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Autor - Ziraldo Alves Pinto
Capa - Ziraldo
Diagramação - Luscar
Ilustrações
Albert Piauí
Altan
Cássio Loredano
Caulus
Demo
Duayer
Gê
Henfil
If
Jaguar
Luscar
Millôr
Nani
Redi
Reinaldo
Wanderley
Ziraldo
Revisão - Cachafer
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Para
Manoel e Joaquim
de quem não temos mais
nenhuma razão para rir.
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A princípio me pareceu que este livro, contando anedo-
tas, não ia precisar de um prefácio. Depois me ocorreu que
valia a pena, pelo menos, dar uma explicação.
Já contei, nestes três últimos anos de O PASQUIM, mais
de mil anedotas, algumas muito muito velhas, outras muito
novas e um grande número de clássicos inesquecíveis. Muito
antes de começar a Antologia nas páginas de nosso jornal, eu
tinha o plano de um dia sair por aí recolhendo as anedotas
todas de minha vida e juntar tudo num livro.
Eu sou daqueles que gostam de contar e ouvir anedo-
tas, sempre com uma boa coleção de inéditas para as minhas
festas e reuniões. Achava que era só me decidir e dava para
lembrar de todas e começar a escrevê-las, uma a uma. Não
ia dar nunca. Foi quando me lembrei que podia começar pelo
PASQUIM, publicando as que me ocorressem e pedindo mais
dos leitores. Foi fantástica a colaboração recebida.
É verdade que, assumida a missão, eu saí por aí, procu-
rando antologias estrangeiras, coleções, estudos, pesquisas,
o que fosse sobre o assunto (até um livro do Isaac Azimov,
contando, comentando e explicando anedotas, eu achei).
A maioria, porém, das anedotas publicadas pela seção
d’O PASQUIM foram os leitores que me mandaram, numa
correspondência mais volumosa que a de ator de telenovela.
Gostaria de agradecer a cada um deles, mas são três anos de
cartas e eu jamais pensei em me organizar nesse nível. Al-
guns leitores chegaram a transformar em hábito sua corres-
pondência para a seção. Estou dizendo aqui, muito obrigado
a cada um deles. E agradeço por uma razão muito simples: a
coleção de anedotas, cuja publicação em livro iniciamos nes-
te volume, é um trabalho que me parece importante e sério.
Sem méritos nenhum para mim que apenas cumpri uma dis-
ciplina semanal de sentar à máquina, selecionar as anedotas
e tentar contá-las como quem está de pé no meio da roda.
Do jeito que eu as ouvi.
Esta pequena introdução tem, na verdade, o propósito
único de chamar a atenção do leitor para este detalhe: aqui
não estão reunidas piadas tiradas de rodapés de revistas,
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nem tópicos de seção de humor, nem piadas criadas por hu-
moristas profissionais. Aqui estão reunidas — e selecionadas
— as anedotas mais engraçadas que já ouvi, vindas não se
sabe de onde, criadas não se sabe quando, nascidas e rein-
ventadas na imaginação popular, subsídios concretos para
a compreensão da natureza e do comportamento humanos,
elaboradas pela imensa necessidade que o homem tem de
rir de si mesmo. E isto tudo feito através de um trabalho de
recolhimento da literatura oral, sem cordel ou gravador de
fita, seguras aqui antes de uma perda que seria, por todos os
lados, imensamente triste.
Ziraldo
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O caçador inglês estava numa festa da alta sociedade,
todo paparicado, passeando seus longos bigodes brancos,
manchados de fumo e uísque, pelos salões.
De repente, a dona da festa tomou-o pelo braço e o le-
vou a um grupo de senhoras interessadíssimas em ouvir ele
contar suas últimas aventuras na África.
Lord Hunter — excelente nome para um caçador, hum?
— aproximou-se, tomou a frente do grupo, pigarreou e come-
çou sua história.
Todas as mulheres em volta pararam seus gestos no ar
e ficaram fascinadas a figura crestada e máscula do velho
caçador.
E Lord Hunter contava:
— Estava eu em plena selva, completamente só, pas-
seando tranqüilo depois de duas cansativas semanas de
perseguição a um ferocíssimo leão que assustava aquelas
paragens. (Isso tudo, contado num inglês oxfordiano, natu-
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ralmente, primoroso.)
— De repente. E ele abriu os braços e fez o gesto de
quem se assusta.
As mulheres todas: ohhhhhhhhh!
— De repente — continuou ele — apareceu na minha
frente, quem? Who?. .. The lion!
As mulheres: ohhhhhhhh!
— Eu olhei o leão na cara e ele fez para mim: GrrrrRRRR-
AAAAUUUIlOOORRRCCGRRRHHHHHGRUNffffffffffwaharro-
www-woooogfrrrrsfst!
E Lord Hunter deu um berro tão alto, tão veraz, que
todos os convidados correram para o local onde ele contava
sua história, para ouvir a continuação.
— Eu não titubeei. Tomei do meu fuzil. Estava sem o
fuzil!
— Ohhhhhhhhhhhh!, fizeram todos.
— O leão aproximou-se mais.
Aí, Lord Hunter empolgado abriu mais a boca, balançou
mais a língua. e fez: GGGGGGRR-RRRRRRhhhhHHHhgggR-
fdkuijgujgujGGGHHHhhhwurodktltiujjjfhr-uhfjgjgitHHHD-
GRRGRRRRwahtiutekksisighlost!
O grito de Lord Hunter foi tão grande que as mulheres
gelaram em seus lugares. Lord Hunter estava roxo, o rosto
inflado, os olhos cheios de raiozinhos vermelhos, projetados
pra fora. Olhou em volta — estava, como se vê, fácil de olhar
em volta — todos estavam emocionadíssimos, interessadissi-
mos, tensos. Ele sentiu que estava agradando.
— Eu, então, passei a mão no meu revólver. Estava sem
o revólver.
— Ohhhhhhhhhh!, fizeram todos, com as faces cheias
de pavor.
Lord Hunter deu um passo à frente.
— O leão aproximou-se mais e fez... Nesta altura, Lord
Hunter deu uma paradinha, respirou fundo, abriu mais ain-
da a boca, arregalou os olhos, raspou violentamente o fundo
da garganta e fremiu todo o corpo, tonitroante.
— E fez:GGGGGGRRRRRRRrrrrrrrrhhhhhhwhwhwh-
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thjjgujggrhhhiooioiouuulllgrgggrrrrkkkdleotjdncjgnbuncvvx
xteggHHHHGRrrrrrrwhhoootuuuuiiiigrrrururugucguruisol-
gieijjewhotiooscgrlaftstrungggggh!
Foi o rugido mais pavoroso que alguém jamais ouviu.
Tremendo ainda, Lord Hunter parou de repente, deu um pas-
so atrás e disse:
— Borrei-me todo!
Foi um susto geral, o maior mal-estar. Algumas senho-
ras, porém, empolgadas com a heróica narrativa procuraram
justificar:
— Claro, claro. O senhor tem toda razão. Frente a frente
com um leão, assim, em plena selva, completamente desar-
mado, o senhor tinha que fazer isto.
— É justo. Justo, concordaram todas. Mas, Lord Hun-
ter explicou:
— Não, não. Borrei-me todo, agora, imitando o leão.
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de ideais.
O chefe geral ficou comovido e falou pro pessoal que,
na próxima vez que tivesse chamada, que o pessoal botasse
o Zóide na frente pra ele sair primeiro. E dito e feito. Tocou
a chamada e botaram ele na frente e foi aquele empurra-em-
purra pra saída e o Zoidizinho na frente, todo feliz, quando,
de repente, ele dá aquela freada e começa a gritar desespe-
rado:
— Pára! Pára! Pára!
— Pára, por quê? — pergunta o chefe. — Não é isso que
você queria?
— Não. Não. Pára, que desta vez é com a mão!
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salão na cidade que servisse para uma festa tão importante.
E não foi que uma das senhoras teve a idéia de fazer a festa
no casarão do Seu Juca!
E estava ele lá no portão, quando os convidados co-
meçaram a chegar com suas respeitáveis esposas. Seu Juca
levou o maior susto vendo o pessoal que chegava. Por último,
passou seu velho amigo, de braços com madame. Seu Juca
olhou pra ele e falou:
— Puxa-vida, a festa hoje vai ser de arromba, hem,
compadre? Com esse bando de vigaristas que vocês trouxe-
ram!...
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voltou a brilhar e ele pôde descobrir que sua bengala estava
quebrada.
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jeito.
Bum!!! Outro raio e ele tornou a virar sapo. E muito
tempo se passou e o castigo passou e ele voltou a ser gente e
a encontrar o compadre e a dizer:
— Domingo, eu vou...
— Se Deus quiser...
— Que Deus quiser, coisa nenhuma, home! Se Ele qui-
ser, eu vou. Se Ele não quiser, lagoa tá aí mesmo!
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— Pro babagaio comer.
— Sei. . . falou o fiscal. E abriu a terceira. Cheia de
jóias.
O fiscal cocou a cabeça. Jacó, imperturbável.
— E essas jóias? São pro babagaio comer, também?
— São. Tudo pra babagaio comer.
— E se o babagaio não comer? — berrou o fiscal.
— Jacó vende tudo!
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muito jeito e muita paciência, ele tinha botado o carrinho em
forma e saiu por aí, em cima das três rodas da Romisetta,
mandando ver. Já na estrada, ele passa por um enorme ca-
minhão parado.
— Que foi que houve, sô? — ele pergunta ao chofer.
— Ah, bicho — diz o chofer — eu vinha descendo a serra
aí, na maior banguela, dispinguelado. Chegou aqui na vár-
zea, cadê que a marcha entrou? Não vai dá pra subir a serra
aí da frente.
— Cê tem uma corda forte? — perguntou o Mineirinho.
— Corda?
— É. Se tem, me dá aí.
— Que é que você vai fazer?
— Vou amarrar seu Scania aí na minha Romisetta e
puxar ele serra acima.
— Tu tá doido.
— Tou não. Tou não. Marra p’rocê ver.
O chofer não tinha nada a perder, amarrou seu enorme
caminhão na traseira da recauchutadíssima Romi do Minei-
rinho. E ele saiu puxando o diabo do caminhão serra cima,
pra susto do chofer. Lá no meio da serra, porém, a Romi
começa a engasgar, a soltar uma fumaça negra, e tuc, tuc, e
vai parando e pára.
— Não disse — gritou o chofer saltando do caminhão.
Não disse que o carrinho não ia agüentar.
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— Foi nada não — falou o Mineirinho, quando ele che-
gou perto. — Pode voltar pro caminhão. É que eu esqueci o
freio de mão puxado!
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É um italiano lindo, moreno, olhos enormes, tímidos e muito
jovem para seu posto tão importante. Que homem simples e
bom!
Terça-feira — Passei toda a manhã na ponte de coman-
do, convivendo com os oficiais, passeando pelas partes do
navio reservadas à tripulação. Eles têm até piscina só pra
eles. Fiquei lá, tomando banho de sol. O comandante não me
abandonou um só minuto. Fiquei preocupada pelos outros,
ele só vai a mim. Que linda viagem.
Quarta-feira — O olhar do comandante estava muito
estranho hoje, na piscina.
Quinta-feira — O comandante me fez uma proposta in-
decorosa. Oh, meu Deus, são todos iguais. Onde está a gran-
deza do homem?
Sexta-feira — Ainda não sei onde está. O comandante
me disse que se eu não ceder, ele afunda o navio.
Sábado — Estou muito feliz hoje. Salvei mais de qui-
nhentas vidas!
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— Evidente — respondeu este, consolador — isto não
vale uma lágrima. Minha mãe também sempre cheia de
amantes. Ela vive a vida dela, eu a minha.
— É o que eu digo — falou um outro, todos tentando
ajudar o menino — chorar por tão pouco. Olhe pra mim. Não
sou um homem feliz? Pois então, e sabe? Minha mãe sempre
teve amantes, sempre. Desde que eu sou criança. Normal,
meu filho, normal!
Estavam todos neste papo, quando lá do fundo do va-
gão se levanta um homem com um cigarro apagado na boca,
procurando alguma coisa nos bolsos. Nisto ele pára, escuta a
conversa e grita pro pessoal:
— Será que não tem um fidaputa desses aí que me ar-
ranje um fósforo?!
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zinha e perguntou:
— Como é?
— Tá cheio de bicho por aí, rapaz, galinha, marreca,
pata, mula, égua, cabrita, o diabo. Te vira.
— Jamais! — falou indignado o jovem mancebo. Morro,
mas não faço uma coisa dessas.
— Mas aqui todo mundo faz.
— Todo mundo, menos eu.
E não fez. Quer dizer, não fez até umas semanas mais
tarde. Teve uma tardezinha lá que ele não agüentou. Viu
passar uma porquinha muito da mimosa na frente dele, zás,
passou a mão na leitoinha. Botou ela debaixo do braço e já
ia a caminho de casa, quando resolveu passar no bar pra
tomar uma coragem, uns dois tragos pra conturbar um pou-
co a mente cheia de culpa. Entrou no bar com a porquinha
debaixo do braço, chegou no balcão e pediu um uísque du-
plo. Enquanto o uísque não vinha ele reparou que estava o
pessoal todo do bar de olho nele, com aquele olhar acusador,
assustado, cheio de censura, pavor e reprovação. Ele não
resistiu. Virou-se pro bar cheio e berrou:
— Que é que há? Por que é que vocês estão me olhando
assim? Afinal, todos vocês aqui nesta cidade fazem isto, não
é?
— É claro que fazemos — respondeu um deles.
— Então!? Por que é que estão me olhando deste jeito?
— É que essa aí, meu chapa... essa aí é caso do dele-
gado!
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não posso te perdoar.
O rapaz zangou-se, virou no joelho, levantou-se do con-
fessionário e saiu à toda. Foi saindo e esbarrou num velho
amigo que lhe perguntou assustado:
— O Padre te perdoou?
