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CASCAVEL – PR
2007
ISIS RIBEIRO
CASCAVEL - PARANÁ
2007
ATITUDES LINGÜÍSTICAS E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS:
UM ESTUDO DE CASO EM FOZ DO IGUAÇU
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Letras e
aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, nível
de mestrado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, em 20 de novembro
de 2007.
ii
A todos os professores e estudantes de línguas
estrangeiras: os que passaram por mim, os que passam, os que
passarão. Verdadeiros desbravadores de códigos, criadores e
intérpretes do universo das palavras.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, ao meu querido professor orientador, Prof. Dr. Ciro Damke, que
me acompanhou diretamente na execução deste trabalho, pela oportunidade concedida, pela
confiança, pelo gentil cuidado e, principalmente, por me fazer tomar atitudes.
Meu agradecimento também às estimadas Profa. Dra. Aparecida de Jesus Ferreira e Profa.
Dra. Maria Ceres Pereira, pela disponibilidade em ajudar e incentivo constante à pesquisa.
À minha amada mãe, grandiosa amiga, consciência incrível, por me instigar o espírito
desbravador e pela confiança na educação que me foi dada: mulher de atitude!
E ao meu pai, eterno sabiá, por se fazer presente e dedicado em horas para mim tão difíceis.
À tão especial Jane Glauce, amiga de tantas vidas, pelo apoio e carinho nos momentos em que
mais precisei. Pessoa que não somente passa, mas que se eterniza nas lembranças.
Às companheiras Ana Maria Tarini e Sílvia Letícia, pelo suporte tão necessário e por me
fazerem sentir insider, quando me sentia outsider. E à D. Gilda, pelo acolhimento e tantas
gentilezas.
À Eliane Wosjlaw, por estar sempre atenta a esta minha caminhada evolutiva, esclarecendo-
me e se mostrando sempre pronta para o que der e vier.
À cara colega de trabalho e amiga, Letícia Miller, pelas sugestões, pelos livros e proveitosos
momentos de bate-papo que muito me auxiliaram na redação desta dissertação.
À querida Mirna Fernanda, amiga especial, inusitada, tão presente e solícita em momentos de
mudança. Muito obrigada.
A Uniamérica, pelo espaço concedido, e aos queridos e inesquecíveis alunos que tão
gentilmente se disponibilizaram a participar desta pesquisa, compartilhando de suas
experiências lingüísticas e pessoais tão relevantes para este trabalho, meu sincero
agradecimento.
iv
(...)
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I...
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Robert Frost
v
RESUMO
Este trabalho apresenta uma pesquisa realizada com o objetivo de identificar as atitudes
lingüísticas de dezoito estudantes de um curso de Secretariado Executivo Trilíngue
localizado em Foz do Iguaçu, região que se caracteriza pela diversidade lingüística e cultural,
por ser fronteira de dois países de língua espanhola, além de destacar-se pelo potencial
turístico e pelo presença notável de diversas comunidades lingüísticas (desde grupos
imigrantes de outros países à presença de comunidades indígenas). A pesquisa teve como
propósito mensurar as atitudes destes sujeitos com relação à aprendizagem de línguas em
geral, às línguas inglesa e espanhola (ambas línguas estrangeiras oferecidas pelo curso) e a
língua portuguesa (língua materna da maioria dos sujeitos). Utilizamos como referencial
teórico para abordar as atitudes lingüísticas autores como Lambert & Lambert (1972),
pioneiros em pesquisas sobre atitudes na Psicologia Social, Fishman (1974), Fasold (1984),
Hohental (1998), Calvet (2002), dentre outros pesquisadores da sociolingüística e áreas afins,
que nos serviram de base para discorrer sobre questões que surgiram no decorrer da pesquisa,
como preconceito lingüístico (Bagno, 2005; Scherre, 2005), motivação para aprender uma
língua (Spolsky, 1989; Ellis, 1994), o domínio da língua inglesa no contexto internacional
(Phillipson, 1994; Rajagopalan, 2004), atitudes lingüísticas e identidade (Hall, 2005), dentre
outros. Esta pesquisa se caracterizou como um estudo de caso em que buscamos também
utilizar uma técnica de avaliação direta, a escala de Likert, em conjunto com a observação
participante. A partir dos dados coletados pudemos averiguar que os sujeitos apresentam
atitudes lingüísticas positivas com relação à aprendizagem das línguas inglesa, atitudes das
mais controversas com relação à língua espanhola, atitudes positivas com relação à norma-
padrão da língua portuguesa e pudemos, também, observar dois exemplos opostos de atitudes
lingüísticas frente à língua alemã. Esta pesquisa se insere no campo de investigação da
sociolingüística, sendo também pertinente para os estudos em lingüística aplicada ao ensino
de línguas, uma vez que consideramos pertinente que estas questões sejam levadas em
consideração nos processos de ensino-aprendizagem de línguas.
vi
ABSTRACT
RIBEIRO, Isis. Language attitudes and language learning: a case study in Iguassu-PR.
2007. 125 p. Dissertação (Mestrado em Letras) - Programa de Pós-Graduação em Letras,
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Cascavel, 2007.
This dissertation presents a research done with the aim of identifying the language attitudes of
eighteen students of a Secretarial graduation course located in Iguassu-PR, region which is
caracterized by a linguistic and cultural diverstity, once it is situated in the frontier of two
Spanish speaking countries, besides its turistical potential and the presense of various
language comunities (from foreign imigrants to the presence of indigenous communities). The
purpose of this research was to measure the language attitudes of such students towards
language learning, English and Spanish (both foreign languages offered by the course) and
Portuguese (mother tongue of most of the students). As for the theoretical foundations, in
order to discuss language attitudes we use Lambert & Lambert (1972), pioneers in the studies
of attitudes in Social Phychology, Fishman (1974), Fasold (1984), Hohental (1998), Calvet
(2002), among other reserachers from Sociolinguistics and closed areas, those who were the
basis for the discussion of other concerns which came up thoroughout the research: language
prejudice (Bagno, 2005; Scherre, 2005), motivation to learn a language (Spolsky, 1989; Ellis,
1994), the domination of English language in an international context (Phillipson, 1994;
Rajagopalan, 2004), language attitudes and identity (Hall, 2005), and so on. This research is
classified as a case study in which we also made use of a technique of direct evaluation of
attitudes, the Likert-scale, amongst the participant observation. From the data collected we
were able to identify that the subjects have positive attitudes in relation to English language
learning, controversial attitudes towards Spanish, positive attitudes towards standard
Portuguese and we could observe two different examples of language attitudes towards
German as well. This research is whithin the field of Sociolinguistics, being also relevant to
studies of Applied Linguistics to language learning, once we consider this theme of such
importance for the process of language teaching and learning.
vii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 01
viii
3.3.4. Espanhol: qual a importância desta língua? .......................................... 88
3.4. É PRECISO FALAR O PORTUGUÊS CORRETAMENTE ........................... 93
3.5. ALEMÃO: DOIS OLHARES, DUAS ATITUDES........................................ 99
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 109
ix
1
INTRODUÇÃO
Por que as línguas provocam em nós sentimentos dos mais variados? Por que criamos
estereótipos com relação aos falantes de determinadas línguas? Por que relutamos em
status de se aprender esta ou aquela? Tais questionamentos orientaram o interesse por esta
Iguaçu.
Nossa hipótese inicial era a de que a opção por um curso de graduação, o qual
direciona a carreira e futura profissão dos indivíduos, era orientada pelo grau de afinidade dos
indivíduos com relação às disciplinas oferecidas. As línguas representam o mote deste curso
(1152 horas totais para o ensino das referidas línguas) e, portanto, partimos do pressuposto de
que a escolha por cursar esta graduação, e não outra, residia no interesse em compreender e
Apesar de tantas horas de exposição ao ensino dos idiomas, observou-se que muitos
dos alunos possuiam pouca desenvoltura com as línguas estrangeiras, além da dificuldade de
sentimentos desde a fascinação à rejeição à língua inglesa, indiferença entre aprender ou não a
muito feio, O português bem falado é como uma canção, Não precisamos aprender tão bem o
2
espanhol aqui porque eles nos entendem foram exemplos de atitudes lingüística ouvidas ao
longo de um período de dois anos lecionando nesta instituição de ensino superior e que
principalmente pelo fato de Foz do Iguaçu, cidade que abriga o curso, apresentar
características lingüísticas muito peculiares: fronteira com dois países de língua espanhola;
europeus, dentre outros; maior pólo turístico internacional da região oeste do Paraná onde
O estudo de caso realizado com 18 alunos do 7º período1 do curso revelou dados não
estudo das atitudes lingüísticas é relevante, porém muito incipiente ainda na região.
chamar)2, embora componha o cenário multilingüístico da região que faz fronteira com
pertencente ao Brasil e Paraguai e onde muitos dos alunos do curso realizam seu estágio), não
são extremamente positivas, face ao prestígio internacional de que goza este idioma, ainda
1 No início da pesquisa contávamos com 18 sujeitos, porém houve desistência de um deles ao longo do
semestre. Os dados apresentados a partir do questionário-piloto partem do número inicial de sujeitos, porém os
dados coletados pelos outros instrumentos de coleta contam com 17 sujeitos.
Antes dos anos sessenta as atitudes lingüísticas, conforme comenta Schiffman (1997),
sobre a língua sem cunho científico, o que fazia com que muitos pesquisadores ainda
entanto, comenta que “o estudo das atitudes lingüísticas é instrutivo em seu próprio direito,
mas é ainda mais valioso como uma ferramenta para iluminar a importância social da
Fishman (1995) argumenta que o estudo das atitudes “é de importância tão básica para
todo este campo de investigação3 que poderia receber apropriadamente uma consideração à
Com isto, percebemos a relevância do tema tanto para estudos que visem a compreensão
Tivemos como objetivo geral desta pesquisa averiguar as atitudes dos acadêmicos do
línguas ofertadas pelo curso (português, inglês e espanhol) e suas peculiaridades, buscamos
3 O campo a que Fishman (1995) se refere são os estudos de Sociologia da Linguagem, mais especificamente no
que se refere à manutenção e deslocamento das línguas.
4
como objetivos específicos avaliar as atitudes lingüísticas com relação a cada uma das línguas
Quais as atitudes lingüísticas dos alunos com relação à língua inglesa, considerando
a expansão desta língua no mundo, o apelo social para dominá-la de forma a conseguir boas
lingüístico e as crenças com relação a esta língua são manifestados pelos alunos?
Esta pesquisa visou, por fim, deixar encaminhamentos para futuras investigações no
efetiva.
O texto que segue está organizado em três capítulos em que no primeiro, As Atitudes
desenvolvidos para a mensuração das atitudes, além de traçarmos um breve histórico dos
Trilíngüe se localiza neste contexto, explicitando, com isto, o perfil dos sujeitos que
obtidos na pesquisa e nossa análise, que revela atitudes das mais variadas, que vão de
continuidade da pesquisa em investigações futuras, uma vez percebido que tal assunto
1 AS ATITUDES LINGÜÍSTICAS
construída por ele e por outros homens, cria mecanismos e instituições que possibilitam sua
demandas impostas pelas próprias condições de vida e, neste processo, é também influenciado
por esta mesma sociedade que, ao longo da história, corroborou para construir e manter. Ao
mesmo tempo em que o homem cria e é criado nesse todo social, modifica e é modificado em
sua forma de pensar, seus valores e crenças, conforme o sociólogo Berger afirma: “a
sociedade nos define, mas é por sua vez definida por nós” (BERGER, 2002, p. 144).
linguagens. Linguagens estas que criamos e que nos criam a cada instante nos permitindo
cultivar em nossa memória os feitos, as tradições e os valores de nosso grupo social, visto que
Calvet comenta que “a história das línguas é a história de seus falantes” (CALVET, 2002,
p.12), pois a realidade que nos é apresentada se faz através das línguas, ao mesmo tempo em
que cada língua é a representação dos paradigmas de cada grupo, construídos social e
historicamente e que revelam também parte de sua identidade coletiva e individual, haja vista
as várias línguas presentes no mundo inteiro, cerca de 3.000 a 4.000 espalhadas em um total
A coerção exercida pela língua é o princípio que permite que interajamos com os
demais, o sistema que não poderia deixar de existir, pois sem ele não haveria tomada de
palavra possível para quem quer que fosse (REVUZ, 1998). A expressão individual, por sua
7
vez, é caracterizada pelas escolhas que fazemos ao usarmos determinada língua no rico
língua(gem) para revelar e ocultar nossas identidades pessoais, nossa reputação, nosso
princípio formador de nossa própria identidade, aquilo que mantém as instituições sociais e a
própria sociedade (REVUZ, 1998). É aquilo que demarca fronteiras coletivas e individuais e
que gera em nós sentimentos dos mais variados. A língua é, segundo Fishman (1995), o
conteúdo, o meio e a mensagem, pois traduz lealdades e animosidades, indica classes sociais e
relações entre os indivíduos, além de ser “como um grande cenário impregnado de calores de
Cada língua possui seu sistema e esta unidade que faz com que consigamos interagir
com aqueles que conosco compartilham do mesmo sistema, no entanto, a mesma língua é
também repleta das nossas próprias individualidades e também as dos outros (DAMKE, 1998).
língua ao compararmos, por exemplo, nossa língua materna4 com uma língua estrangeira e
depararmo-nos com tal realidade ao perceber que as palavras deixam de ser aquilo que elas
eram, que o mundo é representado sob um paradigma diferente do que aprendemos desde
não se apresenta de igual forma. A mesma realidade, a partir de experiências culturais das
4 Chamamos de língua materna a língua adquirida em ambiente familiar, pelo processo de assimilação natural,
intuitivo, fruto de interação em situações reais de convívio com a família. Phillipson (1992) aponta que o termo
“língua materna” pode ser a língua de da mãe ou pai biológicos ou até uma língua veicular local, pois o critério
estabelecido para tal termo é a origem, função, competência e identificação do sujeito feita por outros.
8
estático de códigos dos quais nos apropriamos, mas como uma instituição social5, que ao
mesmo tempo mantém a coerção entre grupos e é elaborada e modificada pelos indivíduos,
não há como compreender uma Lingüística que não leve em conta os seus usuários, o caráter
parece ser hoje um consenso entre os estudiosos da língua, apesar de no início dos estudos da
lingüística ter-se assumido uma visão diferente a partir de Saussure, pai da lingüística
estrutural, o qual a entendia como a ciência cujo foco de estudo seria a língua (estrutura) em si
mesma e por si mesma (SAUSSURE, 2001, p. 271). Posterior ao estudo do lingüista suíço,
outros estudiosos, no entanto, debruçaram-se a estudar a língua sob um enfoque que, pouco a
pouco, começou a abarcar o social, sua influência na formação e transformação das línguas,
Calvet (2002), ao explorar a trajetória por uma visão social da língua, comenta que a
partir da segunda metade do século XIX uma concepção social de língua vai tomando espaço
nos estudos sobre a linguagem com pesquisadores como Meillet, considerado um discípulo de
língua; Mikhail Bakhtin, que considera o signo lingüístico como o lugar da ideologia, dentre
outros, que, embora com idéias distintas, atribuem à língua sua parte social, indispensável.
optamos por compreender a relação entre as línguas e o que elas geram nos indivíduos, ou
5 Berger & Berger (1977) consideram a linguagem como a primeira instituição social com que se depara o
indivíduo, pois é ele quem “aponta as realidades mais extensas, que se situam além do microcosmo das
experiências imediatas do indivíduo”. Para os autores é a linguagem que permite que o indivíduo tenha acesso às
outras instituições sociais, como a família e a escola, por exemplo. Assim sendo, a linguagem é fundamental na
sociedade, pois quaisquer que sejam as outras instituições, estas só são possíveis a partir do uso da linguagem.
9
seja, as atitudes lingüísticas que são a expressão do que pensamos e sentimos sobre
determinada língua, variedade lingüística ou sobre aquele que as utiliza (Lambert; Lambert,
1972).
