ (p ∨ q) ⇔ p
b. p ∨ (p ∧ q) ⇔ p
c. p ↔ p ∧ q ⇔ p → q
d. (p → q) → r ⇔ p ∧ ~r → ~q

1.5 - Sentenças abertas e Quantificadores


1.5.1 - Sentenças abertas

Há alguns tipos de expressão que agora nós iremos observar. Vejamos:


A: x3 = 2x2
B: x > 2
C: x – 5 = 7

Note que não podemos atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso nas expressões acima. Estes valores lógicos
dependem do valor que a variável x assume. Por exemplo, na expressão B temos valor lógico verdadeiro se x = 5
e valor lógico falso de x = 0.
DEFINIÇÃO: Sentenças as quais não se pode atribuir um valor lógico (verdadeiro ou falso) são denominadas sen-
tenças abertas ou funções proposicionais.
Observe que tais sentenças não são proposições, pois seu valor lógico é discutível, ou seja, dependem do valor
que se atribui às variáveis.
Toda sentença aberta pode se tornar verdadeira para alguns valores que a sua variável assume. O conjunto de
todos os valores que tornam uma sentença aberta verdadeira é chamado de conjunto verdade.
DEFINIÇÃO: Seja A um conjunto não vazio. Uma sentença aberta em A é toda expressão a uma variável, denotada
por p(x) tal que para todo a ∈ A, P(a) assume um valor lógico.
O conjunto A é denominado Conjunto Universo e o conjunto de todos os valores de A que tornam a sentença
p(x) verdadeira é denominado Conjunto Verdade e representado por Vp.
Vp = {a ∈ A; p(a) é verdade}
Observe que Vp é um subconjunto de A, ou seja, Vp ⊆ A.

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Considerando nossa sentença aberta C: x – 5 = 7 e considerando o conjunto universo A = IR, temos que o
seu conjunto verdade é V = {12}.

Exemplos:
Considere as sentenças abertas com seu respectivo conjunto universo. Calcularemos o seu conjunto verdade:

MATEMÁTICA
• p(x): x2 – 1 = 0 em A = IN.
V = {1}

• q(x): 2x + 7 > 1 em A = Z.
V = {– 2, – 1, 0, 1, 2, 3, ...}

• t(x): 2x + 7 > 1 em A = IR.


V = ] – 3, + ∞ [

As sentenças abertas também podem conter mais de uma variável; sendo assim, o seu Conjunto Universo e o
seu Conjunto Verdade passam a ser produto cartesiano do conjunto universo e do conjunto verdade das sentenças
abertas de uma variável.

DEFINIÇÃO: Sejam A1, A2, ..., An conjuntos não vazios. Uma sentença aberta em A = A1 x A2 x ... x An é toda ex-
pressão a n (ene) variáveis, denotada por p(x1, x2, ..., xn), tal que para todo (a1, a2, ..., an), ∈ A = A1 x A2 x ... x An,
tem-se que p(a1, a2, ..., an) assume o valor lógico verdadeiro ou falso.

Aqui, o Conjunto Universo é A = A1 x A2 x ... x An e o Conjunto Verdade, Vp, é dado por:


Vp = {(a1, a2, ..., an), ∈ A1 x A2 x ... x An ; p(a1, a2, ..., an) é verdade}.
Exemplos:

Vamos observar agora algumas sentenças abertas com mais de uma variável:
• p(x,y): x – y = 0 em A = IN X IN; o seu conjunto verdade é Vp = {(1,1); (2,2); …; (n,n); …}.

8
• q(x,y): = y em A = IN X IN; o seu conjunto verdade é Vq = {(1,8); (2,4); (4,2); (8,1)}.
x

Está percebendo que as sentenças abertas a mais de uma variável seguem o mesmo raciocínio das sentenças
abertas a uma variável?
Como não podemos atribuir um valor lógico para sentenças abertas sem recorrer ao valor que as variáveis assu-
mem, não podemos chamá-las de proposições; de fato, uma sentença aberta não é uma proposição, mas existem
formas que nos ajudam a transformar uma sentença aberta em uma proposição. Existem duas. São elas:
• Atribuir valor as variáveis.
• Utilizar quantificadores.

Mas o que seriam quantificadores?

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 29


EAD 2010

1.5.2 - Quantificadores

DEFINIÇÃO: Quantificadores são expressões gramaticais, representados por símbolos, que anexadas a sentenças
abertas, transformam-nas em proposições lógicas.
MATEMÁTICA

Assim, com o uso dos quantificadores podemos formar novas proposições e estudar o seu valor lógico. Vamos
verificar como isto acontece.
Exemplos:
• p(x): x + 3 = 5 em A = IR é uma sentença aberta. Se dissermos “Existe x ∈ A, tal que x + 3 = 5” passamos
a ter uma proposição que assume valor lógico verdadeiro.
• q(x): x2 – 5x + 6 =0 em A = IN é uma sentença aberta. Se dissermos “Para todo x ∈ IN, temos x2 – 5x +
6 = 0” passamos a ter uma proposição que assume valor lógico falso.
Agora que nós já vimos que as sentenças abertas podem ser transformadas em proposições através dos quan-
tificadores, vamos conhecer os tipos de quantificadores e os símbolos que os representam.
Temos basicamente dois tipos de quantificadores: o quantificador universal e o quantificador existencial.

1.5.2.1 - Quantificador Universal


O quantificador universal usado para transformar sentenças abertas em proposições, é indicado pelo símbolo ∀
que se lê: “qualquer que seja”, “para todo” ou “para cada”. Veja agora alguns exemplos de sentenças quantificadas
com o uso do quantificador universal:

Exemplos:
• ∀ x ∈ IR, x – 1 = 8, é lida como “para todo x ∈ IR temos x – 1 = 8”. (Falsa)
• ∀ a ∈ IR, (a + 2)2 = a2 + 4a + 4 é lida como “para todo a ∈ IR temos (a + 2)2 = a2 + 4a + 4”. (Verdadeira)

1.5.2.2 - Quantificador Existencial


O quantificador existencial usado para transformar sentenças abertas em proposições, é indicado pelo símbolo
∃ que se lê: “existe”, “algum” ou “existe pelo menos um”. Veja agora alguns exemplos de sentenças quantificadas
com o uso do quantificador existencial:

Exemplos:
• ∃ x ∈ IR, x – 1 = 8, é lida como “existe x ∈ IR tal que x – 1 = 8”. (Verdadeira)
• ∃ a ∈ IR, (a + 2)2 < 0 é lida como “Existe a ∈ IR tal que (a + 2)2 < 0”. (Falsa)

Existe um caso particular deste quantificador existencial; é o caso pelo qual limitamos a apenas a existência de
um e somente um caso. Seu símbolo é ∃| que se lê “existe um único”, “existe um e um só” ou “existe só um”.
Exemplos:
• ∃| x ∈ Z, 3x + 5 = 1, é lida como “existe um só número inteiro tal que 3x + 5 = 1”. (Falsa)
• ∃| x ∈ IN, x2 – 9 = 0, é lida como “existe um único número natural tal que x2 – 9 = 0”. (Verdadeira)

Veja que agora o universo das proposições aumentou bastante! Além das sentenças declarativas que tivemos
conhecimento anteriormente, podemos transformar as sentenças abertas em proposições através dos quantifica-
dores.

30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

Podemos trabalhar um pouco mais com estas proposições, construindo novas proposições que tenham valor
lógico contrário às originais; faremos isto através da negação das proposições. Estudaremos agora a forma de
como negar tais proposições, enfatizando as compostas.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

MATEMÁTICA
1) Sendo A= {– 3, – 2, – 1, 0, 1, 2, 3}, transforme as sentenças abertas
abaixo em proposições verdadeiras.
a) x ∈ A; x2 – x – 6 = 0
b) x ∈ A; x3 – 27 ≤ 0
c) x ∈ A; são múltiplos de 6.
d) x ∈ A; |x – 1| > 0

2. Qual a proposição verdadeira?


a) ∃ x ∈ IR / x2 + 1 = 0.
b) ∀ x ∈ IR; x + 1 = – 6.
x
c) ∀ x ∈ IR; = 1 .
x
d) ∀ x ∈ IR; (x2 – 4) = (x + 2)(x – 2).
e) ∃| x ∈ IR / x2 – 5x + 6 = 0.

1.6 - Negação de proposições


Já conhecemos a negação de proposições simples. Lembramos que ao negarmos uma proposição simples o seu
valor lógico é invertido, ou seja, se a proposição for verdadeira o valor lógico da sua negação é falso e vice-versa.
Para aprendermos a negar as proposições compostas, faremos um estudo individual da negação de cada
conectivo.

1.6.1 - Negação de uma conjunção


A negação de uma conjunção é dada por:

~(p ∧ q) = ~p ∨ ~q

Note que aqui temos uma relação de equivalência entre a proposição ~(p ∧ q) e a proposição ~p ∨ q. Acom-
panhe a construção da tabela verdade desta equivalência:

p q p∧q ~(p∧ q) ~p ~q ~p ∨ ~q
V V V F F F F
V F F V F V V
F V F V V F V
F F F V V V V

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 31


EAD 2010

Percebeu que ~(p ∧ q) e ~p ∨ ~q tem exatamente a mesma tabela verdade? Isto nos garante a relação de
equivalência entre as duas. Assim, podemos efetuar a negação da conjunção usando a disjunção da negação de
cada uma das proposições simples.
Exemplos:
• p ∧ q: A rosa é bonita e vermelha.
MATEMÁTICA

~(p ∧ q) = ~p ∨ ~q: A rosa não é bonita ou não é vermelha.