— Perdoar, não perdoou, não — disse o pinta — mas me
deu quatro dicas sensacionais!
***
O Frankenstein convidou o Vampiro para jantar com
êle. Aí, os dois comeram um guisadinho maravilhoso. Aí,
o Vampiro disse que o guisado estava muito bom, que o
Frankenstein devia convidá-lo outra vez para comerem outro
guisado daqueles.
E o Frankenstein disse:
— Impossível.
E o Vampiro perguntou:
— Por quê?
E o Frankenstein respondeu: — Mãe só se tem uma!
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rer mesmo. Tá em cima da hora!
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25
— Sim, mas nem todos os hotéis da Barra são suspei-
tos, não é?
— Claro que não são, claro. Mas eles alugaram um dos
quartos, eu aluguei o do lado.
— Sim, sim.
— E fiquei observando. Os dois entraram no quarto, o
rapaz tirou a roupa.
— E depois? E depois?
— Depois, ela tirou a roupa.
— Não.
— E ficou nua. E deitou-se na cama.
— E aí?
— Aí, o rapaz veio e fechou a janela.
— Ah... essa dúvida é que me mata!
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uma vez por ano. Uma só. Quer me explicar por que é que
está tão feliz?
— Porque é hoje!
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27
— Não, não. Isso quer dizer que o senhor ganhou um
prêmio. Quer levar esta bonequinha?
— Que bonequinha, pô. Eu não sou menina, eu não
tenho noiva, eu não tenho filha, eu não tenho priminha, nem
amigui-nha, não sou maricas.. .
Aí a moça viu que o catarina não ia parar de falar, deu
pra ele uma tartaruguinha, ele olhou, olhou, olhou e disse:
— É. Este prêmio tá bão. E foi embora.
Na noite seguinte, olha ele de volta. Pega a espingarda,
pá, pá, pá, pá, pá, mais cinco tiros no alvo, vem a moça, o
senhor quer uma bonequinha e ele, não sou menina e não
tenho filha e aquelas coisas, aí a moça falou:
— Então, diz, o que é que o senhor quer? O catarina
pensou, pensou e disse:
— Me dá um sanduíche daqueles de ontem.
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28
Ah, quando o velhinho falou isto, Constantino e Niar-
chos olharam um pra cara do outro e seguraram o velhinho.
— Que foi que o senhor disse?
— Que isto é um regime de merda! — repetiu o velhi-
nho.
— Ah, é? — falou Niarchos.
— Ah, é? — falou Constantino. — Teje preso. Nós somos
do Serviço Secreto.
E mostraram suas carteirinhas pro senhor que falava
demais e levaram o velho preso.
Na delegacia, entregaram o senhor para o delegado e
disseram:
— Esfe senhor estava fazendo comício público, dizendo
que isto aqui é um regime de merda!
— Ah, é? — disse o delegado. — Ponham este homem
nas grades.
— Um momento — falou o velho senhor. — Que me po-
nha nas grades, coisa nenhuma. É tudo mentira desses dois
malucos. Eu não estava dizendo nada. Eles é que me agredi-
ram na rua. Exijo que eles sejam presos.
— Que negócio é esse? — falou o delegado. — Quem o
senhor pensa que é?
— Eu não penso que sou nada — disse o velhinho. E
tirando a carteira do bolso:
— Eu sou o General Alexandre Pataxiatis. E exijo a pri-
são destes dois moleques.
— Imediatamente — meu General —, falou o delegado.
E meteu Constantino e Niarchos no xadrez, depois de
pedir desculpas ao General.
O General desculpou, botou a carteira no bolso, ajeitou
o paletó e antes de sair da delegacia deu uma passadinha
pela cela dos dois, chamou os dois pra ouvir baixinho e dis-
se:
— Não falei com vocês que este era um regime de mer-
da?
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29
O nobre europeu partia para a guerra e para proteger
sua honra, mandou fazer um cinto de castidade para a sua
linda mulher. Antes de partir, não querendo sacrificá-la para
sempre, em caso de sua morte, chamou seu melhor amigo
e entregou-lhe a chave do cadeado com a recomendação de
que, se ele não voltasse dentro de dois anos, ele poderia abri-
lo.
Sob o olhar abnegado do leal amigo e as lágrimas da fiel
esposa, o nobre cavaleiro partiu para o campo de batalha.
Com seu fogoso corcel caminhou em direção ao inimigo,
sob o sol da manhã. De repente ele ouve, atrás de si, o tropel
de outro cavalo. Vira-se e vê, vindo em sua direção, ofegante,
o leal amigo, tendo ainda seu castelo ao fundo, mal acabara
de partir:
— Duque, meu caro Duque! — grita o amigo.
— Que foi? — brada o cavaleiro.
— O senhor deixou a chave errada.
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— Hazel??? Uau! A popular Hazel-Regimento? Se co-
nheci, rapaz. Aquilo era uma louca. Insaciável. Pois foi com
a Hazel que eu fiquei sabendo o quanto Londres pode ser
louca. Que mulher, meu jovem! Que mulheraço! Não tem ho-
mem que chegue pra Hazel neste mundo! Uau, uau!
— Que foi que ele disse? — voltou a perguntar o velho-
— Ele disse que conheceu mamãe.
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cheio de criancinhas brincando com enfermeiras e babás. E
ele diz:
— Um momento. Para uma fábrica de anticoncepcio-
nais, este negócio aí não faz muito sentido. Não vai me dizer
— completa, irônico — que isto aí é o Departamento de Pro-
paganda?
— Não é, não — responde o dono da fábrica. — Aí é o
Departamento de Reclamações.
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não estava sozinho atrás da moita. E quem é que tava lá com
ele? Justo a filha do sacristão. Seu Vigário ficou uma fera e
no mesmo dia mandou uma carta severa para o Mineirinho:
“Prezado Senhor: sou testemunha ocular de que este
meu filho anda pecando em excesso. E o que é mais grave:
sei que ele atentou contra a reputação de uma das minhas
mais virtuosas paroquianas. Quero informar ao prezado ami-
go que, como pastor das ovelhas desta cidade, vou tomar as
devidas providências que o caso exige”.
Pensam que o Mineirinho se apertou? No dia seguinte
mandou sua resposta pro padre:
“Prezado Vigário, recebi sua carta-circular de 13 do cor-
rente ...”
***
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duas orelhas de cachorrinho, non!
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gritou, gritou, ninguém respondeu lá de dentro. Então resol-
veram arrombar a porta. Gerente e hóspedes, perplexos, de-
pararam com a seguinte cena: o chuveiro aberto e os quatro
encostados na parede, completamente secos.
— Afinal, o que está acontecendo aqui? — berrou o ge-
rente.
— É que o sabonete caiu no chão — explicou um dos
tarados.
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— Pois antão. Eu tenho que ser exigente. Ela é a mais
bonita de todas, além disso estudou nos melhores colégios
do país, fala cinco idiomas, sabe cozinhar, bordar, tocar pia-
no, cantar e declamar. E além disso, meu menino, se puxar a
falecida mãe dela, num tem trepada iguá na redondeza!
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— Ocê, por acaso, num nasceu em Campo Alegre?
— Uai, nasci sim senhor — falou o grandão se interes-
sando.
— Chega aqui, chega aqui. Cê num nasceu ali pelo ano
de 1945?
— Foi sim senhor. Como é que o senhor sabe?
— Sua mãe num se chama Margarida?
— Chama sim, chama sim. . .
— Pois é, meu filho, comi muito a sua mãe!
***
Agora, bom mesmo é quando a imaginação popular se
exacerba para criar as anedotas mais elaboradas e, quase
sempre, mais grossas. Como a do bode. Diz que o camarada
estava na cama com a mulher do outro, quando o outro ba-
teu na porta. Onde é que esconde, aquelas coisas, não dava
nem tempo de botar a roupa, o marido era forte toda vida, já
foi entrando pela casa adentro, a mulher mandou o amante
se meter debaixo de uma pele de bode que tinha estendida no
quarto. O cara se ajeitou lá como pôde, completamente nu,
cobriu-se mal, diz que ficou assim meio de quatro, a bunda
lisinha voltada pra cima, a pele do bode não deu pra cobrir.
O marido entrou no quarto, tirou a roupa e se deitou ao lado
da mulher, aproveitando que ela já estava nua. O cara estava
meio atrasado e foi logo atracando a companheira e no rola
para lá, rola pra cá, deu de cara com o traseiro do bode vol-
tado pra ele:
— Que negócio é esse aí, mulher?
— Ah, meu bem, — disse a mulher — é um bode ensi-
nado que mamãe me mandou.
— Mas, é uma graça de bode! — disse o marido — pas-
sando a mão na parte que a pele do bode não cobriu. E falan-
do isso, nem conversou:
— Quer saber de uma coisa, mulher? Vou experimentar
esse bode.
— Não faça isso, marido. — falou a mulher tentando
salvar a pele do amante.
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— Como é que não faz? falou o homem. Faço sim. E
dando um riso meio canalha: “Esse bode merece!”
E tacou a vara no bode.
Diz que o coitado, lá debaixo da pele, aceitou a provação
e, pra não ser descoberto, ainda colaborou, fazendo:
— Béééééé, béééééééé...
O cara terminou o serviço, voltou pra cama e ainda fi-
cou olhando de olho comprido pro bode. A mulher dele vendo
que o coitado ainda podia sofrer outro vexame juntou o ma-
rido nos panos, mas na hora que ele ficou pronto, cadê que
ele se interessou pela mulher:
— Quer sabe de uma coisa, mulher? Meu negócio é esse
bode!
Pulou da cama e crau. E o outro:
— Béééééééé, béééééé...
E o marido voltou pra cama e a mulher tentou fazer ele
dormir e ele nada, levantou de novo e crau no bode e o coita-
do lá berrando pra garantir a vida.
O cara volta pra cama, deita um pouco, levanta de olho
rútilo e parte de novo pro bode pela quinta ou sexta vez, aí o
coitado lá da pele não se agüentou. Deu um pulo pra cima e
berrou decidido:
— PQP! Vai gostar de cu de bode assim no meio do in-
ferno!
***
38
guntou:
— Que deseja?
— Nada!!! — berrou o náufrago lá de baixo. — Vinha
passando, vi a luz acesa!
***
39
***
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40
— Pára, pára, pára!
E todo mundo parou e acenderam-se as luzes. E estava
lá o coitado, encostado na parede, com as duas mãos pro-
tegendo a parte traseira do corpo, a cara de dor e desespero:
— Pára pra organizar essa bacanal, pô!
***
***
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— Tu chefe te hará curado — disse el Gran Señor. —
Usted pegue um palito de madera, bota um algodón en la
ponta y passe iodo cotorizado en el local!
— Asi faré. Mi Gran Señor!
— E digame. Qual es su grande desejo?
— Servir a la Pátria, mi gran Chefe!
Y El Gran Señor passou para o leito seguinte:
— Que tienes, mi bravo?
— Hemorróidas, Senhor!
— Pues pegue um palito de madera, ponga um algodón
en la ponta, passe iodo cotorizado en el local.
— Si, mi chefe!
— Y su gran desejo, qual és?
— Servir a la Pátria!
E o Gran Senor passou ao outro leito:
— Que tienes, mi bravo?
— Hemorróidas, senor!
— Pues passe un algodón com iodo cotorizado en la
punta de um palito de madera.
— Si, Senor.
— Y su grande desejo, qual és?
— Servir a la Pátria.
E assim foi o Gran Señor de cama em cama e todo mun-
do tinha hemorróida. E ele dava sempre a mesma receita. Até
que chegou no último leito:
— Que tienes, mi bravo? Hemorróidas?
— No, Senor. Tengo dolor de garganta!
— Pues pegue um pedacito de madera, ponga el algo-
dón en Ia ponta e pince com iodo cotorizado.
— Si, mi Gran Señor.
— Y qual es su gran desejo?
— Que troquem o algodón, mi chefe!
***
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muito, mas muito boa mesmo.
No dia seguinte se encontra com sua melhor amiga:
— Como é? Deu pra passar?
E ela:
— Dei.
43
***
***
***
44
— Hoje não dá, meu bem. Hoje não dá. Tenho a pele
curta.
***
***
45
de. Não estou dizendo besteira nenhuma.
— Não é isso — disse-lhe a mulher, — É que a sua bra-
guilha está aberta.
Ele ficou lívido. E ela continuou:
— E o seu saco está dentro da taça de sorvete!
***
***
46
no de listrinhas marrons. Ele quer saber se depois de lavado,
o pano encolhe ou não.
— Ele já experimentou o terno?
— Já, sim senhor.
— Ficou largo ou apertado?
— Largo.
— Então diz que encolhe.
***
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47
— Sabe o que é, seu padre, de repente, aqui de fora não
tá dando pra escutar nada. Passa pro lado de cá pro senhor
ver.
O padre saiu do confessionário e trocou de lugar com o
sacristão.
Aí, o sacristão pergunta lá de dentro:
— Senhor padre, quem é que anda pulando a janela da
casa da mulher do delegado?
E o padre:
— Você tem razão, meu filho. Daqui de fora não se ouve
nada.
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48
de vaca por todos os lados. Os meninos choram o dia inteiro,
a vaca berra sem parar, ninguém dorme mais. Eu não sei o
que fazer.
E o guru falou:
— Tira a vaca de dentro do barraco.
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49
— Lindo. Agora, fala, Paulinho, Quem foi que fez os coe-
Ihinhos, os passarinhos, os gatinhos?
— Foi Deus, professora.
— Perfeito. Agora, fala, Joãozinho, quem foi que fez
você?
— Olha, professora, a mãe já me disse uma vez mas eu
Esqueci o nome do cara.
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50
— Não diga?
— É. Não queria comer cogumelos.
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***
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51
— Papai do Céu.
— Magnífico, Paulinho. Você é um bom menino. E você,
Clarinha?
— Da mamãe!
— Que boa filha..E você, Serginho?
— De futebol.
— Que atleta! Agora você, Joãozinho, qual é a coisa que
você mais gosta no mundo.
