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4
MI3£ETRIANA
Série Obras de Referência
Coordenação Geral
L u c i a n o R a p o s o de A l m e i d a Figueiredo
Maria Verônica Campos
Financiamento
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
Apoio cultural
Biblioteca Mário de Andrade - São Paulo (SP)
Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais
Governador
ITAMAR FRANCO
Presidente d a F u n d a ç ã o J o ã o Pinheiro
J O Ã O BATISTA R E Z E N D E
Códice Gosta Matoso. Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas na
América quê fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvi dor-geral das do
Ouro Prelo, cie que tomou posse cm fevereiro de 1749, & vários papéis.. - Belo Hori-
zonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1999.
2v. : il. - (Coleção Mineiriana, Série Obras de Referencia).
Coordenação geral Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Cam-
pos, estudo crítico Luciano Raposo cie Almeida Figueiredo.
Inclui índices.
ISBN- 85-85930-28-4-2v.
IANA
Série Obras de Referência
Volume 1
Coordenação geral
L u c i a n o R a p o s o de Almeida Figueiredo
M a r i a Verônica G a m p o s
Estudo crítico
L u c i a n o R a p o s o cie A l m e i d a Figueiredo
Coordenação Editorial
Eleonora S a n t a R o s a
Maria Verônica Campos
Editores
E m a n u e l Araújo
L u c i a n o R a p o s o d e A l m e i d a Figueiredo
Maria Verônica Campos
Capa e arte
W a g n e r Bottaro
Revisão
Afonso Celso G o m e s
Fotografia
Guilherme Maranhão
IANA
Série Obras de Referência
CONSELHO EDITORIAL
Afíonso Avila, Afíbnso R o m a n o de S.ant'Ana, A m í l c a r V i a n n a M a r t i n s F i l h o ,
Angela Gutierrez, A n t ô n i o Octávio C i n t r a , Aluísio P i m e n t a , A n g e l o O s w a l d o d e
Araújo S a n t o s , B e r n a r d o M a t a M a c h a d o , C e l i n a A l b a n o , G y r o S i q u e i r a , Glého
C a m p o l i n a Diniz,. D o u g l a s C o l e L i b b y , F á b i o L u c a s , F á b i o W a n d e r l e y R e i s ,
Fernando Correia Dias, G e r s o n de Britto Mello Boson, G u y de .Almeida,
H i n d e m b u r g o C h a t e a u b r i a n d Pereira Diniz, Isaías Golghcr, J a r b a s M e d e i r o s , J o ã o
A n t ô n i o d e P a u l a , J o s é A p a r e c i d o de Oliveira, J o s é B e n t o T e i x e i r a de Salles, J o s é
E r n e s t o Ballstaedt, J o s é Israel V a r g a s , J o s é M u r i l o d e C a r v a l h o , J ú l i o B a r b o s a ,
Lucília de A l m e i d a N e v e s D e l g a d o , Luis Aureliano G a m a A n d r a d e , M a r i a Efigênia
Lage d e R e s e n d e , M a r i a A n t o n i e t a Antunes. C u n h a , M i g u e l A u g u s t o Gonçalves
S o u z a , N o r m a de G ó e s M o n t e i r o , O t á v i o Soares D u l c i , O r l a n d o M . C a r v a l h o ,
P a u l o T a r s o Flecha de Lima, P a u l o R o b e r t o H a d d a d , P a u l o de T a r s o A l m e i d a
Paiva, Pio Soares C a n e d o , R o b e r t o Borges M a r t i n s , R o b e r t o B r a n t , R u i M o u r ã o ,
V e r a Alice C a r d o s o , Vivaldi M o r e i r a , W a l t e r M o r e i r a Salles.
11
Equipe técnica
Supervisão geral
Eleonora Santa Rosa
Projeto original
L u c i a n o R a p o s o cie A l m e i d a Figueiredo
Coordenação geral
Luciano R a p q s o de A l m e i d a Figueiredo
Maria Verônica Campos
Estudo crítico
L u c i a n o R a p o s o de A l m e i d a Figueiredo
Biografias
Iris K a n t o r
Glossário
Seleção de termos
E m a n u e l Araújo
L u c i a n o R a p o s o d e A l m e i d a Figueiredo
Maria Verônica Campos
Redação dos verbetes
B r u n o Flávio L o n t r a Fagundes
L e a n d r o d e Araújo N u n e s
M a r i a do C a r m o A n d r a d e G o m e s
Maria Verônica C a m p o s
12
Transcrição pakográjica
E d i l a n e M a r i a de A l m e i d a C a r n e i r o (coordenação)
M a r t a Eloísa M e l g a ç o Neves (coordenação)
Y ê d d a Dias L i m a (consultoria)
Carla Simone C h a m o n
M a r c o Antônio Marinho Vale Júnior
R o s a n a de Figueiredo Angelo
Modernização
B r u n o Flávio L o n t r a F a g u n d e s (coordenação)
E m a n u e l Araújo, (consultoria)
Edilane M a r i a de A l m e i d a C a r n e i r o
Pesquisa
Minas Gerais
M a r i a V e r ô n i c a C a m p o s (coordenação)
M a r i a do C a r m o A n d r a d e G o m e s
M a r i a Elisa d e C a m p o s Souza
R a m o n F e r n a n d e s Grossi
L e a n d r o de Araújo N u n e s
V e r ô n i c a de Araújo N u n e s
G u s t a v o C a m p o s Vieira
Nívia T i r o n i Pinto
13
Rio de Janeiro
L u c i a n o R a p o s o de A l m e i d a Figueiredo (coordenação)
Gristine Abdalla
Flávia M a r i a dê C a r v a l h o
Gláucia T o m a s d e A q u i n o Pessoa
Juliana Bezerra de Menezes
Lúcia G a r c i a
Salvador
M a r i a do C a r m o A n d r a d e G o m e s
.São Paulo
Iris K a n t o r
Londres
L u c i a n o R a p o s o de Almeida Figueiredo
Portugal
Iris.Kantor
L u c i a n o R a p o s o de A l m e i d a Figueiredo
Maria Verônica Campos
índices1
H e l e n a S c h i r m (coordenação)
índice antroponímico
L e a n d r o dc Araújo N u n e s
M a r i a do C a r m o Andrade. G o m e s
Maria Verônica Campos
Aline Costa de Q u e i r ó s (revisão)
índice toponímico
M a r i a do C a r m o A n d r a d e G o m e s
Aline C o s t a de Q u e i r ó s (revisão)
índice de assuntos
Helena Schirm
J o a c i Pereira F u r t a d o (aspectos discursivos)
M a r i a do C a r m o A n d r a d e G o m e s
Maria Verônica Campos
Normalização
Helena Schirm
14
Equipe de apoio
Digitação
Elen J a c q u e l i n e M o u r ã o Parreiras
J e s u s C o e l h o d a Silva N e t o
Apoio administrativo
L a u r o J o s é dos S a n t o s Teixeira
L u z i a Oliva Barros
Roseli d e A g u i a r
Banco de dados
L u d m i l a Azalim R o d r i g u e s d a Costa
15
Apresentação
A F u n d a ç ã o J o ã o Pinheiro (FJP), p o r i n t e r m é d i o do seu C e n t r o d e Estudos H i s -
tóricos e Culturais ( C E H C ) , t e m a satisfação de trazer a público o Códice Costa Matoso,
mais u m v o l u m e da C o l e ç ã o M i n e i r i a n a - S é r i e O b r a s d e R e f e r ê n c i a , p a r t e
integrante do seu projeto d e divulgação d e textos i m p o r t a n t e s p a r a a cultura e a
história de M i n a s Gerais.
O trabalho foi financiado pelo Ministério da C u l t u r a - P R O N A C e pela F a p e m i g
e m sua e t a p a de pesquisa, transcrição e m o d e r n i z a ç ã o . R e c e b e m o s , t a m b é m , o apoio
da Biblioteca M á r i o d e A n d r a d e , de São Paulo, e d a Assembléia Legislativa d o Esta-
do de M i n a s Gerais. N o processo de p r e p a r a ç ã o editorial e impressão c o n t a m o s , mais
u m a vez, c o m o auxílio financeiro d a . F a p e m i g .
O Códice Costa Matoso constitui-se de ] 39 d o c u m e n t o s manuscritos, 5 impressos e
1 registro cartográfico, todos reunidos pelo ouvidor C a e t a n o d a Costa M a t o s o , a
m a i o r p a r t e deles c o m p i l a d a entre 1 749 e 1752, p e r í o d o em q u e o c u p o u a O u v i d o r i a
d e O u r o P r e t o . Pode-se afirmar q u e sua a b r a n g ê n c i a geográfica c o n t e m p l a quase a
totalidade do território americano sob domínio português e m m e a d o s do século X V I I I ,
c o m dados sobre a Golônia do S a c r a m e n t o , o rio M a d e i r a , as T e r r a s N o v a s , os bispa-
dos do M a r a n h ã o e G r ã o - P a r á e a capitania de M i n a s Gerais, região esta p r e d o m i -
n a n t e n a d o c u m e n t a ç ã o coletada.
A impressão desta coletânea confere à. C o l e ç ã o M i n e i r i a n a mais u m a dimen-
são. Além de d a r continuidade ao objetivo de divulgar manuscritos inéditos e p o u c o
acessíveis aos pesquisadores, o tratamento editorial e a pesquisa q u e subsidiou a p u -
blicação tornar-se-ão parâmetros p a r a trabalhos congéneres: os índices, o glossário, as
biografias e as notas introdutórias aos documentos facilitam a leitura e orientam novas
p e s q u i s a s ; os critérios editoriais adotados^ a i m p o r t â n c i a c o n f e r i d a a aspectos
paleográficos, ortográficos, semânticos e discursivos contribuem decisivamente p a r a o
avanço d a edição de documentos históricos no país; o estudo crítico, de autoria do
prof. Luciano R a p o s o de Almeida Figueiredo, esclarece a trajetória do manuscrito e
do seu x:ompilador, b e m como o ambiente intelectual de sua época. Registre-se, ain-
da, q u e o projeto contou c o m especialistas r e n o m a d o s nas suas diversas áreas d e
atuação e pesquisadores da Fundação J o ã o Pinheiro, s o m a de esforços decisiva p a r a o
sucesso do empreendimento e p a r a a qualidade da edição.
Para além da importância das fontes reunidas nesta obra e de sua contribuição
p a r a b estabelecimento de parâmetros e metodologias de edição de documentos his-
tóricos, o C E H C / F J P acredita estar consolidando seu papel de centro catalisador,
p r o m o t o r e divulgador de pesquisas e de órgão realmente voltado p a r a a implantação
de políticas de preservação do patrimônio: cultural no Estado de M i n a s Gerais, ao
contribuir p a r a a maior longevidade de u m manuscrito ímpar p a r a a historiografia.
J O Ã O BATISTA REZENDE
Presidente da F u n d a ç ã o j õ ã o Pinheiro
16
Agradecimentos
Prodemge
Pedro Bueno
Upper Informática
17
as e instituições:
Alcir Pècora
Alexandre Silva Habib'
Ana Amélia Vieira Nascimento
Antonieta de Aguiar Nunes
Beatriz Ríçardiua de Magalhães
Bráulio CaSalarde
Caio César. Boschi
Carlos Magno Guimarães
Carmem Moreno
Carmêm Silvia Lemos
Diogo Ramada Curto
Eduardo França Paiva
Ernst Pijiiing
Evaldo Cabral de Mello
Francisco Betheiicourt
Friedrich E. Renger
Geraldo Mártires Coelho
Hélcio Vianna Barbosa
Helen Osório,
Helvécio Jesus de Resende Chaves
Ida Lewkowicz
Janete Grynberg
• Jairo Braga Machado
João Adolfo Hansen
João Medina
Joaquim Marçal Ferreira de Andrade
Joe Maldonado
Jose Gliitas
José Eduardo de Resende Chaves
José Sebastião Witter
José Tengarrinha
Júnia Ferreira Furtado
Laura de Mello e Souza
Lúcia Aparecida Soares
Luis Carlos Villalta
Márcia Moisés Ribeiro
Marcos Magalhães de Aguiar
Maria Carmem Lisita
Maria de Fátima Loureiro
Maria de Lourdes Henrique
Maria Helena Miranda
Maria José Elias
Maria Lúcia Perrone Passos
Maria Marlene de Souza
Maria Raimunda Araújo
Miracy Gustin
Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues
Norman Fiering
Odilon Nogueira de Matos
Paulo Bertran
Pedro Tóriima
Rita Tolentino
Roberto Kazuo Yokota
Ruth Villamarm Soares
SuelyPerucci
Sátiro Ferreira Nunes
Susan Danfórth
Tânia Porto Guimarães Veloso
Teresa Saraiva
Tiago Costa Pinto dos Reis Miranda
Wilma C. Teixeira Dias
Sumário
Apresentação • ^
Agradecimentos • 16
Lista de abreviaturas..... • 27
Lista de abreviaturas
^' PIEL, Joseph M. Livro de oficio,^ de Marco Tullio Cicerom, o qual tomou em linguagem o infante d. Pedro, duque
Coimbra: Actas Universitatís Conumbrigensis. 1948. p. xxxviii.
de Coimbra.
^- SILVA NETO, Serafim cia. Textos medievais portugueses e sms problemas. Rio dejaneiro: Casa de Rui
Barbosa, 1956. p. 21.
Grande parte dos critérios aqui adotados segiie os princípios sistematizados e desenvolvidos em
ARAUJO,. Emanuel. A construção do üm-o: princípios da técnica de editoração. 3. impr. Rio dejaneiro:
Nova Fronteira, 1995. Especialmente p. 229-268.
se m a n t e r p. espírito de c a d a texto ao aceitar, p o r exemplo, diferentes grafias possíveis
d e u m a m e s m a p a l a v r a , q u a n d o a i n d a hoje existente no léxico^como r e m a t a r / a r r e -
m a t a r , s e n t a r / a s s e n t a r , interpresa/entrepresa, e até n a variação rnaior de d e s c o r ç o a r /
d e s c o r o ç o a r / d e s a c o r o ç o a r / d e s a c o r ç o a r ; . desde q u e o sentido se mantivesse preserva-
do. T a m p o u c o se hesitou c m q u e b r a r q u a l q u e r r e g r a estabelecida p a r a a p r e s e n t e
e d i ç ã o , c o m vistas s o b r e t u d o à m a n u t e n ç ã o d a fidedignidade possível e à fluência d a
leitura. Seguem-se os principais critérios editoriais aqui utilizados.
I. D I S P O S I Ç Ã O M A T E R I A L D O S D O C U M E N T O S
1. N u m e r a ç ã o dos d o c u m e n t o s
E m b o r a n o Códice os d o c u m e n t o s n ã o estejam n u m e r a d o s , julgou-se o p o r t u n o
introduzir n e s t a edição tal seqüência c o m vistas a facilitar n ã õ só a consulta c o m o a
citação eventual e possíveis remissões internas.
2. A t r i b u i ç ã o de título
M u i t o s d o c u m e n t o s tiveram título atribuído pelos editores, o q u e se indica c o m
a sinalização c o n v e n c i o n a d a p a r a interpolação.
3. I n t r o d u ç ã o aos d o c u m e n t o s
V e r e m seguida aos presentes critérios editoriais 'Explicação sobre as notas
introdutórias aos d o c u m e n t o s ' , o n d e os editores explicitam a organização deste tópico.
4. Interpolações
As interpolações n o interior do texto dos d o c u m e n t o s foram utilizadas c o m a
finalidade de: acrescentar palavras que, n a construção do e n u n c i a d o , pu estão elípticas
ou, se expressas., ficaram m u i t o afastadas do t e r m o a q u e se referem. Elas t o r n a m
explícita, p o r e x e m p l o , p a l a v r a ou expressão q u e falta n a citação de instituições,
t o p ó n i m o s e a n t r o p ô n i m o s q u a n d o , referidos, p o d e m suscitar d ú v i d a sobre do q u e
ou de q u e m se trata: d o m Brás [Baltasar d a Silveira], C o m p a n h i a [ d e J e s u s ] , Conse-
lho [ U l t r a m a r i n o ] etc. N o entanto^ neste caso as interpolações se restringem à primei-
ra ocorrência no texto, p a r a se evitar o excesso delas.
5. Escólios
O s escólios (pequenas notas ou comentários n a m a r g e m do d o c u m e n t o , origina-
dos do p r ó p r i o autor.ou de outrem), sinalizados no texto p o r letras alfabéticas m i n ú s -
culas sobrepostas, f o r a m transferidos p a r a o r o d a p é d a p á g i n a , e m seguida a o c o r p o
d o t e s t o e a c i m a das notas editoriais.
6. N o t a s
As notas editoriais referem-se a breves e imediatos esclarecimentos dc m a t é r i a
q u e não c o m p o r t e e m glossário, sinalizadas no texto p o r n ú m e r o s arábicos sobrepos-
tos. C o m p a r e c e m n o r o d a p é da p á g i n a e m seguida aos escólios.
7. Acidentes de leitura
T o d o s os acidentes de leitura, vale dizer, palavras ou m e s m o trechos ilegíveis
pelo estado atual d o d o c u m e n t o , lacunas do original, p e r d a irrecuperável d e palavra
ou t r e c h o p o r r a s u r a ou d a n o físico c conjetura d o editor e m r a z ã o d e dúvida n a
leitura a c h a m - s e assinalados.com sinalização p r ó p r i a , listada a seguir* n o item V I I .
8. Glossário
P a r a n ã o sobrecarregar as notas c evitar repetições ou o excesso d e remissões,
optou-se por r e m e t e r p a r a u m glossário os arcaísmos semânticos e v o c a b u l a r e s (ver
abaixo, item II), assim c o m o d e t e r m i n a d o s termos técnicos, cargos e t c , o q u e se indi-
ca pelo sinal * anteposto à palavra ou expressão.
9. N u m e r a ç ã o d c fólios d o Códice
Foi levada e m c o n t a p a r a n u m e r a ç ã o dos fólios {recto e verso) a p a g i n a ç ã o cons-
tante do Códice, a lápis, no c a n t o superior de cada.fólio recto, q u e a p a r e c e c m seqüên-
cia e completa. N ã o foram considerados u m a s e g u n d a n u m e r a ç ã o , t a m b é m a lápis,
por ser incompleta; c o processo de chamnâeira ou reclamo, irregular ou eventual n o
Códice. Esta n u m e r a ç ã o vai indicada e n t r e colchetes na m a r g e m externa desta edição,
sinalizada c o m / / após a palavra em q u e ocorre c sem sinalização q u a n d o coincide
Com parágrafo, título ou subtítulo.
II. A R C A Í S M O S
III. U S O D E M A I Ú S C U L A S
1. A n t r o p ô n i m o s
a) N o m e s ç sobrenomes: p o r exemplo, T o m é G o m e s M o r e i r a , M a n u e l N u n e s
Viana.
b) C o g n o m e s : p o r exemplo, J e r ô n i m o P o d e r o s o , Francisco P e q u e n i n o .
c) Alcunhas: p o r exemplo, C a t u r r a , J u a g u a r a .
d) N o m e s d e família: p o r e x e m p l o , os G u e r r a s , os R a p o s o s .
2. T o p ó n i m o s e locativos
Q u a l q u e r designativo oficial (por e x e m p l o . Vila Rica), exceção feita ao substan-
tivo q u e designa a espécie, grafado e m minúscula: p o r exemplo, vila d e São J o ã o del-
Rei, ou rio das M o r t e s q u a n d o acidente, p o r é m Rio das M o r t e s q u a n d o n o m e i a a
comarca.
3. Intitulativos
a) C o r p o político-jurídico o r g a n i z a d o , governo: p o r exemplo,. C o l ô n i a do Sa-
c r a m e n t o , C o r t e (indicando a sede do governo).
b) E n t i d a d e s e instituições civis e eclesiásticas: p o r e x e m p l o , C â m a r a d e Vila
Rica, Igreja, I n t e n d e n c i a , M i t r a .
c) D e n o m i n a ç õ e s dc emprego abstrato designando corpo governativo: por e x e m -
p l o , oficiais d e Justiça, oficiais d e G u e r r a .
d) Festividades ou c o m e m o r a ç õ e s tradicionais: p o r exemplo, Q u a r e s m a , S e m a -
na Santa.
0) Axiônimos d e eminência: p o r exemplo, Sua Majestade, Senhor, Excelentíssima,
f) H a g i õ n i m o s ( q u a n d o designativo de lugar ou coisa): p o r e x e m p l o , capela d e
São B a r t o l o m e u , altar de São Francisco.
IV, U S O D E M I N Ú S C U L A S
1. C a r g o s e títulos
a) Nobiliárquicos: p o r exemplo, c o n d e , rei, d o m .
b) A x i ô n i m o s correntes; p o r exemplo, senhor, vosmece (por vossa mercê).
c) Profissionais: p o r exemplo, general, doutor, juiz.
d) Eclesiásticos: p o r exemplo, p a d r e , frei, bispo.
e) Hagionímicos: por e x e m p l o , santo, são.
2. Intítulatívos gerais
a) N o m e s gentílicos de povos e grupos étnicos: p o r e x e m p l o , índios m u r a s ,
emboabas.
b) D o c u m e n t o s públicos: p o r exemplo, alvará, carta régia.
ç) U n i d a d e s político-administrativas: p o r exemplo, capitania, c o m a r c a .
d) Edificações de uso civil ou eclesiástico q u a n d o e m referência genérica ou
a p e n a s a o edificio: p o r e x e m p l o , c â m a r a s das comarcas, erigir casa d a m o e d a , igreja
de G u a r a p i r a n g a .
V. N U M E R A I S
VI. A B R E V I A T U R A S
jjde/g r a n de.
VII. SINALIZAÇÃO E D I T O R I A L
Estudo crítico
O 1 conde de Ameal herda Vastíssima e rica biblioteca" formada por seu paijoão Correia Aires
B 1
BIBLIOTHECA Americana et PkUippim. Catalogue a 465. London; Maggs Bros., 1925. V. 4, p. 203,
9
ii. 2965.
numerous other documents, forming á very comprehensive dossier of the subject,
and collected by Dr. Gaetano da Costa Matoso, the ofíicial in charge of the mines in
1749." 7
Fotocópia deste texto aparçcç colada, à guarda do Códices além das seguintes informações: " 1749
A-D. [2966] [COSTA MATOCO [sic] (Dr. Caetano cia). ] Coleção das noticias dos primeiros descobri-
mentos das Minas na América que fez o doutor Caetano da Costa Matoco [sic] sendo ouvidor-geral das. do Ouro
Preto, de quê. tomou posse, emfcveràro de. 1749, / Portuguese Mariuscripts. / Thick folio, old vellum. /
(1749). L31 IOs"
Uma boa base de comparação é o preço com que foi adquirido por Félix Pacheco as Notícias das
minas de São Paulp. e dos sertões da mesma capitania, manuscrito de 1772, de autoria de Pedro Taques de
Almeida Paes Leme: Este manuscrito atinge 250 libras, oito vezes mais o preço do Códice. Costa
Matoso (dados obtidos no catálogo da livraria do dr. Félix Pacheco e nos arquivos da contabilidade
da Biblioteca Mário de Andrade). Convertendo-se o valor em libra à taxa de câmbio média entre
1.925 e ¡930 (I libra = 39S000 réis), o Códice alcançaria em moeda nacional o valor aproximado de
l:20ü$000 réis. Na época, este valor equivalia á oito meses de salário de um operário adulto da
América Fabril ou a um mês de remuneração de uni funcionário altamente especializado (biólogo)
da Brahma (estimativas com base em LOBO, Eulália Maria L., O Estado centralizado, a crise
econômica e o operariado, 1930-1936. In: LOBO, Eulália M, L. et al (Org.). Rio de Janàro operário.
Rio íle Janeiro; UFRJ, 1935, p. 92-94). Sequisennos estabelecer uma comparação com bens durá-
veis, o preço, pago pelp documento era próximo, em 1926, ao de um automóvel usado, conforme
anúncio no Jornal do Brasil,, em que se oferece por 1:5GO$000 um carro de fabricação Loreley
"funcionando perfeitamente". No entanto, o valor ficava muito aquém de automóveis de primeira
linha, como ó Studebaker6 cilindros, anuncíadopor 5:100$000 {Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 7
jan. 1926. p. 19). A despeito de tais demonstrações valorativa^ convém recordar que esse tipo de
cálculo nem sempre é praticado por bibliófilos e colecionadores, entre eles decerto Félix Pacheco.
Para estes a conta costuma ser outra, como bem explica Rubens Borba de Moraes: "Nunca me
arrependi de ter comprado um livro por um preço alto. Só me arrependo das obras que não com-
prei." Ver 0 bibliófilo aprendiz- 3. ed. Brasília: Briquet de Lemos; Rio de Janeiro: Casa da Palavra,
1998. p. 63.
heterógrafos presentes. T u d o isso contribuiu p a r a q u e a o b r a n ã o alcançasse u m "va-
lor comercial significativo, t e n d o e m vista a dificuldade d e uma, avaliação p o r p a r t e
da casa de leilões, m a s é possível acreditar t a m b é m q u e o estabelecimento atribuísse
a l g u m a i m p o r t â n c i a àquele conjunto formado p o r centenas de d o c u m e n t o s de valor
duvidoso; do contrário, poderia ter procedido à dispersão do material e comercializado
as peças s e p a r a d a m e n t e , ^
E m negociações que t r a n s c o r r e m e n t r e 1925 e 1930, o jornalista, político e
bibliófilo J o s é Félix Alves P a c h e c o , e m c o m p r a feita a M a g g s Bros., acrescenta mais
alguns volumes d e livros raros e manuscritos à sua p o r t e n t o s a e festejada Brasiliana,
p o r i n t e r m é d i o da aquisição da.Nolável coleção, 10 F r e q ü e n t a d o r assíduo do m e r c a -
do de livros europeus no entreguerras, Félix Pacheco vinha m o v e n d o sistemática c a m -
p a n h a p a r a trazer p a r a o Brasil ó m á x i m o possível de m a n u s c r i t o s a respeito d e seu
p a s s a d o . * Foi nesse m o m e n t o q u e este CÓdke, depois de p e r a m b u l a r p e l a E u r o p a ,
1
^- José Mindlin, em comunicação pessoal por intermédio de Cristina Antunes, bibliotecária respon-
sável por seu acervo, esclareceu-nos a respeito da peculiaridade de transações envolvendo manus-
critos: "Ao contrário dos livros raros, o preço de um manuscrito inédito é absolutamente relativo,
dependendo do conhecimento daquele que vende a respeito da importância do documento para
uma avaliação mais correta.-No caso de um manuscrito em que não há outros exemplares disponí-
veis citados em outros catálogos, não se tem outro referencial a não ser os conhecimentos do com-
prador. A depender disto, o comprador pode pagar muito pouco por um códice importantíssimo
bu pagar caríssimo por uma cópia de menor importância." Acreditamos que, no caso da venda dp
Códke Costa Matoso pela Maggs ocorreu a primeira situação exposta. Expresso aqui meus agradeci-
mentos a essa amiga, que foi ímpar na colaboração para as pesquisas do projeto e ensinamentos a
respeito do universo dos colecionadores.
' 0- A transação entre ã. Maggs e Félix Pacheco transcorreu entre 1925 e 1930, uma vez que o cimélio
em discussão não mais aparece na edição de 1930 do catálogo de Hvros raros e documentos da
firma inglesa [BIBLIOTECA Brasiliense, Londres: Maggs Bros., 1930). A caixa vermelha em que o
original encontra-se até hoje açondictouadq na Bibiioteca Mário de Andrade foi especialmente
confeccionada pêlo leiloeiro londrino. Observe que a designação equivocaria Costa Matoço aparece
gravada nó invólucro.
'' • O próprio, admitia: "[••-] várias outras peças, manuscritas trouxemos para o Brasil, no pensamento"
de que aqui permaneçam e fiquem, esclarecendo pontos obscuros de nosso passado." PACHECO,
Félix. O valor imenso da Biblioteca Brasiliense. Jonía/íA? Comércio, Rio de Janeiro, 28 sct. 1930. p. 9.
Em algumas passagens deste texto tomo emprestado com certa sem-cerimônia o material de pes-
quisa sobre as circunstâncias da chegada do Códice em São Paulo e sua transferência para a Biblio-
teca Municipal de São Paulo levantado por íris Kantore sistematizado em seu ./Vã rota do Códice
Costa Matoso. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1997. Comunicação apresentada durante
XIX Reunião Nacional da Anpulc
"Várias vezes disse-nos Félix Pacheco, com a cordialidade extraordinária
que sempre nos demonstrou: 'quando você chegar com. a sua História das banderas à
fase do ouro de Minas Gerais, peça-me uma contribuição que eu lha porei à dispo-
sição, certo de que não a desdenhará, de todo', sublinhava malicioso.
E sorria quando retrucávamos/nos deixasse dar u m a espiadela', ao que afirma-
va não ser desdenhãvel, e piamente acreditávamos dever ser a mais fina das pa-
pas". l;1
TAUNAY, Afonso de E. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo: Imprensa Oficial, Museu
Paulista, 1948, V. 9, p. 91.
TAUNAY, Afonso dç E. Subsídios para a história do tráfico africano no Brasil. Anais do Museu
Paulista, São Paulo, t. 10, p. 189-19D, 1941.
KANTOR, íris, op. <:it. nota 12.
R u b e n s Borba de Moraes, n a qualidade de diretor da Biblioteca Municipal de
São Paulo, mobiliza-se j u n t o a o prefeito Fábio Prado p a r a garantir apoio â compra,
advertindo q u e "[...] essa riquíssima .coleção [...] n ã o p o d i a de m a n e i r a alguma ser
dispensada n e m e m b a r c a d a para Londres [•••]" ^ alertando p a r a o destino de muitos
)
negociações, que c o m e ç a r a m c o m a oferta de 500 contos de. réis por todos os livros,
manuscritos e gravuras, o martelo foi batido p a r a Venda por 650 contos..^
Nascia c o m essa c o m p r a , e m 1936, o núcleo d a i m p o r t a n t e Brasiliana adqui-
rida p e l a Divisão de D o c u m e n t a ç ã o Histórica e Social d a Biblioteca M u n i c i p a l , o
q u e m o t i v o u briosos comentários do experiente T a u n a y , e m carta ao prefeito:
"Nas nossas bibliotecas até agora reinava a maior pobreza em relação aos livros
antigos do Brasil. Comprando a coleção Félix Pacheco V.Exa. incorporou à Bibliote-
ca Municipal n ã o só uma grande massa de raridades bibliográficas como ainda u m
conjunto de preciosos códices onde há inéditos de subida valia."' 9
BJEM, Arquivo pessoal de Rubens Borba de Moraes, Relatório enviado à prefeitura de São Paulo, s. d.
Idem.
A transação Leria enfrentado muitos complicadores: desde resistências no governo paulista com
gastos daquela magnitude até intensa concorrência das casas internacionais. Na opinião deTaunay,
a atuação do dr. Paulo Duarte teria sido fundamental para que o negócio fosse fechado (MP,
Coleção Afonso Taunay, Série Correspondência, pasta 156. Carta de Afonso de E. Taunay para Inesita,
29 de abril de 1936). A titulo de comparação, Taunay informa em carta para Júlio de Mesquita que
a compra da coleção Lamego teria custado 200 contos (MP, Coleção Afonso Taunay, Série Cor-
respondência, carta para Júlio de Mesquita FiUio, 14-outubro 1935).
MP, Coleção Afonso Taunay, Série Correspondência, pasta 101. Carla ao prefeito Fábio Prado, 12
set.l93G.
TATJNAY, Afonso de E., op.çit. nota 13, p. 91.
Sendo assim, Taunay, seu primeiro divulgador, teve a honra de batizar este cimélio. Embora esta-
beleça pequenas oscilações entre Códice Costa Matoso ou Códice Matoso na sua História geral das bandei-
ras paulistas, após esta publicação a historiografia cuidaria de consagrai' a primeira designação.
TAUNAY, Afonso de E, op. cit. nota 13.
E m gesto d e delicada h o m e n a g e m , T a u n a y escolheria p a r a divulgar p e r a n t e
o g r a n d e p ú b l i c o as primeiras passagens daqueles m a n u s c r i t o s j u s t a m e n t e n o J o r -
n a l do C o m e r c i o , p e r i ó d i c o q u e Félix P a c h e c o dirigira. L a n ç a , e m o u t u b r o de.
1936, breve artigo, c o m o título Uma preciosidade da Brasiliana de Félix Paçheco publi- >
c a n d o q u a d r o c o m o t o t a l d e e s c r a v o s e h o m e n s forros e n t r e 1 7 3 5 e 1 7 4 9 ,
registrados p a r a efeito d a c o b r a n ç a da capitação e m Minas. G e r a i s , 2 2
e, de j u n h o
d e 1946 a d e z e m b r o de 1947, diversos artigos c u i d a r i a m d e d i v u l g a r os d o c u -
m e n t o s c o n t a n d o a saga do p o v o a m e n t o de M i n a s pelos paulistas, n u n c a deixan-
do d e assinalar q u e o precioso cimélio p e r t e n c e r a à B r a s i l i a n a d o j o r n a l i s t a . ^ 3
E m b o r a p o s t u m a m e n t e , confirma-se a previsão q u e .lhe fizera o velho a m i g o a
respeito d a utilidade q u e a d o c u m e n t a ç ã o teria p a r a sua o b r a maior: e m sua His-
tória geral das bandeiras paulistas, o v o l u m e 9 e p a r t e do v o l u m e 10 seriam ilustrados
c o m passagens d o Códice?-^
TAUNAYj Afonso de E. Uma preciosidade da Brasiliana de Félix Pacheco. Jornal do Comércio, Rio
deJaneiro, 11 out, 1936. p. 3. Refere-se na presente edição ao documento de número 46.
Afonso de E. Taunay assina vários artigos publicados no Jornal do Comerció do Rio de Janeiro entre
junho de 1946 e dezembro de. 1947, onde publicava transcrições de documentos considerados
mais significativos ou produzia textos — muitos deles aproveitados em sua História geral das bandeiras
paulistas—sohrç a expansão paulista entremeados por trechos do Códice. O Jornal do Comércio publica
do autor os. seguintes títulos tias respectivas datas; "Ura cimélio de Félix Pacheco (As primeiras
descobertas do ouro em Minas Gerais)", I6jun.l946,p. 2; "Um cimélio de Félix Pacheco", 23jun.
1946, p. 2; "Um cimélio de Félix Pacheco (Relato de Bento Fernandes Furtado de Mendonça)",
30juti. 1946, p. 2; "Um cimélio de Félix Pacheco. Os primeiros ouros das Minas Gerais", 7 juí. 1946,
p, 2; "Um cimélio de Félix Pacheco (final do relato de Bento Fernandes Furtado de Mendonça)",
14 jul. 1946, p. 2; "Noticias dos primeiros anos das Minas Gerais . Relação de algumas antiguida-
des das Minas (papel da Brasiliana de Félix Pacheco)", 13 out. 1946, p. 2; "Um inédito da Brasiliana
de Félix Pacheco (Relação do princípio descoberto [...] Sr. Dom Braz Baltazar da Silveira) (Papel
das vizinhanças de 1750)", 1 dez. 1946, p. 2; "Depoimentos sobre os primeiros anos das Minas
Gerais. Dou parte do que vi e sei (papéis da Brasiliana de Félix Pacheco", 8 dez. 1946, p. 2; " Os
primeiros ouros das Minas Gerais":, 5 jan. 1947; "Mais ribeiros auríferos", 12 jan. 1947, p. 2;
"Ouro de lavagem e ouro de beta"., 19 jau. 1947, p. 2; "O primeiro guia turístico brasileiro impres-
so {raridade notável da Brasiliana de Félix pacheco)",. 26 jan. 1947, p. 2; "Lacuna da história do
ouro preenchida graças a um cimélio da Brasiliana de Félix Pacheco'^ 20 abr. 1947, p. 2; "História
do distrito do Rio das Mortes (manuscrito precioso e inédito da Brasiliana de Félix Pacheco)", 1
jun. 1947. p. 2.; " História do distrito do Rio das Mortes, sua descrição, descobrimento de suas
minas, casos nele acontecidos entre paulistas e emboabas e criação de suas vilas peio sargento-mor
José Alvares de Oliveira (manuscrito inédito da brasiliana de Félix Pacheco). II Paulistas e emboabas",
B jun. 1947, p- 2.; "História do distrito do Rio das Mortes pelo sargento-mor José Alvares de Olivei-
ra (1750) (manuscrito inédito da brasiliana de Félix Pacheco). III Assédio de São João del-Rei", 15
jun. 1947, p.. 2;. "Emboabas", 12 dez. 1947, p.. 2; "Vésperas de rompimento", 19 out. 1947, p. 2;
"Ouvidores metedíçòs", 26 out. 1947, p. 2; "Péssimas notícias do levantamento de Minas Gerais",
28 dez. 1947, p. 2; "Ruptura de hostilidades", 14 dez. 1947, p. 2.
TAUNAY, Afonso de E, op. cit. nota 13 e TAUNAY, Afonso de E. História geral das bandeiras paulistas.
São Paulo: Imprensa Oficial, Museu Paulista. 1949. V. 10^ Em 1953, Taunay publicaria esses e
outros documentos circunscritos à temática das bandeiras paulistas e do povoamento de Minas em
Relatos sertanistas. São Paulo: Martins, 1953.
A l é m d e T a u n a y , u m dos leitores de p r i m e i r a h o r a foi R o b e r t o S i m o n s e n ,
q u e , c o m diligência, transcreve, n o s idos d e 1936 — p o r t a n t o , logo depois de o
Códice d a r e n t r a d a Biblioteca Municipal d e S ã o P a u l o (atual Biblioteca M u n i c i p a l
M á r i o de A n d r a d e ) — dados econômicos do m a n u s c r i t o p a r a ilustrar seus cursos n a
Escola Livre de Sociologia e Política d e São P a u l o , os quais a p a r e c e r i a m n a edi-
ç ã o original d e H i s t ó r i a e c o n ô m i c a do B r a s i l . ^ Se a, a m o s t r a dos d o c u m e n t o s
publicados é p e q u e n a e m relação à prolificidade de T a u n a y , Simonsen, a o divul-
g a r a lista d e escravos e n t r e 1735 e 1749 e m M i n a s G e r a i s e. as três listas de.
p r o d u t o s exportados e m "1749 pelo* Brasilj ultrapassa certa t e n d ê n c i a d e valorizar
a d o c u m e n t a ç ã o sobre São P a u l o e sobre a colonização das M i n a s , aspecto q u e
desde e n t ã o m a r c a r i a as interpretações t o m a d a s a p a r t i r d o Códice.^
S u a r e p u t a ç ã o seria d o r a v a n t e c o n s t r u í d a s o b r e f u n d a m e n t o s .cercados d e
expectativas. Esfinge q u e n ã o s u p o r t a v a ser decifrada, a despeito do. desconheci-
m e n t o sobre seu verdadeiro c o n t e ú d o , sua o r g a n i z a ç ã o i n t e r n a e.^ m e s m o , sobre a
biografia do o r g a n i z a d o r , n e m p o r isso deixou d e s e m p r e m e r e c e r p a l a v r a s de
vivo e n t u s i a s m o , q u e p a s s a r a m a ecoar de m a n e i r a crescente. H i s t o r i a d o r e s q u e
sobre ele se d e b r u ç a r a m j a m a i s d e i x a r a m de registrar semelhantes e x p r e s s õ e s . ^
Afonso E. T a u n a y e m p r e s t a sua a u t o r i d a d e d e leitor pioneiro n o j u l g a m e n t o do
"inestimável precioso Códice Costa Matoso", d e c l a r a n d o e m s u a História geral das b a n -
deiras paulistas: "[...] p a r a a história dos primórdios d o o u r o e m M i n a s Gerais n u n c a
será e x a g e r a d o e n c a r e c e r o q u e r e p r e s e n t a a contribuição d e c o r r e n t e d o Códice Costa
Matoso [...]."
2S
íris Kantor localizou na Biblioteca da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo as
apostilas sem data do curso de História Econômica ministrado por Roberto Simonsen. Ali, segun-
do a autora, Simonsen faz referência ao Códice recém-adquirido pela municipalidade. Op, cit, nota
12, p. G.
Na presente edição, esses documentos são os de número 46, 140, 141, 142, respectivamente. Re-
gistre-se que Taunay, depois de publicar no Jornal do Comércio esta relação do número de escravos
em Minas^ apresentaria no Congresso de História Nacional do IIIGB de 1938 o? resultados de sua
pesquisa combase neste documento, publicados mais tarde em: TAUNAY, Afonso de E. Subsídios
para a história do tráfico africano no Brasil. Anais do Museu Paulista, $ão Paulo, t, 10, p.193, 1941.
O Códice não parece ter estado disponível aos seus contemporâneos do século XVIII.e, mesmo, do
século XIX, Diferente de alguns importantes textos então produzidos que circularam entre os
autores da época, como foi o relato de Bento Furtado, cuja cópia completa encontra-se nesta edi-
ção sob o número 2, e; as Informações dos minas de São Paulo e dos sertões da mesma capitania, de Pedro
Taques, que formaram a base do Fundamento histórico do poema Vila Rica de Cláudio Manuel da Cos-
ta).
28 De modo recorrente em passagens da obra {principalmente em seu v. 9), não poupa palavras de
encantamento : " [...] riquíssimo manancial representado pelo códice 41 da Biblioteca Municipal
de São Paulo, 0 Códice Costa Matoso, um dos mais preciosos ciméfios dentre os tantos que Félix
Pacheco soube descobrir para a constituição da sua opulentíssima Branliana", TAUNAY, Afonso
de E, op. ctí. nota 13, p. 461.
O notável Charles Boxer, q u e utilizou c o m o poucos informações e m a n a d a s
d o Códice Costa Mato$o e m sua clássica o b r a A idade de ouro do Brasil, salientaria q u e se
%
tinha ali u m "[...] inestimável repositório dos manuscritos originais sobre a história d e
Minas G e r a i s . " 2 9
Afonso E. T a u n a y empresta sua a u t o r i d a d e de leitor p i o n e i r o n o
j u l g a m e n t o do "inestimável precioso Códice Costa Matoso", d e c l a r a n d o n a s u a o b r a
História geral das bandeiras:paulistas: "[...] p a r a a história, dos p r i m ó r d i o s d o o u r o e m
M i n a s Gerais n u n c a será e x a g e r a d o e n c a r e c e r o q u e r e p r e s e n t a a contribuição de-
corrente do Códice Costa Matoso
O u t r o s j u l g a m e n t o s semelhantes a p a r e c e r i a m em seqüência: "Prestimoso", " p r e -
cioso cimélio setecentista m i n e i r o " , adjetivou J o s é Ferreira C a r r a t o 3 1
ao estudar as
informações a respeito d a igreja, e m M i n a s . " P r e c i o s o " é expressão q u e R o b e r t o
S i m o n s e n t a m b é m e m p r e g a e m sua História econômica do Brasil.'^ N o s anos recentes,
D o n a l d R a m o s , n a linhagem da historiografia n o r t e - a m e r i c a n a q u e utilizou esse acer-
vo, renovaria d j u l g a m e n t o a respeito, valorizando sua n a t u r e z a d e fonte t e s t e m u n h a l
direta: " T h i s collection of d o c u m e n t s is extremely i m p o r t a n t b e c a u s e it includes
accounts of t h e early history of the m i n i n g district written, in m a n y cases, by p e o p l e
w h o p a r t i c i p a t e d in the events they describe [ . . . ] . " 33
"Inestimável repositório cios manuscritos originais sobre a história de Minas Gerais (e de algumas
outras regiões do Brasil e do Maranhão-Pará também) colecionados por um juiz-de-fora de Ouro
Preto, entre 1749 e 1752." BOXER, Charles.R. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de
uma sociedade colonial. 2. ed. São Paulo: Nacional. 1969. p. 382.
De modo recorrente em passagens da obra {principalmente em seu v. 9), não poupa palavras de
encantamento : "[•••] riquíssimo manancial representado pelo códice 41 da Biblioteca Municipal
de São Paulo, q Códice Cosia Matoso, um dos mais preciosos cimélios dentre os tantos que Félix
Pacheco soube descobrir para a constituição da sua opulentíssima Brasiliana", TAUNAY, Afonso
de E, op. cit. nota 13, p. 461.
CARRATO, José Ferreira. Igreja, Iluminismo e escotas mineiras coloniais; notas sobre a cultura da decadênáa.
mineira.setecentista.. São Paulo: Nacional, 1968. p. 51.
SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil (1500/1820). 8. ed. São Paulo: Nacional,
1978. p. 296.
.RAMOS; Donald. A social history of Ouro Preto: stresses of dynámicurbanization in colonial Brazil,
1695-1726. Gaiuesvillc: Uníversity of Florida,1972. p. 434.
A reduzida parcela de material publicado poderá ser verificada nas notas introdutórias aos docu-
mentos, sobretudo na indicação das cópias impressas e cópias manuscritas, preparadas para esta
edição,
alguns dos arquivos c o m a d o c u m e n t a ç ã o afeta às temáticas conhecidas do Códice
p o s s u e m cópias disponíveis e m microfilmes ou e m p a p e l . 3 5
No Arquivo Público Mineirq (Belo Horizonte), existe,- desde a década de 70, cópia em papel e em
microfilme do Códice (doado pelo Conselho de Extensão da UFMG). No Arquivo Nacional, encon-
tra-se, desde os anos 80 microfilme.com sua reprodução (microfilme 011.0-81). Em São Paulo, o
Centro de Apoio à Pesquisa em História Sérgio Buarque de. Holanda, vinculado ao Departamento
de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,
também possui o microfilme (ref. 926), doado por Marcos Magalhães de Aguiar. No processo de
pesquisa para esta edição, íris Kantor localizou no MP, Coleção Afonso de E. Taunay, pasta 3, ref.
2395-2397, para surpresa geral, uma transcrição diplomática inédita ç incompleta do Códive solici-
tada por "dr. Taunay" a funcionados da Biblioteca Municipal de São Paulo em 18 de março de
1949, datilografada, 553 páginas. Tarquinio de Oliveira se utiliza de "uma boa reprografia do
precioso documentário" cedida por José Israel Vargas. OLIVEIRA, Tarquinio J.B. de (Org. e
análise). Erário Régis de. Franciuo A, Rebelo, Í768. Ed. fac-similar. Brasília: ESAF, 1976. p. 101, sendo
esta a mesma cópia microfilmada que seguiu para o acervo do Arquivo Público Mineiro. A biblio-
teca José Mindlin possui cópia parcial em papel doada peto mesmo Israel Vargas.
O leitor poderá encontrar adiante, nos comentários paleográficos da professora Y e d d a Dias Lima
aos documentos, o retrato dessa diversidade.
Apenas dois instrumentos são conhecidos, ambos lacunares. O primeiro deles, de Hélio Gravata,
acessível apenas àqueles que pesquisavam no Arquivo Público Mineiro [índice do Códice Costa Matoso.
Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, [1977]) e, mais recentemente, o de Marcos Magalhães
de Aguiar {Indkt sekemnado do Cédke Costa Matoso — Biblioteca Mário de Andrade. São Paulo: s. 1993),
que gentilmente nos cedeu cópia nas primeiras horas deste projeto de edição.
pios d o c u m e n t o s e m vários de seus capítulos d e sua I d a d e de o u r o do B r a s i l . 38
Charles R. Boxer em outra ocasião apresentou o Códke Costa Matoso: "Esse códicefoi compilado em
1749-52, mas alguns daqueles cujas reminiscências são ali registradas, tinham chegado a Minas
Gerais antes do fim do século XVII e outros logo no início do século XVIII- Alguns desses relatos
foram transcritos por Taunay: Relatos Sertanistas (São Paulo, 1954), mas, infelizmente, com nu-
merosos erros de impressão, enganos e omissões. Fez ele muito melhor uso daquele inestimável
códice nos volumes IX e X de sua monumental História Geral das Bandeiras Paulistas, mas mesmo ali
nem sempre àk rclerências adequadas." Op. cit. nota 27, p. 59.
Em vista da complementaridade que o presente estudo guarda com a edição do Códice, preferimos,
a fim de evitar redundância, não apresentar aqui de modo exaustivo o uso de alguns de seus docu-
mentos pela historiografia, já quedas notas introdutórias especialmente preparadas para cada um
deles resgatam esse aspecto. O mesmo vale para certas referências bibliográficas e documentais
que jã constam nestes preâmbulos, explicativos, nos quais os diversos autores e suãs maiores contri-
buições serão lembrados.
PITA, Sebastião da Rocha. História da América portuguesa desde, o ano de. mil e quinlientos do seu descobrimen-
Lisboa Ocidental: Oficina de Joseph Antônio da Silva, 1 730.
to até o de mil e setecentos e vinte e quatro.
L. 9,p. 402-414. Destacaríamos ao longo do percurso historiográfico entre Pitta e Taunay o estudo
de.MELO, José Soares de Emboabas: crônica de uma revolução nativista. Documentos inéditos.
São Paulo: São Paulo Editora 1929 e artigo de CARDOZO, Manuel Soares, The Guerra dos
}
Emboabas, civil war in Minas Gerais, 1708-1709. Hispanic American Historical Remew, v. 22, n. 3, p.
470-492, 1942, ambos muito bem pesquisados. Para o papel representado pela utilização do Códice
por Taunay na renovação desses estudos, ver MATOS, Odilon Nogueira de. A Guerra dos
Emboabas, In: HOLANDA Sérgio Buarque de (Dir.) História geral da emlizaçao brasileira. Rio de
Janeiro: Difel, 1977. T. 1, v. l,p. 299. Sobre o tema, ver bibliografia selecionada por GRAVATA,
Hélio. Hélio Gravata: Resgate bibliográfico de. Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pi-
nheiro, CEHC, 1998, p. 98-108. Apesar desta longa tradição, o tema está estacionado desde então.
TAUNAY, Afonso de E, op. cit. nota L3; TAUNAY, Afonso de E, op. cit nota 23, v. 10; TAUNAY,,
Afonso de E, op. cit. nota 23, 1953.
paulistas e forasteiros, o p a p e l dos p r i m e i r o s g o v e r n a d o r e s p o r t u g u e s e s , a pacifi-
cação da região p o r obra de Antônio de A l b u q u e r q u e Coelho de Carvalho, o
i m p a c t o da covardia do g o v e r n a d o r do R i o de J a n e i r o após a invasão francesa e a
mobilização d e apoio e m M i n a s Gerais, o e n f o r c a m e n t o e violento castigo impos-
to a Filipe dos Santos.42
M a t e r i a l d e n a t u r e z a quantitativa, o Códice ofereceria subsídios imediatos p a r a a
historiografia econômica^ c o m destaque p a r a as informações sobre o total de escravos
e m M i n a s e o v o l u m e de o u r o a r r e c a d a d o pelo quinto. O cálculo do n ú m e r o de
escravos teria, c o m o j á p u d e m o s ver, S i m o n s e n , T a u n a y , M a u r í c i o G o u l a r t e Virgílio
de N o y a P i n t o . 4 3
e, mais tarde, B o x e r entre seus estudiosos. P a r a a estimativa da
p r o d u ç ã o do o u r o e do v o l u m e remetido p a r a a M e t r ó p o l e e m vários m o m e n t o s d o
século X V I I I , T a u n a y e Boxer t r a t a r a m apenas de u m a p e q u e n a p a r t e desse tipo d e
informação q u e habita no original.
A m a i s r e c e n t e i n v e s t i d a n o Códice p a r t i u d e estudiosos p r e o c u p a d o s e m
descortinar novos temas da história colonial, e m particular as disputas d e jurisdição
e n t r e o p o d e r real e a Igreja em M i n a s Gerais. A existência d e vasto material a respei-
to da estrutura financeira do bispado d e M a r i a n a , d e suas receitas e despesas, d a
legislação referente à j u s t i ç a e à ouvidoria t e m servido p a r a sustentar estudos c o m o os
d e M a r c o s M a g a l h ã e s de Aguiar e íris K a n t o r . 4 4
*• Alguns desses mesmos relatos, consultados cm outr;\sfontes,parecem ter servido de fontes para a
redação de ROCHA, José. Joaquim da, Geografia histórica da capitania de Minas Gerais. Descrição geográ-
fka.} topográfica, histórica e politica da Capitania de. Minas Gerais. Memória ht&tihka da sapitania de Almas
Gerais.Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, CEHCJ995; COELHO, José João Teixeira.
Instrução para o governo da capitania deMinas Gerais. Belo Horizonte; Fundação João Pinheiro, CEHC,
1994 e COSTA, Cláudio Manuel da. Fundamento Histórico do poema Vila Rica. In: PROENÇA
FILHO, Domício (Org.). A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Ciáudip Manuel da Costa,
Tomás Antônio Gonzaga eAlvareiiga Peixoto. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 360-376 e
347-446.
4 3
- SIMONSEN, Roberto, op. cit nota 30; TAUNAY, Afonso de E., op. cit. nota 23; GOULART,
Maurício. A Escravidão Africaria no Brasil. 3. ed. São Paulo: Alfa Orneia, 1949. p. 142i PLNTO,
Virgilio de Noya. 0 ouro brasileiro e o comércio anglo-português. São Paulo: Nacional; Brasília: INL,
1979.
4
• AGUIAR, Marcos Magalhães de, Vila Rica dos confrades: sociabilidade confraria! entre negros e
mulatos no século XVIII. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1993. KANTOR, íris, Pacto
Festivo em Minas Colonial: & entrada triunfal do primeiro bispo na Sé de Mariana. São Paulo: Univer-
sidade de São Paulo, 1996,
A i n d a n o t e r r e n o das pesquisas sobre M i n a s , material do Códice ilustrou situ-
ações e n v o l v e n d o carestia, m o d a l i d a d e s d e c o n s u m o e tipos de a l i m e n t a ç ã o dos
h a b i t a n t e s . E n q u a n t o Sérgio B u a r q u e d e H o l a n d a 4 5
decifrou alguns d e seus re-
gistros p a r a descrever as comidas dos sertanejos, W a l d e m a r d e A l m e i d a B a r b o s a ê
Beatriz R i c a r d i n a M a g a l h ã e s r e c o r r e m a o Códice p a r a falar d a dieta d o s m i n e i -
r o s ^ e D o n a l d R a m o s conseguiria redigir a m p l o estudo sobre Vila R i c a a p a r t i r
4
d e i n ú m e r o s de seus d o c u m e n t o s . 4 7
.HOLANDA, Sérgio Buarque de.. Metais e pedras preciosas. In: HOLANDA, op. cit. nota 38 e
HOLANDA, Sérgio. Buarque de, Caminlios e Fronteiras. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1994. p. L82.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. A decadência das Minas e ftjuga da mineração. Belo Horizonte,
UFMG, Centro de Estudos Mineiros, 1971. p. 214; MAGALHÃES, Beatriz Ricardina de. A de-
manda do trivial. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 65, p. 191,1987. Em Minas
Gerais o conhecimento do Códice de forma mais sistemática parece, ter estado associado ao Centro
de Estudos Mineiros, na década de 1970. Pesquisadores, e estudiosos como Francisco Iglesias, Síl-
vio Gabriel Diniz, Hélio Gravata, Cássio Lanari, Tarquinio de Oliveira, Afíbnso Avila, dentre
outros, investiam em um ambicioso projeto de publicações de documentos históricos e divulgação
de fontes relevantes para a história de Minas Gerais.
RAMOS, Donald, op. cit. nota 31.
Para a conclusão segura a respeito da datação da encadernação do Códice, apoiamo-nos em laudo
preparado por Guita Mindlin, a quem agradecemos pela inestimável colaboração: "O Códice possui
uma encadernação do século XVIII, portanto, contemporânea ao documento [...]. A encaderna-
ção é feita em pergaminho, muito fino (velino); b pergaminho é forrado com tecido apenas no
lombo (na parte interna do lombo); a encadernação não possui cabeceado. Para formar os cader-
nos, os documentos são costurados com fios de linha. Para formar o volume, os cadernos são
costurados com 4 tiras em pergaminho. O volume possui 4 tiras em pele curtida ao alúmen para
formar os fechos (amarras). O Códice possui vários tipos de papel, todos feitos á mão."
velino de sua l o m b a d a , e o título redigido n a folha d e a b e r t u r a do Códice.^ Alcan-
ça-se, p o r c o n s e g u i n t e , u m a p r i m e i r a certeza f u n d a m e n t a l : p a r t i u d e u m ato d e
v o n t a d e do antigo ouvidor das M i n a s a r e u n i ã o desses d o c u m e n t o s e m u m volu-
me. ^ u
A n a l i s a r e m o s o pleno significado disto m a i s a d i a n t e .
E e x t r e m a m e n t e difícil precisar a d a t a e m q u e a coleção foi c o n c e b i d a c o m o
tal. Q u a n d o C a e t a n o d a C o s t a M a t o s o teria c o m e ç a d o a r e u n i r os d o c u m e n t o s
q u e iriam c o m p o r mais tarde o Códice? Q u a n d o , d a n d o p o r finda a tarefa d e j u n t a r
os papéis sobre o Brasil, teria decidido encerrá-lo?
N e n h u m a das perguntas p e r m i t e respostas exatas, e o ú n i c o c a m i n h o p a r a se
fixar sua cronologia e. tentar d a t a r os períodos e m q u e os diferentes d o c u m e n t o s teri-
a m sido trasladados p a r a leitura do colecionador. O p r i m e i r o impulso seria atribuir a
d a t a inicial d a f o r m a ç ã o do c o m p ê n d i o à s u a chegada, e m 1749, ao p o s t o de ouvidor
de Vila R i c a , q u a n d o feria s u p o s t a m e n t e c o m e ç a d o a reunir o material.-^ Reforça
essa definição o g r u p o inicial de d o c u m e n t o s sobre o p o v o a m e n t o das M i n a s , materi-
al q u e foi, ao q u e t u d o indica, d i r e t a m e n t e solicitado pelo ouvidor a antigos m o r a d o -
res assim q u e chega à região.
J á o e n c e r r a m e n t o do Códice o c o r r e c e r t a m e n t e e m Portugal, a l g u m t e m p o de-
pois de seu r e t o r n o do Brasil, e m 1752, q u a n d o passa a se dedicar à a d v o c a c i a . ^ A 5
Desta vez, nutra especialista hábil e generosa concorreu para nos auxiliar. A professora Yêdda Dias
Lima redige o seguinte comentário paleográfico a respeito da lombada e página de título: "Escrita
moderna, bastarda do século XVIII, cursiva destrógrada, com traçado evoluído e personalizado,
identificável em muitos dos manuscritos do Códice, inclusive em rasuras efetuadas em escritas distin-
tas, de terceiro. Podemos identificada com autógrafos do titular, o ouvidor da Comarca de Ouro
Preto, Gaetano da Costa Matoso. Destacam-se, entre os caracteres, o "s" final, pendente, abaixo
da linha da escrita, com cauda prolongada, atingindo duas ou mais letras da palavra, terminando
em laçada, ou traço arredondado simples; o "p", com dupla haste inferior, destrógiro; o "d" de tipo
uncial, na maioria das vezes formando nexo, quando seg-uido de vogais. Abreviatura usual do
relativo "que" em que a indicação da abreviatura parte da haste inferior da letra, formando um
semicírculo envolvente."
A existência de outros códices que integrassem sua livraria reforça a evidência dessa vontade de
ordenar em volume especial todos os registros que acumulara sobre Minas e o Brasil. Também
atribuído a Caetano da Costa Matoso, foi localizado códice na Biblioteca Nacional de Lisboa,
trazendo composições latinas, que comentaremos no último segmento desse estudo (BNL, cód.
3786. Coleção de composições latinas, [254 fl.], onde suspeitamos existir ainda outros).
Alguns comentadores fixaram entre 1749 e 1752 a datação do Códice, entre eles BOXER, Charles
R., op. cit. nota 27, p. 59 e 382. Ao cuidadoso historiador Tarquinio de Oliveira não escaparia que
em 1754 "o ouvidor Matoso parece ter concluído seu intento", OLIVEIRA, TarquínioJ. B . , op- cit.
nota 33, p. 102.
Informações biográficas mais precisas sobre o período de Costa Matoso em Portugal após o retor-
no do Brasil encontram-se na parte 3 (0 ouvidor instruído) deste estudo.
M a t o s o resolveu e n c e r r a r e m u m v o l u m e e n c a d e r n a d o os papéis relacionados a o
Brasil?
È possível estabelecer, c o m g r a n d e m a r g e m de acerto, u m a periodização p a r a a
c o m p i l a ç ã o dos d o c u m e n t o s q u e iriam u m dia c o m p o r o Códice, Fixando q u a t r o fases
distintas e n t r e os a n o s 1745 e 1754.
A p r i m e i r a - 1745-1748 — p o d e r í a m o s c h a m a r d e p r e p a r a t ó r i a . C o m e ç a e m
1745, q u a n d o , desvencilhado do posto de j u i z de fora de Setúbal (1742-1745), o dr.
C a e t a n o passa a p r e p a r a r os planos de sua n o m e a ç ã o p a r a o Brasil, q u e ocorreria e m
agosto d e 1748, c o m a p a r t i d a p a r a os trópicos e m d e z e m b r o d a q u e l e m e s m o a n o .
P r e v e n i d o e desde j á r e c o n h e c i d o c o m o h o m e m meticuloso, o o u v i d o r p o d e r i a ter
r e u n i d o m a t e r i a l informativo a respeito da r e a l i d a d e q u e iria e n c o n t r a r n o além-
rnar.53 Nessa categoria estariam o Itinerário geográfico ( d o c u m e n t o 139), q u e possivel-
m e n t e foi lido e e s t u d a d o p a r a auxiliá-lo n a orientação d e sua v i a g e m pelos c a m i n h o s
de M i n a s , e as anotações feitas a partir de livros d e História d a A m é r i c a p o r t u g u e s a ,
d e n t r e eles A vida, do padre Almada de S i m ã o d e Vasconcelos ( d o c u m e n t o 128), alguns
dos relatos d e v i a g e m pelas zonas mais r e m o t a s do Brasil p o r t u g u ê s ( d o c u m e n t o s 1.30
a 137) e, m e s m o , os d o c u m e n t o s legais anteriores a 1748, c o m o várias das leis associ-
adas a seu oficio.