Desta forma, nossa pesquisa se situa em uma ciência da linguagem que compreende a
para estudos que analisam as línguas em seu contexto social, observando, por exemplo,
fatores motivadores de variação lingüística. A distinção entre uma área e outra é feita a partir
separação que alguns autores fazem entre os níveis de análise sociolingüística, considerando
uma análise macro e outra micro, em que na primeira interessariam investigações de cunho
lingüística, efeitos do bilingüismo, dentre outras questões que tratariam diretamente das
relações entre a sociedade e as línguas como um todo; e na segunda efeitos de fatores sociais
sobre as estruturas das línguas, estudos acerca da variação lingüística e mudança lingüística
atitudes lingüísticas.
6 Utiliza-se o termo Sociolingüística aqui como maior área, compreendendo que mesmo a sociolingüística hoje
apresenta ramificações de estudos.
10
Calvet (2002), não tem pertinência teórica pois são complementares. A distinção entre as
duas áreas, ou entre os níveis de análise, vai de encontro a formação teórica do pesquisador e
por meio da sociedade” (Calvet, 2002, p. 123). Um pesquisador com formação mais
sociológica concentraria seu objeto em estudos mais abrangentes que não tocam no elemento
pesquisador lingüista, por sua vez, voltaria o seu olhar mais para o sistema da língua, a
A língua(gem) permeia todas as áreas do conhecimento, por isso não raro encontramos
propõe, houve a invasão do escopo de outras áreas do conhecimento, o que por vezes dificulta
7 Tradução nossa do original. “Dicho brevemente, la sociología del lenguaje se ocupa del espectro total de
temas relacionados com la organización social del comportamiento lingüístico, incluyendo no sólo el uso
lingüístico per se sino también las mismas actitudes lingüísticas y los comportamientos explícitos hacia la lengua
y hacia sus usuarios”.
11
uma ciência interdisciplinar, conforme Sarmiento (1995, in: FISHMAN, 1995) explicita no
esquema abaixo:
maneira como classifica a cada um dos pesquisadores dentro das áreas de estudo. Interessa-
nos, no entanto, sua compilação para ilustrar a contribuição de Wallace E. Lambert para a
segunda língua, conforme veremos mais adiante, sendo posteriormente, também, referência
para os estudos de Labov (1972), o qual afirma que "o trabalho de Lambert, Tucker e seus
associados na Universidade de McGill tem nos fornecido uma consistente metodologia e uma
série de princípios empíricos para o estudo de reações subjetivas” (LABOV, 1972, p. 310)8.
8 Tradução nossa do original. The work of Lambert, Tucker, and their associates at McGill University has
12
maior área de nossa investigação, não nos interessando entrar em discussões teóricas sobre
estreita relação entre língua e sociedade, visto que as atitudes lingüísticas são produzidas
relação a determinado objeto, portanto ação. Popularmente quando afirmamos “tomar uma
comportamento.
língua, variedade lingüística ou, ainda, com relação aos falantes ou variedades desta língua
são conhecidos como atitudes lingüísticas, o que faz com que a visão de língua enquanto
instrumento de comunicação seja um olhar superficial, pois, conforme Calvet (2002) afirma
que se pode amar ou não um instrumento, sem que isso mude em nada o modo como o
(CALVET, 2002, p. 65), sendo em parte responsáveis pela manutenção e declínio de algumas
detrimento de outras, assim como nos identificam com grupos lingüísticos e nos afastam de
provided us with a firm methodology and a number of empirical principles for the study of subjective reactions”.
A consistente metodologia a que Labov se refere é a elaboração da técnica do matched-guise, a qual
explicitaremos mais adiante.
13
outros. Hohenthal (1998) corrobora a afirmação de que o status e a importância de uma língua
na sociedade e para um indivíduo derivam das atitudes adotadas e aprendidas por ele e pelo
grupo9.
Enquanto Calvet (2002) define as atitudes como sentimentos com relação à língua
que influenciam nosso comportamento lingüístico, Stammerjohan (1975 apud Damke, 1997,
p. 192-193) faz uso do termo atitudes ou opiniões lingüísticas definindo-as como “avaliações
10
subjetivas, individuais ou de grupo dos falantes com relação às variedades lingüísticas” .
Damke (1997), por sua vez, conceitua atitudes lingüísticas como “posicionamentos,
avaliações dos falantes com relação às variedades lingüísticas que usam e conhecem”.
lingüísticas, mas também com relação à outra língua e falantes desta língua ou variedade,
britânico é mais bonito que o inglês americano”, ou ainda, “o português é uma língua muito
(2002), muitos são os provérbios nacionalistas que, não só, criam estereótipos com relação às
línguas, mas também aos seus falantes, remetendo-nos à indissociabilidade entre a língua e
aquele que a usa. Os exemplos são dos mais variados possíveis ao longo da história, em que é
possível ouvir entre estudantes de língua inglesa afirmações categóricas como “não gosto de
inglês porque não gosto dos americanos”, ou “o espanhol dos paraguaios é feio”, conforme
9 The status and importance of a language in society and within an individual derives largely from adopted or
learnt attitudes. (HOHENTAL, 1998, p. 38)
10 Tradução do autor do original “(...) die subjektiven, individuellen wie gruppenspezifischen
Bewertungsdispositionen von Sprechern gegenüber sprachlichen Varietäten” (DAMKE, 1997, P. 192-193)
14
onde surge a pesquisa pioneira de Wallace E. Lambert na década de 60 (século XX) sobre
afetivo, o qual representa o nosso sentimento com relação a determinado objeto social. O
componente afetivo caracteriza-se por ser coerente com o componente cognitivo, ou seja,
reagimos afetivamente pró ou contra dado objeto a partir do conhecimento que possuímos
sobre ele. E, por fim, o componente comportamental ou conativo refere-se à nossas tendências
para reagir frente aos nossos sentimentos. É o componente ativo das atitudes e que gera
Lambert & Lambert (1972, p. 78) afirmam que podemos dizer que as atitudes estão
formadas quando tais componentes “se encontram de tal forma inter-relacionados que os
um indivíduo percebe outra língua, variedade lingüística ou falantes das mesmas, conforme
seus estudos, sendo uma mentalista e outra comportamental (behaviorista). A primeira define
atitudes como um estado de disposição, um estado mental de prontidão para agir, mediador
(conhecimento), afetivo (sentimento) e o conativo (ação). Williams (1974 apud Fasold, 1984,
p. 147), o qual compartilha da visão mentalista de atitudes, as define como “um estado interno
provocado por um estímulo de algum tipo e que pode mediar a resposta subseqüente do
indivíduo”.11
A segunda tendência, por sua vez, volta-se para as respostas dos falantes em
determinadas situações sociais, sem que seja necessária uma atenção do pesquisador aos
11 Tradução nossa do original. “an internal state aroused by simulation of some type and which may mediate
the organism's subsequent response”.
16
aspectos psicossociais das atitudes (aspectos afetivos e aspectos cognitivos). Nesta, as atitudes
são diagnosticadas simplesmente através das reações dos indivíduos a tais situações sociais
A partir das diversas definições, optamos por compreender as atitudes com base no
conceito sugerido por Lambert, que nos parece mais completo e, também, devido ao fato de
considerarmos as crenças dos indivíduos como importante componente das atitudes12. Com
subseção Manifestações atitudinais abordaremos algumas das possíveis leituras das atitudes,
uma língua.
As atitudes, segundo afirmam Lambert & Lambert, são desenvolvidas como uma
pensamentos, as crenças às quais nos associamos. Hohental (1998) acrescenta ao afirmar que,
que toca a realidade da vida das línguas. Entre falantes de língua portuguesa, como de
quaisquer outras línguas, por exemplo, não raro encontramos falantes de variedades
lingüísticas que gozam de menor prestígio associando-se a grupos que fazem uso da mesma
variedade e determinando desta forma o grupo social a que pertencem. Falantes de uma dada
variedade lingüística tendem a classificar e a julgar falantes e outras variedades com base nas
opiniões que construíram ao longo do tempo, assim como falantes de uma língua tendem a
12 Considerando a definição de Lambert & Lambert (1972), os quais afirmam que as atitudes lingüísticas têm
um componente cognitivo, afetivo e outro comportamental, entendemos os comportamentos lingüísticos como
manifestações deste último componente apresentado pelos autores. Rodrigues (2000) salienta que uma pessoa
pode ter uma atitude negativa contra franceses, mas tratá-los cordialmente quando a eles apresentada em certa
situação, em que “sua atitude em relação à propriedade de seu comportamento numa reunião social prevalece
sobre sua eventual animosidade contra franceses” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2000, p.102). Desta
forma, observamos a diferença entre os dois conceitos.
17
fazer juízo de falantes de outras línguas, conforme provérbio citado por Tulio di Mauro (apud
Calvet, 2002, p. 67), que diz “O alemão urra, o inglês chora, o francês canta, o italiano faz
as atitudes também podem ser modificadas como forma de abandonarmos um grupo e fazer
parte de outro, muitas vezes não tendo plena consciência delas e nem da influência que
pessoas que apresentavam indícios de preconceito lingüístico, por exemplo, não percebiam o
que sentiam com relação a outras variedades lingüísticas, assim como não davam conta dos
utilizar a linguagem falada como forma de produzir atitudes estereotipadas, uma vez que os
membros de tais grupos se identificavam pelo idioma que utilizavam. Para tanto, os
grupo ouviam vozes gravadas de oradores ingleses e franceses lendo versões de um mesmo
13 A socialização segundo Berger e Luckman (2002) se dá em duas fases as quais ele classifica como processo
de socialização primária e socialização secundária. A socialização primária se refere ao primeiro contato com a
sociedade (infância) que consiste nos processos básicos de socialização, que permitem que interajamos com o
meio, consumamos valores para que sejamos aceitos, tenhamos noções básicas de como agir, como nos
comportarmos em diversas circunstâncias, o que e para quem falar determinadas coisas, dentre outros. Neste
processo inicial enquadramo-nos em modelos sociais, adquirimos noções de regras e habituamo-nos a cumpri-
las. A socialização secundária, por sua vez, é a responsável pela nossa inserção em instituições da sociedade,
pois se caracteriza pela “interiorização de submundos institucionais ou baseados em instituições” (BERGER &
LUCKMAN, 2002, p. 184) Neste sentido a linguagem desempenha papel fundamental, pois as instituições onde
o indivíduo irá se inserir exigem um cabedal de conhecimentos específicos, significados construídos em conjunto
com outros indivíduos e que dispensam processos de afetividades e identificação do eu (típicos da socialização
primária).
14 Os paraguaios em geral são estigmatizados na fronteira, comumente chamados de xirus. Em guarani xiru
significa amigo, no entanto o uso que é feito da palavra entre os moradores de Foz do Iguaçu, muitas vezes, tem
conotação pejorativa.
18
dos oradores. Foi informado aos pesquisados que ouviriam a gravações de dez oradores, mas
que na verdade se tratava de cinco oradores bilíngües que liam uma vez em inglês e uma vez
“falantes” ingleses foram avaliados de maneira mais favorável como mais atraentes, mais
inteligentes, mais seguros, mais ambiciosos e de caráter mais positivo que os falantes
franceses. Este resultado demonstrou que muitos jovens franco-canadenses, ao contrário dos
jovens anglo-canadenses, encaram seu grupo como inferior e que percebem serem mais bem
grupo minoritário são afetadas pelos contatos com grupos que são considerados de posição
mais elevada, como ocorre com os grupos falantes nativos de língua inglesa (LAMBERT;
LAMBERT, 1972). O fato de a língua inglesa ser considerada língua de maior prestígio fez
com que os estudantes pesquisados atribuíssem aos falantes de língua inglesa características
mais favoráveis que as dos falantes de língua francesa, mesmo sendo esta a língua materna de
muitos deles.
mensuração das atitudes, porém destacamos aqui as escalas de avaliação de atitudes, como a
Likert-scale escolhida por nós para fins desta pesquisa, a técnica do matched-guise, além de
exemplo o estudo de Fishman em 1966 sobre a lealdade lingüística nos Estados Unidos
pesquisados, razões para aprender ou não uma determinada língua, avaliação de grupos
códigos, dentre outros, cujo foco está direcionado às crenças dos indivíduos. Neste modelo de
pesquisa insere-se a escala de Likert, desenvolvida em 193215, a qual consiste em uma série
propósito da pesquisa, a metade das mesmas são favoráveis e, a outra metade, desfavorável ao
16
Eu gostaria de conhecer mais franco-canadenses.
Outra forma de avaliação de atitudes que se insere nas técnicas de avaliação direta é
opinião dos alunos acerca de determinado enunciado17. Segue o exemplo com as questões:
15 Esta escala foi desenvolvida por Rensis Likert (1903-1981), educador americano que foi um dos fundadores
do Instituto para pesquisa social da Universidade de Michigan. A escala de Likert foi produzida como uma
forma de medir atitudes para sua tese em psicologia pela Universidade de Columbia, sendo o seu trabalho mais
notável. (http://en.wikipedia.org/wiki/Rensis_Likert)
16 Exemplo de afirmação extraído do apêndice A.1. do relatório de pesquisa The Attitude/motivation Test
Battery: Technical Report de R.C. Gardner (1985). Este item para avaliação de atitudes foi extraído da subseção
Attitudes towards French –Canadians. Tradução nossa.
17 Utilizamos o termo enunciado aqui como sinônimo de afirmação de forma a evitar a repetição.
20
18
Eu acho que estudar Francês :
a) é pouco interessante.
b) Não é mais interessante que outras disciplinas.
c) É muito interessante.
cientes de que a pesquisa se baseia nas suas atitudes lingüísticas, inserindo-se, neste tipo de
método a técnica do matched-guise, desenvolvida por Lambert e seus colegas, para a pesquisa
Esta técnica foi utilizada no Brasil por Figueiredo (2003), a qual observou as atitudes de
estudantes brasileiros com relação a falantes das línguas: alemão, inglês, espanhol, francês e
português. Para tanto, a autora buscou falantes fluentes das várias línguas dos quais pretendia
avaliar as atitudes e pediu que lessem fábulas de aproximadamente um minuto, a fim de que
avaliações através de uma escala de diferenciação semântica, ou seja, para cada pergunta o
indivíduo é orientado a marcar um grau de valoração entre dois adjetivos opostos, em que o
Vejamos o exemplo:
19
Como você vê a língua espanhola?
18 Este exemplo também foi extraído do relatório técnico de pesquisa The Attitude/motivation Test Battery:
Technical Report de R.C. Gardner (1985), do apêndice A.2. Este item encontra-se na subseção Desire to learn
French.
19 Adaptado das escalas utilizadas por CASTILHO (2000) em sua pesquisa Bilingüismo y actitudes lingüísticas
de la comunidad indígena Inga ante el español y el inga.
21
perfil dos indivíduos e os objetivos a serem contemplados pela investigação. Gardner (1985)
elaboração dos itens a serem inseridos nos questionários para que sejam significativos e
relevantes. Neste sentido, importante também relembrar as palavras de Calvet (2002) quando
afirma que
especificidade de cada contexto é condição sine qua non para a validade da pesquisa
contexto em questão.
Embora no Brasil encontremos ainda poucas pesquisas sobre atitudes lingüísticas, este
assunto é largamente abordado em trabalhos no mundo inteiro em pesquisas que variam desde
lingüísticas dos falantes com relação à outra língua, até estudos sobre o papel das atitudes na
brasileiro, a língua considerada mais importante e de maior prestígio era a língua inglesa,
ainda que considerassem importante o domínio da língua portuguesa, uma vez que residiam
que os indivíduos diziam sobre suas línguas, que nessa área de fronteira há a tendência a
No exterior, temos por exemplo, os trabalhos de Cooper e Fishman (1974 apud Fasold,
1984) que utilizaram um método indireto de avaliação de atitudes para testar a hipótese de que
as atitudes com relação ao hebraico em Israel são mais favoráveis ao uso de tal língua em
contexto de argumentação científica, enquanto que o árabe seria mais efetivo para a realização
2002) que pesquisou a relação entre variáveis fonéticas e as variáveis sociais na ilha Martha’s
Vineyard, na qual levou em conta as atitudes dos informantes com relação ao território onde
alemão/português no sul do Brasil. Seu estudo enfocou as atitudes dos falantes com relação à
variedade padrão das duas línguas: o português padrão e a variedade padrão do alemão, o
diglóssico20 na Índia (hindi e inglês), observando o inglês como a língua de maior prestígio
20 Entende-se por bilingüismo diglóssico a coexistência de duas línguas em uma mesma comunidade em que
uma delas se caracteriza como variedade baixa (menor prestígio) e a outra como variedade alta (maior prestígio),
segundo Ferguson (1966) high e low variety.