— Tu!
A professora ricou emocionadíssima.
— Ah, que coisa linda, Joãozinho. Que alegria. Sua pro-
fessora está encantada por saber disto. Isto glorifica a vida
de qualquer professora, meu filho. Agora me diga, o que é
que você quer ganhar de presentinho por uma resposta tão
bonita?
E o Joãozinho:
— Uma tota-tola!
***
52
O ambiente era indescritível. Luzes cortantes, gritos,
gemidos, música dodecafônica, psicodelismo total. Por duas
vezes, uma mulher vestida de vampiro jogou-se em seus bra-
ços, pôs uma rosa na sua orelha, disse “Cronch-cronch” e
desapareceu no ar. No palco em frente, um spot pisca-pisca
iluminava objetos e pessoas estranhas, nas mais incríveis
performances: um palhaço que fritava cobras vivas numa fri-
gideira ao som de rumbas; um casal que mergulhava de ca-
beça numa imensa taça de acrílico; uma velha nua que joga-
va ping-pong com uma cebola contra um velho gordo vestido
de legionário; um homem de 2 metros de altura que engolia
fogo montado nas costas de um anão que cantava a Marse-
lhesa em dialeto galego. O escambau.
De repente, um macaquinho, vestido de marinheiro
desce num trapézio, tira um fino na mesa onde está o nosso
amigo, vai e vem, molha as partes pudendas no copo de uís-
que, e, como tudo na buate, some como por encanto. Com os
olhos arregalados, o cara se levanta e vai até o pianista, que,
com ar de porre monumental, está tocando um fox dos anos
40. O sujeito, com a cara de quem acaba de ver um fantas-
ma, põe a mão no ombro do pianista e diz:
— O macaquinho molhou o saco no meu copo de uís-
que. O pianista, sonadão, sem olhar pra ele:
— Cantarola aí pra ver se eu me lembro...
***
***
E estavam os dois — o padre e o sacristão — discutindo
uma tarde que até que aquela cidadezinha era boa, que eles
levavam uma vida das melhores, que não perdoavam nin-
guém, que já tinham transado com tudo quanto era bicho de
53
saia que povoava aquela próspera comuna.
E cada um contava mais vantagem, até que um propôs
pro outro:
— Eu aposto que minha lista é maior do que a sua.
— A minha; maior.
— Pois, vamos ver. Amanhã na hora da missa a gente
fica ali na porta. Toda mulher que passar pela gente e que a
gente já tiver crau, a gente fala “Tico”. O que falar mais tico
do que o outro, ganha a parada.
E assim ficou combinado. Dez horas da manhã do do-
mingo, lá estão os dois. E vai entrando a mulher do açou-
gueiro:
— Tico — fala um.
— Tico — fala o outro.
E vem chegando a mulher do coletor:
— Tico.
— Tico.
— E vem a diretora do grupo:
— Tico.
— Tico.
E passou todo mundo, e os dois firmes ali no tico. Já
estavam há um tempão naquela coisa, empatados todos dois.
quando um falou pro outro:
— Tou gostando de ver.
— Nós dois é fogo!
— Tamos empatado.
— Tou vendo que estamos.
— Nós é fogo!
— Pois somos.
— É isso. Porque aqui nesta cidade, tirando a minha
mãe e a minha irmã. . .
— Tico, tico — falou o sacristão.
***
54
tal. Ou melhor: não era total. Ela tinha um aluno exemplar,
o Joãozinho. Aí, um dia, ela pediu ao Joãozinho, em classe,
que contasse para os seus colegas como é que era o seu dia
para que os outros pudessem se mirar no exemplo daquele
aluno correto. E o Joãozinho foi lá pra frente e começou a
falar:
— Eu me levanto às sete, tomo banho, escovo meus
dentinhos, visto sozinho o meu uniforme, tomo meu café da
manhã, e vou para o colégio. Aqui, presto atenção na aula,
copio os deveres direitinho, respeito minha professora e meus
colegas. Ao meio-dia volto para casa, troco minha roupinha,
lavo minhas mãos e vou almoçar. Depois do almoço, brin-
co um pouco e lá pelo meio da tarde faço os meus deveres.
Depois, se está um dia de muito calor, tomo banho de novo,
visto uma roupinha mais leve e às seis horas, vou jantar.
Depois, vejo um pouquinho de televisão, afastado uns três
metros do aparelho, só programas permitidos pela mamãe
e mais ou menos ali pelas sete e meia, oito horas, começa a
minha vida sexual.
— O quê? ? ? — berrou a professora. — Vida sexual?
Você, um menino de oito anos, com vida sexual? Que negócio
é esse?
E o Joãozinho:
— É fácil, professora. Ali pelas sete e meia, oito horas,
meu pai chega em casa e começa a me foder a paciência!
***
Na Lapa:
— Vem comigo, querido. Quanto que você me dá?
— Uns sessenta anos.
***
55
Papa o levou direto ao Vaticano. Paulo VI e seus mais emi-
nentes cardeais queriam conversar sigilosamente com ele. O
Papa foi direto ao assunto!
— Meu filho, nós sabemos da extraordinária experiên-
cia por que você passou. Você foi o primeiro ser humano a
conhecer os mistérios da vida e da morte. De uma revelação
sua depende a sorte da Igreja Católica e o futuro do cristia-
nismo. Meu filho, só você, que já esteve do “outro lado”, pode
nos dizer: Deus existe?
Zeca:
— Eminência, perdoe-me desapontá-lo, mas Deus não
existe.
Espanto geral, cochichos entre os cardeais, o Papa se
retira pra uma sala ao lado. Dez minutos depois, Paulo VI
volta e dirige-se de novo a Zeca:
— Em nome da Santa Igreja eu lhe peço que jamais diga
a alguém que Deus não existe. Para mostrar nossa eterna
gratidão por esse favor, mandaremos depositar agora, num
banco da Suíça, um cheque em seu nome no valor de 5 mi-
lhões de dólares. Vá com Deus.
E Zeca foi embora. Mal saiu do Vaticano quando dois
bruta-montes o arrastaram pra dentro de um carro, taparam
seus olhos e o levaram para o Kremlim. Lá estavam, numa
sala, Brejnev e Kossiguin. O primeiro tomou a palavra:
— Senhor Zeca, nós sabemos de tudo. Agora, em nome
do futuro do Comunismo Internacional, nos diga: esse tal de
Deus existe mesmo?
Zeca:
— Os senhores hão de me perdoar — eu até que simpa-
tizo com o credo comunista — mas a verdade é que, lamen-
tavelmente, Deus existe. Eu o vi.
Brejnev:
— Impossível! Maldição! Se o mundo souber disso esta-
remos desmoralizados!
Zeca:
— Mas é a pura verdade.
Brejnev:
56
— Bem, já que o senhor simpatiza com a nossa causa,
esta é uma chance de ouro para nos ajudar. Se nos prometer
que jamais dirá que Deus existe, prometemos depositar, em
meia hora, num banco da Suíça, 10 milhões de dólares em
seu nome.
E Zeca foi levado a Genebra. Dia seguinte, quando ia
pro banco, outros dois brutamontes fizeram a mesma coisa
que os russos haviam feito na véspera. Dessa vez eram os
americanos. Zeca foi parar na Casa Branca, ao lado do presi-
dente Nixon. Delicadamente, Nixon perguntou:
— Fui informado de sua experiência, meu rapaz. Como
você sabe, vivemos um momento difícil. Ou a democracia
cristã faz valer seus princípios ou o materialismo vermelho
nos conduzirá ao apocalipse. Por isso é fundamental para
todos nós que você diga toda a verdade sobre a existência de
Deus. Ele existe, não?
— Existe. Eu o vi.
— Oh, que bom sabê-lo!
— Só tem uma coisa.
— O quê? !
— Ele é preto.
57
— Seu padre, seu padre, minha mulher morreu.
Buááááá.
— Como? — se assusta o padre vendo o padeiro da ci-
dadezinha aos prantos. Você não é o Juca da Padaria?
— Sou, sim senhor.
— Então, que negócio é esse? No fim do ano passado eu
dei Extrema Unção à sua mulher, depois fiz o enterro dela,
como é que você vem me dizer hoje, seis meses depois, que a
sua mulher morreu?
— Ah, seu padre. Eu não lhe disse. É que eu me casei
de novo.
— Não diga. Meus parabéns!
***
58
Qual é a vantagem? Afinal, você e eu somos galos, por que
desmoralizar a classe? O lugar é seu. Todas essas galinhas
aí são suas. Chegou a minha hora de partir. Mas, eu não
queria partir desmoralizado, entende? Não é vantagem pra
mim, nem pra você. Nós temos que manter a nossa tradição
de dignidade. Nós somos os reis do terreiro e devemos chegar
aqui como reis e partir como reis, certo?
— Falou.
— Pois é isso. Eu queria te fazer uma proposta pra gen-
te formalizar a minha saída e a sua chegada triunfante. Eu
sairia bem, honrado, dignificado e você assumiria o seu lu-
gar, coberto de louros.
— Como é que vai ser?
— Olha, as galinhas já conhecem a cerimônia. Eu pro-
ponho que nós apostemos uma corrida. O que ganhar, fica
dono do terreiro. O que perder, se retira!
— Mas, o senhor vai perder pra mim, bicho!
— Claro. É apenas uma cerimônia. Você vai ganhar, é
claro. Aí, eu partirei dignificado porque as galinhas verão que
eu lutei pelo meu lugar e você assume, vitorioso.
— Perfeito — falou — tá legal.
— Então, vamos lá. A corrida é daqui até o galinheiro.
Um, dois e. .. três!
E o galinho saiu correndo em disparada, feito um raio.
Atrás dele, correndo, o galo velho.
De repente se ouve no ar um tiro — pum! — e o galinho
novo — pimba — cai durinho no meio do terreiro.
Corta pra janela da fazenda; lá está o fazendeiro so-
prando o cano da espingarda fumegante e falando pra mu-
lher dele:
— Você viu? Outro! Com esse já é o quinto galinho bi-
cha que eu tenho que matar esta semana.
***
59
— Meu filho, tou sentindo um cheiro de pão de queijo.
— Mas é pão de queijo, pai. (Essa se passa em Minas
Gerais; é bom explicar.)
— É sua mãe que tá fazendo, filho?
— É, pai.
Ah, meu filho, ninguém faz um pão de queijo melhor no
mundo. Que cheirinho bom, meu Deus. Que saudade me dá,
meu Deus. Vai lá na cozinha, meu filho, vai. Vai lá e traz uns
pãodequeijim pra mim.
— Vou, meu pai.
Uns minutinhos depois e o rapazinho volta sem pão de
queijo.
— Cadê, meu filho.
— Mamãe não quis dar.
— Por quê?
— Diz ela que são pro velório.
***
***
60
este lenço?
E o Pedrinho:
— Em alguém dando adeus, professora.
— Lindo, Pedrinho. Muito poético. E você, Mariazinha?
— Em uma garça voando, professora.
— Ah, que beleza!
E continuava acenando o lenço:
— E você, Joãozinho, pensa em quê?
— Em mulher, professora.
— Mulher, Joãozinho? ? ? Mas, como é que um lenço
branco pode te fazer pensar em mulher, Joãozinho?
— Ah, professora, é que eu não penso em outra coisa!
***
61
De repente, entra no salão um crioulo enorme com um
negócio enorme e com uma placa pendurada onde se lia:
“SE EU TE PEGAR,... TE COMO!
***
***
***
62
— Tá bom assim mesmo. Estou morto de cansaço e não
tenho onde dormir. Me dá a vaga.
E foi dormir com o velhinho. Lá pelas tantas, noite alta,
o viajante acorda com gritos incríveis. É o velhinho, ao seu
lado, no cama, berrando:
— Aí, meu Deus! Ai, meu Deus! É hoje! É hoje!
— Que foi, meu senhor? Que foi? — pergunta o viajante
assustado.
— É hoje, meu fi! É hoje. Arranja uma mulher pra mim,
porque é hoje. Eu quero uma mulher! Eu quero uma mu-
lher!
— Calma, meu velho!
— Que calma o quê, meu fi! Que calma o quê! Anda, vai
arrumar uma mulher pra mim, porque é hoje.
O viajante virou-se pro velhinho e falou:
— Olha aqui, meu senhor, eu não vou arrumar mulher
pro senhor, por três razões. Primeiro, porque eu não conheço
ninguém nessa cidade; segundo, porque são três horas da
madrugada, tá chovendo pra burro e eu não vou sair feito um
maluco ai pela rua; e terceiro, esse negócio que o senhor está
segurando aí, não é o do senhor não. É o meu!
***
63
***
***
64
— Isto? A gente mete tudo numa máquina, meu velho,
e faz patê de fois gras, pra exportar pra França.
Anos depois, tava o americano passeando em Paris,
quando viu o francês saindo de uma casa suspeita com uma
cesta cheia de “coisinhas de borracha” usadas, aquela imun-
dície.
— Que porcaria é essa? — perguntou o americano ao
francês.
— Porcaria nada. A gente vai meter isto tudo numa má-
quina, pra fazer goma de mascar pra americano.
***
***
Era uma vez uma enfermeira muito boa, mas muito boa
mesmo. Aí, o médico falou pra ela:
— Tá proibida de atender aquele cliente do quarto de-
zessete.
— Por que, doutor?
— Porque toda vez que você entra lá, arrebenta os pon-
tos do rapaz.
— Ah, doutor, perdão — disse a enfermeira. Eu não sa-
bia que ele tinha sido operado de fimose.
***
65
vez que ele tinha passarinho em casa e, como não entendia
nada sobre o assunto, telefonou pro amigo que lhe dera os
pássaros:
— Ei, cara, qualé que é o macho, qualé que é a fêmea?
— Ihh, seu, sei não. Você faz o seguinte: passa lá na
loja onde eu comprei os dois e pergunta pro dono. Ele é um
craque e vai te explicar tudo direitinho.
