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osebodigital.blogspot.com
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Autor - Ziraldo Alves Pinto

Coordenação Editorial - Zélia WQelman

Capa - Ziraldo

Diagramação - Luscar

Ilustrações

Albert Piauí
Altan
Cássio Loredano
Caulus
Demo
Duayer

Henfil
If
Jaguar
Luscar
Millôr
Nani
Redi
Reinaldo
Wanderley
Ziraldo

Revisão - Cachafer

Editora Codecri Ltda

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Para

Manoel e Joaquim
de quem não temos mais
nenhuma razão para rir.

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A princípio me pareceu que este livro, contando anedo-
tas, não ia precisar de um prefácio. Depois me ocorreu que
valia a pena, pelo menos, dar uma explicação.
Já contei, nestes três últimos anos de O PASQUIM, mais
de mil anedotas, algumas muito muito velhas, outras muito
novas e um grande número de clássicos inesquecíveis. Muito
antes de começar a Antologia nas páginas de nosso jornal, eu
tinha o plano de um dia sair por aí recolhendo as anedotas
todas de minha vida e juntar tudo num livro.
Eu sou daqueles que gostam de contar e ouvir anedo-
tas, sempre com uma boa coleção de inéditas para as minhas
festas e reuniões. Achava que era só me decidir e dava para
lembrar de todas e começar a escrevê-las, uma a uma. Não
ia dar nunca. Foi quando me lembrei que podia começar pelo
PASQUIM, publicando as que me ocorressem e pedindo mais
dos leitores. Foi fantástica a colaboração recebida.
É verdade que, assumida a missão, eu saí por aí, procu-
rando antologias estrangeiras, coleções, estudos, pesquisas,
o que fosse sobre o assunto (até um livro do Isaac Azimov,
contando, comentando e explicando anedotas, eu achei).
A maioria, porém, das anedotas publicadas pela seção
d’O PASQUIM foram os leitores que me mandaram, numa
correspondência mais volumosa que a de ator de telenovela.
Gostaria de agradecer a cada um deles, mas são três anos de
cartas e eu jamais pensei em me organizar nesse nível. Al-
guns leitores chegaram a transformar em hábito sua corres-
pondência para a seção. Estou dizendo aqui, muito obrigado
a cada um deles. E agradeço por uma razão muito simples: a
coleção de anedotas, cuja publicação em livro iniciamos nes-
te volume, é um trabalho que me parece importante e sério.
Sem méritos nenhum para mim que apenas cumpri uma dis-
ciplina semanal de sentar à máquina, selecionar as anedotas
e tentar contá-las como quem está de pé no meio da roda.
Do jeito que eu as ouvi.
Esta pequena introdução tem, na verdade, o propósito
único de chamar a atenção do leitor para este detalhe: aqui
não estão reunidas piadas tiradas de rodapés de revistas,

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nem tópicos de seção de humor, nem piadas criadas por hu-
moristas profissionais. Aqui estão reunidas — e selecionadas
— as anedotas mais engraçadas que já ouvi, vindas não se
sabe de onde, criadas não se sabe quando, nascidas e rein-
ventadas na imaginação popular, subsídios concretos para
a compreensão da natureza e do comportamento humanos,
elaboradas pela imensa necessidade que o homem tem de
rir de si mesmo. E isto tudo feito através de um trabalho de
recolhimento da literatura oral, sem cordel ou gravador de
fita, seguras aqui antes de uma perda que seria, por todos os
lados, imensamente triste.

Ziraldo

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O caçador inglês estava numa festa da alta sociedade,
todo paparicado, passeando seus longos bigodes brancos,
manchados de fumo e uísque, pelos salões.
De repente, a dona da festa tomou-o pelo braço e o le-
vou a um grupo de senhoras interessadíssimas em ouvir ele
contar suas últimas aventuras na África.
Lord Hunter — excelente nome para um caçador, hum?
— aproximou-se, tomou a frente do grupo, pigarreou e come-
çou sua história.
Todas as mulheres em volta pararam seus gestos no ar
e ficaram fascinadas a figura crestada e máscula do velho
caçador.
E Lord Hunter contava:
— Estava eu em plena selva, completamente só, pas-
seando tranqüilo depois de duas cansativas semanas de
perseguição a um ferocíssimo leão que assustava aquelas
paragens. (Isso tudo, contado num inglês oxfordiano, natu-

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ralmente, primoroso.)
— De repente. E ele abriu os braços e fez o gesto de
quem se assusta.
As mulheres todas: ohhhhhhhhh!
— De repente — continuou ele — apareceu na minha
frente, quem? Who?. .. The lion!
As mulheres: ohhhhhhhh!
— Eu olhei o leão na cara e ele fez para mim: GrrrrRRRR-
AAAAUUUIlOOORRRCCGRRRHHHHHGRUNffffffffffwaharro-
www-woooogfrrrrsfst!
E Lord Hunter deu um berro tão alto, tão veraz, que
todos os convidados correram para o local onde ele contava
sua história, para ouvir a continuação.
— Eu não titubeei. Tomei do meu fuzil. Estava sem o
fuzil!
— Ohhhhhhhhhhhh!, fizeram todos.
— O leão aproximou-se mais.
Aí, Lord Hunter empolgado abriu mais a boca, balançou
mais a língua. e fez: GGGGGGRR-RRRRRRhhhhHHHhgggR-
fdkuijgujgujGGGHHHhhhwurodktltiujjjfhr-uhfjgjgitHHHD-
GRRGRRRRwahtiutekksisighlost!
O grito de Lord Hunter foi tão grande que as mulheres
gelaram em seus lugares. Lord Hunter estava roxo, o rosto
inflado, os olhos cheios de raiozinhos vermelhos, projetados
pra fora. Olhou em volta — estava, como se vê, fácil de olhar
em volta — todos estavam emocionadíssimos, interessadissi-
mos, tensos. Ele sentiu que estava agradando.
— Eu, então, passei a mão no meu revólver. Estava sem
o revólver.
— Ohhhhhhhhhh!, fizeram todos, com as faces cheias
de pavor.
Lord Hunter deu um passo à frente.
— O leão aproximou-se mais e fez... Nesta altura, Lord
Hunter deu uma paradinha, respirou fundo, abriu mais ain-
da a boca, arregalou os olhos, raspou violentamente o fundo
da garganta e fremiu todo o corpo, tonitroante.
— E fez:GGGGGGRRRRRRRrrrrrrrrhhhhhhwhwhwh-

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thjjgujggrhhhiooioiouuulllgrgggrrrrkkkdleotjdncjgnbuncvvx
xteggHHHHGRrrrrrrwhhoootuuuuiiiigrrrururugucguruisol-
gieijjewhotiooscgrlaftstrungggggh!
Foi o rugido mais pavoroso que alguém jamais ouviu.
Tremendo ainda, Lord Hunter parou de repente, deu um pas-
so atrás e disse:
— Borrei-me todo!
Foi um susto geral, o maior mal-estar. Algumas senho-
ras, porém, empolgadas com a heróica narrativa procuraram
justificar:
— Claro, claro. O senhor tem toda razão. Frente a frente
com um leão, assim, em plena selva, completamente desar-
mado, o senhor tinha que fazer isto.
— É justo. Justo, concordaram todas. Mas, Lord Hun-
ter explicou:
— Não, não. Borrei-me todo, agora, imitando o leão.

***

Um cara resolveu viajar para o mais fundo do interior


do país. Chegou a um lugarejo tão miserável, mas tão mise-
rável que nem avião passava por cima. O diabo do lugar não
tinha nada. Aí, chegou-se para um velho e amarrotado mora-
dor do lugar e perguntou:
— Mas aqui, não chega nada de fora?
— Chegauquê, moço!
— Mas, nem as coisas mais essenciais para a vida?
— Isso chega, moço. Mas, vem tudo farsifiçado. Arco
puro!

***

Um marido surpreende sua mulher nos braços do seu


melhor amigo:
— Meu velho... logo você, meu melhor amigo? Coitado!
Eu sim, eu sou obrigado. Mas, você? Por que você?

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***

Vinha um cara numa moto com uma garota ótima na


garupa. Aí, ele parou na porta de um bar e disse á moça pra
esperar. E a moça ficou sentadinha na garupa da moto e o
cara não desligou a moto. E a moça ficou lá atrás, toda tre-
mendinha, pop, pop, pop, pop, pop. . . Mas, como a rapaz ia
demorar pouco, ela ficou lá em cima da garupa, pop, pop,
pop.. . tremendinha.
Aí, o cara entrou no bar e lá dentro encontrou um ami-
go dele e o amigo convidou para um chopp. Como tinha mui-
to tempo que os dois não se viam, o cara topou o chopp e a
moça ficou lá fora, na garupa, pop, pop, pop, pop. .. E toma-
ram outro chopp e engrenaram num papo adoidado e a moça
lá fora, montadinha na garupa e o motor da moto mandando
ver, pop, pop, pop...
Aí, passou um guarda e a moça chamou aflita:
— Seu guarda, vem cá! Pelo amor de Deus, desliga essa
moto. ..
O guarda tentou desligar, pelejou, mas, não conseguiu.
Aí, a moça vendo que não dava pro guarda desligar a moto,
jogou sua cabecinha pra trás toda lânguida e falou para ele:
— Então, me dá um beijinho, me dá um beijinho...

***

Era uma vez um espermatozóide muito simpático. Tão


simpático que todo mundo chamava ele de Zóide só, de tão
íntimo. Ela era simpático, mas muito fraquinho. De forma
que, toda vez que a Central tocava alerta e os outros todos
saíam correndo em disparada louca em busca da saída, nun-
ca conseguia chegar lá fora. Um dia ele foi procurar o chefe
geral e falou de seus problemas, que ele era cheio de sonhos
e de planos, que ele queria sair dali, que ele estava convenci-
do que tinha um grande futuro pela frente, que ele sentia que
havia um lugar para ele lá fora, onde ele poderia se unir a um
sonhado óvulo e então criar uma vida cheia de esperanças e

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de ideais.
O chefe geral ficou comovido e falou pro pessoal que,
na próxima vez que tivesse chamada, que o pessoal botasse
o Zóide na frente pra ele sair primeiro. E dito e feito. Tocou
a chamada e botaram ele na frente e foi aquele empurra-em-
purra pra saída e o Zoidizinho na frente, todo feliz, quando,
de repente, ele dá aquela freada e começa a gritar desespe-
rado:
— Pára! Pára! Pára!
— Pára, por quê? — pergunta o chefe. — Não é isso que
você queria?
— Não. Não. Pára, que desta vez é com a mão!

***

O velho Juca tinha um casarão meio retirado da cidade


e estava passando sérias dificuldades. Foi quando um res-
peitável morador do local procurou-o com uma idéia mara-
vilhosa:
— Olha aqui, seu Juca, essa sua casa aqui tão afasta-
da, tão bonita, aí, vazia. Acho que o senhor podia ganhar um
dinheirinho bom com ela...
— Como, doutor?
— Olha, o senhor podia me alugar sua casa todas as
sextas-feiras pra eu dar umas festinhas pros meus amigos.
Negócio meio fechado, assim, só gente muito chegada...
Seu Juca achou a idéia ótima e na sexta-feira seguinte,
baixaram no casarão todas as figuras eminentes da cidadezi-
nha, cada um trazendo seu brotinho, sua garrafinha de uís-
que, seu olhar de safado e a festa foi aquela orgia.
Seu Juca sentiu a barra e ficou de guarda no portão
da casa, com o bolso cheio da grana. E aquilo virou moda.
E ele se encheu de dinheiro e ainda dava pra assistir, meio
de longe, a safadeza comendo solta lá dentro da casa, aquela
farra grega, faunos e ninfas se acabando sob a guarda do seu
Juca. Mas teve uma sexta-feira que foi aniversário da cidade.
E a sociedade local resolveu dar uma festa. E não tinha um

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salão na cidade que servisse para uma festa tão importante.
E não foi que uma das senhoras teve a idéia de fazer a festa
no casarão do Seu Juca!
E estava ele lá no portão, quando os convidados co-
meçaram a chegar com suas respeitáveis esposas. Seu Juca
levou o maior susto vendo o pessoal que chegava. Por último,
passou seu velho amigo, de braços com madame. Seu Juca
olhou pra ele e falou:
— Puxa-vida, a festa hoje vai ser de arromba, hem,
compadre? Com esse bando de vigaristas que vocês trouxe-
ram!...

***

Era na época que Londres tinha fog. Não sei se vocês


sabem, mas inglês acredita em ecologia e, graças a medidas
neste campo, acabaram com o fog de Londres. Mixou um
pouco a literatura de terror inglesa, mas melhorou muito a
saúde dos súditos de Sua Majestade. Bom, mas o caso não
é esse. É um caso com o fog. Lá vinha o velho inglês voltan-
do para casa sem enxergar um palmo à sua frente. E vinha
tateando o caminho com sua bengala, bem devagarinho, toc,
um passo, toc, toc, dois passos e lá ia ele. De repente, sua
bengala não encontrou nada pela frente. Ele esticou o braço
esperando o toc da batida da bengala no chão, mas nada:
seu braço foi até lá embaixo. E ele deduziu que tinha um
enorme buraco à sua frente. Virou-se um pouquinho para a
esquerda, esticou a bengala, nada. Vazio. Virou-se um pou-
quinho, esticou o braço esperou o toc, nada. Deu mais uma
rodadinha, a mesma coisa: nada. Acabou dando uma volta
completa, experimentando o chão com a bengala e não tendo
resposta. Deduziu que estava ilhado. Mas, como? Em cima
de quê? De uma pedra? Numa ilha? Que buraco era esse em
volta? Inglês, porém, não se aperta. Que é que ele fez? Ficou
quietinho no lugar e esperou o dia amanhecer, o fog baixar, o
sol iluminar em volta pra continuar sua caminhada.
E tal se deu. A noite passou, o fog desapareceu, o sol

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voltou a brilhar e ele pôde descobrir que sua bengala estava
quebrada.

***

O índio da Transamazônica todo dia passava pelas


obras, com um menino na mão e uns livros debaixo do braço.
Um dia, o engenheiro perguntou pra ele:
— Onde vai com estes livros?
— Pra escola!
O engenheiro ficou maravilhado!
— Que coisa edificante, ver um índio brasileiro levar
uma criança para a escola.
— Não é criança, não. Quem vai escola é índio mesmo!
— Ah. . . que empolgante — falou o engenheiro que era
muito desenvolvimentista e orgulhoso do nosso PNB.
Aí, deu uma paradinha, uma pensadinha e perguntou:
— E o menino?
— Ah! — falou o índio — menino é merenda!

***

Não tem ninguém mais renitente que cearense. Pois,


um dia, lá vinha ele pela estrada, quando se encontrou com
um amigo:
— Bichinho, domingo que vem, eu vou lá na sua casa.
— Não diz assim, cabra. Deus castiga. Diga: Se Deus
quiser, domingo eu vou à sua casa.
— Olha aqui, compadre, comigo, não. Se Deus quiser
ou não quiser, eu vou!
Foi ele falar, o céu trovejar, um raio cair em cima dele e
ele virar um sapo.
O tempo passou, o castigo acabou e ele virou gente de
novo. E no dia seguinte encontrou o mesmo amigo:
— Domingo, eu vou lá na sua casa.
— Se Deus quiser, não é?
— Se Deus quiser, coisa nenhuma. Eu vou de qualquer

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jeito.
Bum!!! Outro raio e ele tornou a virar sapo. E muito
tempo se passou e o castigo passou e ele voltou a ser gente e
a encontrar o compadre e a dizer:
— Domingo, eu vou...
— Se Deus quiser...
— Que Deus quiser, coisa nenhuma, home! Se Ele qui-
ser, eu vou. Se Ele não quiser, lagoa tá aí mesmo!

***

Chega o menino na farmácia:


— Seu Moacir, me dá um rolo de papel pra limpar a
bunda.
— Não diga assim, meu filho. Que coisa. Peça papel hi-
giênico! Um menino tão bonitinho.
O menino até que era comportado e obediente. Tanto
que na semana seguinte voltou, a farmácia cheia, ele pediu
alto:
— Seu Moacir, me dá um rolo de papel higiênico.
Seu Moacir exultou. Menino bom. Deu pra ele o rolo e o
menino foi saindo sem pagar. Já na porta, ele pára pra res-
ponder ao Seu Moacir que lhe grita:
— É pra debitar?
— Não senhor, é pra limpar a bunda.

***

Na alfândega, Jacó desembarca com três malas e um


papagaio.
O fiscal abriu a primeira mala e ela estava cheia de
café.
— Pra que isso?
— Pro babagaio comer.
O fiscal aceitou e abriu a segunda. Cheia de gravadores,
rádios, relógios, o diabo.
— Pra que isto?

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— Pro babagaio comer.
— Sei. . . falou o fiscal. E abriu a terceira. Cheia de
jóias.
O fiscal cocou a cabeça. Jacó, imperturbável.
— E essas jóias? São pro babagaio comer, também?
— São. Tudo pra babagaio comer.
— E se o babagaio não comer? — berrou o fiscal.
— Jacó vende tudo!

***

— Me dá cinqüenta contos — pediu o mendigo ao ho-


mem parado na calçada.
— Tá maluco! Onde já se viu?
— Me, dá quarenta
— Deixa disso, rapaz.
— Então me dá trinta.
— Dou não.
— Me dá vinte.
— Jé disse que não dou, rapaz. Não dou nada!
— Então, me dá dez. Dez!
— Não dou.
— Me dá cinco.
— Não.
— Dois.
— Não.
— UM.
— Não!!! Pausa.
— Me carrega.

***

Mineirinho passou uns dois meses enfurnado no fundo


do quintal. Quieto, misterioso, cheio de mumunhas. Mineiri-
nho estava preparando alguma. Mas, não era nada. O muito
vivo estava era montando uma Romisetta muito da velhinha
que ele tinha ganhado no jogo do pau de fósforo. E, com

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muito jeito e muita paciência, ele tinha botado o carrinho em
forma e saiu por aí, em cima das três rodas da Romisetta,
mandando ver. Já na estrada, ele passa por um enorme ca-
minhão parado.
— Que foi que houve, sô? — ele pergunta ao chofer.
— Ah, bicho — diz o chofer — eu vinha descendo a serra
aí, na maior banguela, dispinguelado. Chegou aqui na vár-
zea, cadê que a marcha entrou? Não vai dá pra subir a serra
aí da frente.
— Cê tem uma corda forte? — perguntou o Mineirinho.
— Corda?
— É. Se tem, me dá aí.
— Que é que você vai fazer?
— Vou amarrar seu Scania aí na minha Romisetta e
puxar ele serra acima.
— Tu tá doido.
— Tou não. Tou não. Marra p’rocê ver.
O chofer não tinha nada a perder, amarrou seu enorme
caminhão na traseira da recauchutadíssima Romi do Minei-
rinho. E ele saiu puxando o diabo do caminhão serra cima,
pra susto do chofer. Lá no meio da serra, porém, a Romi
começa a engasgar, a soltar uma fumaça negra, e tuc, tuc, e
vai parando e pára.
— Não disse — gritou o chofer saltando do caminhão.
Não disse que o carrinho não ia agüentar.

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— Foi nada não — falou o Mineirinho, quando ele che-
gou perto. — Pode voltar pro caminhão. É que eu esqueci o
freio de mão puxado!

***

Lá vem o cara no seu Mercedão pela estrada afora. De


repente, na beira do caminho, duas velhinhas pedindo caro-
na. O cara pára o caminhão e manda as duas velhinhas su-
birem. As velhinhas sobem e o caminhão continua a viagem.
Como hoje estamos descendo muita serra de caminhão, che-
gou a hora de descer a serra. O chofer com o maior cuidado,
até que o ajudante se vira pra ele e diz:
— Não fica gastando combustível homem. Tira a mar-
cha e mete na banguela!
— Ni mim, não! Ni mim, não! — gritou imediatamente
uma das velhinhas, exibindo uma gengiva enorme, sem den-
te nenhum.

***

Seis anos de psicanálise, algumas semanas de refle-


xologia, abandono total, leituras profundas, a busca de si
mesma, a vontade de saber quem é, releitura de Simone de
Beauvoir, briga com Esther Villar pelos jornais, a mocinha
lutava, tadinha, para se encontrar.
Rica, deslumbrada, burra, ela sofria feito uma dana-
da, procurando dar grandiosidade a sua existência, tomando
banhos frios incríveis depois dos encontros com seus ávi-
dos namorados, confessando e comungando aos domingos,
numa busca mística; jogando flores pra Iemanjá, levando
pinga pra Exu, toda enrustidinha. Chegou finalmente o dia
em que a solução era uma grande viagem através do mundo.
E ela foi de navio. E todas as noites, em pleno mar, lá ia ela
pro camarote escrever seu diário:
Segunda-feira — Hoje fui convidada para almoçar com o
comandante do navio. Oh, Deus, que encontro emocionante.

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É um italiano lindo, moreno, olhos enormes, tímidos e muito
jovem para seu posto tão importante. Que homem simples e
bom!
Terça-feira — Passei toda a manhã na ponte de coman-
do, convivendo com os oficiais, passeando pelas partes do
navio reservadas à tripulação. Eles têm até piscina só pra
eles. Fiquei lá, tomando banho de sol. O comandante não me
abandonou um só minuto. Fiquei preocupada pelos outros,
ele só vai a mim. Que linda viagem.
Quarta-feira — O olhar do comandante estava muito
estranho hoje, na piscina.
Quinta-feira — O comandante me fez uma proposta in-
decorosa. Oh, meu Deus, são todos iguais. Onde está a gran-
deza do homem?
Sexta-feira — Ainda não sei onde está. O comandante
me disse que se eu não ceder, ele afunda o navio.
Sábado — Estou muito feliz hoje. Salvei mais de qui-
nhentas vidas!

***

Lá ia o trem. Sentado num dos bancos, um rapazinho


chorando. Aquilo estava incomodando profundamente a to-
dos os passageiros do vagão, a tristeza no ar, os soluços do
rapazinho. De repente, um dos passageiros não resiste e per-
gunta:
— Por que é que você está chorando, meu filho?
— É que eu descobri que minha mãe tem um amante.
Choque geral. O passageiro pensa um pouco e volta a
falar com o rapaz.
— Que é isso, meu filho. Por um motivo tão à toa. Dei-
xe isso pra lá, eu sempre soube que minha mãe tinha um
amante e nunca me importei.
— Claro — falou um outro tentando ajudar — isto é
absolutamente normal. Pare suas lágrimas. Minha mãe tam-
bém sempre teve seus amantes e eu nunca liguei. Não é? —
falou para um terceiro.

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— Evidente — respondeu este, consolador — isto não
vale uma lágrima. Minha mãe também sempre cheia de
amantes. Ela vive a vida dela, eu a minha.
— É o que eu digo — falou um outro, todos tentando
ajudar o menino — chorar por tão pouco. Olhe pra mim. Não
sou um homem feliz? Pois então, e sabe? Minha mãe sempre
teve amantes, sempre. Desde que eu sou criança. Normal,
meu filho, normal!
Estavam todos neste papo, quando lá do fundo do va-
gão se levanta um homem com um cigarro apagado na boca,
procurando alguma coisa nos bolsos. Nisto ele pára, escuta a
conversa e grita pro pessoal:
— Será que não tem um fidaputa desses aí que me ar-
ranje um fósforo?!

***

JUIZ — O senhor é acusado de ter sido encontrado num


terreno baldio, fazendo amor com uma mulher morta.
BÊBADO — Quem, seu juiz, eu???
JUIZ — Sim, senhor.
BÊBADO — Mas. . . aquela mulher, hic, que tava lá co-
migo no mato. . . tava morta?
JUIZ — Vai dizer que o senhor não sabia?
BÊBADO — Juro que não sabia, seu juiz. Eu tava pen-
sando que era uma inglesa!

***

E tem a da cidadezinha do faroeste, caçada do ouro,


aquelas coisas, tudo muito longe, um sol danado, mulher
nenhuma. Pois chegou um advogadozinho novo pra cidade
pra quebrar o galho do pessoal que trabalhava nas minas e
foi ficando por ali, ficando, ficando, até que reparou que já
não estava podendo dormir direito, tinha que tomar uns dez
banhos frios por dia, aquelas coisas.
Um dia ele se chegou pro seu melhor amigo na cidade-

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zinha e perguntou:
— Como é?
— Tá cheio de bicho por aí, rapaz, galinha, marreca,
pata, mula, égua, cabrita, o diabo. Te vira.
— Jamais! — falou indignado o jovem mancebo. Morro,
mas não faço uma coisa dessas.
— Mas aqui todo mundo faz.
— Todo mundo, menos eu.
E não fez. Quer dizer, não fez até umas semanas mais
tarde. Teve uma tardezinha lá que ele não agüentou. Viu
passar uma porquinha muito da mimosa na frente dele, zás,
passou a mão na leitoinha. Botou ela debaixo do braço e já
ia a caminho de casa, quando resolveu passar no bar pra
tomar uma coragem, uns dois tragos pra conturbar um pou-
co a mente cheia de culpa. Entrou no bar com a porquinha
debaixo do braço, chegou no balcão e pediu um uísque du-
plo. Enquanto o uísque não vinha ele reparou que estava o
pessoal todo do bar de olho nele, com aquele olhar acusador,
assustado, cheio de censura, pavor e reprovação. Ele não
resistiu. Virou-se pro bar cheio e berrou:
— Que é que há? Por que é que vocês estão me olhando
assim? Afinal, todos vocês aqui nesta cidade fazem isto, não
é?
— É claro que fazemos — respondeu um deles.
— Então!? Por que é que estão me olhando deste jeito?
— É que essa aí, meu chapa... essa aí é caso do dele-
gado!

***

Agora, história boa de castigo é aquela do crioulo que


encontrou uma lâmpada toda empoeirada no meio do cami-
nho. Esfregou a lâmpada e apareceu o Gênio. E falou que ele
podia pedir o que quisesse. E o crioulo pediu:
— Eu quero ser branco e viver entre as mulheres! O gê-
nio, imediatamente, transformou ele num modess.

22
***

Duas bichonas resolvem comemorar a Semana Santa


com todo ritual, tudo direitinho, fazendo promessa e tudo.
Mas, eis que na saída da igreja vem passando por elas um
bofe magnífico, um marinheiro lindão! Uma delas não se con-
tém e pisca pro marujo.
— Que é isso, Marie Chantal? — pergunta a outra. —
Você não sabe que é pecado comer carne na Semana Santa?
— Bobagem, querida. Marinheiro pode. Marinheiro é
peixe!

***

O pinta do interior ajoelhou-se no confessionário:


— Seu Padre, eu vim me confessar.
Primeiro, o padre, que já conhecia o cafajeste, se assus-
tou. Depois, entendeu que chega um dia em que todo mundo
se arrepende:
— Quais são seus pecados, meu filho.
— Bem, seu Padre, eu tive aí uma relação mais íntima
com uma senhora da nossa melhor sociedade.
— Sei, sei, meu filho. Quem?
— Não vou poder declinar o nome da distinta, seu Pa-
dre.
— Sinto muitíssimo, meu filho, mas se você não me dis-
ser quem é, não vou poder perdoar lhe.
— Um cavalheiro não tem memória, seu Padre.
— Foi a professorinha da Escola Dom Mimoso, meu fi-
lho?
— Não, seu Padre. Não foi, não.
— Foi a Dona Tininha, meu filho?
— Não, seu Padre. Não foi, não.
— Então só pode ter sido a filha mais velha do Coronel
Pipico ou a sobrinha de Dona Alaíde.
— Foi nenhuma das duas, seu Padre.
— Sinto muito, meu filho. Ou você me diz quem foi ou

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não posso te perdoar.
O rapaz zangou-se, virou no joelho, levantou-se do con-
fessionário e saiu à toda. Foi saindo e esbarrou num velho
amigo que lhe perguntou assustado:
— O Padre te perdoou?
— Perdoar, não perdoou, não — disse o pinta — mas me
deu quatro dicas sensacionais!
***
O Frankenstein convidou o Vampiro para jantar com
êle. Aí, os dois comeram um guisadinho maravilhoso. Aí,
o Vampiro disse que o guisado estava muito bom, que o
Frankenstein devia convidá-lo outra vez para comerem outro
guisado daqueles.
E o Frankenstein disse:
— Impossível.
E o Vampiro perguntou:
— Por quê?
E o Frankenstein respondeu: — Mãe só se tem uma!

***

Um cara chegou para o outro na rua e perguntou as


horas. O outro respondeu que eram doze e quinze. Então o
primeiro virou-se para ele e disse:
— Quando for doze e meia o senhor vá para a PQP!
Disse isto e saiu correndo. O cara ficou tão indignado
que saiu voando atrás do cretino. Corre daqui, corre dali,
pela cidade inteira, na maior velocidade. O perseguidor aca-
ba se chocando com um transeunte, caem os dois no chão.
— Onde o senhor vai com tanta pressa? — pergunta o
transeunte, fazendo uma pergunta típica de transeunte.
— Sabe o que é? — respondeu, perguntando, o cama-
rada que corria atrás do outro. — Eu estava calmo no meu
canto, vem o imbecil e me pergunta as horas. Eu digo que
são doze e quinze. Aí ele se vira pra mim e diz que às doze e
meia eu devia ir pra PQP. Que é que o senhor acha?
— Bom — disse o outro —, acho que o senhor deve cor-

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rer mesmo. Tá em cima da hora!

***

A mocinha entrou na farmácia da pracinha e perguntou


pro farmacêutico:
— O senhor tem meia-calça?
— Não! Por quê? A senhora por acaso tem meia-bun-
da?