23
indígena ingá com relação à língua ingá e o espanhol; a pesquisa de Kuncha e Bathula (2004)
em que avaliaram o papel das atitudes lingüísticas na mudança e manutenção de uma língua
Além destes, diversos trabalhos sobre atitudes lingüísticas fizeram parte do 15o.
Roeland van Hout que investigaram a relação entre as atitudes lingüísticas, a motivação para
aprender uma língua e a proficiência lingüística na Bélgica (Investigating the link between
language attitudes, learning motivation and language proficiency in Belgium), dentre outros.
pesquisas nesta área que nos possibilitem compreender as relações entre línguas existentes na
mensuração. Mesmo Fishman (1995) afirma que sabemos muito pouco sobre as atitudes e
21 O Sociolinguistics Simposium 15 foi realizado na Universidade de Newcastle upon Tyne, Reino Unido. Este
evento iniciou nos anos 70 por um grupo de sociolingüistas que observaram a necessidade de um fórum que se
discutisse as descobertas na área e onde pudessem debater temas de cunho teórico e metodológico no que se
refere à língua na sociedade. O evento se caracteriza atualmente como uma conferência internacional, ocorrendo
principalmente na Europa.
24
emoções com relação a uma língua, que vão desde a lealdade à aversão a uma língua. São
várias as definições, diversos os métodos de avaliação, porém, Lambert & Lambert (1972)
nossas atitudes. Fishman (1995, p. 168) menciona como tipos de atitudes lingüísticas a
lealdade, a aversão e alguns estereótipos que se põem nas línguas como tachá-las de bonitas
indivíduos externam suas atitudes negativas e positivas com relação a uma língua, a uma
motivação instrumental para aprender uma língua. Além disso, consideramos pertinente
Tal qual a humanidade, o preconceito lingüístico conta com uma larga e antiga
22 O clássico da literatura Pygmalion de Bernard Shaw (1856-1950), traz à tona o tema do preconceito
lingüístico em início do século XX. Em sua peça um professor de fonética, Henry Higgins, aceita o desafio de
fazer de uma vendedora de flores de classe pobre, Eliza Doolittle cuja variedade lingüística é tida como não
padrão e marginalizada (Cockney), uma dama da sociedade inglesa. O professor aceita o desafio de, literalmente,
25
No Império Romano a palavra bárbaro23 era utilizada pejorativamente para designar todos
aqueles que não compartilhavam dos hábitos da cultura romana ou não falavam o latim e que,
estabelecidas gera sentimentos diversos, muitas vezes sem base racional e crítica. Conforme
uma das definições de Houaiss (2001), o preconceito é uma “atitude, sentimento ou parecer
sociais ou lingüísticos, com base no que convencionamos pensar sobre as coisas, sobre os
que não necessariamente correspondem à realidade dos fatos, pois como o próprio termo
traduz, preconceito é formado previamente sobre o que se nos apresenta, sem que tenhamos
conhecimento prévio de determinado objeto social. Conforme Bagno (2005, p. 77) afirma, “os
preconceitos (...) impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes
mundo”.
O preconceito social contra grupos étnicos, contra grupos religiosos, contra classes
menos favorecidas está presente na história das civilizações, gerando conflitos, segregação e
variedades lingüísticas são alvo de um tipo de preconceito que produz e reproduz problemas
ensiná-la a falar conforme o status e prestígio da variedade padrão da alta sociedade inglesa, como o refinamento
das boas maneiras.
Além deste, citamos um exemplo mais recente, que é o da personagem Bebel, uma prostituta da novela televisiva
da Rede Globo Paraíso Tropical, em que de prostituta do calçadão, tenta passar para fixa, de catchigoria, e para
isso precisa adequar a variedade lingüística que utiliza, de forma a ser aceita em outros ambientes sociais.
23 A palavra bárbaro tem origem na língua grega, cujo significado era simplesmente “não grego” ou
“estrangeiro” sendo posteriormente utilizada pelos romanos como forma de preconceito face a outros povos que
não gozavam do mesmo prestígio social, cultural e econômico. (HOUAISS, 2001).
26
apresenta uma discussão abrangente de como este vem sendo (re)produzido ao longo do
cristalizando mitos e crenças com relação ao seu uso, seja através da mídia, de livros, dos
concepção de norma padrão e não padrão, afirmando que “o preconceito lingüístico está
ligado, em boa medida à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e
línguas, representando apenas uma pequena parcela do que realmente elas são. Nenhuma
gramática é capaz de representar a realidade das línguas e seu uso de forma completa, visto
que as línguas são dinâmicas, caminham com seus falantes, que as modificam e as encharcam
de individualidade. Somam-se a isto os processos naturais de evolução das línguas, que não
livros e dicionários, os quais estarão tão e sempre atrasados em comparação com a língua
dicionários não dão conta de apresentar em sua totalidade, priorizando sempre uma variedade
Ao tratar das diferenças, por exemplo, entre a língua portuguesa falada no Brasil e em
o português lusitano como referência para o falar corretamente no Brasil, não considerando o
Além disso, “a gramática escolar (...) desconhece essa transformação por que a língua
está passando e insiste em considerar ‘erradas’ construções como 'Eu conheço ele', 'Você viu
ela chegar' etc.” (BAGNO, 2005, p. 25). A primazia da linguagem escrita normatizada nas
gramáticas a partir de um referencial da língua de tempos remotos goza de mais prestígio que
que não têm acesso às letras, aos livros, à escola. Meliá (1997), ao tratar das diferenças de
status entre línguas ágrafas e não-ágrafas, comenta que “as línguas mantêm-se vivas porque
têm motivos bastante alheios ao ofício da escrita para viver”, evidenciando também que o
lugar da escrita como modalidade da língua que orienta a adequação do uso ou status é uma
que só auxiliam na manutenção dos mitos com relação ao uso adequado da língua, além de
gerar estigma entre aqueles que não a utilizam conforme prevêem estes sortidos receituários
consideram a própria língua difícil e complexa, chegando a assumir que não sabem o seu
28
próprio idioma, sua língua materna. O falar bem e corretamente é o falar regido pelas normas
gramaticais, enfatizadas na escola, na mídia, nos manuais, nos recursos de que dispõe a
Não só com relação à língua portuguesa, mas também no ensino de língua estrangeira
a mesma situação se repete. Widdowson (2003), por exemplo, critica a visão de “real
English” enfatizada por livros didáticos de ensino de língua inglesa e dicionários, pois nestes
não há menção a palavras e estruturas utilizadas no dia-a-dia de outros povos, como a Índia,
também usuários do idioma. O lingüista afirma que esta noção de inglês real e apropriado é
“uma língua inventada” que tem sido tradicionalmente transmitida nas salas de aula de
Calvet (2002, p. 68) acrescenta que “em todos os países há um lugar onde a língua
nacional é pura, que existem sotaques desagradáveis e outros harmoniosos, etc”. Atitudes de
e rejeição a uma língua, na maioria das vezes ditadas pelo “bem falar”, por uma pronúncia
mais prestigiosa, pela crença de uma língua mais importante ou de mais status que outras,
países menos desenvolvidos têm sido estigmatizadas por outros falantes e pela própria
comunidade lingüística que dela se utiliza, provando que o preconceito lingüístico encobre
24 Sarup (apud SANTOS, 2004, P.92) define ideologia como as maneiras com que o que dizemos e acreditamos
se conecta com a estrutura e relações de poder da sociedade na qual vivemos. A ideologia se refere às formas de
sentir, atribuir valor, perceber e acreditar que conservam algum tipo de relação com a manutenção e reprodução
do poder social vigente.
29
preconceito de ordem social. O preconceito lingüístico, portanto, faz parte do que Phillipson
(1992) chama de lingüicismo, ou seja, “ideologias, estruturas e práticas que são usadas para
legitimar, efetuar e reproduzir uma divisão de poder e recursos (materiais ou imateriais) entre
discutido projeto de lei 1676/1999 do deputado Aldo Rebelo, cujo interesse era o de promover
lingüística dos norte-americanos e sua língua inglesa - que também não é só dos ingleses. A
temida invasão lingüística ignora a dinâmica de toda e qualquer língua cuja formação se dá
presente nas sociedades. Neste sentido, ao comentar o projeto de lei do deputado, Bagno
Por isso, além do preconceito com relação às variedades de uma mesma língua e seus
falantes, entendemos como preconceito lingüístico aquele expresso com relação a outra língua
(CALVET, 2002), que podem muitas vezes estar relacionados a sentimentos de identidade
preconceito estão presentes entre os sujeitos escolhidos para esta pesquisa, buscando
de uma língua estrangeira, como as diferenças individuais dos aprendizes, tempo de exposição
lingüísticas (ELLIS, 1994). Todo este conjunto, além de outros aspectos, determina a
condição para a aprendizagem efetiva de uma nova língua, porém destacamos aqui as atitudes
Para quaisquer que sejam as tarefas que desejamos executar, a motivação se faz
importante elemento, por isso, nesta subseção, trataremos de dois tipos de motivação, tais a
produto de atitudes positivas, por impelir o indivíduo ao desejo de conhecer e aprender mais
língua ou variedade, por exemplo, dificilmente se inclinará a aprendê-la, pois, como Gardner
25 Embora tratemos da motivação integrativa como fator que influencia positivamente a aprendizagem,
não discutiremos os resultados da eficácia deste tipo de motivação na aprendizagem efetiva dos sujeitos desta
pesquisa, visto nosso enfoque ser a avaliação e descrição das atitudes. Compreendemos que a motivação
integrativa é uma manifestação atitudinal positiva, porém não buscamos em nossos instrumentos de pesquisa os
efeitos concretos das atitudes na aprendizagem do grupo. Encaminhamos esta avaliação para pesquisas futuras.
31
atitudes predispõem os aprendizes a fazer esforços para aprender uma segunda língua (ELLIS,
(GARDNER & LAMBERT, 1959, apud SPOLSKY, 1989, p. 149) e pode ser classificada,
intuito de conhecer e ter contato com membros de tal comunidade. Tal motivação é
caracterizada por Lambert (1967, apud SPOLSKY, 1989, p. 150) como aquela que provoca
palavras de Revuz (1998, p. 227) quando comenta que “aprender uma língua estrangeira é
O aprendizado de uma nova língua traz à tona outra identidade, formas diferentes de
ver o mesmo mundo, re-olhar as coisas sob um novo paradigma já que, conforme a autora
comenta, “a língua estrangeira não recorta o real como o faz a língua materna” (REVUZ,
1998, p. 223). Para a autora, a língua não é somente um instrumento e, por isto, o aprendizado
de língua, mesmo que inicialmente seja impulsionado por um tipo de motivação instrumental,
irá levar o aprendiz a rupturas com sua própria língua, com a qual já traz uma história ao
A motivação instrumental, por sua vez, refere-se a razões pragmáticas para aprender
uma língua sem nenhum interesse particular para se comunicar com a comunidade lingüística
da referida língua. Dentre estas razões podemos mencionar o interesse em aprender para sair
bem sucedido em uma prova, ou para atingir algum tipo de prestígio e sucesso, ou, ainda, por
26 Tradução nossa do original. “the combination of effort plus desire to achieve the goal of learning plus
favourable attitudes towards learning the language”.
32
uma exigência ditada por um grupo específico (trabalho, escola, negócios, exames, etc).
Importante ressaltar que o sucesso na aprendizagem de uma língua a partir de uma motivação
inicialmente instrumental pode gerar atitudes positivas com relação à língua e ao aprendizado,
A partir das definições dos dois tipos de motivação, é possível depreender que a
algum tipo de ganho social, desconsiderando que toda a língua é investida de cultura e
subjetividade. Uma vez que o indivíduo busca apropriar-se da língua para uma finalidade
específica, sua motivação não necessariamente advém de uma atitude lingüística positiva com
relação ao grupo falante da língua ou à língua em si, pois ela surge de um interesse, de uma
universo de nossa pesquisa, muitas vezes pode ser classificada como instrumental, pois existe
um apelo de que é importante aprender a língua inglesa para que se consiga oportunidades e
prestígio 27. Aprender a língua inglesa representa um “passaporte” para a prosperidade, além
do peso funcional que a língua inglesa carrega, a qual, segundo Philipson (1992) enfatiza,
escolas de idiomas que “se proliferam por todo o país, quase tão rapidamente quanto as filiais
27 Moita Lopes (1996) defende a motivação instrumental para o aprendizado de língua inglesa, em detrimento
da motivação integrativa, no que se refere ao ensino da língua na educação básica em escolas públicas, sugerindo
uma proposta de ensino com enfoque em um modelo interacional de leitura.
28 Tradução nossa do original. “English has been marketed as the language of development, modernity,
and scientific and technological advance”
33
motivação integrativa vem a agregar valor à visão de língua enquanto repositório de cultura,
aprender uma língua estrangeira “esbarra na dificuldade que há para cada um de nós, não
somente de aceitar a diferença, mas de explorá-la” (REVUZ, 1998, p. 230). Não somente o
igualmente positivas. O interesse em aprender uma língua para alcançar status social, por
exemplo, demonstra atitude positiva com relação ao aprendizado de tal língua, ainda que esta
atitude seja revestida de crenças de certa forma equivocadas, uma vez que a aprendizagem de
uma língua não necessariamente trará prestígio ou ascensão social. Importante relembrar aqui
o mito tratado por Bagno (2005) de que “o domínio da norma culta é um instrumento de
ascensão social”, em que ressalta que dominar uma variedade lingüística de status não
assegurará ao indivíduo uma posição social privilegiada caso outros direitos de cidadão a ele
não sejam assegurados. O mesmo podemos afirmar com relação ao domínio de uma língua
atitudinais, uma vez que surgem como efeito das atitudes e, principalmente, devido ao fato de
serem evidenciadas nos depoimentos dos sujeitos ao longo da coleta dos dados. No capítulo
34
Atitudes positivas e negativas: discussão dos resultados retomaremos a discussão com base
nos dados.
identidade, visto que aspectos identitários de grupo podem orientar os sentimentos com
atitudes positivas ou negativas de aceitação ou rejeição a uma língua com base, muitas vezes,
nos sentimentos de identificação com determinado grupo, sua cultura29 ou quaisquer outros
entanto, a concepção do que seria a identidade para que possamos discorrer sobre os seus
aquela identidade fixa, que caracterizava o sujeito do Iluminismo, nem mesmo a identidade
formada a partir da relação do sujeito com os outros que “mediavam para ele os valores,
sentidos e símbolos dos mundos que ele/ela habitava” (HALL, 2005, p. 11). A identidade do
sujeito hoje se caracteriza pela não fixidez, pois é constituída e modificada a todo tempo, a
depender dos diferentes sistemas de significação e representação cultural que nos cercam.
Sendo a língua um destes sistemas de significação e considerando o seu caráter mutável, não
cabe compreender a identidade como algo estável, mas em constante estado de fluxo.
29 Segundo Certeau (1995) são várias as acepções de cultura, como: os traços de um homem considerado
“culto” (segundo modelo socialmente elaborado); patrimônio de feitos que precisam ser preservados, como a
cultura clássica, cultura humanista, cultura inglesa; como a imagem, percepção ou compreensão do mundo
próprio a uma meio ou época (cultura rural, urbana, cultura medieval, etc); ou como comportamentos,
ideologias, mitos que fazem parte de um sistema de referências e cujo conjunto forma uma sociedade distinta das
demais. Vamos nos ater a segunda definição, a qual permeia as falas dos sujeitos desta pesquisa.
30 Representações, segundo Hall (2005) são significados, sentidos construídos social e historicamente, as quais
têm efeito de verdade para o grupo que delas compartilha.
35
indivíduo se constrói na língua e através dela”, não cabe afirmar que o indivíduo possui uma
identidade fixa, uma vez que também a língua muda, estando em permanente estado de
esta identidade é tão mutável quanto o sujeito, quanto a língua e, também, quanto as próprias
atitudes lingüísticas. Lambert (1972) afirma que “incorporamos atitudes que nos parecem
apropriadas para pertencer a grupos (...) e, por vezes, mudamos de atitudes como meio de
atitudes, assim, são o reflexo desta nossa identidade, ainda que flexível.
