A descrição abaixo, bastante rica e sugestiva, fala de um grupo de pessoas, as baianas, mais precisamente, de seu traje.
As chamadas baianas não usavam vestidos; traziam somente umas
poucas saias presas à cintura, e que chegavam pouco abaixo do meio da perna, todas elas ornadas de magníficas rendas; da cintura para cima traziam uma finíssima camisa, cuja gola e manga eram também ornadas de renda; ao pescoço punham um cordão de ouro, um colar de corais, os mais pobres eram de miçangas; ornavam a cabeça com uma espécie e turbante a que davam o nome de trunfas, formado por um grande laço branco muito teso e engomado; calçavam uma chinelas de salto alto e tão pequenas que apenas continham os dedos dos pés, ficando de fora todo o calcanhar; e, além de tudo isto, envolviam-se graciosamente em uma capa de pano preto, deixando de fora os braços ornados de argolas de metal simulando pulseiras. (Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias)
Comentário sobre a descrição de pessoas
A descrição de pessoas pode ser feita a partir das características físicas, com predomínio da objetividade, ou das características psicológicas, com predomínio da subjetividade. Muitas vezes, o autor, propositadamente, faz uma caricatura do personagem, acentuando seus traços físicos ou comportamentais. Os personagens podem ser apresentados diretamente, isto é, em um determinado momento da história, e neste caso a narrativa é momentaneamente interrompida. Podem, por outro lado, ser apresentados indiretamente, por meio de dados, como comportamentos, traços físicos, opiniões, que vão sendo indicados passo a passo, ao longo da narrativa.
Texto 10 - Retrato (Cecília Meireles)
Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? (Cecília Meireles)
O poema de Cecília Meireles, abaixo transcrito, é exemplo de descrição em verso, em primeira
pessoa. Nele, a autora fala do seu estado de espírito, da sua opinião sobre si mesma. No texto, predomina a linguagem conotativa e o enfoque é subjetivo.
Descrição de cenários / de paisagens / de espaço
Texto 11 - Passagens do romance "Terras do Sem Fim" (Jorge Amado)
A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia. Os cacaueiros se
fecham em folhas grandes que o sol amarelece. Os galhos se procuram e se abraçam no ar, parecem uma árvore subindo e descendo o morro, a sombra de topázio se sucedendo por centenas e centenas de metros. Tudo nas roças de cacau é em tonalidades amarelas, onde, por vezes, o verde rebenta violento. De um amarelo aloirado são as minúsculas formigas pixixicas que cobrem as folhas dos cacaueiros e destroem a praga que ameaça o fruto. De um amarelo desmaiado se vestem as flores e as folhas novas que o sol pontilha de amarelo queimado. Amarelos são os frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. Os frutos maduros lembram lâmpadas de oiro das catedrais antigas, fulgem com um brilho resplandecente aos raios do sol, que penetram a sombra das roças. Uma cobra amarela - uma papa-pinto - acalenta o sol na picada aberta pelos pés dos lavradores. E até a terra, barro que o verão transformou em poeira, tem um vago tom amarelo, que se prende e colore as pernas nuas dos negros e dos mulatos que trabalham na poda dos cacaueiros. Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente pequenos ângulos das roças. Da mata vinham trinados de pássaros nas madrugadas de sol. Voavam sobre as árvores as andorinhas de verão. E os bandos de macacos corriam numa doida correria de galho, morro abaixo, morro acima. Piavam os corujões para a lua amarela nas noites calmas. Cobras de inúmeras espécies deslizavam entre as folhas secas, sem fazer ruídos, onças miavam seu espantoso miado nas noites do cio.
Texto 12 - Trecho do romance Clara dos Anjos (Lima Barreto)
A rua em que estava situada sua casa desenvolvia-se no plano e, quando
chovia, encharcava e ficava que nem um pântano; entretanto, era povoada e se fazia caminho obrigatório das margens da central para a longínqua e habitada freguesia de Inhaúma. Carroções, carros, autocaminhões que, quase diariamente, andam por aquelas bandas a suprir os retalhistas de gêneros que os atacadistas lhes fornecem, percorriam-na do começo ao fim, indicando que tal via pública devia merecer mais atenção da edilidade.