• p ∧ q: Ana lutou e não venceu.
~(p ∧ q) = ~p ∨ ~q: Ana não lutou ou venceu.

Viu como é simples negar uma conjunção? Observe que toda negação de uma conjunção é uma disjunção.
Também temos que observar que o fato de ~(p ∧ q) = ~p ∨ ~q nos leva a concluir que ~(p ∧ q) ⇔ ~p ∨ ~q,
ou seja, que ~(p ∧ q) ↔ ~p ∨ ~q é uma tautologia e portanto assume apenas valores lógicos verdadeiros para
quaisquer valores de p e q.

1.6.2 - Negação de uma disjunção


A negação de uma disjunção é dada por:

~(p ∨ q) = ~p ∧ ~q

Exemplos:
• p ∨ q: Érica estuda ou trabalha.
~(p ∨ q) = ~p ∧ ~q: Érica não estuda e não trabalha.
• p ∨ q: O triângulo ABC é isósceles ou equilátero.
~(p ∨ q) = ~p ∧ ~q: O triângulo ABC não é isósceles e não é equilátero.

A negação de uma disjunção também pode ser lida como nem ABC é isósceles, nem equilátero.
A negação de uma disjunção também é bastante simples. Observe que toda negação de uma disjunção é uma
conjunção. Também temos que observar que o fato de ~(p ∨ q) = ~p ∧ ~q nos leva a concluir que ~(p ∨ q)
⇔ ~p ∧ ~q, ou seja que ~(p ∨ q) ↔ ~p ∧ ~q é uma tautologia e, portanto, assume apenas valores lógicos
verdadeiros para quaisquer valores de p e q. Vamos conhecer mais uma negação.

1.6.3 - Negação de um condicional simples


A negação de um condicional simples é:

~(p → q) = p ∧ ~q

Exemplos:
• p → q: Se Luiz é brasileiro, então é latino-americano.
~(p → q) = p ∧ ~q: Luiz é brasileiro e não é latino-americano.

32 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

• p → q: Se 2 é um número natural, então é um número racional.


~(p → q) = p ∧ ~q: 2 é um número natural e não é um número racional.

Observe que toda negação de um condicional é uma conjunção. Também temos que observar que o fato de ~(p
→ q) = p ∧ ~q nos leva a concluir que ~(p → q) ⇔ p ∧ ~q, ou seja, que ~(p → q) ↔ p ∧ ~q é uma tautologia;

MATEMÁTICA
assume, portanto, apenas valores lógicos verdadeiros para quaisquer valores de p e q.

1.6.4 - Negação de um bicondicional


A negação de um bicondicional pode se dar de duas maneiras:

~(p ↔ q) = p ↔ ~q

ou

~(p ↔ q) = p ↔ ~q

Exemplos:
• p ↔ q: 3 é um número primo se, e somente se é ímpar.
~(p ↔ q) = ~p ↔ q: 3 não é um número primo se, e somente se
é ímpar. Ou,
~(p ↔ q) = p ↔ ~q: 3 é um número primo se, e somente se, não
é ímpar.
• p ↔ q: O pássaro canta se, e somente se vive.
~(p ↔ q) = ~p ↔ q: O pássaro não canta se, e somente se vive.
Ou,
~(p ↔ q) = p ↔ ~q: O pássaro canta se, e somente se, não vive.

Observe que toda negação de um bicondicional continua sendo um bicondicional, bastando para isso negar uma
das proposições que o compõem. Também observaremos que o fato de ~(p ↔ q) = ~p ↔ q nos leva a concluir
que ~(p ↔ q) ⇔ ~p ↔ q, ou seja que ~(p ↔ q) ↔ (~p ↔ q) é uma tautologia, portanto, assume apenas
valores lógicos verdadeiros para quaisquer valores de p e q.

1.6.5 - Negação de proposições quantificadas


Para negar uma proposição quantificada trocamos o quantificador e negamos o restante da sentença, ou seja,
substituímos o quantificador universal (∀) pelo quantificador existencial (∃) e negamos a sentença restante e vice-
versa.
A negação de ∀ p(x) é ∃ ~p(x) e a negação de ∃p(x) é ∀ ~p(x). Vejamos alguns exemplos para entendermos
melhor esta negação.
Exemplos:
• p: Todo homem é responsável.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 33


EAD 2010

~p: Existe homem que não é responsável.


• q: Existe professor competente.
~q: Todo professor é incompetente.
• r: Todo losango é um quadrado.
MATEMÁTICA

~r: Existe um losango que não é quadrado.

A negação de uma sentença quantificada continua sendo uma sentença quantificada, apenas efetuando-se a troca
dos seus quantificadores e negando as sentenças restantes. Assim não fica complicado encontrar as negações de
proposições quantificadas.
Espero que tenha compreendido bem nosso estudo sobre o cálculo proposicional. Estudaremos em seguida um
método que permite calcular o valor lógico de proposições, sem necessariamente construir a tabela verdade. Tenho
certeza que está esperando este momento com muita curiosidade. Até lá.

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A Lógica é extensivamente usada em áreas como Inteligência


Artificial, e Ciência da computação. Nas décadas de 50 e 60,
pesquisadores previram que quando o conhecimento humano
pudesse ser expresso usando lógica com notação matemática,
supunham que seria possível criar uma máquina com a capacida-
de de pensar, ou seja, inteligência artificial. Isto se mostrou mais
difícil que o esperado em função da complexidade do raciocínio
humano. A programação lógica é uma tentativa de fazer compu-
tadores usarem raciocínio lógico e a linguagem de programação
Prolog é comumente utilizada para isto. Na lógica simbólica e ló-
gica matemática, demonstrações feitas por humanos podem ser
auxiliadas por computador. Usando demonstração automática de
teoremas os computadores podem achar e checar demonstra-
ções, assim como trabalhar com demonstrações muito exten-
sas. Na ciência da computação, a álgebra booleana é a base do
projeto de hardware.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica

34 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

1. Encontre a negação das seguintes proposições:

MATEMÁTICA
a. mdc(2, 3) = 1 ou mmc(2, 3) ≠ 6
b. 3.10 ≠ 66.5
ou 3.10 .5

c. 3 ≥ 1 e − 3 ≥ −7
7

d. 22 = 4 → 4 = 2
e. (−3) 2 = 9 → 9 ≠ −3

f. 2 ≤ 5 → 3 ≤ 5
2 2

g. (∀x)(x >2 → 3x > 32)


h. (∃x)

i. Todo número inteiro primo é ímpar.


j. Todo triângulo isósceles é eqüilátero.
k. Existe um losango que não é quadrado.
l. Existe um número cuja raiz quadrada é zero.
m. Todo triângulo que tem ângulos congruentes tem três lados congruentes.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 35


EAD 2010

2 - Álgebra das Proposições e o Método Dedutivo

Neste capítulo, estudaremos sobre as propriedades dos conectivos lógicos com o objetivo de reconhecer novas
relações de equivalência. Lembre-se de que as relações de equivalência são bicondicionais tautológicas, ou seja,
são bicondicionais entre proposições que possuem a mesma tabela verdade e os mesmos valores lógicos. Este
MATEMÁTICA

estudo é importante porque através dele poderemos encontrar o valor lógico de determinadas proposições sem
necessariamente montar sua tabela verdade. Esse processo chama-se método dedutivo. Este método nos ajudará a
simplificar as expressões, reduzindo o número de conectivos utilizados numa determinada proposição. Então vamos
começar nosso estudo. Espero que você se sinta bastante motivado para continuar nossa caminhada.

2.1 - Álgebra das proposições


Começaremos agora a destacar as propriedades dos conectivos lógicos aos quais serão demonstradas através
de relações de equivalência, ou seja, bicondicionais que são tautológicas.

2.1.1 - Propriedades da conjunção


Considere p, q e r proposições simples quaisquer. As propriedades da conjunção são:
(a) Idempotente: p ∧ p ⇔ p
Observe que realmente as tabelas verdade de p ∧ p e p são idênticas e a bicondicional p ∧ p ↔ p é tautológica. Veja:

p p∧p p∧ p ↔ p
V V V
F F V

(b) Comutativa: p ∧ q ⇔ q ∧ p
Veja que também as proposições p ∧ q e q ∧ p possuem a mesma tabela verdade e que a bicondicional p ∧ q
→ q ∧ p é tautológica.

p q p∧q q∧p p∧q→q∧p


V V V V V
V F F F V
F V F F V
F F F F V

36 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

(c) Associativa: (p ∧ q) ∧ r ⇔ p ∧ (q ∧ r)
Observe mais uma vez que estamos justificando estas equivalências através das tabelas verdade. As proposições
(p ∧ q) ∧ r e p ∧ (q ∧ r) possuem o mesmo valor lógico. Sua tabela verdade é:

p q r p∧q (p ∧ q) ∧ r (q ∧ r) p ∧ (q ∧ r)

MATEMÁTICA
V V V V V V V
V V F V F F F
V F V F F F F
V F F F F F F
F V V F F V F
F V F F F F F
F F V F F F F
F F F F F F F

Nesse caso também temos que a bicondicional (p ∧ q) ∧ r ↔ p ∧ (q ∧ r) é uma tautologia.