A língua, segundo Hall (2005), faz parte de todo um conjunto de representações que
haver entre os membros de determinado grupo (classe, gênero, política, religião, etc). Ao
identidade nacional, pois, conforme também ressalta Rajagopalan (1999), é como se “a língua
se tornasse a grande bandeira de luta em que a palavra de ordem é uma nação, uma língua31”.
Identificar-se com a língua é identificar-se com a cultura de uma nação, fazer parte dela, ser
31 Grifo do autor.
36
identidade lingüística, segundo o autor, não é somente uma questão lingüística, mas envolve
“afirmação da nacionalidade e da integridade nacional a cada vez que há uma suposta ameaça
argentinos que residem na fronteira com o Brasil na cidade de Porto Iguaçu, Argentina, que,
razão esta que nos motivou a incluir o castelhano como uma das opções de língua na primeira
questão do questionário piloto desta pesquisa. Há uma polêmica em torno dos termos
do Estado Espanhol, por este motivo acredita-se que muitos países da América do Sul
preferem utilizar o termo castelhano como forma de apresentar não submissão ao governo
espanhol 32.
Além disso, ainda no que se refere ao contexto geográfico desta pesquisa, podemos
fazendo parte do seu sistema de representações. O guarani faz parte da identidade de um povo
desenvolvido por padres jesuítas de tomar a língua guarani instrumento de conversão nas
alfabetizados tanto na língua dos que chegavam, quanto na sua própria língua (MELIÁ,
1997).
32 A língua oficial da Espanha é o castelhano, também espanhol, também chamada de castelhano por motivos
históricos, já que a sua origem surge da variedade falada no território de Castela. Na Espanha utilizam-se as duas
formas, sendo o espanhol para atribuir à língua de uma forma mais geral, enquanto que o castelhano é utilizado
para designar a variedade de Castela. Historicamente diz-se também que o espanhol é a evolução do dialeto
castelhano ao longo da Reconquista. O castelhano era a língua do império, porém foi sendo substituída por
espanhol a partir da unificação dos reinos da Espanha durante o reinado de Carlos I da Espanha, no século XVI
(fonte: < http://es.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%A9mica_en_torno_a_espa%C3%B1ol_o_castellano >).
37
Embora houvesse esta tentativa de grafar a língua guarani, ela conserva uma tradição
muito mais oral do que escrita, pois segundo explica Meliá (1997), apesar das tentativas de
bilingüismo diglóssico contribuiu de certa forma para que uma das línguas se tornasse menos
escrita e lida, este o caso do guarani. Tal fato, no entanto, não representou o apagamento da
língua face às atitudes positivas com relação ao guarani, pois, conforme Melià (1997)
argumenta, ao contrário do prestígio que para nós a escrita apresenta, a tradição oral, a língua
viva representava mais a realidade do povo, não sendo necessária a escrita para que se
Também questões religiosas levam indivíduos a terem fortes atitudes perante sua
língua, conforme o exemplo trazido por Peñalosa (1981), que menciona que os árabes, em
geral, acreditam que a língua árabe é a mais perfeita de todas as línguas, uma vez que Deus a
escolheu como um meio através do qual o Alcorão33 foi revelado. A identificação com a
língua está atrelada à identificação com a cultura, a qual tem na religião grande suporte.
ela porque de alguma forma esta língua vêm a abalar sentimentos de identificação que
possuímos com relação à nossa língua primeira, ou porque a associamos com grupos
lingüísticos com os quais não manifestamos empatia, por parecerem representar ameaça a
Rajagopalan (2005, p. 140) comenta, por exemplo, que uma forma comum de
posicionamento com frente à invasão da língua inglesa em alguns países é “erguer uma
muralha de rejeição psicológica contra o idioma e tudo o que ele representa”. Com receio de
33 Alcorão ou Corão é o livro sagrado do Islamismo, religião baseada nos ensinamentos do profeta Maomé.
Para os muçulmanos o Alcorão é a palavra de Alá (Deus), a qual foi revelada a este profeta, através do anjo
Gabriel, durante um período de 20 anos. (fonte: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3o > ).
38
que a língua estrangeira represente uma ameaça ao patrimônio lingüístico e cultural de uma
América onde há uma tentativa de tornar a língua inglesa única língua oficial e preservá-la
frente à grande presença de línguas alóctones; além de medidas como a adotada pelo
presidente da França na década de 60, em que cria o órgão Haut comité pour la défense el
Não só com relação a uma língua, mas com relação a uma variedade lingüística podem
entre língua de maior ou menor prestígio, o qual está relacionada a juízos de ordem social.
dentre diversos aspectos, buscou analisar a percepção de duas variantes fonéticas coexistentes,
em que há uma considerada de mais prestígio. Trudgill percebeu que havia uma discrepância
entre o que os sujeitos da pesquisa diziam pronunciar e o que realmente pronunciavam, alguns
dos que pronunciavam a variante de menor prestígio tendiam a superavaliar sua pronúncia,
afirmando utilizar a de maior prestígio. Podemos dizer que este exemplo demonstra que a
“escolha” de uma identidade lingüística, quando há, está imbuída de juízos de valor.
Labov (apud Penalosa, 1981, p. 136), por sua vez, utilizou o termo insegurança
lingüística para indicar o grau de discrepância entre o que um falante acredita que são as
34 O Movimento English-only (Somente inglês) também chamado de Official English Movement (Movimento
do Inglês Oficial) se refere a um movimento político (política lingüística) para o uso de somente a língua inglesa
em ocasiões públicas através do estabelecimento do inglês como a única língua oficial dos Estados Unidos da
América.
39
formas corretas e as formas que ele próprio acredita utilizar. Sua pesquisa apontou que classes
sociais mais baixas tendem a manifestar esta insegurança lingüística, logo uma atitude
extremamente negativa quanto a sua variedade, com a qual não quer se identificar.
Dado o exposto, sintetizamos esta discussão a partir das palavras de Hall (2005) ao
(HALL, 2005, p. 71). Identificar-se com uma língua ou uma variedade lingüística é antes
querer fazer parte e tomar para si um ideal social formado pela tradição, pelos padrões
com estes modelos gera a insegurança de ser quem se é e falar como se fala.
aula) e não o processo natural de aquisição (ELLIS, 1994), envolve diversos fatores que
alunos, nível de motivação e ansiedade, quantidade de exposição à língua, visão de língua por
língua em contexto natural. A aprendizagem de uma língua em sala de aula irá exigir do
aluno, da metodologia, do professor muito mais atenção do que quando adquirimos nossa
primeira língua e aprendemos a nos comunicar por uma questão de sobrevivência conforme
negativas dificultam-na (ELLIS, 1994), voltamos nosso olhar aqui para a importância do olhar
Ao falar do aprendizado de uma nova língua destacamos que não se trata meramente
de fazer uso de um sistema de códigos distintos, mas também fazer uso de uma língua que foi
construída historicamente por indivíduos que interagiram com culturas distintas e refletiram
nesta língua o seu todo social. Neste sentido, é importante citar as palavras de Revuz (1998)
quando coloca que “A língua estrangeira não recorta o real como o faz a língua materna. Essa
estrangeira irá despertar no aluno sentimentos dos mais variados, ao perceber que esta língua
adequação do uso características muito peculiares. Como a autora afirma, “aprender uma
outra língua é fazer a experiência do seu estranhamento” (REVUZ, 1998, p. 229) e este
O professor de língua estrangeira precisa ter em mente que aprender uma língua
estrangeira e alcançar um nível de proficiência em determinado idioma vai muito além das
das “possíveis aptidões” que um indivíduo possa possuir para aprender desta ou daquela
maneira, de aspectos cognitivos de cada aprendiz, ou mesmo do tempo dedicado para tal
aprendizado. É importante considerar também o papel das atitudes lingüísticas dos aprendizes
com relação a este novo idioma e aos aspectos culturais em seu entorno, pois conforme Ellis
(1994) afirma, os fatores sociais influenciam em demasia o aprendizado de uma outra língua.
Segundo o autor, seus efeitos são mediados por uma gama de variáveis, destacando-se dentre
elas as atitudes, que segundo ele são moldadas pelos fatores sociais.
ensina não como um emaranhado de estruturas, mas como a instituição social que abordamos
por isso, traz em si aspectos culturais e que vêm a provocar no aprendiz o abalo de certezas, a
necessidade de compreender e nomear o mundo sob novo enfoque. Citando Revuz (1998),
neste sentido:
Toda tentativa para aprender uma outra língua vem perturbar, questionar,
modificar aquilo que está inscrito em nós com palavras dessa primeira
língua. Muito antes de ser objeto de conhecimento, a língua é o material
fundador de nosso psiquismo e de nossa vida relacional. Se não se
escamoteia esta relação é claro que não se pode conceber a língua como um
simples “instrumento de comunicação”. É justamente porque a língua não é
em princípio, e nunca, só um “instrumento”, que o encontro com uma outra
língua é tão problemático, e que ela suscita reações tão vivas, diversificadas
e enigmáticas. Essas reações se esclarecem um pouco se for levado em
consideração que o aprendiz, em seu primeiro curso de língua, já traz
consigo uma longa história com sua língua. (REVUZ 1998, p.217)
De forma que este olhar nas atitudes lingüísticas dos alunos seja possível, a formação
reconhecimento de que os saberes gerados e surgidos em sala de aula são parte da composição
de um mundo real que neste contexto se projeta. Mundo este repleto de atitudes de
linguagens e grupos. Um ensino de línguas que não dá conta deste processo, focando-se
somente em métodos e técnicas para ensinar esta ou aquela estrutura ou habilidade, sem olhar
2001).
entender, por exemplo, que algumas línguas ou variedades são tidas como de maior prestígio
e que este dado muitas vezes gera desigualdades sociais; compreender que a língua varia de
lugar para lugar, de falante para falante, de grupo para grupo e que esta variação por vezes
gera preconceitos; ter em mente que ensinar uma língua é um ato político.
língua inglesa, afirma que este “não pode vir dissociado das atitudes com relação ao
42
multiculturais” 35. Bagno (2002) ao abordar o ensino de língua materna argumenta que o foco
muito mais que aplicar técnicas para o ensino de gramática ou vocabulário, seja um
profissional que repense sua prática, reflita constantemente sobre o papel que desempenha na
sociedade. Schon (1991) ao tratar do praticante reflexivo (reflective practioner) comenta que a
prática muitas vezes, pela própria repetição, nos leva a cristalizar determinados
conhecimentos e não mais refletir sobre eles, ou seja, pela própria rotina, deixamos de
observar e refletir sobre conhecimentos que se tornaram tácitos. O autor ressalta, no entanto,
que é através da prática cotidiana que podemos criticar entendimentos tácitos que cresceram
de experiências de repetição e daí então é possível dar novo sentido às práticas pedagógicas.
A formação reflexiva que dê conta de perceber não só a sua prática, como também os
limita ao ensino dos conteúdos, mas leva em conta o todo social presente em uma sala de
aula, sendo possível observar as atitudes tanto lingüísticas como sociais que venham a
35 Tradução nossa do original. “There is widespread awareness among those professionally concerned with
teaching English to linguistic minority groups that 'learning English cannot be disassociated from attitudes to
ethnicity, racism, social aspirations and concepts of the nature of multicultural societies'”.
43
Afirmar categoricamente que alunos não aprendem por conta deste ou daquele
motivo é uma abordagem superficial e que, por isso, demanda pesquisa e observação por parte
dos professores, tendo em vista as questões mencionadas e o próprio caráter imprevisível dos
seres humanos, denominados aqui nesta pesquisa como aprendizes de língua, mas que estão
inseridos em uma sociedade repleta de valores, ideologias e onde assumem papéis dos mais
O olhar dos professores de línguas nas atitudes lingüísticas dos alunos é importante no
com relação à língua que aprendem e, também, propor condições e estratégias que possam
promover a mudança de atitudes negativas dos alunos com relação à língua alvo, não no
toda a carga ideológica que ela remete, mas, como afirma Rajagopalan (2005, p. 154), auxiliar
os alunos a “dominar a língua estrangeira em vez de se deixar ser dominado por ela”.
36 Tradução nossa. “Becoming reflective through testing our practice systematically also challenges us to think
about the influence we directly or indirectly exert on the formation of the society in our role as teachers”.
(BARTLET 1990, p. 213)
44
tornando-se sujeito ativo em sua própria aprendizagem, e não mero receptor de códigos
lingüísticos.
45
2 INVESTIGANDO AS ATITUDES
estudantes do curso de graduação em Secretariado Executivo Trilíngüe foi orientada por dois
tipos de pesquisa. Utilizamos a técnica de avaliação direta a partir do uso de uma escala de
medição de atitudes, a escala de Likert, proposta pela Psicologia Social para a medição de
atitudes sociais, mas que vem sendo utilizada por pesquisadores em sociolingüística na
estudo de caso, visto que os princípios deste modelo descritos por Lüdke e André (1986) se
o fenômeno se situa, neste caso em Foz do Iguaçu, com alunos de uma turma
do curso;
37 Algumas pesquisas em Lingüística Aplicada utilizam-se de questionários fechados do tipo Likert-scale para
inferir crenças, a partir de uma abordagem normativa, de onde origina-se também o BALLI (Beliefs about
Language Learning Inventory). ABRAHÃO, M. H. V. Metodologia na investigação das crenças. In: Crenças e
Ensino de Línguas. Sâo Paulo: Pontes, 2006.
46
valorização do ambiente natural da pesquisa como fonte direta dos dados e seguindo o
princípio do pesquisador como principal instrumento de coleta e análise dos dados. Tarallo
interação com os membros da comunidade pesquisada, desde que sua presença não venha a
pertinente para o nosso contexto, visto lançarmos mão também de entrevistas individuais para
Nas seções a seguir, faremos uma breve descrição do contexto onde foi realizada a
por alunos do curso de Secretariado Executivo Trilíngüe para investigar atitudes e, também, a
descrição dos instrumentos de coleta de dados dos quais nos utilizamos no decorrer desta
Paraná, fronteira com dois países hispano-falantes, Paraguai (Cidade do Leste) e Argentina
(Porto Iguaçu). Foz do Iguaçu, que possui 309.113 habitantes segundo estimativa do IBGE de
julho de 200638, caracteriza-se pela riqueza de sua fauna e flora, tendo como parte de sua
paisagem o Parque Nacional do Iguaçu, onde estão localizadas as Cataratas do Iguaçu, ponto
turístico mais visitado da região e eleito patrimônio natural da humanidade pela Unesco.
Além de caracterizar-se pela exuberância natural, Foz do Iguaçu é uma cidade que
apresenta enorme riqueza lingüística e cultural, onde estão catalogadas 72 diferentes etnias
(WEBBER, apud ALVES, 2006, p.18)39 em uma área total de 617.70 km2, abrigando
comunidades lingüísticas das mais variadas, desde imigrantes oriundos de países árabes,
áreas indígenas em Foz e na região e, também, brasileiros vindos de diversos estados do país.
Iguaçu (do delta do rio), o território brasileiro já era habitado (...) por 324 almas, assim
descritas: brasileiros, 9; franceses, 5; espanhóis, 2; argentinos, 95; paraguaios, 212; inglês, 1”,
sem contar com os índios que já viviam na região. A variedade lingüística é notória na
mistura não só de línguas, mas de sotaques dos mais variados, o que nos permite dizer que a
lingüística da região, onde é possível ouvir a diversidade das línguas faladas, como o árabe, o
falantes do idioma saxão, além de outras línguas como o francês, o italiano e o alemão, o que
faz da cidade uma região multilíngüe e multicultural onde não só co-habitam estas línguas,
como as diferentes culturas de seus falantes. Foz do Iguaçu conta com templos religiosos para
49
centros de religiões afro-brasileiras, dentre outros credos, somados também à culinária variada
da cidade que inclui restaurantes de comidas típicas espalhados pela cidade (gastronomia
chinesa, japonesa, árabe, italiana, dentre locais onde é possível degustar da culinária dos
países vizinhos).
do Turismo, é a sexta cidade mais visitada por turistas estrangeiros do mundo inteiro os quais
visitam Foz do Iguaçu para contemplar a beleza das Cataratas do Iguaçu, conhecer a Itaipu
(Cidade do Leste - Paraguai e Porto Iguaçu - Argentina), dentre outros atrativos que a cidade e
a fronteira oferecem, destacando-se aqui o Marco das Três Fronteiras (na fronteira Brasil,
Marco Brasileiro das Três Fronteiras, localizado na região do Porto Meira, Foz do Iguaçu.