***

O apaixonado marido um dia desconfiou que a sua mu-


lher o traía, embora isto fosse para ele o pior de todos os cas-
tigos. Ele não podia acreditar. Uma mulher tão dedicada, tão
amada, tão querida, tão bem tratada, não podia fazer aquilo
com ele, o marido mais apaixonado e confiante do mundo.
Mas a desconfiança arrasava seu coração e ele contratou,
relutante e desesperadamente, um detetive. E o detetive se-
guiu a mulher. E veio com o primeiro relatório que ele adiou
meses para ouvir. Um dia, não agüentando mais de tanto
sofrer, chamou o detetive:
— Conta tudo!
E o detetive contou:
— O senhor saiu para o trabalho e eu fiquei num apar-
tamento em frente, de luneta, observando. Meia hora depois,
parou um carro na esquina da rua.
— Até aí tudo normal. Sempre param carros na esqui-
na, não é?
— Claro disse o detetive — Mas aí sua mulher desceu,
chegou à rua, olhou para um lado e para o outro.
— Claro, ela tinha que atravessar a rua, não é?
— Claro. Mas aí, ela caminhou até o carro parado na
esquina, a porta do carro se abriu e ela entrou. Tinha um ra-
paz lá dentro, os dois saíram e eu saí atrás, no meu carro. Aí,
eles seguiram para a barra da Tijuca até um daqueles hotéis
suspeitos que existem lá.

25
— Sim, mas nem todos os hotéis da Barra são suspei-
tos, não é?
— Claro que não são, claro. Mas eles alugaram um dos
quartos, eu aluguei o do lado.
— Sim, sim.
— E fiquei observando. Os dois entraram no quarto, o
rapaz tirou a roupa.
— E depois? E depois?
— Depois, ela tirou a roupa.
— Não.
— E ficou nua. E deitou-se na cama.
— E aí?
— Aí, o rapaz veio e fechou a janela.
— Ah... essa dúvida é que me mata!

***

O sociólogo ia dar uma conferência sobre sexo para um


auditório bastante eclético. Antes porém de iniciar sua pales-
tra ele se volta para o auditório:
— Por favor, gostaria de fazer um levantamento do tipo
de público que tenho à minha frente, para maior proveito de
nossa conversa. Assim, gostaria que me fornecessem algu-
mas informações. Os presentes que têm relações sexuais em
média uma vez por dia, queiram levantar as mãos.
Levantaram uns trinta e ele anotou.
— Os que têm numa média de três vezes por semana.
Levantaram as mãos uns cinqüenta.
— Uma vez por semana. Ele anotou uns oitenta.
— Uma vez por mês. Levantaram as mãos uns dez.
— Uma vez por ano? Tem alguém?
Levantou um lá no fundo, todo alegre, balançando as
mãos:
— Eu, doutor! Eu aqui! Olha pra mim! Eu!
E ria feliz, e balançava a mão e fazia o maior esporro. O
professor olhou pra ele meio intrigado e falou:
— Escuta, meu amigo, o senhor só tem relações sexuais

26
uma vez por ano. Uma só. Quer me explicar por que é que
está tão feliz?
— Porque é hoje!

***

Aquele camarada ainda noivava a antiga, isto é, com a


família da noiva toda presente na sala. Um dia, tendo abu-
sado um pouco dos comes-e-bebes os intestinos estavam na-
quela guerra, tanto de ruídos como de odores anti-sociais.
Em meio a toda aquela gente sisuda, de repente o infeliz
sentiu que dentro de segundos iria soltar um daqueles!
Numa lembrança feliz, levou as mãos à boca e produziu
um ruído que encobriu perfeitamente o outro lá de baixo.
—Foi uma descoberta!
Daí em diante, toda vez que desejava soltar um, fazia
aquele barulho com as mãos e a coisa ia correndo magnifi-
camente bem.
O irmãozinho da noiva ficou encantado com a novidade
e foi para a cozinha onde, juntando as mãos, praticou várias
vezes até que também começou a produzir um ruído igualzi-
nho ao do rapaz.
— Olha aqui! Já sei fazer o seu barulho. Agora me ensi-
na como é que faz pra feder!

***

Chegou um desses capiau do interior de Santa Catari-


na, — bem grandão, cada braço deste tamanho, um metro e
noventa de altura, cabeça destamaninho, — num parque de
diversões da cidade: barraca de tiro ao alvo.
— Me dá essa espingarda aí.
Deram. Ele mirou no alvo, pá, pá, pá, pá, pá, cinco ti-
ros. Todos na mosca.
A moça da barraca veio e disse:
— O senhor acertou todas. E ele:
— Ué... era pra errar?

27
— Não, não. Isso quer dizer que o senhor ganhou um
prêmio. Quer levar esta bonequinha?
— Que bonequinha, pô. Eu não sou menina, eu não
tenho noiva, eu não tenho filha, eu não tenho priminha, nem
amigui-nha, não sou maricas.. .
Aí a moça viu que o catarina não ia parar de falar, deu
pra ele uma tartaruguinha, ele olhou, olhou, olhou e disse:
— É. Este prêmio tá bão. E foi embora.
Na noite seguinte, olha ele de volta. Pega a espingarda,
pá, pá, pá, pá, pá, mais cinco tiros no alvo, vem a moça, o
senhor quer uma bonequinha e ele, não sou menina e não
tenho filha e aquelas coisas, aí a moça falou:
— Então, diz, o que é que o senhor quer? O catarina
pensou, pensou e disse:
— Me dá um sanduíche daqueles de ontem.

***

Estavam Constantino Mitriopoulos e Niarchos Karakxis


tomando o seu cafezinho num botequim de Atenas, quando
entrou um senhor com a cara de quem estava muito pê da
vida. Pediu um café e berrou para que todo mundo escutas-
se:
— Bagunça! Falta de respeito! Esculhambação!
Constantino e Niarchos ficaram atentos, mas continua-
ram tomando seu cafezinho.
O velho grego continuava berrando e falando pra todo
mundo escutar:
— Isto não pode continuar. É tudo uma bagunça dana-
da. Tráfego de influências, corrupção desenfreada!
Quando o senhor falou em corrupção, Constantino
e Niarchos ficaram mais atentos ainda. E o homem conti-
nuou:
— A Grécia é uma azarada!
Os ouvidos dos dois ficaram de pé!
— Quem grita é que manda mais! Os privilégios conti-
nuam, só trocaram os homens! Isto é um regime de merda!

28
Ah, quando o velhinho falou isto, Constantino e Niar-
chos olharam um pra cara do outro e seguraram o velhinho.
— Que foi que o senhor disse?
— Que isto é um regime de merda! — repetiu o velhi-
nho.
— Ah, é? — falou Niarchos.
— Ah, é? — falou Constantino. — Teje preso. Nós somos
do Serviço Secreto.
E mostraram suas carteirinhas pro senhor que falava
demais e levaram o velho preso.
Na delegacia, entregaram o senhor para o delegado e
disseram:
— Esfe senhor estava fazendo comício público, dizendo
que isto aqui é um regime de merda!
— Ah, é? — disse o delegado. — Ponham este homem
nas grades.
— Um momento — falou o velho senhor. — Que me po-
nha nas grades, coisa nenhuma. É tudo mentira desses dois
malucos. Eu não estava dizendo nada. Eles é que me agredi-
ram na rua. Exijo que eles sejam presos.
— Que negócio é esse? — falou o delegado. — Quem o
senhor pensa que é?
— Eu não penso que sou nada — disse o velhinho. E
tirando a carteira do bolso:
— Eu sou o General Alexandre Pataxiatis. E exijo a pri-
são destes dois moleques.
— Imediatamente — meu General —, falou o delegado.
E meteu Constantino e Niarchos no xadrez, depois de
pedir desculpas ao General.
O General desculpou, botou a carteira no bolso, ajeitou
o paletó e antes de sair da delegacia deu uma passadinha
pela cela dos dois, chamou os dois pra ouvir baixinho e dis-
se:
— Não falei com vocês que este era um regime de mer-
da?

***

29
O nobre europeu partia para a guerra e para proteger
sua honra, mandou fazer um cinto de castidade para a sua
linda mulher. Antes de partir, não querendo sacrificá-la para
sempre, em caso de sua morte, chamou seu melhor amigo
e entregou-lhe a chave do cadeado com a recomendação de
que, se ele não voltasse dentro de dois anos, ele poderia abri-
lo.
Sob o olhar abnegado do leal amigo e as lágrimas da fiel
esposa, o nobre cavaleiro partiu para o campo de batalha.
Com seu fogoso corcel caminhou em direção ao inimigo,
sob o sol da manhã. De repente ele ouve, atrás de si, o tropel
de outro cavalo. Vira-se e vê, vindo em sua direção, ofegante,
o leal amigo, tendo ainda seu castelo ao fundo, mal acabara
de partir:
— Duque, meu caro Duque! — grita o amigo.
— Que foi? — brada o cavaleiro.
— O senhor deixou a chave errada.

***

No carro-restaurante de um trem que partia de Nova


York, iam dois ingleses: um mais velho e outro mais jovem.
De repente, o mais jovem começou o papo com um america-
no:
— O senhor já esteve em Londres?
— Londres? Uau! — fez o americano, fazendo uma cara
safada. — Rapaz, vivi em Londres os dois anos mais loucos
da minha vida. Aquilo é uma Sodoma. Só dá maluco e tara-
do. Uma glória!
— Que foi que ele disse? — perguntou o inglês mais ve-
lho que levava um jeito de ser meio surdo.
— Ele disse que conheceu Londres e que aprecia muito
aquela nossa bela cidade.
Depois de mais uns minutos de papo, o jovem inglês
volta a perguntar:
— Por acaso, o senhor conheceu em Londres uma certa
Hazel Wimbleton?

30
— Hazel??? Uau! A popular Hazel-Regimento? Se co-
nheci, rapaz. Aquilo era uma louca. Insaciável. Pois foi com
a Hazel que eu fiquei sabendo o quanto Londres pode ser
louca. Que mulher, meu jovem! Que mulheraço! Não tem ho-
mem que chegue pra Hazel neste mundo! Uau, uau!
— Que foi que ele disse? — voltou a perguntar o velho-
— Ele disse que conheceu mamãe.

***

— Quem tem coragem de entrar na jaula do leão? — gri-


tou o dono do circo.
Duas pessoas levantaram as mãos. Uma loura muito
bonita e um rapaz muito forte.
— Primeiro a moça — disse o dono do circo.
Para espanto de toda a platéia, a moça dispensou cadei-
ra e chicote e entrou na jaula. O leão rodeou a moça, rosnou,
rugiu e quando ia preparar o bote, a moça abriu a capa que
vestia e foi aquele Ohhhh!! imenso no circo inteiro. Por baixo
da capa, a moça, muito bem servida, estava nuazinha. O leão
abriu aquele olhão, esticou as patas, encostou a barriga no
chão, e, meio vesgo, veio se arrastando até a moça, e, docu-
mente, como um gatinho começou a lamber-lhe os pés.
Palmas gerais.
Aí, o dono do circo virou-se para o rapaz e falou:
— Como é, meu jovem, você acha que é capaz de supe-
rar este feito?
— Claro — disse o moço. — Tira o leão lá de dentro pro
senhor ver.

***

O camarada vai visitar um fabricante de pílulas anti-


concepcionais. Uma fábrica enorme, bem montada, confor-
tabilíssima, uma coisa fantástica. E, ele, visitando cada de-
pendência, maravilhado! De repente, no fundo do corredor,
ele vê uma coisa parecida com um berçário ou uma creche,

31
cheio de criancinhas brincando com enfermeiras e babás. E
ele diz:
— Um momento. Para uma fábrica de anticoncepcio-
nais, este negócio aí não faz muito sentido. Não vai me dizer
— completa, irônico — que isto aí é o Departamento de Pro-
paganda?
— Não é, não — responde o dono da fábrica. — Aí é o
Departamento de Reclamações.

***

PRIMEIRO LOUCO — Como vai, Francisco?


SEGUNDO — Eu não me chamo Francisco e nunca te
vi na minha vida.
PRIMEIRO — Não é possível. Então, não estivemos jun-
tos uma vez em Paris?
SEGUNDO — Eu nunca estive em Paris.
PRIMEIRO — Ah, tem razão. Eu também nunca estive
lá. Vai ver, foram outros dois.

***

— Vovó, como é que as crianças nascem? E a vovó, res-


pondendo:
— É a cegonha que traz elas no bico, meus netinhos.
E é aí que o Pedrinho fala pro Joãozinho:
— Que é que você acha, Joãozinho? Contamos pra ela?
— Não, não — diz o Joãozinho. — Deixa a velhinha na
inocência.

***

Ah, mininos, o Mineirinho é fogo. O seu vigário esta-


va dando uma voltinha pela paróquia, quando, de repente,
numa estradinha deserta lá, ele vê uns arbustos se mexendo.
Seu Vigário era discreto e arrumou uma posição para ver o
que passava. E viu o Mineirinho. Lógico que o Mineirinho

32
não estava sozinho atrás da moita. E quem é que tava lá com
ele? Justo a filha do sacristão. Seu Vigário ficou uma fera e
no mesmo dia mandou uma carta severa para o Mineirinho:
“Prezado Senhor: sou testemunha ocular de que este
meu filho anda pecando em excesso. E o que é mais grave:
sei que ele atentou contra a reputação de uma das minhas
mais virtuosas paroquianas. Quero informar ao prezado ami-
go que, como pastor das ovelhas desta cidade, vou tomar as
devidas providências que o caso exige”.
Pensam que o Mineirinho se apertou? No dia seguinte
mandou sua resposta pro padre:
“Prezado Vigário, recebi sua carta-circular de 13 do cor-
rente ...”

***

O japonês vai a uma lingerie comprar um soutien pra


sua mulher.
— Que tamanho? — pergunta a moça que o atende.
O japonês balança as duas mãos no gesto tradicional de
quem não sabe.
A moça tenta ajudá-lo:
— Do tamanho de duas melancias?
O japonês volta a fazer o gesto com as duas mãos ba-
lançando.
E a moça:
— Ah, sim. Mais ou menos, não é? Sei. Então deve ser
do tamanho de dois mamões?
O japonês repete o gesto. E a moça:
— Duas laranjas-bahia?
Outra vez o gesto. A moça se impacienta:
— O senhor fica sempre dizendo que é mais ou me-
nos...
— Zapon non estar dizendo que é mais ou menos.
— Como não está? O senhor está balançando as duas
mãos aí, desde o princípio.
— Exatamente, non. Zapon quer dizer que ser igual

33
duas orelhas de cachorrinho, non!

***

Um gauchão desses bem valente, veio passear em Minas


Gerais, e deu de cara com o Rio São Francisco. Nem conver-
sou: tirou as botas e deu aquele mergulho de tirar fotografia.
Só que o valente não sabia nadar e já ia morrendo afogado se
não pulam no rio dois mineirinhos que conseguiram tirá-lo
com vida da água. O gaúcho tava com a barriga que parecia
uma pipa. Fizeram uns exercícios em cima dele e o bicho bo-
tou toda a água pra fora. Voltou a si, de repente, deu um pulo
na beirada do rio, jogou os mineiros pro lado e bradou:
— Me larga, chê. Me larga, que um riacho desses eu
bebo é de gole em gole!

Quatro tarados entraram no banheiro da pensão pra


tomar banho. Eram 10 h. da manhã. Três horas depois os
hóspedes, desesperados, foram chamar o gerente pra recla-
mar que a porta do banheiro continuava fechada. O gerente

34
gritou, gritou, ninguém respondeu lá de dentro. Então resol-
veram arrombar a porta. Gerente e hóspedes, perplexos, de-
pararam com a seguinte cena: o chuveiro aberto e os quatro
encostados na parede, completamente secos.
— Afinal, o que está acontecendo aqui? — berrou o ge-
rente.
— É que o sabonete caiu no chão — explicou um dos
tarados.

***

O jovem doutor, formado na cidade grande, volta à ter-


rinha e vai procurar o Coronel, o fazendeiro mais rico da
cidade:
— Seu Coronel, eu vim pedir a mão de sua filha em ca-
samento.
— Quem é você?
— Eu sou o filho da professora.
— Hmmmm... fez o coronel. Ocê já formou?
— Já sim senhor.
— Em quê?
— Médico.
— Tá ganhando bem?
— Tou sim, senhor.
— Tem patrimônio?
— Tenho algum.
— Sabe falar quantas línguas?
— Bem, coronel, eu falo um pouco de inglês e francês,
mas não estou entendendo por que essas exigências.
— Escuta aqui, meu filho, ocê conhece minha menina?
-— Claro. Namoro ela, gosto dela.
— Pois, antão. Tá pensando o quê? Eu quero o maior
casamento do mundo pra essa menina. Ela é meu orgulho.
Desde que a mãe dela morreu, menino, que eu resolvi criar
ela cumo uma rainha. Tenho que ser exigente. Ocê vê: tem
alguma menina mais bonita na cidade do que ela?
— Tem não.

35
— Pois antão. Eu tenho que ser exigente. Ela é a mais
bonita de todas, além disso estudou nos melhores colégios
do país, fala cinco idiomas, sabe cozinhar, bordar, tocar pia-
no, cantar e declamar. E além disso, meu menino, se puxar a
falecida mãe dela, num tem trepada iguá na redondeza!

***

Tardezinha parada, noite chegando, aquela moleza na


cidade pequena e sumida lá nos cafundó do juda. No úni-
co bar da cidade, aquela madorra, alguns homens beben-
do, tudo calado. Aí, entra no bar, pisando firme, um sujeito
des’tamanho, chega pro dono, varre com o braço os copos
que estão em cima do balcão e berra:
— Bota uma pinga honesta aí pra mim.
Todo mundo se assusta. Uns já vão se levantando e
caindo fora. O grandalhão se vira pra turma que ainda tá
olhando apavorada pra ele e grita:
— Tão olhando o quê? Tão me achando bonito? Vão
caindo fora, se não vou quebrando a fuça de um por um.
E chutou logo a mesa que tava mais perto, voando a
mesa e quatro homens lá na calçada. E ele foi se metendo
pelas mesas e dando porrada pra tudo quanto era lado e foi
todo mundo sumindo do bar. Quando ele voltou pro balcão
pra pegar o copo de cachaça, olhou em volta e já não tinha
mais ninguém no bar.
Ou melhor, tinha sim. E ele arregalou o olho, quando
viu sentadinho lá no canto, tranqüilão, limpando as unhas
com um canivete e mascando um pauzinho de fósforo, a figu-
ra magrinha, de bigodim fininho do Mineirinho.
— E ocê aí? berrou o grandão. Num vai cair fora?
— Escuta, menino, vem cá.
— Tá morto! — falou o grandão. Tá morto! Vem cá, o
quê? Vem cá, o quê? Eu vou aí é te quebrar no meio!
— Pera aí, meu filho, pera aí! Ocê por acaso num se
chama Raimundo? O grandão se assustou:
— Chamo sim!

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— Ocê, por acaso, num nasceu em Campo Alegre?
— Uai, nasci sim senhor — falou o grandão se interes-
sando.
— Chega aqui, chega aqui. Cê num nasceu ali pelo ano
de 1945?
— Foi sim senhor. Como é que o senhor sabe?
— Sua mãe num se chama Margarida?
— Chama sim, chama sim. . .
— Pois é, meu filho, comi muito a sua mãe!

***
Agora, bom mesmo é quando a imaginação popular se
exacerba para criar as anedotas mais elaboradas e, quase
sempre, mais grossas. Como a do bode. Diz que o camarada
estava na cama com a mulher do outro, quando o outro ba-
teu na porta. Onde é que esconde, aquelas coisas, não dava
nem tempo de botar a roupa, o marido era forte toda vida, já
foi entrando pela casa adentro, a mulher mandou o amante
se meter debaixo de uma pele de bode que tinha estendida no
quarto. O cara se ajeitou lá como pôde, completamente nu,
cobriu-se mal, diz que ficou assim meio de quatro, a bunda
lisinha voltada pra cima, a pele do bode não deu pra cobrir.
O marido entrou no quarto, tirou a roupa e se deitou ao lado
da mulher, aproveitando que ela já estava nua. O cara estava
meio atrasado e foi logo atracando a companheira e no rola
para lá, rola pra cá, deu de cara com o traseiro do bode vol-
tado pra ele:
— Que negócio é esse aí, mulher?
— Ah, meu bem, — disse a mulher — é um bode ensi-
nado que mamãe me mandou.
— Mas, é uma graça de bode! — disse o marido — pas-
sando a mão na parte que a pele do bode não cobriu. E falan-
do isso, nem conversou:
— Quer saber de uma coisa, mulher? Vou experimentar
esse bode.
— Não faça isso, marido. — falou a mulher tentando
salvar a pele do amante.

37
— Como é que não faz? falou o homem. Faço sim. E
dando um riso meio canalha: “Esse bode merece!”
E tacou a vara no bode.
Diz que o coitado, lá debaixo da pele, aceitou a provação
e, pra não ser descoberto, ainda colaborou, fazendo:
— Béééééé, béééééééé...
O cara terminou o serviço, voltou pra cama e ainda fi-
cou olhando de olho comprido pro bode. A mulher dele vendo
que o coitado ainda podia sofrer outro vexame juntou o ma-
rido nos panos, mas na hora que ele ficou pronto, cadê que
ele se interessou pela mulher:
— Quer sabe de uma coisa, mulher? Meu negócio é esse
bode!
Pulou da cama e crau. E o outro:
— Béééééééé, béééééé...
E o marido voltou pra cama e a mulher tentou fazer ele
dormir e ele nada, levantou de novo e crau no bode e o coita-
do lá berrando pra garantir a vida.
O cara volta pra cama, deita um pouco, levanta de olho
rútilo e parte de novo pro bode pela quinta ou sexta vez, aí o
coitado lá da pele não se agüentou. Deu um pulo pra cima e
berrou decidido:
— PQP! Vai gostar de cu de bode assim no meio do in-
ferno!

***

O faroleiro era o sujeito mais bronco deste mundo.


Numa noite de grande tempestade, o mar batendo nas ro-
chas, furioso, o vento cortando e a água caindo, um navio
naufragou nas proximidades do farol.
Um único sobrevivente conseguiu chegar até à ilha e
veio nadando, nadando, batendo nas pedras, batido pelas
ondas, todo lanhado, agarrou um rochedo, segurou daqui,
dali, botou o pé fora da água. Cambaleou, tropeçou, caiu e
se arrastou até á porta do farol. Ali, bateu com as forças que
lhe restavam. O faroleiro abriu a janelinha lá de cima e per-

38
guntou:
— Que deseja?
— Nada!!! — berrou o náufrago lá de baixo. — Vinha
passando, vi a luz acesa!

***

Todo mundo duvidava da macheza dele. Afinal, era fa-


moso na praça por seus espetáculos de travesti, tinha sido
cabeleireiro, costureiro e agora afirmava que era andrógino,
um sexo à parte, gente como a gente, aquelas coisas. A ver-
dade é que, um dia, o país se assustou com a grande notícia:
ele ia se casar. Com uma mulher. E houve o casamento, a
maior badalação. E saíram os dois em lua-de-mel. E foram
para um hotel chiquíssimo. Se todo mundo estava acredi-
tando que ele tinha mesmo virado machão, o camareiro do
hotel não estava não. Tanto que, quando os dois entraram no
quarto, ele ficou de ouvido colado na porta pra ver se pegava
alguma coisa.
Lá pelas tantas, depois de alguns drinks, alguns tin-
tins, alguns risinhos meio marotos, ele ouviu a voz da mu-
lher dizendo:
— Bremmer, tira o meu vestido!
— Opa! falou o camareiro. E apertou mais o ouvido à
porta. E ouviu mais:
— Bremmer, tira os meus sapatos. E depois:
— Tira as minha meias.
E ele ali, empolgadíssimo. E lá de dentro, a voz da noi-
va:
— Tira o meu sutian.
Oba. E agora?
— Por favor, tira a minha calcinha.
O camareiro já não agüentava mais, quando ouviu por
último, a voz lá de dentro:
— Bremmer, quantas vezes eu já lhe disse pra não usar
as minhas roupas?!

39
***

O marido chega em casa, entra calmamente como sem-


pre e se dirige para o quarto. Abre a porta e dá de cara com
a cena mais terrível que um marido pode suportar. Na sua
cama, nus, em pleno ato, sua mulher e seu melhor amigo.
Ele pára estarrecido, abre os braços e exclama:
— Helena, minha mulher, meu grande amor, você? E
você, Jorge, meu melhor amigo, meu irmão, meu companhei-
ro de todas as horas! Como é que pode? Então é isso que
eu mereço de vocês? É isso que eu mereço de você, Helena?
Eu, que dediquei toda a minha adolescência ao nosso amor!
Ó, Helena, Helena! E você, Jorge, meu amigo, o irmão em
cujo ombro eu chorei tantas vezes e tantas vezes também me
consolou. Ó, Jorge. Como pode ser tão ingrata a vida? Como
pode um homem, de repente, ver despedaçado seu coração,
justamente pelas duas pessoas que ele mais quer na vida? Ó
Helena, Ó Jorge... ei... vocês dois aí, pô, quer fazer o favor de
prestar atenção!?. . .

***

O provinciano chegou à cidade grande e ficou apavo-


rado com a liberalidade, a licenciosidade, a liberdade sexual
que existia no meio em que ele começava a viver sua vida
nova. No princípio ele resistiu, achando aquilo uma loucura,
uma animalização total do ser humano. Aos poucos ele foi
começando a descobrir que podia haver algum interesse na-
quela bagunça, que até que sexo era bom, essas coisas, até
que um dia acabou sendo convidado — e aceitando — para
participar de uma tremenda bacanal na casa de um amigo
mais avançadinho.
E lá foi ele e chegou lá, era aquela mulherada nua pra
todo lado, homem nu em tudo quanto era canto, uma farra.
E, na hora justa, apagou-se a luz e começou a loucura total.
E ele meio desajeitado naquela zona, se virando daqui, cor-
rendo pra ali, e o pau comendo, de repente, um grito no ar!

40
— Pára, pára, pára!
E todo mundo parou e acenderam-se as luzes. E estava
lá o coitado, encostado na parede, com as duas mãos pro-
tegendo a parte traseira do corpo, a cara de dor e desespero:
— Pára pra organizar essa bacanal, pô!

***

Bodas de prata, lá se foram os dois fazer o mesmo ro-


teiro da dua-de-mel. Escolheram a mesma cidade, o mesmo
hotel, o mesmo quarto.
Ela levou a mesma camisola. E foram para o quarto
e ela se perfumou toda e botou a camisola e ele foi para o
banheiro. De repente, lá do banheiro, ela ouve uma enorme
gargalhada do marido. Ele volta do banheiro e ela fala:
— Meu bem, que lindo. Tudo igualzinho. Me lembro
como se fosse hoje. Naquela noite você também foi ao ba-
nheiro e lá soltou uma gargalhada igual. Só que até hoje eu
não tive coragem de te perguntar do que foi que você riu. Já
que hoje, repetindo tudo, você voltou a soltar a mesma gar-
galhada, me explica: você riu de quê?
E ele:
— Muito simples. Naquela noite, há vinte e cinco anos
atrás, eu cheguei no banheiro pra fazer xixi, molhei o teto do
banheiro. Hoje, eu chego lá, molhei os pés.

***

El Señor Presidente de las Republicas Sanrafaelinas del


Caribe foi visitar o hospital de El Santoforo, onde seus bra-
vos homens convalesciam. E entrou numa enfermaria geral.
E tava aquele monte de cara convalescendo lá em cima da
cama. E el bondoso Señor, com su autoridad, dignidad Y al-
tamira se aproximou do primeiro leito e perguntou ao doen-
te:
— Que tienes, patriota?
— Hemorróidas, mi chefe!

41
— Tu chefe te hará curado — disse el Gran Señor. —
Usted pegue um palito de madera, bota um algodón en la
ponta y passe iodo cotorizado en el local!
— Asi faré. Mi Gran Señor!
— E digame. Qual es su grande desejo?
— Servir a la Pátria, mi gran Chefe!
Y El Gran Señor passou para o leito seguinte:
— Que tienes, mi bravo?
— Hemorróidas, Senhor!
— Pues pegue um palito de madera, ponga um algodón
en la ponta, passe iodo cotorizado en el local.
— Si, mi chefe!
— Y su gran desejo, qual és?
— Servir a la Pátria!
E o Gran Senor passou ao outro leito:
— Que tienes, mi bravo?
— Hemorróidas, senor!
— Pues passe un algodón com iodo cotorizado en la
punta de um palito de madera.
— Si, Senor.
— Y su grande desejo, qual és?
— Servir a la Pátria.
E assim foi o Gran Señor de cama em cama e todo mun-
do tinha hemorróida. E ele dava sempre a mesma receita. Até
que chegou no último leito:
— Que tienes, mi bravo? Hemorróidas?
— No, Senor. Tengo dolor de garganta!
— Pues pegue um pedacito de madera, ponga el algo-
dón en Ia ponta e pince com iodo cotorizado.
— Si, mi Gran Señor.
— Y qual es su gran desejo?
— Que troquem o algodón, mi chefe!

***

O ótimo brotinho foi fazer prova em segunda época. Es-


tudara pouquíssimo e a única chance que tinha é que ela era

42
muito, mas muito boa mesmo.
No dia seguinte se encontra com sua melhor amiga:
— Como é? Deu pra passar?
E ela:
— Dei.

No meio da moderna África de hoje, um cliente entra


num restaurante pra canibais:
— Me vê uma popinha recheada.
— Perdão, senhor, mas não temos.
— Então, me serve um braço assado?
— Estamos em falta.
— Como estão em falta? Eu vi um homem inteirinho ali
na geladeira...
— Ah, sim. É verdade. Mas, aquele morreu de diabete e
nós tamos guardando ele pra fazer compota.

43
***

Madame vai ao ginecologista. Entra na sala do médico,


tira a roupa e assume a clássica posição. O médico se apro-
xima para o exame e exclama!
— Que maravilha! Que maravilha!
A mulher fica chocadissima com a exclamação do mé-
dico e o repreende:
— Doutor, pelo menos o senhor podia ter a gentileza de
não repetir.
— Eu não repeti, minha senhora. Foi o eco.