(d) Identidade: p ∧ t ⇔ p e p ∧ c ⇔ c.
Aqui, t representa a tautologia (valor lógico apenas verdadeiro) e c representa a contradição (valor lógico apenas
falso). Seguindo o mesmo raciocínio, temos que p ∧ t e p possuem a mesma tabela verdade e analogamente p ∧ c e
c possuem a mesma tabela verdade. Veja:

p t p∧t
V V V
F V F
p c p∧c
V F F
F F F

Essas propriedades nos levam a nomear t como sendo elemento neutro da conjunção e c como elemento ab-
sorvente da conjunção.

2.1.2 - Propriedades da disjunção


As propriedades da disjunção são bem semelhantes às da conjunção, inclusive atendem pela mesma nomen-
clatura. Considere para estas propriedades p, q e r proposições simples quaisquer.

(a) Idempotente: p ∨ p ⇔ p
Observe que realmente as tabela verdade de p ∨ p e p são idênticas e a bicondicional p ∨ p ↔ p é tautológica. Veja:

p p∨p p∨p↔p
V V V
F F V

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 37


EAD 2010

(b) Comutativa: p ∨ q ⇔ q ∨ p
Veja que também as proposições p ∨ q e q ∨ p possuem a mesma tabela verdade e que a bicondicional p ∨ q
→ q ∨ p é tautológica.

p q
MATEMÁTICA

p∨q q∨p p∨q→q∨p


V V V V V
V F V V V
F V V V V
F F F F V

(c) Associativa: (p ∨ q) ∨ r ⇔ p ∨ (q ∨ r)
De maneira análoga ao que fizemos até agora, justificaremos esta propriedade com o auxílio da tabela verdade.
As proposições (p ∨ q) ∨ r e p ∨ (q ∨ r) possuem o mesmo valor lógico. Sua tabela verdade é:

p q r p∨q (p ∨ q) ∨ r (q ∨ r) p ∨ (q ∨ r)
V V V V V V V
V V F V V V V
V F V V V V V
V F F V V F V
F V V V V V V
F V F V V V V
F F V F V V V
F F F F F F F

Nesse caso também temos que a bicondicional (p ∨ q) ∨ r ↔ p ∨ (q ∨ r) é uma tautologia.

(d) Identidade: p ∨ t ⇔ t e p ∨ c ⇔ p.
Aqui t continua representando a tautologia (valor lógico apenas verdadeiro) e c representando a contradição
(valor lógico apenas falso). Sendo assim, p ∨ t e t possuem a mesma tabela verdade e analogamente p ∨ c e p
possuem a mesma tabela verdade. Veja:

p t p∨t
V V V
F V V

p c p∨c
V F V
F F F

38 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

Essas propriedades nos levam a nomear t como sendo elemento absorvente da disjunção e c como elemento
neutro da disjunção.
Agora que conhecemos as propriedades dos dois conectivos ∧ e ∨ separadamente, vamos conhecer as pro-
priedades que envolvem ambos ao mesmo tempo.

MATEMÁTICA
2.1.3 - Propriedades da conjunção e disjunção
Para estudar as propriedades a seguir, considere novamente p, q e r proposições simples quaisquer. Temos então
as seguintes propriedades da conjunção e disjunção:

(a) Distributiva: p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)

Como você já viu, as provas dessas equivalências são feitas através de tabelas verdade. Vamos então construir
as tabelas verdade das bicondicionais associadas as relações acima e verificar que ambas são tautológicas.

• p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
Aqui, mostraremos que p ∧ (q ∨ r) e (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) tem exatamente a mesma tabela verdade:

p q r q∨r p ∧ (q ∨ r) p∧q p∧r (p∧ q) ∨ (p ∧ r)


V V V V V V V V
V V F V V V F V
V F V V V F V V
V F F F F F F F
F V V V F F F F
F V F V F F F F
F F V V F F F F
F F F F F F F F

• p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
Aqui, novamente mostraremos que p ∨ (q ∧ r) e (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) tem exatamente a mesma tabela verdade:

p q r q∧r p ∨ (q ∧ r) p∨q p∨r (p∨ q) ∧ (p ∨ r)


V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V F V V V V
V F F F V V V V
F V V V V V V V
F V F F F V F F
F F V F F F V F
F F F F F F F F

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 39


EAD 2010

Com essas equivalências podemos verificar que a conjunção é distributiva em relação à disjunção e a disjunção
é distributiva em relação à conjunção.

(b) Absorção: p ∨ (p ∧ q) ⇔ p
p ∧ (p ∨ q) ⇔ p
MATEMÁTICA

Observe que são idênticas as tabelas verdade de p ∨ (p ∧ q) e de p. Acompanhe:

p q p∧q p ∨ (p ∧ q)
V V V V
V F F V
F V F F
F F F F

De mesmo modo são idênticas as tabelas verdade de p ∧ (p ∨ q) e de p. Veja a seguir:

p q p∨q p ∧ (p ∨ q)
V V V V
V F V V
F V V F
F F F F

(c) Regras de De Morgan: ~(p ∧ q) ⇔ ~p ∨ ~q


~(p ∨ q) ⇔ ~p ∧ ~q

As regras de De Morgan nos levam à negação da conjunção e da disjunção estudadas anteriormente. Reveja as
tabelas que mostram estas relações de equivalência.
• ~(p ∧ q) ⇔ ~p ∨ ~q

p q p∧q ~(p ∧ q) ~p ~q ~p ∨ ~q
V V V F F F F
V F F V F V V
F V F V V F V
F F F V V V V

40 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

As proposições ~(p ∧ q) e ~p ∨ ~q são equivalentes, ou seja, possuem a mesma tabela verdade.


• ~(p ∨ q) ⇔ ~p ∧ ~q

p q p∨q ~(p ∨ q) ~p ~q ~p ∧ ~q

MATEMÁTICA
V V V F F F F
V F V F F V F
F V V F V F F
F F F V V V V

As proposições ~(p ∨ q) e ~p ∧ ~q são equivalentes, ou seja, possuem a mesma tabela verdade.

As regras de De Morgan valem também para mais de duas proposições simples. Para mostrar essa propriedade
para mais de duas proposições, usaremos propriedades já estudadas anteriormente.

Temos que ~(p ∧ q ∧ r) ⇔ ~p ∨ ~q ∨ ~r e que ~(p ∨ q ∨ r) ⇔ ~p ∧ ~q ∧ ~r. Vejamos cada uma destas
propriedades separadamente:
• ~(p ∧ q ∧ r) ⇔ ~p ∨ ~q ∨ ~r

Veja que para mostrar essa equivalência não faremos o uso da tabela verdade; usaremos relações de equivalência
já estudadas. Observe quais propriedades estão sendo usadas. Aqui, destacaremos uma a uma:

~(p ∧ q ∧ r) ⇔ ~[(p ∧ q) ∧ r] (associatividade da conjunção)


~[(p ∧ q) ∧ r] ⇔ ~(p ∧ q)∨ ~r (De Morgan, já que p ∧ q é uma proposição)
~(p ∧ q) ∨ ~r ⇔ ~p ∨ ~q ∨ ~r (De Morgan em ~(p ∧ q))

Assim concluímos que ~(p ∧ q ∧ r) ⇔ ~[(p ∧ q) ∧ r] ⇔ ~(p ∧ q) ∨ ~r ⇔ ~p ∨ ~q ∨ ~r.


• ~(p ∨ q ∨ r) ⇔ ~p ∧ ~q ∧ ~r

Mostraremos a equivalência da mesma forma que fizemos anteriormente, usando relações de equivalência já
estudadas. Veja que:
~(p ∨ q ∨ r) ⇔ ~[(p ∨ q) ∨ r]⇔ ~(p ∨ q) ∧ ~r ⇔ ~p ∧ ~q ∧ ~r

Essas duas propriedades estudadas sem o uso das tabelas verdade introduz o que chamamos de método de-
dutivo, que consiste em mostrar relações de equivalência sem o uso das tabelas verdade.

2.2 - Método Dedutivo


O uso do método dedutivo no estudo da lógica matemática é importante devido a sua linguagem simplificada.
Como foi dito anteriormente, o método dedutivo consiste em provar relações de implicação e equivalência sem o
uso das tabelas verdade. Para isto usaremos as relações de equivalência estudadas na álgebra das proposições;
substituiremos as proposições dadas por outras equivalentes mais simplificadas. Veja que, a depender da quantidade
de proposições, poderemos ter tabelas verdade com um número muito grande de linhas. Assim o método dedutivo
se aplica de maneira mais eficiente.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 41


EAD 2010

Considere em todos os exemplos a serem mostrados abaixo que T é uma tautologia e C uma contradição.
2.2.1 - Exemplos
(a) Demonstrar a implicação p ∧ q ⇒ p
Observe que para mostrar essa implicação precisamos mostrar que p ∧ q → p é sempre verdadeira, ou seja,
MATEMÁTICA

uma tautologia. Para fazer essa demonstração usaremos as equivalências já estudadas e uma das equivalências
mais fundamentais e simples: ~~p ⇔ p (dupla negação); isso vale para qualquer proposição simples ou composta.
Veja o que segue:
D] p ∧ q → p ⇔ ~~(p ∧ q → p) [dupla negação]
~~(p ∧ q → p) ⇔ ~(p ∧ q ∧ ~p) [negação da condicional]
~(p ∧ q ∧ ~p) ⇔ ~(p ∧ ~p ∧ q) [comutatividade da conjunção]
~(p ∧ ~p ∧ q) ⇔ (~p ∨ p) ∨ ~q [De Morgan da conjunção]
(~p ∨ p) ∨ ~q ⇔ T ∨ ~q ⇔ T [elemento absorvente da disjunção].

