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Texto 9 - Descrição de grupos de personagens

A descrição abaixo, bastante rica e sugestiva, fala de um grupo de pessoas, as baianas, mais
precisamente, de seu traje.

As chamadas baianas não usavam vestidos; traziam somente umas


poucas saias presas à cintura, e que chegavam pouco abaixo do meio da
perna, todas elas ornadas de magníficas rendas; da cintura para cima
traziam uma finíssima camisa, cuja gola e manga eram também ornadas
de renda; ao pescoço punham um cordão de ouro, um colar de corais, os
mais pobres eram de miçangas; ornavam a cabeça com uma espécie e
turbante a que davam o nome de trunfas, formado por um grande laço
branco muito teso e engomado; calçavam uma chinelas de salto alto e tão
pequenas que apenas continham os dedos dos pés, ficando de fora todo o
calcanhar; e, além de tudo isto, envolviam-se graciosamente em uma capa
de pano preto, deixando de fora os braços ornados de argolas de metal
simulando pulseiras.
(Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias)

Comentário sobre a descrição de pessoas


A descrição de pessoas pode ser feita a partir das características físicas, com predomínio da
objetividade, ou das características psicológicas, com predomínio da subjetividade. Muitas
vezes, o autor, propositadamente, faz uma caricatura do personagem, acentuando seus traços
físicos ou comportamentais.
Os personagens podem ser apresentados diretamente, isto é, em um determinado momento da
história, e neste caso a narrativa é momentaneamente interrompida. Podem, por outro lado, ser
apresentados indiretamente, por meio de dados, como comportamentos, traços físicos,
opiniões, que vão sendo indicados passo a passo, ao longo da narrativa.

Texto 10 - Retrato (Cecília Meireles)

Eu não tinha esse rosto de hoje,


assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
(Cecília Meireles)

O poema de Cecília Meireles, abaixo transcrito, é exemplo de descrição em verso, em primeira


pessoa. Nele, a autora fala do seu estado de espírito, da sua opinião sobre si mesma. No texto,
predomina a linguagem conotativa e o enfoque é subjetivo.

Descrição de cenários / de paisagens / de espaço


Texto 11 - Passagens do romance "Terras do Sem Fim" (Jorge Amado)

A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia. Os cacaueiros se


fecham em folhas grandes que o sol amarelece. Os galhos se procuram e
se abraçam no ar, parecem uma árvore subindo e descendo o morro, a
sombra de topázio se sucedendo por centenas e centenas de metros.
Tudo nas roças de cacau é em tonalidades amarelas, onde, por vezes, o
verde rebenta violento. De um amarelo aloirado são as minúsculas
formigas pixixicas que cobrem as folhas dos cacaueiros e destroem a
praga que ameaça o fruto. De um amarelo desmaiado se vestem as flores
e as folhas novas que o sol pontilha de amarelo queimado. Amarelos são
os frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. Os frutos maduros
lembram lâmpadas de oiro das catedrais antigas, fulgem com um brilho
resplandecente aos raios do sol, que penetram a sombra das roças. Uma
cobra amarela - uma papa-pinto - acalenta o sol na picada aberta pelos pés
dos lavradores. E até a terra, barro que o verão transformou em poeira,
tem um vago tom amarelo, que se prende e colore as pernas nuas dos
negros e dos mulatos que trabalham na poda dos cacaueiros. Dos cocos
maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente
pequenos ângulos das roças.
Da mata vinham trinados de pássaros nas madrugadas de sol. Voavam
sobre as árvores as andorinhas de verão. E os bandos de macacos
corriam numa doida correria de galho, morro abaixo, morro acima. Piavam
os corujões para a lua amarela nas noites calmas. Cobras de inúmeras
espécies deslizavam entre as folhas secas, sem fazer ruídos, onças
miavam seu espantoso miado nas noites do cio.

Texto 12 - Trecho do romance Clara dos Anjos (Lima Barreto)

A rua em que estava situada sua casa desenvolvia-se no plano e, quando


chovia, encharcava e ficava que nem um pântano; entretanto, era povoada
e se fazia caminho obrigatório das margens da central para a longínqua e
habitada freguesia de Inhaúma. Carroções, carros, autocaminhões que,
quase diariamente, andam por aquelas bandas a suprir os retalhistas de
gêneros que os atacadistas lhes fornecem, percorriam-na do começo ao
fim, indicando que tal via pública devia merecer mais atenção da edilidade.

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