***

O professor explica para o Joãozinho o que significa


exatamente um ladrão:
— Imagina que eu meta a mão no seu bolso e retire uma
nota de cem cruzeiros. O que é que eu seria?
— Mágico!

***

O cara tava doidão. Há anos que ele vinha querendo


aquela mulher. E naquele dia parece que ia dar tudo certo.
Ela chegou toda maneira pra ele e fez aquele olhar de quem
ia topar. Ele ficou desesperado, aflitíssimo, excitadíssimo,
loucão, inconveniente.
Felizmente ele já estava na sala de espera do hotel de
encontros e nem esperou a moça cumprimentar, deu uma
juntada nela e voou para o quarto. Realmente ele nunca ti-
nha se visto naquele estado, parecia que ia estourar de tanta
aflição. Uma loucura.
Quase não deu tempo da moça tirar a última peça. Aí,
na chamada hora máxima da felicidade, a moça — que por
sinal estava gostando —, pediu pra ele:
— Fecha os olhos, meu bem. Fecha os olhos. E ele, en-
tre os lábios:

44
— Hoje não dá, meu bem. Hoje não dá. Tenho a pele
curta.
***

A mulher foi passear na capital. Dias depois o marido


dela recebeu um telegrama:
“Envie quinhentos cruzeiros. Preciso comprar uma capa
de chuva. Aqui está chovendo sem parar”.
E ele respondeu:
“Regresse. Aqui chove mais barato”.

***

O marido estava sendo homenageado num grande ban-


quete da Câmara Júnior, ou do Rotary, ou do Lions, não me
lembro. No final, ele tinha que falar um discurso. E estava
nervosíssimo. Ai, como ele próprio sabia que era um grande
cometedor de gafes, pediu à mulher que toda vez que disses-
se ou começasse a dizer uma besteira ela o cutucasse.
No final do jantar, logo após a sobremesa, chegou a vez
do discurso, ele se levantou depois de passar uma hora se
mexendo na cadeira como um quati, de tão agitado.
Levantou-se e começou sua oração:
— Senhores, minha emoção é tanta que sinto um cala-
frio percorrer-me o corpo de baixo para cima. . .
Vupt — a mulher deu-lhe o maior cutucão. Ele deu a
paradinha, pensou, e repetiu:
— Estou sendo sincero, senhores. Sinto um frio emotivo
me invadindo a alma...
Vupt — outro cutucão.
Outra paradinha, outra repensada:
— Juro, senhores, é a sensação mais estranha que já
senti em minha vida.
Outro cutucão.
Ele ai não resistiu, abaixou-se até junto ao rosto da
mulher e falou impaciente:
— Que que há, minha filha? Eu estou falando a verda-

45
de. Não estou dizendo besteira nenhuma.
— Não é isso — disse-lhe a mulher, — É que a sua bra-
guilha está aberta.
Ele ficou lívido. E ela continuou:
— E o seu saco está dentro da taça de sorvete!

***

— Doutor, meu marido não é mais o mesmo. E a mu-


lher chorou as mágoas com o médico.
— Não tem problema — disse o médico. — Isso aconte-
ce. Tome este pozinho aqui. Quando o seu marido for jantar,
a senhora bota um pouco deste pozinho na comida dele. Vai
ser batata. Ele vai voltar a ser como antes. Mas, não ponha
muito pó, minha senhora. Este remédio é muito forte.
A mulher saiu toda cheia de esperança, com o vidro do
pozinho na mão.
No dia seguinte ela volta muito sem graça ao médico.
— Como é? Não funcionou?
— Bem, funcionar funcionou, doutor. Mas teve um pro-
blema.
— Qual foi?
— Eu errei na mão e botei pozinho demais.
— E daí?
— Daí, que ele nem esperou a gente ir dormir. Na mesa
mesmo. Ele acabou de jantar, me olhou com uma cara feroz,
passou por cima da mesa, me pegou ali mesmo. Em cima da
mesa.
— Mas, a senhora não achou isto ótimo?
— Eu achei, doutor. Mas, agora nunca mais vamos po-
der voltar àquele restaurante.

***

O filho do alfaiate chega para o pai no fundo da loja e


fala com ele:
— Pai, tem um freguês aí que quer comprar aquele ter-

46
no de listrinhas marrons. Ele quer saber se depois de lavado,
o pano encolhe ou não.
— Ele já experimentou o terno?
— Já, sim senhor.
— Ficou largo ou apertado?
— Largo.
— Então diz que encolhe.

***

A menininha contava pra mãe:


— Mamãe, toda vez que estou brincando lá no quintal, o
Joãozinho fica entre as moitas, esperando eu subir na jabuti-
cabeira. Aí eu perguntei pra ele pra que é que ele ficava me
olhando lá de baixo. Ele me disse, mamãe, com a cara mais
sem-vergonha do mundo, que era só pra ver a minha calci-
nha.
— Que menino indecente, minha filha — disse a mãe. —
Você faz o seguinte: Não sobe mais na jabuticabeira quando
ele estiver por perto.
— Não, mamãe — disse a menina. — Eu tive uma idéia
multo melhor: na hora de subir, eu tiro a calcinha!

***

Padre confessando o sacristão:


— Contou tudo direitinho, meu filho?
— Tudo, padre.
— Tem certeza?
— Tenho, padre.
— Acho que não contou, não. Me diz ai: quem é que
anda roubando o vinho da sacristia?
— Quer repetir, seu padre?
— Quem anda roubando o vinho da sacristia?
— Repete, padre, por favor. Não estou ouvindo nada.
O padre repetiu um montão de vezes e o sacristão nada.
Até que o sacristão falou:

47
— Sabe o que é, seu padre, de repente, aqui de fora não
tá dando pra escutar nada. Passa pro lado de cá pro senhor
ver.
O padre saiu do confessionário e trocou de lugar com o
sacristão.
Aí, o sacristão pergunta lá de dentro:
— Senhor padre, quem é que anda pulando a janela da
casa da mulher do delegado?
E o padre:
— Você tem razão, meu filho. Daqui de fora não se ouve
nada.

***

E a do guru? Vocês manjam a do guru? Esta é boa de se


contar pra gente ficar conhecendo melhor o guru. É assim: O
velho hindu foi procurar seu guru (tudo rimado) e falou:
— Guru, tou na pior. Imagine o meu amado mestre que
eu moro num pobre casebre com minha mulher grávida e
onze filhos. E saiba o meu amado mestre que o meu casebre
tem um só cômodo, de forma que é terrível ver aqueles me-
ninos todos dormindo uns por cima dos outros, sem lugar
para nada, uma tristeza. A única coisa que nos salva é que
eu tenho uma vaca e ela dá um leitinho pra eu alimentar os
meninos. É tudo. O resto é aquela tristeza lá dentro do bar-
raco. O que é que eu faço?
O guru cerrou os olhos, pensou um pouco, respirou
fundo e respondeu:
— Faz o seguinte, meu amado filho. Pega a vaca e bota
dentro do barraco.
— Mas, mestre, botar a vaca dentro do barraco? Como é
que vai ser? Não cabe nem mais uma mosca lá dentro.
— Faz o que eu mando.
O discípulo ficou sem entender nada, mas fez. Quinze
dias depois ele volta a procurar seu guru:
— Mestre, agora o inferno é total. Os meninos estão to-
dos doentes. O casebre fede insuportavelmente, tem estéreo

48
de vaca por todos os lados. Os meninos choram o dia inteiro,
a vaca berra sem parar, ninguém dorme mais. Eu não sei o
que fazer.
E o guru falou:
— Tira a vaca de dentro do barraco.

***

O cientista louco fez uma descoberta fantástica. Inven-


tou um líquido que era capaz de dar vida a tudo quanto fosse
coisa inanimada. Saiu bem cedinho de casa e rumou para a
praça central da cidade. Tinha lá, no meio da praça, a famo-
sa estátua eqüestre com o herói em cima do cavalo. Natural-
mente. O cientista chegou com o seu líquido numa bomba
de flit e — pufff-pufff-pufff — deu a maior borrifada no herói.
Esperou um minutinho e, de repente, o herói pula de cima do
cavalo, dando gritos alucinantes.
O cientista fica maravilhado com o êxito do seu invento
e ao mesmo tempo assustado com a fúria do herói. Pois ele
pula do cavalo, passa o dedo pela testa assim como quem
limpa um suor muito antigo e quando vai puxar da arma o
cientista intervém:
— O que é que o senhor vai fazer?
— Não vou deixar um fedapê dum pombo vivo nesta
praça!

***

Na escola a professora perguntava aos alunos:


— Pedrinho, quem foi que fez o mundo?
— Foi Deus, professora.
— Muito bem. Agora você, Carlinhos. Quem foi que fez
o céu e as estrelas?
— Foi Deus, professora.
— Que gracinha. Agora, Margaridinha. Quem foi que fez
as flores e os campos?
— Foi Deus, professora.

49
— Lindo. Agora, fala, Paulinho, Quem foi que fez os coe-
Ihinhos, os passarinhos, os gatinhos?
— Foi Deus, professora.
— Perfeito. Agora, fala, Joãozinho, quem foi que fez
você?
— Olha, professora, a mãe já me disse uma vez mas eu
Esqueci o nome do cara.

***

Na Transamazônica uma garota tomou o ônibus carre-


gando um saco com uma jaguatirica dentro. O diabo é que
jaguatirica tem um cheiro horrível, mas o chofer muito com-
preensivo percebeu que não podia ter muitas exigências por
aquelas bandas, afinal era normal por ali as pessoas carre-
garem esse tipo de coisa, era a primeira vez que eles tinham
condução, não convinha engrossar. Mas ele tinha que zelar
pelo bem-estar dos passageiros, aí exigiu que a moça se sen-
tasse lá no fundo do ônibus. E exigiu que ela saltasse antes
de chegar na rodoviária, para não ter problemas. Quando ele
estava quase chegando, deu a paradinha no ônibus e gritou
lá pro fundo:
— A moça que tá com a oncinha fedendo, quer ter a
bondade de descer.
Desceram cinco.

***

Dois bêbados sinistríssimos conversavam numa mesa


de bar.
— Sou viúvo.
— Eu também. De duas mulheres.
— Mulher é uma desgraça. Como foi que morreu sua
primeira mulher?
— Aquela peste? Comeu cogumelos venenosos.
— Hummm... mortal. E a segunda?
— Crânio rachado.

50
— Não diga?
— É. Não queria comer cogumelos.

***

Madame entra apressadíssima no restaurante do chi-


nês:
— Escuta, China, me atende rápido que eu tou com
muita, muita pressa. Eu quero pra hoje ainda 50 pastéis,
quarenta empadas e trinta coxinhas. Anotou? Rápido. Ah,
sim, nos pastéis vai queijo e nas empadas vai palmito. Ano-
tou? Rápido.
E já ia saindo, quando o chinês perguntou:
— Minuto, madame. E nas coxinhas, não vai nada?

***

— Joãozinho, quando eu digo: “Há uma mulher olhan-


do a rua pela janela” é singular ou plural?
— Singular.
— Muito bem. E quando eu digo: “Há várias mulheres
olhando a rua pela janela” o que é?
— Zona!

***

Duas bichas bem desmunhecadas chegaram num res-


taurante, comeram muito bem, e no final perguntaram pela
sobremesa:
— Tem mamão ao natural?
— Tem, sim, senhores.
— Então, pica pra dois!

***

— Paulinho — perguntou a professora de novo — qual


é a coisa que você mais gosta no mundo?

51
— Papai do Céu.
— Magnífico, Paulinho. Você é um bom menino. E você,
Clarinha?
— Da mamãe!
— Que boa filha..E você, Serginho?
— De futebol.
— Que atleta! Agora você, Joãozinho, qual é a coisa que
você mais gosta no mundo.
— Tu!
A professora ricou emocionadíssima.
— Ah, que coisa linda, Joãozinho. Que alegria. Sua pro-
fessora está encantada por saber disto. Isto glorifica a vida
de qualquer professora, meu filho. Agora me diga, o que é
que você quer ganhar de presentinho por uma resposta tão
bonita?
E o Joãozinho:
— Uma tota-tola!

***

O sujeito foi pela primeira vez a Nova York e quis logo


saber qual era o programa mais quente da cidade. Era uma
buate chamada Noneoviourbiz, a coisa mais surrealista so-
bre a face da Terra, onde tudo acontecia, como num filme de
Fellini estrelado pelos irmãos Marx, num ambiente parecido
com o de 2001.
O cara se mandou. Pagou 30 dólares só pra entrar. As-
sim que pisou no hall levou um susto: um homem vestido de
borboleta e pendurado no teto por cordões de nylon invisível
pegou-o pelo braço e saiu voando pela buate, pousando 20
segundos depois numa mesa. Muito cabreiro, o cara sentou
e fez menção de procurar um garção. Não dava pra ver nada
direito. Foi quando um são bernardo apareceu com um bar-
rilzinho cheio do uísque no pescoço e um minúsculo grava-
dor nas costas de onde saía uma voz: “Cavalheiro, queira
servir-se de bebida. O copo está debaixo de sua mesa”. O
cara se serviu e o cão foi embora.

52
O ambiente era indescritível. Luzes cortantes, gritos,
gemidos, música dodecafônica, psicodelismo total. Por duas
vezes, uma mulher vestida de vampiro jogou-se em seus bra-
ços, pôs uma rosa na sua orelha, disse “Cronch-cronch” e
desapareceu no ar. No palco em frente, um spot pisca-pisca
iluminava objetos e pessoas estranhas, nas mais incríveis
performances: um palhaço que fritava cobras vivas numa fri-
gideira ao som de rumbas; um casal que mergulhava de ca-
beça numa imensa taça de acrílico; uma velha nua que joga-
va ping-pong com uma cebola contra um velho gordo vestido
de legionário; um homem de 2 metros de altura que engolia
fogo montado nas costas de um anão que cantava a Marse-
lhesa em dialeto galego. O escambau.
De repente, um macaquinho, vestido de marinheiro
desce num trapézio, tira um fino na mesa onde está o nosso
amigo, vai e vem, molha as partes pudendas no copo de uís-
que, e, como tudo na buate, some como por encanto. Com os
olhos arregalados, o cara se levanta e vai até o pianista, que,
com ar de porre monumental, está tocando um fox dos anos
40. O sujeito, com a cara de quem acaba de ver um fantas-
ma, põe a mão no ombro do pianista e diz:
— O macaquinho molhou o saco no meu copo de uís-
que. O pianista, sonadão, sem olhar pra ele:
— Cantarola aí pra ver se eu me lembro...

***

— Que que você prefere, querido? Mulher bonita ou


mulher inteligente?
— Nem uma nem outra, você sabe que só gosto de
você.

***
E estavam os dois — o padre e o sacristão — discutindo
uma tarde que até que aquela cidadezinha era boa, que eles
levavam uma vida das melhores, que não perdoavam nin-
guém, que já tinham transado com tudo quanto era bicho de

53
saia que povoava aquela próspera comuna.
E cada um contava mais vantagem, até que um propôs
pro outro:
— Eu aposto que minha lista é maior do que a sua.
— A minha; maior.
— Pois, vamos ver. Amanhã na hora da missa a gente
fica ali na porta. Toda mulher que passar pela gente e que a
gente já tiver crau, a gente fala “Tico”. O que falar mais tico
do que o outro, ganha a parada.
E assim ficou combinado. Dez horas da manhã do do-
mingo, lá estão os dois. E vai entrando a mulher do açou-
gueiro:
— Tico — fala um.
— Tico — fala o outro.
E vem chegando a mulher do coletor:
— Tico.
— Tico.
— E vem a diretora do grupo:
— Tico.
— Tico.
E passou todo mundo, e os dois firmes ali no tico. Já
estavam há um tempão naquela coisa, empatados todos dois.
quando um falou pro outro:
— Tou gostando de ver.
— Nós dois é fogo!
— Tamos empatado.
— Tou vendo que estamos.
— Nós é fogo!
— Pois somos.
— É isso. Porque aqui nesta cidade, tirando a minha
mãe e a minha irmã. . .
— Tico, tico — falou o sacristão.

***

A classe daquela professora só tinha bandido. Tudo um


bando de safado, ninguém estudava nada, era uma zorra to-

54
tal. Ou melhor: não era total. Ela tinha um aluno exemplar,
o Joãozinho. Aí, um dia, ela pediu ao Joãozinho, em classe,
que contasse para os seus colegas como é que era o seu dia
para que os outros pudessem se mirar no exemplo daquele
aluno correto. E o Joãozinho foi lá pra frente e começou a
falar:
— Eu me levanto às sete, tomo banho, escovo meus
dentinhos, visto sozinho o meu uniforme, tomo meu café da
manhã, e vou para o colégio. Aqui, presto atenção na aula,
copio os deveres direitinho, respeito minha professora e meus
colegas. Ao meio-dia volto para casa, troco minha roupinha,
lavo minhas mãos e vou almoçar. Depois do almoço, brin-
co um pouco e lá pelo meio da tarde faço os meus deveres.
Depois, se está um dia de muito calor, tomo banho de novo,
visto uma roupinha mais leve e às seis horas, vou jantar.
Depois, vejo um pouquinho de televisão, afastado uns três
metros do aparelho, só programas permitidos pela mamãe
e mais ou menos ali pelas sete e meia, oito horas, começa a
minha vida sexual.
— O quê? ? ? — berrou a professora. — Vida sexual?
Você, um menino de oito anos, com vida sexual? Que negócio
é esse?
E o Joãozinho:
— É fácil, professora. Ali pelas sete e meia, oito horas,
meu pai chega em casa e começa a me foder a paciência!

***

Na Lapa:
— Vem comigo, querido. Quanto que você me dá?
— Uns sessenta anos.

***

Zeca, um carioca malandro, virou manchete interna-


cional. Foi o primeiro cara no mundo a ficar um dia morto e
depois ressuscitar. Assim que saiu do hospital, um avião do

55
Papa o levou direto ao Vaticano. Paulo VI e seus mais emi-
nentes cardeais queriam conversar sigilosamente com ele. O
Papa foi direto ao assunto!
— Meu filho, nós sabemos da extraordinária experiên-
cia por que você passou. Você foi o primeiro ser humano a
conhecer os mistérios da vida e da morte. De uma revelação
sua depende a sorte da Igreja Católica e o futuro do cristia-
nismo. Meu filho, só você, que já esteve do “outro lado”, pode
nos dizer: Deus existe?
Zeca:
— Eminência, perdoe-me desapontá-lo, mas Deus não
existe.
Espanto geral, cochichos entre os cardeais, o Papa se
retira pra uma sala ao lado. Dez minutos depois, Paulo VI
volta e dirige-se de novo a Zeca:
— Em nome da Santa Igreja eu lhe peço que jamais diga
a alguém que Deus não existe. Para mostrar nossa eterna
gratidão por esse favor, mandaremos depositar agora, num
banco da Suíça, um cheque em seu nome no valor de 5 mi-
lhões de dólares. Vá com Deus.
E Zeca foi embora. Mal saiu do Vaticano quando dois
bruta-montes o arrastaram pra dentro de um carro, taparam
seus olhos e o levaram para o Kremlim. Lá estavam, numa
sala, Brejnev e Kossiguin. O primeiro tomou a palavra:
— Senhor Zeca, nós sabemos de tudo. Agora, em nome
do futuro do Comunismo Internacional, nos diga: esse tal de
Deus existe mesmo?
Zeca:
— Os senhores hão de me perdoar — eu até que simpa-
tizo com o credo comunista — mas a verdade é que, lamen-
tavelmente, Deus existe. Eu o vi.
Brejnev:
— Impossível! Maldição! Se o mundo souber disso esta-
remos desmoralizados!
Zeca:
— Mas é a pura verdade.
Brejnev:

56
— Bem, já que o senhor simpatiza com a nossa causa,
esta é uma chance de ouro para nos ajudar. Se nos prometer
que jamais dirá que Deus existe, prometemos depositar, em
meia hora, num banco da Suíça, 10 milhões de dólares em
seu nome.
E Zeca foi levado a Genebra. Dia seguinte, quando ia
pro banco, outros dois brutamontes fizeram a mesma coisa
que os russos haviam feito na véspera. Dessa vez eram os
americanos. Zeca foi parar na Casa Branca, ao lado do presi-
dente Nixon. Delicadamente, Nixon perguntou:
— Fui informado de sua experiência, meu rapaz. Como
você sabe, vivemos um momento difícil. Ou a democracia
cristã faz valer seus princípios ou o materialismo vermelho
nos conduzirá ao apocalipse. Por isso é fundamental para
todos nós que você diga toda a verdade sobre a existência de
Deus. Ele existe, não?
— Existe. Eu o vi.
— Oh, que bom sabê-lo!
— Só tem uma coisa.
— O quê? !
— Ele é preto.

57
— Seu padre, seu padre, minha mulher morreu.
Buááááá.
— Como? — se assusta o padre vendo o padeiro da ci-
dadezinha aos prantos. Você não é o Juca da Padaria?
— Sou, sim senhor.
— Então, que negócio é esse? No fim do ano passado eu
dei Extrema Unção à sua mulher, depois fiz o enterro dela,
como é que você vem me dizer hoje, seis meses depois, que a
sua mulher morreu?
— Ah, seu padre. Eu não lhe disse. É que eu me casei
de novo.
— Não diga. Meus parabéns!

***

Tava o galo velho lá no terreiro, cercado por suas gali-


nhas, quando, de repente, o fazendeiro chega e joga no meio
deles um galinho novo, cheio de vida. O galinho olhou em
volta, com aquela cara de dono do mundo, deu uma esno-
bada no galo velho — que já estava, realmente, na pior — e
começou a observar o seu harém.
Nisso, o galo velho se vira pra ele e diz:
— Meu filho, vem cá.
— Tá falando comigo?
— É sim.
— Qualé?
— É o seguinte, eu queria bater um papinho com você.
— Tem que ser agora?
— Eu gostaria, se não fosse incômodo.
— Tá bem. Vai dizendo.
— Meu filho, eu queria que você compreendesse uma
coisa muito importante. Você chega, jovem, bonito, vigoroso,
e vai tomar o meu lugar, certo?
— Certo.
— Mas, pense bem. Qual é a vantagem que você leva
em chegar aqui e desmoralizar o velho galo, o antigo dono do
terreiro, que como você também, foi um galo novo e fogoso.

58
Qual é a vantagem? Afinal, você e eu somos galos, por que
desmoralizar a classe? O lugar é seu. Todas essas galinhas
aí são suas. Chegou a minha hora de partir. Mas, eu não
queria partir desmoralizado, entende? Não é vantagem pra
mim, nem pra você. Nós temos que manter a nossa tradição
de dignidade. Nós somos os reis do terreiro e devemos chegar
aqui como reis e partir como reis, certo?
— Falou.
— Pois é isso. Eu queria te fazer uma proposta pra gen-
te formalizar a minha saída e a sua chegada triunfante. Eu
sairia bem, honrado, dignificado e você assumiria o seu lu-
gar, coberto de louros.
— Como é que vai ser?
— Olha, as galinhas já conhecem a cerimônia. Eu pro-
ponho que nós apostemos uma corrida. O que ganhar, fica
dono do terreiro. O que perder, se retira!
— Mas, o senhor vai perder pra mim, bicho!
— Claro. É apenas uma cerimônia. Você vai ganhar, é
claro. Aí, eu partirei dignificado porque as galinhas verão que
eu lutei pelo meu lugar e você assume, vitorioso.
— Perfeito — falou — tá legal.
— Então, vamos lá. A corrida é daqui até o galinheiro.
Um, dois e. .. três!
E o galinho saiu correndo em disparada, feito um raio.
Atrás dele, correndo, o galo velho.
De repente se ouve no ar um tiro — pum! — e o galinho
novo — pimba — cai durinho no meio do terreiro.
Corta pra janela da fazenda; lá está o fazendeiro so-
prando o cano da espingarda fumegante e falando pra mu-
lher dele:
— Você viu? Outro! Com esse já é o quinto galinho bi-
cha que eu tenho que matar esta semana.

***

Tá lá o velho morrendo. De repente, ele chama o filho


e diz:

59
— Meu filho, tou sentindo um cheiro de pão de queijo.
— Mas é pão de queijo, pai. (Essa se passa em Minas
Gerais; é bom explicar.)
— É sua mãe que tá fazendo, filho?
— É, pai.
Ah, meu filho, ninguém faz um pão de queijo melhor no
mundo. Que cheirinho bom, meu Deus. Que saudade me dá,
meu Deus. Vai lá na cozinha, meu filho, vai. Vai lá e traz uns
pãodequeijim pra mim.
— Vou, meu pai.
Uns minutinhos depois e o rapazinho volta sem pão de
queijo.
— Cadê, meu filho.
— Mamãe não quis dar.
— Por quê?
— Diz ela que são pro velório.

***

O grave senhor chega ao consultório do médico e inicia


a consulta, com todas aquelas informações tradicionais, até
clássica pergunta:
— E quantas vezes o senhor mantém relações sexuais
por mês?
— Uma — respondeu o grave senhor.
— Uma? — surpreendeu-se o médico. — Mas, é estra-
nho, o senhor é muito mais novo do que eu. Eu estou man-
tendo uma média de seis.
— Mas acontece — disse o grave senhor — que o senhor
é um clínico geral e eu sou o Arcebispo de Tramandaí.

***

A professora resolveu fazer um teste de associação de


imagens entre seus alunos. Aí pegou um lenço branco e ace-
nou para o Pedrinho:
— Pedrinho, no que é que você pensa quando eu aceno

60
este lenço?
E o Pedrinho:
— Em alguém dando adeus, professora.
— Lindo, Pedrinho. Muito poético. E você, Mariazinha?
— Em uma garça voando, professora.
— Ah, que beleza!
E continuava acenando o lenço:
— E você, Joãozinho, pensa em quê?
— Em mulher, professora.
— Mulher, Joãozinho? ? ? Mas, como é que um lenço
branco pode te fazer pensar em mulher, Joãozinho?
— Ah, professora, é que eu não penso em outra coisa!

***

Um gordo resolveu tentar seu emagrecimento numa


Academia moderníssima que tinham aberto na cidade. Che-
gou lá e viu que a academia tinha uma tabela de preço cres-
cente. O sujeito pagava cinqüenta para emagrecer dez quilos,
cem para emagrecer vinte, duzentos para emagrecer trinta
e assim por diante. Como ele andava duro, achou melhor
o método mais lento. Pagou os cinqüenta e foi convidado a
entrar para dentro de uma sala enorme. Conforme as ordens
que recebeu, tirou a roupa e ficou ali sentado, nu, esperando.
Nisso, entra uma loura linda, toda nua, com uma plaquinha
pendurada no pescoço, onde estava escrito:
“SE VOCÊ ME PEGAR, SOU TODA SUA”.
O gordo partiu pra cima da moça, correu uma meia
hora e não pegou a veloz lourinha.
Quando, cansado, saiu do salão, tinha emagrecido os
dez quilos.
Ficou entusiasmado com o método. Tanto que voltou no
dia seguinte e como tinha achado a loura de 50 contos uma
beleza, imaginou logo o que não seria a mulher dos duzentos
contos. Aí, pagou a taxa máxima, tirou sôfrego a roupa e en-
trou na sala. Entrou e ficou lá, sentadinho, esperando, todo
emocionado.

61
De repente, entra no salão um crioulo enorme com um
negócio enorme e com uma placa pendurada onde se lia:
“SE EU TE PEGAR,... TE COMO!

***

Entra o marginal pela delegacia fazendo o maior fuzuê.


Jogam ele na frente do comissário. E o comissário:
— Você de novo, Carecão? Não é possível, já é a cen-
tésima quinta vez que eu sou obrigado a ver você na minha
frente!
— Ué, seu comissário, eu não tenho culpa se os home
num promove o senhor!

***

Era uma vez um pobre cego muito infeliz. Tão infeliz


que vivia tentando o suicídio. Sua sorte era que seus amigos
viviam em sua volta, encorajando-o, reconfortando-o, dando
força ao pobrezinho.
Graças aos seus dedicados amigos, ele voltou a reencon-
trar gosto pela vida. Voltou a sorrir, voltou a ter coragem. Um
dia, então, um dos seus amigos chegou pra ele e disse:
— Escuta, velho, agora que você já não tem mais com-
plexo nem problema eu queria te informar: você é preto.

***

Noite de muita chuva, a portaria do hotelzinho do inte-


rior vazia, só o porteiro ali, cochilando. Olha aí: vai chegar
um viajante, pois se não fossem as noites de chuva, os ho-
teizinhos do interior e os viajantes, o que seria da anedo-
ta? Chegou o viajante e pediu um quarto. Adivinhem o que
aconteceu? O porteiro informou que não tinha, só tinha uma
vaga. Aliás, não era nem uma vaga. Era um canto de cama,
pois já tinha um velhinho dormindo na cama de casal.
O porteiro explicou pro viajante. E ele disse:

62
— Tá bom assim mesmo. Estou morto de cansaço e não
tenho onde dormir. Me dá a vaga.
E foi dormir com o velhinho. Lá pelas tantas, noite alta,
o viajante acorda com gritos incríveis. É o velhinho, ao seu
lado, no cama, berrando:
— Aí, meu Deus! Ai, meu Deus! É hoje! É hoje!
— Que foi, meu senhor? Que foi? — pergunta o viajante
assustado.
— É hoje, meu fi! É hoje. Arranja uma mulher pra mim,
porque é hoje. Eu quero uma mulher! Eu quero uma mu-
lher!
— Calma, meu velho!
— Que calma o quê, meu fi! Que calma o quê! Anda, vai
arrumar uma mulher pra mim, porque é hoje.
O viajante virou-se pro velhinho e falou:
— Olha aqui, meu senhor, eu não vou arrumar mulher
pro senhor, por três razões. Primeiro, porque eu não conheço
ninguém nessa cidade; segundo, porque são três horas da
madrugada, tá chovendo pra burro e eu não vou sair feito um
maluco ai pela rua; e terceiro, esse negócio que o senhor está
segurando aí, não é o do senhor não. É o meu!