Viu o que acabamos de fazer? Demonstramos uma implicação sem usar a tabela verdade. Usamos as proprie-
dades dos conectivos que foram destacados anteriormente. Vejamos mais um exemplo.

(b) Demonstrar a implicação p ⇒ p ∨ q


D] p → p ∨ q ⇔ ~~(p → p ∨ q) [dupla negação]
~~(p → p ∨ q) ⇔ ~[p ∧ ~(p ∨ q)] [negação da condicional]
~[p ∧ ~(p ∨ q)] ⇔ ~[p ∧ ~p ∧ ~q] [De Morgan da disjunção]
~[p ∧ ~p ∧ ~q] ⇔ ~p ∨ p ∨ q [De Morgan da conjunção]
(~p ∨ p) ∨ q ⇔ T ∨ q ⇔ T [elemento absorvente da disjunção].

Mais uma vez mostramos passo a passo, usando a álgebra das proposições como demonstrar uma implicação.
Nesses casos estudados, mostramos que a condicional usada é uma tautologia, mas podemos também partir da ex-
pressão que representa o antecedente para chegar à expressão que é o consequente. Verifique no próximo exemplo.

(c) Demonstre a implicação (p → q) ∧ p ⇒ q.


D] (p → q) ∧ p
⇔ ~~[(p → q) ∧ p]
⇔ ~[~(p → q) ∨ ~p]
⇔ ~[~p ∨ ~(p → q)]
⇔ ~[~p ∨ p ∧ ~q]
⇔ ~[T ∧ ~q]
⇔ ~[~q] ⇔ q.

Viu como é mais eficiente o uso do método dedutivo? Nesse exemplo saímos da expressão que é o antecedente
para a expressão que é o consequente e está provada a implicação. Espero que você tenha identificado cada pro-
priedade utilizada para esta demonstração. Posteriormente, você pode tentar listar quais propriedades utilizamos
em cada passo.
(d) Prove que (p → q) ∧ ~q ⇒ ~p.
D] (p → q) ∧ ~q

42 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

⇔ ~~[(p → q) ∧ ~q]
⇔ ~~[(~q → ~p) ∧ ~q] (condicional é equivalente a contrapositiva)
⇔ ~[~(~q → ~p) ∨ q]
⇔ ~[q ∨ ~(~q → ~p)]

MATEMÁTICA
⇔ ~[q ∨ ~q ∧ p]
⇔ ~[T ∧ p] ⇔ ~p.

(e) Prove que (p ∨ q) ∧ ~p ⇒ q


D] (p ∨ q) ∧ ~p
⇔ ~~[(p ∨ q) ∧ ~p]
⇔ ~[~(p ∨ q) ∨ p]
⇔ ~[p ∨ ~(p ∨ q)]
⇔ ~[p ∨ ~p ∧ ~q]
⇔ ~[T ∧ ~q] ⇔ ~[~q] ⇔ q.

Nos exemplos acima, provamos apenas implicações. Agora veremos algumas equivalências lógicas. Observe
que o processo será o mesmo; ou provamos que o bicondicional (↔) usado é uma tautologia, ou partimos de
uma das expressões e chegamos a outra. É claro que escolheremos a expressão mais complexa para encontrar a
mais simples.

(f) Prove que p → q ⇔ p ∧ ~q → c


D] p ∧ ~q → c
⇔ ~~[p ∧ ~q → c]
⇔ ~[p ∧ ~q ∧ ~c]
⇔ ~[p ∧ (~q ∧ T)]
⇔ ~[p ∧ ~q]
⇔ ~[~(p → q)]
⇔ ~~(p → q)
⇔ p → q.

(g) Prove que (p → q) ∧ (p → ~q) ⇔ ~p.


D] (p → q) ∧ (p → ~q)
⇔ ~~[(p → q) ∧ (p → ~q)]
⇔ ~[~(p → q) ∨ ~(p → ~q)]
⇔ ~[(p ∧ ~q) ∨ (p ∧ q)]
⇔ ~[p ∨ (~q ∨ q)]
⇔ ~[p ∨ T]
⇔ ~[p] ⇔ ~p.

(h) Prove que (p → q) ∨ (p → r) ⇔ p → q ∨ r


D] (p → q) ∨ (p → r)
⇔ ~~[(p → q) ∨ (p → r)]

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 43


EAD 2010

⇔ ~[~(p → q) ∧ ~(p → r)]


⇔ ~[p ∧ ~q ∧ p ∧ ~r]
⇔ ~[(p ∧ p) ∧ ~q ∧ ~r]
⇔ ~[(p ∧ ~q) ∧ ~r]
MATEMÁTICA

⇔ ~[~(p → q) ∧ ~r]
⇔ ~~(p → q) ∨ ~~r
⇔ p → q ∨ r.

Agora já sabemos como provar implicações e equivalências, usando o método dedutivo. Espero que tenha per-
cebido o quanto esse método simplifica a escrita se comparado ao uso das tabelas verdade.
Veremos agora que qualquer proposição composta com os conectivos básicos estudados (~, ∧, ∨, →, ↔)
pode-se escrever em função de apenas três conectivos: ~, ∧, ∨.

2.2.2 - Forma normal das proposições


O objetivo de se estudar a forma normal de uma proposição é poder escrevê-la com certos tipos de conectivos.
É claro que para encontrar esta forma temos uma série de normas a serem seguidas. Acompanhe agora a definição
de uma forma normal.
DEFINIÇÃO: Diz-se que uma proposição está na forma normal (FN) se, e somente se, quando muito, contém os
conectivos ~, ∧ e ∨.
As seguintes proposições estão em sua forma normal:
• p ∨ ~q
• (p ∨ q) ∧ (~q ∧ p)
• ~(~p ∧ ~r)

Toda proposição pode ser levada em sua forma normal. Os conectivos → e ↔ podem ser substituídos através
de equivalências lógicas. Lembre-se que:
• p → q ⇔ ~p ∨ q
• p ↔ q ⇔ (~p ∨ q) ∧ (p ∨ ~q)

Temos dois tipos de formas normais: a conjuntiva e a disjuntiva. Vamos conhecer cada uma delas aprendendo
como usá-las.

2.2.3 - Forma normal conjuntiva


DEFINIÇÃO: Diz-se que uma proposição está na forma normal conjuntiva (FNC) se, e somente se, são verificadas
as seguintes condições:
(a) Contém, quando muito os conectivos ~, ∧ e ∨.
(b) ~ não aparece repetido e só incide sobre as proposições simples, isto é, não acontece ~(p ∧ q); devemos
escrever, então, ~p ∨ ~q.
(c) A disjunção não pode ser a operação principal da proposição composta.

Toda proposição pode ser escrita em sua forma normal conjuntiva. Para isso usaremos as seguintes equiva-
lências:
• p → q ⇔ ~p ∨ q

44 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

• p ↔ q ⇔ (~p ∨ q) ∧ (p ∨ ~q)
• p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)

MATEMÁTICA
Veja a seguir alguns exemplos de como encontrar a FNC das proposições.
Ex.: Encontrar a FNC da proposição ~(((p ∨ q) ∧ ~q) ∨ (q ∧ r)).
Temos que:
~(((p ∨ q) ∧ ~q) ∨ (q ∧ r))
⇔ ~((p ∨ q) ∧ ~q) ∧ ~(q ∧ r)
⇔ (~(p ∨ q) ∨ q ) ∧ (~q ∨ ~r)
⇔ ((~p ∧ ~q) ∨ q) ∧ (~q ∨ ~r)
⇔ (~p ∨ q) ∧ (~q ∨ q ) ∧ (~q ∨ ~r) (*)
⇔ (~p ∨ q) ∧ T ∧ (~q ∨ ~r)
⇔ (~p ∨ q) ∧ (~q ∨ ~r) (**)

Para encontrar a FNC de uma proposição estamos usando o método dedutivo, ou seja, estamos substituindo
proposições por equivalentes usando a álgebra das proposições e as equivalências provadas anteriormente.
Veja que há duas formas sinalizadas neste exemplo. A forma (*) é uma forma normal conjuntiva para a propo-
sição inicial; a forma (**) também. Com isso podemos verificar que uma mesma proposição pode possuir várias
formas normais conjuntivas, desde que sejam todas equivalentes.
Ex.: Encontrar a FNC de ((p ∨ q) ∧ ~q) → r ∧ q.
Temos que:
((p ∨ q) ∧ ~q) → r ∧ q
⇔ ~((p ∨ q) ∧ ~q) ∨ (r ∧ q)
⇔ ~(p ∨ q) ∨ q ∨ (r ∧ q)
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ q ∨ (r ∧ q)
⇔ (~p ∨ q) ∧ (~q ∨ q) ∨ (r ∧ q)
⇔ (~p ∨ q) ∧ T ∨ (r ∧ q)
⇔ (~p ∨ q) ∨ (r ∧ q)
⇔ (~p ∨ q ∨ r ) ∧ (~p ∨ q ∨ q)
⇔ (~p ∨ q ∨ r ) ∧ (~p ∨ q)