Fonte: www.iguassu.tur.br >.
50
Templo budista, localizado no bairro Porto Belo, Foz do Iguaçu. Fonte: < www.iguassu.tur.br >.
Foz do Iguaçu, que no início do século XX tinha uma média de 2000 habitantes, teve seu
51
1965 da Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai, e também da BR-277 (1969),
estrada que liga a cidade fronteiriça a Curitiba, capital do Paraná, até o Porto de Paranaguá,
As mudanças ocorridas em Foz do Iguaçu causaram, segundo Alves (2006, p. 24) “um
forte impacto em toda sua estrutura social, política, econômica e lingüística”, pois o
município teve de lidar com transformações para as quais não houve um planejamento prévio.
segundo Catta,
Foi ainda na década de 80, conforme Alves (2006) ressalta, que o comércio entre
atacadista exportador, fazendo com que vários comerciantes residentes em Foz do Iguaçu e
negócios.
Américas41, única a oferecer este curso na região, e cuja justificativa para inserção na oferta
(2001):
40 O contexto multicultural e multilingüístico de Foz do Iguaçu foi tema recente da pesquisa de mestrado de
cunho etnográfico sociolingüístico de Alves (2006), Aspectos lingüísticos e socioculturais da linguagem do
jeitinho brasileiro, na qual analisou a linguagem usada na manifestação da cultura do jeitinho brasileiro na
comunidade lingüística deste município.
41 A Faculdade União das Américas – Uniamérica, está localizada no bairro Jardim Universitário, próximo à
Usina Hidrelétrica de Itaipu. Homepage: < www.uniamerica.br >
53
neste curso é alicerçada em três grandes campos da formação acadêmica: a área de línguas e
utilizem as línguas portuguesa, inglesa e espanhola com fluência nas quatro habilidades
nas três línguas, além de “interpretar, traduzir e elaborar textos em idiomas estrangeiros, para
Tanto a língua espanhola quanto a língua inglesa oferecidas como línguas estrangeiras
das quatro habilidades lingüísticas, sendo os últimos períodos (do 6º em diante) com o
No que se referia ao da língua portuguesa, língua materna da maioria dos alunos, esta
apresentava42 como proposta uma carga horária de 1.152 horas para a área de línguas, o que
42 Ao longo da realização da pesquisa houve a revisão do Projeto Pedagógico do curso, em que foi alterada a
distribuição das disciplinas na grade do curso e, também, da carga horária, a qual foi expandida para um total de
54
representava 34,4% da carga horária do curso, sendo um total de 252 horas para o ensino de
língua portuguesa, 450 horas para o ensino de língua inglesa e 450 horas para a língua
espanhola.
Os objetivos, porém, nem sempre são contemplados com êxito, conforme observamos.
Muitos dos alunos do curso concluem a graduação com problemas na redação de textos na
modalidade formal em língua materna e outros sem atingir o nível de competência lingüística
nas línguas estrangeiras esperada pelo Projeto. Além disso, alguns afirmam enfaticamente não
gostar de estudá-las. Tal fato chamou-nos a atenção, pois tínhamos a hipótese de que a
escolha pelo curso já revelava afinidade com o aprendizado de línguas e atitudes positivas
com relação às línguas estrangeiras propostas (inglês e espanhol), além da possível motivação
Com base nesta constatação, optamos por pesquisar as atitudes lingüísticas dos alunos
línguas inglesa e espanhola, além de tentar averiguar seus sentimentos frente à língua
materna. À medida que os dados nos foram sendo apresentados, atitudes com relação a outras
línguas também surgiram, as quais estaremos abordando na apresentação e análise dos dados.
Importante ressaltar, também, que embora estejamos nos referindo à língua portuguesa como
a língua materna dos sujeitos, este dado se refere à maioria e não à totalidade, já que ao longo
da pesquisa averiguamos que alguns dos alunos têm outras línguas como língua materna
(alemão, espanhol e guarani), conforme trataremos com mais detalhes na subseção a seguir.
1.020 horas para a área de línguas. A turma pesquisada, no entanto, continuou alocada na grade proposta pelo
Projeto Pedagógico de junho de 2001, ao qual nos referimos nesta dissertação.
43 Referimo-nos aqui à motivação instrumental, a qual definimos na subseção Motivação integrativa X
motivação instrumental do capítulo em que tratamos das atitudes lingüísticas.
55
período para o término da graduação, devido ao fato de termos percebido que a maioria destes
estrangeiras, apesar de estarem sendo expostos a estas línguas em contexto formal por cerca
de três anos e meio. Por ser uma turma em conclusão, consideramos relevante observar suas
atitudes com relação a tais línguas procurando considerar se houve certa mudança de atitude
A turma possui um total de 18 alunos (17 mulheres e 1 homem)44, cuja faixa etária
região se reflete na composição da turma, em que, embora a maioria dos alunos sejam
No que tange à língua materna dos alunos desta turma, a maioria considera a língua
portuguesa como sua primeira língua, porém alguns relataram que aprenderam a língua
Filiação No. de
alunos
Brasileiros 14
Brasileiro e paraguaio 1
Brasileiros filhos de alemães 1
Brasileiro e espanhol 1
Argentinos 1
44 Ao longo da pesquisa, um aluno desistiu do curso, portanto os dados obtidos a partir da escala de mensuração
de atitudes - Likert-scale, a qual veremos a seguir - somam em um numero de 17 alunos.
56
consideramos relevante ressaltar que também a maioria dos alunos trabalha na área secretarial
No que se refere ao primeiro contato com as línguas oferecidas no curso, a maior parte
deles teve acesso ao inglês na educação básica e ao espanhol tanto na educação formal quanto
O perfil da turma caracteriza-se por sujeitos que em sua maioria têm a língua
portuguesa como língua materna, e o inglês e espanhol, línguas com as quais tiveram e têm
do Iguaçu ser fronteira com Argentina e Paraguai (países de língua oficial espanhola), a
maioria dos alunos afirma não ter tido contato com esta língua em um primeiro momento em
Embora somente 1 (um) sujeito tenha indicado inicialmente o espanhol como sua
língua materna, outros 2 (dois) sujeitos afirmam que o primeiro contato com a língua
outro de argentinos. O sujeito que considera espanhol sua língua materna é filho de brasileira
com paraguaio.
O sujeito que afirma ter a língua alemã como língua materna é filho de brasileiros
descendentes de alemães. Segundo seu depoimento, o alemão era a língua utilizada em casa,
por interesse dos avós em manter a língua viva. A língua portuguesa era falada em contexto
de Foz do Iguaçu, em que há representantes das línguas portuguesa (língua oficial), espanhol
geral, somente um instrumento de coleta de dados, utilizamos três diferentes formas de coletar
dados. Com este intuito, primeiramente utilizamos um questionário piloto misto que serviu-
nos de base para elaboração das entrevistas e do questionário tipo Likert-scale (doravante LS).
atitudes a partir deles, ou seja, o questionário piloto traz questões relativas às crenças dos
sujeitos, o que pensam com relação às línguas (componente cognitivo), mas também o
58
dados a partir dos três componentes; e, por fim, o questionário LS elaborado a partir das falas
e posicionamentos dos sujeitos nos instrumentos anteriores. Vale ressaltar que, embora os
instrumentos tenham tido o propósito de olhar todos os componentes das atitudes nos
estavam pautadas.
Lambert & Lambert (1972) afirmam que “as pessoas nem sempre revelam
abertamente suas atitudes” (Lambert; Lambert, 1972, p. 79), visto que aprendem a manter
certas atitudes “escondidas” em determinadas situações sociais, porém elas podem ser
inferidas a partir de escalas de medição que incluam, por exemplo, algum tipo de atitude que
comunidade lingüística.
presente ao longo da pesquisa como elemento fundamental para a própria leitura posterior dos
dados. No momento da aplicação dos instrumentos da pesquisa, atenção especial foi dada às
reações e comentários dos alunos. Nas subseções adiante tratamos com mais detalhes da
serviu como um questionário piloto45. Nosso propósito foi o de utilizarmos os seus resultados
Fishman (1970, apud FASOLD, 1984, p. 152) comentam que a postura ideal do pesquisador é
conduzir uma pesquisa piloto com questões abertas e usar os resultados obtidos nesta para a
fechadas, com o intuito de obter respostas mais objetivas a algumas questões (a exemplo da
obter respostas mais objetivas, conforme mencionado anteriormente, e obter respostas mais
pessoais em que os pesquisados pudessem expor suas atitudes (questões abertas, como a
45 Apêndice 1.
46 “Closed questions are much easier for respondents to deal with and are easy to score, but they force
respondents to answer in the researcher’s terms instead of their own. The ideal compromise is to conduct pilot
research with open questions and use these results to contract a closed-question questionnaire.” Agheyisi e
Fishman (1970 apud FASOLD, 1984, p. 152)
60
solicitamos aos alunos que marcassem as opções relativas a que associavam cada uma das
línguas.
dos dados posteriormente. Quando questionados sobre a que eles associavam a língua
portuguesa, por exemplo, a maioria dos alunos marcou todas as opções, embora indicássemos
que apenas duas deveriam ser consideradas. A partir disto, verificamos que para eles o
conteúdo perguntado não fazia muito sentido. Pareceu aos alunos um tanto óbvio que todas as
dados, muito mais do que coletá-los. Fasold (1984) comenta que um instrumento de avaliação
é válido somente se ele mede o que se propõe a medir. Apesar desta constatação, no entanto,
julgamos o instrumento positivo de uma forma geral, primeiramente porque ele serviu como
piloto e segundo porque as questões abertas revelaram algumas atitudes lingüísticas que
possivelmente os alunos se furtariam a revelar nas entrevistas orais, pois as atitudes das
pessoas não são necessariamente as mesmas de um período de tempo para outro, além de
mudarem suas atitudes em alguns contextos para reduzir a incoerência entre elas e seu
qual das línguas não gostavam, um sujeito registrou a afirmação: “O Espanhol, porque acho
vêm a corroborar os dados obtidos nos questionários, além de apresentar outros que
Resultados.
Como nossa proposta é analisar os dados dentro de uma perspectiva qualitativa e por
afirma que “o que as ações das pessoas significam para elas pode ser aparente a partir da
de um caso, seja a partir dos documentos, dos questionários, das entrevistas e também da
observação.
28), onde se inserem as entrevistas, notas de campo e análise documental. Fasold (1984)
também aponta para a observação como o método menos obstrutivo e que serve para coletar
especial foi dada às reações e comentários dos alunos ao longo da aplicação dos
Com a observação foi-nos possível coletar dados relevantes a partir dos comentários
dos sujeitos enquanto respondiam aos questionários e entrevistas. Neste sentido, citamos a
fala de um aluno no momento em que respondia qual das línguas considerava mais
importante:
Qual das línguas eu acho mais importante? É claro que é a minha, que é a
que utilizo mais. P.
Tal aluno refere-se à língua portuguesa como a mais importante, por ser a sua língua.
Neste exemplo evidenciamos o aspecto da identidade lingüística deste aluno, que embora seja
filho de pais argentinos, ter aprendido o castelhano em casa e o português na escola, a todo o
momento volta-se para a língua portuguesa como a sua língua materna, a língua com que mais
se identifica. Com base neste exemplo, ressaltamos mais uma vez a importância atribuída à
observação para esta pesquisa, visto que sem ela este dado seria perdido.
questionário piloto, em que buscamos coletar mais alguns dados não revelados e que nos
perguntas versavam principalmente sobre os sentimentos dos alunos com relação às línguas
oferecidas pelo curso, em que questionamos de quais das línguas mais gostavam e o por quê,
o que sentiam ao ouvir pessoas conversando em tal língua e o que cada uma das línguas
pesquisador pode guiar a conversa caso os indivíduos pesquisados tendam a mudar de assunto
e até mesmo aprofundar questões levantadas pelos informantes. Embora o autor julgue como
47 Apêndice 2.
63
uma desvantagem o tempo consumido para realização das entrevistas orais, consideramos este
instrumento de vital importância para nossa pesquisa, uma vez que foi através delas que
Dos 18 (dezoito) alunos, alguns não concederam entrevistas individuais para esta
pesquisa, o que se atribuiu ao fato de que, como as entrevistas foram realizadas nos dois
últimos dias das aulas do ano letivo, alguns deles já não compareciam todos os dias às aulas,
inglesa abordando principalmente o sentimento com relação a saber ou não a língua inglesa
Com base nos dados obtidos no questionário piloto e nas entrevistas criamos um total
marcar o nível de afinidade com cada afirmação proposta, desde concordo totalmente a
em relação à língua portuguesa, 10 questões versavam sobre atitudes com relação à língua
64
espanhola e as outras 10 com relação às atitudes frente à língua inglesa. Optamos por elaborar
apenas 5 questões relacionadas à língua portuguesa, visto que nosso intuito era identificar,
principalmente, se os mitos de que a língua portuguesa é uma língua difícil e o de que uma
minoria de falantes se utiliza do “bom português” fazem parte da crenças dos indivíduos
piloto, portanto consideramos desnecessário explorar este aspecto uma vez mais.
Psicologia Social, uma vez que este método para mensuração de atitudes é usado
metade são caracterizadas como favoráveis ao objeto atitudinal e a outra metade desfavorável,
com o intuito de evitar tendenciosidade, como por exemplo, discordar mais que concordar
(RODRIGUES, 200, p. 421). O nosso objeto atitudinal, neste caso, são as línguas e, para
tanto, elaboramos um total de 30 questões, visto considerarmos este número o mais adequado,
uma vez estarmos lidando com atitudes lingüísticas para com o português, o espanhol e o
inglês.
65
(Phillipson, 1992; Lacoste & Rajagopalan, 2005), a dificuldade apresentada pela língua
(Bagno, 2005; Scherre, 2005), bem como a banalização do aprendizado formal de língua
espanhola devido à proximidade da fronteira foram algumas das questões levantadas, as quais
Os dados fizeram com que emergissem algumas constatações, como uma atitude de
esta seção de Crenças e Mitos, visto que foi possível observar algumas destas crenças que
geram atitudes lingüísticas dos sujeitos, além de observar que os “mitos” com relação à língua
Retomando a definição de Lambert & Lambert (1972), as atitudes são formadas pelos
crenças, os mitos e tudo aquilo que faz parte do conhecimento individual e coletivo
(historicamente construído) do sujeito e que vem a provocar sentimentos dos mais variados
com relação ao objeto de sua atitude. Barcelos (2006) argumenta que as crenças são
(re) significação” (BARCELOS, 2002, p. 18). Neste sentido, as crenças não só geram reflexos
Os mitos, por sua vez, dentre outras definições apontadas por Houaiss (2001), podem
grupo, que narra e explica a origem de determinado fenômeno, ser vivo, acidente geográfico,
instituição, costume social etc”, ou ainda “afirmações inverídicas, disseminadas com fins de
indivíduo conquista ascensão social. Mitos estes que vêm sendo transmitidos historicamente a
partir de diversos veículos, acerca da língua portuguesa, bem como de outras línguas.
Partindo destes dois conceitos, pudemos listar algumas das afirmações trazidas a partir
do questionário-piloto e das falas dos sujeitos, as quais serviram de base para a elaboração do
A partir destas afirmações, algumas das quais se repetiram também na fala de outros
sujeitos, observamos uma forte crença de que o domínio do inglês é favorável para o êxito
cultura; a crença de que só se aprende uma língua estrangeira se houver um domínio grande
de sua própria língua, crença esta que vem sendo (re)produzida na escola a partir de falas
como não sabe nem o português... (MOITA LOPES, 1996); além da visão de língua de
67
prestígio do espanhol falado na Espanha implícita na última fala, o que estaremos abordando
em subseção adiante.