***

Joãozinho chega pra mãe e pergunta:


— Mãe, eu nasci de um ovo, não foi?
— Não — responde a mãe muito atarefada. — Foi a ce-
gonha que trouxe o queridinho da mamãe.
— É mentira mãe, eu sei que nasci de um ovo.
Novamente a mãe responde negativo, e, despreocupa-
damente, pergunta por que é que o menino estava dizendo
aquilo.
— É porque hoje, quando eu vinha subindo no elevador,
um moço que mora aí em cima botou a mão na minha cabeça
e disse pro outro: “Esse aí é que é o filho daquela galinha do
5.° andar”.

63
***

O paulistano de paletó e gravata vai com a mulher ao


teatro. Programa seríssimo. É uma peça complicada, minu-
ciosa, cheia de truques, muito vanguardeira.
No meio do ato, dá o maior aperto no paulista. A barriga
começa a doer demais. Ele não agüenta. Pede a mulher pra
ficar de olho na peça e contar todos os detalhes pra ele na
volta. Ele não quer perder um só instantinho para entender
tudo.
Sai da platéia, sobe uma escada aqui, outra ali, vira
para um lado, para outro, apertadíssimo e não acha o reser-
vado. De repente, uma porta. Ele abre. Tudo meio escuro,
um ambiente meio esquisito. Ele olha para os lados, não vê
ninguém e pensa: “É aqui mesmo”. Nem conversa, desaper-
ta o cinto e executa o serviço. Aliviado, volta para a platéia.
Senta e pergunta pra mulher:
— Como é que é?
E ela responde:
— Tava tudo certinho, eu estava entendendo tudo, a
peça até que estava fazendo sentido, agora complicou tudo.
Não manjo nada de teatro moderno.
— Que foi que houve?
E ela:
— Agora mesmo entrou um personagem novo no palco,
chegou, olhou prum lado, pro outro, arriou as calças e fez o
maior cocô em cena. Não entendi a mensagem.

***

O francês foi passear em Nova York. Chegando lá, viu


um americano catando tudo quanto era papel engordurado
que via pelo chão, tudo quanto era restinho de óleo, toda
coisa manchada de manteiga, tudo quanto fosse coisa engor-
durada.
— Para que isso? — perguntou o francês ao america-
no.

64
— Isto? A gente mete tudo numa máquina, meu velho,
e faz patê de fois gras, pra exportar pra França.
Anos depois, tava o americano passeando em Paris,
quando viu o francês saindo de uma casa suspeita com uma
cesta cheia de “coisinhas de borracha” usadas, aquela imun-
dície.
— Que porcaria é essa? — perguntou o americano ao
francês.
— Porcaria nada. A gente vai meter isto tudo numa má-
quina, pra fazer goma de mascar pra americano.

***

Juca Lerdo um dia foi parar no velho Oeste. E mais do


que isso. Acabou de sentinela num forte do General Custer.
Um dia, o sol raiando, Juca Lerdo descobre um bando
de índios se aproximando do forte.
— General, general! Índios à vista. Índios à vista!
E Custer, lá de dentro do forte, lhe pergunta:
— São amigos?
— Devem ser, general. Estão todos juntos!

***

Era uma vez uma enfermeira muito boa, mas muito boa
mesmo. Aí, o médico falou pra ela:
— Tá proibida de atender aquele cliente do quarto de-
zessete.
— Por que, doutor?
— Porque toda vez que você entra lá, arrebenta os pon-
tos do rapaz.
— Ah, doutor, perdão — disse a enfermeira. Eu não sa-
bia que ele tinha sido operado de fimose.

***

O cara ganhou um casal de passarinhos. Era a primeira

65
vez que ele tinha passarinho em casa e, como não entendia
nada sobre o assunto, telefonou pro amigo que lhe dera os
pássaros:
— Ei, cara, qualé que é o macho, qualé que é a fêmea?
— Ihh, seu, sei não. Você faz o seguinte: passa lá na
loja onde eu comprei os dois e pergunta pro dono. Ele é um
craque e vai te explicar tudo direitinho.
Pois o cara passou por lá:
— Por favor, o senhor poderia me explicar como é que
eu faço pra distinguir um passarinho fêmea de um passari-
nho macho?
— Muito simples, muito simples, ô meu amigo — falou
o dono da loja que se chamava Manoel. — O senhor vai ao
quintal de sua casa.. . sua casa tem quintal; não é verdade?
— Claro. E aí?
— Ai, o senhor cava no quintal.
— Sim senhor.
— E pega umas minhocas.
— Perfeito. E dai?
— Daí, o senhor leva as minhocas pros dois passari-
nhos comer. O passarinho fêmea só come minhoca fêmea. O
passarinho macho só come minhoca macho.

***

Três sujeitos lá no fundão da Sibéria discutiam as ra-


zões de sua prisão.
O primeiro informou:
— Eu, uma vez, cheguei atrasado à usina, e fui preso
por estar sabotando o trabalho coletivo.
E o outro contou:
— Pois eu, como chegava todo dia mais cedo, fui preso
por espionagem.
E o terceiro:
— Eu sempre cheguei na hora exata, todos os dias, du-
rante anos, e fui preso por conformismo pequeno-burguês.

66
***

Dois capiaus tavam namorando sentadinhos no banco,


na porta da cafua. No céu, uma lua linda. Falei dois capiaus,
mas não me entendam mal: um era mulher, outro era ho-
mem, tudo muito direitinho. Lá os dois, sem assunto. Sen-
tados ali, um ao lado do outro, caladinhos. De repente, o Zé
vira pra Maria e fala:
— No que que ocê etâ pensando, Maria?
— No mesmo que ocê, Zé.
E o Zé, com um sorriso maroto:
— Ocê é indecente, hem!

Vocês podem imaginar como devem estar aquelas ci-


dades que vão nascendo à margem da Transamazônica. Tá
tudo um faroeste daqueles mais épicos, mais cheios de no-
vidade, forasteiro de todo lado, aquele começo de mundo,
cabarés, muito Waldick Soriano, aquelas coisas. Pois um en-
genheiro aqui do Sul, que andou trabalhando por lá, conta
que no interior do Maranhão, num sábado de folga, resolveu
dar uma bordejada de noite e acabou no chamado bairro-
alegre da cidade nascente. Mil bares de madeira, serviços de
alto-falantes, uma zorra. De repente ele viu um que estava

67
anunciando uma atração internacional. Ele ficou intrigado.
Imaginem uma atração internacional no interior do Mara-
nhão. Foi lá ver. Bebeu, dançou, olhou, curtiu o botequim,
até lá pelas tantas, quando as luzes se apagaram e o mestre
de cerimônia convocou as senhoras e os senhores presentes.
O cabaré tinha o orgulho de apresentar, num esforço para
alegrar os pioneiros da Transamazônica, o maior cantor do
Caribe, Dom Pablo Salvador, estrela da televisão mexicana,
famoso em todo o mundo, em viagem pelo Brasil. Palmas,
murmúrios, ansiedade. O nosso engenheiro aqui, só olhan-
do. A orquestra deu o acorde, o animador tacou o “aquele que
é” e apareceu dando pulinhos como um boxeador, de gravata
borboleta e summer branco, Dom Pablo Salvador!!!
Era um crioulinho miúdo, magrinho, com uns dentes
muito brancos, um sorriso maior do que a cara. O animador
antes ainda fez uma entrevista com ele. O nosso amigo só
manjando.
— Dom Salvador, que te parece el Brasil?
— Bueno, bueno!
— Te gusta la Transamazônica?
— Mucho, mucho!
— Lo que te gusta más en el Brasil?
— Las muchachas!
Palmas.
— E vamos ao seu primeiro número, Dom Salvador!
A orquestra atacou a introdução, Dom Salvador segu-
rou o microfone e atacou:
— Hipócrita. Sencillamente, hipócrita...
A orquestra fez tchan, tchan, tchan dando o tempo do
bolero, Dom Salvador respirou fundo e lascou lá:
— Pelvelsa!...

***

Era uma vez um concurso de miniaturas. E os malucos


lá apresentaram cada um as miniaturas mais incríveis. Teve
um que trouxe uma marmitinha dessas de empregados de

68
obra e a apresentou como uma miniatura de piscina. Teve
outro que trouxe um rádio do tamanho de um dedal. Outro
uma máquina fotográfica do tamanho de uma unha. Outro
trouxe um gato do tamanho de uma barata. Mas o vencedor
foi um sujeito que trouxe uma árvore em miniatura. Aliás,
pra ser mais preciso, ele apresentou um carvalho perfeito,
com galhos e folhas, raízes e sombra, como um desses belos
carvalhos de paisagem. Só que sua árvore, seu carvalho im-
ponente, tinha apenas trinta centímetros de altura.
O júri ficou maravilhado com o trabalho do concorrente
e ele levou o prêmio.
Depois foi a glória e as entrevistas. Naturalistas e biólo-
gos do mundo inteiro procurando o homem que tinha reduzi-
do um carvalho gigantesco em um arbusto perfeito de trinta
centímetros de altura.
Um dia, um repórter mais íntimo perguntou pra ele:
— Escuta, qual foi o método que você descobriu para
reduzir uma árvore nessas proporções? Diga: você pode estar
descobrindo um novo caminho para a humanidade.
E ele contou todo o segredo:
— Olha aqui, rapaz, eu não sou cientista nem nada. O
negócio foi assim: eu, um dia, vinha passando perto de um
rio, vi um cara se afogando. Aí, mergulhei no rio, salvei o
cara. Quando eu saí com ele para terra firme, descobri que
o cara era um gênio da floresta. Aí, ele falou comigo que eu
podia pedir o que quisesse que ele me dava. Aí, como eu sem-
pre fui muito mal servido, pedi a ele, sabe, você entende, pedi
que me desse, bem. . . um que tivesse trinta centímetros.
— E daí?
— O gênio me atendeu. Só que o desgraçado era meio
surdo e não entendeu bem o meu pedido.

***

A do camarada que ouvia vozes. Ele vinha andando pela


rua quando, de repente, ouviu uma voz que lhe dizia: “Entra
na loja ali em frente e compra o bilhete que estiver pendura-

69
do à direita da porta. Vai, que dá”.
O camarada olhou prum lado, pro outro, não viu nin-
guém, confiou na voz, entrou na loja, comprou o bilhete,
deu.
Feliz da vida, ele recebeu o bilhete e comprou um tre-
mendo carrão. Entrou no carro e saiu dirigindo com o maior
cuidado, o carro tinha custado uma fortuna. De repente, ele
ouve de novo a voz:
— Acelera, rapaz. Acelera. Vai, que dá.
O camarada tacou o pé no acelerador; o carro saiu vo-
ando. Eis que na sua frente o sinal fecha subitamente. Ele
vai pisar no freio, quando ouve a voz de novo:
— Vai que dá.
Ele manda ver; na hora exata o sinal muda e ele passa
a cento e quarenta pelo cruzamento sem o menor perigo.
Ele já devia estar a uns duzentos por hora, quase na sa-
ída da cidade, quando aparece uma curva fechada e a voz:
— Não reduz não. Vai, que dá.

70
Confiante, ele manda ver, entra na curva cantando nos
freios, deu.
Ei-lo na estrada, fagueiro, voando que nem sentia os
pneus no chão. E olha que no final da reta um cara começa
a morcegar na frente dele. Ele a duzentos e vinte e o cara não
querendo passar dos cento e oitenta.
Ele reduz a marcha e resolve esperar o momento exato
pra ultrapassar o tartarugão. E ouve a voz:
— Ultrapassa, rapaz. Ultrapassa, que dá.
— Mas tem uma curva ali na frente — diz ele duvidan-
do.
— Eu tou dizendo que dá — diz de novo a voz.
Ele nem conversou, acendeu o pisca-pisca, enfiou o pé
no acelerador, pegou a pista da esquerda e mandou ver.
— Vai que dá — gritava a vozinha eufórica; ele já a du-
zentos e oitenta.
Neste exato momento surge em direção contrária um
fenemê de duzentas toneladas, e ele só teve tempo de ouvir a
vozinha dizer:
— Chiiiii, não vai dar não!

***

Um holandês, de passagem pelo Rio, ficou a observar


dois paraíbas dando o maior duro na obra. Chegou pra eles
e disse:
— Quanto vocês ganham pra trabalhar desse jeito?
— 300 cruzeiros cada — responderam.
Ai ele convidou os dois pedreiros pra trabalharem na
Holanda ganhando 6 vezes mais. Os caras toparam logo. Pe-
garam o avião e seguiram pra Holanda. Quando passavam
sobre o Saara, deu uma pane no motor e fizeram uma ater-
rissagem forçada em pleno deserto. Quando os dois desce-
ram e deram com aquele mar de areia, um deles exclamou:
— Putsgrila, Severino, na hora que o cimento chegar,
nós tá fudido.

71
***

Diz que a garota do Ibope chegou, tocou a campainha


da casa do mineiro. . . ou melhor, bateu palmas, não é isso?
Isso: bateu palmas. E veio atender o mineiro:
— Sim, Senhora.
— Por favor, estamos fazendo uma pesquisa. Para o se-
nhor, quais são as três melhores coisas do mundo?
— Dinheiro, mulher e bicho-de-pé.
— Como? Dinheiro e mulher ainda vai, mas bicho-de-
pé? Essa, eu não entendi.
— Cume que num entendeu? — falou o mineiro. — Que
qui adianta ter dinheiro e ter muié, se o bicho num tá de
pé?

***

Vamos contar uma de menininho. Do Joãozinho que


chegou na farmácia e disse pro farmacêutico:
— Me dá um bund-aid.
— Não é bund-aid — disse o farmacêutico. — É band-
aid. Ao que lhe disse o menininho:
— Mas este é pra fazer um curativo aqui atrás.

***

O cara chegou pra confessar e disse:


— Seu padre, comi um gato!
O padre ficou estarrecido. Lascou cinqüenta padre-nos-
sos no rapaz.
Uma semana depois o cara voltou:
— Seu padre, eu não resisti. Comi outro gato.
— Mas confessa que você está arrependido.
— Estou, seu padre. Estou. Mas eu não resisto. Eu sou
doido por um gatinho. Adoro, seu padre. É a maior tenta-
ção.
— Arrependa-se, meu filho. Resista à tentação.

72
E tome penitência. O cara foi embora e voltou uma se-
mana depois:
— Seu padre, comi um gato.
— Não é possível.
— Comi, seu padre. Confesso que comi. Eu não resis-
to.
— Mas é bom assim?
— Ai, seu padre, é a melhor coisa do mundo.
— Arrependa, meu filho. E nunca mais volte aqui com
esse pecado.
Uma semana depois:
— Seu padre, comi um gato.
— Não é possível!
E aquilo durando meses. Até um dia que o padre não
resistiu e falou pro rapaz:
— Escuta aqui, ô maluco, como é que você faz pra co-
mer o gato?
— Olha, seu padre, eu pego o bichinho, levo lá prum
cantão da cozinha, dou uma paulada na cabeça dele, tiro
a pele e faço ele assado no espeto, como paca ou cotia, seu
padre... o senhor precisa ver que sabor...
Nem acabou de falar. Quando ele viu tava o padre na
frente dele, danado da vida, falando:
— Ah, seu merda! É isso? E eu aqui, todo arranha-
do!...

***

Os dois namoradinhos foram ao cinema e ficaram sen-


tadinhos bem juntinhos lá no escurinho. E não se diga que
não prestaram atenção no filme. Prestaram sim. E era uma
comédia. E riram tanto, mas tanto, tanto, que um fez xixi na
mão do outro.

***

— Doutor — fala a mulher ao telefone —, aconteceu

73
uma coisa gravíssima.
— O que foi, minha senhora? — pergunta o médico.
— Meu marido enlouqueceu.
— Não diga, minha senhora. Como é que foi isso?
— Ele cismou que é um cavalo de corrida, doutor.
— Isto é muito grave minha senhora. Venha correndo
com ele para o consultório.
Um momento! Agora é que nós demos pela coisa. Esta
piada pode acabar aqui? Se pode, acabou!
E vamos contar a outra que a gente estava contando
e cujo fim era outro. Era o papo da cliente com o médico,
mesmo. O marido dela tinha, realmente, ficado maluco. E
ela telefonou para o médico. E informou pra ele que o marido
cismou que tinha virado um cavalo. E o médico mandou ela
vir para o consultório o mais depressa. E ela falou:
— Num instante, doutor. É só o tempo de botar a sela.
Ele está correndo uma maravilha!

***

Alguns leitores reclamaram que não entenderam uma


das anedotas publicadas no PASQUIM. Era a do sujeito todo
negro que foi fazer exame para o Exército e o médico reparou,
quando ele ficou nu, que ele tinha uma parte muito especial
do corpo, toda branca. Aí, quando chegou ao final da anedo-
ta, como ela era um pouco sobre a forte, nós resolvemos não
contar o final e dissemos: “Ah, eu conheço esta anedota”,
achando que todo mundo já a conhecia.
Sim, porque aqui, não pretendemos contar piadas no-
vas. Algumas podem ser novas para alguns, mas isto é real-
mente uma antologia; é pra você se lembrar de todas que já
ouviu. Nós achávamos que essa a que nos referimos aqui era
clássica demais para que os leitores a desconhecessem. Por
isso não fomos até o fim. Descobrimos agora que mesmo a
anedota mais velha ainda é novíssima para alguns. Portanto,
vamos contá-la hoje até o fim. É assim:
Aquela fila de rapazes, todos nus, sendo examinados

74
pelo Capitão-Médico. De repente, o médico vê um, todo preto,
com a coisinha branca. E diz pra ele:
— Fenômeno, rapaz. Fenômeno. Nunca vi na minha
vida um caso igual. Um negro com isso aí branco.
— Sou negro não, doutor, — disse o rapaz. — Eu sou é
carvoeiro. E estou em lua-de-mel.

***

O garotinho chegou pra mãe e perguntou:


— Mãeiêêê, empregada amarrota?
— Não, meu filho. Claro que não. Por quê?
— Porque eu ouvi o papai dizendo pra empregada que
hoje ia passar o ferro nela.

***

É época de provas. Já que aqui só se conta piada velha,


vamos lembrar algumas dos velhos tempos de faculdade.
Está o velho e rabugento professor argüindo (antiga-
mente havia isto de argüir, se lembram?) e o disgramado não
respondia uma certa.
O professor não resistiu, virou-se pro bedel (tinha be-
del, tambem) e berrou:
— Bedel, vai lá fora e me traga um monte de capim. . .
E o aluno, no mesmo ritmo:
— E pra mim, um cafezinho, por favor.

75
E as piadas de jacaré, nem? Como tinha piada de ja-
caré. Tinha aquela do sujeito que foi ao médico e disse que
tinha um jacaré debaixo da cama dele, de forma que ele não
dormia de jeito nenhum. Aí o médico deu uns comprimidos
pra ele dormir. Dias depois ele voltou ao médico.
— Como é? Agora, tá dormindo?
— Dormindo eu estou, doutor. Mas, o jacaré continua
lá embaixo da cama.
— Tá bem, meu filho. Tá bem. Mas, vamos dobrar a re-
ceita. Beba também este remedinho aqui, antes de dormir, e
pode ir pro seu quarto direitinho que o jacaré não vai te fazer
nada, viu! Daqui a uma semana você volta.
E passou-se a semana, e mais outra, e o cliente não
voltou. Aí o médico resolveu telefonar pra casa dele.
— Cadê o Alcebíades? (Ah, sim, o cliente se chamava
Alcebíades.)
E responderam de lá:
— Ah, doutor, o senhor não soube, não? Jacaré comeu
ele.

***

Isaac chegou no Céu e perguntou ao Senhor:


— Senhor, o que significa um milhão de anos para o
Senhor?
— Um minuto, Isaac, um minuto. E Isaac, de novo:
— Senhor, e o que significa um milhão de dólares para
o Senhor?
— Um tostão, Isaac. Um tostão.
— Ó, Senhor, como sois sábio e bom. Eu poderia fazer-
vos. pois, um pedido?
— Tu ordenas, Isaac.
— Senhor, concedei-me a graça de doar-me um tostão.
Senhor!
— Pois não, Isaac. Esperai um minuto!

76
***

E tinha um bêbado que toda vez que tomava um pileque,


aparecia um jacaré pra ele. Aí, ele pegava o jacaré e saiam os
dois pela cidade, amarrando o maior porre do mundo.
Um dia — ou uma noite — ele já estava bebendo há
mais de uma hora, quase caindo pelas tabelas e o jacaré não
aparecia. Tomou a dose, aquela que toca o sino, e esperou.
Pimba, o jacaré apareceu.
— Ôi, jacaré, você demorou hoje, hem?
— Eu hoje não tou bão, eu hoje não tou bão!
— Vamos tomar umas e outras aí, jacaré.
— Eu não bebo com tipos como você.
— Qual é, jacaré, tá me estranhando?
— Tou de saco cheio, bicho. Não me chateia.
— Que não te chateia o quê? Você é que tá muito chato,
hoje. Não enche, jacaré.
— Encho. Falei que encho e encho.
— Tu quer saber de uma coisa, jacaré? Tu pára de me
encher, hem?
— E se eu não parar?
— Eu tomo um alka-seltzer e você desaparece!

***

— Pego leão com a minha flautinha!


— Só vendo.
— Quanto paga cada um?
— Cinco milhões.
— Então vamos pra África. Eu e minha flauta. Pego to-
dos. E o dono do circo e o tocador de flauta foram pra África
caçar leão. Andaram pela savana e logo chegaram no antro
dos leões. O primeiro que apareceu e avançou sobre eles caiu
durinho de sono ao ouvir os acordes da flautinha.
O dono do circo ficou besta. Pegaram o leão e enfiaram
na enorme jaula da expedição.
Logo em seguida aparece outro, o cara mete a flautinha

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à boca, firim, firirim, firirim, fim fim... o leão foi fechando o
olhinho, foi ficando meio grogue, pá, caiu durinho num sono
profundo, mais um leão na jaula.
— Mas vai ser uma sopa — falou o dono do circo. — Va-
mos pegar todos os leões da África, sem dar um tiro.
No final da tarde já tinha um monte de leão dentro do
jaulão, tudo pêdavida, assistindo seus outros amigos caírem
um a um.
De repente, aparece na frente deles, todo fú, um leão
velhinho, a cara torta, meio boboca, e fica olhando os dois,
assim de frente.
— Pega esse? — perguntou o cara da flautinha.
— Pega — falou o dono do circo. — Quanto mais, me-
lhor. O cara meteu a flautinha na boca e começou firirim,
firirim, firirim, firirim. . .
Mas o leão olhou pra ele, deu uma lambida vagarosa
nos beiços e veio caminhando pra cima do flautista. E o flau-
tista firme no firirim. Mas, o leão nada. Avançava cada vez
mais. O flautista começou a ficar apavorado e caprichava
cada vez mais na musiquinha, mas não adiantou o capricho.
O velho leão chegou bem pertinho, pá, deu-lhe uma patada
no meio da cara e em dois minutos, traçou o flautista com
flauta e tudo. Só deu tempo do dono do circo ouvir o primeiro
leão que eles pegaram falar pra um outro:
— Não te disse que na hora que aparecesse o Surdinho
ele ia sifu!?. . .

***

Alta madrugada, na pequena cidade, lá no fundo da far-


mácia, dorme o farmacêutico. Lógico, ou vocês queriam que
dormisse o açougueiro? De repente, batem violentamente na
porta. Ele espera um pouco, pois sabe que só se for realmen-
te um caso de urgência o freguês vai bater de novo. E não
demora dois minutos, mais pancada na porta, cada vez com
violência maior.
Ele se levanta meio chateado, arrasta-se até a porta — é

78
o bêbado da cidade.
— Já sei — fala o farmacêutico, pêdavida. — quer um
engove, não é?
— Não senhor, não senhor. Só quero me pesar.

***

A filha do Abrão deu um mau passo e ficou esperando.


O problema é que o pai da criança era um goy. Abrão foi pro-
curar o rapaz:
— Como é?
— Não há problema, seu Abrão. Eu pago as despesas do
parto, dou o enxoval e ainda dou dez mil pro bebê.
— Senhor ser muito bom, muito bom. Pena não ser pa-
trício pra casar com Sara. Mas, e se bebê for menina? Meni-
na ser mais dispendiosa, senhor sabe.
— Não tem problema. Se nascer menina, em vez de dez,
dou vinte milhões.
— Que bom coraçon. Senhor ser muito bom. Mas, escu-
ta. E se Sara perder o bebê?
— Ah, aí, eu não dou nada. Por favor, mas não dou
nada.
— Nem uma chancezinha mais pra Sara, senhor não
dá?

***

O provinciano já vivia há muitos anos na capital, até


que chegou o dia em que ele julgou que já era a hora de se
casar. Mas, quá, o mineirão tava inteirinho dentro do peito
dele e ele achou que na cidade grande não havia mais uma
mulher tão pura como a que ele queria para sua companhei-
ra eterna. Aí, voltou pra sua cidadezinha e mais pro fundo
ainda do sertão até encontrar uma mulherzinha bem bonita
e bastante pura para as suas convicções. E começou a na-
morar a filha de um fazendeiro, doce e meiga, olhos límpidos
e jeito puro. A mulher que ele pedira a Deus. E enquanto

79
noivava, tratava a menina com o maior cuidado:
— Você vai ver que coisa linda é o casamento, meu
amor. Eu vou mostrar pra você que não existe nada mais
bonito no mundo.
E se fez a festa e o casamento. E vestida de noiva, toda
de branco aos pés do altar, a menina perguntou:
— Casamento é isso, bem?
— Não, meu amor. Isso é apenas o começo. Casamento
é muito mais lindo do que apenas isso.
E foram para a fazenda, a festa animada, os dois dan-
çando no meio do salão e ele encantado com a pureza de sua
sertanejinha, volteando no salão, presa aos seus braços:
— Casamento é isso, bem?
— Não, minha menininha. Casamento é muito mais.
Você vai adorar, meu anjinho.
E todos os convidados se foram e eles ficaram sozinhos
na grande casa da fazenda, a câmara nupcial preparada pela
mãe da noiva, sábia senhora.
E os dois entraram no quarto, todo bordado, cheio de
flores.
— Casamento é isso, bem?
— Calma, anjinho, você verá.
E tomou-a nos braços, e dançaram pelo quarto e ele
jogou sua doce companheira no leito de amor e beijou-a com
carinho e ternura e ela tornou-se então sua mulher de verda-
de. Mal tudo terminara ela perguntou:
— Casamento é isso. bem?
— É meu amor. Casamento é isso.
— Engraçado, os rapaiz lá da cidade nunca me disse-
ram que esse trem era casamento.

***
O jovem pai chegou ao pediatra, bastante aflito, com
uma criança no colo:
— Doutor, meu filho está com seis meses e não abre os
olhos!
O médico examinou, bem, virou-se pro rapaz, e falou:

80
— Quem deve abrir os olhos é o senhor, meu amigo.
Isso aí é filho de japonês.

***

Os pernilongos não deixavam o cara dormir. Ele aí, não


conversou. Pegou um spray e tacou jato de inseticida per-
fumado no quarto inteiro, enfiou a cara debaixo do cobertor
e fechou os olhos, esperando um sono tranqüilo. De repen-
te, ele ouve aquele zumzumbinho de novo, além das cober-
tas, bem perto do ouvido dele. Só que era um zumzumbinho
meio diferente, uem-uem-uem-hic, uem-uem-uem-hic, meio
esquisito. Ele levantou as cobertas e deu de cara com um
pernilonguinho na frente dele, com o olhinho meio caído, um
paninho na patinha da frente e dizendo:
— Ei bicho, bota mais um jatinho aqui no meu lenço!

***

Tava o Jacó no seu boteco, lá nos sertões nordestinos,


quando chegou Lampião e Corisco:
— Bota duas cachaça aí, ô cabra da peste!
Trêmulo, Jacó atendeu.
— Agora, bota três procê bebê com nóis — falou Lam-
pião.
— Por favor, senhor, Jacó ser abstêmio, Jacó sofrer de
fígado, Jacó num pode beber, senhor.
— Bebe qui tô mandando, ô cabra — falou Lampião.
Não houve jeito, e Jacó engoliu a pinga duma só vez.
Depois de mais umas quatro rodadas, e Jacó cada vez mais
trêmulo, Lampião falou:
— Cê sabe cum quem tá bebendo?
— Sei não, senhor — respondeu Jacó.
— Pois olha, bichinho. Eu sô Lampião! E este aqui é
Corisco!
E foi aquela reviravolta. De trêmulo, Jacó ficou furioso.
Pegou uma vassoura e saiu distribuindo cacetada pra todo

81
lado, enquanto exclamava:
— Fora daqui, cambada de fios das puta, Jacó pensar
que era fiscal.

***

Dizem que o velhinho era fogo. Aos oitenta anos apare-


ceu no médico dizendo que queria fazer exame pré-nupcial
pois ia se casar.
O médico virou-se pra ele e perguntou:
— Mas, o senhor tem certeza de que quer mesmo se
casar?
— Olha, meu filho — falou o velhinho — querer eu não
quero, não. Tenho!!!

***

Numa linda tarde, um rapaz todo cheio de trejeitos pas-


seia tranqüilamente pelo calçadão de Copacabana. Leva ao
colo um desses gatos Angorá. Num dado momento, o rapazi-
nho se prepara para atravessar a avenida, e eis que um des-
ses rapagões esbeltos, atléticos, queimados pelo sol, esban-
jando vitalidade descobre o gato. Maravilhoso! Lindo! Olha
dentro dos olhos do rapazinho, e pede:
— Dá pra mim?. . . E o outro responde:
— E quem é que segura o gato?