Observe que, quando encontramos a FNC temos uma conjunção de disjunções, ou seja, encontramos sempre
uma expressão da forma P1 ∧ P2 ∧ P3 ∧ .... ∧ Pn, onde os Pi, i = 1, ..., n são disjunções.
Veja mais um exemplo de como encontrar a forma normal conjuntiva de uma proposição.
Ex.: Encontrar a FNC da proposição (p → q) ↔ (~q → ~p).
Temos que:
(p → q) ↔ (~q → ~p)
⇔ (~p ∨ q) ↔ (q ∨ ~p)
⇔ [~(~p ∨ q) ∨ (q ∨ ~p)] ∧ [(~p ∨ q) ∨ ~(q ∨ ~p)]
⇔ [(p ∧ ~q) ∨ (q ∨ ~p)] ∧ [(~p ∨ q)∨ (~q ∧ p)]
⇔ (p ∨ q ∨ ~p) ∧ (~q ∨ q ∨ ~p) ∧ (~p ∨ q ∨ ~q) ∧ (~p ∨ q ∨ p)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 45


EAD 2010

Nesse exemplo acontece algo bastante interessante: todos os termos da FNC possuem uma proposição e sua
negação. Vamos verificar o valor lógico de cada um destes termos?
• p ∨ q ∨ ~p ⇔ p ∨ ~p ∨ q ⇔ T ∨ q ⇔ T
• ~q ∨ q ∨ ~p ⇔ T ∨ ~p ⇔ T
• ~p ∨ q ∨ ~q ⇔ ~p ∨ T ⇔ T
MATEMÁTICA

• ~p ∨ q ∨ p ⇔ ~p ∨ p ∨ q ⇔ T ∨ q ⇔ T

Veja que cada um dos termos da FNC é uma tautologia. Isso sempre acontece quando temos disjunções que
contêm uma proposição e sua negação. Nesse caso dizemos que a proposição cujos termos da FNC são tautoló-
gicos, é uma proposição tautológica.

2.2.4 - Forma normal disjuntiva


DEFINIÇÃO: Diz-se que uma proposição está na forma normal disjuntiva (FND) se, e somente se, são verificadas
as seguintes condições:
(a) Contém, quando muito os conectivos ~, ∧ e ∨.
(b) ~ não aparece repetido e só incide sobre as proposições simples, isto é, não acontece ~(p ∨ q); devemos
escrever então ~p ∧ ~q.
(c) A conjunção não pode ser a operação principal da proposição composta.

Toda proposição pode ser apresentada em sua forma normal conjuntiva. Para isso usaremos as equivalências
já apresentadas anteriormente. Veja como encontrar a FND de uma proposição.
Ex.: Encontrar a FND de ((p ∨ q) ∧ ~q) → r ∧ q.
Temos que:
((p ∨ q) ∧ ~q) → r ∧ q
⇔ ~((p ∨ q) ∧ ~q) ∨ (r ∧ q)
⇔ ~(p ∨ q) ∨ q ∨ (r ∧ q)
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ q ∨ (r ∧ q)

Observe que fizemos exatamente o mesmo processo de antes; substituímos as proposições por outras equiva-
lentes, só que agora evidenciando a disjunção. Veja que na FND temos disjunções de conjunções, ou seja, quando
uma proposição está na FND encontramos sempre uma expressão da forma P1 ∨ P2 ∨ P3 ∨ .... ∨ Pn, onde os Pi, i
= 1, ..., n são conjunções.
Ex.: Encontrar a FND de p → q ∧ q → p.
Temos que:
p→q∧q→p
⇔ (~p ∨ q) ∧ (~q ∨ p)
⇔ (~p ∧ (~q ∨ p)) ∨ (q ∧ (~q ∨ p))
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ (~p ∧ p) ∨ (q ∧ ~q) ∨ (q ∧ p) (*)
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ C ∨ C ∨ (q ∧ p)
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ (q ∧ p) (**)

46 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

Observe que há duas formas sinalizadas nesse exemplo. A forma (*) é uma normal disjuntiva para a proposição
inicial; a forma (**) também. Com isto podemos verificar que uma mesma proposição pode possuir várias formas
normais disjuntivas, desde que sejam todas equivalentes.
Ex.: Encontrar a FND da proposição ~(((p ∨ q) ∧ ~q) ∨ (q ∧ r)).
Temos que:

MATEMÁTICA
~(((p ∨ q) ∧ ~q) ∨ (q ∧ r))
⇔ ~((p ∨ q) ∧ ~q) ∧ ~(q ∧ r)
⇔ (~(p ∨ q) ∨ q) ∧ (~q ∨ ~r)
⇔ ((~p ∧ ~q) ∨ q) ∧ (~q ∨ ~r)
⇔ (((~p ∧ ~q) ∨ q) ∧ ~q) ∨ (((~p ∧ ~q) ∨ q) ∧ ~r)
⇔ (~p ∧ ~q ∧ ~q) ∨ (q ∧ ~q) ∨ (~p ∧ ~q ∧ ~r) ∨ (q ∧ ~r)
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ C ∨ (~p ∧ ~q ∧ ~r) ∨ (q ∧ ~r)
⇔ (~p ∧ ~q) ∨ (~p ∧ ~q ∧ ~r) ∨ (q ∧ ~r)

Viu que encontramos as FND da mesma forma que as FNC? Um processo é semelhante ao outro; diferenciando-
se apenas por qual conectivo ficará como operação principal. No caso da FNC é a conjunção e no da FND é a
disjunção.

2.2.5 - Princípio da Dualidade


O princípio da dualidade nos permite construir novas proposições, que estejam em sua forma normal (apenas
com conectivos ~, ∧ e ∨) em novas proposições pela simples troca dos conectivos ∧ e ∨. Veremos que podemos
estabelecer relações de equivalências entre essas novas proposições formadas. Para mergulhar nesse troca-troca,
vamos conhecer bem a definição da dualidade.
DEFINIÇÃO: Seja P uma proposição que só contém os conectivos ~, ∧ e ∨. Chama-se dual de P a proposição P’
obtida através de P, trocando-se cada símbolo ∧ por ∨ e cada símbolo ∨ por ∧.

Por exemplo, se temos a proposição P: ~((p ∧ q) ∨ ~r) sua proposição dual é P’: ~((p ∨ q) ∧ ~r).
Observou como é simples encontrar uma proposição dual de uma dada proposição P? Lembre-se apenas de
que a proposição dada tem que estar em uma forma normal, possuindo apenas ~, ∧ e ∨, e que para encontrar sua
dual basta fazer a troca entre as conjunções e disjunções.
Uma relação acontece de maneira bem interessante; é o que chamamos de princípio da dualidade. Ele nos diz
que proposições equivalentes, possuem duais também equivalentes. Veja o enunciado desse princípio.
Princípio da Dualidade: Se P e Q são proposições equivalentes que só contêm os conectivos ~, ∧ e ∨, então as
suas duais respectivas P’ e Q’, também são equivalentes.

Para exemplificar esse princípio da dualidade, considere a seguinte equivalência: p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧


r). Podemos identificá-la usando duas proposições P: p ∧ (q ∨ r) e Q: (p ∧ q) ∨ (p ∧ r). Observe que a dual de P
é a proposição P’: p ∨ (q ∧ r) e que a dual de Q é Q’: (p ∨ q) ∧ (p ∨ r). O que o princípio da dualidade nos garante
é que P’ e Q’ são equivalentes; de fato temos p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r).
Bom, agora chegamos ao fim de mais uma etapa do nosso estudo. Até o momento, estudamos bastante os
conectivos lógicos e suas propriedades, destacando relações de implicação e relações de equivalência. Na próxima
etapa, estaremos exemplificando mais estas relações através de proposições escritas em linguagem corrente e não
simplesmente em linguagem matemática. Será bastante interessante começar a desvendar mistérios.... veja um
exemplo do que poderemos resolver:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 47


EAD 2010

Há três suspeitos de um crime: o cozinheiro, a governanta e o mordomo. Sabe-se que o crime foi efetivamente
cometido por um ou mais de um deles, já que podem ter agido individualmente ou não. Sabe-se ainda que: A) se o
cozinheiro é inocente, então a governanta é culpada; B) ou o mordomo é culpado ou a governanta é culpada, mas
não os dois; C) O mordomo não é inocente. Logo:
• a governanta e o mordomo são os culpados.
MATEMÁTICA

• somente o cozinheiro é inocente.


• somente a governanta é culpada.
• somente o mordomo é culpado.
• o cozinheiro e o mordomo são os culpados.