Pois o cara passou por lá:
— Por favor, o senhor poderia me explicar como é que
eu faço pra distinguir um passarinho fêmea de um passari-
nho macho?
— Muito simples, muito simples, ô meu amigo — falou
o dono da loja que se chamava Manoel. — O senhor vai ao
quintal de sua casa.. . sua casa tem quintal; não é verdade?
— Claro. E aí?
— Ai, o senhor cava no quintal.
— Sim senhor.
— E pega umas minhocas.
— Perfeito. E dai?
— Daí, o senhor leva as minhocas pros dois passari-
nhos comer. O passarinho fêmea só come minhoca fêmea. O
passarinho macho só come minhoca macho.
***
66
***
67
anunciando uma atração internacional. Ele ficou intrigado.
Imaginem uma atração internacional no interior do Mara-
nhão. Foi lá ver. Bebeu, dançou, olhou, curtiu o botequim,
até lá pelas tantas, quando as luzes se apagaram e o mestre
de cerimônia convocou as senhoras e os senhores presentes.
O cabaré tinha o orgulho de apresentar, num esforço para
alegrar os pioneiros da Transamazônica, o maior cantor do
Caribe, Dom Pablo Salvador, estrela da televisão mexicana,
famoso em todo o mundo, em viagem pelo Brasil. Palmas,
murmúrios, ansiedade. O nosso engenheiro aqui, só olhan-
do. A orquestra deu o acorde, o animador tacou o “aquele que
é” e apareceu dando pulinhos como um boxeador, de gravata
borboleta e summer branco, Dom Pablo Salvador!!!
Era um crioulinho miúdo, magrinho, com uns dentes
muito brancos, um sorriso maior do que a cara. O animador
antes ainda fez uma entrevista com ele. O nosso amigo só
manjando.
— Dom Salvador, que te parece el Brasil?
— Bueno, bueno!
— Te gusta la Transamazônica?
— Mucho, mucho!
— Lo que te gusta más en el Brasil?
— Las muchachas!
Palmas.
— E vamos ao seu primeiro número, Dom Salvador!
A orquestra atacou a introdução, Dom Salvador segu-
rou o microfone e atacou:
— Hipócrita. Sencillamente, hipócrita...
A orquestra fez tchan, tchan, tchan dando o tempo do
bolero, Dom Salvador respirou fundo e lascou lá:
— Pelvelsa!...
***
68
obra e a apresentou como uma miniatura de piscina. Teve
outro que trouxe um rádio do tamanho de um dedal. Outro
uma máquina fotográfica do tamanho de uma unha. Outro
trouxe um gato do tamanho de uma barata. Mas o vencedor
foi um sujeito que trouxe uma árvore em miniatura. Aliás,
pra ser mais preciso, ele apresentou um carvalho perfeito,
com galhos e folhas, raízes e sombra, como um desses belos
carvalhos de paisagem. Só que sua árvore, seu carvalho im-
ponente, tinha apenas trinta centímetros de altura.
O júri ficou maravilhado com o trabalho do concorrente
e ele levou o prêmio.
Depois foi a glória e as entrevistas. Naturalistas e biólo-
gos do mundo inteiro procurando o homem que tinha reduzi-
do um carvalho gigantesco em um arbusto perfeito de trinta
centímetros de altura.
Um dia, um repórter mais íntimo perguntou pra ele:
— Escuta, qual foi o método que você descobriu para
reduzir uma árvore nessas proporções? Diga: você pode estar
descobrindo um novo caminho para a humanidade.
E ele contou todo o segredo:
— Olha aqui, rapaz, eu não sou cientista nem nada. O
negócio foi assim: eu, um dia, vinha passando perto de um
rio, vi um cara se afogando. Aí, mergulhei no rio, salvei o
cara. Quando eu saí com ele para terra firme, descobri que
o cara era um gênio da floresta. Aí, ele falou comigo que eu
podia pedir o que quisesse que ele me dava. Aí, como eu sem-
pre fui muito mal servido, pedi a ele, sabe, você entende, pedi
que me desse, bem. . . um que tivesse trinta centímetros.
— E daí?
— O gênio me atendeu. Só que o desgraçado era meio
surdo e não entendeu bem o meu pedido.
***
69
do à direita da porta. Vai, que dá”.
O camarada olhou prum lado, pro outro, não viu nin-
guém, confiou na voz, entrou na loja, comprou o bilhete,
deu.
Feliz da vida, ele recebeu o bilhete e comprou um tre-
mendo carrão. Entrou no carro e saiu dirigindo com o maior
cuidado, o carro tinha custado uma fortuna. De repente, ele
ouve de novo a voz:
— Acelera, rapaz. Acelera. Vai, que dá.
O camarada tacou o pé no acelerador; o carro saiu vo-
ando. Eis que na sua frente o sinal fecha subitamente. Ele
vai pisar no freio, quando ouve a voz de novo:
— Vai que dá.
Ele manda ver; na hora exata o sinal muda e ele passa
a cento e quarenta pelo cruzamento sem o menor perigo.
Ele já devia estar a uns duzentos por hora, quase na sa-
ída da cidade, quando aparece uma curva fechada e a voz:
— Não reduz não. Vai, que dá.
70
Confiante, ele manda ver, entra na curva cantando nos
freios, deu.
Ei-lo na estrada, fagueiro, voando que nem sentia os
pneus no chão. E olha que no final da reta um cara começa
a morcegar na frente dele. Ele a duzentos e vinte e o cara não
querendo passar dos cento e oitenta.
Ele reduz a marcha e resolve esperar o momento exato
pra ultrapassar o tartarugão. E ouve a voz:
— Ultrapassa, rapaz. Ultrapassa, que dá.
— Mas tem uma curva ali na frente — diz ele duvidan-
do.
— Eu tou dizendo que dá — diz de novo a voz.
Ele nem conversou, acendeu o pisca-pisca, enfiou o pé
no acelerador, pegou a pista da esquerda e mandou ver.
— Vai que dá — gritava a vozinha eufórica; ele já a du-
zentos e oitenta.
Neste exato momento surge em direção contrária um
fenemê de duzentas toneladas, e ele só teve tempo de ouvir a
vozinha dizer:
— Chiiiii, não vai dar não!
***
71
***
***
***
72
E tome penitência. O cara foi embora e voltou uma se-
mana depois:
— Seu padre, comi um gato.
— Não é possível.
— Comi, seu padre. Confesso que comi. Eu não resis-
to.
— Mas é bom assim?
— Ai, seu padre, é a melhor coisa do mundo.
— Arrependa, meu filho. E nunca mais volte aqui com
esse pecado.
Uma semana depois:
— Seu padre, comi um gato.
— Não é possível!
E aquilo durando meses. Até um dia que o padre não
resistiu e falou pro rapaz:
— Escuta aqui, ô maluco, como é que você faz pra co-
mer o gato?
— Olha, seu padre, eu pego o bichinho, levo lá prum
cantão da cozinha, dou uma paulada na cabeça dele, tiro
a pele e faço ele assado no espeto, como paca ou cotia, seu
padre... o senhor precisa ver que sabor...
Nem acabou de falar. Quando ele viu tava o padre na
frente dele, danado da vida, falando:
— Ah, seu merda! É isso? E eu aqui, todo arranha-
do!...
***
***
73
uma coisa gravíssima.
— O que foi, minha senhora? — pergunta o médico.
— Meu marido enlouqueceu.
— Não diga, minha senhora. Como é que foi isso?
— Ele cismou que é um cavalo de corrida, doutor.
— Isto é muito grave minha senhora. Venha correndo
com ele para o consultório.
Um momento! Agora é que nós demos pela coisa. Esta
piada pode acabar aqui? Se pode, acabou!
E vamos contar a outra que a gente estava contando
e cujo fim era outro. Era o papo da cliente com o médico,
mesmo. O marido dela tinha, realmente, ficado maluco. E
ela telefonou para o médico. E informou pra ele que o marido
cismou que tinha virado um cavalo. E o médico mandou ela
vir para o consultório o mais depressa. E ela falou:
— Num instante, doutor. É só o tempo de botar a sela.
Ele está correndo uma maravilha!
***
74
pelo Capitão-Médico. De repente, o médico vê um, todo preto,
com a coisinha branca. E diz pra ele:
— Fenômeno, rapaz. Fenômeno. Nunca vi na minha
vida um caso igual. Um negro com isso aí branco.
— Sou negro não, doutor, — disse o rapaz. — Eu sou é
carvoeiro. E estou em lua-de-mel.
***
***
75
E as piadas de jacaré, nem? Como tinha piada de ja-
caré. Tinha aquela do sujeito que foi ao médico e disse que
tinha um jacaré debaixo da cama dele, de forma que ele não
dormia de jeito nenhum. Aí o médico deu uns comprimidos
pra ele dormir. Dias depois ele voltou ao médico.
— Como é? Agora, tá dormindo?
— Dormindo eu estou, doutor. Mas, o jacaré continua
lá embaixo da cama.
— Tá bem, meu filho. Tá bem. Mas, vamos dobrar a re-
ceita. Beba também este remedinho aqui, antes de dormir, e
pode ir pro seu quarto direitinho que o jacaré não vai te fazer
nada, viu! Daqui a uma semana você volta.
E passou-se a semana, e mais outra, e o cliente não
voltou. Aí o médico resolveu telefonar pra casa dele.
— Cadê o Alcebíades? (Ah, sim, o cliente se chamava
Alcebíades.)
E responderam de lá:
— Ah, doutor, o senhor não soube, não? Jacaré comeu
ele.
***
76
***
***
77
à boca, firim, firirim, firirim, fim fim... o leão foi fechando o
olhinho, foi ficando meio grogue, pá, caiu durinho num sono
profundo, mais um leão na jaula.
— Mas vai ser uma sopa — falou o dono do circo. — Va-
mos pegar todos os leões da África, sem dar um tiro.
No final da tarde já tinha um monte de leão dentro do
jaulão, tudo pêdavida, assistindo seus outros amigos caírem
um a um.
De repente, aparece na frente deles, todo fú, um leão
velhinho, a cara torta, meio boboca, e fica olhando os dois,
assim de frente.
— Pega esse? — perguntou o cara da flautinha.
— Pega — falou o dono do circo. — Quanto mais, me-
lhor. O cara meteu a flautinha na boca e começou firirim,
firirim, firirim, firirim. . .
Mas o leão olhou pra ele, deu uma lambida vagarosa
nos beiços e veio caminhando pra cima do flautista. E o flau-
tista firme no firirim. Mas, o leão nada. Avançava cada vez
mais. O flautista começou a ficar apavorado e caprichava
cada vez mais na musiquinha, mas não adiantou o capricho.
O velho leão chegou bem pertinho, pá, deu-lhe uma patada
no meio da cara e em dois minutos, traçou o flautista com
flauta e tudo. Só deu tempo do dono do circo ouvir o primeiro
leão que eles pegaram falar pra um outro:
— Não te disse que na hora que aparecesse o Surdinho
ele ia sifu!?. . .
***
78
o bêbado da cidade.
— Já sei — fala o farmacêutico, pêdavida. — quer um
engove, não é?
— Não senhor, não senhor. Só quero me pesar.
***
***
79
noivava, tratava a menina com o maior cuidado:
— Você vai ver que coisa linda é o casamento, meu
amor. Eu vou mostrar pra você que não existe nada mais
bonito no mundo.
E se fez a festa e o casamento. E vestida de noiva, toda
de branco aos pés do altar, a menina perguntou:
— Casamento é isso, bem?
— Não, meu amor. Isso é apenas o começo. Casamento
é muito mais lindo do que apenas isso.
E foram para a fazenda, a festa animada, os dois dan-
çando no meio do salão e ele encantado com a pureza de sua
sertanejinha, volteando no salão, presa aos seus braços:
— Casamento é isso, bem?
— Não, minha menininha. Casamento é muito mais.
Você vai adorar, meu anjinho.
E todos os convidados se foram e eles ficaram sozinhos
na grande casa da fazenda, a câmara nupcial preparada pela
mãe da noiva, sábia senhora.
E os dois entraram no quarto, todo bordado, cheio de
flores.
— Casamento é isso, bem?
— Calma, anjinho, você verá.
E tomou-a nos braços, e dançaram pelo quarto e ele
jogou sua doce companheira no leito de amor e beijou-a com
carinho e ternura e ela tornou-se então sua mulher de verda-
de. Mal tudo terminara ela perguntou:
— Casamento é isso. bem?
— É meu amor. Casamento é isso.
— Engraçado, os rapaiz lá da cidade nunca me disse-
ram que esse trem era casamento.
***
O jovem pai chegou ao pediatra, bastante aflito, com
uma criança no colo:
— Doutor, meu filho está com seis meses e não abre os
olhos!
O médico examinou, bem, virou-se pro rapaz, e falou:
80
— Quem deve abrir os olhos é o senhor, meu amigo.
Isso aí é filho de japonês.
***
***
81
lado, enquanto exclamava:
— Fora daqui, cambada de fios das puta, Jacó pensar
que era fiscal.
***
***
***
82
a seu jeito, tão bonita, tão apaixonante, tão sua amiga, que
ele não agüentou. Quer dizer, quando viu, tava casado. E no
quarto de um hotel enorme, em plena lua-de-mel.
E no meio da noite, levantou-se, abriu a porta do seu
quarto e correu para o quarto do lado. Bateu na porta. Uma
cara amarfanhada apareceu na porta entreaberta, acordada
no meie da noite:
— O que é?
— O senhor é casado?
— Sou não! — berrou o que abrira, batendo a porta com
força na cara dele.
Ele foi para o quarto seguinte:
— O senhor é casado?
— Sou não, pô!
Porta na cara. E no quarto seguinte:
— O senhor é casado?
— SOU NÃO!!!
E ele correu todo o corredor daquele andar. E todos os
corredores dos outros andares e todos os quartos:
— O senhor é casado? A senhora é casada?
— Não! Não! Não!
E já eram quase quatro horas da manhã. Ele já estava
cansado. No último quarto, quase que seu punho fechado
não fez barulho na porta. E atendeu um hóspede com cara
paciente:
— O senhor é casado?