***

Jamais se casaria. Pelo menos é o que se dizia dele. Não


que fosse um homem sem esperanças. Muito pelo contrário.
Era um puro. Não casava de tímido que era. Tinha era medo.
Tremia, quando via uma mulher. Não gostava de ouvir os
amigos ficarem falando dessas coisas. Não adiantava que lhe
dissessem das vantagens e alegrias do casamento. Não ia
casar.
Mas, um dia, casou. Achou uma mulher tão legal, tão

82
a seu jeito, tão bonita, tão apaixonante, tão sua amiga, que
ele não agüentou. Quer dizer, quando viu, tava casado. E no
quarto de um hotel enorme, em plena lua-de-mel.
E no meio da noite, levantou-se, abriu a porta do seu
quarto e correu para o quarto do lado. Bateu na porta. Uma
cara amarfanhada apareceu na porta entreaberta, acordada
no meie da noite:
— O que é?
— O senhor é casado?
— Sou não! — berrou o que abrira, batendo a porta com
força na cara dele.
Ele foi para o quarto seguinte:
— O senhor é casado?
— Sou não, pô!
Porta na cara. E no quarto seguinte:
— O senhor é casado?
— SOU NÃO!!!
E ele correu todo o corredor daquele andar. E todos os
corredores dos outros andares e todos os quartos:
— O senhor é casado? A senhora é casada?
— Não! Não! Não!
E já eram quase quatro horas da manhã. Ele já estava
cansado. No último quarto, quase que seu punho fechado
não fez barulho na porta. E atendeu um hóspede com cara
paciente:
— O senhor é casado?
— Sou sim, por quê?
— He. . . ele fez! Juntou as duas mãos entre os joelhos,
levantou os ombros, deu um sorriso deste tamanho e jogou
a cabeça pro lado:
— Casar é bão demais, não é?!...

***

A pesquisadora chegou um dia numa cidadezinha per-


dida lá no meio do sertão. E começou a pesquisa:
— Seu prefeito, quantas pessoas, em média, morrem,

83
por mês nesta cidade?
— Oia, menina. Tou na prefeitura há mais de 20 anos.
Sabe que nunca vi um enterro.
— Que beleza, seu prefeito. E qual era a população na-
quela época?
— Mil e quinhentas pessoas.
— E hoje?
— Mil e quinhentas.
— Ué, seu prefeito, e não nasceu ninguém?
— Nasceu, sim, minha filha. Nasce menino pra danar
nesta cidade.
— E como é que a população não aumenta?
— É que toda vez que nasce um menino, foge um ra-
paz.

***

Dizem que esta se passou na estrada que vai de Cam-


pinas a Pelotas. Ninguém sabe ao certo. Deve ser por aí, pois
é nesta região do país que o pessoal chama carteira de habi-
litação de carta.
Pois ia o louco rapazola no seu Mustang, a mais de 150
km por hora, quando passa por um guarda montado em sua
moto, bem debaixo da placa onde estava escrito que a veloci-
dade máxima era de sessenta quilômetros.
O guarda alcança a boneca, faz o Mustang parar no
acostamento, desce da moto, aproxima-se, machão, do carro
parado. Encosta seu vigoroso cotovelo na porta do carro e
pergunta pra bichona:
— Cadê a carta? E ela responde:
— E eu, por acaso, fiquei de te escrever?

***

A gente estava se recusando a publicar estas piadas


pra não ficarem dizendo por aí que é a gente que tá fazendo
campanha contra. Mas o estoque é tão grande que nós num

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resiste. Vamos contar todas. Vocês que escolham a cidade
exata onde cada história se passa.
• Diz — que numa dessas cidades ai inauguraram um
estádio enorme chamado o “Bichão”. Cem mil lugares: cin-
qüenta mil sentados e cinqüenta mil no colo.
• Problema: Diz — que já venderam todos os cinqüenta
mil no colo.
• Tem uma estrada que vai ligar as duas cidades: a
“Trans-viadônica”.
• Cuequinha “Zorba” lá eles estão chamando de porta-
jóia.
• Tava um pescando e passou um outro lá no meio da
estrada e olhou o pescador lá embaixo no rio: “Como é, tá
dando muito aí, hoje?” E o de baixo respondeu: “Eu não sou
daqui, não, sô. Sou de Jundiaí.”
• E tem a história da passagem para pederasta. O De-
partamento de Trânsito da cidade inaugurou as placas e em
vez de escrever: Passagem para Pedestres, escreveu: Passa-
gem para Pederastas. Chegou um pessoal e reclamou ao De-
partamento de Trânsito, sugerindo que eles pintassem uma
placa nova. E o Departamento respondeu que não precisava
não: “Por causa de uns cinco ou seis só, vamos ter esse tra-
balhão?”
• Os homens da cidade se reuniram e disseram que as-
sim não era possível, que não podia continuar. Fizeram uma
convocação para irem em comissão ao governo do estado e
apresentar seu protesto. Todos juntos, partiram ferozes para
a capital do estado, lotando um Karman Ghia inteiro.
• Argumento histórico muito usado por lá: O Conde
D’Eu
O 1.” Ministro do Canadá
Os súditos do Sudão
A população de Avanhandava
etc.
• Quando passou nos cinemas das duas famosas loca-
lidades o filme “Os Homens Nascem Da Terra”, as ruas ama-
nheceram todas esburacadas.

85
• Placas na estrada, antes de se chegar ao fim do ca-
minho. Primeiro tem Valinhos, terra do figo. Depois Jundiaí,
terra da uva. Na entrada de Valinhos: “Coma figo!” Na entra-
da de Jundiaí: “Coma Uva”. Depois: “Coma nós”.
• “Esse negócio de dá o pé, louro, já era!” Frase de um
papagaio local anotada por um leitor atento.
• Papai Noel vem voando no seu trenó puxado por vea-
dinhos. Antes de chegar em São Paulo, dá uma parada pra
trocar as juntas.
• E o que fizeram com a Kombi da Erontex não foi legal.
Só porque na Kombi estava escrito: “Erontex dá mais!”
• Nestas duas cidades famosas já não se fazem mais
leilões. É que quando o leiloeiro grita: “Quem dá mais? Quem
dá mais?” é o maior fuzuê no auditório.
• Dizem que lá só nascem músicos e bichas. O último
músico que nasceu foi Carlos Gomes.
• O último rapaz que fez mal a uma moça — não sa-
bemos em qual das duas cidades — foi um que fugiu com o
noivo dela.
• A maior produção: chuchu. Dá o ano inteiro.
• Na praça principal botaram uma espécie de relógio
com um ponteiro. Toda vez que passasse uma bicha, o pon-
teiro girava. Era pra fazer uma estatística. O relógio virou
ventilador.
• O que está havendo nessas cidades é um surto epidê-
mico causado por um vírus. O vírus de Costa.
• Ia um, na rua, levando um pacote, esbarrou no outro,
com alguma violência: “Desculpe. Doeu?” Ao que outro res-
pondeu rápido: “Não, não. Dou eu!”
• Um pessoal resolveu dar um pulinho lá, só pra goza-
ção. Mas a turma de lá não conversou, caiu de punho. . . no
chão.
• Se você não ligar, o pessoal esquece. O que deixou o
pessoal meio cabreiro foi o fato do pessoal de uma dessas
duas cidades botar a boca no mundo pra reclamar. Nos vi-
dros traseiros dos automóveis eles botaram uma frase: “Leve
sua mamãe pra visitar Campinas”. Diz que um sujeito de

86
Jundiai levou e a mãe dele voltou escandalizada.
• Diz que o pessoal de Rio Grande e Jundiaí anda todo
mundo com enormes pulseiras de couro, bem apertadas, pra
segurar a munheca. É que tá vindo um vento muito forte de
Pelotas e de Campinas.

***

Lá iam pelo deserto, o padre e a freira, missionários,


montados num camelo. De repente, o camelo cai morto. Fi-
cam os dois ali, sozinhos, se assando ao sol. O padre sugere
que, com seus hábitos, eles façam uma barraca, um toldo,
qualquer coisa que os proteja do sol, para que eles fiquem ali,
na rota, esperando socorro e possam ser encontrados vivos.
De repente, lá estão os dois como Deus os serviu.
Sozinhos.
O padre:
— Que é isso aí, querida irmã?
— Ah, meu padre querido, são coisas mortas.
Silêncio.
Em seguida a irmã, talvez, sem querer, tentadora:
— E isso aí, padre, o que é?
— Ah, irmã. . . — disse o padre com alegria —, isto...
isto é um ressuscitador das coisas mortas.
Seus olhos brilharam. A irmã sorriu como quem tivesse
uma idéia.
Ele chegou mais pra perto. A irmã teve a idéia:
— Padre. Que maravilha!!!
O padre se animou.
— Vem. . . vem. . . — disse a irmã. — Ressuscita o ca-
melo!

***

A moça, muito bonita, estranhou que o médico man-


dasse ela tirar a roupa toda para um exame tão simples.
— Vai ser preciso, doutor?

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— Vai sim, minha senhora. Por favor.
A bela moça tirou e, como a sala estivesse meio escuri-
nha, perguntou pro médico:
— Onde é que eu ponho a roupa, doutor?
E ele respondeu:
— Aqui. Em cima da minha. . .

***

O dono do hotel chama a camareira:


— Minha filha, sobe lá em cima, no quarto duzentos e
dois, e pergunta pro novo hóspede a profissão dele. Esqueci
de botar aqui na ficha.
— Pode botar que é viajante.
— Como é que você sabe?
— Olhei pela greta da porta. Ele foi chegando, limpou o
sapato na colcha, deu uma mijada na pia, abriu a janela de
ponta a ponta, olhou lá pra baixo, deu um suspiro e falou:
“Êta cidadezinha de merda!”

***

Todo dia a bicha passava pela construção. Era o pobre


do semicoflauta passar e o servente da obra gritar:
— Bichona! Chibungo! Frangão!
Ah. . . a boneca ficava uma fera e mandava o troco:
— Paraíba! Saquarema! Morto de fome! Flagelado!
E isto era todo dia, chibungo pra lá, flagelado pra cá.
Aí, chegou o carnaval. O fresquinho mandou fazer uma
fantasia linda de baiana, toda rendada, uma graça. Pintou-se
com o maior cuidado, penteou-se, uma peruca linda, enfei-
tou-se o mais que pôde e desceu para ir para a festa. Virou a
esquina e foi passando em frente à obra. lá estava o servente
da obra, grosso (em todos os sentidos), aquela carona larga
e amarela aquele riso debochado. No que ele viu a baiana
rebolando do outro lado, reconheceu logo quem era e abriu
a boca pra gozar o pobre, quando percebeu que até que ela

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estava bonitinha. Aí encheu os peitos e gritou:
— Boneca linda!!!
Ah. . . ela não agüentou de emoção. Virou-se, pra obra,
abriu os braços e gritou, morrendo de felicidade:
— Arquiteto!!!

Entra o primo do Jaguar no botequim e pede uma pin-


ga. O dono do bar, só de safadeza, bota um copo de álcool 52
Gay Lussac pro pinguço. Ele vira o copo, limpa a boca, vira
pro dono do botequim e fala:
— Qualé, meu irmão? Tá botando água na pinga? Vê aí
um negócio forte.
O dono do botequim foi lá dentro, pegou uma garrafa de
ácido sulfúrico e encheu o copo do primo do Jaguar:

89
— Prova este.
O cara pegou o copo e virou sem tossir:
— Legal.
E saiu todo feliz do botequim, o dono de queixo caído.
No dia seguinte, olha o bêbado ali, de volta.
— Me dá uma pinga.
O dono do botequim até que estava distraído, encheu o
copo do freguês de cachaça mesmo. Ele virou o copo, fez cara
feia e falou:
— Quero dessa não. Me dá uma dose daquela que,
quando a gente faz xixi, enche o chão de buraquinho!

***

Era uma vez um papagaio muito folgado e muito fala-


dor. Um dia, o namorado que namorava no portão da casa
onde vivia o papagaio resolveu exemplar o bicho. Levou um
revólver e avisou pra namorada:
— Se este cretino desse papagaio se engraçar hoje, vai
levar bala!
E mal começou o namorinho o papagaio atacou de lá:
— Tira a mão do material! Larga o osso! Segura, Mar-
garida!
O namorado não conversou. Passou fogo nele.
A bala passou arrancando pena, o papagaio se dese-
quilibrou, arrebentou a correntinha, caiu poleiro prum lado,
papagaio pro outro, de rabo para cima, maior ridículo.
Tinha um gato dormindo embaixo, acordou assustado,
vendo aquela coisa verde toda despinguelada caída na frente
dele, arrepiou-se todo, levantou a barriga, abriu os dentes
de ponta a ponta e fez aquele ruído típico de fato ouriçado:
crrrrrrrrrrr!
O papagaio se levantou, ajeitou as penas e encarou o
gato:
— Tá rindo de quê, ô viadão?!.

***

90
Tinha uma multidão no meio da praça — rapaz! como
esta anedota é velha — quando de repente, um sujeito subiu
em cima de um caixote e começou um discurso.
— Meus senhores e minhas senhoras. A eleição se apro-
xima e é chegado o momento em que devo dirigir-lhes a pa-
lavra.
Juntou gente em volta do caixote.
— Quero dizer — continuou o homem — que eu sou Fu-
lano de Tal, candidato de todos vocês a um lugar na Assem-
bléia do povo, onde vou lutar pelos direitos de todos vocês,
onde vou defender os interesses dos que votarem em mim,
onde irei pugnar para que os interesses dos mais humildes
sejam respeitados. Conto com o voto de cada um. Sei que
posso confiar em cada um dos que me ouvem neste momen-
to, porque posso dizer, tranqüilamente, que vocês podem
confiar em mim. Podem confiar em minha honestidade. Po-
dem confiar em minha capacidade de trabalho. Podem con-
fiar no meu ideal.
E ele estava na maior empolgação, quando olhou em
volta e viu que não tinha mais ninguém ouvindo o seu dis-
curso. Aliás, tinha. Tinha um só, em pezinho lá no fundo,
quieto, de olho nele.
Ele ficou pálido de emoção e dirigiu-se ao último ouvin-
te.
— Amigo! É um prazer, uma emoção, uma alegria imen-
sa verificar que ainda há no mundo um homem que sabe
ouvir, que sabe confiar, que sabe esperar. Fico desvanecido
com sua homenagem. Agradeço sua atenção. E sei, agora,
que o seu voto apenas valerá mais do que todos os votos que
eu possa vir a ter, porque você é um homem de bem. Muito
obrigado, amigo. Diga o que você quer, que eu farei neste
momento.
Ao que o ouvinte solitário respondeu:
— Quero é que o senhor desça do meu caixote, que tá
na hora de eu ir embora pra casa.

***

91
O irmão mais velho do Joãozinho se casou. E como o
começo é sempre duro, o irmão do Joãozinho foi morar na
casa dos pais, mesmo, com sua jovem mulherzinha.
Uma noite, Joãozinho acordou — na verdade, Joãozi-
nho não dormia desde que o irmão veio morar com a mulher
no quarto do lado — e resolveu dar uma incerta. Abriu a
porta devagarinho, entrou pelo quarto, meteu-se no meio das
cobertas, muito quietinho e ficou ali, o olhão aberto, prestan-
do atenção. Depois se desinteressou. Levantou-se, saiu do
quarto, fechou a porta e filosofou:
— Como esse mundo é injusto, hem. Cama, comida e
roupa lavada. Eu, tadinho de mim, levo a maior bronca por-
que enfio o meu dedinho no buraco do nariz.

***

Já estava na hora de fechar as portas do Convento e


Madre Superiora ainda não tinha voltado com a Madre Ste-
linha. Corta pras duas, caminhando rápidas por uma rua
deserta, tentando chegar em casa. Diálogo:
MADRE SUPERIORA — Madre Stelinha, tenho a im-
pressão de que estamos sendo seguidas.
MADRE STELINHA — Nossa Mãe, estamos mesmo. É
um louco. E vem correndo em nossa direção.
MADRE SUPERIORA — Que fazemos?
MADRE STELINHA — A senhora corre para um lado e
eu para o outro. Assim, pelo menos, uma fica a salvo.
E saiu correndo por uma rua mais deserta ainda e dei-
xou a Madre Superiora sem saber o que fazer. O louco que
vinha correndo passou por ela e desembestou atrás de Madre
Stelinha.
Madre Superiora, o mais rápido que pôde, correu até o
Convento, onde chegou desesperada. Pobre Madre Stelinha.
E todas as freiras começaram a rezar pela sua desgraça. E o
tempo passando e nada de Madre Stelinha chegar. De repen-
te, a sineta da porta toca e todas correm para abrir. É Madre
Stelinha com a carinha mais feliz do mundo.

92
— Madre Stelinha!!! Você está salva?
— Claro.
— Conta como foi — gritavam todas.
E Madre Stelinha contou:
— Eu saí correndo e o maluco atrás. Aí, ele me encur-
ralou numa rua deserta. Eu fiquei sem saber o que fazer. E
ele avançando...
As madres todas com as mãos na boca, os olhos aber-
tos, atônitas, ohhh...
— E ele foi se aproximando... se aproximando... com as
mãos crispadas e o olhar alucinado, me olhando nos olhos...
terrivelmente. . .
— Ohhhh... -- faziam todas.
— Aí, eu tive uma idéia!
— Sim!
— Sabem o que eu fiz? Levantei a minha saia até o pes-
coço!
— Ohhhh! — fizeram todas.
— E ele? — perguntou a Madre Superiora.
— Ele — disse Madre Stelinha — baixou as calças até
o pé.
— E aí????
— Aí — disse Madre Stelinha sorrindo —, vocês sabem,
uma mulher de saia levantada corre muito mais do que um
homem de calça arriada...

***

Diz que um engenheiro do interior, desses bem anti-


gos e muito habilidosos, estava muito preocupado com um
namoro que a filha tinha arrumado. Aí, deu um jeito de po-
liciar a filha sem ter que sentar a mãe no meio dos dois. Ele
inventou uma espécie de periscópio, instalou o complicado
aparelho no banco da varanda e, do lado de dentro da casa,
podia controlar o andamento das coisas. Se o moço pegasse
na mão da filha, apareceria uma luz verde. Se pegasse no
braço, luz azul, e assim por diante: cada pegada, uma cor,

93
vermelho, violeta, amarelo, roxo, lilás.
E o moço chegou pra namorar e os dois sentaram lá
fora e o engenheiro botou a mulher controlando cá dentro de
casa, informando pra ele as diversas cores que fossem apa-
recendo na maquininha.
E a velhinha ficou lá:
— Tá verde, marido!
— Verde pode, mulher!
— Tá azul, marido!
— Azul? Bão.. . até azul pode ir...
Mas, logo fez-se um silêncio, e a mulher não falou mais
nada. Ele ficou intrigado e berrou de lá:
— Como é, mulher, cê num fala nada.
— Ah bem, é que eu tou aqui encantada. Vem ver que
beleza de arco-íris!

***

Cinema escuro. De repente, a voz do menininho:


— Mãe, eu perdi minha bolinha.
— Fala baixo, meu filho. Deixa acabar o filme, quando
acender a luz, mamãe acha a sua bolinha.
— Eu quero minha bolinha, mãe.
— Fica quietinho, meu filho.
— Mãeiiê, eu não tou achando a minha bolinha.
— A gente procura depois, meu filho.
— Silêncio.
— Tira esse menino do cinema.
— Eu quero a minha bolinha.
— Acende a luz.
— Procura logo a bolinha deste chato, pra gente poder
ver o filme sossegado.
E acenderam a luz e todo mundo ficou procurando a
bolinha. Ninguém achou.
— Não achamos a sua bolinha, meu filho. Você viu.
Todo mundo procurou.
— Não tem importância — disse o menino.

94
Aí, sentou-se em sua cadeira, encolheu os ombros, en-
fiou o dedo no nariz e falou.
— Eu faço outra.

***

O cara foi visitar o hospício. Era um barbudo. Quando


ele ia passando por uma ala cheia de celas, um dos loucos o
chamou. Ele se aproximou das grades e o homem lá dentro
falou pra ele:
— Meu senhor, eu não sou louco. Estou aqui, porque
minha família me odeia. Mas, eu sou normal, viu. Normal
Tanto que eu quero dar um aviso ao senhor. O senhor com
estas barbas longas, por favor, não se aproxime das celas. Os
loucos são capazes de tudo. Mantenha-se sempre afastado,
viu.
O cara saiu impressionado com a lucidez do pobre ho-
mem e fez toda a visita ao hospício sem se aproximar das
grades. Quando ele ia saindo de volta, o mesmo homem o
chamou de novo:
— Por favor, venha aqui.
Ele se aproximou das grades:
— Pois não.
Foi só o barbudo chegar pertinho o outro pendurou-se
nas suas barbas:
— Não te falei pra não chegar perto, não te falei pra não
chegar perto!?

***

Na grande sala de visitas da velha fazenda, o noivo,


noivando. Noivo noivando em fazenda do interior deste país,
no tempo que esta anedota nasceu, era assim: o noivo na
sala sentado numa cadeira. Ao seu lado, em outra cadeira,
a noiva. Do outro lado da sala, no banco comprido, o pai da
noiva, a mãe da noiva, os irmãos da noiva, a avó da noiva,
a tia solteirona da noiva. No meio da sala, uma mesa com

95
uns biscoitos, umas broas, um bule de café e, muitas vezes,
um cachorro cochilando. Nesta anedota tinha um cachorro.
Cochilando. Só que não era no meio da sala, era debaixo da
cadeira do noivo.
Aquele silêncio, quebrado de vez em quando por um riso
idiota da noiva, um chiado de canto da boca do pai limpando
os farelinhos de biscoito restados nos dentes e o cochilar do
cachorro, debaixo da cadeira.
De repente, a dor de barriga. Do noivo. A dor de barri-
ga apertando e a falta de jeito, a timidez, a impossibilidade
de tomar uma decisão, o pum, enorme, ecoando pela sala:
PUM!
O olhar assustado da noiva, o noivo, rápido, olho no
chão, o cão, foi o cão, a noiva entendendo e tendo a idéia lu-
minosa, salvadora:
— Sai daí, Tupã, sai daí!
E a paz voltando a reinar de novo na sala grande.
Súbito, volta a dor, menos forte. Desta vez porém, com
o problema já solucionado a priori, o noivo nem esperou a
dor: PUM! Outro traque. Enorme.
— Sai daí, Tupã, sai daí!
A noiva, de novo, salvando.
E mais uma ou duas vezes isto aconteceu e toda vez a
noiva dizendo pro cachorrinho, sai daí, Tupã, sai daí, sem
muita convicção.
Lá pelas tantas, o noivo solta outro. Ah, este foi demais.
De arrasar quarteirão. A noiva virou-se para o cachorrinho e
já ia dar a ordem, quando o velho, parando de chiar os den-
tes, interrompeu aos berros:
— Sai daí, Tupã. Sai daí, se não este disgramado caga
em cima d’ocê.

***

O cara da cidade, fracassado por aqui, resolveu partir


para o interior, tentar vida nova. Acabou numa fazenda, duro
de fome, procurando um trabalho.

96
— Profissão? — perguntou o fazendeiro.
— Vaqueiro — respondeu o moço.
O fazendeiro olhou pro cara assim, manjou a pinta do
bruto, falou:
— Tá empregdo. Olha, vai tirar o leite daquela vaca lá.
O rapaz já ia saindo, quando o fazendeiro o chamou e
explicou:
— É brava, hem. Vai com cuidado. Leva o banquinho. E
deu o banquinho pro moço.
Alguns instantes depois, me volta o cara todo arreben-
tado, com o banco quebrado e o balde na mão.
— Conseguiu tirar o leite? — perguntou o fazendeiro.
— Tirar o leite até que foi fácil — respondeu o rapaz. —
Duro foi fazer a vaca sentar no banquinho.

No sul dos Estados Unidos um crioulinho, no fundo de


seu quintal, pega uma lata de tinta branca e se pinta todo.
Corre todo serelepe para perto da. mãe:
— Olha, mamãe, tou branco.
A mãe, muito ocupada, vê aquele capetinha pingando

97
tinta branca pela casa, vira-se pra ele e dá-lhe um cascudo
violento.
O menino sai muito sem graça da cozinha e vai até a
sala onde está seu pai. O negro vê seu filho assim, todo lam-
buzado de tinta, pega o menino pela orelha e dá-lhe umas
palmadas. O menino volta correndo para o fundo do quintal
e de repente, pára, assustado com uma descoberta:
— Puxa... não tem nem dez minutos que eu sou branco,
já estou odiando dois negros.

***

Tinha um cara numa cidadezinha do interior que era o


principal fator do desequilíbrio econômico daquela próspe-
ra comunidade. É que ele era um apostador terrível e vivia
apostando com todo mundo e ganhando o dinheiro de todo
mundo.
Até que um dia, o prefeito da cidade ligou pro prefeito
da cidade vizinha, que era também um grande apostador e
falou pra ele que ia deportar o sujeito pra lá, que não agüen-
tava mais. O prefeito da outra cidade achou ótimo:
— Manda este cara pra cá. Ele vai ver quem é o sabi-
do.
— Mas, ele nunca perdeu uma aposta, hem!
— Tem problema, não. Pode mandar. Vou desmoralizar
ele.
E o prefeito mandou. Pegou um regimento e mandou o
regimento deixar o apostador na outra cidade. Chegando lá
ele foi logo ter com o prefeito.
— Muito bem. Então o senhor é que é o famoso aposta-
dor que não perde nunca?
— Nada, doutor. Apenas tenho um pouquinho de sor-
te.
— Quer fazer uma aposta comigo?
— Se o senhor quiser.
— Pode escolher. Pode escolher.
E o apostador:

98
— Aposto cem conos como o senhor tem hemorróidas!
— Não tenho. E posso provar.
O apostador perdeu os cem contos. O prefeito não tinha
hemorróidas. Ganhados os cem contos, ele telefonou pro ou-
tro prefeito:
— Alô, companheiro, acabo de desmoralizar seu apos-
tador. Ganhei cem contos dele.
— Não diga! O que foi que você apostou?
— Apostei que não tinha hemorróidas.
— E não tem?
— Não.
— E ele viu que você não tinha.
— Claro que viu?
— E ele examinou bem pra ver?
— Claro. Aposta é aposta.
— Passou a mão no lugar?
— Passou, claro.
— Desgraçado. Me ganhou uma aposta de um milhão!

***

O marido esperando o nascimento do filho na sala da


maternidade. Aquela angústia, mil cigarros e o tempo pas-
sando. Era o primeiro filho e ele ali, sofrendo. Passou o tem-
po que devia passar e nada da enfermeira vir avisar qualquer
coisa. O coitado esperando. Quando ele já não agüentava
mais tanta demora, abre-se a porta da sala de cirurgia e sai
o médico com a cara mais grave do mundo:
— Tenho uma notícia um pouco triste para o senhor.
— Meu filho morreu?
— Não, não. Nada disso!
— Oh! Então eu sou um homem feliz. Eu quero ver o
meu filho. O meu filho!
— Um momento. O seu filho tem um probleminha.
— Não importa. É meu filho. Eu quero ver o meu filho.
Do jeito que ele for, é meu. Eu quero vê-lo.
— Olha. Ele não tem perna.

99
— Eu o farei feliz assim mesmo. É o meu fiiho. Eu o
quero do qualquer maneira.
— As duas!
— Oh! Oh! Mas, eu o quero ainda. Meu filho. Meu fi-
lho!
— Calma, meu amigo. Acontece que ele não tem os bra-
ços.
— Meu. . .
— Os dois!
— . . .filho!
— E quanto ao tronco...
— Pare. Mostre-me o meu filho. Eu quero o meu filho.
Eu farei tudo por ele!
— Mas, o tronco. . . ele não tem o tronco.
O pai invade a sala de cirurgia e avança para a mesa
de operação onde espera encontrar seu filho. O médico ainda
tem tempo de avisar:
— Olha, a cabeça, sabe. Faltou a cabeça!
O homem chega à mesa e só vê sobre ela uma orelha
enorme. Ele pega aquela orelha no colo, e aos prantos come-
ça a falar:
— Oh, meu filho! Meu filho! Não fique triste, meu filho.
Papai vai fazer tudo por você. Juro. Papai vai te fazer feliz...
papai vai fazer o possível e o impossível. . .
Foi quando o médico o interrompeu para avisar:
— Ôi. Fala alto, porque ele é surdo!

***

O rapaz pobre namorava uma moça, muito rica, que


gostava muito dele.
Depois de muitas indecisões, um dia ele resolveu pedir
a mão da moça ao pai milionário.
Depois de um bate-papo rápido, o pai, muito objetivo
naquela conversa a sós, perguntou:
— Muito bem, meu rapaz, e quanto é que você ganha
por mês?

100
— Quinhentos contos.
— Quinhentos contos? — diz o pai, indignado.
— É.
— Ponha-se daqui pra fora, rapaz. Onde já se viu, um
teso como você querer casar com a filha de um milionário.
Fique o senhor sabendo que quinhentos contos não dão pra
pagar nem o papel higiênico que ela usa.
O rapaz saiu da sala, chateadíssimo, humilhadissimo.
Do lado de fora, a moça, ansiosa, esperava por ele. Quando
este passou por ela, voando baixo, ela tentou segurá-lo pelo
braço e perguntou:
— Foi tudo bem, meu amor?
O rapaz deu uma paradinha, olhou a moça de alto a
baixo e disse apenas, antes dê sumir:
— Sua cagona!