As afirmações acima nos orientaram para um olhar mais cuidadoso acerca dos mitos
que circundam a língua portuguesa, que trataremos na subseção É preciso falar o português
corretamente; o peso da dificuldade e inabilidade dos indivíduos com relação à língua inglesa,
comentado por Moita Lopes (1996) conforme veremos adiante; e o preconceito explícito com
relação à variedade da língua espanhola falada no país vizinho que trataremos em Espanhol:
destes indivíduos, caracterizados sob forma de crenças, mitos, representações com relação às
indivíduos frente a cada uma das línguas (inglês, espanhol, português e alemão).
itens comumente associados ao aprendizado de uma língua estrangeira, motivos estes pelos
68
línguas, incluindo filiais, só em Foz do Iguaçu)48, muitos pais matriculam seus filhos desde
Rajagopalan (2003) afirma que “as pessoas se dedicam à tarefa de aprender uma língua
estrangeira porque querem subir na vida” (RAJAGOPALAN, 2003, p. 65), uma vez que a
abaixo:
Afirmação: 1 2 3 4 5
É importante dominar outras línguas para conseguir oportunidades de 11 6
trabalho.
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Grosjean (1982), ao listar algumas das razões que levam ao interesse por uma outra
língua, comenta que uma delas é justamente educacional e cultural e que, ao longo da história,
algumas línguas e culturas dominaram a vida dos indivíduos pelo mundo, fazendo com que
O grego, depois o francês, já foi considerado a língua que dominava a vida cultural e,
hoje, o inglês tem assumido este papel de língua internacionalmente reconhecida da ciência e
da tecnologia (GROSJEAN, 1982). Percebemos, com isto, que esta busca pelo aprendizado de
uma língua estrangeira não se resume a adquirir conhecimentos em uma língua além da sua
língua materna, mas, em muitos casos, adquirir conhecimento de uma língua que seja
considerada de prestígio e que, por isso, venha a agregar um diferencial que possibilite a
Neste sentido, Rajagopalan (2003) faz uma contraposição entre o que chama de
“língua exótica” e “língua estrangeira”, em que a primeira seria uma língua considerada de
menor prestígio, como línguas indígenas, por exemplo, enquanto que o adjetivo “estrangeira”
seria reservado para designar uma língua que “conta com mais respeitabilidade que a língua
em somente um momento ao longo desta investigação outras línguas faladas na região oeste
do Paraná, como o guarani, outras línguas indígenas ou o árabe (cuja comunidade falante é
bastante expressiva em Foz do Iguaçu), foram cogitadas pelos sujeitos como possibilidade de
aprendizado. Os sujeitos colocam em primeiro lugar o inglês, seguido pelo espanhol, chegam
Em pesquisa realizada por Leffa (1991) sobre os conceitos que alunos de uma escola
pública de Porto Alegre-RS traziam sobre as vantagens de aprender uma língua estrangeira, o
pesquisador observou na fala deles que o conhecimento de uma nova língua (em especial o
inglês) proporcionaria viagens para o exterior e êxito nos estudos. O acesso à experiência em
70
lugar onde possivelmente teria oportunidade de comunicação em língua estrangeira. Sua fala
país de língua inglesa, língua tida como de maior prestígio, demonstrando sua atitude positiva
também manifesta sua atitude positiva com relação ao inglês, chegando a considerar a própria
língua estrangeira está ligada à auto-estima do aprendiz, que ao conseguir aprendê-la e utilizá-
71
la se sente mais útil, mais capaz, enquanto que um sentimento de inferioridade é expresso por
aqueles que não a utilizam com êxito, ou que não a compreendem, muitas vezes sendo tido
Perto de um estrangeiro você se sente muito bem. A gente se sente útil. Uma
vez me deparei com uma situação horrível. O primo do meu chefe me ligou
da Inglaterra e começou a falar comigo e eu não sabia o que fazer. (L.)
Tenho muita vontade de aprender, mas tenho muita dificuldade, tenho um
bloqueio. (V.)
Aprender uma outra língua é difícil. É uma nova língua, tudo é novo e cada
um tem suas dificuldades. (...) Tenho que começar lá do B A BÁ senão não
vou conseguir. Quando ouço alguém falando inglês, gostaria de falar
igualzinho, mas infelizmente (pausa). (M.)
Moita Lopes (1996) e Rajagopalan (2003) apontam que a língua estrangeira gera um
fascínio nos aprendizes em virtude de ser muitas vezes apresentada nas escolas, devido à
própria língua dos alunos, como o que percebemos na fala de V. acima ilustrada,
conhecimento que somente pessoas com “aptidão” para línguas seriam capazes de adquirir.
Este fascínio foi muitas vezes comprovado ao longo desta pesquisa, quando ao
referirem-se à língua inglesa comentam o que sentem ao ouvirem alguém falando o idioma:
49 Os depoimentos coletados nos questionários-piloto não foram identificados de qual sujeito de referem.
72
dificuldades em aprender línguas estrangeiras (em especial a língua inglesa) a uma grande
dificuldade da estrutura desta nova língua, que pela pretensa “falta de aptidão” não
A dificuldade não foi levantada pela maioria dos sujeitos com relação à língua
espanhola, porém 3 deles, que apontaram esta questão, consideram a falta de interesse como
conseguinte, a dificuldade.
os professores de línguas estejam atentos à sua prática de forma a promover atitudes mais
positivas, não só com relação às línguas, mas ao processo de aprendizagem das mesmas, pois
conforme Lambert & Lambert (1972) afirmam, formamos nossos pensamentos e crenças
(componente cognitivo das atitudes) “através de pessoas importantes em nosso mundo social”
partir da escala LS, percebe-se que esta é positiva, embora o motivo que compõe estas
atitudes (o componente cognitivo) seja distinto com relação a cada uma das línguas, como
veremos posteriormente. A maioria dos sujeitos (16 deles) afirma gostar de encontrar e de
ouvir pessoas que falam outras línguas e todos os sujeitos (17) afirmam ter interesse em falar
73
Afirmação: 1 2 3 4 5
Eu adoro encontrar e ouvir pessoas que falam outras línguas 8 8
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação: 1 2 3 4 5
Eu gostaria de falar outras línguas muito bem. 14 3
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação 1 2 3 4 5
É muito importante para mim aprender a falar outras línguas. 12 5
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
atitudes positivas dos sujeitos foram percebidas através do componente afetivo esboçado nas
falas, como a fascinação frente à língua do outro, desejo de prestígio e reconhecimento social,
vontade de transpor uma possível inabilidade de aprender determinada língua, a fim de que
não vivenciem uma situação horrível, de não conseguir se comunicar na língua estrangeira.
brasileiros frente a línguas estrangeiras, o que também nos foi possível comprovar. Segundo a
autora, estas atitudes positivas de “amor” às línguas estrangeiras podem estar ligadas a
problemas de identidade e auto-estima lingüística por parte dos brasileiros, o que estaremos
Trilíngüe. A oferta de línguas estrangeiras que possam agregar mais valor ao currículo de
em três idiomas, é o grande chamariz deste curso, que oferece 1.152 horas de um total de
indicadas, seguidas da língua portuguesa e, por fim, das Técnicas Secretariais, disciplina
motivou para o curso. Dos demais sujeitos, 7 deles indicaram a língua inglesa, 2 indicaram a
Vimos, com isto, que o aprendizado das línguas é de fato o que os motiva para o curso de
graduação, o que confirma mais uma vez a atitude positiva dos sujeitos frente às línguas
estrangeiras.
50 As terceira e quarta colunas referem-se a sujeitos que marcaram mais de uma opção, em que na segunda, 04
sujeitos indicaram o espanhol e o inglês e, na quarta linha dois sujeitos marcaram todas as línguas, embora tenha
sido pedido que indicassem somente uma alternativa.
75
A maior parte dos sujeitos da pesquisa não freqüentaram escolas de línguas, o que
também, segundo alguns deles, os motivou a buscar um curso de graduação que, ao mesmo
tempo em que ofertasse línguas estrangeiras, também os levasse para uma formação técnica
cuja função já vinha sendo desempenhada por alguns, uma vez que alguns já atuavam como
estrangeiras como “passaporte” para o sucesso profissional, como conhecimentos que irão
(...) o mundo do trabalho hoje está cada vez mais exigente. O mercado exige
muito então qualquer organização hoje exige que o funcionário saiba falar
outras linguagens. (L.)
Já no que se refere à escolha das línguas para o curso, as opiniões são divididas, em
1 2 3 4 5
As línguas oferecidas no meu curso são adequadas ao nosso contexto. 4 7 1 3 2
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Dos que discordaram somente um deles expôs sua opinião. Descendente de alemães,
questionou o fato de o alemão não fazer parte do currículo, visto que há presença expressiva
currículo, principalmente devido ao fato de que está alocada como estagiária no Projeto
Veículo Elétrico (VE) da empresa Itaipu Binacional, o qual necessita de pessoas com domínio
76
da língua alemã para negociações entre a empresa suíça parceira do projeto51. Segundo sua
informação, há poucas pessoas que sabem alemão na cidade e que, ao mesmo tempo, possuem
competência secretariais para atuarem como secretários (as), o que faz com que a língua no
Percebemos, a partir dos dados acima apresentados, que a proposta deste curso de
graduação vai de encontro a os interesses dos alunos que nele se inscrevem, ainda que nem
todos concordem com a escolha das línguas. Quando questionados, também, se houve
mudança de interesse nas línguas do início ao final do curso, a maioria deles se coloca de
forma positiva, comentando que ampliaram o interesse em aprender mais sobre as línguas,
ainda que durante o curso tenham tido dificuldades com relação às metodologias de ensino
propostas. Estes dados apontam mais uma vez para as atitudes positivas dos sujeitos frente à
Antes que possamos discutir as atitudes lingüísticas dos sujeitos com relação a cada
uma das línguas, cabe tecer algumas considerações sobre as línguas escolhidas para o
propósito desta pesquisa e seus respectivos domínios, os quais em contextos onde várias
línguas co-existem podem interferir nas atitudes lingüísticas dos sujeitos em relação a cada
51 O Projeto VE nasceu em 18 de maio de 2006, quando Itaipu assinou um acordo de cooperação tecnológica
com a Kraftwerke Oberhasli (KWO), empresa controladora de hidrelétricas suíças, para desenvolver um projeto
de pesquisa da viabilidade técnica e econômica de utilização de veículos movidos a energia elétrica. Fonte:<
http://www.itaipu.gov.br/ > .
77
Grosjean (1982), ao trazer o exemplo da Tanzânia, comenta que neste país o swahili é
a língua oficial, coexistindo com outras línguas locais e o inglês. Cada língua, segundo
aponta, tem seu próprio domínio, em que as línguas locais são usadas em contexto familiar,
dos hospitais, do governo e de encontros políticos. O inglês, por sua vez, é preponderante em
Hohental (1998) observa em sua pesquisa que a língua inglesa na Índia é tida como a
caracterizada como língua de poder, em detrimento das demais línguas faladas no país.
Embora o híndi seja também considerado língua oficial, o inglês goza de mais prestígio. A
Como resultado disso, as atitudes dos sujeitos com relação à língua inglesa terminam
por serem mais positivas do que com as línguas autóctones. Conforme aponta nos dados, “a
grande maioria (97%) dos informantes acham que, mesmo se não sabem o híndi, eles podem
52 Tradução nossa. “In India, English gradually acquired socially and administratively the most dominant roles:
the power and prestige of language was defined by the domains of language use. Ultimately the legal system, the
national media and important professions were conducted in English”.
78
Tomando como exemplo uma situação mais próxima da realidade desta pesquisa,
podemos mencionar o caso do Paraguai, onde o espanhol e a língua indígena guarani são
A divisão de funções entre o guarani e o espanhol fez com que um alto grau
de bilingüismo se mantivesse: o guarani é a língua de áreas rurais, da
família, emoções e amizade, enquanto que o espanhol é a língua de ocasiões
públicas, das escolas, do exército, de assuntos oficiais. (GROSJEAN, 1984,
p. 10)
Embora o espanhol ocupe domínios de poder (escola, exército, assuntos oficiais, por
exemplo), o autor aponta que o povo paraguaio expressa uma atitude de orgulho de sua língua
nativa, pois compreendem que é esta língua que funciona como forma unificadora do
Paraguai.
domínios lingüísticos são claros podem ser percebidas no uso de diferentes línguas por
não representam a maior parte da população de Foz do Iguaçu. No caso destas comunidades, a
comunidade árabe, por exemplo, a língua árabe é falada em casa ou em outras situações com
domínios com outras línguas, como o inglês e o espanhol. De forma geral, não se trata,
portanto, de domínios específicos para cada uma delas - uma língua ou outra em certos
53 Tradução nossa. “The great majority (97%) of the informants think that even if they did not know Hindi, they
still would get a job.”
79
curso dentro do município de Foz do Iguaçu, bem como da língua alemã, a qual foi
enfaticamente mencionada por dois sujeitos54. Não inserimos a língua portuguesa, visto que,
utilizada com propósitos de turismo. O inglês figura como disciplina não só da grade do curso
oferecidos por outras instituições de curso superior de Foz. Além disso, conforme apontamos
inglês.
parentes de dois dos sujeitos residem no exterior (Canadá e Estados Unidos da América).
Meu filho mora em Nova Iorque há três anos. Minha nora é americana. (M.)
54 A tabela apresenta os domínios a partir da pesquisa com os sujeitos escolhidos para fins desta investigação e
da proposta de observar as atitudes frente às línguas presentes na grade curricular do curso, por isto outras
línguas faladas na região não estarão sendo abordadas, com exceção do alemão e guarani.
80
Paraguai e Argentina, esta língua está presente em contextos dos mais diversos: relações
com bastante freqüência, sendo que dois deles em contexto familiar, em que um deles é filho
Eu uso o espanhol porque trabalho na Itaipu. (...) Eu tenho muitas vezes que
fazer documentos em espanhol no trabalho. Além disso, meus primos moram
na Argentina e sempre que posso tento falar espanhol. (E.)
Embora dois sujeitos sejam descendentes de alemães, somente um deles utiliza alemão tanto
Os demais sujeitos, por não terem muita desenvoltura com as línguas, utilizam-nas
curso frente à demanda lingüística da região, além de apresentar a realidade lingüística dos
sujeitos, os quais convivem diariamente com tamanha diversidade lingüística, seja somente
espanhola deu título a esta subseção. A língua inglesa foi considerada mais importante que a
segunda pela maioria dos sujeitos no questionário-piloto, devido ao valor que esta língua
hipoteticamente agrega ao currículo e, com isto, pode abrir portas para o mercado de
trabalho. Já a língua espanhola, além de ter sido apontada como importante devido ao
contexto de fronteira, foi caracterizada como a língua que remete a manifestações culturais:
apontou como muito importantes cada uma delas, porém o inglês foi a língua estrangeira mais
línguas consideravam a mais importante chamou-nos a atenção o fato de que somente 2 (dois)
sujeitos classificaram a língua espanhola como a mais importante, mesmo estando esta língua
presente em contexto de fronteira e sendo esta uma das línguas importantes para a Itaipu
Binacional, onde a maioria dos alunos realizaram seus estágios. Dos demais sujeitos, 8 (oito)
deles classificaram a língua portuguesa e os outros 8 (oito) afirmaram ser a língua inglesa a
mais importante.
Vale abrir um parêntese para ressaltar que durante a análise de dados foi observado
que um dos sujeitos havia primeiramente marcado a língua inglesa como a mais importante,
porém corrigiu e marcou a opção língua portuguesa. Tal atitude chamou-nos a atenção para
questões de identidade lingüística, visto que na pergunta subseqüente este sujeito atribui a
importância desta língua ao fato de ser sua “língua materna”. Neste sentindo, Hall (2005, p.
49) aponta que “as pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação, elas participam
da idéia de uma nação tal como representada em sua cultura nacional”. A língua, neste caso, é
uma das idéias que representam a cultura brasileira, por isso o sentimento de lealdade e
Uma outra leitura dessa atitude pode ser a de sua escolha estar atrelada ao que seria
mais “politicamente correto”, ou seja, sua atitude poderia estar associada ao que seria
considerado mais adequado pela maioria das pessoas. Devido ao fato de ser brasileiro, marcar
como mais importante uma língua estrangeira estaria ferindo uma concepção de identidade
nacional. Então o sujeito, como forma de adequar-se ao grupo maior, elege a língua
portuguesa, como mais importante, ainda que, intimamente, pense que seja a língua inglesa.