— Sou sim, por quê?
— He. . . ele fez! Juntou as duas mãos entre os joelhos,
levantou os ombros, deu um sorriso deste tamanho e jogou
a cabeça pro lado:
— Casar é bão demais, não é?!...
***
83
por mês nesta cidade?
— Oia, menina. Tou na prefeitura há mais de 20 anos.
Sabe que nunca vi um enterro.
— Que beleza, seu prefeito. E qual era a população na-
quela época?
— Mil e quinhentas pessoas.
— E hoje?
— Mil e quinhentas.
— Ué, seu prefeito, e não nasceu ninguém?
— Nasceu, sim, minha filha. Nasce menino pra danar
nesta cidade.
— E como é que a população não aumenta?
— É que toda vez que nasce um menino, foge um ra-
paz.
***
***
84
resiste. Vamos contar todas. Vocês que escolham a cidade
exata onde cada história se passa.
• Diz — que numa dessas cidades ai inauguraram um
estádio enorme chamado o “Bichão”. Cem mil lugares: cin-
qüenta mil sentados e cinqüenta mil no colo.
• Problema: Diz — que já venderam todos os cinqüenta
mil no colo.
• Tem uma estrada que vai ligar as duas cidades: a
“Trans-viadônica”.
• Cuequinha “Zorba” lá eles estão chamando de porta-
jóia.
• Tava um pescando e passou um outro lá no meio da
estrada e olhou o pescador lá embaixo no rio: “Como é, tá
dando muito aí, hoje?” E o de baixo respondeu: “Eu não sou
daqui, não, sô. Sou de Jundiaí.”
• E tem a história da passagem para pederasta. O De-
partamento de Trânsito da cidade inaugurou as placas e em
vez de escrever: Passagem para Pedestres, escreveu: Passa-
gem para Pederastas. Chegou um pessoal e reclamou ao De-
partamento de Trânsito, sugerindo que eles pintassem uma
placa nova. E o Departamento respondeu que não precisava
não: “Por causa de uns cinco ou seis só, vamos ter esse tra-
balhão?”
• Os homens da cidade se reuniram e disseram que as-
sim não era possível, que não podia continuar. Fizeram uma
convocação para irem em comissão ao governo do estado e
apresentar seu protesto. Todos juntos, partiram ferozes para
a capital do estado, lotando um Karman Ghia inteiro.
• Argumento histórico muito usado por lá: O Conde
D’Eu
O 1.” Ministro do Canadá
Os súditos do Sudão
A população de Avanhandava
etc.
• Quando passou nos cinemas das duas famosas loca-
lidades o filme “Os Homens Nascem Da Terra”, as ruas ama-
nheceram todas esburacadas.
85
• Placas na estrada, antes de se chegar ao fim do ca-
minho. Primeiro tem Valinhos, terra do figo. Depois Jundiaí,
terra da uva. Na entrada de Valinhos: “Coma figo!” Na entra-
da de Jundiaí: “Coma Uva”. Depois: “Coma nós”.
• “Esse negócio de dá o pé, louro, já era!” Frase de um
papagaio local anotada por um leitor atento.
• Papai Noel vem voando no seu trenó puxado por vea-
dinhos. Antes de chegar em São Paulo, dá uma parada pra
trocar as juntas.
• E o que fizeram com a Kombi da Erontex não foi legal.
Só porque na Kombi estava escrito: “Erontex dá mais!”
• Nestas duas cidades famosas já não se fazem mais
leilões. É que quando o leiloeiro grita: “Quem dá mais? Quem
dá mais?” é o maior fuzuê no auditório.
• Dizem que lá só nascem músicos e bichas. O último
músico que nasceu foi Carlos Gomes.
• O último rapaz que fez mal a uma moça — não sa-
bemos em qual das duas cidades — foi um que fugiu com o
noivo dela.
• A maior produção: chuchu. Dá o ano inteiro.
• Na praça principal botaram uma espécie de relógio
com um ponteiro. Toda vez que passasse uma bicha, o pon-
teiro girava. Era pra fazer uma estatística. O relógio virou
ventilador.
• O que está havendo nessas cidades é um surto epidê-
mico causado por um vírus. O vírus de Costa.
• Ia um, na rua, levando um pacote, esbarrou no outro,
com alguma violência: “Desculpe. Doeu?” Ao que outro res-
pondeu rápido: “Não, não. Dou eu!”
• Um pessoal resolveu dar um pulinho lá, só pra goza-
ção. Mas a turma de lá não conversou, caiu de punho. . . no
chão.
• Se você não ligar, o pessoal esquece. O que deixou o
pessoal meio cabreiro foi o fato do pessoal de uma dessas
duas cidades botar a boca no mundo pra reclamar. Nos vi-
dros traseiros dos automóveis eles botaram uma frase: “Leve
sua mamãe pra visitar Campinas”. Diz que um sujeito de
86
Jundiai levou e a mãe dele voltou escandalizada.
• Diz que o pessoal de Rio Grande e Jundiaí anda todo
mundo com enormes pulseiras de couro, bem apertadas, pra
segurar a munheca. É que tá vindo um vento muito forte de
Pelotas e de Campinas.
***
***
87
— Vai sim, minha senhora. Por favor.
A bela moça tirou e, como a sala estivesse meio escuri-
nha, perguntou pro médico:
— Onde é que eu ponho a roupa, doutor?
E ele respondeu:
— Aqui. Em cima da minha. . .
***
***
88
estava bonitinha. Aí encheu os peitos e gritou:
— Boneca linda!!!
Ah. . . ela não agüentou de emoção. Virou-se, pra obra,
abriu os braços e gritou, morrendo de felicidade:
— Arquiteto!!!
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— Prova este.
O cara pegou o copo e virou sem tossir:
— Legal.
E saiu todo feliz do botequim, o dono de queixo caído.
No dia seguinte, olha o bêbado ali, de volta.
— Me dá uma pinga.
O dono do botequim até que estava distraído, encheu o
copo do freguês de cachaça mesmo. Ele virou o copo, fez cara
feia e falou:
— Quero dessa não. Me dá uma dose daquela que,
quando a gente faz xixi, enche o chão de buraquinho!
***
***
90
Tinha uma multidão no meio da praça — rapaz! como
esta anedota é velha — quando de repente, um sujeito subiu
em cima de um caixote e começou um discurso.
— Meus senhores e minhas senhoras. A eleição se apro-
xima e é chegado o momento em que devo dirigir-lhes a pa-
lavra.
Juntou gente em volta do caixote.
— Quero dizer — continuou o homem — que eu sou Fu-
lano de Tal, candidato de todos vocês a um lugar na Assem-
bléia do povo, onde vou lutar pelos direitos de todos vocês,
onde vou defender os interesses dos que votarem em mim,
onde irei pugnar para que os interesses dos mais humildes
sejam respeitados. Conto com o voto de cada um. Sei que
posso confiar em cada um dos que me ouvem neste momen-
to, porque posso dizer, tranqüilamente, que vocês podem
confiar em mim. Podem confiar em minha honestidade. Po-
dem confiar em minha capacidade de trabalho. Podem con-
fiar no meu ideal.
E ele estava na maior empolgação, quando olhou em
volta e viu que não tinha mais ninguém ouvindo o seu dis-
curso. Aliás, tinha. Tinha um só, em pezinho lá no fundo,
quieto, de olho nele.
Ele ficou pálido de emoção e dirigiu-se ao último ouvin-
te.
— Amigo! É um prazer, uma emoção, uma alegria imen-
sa verificar que ainda há no mundo um homem que sabe
ouvir, que sabe confiar, que sabe esperar. Fico desvanecido
com sua homenagem. Agradeço sua atenção. E sei, agora,
que o seu voto apenas valerá mais do que todos os votos que
eu possa vir a ter, porque você é um homem de bem. Muito
obrigado, amigo. Diga o que você quer, que eu farei neste
momento.
Ao que o ouvinte solitário respondeu:
— Quero é que o senhor desça do meu caixote, que tá
na hora de eu ir embora pra casa.
***
91
O irmão mais velho do Joãozinho se casou. E como o
começo é sempre duro, o irmão do Joãozinho foi morar na
casa dos pais, mesmo, com sua jovem mulherzinha.
Uma noite, Joãozinho acordou — na verdade, Joãozi-
nho não dormia desde que o irmão veio morar com a mulher
no quarto do lado — e resolveu dar uma incerta. Abriu a
porta devagarinho, entrou pelo quarto, meteu-se no meio das
cobertas, muito quietinho e ficou ali, o olhão aberto, prestan-
do atenção. Depois se desinteressou. Levantou-se, saiu do
quarto, fechou a porta e filosofou:
— Como esse mundo é injusto, hem. Cama, comida e
roupa lavada. Eu, tadinho de mim, levo a maior bronca por-
que enfio o meu dedinho no buraco do nariz.
***
92
— Madre Stelinha!!! Você está salva?
— Claro.
— Conta como foi — gritavam todas.
E Madre Stelinha contou:
— Eu saí correndo e o maluco atrás. Aí, ele me encur-
ralou numa rua deserta. Eu fiquei sem saber o que fazer. E
ele avançando...
As madres todas com as mãos na boca, os olhos aber-
tos, atônitas, ohhh...
— E ele foi se aproximando... se aproximando... com as
mãos crispadas e o olhar alucinado, me olhando nos olhos...
terrivelmente. . .
— Ohhhh... -- faziam todas.
— Aí, eu tive uma idéia!
— Sim!
— Sabem o que eu fiz? Levantei a minha saia até o pes-
coço!
— Ohhhh! — fizeram todas.
— E ele? — perguntou a Madre Superiora.
— Ele — disse Madre Stelinha — baixou as calças até
o pé.
— E aí????
— Aí — disse Madre Stelinha sorrindo —, vocês sabem,
uma mulher de saia levantada corre muito mais do que um
homem de calça arriada...
***
93
vermelho, violeta, amarelo, roxo, lilás.
E o moço chegou pra namorar e os dois sentaram lá
fora e o engenheiro botou a mulher controlando cá dentro de
casa, informando pra ele as diversas cores que fossem apa-
recendo na maquininha.
E a velhinha ficou lá:
— Tá verde, marido!
— Verde pode, mulher!
— Tá azul, marido!
— Azul? Bão.. . até azul pode ir...
Mas, logo fez-se um silêncio, e a mulher não falou mais
nada. Ele ficou intrigado e berrou de lá:
— Como é, mulher, cê num fala nada.
— Ah bem, é que eu tou aqui encantada. Vem ver que
beleza de arco-íris!
***
94
Aí, sentou-se em sua cadeira, encolheu os ombros, en-
fiou o dedo no nariz e falou.
— Eu faço outra.
***
***
95
uns biscoitos, umas broas, um bule de café e, muitas vezes,
um cachorro cochilando. Nesta anedota tinha um cachorro.
Cochilando. Só que não era no meio da sala, era debaixo da
cadeira do noivo.
Aquele silêncio, quebrado de vez em quando por um riso
idiota da noiva, um chiado de canto da boca do pai limpando
os farelinhos de biscoito restados nos dentes e o cochilar do
cachorro, debaixo da cadeira.
De repente, a dor de barriga. Do noivo. A dor de barri-
ga apertando e a falta de jeito, a timidez, a impossibilidade
de tomar uma decisão, o pum, enorme, ecoando pela sala:
PUM!
O olhar assustado da noiva, o noivo, rápido, olho no
chão, o cão, foi o cão, a noiva entendendo e tendo a idéia lu-
minosa, salvadora:
— Sai daí, Tupã, sai daí!
E a paz voltando a reinar de novo na sala grande.
Súbito, volta a dor, menos forte. Desta vez porém, com
o problema já solucionado a priori, o noivo nem esperou a
dor: PUM! Outro traque. Enorme.
— Sai daí, Tupã, sai daí!
A noiva, de novo, salvando.
E mais uma ou duas vezes isto aconteceu e toda vez a
noiva dizendo pro cachorrinho, sai daí, Tupã, sai daí, sem
muita convicção.
Lá pelas tantas, o noivo solta outro. Ah, este foi demais.
De arrasar quarteirão. A noiva virou-se para o cachorrinho e
já ia dar a ordem, quando o velho, parando de chiar os den-
tes, interrompeu aos berros:
— Sai daí, Tupã. Sai daí, se não este disgramado caga
em cima d’ocê.
***
96
— Profissão? — perguntou o fazendeiro.
— Vaqueiro — respondeu o moço.
O fazendeiro olhou pro cara assim, manjou a pinta do
bruto, falou:
— Tá empregdo. Olha, vai tirar o leite daquela vaca lá.
O rapaz já ia saindo, quando o fazendeiro o chamou e
explicou:
— É brava, hem. Vai com cuidado. Leva o banquinho. E
deu o banquinho pro moço.
Alguns instantes depois, me volta o cara todo arreben-
tado, com o banco quebrado e o balde na mão.
— Conseguiu tirar o leite? — perguntou o fazendeiro.
— Tirar o leite até que foi fácil — respondeu o rapaz. —
Duro foi fazer a vaca sentar no banquinho.
97
tinta branca pela casa, vira-se pra ele e dá-lhe um cascudo
violento.
O menino sai muito sem graça da cozinha e vai até a
sala onde está seu pai. O negro vê seu filho assim, todo lam-
buzado de tinta, pega o menino pela orelha e dá-lhe umas
palmadas. O menino volta correndo para o fundo do quintal
e de repente, pára, assustado com uma descoberta:
— Puxa... não tem nem dez minutos que eu sou branco,
já estou odiando dois negros.
***
98
— Aposto cem conos como o senhor tem hemorróidas!
— Não tenho. E posso provar.
O apostador perdeu os cem contos. O prefeito não tinha
hemorróidas. Ganhados os cem contos, ele telefonou pro ou-
tro prefeito:
— Alô, companheiro, acabo de desmoralizar seu apos-
tador. Ganhei cem contos dele.