O leitor atento fará notar a presença de muitas cópias de documentos com datação anterior a
1 a l g u n s mesmo de épocas mais remotas, como 1G69. Constituem, porém, todos eles matéria
copiada no período em que reuniu informações para subsidiar sua atuação, como ouvidor de Vila
Rica.
A última e t a p a — 1752-1754 - transcorre desde seu r e t o r n o à M e t r ó p o l e até
a p r o d u ç ã o dos últimos d o c u m e n t o s q u e c o m p o r i a m o Códice: o Regimento de 10 de
outubro de 1754 sobre os emolumentos dos ouvidores e mais justiças das comarcas de Minas
Gerais ( d o c u m e n t o 96) e o Papel sobre o novo regimento retro, c o m e n t á r i o s d e Francisco
A n g e l o Leitão sobre o r e g i m e n t o ( d o c u m e n t o 97). N o p e r í o d o , confecciona, e m
1752,. rigorosa avaliação dos r e n d i m e n t o s d o b i s p a d o d e M a r i a n a ( d o c u m e n t o s
99-108) a t e n d e n d o às obrigações c o n t r a t a d a s c o m o rei e, c m 1753 « 1754, ad-
q u i r e os m a p a s d e a r r e c a d a ç ã o do q u i n t o e m M i n a s (documentos 70-73).
D e s t e m o m e n t o e m d i a n t e , o ouvidor p a r e c e e n c o n t r a r t e m p o e certa disponi-
bilidade p a r a t r a t a r d e m a n e i r a cuidadosa centenas destes diferentes d o c u m e n t o s
q u e v i n h a j u n t a n d o , ordená-los n a f o r m a final c o m q u e nos alcançou esse material e
a n o t a r alguns dados atualizados sobre a q u e l a colônia, c o m o os n o m e s dos governa-
dores n o m e a d o s p a r a o E s t a d o do Brasil desde sua p a r t i d a . ^ 5
No documento 118, Memória dos governadores que tem havido nesta capitania do Rio de Janeiro desde o princí-
as atualizações alcançam dom Luís de Vasconcelos e Sousa, que governa de
pio de seu descobrimento,
1779 a 1790.
Em virtude disto, optamos por agregar Vários papéis, escrito pelo próprio compilador na lombada,
ao título da presente edição, a fim de restaurar a concepção integral do Códice- Suspeitamos que
Caetano da Costa Matoso tenha se aproveitado na ocasião da encadernação de antiga folha de
abertura preparada quando começou a reunir ainda êm Minas Gerais o grupo de narradvas sobre
a descoberta e colonização da regiãp.
BLUTEAU, Rafael. YoiahnUirioportuguês e latino [...]. Coimbra . Colégio das Artes da Companhia de.
1
papéis,, relações, composições poéticas, etc, relativos às vitórias alcançadas na índia, em 1746, por
dom Pedro Miguel de Almeida e Portugal, marquês de. Castelo Movo e. conde de Assumar, vice-rei da
India^ r e c h e a d o s d e panegíricos, versos e sonetos, e relações n a r r a n d o c a m p a n h a s
militares.
b 0
- "BM .DM,Add.,n. 15198. Papéis políticos, t. 6. 364 fl.
1
í;1
' "BM, DM, Add, n. 20-907.
.BM, DM, Add., a. 20966. Sou grato a Evaldo Cabral dc Mello por ter me chamado a atenção para
certa similitude, entre este códice do governador pernambucano e o do ouvidor mineiro.
63
- Idem.
Nessa classificação estariam reunidas, diversas viagens realizadas à A m é r i c a , c o m o
o códice Voyage up lhe river madeira in Brazil, q u e transcreve, d e n t r e outros, A tour up the
Madeira begun 25 sep.. 1749, Relação da guerra e sucessos de Mato Grosso desde o ano de, 1759 até
o ano de 1764 e Noticias do Lago Xaraies.^
A i m p o r t â n c i a q u e a p r e s e n ç a desse tipo d e livro m a n u s c r i t o alcançou n a cultu-
ra letrada do A n t i g o R e g i m e n ã o foi p e q u e n a . H á ocasiões e m q u e a confecção p r e -
tendeu servir de a g r a d o , oferecido a pessoas influentes, revestido d e a l g u m fim utilitá-
rio. C o m especial esmero n ã caligrafia, d i a g r a m a ç ã o e e n c a d e r n a ç ã o é q u e foi p r e p a -
r a d o o Várias resoluções tomadas cm consultas e decretos que principiou a extrair dos livros antigos
do desembargo do Paço Sebastião Ferreira de Castro e concluiu seu sobrinho José Ricalde Pereira de
Castro. Oferecidas ao limo. Exmo. Sr. Conde de Oeiras do Conselho de S. Majestade e seu secretário
de Estado dos Negócios do Reinou São patentes o zelo e o c a p r i c h o n a o r d e n a ç ã o de seu
c o n t e ú d o , e m q u e os t e m a s a p a r e c e m e m o r d e m alfabética e a c o m p a n h a d o s dos
textos das decisões judiciais t o m a d a s pelo T r i b u n a l e n t r e 1642 e 1699.
O Códice Costa Matoso está assim m u i t o distante de u m códice diplomático, livros
e m q u e se a s s e n t a v a m cópias d e d o c u m e n t o s o f i c i a i s 66
e q u e muitas vezes, refletindo
;
Presbítero secular (1758-1839), era formado em cânones por Coimbra, onde fora professor cate-
drático. Considerado uma das maiores figuras mentais da segunda metade do século XVIII, foi
desembargador da Casa de Suplicação, conselheiro da Fazenda, censor régio do Desembargo do
Paço, membro da Academia das Ciências de Lisboa. Grande enciclopédia protitguesa e brasileira. Lisboa,
Rio dejaneiro: Editorial Enciclopédia, 1967, V. 25, p. 593-595.
BGUC Cód. 706,707,708, 709, 71, Livros de registo de provisões, regimentos etc. da Relação da Balúa,
dos descobrimentos de ouro na região do sertão de São Paulo (documentos 2-9 e 14).
Q p e q u e n o grupo das Informações q u e segue — prestadas por moradores, de Freguesias
circunvizinhas a Vila Rica: M a r i a n a , G u a r a p i r a n g a , Catas Altas e A n t ô n i o Pereira
(documentos 10-13) — c o m p l e m e n t a u m conjunto de m e m ó r i a s e testemunhos nar-
rando a formação d a região, o povoamento e a organização civil e eclesiástica,
O conjunto reúne relatos de testemunhas e, mesmo, de partícipes que,, trocando
a c a t a n a pela p e n a , escreveram sobre o nascimento das M i n a s e m que. o ouvidor
pisava no a n o de 1749, São narrados três movimentos decisivos p a r a a história da
região: as bandeiras paulistas, a G u e r r a dos E m b o a b a s e a instalação do controle real.
O desbravamento do sertão colonial inóspito pelos paulistas em busca de índios p a r a
cativar em suas lavouras de planalto em fins do século X V I movera os bandeirantes a
percorrer o território, animados p o r honras e mercês oferecidas pela Metrópole, que,
até ali negligente, decide investir n a experiência daqueles súditos n a m e s m a p r o p o r -
ção q u e decresciam as exportações coloniais. Dedicariam os bandeirantes seu faro n a
busca de fabulosos metais. O s rios da região n ã o decepcionam n e m o rei n e m t a m p o u c o
a sua grei, enchendo de ouro as mãos que. mergulhavam em suas frigidíssimas águas.
As notícias q u e se e s p a l h a m a c a b a m a t r a i n d o u m n ú m e r o elevado de sequiosos
mineradores de ocasião p a r a a área, os quais, nq mesmo ritmo q u e dividem as lavras
descobertas, t r a v a m duelos ê disputas. Algumas vezes sangrentas, as tensões e n t r e
paulistas e forasteiros — estes últimos, conhecidos sob a designação d e e m b o a b a —
forneceriam material p a r a a historiografia fabricar o t e m a da G u e r r a dos E m b o a b a s ,
mito fundador do nativismo. Sucessivos episódios de violência revelariam, de u m
lado, a convicção d a identidade dos súditos paulistas c o m o os primeiros descobrido-
res do tesouro, e p o r isso julgavam-se merecedores da primazia nos postos e nas datas
repartidas, e, de outro, ã força material dü grupo que invadiu a área, atropelando os
direitos de seus ocupantes originais. A tópica da fome e d a miséria, das violências q u e
sofriam diante dos índios, dos sacrifícios materiais que passavam alimentava e unia os
paulistas c o n t r a tantas insolências dos recém-chegados. N o rastro d a instabilidade
social e política q u e convulsiona aquele, pedaço da América portuguesa o p o d e r real
seguiria buscando Ordenar seus súditos à m e d i d a que se confirmava a generosidade
do veio ferido. G o v e r n a d o r e s seriam enviados p a r a fazer representar a p r o t e ç ã o e
b e n e v o l ê n c i a reais, sendo p o r é m mal recebidos pelos novos m o r a d o r e s a i n d a na
estrada. D o orgulho à dissimulação, os delegados reais a p r e n d e r a m q u e a negociação
era o melhor c a m i n h o para reinar sobre aqueles colonos. Se o governador d o m Rodrigo
é assassinado ao insistir e m avançar, a despeito da insegurança que existia e m M i n a s ,
d o m F e r n a n d o d e Mascarenhas deu meia volta q u a n d o se aproximava d a zona de
m i n e r a ç ã o , constrangido por a m e a ç a s de m o r t e . M a i s hábil e b e m t a l h a d o p e l a
r e a l i d a d e c o l o n i a l , A n t ô n i o de A l b u q u e r q u e furaria a q u e l e i n t r i g a n t e b l o q u e i o
d e súditos leais, conseguindo chegar a o c o r a ç ã o das minas e n e g o c i a r o d e s a r m e
d a s r e s i s t ê n c i a s . A p a c i f i c a ç ã o d a G u e r r a dos E m b o a b a s c o n f u n d e - s e nesse
m o m e n t o c o m ps p r i m e i r o s p a s s o s do c o n t r o l e r e a l s o b r e as M i n a s , a f a s t a n d o
p o t e n t a d o s , o r g a n i z a n d o a estrutura politica sob vilas e c â m a r a s , p a t r o c i n a n d o a
r e p r e s e n t a t i v i d a d e , a n u n c i a n d o f o r m a s m a i s efetivas c o m q u e S u a M a j e s t a d e
d o r a v a n t e r e c e b e r i a o direito d o q u i n t o s o b r e o m i n é r i o e x t r a í d o . O c a m i n h o
a i n d a sè m o s t r a r i a l o n g o a t é aqueles súditos orgulhosos r e c o n h e c e r e m q u e sua
lealdade forjada n a opulência g a r a n t i d a ao s o b e r a n o n ã o era m a i o r q u e a delega-
ção real dos funcionários n o m e a d o s p a r a governá-los.
A o r g a n i z a ç ã o do p o d e r real através d e seus principais d o c u m e n t o s oficiais
destinados ou aplicáveis a M i n a s explica o g r u p o seguinte de d o c u m e n t o s (docu-
m e n t o s 16-31), c o m vários regimentos: do g o v e r n a d o r interino M a r t i n h o de M e n -
d o n ç a , d a c a p i t a ç ã o , dos superintendentes, dos ouvidores do R i o d e J a n e i r o e São
P a u l o . T r a t a - s e d e fontes d e t r a b a l h o do o u v i d o r n o m e a d o p a r a a c o m a r c a d e
V i l a R i c a , u m a vez q u e constituíam os fundamentos legislativos afetos à sua juris-
dição, c o m o os regimentos do R i o e São Paulo, q u e foram validados p a r a orientar
a o r g a n i z a ç ã o d a J u s t i ç a real e m M i n a s Gerais. Alguns textos e n t r e m e a d o s aos
r e g i m e n t o s p a r e c e m ilustrar ocorrências passadas n a c a p i t a n i a , a p r e s e n t a n d o os
dilemas dos antecessores e m seu c a r g o . Equilibravam-se a n o r m a e a p r á t i c a . O
d o c u m e n t o , q u e e n c e r r a a s e q ü ê n c i a , r e s u m i n d o a legislação e x a r a d a p a r a S ã o
Paulo o M i n a s Gerais, confirma tais p r e o c u p a ç õ e s .
Sobre a organização da Justiça nas Minas, ver item adiante De Setúbal a Vila Rica.
i n t r o d u z e m u m a q u e b r a n a sucessão d e temas administrativos e jurídicos q u e se vi-
n h a configurando a o introduzir o t e m a históriço-teológico do p o v o a m e n t o d a A m é r i -
ca. O s f u n d a m e n t o s teológicos p r e v a l e c e m a o associar a p r e s e n ç a d e S ã o T o m é , in-
terpretação e m voga n a q u e l e m o m e n t o . ^ O exercício d a decifração d e enigmas,
caro aos antigos, a c a b a r i a p o r d e m o n s t r a r u m a persistente c o n t i n u i d a d e .
U m a série de cartas régias e m o r d e m cronológica r e ú n e (documentos 35-43)
fragmentos da ação dos ouvidores nas p r i m e i r a s décadas d a região, dedicados q u a s e
s e m p r e à política de expulsão dos p a d r e s . Parceiros sob o p a d r o a d o , Igreja e Estado
p a s s a r a m m o m e n t o s d e difícil c o m u n h ã o n a p r i m e i r a m e t a d e do século, e m q u e p r e -
valeciam jurisdições maldefmidas e direito costumeiro o r i e n t a n d o m u i t a s das ações
de g o v e r n o dos s ú d i t o s . ^ Agentes especialmente associados à instabilidade dos pri-
meiros t e m p o s nas Minas^ os p a d r e s enfrentaram d a p a r t e d a M e t r ó p o l e u m a a ç ã o
n o t a d a m e n t e c o n t r o l a d o r a . A c u s a d a ora de favorecer o c o n t r a b a n d o ^ o r a d e estimu-
lar a'sonegação do q u i n t o , o r a de trocar a batina p e l a bateia, a m u l t i d ã o de clérigos
q u e transitam pelas M i n a s q u e cresciam seria perseguida ate a expulsão daqueles sem
vínculos direto c o m o trabalho pastoral.
Se a instalação da J u s t i ç a significava o estabelecimento das condições d e p r o t e -
ção dos súditos pelo rei, a F a z e n d a n ã o seria i n s t r u m e n t o de g o v e r n o m e n o s efetivo.
T r a t a v a - s e d e transformar a riqueza q u e e x t r a í a m dos terrenos minerais e m receita
p a r a financiar o fausto j o a n i n o e a soberania p o r t u g u e s a e m u m século d e instabilida-
d e política e acesas disputas e n t r e as potências européias. O quinto q u e se recolhia
nas M i n a s foi-se constituindo, à m e d i d a q u e o I m p é r i o colonial p o r t u g u ê s se esfacela-
v a e a A m é r i c a tornava-se a p e d r a mais preciosa da coroa, n o principal i n s t r u m e n t o
de equilíbrio e c o n ô m i c o de Portugal.
As sucessivas m u d a n ç a s n o m é t o d o de c o b r a n ç a d o direito real e a vasta legisla-
ção repressiva c o n t r a o d e s c a m i n h o d e m o n s t r a r i a m o zelo real e m n ã o deixar e s c a p a r
c a d a o p o r t u n i d a d e q u e as m i n a s ofereciam. Constituindo o quinto u m a estimativa
p o r excelência, p a r a cujo cálculo c o n c o r r i a m m ú t u a s desconfianças de.lado a lado, o
estabelecimento das fôrmas de sua c o b r a n ç a confrontava colonos orgulhosos c o m a
M e t r ó p o l e necessitada. As três primeiras décadas assistiram a o predomínio, cios p r i -
meiros, q u e conseguiam, resistindo aos governadores, ouvidores e p r o v e d o r e s , nego-
ciar a o longo do período ofertas voluntárias a título de quinto, as quais iam a u m e n -
tando n a m e s m a proporção que os poderes locais p e r d i a m força diante do avanço d a
Mateus Saraiva, médico fomiado por Coimbra. Escreveu A voz evangélica de São Tomé, onde tenta
provar a. vinda destç apóstolo ao Brasil.
Sobre a perseguição aos padres em Minas e os conflitos entre Igreja e Estado, ver BOSCHI, Caio
C. Os leigos é o poder (irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais). São Paulo: Ática,
1986,
organização administrativa de. el-rei. A afirmação plena da F a z e n d a R e a l atravessa
turbulências decisivas com a tentativa de implantação das casas de fundição e m 1719
(decreto real d e 11 d e fevereiro) e a c a b a p o r só o conseguir e m 1725. N a d é c a d a
seguinte, as intendências nas comarcas cuidariam de fundir ouro emitindo barras e
m o e d a s e m suas Casas de Fundição c de perseguir os descaminhos do metal, contan-
do c o m a militarização d a região, graças à presença d a C o m p a n h i a dos Dragões,
trazida por Assumar. A medida que se sucediam as frotas d e ouro p a r a Lisboa, conse-
lheiros e ministros mostravam-se inconformados c o m certa tendência de estabilização
nos valores d a arrecadação. Feitas diversas consultas, adotá-se proposta d o secretário
particular de d o m J o ã o V , Alexandre de G u s m ã o , de estabelecer novo m é t o d o de
c o b r a n ç a , através da capitação e censo d e indústrias. Seguros d e q u e a p o p u l a ç ã o
escrava e m Minas constituía a melhor m e d i d a da p r o d u ç ã o aurífera, depois de ouvir
as estimativas sobre seu n ú m e r o total, taxa-se. c a d a cabeça de escravo. R e v e l a n d o
inovação n o cálculo fiscal, o leque de contribuintes passa a a b r a n g e r n ã o apenas
mineradores m a s todos aqueles q u e direta ou indiretamente se beneficiavam do ouro
extraído. Passam a concorrer p a r a o quinto a população forra da capitania e os estabe-
lecimentos comerciais ou artesanais, conforme o t a m a n h o . O peso d a carga reacende
a adormecida insatisfação fiscal. Súplicas das câmaras chegariam a toda h o r a a o C o n -
selho. U l t r a m a r i n o r e c l a m a n d o , sob. o crivo d a retórica de sempre, da miséria e da
ruína e m que subsistiam, variando apenas os exemplos. A o lado dessas representa-
ções das c â m a r a s , tornou-se prática freqüente nas M i n a s redigirem-se propostas d e
súditos m o r a d o r e s nas M i n a s e n c a m i n h a d a s ao R e i pferecendo alternativas de m e -
lhorar a arrecadação do quinto,, o que t a m b é m n ã o passava d e u m a forma dissimula-
d a d e crítica à capitação. A elas se j u n t a v a m outros tantos alvitres, d e q u e foi especial-
m e n t e pródigo o período, demonstrando a natureza vital p a r a Portugal das condições
de obtenção do ouro brasileiro. O s resultados da arrecadação n ã o afastaram o fantas-
m a do c o n t r a b a n d o de ouro, o qual parecia ainda mais assustador. E m . 1750, p o r
decreto de 3 de dezembro, reintroduz-se o método d e Casas d e . F u n d i ç ã o desta vez ?
CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e.e Tratado de Madri (¡695/1735). Rio de Janeiro: Minis-
tério das Relações Exteriores, 1950. V. 1 e 2; FTCUEIREDO, Luciano R. de A. Tributação, soci-
edade e administração fazendária em Minas Gerais no século XVIII. Anuário do Museu da Inconfidên-
cia, Ouro Preto, v. .9, p. 111-120,1993; BOXER, Charles R., op. cit. nota 27, p, 210 e segs.; FON-
TES históricas do imposto de capitação. Revista do Arquivo Público Mineira, Belo Horizonte, ano 12, p.
605-676, 1907.
O equilíbrio entre receita e despesa era objeto de p e r m a n e n t e cuidado nas M i -
nas. O p r a g m a t i s m o metropolitano diante do ouro procurava evitar o perigoso cami-
n h o do excesso de gastos c o m a administração. Neste quadro, vitais iriam se t o r n a n d o
as informações sobre tais despesas e m diferentes planos, desde as câmaras até as agên-
cias d a C o r o a m o n t a d a s n a região. O problema c o m os contratadores, rendeiros p a r -
ticulares q u e se encarregavam da cobrança de certas fatias dos direitos reais, exemplifica
b e m os termos contraditórios e m q u e subsistia a F a z e n d a R e a l e m M i n a s . Afinal,
n u n c a c u m p r i a m o p a g a m e n t o fixado n a arrematação do contrato, abrindo mais u m
flanco na situação d e descalabro entre as expectativas e a efetiva a r r e c a d a ç ã o dos
rendimentos reais: m a p a s d e rendimentos do ouro quintado e relações de diversos
tipos de gastos — propinas, donativos - formam as duas faces do equilíbrio financeiro
desejado p a r a o b o m aproveitamento do excedente colonial.
Especialmente sobre o conflito de Caetano da Costa Matoso com o bispo de Mariana, ver AGUIAR,
Marcos Magalhães de,, vp. cil. nota 44; KANTOR, Tris, op. cit. nota 44.
MUNTEAL, Oswaldo. Uma sinfonia para o novo mundo. A academia Real das Ciências de Lisboa e os
caminhos da ilustração luso-brasileira na crise do antigo sistema colonial. Rio de Janeiro: Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro,1998; CALAFATE, Pedro. A idéia dg natureza nó século XVIII em
Portugal (1740-1800). Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, [1994]; ELLIOT, J. H. 0 velho
mundo e o novo, 1492-1650. Lisboa: Editorial Querco, 1984.
E m b o r a a cena m u d e de lugar, encontra neste p e q u e n o núcleo u m paralelo d o
m e s m o universo de preocupações demarcadas p a r a M i n a s Gerais. A presença neste
grupo de documentos sobre bispos, igrejas e assuntos eclesiásticos denuncia certa co-
nexão c o m a proposta real de d e s m e m b r a r o bispado do R i o de J a n e i r o e m dioceses,
cuja orientação dever-se-ia a Alexandre d e G u s m ã o c o m o ministro d o C o n s e l h o
Ultramarino. 7 7
A criação das prelazias d e Goiás e C u i a b á e m 1745 e a i n d a d a s
dioceses de São Paulo e M a r i a n a no m e s m o ano, com o reconhecimento oficial da
Igreja d e R o m a , assegurava, e m última instancia, o beneplácito da Santa Sé à expan-
são portuguesa p a r a além dos limites originais de Tordesilhas, espécie de uti possideüs
religioso ^ que tornava mais confortáveis as disputas que se configuravam com a Espanha.
7
77
- CORTESÃO, Jaime, op. cit. nota 72 v. 1, p. 680-682.
fc
7 8
- Ibid.
t o r n a v a clara a certeza de a c o r d o c o m .a E s p a n h a p a r a a definição das.fronteiras n a
A m é r i c a . Este n ú c l e o d e d o c u m e n t o s c o m b i n a a p r e o c u p a ç ã o e m r e c o n h e c e r o
p o t e n c i a l d e r i q u e z a s fora d o eixo das M i n a s G e r a i s e o c o n t r o l e territorial d e
áreas e m disputas q u e a n t e c e d e m o t r a t a d o de l i m i t e s . ^
A o sul d a A m é r i c a p o r t u g u e s a , a C o l ô n i a do S a c r a m e n t o , e m vista d e sua
privilegiada posição na bacia do Prata, o c u p a p a p e l de d e s t a q u e nas disputas c o m
os e s p a n h ó i s . F u n d a d a e m 1680, e d e s d e e n t ã o alvo d e investidas e o c u p a ç õ e s
militares, a p r a ç a tornar-se-ia, graças a u m a política de valorização e n c e t a d a des-
d e 1720 p o r d o m . J o ã o V , território d e agricultura, criação d e g a d o e projetos de
o c u p a ç ã o p o p u l a c i o n a l . S u a posição geográfica atrairia, p o r é m , a m p l o comércio
de c o n t r a b a n d o , a n i m a d o p e l a p r a t a q u e descia dos domínios e s p a n h ó i s . ^
A l é m das disputas entre espanhóis e p o r t u g u e s e s , o comercio da região c o n c e n -
trava forte p r e s e n ç a inglesa e a m p i a a t u a ç ã o dos jesuítas, considerados ali e m algu-
m a s ocasiões os m a i o r e s inimigos dos.portugueses*
A r e a colonial das mais susceptíveis n o q u a d r o internacional, as dificuldades
q u e c e r c a v a m a a d m i n i s t r a ç ã o deste v e r d a d e i r o presídio e r a m a m e n i z a d a s pelas
a u t o r i d a d e s , e m vista d e seu e n v o l v i m e n t o nas atividades de c o n t r a b a n d o . Esta
realidade pesou, s e m dúvida, nos protestos p o r p a r t e do g o v e r n a d o r A n t ô n i o P e d r o
A respeito da obra de George Juan e Antonio de Ulloa (A voyage to South-America: describing at large
the Spanish cities, towns, provinces [...] on the extensive Continent [...] Togetherwith the natural
history of the country. And an Account of their goid and silver mines [...] Translated from the.
original Spanish (by John Adams). 7 maps and plates. 2 vols London), Gox lembraria que o rei
espanhol teria estimulado seuS cientistas a realizarem expedições, dentre Outrasfinalidades,para
medir o grau de longitude em países do Peru equinocial. La Condamine, em 1747, faz o mesmo, a
mando do rei da França. Antonio de Ulloa, além de Spanish admiral, era também estatísitico. Ver,
por exemplo, dos mesmos Jorge Juan e Antonio de Ulloa, Relación histórica dei viage a la America
Meridional para medir alguiios grados de meridiano terrestre,y venir por ellos en conocimiento de la verdadera figura
y magnitud de la tierra[..,]. Madrid, e ainda Observaciones astronómicas)> phisicas, hechas de orden de S.
Magestadm Ver também a ésse mesmo respeito, Alexander von Humhqldt (embo-
los reynosdelPe.ru.
ra faça suas viagens em 1799-1804) e Bouqucr (que faa viagem em 1735, mas lè seu relato diante
da Academia das Ciências da França em 1744).
MONTEIRO, J. Costa Rego. A Colónia de Sacramento 1680-1777. Porto Alegre: Globo, 1937. 2v.;
CORTESÃO, Jaime, op. at. nota 72, v. 2, p. 507-542; v. 3, p. 551-57, v. 4; ALMEIDA, Luís
Ferrand de. Á Colónia do Sacramento na época da sucessão de Espanha. Coimbra: Imprensa de Coimbra,
1973; ALD EN, Dauril. Royal government in colonial Brazil. With special reference to the administration
of the Marquis of Lavradio Viceroy, 1769-1779. Berkeley: University of California Press, 1968. p.
E
66-96. Sobre presença dos jesuítas: LEITE, Serafim. Suma Histórica da Companhia de Jesus no Brasil
(assistência de Portugal). 1549-1760. Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1965; CORTE-
SÃO, Jaime. Manuscritos da Coleção De Angelis. Do Tratado de Madri à Conquista dos Sete Povos,
1750-1802. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1969; CORTESÃO Jaime. Manuscritos da Coleção
ile. Angelis. Tratado de Madri. Anteceden Ces. Colónia do Sacramento, 1669-1749. Rio de Janeiro:
Biblioteca Nacional, 1954; ALDEN, Dauril. Tlie makitig of enterprise. The Society of Jesus in Portu-
gal, its empire and beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996,
( d o c u m e n t o 133) c o n t r a a entrega desta região à soberania espanhola, d e t e r m i n a -
d a pelo T r a t a d o de M a d r i . 8 1
A resposta ao argumento está em GUSMÃO, Alexandre de. Obras. São Paulo; Cultura, 1945.
p.121-164.
if] _
DAVIDSON, David Michael. Rivers and empire: die madeira route, and die incorporation of die hrazilianfar
west, 1737-J #08, Vale; Yale University, 1970; ALD EN, Dauril (Ed.) Colonial roots of modem Brazil.
Berkeley; University of California Press, 1973; CORTESÃO,Jaime, op. cit. nota 72, v. 3, especial-
mente 639- 690).; MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geográfica do Brasil colonial. 4. ed.: São Paulo:
Nacional , 1978. p. 165 e segs.; LAPA, José Roberto A, Economia colonial. São Paulo: Perspectiva,
1973. p. 15-110; op.. cit. nota 43. SOUTHEY, Robert. História do Brasil. Rio de Janeiro: Gamier,
1862. V.3, especialmente.
- BOXER, C, R, op. ck. nota 27, p. 283.
;3
1
' Carta de Alexandre deGusmãoaTomâsRubimdeBarrqsBarreto,Ii<;boa6jun.l743. Citada por
CORTESÃO, Jaime, op. cit. nota 72, v 3, p.. 656.
'- 5
Ibid. p. 660-663.
t
lhes sobre as missões, dentre elas nomes dos padres que a governam, afabilidade dos
padres e m dar ou n ã o hospitalidade, a r m a s existentes, se há p r e o c u p a ç ã o daqueles
habitantes c o m invasões e estado e m que se encontravam as casas,, e muitas o u t r a s , ^
O controle s o b r e o rio M a d e i r a , c o m o viria a ser c o n f i r m a d o pelo T r a t a d o de
M a d r i , p r o p i c i a v a o. estabelecimento d e u m a fronteira n a t u r a l c o m os espanhóis.
G u a p o r é e M a d e i r a , cachoeiras m o n u m e n t a i s , e r a m baliza n a t u r a l , c o m o dizia Ale-
x a n d r e d e G u s m ã o , p a r a c o n t e r o a v a n ç o espanhol.87 C u i d a v a - s e d e g a r a n t i r a
posse p o r t u g u e s a sobre esses rios, a fim de se r e s g u a r d a r e m definitivo as zonas de
mineração.
U m s u b g r u p o f o r m a d o p o r descrições dos c a m i n h o s p a r a M i n a s r e e n c o n t r a as
p r e o c u p a ç õ e s d o f o r m u l a d o r d o Códice c o m a região. Dois roteiros p a r a as m e s m a s
M i n a s e r a m , e m v e r d a d e , m u i t o diferentes entre si, pois se o p r i m e i r o é relato meticu-
loso e e x a t o o s e g u n d o g a n h a c o n t o r n o s d e folheto d e p r o p a g a n d a c r i v a d o d e
fantasias. O Itinerário geográfico retrata, a d e m a i s , a posição d e M i n a s n o a m p l o espa-
ço geográfico d a América, a p r e s e n t a n d o , a i n d a q u e d e forma imprecisa., acidentes
geográficos circunvizinhos. Seu espectro mais a m p l i a d o e c e r t a tônica d e p r o p a -
g a n d a das v a n t a g e n s da região das M i n a s subjacente a o texto a c a b a m p o r torná-lo
suspeito d e constituir p e ç a d e p r o p a g a n d a política e m m e i o às discussões e n t r e
E s p a n h a e Portugal, abertas d e s d e a G u e r r a d e Sucessão. I n t e g r a m , d e toda for-
m a , o conjunto voltado p a r a prever as informações sobre o Brasil q u e a M e t r ó p o -
le encontrava-se ávida p a r a receber.
A p r e s e n ç a d a relação de gêneros q u e o Brasil exportou através d e suas frotas
integra este núcleo, a t e n d e n d o à p r e o c u p a ç ã o de revelar a disponibilidade de alter-
nativas econômicas t a n t o de M i n a s q u a n t o d e outras regiões. Esse s u b g r u p o , e m b o r a
fuja do p a d r ã o d e relatos de viagens q u e m a r c a a seqüência, a ela se encaixa idealmente
q u a n d o visto sob o prisma da d e m o n s t r a ç ã o das potencialidades econômicas através
d a v a r i e d a d e de p r o d u t o s ali presentes nas frotas q u e s a e m de diferentes portos n o
a n o d e 1749. O c a c a u e o cravo, o u r o e m b a r r a e. d i a m a n t e s , pau-brasil e j a c a r a n d á ,
o doce e o m e l a ç o , escravos, café e salsa, d e v i d a m e n t e classificados e quantificados,
f o r m a m a m e l h o r síntese possível d a riqueza colonial, a l c a n ç a n d o sua f o r m a e senti-
do: o comércio d e e x p o r t a ç ã o .
8Õ
- Ibid.
Ibid,p. 680. O cuidado com este circuito na conjuntura imediatamente anterior ao tratado de
limites aparece refletido na produção de vários outros relatos de. expedições pelo rio Madeira,
dentre eles, JVavegação feita da cidade do Grão-Parâ até a boca do rio da Madeira pela escolta que por este rio
subiu às minas do Mato gmsso, por ordem mui recomendada de SMFno ano de 1749, escrita por José Gonçalves da
Fonseca no mesmo ano. Ver ALMEIDA, Cândido Mendes de, (Gol. e anot.). Memórias para a história do
extinto estado do Maranhão, cujo território compreende hoje asproiiíncias do Maranhão, Piauí, Grão-Parâ eAmazo-
«aí.Rio de Janeiro: Typograíia do Comércio, 1860. V. 2, p. 268-416.
Se era rarefeita a expansão missionária ao longo do sul e extremo oeste, n a bacia
a m a z ô n i c a e regiões do n o r t e as missões p a r e c e r a m p r e e n c h e r todos os e s p a ç o s . ^
Conhecido como ciclo m a r a n h e n s e da expansão missionária na América, a generali-
zada e onipresente atuação das ordens religiosas e d a C o m p a n h i a de Jesus n o norte
constituiu obra impressionante. A evangelização do Grão-Pará e M a r a n h ã o seria en-
cetada ainda na primeira m e t a d e do século X V I I p o r franciscanos e carmelitas e n a
segunda m e t a d e c o m p l e m e n t a d a p o r capuchinhos, mercedários e. os indefectíveis j e -
suítas. Mais numerosos, estes últimos recebem a m a r g e m direita d o rio A m a z o n a s
(restritos à região sul do rio) n a repartição daquele território p r o m o v i d a pela C o r o a
entre 1693 e 1695 e m províncias missionárias entre as várias ordens, cabendo a mar-
gem esquerda (norte) aos capuchinhos e franciscanos e as confluencias dos rios Solimões,
N e g r o e. M a d e i r a aos c a r m e l i t a s , golpe sentido pelos jesuítas, q u e p e r d e r a m os
aldeamentos J á organizados e sua hegemonia política.
LEITE, Serafim, Historia da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Portugália; Rio de Janeiro: Civiliza-
ção Brasileira, 1938-1950. V. 3 e 4; BOXER, Charles R. op. cit. nota 27, csp. p. 284-303;
f
HEMMING, John. Red gold. The conquest of the brazilian indianr. London: Papermac, 1987;
SWEET, David Graham. A rich realm of nature destroyed: the. middle amazon valley, 1640-1750.
Wisconsin: University of Wisconsin, 1974; CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Caminhos do gado
(caminhos e ocupação do sul do Maranhão). São Luis; Sioge, 1992; GROSS, Sue E. A. The economic
life of the Estado do Maranhão e Grãõ-Pará, 1686-1751. Tulane University, 1969; MEIRELES, Mário.
História da Arquidiocese, de São Luís do Maraidião. São Luís: Universidade Federai do Maranhão, Sioge,
1977; PACHECO, Felipe Conduru. História eclesiástica do Maranlião. Maranhão: S.E.N.E.C., De-
partamento, de Cultura, 1969; BISPADO do Pará. Annaes da Bibllioleca e Archivo Publico do Pará,
Belém, 1,906; ALMEIDA, Cândido Mendes de. Direita civil eclesiástico brasileiro antigo e moderno e suas
relações com. o direito canónico. Rio de Janeiro: Garnier, 1866. 4 v.
O processo de ocupação acabava assumindo importância ainda mais significati-
va â vista das e n o r m e s dificuldades d e navegação costeira entre, o norte e o litoral
abaixo do cabo de São R o q u e , devido às correntes marítimas e aos ventos desfavorá-
veis. As interligações internas pelos rios acabariam p o r equilibrar estas dificuldades.
A a t u a ç ã o das ordens no M a r a n h ã o e G r ã o - P a r á reescreve, d e certa forma, a
história das missões, pois.implicou a afirmação de i n d e p e n d ê n c i a d a e m p r e s a espiri-
tual e a b u s c a de objetivos próprios. A a u t o n o m i a d e ação q u e a C o r o a assegurou às
ordens n a região p r o t e g e u o d o m í n i o português n a A m a z ô n i a , u m a vez q u e dos reli-
giosos d e c o r r i a m toda a d i n a m i z a ç ã o econômica envolvendo p r o d u ç ã o , trabalho e fé.
Ali as zonas de tensão entre as ordens religiosas e os colonos recrudesciam, e m
vista das limitadas o p o r t u n i d a d e s econômicas q u e o isolamento causava. E c o n o m i a
q u e se define pela coleta das drogas do sertão, sua força d e t r a b a l h o d e base e r a m os
índios q u e i n t e g r a v a m as e n t r a d a s q u e p e r i o d i c a m e n t e singravam os rios d a região. A
oposição aos jesuítas era p a r t i c u l a r m e n t e tensa, e m vista d a pressão dos colonos q ü e
i a m fazer resgates n o sertão..
D o s e m b a t e s e n t r e colonos carentes daquela m ã o - d e - o b r a e missionários intran-
sigentes e m defendê-la do cativeiro nasceu o regimento das missões do E s t a d o do
M a r a n h ã o e G r ã o - P a r á , q u e a C o r o a p r o m u l g o u e m 1686. A p r o d u ç ã o d e m ã o - d e -
o b r a p a r a os c o l o n o s e s t a b e l e c i a e x p e d i ç õ e s pacíficas ou f o r ç a d a s , as q u a i s
deslocariam os índios p a r a aldeias administradas pelas ordens religiosas. Instalados
e m aldeias nas v i z i n h a n ç a s dos colonos, p a s s a v a m a ser m ã o - d e - o b r a disponível
p a r a sustentar a e c o n o m i a colonial. Esses a l d e a m e n t o s missionários p o d i a m estar
a serviço exclusivo de. a l g u m a das o r d e n s religiosas (aldeias do serviço das ordens
religiosas), d a C o r o a (aldeias do serviço real), dos m o r a d o r e s (aldeias de r e p a r t i -
ção) ou estar isolados e m regiões r e m o t a s sem contato c o m os colonos. Q u a l q u e r
u m deles encontrava-se fiscalizado p o r a l g u m a das o r d e n s religiosas q u e dividiam
a região e b u s c a v a m a auto-suficiência. Surgia a c o m b i n a ç ã o de reserva d e m ã o -
d e - o b r a , catequese e t r a b a l h o p r o d u t i v o . P a r a a execução dos trabalhos espirituais
nessas aldeias os missionários reponsáveis p o r eles m o n t a v a m u m a infra-estrutura
q u e , d e n t r e outras instalações, incluía h o s p e d a r i a e enfermaria.
GODINHO, Vitorino Magalhães. Ensaios II: sobre a História de Portugal. 2. ed. Lisboa: Sã da Costa,
1978. p. 52 e segs. Ver também MAGALHÃES, Joaquim Romero. A fazenda. In: MATTOSO,
José (Dir.) História de PortugaÇ Lisboa: Estampa, 1993.. V. 3, p. -92.
Esperava-se, dessa forma, q u e aqueles superiores n o m e a d o s p a r a os domínios
ultramarinos dispusessem de experiência prévia cumprida sob as vistas do rei. Nesse
aspecto^ a carreira daquele q u e ocuparia, a partir d e 1749, o lugar de ouvidor da
comarca de O u r o Preto e m Minas Gerais n ã o seria diferente. E m 1742, logo após se
desembaraçar dos exames e da leitura perante avaliadores do Desembargo do Paço, o
bacharel C a e t a n o da Costa Matoso foi n o m e a d o p a r a juiz de fora da vila de Setúbal,
passo inaugural n a sua atuação j u n t o a magistratura real. '-' N o desempenho de sua
9
"Dom João por graça [....] Faço saber a vós, Juiz, vereadores, procurador, Fidalgos, cavaleiros,,
escudeiros, homens bons e Povo da Vila de Setúbal [...] que havendo respeito as letras e mais partes
que concorrem no bacharel Caetano da Costa Matoso e que no de que o encarregar me servirá
como cumpre a meu serviço eboa administração dajustiça e haver lido no Desembargo do Paço e
íicar aprovado. Hei por bem fazer-lhe mercê cio lugar dejuiz de fora dessa vila por tempo de três
anos e. além deles p mais que houver por bem enquanto lhe não mandar tomar residência [...]
Lisboa, 16 de outubro de 1742". ANTT, Chancelaria de d. João V. Cód. 105 , fl. 134v.-135 Carta
dejuiz defora da vila de. Setúbal, 5 10.1742. No BNL, RES, cód. 1077. Catálogo alfabético dos ministros de
letras que semiram nestes reinos de Portugal e Algarve, seus domínios e conquistas ultramarinas, relações e tribunais,
copio nele. se adverte. Dos mais antigos até o presente de que se descobriu a noiíeia mais exata, 1763, o despacho
para o cargo dejuiz de fora data de 1744;
Poucos detalhes obtivemos a respeito do seu período de atuação em Setúbal. Consta, no entanto,
ter merecido uma boa residência em alguns documentos, dentre eles o que concede mercê como
ouvidor da comarca cie Ouro Preto. Sobre a formação dos agentes, a cultura polidea e a organiza-
ção do Estado em Portugal do Antigo Regime, ver CURTO, Diogo Ramada. A cultura política.
In: MATTOSOJosé (Dir.), op. cit. nota 37, v. 3,.p. 115-147.
ANTT, Chancelaria de d. João V, Próprios, B a C, n. 109, cód. 115, íl. 369. Ver também APM, SC
93,11.6.
Inaugurava-se, então, n a carreira calculada r u m o aos altos tribunais d a magistra-
tura a fase, talvez a mais arriscada, q u e deveria ser c u m p r i d a no ultramar. Havia,
p o r é m , as M i n a s no meio do caminho r u m o à necessária experiência colonial.
C o m o v i n h a sendo c o m u m , O u r o Preto passaria, e m 1749, a c o n t a r c o m u m
m e s m o funcionário p a r a cuidar das funções de Justiça e das disputadas r e n d a s e lití-
gios envolvendo h e r a n ç a s , viúvas e órfãos n o â m b i t o d a c o m a r c a . Assim, d i a n t e d a
v a c â n c i a do cargo de p r o v e d o r dos defuntos e ausentes da m e s m a c o m a r c a , o b a c h a -
rel aproveitou p a r a r e q u e r e r t a m b é m a m e r c ê d a serventia desse oficio. A n o m e a ç ã o
valia pelo t e m p o de três anos, o u mais se fosse necessário, d e v e n d o receber o m e s m o
v e n c i m e n t o q u e seu antecessor a título de ajuda d e custo, a c o n t a r desde o dia q u e
e m b a r c a s s e d a Corte.®^ A t e n d i d o através de provisão real de 12 d e agosto de 1748,
dois cargos vitais p a r a a administração que só p o d i a m ser p r e e n c h i d o s p o r ministros
d e letras ficavam o c u p a d o s de u m a só penada.® ^ 1
o c u p a n t e d a função n a c o m a r c a de O u r o P r e t o b u s c o u e m consulta à M e t r ó p o l e
c o n h e c e r qual a fonte legal de seu ofício, o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o esclareceu q u e
p a r a aquelas ouvidorias b a s t a r i a m ser aproveitados os r e g i m e n t o s do R i o de J a -
n e i r o (1669) e d e S ã o P a u l o (1700), c o n c o m i t a n t e m e n t e . N a s M i n a s , esses regi-
m e n t o s serviriam c o m o aplicação geral d e princípios, u m a vez q u e certos disposi-
tivos c a r e c i a m d e a t u a l i d a d e , c o m o a q u e l e q u e d e t e r m i n a v a v i g i l â n c i a s o b r e
d o n a t á r i o s e m relação ao c u m p r i m e n t o d e suas cartas d e doação.®^
" O ouvidor de Vila Rica exercita jurisdição ordinária, civil c criminal em seu
distrito, por bem do regimento dos ouvidores do Rio de Janeiro; serve de corregedor
e provedor da comarca, e m cuja qualidade lhe pertence a eleição dos oficiais da
câmara que também confirma, passando-lhes suas cartas de usança; toma contas
às câmaras da comarca e entende em tudo que lhe é concedido em seu regimento
n a ordenação do reino. C o m o provedor do resíduo, pede conta aos testamenteiros;
em provedor de ausentes arrecada as heranças dos finados, cujos herdeiros não são
da terra, conforme o regimento e provisões peculiares da Mesa da Consciência é
Ordens a este respeito. Conhece as causas contenciosas d a capitania relativa à
fazenda real em qualidade de juiz dos feitos [...]. E, também, juiz da coroa e
presidente das juntas dela, criadas nas cabeças das comarcas de Minas [...]."""
'-
9
A partir da mudança no método de arrecadação do quinto, em 3 de dezembro de 1750, ganha,
através dos regimentos que regulam a nova forma de cobrança, novas atribuições no plano de
auxílio judicial ao intendente. SALGADO, Graça (Goord.). Fiscais e marinhos. A administração no
Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira; Brasüia: INL, 1985, p. 357-358; VAS-
CONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de. Breve descrição geográfica, física e política da capitania de Minas
Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, CEHC, 1994..ALDEN, Datiril, op. .cit. nota 78,
1968, p. 431 esegs.)
A descrição acimafoifeita com base no texto de Maria Eliza de Campos S o u 2 a , op, cit. nota 94, p.
7-11, que tomou os regimentos dos ouvidores de São Paulo e Rio de Janeiro como fonte dessas
atribuições. Para maior detalhamento das funções citadas, consultar o indefectível Fiscais e fneirinhós
(SALGADO, Graça. (Coord.), op. cit. nota D8. Sobre funções e cargos no Brasil Colônia, ver tam-
bém GARCIA, Rodolfo. Ensaio sobre a história política e administrativa do Brasil (1500-1810). 2. ed. Rio
de Janeiro: José Otympio; Brasília: INL, 1975. p. 32-42. Os ofícios próprios da "administração
periférica da Coroa", .segundo António Manuel Hespanha, "prolongamentos pelos quais a coroa
entrava em contato com as estruturas político-administrativas locais, nomeadamente concelhias",
têm sua jurisdição detalhadamente analisada na obrais véperas do Leviathan, Instituições políticas e.
poder político. Portugal - século XVII. Coimbra: Almedina, 1994. Ver para as atribuições dos
corregedores p. 200-205, dos provedores, ai incluídas não apenas as matérias de finanças, mas
também resíduos e pessoas coletivas como irmandades e concelhos, p.. 206-212. Já a situação dos
ouvidores de comarcas no reino descrita por Hespanha (p. 192-194) apresenta grandes contrastes
em relação à jurisdição e às atribuições que temos visto.
0
VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de, op. cit. nota 97, p. 98-99. Embora esteja aquém do
L
período em foco, esta descrição funciona integralmente como apresentação para o cargo de ouvidor.
° - VASCONCELOS, Diogo Fereira Ribeiro de. op. çit. nota 97, p. 88.
2
S e g u n d o a m e s m a fonte, tal m a g i s t r a d o , a c u m u l a n d o a o seu o r d e n a d o d e
5 0 0 $ 0 0 0 réis os correspondentes às outras funções, incluindo as b r a ç a g e n s , próis e
percalços, t o t a l i z a v a de o r d e n a d o a n u a l 2:340$0Ü0 r é i s . 1 0 3
J á o autor a n ô n i m o d a
Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da capitania das Minas Gerais (1781) fala de
u m r e n d i m e n t o anual de 1:898$ 169, fora a p r o p i n a s p o r ocasião das festas. 04- 1
i 0 3
- Jbid.p. 100.
104. DESCRIÇÃO geográfica, topográfica, histórica e política da capitania das Minas Gerais. Revistado
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, t. 71, parte 1., p. 137, 1908,
Os conflitos envolvendo ouvidores nos primeiros tempos das minas do Ouro Preto, entre 1710 e
1720, podem ser estudados em RAMOS, Donald, op. cit. nota 31, p. 384 e segs., especialmente o
capítulo "Politicai conílict in an evolving society" e ANASTASIA, Carla M.Junho. Usurpação e
jurisdição; conflitos intra-autoridades nas Minas setecentistas. In: MARTINS, Ismênia de Lima et
al (Org.) História e cidadania. São Paulo: HumanJtas, FFLCH, USP, ANPUH, 1998. p. 133-152.
Uma fonte preciosa de narrativas sobre agressões e problemas que viveram os oficiais são os relatos
de antigos moradores, que constituem os primeiros documentos do Códice Costa Matoso, particular-
mente os documentos número 4, 5 e 7.
1
Sobre esse motim, ver ANASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos Rebeldes: violência coletiva nas
Minas na primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: Editora C/ Arte, 1998. p 17-19. Os
problemas sociais decorrentes da prática dajusdça pelos oficiais reais nas Minas conhecem lugar
especial nesse estudo, uma vez que classifica esse tipo de protesto como "reativos", já que pretendi-
am manter procedimentos costumeiros ameaçados.por estas autoridades. Ver, especialmente, p.
17-33.
^ ®J' Idem., p. 41. Ler aí também sobre a demanda de Manoel Mosqueira pelo lugar de ouvidor como
um dos objetivos da revolta, p. 47-48.
d e reivindicações critica vexações praticadas p o r oficiais de Justiça, d e n t r e elas as
prisões violentas e Os custos elevados. A p r e s e n ç a dessas d e m a n d a s nas reivindica-
ções e n c a m i n h a d a s p o r g r u p o s q u e se a r r i s c a r a m à p r á t i c a d a rebelião c o n t r a o
r e p r e s e n t a n t e m a i o r da justiça real n a capitania é p r o v a suficiente d e sua. impor-
t â n c i a política.
D o m L o u r e n ç o de Almeida, q u e governa M i n a s e n t r e 1721 e 1732, refere-se a
u m m o t i m q u e , diferentemente do q u e se assistira até ali, teria sido f o m e n t a d o pelo
o u v i d o r Luís Botelho de Q u e i r ó s e m S a b a r á , contrário ao g o v e r n a d o r , q u e p r e t e n d i a
m u d a r o m é t o d o d e a r r e c a d a ç ã o do quinto D o m L o u r e n ç o , e n f r e n t a n d o a velha
indisposição entre governadores e os ministros d a j u s t i ç a , n ã o conseguia entender-se
c o m aquele ouvidor, q u e tinha " g r a n d e r e p u g n â n c i a " e m lhe obedecer: "[...] m e diz
q u e n ã o estava a m i n h a o r d e m p a r a m e obedecer, n e m c o m o p r o v e d o r dos defuntos
e ausentes n e m c o m o o u v i d o r , p o r q u e estas d u a s jurisdições são isentas d a dos
Governadores".' * ^
P o r é m , n ã o e r a m estas notícias das agruras d e seus antecessores q u e i a m n a
:cabeça do b a c h a r e l q u a n d o viaja do R i o d e J a n e i r o p a r a o c u p a r seu p o s t o e m Vila
R i c a . E r a m b é m outras suas idéias. Desde a p a i s a g e m d a baía, estivera e n e b r i a d o
p e l a v a r i e d a d e das flores, dos bogaris e seu "especioso c h e i r o " e p e l a curiosidade c o m
os m a n g u e z a i s . A t r a v é s dos c a m i n h o s d e n t r o d a s e r r a , e s c a l a v a seus t r e c h o s
penhascosos, g u i a d o p o r sua bússola e p o r sua orientação d e cientista-diletante. S o b a
b r u m a das m o n t a n h a s e a intensidade das chuvas, q u e c a í a m e m p l e n o verão dos
trópicos, o r a seduzido p e l a diversidade d o i m e n s o a r v o r e d o , o r a s u r d o a n t e ao
terror c o m as trovoadas e seu estrondo c o m ecos horrorosos, o b a c h a r e l ilustrado
viveu r a r o s m o m e n t o s de. e n c a n t a m e n t o , sócio d e u m a n o v a sensibilidade q u e
nascia naquele s é c u l o . " '
M a s a o alcançar n a capital d e M i n a s o exercício d e suas funções, cedo C a e t a n o
colocou de lado o d e s l u m b r a m e n t o que: a viagem lhe despertara, substituído imedia-
t a m e n t e p o r forte irritação c o m o d e s c ô m o d o d i a n t e d a falta d e infra-estrutura
p a r a sua instalação. A o t e n t a r fixar-se e m Vila R i c a , a p r e c a r i e d a d e d a vida colo-
nial apresentava-se a o novo ouvidor. S e q u e r residências destinadas, p a r a a c o m o -
d a r a m a i o r a u t o r i d a d e judiciária da c o m a r c a foram p r o v i d e n c i a d a s . Seu testemu-
APM, SC 92,fl.52. [Representação th ouvidor Caetano da Costa Matoso ao rei. Vila Rica, 15 defevereiro
de 1750}.
APM, SC.92, fl. 52. [Representação do ouvidor Caetano da Costa Matoso ao rei. Vila Rica, 15 de fevereiro de'
1750]. Em carta de lei, Lisboa, 4 de novembro de 1750, através do Conselho Ultramarino, seria
feíta consulta ao governador sobre a validade da representação do ouvidor, de 15 de fevereiro
daquele ano. Ver APM, SG 92, fl. 52. Sendo única a situação de inexistência do direito de aposen-
tadoria (hospedagem) através dos bens do concelho para ministros do Reino em Vila Rica, reivin-
dica: "A vista de tudo isto, parece que deve Vossa Majestade ser servido ordenar que a Câmara
desta vila tenha casas prontas para aposentadoria dos ouvidores dela, e mandar seja satisfeito pelos
bens do concelho da aposentadoria que se me deve desde o dia da posse poraquele arbítrio que no
estilo da terra Vossa Majestade entender proporcionado ao meu lugar, atendendo-o ser certo como
os oficiais da Câmara não ignoram, e maior aluguer das em que vivo, e com que são alugadas todas
nestas partes". APMj SC 92, íl. 52 [Representação do ouvidor Caetano da Costa Matoso aó rei. Vila Rica, 15
de fevereiro de 1750].
Os conflitos parece que começam cedo, pois já no início de fevereiro de 1749 Gomes Freire, do
Rio de Janeiro, despacha pedido de informações ao juiz de fora de Mariana a respeito de "queixa
que os moradores dessa comarca fizeram a Sua Majestade do ouvidor dela". APM, SC 93, íl. 20.
APM, SC 93, fl. 59v. Carta de lá de 7 de outubro de 1749.
p r e c e d ê n c i a do ouvidor só se estabeleceria depois d e ó juiz de fora dar-lhe posse,
A questão n ã o é sanada e m Minas e segue p a r a o Conselho U l t r a m a r i n o e o
Procurador da Coroa, em consulta. 1
"Costumavam os oficiais dela, para todas as suas funções e as das igrejas, saírem
da Casa da C â m a r a com as suas varas de capa e volta e com o estandarte alvorado, è
c o m esta compostura iam assistir as ditas funções; e, finda elas com a m e s m a
ordena, se recolhiam e enrolavam o estandarte na Casa da C â m a r a . " " 11
' AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 56, doe. 15. [Caita do ouvidor Caetano da Costa Matoso,
Vila Rica, 18.2.1750] .
1
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 56, doe. 15. [Consulta do ConseUio Ultramarino. Lisboa,.
5.10.1750].
1 1 8
- Ver KANTOR, íris, op. cit. nota 44.
119- APM, CMOP 63, fl. 11. Registro de uma carta que o secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte-Real
escreveu ao doutor ouvidor-geral desta Vila Rica.
APM, CMOP 63, 11. 11. Registro de uma carta que o secretário de Estado Diogo de. Mendonça Corte^Real
escreveu ao doutor ouvidor-geral desta Vila Rica.
R i c a até a g o r a [...]", e n q u a n t o o ouvidor c o b r a v a o c u m p r i m e n t o frio d a lei. ^ 1 1
APM, SC .93, fl, '221-22 lv. [Carta do secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte-Reala Gomes Freire de
Andrade,Lisboa, 1.4.1752].
APM, CMOP 63, fl. 11. Registro de uma carta que o secretário do Estado Diogo de Mendonça Corte Real
escreveu ao doutor oumdor-geral desta Vilã Rica. Essa regalia definida por esta provisão real estaria preser-
vada no início do século seguinte, de acordo com Diogo Pereira Ribeiro Vasconcelos, op. cit. nota
97, p. 96).
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, Minas Gerais, caixa 53, doe. 48. [Carta do ouvidor da comarca
de Vila Rica Caetano da Costa Matoso ao rei. Vila Rica, 9.3.1749]. A data desta carta - pouco mais de
um mês após sua posse e anterior ao provimento no cargo de ouvidor (que só ocorreria em agosto
daquele ano) — e a seriedade do problema - contratos reais representavam fatia privilegiada nas
receitas metropolitanas — denunciam certa ansiedade de Caetano da Costa Matoso cm mostrar
empenho.
D o s a n d o denúncias contra tais práticas de injustiça e danos ao projeto coloniza-
dor, causados pela generalização daquela prática, usava cores fortes p a r a criticar a
forma c o m o se sucediam tais execuções, q u a n d o "[...] se t e m extinguido muitos e
m u i t o s m i n e i r o s q u e e s t a v a m nas suas roças m i n e r a n d o e m utilidade dela, e d o
patrimônio de Vossa Majestade sendo vendidos seus escravos [.-.]"- O u , ainda, deslo-
cando produtores de sua faina e "[...] obrigando-os em tão grandes distâncias, c o m o
dos sertões destas Minas, a vir a este juízo defender-se fazendo despesas inexplicáveis
ou satisfazendo as dívidas p o r que n ã o são condenados e a exorbitância das custas
[...]". D e m o n s t r a n d o ter aprendido rápido os recursos retóricos e m voga, o n d e estava
presente certo tom de ruína iminente e destruição geral d e tudo q u e cercava as expec-
tativas metropolitanas, conclui: "[...] totalmente ficam os mineiros destruídos p o r q u e ?
AHU, .Com. Ultramarino; Brasil/MG, caixa 53, doe. 48. [Carla do ouvidor da comarca de Vila Rica
Caetano da Cosia Matoso ao rei. Vüa Rica, 9.3.749]. O autor, em seguida ao completo diagnóstico que
apresenta ao exame real, no qual não faltaram acusações mais sérias ainda contra os rendeiros,
recomenda que fossem proibidas as avenças e divisões dos contratos em partes.
Para a legislação portuguesa referente à fiscalização das contas das confrarias, ver BOSCH!, Caio
G. op. cit. nota 71, p. 123.
;
a u t o r i d a d e a u d i t a v a os livros internos, e s p e c i a l m e n t e os d e receitas e despesas,
avaliando, a c o r r e ç ã o de suas rotinas administrativas. ^ 6
G a e t a n o d a C o s t a M a t o s o , a o c o n v o c a r , n a q u a l i d a d e d e p r o v e d o r , as pri-
m e i r a s i r m a n d a d e s p a r a serem submetidas ao e x a m e de suas c o n t a s , suscita m a n i -
festações d e e s t r a n h e z a p o r p a r t e do bispo. '27 P o r o u t r o lado, o q u a d r o d e desor-
d e m e casuísmo i m p r e s s i o n a o ouvidor e m seu p r i m e i r o c o n t a t o c o m o vigário
geral e provisor d o bispado: são apresentadas i n ú m e r a s i r m a n d a d e s q u e , e m b o r a
t e n d o r e c e b i d o provisão d e ereçãô eclesiástica vários anos depois d e sua f u n d a ç ã o
p o r iniciativa de leigos, o vigário insistia n ã o p o d e r i a m ser consideradas seculares.
Casos semelhantes se s u c e d e m . O u t r a i r m a n d a d e a p a r e c e r i a c o m provisão de ere-
çãô p a s s a d a p o r u m vigário d e vara q u e sequer possuía jurisdição p a r a i s s o . . ' ^ O
conflito q u e se a n u n c i a v a j á fora e m v e r d a d e e n s a i a d o pelos titulares anteriores,
q u a n d o C a e t a n o F u r t a d o de M e n d o n ç a e o bispo d o m J o ã o da C r u z , n a d é c a d a
d e 4-0, h a v i a m tido entreveros e m virtude d a p o l ê m i c a . '29
As situações e r a m , àquela altura, mais confusas e o q u a d r o , d e total descalabro.
E m u m a p a s s a g e m de c a r t a q u e o p r o v e d o r e n c a m i n h a â M e t r ó p o l e t r a t a n d o d a
"[...] liberdade com que se atropela a jurisdição real, querendo que a eclesi-
ástica seja só a que domine, e que não haja outra qualidade de irmandades, senão
as eclesiásticas, excluindo-se d e todo as seculares, e p o n d o os vassalos e Vossa
Majestade em consternação de se sujeitarem e m tudo a jurisdição eclesiástica,
privando-os da liberdade [...]".
1 2 6 ;
Idem, p. 122,
'•^ Sobre essa disputa, ver AGUIAR, Marcos Magalhães de, op. cit. nota 44, p. I54T157. Ver Códice
Costa Matoso, documento 42.
* Da parte do provedor e ouvidor da comarca, a melhor narrativa das tentativas de acordo e de suas
dificuldades èncontra-se em AHU, Cons. Ultramarino,. Brasil/MG, caixa 55, doe. 33. [Carla âo
ouvidor da comarca de Vila Rica Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23.3.1750],
O conflito entre a jurisdição real e a eclesiástica que segue a fundação do bispado de Mariana é
tema notório na historiografia de.Minas. Nesse sentido, desde o cónego Raimundo Trindade e sua
monumental épassiona! Arckidiocese de Marlanna. Subsídios para a sua história. São Paulo: Escolas
Profissionais do Lyceu Coração de Jesus, 1928-29. 3 v., a briga entre Caetano, da Costa Matoso e
dom frei Manuel da Cruz tornou-se tema familiar nos estudos voltados para a história da Igreja e
do poder em Minas, em capítulo intitulado "Contrariedades sofridas por d. Frei Manuel da Cruz",
p. 121-222, Ver BOSCHI, CaioC.».^. cit. nota 71, p. 112 e segs.; AGUIAR, Marcos Magalhães
de, op. cit. nota 44, p. 153-175. Para estudo do conflito em torno das irmandades, verKANTOR,
íris, op. cit nota 44. Este estudo recupera conflitos que envolveram a instalação do bispado de
Mariana e passagens específicas do conflito entre o ouvidor e o bispo, tendo como base material do
Códice, principalmente o documento 99.