Lambert & Lambert (1972) afirmam que “os indivíduos protegem seus valores e atitudes
Neste caso, o argumento de que a língua portuguesa é a mais importante por ser sua língua
materna é o argumento de apoio para que este indivíduo proteja sua atitude de valorização da
língua estrangeira.
opções que mais correspondiam ao que associavam tal língua (inglês, espanhol ou português),
A maioria dos sujeitos que elegeram a língua portuguesa como mais importante
mencionado, um aluno afirmou que era mais importante por ser a sua língua materna.
atitudes dos sujeitos a partir da escala LS obtivemos esta comprovação, pois a maioria dos
sujeitos concordam com este “diferencial” que o conhecimento da língua inglesa proporciona
na competitividade por melhores chances no mercado de trabalho - razão esta que nos levou a
Vejamos os dados:
Afirmação: 1 2 3 4 5
O inglês é extremamente importante para o mercado de trabalho. 13 4
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação: 1 2 3 4 5
Quem não sabe inglês hoje em dia não tem muitas oportunidades de 2 13 2
trabalho.
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Phillipson (1992) argumenta que várias têm sido as práticas que legitimam a
próprio sistema educacional que coloca o inglês como a língua que promove o acesso à
tecnologia, a língua que traz idéias modernas e que representa uma “ponte” para melhores
84
comunicações (sociais ou profissionais), melhor educação, alto padrão de vida. Podemos dizer
que este é o motivo pelo qual a maioria dos sujeitos (16) “sentem falta” de saber esta língua.
Afirmação 1 2 3 4 5
Não sinto falta de saber a língua inglesa. 1 8 8
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
bastante variadas, não sendo possível perceber a que atribuíam tal importância. No entanto, ao
serem questionados sobre a que associavam o idioma, verificamos que língua espanhola é,
para a maior parte dos sujeitos (14), “sinônimo” de cultura. Entendemos cultura, neste
sentido, como conjunto de práticas, símbolos e representações que distinguem uma de outra
(SANTOS, 1983; HALL, 2005), tal qual a língua, a religião, os costumes, música, tradições.
Santos (1983) afirma que podemos entender cultura a partir de duas concepções, em
que “a primeira concepção remete a todos os aspectos de uma realidade social; a segunda
1983, p. 23). A partir das falas dos sujeitos, vimos que a cultura a que se referem está ligada à
primeira concepção que Santos aborda, ou seja, aquilo que caracteriza um grupo, um povo e
aquilo que os distingue dos demais, a partir das práticas, manifestações artísticas, lendas,
A associação que os sujeitos fazem entre língua espanhola e cultura foi também
O espanhol é uma língua excitante, uma língua quente, acho que por causa
dos filmes que assisti. (...) Eu associo a língua espanhola à cultura espanhola,
por isto que disse que é uma língua quente. As danças, culturalmente
falando. (L.1)
Eu gosto dos filmes, das danças, das comidas, acho que é mais a questão da
cultura. (I.)
85
que a língua é tida como repositório de manifestações culturais que remetem ao prazer, como
as danças, comida, celebrações, portanto uma língua mais agradável. Vimos com isto que,
embora não considerem o espanhol mais importante que o inglês, é uma língua da qual
gostam muito e que têm interesse em aprender, conforme observamos nos dados.
Afirmação: 1 2 3 4 5
Não me interesso muito em aprender espanhol. 1 1 8 6
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
em termos profissionais e de expansão internacional. Vimos com isto que as atitudes dos
sujeitos frente a esta língua é mais observável a partir do componente cognitivo, ou seja, as
crenças dos indivíduos, as representações que fazem parte desta língua e mitos que externam,
Nas subseções a seguir apresentaremos mais dados acerca das atitudes lingüísticas
A partir dos dados apresentados, foi-nos possível observar que a importância da língua
inglesa é ponto pacífico para a maioria dos sujeitos desta pesquisa. Falar aqui da importância
86
atribuída à língua inglesa parece redundante, no entanto queremos discutir nesta subseção
inglês agrega valor ao currículo, que o inglês é uma língua importante para o contexto de Foz
outros dados:
Afirmação: 1 2 3 4 5
O inglês é uma língua muito importante na nossa região. 4 8 4 1
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação: 1 2 3 4 5
A língua inglesa é a língua do mundo globalizado. 5 9 1 1
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
O inglês é importante porque talvez seja uma língua muito usada hoje em
dia. Para tudo que você precisa hoje, o inglês está envolvido. Acho que é a
segunda língua mais falada no mundo, se não for a primeira língua hoje em
dia. (V.)
Tenho cada vez mais interesse em aprender inglês por ser a língua essencial
para a globalização. (J.)
Rajagopalan (2004) comenta que a língua inglesa, não só no Brasil como no mundo
inteiro, tem sido um grande negócio, pois deixou de ser língua para ser mercadoria. O
lingüista comenta que, por isso, “o público em geral resignou-se há bastante tempo ao fato de
87
12).
Gardner (apud SPOLSKY, 1989) argumenta que há dois tipos distintos de atitudes em
que um se refere às atitudes com relação a pessoas que falam uma língua e outro se refere ao
uso prático que o aprendiz poderá fazer da língua. Segundo o pesquisador, os efeitos destes
dois tipos de atitudes são diferentes, pois enquanto que o primeiro é extremamente consistente
e leva ao êxito, o segundo gera uma gama de resultados diferentes: desde o êxito ao
fortalecimento de atitudes negativas. Estes tipos de atitudes a que Gardner se refere estão
representações. A motivação instrumental, por sua vez, reflete uma postura mais prática de
aprendizagem da língua, fruto de atitudes positivas ou não (ELLIS, 1992). Pode-se querer
aprender uma língua, sem que necessariamente se deseje conhecer ou fazer parte do outro.
A partir dos dados, observamos que a atitude dos sujeitos frente à aprendizagem de
inglês está muito mais relacionada ao desejo de integrar-se a esta representação de mundo
motivação para aprender a língua inglesa surge não só da necessidade de acompanhar e fazer
Afirmação: 1 2 3 4 5
Quero muito aprender o inglês para conseguir melhores oportunidades. 7 9 1
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Leffa (2001) afirma que muitas vezes o aluno opta por estudar a língua inglesa não por
gostar da língua em si, mas “por uma motivação instrumental, por uma imposição do mercado
que expõe as cartas enviadas a amigos brasileiros durante o período em que esteve nos EUA e
nas quais revela seu sentimento com relação ao domínio da língua inglesa e o desejo de
Aí no Brasil eu me senti diminuído por ver meus amigos falando inglês com
algum estrangeiro. Diminuído. Vou te trazer uma confissão: para
impressionar uma menina, eu já cheguei até a pegar um livro de inglês e
ficar ali, horas, fingindo ler inglês. Chegava até a voltar a página para
conferir algo. (...) Posso me tornar o maior humorista do mundo, mas serei o
mais merda dos homens se não falar inglês. (HENFIL, 1983, p. 19).
muitos estudantes a buscar aprendê-la, ainda que não visualizem oportunidades reais de uso
desta língua. Muito mais que o desejo de integrar-se e conhecer uma cultura de um país de
língua inglesa, prevalece o desejo de integrar-se a este ideal global em que quem não sabe
inglês não é um bom cidadão do mundo (Rajagopalan, 2004, p.12). É a língua como
globalizado.
89
Todos os sujeitos colocam a satisfação pessoal como um dos motivos que os levam a
querer dominar a língua inglesa, mesmo que não venham a utilizar esta língua.
Afirmação: 1 2 3 4 5
Quero muito aprender a falar o inglês fluentemente para satisfação 10 7
pessoal.
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Seguem alguns depoimentos dos sujeitos que nos levaram a esta constatação:
Já coloquei na minha cabeça que depois que terminar a faculdade vou fazer
um cursinho de inglês. Eu tenho que, pelo menos entender (...) nem que eu
não tenha que utilizar ele na minha vida, mas vou aprender. (I.).
Outro dia eu tava na rodoviária, tinha uma moça perdida e ela precisava de
ajuda e falava inglês. Só que eu não tentei falar inglês, fiquei com medo. Daí
eu perguntei “Do you speak Spanish?” Ela falou “si, si” e ajudei ela em
espanhol. Mas fiquei com uma vontade enorme de ter falado inglês com ela.
(L.1).
Foi-nos possível observar, assim, que as atitudes lingüísticas dos sujeitos com relação
à língua inglesa são positivas, formadas por um misto de crenças (componente cognitivo)
sobre os benefícios que esta língua é capaz de promover e as oportunidades que alcançarão
aprendizado desta língua, desejo de ser pessoa de êxito, prestígio capaz de interagir na língua
do sucesso. Por este motivo, a língua inglesa é tão “fascinante”, segundo um sujeito aponta, é
positivas, de uma forma geral, embora os resultados obtidos tenham sido paradoxais nos
diferentes instrumentos de coleta, motivo este que inspirou o título desta subseção. Ora os
sujeitos indicam que a língua espanhola é muito importante, ora nem tão importante quanto o
inglês. Em outros momentos afirmam gostar muito do espanhol por ser língua agradável e
bonita, ora manifestam atitudes negativas com relação a algumas variedades do espanhol. A
Boa parte dos sujeitos considera o espanhol uma língua fácil (11 sujeitos) e com a qual
se identificam devido à proximidade com a língua portuguesa (8 sujeitos), além de, como já
abordado, ser uma língua que associam ao prazer, a “língua da cultura”. Os sujeitos, em geral,
Afirmação: 1 2 3 4 5
O espanhol é uma língua extremamente importante 10 7
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação: 1 2 3 4 5
É preciso saber espanhol muito bem em nosso contexto. 3 14
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
apontado como a língua mais importante em oposição ao inglês. Constatamos que o espanhol
é de fato uma língua importante para os sujeitos, porém a língua inglesa vem em primeiro
lugar, apesar da configuração geográfica de Foz do Iguaçu colocá-los em contato direto com a
argentinos, e por isto não precisam se debruçar nos estudos para ter um mínimo de
comunicação na língua. A tabela abaixo aponta para que 7 sujeitos concordam com a
Afirmação: 1 2 3 4 5
Não é necessário aprender muito espanhol para me comunicar. 1 6 1 8
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Percebemos, assim que aprender ou não o espanhol em situação formal não os impede
de se comunicarem e interagirem na língua, razão esta que leva alguns não se importarem
tanto com a língua no contexto educacional. A língua inglesa, ao contrário, por ser muito
distinta da língua portuguesa, demanda mais comprometimento nos estudos para que possam
minimamente compreendê-la e interagir nela. Vale ressaltar que o rendimento destes sujeitos
na língua espanhola é positivo, o que não ocorre com a língua inglesa, como afirmam.
atitudes lingüísticas dos sujeitos frente às variedades da língua espanhola falada na tríplice
Afirmação: 1 2 3 4 5
Eu quero falar o espanhol da Espanha. 1 3 12 1
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação: 1 2 3 4 5
Eu quero falar o espanhol do Paraguai. 1 9 4 3
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Afirmação: 1 2 3 4 5
Eu quero falar o espanhol da Argentina. 3 12 2
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
55 Embora utilizemos aqui as denominações espanhol da Argentina e espanhol do Paraguai, reconhecemos que
a língua espanhola (ou castelhano) falada nos países não representa uma unidade. Reconhecemos que a
variedade lingüística existe no território dos dois países, como naturalmente ocorre com qualquer língua.
Utilizamos as denominações, portanto, de forma didática e com o objetivo de utilizarmos termos que fazem parte
da linguagem dos sujeitos, já que eles próprios utilizam tais denominações.
93
acerca de uma variedade mais prestigiosa. Para alguns sujeitos, o Paraguai é um país que goza
de menos prestígio, por isso a variedade da língua falada no país, que também conserva traços
favor da afirmação, 4 são indiferentes e 5 deles discordam. Ainda que não haja diferença
numérica muito expressiva, percebe-se que quase a metade dos sujeitos (41%) concorda com
Afirmação: 1 2 3 4 5
O espanhol da Espanha é mais bonito que o do Paraguai e da Argentina. 3 4 4 4 2
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Interessante foi constatar, no entanto, que a maioria dos alunos que têm contato direto
no trabalho com a língua espanhola o fazem com falantes paraguaios e não argentinos.
Percebemos, assim, que há uma atitude lingüística de indiferença com relação à variedade da
Gosto do espanhol, mas não considero importante. São raros os lugares onde
falamos espanhol. (I.)
fronteira, não foi a variedade dos países vizinhos que o motivou a aprender a língua, o que
No segundo caso, o sujeito explicita seu desinteresse pela língua, já que na fronteira
fronteira é menos válido que o espanhol falado nas grandes cidades. Com isso percebemos o
mito de língua pura, que não só se apresenta com relação á língua portuguesa, mas com
qualquer língua.
Foi-nos possível perceber que as atitudes lingüísticas dos sujeitos com relação à língua
espanhola são bastante variadas. A língua espanhola é a língua que ao mesmo tempo que
proporciona o prazer, devido às manifestações culturais a que os sujeitos têm acesso, é uma
faladas na região são menos valorizadas. Acrescenta-se a isto a semelhança que a língua
possui com a língua portuguesa, língua materna da maioria dos sujeitos, o que faz com que a
A partir de então, podemos afirmar mais uma vez, que as atitudes lingüísticas com
relação ao espanhol são positivas de uma forma geral, desde que levadas em conta as
diferentes questões levantadas acima. Encaminhamos, assim, estas questões para futuras
investigações, visto os dados obtidos não nos permitiram um aprofundamento mais detalhado
uma das afirmações utilizadas no questionário LS, a partir da fala de vários sujeitos, já
expressando suas atitudes lingüísticas com relação a este idioma que “quando perfeito é como
uma canção”.
nos ao constatar que uma grande maioria de sujeitos evidenciavam o componente cognitivo
de suas atitudes, ou seja, os mitos que (re)produzem atitudes de preconceito (BAGNO, 2005).
Dos 8 sujeitos que diziam gostar da língua portuguesa mais do que das línguas
É preciso também saber e falar corretamente. É muito feio ouvir uma pessoa
se expressar de forma incorreta.
de normas gramaticais se confirma nos dados trazidos por mais 3 sujeitos. Quando
questionados sobre qual língua era a mais difícil de aprender (questão 12 do questionário-
de todos os sujeitos frente a estas afirmações. Surpreendeu-nos o fato que a grande maioria
(16 sujeitos) concorda que há necessidade de usar o português de forma correta, ou seja,
Afirmação: 1 2 3 4 5
É preciso falar o português corretamente. 10 6 1
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Dos 17 sujeitos, 12 deles repetem o senso comum de que, em geral, as pessoas não
Afirmação: 1 2 3 4 5
As pessoas em geral não sabem falar o português. 3 9 2 3
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
língua bonita, todos os sujeitos concordam, ficando expresso o mito de que a língua
portuguesa só é bonita quando falada de acordo com as normas gramaticais, de acordo com a
norma-padrão56.
Afirmação: 1 2 3 4 5
O português, quando bem falado, é uma língua bonita. 6 11
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente
Calvet (2002) aponta que em todos os países há regiões em que a língua é considerada
mais pura ou variedades consideradas melhores e mais bonitas que outras, as quais ditam o
Bagno (2005) comenta que estas afirmações são mitos, parte integrante de um
56 Segundo Bagno (2006) embora o termo norma-culta ainda seja amplamente utilizado, muitos lingüistas têm
proposto o termo norma-padrão, que soa mais adequado frente a outros termos como língua padrão, variedade
padrão, etc. O autor explica que a palavra norma explicita a idéia de normatização, de regras, enquanto que a
palavra padrão nos remete à idéia daquilo que é arbitrário, convencionado como mais adequado segundo
critérios de uma camada social de prestígio. Sendo assim, o uso do termo norma-padrão, conforme menciona,
serve para caracterizar algo que “está fora e acima da atividade lingüística dos falantes” (BAGNO, 2006, p. 64).