Tenho certeza que ficou curiosíssimo para saber o resultado. Então espero você na próxima etapa, para juntos
desvendarmos esse e outros mistérios.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

1. Use o método dedutivo para demonstrar as rela-


ções abaixo:
a) p ∧ ~p ⇒ q
b) p → p ∧ q ⇔ p → q
c) (p → q) → q ⇔ p ∨ q
d) (p → q) ∧ (p → r) ⇔ p → q ∧ r

2. Encontre uma forma normal conjuntiva (FNC) e


uma forma normal disjuntiva (FND) para cada uma
das proposições:
a) (p ∨ ~q) → r
b) (p ∧ q → r) ∧ s
c) ((p ∨ q) ∧ ~q) → (r ∧ q)

48 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

3 - Argumentos e Regras de inferência

Chegamos à etapa final do nosso estudo sobre a lógica matemática. Nela estudaremos sobre os argumentos e
sua validade. Isso nos permitirá avaliar quando um argumento é válido ou não, e tem grande importância na decisão

MATEMÁTICA
sobre os quais tem a ver com a verdade do mundo. Além disso, poderemos desvendar os famosos mistérios que
envolvem a lógica, como o citado no tema anterior. Espero que tenha bons estudos e aproveite a maravilha deste
mundo.

3.1 – Argumentos
Para ter uma ideia inicial do que seria um argumento, observe as seguintes sentenças:
• Todos os homens são mortais e Sócrates é homem. Portanto, Sócrates é mortal.
• Se não fizer sol, então irei ao cinema. Não fui ao cinema. Então, fez sol.
• Se ela não fosse atriz, então não seria famosa. Ela não é atriz. Então, não é famosa.
• Se Jorge é magro, então é elegante. Jorge é elegante. Portanto, Jorge é magro.

Sentenças como as citadas acima são denominadas argumentos. Observe que nesta estrutura temos sempre
afirmações seguidas de conclusões. Isto é o que caracteriza um argumento. Veja a seguir a definição formal de
um argumento.
DEFINIÇÃO: Sejam P­1, P2, ..., Pn e Q proposições quaisquer. Chama-se argumento toda afirmação de que dada uma
sequência finita P­1, P2, ..., Pn de proposições tem como consequência ou acarreta uma proposição final Q.
As proposições P­1, P2, ..., Pn são chamadas de premissas do argumento e a proposição final Q diz-se conclusão do
argumento. Costuma-se usar a seguinte notação para indicar um argumento de premissas P­1, P2,..., Pn e conclusão
Q: P­1, P2,..., Pn Q. Além disso, podemos ler este argumento de várias formas distintas:
• P­1, P2, ..., Pn acarretam Q.
• Q decorre de P­1, P2, ..., Pn.
• Q se deduz de P­1, P2, ..., Pn.
• Q se infere de P­1, P2, ..., Pn.

Quando um argumento possui apenas duas premissas e uma conclusão, chamá-lo-emos de silogismo.
Nos exemplos citados, temos:
• Todos os homens são mortais e Sócrates é homem. Portanto, Sócrates é mortal.
P1: Todos os homens são mortais.
P2: Sócrates é homem.
Conclusão: Sócrates é mortal.

• Se não fizer sol, então irei ao cinema. Não fui ao cinema. Então, fez sol.
P­1: Se não fizer sol, então irei ao cinema.
P2: Não fui ao cinema.
Conclusão: Fez sol.

• Se ela não fosse atriz, então não seria famosa. Ela não é atriz. Então, não é famosa.
P1: Se ela não fosse atriz então não seria famosa.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 49


EAD 2010

P2: Ela não é atriz.


Conclusão: Ela não é famosa.

• Se Jorge é magro, então é elegante. Jorge é elegante. Portanto, Jorge é magro.


MATEMÁTICA

P1: Se Jorge é magro, então é elegante.


P2: Jorge é elegante.
Conclusão: Jorge é magro.
Veja que todos os exemplos de argumentos citados tratam-se de silogismos, pois todos os argumentos cons-
tituem-se de duas premissas e uma conclusão.

3.1.1 – Validade
A lógica de argumentação é uma ciência composta por regras usadas para a decisão sobre a validade de ar-
gumentos. A lógica dispõe de duas ferramentas principais que podem ser utilizadas pelo pensamento na busca de
novos conhecimentos: a dedução e a indução, que dão origem a dois tipos de argumentos, dedutivos e indutivos.
Os argumentos dedutivos pretendem que suas premissas forneçam uma prova incontestável da veracidade da
conclusão. Um argumento dedutivo é válido quando suas premissas, se verdadeiras, fornecem provas convincentes
para sua conclusão, isto é, quando for impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa, caso
contrário, o argumento dedutivo é dito inválido.
Os argumentos indutivos, por outro lado, não pretendem que suas premissas forneçam provas cabais da vera-
cidade da conclusão, mas apenas que forneçam indicações dessa veracidade.
Os termos válidos e inválidos não se aplicam aos argumentos indutivos; eles costumam ser avaliados de acordo
com a maior ou menor possibilidade com que suas conclusões sejam estabelecidas.
Costuma-se dizer que os argumentos indutivos partem do particular para o geral, isto é de observações particulares
estabelecemos regras gerais. Os argumentos dedutivos, por outro lado, partem de regras gerais para estabelecer
a veracidade de acontecimentos particulares. O desenvolvimento da ciência tem dependido, em grande parte, da
habilidade de combinar os dois tipos de raciocínio.
Neste estudo, nos deteremos ao estudo dos argumentos dedutivos, e ao estudo sobre sua validade. Então, qual
é realmente o conceito de um argumento válido?
DEFINIÇÃO: Sejam P1, P2, ..., Pn Q um argumento. Diz-se que esse é um argumento válido se, e somente se, a
conclusão Q é verdadeira todas as vezes que as premissas P1, P2, ..., Pn são verdadeiras.

O argumento não válido (inválido) é chamado sofisma. A validade de um argumento depende exclusivamente da
relação existente entre as premissas e a conclusão. Um argumento é válido quando suas premissas, se verdadeiras,
fornecem provas convincentes para sua conclusão, isto é, quando for impossível que as premissas sejam verdadei-
ras e a conclusão falsa; caso contrário, o argumento é dito inválido (sofisma). Portanto, a verdade das premissas
(de um argumento válido!) é incompatível com a falsidade da conclusão. Como, então, reconhecer um argumento
válido? Precisamos relacionar estas definições com as operações lógicas estudadas até agora. Inicialmente vamos
associar a cada argumento uma condicional lógica. Veja a seguir.
TEOREMA: Um argumento P­1, P2, ..., Pn Q é válido se, e somente se, o condicional (P­1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn) → Q é
tautológica.

Observe então que usaremos o condicional (→) para verificar a validade de argumentos. Todo argumento da
forma P­1, P2, ..., Pn Q possui o condicional (P­1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn) → Q associado a ele. Antes de usarmos os critérios
para se discutir a validade de um argumento, concluímos a partir desse teorema a validade de um outro argumento
denominado “da mesma forma”.

50 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

• Se o argumento P1(p, q, r, ...), P2(p, q, r, ...), ..., Pn(p, q, r, ...) Q(p, q, r, ...) é válido, então o argumento da
“mesma forma”: P1(R, S, T, ...), P2(R, S, T, ...), ..., Pn(R, S, T, ...) Q(R, S, T, ...) também é válido, quaisquer que
sejam as proposições R, S, T.
Vamos construir um exemplo para melhor ilustrarmos toda esta situação relatada. O argumento p p ∨ q é
válido, pois se p que é a única premissa é verdadeira, então a conclusão p ∨ q é verdadeira, pois neste caso seu

MATEMÁTICA
valor lógico independe de q. Do argumento válido p p ∨ q, segue-se a validade dos argumentos:
• (~p ∧ r) (~p ∧ r) ∨ (~q → p)
• (p → s ∧ r) (p → s ∧ r) ∨ (~r ∧ s)
Veja que os argumentos acima são válidos porque possuem a mesma estrutura do argumento p p q. Portanto,
a validade de um argumento depende apenas da sua forma e não de seu conteúdo ou da verdade e falsidade das
proposições que a integram. Assim, podemos falar da validade da forma de um argumento; um argumento é válido
se possui uma forma válida. Todo argumento de forma válida é um argumento válido e vice-versa, todo argumento
válido provém de uma forma válida.

