Você está na página 1de 13
NORA, Pierre. Entre meméria ¢ historia. A Projeio Histéria. Sao Paulo, v.10. dez. 1993, POLLAK, Michel. Meméria e identidade social. Estudos Histéricos Rio de Janeiro, n. 5. v. 10, p. 200-212, 2002. POLLAK, Michel. Meméria, esquecimento, siléncio. Estudos Histé- ricos. Rio de Janeiro, n.2. v.3, p. 3-15, 1989. Problemética dos lugares, RICOEUR, Paul. A meméria, a historia, 0 esquecimento. Campinas Exitora da Unicamp, 2007 SEDXAS, Jaci Alves de. Comemorar entre meméria e esquecimento: reflexdes sobre 2 meméria histGrica. Histéria: Questoes & Debates. Curitiba: Editora da UFPR, n. 17. v.32, p.75-95, 2000. PETEASEN of LOVATO d (349-3307 2.5. Os vizinhos do conhecimento histérico: as fronteiras entre as discipiinas, 0 cruzamento dessas fronteiras ~~ a interdisc:plinaridade®* Para tratar das relagbes entre a hst6riac outras disciplinas, é pre- ciso explicar inicialmente em que consiste uma disciplina, Como escreveu Foucault, (..J uma disciplina se define por um dominio de objetos, um Conjunto de r-étodos, um corpus de proposigses consideredas verdadeiras, um jogo de regras e definigées, de técnicas ¢ de instrumentos: tudo isto constitui uma espécie de sistema ené. nimo & disposigo de quem quer ou pode servit-se dele 22 ® O texto que Segue fo presented criginsmente com tule Mitra mulidieplnar dae: trritériosedestocamenos no XXIV Simpésio Nacional da ANPUH, em Sto Leo Palo, 207, «publicado em: HEINZ, avo; HARRES, Mariza (Orgs) A historia seus ‘ertérios, Conereciss do XXIV Simpésio Nacional de Histia da ANPUH. Sao Leo ole: Oikos, 2058p. 25-48 FOUCAULT, Mishel. ondem do iscuro, So Paulo: Loyola, 1996p. 30. In: BARBUS, vd Assuntos campos dahistria no seculo XX. Ler Misra Libs 8.205 %. 319 i | A disciplina, nesse caso, & uma forma de controle, destinada a vigiar suas fronteiras ¢ combaiet os invasores. Os historiadores do século XIX, como vimos, trataram de demarcar essas fronteiras e cons- truir a identidade de uma disciplina aut6noma e cientifica, a histéria A ideia da autonomia acompanhou desde aquela época a for- magio das diversas disciplinas que se ocupavam da sociedade, como a sociologia, economia, politica, antropologia. Este seccionamento do ‘objeto social em “fatias” de conhecimento foi resultado de uma episte- mologia empirista, da qual alguns efeitos permanecem ainda hoje, que concebe como divisio real do social o que nio passa de uma divisio de srabalho no conhecimento.* Estas disciplinas, na verdade, distinguem- se entre si ndo por se ocuparem de realidades diferentes, mas por abor- darem de modo diferente uma mesma realidade.™ ‘Como observa José Barros, a hist6ria, como qualquer disciplina, “[.J estard sempre repelindo (ou atraindo) para fora de suas mar- ‘gens determinado conjunto de saberes, proposigdes ¢ dominios que em momento anterior poderiam ter estado ali, e que em um momento subsequente (...] jé ndo esto?” isso que pode explicar também que as fronteiras entre elas sempre parecam instiveis e seus pontos de con- {ato sejam t2o numerosos quanto inevitaveis. Assim, a definigio da hist6ria como disciplina cientifica era ela mesma ambigtia jé nos seus movimentos iniciais no século XIX: com- prometida com a fidelidade aos fatos, no entanto s6 através da “arte da escrita” é que consegue trazer estes fatos & vida. Richard Evans também comenta que cs historiadores sempre reti- ram beneficios das disciplinas vizinhas, comegando pela filologia, res- ponsével pela indispensével critica dos textes hist6ricos, passando pelas chamadas “ciéncias auxitiares” (cronolegia, paleografia, epigrafia, Linguistica, arqueologia, geografia), ¢ depois pela economia, sociolo- gia, antropologia, estatistica, psicologia, literatura, entre outras forcas aliadas. Este concurso de disciplinas vizithas, como 6 fécil entender, 35 BOURDIBU, Per tal. 0 offio de socilogo. Opus ct, p. 45-46. ‘5! NUNES, Adérito Seds, Sobre o problema do canheciment.. Ops cit, p37. 5 BARROS, José d’ Assungio, Os campos da histéria..Opus cit. p. 9899. °° Ver BESSELAAR, José van den. As igncasauxilies. In: Introdudo aos estos hist rico, So Paul Herder, 1958. p. 176-227. Ver também: CARDOSO, Cito, Ui intro asilense 1986, p. 47-49 Ver também o capitulo 24, t's” (od hs, Sho Paul 320 toma-se mais crucial na medi hiistérico se amplia e o histor cialistas para suas investig estabelecer este didlogo, lgum domini dos fundamentos das respctivas disciplines, o que também pode mah: 2ir 0 perigo de que, em nome da interdisciplinaridade, assume inadve tidamente métodos e terias que pouco conhece. Por isso, se observarmos a historia do conhecimento histtico, ‘eremos que a ideia de derrubar as pontes que ligam ss dscipinas ‘munca foi bem aceita pelos historiadores e que, apenas assentadas suas fronteiras, ja hist6ria, lanca-se a rompé-las.2™ A questio das fronteiras do histérico nas teorias da histéri Ao tratar da questo das fronteiras da disciplina, no se deve esquecer de que ela sempre ocomre no marco das teorias, escotas ou ten- GEncias analiticas que esto na base do conhecimento histérco. E na l6gica desses sistemas, é a partir do que eles encendem por historia (0 que, por sua vez, ocorre no marco das transformacdes que a sociedade experimenta), que a relaglo cof as outs disciplinas se coloca, quer no sentido de aproximaclo, quer de afasarrento. Uma 4isciplina ~ no caso, a histéria — ndo € um ente com vide propria, uma “coisa”, ¢ sim sua construgéo e transformapées ocorrem to didlogo entre outros, com as referénciasteércas do préprio conhecimento que cla trata de “disciplinar” Comegamos pela influéncia de Marx, fundamental no sentido de dissolver as barreiras que dividiam 0 conhecimento da sociedade e considerar que 56 existe uma cigncia, @ da historia, E isso no mesmo século XIX, em que os historiadores tratavam de estabelecer, pela pré- pria necessidade de identidade da disciplina, uma cigncis da histéria ‘auténoma. E na sua perspectiva de totalidade e no propésito de elaborar uma teoria geral da sociedade em que se situa a contibuigéo do mate- rialismo hist6rico-dialético no sentido de opor-se [..J 8 divisdo comente do trabalho cientifico, isto é, a separa <¢lo do conhecimento em esferas isoladas. Para © marxismo no hf, pois, em sltima andlise, ciéncia juridica, economia “S BWANS ck Fn fs da Hv. sea Dbass 286 922 321

Você também pode gostar