11n
• AHIJ, Conselho Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe. '33. [Carta do ouvidor da comarca de Vila Rica
Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23.3.1750],
D e fato, a sofreguidão episcopal p o r jurisdição se manifestara desde os p r i -
m e i r o s dias do b i s p a d o , q u a n d o , antes m e s m o d e o titular c h e g a r à c i d a d e , o
provisor e vigário geral L o u r e n ç o J o s é de Q u e i r ó s C o i m b r a p r e p a r a u m livro p a r a
se r e g i s t r a r e m os "[...] t e r m o s d e sujeição, e o b r i g a ç ã o d e t o d a s e q u a i s q u e r ir-
m a n d a d e s q u e p o r a u t o r i d a d e o r d i n á r i a se erigirem e c o n f i r m a r e m
A natureza da fundação das irmandades era questão fundamental. A depender
dela, seriam eclesiásticas ou seculares. N o primeiro caso, teriam sido fundadas sob
proteção d a Igreja e do bispado, devendo ter sua contabilidade c o n t r o l a d a pelo bis-
p a d o ; n o segundo, estariam as irmandades leigas e m sua fundação (mesmo q u e mais
tarde, p a r a aprovar seus compromissos, t e n h a m recorrido ao bispado), e que p o r isso
seriam do controle do provedor. Investigando essa situação, recolhendo notícias entre
os m o r a d o r e s , p e r c e b e q u e n e n h u m a das irmandades havia tido fundação q u e dei-
xasse de ser leiga, pois o bispado era distante n a época, m e s m o q u e t e n h a m recorrido
posteriormente à chancela eclesiástica.' 32 Assim., os dois lados esgrimiam argumenta-
ção histórica e m torno das circunstâncias de fundação das i r m a n d a d e s , ^ c a d a u m 1
• Citado por BOSCHI, Caio C , op. cit. nota 71, p. 115, que comenta "[...] enquanto as autoridades
metropolitanas se omitiam, as eclesiásticas, ao contrário, não se descuidavam em conquistar novas
subordinações." A trajetória do ouvidor e seu reflexo na documentação do Códice valorizam o papel
do Estado (e dos magistrados) cm oposição às prerrogativas dq bispado - alvo de críticas contun-
dentes, denúncias de extorsão financeira e excesso de poder, mesclado à injustiça, A interpretação
que valoriza a força da política regalista diante do apoio às. atitudes do magistrado (seja pelos votos
favoráveis as suas decisões seja pela delegação de poder para julgar as finanças do bispado) sai
daqui naturalmente privilegiada. O que não significa contudo desconsiderar as dinâmicas específi-
cas da expansão da estrutura eclesiástica e excessivo desdouro á presença e às demandas da Igreja,
instituição construtora da espiritualidade mineira e colonial, instrumento político decisivo que não
pode ser reduzido às críticas cjue a documentação valoriza.
• • Essa discussão foi consagrada BOSCHI, Caio C , op. cit. nota 71, p. 112 e aprofundada por AGUIAR,
Marcos Magalhães de, op. cit. nota 44 e KANTOR, íris, op. cit. nota 44, esp. p. 126-127.
AGUIAR, Marcos Magalhães de, op. cit. nota 44, p. 160.
'• AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe. 33.[Carta do ouvidor da comarca de Vila Rica
Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23.3.1750J
"Visto que não são bastantes tantas determinações quantas Vossa Majestade
tem dado para se evitarem estas discórdias, e pareceu-me que o único modo de evitar
que os eclesiásticos se intrometam mais em tomar contas e fazer suas as irmandades,
que só são da jurisdição de Vossa Majestade, era ordenar-se ao bispo fizesse entrega
de todas as irmandades quantas supusesse suas, m a n d a n d o a todos os provedores
tomem delas contas, porque eu tenho visto muitas que estão totalmente reputadas
eclesiásticas tendo claro princípio de que já eram irmandades ao tempo que se lhes
deu provisão de ereção eclesiástica, e pelo conhecimento q u e j á hoje tenho do país e
informe de todas as pessoas que ainda aqui h á do primeiro estabelecimento dele,
sei que não há uma única irmandade em toda esta capitania que não seja secular,
pois ficando os bispos no Rio de Janeiro em suma distância, quando a ele recorri-
a m j á era muitos anos depois de haver a tal irmandade, e comumente recorrido
com compromisso para se lhes aprovar, e então os obrigavam também a tirarem
provisão de ereção." ' 13 1
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe. 33. [Carta do ouvidor da comarca de Vila Rica
Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23.3.1750]. Essa esclarecedora carta de Caetano da Costa Matoso
descreve diversos expedientes jurídicos empregados pela Igreja para assegurar o controle sobre tais
contas.
APP, fl. 60v-63. Livro de receita e despesa da irmandade de Nossa Senhora do Pilar (1725-1789).
Citado por AGUIAR, Marcos Magalhães de, of}. cit nota 44, p. 161.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe. 33. [Carta do ouvidor da comarca de Vila Rica
Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23-3-1750].
Decide "[...] a não inovar em coisa alguma, buscado este sossegado meio de pôr na presença de
Vossa Majestade estes fatos, que o mesmo bispo não pode negar." Deixa vazar preocupação que se
repetisse o mesmo final que tivera o confronto entre seu antecessor quando a mesma polêmica
" [...] foi causa das desordens que houve entre o bispo antecessor deste e o ouvidor Caetano Furta-
do, de que sé seguiram tão perniciosas conseqüências, e talvez a morte daquele reto ministro pela
defesa da jurisdição de Vossa Majestade". AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe.
33. [Cartado ouvidor da comarca de Vila Rica Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23.3.1750].
O bispo, p o r seu t u r n o , r e c o m e n d a q u e c a d a i r m a n d a d e guardasse consigo,
seus livros até q u e chegasse a solução real p a r a aquela c o n t e n d a . A atitude d e m o v e
o m a g i s t r a d o d a sua c o n d u t a até ali serena e d u r a n t e a festa d e S a n t o A n t ô n i o ,
m a n d a três d e seus oficiais o c u p a r e m o a d r o d a S é d e M a r i a n a e, d i a n t e d o
Santíssimo^ p o u c o antes da saída d a procissão, intimida as i r m a n d a d e s aí presen-
tes p a r a q u e cumprissem c o m a o r d e m de e n t r e g a dos l i v r o s . 1 3 9
O C o n s e l h o r e a g e c o m c e r t a i n d i g n a ç ã o a o q u a d r o a t é ali d e s c r i t o p e l o
o u v i d o r , r e c o m e n d a n d o q u e se escreva a o bispo e m p r e g a n d o "[...] expressões
mais fortes p a r a q u e r e p r i m a aos seus ministros n ã o se i n t r o m e t a m n o q u e toca à
jurisdição real [...]" e p e d i n d o q u e fossem todas m e d i d a s mais d u r a s p o r " t o m a r
contas q u e lhe n ã o c o m p e t e m " , desrespeitando o q u e a legislação e as provisões
de S u a M a j e s t a d e p r e s c r e v i a m . ' ^
U m dos conselheiros vitupera e m seu p a r e c e r : "Esta m a t é r i a está mil vezes deci-
dida, s e m p r e d u v i d a d a pelo eclesiástico [...]." A m a i n a d a a fúria dos debates, p r o -
AEAM, Documentos sobre e de dom frei Manoel da Cruz, 1746-1751, fl. 61-64.Cartapara El rei
Nosso Senhor pelo Conselho Ultramarino 1751. Ver AGUIAR, Marcos Magalhães de, op. át.
nota 44, p. 159, que também comenta o caso. Embora o conflito entre ò ouvidor e b bispo alcan-
çasse enorme escala de gravidade, não foi esse o motivo da prisão de Gaetano da Costa Matoso,
conforme insinuou equivocadamente TRINDADE, Raimundo, op. cif. nota 126, p. 156-157, e
repetiram KANTOR, íris, op. cit. nota 44, p. 127 K Aguiar, Marcos Magalhães de, op. cit. nota 44 ,
p. 159, este último mais precavido.
Este e outros argumentos estão expressos na carta do bispo frei Manuel da Cruz ao. rei. Mariana
17.3.1750. AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe. 28.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, documento 28. [Parecer do ConseMio Ultramarino..
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 55, doe. 33. [Carta do ouvidor da Comarca de Vila Rica
Caetano da Costa Matoso. Vila Rica, 23-3-1750].
visão real d e 4 de j a n e i r o d e 1751 colocaria m n p o n t o final n o assunto decidindo
esse lance d a b a t a l h a a favor dos a r g u m e n t o s executados pelo n o v o p r o v e d o r . ' ^ 3
O desfecho e n c o n t r a explicação n o j u l g a m e n t o do historiador C a i o Boschi,
e m O s leigos e o p o d e r , q u a n d o d e f e n d e a c a r ê n c i a d e p o d e r d e j u r i s d i ç ã o d o
b i s p a d o e m M i n a s G e r a i s d e s d e os seus p r i m ó r d i o s ^ c h a m a n d o a a t e n ç ã o p a r a
i n ú m e r a s e v i d ê n c i a s d o p a p e l s u b o r d i n a d o q u e a instituição e p i s c o p a l p o s s u í a
d i a n t e d e u m E s t a d o inclemente c o m o exercício de suas atribuições — a p r o v a ç ã o
dos compromissos ou t o m a d a d e contas — e gastos financeiros excessivos.
E , mais adiante:
AEAM. W 24, íl. 10v.-11. Registro de uma provisão real, que -contém, resolução a respeita das irmandades.
1751. Ver também Provisão real de 4dejaneiro de 1751, idêntica à decisão acima, AEAM, W 24, Ü. 47-
47v. O monopólio sobre os livros das irmandades acaba por se inverter. Caetano da Costa Matoso,
depois de recolher todos os livros e compromissos, sem facultar a consulta a'qualquer autoridade
eclesiástica, dois anos após o conflito dc origem, parecia recomeçar que nova ordem real precisaria
restituir o equilíbrio, obrigando ao sucessor de Caetano da Costa Matoso, "[...] deixe ver os livros,
e tirar as clarezas necessárias para se conhecer a qualidade e natureza destas irmandades". AEAM,
W 24, íl, 18v. Registro de uma ordem real, em que se ordena ao ouvidor geral de Vila Rica e corregedor desta
comarca de Mariana deixe ver os livros das irmandades aos reverendos ministros eclesiásticos para deles se úrarem as
clarezas necessárias para o conhecimento da natureza delas. [10.5] 1753.
BOSCHI, Caio C , op. ciL nota 71, p. 91. As disputas pelo controle sobre a jurisdição secular ou
eclesiástica e sobre as irmandades através da aprovação dos compromissos e suas tomadas de con-
tas com sucessivas imposições do Estado aparecem para este autor como evidências de uma cam-
panha para "[.-.] desautorizar os atos praticados porautoridades eclesiásticas, a fim de permitir que
a Coroa pudesse se impor sobre as irmandades [...]", muito embora para esse autor o capítulo da
briga do bispo com o ouvidor ocupe tímido espaço,
M a r i a n a a seu t e r m o h a v i a cerca de 150 confrarias instaladas à q u e l a altura. As-
sim, longe de se tratar de questão m e n o r , disputava-se ali o exercício d a h e g e m o n i a
sob a p o p u l a ç ã o m i n e i r a .
D e m a r c a n d o u m a das faces da consolidação do controle d a C o r o a sobre a
capitania, a M e s a d e Consciência e O r d e n s notifica as i r m a n d a d e s q u e a p a r t i r d a
provisão de 8 d e m a r ç o d e 1765 estavam obrigadas a c o n f i r m a r e m seus c o m p r o -
missos n a q u e l e Tribunal.'"^5 A s s i m , p a r e c e indiscutível q u e , à c u s t a d e t o d o o
desgaste q u e representou, C a e t a n o da C o s t a M a t o s o foi o artífice q u e concluiu a
o b r a d e conquista d a jurisdição pelo P o d e r Real. A legislação p r o d u z i d a d u r a n t e
sua a t u a ç ã o e nos anos i m e d i a t a m e n t e seguintes r e g u l a n d o a p r e s e n ç a régia sobre
a jurisdição eclesiástica e m i n ú m e r a s esferas é p r o v a suficiente disto.
As incansáveis queixas do bíspo c o n t r a o ouvidor i r i a m m a p e a n d o e m deta-
lhes as áreas de conflitos c o m a J u s t i ç a civil. A m e d i d a q u e este a c u m u l a cargos e
funções, mais invasiva e conflituosa iriam se constituindo as relações e n t r e o bis-
p a d o e a J u s t i ç a n a capitania. A m i n u d ê n c i a dos assuntos e m disputa alcançava os
m a i s diversos fazeres. U m deles seria disparado c o m a i n t e r v e n ç ã o do ouvidor a
favor'do direito d e u m músico m u l a t o n ã o aceitar q u e fossem revistas suas p a r t i t u -
ras pelos revedores n o m e a d o s , c o n t r a r i a n d o , s e g u n d o o bispo, os r e g i m e n t o s até
ali o b e d e c i d o s .
P o r vezes, as decisões d a J u s t i ç a eclesiástica n o â m b i t o d a c o m a r c a d e Vila
R i c a s e r i a m frontalmente c o n t r a r i a d a s pelo ouvidor geral. A l g u m a s expulsões d e
clérigos m a l c o m p o r t a d o s d e t e r m i n a d a s p o r d o m frei M a n u e l são b a r r a d a s pelo
J u í z o dos Feitos d a Coroa.''*"'' N o exercício deste cargo n a c o m a r c a d e Vila Rica,
p r o t e g e r i a , e m 1 7 5 1 , o p a d r e J o s é N u n e s C o e l h o d a expulsão a q u e fora c o n d e -
n a d o p e l o bispo. O m e s m o ocorre c o m o p a d r e C o n s t a n t i n o d e S o u z a Pereira. O s
casos p r o v o c a m o c o m e n t á r i o á c i d o do bispo, d e n u n c i a n d o q u e "[...] t o d o s os
clérigos m a l p r o c e d i d o s a c h a m refúgios e p a t r o n o no ouvidor geral da dita c o m a r c a
de Vila Rica, p o r isso a ele r e c o r r e m [ . . . ] " 1 4 8
E concluía c o m ênfase m a s limita-
ções q u e isto representava p a r a sua missão s a n e a d o r a à frente d o b i s p a d o :
"Dessa forma, a Mesa de Consciência e Ordens passou a exercer efetivo controle sobre as irman-
dades." Idem, p. 116..
AEAM, Documentos sobre c. de dom frei Manoel da Cruz, 1746-1751, íl. 58-59. Carta para o mesmo
senhor pelo Conselho Ultramarino em ¡751.
Ver Códice Costa Matoso, doe. 28.
AEAM, Documentos sobre e de dom frei Manoel da Cruz, 1746-1751, fl. 54-55. Carta para o mesmo
senhor pelo Consellio Ultramarino 1751.
"[...Jporque está muito no princípio a fundação deste bispado, em q u e h á
muito que emendar, e corrigir, se faz preciso que os ministros de Vossa Majestade,
se não protegerem, ao menos [se não] oponham com frívolos pretextos às ordens
de Vossa Majestade na expulsão dos clérigos e às correções que dou aos eclesiásti-
cos". '14 1
' ' O clima desta terra não é mau; são porém muito ruins os costumes, e abusos
nela introduzidos, e inveterados. V o u lhes fazendo guerra quanto posso, mas não
posso tanto quanto desejo. As maiores contradições que experimento são os eclesiás-
ticos, que, n ã o se emendando com as correções de [pai], se exasperam com os proce-
dimentos de juiz, desabafando a sua incorrigibiíidade em murmurações mentirosas e
falsos testemunhos, e agravando para a Coroa de Vila Rica, vizinha desta cidade
Mariana, achando no juiz dos feitos dela patrono certo como o é de todos os clérigos
mal-procedidos e revoltosos, e tão bem dos frades." 150
AEAM, Documentos sobre e.de dom frei Manoel da Cruz, 1746-1751, íl.. 54-55.. Carta para o mesmo
senhor pelo Conselho Uliramarmo 1751. Note-se que a participação do ouvidor.nas decisões sobre a
expulsão dos padres ç o que talvez explique a presença de documentos sobre a expulsão dos padres
nò Códice (entre eles os de número 27,. 37, 38 e 42). Sobre ò tema da expulsão dos padres, ver
Boschi, Caio C , op. cit. nota .71, p. 79-86.
AEAM, Documentos sobre e de dom frei Manoel da Cruz, 1746-1745, íl. 60. Para o Eminentíssimo
Senlwr Cardeal Cunha, inquisidor-geral do reino de Portugal em 1751.
O bispo pede providências, "[-..] para que não padeça *a jurisdição eclesiástica violências, ê os
vassalos de Vossa Majestade, vexações, sendo presos e retidos na cadeia tanto tempo sem culpas."
"Outra para o mesmo senhorpelo Conselho Ultramarino. 1751". AHMI, CSPOP, DomfreiManoel
da Cruz, copiador de cartas particulares. Mariana 1758-1762, íl. 128-128v.
AEAM,. documentos sobre e de, dom frei Manoel da Cruz, 1746-1751, 11. 66-68. Carta para o
Excelentíssimo Senhor General Gomes Freire de Andrade em 1751.
o b r i g a r a o b i s p o q u e escreva d e " m ã o p r ó p r i a " suas p e t i ç õ e s s e m r e c o r r e r a o
secretário. ^ 3 Aquele, alegava o juiz, era o estilo do reino, q u e deveria ser o b e d e -
cido nas Minas.154
M a s a v o r a c i d a d e c o m q u e o ouvidor a t a c a os confusos limites das jurisdições
n a capitania c h e g a a criar p a r a si situações de e m b a r a ç o j u n t o às autoridades m e -
tropolitanas. N u m a dessas passagens, q u a n d o d e n u n c i a c o n d u t a violenta d o vigá-
rio geral de M a r i a n a (seu p e r e n e desafeto) n o c u m p r i m e n t o d e u m a diligência do
bispo, o o u v i d o r sofreria e n t ã o d u r a r e p r e e n s ã o real. A c u s a d o d e f o r m u l a r falsa
a c u s a ç ã o e m d e n ú n c i a feita a o rei, este, depois de. considerar mais verdadeiros os
c o n t r a - a r g u m e n t o s do bispo, convocaria G o m e s Freire p a r a p u n i r C a e t a n o : " C h a -
m e a sua p r e s e n ç a o dito b a c h a r e l C a e t a n o d a C o s t a M a t o s o e o r e p r e e n d a d a
m i n h a p a r t e pelos excessos e c o n t a s q u e t e m d a d o c o n t r a vós [bispo], t e n d o a
ousadia d e p ô r n a m i n h a real p r e s e n ç a u m a acusação falsa c o n t r a v ó s . " ^
A t e n a c i d a d e d a a t u a ç ã o d o b a c h a r e l motiva r e a ç ã o d o bispo, q u e c h e g a a p e d i r
s u a c a b e ç a , p o r i n t e r m é d i o d e justificação q u e e n c a m i n h a a G o m e s Freire, c o m
vários d o c u m e n t o s c o m p r o b a t ó r i o s p a r a q u e este recorresse a o rei, a fim d e v e r
r e s t a u r a d a a " i m u n i d a d e e l i b e r d a d e eclesiástica" e p u n i d o o m a g i s t r a d o . ^ A
exaltação que. esta p r e s e n ç a causava à dignidade episcopal levaria o bispo a pedir
a intercessão do secretário d e Estado d e Portugal j u n t o ao rei p a r a afastar C a e t a n o
d a C o s t a M a t o s o , m a n o b r a n d o c o m a troca d a n o m e a ç ã o d e T o m á s R u b i m de
S a b a r a p a r a M a r i a n a . E m agosto d e 1 7 5 1 , justificava o p e d i d o d e substituição
s e m rodeios;
AHMI, GSPOP, dom frei Manoel da Gruz, Copiador de cartas particulares, Ü. 128. Outra [caria]
para o mesmo senlior,pelo Conselho Ultramarino. 1751.
A ordem é motivo de nova querela, que subiria ao Conselho Ultramarino. Sem encontrar consen-
so nos pareceres do procurador da Coroa e da Fazenda, a decisão acaba sendo levada a Vossa
majestade. AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG^ caixa 59, doe. 66. [Consulta do ConseUio Ultrama-
rino, Lisboa, 11.3.1752],:
AEAM, W. 24, fl. 13v. Registro de uma real carta, na qual se participa à Sua Excelência da repreensão que se
manda dar a Caetano da Costa Matoso, ouvidor deVila Rica. Lisboa, 29.3.1752, Teria sido com indisfarçável
sadsfação que o bispo teria mandado trasladar para seus arquivos o Registro de uma real carta, na qual
se participa ã Sua Excelência Reverendíssima que ao ouvidor Caetano da Costa Matoso, como juiz
da Coroa ç seus adjuntos, se manda estranhar o excesso de condenarem ao reverendo doutor
vigário geral deste bispado sem quepara isto tivessem jurisdição alguma. 1752, Ver AEAM, W. 24,
fl. 16 Lisboa, 17.4.1752.
Referência a este processo consta no AEAM, documentos sobre e de Dom Frei Manoel da Cruz,
1746-1751, fl. 66-68. Carta para o Excelentíssimo Senhor General Gomes Fmu de Andrade em. 1751.
"[...] porque assim respirariam os seus vassalos da grande opressão que t e m
padecido e receberiam o maior bem da república, que é capaz, tendo juntamente
este bispado algum sossego da injusta guerra que o atual ouvidor Gaetano da Costa
Matoso tem feito àjurisdição Eclesiástica, como a Sua Majestade se tem manifestado
pelos'seus Tribunais." 1,17
Se até a essa altura as querelas pelo direito de controlar as contas das irmandades
e as disputas pelas prerrogativas sobre o destino, dos eclesiásticos p a r e c e m suficiente-
m e n t e acirradas, o p o d e r episcopal seria d e fato a r r a n h a d o a partir d a avaliação q u e o
ouvidor procede j u n t o às receitas e despesas do bispado. A fim d e instruir o pedido
real de informação sobre assunto tão meticuloso, agrega a m p l a contabilidade e m que
d e n u n c i a desmandos de Sua Eminência e variadas manifestações de venalidade n a
formação d a receita do bispado, q u e alcança, após correções dos valores originais, a
fabulosa cifra de 21:000^000 réis, concentrados no b i s p o . 1 5 8
As informações que ele
encontra de. gastos e receitas excessivas a c e n d e m o rastilho d a pólvora:
" T o d o este rendimento é mais que excessivo para qualquer bispo que se trata
com a.decência devida a sua pessoa e o seu caráter, e muito mais para o bispo atual,
pois indecente e indignamente vive não só no trato demasiadamente econômico d a
sua pessoa e de sua família mas ainda no trato exterior para a conservação do
respeito do seu lugar, que de. nenhuma forma concilia [...] 1 5 y
• .AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 58, doe. 51. [Cartado bispa de. Mariana, para o Secretário
de Estado, solicitando intercedessejunto.ao rei, afim de se alterar a nomeação de Tomás Rubim de Barros Barreto do
Rego, de ouvidor da vila do Sabará para Vila Rica, suspendendo-se desse modo Caetano da Costa Matoso, que fazia
afrontas àjurisdição eclesiástica. Mariana, 5.8.1751].
'*- Códice Costa.Matoso, documento. 108. Ver, ainda, documento 99 e 102.
documento 104, citado por AGUIAR, Marcos Magalhães de, op. cit. nota 44, p.
'* Códice CostaMatoso,
!
158. Ver também KANTOR, íris, op. cit, nota 44, p. 127).
'• Citado por AGUIAR, Marcos Magalhães de, op. cit. nota 44, p. (59 e KANTOR, íris, op. cit. nota
44, p. 127.
• Ver Códice Costa Matoso, documento 104. Apesar de não estar mais no cargo quando redige este
documento, o texto é um implacável exame dos excessos de receita que o bispado concentra e da
opressão que a população mineira sofria.
Essa v e e m ê n c i a d a ofensiva do ouvidor c o n t r a a liberalidade nas contas das
i r m a n d a d e s e t a m b é m nas contas do bispado e d a M i t r a p a r e c e ter sido alimenta-
d a pelas decisivas críticas c o m q u e , d é c a d a s antes, d o m Luís d a C u n h a atacava a
Inquisição e a multiplicação d e s o r d e n a d a de conventos, mosteiros c o m remessas in-
cessantes d e recursos p a r a R o m a , além das excessivas manifestações piedosas e n t r e os
portugueses.' 6 2
A leitura de sua instrução política, escrita e m 1737 pelo estrangeirado
c o m p a s s a g e m p o r C o i m b r a , dificilmente escaparia das vistas d o e s t u d a n t e de leis
C a e t a n o da C o s t a M a t o s o . Possivelmente,, teria s e d i m e n t a d o algumas das certezas
q u e c o n d u z i r i a m sua insistência pela reforma n a administração dos recursos eclesiás-
ticos nas M i n a s . O a m b i e n t e n a península g e r a d o pelos duros a t a q u e s d e d o m Luís
d a C u n h a aos efeitos nefastos d o clero e d a religião e m Portugal decerto agiu p a r a
galvanizar certo anticlericalismo q u e explodiria e m M i n a s a o se d e p a r a r c o m a
;
t e n d ê n c i a do b i s p a d o e dos bispos e m m o n o p o l i z a r r e n d a s e p o d e r .
" CARDOSO, Manoel. The .internationalism of the portuguese Enlightenment: the role of the
Estrangeirado, e.l700-c.l750. In; ALDRIDGE, A. Owen (Ed.) The ibero-american Enlightenment.
Urbana: University of Illinois Press, 1971. p. 141-207.
'- APM,CMOP5L,fl. 138.
'• APM, CMOP63, fl. l29-I29v. Registro de uma ordem de Sua Majestade que Deus guarde remetida ao doutor
Caetano da CostaMatoso, ouvidor geral que foi de Vila Rica, a respeito de se não receberem os embargos das propinas
anuais. Lisboa, 15.6.1752.
livro idêntico deveria ser e n t ã o c o m p r a d o , a t e n t a n d o - s e a i n d a p a r a "[...] n ã o p r e -
j u d i c a r a q u e m toca as suas rubricas [ . . . ] ' \ 1 6 5
A seguir, t r a t a m d e deixar p r o n t o e
d e v i d a m e n t e r u b r i c a d a s todas suas p á g i n a s p e l o j u i z d e fora, n a q u a l i d a d e d e
presidente d a C â m a r a , p a r a o p r o n t o uso.
A diligência dos camaristas e n c o n t r a oposição n o ouvidor geral, q u e i m p e d e
q u e se l a n c e m os capítulos d a correição neste livro e suspende a necessidade d a r u b r i -
ca do juiz d e fora, o b r i g a n d o q u e p r e p a r e m u m o u t r o livro, n o qual e n t ã o seriam
redigidas as correições, dessa vez assinado e r u b r i c a d o p o r ele n a condição d e ouvidor.
Zeloso d e sua jurisdição e, c o m o v e r e m o s , de seus r e n d i m e n t o s , a r g u m e n t a r i a q u e n o
novo livro ficaria escrito "o q u e eu determinasse nos capítulos da c o r r e i ç ã o " e, u m a
vez q u e "[...] assinam os ouvidores p r i v a t i v a m e n t e n ã o p o d i a n e m devia ser rubrica-
d o s e n ã o pelos m e s m o s , e n ã o p e l o dito m i n i s t r o inferior deles [...]". J u s t i f i c a
desta forma sua o r d e m d e m a n d a r p r e p a r a r u m outro livro p o r ele assinado. *? 1 6
O o u v i d o r t o m a r a a q u e l a decisão r e s p a l d a d o e m p r o v i s ã o d e seu r e m o t o
antecessor, M a n u e l M o s q u e i r a d a R o s a , que, e m correição realizada e m 1715, deci-
de q u e os livros d e l a n ç a m e n t o de contas fossem todos n u m e r a d o s e r u b r i c a d o s pelo
provedor da c o m a r c a . 1 6 7
"Desde que nessa cidade houve Câmara, foram sempre os livros de que na
mesma se tem usado rubricados pelos juízes ordinários, enquanto n ã o havia juízes de
fora, que estes seguiram o mesmo, rubricando, como presidentes do Senado, todos
os livros que servem para escritas da mesma C â m a r a [...] lG!J
Mariana, 2.9.1752].
169. H U , Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 60, doe. 11, [Carta
A dojuiz defora epresidente do Senado da
Câmara de Mariana. Mariana, 24 de abril de 1752].
Essa b a t a l h a , após vagarosas consultas aos tribunais, seria p e r d i d a alguns depois
pelo criterioso o u v i d o r . * ^ 7
Quando já estava longe do cargo, decisão real, depois de consulta ao seu sucessor ê aos procurado-
res da Fazenda e Coroa, condena a mudança introduzida por Caetano, chegando a obrigado a
restituir os emolumentos recebidos pelas rubricas. Ver APM, CMM. 19,. íl. 21 lv.-212. Registro de
uma ordem de Sua Majestade que Deus guarde remetida ao doutorjuiz de fora desta Cidade Silvério Teixeira a
respeito de. um livro que rubricou para o doutor ouvidor mandar escrever os capítulos da correição, 8.7.1754. A
polêmica parece se esgotar com a decisão real. Mas não. O ex-ouvidor, de sua parte, resolve pro-
cessar a Câmara, a fim de reaver as rubricas e assinaturas das correições largadas no livro da
discórdia. Ver AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 68, doe. 82.. Requerimento de Caetano da
Costa Matoso, ouvidor de Vila Rica, pedindo para que lhe seja pago pela Câmara da Cidade de Mariana o que üie
devem pelos semiços prestados em correição. Lisboa, 15-3-1756.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 60, doe. 11. [Carta régia de 26.12.1755.] A medida
havia sido ordenada por provisão do Conselho Ultramarino de 8 de julho de 1754.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 60, doe. 11. Listas com descrições detalhadas dos
livros das câmaras mineiras que compõem os anexos 11 a 40 de Consulta do Conselho Ultramarino, s.d.
Ver a este respeito, a instigante discussão encaminhada por HESPANHA, Antônio Manuel, op. cit,
ndta 100, p. 362-380.
C o n t u d o , sob as densas relações entre, a a u t o r i d a d e real e as c â m a r a s , a a n á -
lise de sua a t u a ç ã o c o m o c o r r e g e d o r j u n t o à C â m a r a d e M a r i a n a , através dos
p r o v i m e n t o s lavrados nos livros d a C â m a r a , revela facetas a i n d a mais i m p o r t a n t e s
d e sua a t u a ç ã o . Sobressai sua volúpia d e p ô r e m o r d e m as contas, gastos, dividas
q u e possuía o concelho. E x a m i n a todas as contas e luta p e l a sua clareza. N a c o r r e i ç ã o
de j u n h o d e 1749, c o m b a t e gastos excessivos, c o m o o das ceras d a s festas e o
p a g a m e n t o e x a g e r a d o pelos, sermões. Através d a ação j u n t o à C â m a r a m u n i c i p a l ,
d e n u n c i a desordens na administração das finanças, pressiona p o r ajustes nas con-
tas e m a i o r e m p e n h o n a c o b r a n ç a dos foros a t r a s a d o s , r e v e l a n d o - s e u m zeloso
auditor sobre os gastos d a república nas M i n a s .
Esteve longe d e ser u m c o r r e g e d o r tolerante ou c o n d e s c e n d e n t e : c o n d e n a a
displicência dos v e r e a d o r e s , a p o u c a diligência do p r o c u r a d o r do c o n c e l h o , c h e -
g a n d o m e s m o a a m e a ç a r a t o m a d a de bens dos vereadores "[...] c o m p e n a d e se
h a v e r p o r seus b e n s o seu imposto [...]", c o m o faz e m 1749, ou a f i r m a n d o q u e
"[...] p a g a r ã o os v e r e a d o r e s atuais p e l a sua fazenda t o d a a falta [...]", c o m o n a
correição de 1750) q u e persistissem n a negligência d a c o b r a n ç a dos foros devidos
ao c o n c e l h o . ^ C o m a r e p e t i ç ã o das i r r e g u l a r i d a d e s q u e a c o m p a n h a v a n o seu
1 7
"Sou também informado por queixas que se passam semanas sem que haja
u m a vereação padecendo as partes pela pouca observância que os vereadores d ã o
ao qne são obrigados estando pelas suas roças e por onde lhes parece sem satisfa-
zerem ao que, devem. E para que cessem as mesmas, ordeno que de hoje em diante
assistam indefectivelmente todas as semanas nos dias determinados, pela lei [...] 17(1
despesa de 788 oitavas sem que nesta matéria haja o mínimo zelo, e se satisfaça a obrigação de
cada um, e para que nesta forma.haja mais conhecimento ordeno, que daqui em diante se não
distribua em cada uma das festividades de câmara se não a cera precisa [...]". UFOP, AHCMM,
cód. 679,11. llv.-12v.
76. UFOP, AHCMM, cód. 679, fl. 1 lv.-12v.
77
- UFOP, AHCMM, cód.. 705, fl. 10.
N a s correições desse tipo que. seguem nos anos seguintes de. 1750 e 1 7 5 1 , os
inquiridos silenciariam diante das p e r g u n t a s feitas pelo m e s m o corregedor. G o m o
é difícil d e crer q u e a c o m u n i d a d e passasse a viver e m estado d e t a m a n h a perfei-
ção q u e n ã o tivesse q u a l q u e r p r o b l e m a nas suas p o n t e s , nos c a l ç a m e n t o s , p r o b l e -
m a s de preços ou de abastecimento {dentre os muitos q u e p o d e r i a m e m e r g i r nesse
tipo de questionário), o silêncio dos v e r e a d o r e s p o d e ser t o m a d o c o m o m e d i d a
p a r a o estado d e ânimos e m q u e se e n c o n t r a v a a relação e n t r e o u v i d o r e os " h o -
m e n s b o n s " da C i d a d e . ' ^7
ta. UFOP, AHCMM, cód. 680, íl. 114-155v. Audiência da correição à Câmara desta Cidade Mariana o presen-
e UFOP, AHCMM, cód. 680, íl. 115-1 !5v. Audiência da correição à Câmara desta cidade
te ano de 1750.
Mariana o presente ano de 1751-
179. UFOP, AHCMM, códice 201, A. 131-131 v.
procurador do Senado. D e i x a a tarefa i n a c a b a d a , n o e n t a n t o , era virtude de
seu a f a s t a m e n t o p r e c o c e . ^ 1 1
180. APM, CMM. 18, fl. 100.. Termo de acórdão e vereação, 4.1.1752. Alguns meses depois, a execução
desta ordem esbarra com um problema inusitado: o arrematante dos marcos de pedra foge sem
completar o serviço, deixando apenas seis marcos prontos, ainda assim sem estarem colocados nos
lugares determinados pelo doutor ouvidorjuiz do tombo. APM, CMM- 18,.fL 119v. Termo de acórdão
e veimção, 19.4.1752. Em setembro, a demarcação e o tombo estavam concluídos, constando que,
na qualidade de juiz do tombo, Caetano recebera, entre rubricas, juramento aos louvados e assina-
turas, a quantia de 1:.343$430 réis. APM, CMM. 19, fl. 43v.-45. Registro de duas certidões que passei por
ordem dos senhores do Senado da Câmara que foram remetidas com a conta acima e atrás por duas vias. Certidão
passada a 4.9.1752.
lul. ]Xje p i (Ipixa de cobrar pelos arbitramentos que faz aos oficiais encarregados do tombo,
m D r s s o
«esperando auferir cerca de 2:55 05^281 réis, fora o valor do salário por dias trabalhados, que espera-
va que a Camara definisse. Ver APM, SG, cx. 4 doe. 26 (documentação não encadernada). Repre-
scnlãção dos oficiais da Câmara de Mariana, 2.9.1752.
182;. APM, CMOP 22 fl. 106-107v. Auto de correição que íéz o doutor Caetano de Costa Matoso
;
ouvidor-geral, e corregedor desta comarca do Ouro Preto aos oficiais da Câmara desta vila p pre-
sente ano de .1749. Resultado dessa intervenção, o Senado, em obediência ao provimento do
corregedor, lançaria edital obrigando a revisão das aferições e retirada de novas licenças. APM,
CMOP 54,11, 192v. [Registro de vários editaÍs,-5.7A74%
183, APM, CMOP 22,11. 106-107v. Auto de correição quefez o doutor Caetano de Costa Matoso, ouvidor-geral e
corregedor desta comarca do Ouro Freto, aos oficiais da Câmara desta vila o presente ano de 1749.
184, APM, CMOP 22, fl. 108v-l 1 l.Auta de correição que faz o doutor Caetano da Costa Matoso, ouvidor geral e
corregedor desta comarca de Ouro Preto, aos oficiais da comarca desta mia em o presente ano de 1750.
nistração dos enjeitados, criticando as excessivas despesas com o t e m p o que ficavam
c o m as amas, reduzindo o período e o valor pago pela a m a m e n t a ç ã o . Desconfiado,
m a n d a q u e se p r e p a r e u m livro p a r a o registro dos expostos q u e e r a m sustentados
pela C â m a r a , em q u e se pudesse controlar melhor os gastos, e incentiva a averigua-
ç ã o d a existência d e parentes, coibindo o p a g a m e n t o a pessoas c o m recursos q u e
c o b r a v a m d a C â m a r a pelas crianças expostas às suas p o r t a s . ^ E m Vila Rica, Caeta-
1
APM, CMOP 22, íl. 112. Auto de Corráçao que faz o doutor Caetano da Costa Matoso, ouvidor-geral e
corregedor desta comarca do Ouro Preto, aos oficiais da Câmara desta vila em o presente ano de 1751,
186- APM, CMOP 53, fl. 115-115v.
187. N . ntido, é lapidar o provimento de 7 de maio de 1749 com que responde ao Senado da
( s s e se
Câmara de Ouro Preto sobre as obras da fonte de António Dias e as festas de santa Isabel e anjo
Custódio. Ver APM, CMOP 54, 1!. 185v.-186v. Registro de uma carta que o doutor provedor da comarca
escreveu ao Senado da Camara.
1 8 8
- APM, CMM 18, fl. 74. Acórdão de 3 'dejulho de 1751.
d e aluguel^ c a d a u m a d e suas atividades profissionais seria fonte d e g e n e r o s o s
p a g a m e n t o s . A C â m a r a de M a r i a n a acerta o p a g a m e n t o d e 1855S655 réis p a r a sua
a p o s e n t a d o r i a e pelas festas q u e a s s i s t i r a . 189
N o a n o seguinte, seria c o n t e m p l a d o
c o m u m total d e 1 0 4 S 2 2 5 réis e n t r e a p o s e n t a d o r i a e r e s í d u o das c o n t a s . N e s t a
ocasião, cuidaria de. fazer retornar aos cofres do S e n a d o 4Ò$000 q u e teria recebido
indevidamente nas correições de 1749 e 1750, correspondente à r e m u n e r a ç ã o .adota-
da pelo ouvidor q u e o antecedeu pela preparação dos capítulos da correição, que, n o
entanto, teria sido e m b a r g a d a pelo soberano, "[...] é o motivo p o r que o dito ouvidor
mais b e m informado os r e s t i t u i u . " . 190
Igualmente construtivo foi o episódio seme-
l h a n t e , desta vez j u n t o à C â m a r a de; Vila R i c a , q u a n d o o r d e n a q u e se a b a t a d o
p a g a m e n t o q u e lhe devia a C â m a r a 20$000 p o r u m a festa a que n ã o compareceu,
por estar e m M a r i a n a realizando c o r r e i ç ã o . 191
N e m p o r isso se. deve julgar qualquer
atitude d e desprendimento da p a r t e do ouvidor. R e c e b e das c â m a r a s p o r diversas
vezes ajudas de custo de 80 oitavas de ouro p e x por assistir às funções camerárias,
mais 80 oitavas d e ouro pelas despesas c o m o luto do funeral do s o b e r a n o , 1 9 2
ilus-
trando-se aqui a p e n a s algumas das fontes d e r e n d a do ouvidor. C a e t a n o d a Costa
Matoso, além dos emolumentos que recebe no exercício do cargo, depois de afasta-
do, n ã o descansa enquanto n ã o resgata as dívidas das câmaras de. Vila Rica e M a r i a n a .
S u a m á g o a c o m M i n a s Gerais n ã o se, estende aos ganhos q u e fizera p o r m e r e c e r .
Depois de. muito insistir j u n t o à C â m a r a de M a r i a n a p a r a receber pelo trabalho de
execução do t o m b o d a sesmaria sem ser atendido, apela ao rei dizendo-se perseguido
por Silvério Teixeira, seu inimigo de velha data, com g r a n d e influência naquela cida-
de. A c a b a conseguindo resgatar, somadas às rubricas, assinaturas e j u r a m e n t o s dos
louvados, dois contos, quinhentos e cinqüenta mil, duzentos e oitenta e u m réis, mais
quarenta oitavas d e ouro "[...] pelo trabalho que teve e m ajudar a fazer a demarca-
ç ã o " . ^ A C â m a r a de M a r i a n a encontrava-se i n a d i m p l e n t e c o m seu ex-corregedor,
1 9
• Cifras tomadas em várias passagens dos'autos de vereação do APM, CMOP 56, fl. 115v.-117v.
'* AHU, Cons. Ultramrmo, Brasii/MG, caixa 65, doe. 42. [Requerimento de Caetano da Costa Matoso,
ouvidor de Vila Rica. pedindo para ser pago pela conta da contadoria no que respeita as assinaturas e rubricas a que
Em seu apelo, contrapõe os sacri-
km direito e pelos dias empregues na execução do tombo de uma sesmaria].
ficios que fizera para execução do trabalho e sua "pouca ambição, que tinha e é notória" ao não
procurar receber imediatamente os emolumentos. Verídico ou não esse desprendimento, o fato é
que o provedor da Fazenda encarregada de contabilizar suas dividas salienta que pelos oitenta e
irove dias de trabalho gastos na medição "se lhe não acham contados salário algum". AHU, Cons.
Ultramarino, Brasil/MG, caixa 65, doe. 42. Auto de exame. Provedor da Fazenda real, Domingos
Pinheiro, 10.10.1753.
q u e , j á do o u t r o lado do Atlântico, resolveu 'processá-la p a r a q u e recebesse pelas
rubricas nas correições n o livro da discórdia.
O posto u l t r a m a r i n o na magistratura era posição delicada. O r e c r u t a m e n t o
de funcionários dispostos a o c u p a r cargos e m a m b i e n t e s e n c a r a d o s c o m o inóspi-
tos a t e n d e u a a l g u m a n e g o c i a ç ã o , e m q u e se m i s t u r a v a m formas a m p l i a d a s d e
v e n a l i d a d e , c o r r u p ç ã o consentida p a r a c o m p e n s a r os baixos salários e as agruras e
i n c ô m o d o s enfrentados no cargo. ^ T a l forma d e v e n a l i d a d e fazia p a r t e d a con-
d u t a d e q u a l q u e r f u n c i o n á r i o colonial, inclusive d o o u v i d o r d e V i l a R i c a . E m
vista disto, t r a n s c o r r e o longo e m b a t e e m t o r n o do direito de os ouvidores recebe-
r e m u m a o i t a v a d e o u r o pela r e n o v a ç ã o das licenças dos oficiais m e c â n i c o s ou
pelo direito de t r a b a l h a r e m e m lojas abertas. M a n d a t á r i o d a J u s t i ç a e m M i n a s , a
h a b i l i d a d e d o ouvidor p a r a i n t e r p r e t a r as leis serviria p a r a sustentar essas espécies
de ganhos.
D e s d e 1747, os oficiais da C â m a r a d e Vila R i c a a d v e r t i a m o rei sobre os p r e ç o s
extorsivos c o b r a d o s pela J u s t i ç a n a capitania. E m carta d e 13 d e abril, falavam d a
"[..,] c o n s t e r n a ç ã o e m q u e se vêem estes povos c o m as avultadas espórtulas q u e le-
v a m os ouvidores e m suas correições [...]", referindo-se especificamente à obrigação
d e todos q u e tivessem loja ou oficio a o p a g a m e n t o d e u m a oitava d e o u r o p e l a
licença. O c a r á t e r odioso dessa taxa derivava da obrigatoriedade, c o n t r á r i a a o q u e
p r e s c r e v i a o r e g i m e n t o , c o m q u e t o d o s t i n h a m d e p a g á - l a , e n ã o a p e n a s os
t r a n s g r e s s o r e s . ^ Através do seu C o n s e l h o U l t r a m a r i n o , G o m e s F r e i r e é instado
1 6
a o p i n a r a respeito logo n o a n o s e g u i n t e . ^ 1 7
O montante totalizava, segundo o contador de Vila Rirá, 1017 oitavas e 3/4 de juramentos; rubri-
cas de livros e assinaturas. AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 68, doe. 82. [Requerimento de
Caetano da Costa Matoso, ouvidor de Vila Rica,, pedindo para que lhe, seja pago pela Câmara da Cidade de
E, muito embora a segunda residência
Mariana o que üie devem pelos serviços prestados em correição].
tivesse empenho especial em averiguar se Gaetano da Gosta Matoso dedicara-se ao comércio, não
encontrando elementos desabonadores á respeito, é bastante provável quê Caetano não tenha
fugido à regra de ouro das carreiras ultramarinas: auferir todo o tipo de recurso disponível de obter
na passagem pela colônia. No mercado colonial, funcionários não raro tornar-se-Íam investidores,
aproveitando-se da dinâmica da economia. Assim ainda confinado no Rio de Janeiro, Caetano
recebe em setembro de 1752, em Lisboa, através de Seu procurador é tio doutor Manuel Madeira
de Sousa, dois contos quinhentos e sessenta mil réis (2:560&00ü réis.), letras: que lhe devia o
contratador de diamantes Felisberto Caldeira Brant e seus sócios. Anais da Biblioteca,Nacional, Rio de
Janeiro, v. 80, p. 165,. 1960. Agradeço ajúnia Ferreira Furtado essa referência.
Sobre o tema da integridade das autoridades reais e as tênues fronteiras entre práticas legais e
ilegais no Brasil Colônia o trabalho de Ernst Pijning constitui consulta obrigatória. Ver PIJNING,
Ernst. Controllingcontraband: mentality, ecoiiomy and society in eighteenth- ceiitury. Rio de Janeiro.
Maryland:Johns Hopkins University, 1997.
APM, SC 92, doe. 17. [Carta dos oficiais da Câmara de Vila Rica, 1.3.4.1747}.
APM, SC 93, fl. 47-47v. Carta de lei, Lisboa, 6.10.1750. Cópias dessa carta são distribuídas para
todos os capitães-mores da capitania. Ver APM, SC 93, fl. 54. Ordem régia ao governador da capitania,
6.4.1752.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, cód. 241, fl. 339v. [Provisão régia através do Conselho UUramarino.
Lisboa 26.10.-1750].
ANRJ, DjMss, cód, 80, v. 9,fl.54v-55. Sobre os wvidom da capitânia das Minas Gerais levarem uma oitava
de ouro de cada licença.que as pessoas de loja aberta ou oficial de seu oficio lhes apresentam em correição, 24.5.1751.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, cód. 241, fl. 356. [Provisão régia pelo Conselho Ultramarino ao governa-
dor Gomes Freire. Lisboa, 7.2.1752] .
"Pois ao mesmo tempo cpie Vossa Majestade por sua real grandeza os quer
aliviar de u m tributo injusto os ministros os querem obrigar a pagá-lo, tirania é, e
n ã o pequena! Porém, como eles nesta capitania são, ou querem ser senhores abso-
lutos, o b r a m tudo quanto a sua cabeça lhes incita, sem temor de Deus n e m o
respeito às leis de Vossa Majestade, nem ato pouco guardam decoro ao Governa-
dor e Gapitãp General." ^
202. AHU, Cons. Ulu amariiio, Brasil/MG, caixa 58, doe. 41. Representação da
-
Câmara da Cidade de Mariana
ao rei dando conta da desobediência de alguns ouvidores de Minas Gerais relativamente ao cumprimento da provisão
régia de 26 de. outubro de ¡750 a respeito das correições.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 58, doe. 41. Representação da Câmara da Cidade de Mariana
ao m dando conta da desobediência de alguns ouvidores de Minas Gerais relativamente ao cumprimento da provisão
régia de 26 de outubro de 175Q a respeito das correições.
Aspecto que possivelmente contribuiu para indispor os oficiais mecânicos com a figura do ouvidor
foi sua intervenção pela maior atuação dos almotacés em Mariana, que decerto pesou no controle
dos oficiais. Ver UFOP, AHCMM, eód. 660, íl. 9v.-10.
205. AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, cód.'241, fl. 357v. [Provisão régia através do Conselho Ultramarino ao
ouvidor de Vila Rica, Lisboa, 7.2.1752]. Texto idêntico merece o ouvidor de Sabará Teodoro de
Abreu Bernardes.
O caso, e x p o n d o o o u v i d o r a u m a oposição frontal a o rei, é r e v e l a d o r das
d e l i c a d a s relações e n t r e a j u r i s d i ç ã o dos oficiais e o p o d e r d o rei sob o a n t i g o
regime e m Portugal. T o c a v a n o e n t e n d i m e n t o , escorado e m d o u t r i n a q u e só viria
a a l t e r a r e m fins do século X V I I I , q u e o p u n h a b a r r e i r a s à i n t e r v e n ç ã o real n o
c o t i d i a n o d a jurisdição dos oficiais. S e g u n d o M a n u e l H e s p a n h a :
" T u d o isto, combinado com a incerteza doutrinal e legal, com ã delonga dos
processos judiciais e com as chicanas e dilações que aí podiam ser artificialmente
introduzidas, possibilitava ao oficial negar ou remeter p a r a as calendas gregas o
cumprimento de diretivas vindas de cima. O seguimento de alguns processos deste
tipo de que a literatura nos deixou registro é suficiente p a r a nos mostrar d u m a
forma plástica o grau de independência prática gozado pelos oficiais." m>
O relato mais detalhado das circunstâncias do. motim encontra-se em AHÜ, Cons. Ultramarino,
Brasil, Códice 244 , fi. 129v.-131. [Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 10.2.1752]. Os argu-
mentos tanto do ouvidor quanto do governador (chamado a dar seu parecer) instruem o parecer
final.. Versão bem mais resumida e parcial encontra-se em AHU* Cons, Ultramarino, Brasil, Códice
241, fl. 364v. [Provisão régia através do Conselho Ultramarino, Lisboa, 6.4.1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 244 , fl. 130. [Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 10
de fevereiro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 244 , fl. 130-130v. [Consulta do Conselho Ultramarino, Lis-
boa, 10 de fevereiro de 1752].
ele, e m u i t o mais e m correição, e m q u e tinha t o d a a j u r i s d i ç ã o [ . . . ] " . 2 1 2
Mais u m a
vez o b a c h a r e l resguardava-se n a interpretação d a lei.
S u b l i n h a r i a a t e m p o a qualidade s e m p r e inquieta dos m o r a d o r e s d e M i n a s :
que esse p r o c u r a d o r afirma n ã o considerá-lo "digno de. castigo". Por outro lado, lhe
parecia justo livrar d a prisão os réus, sugerindo que fosse, dada o r d e m p a r a soltá-los
pelo próprio o u v i d o r . ^ J á o p r o c u r a d o r d a C o r o a n ã o demonstrava tanta tolerân-
21
No entanto, sua defesa maior, aquilo que.parecia aliviar sua consciência, era o fato de a mesma
ordem que proibira os emolumentos determinava que se o ouvidor entendesse por bem continuar
a cobrados poderiam os atingidos queixar-se na sua residência. Esse parecia-lhe o direito que dis-
punham os grupos afetados, e não p direito de se amotinar: "assim não tinham outro recurso e
deviam satisfazer ao seu mandato, e usar daquele meio no caso que ele o percebesse, e muito
menos não percebendo ele cousa alguma" AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 244 , fl. 130v.
[Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 10 de fevereiro de 1752] .
3
- AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 244, fl. 130v. [Consulta do Conseüio Ultramarino, Lisboa, 10
de fevereiro de 1752].
4- Essa proposta de soltar os presos de delito tão sério é cercada de dissimulação: "que como não era
conveniente dar-se uma idéia de impunidade, e tolerância em semelhante figura de delito, parecia
a ele, procurador da Fazenda, seria melhor servir-se Vossa Majestade declarar que por algumas
justas razões há por bem perdoar a estes réus o maior castigo que mereciam ordenando que sejam
logo soltos pelo mesmo ouvidor". AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 244, fl. 130v. [Consulta
do Conselho Ultramarino, Lisboa, 10 de fevereiro de 1752].
5
- AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Cód. 244,11. 130v-131. [Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa,
10 de fevereiro de 1752].
d e m o v e r o o u v i d o r d a q u e l a c o b r a n ç a , m a s , "[...] c o n h e c e n d o a fortaleza d o seu
espírito, ficava c o m p o u c a esperança de que. ele mudasse, a d e t e r m i n a ç ã o [„.]".216
O parecer-final do Conselho U l t r a m a r i n o , c o m sugestões expressas d o conse-
lheiro F e r n a n d o J o s é M a r q u e s Bacalhau, r e c o m e n d a a o rei que o r d e n e ao governa-
dor q u e c h a m e o ouvidor a sua presença e o r e p r e e n d a s e v e r a m e n t e p o r aqueles
procedimentos, q u e nova devassa seja tirada e remetida a o Conselho U l t r a m a r i n o ,
q u e os presos sejam soltos e que traga aquela ocorrência p a r a a r e s i d ê n c i a . ' 2 7
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Côd. 244, fl. 131. [Consulta do Conselho Ultramarino! Lisboa, 10 de
fevereiro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Cód. 244, fl. 131. [Consultado Conselho Ultramarino, Lisboa, 10 de
fevereiro de. 1752], José de Souza Azevedo Pizarro Araújo refere-se à ordem de 6 de abril de 1752,
em que foram perdoados pelo rei "os réus que foram em Mariana à casa do ouvidor Caetano Costa
Matoso dizer, por modo amotinado, que não estavam por um edital do clito ministro, etc, Se deter-
minando ao governador que mandasse chamar aquele ministro e da parte de S. Majestade lhe
estranhasse a desordem com que se houve no edital referido.'", na obra Memórias Históricas do Rio de
Janeiro. Rio dejaneiro: Imprensa Nacional, 194G, V. 8, t. 2. p. 290.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Cód. 241, fl. ,364y. [Provisão régia através do Conselho Ultramarino,
Lisboa, 6.4.1752]. Gomes Freire mantinha-se informado sobre, os rumos do caso recebendo notíci-
as das decisões. Ver carta com notificação dessa decisão. AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice
241, fl..365v.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Cód. 244, fl. 130. [Consulta do 'Conselho Ultramarino, Lisboa, 10 de
fevereiro de 1752].
p r ó p r i o governador, q u e estaria movendo c a m p a n h a d e desmoralização e "pública
p a i x ã o " c o m q u e " a n i m a r a aos h o m e n s àquele excesso" q u a n d o teria c h e g a d o a
desautorizar o ouvidor ao garantir que os presos só ficariam encarcerados até G o m e s
Freire chegar à c a p i t a n i a . 220
Desde então, p a r e c e q u e os termos dessa convivência
tornar-se-iam precários.
A a t u a ç ã o do ouvidor C a e t a n o d a Costa M a t o s o e m M i n a s Gerais ia sendo,
assim, m a r c a d a por inúmeras disputas judiciais, e m que, a m p a r a d o pelos seus amplos
c o n h e c i m e n t o s de leis, p r o c u r a v a definir novos p a d r õ e s hierárquicos e restaurar a
plenitude dó p o d e r real, até ali esfacelado pelas jurisdições costumeiras. N o último
ano d e seu m a n d a t o , aquela que parecia ser mais u m a das batalhas jurídicas envol-
vendo o incansável ouvidor de Vila Rica acaba p o r g a n h a r u m desfecho impensável.
A o contraditar o Tribunal da Relação da Bahia, sua impertinência semeada e m terras
coloniais colheria grossa tempestade: o ouvidor enfrentaria o derradeiro constrangi-
m e n t o d e ser afastado do cargo, preso, p o r muito p o u c o n ã o sendo encarcerado e
acorrentado, e remetido p a r a o Rio, de onde precisaria fugir p a r a a Corte e m busca
de defesa.
Ao dar u m despacho em processo que corria na Justiça de Vila R i c a envolvendo
o julgamento a. respeito de violências cometidas por escravos do capitão-mor Antônio
G o m e s dos Reis, mais u m a batalha judicial parecia recomeçar. O juiz ordinário de
Vila Rica (com q u e m a n d a v a e m briga) nega o provimento. Ó capitão-mor apela ao
T r i b u n a l d a Relação da Bahia e sua Mesa acata o provimento do capitão-mor, segui-
do de outro que, estranhamente, condenava C a e t a n o às custas dos autos.
D i a n t e d a sentença a seu respeito, o letrado profere despacho afirmando q u e
n ã o iria cumpri-la, pois, conforme alegaria, "[...] ou era falsa, ou falsa devassa e m q u e
se fundara, p o r q u e d a original, que se achava naqueles autos, constava o contrário do
que dizia a sentença, e igualmente por causa d a condenação das custas, e m q u e duvi-
dava naquele caso a jurisdição p a r a fazer-se, e muito mais c o n c o r r e n d o dolo m e u ,
n e m prejuízo ou queixa da p a r t e . " ' As divergências chegavam novamente n o c a m -
2 2
'• AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Cód. 244, fl. 130. [Consulta do Consedio Ultramarino, Lisboa,
10.2.1752].
• AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15658. [Representação, do ouvidor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
autos, do processo e, e m seguida, proferido acórdão ("acórdão m e n o s ajustado", con-
forme Caetano) m a n d a n d o que se passasse carta a o juiz ordinário de Vila Rica para
que intimasse ô ouvidor a cumprir os termos do acórdão era três dias; caso contrário,
fosse notificado p a r a comparecer p e r a n t e a M e s a do T r i b u n a l da Relação e m seis
meses. N a d a disso ocorrendo, m a n d a v a o Tribunal d a Relação q u e lhe remetesse o
ouvidor preso p a r a julgamento. C o m o se vê, o caso g a n h a r a contornos g r a v e s . 2 2 2
"Estes foram pedir ajuda de braço militar a quem governava as armas n a falta
de governador, e não duvidando dar-lha, sabendo para o que era, com ela capitães-do-
mato, negros, com espadas nuas, t cães de fila me cercou as casas às dez horas do dia
vinte e oito de abril passado, a tempo que eu estava bem sossegado no meu despacho,
e assim atropeladamente e com motim me subiram pela escada acima até o meu
aposento, dizendo-me que eu estava preso a ordem de Sua Majestade. Vendo-me
assim cercado entre sentinelas com baionetas cravadas dentro do meu próprio aposen-
to, e da mesma sorte as minhas casas, e alterado o povo, porque não se originasse dali
alguma maior desordem, cedi à violência debaixo d e protestos de n ã o poder ser
preso, e o mais que a seu tempo farei ce.rto."^ 4
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15658. [Representação do ouvidor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino., Brasil/RJ, Castro e Almeida, n, 15658. [Representação do ouúdor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15658. [Representação do ouvidor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
A forma c o m o o c o r r e r a a prisão j á lhe p a r e c e r a a b s u r d a . P o r é m , p o r m u i t o
p o u c o outros abusos estiveram na iminência de acontecer. O " i n í q u o j u i z " quise-
ra trancafiá-lo n a cadeia pública sob g u a r d a de sentinelas, p r o c e d i m e n t o inaceitá-
vel p a r a c o m u m "ministro d e el-rei". N ã o c o n s e g u i n d o , pôs sentinelas g u a r d a n -
d o as p o r t a s d e seu g a b i n e t e , i m p e d i n d o q u e t r a b a l h a s s e nas suas funções d e
o u v i d o r . D e p o i s de dez dias sofrendo "[...] inexplicáveis violências e grassarias
q u e n ã o sofre n e m se fazem a u m h o m e m particular, e m e n o s a u m ministro d a
m i n h a g r a d u a ç ã o [...]", é m a n d a d o p r e s o p a r a o R i o d e J a n e i r o sob escolta d e
dois oficiais de J u s t i ç a e soldados. Por m u i t o p o u c o n ã o p e r c o r r e o c a m i n h o " [ - . ]
c o m grilhões nos pés e u m a c o r r e n t e a o pescoço [ . . . ] " . ^ 22
"Fez horror este procedimento tão violento, e muito mais quando era público
movê-lo menos a Justiça que o poder, ou riquezas da parte, e fazendo-me notavel-
mente sensível pela inteireza com que servi a Sua Majestade, não foi menos vendo
alterada a forma de. proceder, ê que assim se estava por u m a simples queixa d a
parte contra a autoridade, e crédito de u m ministro, sem ser ouvido, m a n d a d o
notificar, e também prender por u m juiz leigo, e meu inferior, sendo todos estes
procedimentos contra direito, e o da prisão expressamente proibido pelas ordens
do mesmo senhor, enquanto exercia o meu l u g a r . " m>
AHU, Cons.. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15658. [Representação do ouvidor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752], Em carta do juiz de fora de Mariana, Silvério
Teixeira, de 8 de agosto de 1 752, a violência do capitão e juiz Manoel Rodrigues de Almeida na
prisão aparecia assim justificada: "[...] ainda que se lhe queira arguir civilidade na diligência, não
foi mais do que um receio das violências, com que a muitas ordens de Vossa Majestade lhe negou
o dito ministro a devida execução [..,]". AHU,. MG/caixa 60, doe. 30. Idem AHU, Cons. Ultra-
marino, Brasil/MG, caixa 52, doe. 30. Para além da violência que se passava, a situação da prisão
de um magistrado naqueles termos constituía forte agressão aos predicados de honra que pauta-
vam õ cargo. Sobre a concepção honorária do oficio ver HESPANHA, António Manuel, op. cit.
nota 100, p. 503-504.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15658, [Representação do ouvidor Caetano
da. Costa.Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
e m b a r g a r aquela decisão, d e m o n s t r a n d o a falta d e J u s t i ç a e arbitrariedades c o m e -
tidas. N e s s a s i t u a ç ã o , fica p u r g a n d o m a i s d e u m a n o , p e d i n d o f i n a l m e n t e q u e
pudesse e m b a r c a r p a r a o R e i n o , a fim de se defender j u n t o ao rei.