***

O menino era um capetinha. Desbocado, safadinho,


aquela carinha típica de menino matreiro. Vivia sendo expul-
so das festinhas de aniversário em que comparecia, matando
a mãe de desgosto.
Na última em que comparecera, tinha armado uma
brincadeira tão safada no banheiro que em meia hora a mãe
do aniversariante teve que devolvê-lo para casa. E o que fa-
lava de palavrão, não era brincadeira. Passaram meses sem
que fosse convidado para festa alguma no bairro.
Um dia a mãe dele recebe um telefonema de uma vi-
zinha convidando o garotinho pro aniversário da filha. No
fundo, a mãezinha ficou muito feliz, afinal, o menininho dela
seria de novo aceito no seu círculo.
Na hora da festa, arrumou o filho todo bonitinho, pen-
teou o cabelinho do menino e deu muitos conselhos pra ele,
“meu filhinho, comporte-se direitinho, não faça a mamãe
passar vergonha, não fale palavra feia, não agarre as menini-
nhas, respeite os mais velhos”, essas coisas. Fez o embrulho
do presentinho, deu um beijo na testa do menino e disse:

101
— Vai com Deus, meu anjo. Faz tudo direitinho como
mamãe falou, viu.
E o menino foi.
Dez minutos depois olha o menino de volta, todo sem
graça. A mãe abriu a porta e deu de cara com o menininho
ali, com aquele sorrisinho meio amarelinho nos lábios, ah,
ela nem conversou:
— Capetinha! A gente não pode confiar em você, não é?
Foi agarrando o menino pela orelha e falando todas as coisas
que mãe fala nestas horas e jogou o menino no banheiro.
— Vai ficar preso aí até seu pai chegar pra conversar
com você. Eu já não tenho mais paciência. E fechou a porta
do banheiro.
O menino chorou, berrou, soluçou mas ela deixou ele
lá. Naquele dia o pai chegou tardíssimo. Já encontrou a mu-
lher resmungando:
— O capeta do seu filho só me dá desgosto. Tá preso lá
no banheiro esperando você chegar pra conversar com ele.
E contou tudo o que tinha acontecido. O pai foi lá, abriu
a porta, o menino estava deitadinho no chão do banheiro,
dormindo, dando aqueles soluços profundos que menino dá
quando adormece depois de um choro muito longo. O pai
acordou o filho, sentou-o no colo muito severo e perguntou
com voz grave:
— Que foi que houve, rapaz?
E o menino com a vozinha lá no fundo:
— A festa foi transferida para amanhã.

***

O inglês deixou o sofá onde estava, ao lado da esposa,


e foi até o outro lado da sala, pegou o telefone e discou com
cuidado. Aproximou o mais que pôde a boca ao fone e espe-
rou alguns segundos.
— Alô. É você, meu bem? — disse com voz grave, sumi-
da. — Sou eu.
Colocou a mão em concha protegendo o som de sua voz

102
e continuou:
— Estive pensando longamente sobre o nosso caso. Por
isso não liguei antes. Deixei para ligar apenas no momento
em que tivesse, realmente, tomado uma decisão. E este mo-
mento chegou, meu bem. Eu sei que é terrível, mas devemos
terminar tudo. Tudo. Nada mais pode existir entre nós, te-
mos que acabar de vez com esta loucura. Estou telefonando
para dizer-lhe adeus. Sei que vai ser duro e cruel, mas de-
vemos compreender que o fim chegou. E para evitar que fra-
quejemos em nossa decisão, acho que devemos tomar uma
medida drástica. Eu vou desligar o telefone agora e contar
tudo para a minha mulher. Você também faz o mesmo: conte
tudo pra sua.

Viajando pela Rio-Bahia, no seu grande caminhão, lá ia


ele com seu blusão de couro e seu bigodão. Parece letra de
balada, mas é uma anedota. Ali entre Teófilo Ottoni e Feira
de Santana deu o cansaço e ele esperou aparecer um motel
pra descansar. Apareceu. Com as mulherinhas todas rodan-

103
do bolsa, tudo pintadinha, no meio da estrada, vindas de
onde ninguém sabe. Escolheu a mais bonitinha e alugou o
quarto do motel. Tomou seu banho, se arrumou e esperou
a mocinha se arrumar. Quando ela entrou no quarto vinda
do banheiro foi que ele notou que era uma menina. Ficou
arrepiado, afinal era um homem de princípios, não entendia
nada de estudos sociais mas sabia que alguma coisa estava
errada.
— Quantos anos você tem, moça?
— Treze — respondeu a coitadinha.
— Treze? ? ? Tá maluca. Veste a roupa e some aqui do
quarto.
— Pô — fez a menininha se arrumando — é o terceiro
cara supersticioso que eu pego hoje.

***

O Joãozinho chegou pra mãe dele, vindo correndo da


rua — pra onde sumia nos tempos das férias — e, todo afo-
bado, perguntou:
— Mãe, menina engravida?
E a mãe, passando roupa, sem prestar atenção.
— Não, menino. Claro que não.
Joãozinho corre pra janela e grita lá pro quintal da vi-
zinha.
— Teje tranqüila, Maricotinha!

***

Era o casal mais feliz do mundo. Também, qual era a


vantagem? Ela era a moça mais bonita do bairro, um monu-
mento de mulher, parava a rua quando passava. Só que ele
não deixava ela passar muito, não. Sempre grudado. Os dois
viviam aos beijos e os amigos raramente os viam depois de
casadinhos. Já estavam em lua-de-mel há mais de dois anos,
desde o casório. O rapaz voltava cedo do trabalho, fechava as
portas da casa e nunca estavam para ninguém. Quando apa-

104
reciam eram os dois agarradinhos, uma beijação, uma fofoca
que fazia gosto. O rapaz não dava uma folga.
Um dia a moça morreu. Assim, de repente. No enterro
todo mundo pensou que o rapaz fosse morrer, também, de
tanto desespero. E ele chorava e chorava e gritava e clamava,
uma pena. No carro, de volta para casa, seu melhor amigo o
consolou:
— Não fique assim. Você vai ver que isto não é o fim do
mundo. Dentro de seis meses, um ano, aparece outra moça,
você se recupera, casa de novo, começa outra vida.
— Seis meses... um ano... chorava o rapaz. Eu sei. Eu
sei. Mas o que é que eu vou fazer hoje à noite?

***

O ônibus seguia lotado. Uma senhora entrou carregan-


do um macaquinho numa cordinha e ficou de pé, ao lado de
um negrão. O macaquinho não ficava quieto um só minuto,
pula dali, pula daqui, o crioulo foi ficando irritado. Num dos
pulos do macaquinho, ele perdeu a esportiva e foi lá na frente
falar ao motorista:
— Escuta aqui, ó meu, pode viajar macaco neste ôni-
bus?
O motorista olhou pra trás, deu de cara com a cara do
negrão e respondeu:
— Poder não pode não, mas tu fica agachadinho aí atrás
que eu vou quebrando o teu galho.

***

O casal em lua-de-mel desceu para o restaurante do


hotel depois de cinco dias. A jovem esposa, de olhinho fundo,
sentou-se à mesa, virou-se pro maridinho e disse:
— Meu bem, você sabe do que é que eu gosto, não
sabe?
— Sei, sim, meu bem — respondeu o rapaz. Sei sim.
Mas de vez em quando precisamos nos alimentar, não é?!...

105
***

Mineirinho vai um dia passear numa cidade do interior,


vizinha à sua. Mineirinho, como todo mundo sabe, é vivís-
simo e safado. Pega o ônibus, o ônibus quebra na estrada
e ele só chega a seu destino tarde da noite. Para a cidadezi-
nha, então, pequena, modesta, era alta madrugada. Mais de
onze horas da noite. Mineirinho desembarca do ônibus e, de
repente, se vê sozinho no meio da rua. Ninguém, nem uma
janelinha aberta ou acesa. Só ele ali, com a malinha na mão
tentando descobrir onde ia passar a noite. Claro que Mineiri-
nho não estava pensando em ir para um hotel ou uma pen-
são familiar. Ele estava a fim mesmo é de ir pra zona boêmia,
que é nesses lugares que ele se hospeda — de graça — em
toda cidade que visita. Mas como é que ele ia fazer pra des-
cobrir onde ficava o lugar que procurava?
— Pergunto ao primeiro que passar.
E ficou de olho. De repente, lá no fim da rua, vem vin-
do uma figura. Mineirinho caminha em direção a ela, mas
quando chega bem perto, descobre que é o padre, voltando
de alguma extrema-unção.
Mineirinho era safado mas um moleque de respeito.
Como é que ele ia perguntar ao padre, àquela hora da noite,
onde é que ficava a zona. Mas o padre já estava pertinho, já
tinha percebido que o Mineirinho ia se dirigir a ele, Mineiri-
nho não teve jeito. Deu aquele brilhozinho nos olhos dele, ele
se chegou e perguntou:
— Seu padre, boa noite. O senhor podia fazer o favor
de me informar onde é que fica a Igreja Matriz aqui nesta
cidade?
— Pois não, meu filho. A matriz fica ali na frente, depois
daquela pracinha.
— Uai, seu padre — fala o Mineirinho — mas ali não é
a zona?
— Não, meu filho. Que é isto? A zona fica do lado de cá,
ali, depois da ponte.
— Obrigado, seu padre — falou o mineirinho, rodando

106
no calcanhar e imbicando pro lado da ponte.

***

O jovem marido americano telegrafou para a mulher


avisando que ia chegar um dia antes do combinado. Assim
que entrou em casa, surpreendeu a mulher nos braços de
outro. Ficou uma fera. Já que estava com a mala e suas rou-
pas na mão, deu meia volta e sumiu de casa, furioso.
Na rua, encontrou-se com a sogra e explicou tudo pra
ela. No dia seguinte iria entrar com o pedido de divórcio.
A velha, muito sábia, pediu ao genro que agüentasse
as pontas, que ela ia ver realmente o que tinha acontecido,
que o marido devia dar à sua mulherzinha uma chance de se
explicar. Com muita relutância, o homem aceitou a proposta
da sogra.
E ficou no clube, aguardando um chamado da velha.
Pois, menos de uma hora depois, ela ligou triunfante:
— Não te disse, meu filho, que tudo neste mundo tem
sua explicação? A sua mulher não recebeu seu telegrama.

***

Ah, e tem a do sargento jeitoso, vocês manjam? Velhís-


sima. A história do sargento que tinha tato, que sabia con-
versar com as pessoas. Morreu a mãe do Soldado 127 e o
Capitão que recebera a notícia não sabia como é que ia fazer
pra avisar pro Cento e Vinte e Sete. Aí, mandou chamar o
sargento que tinha tato:
— Sargento, morreu a mãe do Cento e Vinte e Sete. Eu
sou muito sentimental, não tenho o menor jeito para dar es-
sas notícias. . .
— Deixa comigo. Capitão. Deixa comigo. Eu falo pra
ele.
— Fala. Sargento. Mas seja jeitoso, hem.
— Ô, meu capitão?! O senhor não me conhece? Deixa
comigo.

107
E lá se foi ele pro meio do quartel, mandou formar a
tropa, botou todo mundo de sentido e deu a ordem:
— Atenção. Companhia! Todo soldado que tem mãe viva
dê um passo à frente. Marche!
Todos deram um passo à frente. Mas, antes que eles
acabassem de cumprir a ordem, o sargento já estava gritan-
do:
— Você não, Cento e Vinte e Sete! Você não!

***

Nunca fez tanto calor na caatinga, como naquele mês


de janeiro. Torrava. Torrava tudo, a água dos poços rasos,
a copa das árvores, o couro dos bois magros, a cabeça dos
retirantes.
Lá ia o Ribamar, o olho ardendo, tocando sua charre-
tezinha michuruca, puxada por um burrinho velho, tudo na
hora de pegar fogo de tanto sol, fervendo tudo.
— Ponte que caiu — falou o Ribamar. — Nunca vi um
calô cumo esse na minha vida!
— Eu também nunca vi — falou o burrinho meio zon-
zo.
— Epa — falou o Ribamar. — É a primeira vez que eu
vejo um burrim falá.
— E eu também — falou a charrete.

***

Debaixo da maior chuva, o caminhão enguiçado na es-


trada, o chofer virando a chave, o caminhão gemendo e nada.
O chofer, cada vez que tentava e não conseguia nada, soltava
uma série incrível de palavrões. Todos os que a gente conhe-
ce e mais alguns que só chofer de caminhão. Eis que passa
um padre e ouve aquele repertório assustador. Aproxima-se
do chofer e diz pra ele:
— Meu filho, não fale tantos palavrões. Limpe a sua
boca. Isto não vai te conduzir a nada. Em vez de xingar, reze,

108
meu filho. Reze e tenha fé que o Senhor te ajuda.
Ai, o chofer falou:
— Mas o senhor acha que se eu tiver fé, mesmo com o
distribuidor molhado deste jeito, o caminhão pega?
— Claro, meu filho, claro — disse o padre. E se afas-
tou.
O chofer então ficou caladinho por uns instantes, cer-
rou os olhos, deu uma viradinha na chave e o caminhão —
brrrrrrr — pegou na hora, e ele se arrancou. O padre levou
aquele susto, olhou o caminhão sumindo na estrada e dis-
se:
— Vai ter fé assim na pqp!

O urubu chegou pro sapo e disse:


— Vai ter festa no céu.
Aí, o sapo abriu o bocão e falou:
— Oooobaaaa!
Aí, o urubu disse:
— Vai ter muita comida.
Aí, o sapo disse:
— Ooooobbbbaaaaaa!!!

109
O urubu continuou:
— Vai ser a maior curtição. Vai ter muita música, muita
bebida, muita mulher.
Aí, o sapo abriu ainda mais a boca e disse:
— Ooooooooobbbbbbbaaaaaaaüü
— É, mas, quem tem boca grande não vai poder entrar
não.
Aí, o sapo fez um biquinho deste tamanho e falou:
— Coitôdo do jacorê. Sifu!

***

O diretor da empresa contratou um detetive pra seguir


um dos seus funcionários mais queridos e exemplares que,
todas as tardes, saía do trabalho, ficava umas duas, três ho-
ras fora o só voltava no final do expediente.
A agência mandou um detetive todo formal, de chapéu
coco, polainas, bigodões e bengala:
— Às suas ordens, meu caro diretor. Em que lhe pode
ser útil este seu humilde servidor?
— Eu quero que o senhor siga um funcionário meu.
— Fa-lo-ei, com zelo e dedicação.
— Quero que o senhor me traga um relatório completo
de suas atividades toda vez que ele se afastar da empresa.
— Tratarei de fazê-lo com cuidado, senhor.
E o detetive foi e seguiu o competente funcionário e dois
dias depois voltou ao senhor diretor.
— Já estou de posse de um relatório, senhor diretor.
— Conta, conta.
— Segui-o detalhadamente, senhor. Vi-o retirar-se da
empresa, descer o edifício, ir ao estacionamento, pegar seu
carro, depois pegar sua mulherzinha na esquina e ir para um
hotel altamente suspeito na Barra da Tijuca.
— Que estranho — disse o diretor. — Eu sempre achei
que este rapaz fosse mesmo um menino amoroso, romântico.
Confesso que acho bonito isto de um moço largar o trabalho,
pegar sua mulher e ir amá-la em um hotel de encontros. . .

110
— Um momento, senhor diretor. O senhor não enten-
deu bem a colocação dos meus pronomes. Quando eu disse:
seu carro e sua mulher, eu estava me referindo ao carro do
senhor e à mulher do senhor.

***

Joãozinho saiu do banheiro, agarrou o avental da mãe.


Aí, torceu o avental em volta do dedinho e disse:
— Mamãe. . .
Aí, torceu o avental em volta do dedo médio:
— ...vê se a senhora. . .
E torceu o avental no dedão grande do meio:
— ... compra pra nós. . .
E, torcendo o avental em volta do indicador:
— ...um papel higiênico mais resistente.

***

O carro do rotariano enguiçou numa estrada deserta.


Ele andou, andou, até achar uma fazenda. Bateu na porta.
Veio atender uma bela senhora vestida de preto, jovem ain-
da, um pedação de mulher.
Já era noite e ele pediu pra passar a noite ali, no dia
seguinte iria providenciar o conserto do carro. A moça disse
que infelizmente não podia receber um homem em sua casa,
pois era viúva.
— Absolutamente, minha senhora — disse o homem —
pode confiar em mim. Eu sou rotariano.
A mulher aceitou suas justificativas, preparou um ba-
nho para ele, serviu um jantar a dois com luz de velas, toma-
ram o licor na varanda, à luz da Lua. Depois, antes de dizer
boa noite, ela foi lá dentro, vestiu uma camisola linda, um
desabillé transparente e voltou para se despedir dele:
— Você dorme aqui no sofá — tinha sofá na fazenda —
e eu lá no meu quarto. Só estamos nós dois aqui. Qualquer
coisa é só me chamar. Vou deixar a porta aberta.

111
E saiu toda lânguida para o quarto, não sem antes dar
um olhar de despedida para o seu hóspede.
Deitada em sua ampla cama de viúva saudosa ela pas-
sou uma noite inquieta, ouvindo o ronco tranqüilo do homem
no sofá da sala.
Na manhã seguinte, de vastas olheiras, ela atirava mi-
lho para as galinhas no quintal, quando apareceu seu hóspe-
de, bem disposto, descansado e grato. Deu bom dia e puxou
assunto:
— Bela criação de galinhas tem a senhora, não?
— Pequena — disse ela. — Não chegam a quinze gali-
nhas.
Ele deu uma olhada pelo quintal e reparou que havia
dois galos no meio das poucas e gordas galinhas da viúva.
Aí, ele disse:
— Por que é que a senhora mantém, para tão poucas
galinhas, dois galos?
— Ah, não tem problema — disse a viúva. Um deles é
rotariano.

***

Dois rapazes estavam passeando de carro pelo interior


do Brasil, mais precisamente por Minas Gerais, quando vi-
ram parado na beira da estrada um caipira tranqüilo, pitan-
do seu cigarrinho.
— Vamos gozar aquele capiau ali? — falou um deles.
— Vamos — disse o outro.
E foram. Ou melhor, não foram. Pararam o carro bem
em frente ao caipira, e perguntaram pra ele:
— Escuta, meu chapa, pra onde nós vamos ainda falta
muito?
O caipira deu aquela pensadinha, fez aquelas três ru-
guinhas na testa, olhou pros dois pintas ali na frente dele e
respondeu, compassadamente:
— Óia. Se ocês vão à merda, já passaram. Se ocês vão
pra PQP fica logo ali na frente. Agora, se ocês vão Tom Mix no

112
Kubrick, pode sartar, que é aqui mesmo.

Dois sultões (ou será sultãos?) estão conversando:


— Como é que você faz pra escolher, cada vez, entre as
suas trinta mulheres?
— Bem — respondeu o outro — eu junto todas na sala
e jogo água fria nelas.
— E daí?
— Bão, daí, eu mando vir a que fizer mais vapor.

***

O rapazinho pobre, filho de lavadeira esforçada, lutan-


do pela vida, acaba se formando em medicina e vai abrir seu

113
consultório, modestamente, num subúrbio desses aí. Toda
uma vida heróica de médico pela frente, ele abre as portas
de sua clínica e, todo emocionado, fica esperando o primeiro
cliente. E sua primeira missão vem pelo tilintar do telefone,
que o chama para uma emergência: um parto ali pelas vizi-
nhanças.
Ele arruma seus ferros dentro de sua malinha, seus
mercúrios e mertiolates, suas luvas e remédios e corre para
a casa da cliente, o coração batendo com tanta violência que
ele mal pode esconder seu nervosismo, sua imensa emoção.
Chega ao endereço e, antes de tocar a campanhia, faz
o nome-do-padre, se benze e espera, os joelhos bambos. Já
no quarto ele descobre que o parto vai ser complicadíssimo,
o nervosismo aumenta, a mulher grita de dor, ele não sabe
o que faz.
A criança já começou a nascer e ele se lembra da aula e
tenta se lembrar de tudo e vai ter que ser a fórceps. Ele abre
a malinha, voa ferro pra tudo quanto é lado, cai metade em
cima da cabeça da mãe da criança, fratura-lhe o crânio. Ele
percebe que não vai dar pra salvar a mãe. Ou salva a mãe e
perde a criança, ou perde a criança e salva a mãe — não —
salva a criança e perde a mãe — isso — e ele segura o bebê
pela cabeça que já cercou e dá um puxão e é sangue pra tudo
quanto é lado e ele escorrega, suando em bicas.
Aflito, desesperado, sai com a criança nas mãos, de re-
pente cai de costas, vem passando o pai, a criança voa-lhe
das mãos, o pai corre pra não deixar a criança se esborra-
char, tropeça em frente à janela do quarto, cai o pai e cai a
criança pela janela, do sétimo andar do edifício e ele corre
pra mãe, tarde demais, a mulher morreu.
Desesperado, desiludido, desesperançado, ele pega as
suas coisas e abandona a cidade. Algum tempo depois, po-
rém, ele sente que a irresistível vocação o chama à luta e,
timidamente, volta a abrir um consultoriozinho modesto em
uma cidade muito, muito longe de onde ele vivia.
Um dia, o telefone:
— Venha correndo, doutor. É urgente. Um parto!

114
E lá vai ele, decidido. Duas, três horas depois, ei-lo de
volta à sua casa, cansado, extenuado. Sua mulherzinha cor-
re para recebê-lo, aflita:
— Como é, meu amor? Foi tudo bem desta vez?
— Mais ou menos. Deu pra eu salvar o pai.

***

O inglês chegou em casa, sem avisar, mas a chave agar-


rou na porta, de forma que deu tempo do outro se meter
debaixo da cama e da mulher se ajeitar, mais ou menos. Ele
entra no quarto, a mulher o recebe toda sorridente, faz mil
amabilidades, mil gentilezas, mil agrados. Ele aproveita a
disposição da mulher e até que passa uma noite movimenta-
da. Tão movimentada que o dia amanhece e o inglês resolve
ficar deitadão, curtindo a preguiça da manhã. A mulher se
levanta, toda solicita e vai à cozinha preparar seu desjejum
(que, inglês, sabe como é: de manhã não se passa pra média
com pão e manteiga. O negócio com ele é desjejum). Alguns
instantes depois ela volta com um bandeijão cheio: suco de
laranja, leite, chá, café, pães diversos, frutas, biscoitos.
— Meu bem — diz ela —, você prefere primeiro o suco
de laranja ou o leite gelado?
— Eu prefiro o suco, meu amor — responde o marido.
E virando a cabeça pra debaixo da cama:
— E o cavalheiro? Vai querer o quê?

***

Um menininho muito pobre escreve uma carta para Pa-


pai Noel:
“Querido Papai Noel, meu pai está muito doente, de
cama, sem emprego há mais de um ano. Mamãe é que faz
todo o serviço: lava pra fora, toma conta da casa, faz tudo
pra ver se a gente não morre de fome. Eu sou o mais velho
dos sete filhos e estou com dez anos. Ainda não ganho o
suficiente para ajudar em casa e aproveito que agora vem o

115
Natal para pedir ao senhor que dê uma ajudinha lá em casa.
Me mande de presente 10 mil cruzeiros para que eu pague
todas as dívidas do papai, a sua operação e dê uma máquina
de costura para a mamãe. O senhor vai fazer nós todos muito
felizes. Obrigado. Joãozinho”.
O carteiro pegou a carta sobrescrita “Papai Noel” e fi-
cou penalizado com a inocência do menino. Sabendo que não
podia entregá-la a ninguém, abriu a carta. Aí é que ele ficou
mais emocionado ainda. Chegou ao Correio e leu a carta em
voz alta para todos os colegas. Foi uma choradeira na re-
partição. Aí, alguém teve a idéia de fazer uma vaquinha ali,
entre os funcionários, e mandar o dinheiro para o menino.
Todos muito emocionados assinaram a lista com o máximo
que cada um podia dar. Deu cinco mil cruzeiros. Era demais
até, para o salário médio do grupo. Mas, eles ficaram felizes e
recompensados com o esforço e o gesto tão pleno de espírito
natalino. Pegaram o dinheiro, botaram no envelope e manda-
ram para o menino, assinado: Papai Noel.
Alguns dias mais tarde, cai nas mãos do carteiro um
outro envelope sobrescrito pelo Joãozinho, endereçado de
novo ao Papai Noel. Trêmulo de emoção e curiosidade o car-
teiro abre o envelope. E lê:
“Querido Papai Noel, muito obrigado. Recebi o dinheiro
que o senhor me mandou. Infelizmente tenho que informar
ao senhor que aqueles efidapês lá dos correios passaram a
mão na metade da gaita”...

***

Expediente no Céu. São Pedro recebe de uma vez uma


porção de mulheres chegadas àquela hora:
— Façam aí uma fila indiana. Isso. Agora façam o se-
guinte: todas aquelas que traíam seus maridos lá embaixo,
me acompanhem que eu vou levar até o purgatório.
E saiu andando, a fila toda atrás dele. Ele olha pra trás
e vê uma que ficou parada lá no fundo. Ele leva as mãos em

116
concha à boca e grita pra ela:
— Ei, surdinha! Entra na fila!

Numa escola em Telaviv o professor pergunta:


— Quem foi Moisés?
Lá no fundo, um garotinho de carinha sardenta e o na-
riz arrebitado, com uns olhos muito vivos e um jeito de cape-
tinha, responde:
— Uma besta-quadrada!
— Que é isso, menino? — berra o professor indigna-
díssimo. — Isso são modos? Isso é maneira de se referir ao
nosso grande ancestral, ao guia máximo de nosso povo? Você
não tem vergonha?
— Tenho não. Se ele não fosse o que eu disse, logo de-
pois de ter atravessado o Mar Vermelho, em vez de dobrar à
esquerda, tinha dobrado à direita.
— E daí?
— Daí, que o petróleo hoje seria todo nosso.

***

— Você lembra, meu amor, o mesmo apartamento, o

117
mesmo hotel.
— Me lembro, querida. Cinqüenta anos, hem! Foi uma
ótima idéia sua esta de vir comemorar nossas bodas de ouro,
fazendo a mesma viagem outra vez.
— Ah, meu anjo, que felicidade, parece que foi outro dia
mesmo. Tudo igual.
— É. Não mudaram nem a decoração do quarto. O mes-
mo tapete, as mesmas cortinas, o mesmo espelho.
— Você se lembra, nós dois deitados aqui nesta mesma
cama. Você foi ao banheiro, eu fiquei te esperando toda emo-
cionada. Você veio, eu fiquei toda nervosa e fui correndo pro
banheiro e fiquei lá, chorando, chorando. Você foi lá, todo
carinhoso, me buscar. Tudo igual. Não mudou nada.
— Mudou sim, bem. Desta vez quem ficou no banheiro
chorando foi eu.

***

O camarada voltou danado da vida de suas férias. E


contou tudo pro seu amigo mais chegado:
— Imagina que escolhemos uma praia pouco conhecida
pra passar as férias, Alugamos uma casa no maior segredo.
Como ninguém conhecia a gente lá, a gente ficava à vontade.
Uma tarde, fez tanto calor, que a minha mulher abriu a jane-
la e sentou de costas pra praia, pra pegar um ventinho.
— E o que é que tem isso, rapaz? — perguntou o amigo,
não entendendo a zanga do outro.
— Acontece, meu velho, que ela botou tudo na janela,
daquele jeito. Sem nada em cima. Nem maiô.
— E o que é que tem ? Ninguém conhecia vocês lá!
— Como é que não conhecia? Quando eu dei pela coisa,
todo mundo que passava pela praia, em frente da casa que
nós alugamos, era lá da minha rua.
— E daí? Ninguém sabia que eram vocês que estavam
ali!
— Isto é o que você pensa. Tudo quanto era vizinho meu
passava, olhava aquele negócio lá na janela, levantava o bra-

118
ço e dizia: “Como vai, Dona Maria?”

***

A professora entrou na sala de aulas apressada, trope-


çou — e tibum! — caiu de pernas pro ar. Aí a gurizada fez a
maior algazarra. A professora se recompôs, e, furiosa, come-
çou a perguntar:
— Jorginho, até onde você viu?
— Ah, professora, até o joelho.
— Uma semana de suspensão, seu moleque. E você,
Pedrinho?
— Até as coxas.
— Um mês suspenso por pouca vergonha! E você, João-
zinho ?
— Ih, professora, eu acho melhor eu ser expulso de uma
vez...

***

E tem a do inventor. Ele inventou um aparelho desen-


tupidor que era uma maravilha. Desentupia tudo que apa-
recia. Era uma espécie de sugador gigantesco, cheio de fios
e válvulas, transistores e ventosas de borracha, depósitos e
luzinhas vermelhas. Logo que ele terminou o invento, botou
aquilo no ombro e entrou no primeiro edifício. E foi ao pri-
meiro andar e ofereceu seus préstimos. Não tinha nada en-
tupido. Foi ao segundo andar, nada. E assim por diante. Até
chegar ao décimo andar onde uma moradora tinha o vaso
do seu banheiro entupido. A mulher até agradeceu o fato do
inventor chegar ali. Seu vaso estava entupido há vários dias
e não aparecia ninguém pra resolver. O inventor entrou no
banheiro, instalou lá seus fios e ventosas, ligou mil chavezi-
nhas e avisou pra cliente:
— É agora! — e apertou o botão.
Boooommmmü! Foi aquela explosão e aquela barulhei-
ra parecendo mil crianças na lanchonete, chupando o resto

119
de refresco nos canudinhos. O banheiro ficou cheio de fuma-
ça, e o inventor e a dona da casa caídos no chão, assustadís-
simos. Ficaram ali estáticos, sem saber o que fazer, até que a
fumaça foi sumindo, sumindo e tudo ficou claro novamente.
Os dois levaram o maior susto com o que viram, quando a
fumaça sumiu. O vaso estava realmente desentupido, mas
sentado nele, com a cara mais assustada do mundo, estava
um senhor com um jornal na mão.
— Que é que o senhor está fazendo aqui? — perguntou
o inventor.
— Sei lá — respondeu o homem. — Eu estava sentado,
fazendo o meu cocozinho lá no quarto andar, de repente. . .