— Não diga! O que foi que você apostou?
— Apostei que não tinha hemorróidas.
— E não tem?
— Não.
— E ele viu que você não tinha.
— Claro que viu?
— E ele examinou bem pra ver?
— Claro. Aposta é aposta.
— Passou a mão no lugar?
— Passou, claro.
— Desgraçado. Me ganhou uma aposta de um milhão!
***
99
— Eu o farei feliz assim mesmo. É o meu fiiho. Eu o
quero do qualquer maneira.
— As duas!
— Oh! Oh! Mas, eu o quero ainda. Meu filho. Meu fi-
lho!
— Calma, meu amigo. Acontece que ele não tem os bra-
ços.
— Meu. . .
— Os dois!
— . . .filho!
— E quanto ao tronco...
— Pare. Mostre-me o meu filho. Eu quero o meu filho.
Eu farei tudo por ele!
— Mas, o tronco. . . ele não tem o tronco.
O pai invade a sala de cirurgia e avança para a mesa
de operação onde espera encontrar seu filho. O médico ainda
tem tempo de avisar:
— Olha, a cabeça, sabe. Faltou a cabeça!
O homem chega à mesa e só vê sobre ela uma orelha
enorme. Ele pega aquela orelha no colo, e aos prantos come-
ça a falar:
— Oh, meu filho! Meu filho! Não fique triste, meu filho.
Papai vai fazer tudo por você. Juro. Papai vai te fazer feliz...
papai vai fazer o possível e o impossível. . .
Foi quando o médico o interrompeu para avisar:
— Ôi. Fala alto, porque ele é surdo!
***
100
— Quinhentos contos.
— Quinhentos contos? — diz o pai, indignado.
— É.
— Ponha-se daqui pra fora, rapaz. Onde já se viu, um
teso como você querer casar com a filha de um milionário.
Fique o senhor sabendo que quinhentos contos não dão pra
pagar nem o papel higiênico que ela usa.
O rapaz saiu da sala, chateadíssimo, humilhadissimo.
Do lado de fora, a moça, ansiosa, esperava por ele. Quando
este passou por ela, voando baixo, ela tentou segurá-lo pelo
braço e perguntou:
— Foi tudo bem, meu amor?
O rapaz deu uma paradinha, olhou a moça de alto a
baixo e disse apenas, antes dê sumir:
— Sua cagona!
***
101
— Vai com Deus, meu anjo. Faz tudo direitinho como
mamãe falou, viu.
E o menino foi.
Dez minutos depois olha o menino de volta, todo sem
graça. A mãe abriu a porta e deu de cara com o menininho
ali, com aquele sorrisinho meio amarelinho nos lábios, ah,
ela nem conversou:
— Capetinha! A gente não pode confiar em você, não é?
Foi agarrando o menino pela orelha e falando todas as coisas
que mãe fala nestas horas e jogou o menino no banheiro.
— Vai ficar preso aí até seu pai chegar pra conversar
com você. Eu já não tenho mais paciência. E fechou a porta
do banheiro.
O menino chorou, berrou, soluçou mas ela deixou ele
lá. Naquele dia o pai chegou tardíssimo. Já encontrou a mu-
lher resmungando:
— O capeta do seu filho só me dá desgosto. Tá preso lá
no banheiro esperando você chegar pra conversar com ele.
E contou tudo o que tinha acontecido. O pai foi lá, abriu
a porta, o menino estava deitadinho no chão do banheiro,
dormindo, dando aqueles soluços profundos que menino dá
quando adormece depois de um choro muito longo. O pai
acordou o filho, sentou-o no colo muito severo e perguntou
com voz grave:
— Que foi que houve, rapaz?
E o menino com a vozinha lá no fundo:
— A festa foi transferida para amanhã.
***
102
e continuou:
— Estive pensando longamente sobre o nosso caso. Por
isso não liguei antes. Deixei para ligar apenas no momento
em que tivesse, realmente, tomado uma decisão. E este mo-
mento chegou, meu bem. Eu sei que é terrível, mas devemos
terminar tudo. Tudo. Nada mais pode existir entre nós, te-
mos que acabar de vez com esta loucura. Estou telefonando
para dizer-lhe adeus. Sei que vai ser duro e cruel, mas de-
vemos compreender que o fim chegou. E para evitar que fra-
quejemos em nossa decisão, acho que devemos tomar uma
medida drástica. Eu vou desligar o telefone agora e contar
tudo para a minha mulher. Você também faz o mesmo: conte
tudo pra sua.
103
do bolsa, tudo pintadinha, no meio da estrada, vindas de
onde ninguém sabe. Escolheu a mais bonitinha e alugou o
quarto do motel. Tomou seu banho, se arrumou e esperou
a mocinha se arrumar. Quando ela entrou no quarto vinda
do banheiro foi que ele notou que era uma menina. Ficou
arrepiado, afinal era um homem de princípios, não entendia
nada de estudos sociais mas sabia que alguma coisa estava
errada.
— Quantos anos você tem, moça?
— Treze — respondeu a coitadinha.
— Treze? ? ? Tá maluca. Veste a roupa e some aqui do
quarto.
— Pô — fez a menininha se arrumando — é o terceiro
cara supersticioso que eu pego hoje.
***
***
104
reciam eram os dois agarradinhos, uma beijação, uma fofoca
que fazia gosto. O rapaz não dava uma folga.
Um dia a moça morreu. Assim, de repente. No enterro
todo mundo pensou que o rapaz fosse morrer, também, de
tanto desespero. E ele chorava e chorava e gritava e clamava,
uma pena. No carro, de volta para casa, seu melhor amigo o
consolou:
— Não fique assim. Você vai ver que isto não é o fim do
mundo. Dentro de seis meses, um ano, aparece outra moça,
você se recupera, casa de novo, começa outra vida.
— Seis meses... um ano... chorava o rapaz. Eu sei. Eu
sei. Mas o que é que eu vou fazer hoje à noite?
***
***
105
***
106
no calcanhar e imbicando pro lado da ponte.
***
***
107
E lá se foi ele pro meio do quartel, mandou formar a
tropa, botou todo mundo de sentido e deu a ordem:
— Atenção. Companhia! Todo soldado que tem mãe viva
dê um passo à frente. Marche!
Todos deram um passo à frente. Mas, antes que eles
acabassem de cumprir a ordem, o sargento já estava gritan-
do:
— Você não, Cento e Vinte e Sete! Você não!
***
***
108
meu filho. Reze e tenha fé que o Senhor te ajuda.
Ai, o chofer falou:
— Mas o senhor acha que se eu tiver fé, mesmo com o
distribuidor molhado deste jeito, o caminhão pega?
— Claro, meu filho, claro — disse o padre. E se afas-
tou.
O chofer então ficou caladinho por uns instantes, cer-
rou os olhos, deu uma viradinha na chave e o caminhão —
brrrrrrr — pegou na hora, e ele se arrancou. O padre levou
aquele susto, olhou o caminhão sumindo na estrada e dis-
se:
— Vai ter fé assim na pqp!
109
O urubu continuou:
— Vai ser a maior curtição. Vai ter muita música, muita
bebida, muita mulher.
Aí, o sapo abriu ainda mais a boca e disse:
— Ooooooooobbbbbbbaaaaaaaüü
— É, mas, quem tem boca grande não vai poder entrar
não.
Aí, o sapo fez um biquinho deste tamanho e falou:
— Coitôdo do jacorê. Sifu!
***
110
— Um momento, senhor diretor. O senhor não enten-
deu bem a colocação dos meus pronomes. Quando eu disse:
seu carro e sua mulher, eu estava me referindo ao carro do
senhor e à mulher do senhor.
***
***
111
E saiu toda lânguida para o quarto, não sem antes dar
um olhar de despedida para o seu hóspede.
Deitada em sua ampla cama de viúva saudosa ela pas-
sou uma noite inquieta, ouvindo o ronco tranqüilo do homem
no sofá da sala.
Na manhã seguinte, de vastas olheiras, ela atirava mi-
lho para as galinhas no quintal, quando apareceu seu hóspe-
de, bem disposto, descansado e grato. Deu bom dia e puxou
assunto:
— Bela criação de galinhas tem a senhora, não?
— Pequena — disse ela. — Não chegam a quinze gali-
nhas.
Ele deu uma olhada pelo quintal e reparou que havia
dois galos no meio das poucas e gordas galinhas da viúva.
Aí, ele disse:
— Por que é que a senhora mantém, para tão poucas
galinhas, dois galos?
— Ah, não tem problema — disse a viúva. Um deles é
rotariano.
***
112
Kubrick, pode sartar, que é aqui mesmo.
***
113
consultório, modestamente, num subúrbio desses aí. Toda
uma vida heróica de médico pela frente, ele abre as portas
de sua clínica e, todo emocionado, fica esperando o primeiro
cliente. E sua primeira missão vem pelo tilintar do telefone,
que o chama para uma emergência: um parto ali pelas vizi-
nhanças.
Ele arruma seus ferros dentro de sua malinha, seus
mercúrios e mertiolates, suas luvas e remédios e corre para
a casa da cliente, o coração batendo com tanta violência que
ele mal pode esconder seu nervosismo, sua imensa emoção.
Chega ao endereço e, antes de tocar a campanhia, faz
o nome-do-padre, se benze e espera, os joelhos bambos. Já
no quarto ele descobre que o parto vai ser complicadíssimo,
o nervosismo aumenta, a mulher grita de dor, ele não sabe
o que faz.
A criança já começou a nascer e ele se lembra da aula e
tenta se lembrar de tudo e vai ter que ser a fórceps. Ele abre
a malinha, voa ferro pra tudo quanto é lado, cai metade em
cima da cabeça da mãe da criança, fratura-lhe o crânio. Ele
percebe que não vai dar pra salvar a mãe. Ou salva a mãe e
perde a criança, ou perde a criança e salva a mãe — não —
salva a criança e perde a mãe — isso — e ele segura o bebê
pela cabeça que já cercou e dá um puxão e é sangue pra tudo
quanto é lado e ele escorrega, suando em bicas.
Aflito, desesperado, sai com a criança nas mãos, de re-
pente cai de costas, vem passando o pai, a criança voa-lhe
das mãos, o pai corre pra não deixar a criança se esborra-
char, tropeça em frente à janela do quarto, cai o pai e cai a
criança pela janela, do sétimo andar do edifício e ele corre
pra mãe, tarde demais, a mulher morreu.
Desesperado, desiludido, desesperançado, ele pega as
suas coisas e abandona a cidade. Algum tempo depois, po-
rém, ele sente que a irresistível vocação o chama à luta e,
timidamente, volta a abrir um consultoriozinho modesto em
uma cidade muito, muito longe de onde ele vivia.
Um dia, o telefone:
— Venha correndo, doutor. É urgente. Um parto!
114
E lá vai ele, decidido. Duas, três horas depois, ei-lo de
volta à sua casa, cansado, extenuado. Sua mulherzinha cor-
re para recebê-lo, aflita:
— Como é, meu amor? Foi tudo bem desta vez?
— Mais ou menos. Deu pra eu salvar o pai.
***
***
115
Natal para pedir ao senhor que dê uma ajudinha lá em casa.
Me mande de presente 10 mil cruzeiros para que eu pague
todas as dívidas do papai, a sua operação e dê uma máquina
de costura para a mamãe. O senhor vai fazer nós todos muito
felizes. Obrigado. Joãozinho”.
O carteiro pegou a carta sobrescrita “Papai Noel” e fi-
cou penalizado com a inocência do menino. Sabendo que não
podia entregá-la a ninguém, abriu a carta. Aí é que ele ficou
mais emocionado ainda. Chegou ao Correio e leu a carta em
voz alta para todos os colegas. Foi uma choradeira na re-
partição. Aí, alguém teve a idéia de fazer uma vaquinha ali,
entre os funcionários, e mandar o dinheiro para o menino.
Todos muito emocionados assinaram a lista com o máximo
que cada um podia dar. Deu cinco mil cruzeiros. Era demais
até, para o salário médio do grupo. Mas, eles ficaram felizes e
recompensados com o esforço e o gesto tão pleno de espírito
natalino. Pegaram o dinheiro, botaram no envelope e manda-
ram para o menino, assinado: Papai Noel.
Alguns dias mais tarde, cai nas mãos do carteiro um
outro envelope sobrescrito pelo Joãozinho, endereçado de
novo ao Papai Noel. Trêmulo de emoção e curiosidade o car-
teiro abre o envelope. E lê:
“Querido Papai Noel, muito obrigado. Recebi o dinheiro
que o senhor me mandou. Infelizmente tenho que informar
ao senhor que aqueles efidapês lá dos correios passaram a
mão na metade da gaita”...
***
116
concha à boca e grita pra ela:
— Ei, surdinha! Entra na fila!
***
117
mesmo hotel.
— Me lembro, querida. Cinqüenta anos, hem! Foi uma
ótima idéia sua esta de vir comemorar nossas bodas de ouro,
fazendo a mesma viagem outra vez.
— Ah, meu anjo, que felicidade, parece que foi outro dia
mesmo. Tudo igual.
— É. Não mudaram nem a decoração do quarto. O mes-
mo tapete, as mesmas cortinas, o mesmo espelho.
— Você se lembra, nós dois deitados aqui nesta mesma
cama. Você foi ao banheiro, eu fiquei te esperando toda emo-
cionada. Você veio, eu fiquei toda nervosa e fui correndo pro
banheiro e fiquei lá, chorando, chorando. Você foi lá, todo
carinhoso, me buscar. Tudo igual. Não mudou nada.
— Mudou sim, bem. Desta vez quem ficou no banheiro
chorando foi eu.
***
118
ço e dizia: “Como vai, Dona Maria?”
***
***
119
de refresco nos canudinhos. O banheiro ficou cheio de fuma-
ça, e o inventor e a dona da casa caídos no chão, assustadís-
simos. Ficaram ali estáticos, sem saber o que fazer, até que a
fumaça foi sumindo, sumindo e tudo ficou claro novamente.