D o R i o , p o u c o mais resguardado p o r algum respeito que encontra do ouvidor
local, redobraria suas disputas c o m os magistrados d a Relação. C o n s u m a d a sua pri-
são, C a e t a n o da Costa M a t o s o p a r e c e reorientar seus ataques d e n a t u r e z a forense
p a r a o T r i b u n a l da Relação. A m e d i d a q u e o tempo passa, a u m e n t a seu desespero
c o m a p e r m a n ê n c i a q u e se eternizava, t e m e n d o as acusações q u e estariam sendo
preparadas sem sua presença n o Reino. N a cidade, busca apoio a sua causa de retornar
de imediato p a r a defender-se. Pessoalmente, escreve r e q u e r i m e n t o s a o g o v e r n a d o r
do. R i o , juiz ordinário de Vila Rica., chanceler do T r i b u n a l d a R e l a ç ã o . ' ' 22
pudesse p a r t i r p a r a 0 R e i n o . D e n u n c i a v a e m carta a D i o g o de M e n d o n ç a C o r t e
R e a l as violências e injustiças praticadas n a q u e l a situação c o n t r a o b a c h a r e l :
"[...] eu devia acudir ao dito bacharel pela Justiça que lhe assistia, e se lhe
denegava, e violência que tinha padecido, e ainda mais ficava padecendo, parado,
e perdido no Brasil, e com mais razão quando a sua pretensão era justificada de
direito, em entender por este meio recorrer ao soberano, das injustiças com que era
tratado [ . . . ] " . m
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, 15658. [Representação do ouvidor Caetano da
Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, 15657-15658. [Representação do ouvidor Cae-
tano da CostaMatoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/ RJ, astro e Almeida, 15657-15658. Carta de Matias Coelho de Sousa
paraDiogo de Mendonça Cor tê-Real. Rio,27 de setembro de 1752.
São imprecisos os detalhes sobre sua fuga para o Reino. Esta referência, que se encontra no BNL,
RES, çód. 1077, íl. 106v. Catálogo Alfabético dos ministros de leiras que serviram nestes reinos de Portugal e
Algarve, seus domínios e conquistas ultramarinas, relações e tribunais, como nele se adverte. Dos mais antigos até o
presente de que sé descobriu a notícia mais exata, 1763 ? foi a única que obtivemos.
D o R i o d e J a n e i r o , e n q u a n t o buscava meios de se defender e escapar r u m o à
C o r t e , 0 ex-ouvidor d e n u n c i a c a m p a n h a d e perseguição q u e sofria: a f o r m a c o m o
t r a n s c o r r e r a sua suspensão do cargo, as humilhações a q u e fora s u b m e t i d o diante d a
truculência d a sua prisão, os erros do processo judicial, a intransigência d a M e s a d a
R e l a ç ã o . E m relato d e d e s a b r i d a f r a n q u e z a a o g o v e r n a d o r d o R i o d e J a n e i r o ,
n a q u e l e m e s m o ano, n ã o esconde a decepção de ser s u b m e t i d o a t a m a n h a s p r o -
vas d e aviltamento, u m a vez q u e servira a S u a - M a j e s t a d e c o m h o n r a e absoluto
d e s i n t e r e s s e . " T u d o ali concorria p a r a reforçar sua c o n d i ç ã o de perseguido p o r
234
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15658. [Representação do ouvidor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida^ n. 15658. [Representação do ouvidor Caetano
da Costa Matoso. Rio, 22 de setembro de 1752].
A residência "era exame ou informação que se tirava do procedimento dos governadores, capitães-
mores e magistrados a respeito do modo por que procediam nas cousas de seu oficio durante ó
tempo que residiam na terra onde o exerciam. Dar residência equivalia a prestar contas de atos
exercidos em virtude do ofício; tirar residência significava examinar ou informar-se, uma autorida-
de, em geral magistrado, a respeito dos atos de outra, governador, capitão-mor, provedores, ouvidores
e outros funcionários de inferior hierarquia." GARCIA, Rodolfo, op. cit. nota 98, p. 61. O autor
discute, ainda que brevemente, os fundamentos da residência na legislação portuguesa.. Ver p. 61 -
2. Sobre o mesmo expediente^ ver SUBTIL, José Manuel Louzada Lopes. 0 Desembargo do Paço
(1750-1833). Lisboa: Universidade Autônoma de Lisboa, 1996. 2 v„ p, 311-316. ParaHESPANHA,
António Manuel, op. cit. nota 100, p. 519, tais inspeções nos'ofícios da administração real periférica
(não chegando a atingir os tribunais superiores) eram "[...] um processo de controle interno do
corpo de letrados [...] [e] jogavam a fundo todas as solidariedades corporativas."
d e que. d a q u e l a m a t é r i a dever-se-ia. " d a r c o n h e c i m e n t o n à r e s i d ê n c i a . " 2 3 7
A ri-
gor, isto n ã o representava q u a l q u e r tipo d e demérito prévio - a r e c o r r ê n c i a c o m
q u e isso a c o n t e c i a a p e n a s s u b l i n h a v a , a d e p e n d e r do estilo do f u n c i o n á r i o , sua
v o c a ç ã o p a r a t o m a r decisões polêmicas —, m a s criava a i n c ô m o d a o b r i g a t o r i e d a d e
d e ser a q u e l e assunto r i g i d a m e n t e a u d i t a d o p o r u m m a g i s t r a d o e m seguida a o
e n c e r r a m e n t o d e suas funções.
E m b o r a se tratasse de situação c o n s t r a n g e d o r a , c o m visível intuito a m e a ç a -
dor a c o n t i n u i d a d e de carreiras mais ambiciosas, a freqüência c o m q u e isso ocor-
reu fez p e r d e r seu efeito, a l é m d e p r o d u z i r u m a residência t r a b a l h o s a p a r a o juiz
s i n d i c a n t e e n c a r r e g a d o . D e o u t r a p a r t e , o o u v i d o r , n a c e r t e z a d e q u e sofreria
sindicância, soube usar a seu favor as o r d e n s d e q u e suas atitudes iriam constar d a
sua p r ó p r i a residência c o m o u m a r g u m e n t o a favor d a correção das posições q u e
t o m a v a . Basta p a r a isso l e m b r a r m o s que no ápice d a crise era t o r n o d a cobrança,
d e oitavas p a r a .rever as licenças C a e t a n o usou h a b i l m e n t e da residência, t e n t a n d o
se r e s g u a r d a r , a f i r m a n d o q u e q u a l q u e r ' u m dos q u e se sentissem p r e j u d i c a d o s
p o d e r i a m se q u e i x a r n a s u a ~ r e s i d ê n c i a . ^
23
Amiúde^ as intervenções do ouvidor de Vila Rica resultaram nesse tipo de advertência. Dentre
outros conflitos pessoais de certa gravidade, como aquele quê o indispôs com Valentim Ribeiro da
Silva, quando chegavam ao julgamento real, justificavam que as queixas constassem para serem
averiguadas nas residências. O rei determina a Caetano da Costa Matoso que "[...] admitais as
queixas e ações que o suplicante tiver contra o dito ministro sindicado na residência que lhe tirareis
[...]",AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 241, fl. 362, em ordem de 8 de março de 1752.
Com teor'idêntico, seria AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 241, fl. 365v. Ordem a Diogo
Cotrim para na residência de Caetano da Costa Matoso tomar conliecimento do motim e prisão de oficiais mecânico.
A insistência de continuar recebendo emolumentos da renovação das licenças dos oficiais mecâni-
cos gera semelhante: recomendação real â Gomes Freire, ao declarar, em tom ameaçador, que
"[...] aos seus siudicaiites.se fiá de ordenar que na sua residência averigúem o como procederam
nesta parte e que achando-os em culpa lha formem [...]",, AHU, Cons. Ultramarino, Brasil,
Códice241, fl. 356. Provisão régia, 7.2.1752 . O polêmico embargo que Caetano da Costa Matoso
coloca à decisão real que regulava as propinas dos oficiais das câmaras insta dom José, através do
Conselho Ultramarino, a declarar que na "[..] vossa residência se há de tomar conhecimento desta
matéria [...]". APM, CMM. 19, fl. 138v. Provisão régia, 15.6.1752. As ordens para.verificação de
certas condutas na residência de funcionários não invalidava que ao fim de seu mandato outras
recomendações orientassem uma devassa em sua atuação. Assim se passa com o ouvidor, cujo
sindicante na segunda residência recebe ordens expressas de informar a respeito de várias de suas
condutas, Ver AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG, caixa 62, doe. 109. Carta de João Cardoso de
Azevedo, desembargador sindicante, informando ao rei sobre as averiguações feitas acerca dos excessivos despachos que
as custas dos bens do concelho se temfeito e/n Vila Rica, por mandado do ouvidor Caetano da Costa Matoso. Vila
Rica, 26.7.17.53.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, Códice 244 , fl. 130v. [Consulta do Conselho Ultramarino, Lisboa, 10
de fevereiro de 1752] .
A tarefa mostrou-se á r d u a e delicada p a r a o sindicante n o m e a d o p a r a tirar a
residência. E r a elevado nas Minas o clima de tensão e m torno d a administração do
m a g i s t r a d o , o q u e tornava o processo, q u e d e p e n d i a de interrogatórios a diversas
pessoas, u m exercício de e n o r m e habilidade p a r a se filtrar possíveis maledicências dos
testemunhos. Á r d u a era a tarefa ainda e m função do volume de queixas que se fizer
r a m à sua atuação. Interesses pessoais contrariados ou dúvidas e m a n a d a s das hierar-
quias superiores com sua atuação, tudo merecia constar da investigação.
O s conselheiros ultramarinos parecem sentir o clima e prenunciar o q u e estava
p a r a acontecer. Soa estranho que a data d a O r d e m régia n o m e a n d o o desembargador
sindicante e o r d e n a n d o a residência anteceda e m p o u c o mais de três semanas sua
prisão, p o r o r d e m da R e l a ç ã o . ^
23
A execução cie residência aos provedores e oficiais dos defuntos e ausentes fora definida por resolu-
ção régia de 4-12-17.50. Ver APM, CMOP 37, fl. 43v Registro dos itens da residênáa do doutor Caetano da
Costa Matoso [..,]. Ordem, régia de 2 de abril ordena ao desembargador Diogo Cotrim Sousa tirasse
residência ao bacharel Caetano da Costa Matoso. Na ordem, busca-se saber se o sindicado exerceu
o comércio. E pedida uma residência separada para o cargo de provedor dos defuntos, ausentes,
capelas e resíduos. Q registro dos itens e os interrogatórios relacionados a esta parte da residência
foram feitos em outubro ém Vila Rica.Ver os itens desta residência, em APM, CMOP 37, fl. 43v.-
4Ç.
APM. CMOP 63, fl.35. Registro de uma caria que o doutor Diogo Cotrim de Sousa escreveu ã este Senado,
Sabará, 16.7.1752. O juiz sindicante encarregado de realizar a residência do ouvidor avisa de
Sabará que sua chegada provável ocorreria 22 de julho do ano de 1752.
e os habituais problemas ligados ao descumprimento das ordens relativas à cobrança
das oitavas pelas licenças e às propinas que recebiam os oficiais das c â m a r a s . 2 4 4
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, cód. 244, fl. ! 3SV.-139. [Consultado Conselho Ultramarino, Lisboa 7-
6-1753].
Para segunda residência, é nomeado o desembargador Manuel da Fonseca Brandão, por Provisão
régia de 23 de julho de 1754, encarregado de cuidar de vários itens que não teriam sido apropriada-
mente tratados, dentre eles a suspeição que pesava sobre as declarações do juiz de.fora de Mariana,
reconhecidamente um inimigo Fidagal da ouvidor. Na impossibilidade de este ütular e de o substi-
tuto indicado, o desembargador Inácio da Cunha Toar, enfrentarem a tarefa (prognóstico que aliás
se confirmaria), ficava Gomes Freire autorizado a nomear outro desembargador. APM, SC í 05, fl.
198. Sobre ãs primeiras dificuldades para a instalação dessa residência, ver, ainda, AHU, Cons.
Ultramarino, Brasil/MG, caixa 67, doe. 29. Carta do desembargador Manoel Fonseca Brandão dirigida ao
rei respondendo à ordem que llie foi dada para tirar residência ao bacharel Caetano da Costa Matoso
J relativa ao
Rio dejaneiro, 24.2.1755. O desembargador
tempo em que serviu o lugar de ouvidor da comarca de Vila Rica.
alega problemas de saúde e aponta uma série de dificuldades para a execução da ordem decorrente
da falta de clareza quanto às despesas a serem empreendidas. Esclarecimentos são prestados em
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil, cód. 239, fl. 198v-200. Consulta do Conselho Ultramarino de 27 de
março de 1756. Em 1755 a 2 de setembro, do Rio Grande, Gomes Freire tomava ciência da decisão
que lhe cabia. Ver APM, SC 105, fl. 193. A ele coube a nomeação do desembargador João Cardo-
so de Azevedo.
Ver o preâmbulo da segunda residência feita pelo desembargador João Cardoso de Azevedo, Vila
Rica, 15 dejaneiro de 1757, em AHU, Cons. Ultramarino., Brasil/MG, caixa 71, doe. 13.
Apesar dos esforços da equipe depesquisa envolvida no projeto, foi debalde a localização do pro-
cesso integral das residências do ouvidor na Bahia, no Rio dejaneiro, em Minas Gerais ou em
arquivos portugueses. Conseguimos obter a súmula final da segunda residência feita pelo
desembargador João Cardoso de Azevedo. Vila Rica, 15 dejaneiro de 1757. Ver AHU, Cons.
Ultramarino, Brasil/MG, caixa 71, doe. 13. Registro aqui o agradecimento à Sr" Dr Maria de a
Lourdes Henriques e à Sr" Dr Teresa Saraiva pelo empenho em localizar o processo nos Arquivos
a
Nacionais/Torre do Tombo.
116
A c u s a ç õ e s q u e até ali s o a v a m c o m e n o r m e g r a v i d a d e , d e n ú n c i a s s u p o s t a -
m e n t e cobertas d e certeza, culpas a p a r e n t e m e n t e inescapáveis q u e t r a n s p a r e c e m
n o vigor flamejante dos libelos acusatórios a o ouvidor d e s m a n c h a m - s e nessa n o v a
residência, q u a n d o certezas t o r n a m - s e dúvidas vagas e a d e b i l i d a d e das p r o v a s
a p r e s e n t a d a s revela-se u m c o n t u n d e n t e registro da força dos r u m o r e s .
Supostos desvios i m p u t a d o s a o ouvidor, c o m o a c o n t u m á c i a d e prisões ile-
gais e sem culpa formada, p r e v a r i c a ç ã o , a p r o v e i t a m e n t o do cargo, suspensões de
m a g i s t r a d o s , d e m o l i ç ã o de casas, e m b a r g o s , c o r r u p ç ã o , f a v o r e c i m e n t o d e p o s i -
ções a protegidos seus, glosas indevidas, abuso de poder,, perseguição aos desafetos,
calote e muitas outras acusações f o r m a m u m inventário de vexações e despotismo.
N o e n t a n t o , essa sucessão de d e s m a n d o s e c o m p o r t a m e n t o s cruéis, cristalizada no
arsenal d e denúncias, disparadas p e l a sua legião de o p o n e n t e s , bispo, juízes ecle-
siásticos e civis, camaristas, c o n t r a t a d o r e s e u m a m u l t i d ã o de outros desafetos, vai
d a n d o lugar a u m a realidade inversa. Eles n ã o se sustentam q u a n d o t e s t e m u n h a s
são ouvidas, e os casos são c u i d a d o s a m e n t e repassados após o t r a b a l h o dos inter-
rogatórios, confronto d e versões e análise dos d o c u m e n t o s . A devassa v a i d e s m o n -
t a n d o os frágeis alicerces das culpas a t r i b u í d a s a C a e t a n o d a C o s t a M a t o s o ou
fazendo finalmente prevalecer o sentimento corportativo.
A m e d i d a q u e o d e s e m b a r g a d o r sindicante percorre, o s e m - n ú m e r o d e acusa-
ções,, ao lado dos ódios pessoais, e m e r g e m falta de p r o v a s , t e s t e m u n h o s a n c o r a d o s e m
b o a t o s e interesses econômicos, como. o daqueles contrariados p o r suas intervenções
p a r a as melhorias u r b a n a s e m Vila R i c a e M a r i a n a , c o m o os d o n o s de terrenos
d e s o c u p a d o s e d e casas demolidas.
A c a d a u m a das a c u s a ç õ e s , d e p o i s de e x a m i n a r p a p é i s e t e s t e m u n h o s , o
s i n d i c a n t e c o n c l u í a f a v o r a v e l m e n t e ao ouvidor. C a s o r e p r e s e n t a t i v o envolveu a
s e n t e n ç a c o n t r á r i a q u e este d e r a a u m certo M a r c o s M e n d e s ; s e n t e n ç a suspeita,
pois teria sido d a d a a fim de favorecer u m seu c a m a r a d a , m a s q u a n d o o p r ó p r i o
M a r c o s a p a r e c e p e r a n t e o sindicante j u r a o contrário do q u e se dizia, a i n d a "[...]
a b o n a n d o a o m e s m o sindicado p o r u m dos m e l h o r e s ministros dos q u e e m 20
anos tinha nesta c o m a r c a c o n h e c i d o " .
P e r c o r r e o t o m final d a residência a figura dos p o d e r o s o s q u a n d o escapa d o
j u l g a m e n t o final do d e s e m b a r g a d o r sindicante a ardência d e gênio c o m q u e se devo-
tara a e n c a r a r "poderosos, pessoas revoltosas e trapaceiros", c o m o u m a das p o u c a s
ressalvas q u e c a b i a m a sua c o n d u t a . N o contexto das M í n a s , n a m e t a d e do século,
poderosos j á n ã o se referem mais aos p o t e n t a d o s q u e a t a z a n a r a m a coroa nas p r i m e i -
ras d é c a d a s do território. A referência p a r e c e g u a r d a r certa sutileza: qs poderosos
q u e C a e t a n o .enfrenta são as forças concorrentes à fixação da jurisdição da J u s t i ç a
real. 2 4 5
'• Sobre "poderosos", ver SOUZA, Laura de Mello ern Desclassificadas do ouro. A pobreza mineira no
século XVffl. Rio dejaneiro: Graal, 1982. p. 137-140; RAMOS, Donald, op.àt nota31,p. 158-174.
O c u p a m especial atenção do sindicante as denúncias do arqui-rival de C a e t a n o
da Costa M a t o s o , o juiz de fora de M a r i a n a , cujos cinco contos, de t a m a n h a gravida-
de, ajudaram a fazer merecer outra residência. Ali, Silvério Teixeira reunira todo seu
fel: denunciava o ouvidor por ter desrespeitado a ordem que proibia receber as oita-
vas de ouro pela revista das licenças, ter m a n d a d o prender todos os seus desafetos d a
cidade de M a r i a n a . O passar dos anos ali não tinha arrefecido a sede de vingança.
M a s a investigação desmonta o castelo de cartas p r e p a r a d o pelo juiz de fora. Diante
das acusações diversas centradas na cobrança ao arrepio d a lei das oitavas pela reno-
vação das licenças, fica provado pelo sindicante que, de fato, C a e t a n o da Costa Matoso
havia depositado os valores recebidos enquanto a questão estava e m litígio e, c o m a
decisão real,, restituirá aos mercadores as quantias indevidamente pagas. A respeito do
m o t i m decorrente desta cobrança, q u e o juiz p r o c u r a desqualificar c o m o tal a o afir-
m a r que os grupos que tentaram libertar os presos no caminho entre M a r i a n a e Vila
R i c a estavam apenas a c o m p a n h a n d o - o s p o r curiosidade, fica asseverada a real vio-
lência do protesto. M e s m o a atitude d e C a e t a n o da Costa Matoso de m a n d a r q u e 12
soldados de ordenança o acompanhassem p a r a livrar da cadeia os oficiais da C â m a r a
presos pelo juiz de fora, e m b o r a t r a t a d a c o m o excesso^ foi justificada, posto q u e a
prisão n ã o conhecera sustentação legal. O u t r a s acusações contra a conduta do ouvidor
a c a b a m se volatizando sob o reconhecimento pelo sindicante d a recíproca inimizade
e n t r e os dois e das p e r m a n e n t e s p r o v a s de p o u c a civilidade, u m a vez q u e sequer
trocavam cumprimentos.
A súmula final dessa residência nada mais é que u m retrato do contraste entre a
vasta g a m a de acusações feitas p o r personagens atingidos pelas intervenções do ouvidor
e- a sentença d a lisura do p r o c e d i m e n t o do magistrado, q u e vai d e r r u b a n d o u m a a
u m a . C a e t a n o escapa incólume. N a distância entre o volume de denúncias ferinas e a
sentença final do sindicante, encontra-se a exata m e d i d a dos interesses contrariados e
a inexorável vocação de Justiça do ouvidor.
P a r a a carreira de C a e t a n o , essa auditoria em sua atuação^ ao contrário do q u e se
previa, e m vista d e tantos despachos o r d e n a n d o q u e seus atos constassem e m sua
residência, a c a b a p o r se constituir no libelo de sua inocência. A figura do ouvidor que
emerge é a de um h o m e m justo e p r o b o . M e l h o r sintetizado e m u m dos primeiros
parágrafos d a residência:
"[...] por todas as testemunhas se manifesta ter servido o sindicado o dito lugar
com bom procedimento, fazendo a todos Justiça com inteireza, prontidão, e desinte-
resse, sem que por si ou interposta pessoa fizesse gênero algum de negócio, sendo de
bom acolhimento para as partes, que despachava com muita brevidade; por sem bem
letrado e muito expedito, fazendo finalmente as obrigações do seu ofício com grande
atividade e reto na administração da Justiça e muito limpo de, mãos confessado, ainda
pelos próprios inimigos [...]
'• APM, SC 92, doe. 55. Despacho do conselheiro Joaquim Manuel Lopes.de Lavre. AHU, Cons.
Ultramarino, Brasil/MG, caixa 64, doe, 32. Requerimento de Valentim Ribdro da Silva pedindo que se, lhe
faça a rnercê de nomear um juiz para dar curso ao libelo que interpôs contra o bacharel Caetano da Costa Matoso,
ouvidor na comarca de Vila Rica do Ouro Preto. s.d.
"[...] das residências fazem pouco caso, porque todas vão subornadas, por se-
rem tiradas por ministros que vêm para os mesmos lugares, e neles se não admitem
queixas, e somente j u r a m os seus sequazes, e para este efeito elegem procuradores,
que há uns de guarda na porta do Sindicante, para não entrarem as queixas, e se por
desgraça entrou algum o sindicante lhe não toma a queixa [...]". 240
"[...] dar ordem com que as residências, que até agora tomavam os letrados uns
aos outros, as não tomem, como até aqui se fazia, pelos inconvenientes que nisso há,
e se tirem suspeitas que, sendo todos de u m a profissão', dissimularão as culpas que
acharem — e que estas residências se tomem por pessoas leigas, que tenham a qualida-
de que para tal caso se requerem. "' 25l)
E prossegue o texto propondo: "Isto só se podia evitar sendo estas devassas tiradas em parte públi-
ca, e não em casa do sindicante, e o papel em quê se escrevessem vir rubricado por um ministro que
Vossa Majestade por isso elegesse, e ser numerado, ç o sindicanteficarpbrigado a remeter todo o
papel que acrescesse porque usam de ordinário a escrever em dois papéis, em um ó dito da teste-
munha que favorecesse o sindicado e em outro o dito do queixoso, e para encherem o número das
boas e suprir a falta dos queixosos, mandam vir pessoas postas de mão para completar." AHU,
Çons. Ultramarino. Brasil/MG, caixa 58, doe. 41. Representação da Câmara da Cidade de. Mariana ao rei
dando conta da desobediência de alguns ouvidores de Minas Gerais relativamente ao cumprimento da provisão régia
E crível que o sindicante neste caso, se não guardasse
de 26de outubro de 1750, a respeito das correições.
isenção, ao menos tendesse a ser menos tolerante com Caetano da Costa Matoso, sobretudo pelo
fato de ele ter sido nomeado por Gomes Freire, com quem o ouvidor entrara em rota de colisão.
Ver APM, SC 105,11. 193.
Cap. LX dos povos, J. J. A. S., 36. Citado por HESPANHA, António Manuel, op. cit. nota 100, p.
520.
120
• AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG Caixa 71, doe. 13. [Segutida residência] feita pelo desembargador
João Cardoso de Azevedo. Vila Rica, 15 de janeiro de 1757.
• AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG Caixa 71, doe. 13. [Segunda residência] feda pelo desembargador
João Cardoso de Azevedo. Vila Rica, 15 de janeiro de 1757.
AHU, Cons.. Ultramarino, Brasil/MG Caixa 71, doe. 13. [Segunda residência] feita pelo desembargador
João Cardoso de Azevedo. Vila Rica, 15.de janeiro de 1757,
'- AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG Caixa 71, doe. 13. [Segunda, residência] feita pelo desembargador
João Cardoso de Azevedo. Vila Rica, 15 dejaneiro de 1757..
"Só falam n a dita ardência de gênio e atividade p a r a os p o d e r o s o s . " 2 5 5
Com
essas palavras, o desembargador q u e fizera a sindicância p a r a tirar a segunda residên-
cia p a r e c i a buscar justificar o rosário d e acusações i m p u t a d a s à a t u a ç ã o d o d o u t o r
C a e t a n o da Costa Matoso nas Minas.
A frase encerra aspectos q u e , a esta altura, n ã o possuem originalidade p a r a o
leitor paciente que chegou até aqui. Aquilo que cumpre reter é a percepção de q u e os
traços de sua personalidade e e m p e n h o profissional n ã o tiveram significados despre-
zíveis p a r a e n t e n d e r os conflitos que se sucederam n a capitania. A o contrário, e m
Minas, a atividade d o bacharel cumpria u m a experiência d e lealdade ao rei aprendi-
da nos bancos d e Coimbra. N a q u e l a Universidade, e m grande p a r t e graças às lições
ensinadas pelo jurista espanhol Francisco Suárez, e m fins do século X V I I , o j o v e m
estudante de leis entendeu c o m os jesuítas d o Colégio de São Paulo q u e magistrados
e r a m funcionários d o rei, e n ã o funcionários civis. Seu p o d e r provinha d a C o r o a , e
não d a c o m u n i d a d e a q u e s e r v i a . ^ Esse princípio, q u e de resto sustentava a subor-
25
255. AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/MG Caixa 71, doe. 13. [Segunda residência] feita pelo desembargador
João Cardoso de Azevedo..Vila Riea, 15 de janeiro de 1757.,
SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e sociedade no Brasil colonial. A Suprema Corte da Bahia e seus
juízes: 1609-1751. Perspectiva, 1979. p. 61.
- Idem, p. 57.
2 5 7
c u r a v a m i m p o r o domínio d a coroa", conforme j á salientou M a r c o s Magalhães de
A g u i a r ^ e m afirmação que, de certa, forma, sintetiza as interpretações correntes so-
25
INSTRUÇÃO e norma que deu o Ilmo..e Exmo. Sr. Conde de Bobadela a seu irmão, o preclaríssimo
sr. José Antonio Freire de Andrada, para o governo de Minas, a quem veio suceder pela ausência
de seu irmão, quando passou ao sul (1752). Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, v. 4, p.
729-730,. 1899.
INSTRUÇÃO e norma que deu o limo. e Exmo. Sr. Conde de Bobadela a seu irmão, o preclaríssimo
Sr. José Antonio Freire de Andrada, para o governo de Minas a quem veio suceder pela ausência de
seu irmão, quando passou ao sul (1752). Revista do Arquivo, Publico Mineiro, Belo Horizonte, v. 4, p.
729-730, 1899.
As relações com o conde de Bobadela já teriam se complicado. A altivez do ouvidor é motivo de
queixa do governador general certa vez quando este, depois de não ver atendido um pedido de
informação que fizera ao ouvidor, queixa-se dizendo "não ser seu súdito". AHU Cons, Ultramari-
S
no, Brasil/MG, caixa 71, doe. 13. [Segunda residência] feita pelo desembargador João Cardoso de Azevedo.
Vila Rica,. 15.1.1757.
124
ANRJ, cód. 80, vai* 9, fl. 73-73v. [Cartas de Gomes Freire] para o Secretário deíEstado Sebastião José de
Carvalho e Melo sobre várias matérias pertencentes a capitania de Minas Gerais. Rio de Janeiro, 17.1.1752.
Códice Costa Matoso, documentos 54 -60.
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15199. Carta de Sebastião José de Carvalho
20.9.1751.
para Gomes Freire.
remessa da arrecadação n a esperança de alcançarem a benevolência real. D i a n t e dis-
so, G o m e s Freire tentava reagir d e p r o n t o , t r a t a n d o de d e m o v e r a e s p e r a n ç a dos
insatisfeitos ao tornar logo público q u e Sua Majestade "reprovara as representações
das câmaras", tendo ordenado quê fizesse á cobrança das cem arrobas. Se n ã o fosse
esta reação, explicava ao secretário de Estado, "iam p a r a n d o as Casas d e Fundição",
convictos de q u e estavam os mineiros "[...] n a infalível esperança de Sua Majestade
atender as suas representações, e nesta segura opinião tem retido e m si o ouro até a
chegada da frota [ . . . ] " 266
"[...] rogo aos reais pés de Sua Majestade é que no tempo que for servido
mandar-me o sirva desta parte e me não dê semelhantes gênios a sofrer; os discursos,
ANRJ, cód. 80, vol. 9, fl. 73. [Cartas de Gomes Freire]para o secretário de Estado Sebastião José de Carvalho
e Melo sobre várias matérias pertencentes a capitania de.Minas Gerais. Rio de Janeiro, 17.1.1752.
126'
os termos agravantes porque este ministro falava seria difícil os sofresse governador,
que não houvesse pesado tanto como eu a ruína que trazem questões e parcialidades." 267
AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Castro e Almeida, n. 15558-15560. Oficio do governador Gomes
Freire de Andrade. Rio Grande de São Pedro, 2.6.1752. Não seria a única vez que aproveitaria para
fazer esse tipo de referência ao ameaçador magistrado. Em carta escrita em julho do ano seguinte
para Sebastião José de Carvalho e Mello mostrar-se-ia incomodado com a presença do bacharel,
ainda que preso: "O ouvidor que foi de Vila Rica Caetano da Costa Matoso, se não mudar de
conduta é incapaz de se lhe. fiar o governo dos homens; se tivera achado partido era Vila Rica
haveria feito na ocasião das juntas sensível desordem," AHU, Cons. Ultramarino, Brasil/RJ, Cas-
tro e Almeida, n. 16126. Carla particular de Gomes Freire de Andrade para Sebastião José de Carvalho e Mello.
Colônia, 28.7.1753.
ALDEN, Dauril, op. clt. nota 78, 1968, p. 423-4). Ver também, para uma probleniaüzação em
torno das atribuições judiciais das câmaras, WEHLING, Arno. Atividade judiciária das câmaras
municipais na colônia — nota prévia. In: Colóquio de Estudos Históricos Brasil Portugal. Belo Horizonte:
.PUC/MG, 1994. 161-174; RUSSEL-WOOD, A. J. R. O governo na América portuguesa: um
estudo de divergência cultural. Revista de História, São Pauto, v. 55, rí. 109, p. 25-79, 1977.
SCHWARTZ, SluartB., op. cit. nota 255, p. 205-6.
" O juiz de fora era geralmente letrado, ou antes nutrido no direito romano,
legislação muito patrocinada pelos príncipes, por causa do predomínio que lhes asse-
gurava no Estado, ao. revés do juiz ordinario, que administrava Justiça ãos povos,
tendo em vista o direito costumeiro, os forais, que não podiam ser do agrado do poder
real, nem dos juristas romanos a seu soldo." " 27
ral d a P a r a í b a , dos ' a b s u r d o s ' dos magistrados d e Alagoas e Sergipe d'el R e i , dos
Por outro lado, o espectro de venalidade que rondava os ofícios reais na Améri-
ca portuguesa n ã o eximia de forma alguma aqueles q u e ocupavam os cargos d a j u s -
tiça. E m alguns momentos, o exercício da Justiça pareceu ocupar muito mais o p r o -
g r a m a político dos reis e d e seus tribunais do que constituir u m a prática levada a b o m
termo p o r seus administradores. Muitos desses funcionários c u i d a r a m de aproveitar a
o p o r t u n i d a d e q u e a proximidade efêmera dos negócios coloniais lhes oferecia p a r a
estabelecer fontes de rendimentos e x t r a s . ' ' T r a t a n d o dos oficiais de J u s t i ç a n o m e a -
2 5
SCHWARTZ, Stuart B. op, cit. nota 255, p. 185. Outros maus exemplos de ouvidores e magistra-
:
dos portugueses assim como os atritos entre autoridades locais e juízes da Relação e as dificuldades
da administração da Justiça na Bahia colonial, podem ser encontrados também em RUSSELU-
WOOD, A.J..R. Fidalgos efilantropos. A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550-1755. Brasília:
Edunb, 1981. p. 185-203. e FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Revoltas, fiscalidade e.
identidade na América portuguesa: Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, 1640-1761.São Paulo: Uni-
versidade de São Paulo, 1996, p. 295-306.
WEHLING, Arno. op. cit. nota 265. A historiografia portuguesa recente tem sido crítica com rela-
ção a esse esquema interpretativo. Ver, dentre outros, MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Os conce-
lhos e as comunidades. In: Mattoso, José (Dir.), op. cit. nota 37, p. 303-331.
O tema é objeto de amplos estudos de Eriist Pijning: Conflicts in the portuguesé colonial
administration: trial and errors of Luís Lopes Pegado e Serpa, provedor-mor da Fazenda Real in
Salvador, Brazil, 1718-1721. In: Colonial Latin American Historical Rana», 2:4, p. 403-423, 1993 e
Controlling contraband: mentality, economy and society in eighteenth-century, Rio de Janeiro.
Baltimore: Thejohns Hopkins University, 1997.
forma crua ao dizer "[.. J que o juiz de fora q u e vai ao R i o de J a n e i r o n ã o o leva o zelo
e ânimo d e ir fazer Justiça aos moradores, senão de c o m o h ã o de trazer as caixas d e
açúcar, dinheiro e t a b a c o . " 2 7 6
'* BNL, Res., cód. 7627, fl. 149. Governador do Rio de Janeiro sobre [maus?] ministros letrados, Lisboa,
14.9,1653.
* SUBTIL, José Manuel Louzada Lopes, op. cit. nota 235; HESPANHA, Antônio Manuel, op. ãt.
nota 100.
130
d e p r e o c u p a ç ã o d o n o v o m i n i s t r o r e a l , sob t o d a a d e s c o n f i a n ç a q u e o c e r c a r a ,
o u s a r a a i n d a m a i s : interferir n a e x p e c t a t i v a das r i q u e z a s coloniais q u e a n o v a
f o r m a de c o b r a n ç a do quinto a n i m a v a . Elas d e s e n h a m a s indefinições e os limites
d a o r d e n a ç ã o colonizadora diante tanto do b a c h a r e l , cuja cultura letrada a r g u i a as
o r d e n s reais e sua execução, q u a n t o do ouvidor, q u e restaura a jurisdição real. A
a m b i g ü i d a d e dessas circunstâncias - d i t a d a pelos limites da c o n d i ç ã o colonial —
c o n d u z i u o o u v i d o r a o exílio.
V e r d a d e i r o arquétipo d a complexidade e das armadilhas d a administração da
Justiça n a colônia, e m sua trajetória o doutor C a e t a n o d a Costa Matoso, seu titular
m á x i m o na c o m a r c a de Vila Rica, n ã o foi capaz de perceber q u e certo p a d r ã o d e
tolerância, negociação e b a r g a n h a presidia a estabilidade da o r d e m institucional. O
território colonial, sobretudo as montanhas de Minas Gerais, definia-se por u m outro
ritmo. Vila R i c a n ã o era definitivamente Setúbal, o n d e C a e t a n o fez seu aprendizado
como delegado real, p r ó x i m a d a Corte, ao alcance do braço secular, onde as hierar-
quias e ordenações estavam cristalizadas havia centúrias. A o r d e m política e m Vila
R i c a estava assentada e m terreno movediço, tantas vezes a o sabor d a vontades de
alguns, onde o braço temporal exigia muita negociação p a r a se afirmar, o n d e poderes
concorriam predatoriamente, c o m o o universo que os cercava.
O s papéis reunidos n a Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos da minas na
América quefez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou
posse em feveráro de. 1749, códice q u e o leitor finalmente lerá adiante, n a d a mais são do
que o m a p e a m e n t o dessa insensatez. Paradoxos de u m a paisagem e n g a n a d o r a , Vila
R i c a n ã o estava assentada nas areias de Setúbal, mas sua crosta férrea escondia estru-
turas movediças.
Até aqui seguimos os tortuosos passos do magistrado e m Vila Rica (e no Brasil?)
que, m u n i d o de u m zelo até ali poucas vezes visto entre os Ocupantes do posto, con-
tribuiu para definir a jurisdição d a ouvidoria real e m Minas. Ataca a autonomia dos
oficiais das c â m a r a s que lhe e r a m afetas, firma a precedência d a magistratura real
sobre a local, limita a muito custo a jurisdição do bispado sobre a espinhosa questão
das i r m a n d a d e s , perscruta as finanças episcopais oferecendo ão s o b e r a n o subsídios
p a r a u m a reforma da estrutura financeira que, até ali, se traduzia e m fonte de poder e
injustiça aos olhos do magistrado régio.
Se tudo isto transcorre dentro do irresistível e m p e n h o da política regalista e m
submeter poderes concorrenciais, esta razão n ã o é suficiente p a r a explicar u m grupo
de atitudes, a p a r e n t e m e n t e insensatas, desafiando decisões régias — c o m o o episódio
das oitavas cobradas aos oficiais mecânicos - , confronto c o m tribunais superiores —
coloniais e reinóis. — e insubmissão ao governador da capitania.
E, c o m o veremos adiante, seria preciso deslindar sua formação de h o m e m letra-
do, vis-à-vis c o m o papel da magistratura neste período decisivo da formação d o abso-
lutismo e m Portugal p a r a q u e n ã o apenas possamos c o m p r e e n d e r suas atitudes n o
exercício de suas funções m a s , e m u m m e s m o m o v i m e n t o , n o s a p r o x i m e m o s do
sentido pleno que assumiu o repertório de notícias que coleciona.
3 O ouvidor instruído
Seus tenros anos são vividos ao lado dos pais e m Alcobaça, o n d e vários vizinhos
confirmariam q u e p u d e r a m o "ver criar e m casa d e seus pais de p e q u e n o " , ^ 2 2
antes
q u e s u a vida tomasse rumos mais grandiosos.
Ainda em seus dias de juventude, agregaria ão seu sobrenome o 'Matoso', q u e
herda d e sua avó paterna, reconhecida n a comunidade e m q u e vivia c o m o " a M a t o s a " ,
* ' ANTT, Habilitações tio Santo Ofício. Maço 2, doe. 32. [Habilitação de Caetano da Costa Matoso],
:/0
[Certidão de batismo do pretendente]. O pai e a mãe contavam então com 27 e 28 anos, respectivamente.
279. ANTT, Habilitações do Santo Oficio. Maço 2, doe. 32 {Habilitação de Caetano da Costa Matoso].
[Diligência do comissário José de Almeida Brandão, .1736].
ANTT, Habilitações do Santo Ofício. Maço 2, doe. 32 [Habilitação de Caetano da Costa Matoso],
.Informações de limpeza de sangue de caetano da Costa Matoso, estudante da Universidade de Coimbra, soltdro,jilko
de João da Costa, natural da vila de Alcobaça e morador nesta cidade de Lisboa. [...] carta em 22 de junho de 1736.
281. ANTT, Habilitações do Santo Ofício. MaÇo 2, doe. 32. [Habilitação de Caetano da: Costa Matoso].
Informações de limpeza de sangue de Caetano da Costa Matoso, estudante da Universidade de Coimbra, solteiro,
filho de João da Costa, natural da vila de Alcobaça e morador nesta cidade d&. Lisboa. [...] carta em 22 de junho de
1736.
282
' Dessa forma se referem ao grau de conhecimento com sua família várias das testemunhas convocadas
no processo de habilitação. Ver ANTT, Habilitações do Santo Oficio. Maço 2, doe. 32. [Habilita-
ção de Caetano da Costa Matoso],
pelo excesso de pêlos. A alcunha acabaria valendo como sobrenome de seu n e t o . * " 2
N a década d e 30, estuda e m Lisboa até 1735 n a Aula do Real Mosteiro, onde
a p r e n d e os "princípios g r a m a t i c a i s " . 286
D a n d o mostras de sua aplicação nos estudos
latinos, seria então consagrado, e m 1734, com o primeiro prêmio n a segunda classe
c o m a composição Frequentior tsi infdix, quam jèlix jòrhma> assinada p o r C a i e t a n u s d a
Costa M a t t o s o . 2 8 7
283. Antónia Resende era conhecida como a Matosa em vários depoimentos sobre a família que são
colhidos. Conforme alguns dicionários portugueses, "matosa" não passa de adjetivo feminino de
"matoso", antiga alcunha que se refere a alguém "[...] provavelmente nascido de abundância do
sistema piloso [,..]. De alguém que tem o cabelo por cortar, e muito crescido, dizemos ainda hoje
que tem uma mata na cabeça [...]". SILVA, Antônio de Morais, Grande Dicionário da Língua Portugue-
sa. 10. ed. Lisboa: Confluência, 1954. V. 6, p. 587. O mesmo falam outros dicionários, dentre eles
MACHADO, José Pedro. Dicionário onomástico etimológico da língua portuguesa. Lisboa: Editorial Con-
fluência, 1984. V. 2, p. 963.
Natural de. Alcobaça, Manuel Madeira de Sousa (1697-1757) era formado em Direito Civil na
Universidade de Coimbra e advogado em Lisboa. No processo de leitura de bacharéis a que se
submete em 1725 consta eme seu pai estava entre as pessoas principais da Vila de Alcobaça e quê
seu tio, Manoel Lopes Madeira, servira a Sua Majestade em muitos lugares de letras. ANTT,
Leitura de Bacharéis, letra M, maço 25, doe. 14. Para registro de sua produção intelectual ver
SILVA., Francisco Inocêncio. Diáonário Bibliográfico Português. Lisboa: Imprensa Oficial, 1859. T. 6,
p. 43. Fico grato a Júnia Furtado pela pesquisa destas referências biográficas. BNL,. RES, cód.
1077, fl. 106v. Catálogo Alfabético dos ministros de letras que serviram nestes reinos de Portugal e Algarve, seus
domínios e conquistas ultramarinas, relações e tribunais, como nele se adverte. Dos mais antigos até o presente de que
se descobriu a noticia mais exata, 1763 foi a única que obtivemos.
Stuart B. Schwartz comenta: "Nos fins do século XVI, a magistratura dnha se tornado uma classe
semi-autônoma e um tanto auto-perpetuadora, geração sucedendo geração a serviço do rei". Op.
cit. nota 255.
286. g]\jL- RES, cod. 1077. Catálogo alfabético dos ministros de letras que serviram nestes reinos de Portugal e
Algarve, seus domínios e conquistas ultramarinas, relações, e tribunais, como nele se adverte. Dos mais antigos até o
presente de que se descobriu a notícia mais exata, 1763, fl. 106v.
287. BNL, RES, cód. 3786 [microfilme], fl. 56-56v. Coleção de composições latinas.
nhança, o n d e era conhecido dentre, os moradores, e até o sapateiro das redondezas o
considerava c o m o
- ANTT, Habilitações do Santo Oficio. Maço 2, doe. 32 [Habilitação de Caetano da. Costa Matoso],
[Exame de capacidade Jeito pelo comissário Manuel Goncalvez Souto, Lisboa ocidental, 30 de janeiro de 1736].
• ,ANTT, Habilitações do Santo Oficio, maço 2, doe. 32. [Habilitação de. Caetano da Costa Matoso]¡
[Carta de Caetano da Costa Matoso ao presidente do Tribunal do Santo Oficio, Lisboa ocidental, 5.6.1736]. Ao
final desta carta, Caetano da Costa Matoso pede mercê para que sua indicação de familiar seja em
Alcobaça, "[..je não nesta Corte aonde só tem assistido por ocasião dos seus estudos [...]".
'• ANTT, Habilitações do Santo Oficio, maço 2, doe. 32 [Habilitação de Caetano da Costa Matoso].
• Na diligência feita para o candidato, um dos depoentes esclarece que Caetano da Costa Matoso,
no inicio de 1736, seguiria a.Universidade de Coimbra, na Faculdade de Leis, ''por seu tio assim o
querer". Depoimento de Manuel José Amado. Ver ANTT, Habilitações do Santo Ofício, maço 2,
doe. 32 [Habilitação de Caetano da Costa Matoso].
134
2 9 2
- AUC, Matrículas, ano de ] 735 para 1736, £1. 293.
^- AUC, Prova de. Cursos, ano de 1737 para 1738, íl. 91 v. Os jesuítas, responsáveis pelo ensino,
29
dispunham do privilégio de seus alunos levarem em conta a freqüência em Latim e Filosofia nos
estudos em Coimbra, DIAS,José Sebastião da Silva. Portugal e a cultura européia (séculos XVI a
XVIII). Btblos, Lisboa, v. 28, p. 286, 1952.
AUC, Matrícula, 1736, Leis, letra C, fl. 270; Matrícula, 1737, Leis, letra C, íl. .280; Matrícula,
1738, Leis, letra C, fl. 263; Matrícula, 1739, Leis, letra C, fl. 275;Matrícula, 1740, Léis^, letra C, fl.
275; Livro de Prova de Cursos, ano de 1735 para 1736, ano.de 1737 para 1738, ano de 1738 para
1739, ano de 1739 para 1740. Percebe-se um alto índice de evasão de alunos no confronto entre os
livros dos primeiros anos e os últimos. A disciplina de Leis era ensinada em seis meses nos dois
primeiros anos e quatro nos dois anos seguintes.
295. AUC, Livro de autos e graus do ano de 1739 para 1740, fl. 134v. Infelizmente, não foi possível
conhecer o ponto que lhe foi arguido.
- AUC, Prova de Cursos, ano de 1739 para 1740, fl. 82.
2 9 6
2
^7. AUC, [Certidão de formatura em Leis, 3.6.1741]. Sobre a organização dos cursos na Universida-
de, ver ESTATUTOS da Universidade ck Cotmí>ra(1653). [Ed. fac-similar. Universidade de Coimbra:
1987].
'298- Tomando como amostragem a origem social do grupo de magistrados estudados por Stuart B.
Schwartz, uma parte ínfima provinha de famíliasfidalgas(8%); quase um terço (28%) eram prove-
;
nientes de "gente principal";filhosde funcionários públicos perfaziam 11 %.. O grupo mais expres-
sivo era formado por filhos de advogados, burocratas e filhos de letrado. Comentando, "Filhos
seguiam as pegadas dos pais nas universidades c ã serviço do rei encontrando,freqüentemente,o
caminho aberto pelos conselbos e nepotismo paternos." Op. cil., nota 255, p. 228^9.
habilita C a e t a n o d a Costa M a t o s o p a r a o ingresso n o serviço r e a l . " A c i m a disso,
2 9
António Camões. Estratégias de interiorização da disciplina. In: MATTOSO, José (Dir.), op. dt.
nota 40, v. 4, p. 415-449. Ver especialmente p. 424-445.
3 0 2
- Ver, a respeito, SCHWARTZ, Stuart B., op. dt. nota 255, p. 61 e segs.
seu influente padrinho. Assim, depois de u m período de mais de u m ano assistindo a
a u d i ê n c i a s d a C a s a de S u p l i c a ç ã o , 3 0 3
é submetido, ainda em 1741, a exame de
Direito, c o m sua leitura, p e r a n t e os avaliadores do D e s e m b a r g o do P a ç o , ' * p r o v a 30
Depois de ter sido aprovada sua leitura, as portas estavam abertas p a r a a nomeação,
e m 1742, p a r a o, lugar d e juiz d e fora da vila de Setúbal, o n d e são dados os primeiros
passos n a b u r o c r a c i a . ^ Sua b o a atuação n o cargo o faz m e r e c e d o r d e u m a b o a
3
ANTT, Leitura de Bacharéis, maço n 3, doe. 50. Stuart Schwartz afirma que apesar de üs filhos de
2
artesãos e negociantes não poderem teoricamente entrar no serviço real eles estiveram presentes
dentre os magistrados que serviram na Bahia. Op. dt. nota 255, p. 229 e 231. Esclarece que esta
condição, assim como a de bastardo, era facilmente contornada. Idem, p, 232.
304. "Tojo ( processo de investigação e exame era conhecido como leitura dos bacharéis, que
e s s e e S C
309
- Und.p. 13-14.
3 l a
BNL, côcl. 1079,11. 311. Sobre carreiras de magistradps, ver S C H W A R T Z , Stuart B., op. cit nota
255, p. 223-250.
ANTT. Justificações Ultramarinas (África), Autos dejustificação e habilitação de dona Leonor Clarajoaqtãna
de .Sousa para a herança de Seu filho Aniceto Fortunato da Costa Matoso falecido em Moçambique. Pedida de
íl. 33. Aniceto
certidão do assento de batismo de Aniceto, registrado com pais incógnitos em 21 de abril de 1769,
Fortunato morre de "[...] uma febre de tão má qualidade que decidiu em três dias [...]", conforme
seu irmão explica na carta em que comunica a morte a dona Leonor, em carta de Moçambique, a
18 de outubro de 1814]. Ver ANTT,Justificações Ultramarinas (África). Autos de justificação ê habili-
tação, de dona Leonor Clara Joaquina de Sousa para a herança de seu filho Aniceto Fortunato da Costa Matoso
falecido em Moçambique.
p r o i b i d o s n ã o cessa, e d é c a d a s depois, e n c o n t r a r í a m o s p e d i d o d e r e n o v a ç ã o d a
dispensa outrora c o n c e d i d a . * 3 8
O nome de Urbano aparece requerendo uma certidão de óbito do irmão (major e ajudante de
ordens do governo de Moçambique). Maximiano vivia em Lisboa. Aparece passando uma procu-
ração para sua mãe. Caetano, citado na carta de Urbano. Ver ANTT, Justificações Ultramarinas
(Africa), Autos de justificação e luibilitação de dona Leonor Clara Joaquina de Sousa para a lierança de seu filho
Aniceto Fortunato da Costa Matoso falecido em Moçambique, íl. 35, 39-39v, e 46, respectivamente.
^' Um deles, que herda o nome do pai, parece também herdar algo de seu ânimo. Escapa do comen-
tário fraterno em uma das cartas à mãe que "[...] O Caetano anda feito um filósofo pirômeo [sic] ,
e não há sol qué õ aquente porque trabalha muito, e ainda não viu o fruto dos seus trabalhos ora é
pena [,..]" Ver ANTT, Justificações Ultramarinas (África). Autos de justificação e habilitação de dona
Leonor Clara Joaquina de Sousa para a herança de. seu filho Aniceto Fortunato da Costa Matoso falecido em
Moçambique. [Carta de Urbano a Maximiano. Moçambique, 6.12.1816], íl. 5üv.
6
- ANTTj Hábito da Ordem de Avis, letra C, maço l,doc. 17.
7>
ANTT, Real Mesa Censória, caixa 113. Requerimentos pafa possuir livros proibidos (1773, 1774,
[...] 1825). [Certidão de Domingos Francisco de Aragão, presbítero secular. Lisboa, 15.3.1766].
®' ANTT, Real Mesa Censória, caixa 113. Requerimentos para possuir livros proibidos (1773, 1774,
[...] 1825). Devo essa referência a Luís Carlos. Villalta, que de suas pesquisas em Lisboa me enviou
esse "elo perdido" quando o projeto dessa edição ainda engatinhava. O pedido, feito em virtude do
extravio da autorização anterior, revela antes de mais nada certo zelo em não esbarrar com proce-
dimentos legais.
D e sua livraria n ã o se conhece n o t í c i a , ^ 3
m a s ^ás pedidos e a p r e p a r a ç ã o do
códice sobre o Brasil atestam suficientemente sua curiosidade intelectual. N o mesmo
sentido, a existência de outro códice de sua lavra, recheado d e formulações latinas
sobre a Antigüidade clássica, é prova reveladora de sua e r u d i ç ã o . 3 2 0
Estadioso siste-
mático^ C a e t a n o d a Costa M a t o s o voltaria a cultivar e m seu regresso ao R e i n o a
afeição de juventude por textos latinos. E m seu códice. Coleção de composições latinas,^^
poderíamos enxergar mesmo o universo de. temas, a natureza das preocupações e os
gêneros literários q u e comporiam o c a m p o cultural do h o m e m setecentista.
A luz do resgate d e fatos e personagens da Antigüidade clássica, o compilador
Caietanus da Costa M a t t o s o reuniu sob o emprego sistemático, mas n ã o exclusivo, do
latim temáticas variadas q u e escorrem desordenadas pelas folhas manuscritas, n u m a
mixórdia d e estilos e gêneros: odes latinas a valer, sonetos e epigramas. D e c o m u m ,
p a r e c e ser a n a t u r e z a desse códice, pois além do exercício de erudição através do
r e c u r s o a o l a t i m a a n t i g ü i d a d e a q u i é t o m a d a c o m o p r e t e x t o de n a r r a t i v a , d e
ensinamentos diante dos desafios morais do seu tempo. O códice, n a livraria, funcio-
n a c o m o u m Oráculo. T e r i a sido ainda obra p á r a consulta de u m erudito que compila
n u m porta-retrato matéria de suas diversões prediletas, sua coleção particular de ditos
práticos, sonetos de grande beleza, trechos copiados de autores mais queridos
D a preferência pela Antigüidade clássica emergem u m sem-número de persona-
gens, guerras e flores (fl. 100-101 v. - Querunturjhres, quod omnem solam pukhritudinem mica
dies cotifteiat) em sonetos, oitavas e décimas, frases, poesias, ditos e reflexões e lições de
seus maiores sábios (íl. 97-99 — Tempestiva felicítate inuenit, fl. 168-184v. — Ditos de sábios
ardigos; fl. 200-200v. — Sentenças das obras de Séneca).
T e m a s épicos, c o m o gigantes, tempestades (fl. 120-120V. — Tempestatis descriptió),
naufrágios, monstros, a fúria da erupção de vulcões (fl. 112-113v - Incommwii incendio
eximiae pietatis adolecens pairem [summ aetate?] gravem kumeris. impositum per mediasflammas
eripuit, fl. 121-121v. —Improvisam incendiam^..]), terremotos, inclusive u m dos ocorridos
em Portugal [fl. 154 — Terrae motus qui kalendis JVovembris anno 7755[...]) p o v o a m a ima-
ginação desse colecionador.
A estética do épico é recurso empregado p a r a tratar d a descrição do trabalho nas
plantações açucareiras no Brasil (fl. 58-67 — Descriptió épica molis sacckareos a R.P. Pmdentio
de Amaral Soãeiatis Jesua Provinciae Brasiliae Labórala) ou a p r o p ó s i t o do s a g r a d o (fl.
.136-140 — Descriptió épica corticis Eucharistici. a Pe. Ant. Vieira).
Não aparece relacionada no inquérito da Real Mesa Censória. Tampouco foi localizada qualquer
referência a ela nos inúmeros catálogos de livrarias portuguesas pesquisados.
BNL, RES, cód. 3786 Coleção de composições latinas. [254Í1.]. O crédito da descoberta deste códice
deve-se a Maria Verônica Campos, que ainda atestou a certeza da autoria..
BNL, RES, cód. 3786, Coleção de composições latinas. [254Q.]
Certos expedientes de colecionador presentes n o Códice Cosia Matoso reaparecem
a q u i revelando traços da p e r s o n a l i d a d e d e seu formulador. U m deles refere-se à
?
- Se tomarmos como verdadeira a critica desabrida que faz Antônio Barnabé de Eíescano à conduta
e à formação dos advogados em Portugal, algumas das passagens desse códice pareciam cumprir a
função de registro de fragmentos de textos jurídicos clássicos que seriam empregados para orna-
mentar as argumentações em juízo, conforme lição que se ensinava na Faculdade de Leis de Coimbra.
"Os advogados jjorque defendendo alguma causa, que versa sobre ponto incerto da jurisprudên-
cia, Ok Grande Deus! têm excelente, ocasião de fazerem fortuna, mostrando ao público os seus
talentos. Logo todo o seu trabalho e estudo consistem em andarem esquadrinhando pelas suas
livrarias, ainda mais no seus autores razões, e autoridades para ferirem com elas ps olhos dos juízes
[...]", Demétrio Moderno, ou bddiógrafo jurídico português. Lisboa: Oficina de Lino da Silva Godinho,
1781. p. 118.
C o n t u d o , seria n o escrito d a l o m b a d a d o códice, saído d o p u n h o e d a v o n t a -
de do c o m p i l a d o r , q u e o significado m a i o r desse m a t e r i a l estaria d e m o n s t r a d o :
Coleção de composições latinas. R e c u r s o das classes letradas do Antigo R e g i m e , o latim
seria aqui exercitado à exaustão, e m p r e g a d o e m escolares exercícios d e t r a d u ç ã o
p a r a o p o r t u g u ê s , e vice-versa, ou e m composições p r e m i a d a s d e seus p a r e s j u v e -
nis e a de s u a p r ó p r i a lavra (fl. 56-56v — Frequentior est irifelix, quam felixfortuna). Sob
o u t r a forma, a p a r e c e r i a n o e n u n c i a d o de certo utilitarismo, corno n a relação d e
expressões vocabulares latinas (fl. 3 2 - 4 5 — Eloqüentes modos de falar na língua latina),
c o m o n u m disfarçado dicionário ou e m frases latinas de a u t o r e s clássicos. O fecho
se faz c o m o registro cuidadoso de u m t r a t a d o d e retórica (fl 23-30 — Index rhetoricus
tramitem inligüans ad eloquentiam, de autoria do padre Diogo da Câmara, da Companhia). 3 2 3
À sisudez do erudito escaparia, ainda que ínfima, uma ponta de humor provável de Caetano da
Costa Matoso em breve momento do Soneto jocoso, fl. 149v.-150.
"Soneto Jocoso
Gosta de carne impura o povo escuro,/ pelo que será bom, e santo zelo,/ daquela proibida carne
abstê-lo./ Com os pôr a todos a bacalhau puro./ E posto que ouçais clamar, que é duro,/ e que tal
bacalhau por ser de pêlo/ lhes foi, que o que eles tem pior cabelo/ com a correção avante ide
seguro:/ Não o percais senhor por mal cozinhado,/ usais para eles de tempero esperto/ porque são
de má boca, e gosto mau;/ [ilegível] os há a bacalhau já enfastiado,/ não tendes os três paus acolá
perto,/ ponde-os por variar a peixe pau.- ' 1
-^4- Informa o BNL— RES, çod. 1077. Catálogo alfabético dos ministros de letras que serviram nestes
reinos de Portugal e Algarve, seus domínios e conquistas ultramarinas, relações e tribunais, como
nele se adverte. Dos mais antigos até o presente de que se descobriu a notícia mais exata, 1763:
"Por morte de seu tio mencionado se retirou do domicílio da corte para b lugar de Ota", fl. 106v.
• Há uma complicação judicial sobre o pagamento de foro de terrenos em Lisboa que o ex-ouvidor
vendera após o terremoto. No processo, Caetano da Costa Matoso aparece como herdeiro de seu
tio. Trata-se possivelmente da casa em que habitavam. Ver ANTT, Inspeção dos bairros. Rossio,
maço 28,ri.40 e Rossio, maço 39, n.10.
0
• ANTT Justificações Ultramarinas (Africa). Autos de justificação e habilitação de dona Leonor Clarâjoaquina
de Sousa para a Imrança de seu jilfio Aniceto Fortunato da Costa Matoso falecido em Moçambique. [Certidão de
batismo de Urbano Antônio da Costa Matoso, novembro de 1777].
textos e observações q u e interpõe, a iniciativa de p r e p a r a r u m a coleção e o p r o g r a m a
o r d e n a d o r desse material t e s t e m u n h a m u m a . m e n t e afinada c o m a alta cultura d e
Portugal n o período.
U m dos estímulos determinantes presentes n a p r e p a r a ç ã o d a coleção d e docu-
mentos foram as orientações d a Academia R e a l d a História Portuguesa, fundada e m
1720 p o r d o m J o ã o V . 3 2 7
A A c a d e m i a R e a l divulga e m t o d o o p a í s princípios
noimativos do trabalho historiográfico, recomenda e veta autores, agrega sócios p o r
todo o território, subordina a si as informações dos arquivos do reino e a conservação
dos m o n u m e n t o s a n t i g o s . ^ A iniciativa integra e potencializa u m a efervescência
32
327... Ver DIAS, José Sebastião da Silva. op. cit. nota 288, p. 308.
