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ARTIGO SOBRE GESTÃO & LIDERANÇA Novembro de 2008

Comunicação em
Tempos Difíceis
Com a instabilidade econômica aumenta a preocupação das
pessoas com a manutenção de seus empregos e isso diminui
a produtividade. Nada melhor do que mantê-los informados
e comunicados, para não deixar o medo e o baixo astral
tomar conta do ambiente de trabalho.

Por Dermeval Franco

Gosto de reportar-me a pesquisas porque elas revelam tendências, hábitos, costumes e valores. Permite-nos
repensar práticas e planejar novas ações diferentes daquelas habituais. E, por outro lado, nada como uma velha
crise para nos tirar do confortável sofá a que estamos acostumados. Velha crise porque ela vem e volta. Vejamos:
crise do México em 95, crise asiática em 97, calote russo em 98, crise cambial em 99, crise argentina em 2001 e,
agora mais retumbante, a crise americana. Nada é novo a não ser a dimensão e o impacto cada vez maior, porque
o mundo se tornou do tamanho de uma laranja graças à revolução tecnológica.

Neste momento de maior incerteza, as empresas e seus líderes têm uma função reforçada: comunicar-se mais e
melhor com os seus funcionários. Tranqüilizá-los sobre o momento e engajá-los no esforço coletivo de manter a
performance da empresa em alta. É preciso manter o astral do pessoal. Para tanto, quero lembrar uma pesquisa
realizada pela empresa de consultoria internacional Gallup Organization sobre engajamento da força de trabalho
brasileira, realizada em 2006 com mais de mil trabalhadores em 11 capitais brasileiras. Se o medo de perder o
emprego ronda a mente das pessoas, os corações nem sempre estão conectados ao prazer de trabalhar em suas
empresas. Acho isso mais grave e, por isso, correlaciono o tema da comunicação com a satisfação no trabalho.

O resultado da pesquisa foi assustador. De 10 trabalhadores, somente 2 estavam engajados em suas empresas. O
conceito de engajamento vai muito além de satisfação no trabalho. Leia o que revelou a pesquisa: “A parcela de
profissionais “engajados“ (21%) é representada por aqueles que trabalham com paixão e têm sentimento de
conexão com a empresa. São produtivos, leais, impulsionam a inovação e movem a organização através de críticas
construtivas e níveis consistentes de alto
desempenho. Em contra partida, 18% da força de
trabalho brasileira foi considerada “ativamente
desengajada”. São funcionários que freqüentemente
mostram a sua atitude negativa com relação ao
trabalho e ao empregador e, o que é pior, é
responsável por destruir o valor criado por seus
colegas na organização. Por fim, quase dois terços
(61%) dos trabalhadores foram considerados “não
engajados”, ou seja, não estão psicologicamente
comprometidos com a empresa, buscam apenas
atingir os objetivos sem ousadia ou riscos, e podem deixar a empresa caso surja uma oportunidade.”

Baixos níveis de engajamento custam muito para as empresas em vendas, lucros e clientes perdidos.

Como a comunicação é uma das principais competências da liderança é hora de exercitar o seu poder para engajar
as pessoas naquilo que precisa ser feito. Senso de urgência é o comportamento mais adequado em tempos
espartanos de controle de despesas e retenção de bons clientes.

Vamos ampliar o conceito de comunicação, reforçando a responsabilidade das lideranças para algumas atribuições
importantes nesse momento:

© Dermeval Franco. Novembro de 2008 –. Autorizada a veiculação integral do artigo desde que citada a fonte. 1|P á gin a
ARTIGO SOBRE GESTÃO & LIDERANÇA Novembro de 2008

1 – Estabelecer metas desafiadoras. Conversar e negociar com a equipe para descobrir facilidades e dificuldades
que possam ocorrer no percurso. É sempre bom lembrar que quem faz o trabalho tem sempre melhores condições
de sugerir ações. As pessoas querem participar daquilo que estão construindo. Parece óbvio.

2 – Elogiar em grupo é ótimo para aquele que recebe e bom para os outros que ouvem. Torna-se um exemplo
para os demais. Por outro lado, nunca devemos repreender alguém em público.