Os dois levaram o maior susto com o que viram, quando a
fumaça sumiu. O vaso estava realmente desentupido, mas
sentado nele, com a cara mais assustada do mundo, estava
um senhor com um jornal na mão.
— Que é que o senhor está fazendo aqui? — perguntou
o inventor.
— Sei lá — respondeu o homem. — Eu estava sentado,
fazendo o meu cocozinho lá no quarto andar, de repente. . .
***
120
— Uma chave inglesa??? Minha Santa Mãe!
— Pára de fazer escândalo — grita mais alto a parteira.
— Eu já fiz mais de mil partos, eu sei o que estou fazendo.
Anda. Manda ver a chave inglesa.
Se fosse história em quadrinhos, a gente ia ver os balões
atravessando a porta do quarto e os barulhos típicos sendo
feitos: CLANG, BLINK, TRREEEC, B1MP, BOMP e o pobre do
marido tremendo do lado de fora. E se passa mais um século
e a porta se abre e sai Dona Romana lá de dentro do quarto,
suando em bicas, a maleta na mão, berrando pro marido:
— Chama outra parteíra. Não consigo abrir minha ma-
leta.
***
121
casa daquela senhora que nos hospedou, uma vez que nós
nos perdemos na estrada?
— Ah, Artur, eu não te contei, não? Foi ótimo, rapaz.
Eu vi que ela tinha um jeitinho assim saudoso, sabe como
é? Muito solitária, tava rindo muito pra mim e coisa e tal, eu
não conversei. Fui lá!
— Não brinca? Você teve coragem?
— Ora, rapaz. Ela adorou. Foi divertidíssimo. A gente
era jovem, só pensava em farra. Valeu a pena.
— Sei, seu cretino!
— Cretino, eu? Só por isso?
— Não, seu canalha. Você não contou tudo. .. Fala a
verdade. Você foi lá e disse pra ela que se chamava Artur,
não é? Deu o meu nome todo pra ela, não é?
— Ah, isso foi. Mas você não vai se zangar, não é? Se
você acha que foi safadeza, me desculpe.
— Nada que desculpar, Felipe.
— Você é um cara legal, Artur.
— Legal é você, Felipe. Ela morreu na semana passada
e deixou toda a fortuna em meu nome!
***
***
122
em cima da barriga?
— Eu, não. Tá maluco?
— Me diga: tu gosta de mulher que tem mau hálito?
— Eu não.
— Tu gosta de mulher que acorda com a cara toda in-
chada, os olhos pregado, o beiço caído, parecendo peixe mor-
to?
— Eu, não. Que idéia?
— Então, pô, por que é que tu anda cantando a minha
mulher?
***
***
O velho médico já havia há muitos anos abandonado a
profissão.
Descansava agora, tranqüilamente, numa chácara sos-
123
segada, longe de tudo.
Uma noite, batem-lhe violentamente à porta.
Ele, arrastando os pés, vai ver quem é.
É um vizinho seu, dono da casa de campo ao lado, pas-
sando o fim de semana com a família:
— Doutor, uma emergência. Minha mulher vai dar à
luz!
— Chiiiii, meu filho. Danou-se. Há séculos que eu não
mexo com isso.
— Doutor, só tem o senhor aqui por perto. Eu não en-
tendo nada de nada. Corre lá. Pelo menos ajuda.
O velhinho demorou bem umas duas horas até atraves-
sar de um lado para outro da estrada, abrir o portão, cami-
nhar todo o jardim e chegar ao quarto da parturiente. Mas
chegou. Fechou-se lá com ela e até que cuidou de tudo direi-
tinho, o parto foi perfeito, ele deitou o nenenzinho ao lado da
mãe e foi abrir a porta pra avisar pro marido:
— Pois é, meu filho, nasceu, não é?!
— É menino ou menina, doutor?
— Olha aqui, meu filho, se não me falha a memória. . .
é menina!
***
***
124
Estava um cara passeando pelo interior aí, quando viu
um outro ajeitando uma cerca em volta de sua casa, que ti-
nha uns quatro metros de altura. Ele ficou intrigado e foi lá:
— Quer me explicar por que é que o senhor fez uma
cerca tão alta em volta da sua casa?
O outro deu aquele sorrisão fundo, lá no canto da gar-
ganta, arregalou os olhos e respondeu, meio babão:
— Pra evitar a invasão das girafas.
— Girafas? Mas, meu amigo, eu nunca vi uma girafa
por aqui.
— Claro. Com uma cerca desta altura, elas são bes-
tas?...
***
***
125
dois segundos, destrói o que tem na frente.
Quer ver?
E arrumou umas telhas no meio da sala, abriu a gaioli-
nha do cãozinho e falou:
— Caratê telha!!!
CCCAAAATTTTTTRRRRAAAAACCCCCAAAASSSSSS-
SH!
Em menos de um segundo as telhas estavam todas des-
truídas com a fúria do cãozinho. O dono da casa colocou
uma pilha de tijolos e berrou:
— Caratê tijolo!!!
PLAFTACSSSH! Voou tijolo pra tudo que foi lado. A mu-
lher ficou encantada.
— Se entrar um ladrão é só a senhora gritar “caratê la-
drão” que vai voar ladrão pra tudo que é lado.
A mulher comprou o cãozinho e levou pra casa.
126
De noite o marido — que tinha encomendado à mulher
que comprasse um cão de guarda — chegou em casa e deu
com aquele cachorrinho ali na sala, mansinho, quietinho.
— Mulher, que merda é esta aqui na sala?
— É o nosso cão de guarda.
— Mulher! Você não faz nada direito, hem, sua incom-
petente! Isto lá é cão de guarda? Uma merdinha dessas! Joga
esta porcaria fora!
— Mas, meu bem. Ele sabe lutar!
— O quê? Você pensa que eu sou besta, mulher? Dizer
que uma porcariazinha dessas sabe lutar.
— Palavra de honra, meu bem. Ele luta caratê.
— Ora mulher, caratê é o caaaaaAAAAAAAAIlllllllEE-
EE!!!
***
127
nho agitado foi dormir com o lacinho amarrado. E não é que
dormiu tranqüilíssimo, não aborreceu ninguém, verdadeiro
milagre.
Eis, porém que — tchan, tchan, tchan — uma noite
dessas me chega o marido, pai do menininho em questão,
tarde da noite em casa, num porre de juntar gente. Entra
pelo quarto fazendo o maior barulho, deita na cama e começa
a resmungar feito um louco, a fazer uma barulheira infernal,
a tumultuar a vida de todo mundo, acordando a família toda,
transformando a noite de todos num inferno. A mulher não
sabe o que fazer para acalmar o marido. Dá-lhe engove, café
forte, chá, arnica e nada. O cara estava na maior agitação.
Foi aí que ela se lembrou da simpatia. Foi lá, pegou o lacinho
do garoto e amarrou no do marido. Santo remédio. O marido
caiu no maior sono, logo em seguida.
Na manhã seguinte ele acorda na maior ressaca, a ca-
beça rodando, cabo de guarda-chuva na boca, aquela lásti-
ma. Vai ao banheiro pra molhar a fachada e eis que dá com
o lacinho de fita. Tenta se lembrar de como foi que aquilo
foi aparecer ali, revolve a memória, se esforça, não consegue
lembrar-se de nada, desiste.
E vai pra mesa, tomar café com a mulher. E ela:
— Onde é que você esteve ontem à noite, seu farrista?
— Por aí, mulher, por aí. Bebendo com uns amigos.
— Na maior farra, não é? Que é que vocês andaram
fazendo?
— Não me lembro, mulher. Brincadeira da turma. Eu
acho que deve ter havido algum concurso, qualquer coisa
assim.
— E você não se lembra de nada?
— Nada. Mas, eu tenho a impressão de que tirei o pri-
meiro lugar!
***
128
do maravilhoso, fizeram milhões de cursos, ouviram muitos
conselhos dos mais velhos, da mamãe, do confessor. Estavam
realmente preparados para a felicidade de uma vida conjugai
exemplar.
Uma noite, o carinhoso marido virou-se para a dedica-
da esposa e depois de fazer uma porção de carinhos muito
ternos nela, falou baixinho ao seu ouvido:
— Vem minha luluzinha, vem. Hoje, nós vamos ser que
nem dois cachorrinhos muito carinhosos...
E ela: — Minha mãe me disse que eu fizesse todas as
coisas que meu marido e senhor mandasse. Você quer assim,
vai ser assim. Mas por favor, escolhe uma rua onde ninguém
me conheça.
***
129
— Tá explicado. . .
— A razão do menino ser ruivo?
— Claro. Ferrugem!
***
***
***
130
Uma caridosa e recatada senhora vinha passando por
uma esquina erma e deserta quando, zapt, pulou na frente
dela um baita dum crioulo e deu a maior juntada na velha.
Corta. A senhora deitada no mato, aos prantos, falando
pro crioulo:
— Vou contar para o delegado que o senhor abusou de
mim cinco vezes.
— Cinco vezes? — protestou o crioulo. Só uma! E ela:
— Bom, o senhor não está com pressa, não é?
***
***
131
corrê-la?
E ele:
— Pensei que tivesse pagando alguma promessa!
132
das.
O rapaz ficou danado da vida com a safanagem e foi dar
queixas ao delegado.
O delegado não conversou: mandou chamar o Fritz:
— Fritz, vamos lá. Me conta o que é que vocês andam
fazendo lá naquele galpão.
— Ô, zenhorr delegado, zeguinte: nós vazer um festa lá
muito alêgrrre. Nós levarr muitas mulheres e nós fecharrrrr o
porrrta do galpón. Nós apagarrrr o luz e nós tirrrarr o roupas
e nós começar num galinhagem muito engrrrraçadasss e nós
pegarrr os mulheres no escurrrrro e nós beberrrr muito vi-
nho, e nós abraçarrr os mulheres e nós rolarrr nos chão com
os mulheres e o mulata serrrr marrravilhosa e todos nósss
brrrigar no vscurrrro por causa do mulata, masss nóss difer-
tir muito com todos mulheres e mulata gostarrr muito. ..
O Fritz ia contando e o delegado esfregando a mão. De
repente, o delegado interrompe o Fritz e fala:
— Pera aí, Fritz. Pera aí. Vamos combinar o seguinte.
Eu quero ver uma festa dessas de perto.
— O senhorrrr fai gostarrrr muita.
— Não sei. Quero ver!
— Vai sim, falou o Fritz. Seu mulher adorrra!
***
133
Um dia o criado, depois de longo tempo de rotina, abriu
a porta com a cara meio estranha e repetiu para seu patrão:
— São sete horas da manhã, o sol brilha, os pássaros
cantam e seu café está servido!
E lá veio a resposta:
— Os anjos já me haviam dito!
Ele deu um pulo pro meio do quarto e berrou:
— Ah, é? !... Sifu! São onze horas da manhã, chove paca,
morreu tudo quanto foi passarinho e hoje não tem café; tem
é chocolate!
***
***
134
O Zé acorda assustadíssimo e sente também um corpo
ao seu lado, no escuro:
— Santa Mãe, desgraçado. Pois não é que tem um se
encostando em mim, aqui na minha cama.
— Vou dar uma porrada nele! — berrou o outro — Não
gosto de homem.
— Dá-lhe, gritou o Zé. Quebra a cara do teu que eu que-
bro a cara do meu.
E os dois se agarraram num pau firme e foi pescoção
pra todo lado, de repente, um deles grita, a voz sumida:
— Zé!!!
— Fala:
— O desgraçado que estava ao meu lado é um touro. Me
deu um cacete firme e me jogou da cama abaixo!
— Liga, não. Vem deitar na minha cama, que eu já der-
rubei o meu!
***
135
menino inquieto, pequenininho, agitado, os olhos pregados
no pai:
— Senta aí, meu filho, papai vai te explicar de onde foi
que você veio. Você sabe muito bem que você é filho do papai
e da mamãe e papai e mamãe se casaram justo pra que você
viesse. Papai é como uma abelha e mamãe é como uma flor,
entendeu, meu filho? Papai voou pela vida e pousou como
uma abelha sobre a flor que é mamãe. E deixou no coração
da mamãe um pouquinho dele mesmo, com muito amor e ca-
rinho. E este pouquinho do papai juntou a outro pouquinho
da mamãe que já esperava lá dentro dela, pra que estas duas
sementinhas fossem se desenvolvendo e se transformando
num menino muito bonito e inteligente. Mamãe esperou lon-
gos nove meses e um dia, como uma flor, ela se abriu e você
veio lá de dentro, bem lá do fundo, de dentro da barriguinha
da mamãe, de bem pertinho do coração dela. Foi de lá que
você veio, meu filho.
O menino olhou com uns olhos imensos pro pai, esfre-
gou o narizinho e disse:
— Complicado, hem, pai? Lá na escola, meus colegas
vieram de São Paulo, outros de Minas, outros de Teresópo-
lis...
***
136
dentro do capo, coçou a nuca, olhou pro carro de trás que
continuava buzinando e calmamente veio andando em sua
direção. Chegou até o carro, botou a cabeça pra dentro e fa-
lou pro chofer:
— Meu velho, quer fazer um negócio comigo? Vai lá pra
frente ver se descobre o defeito do meu carro que eu fico aqui,
buzinando no seu.
***
***
137
***
***
138
gude.
— Hnnnnnnnn... não.
— Então o que é?
E a menininha mostrando a mão fechada:
— Paralisia infantil!
139
— Tu num sabe de nada, ô ignorante.
— É, mas eu sei quem é o Geraldão da Vila Diva e tu
num conhece.
— Geraldão da Vila Diva? Quem é esse cara?
— É o que come tua muié, enquanto tu tá lá no Mo-
brá.
***
***
***
140
Aí o diabo disse:
— Muito bem. Soltaste o traque. E agora? O que queres
que eu faça?
E o brasileiro:
— Pinta ele de verde!
***
***
141
— Escuta aqui, ô cara, você quer sobreviver pra quê?
***
***
***
142
notou uma mulher feíssima do outro lado da arquibancada.