3^8. MOTA, Isabel ferreira da. Os historiadores e o campo historiográfico na primeira metade do
século XVIII, Revista de Historia das Idéias, Lisboa., v. 18, p. 170-171,1996. A autora explora nesse
estudo aspectos fundamentais da constituição do campo historiográfico em Portugal: a sociabilida-
de literária e erudita, o estatuto econômico e social dos autores, a configuração dos públicos.
329, MOTA, Isabel Ferreira, op. cit. nota 328, p. 168. Sobre essas academias^ ver p. 168.
: m
- Ibid.\i. 172.
3 3 1
• CHORÃO, Maria José M. Bigotte, Inquéritos promovidos pela coroa no século XVIII. Revista de
História Econômica e. Social, Lisboa, v. 21, p. 94, 1987.
Eclesiástica c a Secular do reino e suas conquistas prevista nos Estatutos ( 1 7 2 1 ) . 3 3 2
As p e r g u n t a s a s e r e m a t e n d i d a s f o r m a m u m p r o g r a m a d e t e m a s , d e interesses
estruturadores d a função historiográfica, o q u e fica p a t e n t e no e x a m e da orienta-
ção p r e s e n t e n a Memóiia das notícias que El-rei Nosso Senhor ordena se dêem à Academia
Real da História Portuguesa de todos os cartórios e. Arquivos do Reino?^ A divisão maior
estabelecia instâncias administrativas, como arcebispados e bispados, cartório da câ-
m a r a eclesiástica, cabidos das catedrais, religiões (inclui as O r d e n s e conventos), câ-
m a r a s das vilas ê provedorias das comarcas, q u e ficavam responsáveis pelo atendi-
m e n t o aos grupos de perguntas do que poderia vir a "servir à história". O espectro era
bastante vasto, percorrendo questões ligadas propriamente à História Eclesiástica, c o m o
" Q u a n d o , e por q u e m foi fundada essa catedral, e as Colegiadas, paróquias, ermidas,
e capelas dessa diocese?"^ " Q u e bispos coadjutores houve nessa igreja?", " Q u e ren-
das tem essa Igreja, em q u e consistem, se tem, ou teve alguma jurisdição temporal?",
" Q u e extensão teve, e, tem o seu distrito?", " Q u e paróquias tem, e q u e n ú m e r o de
fregueses?", " Q u e procissões se fazem n a cidade p o r costume, ou voto, e qual foi a sua
origem?" ou, ainda, "Inventário de todos os testamentos dos bispos", "Inventário dos
livros de colações e provimentos de igrejas, com os anos e m q u e c a d a u m acaba, e
começa". As religiões solicitava-se " Q u e m a n d e m a notícia dos ritos antigos, relíqui-
as, milagres, e mais cousas notáveis de cada mosteiro", dentre outros pedidos. N a q u i -
lo que cabia às câmaras, constava que "Devem dar notícia das aldeias do termo, do
n ú m e r o dos vizinhos q u e tem, e mais cousas notáveis q u e nelas h á [...]" e., ainda,
" D e v e m d a r notícia se há nessa terra pessoas curiosas q u e t e n h a m memórias antigas
ou livros m a n u s c r i t o s t o c a n t e s à história e a n t i g ü i d a d e dela, e q u e m s ã o " . D a s
provedorias das comarcas, a Academia Real d e m a n d a v a , d e n t r e outros assuntos, o
" I n v e n t á r i o de todas as instituições d e m o r g a d o s , capelas, confrarias, i r m a n d a d e s ,
Decreto, pelo qual Sua Majestade foi servido confirmar os Estatutos da Academia. Lisboa ociden-
tal, 4.1.172!. Publicado em SILVA, Manoel Telles da. História da Academia Real da História Portugue-
sa. 1727 Lisboa: Oficina dejoseph Antonio da Silva, 1727. p. 45-54.
Idem p. 69-81. Publicado também em Chorão, op. át. nota 331, p. 125-130. A promulgação de
legislação complementar iria concorrer para a formação de elementos para a redação da História
portuguesa: Aviso de 16 de março de 1721 para que os Acadêmicos da Academia Real possam
examinar e tirar cópias dos livros de Torre do Tombo; Aviso de 18 de março para que se tirem do
arquivo as cópias que os acadêmicos requisitarem; Aviso de 20 de agosto de 1721, sobre a conser-
vação e coleção de antigüidades e monumentos; Decreto de 20 de outubro de .1721 para que o
guarda-mor nomeie oito oficiais por tempo de um ano para copiarem para a Academia; Aviso de
11 de dezembro de. 1722 para que continuem por um ano ps oficiais que tiram cópias para a
Academia; Aviso de 18 de setembro mandando readmitir os oficiais que tiravam cópias no arquivo
para a Academia; Aviso de 22 de outubro de 1726 abonando ordenado dos eme no arquivo tiram
cópias para Academia. PJVARA, Joaquim Heliodoro da. Cunha. Catálogo dos Manuscritos da Biblio-
teca. Pública Eborense. Lisboa,. 1850,
144
3 3 4
- SILVA, Manuel Telles da, op. cit. nota 332,.p. 69-81.
335. BM, DM, Add., n.l5193, íl. 237-245. Peregrino inst / ruído / Modo / com que se deve informar,
todo / o sujeito que fizer giro pela / Europa, e mais partes / do Mundo. / Mandado fazer na
ocasião / que sua Majestade o Senhor / Rei Dom João o Quiri / to./ Na / o / casião / que esteve
para ir incógnito, ver / as Cortes estrangeiras. Manuel Caetano de Sousa. Ver artigo de MOTT,
Luís. O peregrino Instruído, A propósito de um formulário etnográfico do século XVIII. Separata da
Boletim Cultural da Junta Distrital de Lúboa, Lisboa, série III, n. 75-78, p. 3-21, 1971-1972. O docu-
mento c reproduzido às páginas 12-21. A Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados, possui o
referido documento no códice 618 (íl,. 1 -8} e 694 (11. 259-264v.), sendo o primeiro deles ó original
autógrafo do padre dom Manuel de Sousa, segundo afirma Luís Mott. (p. 4-5).
3 3 6
- BM, DM, Add.,,n. 15193,11.238
sem p o r novas terras,, c o m 212 perguntas divididas c m blocos: " Q u a n t o ao estado
natural"., " Q u a n t o ao estado m o r a l " , " Q u a n t o ao estado eclesiástico", " Q u a n t o a o
estado político", " Q u a n t o ao estado militar", " Q u a n t o ao estado econômico".
Modelos normativos p o r excelência, n ã o deve causar espanto q u e m u i t a s das
respostas às perguntas formuladas em ambos os inquéritos estejam presentes no Códice
Costa Matoso. As respostas, ecoando d e m a n e i r a cristalina, revelam a herança das orien-
tações d a A c a d e m i a n a coleção p r e p a r a d a pelo b a c h a r e l d e Alcobaça, fazendo-se
ultrapassar o significado básico de. simples registro de memórias d e temas e processos
vividos q u a n d o atuava nas Minas do Brasil. E m u l a n d o n o ultramar os procedimentos
dos sócios d a Academia, o Códice Costa Matoso afirma-se t a m b é m c o m o fruto de u m
exercício d e erudito.
E m ação n o Brasil, vasculhando arquivos de c â m a r a s , provedorias, igrejas e a
m e m ó r i a dos antigos moradores de q u e m esteve " t o m a n d o notícias", o ouvidor ins-
truído buscava e m Minas e no R i o de J a n e i r o conhecer utilmente o m u n d o . C o m p r e -
ende-se a p a r t i r desse estímulo a composição d o Códice c o m a p r e s e n ç a de certas
temáticas que o percorre. Desnecessário correlacionar ao pedido que faziam
os inquéritos acadêmicos de informações sobre a história d a organização religiosa,
q u e se consubstanciam nas perguntas sobre a extensão dos distritos, o u as paróquias,
ou o n ú m e r o d e seus fregueses e limites e n t r e as dioceses, os d o c u m e n t o s q u e o
o u v i d o r r e ú n e Com informações sobre " a n t i g ü i d a d e s " d e várias freguesias, c o m o
Mariana, Guarapiranga, Catas Altas e Antônio Pereira (documentos 10-13), ou asso-
ciar as d e m a n d a s por "[...] pessoas curiosas q u e têm notícias, e memórias antigas, ou
livros manuscritos q u e c o n d u z a m à história, e dos lugares, e aldeias de sua c o m a r c a
com a situação, e se neles há algumas antigüidades notáveis [ . . . ] " , 337
que p r e g a v a m o
estatuto d a Academia c o m as JVoticias dos primeiros descobridores das primeiras minas do ouro
[...] (documento. 2), a Relação de algumas antigüidades das Minas (documento 7) ou, mes-
m o , qualquer dos papéis q u e formam os relatos sobre o povoamento das M i n a s (do-
cumentos 2-9 e 14). T a m b é m dispensável é associar os pedidos de traslado de letrei-
ros de primitivos conquistadores à Inscrição enigmática formada erri quatro regras [...] (docu-
m e n t o 33), ou m e s m o lembrar q u e a presença de u m a transcrição do Testamento de dom
frei Antônio de Guadalupe (documento 121) atendia à o r d e m idêntica de se fazer u m
"Inventário d e todos os testamentos dos bispos'\ As semelhanças de temas como estes
p o d e r i a m se repetir ad nauseum, revelando na figura do ouvidor u m historiador dili-
gente em atender às d e m a n d a s da prática h i s t o r i o g r á f i c a . ^
33
339. MOTA, Isabel Ferreira da. op. cit nota 328, p. 169.
340
< Idem,p. 172-3..
3 4 L
Ibld.,p. 174.
3 4 2
- IbÍd. . i? 182-3.
O esquema parece perfeito, sobretudo se a p r o x i m a r m o s sua atuação daqueles
dedicados a - M i n a s , c o m o Cláudio M a n u e l d a Costa, c o m seu Fundamento histórico,
introdução ao p o e m a Vila Rica, Bento Furtado, Pedro Dias Paes L e m e e, m e s m o , os
autores de fim do século X V I I I que escreviam por obrigação profissional — o melhor
exemplo é J o s é J o ã o Teixeira Coelho. E n t r e eles estão J o s é R o d r i g u e s d e A b r e u
( l 6 8 2 - c a . l 7 5 2 ) , q u e esteve n o Brasil p o r oito anos, a p a r t i r d e 1705, t e n d o viaja-
d o c o m o g o v e r n a d o r A n t ô n i o de A l b u q u e r q u e e d a e x p e r i ê n c i a escrito Relação
das minas brasüicas,^^
U m r e t r a t o d o sucesso d o m o d e l o d e s i s t e m a t i z a ç ã o e e m p r e e n d i m e n t o
historiográfico das academias transpareceria n a estruturação de academias n o ultra-
m a r — dentre elas, a Academia Brasílica dos Renascidos, e m 1759 — q u e galvanizam
estratégias e condutas e procuravam repetir o modus operandi de suas similares do reino,
como n o estabelecimento d e certa orientação temática, ainda q u e a d a p t a d a à realida-
de do N o v o M u n d o , e n a realização de conclaves. Acadêmicos, letrados m o r a d o r e s
da América portuguesa, foram eleitos p a r a a m a r sob recortes regionais conforme p r o -
víncias (Pará e M a r a n h ã o ) e distritos da capitania de Minas Gerais (Cidade M a r i a n a ,
São J o s é , Vila R i c a , S a b a r á e R i o das Velhas, Vila do Príncipe e S e r r o do Frio),
h a v e n d o nomes destinados à elaboração d e memórias temáticas (índios, agricultura,
história natural, dentre, outras) e as inescapáveis m e m ó r i a s das ordens r e l i g i o s a s . ^ 3
SOUSA, J. G. Pinto de. Biblioteca histórica de Portugal e. seus domínios ultramarinos: na qual se contêm várias
histórias daquele e. destes manuscritas e impressas,, em prosa e em verso, só e juntas com as de outros Estados, escritas
[_...]. Lisboa: Typographia Chalcógraphica [...] do Arco do Cego,
por autores portugueses e estrangeiros
1801. p. 44. Esta, poucas vezes citada, constitui valioso acervo de referências bibliográficas sobre a
produção historiográfica nos séculos XV ao XVIII, dedicada ao Império português. A existência
da Relação das minas brasílicas é um mistério. Contudo, ao que parece, parte do texto foi publicada
cm seu livro Histologia medica, editado em Lisboa, em três partes lançadas em 1723, 1745 e 1742.
Sobre José Rodrigues de Abreu (ou Avreu), doutor em medicina,físico-mordas armadas e médico
de domjpão V, ver Grande enciclopédia portuguesa e brasileira. Lisboa, Rio dejaneiro: Editorial Enci-
clopédica Ltda, [1967]. V. l,p. 122.
BPE, Cod. CIX/1-18, Academia Brasílica do Renascidos, 1759. Sobre o movimento de criação das
academias no Brasil ver MARCHANT, Alexander. Aspecls of the Enlightenment in Brazil. In:
WHITAKER, Arthur P. (Ed.) Lalin America and Üie Enlightenment. New York: D. Appleton Century,
.1942. p. 95-118.
Ver relação destes membros em MORAES, Rubens Borba de. BibUograjia brasileira do período coloni-
al. São Paulo: IEB, 1969, p. 317-323. Sobre o tema consultar FERREIRA, João Palma. Academias
literárias dos séculosXVIIe XVIII. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1982.
148
do século X V I I e p r i m e i r a m e t a d e d o século X V I I I , c o m o A m b r ó s i o F e r n a n d e s
B r a n d ã o , Antonil, Sebastião d a R o c h a Pita e N u n o M a r q u e s P e r e i r a . ^ 34
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil; História da Província Santa Cruz. (1576).
Belo Horizonte, Itatiaia/Sâo Paulo, Edusp, 1980; SOUSA, Gabriel Soares, Tratado descritivo do
Biasilan 1587. (1587). 5. ed. São Paulo: Nacioaul; Brasília: INL, 1987; CARDIM, Fernão. Tratados
da terra cgente do Brasil. Belo Horizonte; Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980; SALVADOR, frei Vicente
do.História do Brasil: 1500-1627. (1627) 7. ed. Belo Horizonte: Itatiaia- São Paulo: Edusp, 1982.
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogo das Grandezas do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1977;
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasü. (1711). 3. ed. Belo Horizonte; Itatiaia, 1982;
PITTA, Sebastião da Rocha. História da América portuguesa. (1730) Belo Horizonte: Itatiaia; São
Paulo: Edusp, 1976; PEREIRA, Nuno Marques. Compêndio narrativo do peregrino da América. (1728). 7.
ed. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1988. 2 v.
PITTA, Sebastião da Rocha, op. cit. nota 347, p. 20-2 1.
(documento 1), p r e p a r a d a pelos padres matemáticos. F r e q ü e n t e era a presença e m
obras sobre o Brasil de descrições das capitanias formadas. Elas a p a r e c e m e m G a n d a v o
(Das capitanias e povoações de portugueses que há nesta província, capítulo I I I ) , ^ e m trechos 34
dos Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (Diálogo primei-
ro ^350 e r n Sebastião d a .Rocha Pita, Livro Primeiro (Fundações das outras províncias que
compreende a portuguesa América [...]),*^ e n ã o faltaria dentre os papéis q u e recolhe o
ouvidor de V i l a R i c a ao registrar a p o n t a m e n t o s de leitura d e certa o b r a c o m tais
informações (doe 128). O u t r o t e m a q u a s e obrigatório dessas o b r a s , referente ao
patrimônio régio n a colônia, suas receitas, minas de ouro e metais preciosos — u m dos
exemplos encontramos e m Sebastião da R o c h a Pita, Livro segundo, c o m Rendas destas
províncias para a coroa lusitana [...] —352 r i a objeto de muitas das séries q u e formam o
s e
D e m a n e i r a a b u n d a n t e c o m p a r e c e r i a m nesses t r a t a d o s históricos m a t é r i a s
relacionadas à n a t u r e z a a m e r i c a n a , tema que n e n h u m historiador q u e se prezasse
poderia prescindir. Assim, pode-se facilmente colher, no que se refere à utilidade q u e
possuíam as árvores e plantas do Brasil, os capítulos d e frei Fernão C a r d i m , -Daí árvores
de fruto e Das árvores que servem para madeira'?^ outros e m Gabriel Soares de Sousa, Das
árvore? reais e paus de lei, e [.,.] diferentes propriedades dos cipós e folhas úteis;^^ de frei Vicente
do Salvador, Livro primeiro, Das árvores agrestes do Brasil'^^ de Antonil, em sua. o b r a
Cultura e opulência do Brasil [...] (cap. 7, dedicado às madeiras); e d e Sebastião da R o c h a
Pita, Livro Primeiro, As suas ervas, flores, árvores e frutas assim naturais como estrangeiras,^
dentre outros. A natureza mineira estaria representada nas folhas do Códice e m Notícias
e lembranças das taquaras ou canas montanhesas que se acham pelos, sertões dessas Minas e de
alguns cipós e seus préstimos (documento 113) e Arvores mais usuais e paus de que mais se usa
deles ( d o c u m e n t o 114). O uso m e d i c i n a l dos p r o d u t o s d a n a t u r e z a , assim c o m o
p a r a a l i m e n t a ç ã o , constituía igualmente m a t é r i a s d a preferência desses cronistas:
3 4 9
- GANDAVO, Pero de Magalhães, op. cit nota 346, p. 24-62.
3 5 ( 1
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes, op. cit. nota 346, p. 24-62.
351. piTTA, Sebastião da Rocha, op. cü. nota 347, p. 45-78.
3 5 2
' Idem.
353. PEREIRA, Nuno Marques, op. cit. nota 34?, p. 61-
3 5 4
- CARDIM, Fernão, op. cit. nota 346, p. 35-37 e 40, respectivamente.
3 5 : )
' SOUSA, Gabriel Soares^, cit. nota 346, p. 211 epassim.
(frei F e r n ã o Cardim); Das árvores e ervas medicinais e outras qualidades ocultas (frei Vicente do
Salvador, Livro p r i m e i r o ) ; ^ Das árvores medicinais (Gabriel Soares de Sousa); Das ervas
3
3 5 S
- GANDAVO, Pero de Magalhães, op. cd. nota 346, p. 48-49.
3 5 9
' Idem, p.95-102.
3 6
° - SALVADOR, frei Vicente do, op. cú. nota 346, p. 68-70.
3 6
*- CARDIM, Fernão, op. çit. nota 346, p, 42-44.
3 6 2
- SALVADOR, frei Vicente do, op. at, nota 346, p. 67-68.
3 6 3
- SOUSA, Gabriel Soares, op. át. nota 346, p.202 e 206, respectivamente,
364. DIASJosé Sebastião da Silva, op. át. nota 288, p. 314.
3 6 5
- /éiV/.p. 316-319.
c u r i o s i d a d e é o interesse pe]a o b s e r v a ç ã o a d v e n h a m d a e d u c a ç ã o em m e i o dos
p a d r e s d a C o m p a n h i a , pois se isto soa contraditório, H e r n â n i C i d a d e esclarece-
ria: " E a m e r a c o m p r e e n s ã o das realidades práticas q u e explica q u e , s e n d o e m
P o r t u g a l verbosos escolásticos, sejam n a í n d i a colecionadores d e flora e, e m P e -
quim, astrônomos e m a t e m á t i c o s . " 3 6 6
C a e t a n o d a C o s t a M a t o s o a p a r e c e , assim, m a r c a d o p o r tais p a r â m e t r o s .
O s m a i o r e s responsáveis, p o r é m , pelo m o v i m e n t o d e r e n o v a ç ã o p o r t u g u e s a
s e r i a m os estrangeiros e estrangeirados. J o s é Sebastião d a Silva Dias associaria seu
p a p e l a u m " d e s p e r t a r d a curiosidade intelectual n o p a í s " n o princípio do século
XVIII.. 3 6 9
D e m a r c a n d o p r i m e i r o impulso d a influência dos estrangeiros sobre a
cultura p o r t u g u e s a n a p r i m e i r a m e t a d e do século X V I I I I , q u a n d o e n t ã o se m o n t a
36
^ J
CIDADE, Hernâni, Lições de cultura è literatura portuguesas. 7. ed. Coimbra: s.n., 1959. V. 2, p. 316-
317.
3 6 7
' GOUVEIA, António Camões, op cit. nota 296, p. 426-7.
3 6 B
- Lbid. p 429-3Q.
369. pIAS, José Sebastião da Silva, op. cit. nota 288, p. 328. Sobre o terna, ver p. 329 e segs.
u m verdadeiro "teatro de u m a luta entre o elemento cosmopolita e o elemento se-
dentário da n a ç ã o " , estaria a chegada dos jesuítas italianos J o ã o Batista C a r b o n e e
Domingos Capacci e m 1722. Suas presenças n ã o apenas dinamizam a cultura cientí-
fica n o país m a s a t u a m b e m próximo ao estudante q u e a c o m p a n h a a m o n t a g e m e o
funcionamento do observatório astronômico feito no Colégio dos jesuítas. É decerto
nesse c a m p o q u e reside e m parte o interesse demonstrado e m sua viagem pelo Brasil
p o r matérias científicas q u e c o m p a r e c e m e m diversos documentos do Códice.^®
D o s estrangeirados p a r e c e ter absorvido outros c a m p o s d e interesse e, m e s -
m o , incentivo p a r a ação. A p o s t u r a q u e a d o t a d o m Luis d a C u n h a c o m o estimulador
do p e n s a m e n t o d a r e f o r m a da C o r t e , do exército> do e n s i n o , dos t r i b u n a i s , d a
a d m i n i s t r a ç ã o pública, ''-
3 1
t a m b é m alcançou de a l g u m a f o r m a C a e t a n o e m seus
dias d e estudante. O m e s m o , e m b o r a e m o u t r o c a m p o , se p o d e dizer a respeito do
p a p e l dos estrangeirados n a m e d i c i n a n o p e r í o d o , s o b r e t u d o se t o m a r m o s c o m o
referência os médicos j u d e u s Isaac de Sequeira S a m u d a e J a c o b d e C a s t r o S a r m e n t o ,
q u e se refugiam n a I n g l a t e r r a m a s que, através de contatos intensos e de p u b l i c a -
ções d e tratados sobre a n a t o m i a e doenças, forçam u m a r e n o v a ç ã o nessa discipli-
na. 3 7 2
E, assim, p r o v á v e l q u e o resgate p r o m o v i d o através d e sua c o l e ç ã o das.
práticas curativas e das anoma lias e n c o n t r a d a s e m M i n a s , c o m o o m e n i n o gigante
e u m a c r i a n ç a q u e fora c a p a z d e gerar muitos filhos, estejam relacionadas a esse
tipo d e curiosidade i n t e l e c t u a l . 3 7 3
3.70. Refiro-me à Tabuada das latitudes [...] (documento 1), feita pelo mesmo padre com quem possivel-
mente conviveu em seus dias de estudante de primeiras letras; aos registros sobre técnicas de pro-
dução mineral (documentos 109 e 128) è agrícolas (documentos 110 e 111).
• DIAS, José Sebastião da Silva, op. cit. nota 288, p..322 esegs.
3 7 1
372
- Ibiã. p. 325-328.
3 7 3 ,
Os documentos que aqui me refiro são o 114, 116 c 117. Ver nas notas introdutórias aos documen-
tos outros que tratam de práticas curativas.
3 7 4 ,
A despeito dos esforços nos arquivos portugueses, não pudemos localizar nenhuma informação
precisa sobre a data ou razão da morte de Caetano da Costa Matoso. Nada conseguimos nos
registros paroquiais concentrados no ANTT, Aquilo de seguro que podemos afirmar é que sua
morte Ocorre entre 1787 c 1818, sendo a primeira data correspondente à indicação mais avançada
entre todos os anos que assinala Costa Matoso em sua Coleção de composições latirias (BNL, RES, cód.
3786) e ã última data relativa ao pedido de herança que faz Leonor Clara Joaquina de Sousa de seu
filho morto em Moçambique. Suspeitamos, porém, que sua vida não tenha ultrapassado a década
de 1790, uma vez que, cuidando de atualizar seus dados sobre o Brasil, registra no Códice Costa
Matoso (documento118) o governo de dom Luís de Vasconcelos e Sousa, mas não o de seu sucessor.
t r o u p a r e c i a c u m p r i r u m ideal d e exílio voluntário e m u m afastamento o n d e mis-
t u r a v a a p a z p a r a o refinamento intelectual nos estudos sobre A n t i g ü i d a d e clássi-
ca, L a t i m e Direito, c o m o distanciamento d a C o r t e e. a aversão a serviços reais, a
despeito d e seus atributos. Essa ú l t i m a impressão a p a r e c e n o a u t o r d o C a t á l o g o
d e ministros, a o afirmar q u e "[...] seria b e n e m é r i t o ministro e m t o d o o lugar q u e
fosse o c u p a d o , e d i g n a m e n t e escolhido."375
J
- BNL, RES, cód. 1077. Catálogo alfabético dos ministros de letras que serviram nestes reinos de Portugal e
Algarve, seus domínios e conquistas ultramarinas, relações, e tribunais, como nele se adverte. Dos mais antigos até o
presente de que se descobriu a noticia mais exata, 1763. fl. 107.
CERTEAU, Michel de. A escrita àa Plistôria. Rio de Janeiro; Forense-Universitária, 1932. p. 82.
Essas perguntas, p o r é m , subordinadas a razões de caráter pragmático q u e irre-
sistivelmente somos induzidos a associar diante de conteúdo tão rico — pela erudição
subjacente ao espírito do colecionador e pelo valor das informações ali reunidas sobre
a América n ã o são capazes de atender ao estímulo vital que. gerou o livro, alguns
séculos depois celebrizado c o m o Códice Costa Matoso. Seu sentido se recolhe à cultura
típica dos magistrados, u m a vez q u e aí se vislumbram procedimentos de. n a t u r e z a
corporativa q u e e m p r e e n d e a magistratura letrada a m e a ç a d a ante as tendências de
fortalecimento do p o d e r da coroa. Se, c o m o j á vimos Stuart Schwartz assinalar, a
expansão de u m corpo de letrados sobre as posições administrativas constituiu o retra-
to do papel que este grupo representava p a r a a política do Estado m o d e r n o , ^ ? p o r
outro lado, c o m o v e m l e m b r a n d o António M a n u e l Hespanha, o corporativismo des-
te m e s m o grupo soube reverter este processo a favor do fortalecimento d a rede b u r o -
crática. 3 7 8
Neste sentido, os magistrados estariam desde o século X V I I b u s c a n d o
adquirir o controle d e mais u m instrumento fundamental d e governo: a informação
sobre o país. A r e u n i ã o contínua, incessante de papéis c o m u m repertório d e
informações sobre a América, atendia à sede de informação sobre o I m p é r i o q u e
deveria estar à disposição das necessidades da corporação a q u e pertence, antes do
q u e ao rei. A própria rota que seguiu o Códice, durante muito tempo tendo estado e m
grandes bibliotecas d e magistrados até ser finalmente despojado n a casa d e leilões
londrina, indica a força da tradição de sua vinculação corporativa.
A p r e p a r a ç ã o d e u m repertório d e valiosas notícias s o b r e a A m é r i c a p o r t u -
guesa, a b r a n g e n d o m e m ó r i a s , d o c u m e n t o s jurídicos e m a p a s é, pois, herdeira d a
;
no Estado do Brasil
C a p i t a n i a d e S ã o P a u l o , p e l a c o s t a , s e g u n d o as o b s e r v a ç õ e s d o s a n o s d e
1735, 1 7 3 6 e 1737
T á b u a d a s l a t i t u d e s d a s p r i n c i p a i s c i d a d e s vilas, l u g a r e s ,
3
No original, Tapacróia.
162
M a c a é e ilha de S a n t a n a . . . , . , . , . 22-21-25
aldeia d e C a m p o s Novos .......................................................................22-41-10
vüa de Macacu 22-41-12
aldeia d e São B a r n a b é , n a e n s e a d a do rio ; 22-43-46
aldeia d e S ã o P e d r o , n a e n s e a d a d e C a b o Frio 22-50-57
fazenda de S a n t a C r u z „ 22-52-03
c i d a d e de C a b o Frio 22-52-37
*passagem do P a r a í b a p a r a as M i n a s e *termo p a r a o sertão 22-09-16
R i o d e J a n e i r o e cidade d e São Sebastião 22-55-20
freguesia de S a q u a r e m a ,. , 22-58-20
aldeia d e M a n g a r a t i b a , na enseada d a ilha G r a n d e , ••• 2 2 - 5 7 - 0 5
vila d e A n g r a dos Reis 22-59-01
freguesia de M a r i c á 23-00-37
ilha G r a n d e , n a p r a i a V e r m e l h a 23-09-24
vila d e Parati, último t e r m o d a costa p a r a o sul 23-12-42
C o m a r c a de Vila R i c a e O u r o Preto
arraial de S ã o B a r t o l o m e u 20-21-03
m o r r o da Itabira 20-17-59
G a r a v a t o , último *termo p a r a o n o r t e 20-16-07
Ribeirão do C a r m o 20-21-27
arraial de São Sebastião . ; 20-19-58
arraial de São C a e t a n o 20-19-58
arraial do B o m J e s u s d e F u r q u i m 20-20-00
arraial de A n t ô n i o Pereira 20-17-58
b a r r a d o G u a l a x o e passagem do G u a l a x o d o Sul 20-30-14
arraial d e G u a r a p i r a n g a ; =
. 20-40-40
arraial d o Pinheiro < 20-32-05
arraial dos C a m a r g o s „ 20-15-13 [ -
ü 3 v
-1
arraial do Inficionado 20-09-58
arraial das C a t a s Altas e [termo?] p a r a o C a e t é 20-04-54
Comarca do Caeté
vila d o C a e t é 19-54-49
arraial de S a n t a B á r b a r a 19-56-48
b a r r a do C a e t é , 19-57-55
arraial do B r u m a d o 19-58-13
arraial de S ã o M i g u e l 19-54-03
R i o d e São Francisco-Mirim 19-55-33
Comarca do Sabará
C o m a r c a do Pitangui
C o m a r c a do Serro do Frio e M i n a s N o v a s
serra d a L a p a 19-06-40
p é d a serra 1
8 - 5 1 -00
Paraúna 18-38-33
arraial do Milho Verde 18-29-03
arraial d o Tijuco ™ • 18-14-03
Caeté-Mirim : 18-04-30
passagem do Jequitinhonha ; 18-07-56
Ribeiro Manso 18-03-18
165
C a p ã o Grosso , 17-51-36
pé do m o r r o •. 17-41-36
Curralinho 17-34-48
vila de, Nossa S e n h o r a d o B o m Sucesso do F a n a d o . 17-14-48
Chapada 17-06-37
Á g u a Suja „.„ , 16-59-08
Contagem .... 16-47-36
*passagem do J e q u i t i n h o n h a , 16-44-12
m o r r o de I t a c a m b i r a 17-15-55
córrego de São D o m i n g o s 16-48-42
p a s s a g e m d o rio de Sucuruí 17-00-27 [fl. 4v. ]
* e n g e n h o de P e d r o P a u l i n o 17-06-27
Olhos d'Ágüa 17-21-30
Caiçava.,.1... 17-11-00
Santana , - - 17-1 1-30
Bigodes, último ' t e r m o p a r a o sertão da Bahia • 17-31-15
Vila d o Príncipe 18-37-28
arraial dos C ó r r e g o s 18-55-27
arraial de N o s s a S e n h o r a d a C o n c e i ç ã o , 19-04-39
arraial do M o r r o de G a s p a r Soares 19-14-58
arraial de Itaverava , 20-39-50
C o m a r c a d o R i o das M o r t e s
C a t a s Altas d a N o r u e g a . . 20-40-30
Lagoa Dourada 20-55-22
passagem de Camapuã.... 20-42-20
vila d e S ã o J o s é 21-05-30
Prados 20-58-00
vila de São [João] del-Rei' 2
21-07-40
rio das M o r t e s P e q u e n o 21-10-50
rio G r a n d e , nas passagens 21-19-20
Encruzilhada da Aiuruoca , , 21-50-55
arraial de A i u r u o c a 21-57-56
arraial da L a g o a 22-02-00
arraial de B a e p e n d i 21-55-56
[São G o n ç a l o ] 5
22-06-42
R i o V e r d e ..... , 22-17-57
serra d a M a n t i q u e i r a , último *termo p a r a o sul 22-30-00
• 2<
C o m e n t á r i o p a l e o g r á f í c o : Escrita moderna. Q u a n t o à
tipologia, é bastarda italiana, do tipo chanceleresca, bastante
r e g u l a r i z a d a e c a l i g r a f a d a , q u e lhe confere o a s p e c t o de
semicursiva. Nela, destacam-se as hastes superiores verticais,
arrematadas por olhos destrógiros horizontais, arredondados e
cheios, que embelezam o texto, as quais a p a r e c e m alternadas
com hastes verticais simples, levemente inclinadas para a direi-
ta; as hastes inferiores apresentam o mesmo processo de feitura.
Esta letra c h a m a a atenção pelo cuidado das iniciais maiúscu-
las, ricas em volutas e laçadas. Mesmo o sinal de nasalização de
vogais (o til} é feito com esmero, em meia voluta; os dois "ss"
apresentam-se como variação do "s" caudado: o primeiro longo
(semelhante ao " f m a s sem o traço horizontal), seguido de u m
" s " curto, arredondado. Acentua-se a cursividade no folio 27,
Nas duas últimas linhas do último parágrafo (fólio 29) e nota
final altera-se a escrita com letra personalizada e evoluída, idên-
tica à d á página do título, portanto da autoria de Caetano da
Costa Matoso, que efetua várias rasuras (fólios 12v., 13, I4v.^
16v., 23). (YDL)
Cópias impressas:
P R I M E I R O S descobridores das minas do O u r o na capitania de
Minas Gerais. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo H o r i -
zonte, t; 4, v. 1, p . 83-98, 1899. Versão resumida por Manuel
Pires da Silva Pontes.
U M C I M E L I O de Felix Pacheco. Jornal do Comércio, R i o de
Janeiro, 16 jun. 1946, p. 2; 23 jun. 1746, p . 2; 3 0 j u n . 1946,
p. 2; 7 jul. de. 1946, p. 2; 14 jul. 1946, p. 2.
T A U N A Y , Afonso de E. Documentos inéditos sobre as primei-
ras descobertas do ouro em Minas Gerais. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. 4 4 , p . 329-
352, 1948.
T A U N A Y , Afonso de E. Relatos sertanistas. São Paulo: Martins,
1953. p . 21-57.
Digressão retoricamente prevista como artifício que visa evitar monotonia na descrição sucessiva
de achados auríferos e da fundação de povoados, neste caso, introduzindo pequeno episódio (seqüên-
cia de atos com unidade — começo, meio e fim - dentro de uma ação maior) também de fundo
moralista. [JPF)
175
C o n t i n u a - s e c o m as n o t í c i a s d o s m a i s d e s c o b r i d o r e s q u e f o r a m a m p l i a n d o os
descobrimentos e das pessoas mais assinaladas neste exercício p a r a tanto
b e m c o m u m e aumento de toda a monarquia portuguesa
N o m e s m o a n o d e 1700, T o m á s L o p e s d e C a m a r g o , p a r e n t e c o n t í g u o d o
* a l c a i d e - m o r J o s é d e C a m a r g o P i m e n t e l , d e s c o b r i u o u r o e m o m o r r o d e Vila
R i c a , q u e a o depois s e n h o r e o u a a m b i ç ã o do *mestre-de-campo Pascoal d a Silva,
cujo n o m e ficou suposto naquele; e a este e x e m p l o se foi e s t e n d e n d o o p o v o p o r
[ fl. 13 ] ele, e até hoje está p o v o a d o e t e m d a d o consideráveis / / m i l h õ e s d e c a b e d a l e
m u i t a s ' c a p e l a s fundadas nele.
Seguindo o m e s m o m o r r o , à m a r g e m pela p a r t e oriental, mais c h e g a d o , p o -
r é m , à serra, c a m i n h o u Bento Rodrigues, taubateano, e descobriu o lugar t a m b é m
hoje c h a m a d o B e n t o R o d r i g u e s , havido d e seu p r ó p r i o d e s c o b r i d o r , distante d o
O u r o P r e t o q u a t r o p a r a cinco *léguas, q u e deu grosso cabedal, e a i n d a hoje está
d a n d o , com povoação de u m a famosa capela, continuando seus haveres pela m e s m a
177
" Descoberto pelo mesmo Antônio Dias que descobriu Antônio Dias, de Vila Rica, o qual era taubateano.
a
179
C o n t i n u a m - s e a s n o t í c i a s d e d e s c o b r i m e n t o s q u ê se s e g u i r a m [ fl. 15 ]
aos primeiros q u e d e i x a m o s n o s t e r m o s d e Vila R i c a
N o t í c i a s d o d e s c o b r i m e n t o d o rio d a s V e l h a s
A data correta é 1618, quando o regimento das minas do Brasil deixou a cargo dos vassalos a busca
de metais preciosos, com a promessa de mercês ê privilégios aos descobridores.
186
A datil correta da viagem é 1697; tinha como objetivo pacificar o "motim das patacas", reação dos
paulistas à lei de 4 de abril de 1688, que regulamentou o padrão monetário na América portuguesa
e fixou o grão de ouro em vintém e a oitava em mil e quinhentos réis, sensível redução do valor
nominal das moedas. Em 1699, realizou segunda viagem a São Paulo para discutir a primazia
requerida pelos paulistas na distribuição das lavras do sertão dos Cataguases.
190
c o n s e l h o ; e c h e g a d o a S ã o P a u l o e m o c a s i ã o o p o r t u n a , era u m a n o i t e , a h o r a s
c o m p e t e n t e s , se l a n ç o u aos pés de A r t u r d e Sá, q u e j á estava b e m i n f o r m a d o e o
recebeu c o m carinhosa afabilidade. E estando mais livre do susto, o aflito m o n t a -
nhês e temeroso vassalo se declarou e x p l a n a n d o o caso c o m suas circunstâncias e
q u e se Sua Senhoria, e m n o m e d e Sua Majestade, lhe desse p e r d ã o do suposto e
imaginado crime q u e se lhe imputava, descobriria e faria ^manifesto u m a s minas de
o u r o c o m grandeza tal q u e serviria de grandes aumentos à C o r o a n o r e n d i m e n t o de
seus "quintos e a u m e n t o de seus povos, que até ali tinha oculto p o r viver retirado
pelos sertões, temeroso das justiças e da indignação de S u a Majestade.
C o m d e m o n s t r a ç õ e s de g r a n d e gosto, o l e v a n t o u nos b r a ç o s A r t u r d e S á e
lhe p r o m e t e u , e m n o m e d e S u a M a j e s t a d e , o p e r d ã o se, c o m efeito, desse, a o
manifesto tal d e s c o b r i m e n t o ; e desde logo s e g u r a v a p a r a q u e passeasse n a sua
pátria livremente e se p r e p a r a s s e logo p a r a o a c o m p a n h a r a estabelecer as ditas
m i n a s e. d e s c o b r i m e n t o s que. as q u e r i a ir estabelecer, e e n t ã o d a r c o n t a a S u a
Majestade do p e r d ã o que p r o m e t e r a e m seu n o m e e m r e c o m p e n s a do serviço q u e
aquele vassalo lhe fizera c o m aqueles descobrimentos, p a r a q u e , a o m e s m o t e m -
p o q u e desse o p e r d ã o , achasse m e r e c i m e n t o s p a r a a q u e l a e mais mercês.
Lançou-se c o m o h u m i l d e rato o G a t o aos pés d o seu benfeitor, a g r a d e c e n d o
a p r o m e s s a d o p e r d ã o , suposto sempre receoso p o r ser condicional, m a s a n i m a d o
[ fl. 26 ] da certeza com que / / cumpriria à condição, manifestando o o u r o que tinha
descoberto n o rio das V e l h a s n o t e m p o e m q u e esteve no lugar e m q u e o achou
d o m R o d r i g o , q u e s e m p r e o teve o c u l t o p o r alta p r o v i d ê n c i a d o c é u p a r a lhe
servir d e l i v r a m e n t o n a q u e l e t e m p o .
Logo s e m mais d e m o r a , se dispôs, a j u d a d o de amigos e p a r e n t e s e p e l a p r ó -
p r i a possibilidade dos muitos índios q u e t i n h a de sua a d m i n i s t r a ç ã o e muitos q u e
o m e s m o g o v e r n a d o r tirou das aldeias domésticas de São P a u l o p a r a o a c o m p a -
n h a r e m . E p a r t i r a m n o princípio do a n o d e 1700 p a r a as M i n a s , q u e j á estavam
estas G e r a i s c o m b a s t a n t e s m i n e i r o s . E p a s s a n d o p o r elas, b u s c a n d o a I t a b i r a ,
c h e g a r a m a o rio das V e l h a s , no qual rio m o s t r o u *pintas b o a s , e e m vários braços
d o m e s m o , q u e se d e n o m i n a v a m o S a b a r á , n o m e "gentílico a u m a s e r r a q u e
a c o m p a n h a este r i b e i r o , o u dele b r o t a , e d e s á g u a n o rio das V e l h a s , e. o u t r o s
muitos, c o m o o ribeiro do Inferno, p o r ir s u b m e r g i n d o , e m partes, p o r cavernas
profundíssimas d e p e d r a s , o G a i a e os mais q u e ficaram sem n o m e .
R e p a r t i u - s e p o r m u i t o s mineiros q u e c o n c o r r e r a m , e e n t r e estes h o u v e al-
g u n s q u e a m p l i a r a m , d e s c o b r i n d o n a q u e l e s c o n t o r n o s r i b e i r o s de. o u r o , c o m o
foram os R a p o s o s , R i o A c i m a , q u e até hoje está p o v o a d o c o m vigararia, ps G u e r -
ras, n a t u r a i s d e Santos, o C a e t é , o n d e se fundou a Vila N o v a d a R a i n h a , e n o
S a b a r á , a g r a n d e Vila R e a l , cabeça de c o m a r c a , c o m a opulência q u e hoje se vê,
c o m "ministros seculares e eclesiásticos, c o m magníficos templos e famosas casas.
N a repartição, t o m o u o g o v e r n a d o r A r t u r de Sá e M e n e s e s *datas p a r a si, n o
.[ A. 26v. ] lu gar q u e lhe assinalou o G a t o , / / e nelas, dizem, tirou trinta e tantas *arrobas d e
o u r o , c o m q u e foi muito rico p a r a Lisboa.
191
reinóis q u e o n ã o c o n s e g u i s s e m , m o t i v o s estes p o r q u e f o r a m c o n c e b e n d o u m
ó d i o m o r t a l a q u e l e s a m b i c i o s o s a estes defensores d o b e m p ú b l i c o e g e r a l d e
todos os habitantes, q u e q u e r i a m fossem oprimidos c o m tão pernicioso e n r e d o d e
ambição.
F o m e n t o u este ó d i o , c o m m a i s vigor, o p o d e r e r e s p e i t o q u e os p a u l i s t a s
l o g r a v a m c o m o pessoas principais e fundadoras das povoações, e a u m e n t a d o s e m
r i q u e z a s e v e n e r a ç õ e s dos favorecidos, causas q u e a u m e n t a m a inveja e confir-
m a m o mais fino e inveterado ódio. N ã o h á dúvida q u e e n t r e muitos paulistas q u e
o b s e r v a v a m pacíficos, h u m a n a d o s ao b o m trato e favor dos reinóis, r e c o l h e n d o -
õs e m suas c o m p a n h i a s , f a v q r e c e n d o - o s e m t u d o e a u m e n t a n d o - o s dos b a i x o s
p r i n c í p i o s c o m q u e às M i n a s c h e g a v a m , h a v i a , c o n t u d o , a l g u n s p a u l i s t a s q u e ,
levados d e u m a s o b e r a n i a d e respeito, q u e r i a m tributos d e a d o r a ç õ e s , c o m o era
sobre todos J e r ô n i m o P e d r o s o , c o m o foi notório, e seu i r m ã o V a l e n t i m P e d r o s o
d e B a r r o s , suposto este m a i s p o r elevados brios e c a p r i c h o s d e p r í n c i p e q u e d e
m a l d a d e . E c o m o n a q u e l e t e m p o n ã o havia mais justiça q u e o * m e s t r e - d e - c a m p o
dos "auxiliares D o m i n g o s d a Silva B u e n o , q u e era * g u a r d a - m o r e / / *superinten- [ fl. 29 ]
dente c o m jurisdição no cível e crime p o r A r t u r d e Sá e M e n e s e s , " g o v e r n a d o r d o
R i o , S ã o P a u l o e M i n a s , e m distrito tão dilatado c o m o o das q u a t r o c o m a r c a s ,
c o m o hoje estão repartidas, n ã o p o d i a esta só cabeça, estando e m q u a l q u e r p a r t e ,
a c u d i r a tão r e m o t o s m e m b r o s ; p r e c i s a m e n t e havia d e h a v e r falta d e j u s t i ç a nas
mais p a r t e s , r a z ã o p o r q u e , h a v e n d o dúvidas ou c o b r a n ç a s , se valiam dos respei-
t a d o s q u e m a i s v i z i n h o s se a c h a v a m e, p e l o m e s m o m o d o , os c o n t r o v e r s o s se
valiam de o u t r o s , afetando razões e a d u l a n d o motivos q u e obrigassem a defesa,
m u i t a s vezes, d e sem-razões, d o n d e se originavam a r m a d a s e contendas, extraordi-
nárias, d e f e n d e n d o c a d a u m aos seus afilhados c o m o m a i o r e m p e n h o d e c a p r i -
c h o s e, p u n d o n o r e s , t u d o o c a s i o n a d o pelos m e s m o s filhos d e P o r t u g a l . N ã o se
d u v i d a q u e e n t r e tantos b o n s havia alguns m a u s , p r i n c i p a l m e n t e m u l a t o s , b a s t a r -
dos e 'carijós, q u e alguns insultos faziam, c o m o os m a u s fazem a i n d a n a s cortes
e n t r e a Majestade e as Justiças, q u a n t o mais e m u m sertão o n d e , s e m controvérsia,
campeava a liberdade s e m 8
sujeição a n e n h u m a lei n e m j u s t i ç a s e n ã o a n a t u r a l ,
o b s e r v a d a dos b o n s .
>3«
S
u c e d e u q u e v i n d o os paulistas n a q u e l e t e m p o fazerem e n t r a d a ao *gentio
a estas partes p a r a o c o n d u z i r e m p a r a São P a u l o p o r negócio e se servirem
dele, c o n d u z i n d o os d e m e n o s i d a d e p o r m e l h o r se lhes d o m a r e p ô r d o -
m é s t i c o , e c h e g a n d o a p r i m e i r a e s q u a d r a ou b a n d e i r a a o ribeiro q u e hoje c h a -
m a m O u r o B r a n c o e C o n g o n h a s do C a m p o , aí a c h a r a m algumas "faíscas de ouro
nas areias do ribeiro e, l a v a n d o - o e m pratos de p a u , o l e v a r a m p a r a São P a u l o ,
o n d e se verificou ser o u r o . E c o m esta notícia t o r n a r a m c o m mais p o d e r a fazer
e n t r a d a a o m e s m o gentio, e m e l h o r p r e p a r a d o s p a r a extrair o u r o se o achassem
c o m mais a b u n d â n c i a , e c o m efeito seguiram a m e s m a "derrota. E c o m a m e s m a
b a n d e i r a v i e r a m n ã o só paulistas c o m o t a m b é m filhos de P o r t u g a l e R i o d e J a n e i -
r o , p e l a notícia q u e se espalhou d o o u r o q u e se t i n h a descoberto. E, c o m efeito,
c h e g a d a q u e foi a b a n d e i r a ao tal ribeiro das C o n g o n h a s , nele ficou a l g u m a gente
e a mais entrou p a r a este O u r o P r e t o , o n d e a c h a r a m o u r o de m a i s c o n t a e t i r a r a m
u n s duas "libras, outros três, e alguns q u a t r o , e c o m aquele q u e c a d a u m se a c h a v a
t o r n a v a m p a r a S ã o Paulo a c o m p r a r escravos e refazer-se d o mais necessário p a r a
t o r n a r e m p a r a as m e s m a s minas; e n ã o t r a t a r a m , desse t e m p o e m d i a n t e , a p r o c u -
rar gentio.
J e r ô n i m o P o d e r o s o disse a o c a p i t ã o - m o r M a n u e l N u n e s V i a n a q u e o e m b o a b a ,
seu afilhado, havia entregar â p r ó p r i a espingarda. E r e s p o n d e n d o - l h e o dito
c a p i t ã o - m o r q u e n ã o p o d i a ser, p o r ter l e v a d o d e s c a m i n h o , c o m m a i s a l g u m a s
p a l a v r a s se r e t i r a r a m p a r a suas casas d e s s a b o r e a d o s .
E c o m este sucesso c o r r e u notícia q u e J e r ô n i m o P o d e r o s o q u e r i a d a r u m a
a b a l r o a d a à casa d e M a n u e l N u n e s V i a n a , o n d e se a c h a v a o reinol h o m i z i a d o . E c o m
esta n o v a c o n c o r r e r a m os mais reinóis à casa do dito c a p i t ã o - m o r M a n u e l N u n e s
Jerônimo Pedroso de. Barros, por alcunha 'Poderoso'. A variação de apelidos (Poderoso/Pedroso), de
características (respeitado/malvado) e de ações atribuídas (comparar a caracterização da persona-
gem no documento 7) à personagem indica a multiplicidade de apropriações impessoais e coletivas de
dados da murmuração local conforme objetivos diversos de persuasão. Assim, o nome 'Valentim
Pedroso^ se levadas em conta as atitudes qué lhe são imputadas pelo narrador, tanto pode ser mera
coincidência quanto adequação do apelido ao comportamento da personagem. (JPí^
198
E
[ fl. 36 ] ^ n t r e i e m Vila R i c a n a e r a d e 1 7 1 2 , t e n d o m o d e r n a m e n t e c h e g a d o p o r
"ouvidor-geral e c r i a d o r o " d e s e m b a r g a d o r M a n u e l d a G o s t a A m o r i m , o
(qual achei m u i t o desassossegado p o r se ter sublevado c o n t r a ele esta C i d a d e
[ M a r i a n a ] , e e n t ã o vila. P o r q u e h a v e n d o u m a sociedade q u e t i n h a m e t i d o u m a
á g u a no A r r a i a l d e C i m a dela p a r a extração do o u r o , d e s u n i r a m - s e os sócios e
q u i s e r a m a p a r t a r - s e r e p a r t i n d o - s e a á g u a , e n ã o p o d e n d o a c a b a r esta p a r t i l h a
e n t r e si, p o r ser a á g u a m u i t o p o u c a , r e c o r r e u u m deles, T i m ó t e o Saraiva, ao
ouvidor, p a r a vistoria, interessando n a á g u a q u e lhe coubesse a o p a d r e trino frei
J e r ô n i m o S o d r é , c o n h e c i d o p o r g r a n d e amigo d o ouvidor, a o qual a c o m p a n h o u
n a vistoria c o m p o u c a dissimulação, p o r q u e j u n t a m e n t e t r o u x e n e g r o s e "bateias
205
a O u v i d o r i a d ò S a b a r á e fulano B a r a c h o ^ p a r a a do R i o das M o r t e s , e m o r r e n d o n o
R i o de J a n e i r o o do S a b a r á , disse A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e a o B a r a c h o q u e fosse
residir n a c o m a r c a do R i o das Velhas, p o r ser m a i o r e mais orgulhosa e revoltosa,
o q u e assim fez, p a r e c e q u e p o n d o os olhos m a i s n a c o n v e n i ê n c i a q u e n a lei,
p o r q u e u l t i m a m e n t e foi necessário " d e c r e t o d e el-rei p a r a r e v a l i d a r q u a n t o ele
t i n h a d e s p a c h a d o , e n o R i o das M o r t e s ficou servindo o "juiz ordinário.
S u c e d e n d o n o g o v e r n o d o R i o d e J a n e i r o A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e a este
d o m F e r n a n d o , levanta-se o S a b a r á c o n t r a M a n u e l N u n e s V i a n a , q u e i n t e n t a v a
q u e n ã o houvesse cortes de g a d o mais q u e p o r sua conta, o q u a l l e v a n t a m e n t o
lhe t i n h a m o v i d o o vigário q u e e n t ã o "paroquiava, p o r n o m e o p a d r e C a m p o s , a
quem acompanhou a maior parte daquele povo; / / e j á apeado [Manuel Nunes [ fl. 37v. ]
V i a n a ] d a s e n h o r i a e d o n o m e d e g o v e r n a d o r , q u e n o l e v a n t a m e n t o geral lhe
d a v a m , o q u e ele q u e r i a conservar, foi logo avisado A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e , e
depressa se.pôs a c a m i n h o . E c o m b a r b a crescida e e m *calção e Vestia, e n t r o u n o
S a b a r á c o m ã c o m p a n h i a de u m só escravo, e a p e a n d o - s e d e s c o n h e c i d o à p o r t a
d e M a n u e l N u n e s V i a n a se descobriu, e p e r s u a d i u q u e se fosse p a r a u m a das suas
fazendas dos C u r r a i s , o q u e fez d e s e n g a n a d o , e ficaram as M i n a s e m m a i o r sossego.
E c o m este.e c o m m u i t o e n t e n d i m e n t o e p r u d ê n c i a , m a n d a n d o c h e g a r a sua famí-
lia e o * m e s t r e - d e - c a m p o G r e g ó r i o d e C a s t r o e alguns ""oficiais c o m q u e t i n h a
saído do R i o de J a n e i r o , se fez b e n q u i s t o , respeitado e o b e d e c i d o , d e t e n d o - s e e m
c a d a c o m a r c a o t e m p o necessário p a r a erigir vilas, criar as c â m a r a s e suciar os
h o m e n s . N a s vilas, pôs os apelidos q u e a i n d a hoje conservam, e sobre eles os d e
A l b u q u e r q u e , q u e o p o v o aceitou c o m alvoroço, m a s n ã o el-rei, q u e os r e p r o v o u
e m a n d o u q u e se n ã o c h a m a s s e m A l b u q u e r q u e .
q u e separar.
Pouco d u r o u esta a m b i ç ã o nos paulistas, p o r q u e n ã o d u r o u a q u e l a g r a n d e z a ,
q u e a i n d a q u e e m u m a "cata a h o u v e m o n s t r u o s a p a r a o paulista D o m i n g o s do
P r a d o , e m q u e tirou m u i t a p e d r a cristalizada tão crivada d e o u r o q u e escondia a
cor d a p e d r a , d e q u e fez u m g r a n d e m o n t e e depositou e m u m r a n c h o c o m u m a
cortina n a p o r t a , e a q u e m lhe ia p e d i r lha mostrasse, havia dizer-lhe q u e q u e r i a
ver a púrpura, n o m e q u e p o r g r a n d e z a ele lhe t i n h a posto, e e n t ã o lhe m a n d a v a
d a r " c o n g o n h a , "pito e " c a ü m p u e r a , e os d a v a p o r regalados, e eles, d e a g r a d e c i -
208
e logo p e d i u u m h o m e m p a r a m a n d a r a M a n u e l N u n e s a e m b a i x a d a , c o m o foi,
q u e d e n t r o e m três dias despegasse as M i n a s , q u e assim c o n v i n h a a o serviço de
D e u s e d e el-rei. Veio d e noite o dito N u n e s falar a o dito g o v e r n a d o r , lhe p e d i u
n o v e dias p a r a se ir. D e u - l h o s . E foi-se. Esteve o dito A l b u q u e r q u e três dias no
C a e t é , estando p a r a o a c o m p a n h a r m u i t a gente p a r a vir p a r a o S a b a r a ' n ã o quis
q u e viesse gente do C a e t é , só Luís do C o u t o e seu i r m ã o . O M a n u e l N u n e s queria
vir, C o e l h o n ã o quis, despediu-se dele e lhe disse q u e n ã o faltasse a o q u e t i n h a
dito.
E veio p a r a S a b a r a , e esteve dia e m e i o , e foi seguindo sua d e r r o t a p a r a O u r o
Preto e R i b e i r ã o , e lã fez a p r i m e i r a vila, a s e g u n d a do O u r o P r e t o , a terceira do
[ fl 42 ] S a b a r a , a q u a r t a do C a e t é , / / a quinta R i o das M o r t e s . ^ Estas fez logo o governa-
d o r A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e n o p r i m e i r o a n o q u e c h e g u e i às. M i n a s , que. m e
p a r e c e foi n o a n o de. 1709 ou 1710.
E neste t e m p o , p o u c o mais ou m e n o s , veio fazer esta vila d o S a b a r a e logo
fez. *juízes e "vereadores e " p r o c u r a d o r p o r votos dos eleitores, que. o dito s e n h o r
assistiu a dita eleição. O p r i m e i r o j u i z foi o " c a p i t ã o - m o r C l e m e n t e Pereira d e
A z e v e d o , filho do R i o d e J a n e i r o ; seu c o m p a n h e i r o , o * s a r g e n t o - m o r J o s é Q u a -
r e s m a , filho d e Lisboa; v e r e a d o r , o * m e s t r e - d e - c a m p o , A n t ô n i o P i n t o d e M a g a -
lhães; p r o c u r a d o r , o "capitão J o ã o Soares d e Miranda.-* O s mais n ã o m e l e m b r o .
O "escrivão d a C â m a r a , L o u r e n ç o d e Sousa R o u s a d o ; "tabelião, o "licenciado
M a n u e l Esteves d e Sousa. Estes foram as primeiras justiças q u e h o u v e nesta vila
d o S a b a r a . E f o r a m s e m p r e feitas p o r eleição, até agora.
O p r i m e i r o o u v i d o r q u e veio a esta vila foi o " d e s e m b a r g a d o r G o n ç a l o d e
Freitas B a r a c h o , p o r m e r c ê q u e lhe fez o g o v e r n a d o r A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e
C o e l h o d e C a r v a l h o , p o r ter m o r r i d o o q u e v i n h a p a r a esta vila n o R i o de J a n e i -
ro, q u e o l u g a r do B a r a c h o era do R i o das M o r t e s , e serviu o a n o d e setecentos e
doze e treze. V e i o o d e s e m b a r g a d o r Luís Botelho d e Q u e i r ó s e t o m o u posse, e o
B a r a c h o foi p a r a o s e u lugar do R i o das M o r t e s . Luís Botelho d e Q u e i r ó s m o r r e u
a 4 d e n o v e m b r o d e 1716, está e n t e r r a d o n a igreja g r a n d e . O s e g u n d o ouvidor
q u e veio foi B e r n a r d o Pereira de G u s m ã o ; terceiro ouvidor, J o s é d e Sousa Valdezj
q u a r t o , M a t i a s P e r e i r a d e Sousa; q u i n t o , o " d e s e m b a r g a d o r D i o g o C o t r i m d e
Sousa; sexto Baltasar d e M o r a i s S a r m e n t o ; sétimo, o d e s e m b a r g a d o r J o s é T e l e s
d a Silva; oitavo, S i m ã o Caldeira; / / n o n o , J o ã o Alves; e agora esse s e n h o r * q u e [ fl. 42v. ]
está servindo, q u e são dez.
O s primeiros "governadores que v i e r a m p a r a as M i n a s foram; o A n t ô n i o d e
A l b u q u e r q u e C o e l h o d e C a r v a l h o — e n t r o u n o a n o d e 1709 nestas M i n a s s e m
s a b e r e foi logo a o C a e t é direito, o n d e assistia M a n u e l . N u n e s V i a n a , q u e e r a
g o v e r n a d o r eleito pelo p o v o , e lhe m a n d o u dizer q u e logo l o g o despegasse das
M i n a s d e n t r o e m três dias, q u e assim c o n v i n h a ao serviço de D e u s e de S u a M a -
j e s t a d e , q u e D e u s g u a r d e ; o b e d e c e u à o r d e m do novo g o v e r n a d o r e lhe veio falar
e pedir-lhe q u e lhe desse n o v e dias p a r a m a n d a r b u s c a r cavalos e mais aprestos
p a r a a v i a g e m e assim concedeu-lhe o dito t e m p o , e se foi e m b o r a p a r a o rio d e
3
anos.
A Vila do Príncipe foi criada em 29 de janeiro de 1714.
216
D e Vossa M e r c ê ,
A n d r é G o m e s Ferreira
• 6<
Senhor, [ fl. 44 ]
No original, Crasto, povoador que daria origem ao topónimo Crasto, atual povoado do distrito de
Furquim.
219
. 7<
a
- Dora Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre.
220
N ã o h á d ú v i d a q u e f o r a m os paulistas os p r i m e i r o s d e s c o b r i d o r e s deste
continente das M i n a s , e depois q u e a c h a r a m nelas o u r o v i e r a m c o n c o r r e n -
d o reinóis e brasileiros, e assim se foram p o v o a n d o d e uns e outros e des-
c o b r i n d o m a i s t e r r a s , até q u e a M a j e s t a d e d e d o m P e d r o , o s e g u n d o , m a n d o u or-
d e m ao senhor Artur de Sá e Meneses, "governador da cidade do Rio de J a n e i -
r o , p a r a q u e viesse visitar este n o v o d e s c o b r i m e n t o e e s t a b e l e c e r n e l e a l g u m a
forma de governo.
Veio, c o m efeito, o dito governador; e discorrendo p o r todos os arraiais des-
tas M i n a s , no d o S a b a r ã , q u e e n t ã o era o mais p o v o a d o , fez alto c o m a d e m o r a d e
.222
V e n d o os reinóis q u e d e s a g r e g a d o s de M a n u e l N u n e s V i a n a p o d e r i a m ser
enxovalhados pelos paulistas, resolveram-se a a c l a m a r p o r seu g o v e r n a d o r a o dito
V i a n a , o q u e logo aceitou, c o m j u r a m e n t o d e b e m os g o v e r n a r e de defendê-los
do rigor dos paulistas. E t o m a n d o posse do governo, q u e lha d e r a m n a f o r m a do
estilo, ficou s e n d o l e g i t i m a m e n t e g o v e r n a d o r das M i n a s p o r eleição e a c e i t a ç ã o
do p o v o , e. logo a t e n d e n d o a o governo elegeu p a r a todos os arraiais superinten-
dentes e p r o v e u postos, e desta forma ficou t e m i d o dos paulistas, e os refreou d e
a l g u m m o d o dos seus insultos, e ps fez retirar p a r a as suas fazendas de S ã o Paulo.