3 – Pelo menos uma vez por semana fazer um resumo dos principais acontecimentos da empresa, da economia,
do mundo empresarial, do setor onde a empresa atua, da concorrência, enfim, de informações relevantes para
passar para os funcionários. Um café da manhã semanal ou quinzenal é recomendável para manter as pessoas
informadas e comunicadas. Além de permitir uma boa conversa sobre metas, facilidades e dificuldades no
trabalho, troca de boas práticas, sugestões etc.

4 – Trabalhar mais próximo da equipe, suportando-a com informações e dando feedback de seu desempenho.
Gosto do futebol, como exemplo, porque o jogador ou o técnico recebe feedback imediato da torcida.

5 – Ir para o mercado, visitar clientes. Dentro da empresa somente


existem custos e despesas. O lucro está lá fora.
Feedback?
6 – Final de ano é hora de planejar. Rever o que fez e projetar o
Gosto do futebol,
próximo ano. Boas empresas olham menos para o passado e
apontam para as possibilidades futuras. Perspectivas de novos
como exemplo,
negócios, lançamento de novos produtos, projeções financeiras,
preços alinhados, novos mercados e clientes a serem prospectados e porque o jogador
novos canais de distribuição. É hora também de alinhar as pessoas.
Uma boa reunião com o pessoal, um workshop de trabalho para ou o técnico
obter sugestões e adesões ao plano anual. Imprescindível! Afinal,
serão eles que irão executar os planos. recebe retorno
7 – Criar canais de comunicação com o pessoal. Seja uma pequena, imediato da
média ou grande empresa o desafio é o mesmo. Não se trata de
quantidade de pessoas que desejamos engajar através da torcida.
comunicação, mas pela qualidade e pela intensidade das ações e das
atitudes. Renovar o velho mural que é mais conhecido como “aeroporto de moscas”, utilizar a intranet, o e-mail, o
boletim impresso, o jornal da empresa, uma correspondência para a casa do funcionário, o celular, uma ação
educacional para todos os funcionários sobre o tema. São várias as formas de comunicação para manter as
pessoas “acesas”, digo comunicadas e, por isso, engajadas.

8 - Comunicar, comunicar, comunicar! O engajamento é conseqüência do sentimento de bem estar do funcionário


e passa por uma forte cultura de comunicação na empresa. Lembrando que o melhor canal ainda continua sendo a
comunicação pessoal do “olho no olho”. Ela sempre será decisiva nos relacionamentos. Ela sempre será a
capacidade mais importante de um líder.

O mercado exige respostas rápidas à baixa fidelidade dos clientes, à concorrência predatória e ao baixo astral que
toma conta das pessoas em momentos de incerteza e insegurança. Cabe às empresas e às lideranças dar respostas
efetivas, neste momento, para proporcionar equilíbrio saudável e produtivo ao ambiente de trabalho. A
comunicação é uma forte ferramenta para isso.

DERMEVAL FRANCO - Administrador pós-graduado em Marketing- SP. Especializado em Gestão Empresarial pela FGV-SP e Gestão Avançada pela Amana-Key.
Educador e consultor organizacional com mais de 30 anos de experiência em pequenas, médias e grandes empresas como executivo e consultor. Sócio Diretor da
D'Franco - Consultoria Organizacional. Qualificado pela The Clark Wilson Group/Tangram na aplicação de inventários 360 Graus. Formado em Mentoring e Coaching
pelo Instituto Holos, SP. Autor de vários artigos em publicações especializadas e do livro As Pessoas em Primeiro Lugar - Como Promover o Alinhamento de Pessoas,
Desempenho e Resultados em Tempos Turbulentos. Editora Qualitymark 2003. Diretor de Planejamento & Gestão da Associação Bra sileira de Recursos Humanos -
ABRH-Ceará.

Comentários, sugestões e contatos – dermevalfranco@gmail.com cel. 85 8877 2280.

© Dermeval Franco. Novembro de 2008 –. Autorizada a veiculação integral do artigo desde que citada a fonte. 2|P á gin a

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