***

Esta se passa lá pelos lados de Caratinga. O filho tá pra


nascer, o velho manda o primogênito ir correndo chamar a
parteira. E em poucos minutos, olha a Dona Romana che-
gando, enorme, vigorosa, com sua maleta na mão, batendo
firme com seus sapatões no chão. Entra dentro do quarto, tá
lá a mulher com suas dores e o marido do lado.
— Cai fora o marido. Isto não é serviço de homem.
A voz possante de Dona Romana faz o nervoso marido
estremecer e ele imediatamente abandona o quarto. Dona
Romana fecha a porta com estrondo atrás dele. E fica o coita-
do aqui do lado de fora, roendo as unhas, conferindo todos os
barulhinhos que vêm de dentro do quarto. De repente a porta
se entreabre e Dona Romana enfia a cara para fora:
— Me arruma um alicate!
— Um alicate???
— Um alicate, ô moleza. E não precisa fazer esta cara.
Eu conheço o meu ofício.
O marido manda o mais velho ir buscar o alicate, Dona
Romana volta a se fechar no quarto. Uns quinze minutos
mais tarde ela abre um pedacinho da porta de novo, bota a
cara pra fora e berra:
— Me vê uma chave inglesa.

120
— Uma chave inglesa??? Minha Santa Mãe!
— Pára de fazer escândalo — grita mais alto a parteira.
— Eu já fiz mais de mil partos, eu sei o que estou fazendo.
Anda. Manda ver a chave inglesa.
Se fosse história em quadrinhos, a gente ia ver os balões
atravessando a porta do quarto e os barulhos típicos sendo
feitos: CLANG, BLINK, TRREEEC, B1MP, BOMP e o pobre do
marido tremendo do lado de fora. E se passa mais um século
e a porta se abre e sai Dona Romana lá de dentro do quarto,
suando em bicas, a maleta na mão, berrando pro marido:
— Chama outra parteíra. Não consigo abrir minha ma-
leta.

***

Iam dois amigos, por uma estrada deserta, perdidos


de noite, num carro com pouquíssima gasolina. De repente
avistam uma luzinha na escuridão e se dirigem para lá. Era
uma belíssima mansão perdida no meio do mundo, uma ve-
lha casa misteriosa, enorme, cercada por um imenso jardim.
Eles resolvem pedir pousada, descem do carro e batem na
porta.
São atendidos por uma velha senhora e, gentilmente,
convidados a entrar. Em seguida, descobrem que a velhinha
mora sozinha naquela casa, há muitos anos, longe de tudo.
Ela os trata com imensa atenção e, depois do jantar, leva
cada um dos seus hóspedes para seu respectivo quarto, se
despede e vai para o seu. Apagam-se as luzes da casa, baixa
o silêncio e a noite passa. Eles se despedem agradecidos, são
informados do caminho de volta e partem pra sua cidade.
Muitos anos depois, os dois amigos voltam a se encon-
trar.
— Artur, como vai?
— Como vai, Felipe?
— Quanto tempo, hem, velho? Quantas farras fizemos
juntos, hem? Aliás, Felipe, eu estava mesmo precisando falar
com você. Me conta. O que foi que você fez aquela noite na

121
casa daquela senhora que nos hospedou, uma vez que nós
nos perdemos na estrada?
— Ah, Artur, eu não te contei, não? Foi ótimo, rapaz.
Eu vi que ela tinha um jeitinho assim saudoso, sabe como
é? Muito solitária, tava rindo muito pra mim e coisa e tal, eu
não conversei. Fui lá!
— Não brinca? Você teve coragem?
— Ora, rapaz. Ela adorou. Foi divertidíssimo. A gente
era jovem, só pensava em farra. Valeu a pena.
— Sei, seu cretino!
— Cretino, eu? Só por isso?
— Não, seu canalha. Você não contou tudo. .. Fala a
verdade. Você foi lá e disse pra ela que se chamava Artur,
não é? Deu o meu nome todo pra ela, não é?
— Ah, isso foi. Mas você não vai se zangar, não é? Se
você acha que foi safadeza, me desculpe.
— Nada que desculpar, Felipe.
— Você é um cara legal, Artur.
— Legal é você, Felipe. Ela morreu na semana passada
e deixou toda a fortuna em meu nome!

***

De repente, entra um chofer de caminhão todo esbafori-


do, na delegacia de uma cidadezinha à beira da estrada:
— Escuta, velho, existe pingüim gigante aqui nesta re-
gião?
— Tá maluco, rapaz. Por aqui não tem nem pingüim
normal, quanto mais gigante.
— O senhor tem certeza?
— Claro, rapaz.
— Então eu atropelei mesmo foi a freira.

***

Um cara chega pro outro, velho amigo seu, e pergunta:


— Escuta, bicho. Tu gosta de mulher de peito grande, caído

122
em cima da barriga?
— Eu, não. Tá maluco?
— Me diga: tu gosta de mulher que tem mau hálito?
— Eu não.
— Tu gosta de mulher que acorda com a cara toda in-
chada, os olhos pregado, o beiço caído, parecendo peixe mor-
to?
— Eu, não. Que idéia?
— Então, pô, por que é que tu anda cantando a minha
mulher?

***

— Sabe o que é, rapaz? Hoje é aniversário de um grande


amigo da minha família, um cara formidável, amigo mesmo.
Preciso dar a ele um presente muito bom. Você não podia me
dar uma sugestão?
— Dá uma gravata.
— Não posso, cara. Gravata? Tá maluco. O cara é genti-
líssimo. Imagina que no Natal passado ele deu um casaco de
pele pra minha mulher.
— Então, dá um cinto de crocodilo.
— Tá maluco, homem. É gente muito chegada. Na pás-
coa ele deu um anel de brilhantes pra minha mulher.
— Ah, nesse caso, você dá a ele um relógio de pulso.
— Micha, micha: Que relógio de pulso. Sabe o que foi
que ele deu pra minha mulher no aniversário dela? Um au-
tomóvel.
— Escuta aqui, velho. Você está mesmo interessado em
dar um negócio pra este cara?
— Estou, claro.
— Então dá uma chifrada nele.

***
O velho médico já havia há muitos anos abandonado a
profissão.
Descansava agora, tranqüilamente, numa chácara sos-

123
segada, longe de tudo.
Uma noite, batem-lhe violentamente à porta.
Ele, arrastando os pés, vai ver quem é.
É um vizinho seu, dono da casa de campo ao lado, pas-
sando o fim de semana com a família:
— Doutor, uma emergência. Minha mulher vai dar à
luz!
— Chiiiii, meu filho. Danou-se. Há séculos que eu não
mexo com isso.
— Doutor, só tem o senhor aqui por perto. Eu não en-
tendo nada de nada. Corre lá. Pelo menos ajuda.
O velhinho demorou bem umas duas horas até atraves-
sar de um lado para outro da estrada, abrir o portão, cami-
nhar todo o jardim e chegar ao quarto da parturiente. Mas
chegou. Fechou-se lá com ela e até que cuidou de tudo direi-
tinho, o parto foi perfeito, ele deitou o nenenzinho ao lado da
mãe e foi abrir a porta pra avisar pro marido:
— Pois é, meu filho, nasceu, não é?!
— É menino ou menina, doutor?
— Olha aqui, meu filho, se não me falha a memória. . .
é menina!

***

Lá vai o enorme caminhão pela estrada. Atrás dele,


tentando ultrapassar, um Jaguar vermelhinho, com uma bi-
chona dentro, buzinando, buzinando. Fecha, de repente, um
sinal de estrada e o caminhão pára bruscamente. O Jaguar,
ó, enfia a cara pelo caminhão adentro, vira uma sanfona. O
enorme chofer desce de dentro do seu enorme caminhão, vai
até lá atrás, vê a boneca lá, toda amassadinha com um ar
todo triste, e o que faz? Bota as mãos na cintura, levanta os
ombros e fala pra moça:
— E como é que a boneca faz pra parar, quando eu não
estou por perto?

***

124
Estava um cara passeando pelo interior aí, quando viu
um outro ajeitando uma cerca em volta de sua casa, que ti-
nha uns quatro metros de altura. Ele ficou intrigado e foi lá:
— Quer me explicar por que é que o senhor fez uma
cerca tão alta em volta da sua casa?
O outro deu aquele sorrisão fundo, lá no canto da gar-
ganta, arregalou os olhos e respondeu, meio babão:
— Pra evitar a invasão das girafas.
— Girafas? Mas, meu amigo, eu nunca vi uma girafa
por aqui.
— Claro. Com uma cerca desta altura, elas são bes-
tas?...

***

A professora mandou que toda a turma pegasse seus


caderninhos de desenho, botasse em cima das carteiras e
desenhasse um pintinho. De repente, a Mariazinha gritou lá
do fundo:
— Professora, o Joãozinho está colando!

***

Madame foi à casa de animais comprar um cão de guar-


da pois sua mansão estava sendo ameaçada por ladrões. A
casa tinha cães magníficos mas ela se encantou com um cão-
zinho de cara tranqüilinha que estava ali, quietinho, num
canto do grande salão de exposições.
— Pena não ser um cão de guarda — falou para o
dono.
— Como não é, minha senhora? Este é o cão mais feroz
que eu tenho aqui.
— Com aquela carinha de anjo?
— Exatamente. É que ele luta caratê.
— Caratê?
— Exatamente. E tem uma grande vantagem. É sempre
calminho, mas se a senhora disser a palavra caratê ele, em

125
dois segundos, destrói o que tem na frente.
Quer ver?
E arrumou umas telhas no meio da sala, abriu a gaioli-
nha do cãozinho e falou:
— Caratê telha!!!
CCCAAAATTTTTTRRRRAAAAACCCCCAAAASSSSSS-
SH!
Em menos de um segundo as telhas estavam todas des-
truídas com a fúria do cãozinho. O dono da casa colocou
uma pilha de tijolos e berrou:
— Caratê tijolo!!!
PLAFTACSSSH! Voou tijolo pra tudo que foi lado. A mu-
lher ficou encantada.
— Se entrar um ladrão é só a senhora gritar “caratê la-
drão” que vai voar ladrão pra tudo que é lado.
A mulher comprou o cãozinho e levou pra casa.

126
De noite o marido — que tinha encomendado à mulher
que comprasse um cão de guarda — chegou em casa e deu
com aquele cachorrinho ali na sala, mansinho, quietinho.
— Mulher, que merda é esta aqui na sala?
— É o nosso cão de guarda.
— Mulher! Você não faz nada direito, hem, sua incom-
petente! Isto lá é cão de guarda? Uma merdinha dessas! Joga
esta porcaria fora!
— Mas, meu bem. Ele sabe lutar!
— O quê? Você pensa que eu sou besta, mulher? Dizer
que uma porcariazinha dessas sabe lutar.
— Palavra de honra, meu bem. Ele luta caratê.
— Ora mulher, caratê é o caaaaaAAAAAAAAIlllllllEE-
EE!!!

***

— Meu filho não dorme de noite — falou a vizinha.


— Tadinho — falou a outra vizinha.
— E o que é pior é que ele não deixa ninguém dormir,
faz um barulho imenso, a maior agitação.
— Dá remedinho.
— Já dei.
— Faz simpatia.
— Já fiz.
— A da fitinha?
— Não. Essa ainda eu não fiz.
— Ah, é tiro e queda, comadre. Seu menino vai dormir
como um anjo.
— Me conta como é.
— Compra uma fita bem bonita, dá um laço bem feiti-
nho e, toda noite, amarra no pipiuzinho do neném. O meni-
ninho vai ficar uma seda.
— Funciona mesmo?
— Maravilha.
— A primeira vizinha, mãe do menininho que não dor-
mia, tomou providências imediatas. De noite, seu menini-

127
nho agitado foi dormir com o lacinho amarrado. E não é que
dormiu tranqüilíssimo, não aborreceu ninguém, verdadeiro
milagre.
Eis, porém que — tchan, tchan, tchan — uma noite
dessas me chega o marido, pai do menininho em questão,
tarde da noite em casa, num porre de juntar gente. Entra
pelo quarto fazendo o maior barulho, deita na cama e começa
a resmungar feito um louco, a fazer uma barulheira infernal,
a tumultuar a vida de todo mundo, acordando a família toda,
transformando a noite de todos num inferno. A mulher não
sabe o que fazer para acalmar o marido. Dá-lhe engove, café
forte, chá, arnica e nada. O cara estava na maior agitação.
Foi aí que ela se lembrou da simpatia. Foi lá, pegou o lacinho
do garoto e amarrou no do marido. Santo remédio. O marido
caiu no maior sono, logo em seguida.
Na manhã seguinte ele acorda na maior ressaca, a ca-
beça rodando, cabo de guarda-chuva na boca, aquela lásti-
ma. Vai ao banheiro pra molhar a fachada e eis que dá com
o lacinho de fita. Tenta se lembrar de como foi que aquilo
foi aparecer ali, revolve a memória, se esforça, não consegue
lembrar-se de nada, desiste.
E vai pra mesa, tomar café com a mulher. E ela:
— Onde é que você esteve ontem à noite, seu farrista?
— Por aí, mulher, por aí. Bebendo com uns amigos.
— Na maior farra, não é? Que é que vocês andaram
fazendo?
— Não me lembro, mulher. Brincadeira da turma. Eu
acho que deve ter havido algum concurso, qualquer coisa
assim.
— E você não se lembra de nada?
— Nada. Mas, eu tenho a impressão de que tirei o pri-
meiro lugar!

***

Era uma vez um casalzinho muito jovem e que se trata-


va com muito carinho um ao outro. Tinham tido um noiva-

128
do maravilhoso, fizeram milhões de cursos, ouviram muitos
conselhos dos mais velhos, da mamãe, do confessor. Estavam
realmente preparados para a felicidade de uma vida conjugai
exemplar.
Uma noite, o carinhoso marido virou-se para a dedica-
da esposa e depois de fazer uma porção de carinhos muito
ternos nela, falou baixinho ao seu ouvido:
— Vem minha luluzinha, vem. Hoje, nós vamos ser que
nem dois cachorrinhos muito carinhosos...
E ela: — Minha mãe me disse que eu fizesse todas as
coisas que meu marido e senhor mandasse. Você quer assim,
vai ser assim. Mas por favor, escolhe uma rua onde ninguém
me conheça.

***

E isto é o pai falando pro médico:


— É esquisito, doutor. Minha mulher acaba de ter um
menino completamente ruivo. E eu — o senhor está vendo
— eu não sou ruivo. E minha mulher também não é. Nem
ela, nem ninguém na família dela e muito menos na minha.
E não precisa ficar me olhando com esta cara, doutor. Não
tenho nenhum amigo ruivo. Nem vizinho.
— É. Muito esquisito. Me conta uma coisa: o senhor e
sua mulher, são muito exagerados?
— Como assim, doutor?
— Quero dizer, é todo dia?
— Ah, entendi. Olha, doutor, pra ser sincero, não é todo
o dia, não.
— Toda semana?
—- Também não, doutor. O senhor sabe, chego em casa
cansado, muito trabalho.
— Sei, sei. Mas, é todo mês, pelo menos, não?
— Olha, doutor, pra ser sincero, também não é não.
— Não vai me dizer que é na base de uma vez por ano?
— Olha, doutor, é isso mesmo. Uma vez por ano, por
ai.

129
— Tá explicado. . .
— A razão do menino ser ruivo?
— Claro. Ferrugem!

***

Um cara colocou um anúncio no jornal: “Precisa-se de


secretárias com todos os atributos físicos e intelectuais”.
Apareceu aquele monte de mulher boa. Ele escolheu
uma loura tremendona e fez o teste:
— Que é que a senhorita saber fazer?
— Sou taquígrafa, datilografa; falo inglês, francês, es-
panhol e alemão; conheço correspondência internacional, ar-
quivo e contabilidade geral.
Ele:
— Perfeito. É isto que eu quero. E quanto a senhorita
deseja ganhar?
Ela:
— Dois mil cruzeiros.
Ele:
— Pois não. Com todo prazer.
Ela:
— Epa! Com todo prazer são três mil e quinhentos.

***

A porta do saloon se abriu, Billy Tempestade saiu como


uma flecha, deu duas voltas magníficas no ar, passou por
cima do xerife e esborrachou com a bunda no chão, do outro
lado.
— Que é isso, Bill? — perguntou o xerife. — Ficou ma-
luco?
— Não. Eu quero saber é qual foi o efedapê que tirou
meu cavalo daqui.

***

130
Uma caridosa e recatada senhora vinha passando por
uma esquina erma e deserta quando, zapt, pulou na frente
dela um baita dum crioulo e deu a maior juntada na velha.
Corta. A senhora deitada no mato, aos prantos, falando
pro crioulo:
— Vou contar para o delegado que o senhor abusou de
mim cinco vezes.
— Cinco vezes? — protestou o crioulo. Só uma! E ela:
— Bom, o senhor não está com pressa, não é?

***

E a história do médico que vai visitar a enfermaria da


Maternidade e vai de cama em cama, acompanhado da enfer-
meira, que aponta cada gravidinha, dizendo:
— Esta aqui está marcada pra depois de amanhã. Esta
aqui. .. também pra depois de amanhã, esta também, esta
também . .. esta daqui, pra depois de amanhã — até chegar
à última da fila, quando o médico se adianta à enfermeira e
diz:
— Já sei. Esta também é pra depois de amanhã.
— Eu não, doutor — responde a cliente. — Eu não fui
nesse piquenique, não!

***

Ia o japonês subindo as escadas da Igreja da Penha, de


joelhos, para cumprir uma promessa. E subindo de joelhos
as escadas, o japonês reparou o tanto de gente, cada uma
mais estranha, que pagava suas promessas, naquela esca-
da, naquela hora. De repente, passa por ele, rolando escada
abaixo, quicando feito uma bola, uma pobre de uma mulher
que foi se estatelar lá embaixo.
Morta a coitada, as pessoas todas chegaram para o ja-
ponês e disseram pra ele:
— Como é que o senhor deixou a infeliz passar a um
centímetro das suas mãos e não fez o menor gesto para so-

131
corrê-la?
E ele:
— Pensei que tivesse pagando alguma promessa!

Dizem que esta é verdade. A colônia alemã de certa ci-


dade capixaba costumava dar umas festas famosas na re-
gião. Juntava o pessoal todo, homem e mulher, dentro de um
grande galpão, enchiam a cara de vinho, fechavam as portas,
apagavam a luz e o negócio era de quem pegasse quem.
Certo dia, um magnífico crioulo que vivia de olho nesta
festa, conseguiu ser convidado com a condição de levar sua
linda mulata.
A alemãozada, que tava de olho na moça, fez um trato
lá, levaram uma mulher de menos, de maneira que, quando
apagou a luz, o crioulo que não tinha prática tateou, tateou,
não pegou ninguém. E a mulata dele não deu pras encomen-

132
das.
O rapaz ficou danado da vida com a safanagem e foi dar
queixas ao delegado.
O delegado não conversou: mandou chamar o Fritz:
— Fritz, vamos lá. Me conta o que é que vocês andam
fazendo lá naquele galpão.
— Ô, zenhorr delegado, zeguinte: nós vazer um festa lá
muito alêgrrre. Nós levarr muitas mulheres e nós fecharrrrr o
porrrta do galpón. Nós apagarrrr o luz e nós tirrrarr o roupas
e nós começar num galinhagem muito engrrrraçadasss e nós
pegarrr os mulheres no escurrrrro e nós beberrrr muito vi-
nho, e nós abraçarrr os mulheres e nós rolarrr nos chão com
os mulheres e o mulata serrrr marrravilhosa e todos nósss
brrrigar no vscurrrro por causa do mulata, masss nóss difer-
tir muito com todos mulheres e mulata gostarrr muito. ..
O Fritz ia contando e o delegado esfregando a mão. De
repente, o delegado interrompe o Fritz e fala:
— Pera aí, Fritz. Pera aí. Vamos combinar o seguinte.
Eu quero ver uma festa dessas de perto.
— O senhorrrr fai gostarrrr muita.
— Não sei. Quero ver!
— Vai sim, falou o Fritz. Seu mulher adorrra!

***

O bondoso bispo dormia, quando a porta de seus apo-


sentos se abriu e seu dileto criado falou:
— Bom dia! São sete horas da manhã, o sol brilha, os
pássaros cantam e seu café está servido!
— Não precisava me avisar, querido amigo. Os anjos já
me haviam dito.
E aquele ritual já se processava há vários anos. Todas
as manhãs o criado vinha e avisava:
— São sete horas da manhã, o sol brilna, os pássaros
cantam e seu café está servido!
E a mesma resposta:
— Os anjos já me haviam dito!

133
Um dia o criado, depois de longo tempo de rotina, abriu
a porta com a cara meio estranha e repetiu para seu patrão:
— São sete horas da manhã, o sol brilha, os pássaros
cantam e seu café está servido!
E lá veio a resposta:
— Os anjos já me haviam dito!
Ele deu um pulo pro meio do quarto e berrou:
— Ah, é? !... Sifu! São onze horas da manhã, chove paca,
morreu tudo quanto foi passarinho e hoje não tem café; tem
é chocolate!

***

O cara tava dando uma noite de autógrafos, quando um


leitor chegou com três livros em vez de um:
— Olha, me dá um autógrafo neste que o senhor está
lançando hoje e mais dois nestes dois outros livros seus que
eu comprei. Pra minha mulher, sabe. É aniversário dela e eu
quero levar de presente.
— Vai fazer uma surpresa, não é? — perguntou sorri-
dente o autor.
— É sim. Ela está esperando um anel de brilhantes.

***

Não é que os dois amigos tomam um pileque daqueles


e bebem tanto que perdem o rumo de casa. Acabam parando
num hotel, caindo pelas tabelas, e pedem um quarto com
duas camas. O hotel estava lotado, apesar de ser uma boa
espelunca e o gerente achou melhor não perder os dois fre-
gueses. Meteu os dois num quarto, com uma cama só, os
dois enfiaram a cara no travesseiro e em poucos minutos,
roncavam como cuíca.
Lá pelas tantas, no meio da noite escura, um deles acor-
da e sente o outro deitado ao seu lado:
— Zé!!! — ele berra. Tem um safado deitado aqui na
minha cama!

134
O Zé acorda assustadíssimo e sente também um corpo
ao seu lado, no escuro:
— Santa Mãe, desgraçado. Pois não é que tem um se
encostando em mim, aqui na minha cama.
— Vou dar uma porrada nele! — berrou o outro — Não
gosto de homem.
— Dá-lhe, gritou o Zé. Quebra a cara do teu que eu que-
bro a cara do meu.
E os dois se agarraram num pau firme e foi pescoção
pra todo lado, de repente, um deles grita, a voz sumida:
— Zé!!!
— Fala:
— O desgraçado que estava ao meu lado é um touro. Me
deu um cacete firme e me jogou da cama abaixo!
— Liga, não. Vem deitar na minha cama, que eu já der-
rubei o meu!

***

Juquinha chegou do colégio e perguntou pra mamãe: —


Mamãe, de onde é que eu vim?
— Ai, meu Deus — pensou a mãe. — Como é que eu vou
responder isto?
E falou pro filhinho:
— Olha, meu filho, espera papai chegar que ele conta
pra você.
O menino esperou. Quando o pai chegou em casa, a
mãe, toda emocionada, chamou-o a um canto:
— Meu bem, Juquinha fez finalmente a esperada per-
gunta. Acho que ele perguntou cedo demais. Estou muito
preocupada. Acho que você deve dar a ele uma resposta acer-
tada. Ele quer saber de onde é que veio. Você é que é o pai.
Seu filho é homem. Vai lá. Conversa com ele.
— Deixa comigo — falou o paizinho moderno e deslum-
brado.
Pegou o Juquinha, fechou-se com ele no escritório, o

135
menino inquieto, pequenininho, agitado, os olhos pregados
no pai:
— Senta aí, meu filho, papai vai te explicar de onde foi
que você veio. Você sabe muito bem que você é filho do papai
e da mamãe e papai e mamãe se casaram justo pra que você
viesse. Papai é como uma abelha e mamãe é como uma flor,
entendeu, meu filho? Papai voou pela vida e pousou como
uma abelha sobre a flor que é mamãe. E deixou no coração
da mamãe um pouquinho dele mesmo, com muito amor e ca-
rinho. E este pouquinho do papai juntou a outro pouquinho
da mamãe que já esperava lá dentro dela, pra que estas duas
sementinhas fossem se desenvolvendo e se transformando
num menino muito bonito e inteligente. Mamãe esperou lon-
gos nove meses e um dia, como uma flor, ela se abriu e você
veio lá de dentro, bem lá do fundo, de dentro da barriguinha
da mamãe, de bem pertinho do coração dela. Foi de lá que
você veio, meu filho.
O menino olhou com uns olhos imensos pro pai, esfre-
gou o narizinho e disse:
— Complicado, hem, pai? Lá na escola, meus colegas
vieram de São Paulo, outros de Minas, outros de Teresópo-
lis...

***

O carro enguiçou no sinal. O chofer, calmíssimo, sal-


tou, levantou o capô e começou a ver o que podia ter acon-
tecido. Neste momento o carro de trás ligou a famosa buzina
que sempre funciona atrás da gente, quando o sinal abre.
Mas, acontece que o calmíssimo chofer não conseguia des-
cobrir qual era o defeito. E examinava, e olhava e puxava fio,
e abria distribuidor, e olhava as velas e nada. Atrás dele, o
cara buzinando sem parar, pam-pam-pem... pam-pam-pa-
em... pam-pam-paem... pam-pam-paem... pam-pam-pem...
pam-pam-pem...
E o carro parado e a buzina comendo firme, sem parar.
O chofer do carro enguiçado, finalmente, tirou a cabeça de

136
dentro do capo, coçou a nuca, olhou pro carro de trás que
continuava buzinando e calmamente veio andando em sua
direção. Chegou até o carro, botou a cabeça pra dentro e fa-
lou pro chofer:
— Meu velho, quer fazer um negócio comigo? Vai lá pra
frente ver se descobre o defeito do meu carro que eu fico aqui,
buzinando no seu.

***

Tinha uma cidade aí com um prefeito tão vagabundo,


mas tão vagabundo, que a única coisa que ele fazia era for-
necer material pras anedotas da cidade. Um dia espalharam
que o prefeito tava doente. Mandaram chamar médicos de
todas as partes, até que um deles descobriu o que era. Era
prisão de ventre.
— Como foi que o senhor descobriu?
— É que desde que ele tomou posse que ele não faz
merda nenhuma!

***

Um camarada vai visitar o médico:


— Doutor, eu tenho um problema terrível, doutor. Eu
tenho o... bem.. . eu tenho o meu... é. .. como dizer?
Aí, o médico entendeu e disse:
— Sei, sei, meu filho. Você tem um problema lá, não é?
— Isto, doutor. Isto.
— Qual é o problema, meu filho?
— É que, sabe doutor? Seguinte: É que é do tamanho de
uma criança de uns cinco anos.
— Destamaninho? — perguntou o médico, fazendo o
gesto com o indicador e o polegar.
— Não, não, não, — respondeu o rapaz, mostrando com
a mão a altura de um menino de cinco anos.
— Deste tamanho.

137
***

Um carioca foi passear numa fazenda no interior de Mi-


nas, perto de uma cidadezinha dessas bem gostosas, onde
a televisão ainda não chegou. Na manhã seguinte, acordou
bem cedinho e resolveu dar uma volta pela redondeza. Foi
logo dando de cara com uma mulher tirando leite de uma
vaca. Bateu um papinho gostoso com a velhinha e antes de
continuar a caminhada, resolveu perguntar:
— A senhora tem idéia de quantas horas são?
— Claro, falou a velhinha. E dizendo isto, levantou o
rabo da vaca, enfiou a cabeça por baixo, deu uma olhada e
falou:
— Sete e vinte e cinco.
O carioca ficou embasbacado. Que coisa maravilhosa é
a misteriosa sabedoria das pessoas simples do interior. Como
é que uma pessoa pode descobrir com precisão a hora certa,
olhando debaixo do rabo de uma vaca? Ele não resistiu. Afi-
nal, esta era uma informação que ele gostaria de levar para
os seus amigos do asfalto:
— Me conta, minha senhora, como é que a senhora sabe
a hora certa levantando o rabo da vaca?
E a velhinha explicou impávida:
— É que levantando o rabo da vaca, eu tiro ele da mi-
nha frente. E tirando ele da minha frente eu vejo a torre da
igreja lá na pracinha da cidade. E vendo a torre da igreja é só
olhar pro relógio.

***

A menininha chegou pro menininho e perguntou:


— Adivinha o que eu tenho na mão?
— Hmmmmmmmmmmmmm! Uma bala!
— Não. Nada disso.
— Ah, já sei. Hmmmmmmmmmm uma moeda!
— H mm mm mm mm. Não. Errou.
— Ahhhhhhhhhh. . . acho que já sei. Uma bola de

138
gude.
— Hnnnnnnnn... não.
— Então o que é?
E a menininha mostrando a mão fechada:
— Paralisia infantil!

Dois operários conversavam durante a hora do almoço.


Um deles era o que havia de mais pernóstico, metido a falar
difícil, vivia carregando uns livros ensebados debaixo do bra-
ço, falando difícil e dizia pra toda a turma que estava ali, no
meio da plebe ignara, só até terminar o Mobral. Assim que
terminasse ia era ser doutor e esnobar a paraibada da obra.
Ninguém agüentava o chatão. E ele adorava ficar humilhan-
do os colegas nas horas de folga. E era aí que ele estava, na
hora do almoço, conversando com o servente:
— Ô ignorante, tu sabe quem foi Cristovo Colombo?
— Sei não, bichinho.
— Tu sabe quem foi o Fuloriano Peixoto?
— Sei nada, bichinho.
— Tu sabe quem foi o Silvério dos Reis?
— Vou saber?