D o referido teve n o t í c i a o s e n h o r d o m F e r n a n d o M a r t i n s M a s c a r e n h a s d e
L e n c a s t r e , " g o v e r n a d o r do R i o de J a n e i r o , e e n t r o u a dizer q u e M a n u e l N u n e s
V i a n a era régulo e q u e todos os q u e o seguiam desleais à Majestade. E c o m outras
a r e n g a s deste teor, t o m o u a resolução d e vir às M i n a s a a p e a r d o g o v e r n o a o
V i a n a (dizia ele) e a p ô r d e posse aos paulistas das M i n a s , p o r q u e e r a m os desco-
b r i d o r e s e m a i s leais a el-rei. V e i o , c o m efeito, o dito s e n h o r d o m F e r n a n d o e
esteve alguns dias n o R i o das M o r t e s , e e n c o n t r a n d o - s e c o m o V i a n a n o R o d e i o
d a Itatiaia n ã o se atreveu a dizer-lhe coisa a l g u m a , m a s antes o V i a n a lhé disse,
i n d o a c u m p r i m e n t á - l o , q u e S u a S e n h o r i a se retirasse p a r a o seu g o v e r n o p o r -
q u a n t o o p o v o das M i n a s o n ã o queria. E, c o m efeito, t o d a a gente q u e estava d e
g u a r d a a o dito V i a n a c l a m a v a c o m vozes descompostas: " F o r a d o m F e r n a n d o e
v e n h a o n o s s o g o v e r n a d o r ! " , d a n d o a este m u i t o s vivas, e d e s c o m p u s e r a m a o
s e n h o r d o m F e r n a n d o , o qual logo se retirou p a r a o seu governo. E o dito V i a n a
ficou g o v e r n a n d o as M i n a s c o m geral aceitação d e todos, e c o m luzido a c o m p a -
n h a m e n t o as c o r r e u todas, recolhendo-se a sua casa, q u e era n o C a e t é .
V e i o p o r g o v e r n a d o r do R i o d e J a n e i r o Q s e n h o r A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e , [ fl. 48v. ]
e sendo ciente do q u e se passava nas M i n a s fez u m a "junta, e m q u e foram c h a m a -
dos todos os "prelados e " h o m e n s b o n s d a q u e l a cidade sobre se era c o n v e n i e n t e
q u e ele viesse às M i n a s : u n s disseram q u e sim e outros, ou a m a i o r p a r t e deles,
d i s s e r a m q u e n a q , s e m e m b a r g o d o q u e resolveu-se o s e n h o r A l b u q u e r q u e e m
fazer v i a g e m , d i z e n d o aos c o n v o c a d o s q u e assim e n t e n d i a ser d o serviço de S u a
M a j e s t a d e , a q u e m daria c o n t a . E p a r t i n d o logo, escoteiramente, c h e g o u c o m tal
cautela e segredo ao C a e t é q u e n i n g u é m soube q u e ele ali estava, senão q u a n d o
m a n d o u c h a m a r a M a n u e l N u n e s V i a n a e lhe intimou, d a p a r t e d e S u a Majesta-
de, o m u i t o q u e i m p o r t a v a ao seu real serviço q u e ele se recolhesse p a r a as suas
fazendas dos C u r r a i s , a o q u e p r o n t a m e n t e o b e d e c e u o dito V i a n a , r e t i r a n d o - s e
logo.
S e m m a i s d e m o r a , foi m a r c h a n d o o s e n h o r A l b u q u e r q u e p a r a o S a b a r á ,
o n d e esteve alguns dias e a p r o v o u t u d o q u a n t o a respeito do g o v e r n o havia feito
o V i a n a . E s e m inovar coisa a l g u m a , p a r t i u p a r a o R i o das M o r t e s e ali teve a
n o t í c i a d e q u e ps paulistas v i n h a m c o m u m p o d e r o s o exército a c o n q u i s t a r as
M i n a s . E b u s c a n d o o r u m o p o r o n d e os tais v i n h a m , chegou a encontrar-se c o m
eles n a vila d e G u a r a t i n g u e t á e logo lhes m a n d o u d i z e r q u e s u s p e n d e s s e m os
224
* • Antônio de Albuquerque, nomeado governador da capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
em março de. 1709, foi pouco depois nomeado governador da capitania de São Paulo e Minas do
Ouro, criada por provisão régia de 9 de novembro de 1709. Tomou posse em São Paulo a 12 dejunho
de 1710.
225
O primeiro "ouvidor-geral desta vila foi o doutor Manuel da Costa de Amorim, com "beca.
O segundo ouvidor foi o doutor Manuel Mosqueira da Rosa, sem beca, como todos os mais que se
seguem â margem.
O doutor Martinho Vieira, terceiro ouvidor.
226
S u c e d e u ao dito s e n h o r d o m L o u r e n ç o o s e n h o r c o n d e das G a l v e i a s / e n o
g o v e r n o deste s e n h o r veio M a r t i n h o d è M e n d o n ç a a p ô r a "capitação n a f o r m a
q u e está; e p o r q u e o c o n d e d u v i d a v a a q u e a dita se pusesse,^ o m a n d o u el-rei
O Loureiro foi o quarto "ouvidor e morreu nesta vila sem chegar a servir o lugar mais que seis meses;
o doutor Antônio Berquó del-Rio, "provedor da Fazenda Real, serviu em lugar do Loureiro três anos,
foi o quinto ouvidor; õ doutor João Pacheco foi o sexto ouvidor.
e
' O doutor João de Azevedo Barros, sétimo ouvidor.
O doutor Sebastião da Silveira Machado, oitavo ouvidor.
S- O doutor Fernando Leite Lobo, nono ouvidor.
retirar, d a n d o - l h e o vice-reinado d a Bahia, vindo p o r seu sucessor o s e n h o r G o -
m e s Freire d e A n d r a d e , q u e p o r ausencia deste s e n h o r g o v e r n o u o dito M a r t i n h o
de M e n d o n ç a , o qual, p r i m e i r o q u e pusesse a "capitação, c o r r e u todas estas M i -
nas induzindo* o p o v o p a r a a c e i t a r e m o q u e hoje t a n t o os v e x a , e p a r a m a i o r
1
1947, p. 2.
T A U N A Y , Afonso de E. Documentos inéditos sobre as primei-
ras descobertas do ouro em Minas Gerais. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. 44, p . 367-
391, 1948.
T A U N A Y , Afonso de E. Relatos sertanistas. São Paulo: Martins,
1953. p. 89-119
N
a p a r t e oriental d a A m é r i c a q u e corre do e q u i n ó c i o p a r a o m e r i d i a n o , [ fl. 52v. ]
d o m i n a a C o r o a p o r t u g u e s a aquela g r a n d e p o r ç ã o d e terra q u e se esten-
d e do rio d e V i c e n t e Pinzón, q u e d e m o r a ao n o r t e do das A m a z o n a s —
d e m a r c a ç ã o ajustada n o T r a t a d o d e U t r e c h t p a r a divisão dos limites d e C a i e n a ,
d a obediência de F r a n ç a , dos limites d o G r ã o - P a r á , d a obediência de Portugal —
até o sul do rio d a Prata, e m t a n t a distância q u a n t a o p a d r e Bluteau diz nas suas
Prosas^ se dá de longitude desde Portugal à cidade d o G r ã - C a i r o , incluindo e m si
o G r ã o - P a r á , M a r a n h ã o , C e a r á , P a r a í b a , P e r n a m b u c o , Bahia, Espírito S a n t o , R i o
d e J a n e i r o , Santos e R i o G r a n d e , com u m s e m - n ú m e r o de lugares e vilas adjacen-
tes e o mais q u e c o n t i n u a até a C o l ô n i a do S a c r a m e n t o e t u d o m e l h o r c o n h e c i d o
d e b a i x o do n o m e d e Brasil, l o g r a n d o desde o r e i n a d o d o s e n h o r e rei J o ã o , o
q u a r t o , o honorífico título d é p r i n c i p a d o .
A este pois espaçoso e dilatado c o n t i n e n t e - q u e p u d e r a ser m a i o r se assim
c o m o as m a i s nações c u i d a m e m estender os seus d o m í n i o s c u i d a r a a n a ç ã o p o r t u -
guesa e m s e n h o r e a r e conservar o q u a n t o a fortuna .na A m é r i c a lhe t r i b u t o u p a r a
dilatação d a sua m o n a r q u i a e g r a n d e z a de seu i m p é r i o — quis á Divina P r o v i d ê n -
cia, além das preciosidades q u e p r o d u z , e n r i q u e c e r n ã o só c p m . m i n a s d e d i a m a n -
tes, topázios e mais p e d r a s preciosas m a s d e ouro, q u e p o r espaço d e q u i n h e n t a s
*léguas, q u a s e e m q u a d r o , se está extraindo e m muitas partes, cuja insaciável fome
• BLUTEAU, Rafael. Prosas portuguesas, recitadas em diferentes congressos acadêmicos, pelo padre
dom Rafael Bluteau. Parte primeira e parte segunda. Lisboa Ocidental: Oficina de Joseph Antônio
da Sylva, 1727-1728.
230
Na mitologia grega, íillip de Japeto e Climenes. Fez com os titãs uma guerra contra Júpiter. Vencido,
foi condenado á sustentar perpetuamente o céu sobre os ombros. Outra tradição afirma que havendo
negado asilo Atlas a Perseu, lhe fez este mirar a cabeça de Medusa, com o que metamorfoseou-se em
montanha sobre a qual repousa o céu com seus astros. No documento 14, o autor refere-se a Atila.
232
tiros. O s p o b r e s m o r a d o r e s , tímidos a q u a l q u e r p r e s s e n t i m e n t o d e s e m e l h a n t e s
b a r b a r i d a d e s , n ã o se d a n d o p o r seguros e m suas casas, fechadas as p o r t a s , busca-
v a m os esconderijos dos m o r r o s , e assim a r m a d o s d e paciência e c o n f o r m a n d o - s e
c o m o t e m p o p o r presos das suas conveniências i a m b e b e n d o pelo vaso d o sofri-
[ fl. 54 ] m e n t o todos os dias mil sustos, / / até q u e os estômagos, d e m a s i a d a m e n t e reple-
3
tos, v o m i t a r a m vinganças.
E n t r e estes turbulentos h o m e n s q u e p o r este distrito assistiam havia urn J o s é
M a c h a d o , h o m e m m a u p o r n a t u r e z a , p o r inclinação insolente, q u e , a c o m p a n h a -
d o de u m "carijó m a t a d o r p o r oficio e de u m " b a c a m a r t e b e m " a t a c a d o , fiado e m
u m tio, h o m e m dos principais, contados e r a m os dias q u e n ã o a n d a s s e pela p o v o -
a ç ã o i n s u l t a n d o os m o r a d o r e s , p e l o q u e se fez d e t o d o s a b o r r e c i d o e
e n t r a n h a v e l m e n t e o d i a d o . E sendo e m j u n h o de 1707, e m a n t e v é s p e r a s d e São
P e d r o , o levou o destino à casa de u m D o m i n g o s R i b e i r o , a q u e m , d e p o i s d o
a t r e v i m e n t o d e e n t r a r nela o u s a d a m e n t e ^ o d e s c o m p ô s , pelo q u e o dito R i b e i r o ,
i n c i t a d o , p e g o u e m u m a a r m a , e. os vizinhos q u e p r e s e n c i a r a m , o b r i g a d o s d o
e s c â n d a l o , a sua i m i t a ç ã o p e g a r a m nas suas, à vista d e cuja deliberação, c o n h e -
c e n d o o dito M a c h a d o e m si sua a r r o g â n c i a sem vigor p a r a resistir e seu " b a c a m a r t e
s e m p r é s t i m o p a r a o defender, m u i t o a pressa se retirou p a r a a casa d e u m ferreiro,
p a r a a qual o m e s m o tio, vindo acudir-lhe se recolheu fugindo, p o r a c e n d e r c o m
a m e a ç o s o q u e e m tal c o n j u n t u r a devia a p a g a r c o m rogos. E assim, p o r n ã o p o u -
p a r e m inimigos que-lhes p o d i a m vir a c a b a r n a s m ã o s , p u s e r a m togo à casa, e os
dois, tio e s o b r i n h o , fugindo deste fogo, foram m o r r e r e m outro^ p o r q u e , à saída
d a dita casa, d e s c a r r e g a r a m sobre eles tantos tiros q u e ficaram, d e sorte q u e p o d i -
a m lastimar à m e s m a ira aqueles estragos d a cólera.
3, Referência à libação, cerimônia histórica e religiosa dos antigos pagãos que consistia em encher um
vaso de vinho, derramado sobre o altar em que se faziam os sacrificios e oferecê-lo aos ídolos, como
forma de atenuar os sofrimentos.
233
[ fl. 64 ] M e u senhor,
N a q u e l e t e m p o e r a m u i t o limitado o R i o d e J a n e i r o ; n e m h a v i a notícia de
m i n a s mais q u e u m a limitação e m P a r a n a g u á , p o r t o d e m a r , abaixo de Santos, e
245
> 10 «
Lot, personagem bíblico (Gênese, 19:1-29). Socloma, lugar habitado por ímpios perante Deus, havia
sido salva, certa feita, da destruição divina por intervenção de Abrão, tio de Lot, que o queria
preservar. Veio, porem, o dia em que Deus resolveu destruir aquela terra de ímpios. Mas, para
preservar Ix)t, único habitante daquelelugar justo perante Deus, mandou dois anjos para avisá-lo de
que saísse a tempo de salvar-stí da destruição. Os anjos avisaram a Lot c sua esposa que enquanto
saíssem não deviam olhar para a cidade em destruição. Deus, então, fez cair sobre Sodoma e
Gomorrá uma chuva de fogo e de enxofre. Mas enquanto fugia, a esposa de Lot olhou para trás t
descumprindo o que lhe haviam dito os anjos e, em castigo, foi transformada numa coluna de sal.
O trecho citado encontra-se nã obra Eva e Ave ou Maria biunfante [...]. Primeira e segunda partes.
Lisboa Ocidental: Antônio Craesbeeck de Mello, 1676. p. 179.
249
ÁUREO Trono Episcopal, colocado nas Minas do Ouro ou notável notícia breve da criação do novo
bispado marianense, da sua felicíssima posse e pomposa entrada do seu meritíssimo primeiro bispo e
da jornada que fez do Maranhão o Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor dom frei Manuel da
Cruz, com a coleção de algumas obras acadêmicas e outras que se fizeram na dita função, autor
anônimo. Lisboa: Oficina de Miguel Manescal da Costa, 1749.
254
> li <
[Informação das antiguidades da freguesia de Guarapiranga]
S e n h o r d o u t o r p r e s i d e n t e e mais senhores do S e n a d o : [ A- 75 ]
D e Vossas M e r c ê s ,
m u i t o certo e fiel c r i a d o ,
Luís J o s é Ferreira d e G o u v e i a
• 12 <
forma do " E " redondo. N o ditongo " ã o % o " o " é uncial, ascen-
dente, com laçada, terminando abaixo da linha da escrita e m
forma de cajado invertido. Texto autógrafo. (YDL)
P e l a o r d e m q u e r e c e b i d e J o ã o d a C o s t a A z e v e d o , "escrivão desse n o b r e
S e n a d o , p a r a q u e , p o r meio de u m a fiel e exata i n f o r m a ç ã o , lhes fizesse a s a b e r
das antiguidades desta freguesia das C a t a s Altas, isto é, e m q u e t e m p o se desco-
briu o sítio q u e hoje é arraial, d o n d e lhe veio o n o m e de C a t a s Altas, p o r q u e m foi
descoberto e outras coisas mais, c o m o consta d a m e s m a o r d e m , p a r a cujo efeito
p r o c u r e i pelos meios q u e m e foram possíveis saber à certeza, s e m e m b a r g o q u e
a i n d a nessas p o u c a s pessoas q u e se a c h a m a i n d a neste "país e q u e s ã o dos mais
antigos, n ã o deixa d e h a v e r v a r i e d a d e nos p a r e c e r e s . C o n t u d o , a c h e i q u e o sítio
q u e hoje é arraial fora d e s c o b e r t o no a n o d e 1703 pelo " c a p i t ã o M a n u e l D i a s ,
[ t a u b a t e a n o ? ] , e a causa de se lhe p ô r o n o m e de C a t a s Altas foi p o r se d a r e m
"catas d e tirar o u r o mais altas do q u e até ali se t i n h a p r a t i c a d o e m u m córrego
j u n t o do m e s m o arraial da p a r t e do nascente, ao q u e ficaram c h a m a n d o até hoje
o córrego das C a t a s Altas, e j u n t a m e n t e ficou o dito n o m e apelido a t o d a a fregue-
sia, a q u a l se a c h a c o m a altura de vinte graus, d e z m i n u t o s e q u a t r o segundos d a
linha p a r a o sul, s e g u n d o afirmou u m m a t e m á t i c o q u e S u a M a j e s t a d e m a n d o u
m e d i r as terras desta capitania e t o m a r as alturas das p o v o a ç õ e s , o q u e fez neste
arraial das C a t a s Altas e m 27 de fevereiro de 1733.
O p r i n c í p i o d a igreja foi u m a " c a p e l i n h a c p b e r t a de p a l h a b a r r e a d a até o
m e i o das p a r e d e s somente, a qual se fundou d a o u t r a b a n d a d o córrego, j á dito,
c h a m a d o das C a t a s Altas, e nela o u v i r a m missa esses poucos m o r a d o r e s q u e h a -
via, a qual dizia u m "clérigo c h a m a d o M a n u e l A n t ô n i o Casafinho, n a t u r a l que.
dizem ser d e Casal d e P e d r o , em Portugal.
263
T o d o s os sobreditos f o r a m "vigários e n c o m e n d a d o s .
1 §
Foi e r e t a a i r m a n d a d e de N o s s a S e n h o r a d a C o n c e i ç ã o , p a d r o e i r a d a
freguesia, c o m c o m p r o m i s s o a p r o v a d o n o a n o d e 1725. T e m u m a " c a p e l a
d e missas no dia do s á b a d o , a l a d a i n h a c o m solenidade e n o v e n a n a m e s m a
forma, i m e d i a t a a o dia 8 de d e z e m b r o , t u d o p o r t e n ç ã o dos irmãos d a dita
i r m a n d a d e . São "capelães os "párocos da freguesia.
2 â
Foi ereta a i r m a n d a d e d o Santíssimo S a c r a m e n t o c o m c o m p r o m i s s o a p r o -
v a d o no a n o d e 1 7 2 1 . T e m u m a capela de missas todas as quintas-feiras p o r
t e n ç ã o dos seus irmãos vivos e defuntos. São capelães os reverendos p á r o c o s .
3 §
Foi ereta a i r m a n d a d e d e São Miguel e Almas c o m c o m p r o m i s s o a p r o -
v a d o no a n o de 1716; t e m u m a capela d e missas todas as segundas-feiras do
a n o , d e q u e é o capelão o r e v e n d o p á r o c o . T e m o u t r a capela d e missas todos
os dias do a n o pelas do p u r g a t ó r i o , q u e se p a g a do r e n d i m e n t o d a "bacia, d e
q u e é capelão de p r e s e n t e o r e v e r e n d o p a d r e J o s é de M a c e d o N e t o .
4- Foi ereta a i r m a n d a d e d o glorioso São G o n ç a l o c o m c o m p r o m i s s o a p r o -
v a d o n o a n o de 1 7 4 3 , cuja s a g r a d a i m a g e m tinha sido colocada nesta igreja
n o a n o d e 1730.
5- Foi ereta a i r m a n d a d e d e Nossa S e n h o r a da Assunção c o m c o m p r o m i s s o
a p r o v a d o n o a n o d e 1743; são os seus irmãos os h o m e n s p a r d o s e p a r d a s q u e
t o m a r a m a sua conta o o r n a t o da capela e a festejam no seu dia.
6- Foi ereta a confraria da i r m a n d a d e do R o s á r i o dos B r a n c o s n o a n o d e
1727 p o r frei J e r ô n i m o de M o n t e - R e a l , religioso c a p u c h i n h o , m i s s i o n á r i o
apostólico q u e a erigiu c o m a u t o r i d a d e apostólica, ficando a n e x a à confraria
do R o s á r i o d e R o m a , c o m as m e s m a s graças e indulgências q u e à d e R o m a
são concedidas. S e r v e m à dita S e n h o r a os seus / / confrades, q u e s a e m p o r [ fl. 81v. ]
eleição q u e se publica n a p r i m e i r a d o m i n g a de o u t u b r o ; n ã o p a g a m anuais
n e m m e s a d a c e r t a . T e m u m a c a p e l a d e missas t o d o s os d o m i n g o s e dias
santos p o r t e n ç ã o dos irmãos confrades e benfeitores. É festejada a S e n h o r a
n o seu dia; faz-se procissão de terço p e l a r u a nas p r i m e i r a s d o m i n g a s dos
meses. E capelão o r e v e r e n d o p a d r e J e r ô n i m o d a Fonseca Alvares.
1 %
F o i ereta a confraria d a gloriosa S e n h o r a S a n t a n a n o a n o d e 1749 foi
c o l o c a d a a sua i m a g e m nesta m a t r i z e m 1 7 4 1 . T e m u m a c a p e l a d e missas
todas as terças-feiras d o a n o , q u e m a n d a m dizer os seus devotos.
&- Foi ereta a confraria do glorioso S a n t o A n t ô n i o d e Lisboa e m 1749. Foi
colocada a sua i m a g e m imediata à da p a d r o e i r a d a freguesia.
266
[ fl. 82 ] l â
A capela d e Nossa S e n h o r a do R o s á r i o , sita n o arraial, q u e / / f o i a m a -
triz velha, serve da " i r m a n d a d e dos pretos, c o m " c o m p r o m i s s o a p r o v a d o n o
a n o d e 1743. A c h a m - s e colocados n a dita capela: Nossa S e n h o r a d o R o s á -
rio, são B e n e d i t o , s a n t a Efigênia e santo E l e s b ã o . T e m " c a p e l ã o , q u e é o
r e v e r e n d o p a d r e Francisco Alvares Passos.
2 ã
A capela de S a n t a Q u i t é r i a sita n o princípio d o arraial d a p a r t e do sul e
fora d a r u a Direita. Foi o seu f u n d a d o r Paulo d e A r a ú j o de A g u i a r n o a n o d e
1728 e o m e s m o é seu a d m i n i s t r a d o r . A o p r e s e n t e n ã o t e m capelão.
3- A capela do glorioso p a t r i a r c a são B e n t o , n o sítio do *capitão-mor Bento
F e r r a z L i m a , q u e foi o seu f u n d a d o r n o a n o de 1718 e é o seu a d m i n i s t r a d o r ,
cujo capelão é o r e v e r e n d o p a d r e A n d r é C o r r e i a V e l h o .
4- A capela do glorioso são Cristóvão, n o sitio d o B a n a n a l , m e i a légua d o
arraial, de q u e foram fundadores o r e v e r e n d o p a d r e A n t ô n i o N e t o Ferreira e
seu i r m ã o o capitão J o s é N e t o d e S o u s a n o a n o d e 1729. H o j e t e m aplicados
os m o r a d o r e s do M o r r o d'Água Q u e n t e , e o sobredito p a d r e A n t ô n i o N e t o
Ferreira é seu capelão.
5 %
A c a p e l a d o glorioso p a t r i a r c a são Francisco, das C h a g a s , n o sítio d e
Rafael J o ã o , e m I t a p a n h o a c a n g a , n o m e s m o r u m o d o sul, u m a l é g u a do
arraial. F o r a m seus fundadores o "sargento-mor A n t ô n i o Ferreira Pinto e o
capitão D o m i n g o s Vieira d e M a c e d o , n o a n o de 1718. E seu a d m i n i s t r a d o r
Rafael J o ã o e é c a p e l ã o õ r e v e r e n d o p a d r e A n t ô n i o J o s é G o m e s .
6- A capela d a gloriosa S e n h o r a S a n t a n a , u m a légua ao n o r t e d o arraial, no
sítio d e M a n u e l d e M a t o s M o r e i r a , seu a d m i n i s t r a d o r . Foi seu f u n d a d o r o
c a p i t ã o T o m é F e r n a n d e s d o V a l e n o a n o d e 1730. A o p r e s e n t e n ã o t e m
s
capelão.
7- A capela de S a n t o A n t ô n i o d e Lisboa,, n o sítio de J o s é Gonçalves L i m a ,
c o m p o u c a diferença d a de S a n t a n a , a c i m a dita, no r u m o e distância. F u n d a -
r a m vários m o r a d o r e s d a q u e l e distrito n o a n o d e 1735, os quais de p r e s e n t e
são seus aplicados. E seu capelão o r e v e r e n d o p a d r e Vicente Luís d e Sá.
267
1 Q
C o n s t a o sítio do B r u m a d i n h o e S u m i d o u r o d e 26 m o r a d o r e s aplicados
à sobredita capela de São Francisco.
2 5
O sítio d a C a c h o e i r a , d e 27 m o r a d o r e s aplicados à capela a c i m a dita d e
Santo Antônio.
3 Q
C o n s t a o sítio d o P i r a c i c a b a d e 16 m o r a d o r e s . N ã o t e m c a p e l a a q u e
sejam s e n ã o a matriz, digo, a q u e sejam aplicados senão a matriz.
4 9
O sítio do I t a p a n h o a c a n g a ^ M a c a q u i n h o e M a t o Grosso, d e 13 m o r a d o -
res aplicados à capela d e São Francisco.
5- C o n s t a o arraial do M o r r o d ' A g u a Q u e n t e d e 42 m o r a d o r e s . Principiou
a povoar-se n o a n o de 1728, q u a n d o se descobriu o o u r o [no] m e s m o m o r r o
d e q u e t o m o u o n o m e e j u n t a m e n t e de u m olho d ' á g u a q ü e nele nasce q u e n -
te ém todas as estações do a n o , a qual, dizem os mestres d a m e d i c i n a , passa
por minas de antimônio e que é b o a p a r a várias enfermidades. Os quais
:
J o s é de L e m o s G o m e s
• 13 <
> 14 <
covarde fuga dos paulistas como punição por seus vícios; e louva a
lealdade dos habitantes da região. O narrador introduz o elogio
do lugar em modo encomiástico e com a aplicação de tópicas
poéticas do locus amenus ("lugar ameno"). £JPF)
C o m e n t á r i o p a l e o g r á f i c o : Escrita moderna regulariza-
d a e caligrafada. Apresenta capitular no título, com arabescos e
volutas, muitas maiúsculas iniciais de parágrafo em importantes
capitulares. M a n t é m a ligatura "st" com movimento circular n a
haste superior do "t", O "d" minúsculo uncial e de largo traço,
alterna com o "d" retüíneo, terminado por movimento circular e
perfil. " A " maiúsculo com apex em forma a r q u e a d a . M e s m a
letra do documento 5- O texto possui página de título, (YDL)
Cópias impressas:
H I S T O R I A do distrito do R i o das Mortes. Jornal do Comércio,
Rio d e j a n e i r o , 1 jun. 1947, p . 2; 8 j u n . 1947, p. 2; 15 jun.
1947, p. 2.
T A U N A Y , Afonso de E. Documentos inéditos sobre, as primeiras
descobertas do o u r o em M i n a s G e r a i s . Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. 44, p. 367-
391, 1948.
T A U N A Y , Afonso de E. Relatos sertanistas. São Paulo: Martins,
1953. p. 89-119.
[ fl. 87 J / V o s e n
h o r d o u t o r T o m á s R u b i m d e B a r r o s B a r r e t o do R e g o ,
/ \ ineritíssimo *ouvidor-geral e " c o r r e g e d o r d a c o m a r c a d o
JL \ji.io das M o r t e s e nela "juiz dos feitos d a C o r o a , "superin-
t e n d e n t e das t e r r a s e á g u a s m i n e r a i s , " p r o v e d o r dos defuntos e
ausentes, capelas e resíduos e "auditor-geral d a gente de g u e r r a .
Na mitologia grega, Nêmesis personifica a correção divina (castigo e vingança) a que estão sujeitos
todos os mortais que se erguem acima da sua própria condição, despertando a inveja dos deuses e
abalando o equilíbrio cósmico. No texto, avara de Nêmesis, "sempre branda mas nunca torcida", do
doutor Tomás Rubim, em cujas mãos vai empunhada, é o instrumento com que exerce a justiça
entre todos os mineiros e miseráveis, com igualdade e comiseração, distribuindo-a como correção dos
excessos humanos que podem causar O desequilíbrio e a discórdia nas Minas..
Na mitologia grega, Témis, uma das esposas de Zeus, é a deusa da lei. Era representada com ama
venda nos olhos e uma balança na mão, simbolizando a imparcialidade dos julgamentos.
273
J o s é Alvares d e Oliveira.
O autor refere-se, decerto, a sua condição de homem de idade em que existir é esperar ofimda vida,
já destituída de emoções e fortes sentimentos. Este sentimento estariafiguradonas palavras 'pituita*
(excremento humano que escorre dentro do corpo, em senüdo figurado, resignação, melancolia,
sentimentos de pessoa velha) e 'bilia' (relativo a bílis, em sentido figurado, sangue, indignação e ira,
sentimentos de pessoa com vitalidade e vigor).
274
N a p a r t e o r i e n t a l d a A m é r i c a q u e c o r r e do e q u i n ó c i o p a r a õ m e r i d i a n o ,
d o m i n a a C o r o a p o r t u g u e s a a q u e l a g r a n d e p o r ç ã o d e t e r r a q u e se e s t e n d e d o
rio d e V i c e n t e P i n z ó n , q u e d e m o r a a o n o r t e d o dos A m a z o n a s — d e m a r c a ç ã o
a j u s t a d a n o T r a t a d o d e U t r e c h t p a r a a divisão dos limites d o G r ã o ^ P a r á , d a
o b e d i ê n c i a d e P o r t u g a l — até o sul d o rio d a P r a t a , e m t a n t a distância q u a n t o o
p a d r e B l u t e a u diz nas suas Prosas^ sé d á de l o n g i t u d e d e s d e P o r t u g a l à c i d a d e d o
G r ã - C a i r o n o E g i t o , i n c l u i n d o e m si p m e s m o G r ã o - P a r á , M a r a n h ã o , C e a r á ,
P a r a í b a , P e r n a m b u c o , B a h i a , Espírito S a n t o , R i o d e J a n e i r o , S a n t o s , R i o G r a n -
de e o mais que continua até a Colônia do Sacramento, com inumeráveis povo-
a ç õ e s , g r a n d e p l u r a l i d a d e d e vilas e várias cidades, s e m falar nas ilhas a d j a c e n -
tes e as mais q u e p e r t e n c e m a este c o n t i n e n t e , e t u d o m e l h o r c o n h e c i d o d e b a i -
xo d o n o m e d e Brasil.
N o m e este de Brasil q u e n ã o deixarão de c e n s u r a r os reparativos p o r se p r e -
ferir o n o m e de u m p a u , a i n d a q u e precioso, a o do sacrossanto M a d e i r o d a C r u z ,
p r i m e i r o n o m e q u e ao d e s c o b r i m e n t o d a A m é r i c a p o r t u g u e s a pôs P e d r o Alvares
C a b r a l q u a n d o , no a n o de 1501,~* p a s s a n d o à í n d i a p o r "cabo d e treze n a u s a o sul
d a linha, lhe sobreveio u m a t o r m e n t a tão rija que, crescendo p o r h o r a s , a m e a ç a v a
naufrágios, p o r q u e , além de a chuva ser u m dilúvio tal q u e p a r a efluir a q u e caía
[ íl. 88v. ] d e n t r o nas n a u s e r a m estreitos c a n o s os * i m b o r n a i s , e os t r o v õ e s e r a m / / tão
contínuos e tão rasgados e c o m tanta repetição de "fuzis q u e a gente se considera-
v a cega e, p e l o i n c e s s a n t e do e s t r o n d o , a t u r d i d a . O m a i s e r a q u e o m a r , pelo
impetuoso do v e n t o , se alterava c o m o n d a s tão e m p o l a d a s que se a v i z i n h a v a m às
n u v e n s , e o ar, c o n d e n s a d o e t e n e b r o s o , f o r m a v a t ã o g r o s s a s n u v e n s q u e se
" p r o p i n q u a v a m às ondas. E assim j u n t o s estes alimentos, e c a d a u m de *per se, se
e m p e n h a v a m n a s u b m e r s ã o d a q u e l a armada^ p o r q u e se e m b r a v e c i a m e m t a n t a
m a n e i r a e c o m t a n t a s o b e r b a q u e se faziam intoleráveis, e t a n t p q u e à s o b e r b a do
a r cede o m e s m o Sol d e i x a n d o encobrir as luzes p a r a fazer t u d o trevas, de sorte
q u e se n ã o j u l g a v a se e s p u m a v a m as n u v e n s ou se r e l a m p e j a v a m as o n d a s . As
naus, entre m o n t a n h a s de m a r , ainda q u a n d o arfavam, m a l se viam; isto d e dia,
q u e d e n o i t e , p o r intervalos, se divisavam, p o r q u e as luzes dos faróis e r a m m e t e -
BLUTEAU, Raphael. Prosas portuguesas, recitarias em diferentes congressos acadêmicos pelo padre
dom Rafael Bluteau. Parte primeira e parte segunda. Lisboa Ocidental; Oficina de Joseph Antônio
daSylva, 1727-1728.
Alguns autores dos. séculos XVI, XVII e XVIII atribuíam o ano de 1501 como o da descoberta do
Brasil.
275
M e t e r a m de a r r i b a d a e, c a r r e g a d o o t r a q u e t e a c i m a e "ferrada a " m e z e n a ,
a p e r t a r a m as "enxárcias, atesaram os "estais p a r a segurança dos mastros e mastaréus;
e p a r a segurança das vergas reforçaram as "ostagas e p a s s a r a m "bocas e m ajuda aos
"enxertários. T u d o se fazia necessário a respeito do vento q u e tão furiosamente as
suavizava pelas "entenas q u e as queria levar diante de si. E seguro o leme c o m força
de "talhas, p a r a que c o m o bater n ã o aluísse a "cadaste, d e r a m p o p a ao t e m p o , e
c o m ela íoram "correndo à árvore seca, m a s s e m p r e p o r debaixo d o m a r , p o r q u e
este, encapelando-se por c i m a da "grinalda, alagava t u d o da p o p a à p r o a , e c o m o
t a n t o p o r este a-balo c o m o pelos b a l a n ç o s das n a u s se n ã o via fixo o r u m o q u e
l e v a v a m p o r variar a agulha, e m e n o s se sabia a altura, que p o r falta do Sol n ã o
tinha, uso o astrolábio. T o d o s esmorecidos, e desmaiados todos, e mais m o r t o s do
que vivos, tinha c a d a u m p a r a si q u e ã m e s m a n a u / / e m q u e iam era féretro q u e o [ fl. 89 ]
levava p a r a a sepultura. E q u a n d o menos conta faziam das vidas, do cesto da gávea
gritou o gajeiro: " T e r r a pela proa!", e c o m o o t e m p o r a l os ia e m p u r r a n d o p a r a o
rolo d a costa p o r falta de governo, desfizeram os bolsos do traquete e, b r a c e a n d o
p o r estibordo, f o r a m c o s t e a n d o a dita terra, e. d a n d o vista de u m a " a b r a e u m a
e n t r a d a , p u s e r a m p r o a a ela, e a t o d o o risco, sem sondar, a e n t r a r a m , e fixas as
a m a r r a s n a "abita; "desaboçadas as âncoras, d e r a m f u n d o u
S u r t a e a n c o r a d a a a r m a d a n a q u e l e desconhecido p o r t o , lhe p u s e r a m o n o m e
de S e g u r o , q u e a i n d a hoje conserva e t o d a a sua capitania. E logo os a r g o n a u t a s ,
s a l t a n d o e m t e r r a , a i n t i t u l a r a m de S a n t a C r u z , cuja á r v o r e b e n d i t a p l a n t a r a m
e n t r e as formosas q u e a terra p r o d u z , p a r a q u e o frondoso de seus r a m o s servisse
de "dossel àquela soberania, e. foi levantado este " t r a n s u n t o n ã o p o r sinal d e q u e
ali t i n h a m a p o r t a dos cristãos m a s p a r a q u e a todo o t e m p o servisse d e p a d r ã o p o r
Rei dos hunos (406-453), sinónimo de conquistador imbatível. Entre suas tantas conquistas, Átila
tornou-se supremo na Europa Central, dominou os territórios entre o mar Cáspio e o Reno; sitiou
Orleans, tia Gália; durante vários anos, atacou a península Balcânica, ameaçando Constantinopla
e atacou a Itália, onde saqueou Milão e a Lombardia Ocidental. De suas conquistas, bravura tí
intrepidez lhe veio o cognome de Flagelo de Deus.
279
u m t a u b a t e a n o c o g n o m i n a d o J a g u a r a , q u e p e l a "língua d a terra é o m e s m o q u e
cachorro bravo, o qual q u a n d o se e m b r i a g a v a / / t o m a v a p o r e m p r e s a o fazer-se p ô r [ fl. 91 ]
a cavalo e, a r m a d o c o m os seus escravos, e n c a m i n h a r - s e p o r distância de mais de
u m a "légua p a r a este arraial, e entrava p o r ele d a n d o mostras d e sua b e b a c i d a d e
pelas b o c a s d e suas espingardas, s e m e a n d o as ruas d e c h u m b o , e p e l a sua m e s m a
b o ç a c o m tais latidos q u e o m e s m o era o J a g u a r a neste arraial q u e o G é r b e r o n o
inferno, e e m t u d o o m e s m o , p o r q u e se o C é r b e r o ^ n o inferno e r a faminto das
almas o J a g u a r a nas M i n a s o era das vidas, e m q u e cevava a s u a fome e a d e
alguns amigos q u e se q u e r i a m valer d a sua b o a v o n t a d e . O s p o b r e s m o r a d o r e s ,
t í m i d o s a q u a l q u e r p r e s s e n t i m e n t o dessas r e p e t i d a s i n g r e s s õ e s i m p e t u o s a s e
vozeadas, n ã o se d a n d o p o r seguros e m suas casas, fechadas as p o r t a s , b u s c a v a m o
esconderijo dos m o r r o s , e assim a r m a d o s de p a c i ê n c i a e c o n f o r m a n d o - s e c o m o
t e m p o p o r presos das suas conveniências i a m b e b e n d o pelo vaso do sofrimento^
t o d o s os dias mil sustos, até q u e os e s t ô m a g o s , d e m a s i a d a m e n t e r e p l e t o s , lhes
c h e g o u a h o r a d e v o m i t a r e m vinganças.
E n t r e estes turbulentos h o m e n s q u e p o r este distrito assistiam, havia u m J o s é
M a c h a d o , h o m e m m a u p o r n a t u r e z a , p o r inclinação insolente, que, a c o m p a n h a -
do d e u m "carijó m a t a d o r p o r ofício e d e u m " b a c a m a r t e b e m " a t a c a d o , fiado e m
u m tio c h a m a d o S i m ã o Pereira de F a r o , h o m e m dos principais e n t r e os paulistas,
Contados e r a m Os dias q u e n ã o andasse p e l a p o v o a ç ã o insultando os m o r a d o r e s ,
p e l o q u e se fez d é t o d o s a b o r r e c i d o e é n t r a n h a v e l m e n t e o d i a d o . E s e n d o e m
j u n h o de 1707j e m antevésperas de S ã o P e d r o , p r a z o d e t e r m i n a d o p a r a o A t r o p o ^
m e t e r a t e s o u r a a o fio d e s u a vida, o levou o destino à casa d e u m D o m i n g o s
R i b e i r o , a q u e m , depois do a t r e v i m e n t o de e n t r a r nela o u s a d a m e n t e , o descom-
p ô s , p e l o q u e o dito R i b e i r o , incitado, p e g o u e m u m a a r m a , e os vizinhos q u e
p r e s e n c i a r a m , obrigados do escândalo, a sua i m i t a ç ã o p e g a r a m nas suas, à vista de
cuja deliberação, c o n h e c e n d o o dito . M a c h a d o e m si a a r r o g â n c i a sem vigor p a r a
resistir e seu b a c a m a r t e s e m préstimo p a r a o defender, m u i t o a pressa se retirou
p a r a a casa de u m ferreiro, p a r a a qual o m e s m o tio, vindo acudir-lhe, se r e c o l h e u
Na mitologia grega, Cérbcro era um cão de três cabeças e cauda em forma de serpente que guardava
a porta do inferno.
Referência à libação, cerimônia histórica e religiosa dos antigos pagãos que consistia em encher um
\ aso de rinho, derramá-lo sobre o altar em que se faziam os sacrifícios ç oferecê-lo aos ídolos como
,
E m q u a r t a - f e i r a , q u a t o r z e d e n o v e m b r o d e 1 7 0 9 , p e l a u m a h o r a p a r a as
duas d a t a r d e , f o r a m vistos os paulistas. E além de dois p r ó p r i o s q u e j á se t i n h a m
d e s p a c h a d o p a r a as M i n a s G e r a i s a i m p l o r a r socorro, se e x p e d i u n e s t a ocasião
o u t r o , c o m a certeza de estarem j á os paulistas sobre o arraial c o m u m c o r p o d e
mais d e dois mil c o m b a t e n t e s , p o d e r formidável, a respeito das p o u c a s forças q u e
se a c h a v a m n o e n t r i n c h e i r a m e n t o e assaz debaixo de evidente perigo, p o r estar de
m u i t a s p a r t e s c o n d e n a d o , p e l o q u e t o r n a v a m a i m p l o r a r o seu auxílio, e c o m
p r e s t e z a , p o r q u e n e l a estava o l i v r a m e n t o daqueles p o u c o s defensores, os quais,
a c o m p a n h a d o s do seu b r i o , a c u d i r a m c o m seus "capitães aos postos q u e aos ditos
capitães estavam assinalados e d e q u e eles c o m m u i t o valor e g r a n d e resolução se
t i n h a m e n t r e g u e p a r a d e f e n d e r e m e resistirem a q u a l q u e r invasão dos paulistas,
fazendo c a d a u m deles m e n o s estimação da vida q u e do n o m e . E assim a r r i m a -
d o s , c a d a u m a s e u p o s t o : n a p a r t e q u e ficava s o b r e o r i b e i r o , n o â n g u l o r i o
abaixo, c o m a sua c o m p a n h i a , o capitão J o s é M a t o l ; e c o m a sua, no â n g u l o rio
a c i m a , o capitão J o s é Alvares d e Oliveira; e n a "cortina q u e corria / / d e u m a o [ fl. 94v. ]
outro â n g u l o , estava o capitão J o ã o R o d r i g u e s d e G a r v a l h o c o m a sua; e e m u m
m e i o " b a l u a r t e q u e o l h a v a p a r a a p a r t e d a igreja e s t a v a m o c a p i t ã o d e cavalos
J o ã o A n t u n e s Maciel e o capitão S i m ã o Alvares M o u s i n h o , q u e o c u p a v a m c o m as
suas c o m p a n h i a s e se estendiam pela cortina do seu lado direito e d o e s q u e r d o até
a p o r t a ; e desta p a r a à p a r t e do posto do capitão J o s é Alvares de Oliveira estava
c o m a sua c o m p a n h i a o c a p i t ã o M a n u e l Dias d e A r a ú j o , ficando d e r e s e r v a o
*sargento-mor A m b r ó s i o C a l d e i r a B r a n t c o m alguns c o m p a n h e i r o s , todos c a p a -
zes d e a c u d i r e m o n d e se fizessem necessários.
D e s t a sorte g u a r n e c i d a a circunvalação, se e s p e r a r a m os paulistas, q u e debai-
xo de u m e s t a n d a r t e e n c a r n a d o (que se disse trazia a figura d e S ã o Paulo) e do
m a n d o de u m chefe p o r n o m e A m a d o r B u e n o , m a r c h a v a m e m u m a c o l u n a b e m
:
f o r m a d a , c o r o a n d o os m o r r o s fronteiros. E c h e g a n d o à casa d o s a r g e n t o - m o r
A m b r ó s i o C a l d e i r a B r a n t , a o c u p a r a m p a r a q u a r t e l d a corte, e d e s t a d e s c e n d o
p a r a o ribeiro se dividiram e m dois "cordões: u m q u e se estendeu pelo dito ribeiro
acima, a m p a r a d o do seu b a r r a n c o p a r a f o r m a r e m cerco à p r a ç a , e o o u t r o subiu o
m o r r o da "espalda, b u s c a n d o u m a a b e r t a q u e descia p a r a o terreiro da igreja, e
b a i x a n d o p o r ela no dito terreiro fez alto a v a n g u a r d a . E fechado o c e r c o se j u n t o u
o seu conselho d e guerra, d o qual se expediu u m clérigo p o r n o m e G r e g ó r i o d e
Sousa, c u n h a d o do dito s a r g e n t o - m o r . E c h e g a n d o à fala p e d i u q u e r i a falar a seu
c u n h a d o , c o m o falou, d i z e n d o q u e suposto o m o t i v o d a q u e l e a r m a m e n t o t i n h a
sido p a r a castigar o caso d o c a p ã o , c o n t u d o q u e aqueles "cabos se desejavam v e r
c o m ele, e q u e n ã o era d e s a c e r t o assim fosse, p o r q u e d a p r á t i c a q u e tivessem
p o d e r i a m u i t o b e m resultar a l g u m a c o n c o r d a t a conveniente a todos. H o u v e votos
p r ó e contra.
C o n t u d o , descida a p o n t e , saiu o s a r g e n t o - m o r c o m alguns sujeitos q u e o
q u i s e r a m a c o m p a n h a r e, a p o u c a s palavras q u e p o d e r i a h a v e r d e p a r t e a p a r t e se
•286
Sustentam estas quatro sinos, passando d e quarenta "arrobas o m a i o r das ditas tor-
res. Se seguem, pelo c o m p r i m e n t o da igreja, duas galerias d e janelas d e sacada, d e
u m a e o u t r a parte, c o m "casas que servem de "consistórios das "irmandades, e nas
paredes d a capela m a i o r duas sacristias, u m a dos reverendos p a d r e s e o u t r a d a ir-
m a n d a d e do S e n h o r . Seu a d r o [*cordeia?] c o m a m e s m a rua, delineado p o r b o a
arquitetura, c o m duas entradas que sobem a u m tabuleiro d a p o r t a principal. T u d o
e o Calvário da C r u z , q u e nele se respeita, fabricado d e cantaria. N a s entradas d a
m e s m a rua Direita estão as duas igrejas: d a p a r t e esquerda, a de Nossa S e n h o r a do
M o n t e do C a r m o e d a p a r t e direita da m e s m a matriz, a de Nossa S e n h o r a d o Rosá-
rio dos Pretos, o l h a n d o u m a p a r a outra, c o m a matriz e m meio, fazem u m a vistosa
perspectiva.. N a m e s m a rua, defronte d a cadeia, está o oratório d e Nossa S e n h o r a d a
P i e d a d e , e m q u e se diz missa aos presos. N a r u a d a P r a i n h a está o oratório das
almas, e m q u e aquela vizinhança canta e m louvor d a M ã e de D e u s suas ladainhas.
Refere-se ajoão Crisóstomo (354-407 A.D), bispo de Constantinopla. Tido como o mais eloqüente
pregador de sua época, era, por isso, chamado de. Boca de Ouro, e entre os seus temas preferidos
estavam a denúncia contra o luxo, a defesa da educação e o cuidado com os pobres.
Artemisa, célebre rainha da Caria, provinda da Ásia Menor. Quando morreu seu esposo, o rei
Mausolo, mandou construir um túmulo tão magnífico que se tornou uma das sete maravilhas do
mundo.
293
* Finis
Vasto edifício circular encimado por uma cúpula, situado 110 Campo de Marte; era templo consa-
grado ajúpicer. Foi construído por Agripa no tempo de Augusto [27 a.C.].
294
> 15 «
A
[fl. 100 ] notícia q u e t e n h o d e M a n u e l N u n e s V i a n a é q u e , c h e g a n d o n o v a t o à
cidade d a Bahia, sucedeu ter u m a p e n d ê n c i a c o m dois ou mais h o m e n s ,
-na q u a l , quebrando-se-lhe a espada pelas guarnições, se defendeu c o m o
seu c h a p é u n a m ã o , d e sorte q u e c h e g o u a concluir u m e tirar-lhe a e s p a d a d a
m ã o , e c o m ela m a t o u a u m e se ocultou, d e cujo sucesso, t e n d o o " g o v e r n a d o r
295
• 16 «
R e c o m e n d o - v o s q u e se n ã o c o n c e d a p e r d ã o geral e m n e n h u m caso, s e n ã o
q u a n d o p a r e ç a a b s o l u t a m e n t e o p o r t u n o e necessário, e x c e t u a n d o s e m p r e os deli-
tos d e levantar casa d a m o e d a e d e falsificação, "cerceio e d i m i n u i ç ã o d e m o e d a ,
b a r r a e "bilhetes, e de usar nesta m a t é r i a d a m o d e r a ç ã o necessária, c o n c e d e n d o -
se p o r diferentes graus, a saber: p e r d o a r a p e n a corporal d o delito, c o n c e d e r espa-
ço a o p a g a m e n t o dos direitos fraudados e, u l t i m a m e n t e , p e r d o a r p a r t e d a dívida
dos m e s m o s direitos aos q u e o f r a u d a r a m .
Q u a n t o aos d i a m a n t e s , se e x e c u t a r á o q u e vai d e t e r m i n a d o p o r o r d e m Tque
p a r a i isso m a n d o a o c o n d e das Galveias e pelo " r e g i m e n t o q u e se m a n d a p a r a
execução da "matrícula, se n ã o o c o r r e r e m t ã o urgentes causas p a r a se suspender a
e x e c u ç ã o q u e p a r e ç a indispensável antes d e l a d a r - s e - m e c o n t a , e neste caso se
[ fl. 104 ] [ t o m a r ã o ! os arbítrios / / mais convenientes a o b e m do comércio d a q u e l e g ê n e r o
e à m i n h a F a z e n d a ; e no caso n ã o esperado d e se t e m e r a l g u m t u m u l t o ou princí-
p i o de "sedição, se p o d e r á p r o c e d e r c o n t r a os culpados pela v e r d a d e sabida, sem
figura a l g u m a de j u í z o e c o m a execução militar; e h a v e n d o indícios c o n t r a algu-
m a pessoa eclesiástica, se r e m e t e r á e m custódia a o seu p r e l a d o .
P r o c u r a r e i s informar-vos do lugar e sítio mais c ô m o d o p a r a assistência dos
futuros "governadores e do m o d o e despesa c o m q u e se lhes possa fazer habita-
ç ã o , que. c o m a p a r ê n c i a de casa t e n h a segurança e utilidade d e fortaleza.
D a r e i s providências a q u e se consertem as b a r c a s p a r a a p a s s a g e m dos cava-
los, à custa d e q u e m direito for, no rio e m q u e se p a g a "passagem.
D a r - m e - e i s c o n t a se será c o n v e n i e n t e q u e nas M i n a s se e s t a n q u e a l g u m gê-
n e r o ou " d r o g a ou se reservem alguns sítios minerais d e ouro ou d i a m a n t e s .
Avisar-me-eis d e t u d o q u a n t o vos p a r e c e r q u e é c o n v e n i e n t e q u e c h e g u e à
m i n h a real notícia. E se o c o r r e r caso e m q u e haja falta d e "ministro ou "oficial
s e m suspeita e vos p a r e c e r necessário p e r g u n t a r d e s , s u m á r i a o u d e v a s s a m e n t e ,
[ fl. 104v. ] a l g u m a s t e s t e m u n h a s ou escreverdes vós seus / / ditos, e p e r g u n t a n d o a o u t r a s
p e s s o a s , o p o d e r e i s fazer e n t e n d e n d o q u e assim c o n v é m a o m e u serviço. E o
m e s m o podereis m a n d a r fazer pelas pessoas q u e vos p a r e c e r , e p a r a t u d o o sobredito
vos d o u t o d o o p o d e r e fé pública necessária, c o m o t a m b é m ás pessoas q u e vós
nomeareis.
Assistireis às d e m a r c a ç õ e s das terras minerais dos d i a m a n t e s d o S e r r o do Frio,
n ã o sendo a vossa presença mais necessária em o u t r a p a r t e .
T o m a r e i s i n f o r m a ç ã o e x a t a dos sítios e m q u e h á notícias ou indícios d e se
p o d e r e m d e s c o b r i r novas m i n a s d e o u r o o u p e d r a s preciosas e se c o m a l g u m a
m á q u i n a ou artificio se p o d e m facilitar as suas lavras.
I n f o r m a r - v o s - e i s d e t o d a s as p a r a g e n s e m q u e se d e s c o b r e m c r i s t a i s ,
calcedônias, ágatas e outras p e d r a s d e estimação q u e se possam descobrir n a A m é -
rica, e das "drogas de preço q u e se possam e n c o n t r a r naquelas partes, e se c o n v é m
reservá-las a proveito da C o r o a .
P r o c u r a i alcançar notícia do curso dos rios navegáveis q u e s a e m das M i n a s ,
d a p r o f u n d i d a d e e mais circunstâncias dos seus "álveos, declividade, c a c h o e i r a s .
299
• 17 «
[ íl. 106v. ] Regimento da capitação
Cópias manuscritas:
APM, SC 02, ü. 132-137. Minuta.
APM, SC 02, íl. 140-144. C o m 28 parágrafos.
APM, SC 02, ff. 144v.-152.
A H M , 2- Divisão, l Seção, sala A, caixa 1, n. 6 (citado p o r
â
S
e n d o o r d e n a d o q u e p a r a m e l h o r a r r e c a d a ç ã o dos " q u i n t o s p o r m e i o d a
"capitação e m q u e se c o m u t o u aquele direito se assinassem, e m c a d a capita-
nia, os limites certos e m q u e se deve p a g a r , e q u e e m c a d a distrito haja u m
j u í z o d e "intendência c o m jurisdição privativa e m todas as matérias q u e p e r t e n c e -
r e m à dita c a p i t a ç ã o , hei p o r b e m q u e toda a p r á t i c a e a r r e c a d a ç ã o dela se execute
n a f o r m a d o ' r e g i m e n t o seguinte:
3*
2"
9 [fl. 108v. ]
10
F a z e n d a . E o m e s m o se p r a t i c a r á c o m os adventícios, n ã o c o n s t a n d o q u e São
"boçais.
11
12
13
D a m e s m a s o r t e , serão o b r i g a d a s a m a n i f e s t a r e m - s e t o d a s as pessoas q u e
[ fl. 110 ] tiverem "lojas, "vendas, / / boticas, cortes de c a r n e , p a g a n d o a capitação q u e lhes
foi repartida, a saber, d o z e oitavas as lojas grandes, oito as m e d i a n a s e as v e n d a s ,
e q u a t r o os mascates e lojas pequenas., d e q u e se fará assento e m livro s e p a r a d o e
se d a r ã o bilhetes de p a g a aos q u e vierem manifestar-se.
14
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18 [fl. 1 1 1 ]
p a r e c e r d o m ê s de j u l h o , a t e n d e n d o a q u e é t e m p o mais c ô m o d o , d i m i n u i n d o o
t e m p o da "correição do fim do a n o , e m q u e as c h u v a s o r d i n a r i a m e n t e dificultam
as j o r n a d a s .
19
20
21
A i n d a n o ato d a c o r r e i ç ã o , p o d e r ã o a d m i t i r à m a t r í c u l a e manifestação os
[ fl. 1 1 2 ] q u e n ã o / / tiverem p a g o e vierem c o m o u r o p a r a p a g a r e m , p o r é m n ã o lhes vale-
r ã o os bilhetes p a r a evitar as p e n a s se, q u a n d o se p a s s a r a m , houvesse j á d e n ú n c i a
ou constasse a s o n e g a ç ã o p e l a devassa, p a r a cujo efeito, n o m e s m o bilhete im-
presso, se p o r á a d a t a do dia c o m a firma do i n t e n d e n t e , "fiscal, "escrivão e "te-
soureiro, nos q u e a p a s s a r e m depois d e a b e r t a a devassa e correição. E se p o r ã o
"editais do dia e m q u e h á d e principiar,
22
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25
N e n h u m escravo, a i n d a q u e d o e n t e d e q u a l q u e r e n f e r m i d a d e , é isento d e
p a g a r capitação. P o r é m , c o m o se r e c o r r e u a favor dos inválidos^ q u e seus d o n o s
s u s t e n t a m s e m lhes fazer serviço algum, c o m o os cegos, os totalmente aleijados o u
doentes d e d o e n ç a p e r p é t u a e incurável q u e d e t o d o os incapacite, tomar-se-lhes-
ã o a rol no t e m p o d a matrícula p a r a se averiguar n a correição. E n o caso q u e nela
se a c h e ser falsa a d e c l a r a ç ã o dos d o n o s e q u e os p r e t e n d i d o s inválidos fizeram
a l g u m serviço, se lhes i m p o r ã o as p e n a s dos sonegados, sem se lhes admitir escusa
a l g u m a ou p r o v a e m c o n t r á r i o . E n e s t a m a t é r i a d e v e p r o c e d e r o " i n t e n d e n t e e
"fiscal c o m o m a i o r rigor e vigilância, c o m o t a m b é m no q u e toca aos adventícios
e fugidos.
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30
O fiscal c o p i a r á , p o r si ou p e l o " a j u d a n t e d o e s c r i v ã o , c o m o r d e m d o
i n t e n d e n t e , os livros da matrícula, p a r a ficar u m a cópia n a i n t e n d ê n c i a e ir o u t r a
p a r a o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o . N o t e m p o da "correição, irá o original, p a r a nele
se m a t r i c u l a r e m os q u e d e n o v o se a p r e s e n t a r e m , e a cópia ficará a o o u v i d o r ou
juiz, p a r a p o d e r tirar as clarezas q u e p e d i r e m os q u e q u i s e r e m tirar d e n ú n c i a , m a s
n ã o p o d e r ã o m a n d a r passar certidões; e caso q u e se passem., n ã o terão fé a l g u m a .
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[fl. U 5 v . ] 37
38
39
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G o m e s Freire d e A n d r a d e
- 18 -
[Regimento original do superintendente, guardas-mores e mais
oficiais deputados para as minas de ouro que há nos sertões do
Estado do Brasil]
Cópias impressas:
M E N D O N Ç A , Marcos Carneiro. Século XVIII, século pombalino do
Brasil. Rio de Janeiro: Xerox, 1989. p. 79-85.
L E M E , Pedro T a q u e s de Almeida Paes. Notícias das Minas de
São Paulo e dos sertões da mesma capitania. São Paulo: Comis-
são do TV Centenário da Fundação de São Paulo, [1954]. p .
189-198.
R E G I M E N T O do superintendente, guarda-mor e mais oficiais
das minas de ouro que h á nos sertões do Estado do Brasil.
Documentos Interessantes, São Paulo, v. 5 1 , p . 74-88, 1930.
E S C H W E G E , W. L. von. Pluto Brasiliensis. São Paulo: E D U S P ,
Belo Horizonte: Itatiaia, 1979. V. 1, p. 94-102.
O s u p e r i n t e n d e n t e p r o c u r a r á saber, c o m t o d o o c u i d a d o , se h á discórdias
e n t r e os mineiros ou outras pessoas q u e assistirem nas ditas M i n a s d e q u e resultem
p e r t u r b a ç õ e s e n t r e aquelas gentes e p o r á t o d a a diligência e m as atalhar; e n o caso
q u e lhe p a r e ç a ser necessário m a n d a r p r e n d e r a a l g u m a ou a l g u m a s das pessoas
q u e forem m o t o r e s d e semelhantes desordens, o fará, e os n ã o soltará s e m p r i m e i -
ro fazerem t e r m o de n ã o " e n t e n d e r e m u m c o m o o u t r o , e t e n d o c o m e t i d o c u l p a
p o r q u e a l g u m m e r e ç a m a i o r castigo / / p r o c e d e r á c o m o for direito. [ fl. 117v. ]
Referência ao atual APM, SC 02, fl. 76v.-82, que registra, com erros, cópia do regimento.
314
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II 9
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E p o r q u e m u i t a s pessoas d a B a h i a ou d a q u e l e distrito t r a z e m ou m a n d a m
gados p a r a se v e n d e r e m nas M i n a s , de que se p o d e seguir o "descaminho de meus
"quintos — p o r q u e , c o m o o q u e se v e n d e é a t r o c o do o u r o e m p ó , t o d a a q u e l a
[ íl. 122 ] quantia se h á de d e s e n c a m i n h a r — / / e p o r q u e esta matéria é de tão danosas conse-
qüências, é preciso q u e neste p a r t i c u l a r haja toda a cautela, pelo q u e o r d e n o a o
superintendente, g u a r d a - m ó r ou m e n o r o u outro qualquer "oficial q u e tendo notí-
cia t e m chegado algum gado às M i n a s façam logo notificar à pessoa ou pessoas q u e
o t r o u x e r e m p a r a Tquel v e n h a m dar "entrada das cabeças, digo, q u e trazem, e ocul-
t a n d o algumas p a g a r ã o o seu valor "anoveado e serão presas e castigadas c o m as
p e n a s impostas aos que d e s c a m i n h a m m i n h a F a z e n d a , o q u e t u d o se lhes declarará
q u a n d o os notificarem p a r a d a r e m entrada. E o superintendente saberá o preço p o r
q u e v e n d e m o dito g a d o p a r a , conforme a isso se c o b r a r e m os "quintos do o u r o
?