97
a gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por sua vez provoca o
surgimento da indústria do livro didático, cujos autores (...) recorrem à
gramática como fonte de concepções e teorias sobre a língua (BAGNO,
2005, p. 73-74).
verificamos o quanto esta noção de língua “correta” está inculcada na visão destes indivíduos.
em uma modalidade formal padrão voltada para comunicação empresarial, contextos formais
e acadêmicos, não tendo como prioridade problematizar questões sociais de uso da língua, o
que parece contribuir, muitas vezes, para a manutenção da visão de língua correta ou língua
incorreta.
Secretariado Executivo Trilíngüe, visto que estes atuarão em contextos formais, onde o
57 Anexo.
98
de que estas questões não passem despercebidas, de forma que a noção de “erro”, tão
ideologicamente carregada, seja substituída por uma noção de “inadequação”. Neste sentido,
muito difícil, apontando uma atitude negativa com relação à própria língua.
Afirmação: 1 2 3 4 5
O português é uma língua muito difícil. 5 3 7 2
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Scherre (2005) argumenta que estes enunciados “significam em verdade, que não sei
Bagno (2005) coloca que esta crença é fruto não só das gramáticas normativas que
ditam o português do Brasil correto a partir de uma variedade idealizada, mas também da
escola, em conseqüência disso, persistir em ensinar regras, estruturas que não fazem parte da
realidade da língua portuguesa viva, utilizada pelos brasileiros. O autor argumenta que
Importante ressaltar, neste sentido, que a comunicação verbal e escrita dos sujeitos
desta pesquisa se dá, de forma geral, de maneira bastante eficiente e adequada, haja vista a
maioria dos sujeitos concorde com a afirmação de que as pessoas em geral não sabem falar o
Afirmação: 1 2 3 4 5
Eu não sei muito português. 1 4 10 2
1 concordo totalmente; 2 concordo; 3 indiferente; 4 discordo; 5 discordo totalmente.
Tal afirmação é interessante, pois o sujeito menciona que antes do curso não conseguia
se expressar na própria língua, o que só foi possível após estudo. Isso confirma o mito de que
as pessoas em geral não sabem português, visto que o sujeito assume ter tido seu português
identificação com a língua portuguesa é gerado não só pelo fato de ser a língua materna, mas
também regido pela técnica, pela gramática. Seguem alguns dos comentários dos sujeitos ao
serem questionados de que línguas mais gostavam e com qual mais se identificavam:
100
padrão e não somente da afinidade com o imaginário de cultura nacional do qual a língua faz
lingüística por parte dos brasileiros, que não se consideram usuários competentes de sua
própria língua em função dos mitos acerca desta língua (BAGNO, 2005; SCHERRE, 2005).
Dado o exposto, podemos afirmar que as atitudes lingüísticas dos sujeitos são
Embora não enfoquemos o alemão neste trabalho, abrimos um parêntese para esta
língua, não só devido à presença de dois sujeitos que trazem um histórico desta língua em
contexto familiar, mas principalmente por, em seus depoimentos, revelarem suas distintas
atitudes frente aesta língua. Consideramos relevantes estes dados para nosso estudo de caso,
uma vez que, como mencionado anteriormente, o município de Foz do Iguaçu se caracteriza
A princípio, quando voltamos nosso olhar para as línguas oferecidas pelo curso não
prevíamos a riqueza de dados que nos seriam apresentados a partir do histórico de dois
101
estes dados vieram a nós de maneira muito pertinente. Atitudes com relação à língua, atitudes
com relação aos falantes da língua, atitudes e identidade, atitude de rejeição e motivação
foram todas observáveis a partir de dois únicos exemplos, por isso reservamos esta subseção
Fasold (1984) comenta que “as atitudes lingüísticas são uma forma de entender como a
língua é usada como um símbolo de pertença a um grupo” (FASOLD, 1984, p. 158). Não só
de pertença, comprovamos, mas de rejeição ao mesmo grupo que ora fez parte do histórico
lingüístico pessoal.
O primeiro caso que trazemos é o de B., neta de alemães. Embora seus pais sejam
brasileiros, ela afirma que em sua casa falavam somente em alemão como forma de preservar
Quando questionada sobre sua língua materna, ela afirma ser o alemão e não o
português, pois, embora tenha nascido no Brasil, a língua portuguesa foi aprendida na escola.
Para ela a língua portuguesa é uma língua obrigatória, a qual ela teve que aprender, porém sua
58 P. Pesquisadora.
102
Ao longo da conversa, B. afirma ter uma relação muito forte com sua família, pois
todos estavam sempre unidos em todos os momentos. A língua alemã faz parte deste
sentimento de união presente em sua família, representando para ela o vínculo que possui com
seus avós, pais e irmão. A cultura nacional em que estamos inseridos constitui fonte de
identidade cultural, segundo Hall (2005), no entanto, embora B. tenha nascido em território
sua família preserva uma língua que faz parte de um distinto sistema de representações.
Relatamos aqui um outro fato que contribuiu para esta análise. A aluna estava em fase de
e em espanhol, além do português, já que estas línguas fazem parte do conceito de “trilíngüe”
explicitados pelo curso. B. insistiu em fazer o resumo também em língua alemã, pois segundo
Quando Lambert & Lambert (1972) apontam que as atitudes são uma forma de nos
mundo social” (LAMBERT, LAMBERT, 1972, p. 105). Para B. sua família são estas pessoas
importantes com quem ela aprendeu atitudes positivas com relação à língua alemã.
Não só com relação ao alemão, mas com as demais línguas, B. possui uma atitude
bastante positiva. Segundo ela, aprender línguas é extremamente importante, pois aprendendo
103
uma língua é possível aprender uma nova cultura. Sua leitura faz sentido, pois Lambert (apud
B., hoje, utiliza o alemão, português, inglês e espanhol com naturalidade em diversos
Além de suas atitudes lingüísticas positivas com relação a estas línguas, B. se põe
Eu fico o dia inteiro na usina. Então fico tentando ouvir as pessoas, aprender
palavras novas, pegar gírias. Quando ouço guarani então, fico com o ouvido
bem esticadinho para ver se entendo alguma coisa. Todas as línguas têm um
charme especial.
O segundo caso é o de I., também neta de alemães. Diferente de B., seu histórico com
a língua alemã não guarda boas recordações. Segundo conta, a língua alemã era utilizada em
casa entre seu pai e seus avós paternos, mas não havia interesse destes em ensinar a língua
para os demais membros da família, ficando o uso da língua restrito a este grupo. Conforme
59 Tradução nossa. “(...) if the student is to be successful in his attempt to learn another social group’s language
he must be both able and willing to adopt various aspects of behaviour, including verbal behaviour, which
characterize members of the other linguistic-cultural group”.
104
conta em depoimento, embora o alemão seja uma língua em contato, dentro do seio familiar, é
tido como uma língua estrangeira. Esta caracterização não se deu somente pelo fato de ter
nascido no Brasil, mas pela própria relação que desenvolveu com a língua ao longo de sua
experiência.
à língua, pois ela associa a língua a uma possível inabilidade de aprender, reforçada pelos
familiares que utilizavam o alemão, também, quando não queriam que os demais membros
Eu tenho que superar esse trauma que tenho com línguas estrangeiras, então
para mim é um objetivo para resolver todos esses traumas anteriores. Acho
que é um trauma porque eu odiava. Minha avó e meu pai começavam a falar
em alemão para eu não entender e eu começava a odiar. Então de tanto eles
irritarem a gente, eles falavam mal da gente, então você ficava sempre
pensando que eles estavam falando mal da gente e irritava mais. Daí eu
transferi isso para outras línguas.
Percebemos que I. é consciente de suas atitudes negativas com relação à língua alemã
e justifica sua falta de traquejo com as outras línguas estrangeiras devido a esta experiência.
Embora tenha cursado três anos do curso, não consegue utilizar nem a língua inglesa nem a
comportamentos “são, ao mesmo tempo, lingüísticos e sociais: há por trás deles relações de
forças que se exprimem mediante asserções sobre a língua, mas que se referem aos falantes
105
60
dessa língua” (CALVET, 2002, p. 77) . Posteriormente, I. nos revelou, também, sua
Minha avó era super racista, queria que todo mundo soubesse alemão. Azar
o dela, nenhum neto aprendeu a falar alemão.
Não saber a língua alemã era uma forma de resistência à sua avó e, por conseguinte, à
língua que fazia parte daquela identidade. Ao tratar da resistência à língua inglesa,
Rajagopalan (2005) comenta que esta é uma forma de se posicionar diante do idioma e tudo o
que ele representa. No caso de I. a rejeição ao alemão é a forma de que ela dispõe para se
posicionar frente a sua avó, pois conforme coloca “Azar o dela, nenhum neto aprendeu a falar
alemão”.
A partir dos dois distintos olhares, os sujeitos construíram suas atitudes lingüísticas
vida. A natureza das atitudes é condicionada pelas experiências e pela cultura (FISHMAN,
lingüística” (FISHMAN 1981, p.119)61, o que foi percebido ao longo da análise de dados.
que hoje utiliza somente a língua portuguesa. Nestes dois casos, pudemos averiguar, portanto,
aprendizagem de uma língua, enquanto que atitudes negativas, como é o caso de I., podem
60 Calvet (2002) em seu capítulo sobre comportamentos e atitudes lingüísticas, não apresenta uma clara
definição e distinção entre atitudes lingüísticas e comportamentos lingüísticos. Segundo seus exemplos as
atitudes referem-se aos sentimentos, enquanto que os comportamentos são as manifestações destes sentimentos
com relação à língua, variedade ou falantes de tal língua ou variedade.
61 Tradução nossa. “Acquisition of language attitudes is part of the process of linguistic socialization”.
106
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que pensamos sobre uma língua, grupo lingüístico ou variedade se reflete no que sentimos por
ela e nas nossas ações com relação a ela. Pensamentos que são construídos social e
sentimento de identidade inabalável pela língua e sua cultura. Assim, observamos as atitudes
lingüísticas dos 18 sujeitos desta pesquisa com relação ao português, inglês, espanhol e
alemão.
qualquer outra discussão, falar de língua e sociedade, visto que as atitudes se constroem e se
com a seção Língua e sociedade: um casamento indissolúvel, onde também situamos nosso
trabalho na Sociolingüística, ainda que tenha seja pesquisado também em outras áreas do
identidade, além de chamar a atenção para o olhar dos professores de línguas acerca da
formal.
107
a escolha e perfil dos informantes, a elaboração e aplicação dos instrumentos de coleta dos
dados. Buscamos realçar a pertinência do tema desta pesquisa em uma região como Foz do
mensurar atitudes lingüísticas frente a três línguas, depois quatro (o alemão), vimo-nos
imersos em muitas questões que ao mesmo tempo em que não poderíamos deixar de
De forma geral, pudemos responder as perguntas elaboradas para fins desta pesquisa.
línguas, línguas que sejam em especial de prestígio. Vimos também que as atitudes frente à
língua inglesa são positivas, gerando motivação para aprendê-la, pois os sujeitos admitem que
No que se refere ao espanhol, verificamos que as atitudes são diversas, pois ao mesmo
“língua da cultura”, a língua que traduz sentimentos de satisfação, do prazer das festas, das
As atitudes com relação à língua portuguesa são positivas no que tange a norma-
padrão, pois o componente cognitivo das atitudes dos indivíduos está repleto dos mitos
tratados por Bagno (2005) que conduzem ao preconceito lingüístico. A língua do povo, esta
caso, atitudes positivas, fruto de práticas positivas frente à língua, o que gerou também
atitudes positivas com relação às demais línguas. Em um segundo caso, atitudes negativas,
fruto de conflitos em relação a familiares que utilizaram a língua alemã e de práticas que
lingüística dos aprendizes nas línguas escolhidas para fins desta pesquisa, as crenças e o senso
comum de que o “inglês é a chave para o sucesso”, “o espanhol é fácil porque é quase igual
construção das atitudes também destes sujeitos. São estas crenças e mitos que conduzem a
atitudes, muitas vezes, negativas com relação a uma determinada língua, como é o caso do
inglês: “ame-o ou deixe-o”. Frente a esta constatação, reforçamos o argumento de que cabe
aos professores de línguas voltar os olhares para as atitudes lingüísticas dos seus alunos, de
forma que possam compreendê-las e sugerir práticas que favoreçam a construção de atitudes
lingüísticas positivas.
Frente a tantas questões, encerrar a redação desta dissertação é tarefa árdua, pois ao
mesmo tempo em que se tem a sensação de dever acadêmico cumprido, tem-se a sensação de
dever social incompleto. Tanto foi abordado e tanto ainda há para abordar, visto que
língua que não foram sempre manifestados, que não foram sempre possíveis de ser
realmente fez a diferença, pois levou-nos, e ainda inspira-nos, a arriscar trilhar caminhos
ainda pouco percorridos e que, por isso, instigaram e aguçaram o espírito de pesquisa, seja
através da busca por informações não tão facilmente encontradas nas bibliotecas, nos livros,
no aparato teórico disponível para a realização deste estudo e, também, por adentrar em um
Citar Robert Frost na epígrafe é relembrar todo este trajeto, as dúvidas e incertezas
que, por fim, valeram a pena, pois pesquisar as atitudes lingüísticas e ingressar nos caminhos
da sociolingüística é ter à frente um universo amplo a ser pesquisado, uma vez que não só a
descobrimos que há muito ainda o que transformar. O suspiro com que Robert Frost conta sua
jornada pela estrada pouco percorrida é o nosso suspiro de alívio pelo aprendizado, pela
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SPOLSKY, Bernard. Conditions for Second Language Learning. UK: Oxford University
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APÊNDICES
Caros alunos,
Gostaríamos de alguns minutos de sua atenção param responder a este questionário que faz parte de
uma pesquisa sobre aprendizagem de línguas.
Gratos desde já pela disponibilidade e colaboração,
2. Você sabe outra língua além da língua marcada acima? Qual (Quais)? Onde aprendeu?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4. Dentre as disciplina abaixo, do seu curso de graduação, marque a que primeiramente lhe
despertou interesse para este curso.
5. Para você, qual o nível de importância de cada uma das língua abaixo ensinadas em seu
curso?
7. Com relação a língua marcada na questão 6, a que você associa esta importância? Marque no
máximo duas respostas.
9. Com qual das línguas abaixo você mais se identifica? Por que?
Português ( ) Inglês ( ) Espanhol ( )
Motivo:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
12 a. A que você atribui a dificuldade de aprender a língua que você marcou acima? Marque no
máximo duas respostas.
14. A que você associa cada uma das língua abaixo? (marque uma ou duas opções)
turismo ( ) ( ) ( )
cultura ( ) ( ) ( )
status social ( ) ( ) ( )
globalização ( ) ( ) ( )
comércio ( ) ( ) ( )
trabalho ( ) ( ) ( )
música ( ) ( ) ( )
satisfação pessoal ( ) ( ) ( )
família ( ) ( ) ( )
oportunidades ( ) ( ) ( )
conflitos ( ) ( ) ( )
outro: _________ ( ) ( ) ( )
15. Houve durante o curso mudança em seu interesse com relação ao aprendizado de alguma das
línguas abaixo? Marque a língua para a qual houve mudança de interesse e indique o motivo.
Caros(as) alunos(as)
A seguir há uma série de afirmações com as quais algumas pessoas concordam e outras
discordam. Não existe resposta certa ou errada uma vez que muitas pessoas possuem opiniões
diferentes. Gostaríamos que você indicasse sua opinião a respeito de cada uma das afirmações
circulando a alternativa que melhor indica o quanto você concorda ou discorda da afirmação. Somente
uma alternativa deve ser marcada para cada afirmação.
Por favor, ao marcar a afirmação, indique sua reação imediata para cada item, não perdendo tempo
pensando muito sobre a afirmação. Estamos interessados em seu sentimento imediato com relação a
cada uma das afirmações lidas e em seus sentimentos verdadeiros sobre cada uma delas.
Agradecemos antecipadamente pela sua colaboração
a) concordo totalmente
b) concordo
c) indiferente
d) discordo
e) discordo totalmente
23. Quem não sabe inglês hoje em dia não tem muitas oportunidades.
a) concordo totalmente
b) concordo
c) indiferente
d) discordo
e) discordo totalmente
26. Quero muito aprender a falar o inglês fluentemente para satisfação pessoal.
a) concordo totalmente
b) concordo
c) indiferente
d) discordo
e) discordo totalmente
e) discordo totalmente
ANEXO