3.1.2 - Argumentos válidos fundamentais


Alguns argumentos possuem uma forma válida fundamental ou dita básica; todo argumento que possuir esta
forma será fundamentalmente válido. São elas:
• Adição (AD): p p ∨ q; q p ∨ q
• Simplificação (SIMP): p ∧ q p; p ∧ q q
• Conjunção (CONJ): p, q p ∧ q
• Absorção (ABS): p → q p → (p ∧ q)
• Modus Ponens (MP): p → q, p q
• Modus Tollens (MT): p → q, ~q ~p
• Silogismo Disjuntivo (SD): p ∨ q, ~p q; p ∨ q, ~q p
• Silogismo Hipotético (SH): p → q, q → r p → r
• Dilema Construtivo (DC): p → q, r → s, p ∨ r q ∨ s
• Dilema Destrutivo (DD): p → q, r → s, ~q ∨ ~s ~p ∨ ~r

A validade desses argumentos pode ser confirmada através das tabelas verdade do condicional associado a cada
argumento. Usaremos bastante estas formas básicas para verificar a validade de outros argumentos. Este processo
é o que chamamos de regras de inferência.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

1. Construa a tabela verdade dos argumentos válidos fundamentais.

3.2 - Regras de inferência


Os argumentos básicos listados anteriormente são usados para efetuar os passos de uma demonstração ou
dedução lógica. Esses passos são denominados inferências e os argumentos básicos de regras de inferência.
Podemos representar as regras de inferência de uma maneira diferente da apresentada; colocam-se as premissas
acima de uma linha horizontal e a conclusão abaixo desta mesma linha horizontal. Essa forma de representação é
opcional, mas você poderá encontrá-la em outras fontes de estudo.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 51


EAD 2010

Essas regras de inferência também nos permitem deduzir ou inferir argumentos que tenham a “mesma forma”
dos argumentos básicos. Vejamos alguns exemplos.
Ex.: Usando a regra do Modus Ponens (MP: p → q, p q), podemos concluir a partir das premissas P1: ~p →
~q e P2: ~p a conclusão Q: ~q.
Ex.: Usando a regra do Modus Tollens (MT: p → q, ~q ~p), podemos concluir a partir das premissas P1: ~p
MATEMÁTICA

→ ~q e P2: q a conclusão Q: p.
Ex.: Usando a regra do Silogismo Disjuntivo (SD: p ∨ q, ~p q), podemos concluir a partir das premissas P1:
~p ∨ ~q e P2: p a conclusão Q: ~q.
Ex.: Usando a regra do Dilema Construtivo (DC: p → q, r → s, p ∨ r q ∨ s), podemos concluir a partir das
premissas P1: (p ∧ q) → ~r, P2: ~s → t e P3: (p ∧ q) ∨ ~s a conclusão Q: ~r ∨ t.
Viu como é simples obter conclusões através de premissas que tenham o mesmo formato de um dos argu-
mentos básicos listados anteriormente? Usaremos mais tarde este mesmo processo para testar a validade de
argumentos.

3.3 - Validade de argumentos


Veremos agora como testar a validade de um argumento. Lembre-se de que um argumento é dito ser válido se
temos uma conclusão verdadeira sempre que todas as premissas são verdadeiras. Temos várias formas de verificar
a validade de um argumento. Comecemos então a conhecê-las.

3.3.1 - Validade mediante tabelas verdade


Para testarmos a validade de um argumento da forma P1, P2, ..., P3 Q usaremos a tabela verdade do condicional
P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ P3 → Q que é o condicional associado ao argumento dado. Como dito antes, caso esse condicional
seja tautológico o argumento é válido, caso contrário, se for uma contradição ou uma contingência temos um ar-
gumento não válido, ou seja, um sofisma.
Vejamos como testar a validade de argumentos, usando este método da tabela verdade.
Ex.: Verificar a validade do argumento p → q, q p.
Observe que podemos associar o condicional (p → q) ∧ q → p ao argumento dado. Vamos então construir a
sua tabela verdade que terá 4 linhas, pois temos apenas duas proposições simples.

p q p→q (p → q) ∧ q (p → q) ∧ q → p
V V V V V
V F F F V
F V V V F
F F V F V

Nesse caso, temos um sofisma, ou seja, o argumento não é válido, porque a tabela verdade é uma contingência.
Viu que não é complicado testar a validade de um argumento através da tabela verdade? É interessante que você
perceba a importância de conhecer bem os conectivos e o valor lógico destes quando aplicado às proposições.
Vejamos, então, mais alguns exemplos.
Ex.: Verifique a validade de p ∨ q, ~q, p → r r.
Construiremos então a tabela verdade de (p ∨ q) ∧ (~q) ∧ (p → r) → r.

52 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

p q r ~q p∨q p→r (p ∨ q) ∧ (~q) ∧ (p→ r) (p∨q) ∧(~q) ∧(p → r) → r


V V V F V V F V
V V F F V F F V
V F V V V V V V

MATEMÁTICA
V F F V V F F V
F V V F V V F V
F V F F V V F V
F F V V F V F V
F F F V F V F V

Temos, portanto, um argumento válido, pois a tabela verdade do condicional (p ∨ q) ∧ (~q) ∧ (p → r) → r é


uma tautologia.
Ex.: Verifique a validade do seguinte argumento: Se 7 é primo, então 7 não divide 21. Mas 7 divide 21. Logo, 7
não é primo.
Representando esse argumento simbolicamente, podemos nomear p: 7 é primo, q: 7 divide 21; e o argumento
a ser verificado é p → ~q, q ~p. Portanto, vamos construir a tabela verdade de (p → ~q) ∧ q → ~p.

p q ~q ~p p → ~q (p → ~q) ∧ q (p → ~q) ∧ q → ~p
V V F F F F V
V F V F V F V
F V F V V V V
F F V V V V V

Nesse caso, novamente, temos uma tautologia, portanto o argumento é válido.


Você percebeu que nesse caso a forma do argumento é semelhante à do Modus Tollens? Portanto é um argumento
da “mesma forma” e sempre será válido. Ao perceber esse tipo de raciocínio, estamos fazendo um teste de validade
que não depende da tabela verdade, e sim das regras de inferência. Esse é o segundo tipo de teste de validade.

3.3.2 - Validade mediante regras de inferência


Vejamos agora como usar as regras de inferência para verificar a validade de argumentos. Este método consiste
em identificar a forma dos argumentos com a dos argumentos básicos estudados.
Ex.: Considere o seguinte argumento: Eu estudo. Eu trabalho. Se estudo e trabalho, então não tenho férias. Logo,
não tenho férias.
Para analisar a validade deste argumento usando as regras de inferência, temos que identificar quais são as
premissas, qual é a conclusão e quais conectivos estão envolvidos no argumento. Neste caso, podemos considerar
as premissas P1: Eu estudo, P2: Eu trabalho, P3: Se estudo e trabalho, então não tenho férias, e a conclusão Q: Não
tenho férias. Observe que P1, P2 e P3 são proposições compostas; destacaremos agora quais proposições simples
a compõem.
Fazendo p: Eu estudo. q: Eu trabalho. r: Eu não tenho férias, temos:
• P1: p P 2: q P3: p ∧ q → r
• Q: r

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 53


EAD 2010

Veja que usando CONJ entre P1 e P2 concluímos que p ∧ q é verdade. Usando o MP entre p ∧ q e P3, temos que
a conclusão Q também é verdadeira e, portanto, que o argumento é válido, pois possui o formato de uma regra de
inferência (MP).
Ex.: Considere o argumento P1, P2, P3 Q em que P1: p → q, P2: r, P3: q → ~r e conclusão, Q: ~p.
Temos as seguintes premissas: P1: p → q, P2: r, P3: q → ~r e conclusão, Q: ~p. Ao observar SH entre P1 e P3,
MATEMÁTICA

concluímos que p → ~ r é verdade. Em seguida veja MT entre p → ~ r e P2 nos leva a concluir que ~p é verdade,
ou seja, que a conclusão Q também é verdadeira e, portanto, que o argumento é válido .
Ex.: Considere o argumento P1, P2, P3 Q onde P1: p ∧ q, P2: p → r ∨ s, P3: ~t → ~r ∧ ~s e conclusão, Q: t.
Temos as seguintes premissas: P1: p ∧ q, P2: p → r ∨ s, P3: ~ t → ~r ∧ ~s e conclusão, Q: t. Ao observamos
SIMP de P1 concluímos que p é verdade. O MP entre P2 e p nos leva a concluir que r ∨ s é verdade. O MT entre P3
e r ∨ s nos leva a concluir que ~(~t) ⇔ t é verdade, ou seja, que a conclusão Q também é verdadeira e, portanto,
que o argumento é válido.
Espero que tenha percebido bem a aplicação das regras de inferência na investigação da validade de argumentos.
Esse tipo de investigação é bem aplicado quando se quer provar a validade do argumento, ou seja, quando já sabemos
por antecipação que o argumento é válido. Uma outra aplicação deste método é interessante quando temos um grande
número de proposições no argumento, pois isso geraria uma tabela verdade com um grande número de linhas.

3.3.3 - Método da demonstração indireta


Dado um argumento P1, P2, ..., Pn Q, demonstrar-se, por absurdo ou indiretamente, a sua validade consiste
em negar a conclusão Q, isto é, considerar-se V(Q) = F, e deduzir-se logicamente uma contradição, ou seja, que
uma das premissas é falsa.
Lembre-se de que um argumento é válido se a conclusão é verdadeira sempre que as premissas são verdadeiras.
Sendo assim, como as premissas são consideradas verdadeiras, chegar à negação de uma delas é uma con-
tradição. E, neste caso, o argumento é considerado válido.
Este método baseia-se na equivalência entre uma condicional (p → q) e a sua contrapositiva, ~q → ~p.
P1, P2, ..., Pn Q é válido ⇔ P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn → Q é tautológica
⇔ ~Q → ~(P1 ∧ P2 ∧ ... ∧ Pn) é tautológica
⇔ ~Q → ~P1 ∨ ~P2 ∨ ... ∨ ~Pn é tautológica.