15 9
fiança de c o m o h ã o de p a g a r os ditos 'quintos nas ditas "oficinas, a qual fiança / / s e f fl. 122v. ]
lhes t o m a r á s e g u r a e a b o n a d a n a q u e l a q u a n t i a q u e os q u i n t o s q u e deve p a g a r
i m p o r t a r e m , e o fiador n ã o será desobrigado daquela sem mostrar c o m o a pessoa
fiada t e m p a g o os ditos quintos, e n ã o d a n d o a dita fiança quintará c o m o fica ordenado
no capítulo precedente.
16 a
17«
18 9
19 9
20 Q
21°
O s u p e r i n t e n d e n t e t e r á m u i t o c u i d a d o de e x a m i n a r se nas M i n a s assistem
ourives o u o u t r o a l g u m "oficial q u e faça fundição d e o u r o ou exercite o "ofício d e
ourives, e os q u e souber a n d e m nas ditas M i n a s lhes fará t o m a r t o d o o o u r o q u e
tiverem p a r a a m i n h a F a z e n d a , digo, e será aplicado p a r a a m i n h a F a z e n d a , e o
m e s m o será a c h a n d o - s e ouro, a i n d a q u e seja de partes, e os fará e x t e r m i n a r das
ditas M i n a s , p a r a q u e n ã o t o r n e m mais aos lugares e m q u e se fabricarem as minas,
[ fl. 124 ] e o m e s m o se observará c o m os m o r a d o r e s q u e t ê m ourives / / escravos seus nas
ditas M i n a s .
22 9
23 a
24 5
25 9
d e n u n c i a ç õ e s p o d e r ã o t o m a r os "ouvidores da c o m a r c a d e S ã o P a u l o e R i o d e
J a n e i r o , no caso q u e as p a r t e s as q u e i r a m d a r , p o r lhes ficar m a i s c ô m o d a s p e -
r a n t e eles, e os l i v r a m e n t o s lhes d a r á o " s u p e r i n t e n d e n t e , p a r a [o] q u e os ditos
o u v i d o r e s lhes r e m e t e r ã o os traslados dos autos.
27 a
2S°-
29*
E p a r a a b o a a r r e c a d a ç ã o dos quintos q u e p e r t e n c e m à m i n h a F a z e n d a , t o d o
o o u r o que sair das ditas M i n a s sairá c o m registro, p a r a o q u e o s u p e r i n t e n d e n t e
[ fl. 126 J terá u m livro p o r ele / / r u b r i c a d o e assinado, e m q u e pelo seu "escrivão se fará
323
30 a
E p o r q u e a experiência t e m m o s t r a d o q u e o " g o v e r n a d o r do R i o de J a n e i r o ,
c o m assistência das M i n a s , falta n e c e s s a r i a m e n t e a q u e deve fazer n a c i d a d e de
São Sebastião, d a qual se n ã o deve a p a r t a r sem ocasião q u e i m p o r t e mais a m e u
serviço, lhe o r d e n o q u e n ã o possa ir às ditas M i n a s / / sem especial o r d e m m i n h a , [ A- 126v. ]
assim ele c o m o os mais q u e lhe s u c e d e r e m , salvo p o r u m acidente tal q u e a n ã o
possa e s p e r a r e q u e se lhe d a r i a e m culpa se a ela c o m p r o n t i d ã o n ã o acudisse.
31 2
32 Q
• 19 .
A P M , SC 0 1 , H. 87v.
A P M , SC 02, fl.82.
APM, SC 02,11. 123.
ANRJ, Coleção Governadores do Rio dê Janeiro, 1, X V , fl. 2v.
U S P / I E B , Coleção Lamego, cód. 26, A8, fl. 8v.-9.
Cópias impressas:
L E M E , Pedro T a q u e s de Almeida Paes. Noticias das Minas de
São Paulo e dos sertões da mesma capitania. São Paulo: Comis-
são do IV Centenário da Fundação de São Paulo, [1954]. p .
201.
R E G I M E N T O do superintendente, guarda-mor" e mais oficiais
das minas de ouro que há nos sertões do Estado do Brasil.
Documentos Interessantes, São Paulo, v. 5 1 , p . 89, 1930.
• 20 «
> 21 -
• 22 <
* Tl "V esembargador J o s é V a z Pinto. Eu, el-rei, vos envio muito saudar. Fazen-
11 D do-se-me p r e s e n t e pelo m e u C o n s e l h o U l t r a m a r i n o as dúvidas q u e se
jL S vos ofereceram a vários capítulos do "regimento que m a n d e i fazer p a r a
dele usardes n a "superintendência das Minas do O u r o de q u e vos t e n h o encarrega-
do, e m a n d a n d o - a s ver e m a "junta particular, p o r se lhes reconhecer, c o m o apontais,
e a impossibilidade e g r a n d e prejuízo q u e resultaria à Fazenda Real de se minerarem
as "datas por conta da mesma Fazenda quando se não possam arrematar por lanço / / [ fl. 128v. ]
330
• 23 «
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
N a s t e r r a s o n d e estiverdes e q u i n z e "léguas a o r e d o r , c o n h e c e r e i s d e a ç ã o
n o v a n o cível e crime, e tereis n o cível, d e alçada, até c e m mil *réis sem apelação
n e m a g r a v o , e s e n d o mais q u a n t i a dareis a p e l a ç ã o e a g r a v o p a r a a R e l a ç ã o d a
Bahia, r e q u e r e n d o as p a r t e s .
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
C a p í t u l o 10
C a p í t u l o 11
E assim t a m b é m conhecereis dos q u e se tirarem dos "juízes / / dos órfãos, n ã o [ fl. 130v. ]
estando nessa repartição o p r o v e d o r da c o m a r c a , p o r q u e ã ele, e n ã o a o p r o v e d o r
n o m e a d o pela Mesa da Consciência, pertence o conhecimento dos ditos agravos.
C a p í t u l o 12
C a p í t u l o 13
E p o r q u e m u i t a s vezes h á d ú v i d a e n t r e o "ouvidor-geral e o p r o v e d o r d a
F a z e n d a , q u e r e n d o c a d a qual a m p l i a r sua j u r i s d i ç ã o , j u l g a r e i s t o d a s as c a u s a s ,
assim d e h o m e n s d o m a r c o m o dos m a i s q u e n ã o t o c a r e m a m i n h a F a z e n d a ,
p o r q u e dessas é juiz o dito p r o v e d o r .
C a p í t u l o 14
C a p í t u l o 15
C a p í t u l o 16
C a p í t u l o 17
C a p í t u l o 18
C a p í t u l o 19
Capítulo 20
C a p í t u l o 21
Capítulo 22
Capítulo 23
C a p í t u l o 24
> 24 <
E u , o p r í n c i p e , c o m o regente, e g o v e r n a d o r destes r e i n o s d e P o r t u g a l e
Algarve, faço saber aos q u e esta m i n h a "provisão v i r e m q u e , t e n d o respei-
to a o q u e se m e r e p r e s e n t o u p o r p a r t e dos "oficiais d a C â m a r a do R i o d e
J a n e i r o , e m r a z ã o das dúvidas q u e de o r d i n á r i o s u c e d e m n a q u e l a c a p i t a n i a sobre
m a t é r i a s d e j u r i s d i ç ã o e n t r e os "ouvidores-gerais / / e os " p r e l a d o s eclesiásticos, [ fl. 133v. ]
p o r se n ã o h a v e r c o n c e d i d o p o d e r é f a c u l d a d e a q u e m haja d e resolver estas
dúvidas, de q u e se segue proceder-se a declarações e censuras e interditos, e fica-
r e m m e u s vassalos s e m o r e m é d i o de q u e necessitam n o espiritual, h e i p o r b e m
q u e os ouvidores-gerais d a dita capitania d o R i o d e J a n e i r o sirvam j u n t a m e n t e d e
"juízes d a C o r o a , p a r a c o m isso se evitarem semelhantes controvérsias, p e l o q u e
m a n d o a o " g o v e r n a d o r d a dita capitania, mais "ministros e pessoas a q u e p e r t e n -
cer t e n h a m e n t e n d i d o o q u e p o r esta o r d e n o e a c u m p r a m e g u a r d e m n o q u e lhes
tocar m u i t o i n t e i r a m e n t e c o m o nela se c o n t é m sem dúvida a l g u m a , a qual valerá
c o m o "carta e n ã o p a s s a r á p e l a C h a n c e l a r i a , s e m e m b a r g o d a O r d e n a ç ã o do livro
s e g u n d o , títulos 39 e 4 0 e m contrário, e se passou p o r duas vias, Pascoal d e Aze-
v e d o a fez e m L i s b o a a 22 de m a i o d e 1674. O secretário M a n u e l B a r r e t o d e
S a m p a i o a fez escrever. Príncipe.
338
25
• 26 «
[Resolução sobre procedimentos da ouvidoria no caso de recursos
à Relação da Bahia]
Rei.
341
27
1
Residíreis n a viía d e S ã o P a u l o , p o r ser a p a r t e mais a p t a e a c o m o d a d a p a r a
as p a r t e s irem r e q u e r e r sua justiça, e fareis as "correições d a dita vila e sua c o m a r c a ,
q u e p e l a m a r i n h a c o m e ç a r á d a vila de Santos e a c a b a r á n a ú l t i m a p o v o a ç ã o d a
p a r t e do sul, e pelo sertão c o m p r e e n d e r á as vilas circunvizinhas à de S ã o P a u l o d a
m e s m a c a p i t a n i a e o. q u e mais h o u v e r p o v o a d o p a r a o sul, u s a n d o nela, e m t u d o
o m a i s , do r e g i m e n t o dos "corregedores e "provedores das c o m a r c a s , inserto n a
O r d e n a ç ã o n o q u e n ã o e n c o n t r a r n o disposto neste r e g i m e n t o . E m u i t o p a r t i c u -
l a r m e n t e vos informareis se os "donatários u s a m d e mais p o d e r e s e jurisdição dos
q u e lhes são concedidos p o r suas doações, e "provisões m i n h a s , e f o r m a d a O r d e -
n a ç ã o , e outrossim sabereis se os eclesiásticos u s u r p a m m i n h a jurisdição, e a u n s e
[ fl. 135v. ] outros n ã o consentireis q u e o façam / / e m e dareis c o n t a do q u e nisso a c h a r d e s e
o b r a r d e s e do mais e m q u e vos p a r e c e r necessário prover-se, d a n d o as razões q u e
p a r a isso se vos oferecerem, e t u d o isso m e enviareis pelo m e u C o n s e l h o U l t r a m a -
rino.
T o m a r e i s as d e n u n c i a ç õ e s q u e vos d e r e m d e a l g u m a s p e s s o a s q u e d e s e n -
c a m i n h a r e m o o u r o aos meus / / "quintos, o u as tais d e n u n c i a ç õ e s se façam e m [A- 137 ]
344
7
E p o r q u a n t o pelas vexações q u e m e u s vassalos q u e vivem nas terras d o ultra-
m a r p a d e c e m c o m a j u r i s d i ç ã o dos "ministros eclesiásticos de q u e a l c a n ç a m tão
tarde o recurso, b u s c a n d o - õ neste R e i n o , e convir q u e nas ditas p a r t e s haja minis-
[ íl. 137v, ] tro q u e a c u d a às ditas vexações, c o m o neste / / R e i n o o h á c o m o "juízes dos feitos
d a C o r o a , hei p o r b e m e vos m a n d o q u e vos façais de j u i z dos feitos da C o r o a
nessa vila e c o m a r c a ; procedereis n a forma e m q u e neste R e i n o p r o c e d e m os ditos
juízes e possais p r o v e r os agravos interpostos dos ministros eclesiásticos. E p a r a
q u e p o r este m e i o se possa a d m i n i s t r a r j u s t i ç a c o m q u i e t a ç ã o , hei p o r b e m q u e
vós, c o m a l g u m "letrado j u i z h a v e n d o - o , e n ã o o h a v e n d o c o m o u t r o q u a l q u e r
l e t r a d o ou b a c h a r e l , a i n d a q u e seja a d v o g a d o , n ã o o sendo n a m e s m a causa, e
n ã o h a v e n d o a l g u m destes c o m o j u i z ordinário mais velho q u e nesse t e m p o for
. d a dita vila e c o m o vigário da m a t r i z dela, q u e t a m b é m será a d j u n t o c o m o
letrado h a v e n d o - o , e c o m o adjunto c o m eles procedereis nas ditas causas; e sendo
i m p e d i d o o juiz o r d i n á r i o mais velho do p r é s e n t e a n o , será o juiz mais velho do
a n o p a s s a d o ; e s e n d o o u t r o s s i m o vigário d a m a t r i z , será o v i g á r i o q u e for d a
igreja mais vizinha, e e m caso q u e os primeiros e m p a t e m n a m e s m a forma serão
adjuntos, no caso do e m p a t e , os segundos n o m e a d o s p a r a q u e a d e t e r m i n a ç ã o se
v e n ç a p o r três votos conformes.
10
E as sentenças q u e p o r vós h o u v e r e m de passar sejam feitas e m m e u n o m e e
assinadas p o r vós e. seladas c o m os selos de m i n h a s a r m a s , e servireis d e "chanceler d a
O u v i d o r i a , e tereis e m vosso p o d e r o dito selo p a r a c o m ele selares as ditas cartas e
sentenças, das quais se p a g a r ã o e a r r e c a d a r ã o p a r a a m i n h a F a z e n d a os direitos
c o n f o r m e se p a g a m n a C h a n c e l a r i a da C o r t e , do q u e tereis certidão do escrivão dela,
os quais direitos se c a r r e g a r ã o sobre o tesoureiro da chancelaria, e n ã o o h a v e n d o
sobre r e c e b e d o r d e m i n h a F a z e n d a pelo escrivão dela. E outrossim selareis todos os
p r o v i m e n t o s dos "ofícios q u e o g o v e r n a d o r do Estado do Brasil fizer, segundo o seu
"regimento, de q u e p a g a r ã o os providos, e fareis c o b r a r os direitos q u e d e v e r e m
c o n f o r m e o livro das avaliações dos ditos direitos, e u m e o u t r o r e n d i m e n t o se
i n c o r p o r a r ã o c o m o mais de m i n h a F a z e n d a p a r a satisfação dos "filhos d a folha,
e n q u a n t o ele n ã o / / chegar a seus p a g a m e n t o s e eu n ã o m a n d a r o contrário. r fl_ 139 ]
II
12
E vos m a n d o q u e deste p o d e r e alçada useis e n q u a n t o n a vila de São Paulo e
sua c o m a r c a andares e n ã o t o m a r posse o vosso sucessor. E p a r a q u e o dito p o d e r e
346
alçada seja notório a todas as pessoas d e vossa jurisdição, logo q u e chegardes à dita
vila de São Paulo, primeiro q u e useis dele, apresentareis este "regimento n a C â m a -
ra d a dita vila e notificareis tudo o que nele se c o n t é m aos "juizes e "oficiais dela, e
o fareis registrar no livro d a dita C â m a r a , p a r a q u e a todo o t e m p o conste do p o d e r
e alçada q u e vos tenho d a d o . E m a n d o ao "governador e capitão-generaí do Estado
do Brasil e aos mais governadores e "capitães-mores que n a dita vila e sua c o m a r c a
[ fl 139v ] ' ^ n o u v e r
' e
k e m
assim aos juízes, "vereadores e "provedores do concelho d a dita
vila e das mais anexas, e aos fidalgos, cavaleiros e escudeiros, " h o m e n s b o n s e mais
pessoas q u e vos deixem u s a r do p o d e r è alçada q u e p o r este regimento assim vos
dou, sem nisso ser posta dúvida ou embargo alguns, p o r q u a n t o assim o hei p o r b e m
da J u s t i ç a e m e u serviço. E este valerá, posto q u e seu efeito haja de d u r a r mais d e u m
ano, s e m e m b a r g o d a O r d e n a ç ã o do livro s e g u n d o , título q u a r e n t a e m contrário.
M a n u e l G o m e s d a Silva o fez e m Lisboa, f4l de j a n e i r o de 1700. O secretário
A n d r é Lopes de Lavre o fez escrever.
Rei.
28
[Carta régia ao governador e capitão-general de São Paulo
e Minas do Ouro sobre expulsão de clérigos das Minas]
J o s é C a r d o s o Peleja.
29
Cópia manuscrita:
A P M SC 0 1 , fl.170v.-171.
S
349
Cópia [fl. 1 4 3 ]
P e d r o d e L i m a C u r a d o , "escrivão d a O u v i d o r i a G e r a l e C o r r e i ç ã o d a
c o m a r c a d e Vila R i c a d e Nossa S e n h o r a d o Pilar do O u r o Preto etc. Aos
q u e a p r e s e n t e certidão virem, certifico e p o r t o fé q u e pelo d o u t o r C a e t a n o
d a C o s t a M a t o s o , "ouvidor-geral e "corregedor desta c o m a r c a , m e foi a p r e s e n t a -
[fl. 144 ]
A
' Provisão
Pedro de L i m a C u r a d o .
C o p i a d a p o r m i m escrivão.
P e d r o de L i m a C u r a d o .
• 31 «
N ú m e r o [—] [fl. 1 4 6 ]
r e s i d ê n c i a a p a r t e q u e l h e p a r e c e s s e m a i s c o n v e n i e n t e , o r d e n a n d o - s e - l h e fun-
dasse a l g u m a s p o v o a ç õ e s , e q u e pelo q u e r e s p e i t a v a aos "quintos d o o u r o q u e
se a r r e n d a s s e m p o r c o m a r c a s , fazendo-se d e c a d a u m a u m a r r e n d a m e n t o p e l o
m e n o s t e m p o q u e p u d e s s e ser, c o n t a n t o q u e n u n c a passasse d e dois a n o s , e q u e
p u d e s s e l e v a n t a r " c a s a de fundição. E p a r a q u e p u d e s s e m e l h o r e x e c u t a r t u d o ,
se lhe o r d e n a v a levantasse logo u m r e g i m e n t o d e infantaria d e l o t a ç ã o d e 4 0 0
a t é 5 0 0 p r a ç a s e q u e p u d e s s e , p o r a q u i d a r , n o m e a r p a r a ele os "oficiais
necessários, e x c e t o "coronel, q u e seria c o n s u l t a d o .
" C a r t a d e 27 d e d e z e m b r o de 1709, p o r q u e foram p e r d o a d o s os m o r a d o r e s
das M i n a s a respeito dos "levantamentos c o m os paulistas.
C a r t a d e 9 de j u n h o d e 1 7 1 1 , p o r q u e se declarou ao g o v e r n a d o r das M i n a s
q u e , visto q u e o "bispo do R i o de J a n e i r o n ã o tinha executado a o r d e m p a r a q u e
n ã o fossem frades n e m "clérigos sem e m p r e g o às M i n a s , os expelisse p o r força e
c o m violência, q u a n d o d e o u t r a sorte n ã o quisessem sair.
" P o r t a r i a d e 2 0 de abril d e 1703, p o r q u e se fez m e r c ê a G a r c i a R o d r i g u e s
Pais d e u m a vila n a p a r a g e m do P a r a í b a d o Sul pelo serviço de a b r i r o c a m i n h o
das M i n a s , q u e até aquele a n o h a v i a feito.
E m 1713 foi n o m e a d o p a r a "ouvidor do R i o das V e l h a s F e r n ã o P e r e i r a d e
Vasconcelos,
C a r t a de 16 d e n o v e m b r o de 1714, p a r a q u e a c o b r a n ç a dos quintos fosse
p o r "bateia, e m 12 ou 10 "oitavas.
"Provisão d e 4 d e j u n h o d e 1718, p o r q u e se o r d e n o u q u e o o r d e n a d o d e
" g o v e r n a d o r fosse d e 8 mil "cruzados, o de ouvidor d e 5 0 0 mil "réis e o d e "secre-
tário do g o v e r n o de 4 0 0 mil, e q u e se. pagassem e m m o e d a .
Provisão de .16 de abril d e 1738, p o r q u e foi c r i a d a casa d e misericórdia e
hospital e m Vila Rica.
"Lei d e 20 d e m a r ç o d e 1720, p o r q u e se p r o í b e q u e n i n g u é m [passe] a o
Brasil s e m passaportes, s e n ã o as pessoas providas e m cargos públicos.
N ú m e r o 20 [fl. 1 4 7 ]
" D e c r e t o d e 3 de j a n e i r o de 1735, p o r q u e se m a n d a p a g a r o m e s m o o r d e n a -
d o d e " g o v e r n a d o r das M i n a s a G o m e s Freire, q u e m a n d a i n t e r i n a m e n t e substi-
tuir a o c o n d e das Galveias, c o m e ç a n d o à vêncê-lo do d i a q u e e n t r a r n o distrito da
capitania até a o e m q u e sair dela.
"Alvará d e 21 de m a r ç o d e 1734, p o r q u e se d ã o livres os escravos dos ecle-
siásticos, g o v e r n a d o r e s e "ministros.
[ fl. 149v. ] Certidão d e 1714 do escrivão da F a z e n d a d a Bahia, e m que se dão nas festivi-
dades áo governador 9 "arrobas de "cera, a o "proyedor-mor 4 arrobas e meia etc.
D e c r e t o de 3 de fevereiro d e 1741, p o r q u e se m a n d o u se dessem por "donativo
os "ofícios.
"Provisão d e 13 d e agosto de 1738, p o r q u e se m a n d o u fazer a o b r a deste
palácio, p o r se dizer q u e custaria 20 mil "cruzados e p o r se d i z e r q u e n a . f o r m a q u e
se a p o n t a v a ficava u m a c o m p a n h i a de cavalos, g o v e r n a d o r , "provedoria, "inten-
dência, a r m a z é n s e secretaria debaixo de u m a g u a r d a , a q u a l se segurava c o m u m
r e d u t o d e q u a t r o peças q u e a q u i há; s e m haver o u t r a a l g u m a o r d e m , se foi conti-
n u a n d o a o b r a à disposição do g o v e r n a d o r , q u e passou de c e m mil c r u z a d o s , e só
de c a n t a r i a se p a g a r a m a m e d i ç ã o 19 mil e 500 cruzados.
[ fl. 150 ] Alvará d e 27 d e o u t u b r o d e 1733, p o r q u e se p r o í b e abrirem-se novos cami-
n h o s ou picadas p a r a quaisquer minas, t a n t o q u e nelas se tiver j á d a d o f o r m a d a
a r r e c a d a ç ã o d a F a z e n d a R e a l , e sendo preciso se lhe faça p r e s e n t e c o m a p e n a
m e s m a dos q u e " d e s e n c a m i n h a m o u r o .
Alvará d e 26 d e m a r ç o d e 1 7 2 1 , p o r q u e se o r d e n a q u e os escravos q u e se
c o m p r a r e m fiados p a r a m i n e r a r e se n ã o p u d e r e m p a g a r no t e m p o c o m i n a d o p o r
faltarem as "faisqueiras se avaliem p o r dois h o m e n s peritos, e os credores os to-
m e m pela avaliação no caso q u e os lanços que levarem e m p r a ç a n ã o c h e g u e m à
avaliação, t u d o feito e m beneficio dos mineiros e p o r a t e n ç ã o à g r a n d e diminui-
ção p o r q u e lhes e r a m a r r e m a t a d o s , n ã o p o d e n d o pagá-los.
Provisão d e 24 d e fevereiro d e 1720, p o r q u e se o r d e n a sejam s u m á r i a s as
c a u s a s das t e r r a s e á g u a s m i n e r a i s , p e l o g r a n d e p r e j u í z o q u e resulta d e s e r e m
o r d i n á r i a s e estarem,, c o m as apelações e mais d e m o r a s , e m p a t a d o s os serviços e
extração do o u r o .
Lei de 10 d e m a r ç o d e 1720, p o r q u e se m a n d a confiscar t o d o o o u r o , b a r r a
ou dinheiro q u e foi do Brasil sem ser registrado.
Provisão d e 18 de fevereiro d e 1719, p o r q u e se m a n d a r a m e x t e r m i n a r das
M i n a s todos os ourives e pessoas q u e tivessem exercido este ofício d e n t r o d e três
meses, c o m a p e n a de confiscação de bens e seis anos d e d e g r e d o p a r a á í n d i a , e
p o r provisão d e 18 d e j u n h o de 1725 foi declarada esta o r d e m , dizendo-se q u e se
n ã o e n t e n d i a daqueles q u e t i n h a m sido ourives e j á n ã o u s a v a m dos ofícios e só
e x e r c i a m o m i n e r a r ou o u t r a o c u p a ç ã o .
Provisão d e 16 de maio de 1722, p o r q u e se fez caso de "devassa o fabricar-
se o u r o falso e q u e os "ouvidores a tirem e se p r o c e d a n a forma d a O r d e n a ç ã o ,
livro 5, título [57?].
361
n ã o c h e g a v a m os d e s p a c h o s q u e se l h e m a n d a v a m e x p e d i r e s e r v i r i a c o m
"predicamento de primeiro "banco.
"Provisão de 12 de d e z e m b r o de 1734, p o r q u e se d e c l a r a q u e , a t e n d e n d o -
se às representações das c â m a r a s destas M i n a s n a g r a n d e v e x a ç ã o q u e p a d e c i a m
n a dilação dos recursos à Bahia, se erigisse no R i ó d e J a n e i r o u m a "relação c o m a
m e s m a a l ç a d a q u e a da Bahia e q u e o distrito dela seria d e t u d o o q u e ficasse p a r a
a p a r t e d o Sul até o rio d a P r a t a e d e t u d o o q u e tocasse a M i n a s .
P r o v i s ã o d e 18 d e agosto d e 1739, p o r q u e se d e c l a r a q u e n ã o p o d e m os
" o u v i d o r e s s e n t e n c i a r d e *per se c o m apelo p a r a a B a h i a os m u l a t o s , "carijós e
negros, m a s só e m "junta, p a r a q u e seja m a i s p r o n t o o castigo.
" D e c r e t o de 18 d e m a i o d e 1722, e m q u e se o r d e n a q u e as p r o p r i e d a d e s dos
"ofícios q u e d e n o v o se h a v i a m c r i a d o nas c o n q u i s t a s d o Brasil e dos q u e p a r a
a d i a n t e se criassem (exceto os de recebimento) se provessem p o r "donativo p a r a a
F a z e n d a R e a l e q u ê e n q u a n t o n ã o t i v e s s e m p r o p r i e t á r i o c o n t r i b u í s s e m os
"serventuários no fim do a n o c o m a terça p a r t e do q u e d e n t r o dele rendessem.
D e c r e t o de 2 d e d e z e m b r o d e 1740, p o r q u e se o r d e n a q u e a dita contribui-
ç ã o do d e c r e t o a c i m a q u e se p r a t i q u e t a m b é m [nas] "serventias dos ofícios e m
q u a l q u e r t e m p o criados q u e estivessem vagos ou v a g a r e m e estiverem e m termos
d e se p r o v e r e m , e n q u a n t o S u a M a j e s t a d e fosse servido, p o s t o q u e n o t e m p o do
sobredito decreto tivessem ou depois dele h a j a m tido p r o p r i e t á r i o s .
Provisão d e 19 de s e t e m b r o d e 1742, q u e serão p o r correntes as "residências
dos "ministros d o Brasil s e m certidão d a R e l a ç ã o d a Bahia, p o r q u e conste t e r e m
c u m p r i d o as o r d e n s dela.
[ fL 152v. ] P o r decreto d e 14 de m a r ç o d e 1743 se m a n d o u q u e os ofícios d e justiça se.
conservassem n o estilo e m q u e se a c h a v a m q u a n d o se a r r e n d a r a m sem inovação
a l g u m a , regulando-se os e m o l u m e n t o s pelos regimentos a p r o v a d o s e n a falta pelo
c o s t u m e , e q u a n d o houvesse a l g u m a coisa q u e nesta m a t é r i a se precisasse d e p r o -
vidência, se l h e fizesse p r e s e n t e , e q u e s o b r e isto se p e r g u n t a s s e n a s residências
dos ministros.
Provisão d e 12 d e maio d e 1744, p o r q u e se o r d e n a aos ouvidores n ã o sen-
t e n c i e m os recursos c o m o "juízes da C o r o a s e m adjuntos, c o m o até ali se observa-
v a , e q u e fossem adjuntos dois ministros "letrados atuais q u e o g o v e r n a d o r n o m e -
asse e n t r e os desta vila e R i b e i r ã o , e n a sua [falta] alguns a d v o g a d o s d e b o a cons-
ciência ou eclesiástico f o r m a d o , a q u e m daria j u r a m e n t o .
Provisão de 2 9 de m a i o d e 1744, p o r q u e se o r d e n a sirvam os sindicantes os
lugares dos ouvidores n o m ê s d a residência, a i n d a q u e esteja p r e s e n t e o o u v i d o r
d e novo p r o v i d o , o q u e se n ã o praticaria assim se se m a n d a s s e tirar segunda resi-
dência a t e m p o q u e o seu sucessor tiver j á d e posse, p o r n ã o ser j u s t o largar o lugar
p e l a c u l p a d o seu antecessor.
365
*Provisão d e 31 de d e z e m b r o d e 1735, p o r q u e se m a n d o u q u e c o m o n ú -
m e r o de q u a t r o "ministros j u n t a m e n t e se fizesse nesta vila "junta e m q u e se sen-
tenciasse à m o r t e os negros, m u l a t o s e "carijós, e q u e estes fossem o o u v i d o r , o
juiz d e fora do Ribeirão e os dois q u e se achassem mais p r ó x i m o s , q u e o governa-
d o r c o n v o c a r i a e presidiria p a r a d e s e m p a t e .
Provisão de 4 de setembro de 1748, [por que] se m a n d o u se praticasse a "reso-
lução acima d e 12 de m a i o de 1744 tanto n o R i o de J a n e i r o e São P a u l o c o m o e m
todas as M i n a s , e q u e os ouvidores n ã o sentenciem d e *per se só os recursos, e q u e
declarava m a i s q u e nas c o m a r c a s e m q u e houver "juízes de fora, "intendentes ou
"provedores d a F a z e n d a "letrados se e n t e n d a m estes n o m e a d o s p a r a adjuntos dos
ouvidores, é nas c o m a r c a s e m q u e faltarem n o m e i e m os ouvidores a d v o g a d o s d e
consciência ou a l g u m eclesiástico letrado, e p o r atenção à brevidade q u e se requer
nos recursos [ordena?] q u e os ouvidores p r e p a r e m os autos de per se sós, c o m o se
pratica n o j u í z o d a C o r o a do Porto, e q u a n d o os eclesiásticos d e m o r e m d a r os autos
e as respostas se defira aos recursos sem os ditos autos e só c o m certidão de [notifica-
ção?] d e c o m o lhos pediu primeira e segunda vez, e q u e q u a n d o o escrivão h o u v e r
de passar certidão d e n ã o cumpridas as cartas notifique logo aos juízes eclesíáticos
p a r a irem ou m a n d a r e m - n o s fazer assento n o D e s e m b a r g o d a Bahia, c o m o j á estava
d e t e r m i n a d o pelas resoluções d e 25 d e m a i o d e 1744 e 27 d e j a n e i r o d e 1 7 1 1 , e
q u e estas se observassem, assim c o m o o "decreto d e 13 d e [setembro?] d e 1706,
q u e dispõem q u e os juízes eclesiásticos s u s p e n d a m nos procedimentos logo q u e lhes
forem intimados os recursos.
Provisão d e 19 d e d e z e m b r o d e 1748, p o r q u e se o r d e n a q u e os intendentes
sirvam os lugares dos ouvidores nas suas faltas n ã o havendo na c o m a r c a juízes d e fora.
A 18 d e j u n h o d e 1720 t o m o u p o s s e o s e n h o r A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e [ fl. 1 5 3 ]
C o e l h o d e C a r v a l h o , " g o v e r n a d o r q u e erà da c a p i t a n i a do R i o d e J a n e i r o , n a
C â m a r a d a vila d e São Paulo (depois foi cidade) do governo d a q u e l a capitania e
d a destas M i n a s , então unida, de que se fez termo n a m e s m a C â m a r a n o dito dia etc.
E m 1713 t o m o u posse, e m São P a u l o , o s e n h o r d o m Brás Baltasar d a Silveira
d a q u e l e e deste g o v e r n o .
E m 1717 t o m o u posse, n a m e s m a cidade, o s e n h o r d o m P e d r o d e A l m e i d a
dos m e s m o s g o v e r n o s .
• 32 «
[11. 157 ] Cópia do que o povo das Minas, amotinado, pediu ao senhor
general dom Pedro de Almeida Portugal, conde de Assumar
P r i m e i r a m e n t e , n ã o c o n s e n t e m e m "casas d e f u n d i ç ã o , c u n h o s e m o e d a .
N ã o c o n s e n t e m e m "contrato novo a l g u m q u e n ã o esteja e m estilo até o
presente.
N ã o c o n s e n t e m q u e se p a g u e o "registro d a B o r d a do C a m p o , pelo d e s c ó m o d o
q u e dá, sô sim t r a g a "bilhete c a d a qual das cargas q u e trouxer p a r a delas p a g a r
m e i a " o i t a v a p o r "seco e " m e i a p a t a c a p o r " m o l h a d o a o n d e c a d a u m for s u a
direita descarga, p a r a o q u e se elegerão cobradores e levarão recibo p a r a se des-
c a r r e g a r e m n p dito registro.
E , outrossim, levarão pelos negros a oitava e m e i a p o r c a d a u m , e q u e r e m
segurar a Sua M a j e s t a d e , q u e D e u s g u a r d e , as trinta " a r r o b a s de o u r o , l a n ç a n d o -
se a c a d a n e g r o u m a oitava e meia; e n o caso q u e esta n ã o chegue, se o b r i g a m a
inteirá-las, p a r a o q u e contribuirão as "lojas e "vendas c o n f o r m e a falta q u e h o u -
v e r p a r a a dita c o n t a , de sorte q u e n ã o passem d e cinco oitavas c a d a u m a , p a r a
cuja c o b r a n ç a elegerão as c â m a r a s dois h o m e n s e m c a d a arraial ou os q u e neces-
sário forem.
Q u e r e m q u e toda a pessoa q u e ocultar negros ou q u a i s q u e r escravos fiquem
confiscados p a r a a F a z e n d a R e a l , o q u e t a m b é m c o m p r e e n d e os "quintos d o p r e -
sente a n o , p a r a o q u e se deve fazer novo l a n ç a m e n t o , p a r a nesta forma se c o b r a r
d e q u e m n ã o tiver p a g o e se r e p o r aos q u e j á p a g a r a m o excesso d a dita u m a
oitava e m e i a p o r c a d a escravo.
Q u e r e m p a r a serviço d e D e u s e de Sua M a j e s t a d e , q u e D e u s g u a r d e , e conser-
v a ç ã o d a "república q u e n e n h u m n e g r o n e m n e g r a se a r r e m a t e n a p r a ç a pelos
preços tão diminutos c o m o se t e m visto, m a s sim se avaliem p o r dois "louvados d e
sãs consciências e q u e os a c r e d o r e s os t o m e m pelas avaliações q u a n d o n ã o haja
a r r e m a t a n t e s , o q u e t a m b é m se observará nas p r o p r i e d a d e s ou casas.
Q u e r e m t a m b é m se d ê "regimento p a r a os salários dos "escrivães, "tabeliães,
" m e i r i n h o s , "alcaides e assinaturas d e "ministros, "oficiais, m a i o r e s e menores^ e
este seja pelo do R i o d e J a n e i r o , de sorte q u e se lá forem q u a t r o "vinténs de p r a t a
n ã o d u v i d a m q u e cá sejam d e o u r o , e o m a i s a este respeito p a r a nesta f o r m a se ;
Grande edifício no monte Sião com uma igreja e convento, construídos, segundo a tradição, no
mesmo local em que Cristo realizou a Ultima Ceia.
p o r são T o m é o u o discípulo q u e da J u d é i a t r o u x e r a pelo preceito d e saírem d e
dois e m dois) o n o t a d o interpretativamente no n ú m e r o dos hieroglíficos históricos
d a m o r t e de Cristo é m se v e r e m n a r e g r a q u a r t a só dois, p a r e c e n d o q u e h a v i a m d e
estar três (pelo q u e se viu), u m a c r u z q u e simboliza o R e d e n t o r e duas a D i m a s e
G e s t a s , j á f u t u r i z a d o p o r Isaías (53,12), e t a m b é m n o t a d o a idéia r e l e v a n t e n a
figura delas, e c o m elevadíssimo f u n d a m e n t o o lugar e m q u e estão postas, e n ã o
n a *regra p r i m e i r a , e m q u e p a r e c e h a v i a m estar designadas, o n d e se a c h a o u t r a
c r u z c o m diversa figura, e n e c e s s a r i a m e n t e p e l o q u e a l e g ó r i c a m e n t e simboliza,
c o n s p i r a n d o t u d o r e c i p r o c a m e n t e p a r a o referido discurso, e t a m b é m do auxílio
q u e d á a lição dos caracteres, c o m o elementares uns, c o m o científicos (ou iniciais)
outros (ou alguns), e d a classe d a aritmética t a m b é m outros, a o uso dos r o m a n o s
p r a t i c a d o n a Palestina (ou J u d é i a ) d o m i n a d a destes e d o n d e s a í r a m os apóstolos.
34
[ fl. 160 ] Interpretação que deu o padre José Mascarenhas, *lente de prima
no colégio do Rio de Janeiro, às letras de que se trata
Germens da fé.
Germens da cruz de Cristo.
380
" x " , d o n d e veio o a n t i q u a r o faxit, e p a r a os gregos o " x " é " c " , c o m a expiração
7
d o " h " , e algumas vezes se a c h a e m escrituras antigas o " x " p o r " c e " .
3
- No original, mX\, LLUJ, {TtTi .
^- Nasceu em Belluno no ano de 1477 e faleceu em Pádua uo ano de 1558. Organizou a compilação
mais completa sobre as escritas hieroglíficas, uma espécie de dicionário traduzido para o francês e
italiano, tratando dos hieróglifos egípcios, simbolismo das lápides e dos besLiários (Dialogo deite volgar
língua y hieroglyphica, Basiléia, 1556 e Hieroglyphica sivc de sacris Egyptiorum aliarumque gentium literís,
1556).
J
• Considera-se- no verdadeiro sinal egipicio parece mostrar que aquela linha seja alongada ainda que
apenas a que esteja asinalada seja "x", podendo contudo acrescentar unidade a si..
BLUTEAU, Rafael. Prosas portuguesas, recitadas em diferentes congressos académicos, pelo padre,
dom Rafael Bluteau. Parte primeira e parte segunda. Lisboa ocidental: Oficina de Joseph Antônio
da Sylva, 1727-1728.
^ • Forma latina arcaica equivalente à forma clássica fecerit.
Q u i n t o , q u e os "gentios d a A m é r i c a t i n h a m p o r nomes próprios ou n o m e d a
flor ou d e peixe, ervas, p a u s [nativos?] dos mais célebres do seu país, e p o r translação
o u "facécia c h a m a n d o - s e o p a i c o m o n o m e d a flor ou erva c h e i r o s a [nativa?]
c h a m a v a m aos filhos r a m i n h o s ou grelos dessa flor ou e r v a , e p o r isso d i z i a m
*xeremi *caá, *ambiquira, m e u s grelos, m e u s r a m i n h o s , m e u s filhos.
O q u e posto,
a "regra p r i m e i r a q u e r dizer:
" Polígrafo alemão, nasceu em Geisa em 1601 e faleceu em Roma no ano de 1680. Ingressou na
ordem dos Jesuítas em 1618. Estudioso da cultura, religião e costumes do Egito antigo e sobretudo
de interpretação dos hieróglifos e dos monumentos antigos. Suas principais obras s3o: Sepecula
melitmses encydka, 1638; Língua aegyptiaca restituta, Roma, 1664.
Germens da cruz de Cristo.
O- Germens da fé de Cristo.
382
a "regra segunda:
[ fl- 1 6 1 ] Nativitatis (id est anno Nativitatis Domini) quarto supra quinquagesimum}' / / porque
as q u a t r o u n i d a d e s n ã o estão ligadas c o m " X " a d i a n t e , q u e vale dez, e p o r isso
v a l e m 50, e o c ô m p u t o é de 54 anos d o nascimento d e Cristo.
a regra terceira:
35
Ordem
Eu, el-rei, faço saber aos que esta m i n h a provisão [virem] que, tendo conside-
r a ç ã o ao q u e se m e representou p o r p a r t e d e M a n u e l d e Fonseca, *secretário do
g o v e r n o de São P a u l o , digo, do g o v e r n o da capitania de São Paulo e M i n a s , e m
r a z ã o da despesa q u e há d e fazer c o m aluguel de casas e c o m p r a de t u d o o q u e é
necessário p a r a u m a secretaria, e n ã o ser justo q u e saia do seu o r d e n a d o , principal-
m e n t e sendo ele destinado p a r a o seu sustento e naquelas / / partes n ã o ser o q u e [fl. 162v. ]
basta a respeito da carestia da terra e m a n t i m e n t o s , e p o r ser a seu favor o exemplo
do q u e se concedeu a o secretário do Rio d e J a n e i r o , s e p a r a d a m e n t e , p a r a as referi-
das despesas, sendo terra mais b a r a t a , m e pedia lhe destinasse p a r a elas a p o r ç ã o
384
C o p i a d o p o r m i m escrivão.
Pedro de Lima Curado.
36
37 «
J o s é C a r d o s o Peleja
Vila R i c a , 26 d e n o v e m b r o de 1 7 5 1 .
[fl. 1 6 6 ] Cópia
J o s é C a r d o s o Peleja
• 39 <
J o s é C a r d o s o Peleja
40
P e d r o d e L i m a C u r a d o , "escrivão d a O u v i d o r i a G e r a l e C o r r e i ç ã o n e s t a
c o m a r c a de Vila R i c a d e Nossa S e n h o r a d o Pilar d o O u r o P r e t o etc. A o s
q u e a p r e s e n t e certidão virem, certifico e p o r t o fé q u e pelo d o u t o r C a e t a n o d a
C o s t a M a t o s o , "ouvidor-geral e "corregedor desta c o m a r c a , m e foi a p r e s e n t a d o o
[ fl. 173 ]
livro o i t a v o , 1
q u e serve d e registro n o S e n a d o d a C â m a r a desta C i d a d e , e m o
qual, às folhas dez verso até folha onze, se a c h a registrada a "provisão do teor e
f o r m a s e g u i n t e : D o m J o ã o , p o r g r a ç a d e D e u s , rei d e P o r t u g a l e d o A l g a r v e ,
a
Provisão
Pedro de Lima C u r a d o
C o p i a d a p o r m i m escrivão
P e d r o de L i m a C u r a d o
. 42 «
T o m é Gomes Moreira 1
Martinho de M e n d o n ç a
Cópia [fl. 1 7 7 ]
J o s é C a r d o s o Peleja
400
• 44 <
[ fl. 179 ] Mapa do ouro que tem entrado nas *casas de Fundição e Moeda
de Vila Rica das Minas, desde 26 de agosto de 1724, dia em que
principiou o seu lavor a Gasa da Moeda, e a de Fundição em o
primeiro de fevereiro de 1725, até o fim de [incompleto]; e dos
rendimentos que pertencem à Fazenda Real: da ^senhoriagem e
*braçagem, *qumto e gastos que pagam as partes nas fundições dos
seus ouros; e das remessas que se têm feito em todas as *frotas para
Lisboa e também do que têm rendido de quinto as duas novas casas
de fundição das comarcas do Rio das Velhas e Rio das Mortes
> 45 <
Mapa de todo o ouro que entrou nas *casas de Fundição e Moeda [ fl. 180 ]
de Vila Rica das Minas, desde 26 de agosto de 1724, dia em que
principiou o seu lavor a Casa da Moeda, e a de Fundição em o l 9
C o m e n t á r i o p a i e o g r á f i c o : Escrita m o d e r n a cursiva do
século XVIII, regularizada e destrógrada, bastante pessoal. Pre-
sentes o "d" uncial; dois tipos de "f' minúsculo, com laçada, ora
destrógira, ora sinistrógira, formando o traço horizontal, muito
veloz; abreviatura do " q " usual e as demais com o ponto abreviativo
e letras sobrepostas, como em "L. " " (=Lisboa). Algarismos arábi-
5 1
ie
' sodo o ur
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3 15.809 4 61
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4 1.176 5 6 35 *° 1
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394 16:559(3333 2.72! 7 1 24
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1 473:361(3535 2
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8 6
74 1 fi 6
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An
ode 1732 33.093 0 4 3
6 448:827(394!) 209:245(3681 4.924 2 0 3
9 649 7 0 4
3 '* J
1
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413
435 400:00515633 4.449 1 I 2
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8 568:980(3921 1
846
:5
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447 1.289 7 fi 1
6 2
57 7 7 Jfi * 14:822(3638 410:240(3000 1.946 3 3 24
An
ode 1734 6.553 3 6 1
7 1
3MW5
Ü 5
12 21:325(3053 33.142 ' 6 -3 5
4 6.628 4 3 68 ^ 17:923(3917 1
57(
377
7 5.683 5 6 « *
259.737 1 I6
8 3.218:506(3961 1.574:830(3753 90.980 6 4 6
0 25.196 7 7 58 w
154:745(3385 1.595:503(3270 48.809 5 ! 06 w
259.737 1 1 6
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6 30.484 3 0 4
7 m
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ú zadoe.e m ouroV 8, n ove
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to arrola, vinteetó trintae oit
o Srãos.
406
• 46 -
[ fl. 181 ] Mapa dos negros que se capitaram desde que principiou a
capitação em cada uma das comarcas
(S/T «s.
144 p. 351-355.
OUVEIRA, Tarquinio J.B. de (Org. e análise). Erário Régio de Fran-
cisco A. Rebelo, 1708. Edição fac-similar. Brasília: ESAF, 1976.
p. 109.
SlMONSF.N, Roberto C. História econômica do Brasil (1500/1820). 8.
ed. Sào Paulo: Nacional, 1978. p. 296-287. Publicação parcial.
T A U N A Y , Afonso de E. Lacuna da história do ouro preenchida
graças a um cimélio da Brasiliana de Félix Pacheco. Jornal do
Comércio, Rio de Janeiro, 20 abr. 1947, p. 2.
TAUNAY, Afonso de E, Subsídios p a r a a história do tráfico africa-
;
Seis m e s e s d e 1 7 3 5
T e v e princípio a "capitação n o primeiro de julho de 1735
A n o de. 1736
Primeira "matrícula
A n o d e 1737
Primeira matrícula
Segunda matrícula
A n o d e 1738
Primeira m a t r í c u l a
Segunda matrícula
Segunda matrícula
A n o d e 1740
Primeira matrícula
Segunda matrícula
A n o d e 1741
Primeira matrícula
S e g u n d a "matrícula
A n o de 1742
P r i m e i r a matrícula
S e g u n d a matrícula
A n o de 1743
P r i m e i r a matricula
Segunda matrícula
A n o d e 1744
Primeira " m a t r í c u l a
Segunda matrícula
A n o d e 1745 [fl. 1 8 5 ]
Primeira matrícula
Segunda matrícula
Segunda matricula
[fl. 1 8 6 ] A n o de 1747
Primeira matrícula
Segunda matrícula
Vi la R i c a 1 9 . 5 4 1 escravos 2 0 8 forros
Cidade Mariana 2 1 . 5 5 0 escravos 2 5 3 forros
Sabará 2 1 . 0 9 4 escravos 2 8 7 forros
R i o das M o r t e s 13.518 escravos 112 forros
S e r r o Frio 6 . 9 4 5 escravos 4 9 forros
Paracatu 6 . 7 2 5 escravos 6 7 forros
413
Segunda matrícula
A n o de 1749
P r i m e i r a matrícula
Segunda matrícula
• 47 -
[ íl. 189 ] Ouro que tem rendido a capitação neste governo das
Minas Gerais, do primeiro de julho do ano de 1735
até o último de dezembro do ano de 1749
Rendeu a segunda matrícula de 1735 e a primeira de 1736 517.723 46 que são 126 12 91 46
Rendeu todo o ano de 1750 114 arrobas e 907 oitavas 7.734.983 32 que são 1.888 13 71 32
Tem rendido a 'capitação dús escravos, do primeiro de juího do ano de 1735 até o último de dezembro de 1749, sete 'contos, setecentos é trinta t quatro mil,
novecentas e oitenta e três 'oitavas e trinta e dois 'grãos de ouro, que são, em 'arrobas, mil oitocentas e oitenta e oito, treze 'libras, setenta e uma oitavas e trinta
e dois grãos de ouro, como acima se vê.
Nas duas anotações com o rendimento do ano de 1750, fl. 189 e I89v., letra de Caetano da Costa Matoso.
416
> 48 «
d e findar e m o ú l t i m o d e s e t e m b r o d e 1 7 5 1 , p o r 9 2
' a r r o b a s d e o u r o p e l o trienio, t o c a a o a n o d e 1 7 4 9 30 21 42 48
P e l o s três c o n t r a t o s d o s ' d í z i m o s d a s q u a t r o c o m a r c a s
destas M i n a s e sertão delas, que rematou n o C o n s e l h o
Ultramarino Francisco Teixeira Duarte, procurador do
c a p i t ã o M a n u e l Ribeiro dos Santos, o trienio que teve
p r i n c í p i o e m o 1" d e a g o s t o de 1 7 4 7 e h á d e findar e m
ú l t i m o d e j u l h o d e 1 7 5 0 e m p r e ç o d e 4 4 arrobas e 5 'libras
d e o u r o n o trienio, t o c a a o a n o de 1 7 4 9 14 23 00 00
P e l o c o n t r a t o das ' p a s s a g e n s d o rio d a s M o r t e s , r e m a t a d o
n o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o a j o ã o de S o u s a L i s b o a , o triénio
q u e Leve p r i n c í p i o e m o 1" d e j a n e i r o d e 1 7 4 8 e h á d e lindar
e m o último de d e z e m b r o dé 1750, em preço de
19:5Q0áíQ00 réis p e l o trienio, q u e e m ' o i t a v a s são 1 3 . 0 0 0
oitavas e t o c a a o a n o d e 1 7 4 9 4 . 3 3 3 oitavas e 2 4 ' g r ã o s ,
q u e era arrobas s ã o 01 01 109 24
P e l o c o n t r a t o das p a s s a g e n s d o rio G r a n d e q u e se r e m a t o u
nestas Minas p o r u m a n o a B e n t o Soares d e Sousa, e m
p r e ç o de l:900âS000 réis, q u e e m oitavas s ã o 1.266 o i t a v a s
e 4 8 grãos 00 09 114 48
P e l o c o n t r a t o das p a s s a g e n s d o rio V e r d e , q u e se r e m a t o u
n e s t a s M i n a s p o r u m a n o a o t e n e n t e J o ã o d e Siqueira, e m
p r e ç o d e 80s3000 réis, q u e e m oitavas são 5 3 oitavas e 2 4
grãos 00 00 53 24
P e l o c o n t r a i o das p a s s a g e n s d o s rios d e S ã o F r a n c i s c o ,
P a r a c a t u , U r u c u i a , J e q u i t a í , rio das V e l h a s , d e s d e a c a s a
d e A l e x a n d r e d e S o u s a até o n d e Faz barra o rio d e S ã o
F r a n c i s c o , e t a m b é m as p a s s a g e n s d o rio P a r a o p e b a ,
rematado n o Conselho Ultramarino a J o ã o Francisco, o
triénio q u e teve p r i n c í p i o e m o 1" d e j a n e i r o d e 1 7 4 8 e h á
d e findar e m o ú l t i m o de d e z e m b r o d e 1 7 5 0 , e m p r e ç o d e
6 : 0 0 0 $ 0 0 Q réis p e l o triénio, q u e e m oitavas são 4 . 0 0 0
oitavas e t o c a a o a n o d e 1 7 4 9 1.333 oitavas e 2 4 grãos q u e
são 00 10 53 24
Soma 47 02 117 24
• 49 «
[ íl. 191 ] Despesa que fez esta Provedoria das Minas Gerais
em todo o ano de 1749
com ampla orelha; do " s " duplo caudado e hastes inferiores curvas.
Marcam o texto as abreviaturas de "réis", com "r roulé" seguido
de "es" sobrepostos, formando nexo; de "grãos" com a marca da
abreviatura na haste inferior em trabalhada voluta dupla, seguido de
" o " (uncial, aberto) e "s"{sigmático), também formando nexo. Uso
de números arábicos redondos e do cifrão cortado [$] (forma inter-
mediária entre o caldeirão e o cifrão moderno). Sinais de guarda
nas colunas numéricas. Letra idêntica à do documento 46. (YDL)
C r i t é r i o s e d i t o r i a i s ; As colações de perdas irrecuperáveis
ou lacunas do original foram feitas a partir da matriz da cópia des-
te Códice (APM, C C 2015, fl.37v.-39) e não foram indicadas nas
colunas numéricas. Foram suprimidas as guardas.
Cópia manuscrita:
APM, C C 2015, fl.37v.-39.
Cópia impressa:
B O X E R , C. R. A idade de ouro do Brasil: dores d e crescimento de
uma sociedade colonial. 2. ed. São Paulo: NacionaL 1969. p .
349-350.
A o * g o v e r n a d o r e capitão-generab, d e seu sol-
d o d e 7 m e s e s e 17 d i a s , c o n t a d o s d e 14 d e
m a i o até o ú l t i m o d e d e z e m b r o d e i 7 4 9 . « 3:026$666
> 4:979^998
A o ' s e c r e t á r i o , q u e foi A n t ô n i o de Sousa M a c h a -
d o d e seu o r d e n a d o d e 8 meses e 25 dias, conta-
3
dos do I a
d e j u n h o d e 1748 até 25 de fevereiro
d e 1749 294ÀSE444
A o *tenente de m e s t r e - d e - c a m p o general F r a n -
cisco A n t ô n i o C a r d o s o d e M e n e s e s e S o u s a de}
A o o u v i d o r - g e r a l q u e foi d a c o m a r c a d o R i o
das V e l h a s J o ã o Álvares Simões, d e o r d e n a d o
d e 1 a n o , 5 meses e 10 dias, findos e m 10 d e
fevereiro de 1749 ; 722^222
> 2:263^888
A o ouvidor-geral d a c o m a r c a do R i o das M o r -
tes T o m á s R u b i m d e B a r r o s Barreto, d e o r d e -
n a d o d e 5 meses, c o n t a d o s d e 14 d e m a i o d e
1747, e m q u e se e m b a r c o u n a c i d a d e d e Lis-
b o a p a r a vir servir o dito lugar, até 13 d e outu-
bro d o m e s m o ano, e de 2 anos que tiveram
p r i n c í p i o e m 21 de n o v e m b r o d o m e s m o a n o
e m q u e t o m o u posse até 20 do dito d e 1749.... 1:208^5333
A o "intendente da Fazenda R e a l da C i d a d e
M a r i a n a D o m i n g o s Pinheiro, de o r d e n a d o e aju-
d a d e custo d e 1 a n o , findo no último de j u n h o d e
1749 2:100^000
A o ' i n t e n d e n t e d a F a z e n d a R e a l q u e foi d a
c o m a r c a do R i o das Velhas M a t e u s F r a n c o Pe-
reira, de o r d e n a d o d e 7 meses e 16 dias e ajuda
d e custo, findos e m 16 de fevereiro d e 1749 1:254$444
A o i n t e n d e n t e da F a z e n d a R e a l de P a r a c a t u , o
*capitão-mor Rafael d a Silva e Sousa, d e o r d e -
n a d o e ajudas de custo d e 1 a n o , findo n o último
d e d e z e m b r o d e 1748 2:100$000 > 4:344^720
A o 'escrivão q u e foi d a F a z e n d a R e a l C o n s t a n -
tino d a M o t a Silva, de. o r d e n a d o d e 7 meses e
20 dias, findos e m 30 d e j u l h o d e 1748 319$444
A o escrivão q u e foi d a F a z e n d a R e a l D o m i n -
gos d e A b r e u , d e o r d e n a d o d e 16 m e s e s e 4
dias, findos e m 3 d e d e z e m b r o de 1749 670$832
A o "meirinho d a F a z e n d a R e a l M a n u e l de Oli-
veira Santos, d e o r d e n a d o d e 1 a n o , findo e m 21
d e j a n e i r o d e 1749 250^000
A o escrivão q u e foi d o m e i r i n h o d a R e a l F a -
z e n d a M a n u e l d a Costa Lima, d e o r d e n a d o d e 1
a n o e Vs, findo e m 10 d e j a n e i r o de 1748 375^000
422
> 2:436^666
A o fiscal d a Intendência da C i d a d e M a r i a n a Félix
M a r i n h o de M o u r a , de o r d e n a d o e ajuda d e cus-
to de 6 meses, findos no último de d e z e m b r o d e
1748 400^000
Ao fiscal d a I n t e n d ê n c i a d a c o m a r c a do R i o das
V e l h a s Francisco X a v i e r F e r r a z de Oliveira, de
o r d e n a d o e ajudas de custo de 1 a n o , findo no
último d e j u n h o de 1749 , 800^000
A o fiscal d a I n t e n d ê n c i a d o P a r a c a t u M a n u e l
Isidoro da Silva, d e o r d e n a d o e ajudas de custo
d e 1 a n o , findo no último de d e z e m b r o de 1748 800$000
> 2:325^000
A o escrivão q u e foi d a I n t e n d ê n c i a d e Vila R i c a
L u i s d e M e n d o n ç a C a b r a l , de o r d e n a d o d e 3
meses, findos n o último d e setembro de 1749 ... 125$000
A o escrivão d a I n t e n d ê n c i a d a C i d a d e M a r i a n a
N u n o Alves Pereira d e A m o r i m , d e o r d e n a d o e
ajudas d e custo d e 1 a n o , findo n o último d e j u -
n h o de 1749 700^000
A o "escrivão d a I n t e n d ê n c i a d a c o m a r c a do R i o
das V e l h a s J o s é Pereira d a Fonseca, de o r d e n a d o
e ajuda d e custo de 1 a n o , findo no ú l t i m o d e
j u n h o d e 1749 700^000
Ao escrivão da I n t e n d ê n c i a do P a r a c a t u Bento
C o e l h o de Araújo, de o r d e n a d o e ajudas de custo
de 1 a n o , fmdo n o último de d e z e m b r o d e 1748 700^000
> 2:560^000
A o "tesoureiro d a I n t e n d ê n c i a de Vila R i c a J o ã o
de Melo F e r n a n d o , d e o r d e n a d o e ajudas de cus-
to d e 1 a n o , findo n o último de s e t e m b r o d e 1749 580$000
A o tesoureiro d a I n t e n d ê n c i a de P a r a c a t u An-
tônio C o r r e i a da R o s a , de. o r d e n a d o e ajudas de > 1:249*000
custo de I a n o , findo n o último d e d e z e m b r o de
1749 580^000
A o a j u d a n t e d a I n t e n d ê n c i a d a c o m a r c a do R i o
das V e l h a s Luís J o s é Pinto C o e l h o , de o r d e n a d o
d e 1 a n o , findo n o último d e j u n h o d e 1749 ..,„ 360$000 > 1:070^000
A o ajudante q u e foi d a I n t e n d ê n c i a de P a r a c a t u
T o m á s A n t ô n i o Pizarro d e Araújo e Sousa, de
o r d e n a d o de 1 a n o , findo no último de d e z e m b r o
d e 1748 360^000
A o *meirinho d a I n t e n d ê n c i a d e Vila R i c a D o -
m i n g o s d e M o r a i s , d é o r d e n a d o è ajuda d e custo
de 1 a n o , findo n o último d e j u n h o de 1749 3.2QáSGOO
A o m e i r i n h o dito da m e s m a I n t e n d ê n c i a , d e aju-
d a d e custo do dito t e m p o p o r l i m p a r o o u r o n a
dita e assistir ao peso do q u e v e m das mais inten- > 760$000
dências 120^000
A o m e i r i n h o da I n t e n d ê n c i a d a C i d a d e M a r i a n a
D o m i n g o Bernardes C a r d o s o , de o r d e n a d o e aju-
das de custo de 1 a n o , findo no último de j u n h o
d e 1749 320^000
A o m e i r i n h o q u e foi da I n t e n d ê n c i a d a c o m a r c a
do R i o das Velhas J o s é de Oliveira, de o r d e n a d o
e ajudas d e custo de 6 meses, findos n o último de
d e z e m b r o d e 1748 160$000
A o m e i r i n h o q u e foi d a I n t e n d ê n c i a d o P a r a c a t u
Silvestre T e i x e i r a d a Costa, d e o r d e n a d o e aju- > 540^000
das d e custo de 1 a n o , findo n o último d e d e z e m -
b r o d e 1748 320&QOO
A o m e s m o m e i r i n h o , d e a j u d a d e custo p e l o
t r a b a l h o d e ir a o sertão fazer a c o b r a n ç a dos
reais quintos 60$0QÜ
425
Ao "tesoureiro d a I n t e n d ê n c i a dos D i a m a n t e s d a
c o m a r c a d o S e r r o Frio d e sobre-salário a o orde-
n a d o q u e v e n c e de 2 anos, findos n o último d e
d e z e m b r o de 1748 192*000
> 3:192*000
A o Excelentíssimo e Reverendíssimo "bispo d a
C i d a d e M a r i a n a d o m frei M a n u e l d a C r u z , d e
sua " c ô n g r u a de 3 anos, findos e m 14 d e d e z e m -
bro de 1748, 3:000*000
A o vigário c o l a d o d a m a t r i z de Nossa S e n h o r a
da Conceição do Rio de Pedras J o ã o Soares
> 800$000
B r a n d ã o , d e sua c ô n g r u a de 1 a n o , findo e m 7
de s e t e m b r o de 1749............................... 200$000
A o vigário colado da m a t r i z de S a n t o A n t ô n i o
do O u r o B r a n c o R o m ã o F u r t a d o de M e n d o n ç a ,
de s u a c ô n g r u a d e 1 a n o , findo e m 4 d e m a i o
de 1749 200$000
C o n d u ç ã o do o u r o p a r a o R i o d e J a n e i r o e dos
'bilhetes p a r a as intendências , 789$291
> 5:I59$I7I
C a p i m q u e se d e s p e n d e u c o m os cavalos das t r o -
pas de. dragões 2:241*843
Despesas m i ú d a s d a F a z e n d a R e a l 535*829
A o " m e s t r e ferreiro M a n u e l J o ã o M a l t a , d e 5
grades d e ferro p a r a o n o v o palácio e t r a b a l h o
d e as assentar ., 692$671
S o m a e são 121:130^996 *
• 50 <
Mapa do ouro que se remete a el-rei, nosso senhor, pelo seu [fl. 193 ]
Conselho Ultramarino, desta Provedoria da Fazenda Real das
Minas Gerais, em 16 de março de 1750, por ir na presente *frota
do Rio de Janeiro do dito ano
16.099 24 Dezesseis mil, noventa c nove "oitavas e vinte e quatro "grãos de ouro
e m p ó , pertencentes a esta Provedoria da Fazenda Real das Minas
Gerais, que se remeteram para o Rio dc Janeiro era 19 de janeira d e
1750, incluídas nos dois milhões, que a 1.500 "réis por oitava importa
em 24:149^000
59.264 4 Cinquenta e nove mil, duzentas e sessenta c quatro oitavas e quatro grãos
de ouro em pó, pertencentes a esta Provedoria da Fazenda Real das
Minas, que se remetem também para ir na presente 'frota, que a 1.500
réis por oitava importa em 88:8962083 2/6
26.666 4 8 Vinte e seis mil, seiscentas C sessenta c.scis oitavas e quarenta e oito grãos
de ouro, que sc remetem desta Provedoria, e m um conhecimento can
forma que recebeu IJ "contratador dos. diamantes, õ capitão 1'eiisberto.