139
— Tu num sabe de nada, ô ignorante.
— É, mas eu sei quem é o Geraldão da Vila Diva e tu
num conhece.
— Geraldão da Vila Diva? Quem é esse cara?
— É o que come tua muié, enquanto tu tá lá no Mo-
brá.

***

Diz que o Eichmann já estava na sua cela aguardando


a vez de ser executado quando bateram na porta.
— Que qui é? — perguntou Eichmann.
E o guarda respondeu lá de fora:
— É a conta do gás.

***

VENDEDOR — Este papagaio é uma maravilha. Fala


vários idiomas. É uma coisa incrível, meu amigo. Olha aqui:
se você levantar a patinha direita, ele fala em francês. Se
você levantar a patinha esquerda, ele fala em inglês.
COMPRADOR — E se eu levantar as duas?
PAPAGAIO — Eu caio, não é, sua besta?

***

Morreu o inglês, o francês e o brasileiro e foram parar


lá na porta do inferno. Esta é uma daquelas de contar vanta-
gem sobre a esperteza do brasileiro.
Mas o fato é que o diabo disse que só se livraria do
inferno aquele que pedisse uma coisa impossível. Foi lá o
inglês, pediu um troço incrível, o diabo realizou na hora, o
inglês, sifu. Foi depois o francês, pediu outra, o diabo rea-
lizou, o francês entrou pelo cano. Aí foi a vez do brasileiro,
todo maneiro, todo safadinho. Deu uma andadinha em volta
do diabo, olhou com o rabo do olho, o diabo ali, observando.
De repente, o brasileiro parou e soltou o maior pum.

140
Aí o diabo disse:
— Muito bem. Soltaste o traque. E agora? O que queres
que eu faça?
E o brasileiro:
— Pinta ele de verde!

***

Tava um padre, um rabino e um pastor protestante dis-


cutindo qual deles contribuía mais para as obras do Senhor.
Disse o pastor:
— Todo fim de mês, eu desenho um círculo no chão e
jogo o meu ordenado pra cima. O que cair dentro do círculo
é meu. O que cair fora é para Deus.
Disse o padre:
— Eu também faço o mesmo. Só que com uma pequena
diferença: o que cair fora do círculo é meu. O que cair dentro
é de Deus.
E disse o rabino:
— Eu também. Jogo tudo pra cima. O que Deus conse-
guir pegar é dele.

***

Uma ilha deserta. Dois náufragos. Vários dias sem co-


mer e sem beber. Tubarões nadando em volta da pequena
ilha. Desespero. Um dos náufragos cai de joelhos e eleva as
suas mãos para o céu:
— Senhor, salvaí-nos. Livrai-nos desta desgraça. Se o
Senhor me salvar eu juro que terei uma vida de penitên-
cia. Juro que orarei e cantarei sempre em vosso louvor. Eu
prometo nunca mais beber. Prometo nunca mais jogar. Pro-
meto nunca mais fumar. Prometo nunca mais ir ao cinema.
Prometo nunca mais viver na luxúria. Prometo nunca mais
amar. Prometo nunca mais procurar uma mulher na minha
vida.
Aí, o outro virou-se pra ele e disse:

141
— Escuta aqui, ô cara, você quer sobreviver pra quê?

***

O menino tava lendo lá quietinho. De repente topou


com uma palavra que não conhecia e foi correndo perguntar
pro pai:
— Pai, o que que é COMPENSAÇÃO?
O papai cocou a cabeça, pensou, pensou, e foi explican-
do:
— Vamos supor, filhinho, que a sua mãe gostasse mui-
to de namorar, sair com homens a noite toda e me deixar
sozinho aqui em casa, quando eu viajasse trouxesse umas
pessoas pra dormir com ela. Nesse caso, eu seria o que?
— Ah pai, aí.. . aí. . . o senhor ia ser um chifrudo, né?
— Mas EM COMPENSAÇÃO, você, ia ser um fidaputa!

***

Tava um gago no meio da África, fazendo um safari.


Tava ele e um monte de ingleses tudo lerdo, caminhando por
uma trilha na beira de um rio.
De repente, o gago — que ia na frente — vira pra turma
e grita:
— Hip. . . hip. . . hip. . .
E o pessoal todo responde:
— Hurra!!
O gago, exaltado, grita outra vez:
— Hip. . . hip. . . hip. . .
E o pessoal todo responde:
— Hurra!!
O gago tenta explicar, mas é tarde: passa uma manada
de hipopótamos em fúria e arrebenta com o grupo.

***

Estavam os dois rapazes no circo. De repente, um deles

142
notou uma mulher feíssima do outro lado da arquibancada.
Aí. falou para o outro:
— Rapaz, olha lá que diabo de mulher feia. Nem que ela
me pedisse pelo amor de Deus, eu não queria nada com ela.
— Qual? Perguntou o outro.
— Aquela de cabelão preto lá, de vestido roxo.
— Aquela é minha irmã mais velha.
— Não, não, explicou o que falou primeiro, meio sem
graça. Eu me refiro àquela que está logo atrás dela.
— Minha tia.
— Atrás, mais um pouco do lado esquerdo. Aquela, con-
sertou o rapaz, já aflito.
— Aquela à esquerda?
— É.
— Minha mãe.
— A esquerda, não. Eu disse à direita.
— Se é a da direita é minha outra irmã.
Desesperado o que falou primeiro virou-se pro outro e
disse:
— Quer saber de uma coisa? Vai ter família feia assim
no inferno.

***

Um dia a professora pediu aos alunos que escrevessem


uma composição que falasse em Realeza, Religião e Sexo. Em
dois minutos o Joãozinho entregou seu trabalho e foi saindo.
A professora tentou segurar o Joãozinho pra reclamar, mas
teve que se conter. O menino era o gênio da síntese. Na sua
folha de caderno estava escrita a composição inteira em duas
linhas:
“E a Rainha disse:
— Oh, meu Deus, que bom!”

***

Lá vai o Isac ensinando a Sara a dirigir. Prova de ladei-

143
ra, Sara vai lá. Sobe a ladeira. Agora vamos descer a ladeira,
Sara, capricha. E a Sara embica o carro, ladeira abaixo. No
meio da ladeira, cadê freio?
— Isac, o carro perdeu o freio. Que é que Sara faz?
— Sangue frio. Sara. Sangue frio.
— Sangue frio, como, Isac, essa ladeira ser enorme?
Carro vai esborrachar lá embaixo.
— Capricha, Sara, capricha.
— Caprichar como?
— Vê se Sara bate de jeito pra salvar rádio, cassete, aro,
calha das portas, tranca da chave, volante de Porsche...

***

Mineirinho tá indo pela estrada no seu resto de Volkswa-


gen, caindo aos pedaços, pensando num jeito de arrumar
sua vida, que estava uma merda danada.
De repente é ultrapassado por um carro novinho, em
alta velocidade, que mal acaba de passar por ele, perde a
direção, sai da estrada e se arrebenta contra uma árvore. Mi-
neirinho pára seu calhambeque — enfiando os dois pés pelo
chão do carro furado, naturalmente, e metendo os dois calca-
nhares na estrada — corre lá onde o outro se arrebentou.
Do carro não resta nada, mas o chofer ainda está vivo,
apenas um pouco arranhado, meio sujo de sangue, a cara
meio aparvalhada. Mas, vivo. Mineirinho arrasta o homem
pro lado de fora do carro:
— Tá doendo muito?
— Mais ou menos.
— Dá pra esperar socorro?
— Acho que dá.
— O senhor tem seguro contra acidentes?
— Tenho sim.
— Companhia boa?
— Claro.
— Paga direitinho?
— Na hora.

144
— Dá pra eu ficar deitado aqui do seu lado?

***

O camarada estava desconfiando que a mulher dele


tava passando ele pra trás. Aí, contratou um detetive e botou
o detetive na porta do hotelzinho suspeito, pra ele ficar de
olho, esperando a mulher entrar. E disse:
— Eu fico ali na esquina, escondido. Quando ela entrar,
você vem e me avisa.
Lá ficou o marido uma boa meia hora esperando e nada.
Aí, ele resolveu dar uma olhadinha de longe e viu que o dete-
tive estava vindo em direção a ele, cobrindo uma mulher de
pancada. Quando os dois chegaram perto, o pau comendo, o
cara viu que a mulher não era a dele.
— Espera aí, seu detetive. Espera aí. Esta não é a mi-
nha mulher.
— É claro que não é a sua — falou o detetive. — É a
minha.

***

O mineiro está passeando em São Paulo. Ele precisa


comprar uns pinicos pra levar pra fazenda. Aí, entra numa
loja e pede os pinicos. Aí, o paulista explica pra ele que aquilo
ali não se chama pinico.
— Cume que chama, antão? — pergunta o mineiro.
E o paulista que já tinha manjado o homem responde:
— Aqui, nós chamamos este objeto de mineiro.
— Ah, é? — disse o mineiro. — Antão me dá um.
— De que tamanho o senhor quer? — pergunta o pau-
lista.
E o mineiro responde:
— Do tamãe que caiba assim um quilo, quilo e mei de
paulista.

***

145
O tímido, simpático e gentil rapaz entrou no clube para
participar de um baile de formatura. Os casais dançavam
alegres no meio do salão e ele ali, no seu canto, quieto, olhan-
do, sem ter coragem de se aproximar de uma moça, sem se
aventurar a buscar uma companhia feminina. De repente ele
percebe numa mesa próxima que dois olhos o observam. Ele
se vira para conferir e dá de cara com o rosto mais bonito que
ele jamais vira em sua vida, os olhos mais límpidos, o sorriso
mais doce, os dentes mais claros, a pele mais suave. Ele che-
ga a ficar corado de emoção, sua face se enrubesce, seu co-
ração dispara. Ele olha em sua volta para ver se é realmente
para ele que a moça está olhando, ele não pode acreditar. Ao
seu lado, apenas um senhor austero, que também o obser-
va. Ele constata que a moça está mesmo é olhando para ele.
Sem saber o que fazer, vira-se para o cavalheiro ao seu lado
e exclama quase sem voz:
— Que moça bonita, hem!
— Minha filha — fala o homem.
Ele só falta desmaiar de tão perdido, não sabe o que
fazer.
— Eu também acho que ela é muito bonita — continua
falando o cavalheiro ao lado. — Gostaria de ser apresentado
a ela?
— Bem... é... gostaria muito, não é? Claro. Claro, que
gostaria. Será que eu posso tirá-la para dançar?
— Infelizmente não, meu caro.
— Ah, sim. . . ela é comprometida?
— Não. Não é bem isso. Eu sou obrigado a confessar
a você, que me parece um bom rapaz. Ela não tem as duas
pernas.
— Oh, não! — fez o rapaz, chocadíssimo.
Mas, ele estava tão impressionado com a beleza da moça
que tomou coragem:
— Mas eu gostaria muito de ser apresentado a ela.
O pai muito feliz apresentou os dois, ele se sentou a
seu lado na mesa e durante toda a noite conversaram muito,
riram muito, ele se descontraiu, descobriu coisas fascinantes

146
em sua personalidade, estava na maior felicidade ao lado da
mulher mais bonita que ele já vira até então. Lá pelas tantas
o pai veio à mesa:
— Vamos embora, minha filha?!
— Ah, papai. Agora não. A festa está tão boa.
— Mas, eu tenho que ir.
O rapaz já era um corajoso:
— Por favor. Pode deixar. Eu a levo em casa.
— Trate-a com carinho — falou o pai. E deixou os dois
a sós.
A festa terminou, ele muito delicadamente tomou-a nos
braços e levou-a até o carro. O lindo rosto da moça colado ao
seu, sua respiração ao pé do ouvido, seus olhos luminosos
bem em frente aos seus, ele não resistiu e, antes de colocá-la
no banco ao seu lado, no carro, beijou-a com a maior paixão.
E entre beijos ardorosos e abraços e carinhos ele a conduziu
até a porta de sua casa.
Era uma belíssima mansão, no fundo de um enorme
jardim, cheio de flores e de árvores.
Antes de tomá-la nos braços para caminhar com ela,
por uma longa alameda até a porta da mansão, eles ainda se
beijaram muito, se apertaram muito, se carinharam muito,
numa paixão alucinante. Ele já não agüentava mais de tanta
excitação, abriu a porta do carro, tirou a mulher de lá, to-
mou-a nos braços e caminhou para a porta. Ela, debruçada
em seu ombro, beijava-o, sofregamente. No meio da alameda
que conduzia à porta principal da casa, havia um cajuei-
ro com seus galhos estendidos sobre o caminho. Ao chegar
ali, a moça fez com que ele parasse e, com os dois braços,
segurou-se no galho da árvore, como num trapézio. Ele não
resistiu e, louco de amor, ali mesmo, possuiu a mulher mais
linda que ele já vira. E foram momentos da maior alucinação,
da maior loucura, um momento de amor jamais vivido. E ter-
minado tudo, ele a tomou outra vez nos braços, lânguida e
lassa e levou-a até a porta. Tocou a campainha e veio atender
uma velha senhora:
— Sou a avó da menina. Por favor, meu filho, pode levá-

147
la até seu quarto. Ele a conduziu até o quarto, colocou-a
sobre o leito e saiu. Na volta, quis passar pela velha senhora
sem ser percebido, mas ela o interceptou:
— Meu rapaz, por favor, não vá sem um chá ou sem um
café. Faço questão que o senhor tome um chá conosco.
— Por favor, minha senhora, eu agradeço.
— Não. Eu faço questão. Nunca vi um rapaz mais gen-
til, mais cavalheiro, mais digno e decente do que o senhor!
Ah... aquilo dilacerou o bondoso coração do rapaz. Ele
não resistiu ouvir aqueles elogios e bradou desesperado para
a velha avó:
— Não! Não! Não diga isto. Eu não mereço a sua con-
fiança. Eu sou um canalha. Eu sou um torpe. Eu sou um
monstro. Eu possuí a sua neta, no galho do cajueiro.
— Eu sei, meu filho. Eu sei — falou a avó. Acontece que
os outros deixam ela pendurada lá!

***

O cara vinha a duzentos quilômetros por hora, no seu


carro esporte, com uma mulherzinha maravilhosa do seu
lado. E vinham os dois numa esfregação tão grande que ele
não viu a árvore na frente, pimba, bateu de cheio no meio da
árvore, a moça passou pelo vidro, foi parar a uns cinqüenta
metros lá na frente. Logo chega alguém para socorrer e dá de
cara com o rapaz inteiro dentro do carro:
— Que sorte, rapaz, você está aí inteirinho. A pobre da
moça tá toda arrebentada lá na frente.
— Sorte a minha, coisa nenhuma! — disse o rapaz. In-
teirinho, coisa nenhuma! Vai lá e olha o que é que ela tem
na mão.

***

Um homem sem os dois braços chegou ao balcão do bar


e pediu:
— Me dá uma cerveja, por favor.

148
O homem do bar trouxe a cerveja. E o freguês sem os
dois braços falou:
— Será que o senhor podia segurar o copo pra mim?
— Pois não — disse o homem, segurando o copo delica-
damente pro freguês sem os dois braços beber a cerveja.

Terminada a cerveja, o freguês sem os dois braços, fa-


lou:
— Por favor, tire o lenço aqui do meu bolso.
— Pois não — disse o homem, tirando delicadamente o
lenço do bolso do freguês sem os dois braços.
— Se não for incômodo — falou o freguês sem os dois
braços — o senhor podia tirar a espuma do meu bigode, com
o lenço?
— Pois não — disse delicadamente o homem do bar,
limpando o bigode do homem sem os dois braços.
Aí, o freguês falou:
— Será que o senhor podia enfiar a mão aqui no meu
bolso e tirar o dinheiro pra eu pagar a cerveja?
— Pois não — disse o homem do bar, enfiando a mão no

149
bolso do freguês sem os dois braços e tirando o dinheiro.
— Será que o senhor podia botar o troco no meu bol-
so?
— Pois não.
— E o senhor podia me dizer onde é que fica o mictó-
rio?
— Nós não temos, nós não temos — disse depressa o
homem do bar.

***

O jovem casal voltou da lua-de-mel, e logo foi visitado


pelos amigos mais íntimos. Acabaram caindo no velho papo.
Como é? Que tal? Como vai a vida? Tão dormindo muito,
ou tão dormindo pouco? E risos, risinhos, muxoxos, aquelas
coisas. Dormem bem agarradinhos?
E foi nesta pergunta que o rapaz respondeu:
— Não, a gente dorme em camas separadas.
— Essa, não — berrou um dos mais íntimos. — Qual é
a graça?
— Ora, velho, é muito cômodo, mais higiênico, mais ci-
vilizado. Um parceiro não incomoda o outro, tem muito mais
liberdade para descansar do longo dia. Por favor, amigos,
mas assim é que deve ser.
— Tá bem — falou um dos amigos. — Mas como é que
você faz quando... Bem, quando você quer?
— Bem — disse o rapaz — quando eu quero, eu dou um
assovio e ela entende.
— É, parece prático — disse o outro. — Mas, e ela?
Como é que ela faz?
— Bem — falou o rapaz — quando ela quer, ela diz:
“Bem, por acaso, você assoviou?”

***

Chega um homem na delegacia:


— Doutor, quero fazer uma queixa, doutor. Eu sou uma

150
vítima, doutor. Uma vítima.
— Vítima de quê?
— De traição, doutor. Minha mulher me traiu.
— Tá certo. Vamos registrar a queixa. Seu nome:
— Cornélio Cornucópia.
— Hmmm. . . sei. Onde o senhor nasceu?
— Cornópolis.
— Sei, sei. Data do nascimento?
— 10 de janeiro de 1930.
— Interessante, o senhor é capricórnio. Interessante. E
me diga, por favor, a sua profissão.
— Corneteiro, doutor.
— Pera lá, meu filho — disse o delegado — O senhor
não é uma vítima. O senhor é um predestinado!

***

Havia uma rica milionária americana — nem tão feia


como a Hutton nem tão bonita quanto a Jackie — cuja espe-
cialidade era sexo. Uma craque. Uma craque para quem seu
mister não tinha segredos. E veio o dia do tédio. E veio o dia
em que não havia mais novidades para ela. Foi quando ela
ouviu dizer que havia na França o maior expoente mundial
masculino na sua especialidade. Pois mandou buscar o cra-
que. E veio o atleta. E desembarcou no Aeroporto e partiu
para sua rica mansão e diretamente para sua alcova onde já
a encontrou preparada. E como era também um profissional,
nem descansou do vôo, foi logo se desfazendo de tudo quan-
do era inútil em seu corpo para o exercício de suas funções.
Terminada a operação, virou-se para sua cliente e informou:
— Muito bem. Vamos começar com um beijo no umbi-
go. A milionária ficou furiosa:
— O quê? Um beijo no umbigo? Por favor, meu amigo.
Então eu mando contratá-lo por uma fortuna lá na França,
pago sua passagem, mando carro com chofer no aeroporto,
pro senhor chegar aqui e vir dizer que vai começar com um
beijo no umbigo???

151
E ele, levantando professoralmente o indicador:
— Por dentro, minha senhora. Por dentro.

***

Três masoquistas discutiam:


— Eu prefiro o ferro em brasa.
E o outro:
— Pois sou mais umas boas chicotadas.
E o terceiro:
— Dor não se discute!

***

— O que é que você está fazendo na rua a esta hora, ô


cara? — perguntou um amigo ao outro.
— Fazendo hora pra ir pra casa. Quero ir pra lá agora
não.
— Mas, já é madrugada, homem. Qualé?
— É que a minha mulher tá lá, com aquele amante
dela...
— Então, cara? Essa é que é a hora de você ir pra casa.
Chegar lá, abrir a porta, e entrar pela casa adentro.
— Tá maluco?
— Maluco? Me diz por que é que você não vai?
— Ah, rapaz, eu não tenho saco pro papo daquele cara,
não!

***

Dois amigos vinham caminhando pela rua, quando um


deles viu duas mulheres que vinham vindo em sua direção:
— Santamãe, ali vêm a minha mulher e a minha aman-
te. E o outro:
— Putz, você me tirou a palavra da boca.

***

152
Vocês já ouviram falar no Mineirinho, o mais ligeiro
gatilho do Oeste, do Leste e do Sul? O que não perdoa? O
famoso pequenino enganador? O Mineirinho já levava tan-
to prestígio lá pelas terras dele que uma vez abordou uma
jovem que estava louquinha por ele e perguntou, com aquela
loquacidade que lhe é peculiar?
— Cumé?
— Tá certo. Mas, vai ser onde? Na sua casa ou lá atrás
da Prefeitura?
— Começou a discutir, num quero mais!

***

Ia andando pela rua uma mulher tão boa, mas tão boa
que não havia homem que não parasse, não virasse, não ba-
basse, não saísse atrás. Mas a mulher era boa mesmo, gente.
Era uma coisa enlouquecedora. E sabia que era boa, man-
jam? E estava botando todo mundo louco. E ia pela rua. Ti-
nha até homem que desmaiava. E nisso a mulher passa por
um pobre e inocente padre que tenta tirar a vista daquela
montanha de pecado e não resiste e abre a butuca e olha pra
mulher com um olhão deste tamanho e fica meio verde, meio
cego, meio surdo, tão surdo que nem ouve um cara do lado
falar:
— Ah, seu padre, se essa batina fosse de bronze, que
badalada, hem!

***

Estava a mulher vendo televisão e o marido, de chinelo


e camiseta, lendo o seu jornal. De repente, ele se vira pra ela
e diz:
— Mulher, olha isto aqui. O jornal tá dizendo que no
Japão, agora, quem tá rodando bolsinha é homem.
— E daí?
— Diz que os homens lá estão faturando uma nota nes-
sa sua nova profissão.

153
— É mesmo?
— É sim. Diz que eles cobram duzentas pratas das mu-
lheres, cada vez que atendem a um pssiu.
— É. . . bom negócio!
— Ah... se eu pudesse — concluiu o marido — me man-
dava pro Japão!
Fez-se um pequeno silêncio, a mulher tirou um pouco
os olhos da televisão, voltou-se pro marido e perguntou:
— Mas, você, acha, bem, que ia dar pra você viver no
Japão com duzentos cruzeiros por mês?

***

E tem aquela, aliás velhíssima, do sádico e do maso-


quista. Disse o masoquista:
— Me bate.
E o sádico, balançando o dedo e falando devagarinho:
— Bato, não.

***

Era uma vez duas mocinhas que faziam o maior suces-


so na Zona Sul do Rio de Janeiro. Viviam em tudo quanto é
programa de televisão, em todas as fotos coloridas de carna-
val no Monte Líbano, em todos os coquetéis do Hotel Nacio-
nal, em tudo quanto era boate grã-fina, em todas as colunas
sociais. Um dia, um repórter descobriu que elas eram irmãs.
E descobriu mais: que elas haviam nascido num longínquo
subúrbio carioca, filhas de uma viúva paupérrima. Pois ele
foi entrevistar a velhinha pra saber a razão do sucesso das
filhas. A velhinha, muito murchinha, muito pobre, muito
abandonada, o recebeu na sala de sua modesta casinha de
subúrbio:
— Me diga, minha senhora, por que é que as suas meni-
nas fazem tanto sucesso lá pelas bandas da Zona Sul?
— Elas podem, não é moço!?. . . Elas podem. . .
— É. . . elas são bonitas. . . Mas, me diga, por que é que,

154
tendo nascido aqui, num lugar tão humilde, elas vivem nas
colunas sociais?
— Elas podem. Elas podem — repetia a velhinha.
— E por que é que elas vivem cheias de jóias, vestindo
fantasias caríssimas?
— Elas podem.
O rapaz viu que não ia conseguir muito com a velhinha;
desistiu.
Deu uma voltinha no calcanhar e berrou:
— Tchau, vovó! Até logo.
E a velhinha:
— Até logo, meu pilho!

***

Um cara resolveu criar gaiinhas. Mas não entendia nada


de galinha. E as galinhas que ele comprou estavam com um
hábito dos mais desagradáveis. Botavam seus ovos e, todas
elas, antes que o dono chegasse pra recolhê-los nos ninhos,
já tinham bicado os ovos todos e ele nunca conseguia apro-
veitar sequer um ovo para a produção de sua granja.
Que é que ele fez? Foi consultar um especialista:
— Ah, isto é muito comum — disse o especialista. — De
vez em quando baixa este vício num grupo de galinhas e elas
ficam com essa mania de bicar seus ovos.
— E como é que se faz?
— Muito simples. Você vai num armazém e compra uns
ovos de ferro.
Mas no armazém não tinha. Ele foi no próximo. Tam-
bém não tinha. E ele andou de armazém em armazém e em
lugar nenhum ele encontrava ovos de ferro e o pessoal até
já estava gozando ele. Finalmente ele chegou no último ar-
mazém da cidade e o armazém estava cheio de fregueses e o
dono do armazém era um corcundinha. Ele já ia perguntar
ao dono, quando reparou que todo mundo estava olhando
para ele e ele já estava com vergonha. Então, pra evitar ser
gozado, ele chamou o corcundinha num canto e falou-lhe ao

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ouvido:
— O senhor tem ovos de ferro?
Ao que o corcunda respondeu:
— Tenho não. Eu sou corcunda assim mesmo.

***

A vó tava na sala e o neto na porta da rua. De repente,


a vó ouve os ganidos mais terríveis do mundo e corre para a
janela. Lá está o netinho, de canivete na mão, muito assus-
tado, olhando o cachorro que uiva como um louco:
— Que foi que você fez, meu filho?
— Ah, vó. Eu vi os dois cachorrinhos amarrados, fiquei
com peninha, cortei a cordinha!

***
Caçada na África. Muito moderna. Todo mundo equi-
pado, com espingardinha, isopor com gelo, equipe médica,
uísque, luneta, som estereofônico e tudo. E resolveram se
separar em grupos de dois para maior eficiência da caçada,
tudo controlado por uma central geral, com equipes de salva-
mento, o escambau. Quer dizer, safari dos mais modernos.
De repente, dois deles param perto de um poço pra be-
ber água e fazer uma ou outra necessidade. Estavam muito
longe da central, mas podiam falar com ela pelo rádio, quer
dizer, estavam seguros.
Acontece que um deles resolve regar um matinho ali ao
lado, eis que pula uma cobra do matinho e dá uma mordida
nele, adivinhem onde?
Pois foi. Lá. A cobra era venenosíssima, mal acabara de
picar — nós dissemos picar? pois dissemos bem — o coitado
e ele já começou a ficar roxo:
— Pelo amor de Deus, faça alguma coisa.
— Não dá tempo de te levar pro acampamento.
— Pede instruções pelo rádio, ai, ai, ai...
— Vou fazer isto. Calma.
— Tou morrendo.

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— Calma. Você não vai morrer. Alô! É da central? Cha-
ma o médico. Emergência. Alô. É o senhor, doutor? Acon-
teceu um negócio grave. Meu companheiro foi mordido por
uma cobra. Que é que eu posso fazer? Como?
E o médico explicou direitinho:
— Não tem problema. Faça um tratamento de emergên-
cia que ele agüenta chegar até aqui.
— Que é que eu faço?
-— Faz o seguinte: dá um pequeno corte no lugar onde
a cobra mordeu e depois bota a sua boca no lugar e chupa o
veneno.
— Falou, doutor.
Desligou o rádio e voltou-se para o outro que se contor-
cia em agonia.
E o outro perguntou:
— O que foi que o médico disse? E ele respondeu:
— Que você vai morrer!

***

— Mamãe, eu quero fazer xixi.


— Espera um pouquinho, meu filho, que mamãe vai
segurar seu pipiuzinho pra você fazer seu xixi.
— Não. Não quero a senhora, não. Quero a vovó.
— Por quê?
— Porque a mão dela treme.

***

Diz que chegou um viajante numa cidade do interior de


Minas e pediu um quarto no único hotel da cidadezinha.
— Quarto não tem — disse o gerente. — Só tem uma
vaga.
— Aceito a vaga — disse o viajante, cansado.
— Acho melhor o senhor não aceitar não — disse o ge-
rente. — Quem está lá no quarto é o Mineirinho.
— Que é que tem isto? — disse o viajante. — Eu tenho

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lá medo de homem?
— O senhor pode não ter, moço, mas o Mineirinho é
fogo. Pior do que aquele cachorrinho caçador de orangotan-
go. O Mineirinho não perdoa ninguém. O homem é fogo!
O viajante engrossou sua já potente voz e disse:
— Deixa comigo. Me dá a chave.
E subiu para o quarto. Chegando na porta, foi enfiar a
chave na fechadura, mas deu uma paradinha, pensou um
pouco e decidiu: “Acho melhor ir dando logo a este Mineiri-
nho uma amostra do homem que vai dormir no quarto dele”.
E mal acabou de formular o pensamento foi metendo o pé
na porta que voou inteira lá pra dentro do quarto. Cá de fora
mesmo, jogou as malas lá pra dentro e entrou pisando com
tal força que deve ter acordado o hotelzinho inteiro. Deu um
pontapé na cama, arrancou as duas portas do armário, deu
dois pigarros de amendrontar leão, duas escarradas na pia,
um murro na vidraça pra entrar ar e nem olhou pra cama
lá do canto do quarto, onde um sujeito miudinho, com uma
cuecona enorme, um bigodinho mínimo, limpava as unhas
com a ponta do canivete, quietinho, sem dizer uma palavra,
só olhando o viajante arrasador.
Este continuava sua exibição de macheza. Quebrou
uns três cabides, deu mais duas cuspidas, tirou um charu-
tão, acendeu com o bafo, botou a botina em cima da cama do
Mineirinho e perguntou vigoroso e tonitroante:
— Que qui há?
O Mineirinho deu um sorriso, olhou o viajante assim
com o rabo do olho e disse com aquela vozinha indecente:
— Nada, moço, nada. Tou só esperando o senhor aca-
bar este frege aí, pra nós, ó, ó. . . E fez o gesto famoso.

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