Se ao negar a conclusão de um argumento não chegarmos à negação de nenhuma das premissas, então o
argumento não é válido, logo é um sofisma. Vejamos como testar um argumento usando este método indireto.
Ex.: Verificar a validade de p ∨ q, ~r ∨ ~q ~p → ~r.
Inicialmente, sabemos que as premissas são verdadeiras, ou seja, V(p ∨ q) = V(~r ∨ ~q) = V. Supondo, que a
conclusão é falsa, isto é, que V(~p → ~r) = F, concluímos que V(~p) = V e V(~r) = F. Logo, V(p) = F e V(r) = V
Como V(p ∨ q) = V e V(p) = F, temos que V(q) = V. Daí, V(~r ∨ ~q) = V(~r) ∨ V(~q) = F ∨ F = F. Absurdo,
pois uma premissa não pode ser falsa. Portanto, o argumento é válido.
Ex.: Verificar o argumento p → q, r → q, r ∨ ~p, ~q ∨ s s.
Inicialmente, sabemos que as premissas são verdadeiras, ou seja, V(p → q) = V(r → q) = V(r ∨ ~p) = V(~q ∨
s) = V. Supondo que a conclusão é falsa, isto é, que V(s) = F, como V(~q ∨ s) = V concluímos que V(~q) = V e,
segue que, V(q) = F.
Como V(q) = F, da premissa 1, concluímos que V(p) = F e, da premissa 2, que V(r) = F. Como V(p) = V(r) =
F, temos que V(~p) = V, ou seja, a terceira premissa é verdadeira, como já era esperado.
A negação da conclusão do argumento não nos levou à negação de nenhuma das premissas e, assim, o argu-
mento não é válido, e temos um sofisma.

54 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

Temos realmente muitos caminhos para verificar a validade de um argumento. Espero que você se divirta, es-
colhendo o melhor caminho para verificar a validade dos argumentos que você irá estudar.
Lembra-se do problema proposto anteriormente? Tenho certeza de que ainda está querendo saber o resultado.
Veremos agora algumas aplicações da lógica matemática.

MATEMÁTICA
3.4 - Aplicações da lógica
3.4.1- Problemas interessantes
Veremos agora como aplicar a lógica matemática em alguns problemas interessantes. Inicialmente relembremos
o problema já proposto:
EX.: Há três suspeitos de um crime: o cozinheiro, a governanta e o mordomo. Sabe-se que o crime foi efetivamente
cometido por um ou mais de um deles, já que podem ter agido individualmente ou não. Sabe-se ainda que: A) se o
cozinheiro é inocente, então a governanta é culpada; B) ou o mordomo é culpado ou a governanta é culpada, mas
não os dois; C) O mordomo não é inocente. Logo:
• a governanta e o mordomo são os culpados.
• somente o cozinheiro é inocente.
• somente a governanta é culpada.
• somente o mordomo é culpado.
• o cozinheiro e o mordomo são os culpados.

Veja que para resolver esse problema precisamos identificar quais as proposições simples estão envolvidas e
quais conectivos as relacionam.
Considere: p: o cozinheiro é inocente, q: a governanta é inocente, r: o mordomo é inocente. Observe que temos
duas premissas essencialmente verdadeiras e o valor lógico da proposição r; são elas: P1: p → ~q, P2: ~r ∨ ~q
e V(r) = F, logo V(~r) = V. Veja que por P2 temos que V(~q) = F e V(q) = V; por P1 temos que V(p) = F. Assim,
concluímos que:
• V(p) = F: o cozinheiro é culpado.
• V(q) = V: a governanta é inocente.
• V(r) = F: o mordomo é culpado.

Assim, a alternativa correta é “o cozinheiro e o mordomo são os culpados”.


Gostou da solução do nosso mistério? Espero que tenha entendido bem o procedimento da resolução desse
problema. Veja que fizemos uma comparação com o estudo dos argumentos; usamos a valor lógico verdadeiro
das premissas, para verificar qual conclusão plausível encontraríamos. Tenho certeza de que você quer ver mais
problemas como esse. Então vamos lá.

Ex.: Se Beraldo briga com Beatriz, então Beatriz briga com Bia. Se Beatriz briga com Bia, então Bia vai ao bar. Se
Bia vai ao bar, então Beto briga com Bia. Ora, Beto não briga com Bia. Logo:
• Bia não vai ao bar e Beatriz briga com Bia.
• Bia vai ao bar e Beatriz briga com Bia.
• Beatriz não briga com Bia e Beraldo não briga com Beatriz.
• Beatriz briga com Bia e Beraldo briga com Beatriz.
• Beatriz não briga com Bia e Beraldo briga com Beatriz.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 55


EAD 2010

Novamente vamos nomear as proposições simples envolvidas nesse problema: p: Beraldo briga com Beatriz, q:
Beatriz briga com Bia, r: Bia vai ao bar, t: Beto briga com Bia. Vejamos quais são as premissas que constam neste
argumento:
P­1: p → q P 2: q → r P 3: r → t
MATEMÁTICA

Como V(t) = F, por P3 temos que V(r) = F; com isto, por P2 temos também que V(q) = F, e finalmente, por P1
concluímos que V(p) = F. Lembre-se de que por se tratar de um argumento, consideramos todas as premissas
verdadeiras. Sendo assim, as proposições p, q, r e t são todas falsas, e a alternativa válida no problema é: “Beatriz
não briga com Bia e Beraldo não briga com Beatriz”.
Tenho certeza que ficou com vontade de resolver outros probleminhas interessantes como este.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Para resolver mais probleminhas lógicos como os vistos agora


visite:
w w w. p o n t o d o s c o n c u r s o s . c o m . b r / a d m i n / i m a g e n s /
upload/1604_D.doc.

?? SAIBA MAIS
?
Para conhecer mais sobre argumentos visite:
http://www.scribd.com/doc/6809374/Dudu-Cearense-lOgica-
MatemAtica-Para-Concursos-07-Argumentos

3.4.2 – Circuitos
Na vida diária nos deparamos com dispositivos físicos de dois estados tais como interruptores, contatos, diodos,
transistores, entre outros. Dependendo do dispositivo em questão, eles podem tomar os estados ligado/desligado,
conduzindo/não conduzindo, fechado/aberto, carregado/descarregado, magnetizado/não magnetizado, alto-potencial/
baixo-potencial, etc. Em um circuito elétrico, uma chave é um dispositivo ligado a um ponto do circuito e que pode
tomar um dos dois estados, fechado ou aberto. Essas chaves ligam e desligam conforme o estado binário “Ver-
dadeiro” ou “Falso” da sentença lógica que neste caso representaremos por (0) ou (1) respectivamente. Para se
construir um circuito se faz uso de portas lógicas. As combinações entre tais portas podem dar origem aos mais
diversos tipos de circuito.

3.4.2.1- Portas Lógicas


As portas lógicas são os dispositivos que, ao serem combinados, dão origem aos mais diversos tipos de circuito.
Conheça algumas portas lógicas.

• NOT
É a porta que faz a inversão (ou negação).

56 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA


EAD 2010

Sua representação gráfica é


Sua tabela verdade é
A A
1 0

MATEMÁTICA
0 1

• AND
É a porta que faz a conjunção (ou produto).

Sua representação gráfica é
Sua tabela verdade é
A B A⋅B
1 1 1
1 0 0
0 1 0
0 0 0
• OR
É a porta que faz a disjunção (ou soma).

Sua representação gráfica é


Sua tabela-verdade é
A B A+B
1 1 1
1 0 1
0 1 1
0 0 0

• NAND
É equivalente a uma porta and seguida de uma porta not.
Sua representação gráfica é
Sua tabela-verdade é
A B (A ⋅ B)'
1 1 0
1 0 1
0 1 1
0 0 1

Vale lembrar que (A ⋅ B)’ = A’ + B’

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EAD 2010

• NOR
É equivalente a uma porta or seguida de uma porta not.

Sua representação gráfica é


Sua tabela-verdade é
MATEMÁTICA

A B (A + B)'
1 1 0
1 0 0
0 1 0
0 0 1

Vale lembrar que (A + B)’ = A’ ⋅ B’

• XOR
É a porta correspondente ao ou exclusivo.

Sua representação gráfica é


Sua tabela-verdade é

A B A±B
1 1 0
1 0 1
0 1 1
0 0 0

Finalmente concluímos nosso estudo sobre a lógica matemática. Espero ter contribuído para a sua formação e
desejo que continue seu curso com bastante empenho. Bons estudos!

Bibliografia Consultada

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EAD 2010

ALENCAR FILHO, E. Iniciação a Lógica Matemática. 18ª Ed. São Paulo: Nobel, 2000.

IEZZI, G. Fundamentos de Matemática Elementar. Vol 1. 3ª Ed. São Paulo: Atual, 1977.

DAGHILIAN, J. Lógica e Álgebra de Boole. 3ª Ed. São Paulo.

MATEMÁTICA
NOLT, John e ROHATYN, Dennis. Lógica. São Paulo: Ed. Mc Graw-Hill, 1991.

Disponível: http://www.pucsp.br/~logica/ , acesso em 27jan2010.

Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica, acesso em 27jan2010

Disponível: www.pontodosconcursos.com.br/admin/imagens/upload/1604_D.doc acesso em 27jan2010.

Disponível: http://www.scribd.com/doc/6809374/Dudu-Cearense-lOgica-MatemAtica-Para-Concursos-07-Argumentos,
acesso em 27jan2010.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 59

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