Aí. falou para o outro:
— Rapaz, olha lá que diabo de mulher feia. Nem que ela
me pedisse pelo amor de Deus, eu não queria nada com ela.
— Qual? Perguntou o outro.
— Aquela de cabelão preto lá, de vestido roxo.
— Aquela é minha irmã mais velha.
— Não, não, explicou o que falou primeiro, meio sem
graça. Eu me refiro àquela que está logo atrás dela.
— Minha tia.
— Atrás, mais um pouco do lado esquerdo. Aquela, con-
sertou o rapaz, já aflito.
— Aquela à esquerda?
— É.
— Minha mãe.
— A esquerda, não. Eu disse à direita.
— Se é a da direita é minha outra irmã.
Desesperado o que falou primeiro virou-se pro outro e
disse:
— Quer saber de uma coisa? Vai ter família feia assim
no inferno.
***
***
143
ra, Sara vai lá. Sobe a ladeira. Agora vamos descer a ladeira,
Sara, capricha. E a Sara embica o carro, ladeira abaixo. No
meio da ladeira, cadê freio?
— Isac, o carro perdeu o freio. Que é que Sara faz?
— Sangue frio. Sara. Sangue frio.
— Sangue frio, como, Isac, essa ladeira ser enorme?
Carro vai esborrachar lá embaixo.
— Capricha, Sara, capricha.
— Caprichar como?
— Vê se Sara bate de jeito pra salvar rádio, cassete, aro,
calha das portas, tranca da chave, volante de Porsche...
***
144
— Dá pra eu ficar deitado aqui do seu lado?
***
***
***
145
O tímido, simpático e gentil rapaz entrou no clube para
participar de um baile de formatura. Os casais dançavam
alegres no meio do salão e ele ali, no seu canto, quieto, olhan-
do, sem ter coragem de se aproximar de uma moça, sem se
aventurar a buscar uma companhia feminina. De repente ele
percebe numa mesa próxima que dois olhos o observam. Ele
se vira para conferir e dá de cara com o rosto mais bonito que
ele jamais vira em sua vida, os olhos mais límpidos, o sorriso
mais doce, os dentes mais claros, a pele mais suave. Ele che-
ga a ficar corado de emoção, sua face se enrubesce, seu co-
ração dispara. Ele olha em sua volta para ver se é realmente
para ele que a moça está olhando, ele não pode acreditar. Ao
seu lado, apenas um senhor austero, que também o obser-
va. Ele constata que a moça está mesmo é olhando para ele.
Sem saber o que fazer, vira-se para o cavalheiro ao seu lado
e exclama quase sem voz:
— Que moça bonita, hem!
— Minha filha — fala o homem.
Ele só falta desmaiar de tão perdido, não sabe o que
fazer.
— Eu também acho que ela é muito bonita — continua
falando o cavalheiro ao lado. — Gostaria de ser apresentado
a ela?
— Bem... é... gostaria muito, não é? Claro. Claro, que
gostaria. Será que eu posso tirá-la para dançar?
— Infelizmente não, meu caro.
— Ah, sim. . . ela é comprometida?
— Não. Não é bem isso. Eu sou obrigado a confessar
a você, que me parece um bom rapaz. Ela não tem as duas
pernas.
— Oh, não! — fez o rapaz, chocadíssimo.
Mas, ele estava tão impressionado com a beleza da moça
que tomou coragem:
— Mas eu gostaria muito de ser apresentado a ela.
O pai muito feliz apresentou os dois, ele se sentou a
seu lado na mesa e durante toda a noite conversaram muito,
riram muito, ele se descontraiu, descobriu coisas fascinantes
146
em sua personalidade, estava na maior felicidade ao lado da
mulher mais bonita que ele já vira até então. Lá pelas tantas
o pai veio à mesa:
— Vamos embora, minha filha?!
— Ah, papai. Agora não. A festa está tão boa.
— Mas, eu tenho que ir.
O rapaz já era um corajoso:
— Por favor. Pode deixar. Eu a levo em casa.
— Trate-a com carinho — falou o pai. E deixou os dois
a sós.
A festa terminou, ele muito delicadamente tomou-a nos
braços e levou-a até o carro. O lindo rosto da moça colado ao
seu, sua respiração ao pé do ouvido, seus olhos luminosos
bem em frente aos seus, ele não resistiu e, antes de colocá-la
no banco ao seu lado, no carro, beijou-a com a maior paixão.
E entre beijos ardorosos e abraços e carinhos ele a conduziu
até a porta de sua casa.
Era uma belíssima mansão, no fundo de um enorme
jardim, cheio de flores e de árvores.
Antes de tomá-la nos braços para caminhar com ela,
por uma longa alameda até a porta da mansão, eles ainda se
beijaram muito, se apertaram muito, se carinharam muito,
numa paixão alucinante. Ele já não agüentava mais de tanta
excitação, abriu a porta do carro, tirou a mulher de lá, to-
mou-a nos braços e caminhou para a porta. Ela, debruçada
em seu ombro, beijava-o, sofregamente. No meio da alameda
que conduzia à porta principal da casa, havia um cajuei-
ro com seus galhos estendidos sobre o caminho. Ao chegar
ali, a moça fez com que ele parasse e, com os dois braços,
segurou-se no galho da árvore, como num trapézio. Ele não
resistiu e, louco de amor, ali mesmo, possuiu a mulher mais
linda que ele já vira. E foram momentos da maior alucinação,
da maior loucura, um momento de amor jamais vivido. E ter-
minado tudo, ele a tomou outra vez nos braços, lânguida e
lassa e levou-a até a porta. Tocou a campainha e veio atender
uma velha senhora:
— Sou a avó da menina. Por favor, meu filho, pode levá-
147
la até seu quarto. Ele a conduziu até o quarto, colocou-a
sobre o leito e saiu. Na volta, quis passar pela velha senhora
sem ser percebido, mas ela o interceptou:
— Meu rapaz, por favor, não vá sem um chá ou sem um
café. Faço questão que o senhor tome um chá conosco.
— Por favor, minha senhora, eu agradeço.
— Não. Eu faço questão. Nunca vi um rapaz mais gen-
til, mais cavalheiro, mais digno e decente do que o senhor!
Ah... aquilo dilacerou o bondoso coração do rapaz. Ele
não resistiu ouvir aqueles elogios e bradou desesperado para
a velha avó:
— Não! Não! Não diga isto. Eu não mereço a sua con-
fiança. Eu sou um canalha. Eu sou um torpe. Eu sou um
monstro. Eu possuí a sua neta, no galho do cajueiro.
— Eu sei, meu filho. Eu sei — falou a avó. Acontece que
os outros deixam ela pendurada lá!
***
***
148
O homem do bar trouxe a cerveja. E o freguês sem os
dois braços falou:
— Será que o senhor podia segurar o copo pra mim?
— Pois não — disse o homem, segurando o copo delica-
damente pro freguês sem os dois braços beber a cerveja.
149
bolso do freguês sem os dois braços e tirando o dinheiro.
— Será que o senhor podia botar o troco no meu bol-
so?
— Pois não.
— E o senhor podia me dizer onde é que fica o mictó-
rio?
— Nós não temos, nós não temos — disse depressa o
homem do bar.
***
***
150
vítima, doutor. Uma vítima.
— Vítima de quê?
— De traição, doutor. Minha mulher me traiu.
— Tá certo. Vamos registrar a queixa. Seu nome:
— Cornélio Cornucópia.
— Hmmm. . . sei. Onde o senhor nasceu?
— Cornópolis.
— Sei, sei. Data do nascimento?
— 10 de janeiro de 1930.
— Interessante, o senhor é capricórnio. Interessante. E
me diga, por favor, a sua profissão.
— Corneteiro, doutor.
— Pera lá, meu filho — disse o delegado — O senhor
não é uma vítima. O senhor é um predestinado!
***
151
E ele, levantando professoralmente o indicador:
— Por dentro, minha senhora. Por dentro.
***
***
***
***
152
Vocês já ouviram falar no Mineirinho, o mais ligeiro
gatilho do Oeste, do Leste e do Sul? O que não perdoa? O
famoso pequenino enganador? O Mineirinho já levava tan-
to prestígio lá pelas terras dele que uma vez abordou uma
jovem que estava louquinha por ele e perguntou, com aquela
loquacidade que lhe é peculiar?
— Cumé?
— Tá certo. Mas, vai ser onde? Na sua casa ou lá atrás
da Prefeitura?
— Começou a discutir, num quero mais!
***
Ia andando pela rua uma mulher tão boa, mas tão boa
que não havia homem que não parasse, não virasse, não ba-
basse, não saísse atrás. Mas a mulher era boa mesmo, gente.
Era uma coisa enlouquecedora. E sabia que era boa, man-
jam? E estava botando todo mundo louco. E ia pela rua. Ti-
nha até homem que desmaiava. E nisso a mulher passa por
um pobre e inocente padre que tenta tirar a vista daquela
montanha de pecado e não resiste e abre a butuca e olha pra
mulher com um olhão deste tamanho e fica meio verde, meio
cego, meio surdo, tão surdo que nem ouve um cara do lado
falar:
— Ah, seu padre, se essa batina fosse de bronze, que
badalada, hem!
***
153
— É mesmo?
— É sim. Diz que eles cobram duzentas pratas das mu-
lheres, cada vez que atendem a um pssiu.
— É. . . bom negócio!
— Ah... se eu pudesse — concluiu o marido — me man-
dava pro Japão!
Fez-se um pequeno silêncio, a mulher tirou um pouco
os olhos da televisão, voltou-se pro marido e perguntou:
— Mas, você, acha, bem, que ia dar pra você viver no
Japão com duzentos cruzeiros por mês?
***
***
154
tendo nascido aqui, num lugar tão humilde, elas vivem nas
colunas sociais?
— Elas podem. Elas podem — repetia a velhinha.
— E por que é que elas vivem cheias de jóias, vestindo
fantasias caríssimas?
— Elas podem.
O rapaz viu que não ia conseguir muito com a velhinha;
desistiu.
Deu uma voltinha no calcanhar e berrou:
— Tchau, vovó! Até logo.
E a velhinha:
— Até logo, meu pilho!
***
155
ouvido:
— O senhor tem ovos de ferro?
Ao que o corcunda respondeu:
— Tenho não. Eu sou corcunda assim mesmo.
***
***
Caçada na África. Muito moderna. Todo mundo equi-
pado, com espingardinha, isopor com gelo, equipe médica,
uísque, luneta, som estereofônico e tudo. E resolveram se
separar em grupos de dois para maior eficiência da caçada,
tudo controlado por uma central geral, com equipes de salva-
mento, o escambau. Quer dizer, safari dos mais modernos.
De repente, dois deles param perto de um poço pra be-
ber água e fazer uma ou outra necessidade. Estavam muito
longe da central, mas podiam falar com ela pelo rádio, quer
dizer, estavam seguros.
Acontece que um deles resolve regar um matinho ali ao
lado, eis que pula uma cobra do matinho e dá uma mordida
nele, adivinhem onde?
Pois foi. Lá. A cobra era venenosíssima, mal acabara de
picar — nós dissemos picar? pois dissemos bem — o coitado
e ele já começou a ficar roxo:
— Pelo amor de Deus, faça alguma coisa.
— Não dá tempo de te levar pro acampamento.
— Pede instruções pelo rádio, ai, ai, ai...
— Vou fazer isto. Calma.
— Tou morrendo.
156
— Calma. Você não vai morrer. Alô! É da central? Cha-
ma o médico. Emergência. Alô. É o senhor, doutor? Acon-
teceu um negócio grave. Meu companheiro foi mordido por
uma cobra. Que é que eu posso fazer? Como?
E o médico explicou direitinho:
— Não tem problema. Faça um tratamento de emergên-
cia que ele agüenta chegar até aqui.
— Que é que eu faço?
-— Faz o seguinte: dá um pequeno corte no lugar onde
a cobra mordeu e depois bota a sua boca no lugar e chupa o
veneno.
— Falou, doutor.
Desligou o rádio e voltou-se para o outro que se contor-
cia em agonia.
E o outro perguntou:
— O que foi que o médico disse? E ele respondeu:
— Que você vai morrer!
***
***
157
lá medo de homem?
— O senhor pode não ter, moço, mas o Mineirinho é
fogo. Pior do que aquele cachorrinho caçador de orangotan-
go. O Mineirinho não perdoa ninguém. O homem é fogo!
O viajante engrossou sua já potente voz e disse:
— Deixa comigo. Me dá a chave.
E subiu para o quarto. Chegando na porta, foi enfiar a
chave na fechadura, mas deu uma paradinha, pensou um
pouco e decidiu: “Acho melhor ir dando logo a este Mineiri-
nho uma amostra do homem que vai dormir no quarto dele”.
E mal acabou de formular o pensamento foi metendo o pé
na porta que voou inteira lá pra dentro do quarto. Cá de fora
mesmo, jogou as malas lá pra dentro e entrou pisando com
tal força que deve ter acordado o hotelzinho inteiro. Deu um
pontapé na cama, arrancou as duas portas do armário, deu
dois pigarros de amendrontar leão, duas escarradas na pia,
um murro na vidraça pra entrar ar e nem olhou pra cama
lá do canto do quarto, onde um sujeito miudinho, com uma
cuecona enorme, um bigodinho mínimo, limpava as unhas
com a ponta do canivete, quietinho, sem dizer uma palavra,
só olhando o viajante arrasador.
Este continuava sua exibição de macheza. Quebrou
uns três cabides, deu mais duas cuspidas, tirou um charu-
tão, acendeu com o bafo, botou a botina em cima da cama do
Mineirinho e perguntou vigoroso e tonitroante:
— Que qui há?
O Mineirinho deu um sorriso, olhou o viajante assim
com o rabo do olho e disse com aquela vozinha indecente:
— Nada, moço, nada. Tou só esperando o senhor aca-
bar este frege aí, pra nós, ó, ó. . . E fez o gesto famoso.
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