Caldeira Brant, na forma de suas condições 40:000¡S000
102.030 153:0453*083 2 / 6
1.256 23
2oi moo Pertencente às munições ordinárias do dito
tempo O > 93.663 47
533á»00 P e r t e n c e n t e às "propinas dos s e n h o r e s
"ministros do Conselho 355 24
"Terças Partes
l/li Pertencente às lei^ças parles dos "olicios do 1" de
ti-.V2.9miH março de 1749 até hm de dezembro do dito ano.
Pertencente às terças partes dos oíícios do 1" 4.086 5
de janeiro até. 10 de março de 1750
I "Novos Direitos!
Pertencente aos novos direilos do 1" de março
3:009¿8873 de 1749 até fim dc dezembro do dito ano
Pertencente aos novos direitos do 1" dejaneiro 2.006 42
ali! 10 dc março de 1 750
i "Donativos I
Pertencente aos donativos dos olicios do l u
<
do 1" dejunho de N 748 até fim de setembro
l:270á¡625 de 1749 a (¡0 mil réis por niêsl 640 0
200áí>O0 A entregar ao dito tesoureiro por outra tanta
quantia Com que assistiu ao baeharcljoâo de
Sousa Meneses, "ouvidor-geral do Sabarã 133 24 i
i iom 25
¡ De propinas para os senhores ministros do ^ 847 06
Conselho Ultramarino pela remataçno do
coniralo das passagens do rio Grande, feita
nesta* Minas no anq dc 1748 ao capitão João
de Sousa Lisboa, c no ano de 1749 a Bento
Soares de Sousa 73 54
¡53:045ál083 Soma 102.030 04
Perez, adtit. cod. de anou. et tribuí., n 11; Pprtug-, de donat.,lÍb. 1, cap. 24, n 96;Molin. dejust.
s Q
Kloch.; de erar., lib. 2, cap. 51, riel, cap. 52 a n 1, et de contrib., cap. 17, et DD. s. n l.
B 3 9
Perez, ad. tit. cod. de anon. et tribut., ti 15 e 16; Kloch,, de erar., n 51 e 52.
9 B
433
te n ã o c o r r e s p o n d e m os frutos q u e conseguem, ou p o r q u e n ã o a c h a m o m e t a l q u e
p r o c u r a m ou p o r q u e o q u e d e s c o b r e m é m u i t o p o u c o J
E p o r q u e t e n d o os príncipes, e m b o a opinião, obrigação d e j u n t a r tesouros p a r a
q u e p r o n t a m e n t e possam expedir os negócios d a sua m o n a r q u i a n a p a z e n a g u e r r a
sem q u e lhes seja necessário g r a v a r os seus vassalos c o m novos tributos,' n ã o h á m e i o 1
Molin., de just. et jur., disp. GG8, n l; Petr. Greg., de republ.,lib. 3, Cap 5, n 16.
9 e
e
- L, omnes3, alias 4, L. omnes4, alias 5; Cod. deanon. et trib.,ubiLuc, dePen. et Amaya, n 4; Petr. 9
^ 1. 1, §8, causa 20, ss", de quaest. Novel 54, cap. 2; Kloch., de Contrib., cap. 16,n 46e 174et de aerar.
9
1. 1,L. nemo 2, cod. de exact trib.; Kloch., de aerar., Iib. 2, cap. 51, n 6, et cap. 50, et 52, et desup.
9
exact., i i 4-
e
1. 1, cod. de metalar.; Solorz. tom. 2, de jur. Ind., Iib. 1, cap. 13, ir 57, etlib. 5, cap. 1, n 20; Port.,
9 9
l
- Solorzan., dejur. Ind., Iib. 1, cap. 13, n 50, et DD. n 8.
B fi
J- Cassan., in Cathol. glon mund., p. 11, consid. 38; Scalon., Gazoph. reg., Iib. 2, cap.l, n 4. 9
k
- Petr. Greg., de rep., Iib. 3, cap. 9; Solorz., dejur. Ind., tom. 2, lib. 1, cap. 13, n 29. 9
I* Idem Solorz., n 33, 34, et 87; Kloch., de aerar., cap. 27, n 10, 13, lib. 2.
9 B
m
* ;
Idem Solorz., tom. 2, lib. 5, cap. un., n 23.
s
n
- Idem Solorz., dicto cap. un., n 9; Scalon., Gazoph. reg., lib. 2, p. 2, cap. 1.
s
P- Ord., lib. 2, tit. 34, hi princ; Portg., de donat., lib. 3, cap. 12. n 14. B
- Xloch., dç aerar.,"lib. 2, cap. 27, pto. 7, et 28, 29,30,31, 32, 33, et 34; idem Solorz., dicto cap. 13
s
a 4. 3
u
- Idem Kloch., dicto n 13. 9
m e s m o estado e m q u e se achava.y
E posto q u e sucedendo-lhe no governo d o m Brás Baltasar d a Silveira, tratas-
se n o a n o d e 1714 de e x e c u t a r o referido projeto, só conseguiu dos p o v o s q u e ,
l e v a n t a d o s os *registros e c o r r e n d o o o u r o l i v r e m e n t e , p a g a r i a m , e m l u g a r dos
quintos, trinta *arrobas de. o u r o p e l o dito a n o de 1714, q u e se t i r a r i a m p o r *fmta,
e q u e d a n d o ele, g o v e r n a d o r , c o n t a a Sua Majestade, se praticaria n o s anos futu-
ros o q u e o m e s m o s e n h o r o r d e n a s s e . 2
w
" Regimento das Minas, parágrafos 25 e 29.
x
- Nos capítulos 97, 98 el03.
>'• Assento do 10 de dezembro de 1710.
z
- "Carta de Sua Majestade de 12 de novembro de 1714.
436
Ord.,lib. 2, Ut. 34, § 4, alvará de 8 de agosto de 1616 e regimento das Minas, §§14, 15, 16, 24 e 25.
1
A partir deste ponto, o copista equivocou-se ao referir a data do alvará de 8 de agosto de 1618,
grafado como 1616, erro verificável também na cópia daBNL, cód. 6980, fl. 164-197.
440
a
'- Usualtl., ad Donel., lib. 15, cornent, let. a, cap. 1.
" - 1.1, § 2 ss., de rer. perm.; Colleg. Argent., lib. 19, Pand., tit. 4, thes. 1; Voet. dicto tit. 4, n 1.
Am e
Ord., lib, 2, tit. 34, § 4, alvarà de 8 de agosto de 1616 [sic], regimento das Minas § 14, 15, 16,24 e 25.
446
a o
- 1. 1, § si vestimenla, 8, ss.; deposit.,, 1. si ut certo, 5, ss.; comod., 1. poliendo, 22, ss.; de prescript, verb.
vin.jde pact., cap. 9 ri 9; Uzuald. ad Donel.Jib. 15, cap. 1, let. a.
?
e
a
P' 1. 1, §1,1. 2, ss.; de novat., § Praeterea, 3; Inst. cjuib. mod. tolet. obiig.
ac
l- 1. 1, ss.; de novat., dicto §. Praeterea; Donel., lib. 16, com, cap. 20..
1.1, § 3; 1. juris gentium, 7. in priuc, et § 1, ss,; de pact., 1. novare, 20, ss.; de novat., 1-fin.,cod. eodem;
Done!., lib. 12, com. cap. 7.
a s :
1. nee timore, 7, § 1; 1. cum carcerem, 22; I. fin., § fin., ss.. Quod met. cans.
a t
Colleg. Argent., lib. 4, Pand. tit. 2, thes. 6.
au
- Rot., rec.,.p. 8, dec. 17, et dec. 214, n 5, et dec. 273, n 2, et p. 12, dec. 23, n l l .
s e a
av
- Garc, de nobilit., glos. 17,3, n° 13; Rot., p. 8, rec, dec. 17, n 15; Valenz., cons. 87, n 40, c 41;
B a
aw
- 1. elenganter, 7, ss., de doL; Usuald. ad Donel., lib. 12, com. cap. 7, let. D.
447
porque a O r d e n a ç ã o a z
n ã o fiou diligência tão violenta de u m só h o m e m , a i n d a
sendo este c o r r e g e d o r d a C o r t e , n e m e m termos alguns principiar as causas crimi-
nais pelo t o r m e n t o , ^ n e m p r o c e d e r a t o r m e n t o q u a n d o o crime se a c h a legitima-
a
m e n t e p r o v a d o , * m a s só q u a n d o os réus se a c h a r e m l e g i t i m a m e n t e i n d i c i a d o s ,
0 1
y-
a
1. nulius, 2, i. 3; cod.de exhib. reis; Peres, adeundemtitulum, n 1; Ladoc.,prax. rer. crím., cap. 14, n 4.
s s
'
a z
Lib. l,.tit. 7,§17.
-
b a
1.1, L, de minore, 10,§ nec debet, 4, ss,; de quaest.,.1. milites, 8,,§ 1, cod.,. eodem tit.
kk- 1. edictum, 8; 1. Divus, 9, ss.; de quaest.
-
b c
Dieta Ord., lib. 1, tit. 7,§ 17.
-
b d
Ciar-, lib. 5, §. ím., q. 64, 26;Caren., de offic. Inquis., p. 3, tit. 10, n 160.
n
9 9
D 1 ,
1. 1, § qüaestionem, 21, ss.; de quaest. ubi Gothofr., n- 21; Farin., de indic. et tortur., cap. 4, n 84. 9
b
§-. 1. de minore, 10,§ tormenta, 3; 1., quaestione 7, ss., de quaest.; idem Ladoc, cap. 27, n 2 9
t)h
- Costa, Prática das alçadas, n .l 19,. e
448
- Ciar., lib. 5, § fm., q. 64, n 14; Caren., de ofTic. Inqins., p. 2, tit. 11,n. 174.
bl a
kj • Como consta por autos e informações de pessoas que. naquele tempo lá se achavam.
bk
- Como consta dos mesmos autos dos livramentos que vieram à Relação.
b
' ' ]. si mulier, 21, § simetu, 4, ss, quod met. caus.; I. si quis, 36, ss.; de verbor. obligat., Gönz., in cap.
1; de his quo vi, n 16 e 17.
9
b m
- Idem Gönz., ditto n 17.9
b n
- 1. nihil interest, 112; 1. non vidctur 13; 1. non videtur, 51; 1. Marcelus 66, ss., de reg.jur., Everard in
dicta I., 13, ubi Gothofred.
b o
- Valasc, Cons. 132, n SiPortug., de donat., lib. 2, cap. 11, n 14.
9 B
b
P- Ex I. nihil consensui, 116, ss.; de.de reg.jur.; Bart., inl. metu, 19,§ volenti, n 2, ss.; quod met. caus.;
a
Donel., lib. 12,com. cap. 7; Cujac, lib. 11, Pauli ad edict.; ml. simulier, 21, ss,; quod met. caus.; 1.
si quis, 36, ss.; de verbor. oblig.; Petr. Greg., lib. 21, syntam., cap. 2, n 3; Jacob Gothofr., in dicta 1.
s
nihil consensui.
b
9- 1. qui cum tut.orib., § 9, § qui per falatiam, 2, ss.; de transact.; 1. eleganter, 7, de dol.; Donel., lib. 12,
com. cap. 7, ubi Usuald, lit. d.
br
- Palau, opus morale, tit. 1, tract. 2, disp. 1, punct. 8, n 1, e 5; La Croix, theolog. mor., lib. 3, p. 2, n
9 9
E p o s t o q u e q u a n d o o p r í n c i p e celebra a l g u m c o n t r a t o q u e se e n c o n t r a c o m
á s leis seja visto d i s p e n s a r n e l a s , ^ esta d o u t r i n a só p r o c e d e q u a n d o o p r í n c i p e
s
b s
- Port., de donat, lib. 2, cap. 11, u 18.
B
~
bt
1. quidam, 57, ss.; de rejudie; 1. donationes, 26; cod. de donat., int. Portug. S , ã
-
b u
Mult. Larr., alleg. 23, n 9, Portug., ubi S . , n 18 e 19.
a 3 a
-
b v
Petr. Greg., de rep., Iib. 3, cap. 5, n 15 e 16.
B
b w
- KIoch., de aerar., lib. 2, fcap. 8, n 8; Idem Kloch., cap. 2, n* 1, lib. 3.
H
-
b x
Kloch., lib. 2, cap. 79, n 27; idem Petr. Greg., lib. 3 , cap. 2,. n 10, et cap. 5, n 1, et 17.
9 fl 9
tay.
Petr. Greg., de rep., Hb. 3, cap. 5, n 15, et 16.
a
b z _
1.1, cod. de metal.; 1. 3, cod. Tlieodos.. de metal, et metalar., ubi Jacob Goth., ord., lib. 2, tie, 34, §
4,. *alvará de 8 de agosto de 1616 [sic], *regimento das minas §14, 15, 16, 24, e 25, Solorz., dejur.
Ind., tom. 2, Hb. 5, cap. un., n 14, e 23; Portug., de donat., lib. 2, cap. 12, n 17.
a 9
451
dos p e l a r i e i l ?
ce
tratando-se a execução e m f o r m a q u e n ã o haja nela v i o l ê n c i a . ^
N e m as p e n a s a i n d a legitimamente impostas se p o d e m executar s e m senten-
ça declaratória, S d a qual se deve d a r a p e l a ç ã o e m u m e o u t r o efeito, i n t e r p o n d o -
C
a a p a r t e a g r a v a d a , b e p o s t o q u e q u a n d o se t r a t a d a c o b r a n ç a d e tributos n ã o
c
* I. quod sinolet, 31, § qui assidua, 20, ss.; de aedilit. edict.; Moliii., dejust. etjur., disp., 260, n 1.
ca 9
S- Salgad., de reg. proct., p. 3, cap. 7, n 2, et 12; Boler., de decoct., tit. 5, q. 25, a, n 10.
C a 9
1. si qua poena, 244, ss., de verb, sign.; I. multos, 25, ss., deappellat.; Perigr., dejur. Fise.,lib, 4 tit. s
8, n 2.s
- Idem Peg., n 46
ck 5
sem e m b a r g o do q u e u m e o u t r o se a c h a m p o r confirmar, se t e m e x e c u t a d o c o m
tal e x a ç ã o q u e os p e n h o r e s se r e n d e m logo, r e p u t a n d o - s e o o u r o l a v r a d o p o r d o z e
"tostões, e n a c o m a r c a do S a b a r á n ã o se r e c e b i a m os p e n h o r e s sem o valor deles
e x c e d e r a q u a n t i a devida.
Confiscam-se os negros q u e se n ã o m a t r i c u l a m n o t e m p o d e t e r m i n a d o , posto
q u e os d o n o s tivessem o i m p e d i m e n t o d a d o e n ç a ou o u t r o qualquer, a i n d a daqueles
]. colonos, 15, cocí, ele agrie et sensil.; Solorz. de jur. Ind., tom 2, lib. 1, cap. 3, n° 84.
455
de 1645 o tributo das "décimas p a r a defesa deste R e i n o , nas guerras d a feliz aclama-
ção d o s e n h o r rei d o m J o ã o , o q u a r t o , se declarou logo que o dito tributo se n ã o
poderia arrendar, p o r n ã o acrescentar moléstia aos p o v o s . 9 E Sua Majestade, nas
c
C
P' Como consta do "alvará de 16 dc dezembro de 1566 por que o dito senhor confirmou o ^regimento
dos encabeçamentos
cc
l' Como consta do 'regimento das 'décimas, título 4, parágrafo 13.
457
A fiança r e q u e r i d a é i m p r a t i c á v e l e d e s n e c e s s á r i a , p o r q u e é m o r a l m e n t e
[ fl. 2 I 0 v . ] impossível q u e a m a i o r p a r t e das pessoas q u e v ã o / / " q u i n t a r o u r o , q u e são os
"comboieiros e h o m e n s d e negocio, a c h e m nas M i n a s , o n d e n ã o estão estabelecidos,
fiadores p r o n t o s e p o r q u e , h a v e n d o a cautela necessária n o e x p e d i r das "guias e
t o m a n d o p o r p e r d i d o t o d o o o u r o q u e se a c h a r s e m elas, dá-se s u p e r a b u n d a n t e
p r o v i d ê n c i a p a r a . s e n ã o extrair o u r o sem p a g a r o q u i n t o , p o r q u e , a i n d a q u e seja
fácil fazer guias falsas, n ã o é dificultoso conhecê-las, a l é m de q u e as b a r r a s p a s s a m
p o r m u i t a s m ã o s , e q u e m fabricar u m a guia falsa h á d e escrever n e l a a pessoa q u e
lhe p a r e c e r , e h a v e n d o p r o c e d i m e n t o c o n t r a esta, vinha a ser castigado q u e m n ã o
tinha culpa. U l t i m a m e n t e , o proceder-se p o r u m a lista q u e o " c o n t r a t a d o r há de
m a n d a r às *casas da m o e d a , e m q u e p o d e escrever o q u e quiser, é. abrir o c a m i n h o
a muitas m a l d a d e s .
N ã o se p o d e obrigar os mineiros a n ã o t e r e m o u r o e m p ó e m seu p o d e r m a i s
d e dois meses, e m e n o s c o m as p e n a s c o n t e ú d a s n a c o n d i ç ã o s é t i m a , p o r n ã o
h a v e r nas M i n a s mais m o e d a s q u e o u r o e m p ó , e se os mineiros forem obrigados
a reduzi-lo a b a r r a n o dito t e r m o ficarão impossibilitados p a r a fazerem p a g a m e n -
tos m i ú d o s , e se a b r i r á c a m i n h o a d e n ú n c i a s injustas; n e m h â prejuízo e m q u e o
o u r o se d e t e n h a mais d e dois meses nas m ã o s dos mineiros e pessoas particulares,
c o m o n ã o .saia das M i n a s s e m p a g a r q u i n t o , n e m t a m b é m h á prejuízo n a d e m o r a ,
p o r q u e t o d o o o u r o q u e se extrai das M i n a s sai delas pelo comércio d e n t r o de u m
a n o , e q u e m o recebe fica o b r i g a d o a p a g a r o q u i n t o nas *casas de fundição, p a r a
o q u e o t o m a p o r m e n o s três "tostões e m c a d a "oitava,
A lista das fazendas r e q u e r i d a n a condição o i t o é desnecessária, p o r q u e os
7
Os comerciantes, no máximo quinze dias após a entrada em Minas, dariam uma lista de todos os
gêneros e das negociações efiançasrespectivas já realizadas, sob pena de confisco do não expressado.
Os pagamentos em ouro em pó não poderiam ser superiores a vinte oitavas. A violação do valor
máximo implicava pena de dobro do valor do quinto; a contumácia implicaria, na segunda vez,
pena de triplo do quinto e,. na terceira vez, expulsão de Minas Gerais.
459
Estipulava á prisão e o confisco dos sonegadores do quinto, bem como de quem os auxiliasse ou
estivesse em sua companhia. O perdão dos incursos no crimeficariaa cargo dos contratadores.
' Os confiscos pertenceriam ao contratador, ficando este livre para ajustar com oficiais e denunciantes
1
A c o n d i ç ã o 15 n ã o t e m i n c o n v e n i e n t e . ^
S o b r e a c o n d i ç ã o i 6 , ^ p a r e c e q u e o dito "contrato, vista a s u a g r a n d e im-
p o r t â n c i a , n ã o p o d e ter s e g u r a n ç a , e s p e c i a l m e n t e h a v e n d o - s e d e p a g a r os dois
milhões oferecidos c a d a a n o e m u m só p a g a m e n t o , e esta r a z ã o só b a s t a v a p a r a se
n ã o admitir, a i n d a q u e nele n ã o h o u v e r a os g r a n d e s inconvenientes p o n d e r a d o s .
S o b r e a c o n d i ç ã o 1 7 , ^ p a r e c e q u e nas M i n a s n ã o p o d e h a v e r p r e s e n t e m e n -
te o u r o q u e deva "quintos, p o r q u e , c o m o os m i n e i r o s e mais m o r a d o r e s das M i -
nas são obrigados a p a g a r a "capitação antes d e a d e v e r e m , n ã o d e v e m quintos
pelo t e m p o q u e c o m p r e e n d e r os p a g a m e n t o s q u e tiverem feito, e as novas provi-
d ê n c i a s q u e os " g o v e r n a d o r e s e "ministros lhe d e r e m d e v e m ser reguladas pelas
leis e "regimentos, e n ã o pela a m b i ç ã o e apetite dos suplicantes.
Conferidos, assim, todos os arbítrios q u e se t ê m p r a t i c a d o n a c o b r a n ç a do
direito real dos quintos e a i n d a o q u e de n o v o se oferece, se p e r c e b e , c o m toda
a e v i d ê n c i a , q u e n e n h u m p o d e ser m a i s útil e c o n v e n i e n t e à F a z e n d a R e a l e
utilidade dos p o v o s q u e o estabelecido pelo c o n d e das Galveias e m 20 e 24 d e
[fl. 212 ] m a r ç o d e 1734> q u e j á fica e x p e n d i d o n o p r i n c í p i o . E p a r a o e n c o m e n d a r //
usarei s o m e n t e das palavras c o m q u e M a r t i n h o d e M e n d o n ç a concluiu o voto q u e
sobre ele deu, a saber: q u e o dito arbítrio, d e q u a n t o ele até a q u e l e t e m p o tivera
notícia, era õ mais conforme às reais intenções de S u a M a j e s t a d e , p o r ser o m a i s
j u s t o e o q u e mais c o n c o r d a v a c o m as regras da e q ü i d a d e e. c o m m e n o s v e x a ç ã o
dos povos a u m e n t a v a a F a z e n d a R e a l e tirava a ocasião d e falsidades, "descaminhos
e furtos.
P . S . G o m o h o j e é a v é s p e r a da p a r t i d a d e s t a n a u e o " f u n d i d o r M a n u e l
Francisco t e m a n d a d o tão remisso q u e até a g o r a n ã o t e m a p a r e c i d o c o m provi-
m e n t o , s u p o n h o q u e n ã o irá.
R e m e t o a Vossa Senhoria seis exemplares do assento q u e se t o m o u e m 24 de
m a r ç o d e 1734, a i n d a q u e deles h a v e r á registro e m Vila R i c a . D i o g o d e M e n d o n -
ça C o r t e - R e a l .
S e n h o r G o m e s Freire de A n d r a d e .
53
[Papel feito acerca de como se estabeleceu a capitação nas
Minas Gerais e em que se mostra ser mais útil
o quintar-se o ouro, porque assim só paga o que o deve]
za d e o a c h a r , estriba o m i n e i r o as e s p e r a n ç a s d a sua u t i l i d a d e n o c o n t i n g e n t e
sossego de o h a v e r n a terra q u e m i n e r a , s e m q u e lhe aproveite a o c o r r ê n c i a favo-
rável do t e m p o , q u e t a n t o c o n d u z p a r a / / a criação e colheita dos mais frutos. [ fl. 220 ]
31 S e m dúvida q u e , p o r se estabelecer a "capitação c o m c o n s e n t i m e n t o v o -
luntário dos povos, ficou d e r r o g a d a á disposição d a lei e, p o r conseqüência, ficou
sendo lícita e j u n t o a c o n v e n ç ã o feita c o m S u a Majestade. A isto r e s p o n d o q u e
n ã o p o d i a h a v e r c o n s e n t i m e n t o voluntário h a v e n d o tantas violências e sugestões,
c o m o m o s t r a r e i e x p o n d o a forma c o m q u e se estabeleceu a c a p i t a ç ã o .
32 F i n a l m e n t e , c o m o todas as mais circunstâncias de q u e se c o m p õ e o siste-
m a d a capitação estão larga e d o u t a m e n t e p o n d e r a d a s nos muitos p a r e c e r e s q u e
se fizeram sobre a m a t é r i a , dela fica sendo supérfluo individuar as mais c o n t r a d i -
ções q u e e n v o l v e m o dito sistema, e assim e n t r e m o s a p o n d e r a r a f o r m a c o m q u e
se estabeleceu.
33 P r i m e i r a m e n t e , mostrarei q u e n a f o r m a c o m q u e se p r o c e d e u t o t a l m e n t e se
faltou aos preceitos das o r d e n s reais e mostrarei todos os efeitos q u e t e m p r o d u z i d o e
h á d e p r o d u z i r o estabelecimento q u e se fez d a capitação, e m notória r u í n a das M i -
nas e e m d e c a d ê n c i a dos reais "quintos.
34 Persuadindo-se S u a Majestade q u e o sistema d a capitação p o d e r i a ser o m e i o
mais seguro p a r a evitar os grandes r o u b o s q u e nos [""países! das M i n a s se faziam a
sua R e a l F a z e n d a c o m os " d e s c a m i n h o s dos quintos e suposto q u e o dito senhor,
c o m o rei e s o b e r a n o , f u n d a d o nos pareceres q u e se fizeram e m a p r o v a ç ã o do dito
sistema, o p o d i a logo estabelecer pela lei, e m t u d o quis a sua real g r a n d e z a , p a r a
s e g u r a n ç a d a s u a consciência, q u e o dito arbítrio se propusesse aos p o v o s , p a r a
q u e , c o n c o r r e n d o a sua aceitação e o seu voluntário c o n s e n t i m e n t o , ficassem des-
vanecidos os escrúpulos q u e sê a r g u i a m nos pareceres q u e e m c o n t r á r i o se fizeram
p o r pessoas q u e s o u b e r a m a n t e p o r a v e r d a d e a o interesse e lisonja.
35 P a r a o referido estabelecimento, foi Sua Majestade servido n o m e a r sujeito
q u e passasse às M i n a s , p a r a q u e j u n t o c o m o c o n d e das Galveias, " g o v e r n a d o r
delas, p r o p u s e s s e m aos povos o referido sistema d a capitação, r e c o m e n d a n d o c o m
m u i t a especialidade nas suas reais ordens q u e se n ã o usasse d e violência n e m d e
sugestão a l g u m a p a r a q u e fosse aceito, e q u e no caso q u e aos povos lhes parecesse
oneroso e c o m o tal o r e p u g n a s s e , p r o v i s i o n a l m e n t e se elegesse o u t r o meio q u a l -
q u e r q u e se julgasse mais / / conveniente p a r a a b o a a r r e c a d a ç ã o dos seus reais [ fl. 220v. j
q u i n t o s . P a r a este efeito, d e u S u a M a j e s t a d e a o dito sujeito t o d a s as o r d e n s e
p o d e r e s necessários, o q u a l usou deles n a f o r m a seguinte.
36 Assim q u e c h e g o u ao R i o de J a n e i r o , c o m u n i c o u ao g o v e r n a d o r G o m e s
F r e i r e d e A n d r a d e a comissão q u e levava. Este, q u e r e n d o ser p a r t i c i p a n t e das
felicidades q u e se e s p e r a v a m d o e s t a b e l e c i m e n t o d a c a p i t a ç ã o , a c o n s e l h o u a o
dito comissário q u e , s e p a r a d o da c o m p a n h i a dos "ministros q u e S u a M a j e s t a d e
m a n d o u , subisse p r i m e i r o p a r a as M i n a s e q u e dirigisse os seus p r o g r e s s o s e m
f o r m a q u e , p a r a o futuro, fossem a m b o s igualmente executores d a capitação.
474
4 4 C o m estes e semelhantes p r o c e d i m e n t o s se p e r s u a d i a o c o n s e n t i m e n t o d a
"capitação, e neste m e s m o t e m p o sucedeu descobrir-se, ern Vila R i c a u m a b a r r i n h a
d e o u r o falsa, fabricada n ã o p o r m i n e i r o , roceiro n e m m o r a d o r estabelecido nas
M i n a s , m a s sim p o r uns ladrões traficantes sem mais cabedais q u e o q u e furtavam
pelas b a r r i n h a s q u e f a b r i c a v a m , talvez o r i g i n a d o este a t r e v i m e n t o dos m e s m o s
motivos d e q u e se o r i g i n a r a m outras semelhantes fábricas antigas q u e h o u v e . E
p e r t e n c e n d o o c o n h e c i m e n t o deste c r i m e aos "ministros e x p r e s s a m e n t e declara-
dos p o r S u a M a j e s t a d e , e n t r o u M a r t i n h o d e M e n d o n ç a a ser jui2 p r i v a t i v o d a
execução d e todas as diligências q u e p o r seu arbítrio se e x e c u t a v a m . E foram tais
os distúrbios, violências e excessos q u e se o b r a r a m q u e ainda os m a i s inocentes se
c o n s i d e r a v a m p e r d i d o s , p o r q u e se v i a m muitos, sem a m e n o r s o m b r a n e m indicio
a l g u m d e culpa, levados pelas ruas, postos e m ferros p a r a a c a d e i a e outros p a r a a
casa do m e s m o M a r t i n h o d e M e n d o n ç a , o n d e fez cárcere p r i v a d o , e muitos, p o r
[ fl. 222v. ] / / sua o r d e m , p a d e c e r a m rigorosos t o r m e n t o s . E depois d e castigada assim a sua
inocência, e r a m soltos. E c h e g o u a t a n t o excesso e rigor nos tratos q u e u m n e g r o ,
s e n d o p r e s o p a r a q u e confessasse o q u e seu s e n h o r fazia, tal foi o excesso dos
açoites e tratos q u e lhe d e r a m q u e , receoso d a repetição deles c o m q u e o a m e a ç a -
r a m , d e u c o m u m a faca e m si, de q u e m o r r e u ; u m h o m e m b r a n c o p a d e c e u tão
477
6 8 E p a r a q u e m e l h o r se p e r c e b a m os f u n d a m e n t o s q u e h á p a r a os mineiros
s e r e m p o b r e s e v i v e r e m s e m p r e c o m e m p e n h o s , explicarei a f o r m a , t r a b a l h o e
despesa c o m q u e se extrai o o u r o d a terra, e a i n d a q u e seja dilatada esta n a r r a ç ã o ,
p o d e r á ser agradável p a r a os q u e t ê m experiência das M i n a s e lhes p a r e c e q u e a
extração do o u r o consiste só e m cavar a terra e recolhê-lo.
[ fl, 227v. ] 6 9 P r i m e i r a m e n t e , h á m i n e i r o s q u e t r a b a l h a m / / e m l a v r a s p r ó p r i a s , ou
j u n t o aos rios, aproveitando-se, das m e s m a s á g u a s deles ou e m diferentes terras,
q u e c o m u m e n t e são m o n t u o s a s , pu nas correntes dos m e s m o s rios.
70 O s q u e t o d o o a n o m i n e r a m j u n t o aos rios lhes é necessário, n o m e s m o
lugar d a lavra, assentar u m " e n g e n h o d e u m a r o d a e u m a " b o m b a p a r a continu-
a m e n t e ir e x a u r i n d o toda a á g u a d a terra, q u e p o r ficar p r ó x i m a a o rio está conti-
n u a m e n t e b r o t a n d o e é preciso esgotá-la p a r a , d a m e s m a t e r r a e do m e s m o l u g a r ,
se extrair o "cascalho e m q u e está o o u r o . Esta *fábrica de r o d a e b o m b a n ã o custa
m e n o s d e seiscentas oitavas d e o u r o p a r a c i m a . A o m e s m o t e m p o , é necessário
g r a n d e n ú m e r o d e negros p a r a " d e s m o n t a r a terra e tirar o cascalho, depois "lavá-
lo e, u l t i m a m e n t e , "apurá-lo. E necessário g r a n d e n ú m e r o d e e n x a d a s , alavancas,
"almocafres, c a v a d o r e s e "bateias.
71 O s q u e m i n e r a m e m diferentes terras distantes dos rios, depois q u e nelas
se descobre o o u r o , é necessário q u e t e n h a m u m rego d e á g u a , sem a qual se n ã o
p o d e m i n e r a r ; , s e a n ã o t ê m p e r t o , q u e v e n h a o seu n a s c i m e n t o superior, é preciso
buscá-la d e m a i o r distância e conduzi-la, abrindo-lhe regos p o r m o n t e s e p e n h a s -
cos, e e m m u i t a s p a r t e s o n d e se t o p a m vales lhes f o r m a m a n d a i m e s d e g r a n d e s
m a d e i r o s e, s o b r e estes, c a n o s d e t a b u a d o s p a r a a c o r r e n t e das á g u a s v e n c e r e
c h e g a r à altura d e outros m o n t e s sobre q u e a q u e r e m levar, ê isto n a distância d e
u m a , duas e três "léguas de rego, e m q u e se. faz u m a g r a n d e despesa, a respeito
dos g r a n d e s "jornais q u e naqueles "países c o s t u m a g a n h a r t o d o o g ê n e r o de "ofi-
ciais. E n a m e s m a f o r m a é e x o r b i t a n t e o p r e ç o d e t o d o s os m a t e r i a i s , e nestes
serviços d e c o n d u z i r as águas se gastam m u i t a s vezes dois e três anos, c o n f o r m e a
distância d e q u e ela vem. C o m esta água, ajudada d a arte, se d e s m o n t a a terra q u e
fica p o r c i m a da f o r m a ç ã o do cascalho, a qual m u i t a s vezes t e m mais d e c i n q ü e n t a
p a l m o s de altura p r i m e i r o do q u e se c h e g u e a ele. C o m a m e s m a á g u a se lava o
cascalho e se a p u r a o o u r o , sendo p a r a t u d o preciso os negros e os m e s m o s instru-
m e n t o s q u e t e n h o referido, a d v e r t i n d o q u e e m t o d o o t e m p o q u e g a s t a m n o ser-
viço d a c o n d u ç ã o das á g u a s e e m t o d a a m a i s fábrica n ã o t e m o m i n e i r o o u t r o
lucro mais q u e o t r a b a l h o e a g r a n d e despesa q u e faz n a contingência d o p o u c o ou
m u i t o o u r o q u e p o d e r á vir a tirar.
Provavelmente, referência a santo Ambrósio, um dos mais ilustres padres da Igreja, reconhecido pela
defesa ardente da fé e dos bons costumes.,
497
p o r q u ê as c i r c u n s t â n c i a s d e q u e se c o m p õ e e os c l a m o r e s dos efeitos q u e t e m
p r o d u z i d o n ã o c h e g a m à real p r e s e n ç a de Sua Majestade.
115 P a r a todas as referidas c o n d e n a ç õ e s , extermínios e confiscações serve d e
culpa, c o n f o r m e d e c l a r a o "regimento^, a d e m o r a ou afetada negligência d e n ã o
v i r e m p a g a r n o t e r m o dos q u a t r o meses e sem e m b a r g o de se n ã o v e n c e r o p a g a -
m e n t o , c o m o t e n h o m o s t r a d o , senão n o fim dos seis meses se deve fazer a reflexão
q u e assim c o m o o r e g i m e n t o m a n d a "devassar aos q u e faltaram a o p a g a m e n t o ,
n ã o m a n d a n e m p e r m i t e averiguar-se se n a omissão h o u v e dolo ou afetada negli-
gência, n e m aos réus se a d m i t e defesa n e m p r o v a e m c o n t r á r i o . M á s faltar-se a o
p a g a m e n t o n o referido t e r m o p a r a se j u l g a r p o r p r o v a d a a c u l p a do dolo e ficar
j u s t a m e n t e c o n d e n a d o , se esta prática n ã o / / fosse dirigida p o r u m h o m e m leigo, [ fl. 237 ]
m a s sim p o r sujeito professor de letras, n ã o deixaria d e p o n d e r a r q u e , s e g u n d o as
disposições das leis e regras d e Direito, n ã o p o d e h a v e r c o n d e n a ç ã o d e p e n a sem
culpa p r o v a d a , n e m se p o d e negar ao réu a defesa, q u e é d e direito n a t u r a l . E p a r a
se j u l g a r q u e e m faltar à "matrícula ou a o p a g a m e n t o nela c o n s i g n a d o c o m e t e u
" m o r a culpável, deve o réu ser ouvido nas causas dela e s e n t e n c i a d o p e l a v e r d a d e
averiguada, pois é sem dúvida q u e p o d e haver muitos motivos q u e o isentem d a
culpa, p o r q u e o n ã o ter o p o b r e c o m q u e p a g a r a d i a n t a d o , o n ã o a c h a r q u e m l h o
empreste, o n ã o ter q u e v e n d e r p a r a r e m i r a o p r e ç o do tributo, a ocasião d e u m a
d o e n ç a e o u t r a s dificuldades invencíveis, t u d o são f u n d a m e n t o s q u e , p r o v a d o s ,
ilidem t o d a a p r e s u n ç ã o do dolo.
116 O s principais fundamentos p o r q u e se estabeleceu o sistema d a "capitação
foí p a r a se evitarem os g r a n d e s furtos e "descaminhos q u e se c o m e t i a m nos reais
"quintos d e S u a Majestade e ficar c e s s a n d o o a t r e v i m e n t o d e se c o m e t e r e m os
execrandos delitos de casas e fábricas d e m o e d a e barras falsas, c o m o t a m b é m alivia-
rem-se os povos das devassas, prisões e confiscos que c o n t i n u a m e n t e havia p o r causa
dos referidos delitos. M a s são tão contrários os efeitos da capitação produzidos dos seus
arbítrios que ficou servindo de prêmio e utilidade para os delinqüentes dos descaminhos
dos quintos e d e total ruína e castigo p a r a os inocentes, como irei m o s t r a n d o .
117 E público, notório e sabido de todos os q u e t ê m experiência das M i n a s
q u e nelas só c o m e t i a m os descaminhos os m e r c a d o r e s , "comboieiros e traficantes,
p o r q u e i n d o p a r a r a seu p o d e r t o d o o o u r o e m p ó q u e r e c e b i a m d o s m i n e i r o s ,
roceiros e mais m o r a d o r e s , r e c e b e n d o j u n t a m e n t e n a maioria do preço das oitavas
os quintos c o m obrigação de os i r e m p a g a r n a C a s a d e F u n d i ç ã o , m u i t o s destes
s a í a m p a r a fora das M i n a s levando o c u l t a m e n t e o o u r o e m p ó s e m p a g a r e m os
referidos quintos, e vindos p a r a os portos de m a r destes se conduzia p a r a a Costa d a
M i n a e se levava p a r a Lisboa oculto nas "frotas. / / E todos estes descaminhos trazi- [ fl. 237v. ]
a m a sua origem da extração q u e nas M i n a s se cometia c o m tanta liberdade, p e r m i -
tida talvez p o r pessoas a q u e m , p e l a o b r i g a ç ã o dos c a r g o s , p e r t e n c i a evitá-la. E
sendo os delinqüentes e transgressores das leis os mercadores, "comboieiros e trafi-
cantes, estes são os premiados e os q u e só recebem conveniências d a capitação. E os
498
q u e d e v i a m . M a s p o u c o i m p o r t a q u e sé e v i t e m os " d e s c a m i n h o s c o m u t a d o o
" q u i n t o e m "capitação se desta se origina u m a g r a n d e d e c a d ê n c i a nas M i n a s e
u m a g r a n d e d i m i n u i ç ã o n o s r e n d i m e n t o s dos m e s m o s reais q u i n t o s , c o m o vai
m o s t r a n d o a experiência n a deserção q u e j á tem feito u m g r a n d e n ú m e r o d e m o -
r a d o r e s de todas / / a s c o m a r c a s das M i n a s , levando consigo os seus escravos, p o r [ fl. 238v. ]
ser intolerável o tributo d a c a p i t a ç ã o , e n a subsistência destes consiste o r e n d i m e n -
to dela. E s e m dúvida q u e n a d i m i n u i ç ã o deles h á o m e s m o r e n d i m e n t o de p a d e -
cer igual falta, e p a r a q u e m e l h o r se c o n h e ç a o q u a n t o é fantástico e q u i m é r i c o o
r e n d i m e n t o d a c a p i t a ç ã o , c o m b i n e m o s o r e n d i m e n t o q u e t i v e r a m as "casas d e
fundição e m u m a n o c o m o r e n d i m e n t o q u e teve o p r i m e i r o a n o d a c a p i t a ç ã o .
123 G o v e r n a n d o o c o n d e das Galveias as M i n a s , m a n d o u Sua M a j e s t a d e a elas
a M a r t i n h o d e M e n d o n ç a p r o p o r aos povos o arbítrio d a capitação. Rejeitou-se esta,
c o m o j á fica dito, p o r se j u l g a r prejudicial e onerosa, e e m seu lugar, c o n f o r m e as
o r d e n s reais, se estabeleceram três casas de fundição, u m a è m Vila R i c a , o u t r a n o
S a b a r á e o u t r a n o R i o das M o r t e s , extinguindo-se, a o m e s m o t e m p o , as casas d a
m o e d a q u e havia, e determinou-se q u e n ã o sairia o u r o e m p ó p a r a fora das M i n a s
sem ser fundido e m b a r r a s nas ditas casas de fundição, p a r a delas p a g a r e m os quintos
a S u a Majestade.
124 P a r a as referidas casas se m a n d a r a m uns "ministros q u e S u a M a j e s t a d e
n o m e o u p a r a "intendentes da sua Real Fazenda e p a r a c o m toda a vigilância
c u i d a r e m e m evitar a extração e saída do o u r o e m p ó p a r a fora das M i n a s . E foi tal
o c u i d a d o , z e l o e desinteresse c o m q u e p r o c e d e r a m q u e , p r i n c i p i a n d o as ditas três
casas de fundição a l a b o r a r e m 22 d e m a r ç o d e 1734, r e n d e r a m os quintos q u e
nelas se p a g a r a m , até 22 de m a r ç o d e 1735, cento e trinta e sete "arrobas de. o u r o ,
a d v e r t i n d o q u e este r e n d i m e n t o foi líquido d e t o d a s as despesas seguintes, q u e
são uns g r a n d e s o r d e n a d o s q u ç se p a g a r a m a u m g r a n d e n ú m e r o de "oficiais d e
q u e se c o m p u n h a c a d a u m a das ditas casas, assim p a r a d e s p a c h o , r e c e b i m e n t o e
e x p e d i ç ã o do o u r o , c o m o p a r a a "fábrica d a fundição e "ensaios dele. T i r a r a m - s e
t a m b é m todas as g r a n d e s despesas de carvão e mais materiais de q u e / / o o u r o [ fl. 2 3 9 ]
necessita p a r a a sua fundição e, a b a t i d a t o d a esta g r a n d e despesa, ficou líquido n o
r e n d i m e n t o d e u m a n o a referida q u a n t i a d e cento e trinta e sete a r r o b a s de o u r o
d e quintos.
125 M o s t r o u mais a experiência q u e c a d a vez seria mais o r e n d i m e n t o p o r -
que, c o n t i n u a n d o a l a b o r a r as ditas casas mais três meses, h o u v e nelas d e rendi-
m e n t o q u a r e n t a e três arrobas de ouro, e se continuassem i m p o r t a r i a o p r o d u t o d o
s e g u n d o a n o c e n t o e setenta e duas a r r o b a s , c o n d u z i n d o m u i t o p a r a o a u m e n t o
deste acréscimo as exatas diligências que os intendentes faziam p a r a q u e todo o ouro
e m p ó viesse às casas de fundição reduzir-se a barras p a r a p a g a r e m os quintos.
126. N a s casas d e fundição se c o b r a v a m os quintos de S u a M a j e s t a d e sem a
m e n o r s o m b r a d e violência e s e m opressão a l g u m a dos povos p o r q u e , e x e c u t a n -
d o os ministros as diligências necessárias p a r a evitarem a saída do o u r o e m p ó fora
500
• 54 «
[ fl. 2 4 3 ] S e n h o r e s do S e n a d o :
D e Vossas Mercês,
os mais afetuosos v e n e r a d o r e s .
55
[Voto do Senado da Câmara de Sabará
para eleição de procuradores para representação contra a
Lei Novíssima das Casas de Fundição]
[ 11. 247 ] S e n h o r e s do S e n a d o :
D e Vossas M e r c ê s ,
maiores veneradores e criados. 3
A n t ô n i o d e A m o r i m Soares Veríssimo F e r r e i r a M a r i n h o
J o s é B e r n a r d o d a Silveira J o ã o Pedro da C u n h a
José Ribeiro de Carvalho
Façam-nos Vossas Mercês a mercê enviar este maço para ó Rio das Mortes, com a melhor brevidade
que puderem, em ordem a conformarem-se conosco.
. 56 <
[ fl. 248 ] S e n h o r e s do S e n a d o ;
S o m o s o b r i g a d o s , e m c u m p r i m e n t o do m a n d a d o d e Vossas M e r c ê s , a dis-
c o r r e r os meios q u e p a r e c e r e m mais a d e q u a d o s , n a c o n j u n t u r a p r e s e n t e , p a r a se
e x e c u t a r c o m ã m a i o r s u a v i d a d e o sistema e s t a b e l e c i d o n a L e i N o v í s s i m a das
F u n d i ç õ e s , e a t e n t o ao b e n i g n o indulto de S u a M a j e s t a d e , q u e foi servido facul-
t a r - n o s n o capítulo 11 d a m e s m a lei, c o m o t a m b é m a d e t e r m i n a ç ã o de V o s s a s
M e r c ê s , c h e i a d o zelo d o b e m p ú b l i c o e utilidade do R e a l E r á r i o , a q u e todos
desejamos contribuir c o m o fiéis vassalos, aplicamos as m a i o r e s diligências p a r a o
e x a m e e a v e r i g u a ç ã o d e p o n t o t ã o dificultoso, E c o n s i d e r a n d o esta m a t é r i a u m
confuso labirinto, dele só p o d e r e m o s sair c o m a luz d a o b e d i ê n c i a e fio do zelo
c o m q u e nos e m p r e g a m o s n o serviço de S u a M a j e s t a d e e utilidade dos povos a
q u e m Vossas M e r c ê s , c o m o tutores, p r o c u r a m o r e m é d i o .
P a r a p o n d e r a ç ã o do estado p r e s e n t e , será preciso fazer reflexão e t r a z e r à
m e m ó r i a o p a s s a d o em q u e se e x p e r i m e n t o u v a r i e d a d e d e sistemas n a a r r e c a d a -
ção d o real "quinto, e m q u e s e m p r e houve m u d a n ç a s , p o r q u e o "país e q u a l i d a d e
do negócio dele n ã o p e r m i t e firmeza.
Principiou a contribuição dos quintos, p o r ajuste c o m as "câmaras, a p a g a r e m
•30 " a r r o b a s a n u a l m e n t e , p o r n ã o se p o d e r d a r neste país f o r m a r e g u l a r em q u e se
tirasse i n t e i r a m e n t e o quinto; e e m fevereiro de 1714 h o u v e o ajuste d e 30 a r r o b a s
p o r a n o , q u e se l a n ç a r a m pelos escravos n a repartição do q u e tocava a c a d a c â m a -
ra. E p o r q u e e r a m p o u c o s os escravos p a r a tão g r a n d e impostura, se v a l e r a m d e
l a n ç a r nas "entradas dos c a m i n h o s u m t a n t o e m c a d a Carga das q u e e n t r a v a m p a r a
esta capitania, e assim se conservou até j a n e i r o de 1718, em q u e , n a e n t r a d a d o
g o v e r n o do c o n d e de Assumar, se l a n ç a r a m aos escravos 25 a r r o b a s , ficando livres
p a r a S u a M a j e s t a d e os c a m i n h o s , q u e , sendo i m p o s i ç ã o c o m q u e se c o n t r i b u í a
p a r a aliviar a dos escravos, se tirou aos povos, e convertendo-se e m "contrato p a r a
a C o r o a t e m c h e g a d o hoje a o r e n d i m e n t o d e 31 a r r o b a s a n u a l m e n t e . E a dos
escravos foi subindo, d e f o r m a que c h e g a r a m a p a g a r 37 a r r o b a s p o r a n o até o fim
d e 1724, e m q u e teve princípio e se estabeleceu a C a s a d e F u n d i ç ã o e M o e d a ,
c o m a q u a l t o d o s os b e m - i n t e n c i o n a d o s se satisfaziam, p o r ser a q u e l e o ú n i c o
m e i o d e p a g a r c a d a u m o q u e devesse. Utilizando-se do fruto d a C a s a da M o e d a ,
p o r q u e p a g a n d o - s e nela o o u r o p e l o " t o q u e c o n v i d a v a a m u i t o s a c o m p r a r e m
o u r o p a r a o r e d u z i r e m a m o e d a , e l u c r a n d o q u a n d o m e n o s u m "vintém e m cada
"oitava, faziam utilidade a o R e a l E r á r i o , c o m a u m e n t o seu. M a s c o m o n ã o h á
e s t a d o s e g u r o , e n t r a r a m a p e r t u r b a r e s t a b o a o r d e m e h a r m o n i a os " d e s -
c a m i n h a d o r e s d o o u r o e fabricadores de b a r r a s falsas, c a u s a n d o tão graves d a n o s
a o público n a geral c o m o ç ã o q u e h o u v e nesta capitania, sendo preciso o castigo
d a q u e l e s c u l p a d o s , m a s indispensável o p a r t i c i p a r e m dele os i n o c e n t e s , p o r q u e
u n s indiciados sem culpa, outros envolvidos e m negócios c o m os culpados e m u i -
tos p o r malévolos acusados, c h e g a r a m todos a e x p e r i m e n t a r ruínas, reduzindo-se
o *país, à q u a s e e x t e n s ã o , d e h o m e n s d e c r é d i t o , sem os quais se n ã o s u s t e n t a
negócio n e m se conserva "república a l g u m a .
N e s t e estado, a c h o u estes povos a p r i m e i r a notícia da "capitação n o a n o d e [ fl. 248v. ]
1734, e a i n d a q u e p a r e c i a m e n o s r i g o r o s a do q u e se e x p e r i m e n t o u fez u m tal
h o r r o r q u e obrigou os p o v o s à q u e l a p r o m e s s a de 100 "arrobas d e o u r o p o r u m
a n o , ficando livre p a r a S u a Majestade o acréscimo q u e h o u v e nas "casas d e fundi-
ção. L a b o r a r a m estas c o m felicidade, p o r q u e chegou seu r e n d i m e n t o a 136 a r r o b a s ,
e a i n d a assim n ã o foi aceita aquela promessa, q u e n o t e m p o p r e s e n t e se n ã o p o d e
sustentar. E p a r a se verificar esta b e m fundada dúvida, seja-nos lícito p o n d e r a r a
diferença de t e m p o a t e m p o e o sistema e m q u e d e p r e s e n t e se a c h a este país, n o
q u a l é m o r a l m e n t e impossível a s e g u r a n ç a das 100 a r r o b a s .
C o n s t a v a este p o v o d e m u i t o m a i o r n ú m e r o d e escravos q u e m i n e r a v a m ; e r a m
os "jornais m u i t o a v a n t a j a d o s aos q u e a g o r a se r e c e b e m , p o r q u e j á h á m u i t o s
mineiros, e a m a i o r p a r t e deles q u e se c o n t e n t a m c o m q u a t r o "vinténs de o u r o p o r
u m escravo e m c a d a dia. N ã o e n t r a m os escravos dos p o r t o s d e m a r , p o r q u e este
negócio se t e m e n c a m i n h a d o p a r a as m i n a s d e Goiás e outras do sertão, e m q u e
h á m a i o r fertilidade d e o u r o , e t e m sido tal a d e c a d ê n c i a q u e n ã o e n t r a a q u i n t a
p a r t e dos q u e e n t r a v a m e m outro t e m p o , p o r q u e t e m havido a m e s m a nas lavras
desta capitania, pois a l g u m o u r o que se tira ou é e m lavras velhas, lavradas duas e
três vezes, ou e m m o n t e s , c o m tal dificuldade q u e se n ã o c o n s e g u e serviços d e
m i n a s ou lavras sem despesa de m u i t o s anos; e nesta d e c a d ê n c i a , q u e é n o t ó r i a ,
s e m p r e t e m a m a i o r p a r t e os mineiros, p e l a evidente razão de n ã o h a v e r neste país
g é n e r o a l g u m q u e saia p a r a fora mais do q u e o u r o , e da m ã o do m i n e i r o , depois
de extraído c o m t a n t o t r a b a l h o , passa p a r a a dos "comboieiros d e escravos, m e r -
cadores de f a z e n d a s , "oficiais mecânicos, materiais p a r a as "fábricas e outras des-
pesas, d e sorte q u e n e n h u m do país se utiliza mais q u e d a sustança d o m i n e i r o ,
q u e p r o p r i a m e n t e c o m o nervos deste c o r p o o sustentam e a n i m a m .
V e n e r a d o r e s de Vossas M e r c ê s ,
A n t ô n i o R a m o s dos Reis D o m i n g o s d e A b r e u Lisboa
M a n u e l F e r r e i r a Agrelos M a n u e l Dias d a C o s t a
A n t ô n i o Francisco F r a n ç a Alexandre da C u n h a e Matos
• 57 «
S e n h o r e s do S e n a d o : [ fl. 250 ]
J o s é F e r r e i r a Vila N o y a
J o ã o d e Oliveira Luís C o e l h o Borges
José Lopes Bandeira D o m i n g o s B a r b o s a Pereira Gonçalves
58
[Representação da Câmara de Vila Rica contra a
Lei Novíssima das Gasas de Fundição]
d a d e d a " d e r r a m a , p a g a n d o c a d a u m à p r o p o r ç ã o do q u e tiver, o q u e s o m e n t e
p e l o p r o p o s t o m é t o d o se p o d e p r a t i c a r s e m q u e i x a d e n e n h u m a q u a l i d a d e d e
pessoa, pois todos p a g a m à p r o p o r ç ã o do q u e p o d e m e g a s t a m .
E satisfazendo as instâncias de algum imaginado acontecimento dos q u e quei-
r a m dizer que se p o u p a r ã o os gastos e q u e serão menos as "entradas das fazendas, e
q u e poderá vir t e m p o e m que nestas Minas se fabriquem linhos, lãs, p a n o s e outros
"efeitos, respondemos com muita brevidade q u e a o presente n ã o h á esperanças de
tal, e que a vaidade n ã o tem limite, e que e n q u a n t o houver o u r o as indústrias dos
homens só se o c u p a m e m ver o m o d o c o m o d h ã o de tirar das entranhas d a terra, e os
gastos são precisos e necessários, e j u n t a m e n t e o negócio das entradas.
E caso q u e este i m a g i n a d o sonho acontecesse p a r a o futuro, nesse t e m p o se
lhe p o d i a d a r r e m é d i o " q u i n t a n d o os m e s m o s efeitos n a c o n c o r r e n t e q u a n t i d a d e
e m q u e se visse d i m i n u i ç ã o às e n t r a d a s , e nesta resposta se dá c u r a a o m a l presen-
[ fl. 255 J té e p r o v i d ê n c i a / / p a r a o futuro.
Ultimamente, Senhor, c l a m a m estes povos por "casa da moeda. Esta é convenien-
te e d e muita utilidade ao povo e à Real Fazenda. A o povo p o r q u e gira o ouro, p á r a
n a terra mais facilmente se e m p ó está e todos se r e m e d e i a m , o que n ã o sucede no
tempo presente, pois todo vai p a r a a Casa do Rio de Janeiro, causa p o r q u e está tão
a b u n d a n t e e populosa aquela cidade, e se é b o m ou m a u era razão participassem todos.
Serve t a m b é m d e a u m e n t o a o R e a l E r á r i o , p o r q u e g i r a n d o a m o e d a h á m a i s
negócio, a n i m a mais aos h o m e n s e se multiplicam as p o v o a ç õ e s , fazendo diligência
p o r novos descobertos, e, p o r conseqüência, h á d e h a v e r mais e n t r a d a s , o q u e t u d o
resulta e m a u m e n t o d o real quinto no p r o p o s t o m é t o d o .
D i r - n o s - ã o q u e a i n d a se faz l e m b r a d a a m a l d a d e d e p r a v a d a dós q u e e m outro
t e m p o i n t e n t a r a m f a b r i c a r m o e d a , ao q u e satisfazemos c o m facilíssima resposta: tem-
nos m o s t r a d o a experiência q u e h á 17 anos e m q u e o o u r o está p e l o seu "toque
n u n c a nestas M i n a s n e m a i n d a se s o n h o u a fabricar tal falsidade de m o e d a , e a
r a z ã o é p o r q u e se tirou a conveniência à d e p r a v a d a malícia. D e sorte q u e n a q u e l e
t e m p o era o o u r o a 1.200 é t i n h a m a conveniência d e três "tostões e m "oitava;
p o r isso se inclinavam a furtar p o r aquele a b o m i n á v e l m e i o . P o r é m , depois q u e se
pôs o o u r o a 1.500 cessou a m a l d a d e e cessou o furto, pois claro está q u e tão fácil
lhe era fabricar a falsidade c o m o c u n h o d o R i o c o m o c o m o das M i n a s . A l é m d e
q u e , estão as M i n a s hoje mais governadas c o m o zelo dos " g o v e r n a d o r e s e a d m i -
n i s t r a ç ã o das justiças, e posto o o u r o pelo seu t o q u e cessa t o d a a p r e s u n ç ã o do
furto, e c o m o p r o p o s t o m é t o d o cessam a d e s o r d e m , confusão e c l a m o r d o p o v o .
A c h a r a m os d e p u t a d o s e conselheiros d e V o s s a M a j e s t a d e ser m a i s útil a
oferta q u e h á 17 anos t i n h a m feito os povos p o r q u e n ã o e x a m i n a r a m a diferença
e m u d a n ç a d e t e m p o a t e m p o , causa p o r que, o u t r a vez, r e c o r r e m o s ao p a t e r n a l
a m o r e real b e n i g n i d a d e de Vossa Majestade p a r a q u e , p o n d o os olhos d e p i e d a -
d e e m este p o v o das M i n a s , haja p o r b e m m a n d a r o u t r a vez rever e e x a m i n a r ,
a t e n t a e favoravelmente, esta m a t é r i a pelos m e s m o s conselheiros, pois i g n o r a m o s
525
> 59 <
[ fl. 256 ] S e n h o r e s do S e n a d o :
N ã o p o d e m o s deixar d e r e c o n h e c e r a j u s t a r a z ã o q u e a Vossas M e r c ê s m o -
v e m p a r a a n o v a r e p r e s e n t a ç ã o q u e i n t e n t a m fazer a sua Majestade sobre a n o v a
lei respectiva ao estabelecimento d a "fundição e extinção d a c o b r a n ç a d a * c a p i t a ç ã o ,
q u e talvez resultaria d a v a r i e d a d e c o m q u é as *câmaras deste c o n t i n e n t e ate a g o r a
se h o u v e r a m nos meios q u e se p r o p u s e r a m p a r a a segurança dos reais "quintos do
m e s m o s e n h o r , q u e tantas vezes r e c o m e n d o u se assentasse n o mais c o n v e n i e n t e
p a r a a dita firmeza e m e n o s opressão dos povos.
E-nos p r e s e n t e o q u e Vossas M e r c ê s t ê m assentado a respeito d o m o d o d e
satisfazer os quintos a o m e s m o s e n h o r nas "passagens e " e n t r a d a s destas M i n a s ; e
nos p a r e c e , t a m b é m , o m o d o mais suave d o dito p a g a m e n t o , m e n o s o h a v e r "casa
d a m o e d a nas M i n a s , q u e d e n e n h u m a sorte j u l g a m o s conveniente, pelos g r a n d e s
d a n o s q u e r e s u l t a r a m q u a n d o as houve. Q u e q u a n t o ao o u t r o m e i o d e c o b r a r S u a
Majestade o p o u c o ou m u i t o q u e r e n d e r o seu "quinto, a i n d a q u e é j u s t o e c o n -
forme as suas leis, o consideramos difícil d e conseguir.
P o r é m , c o m o estamos obrigados a nos c o n f o r m a r c o m os p a r e c e r e s d a deter-
m i n a ç ã o d a c a b e ç a desta c o m a r c a , p o r evitarmos a v a r i e d a d e tão nociva q u e d o
c o n t r á r i o resulta, esta a i n d a n ã o assentou totalmente no m e i o q u e mais útil p a r e -
ce, p e l o q u e e s p e r a m o s , p o r instantes os faremos cientes, n a f o r m a q u e n o s r o g a m
p a r a tão a c e r t a d o intento.
D e Vossas M e r c ê s ,
os m a i s afetivos v e n e r a d o r e s
M a n u e l d e Araújo Pereira Antônio Gomes de Lemos
Salvador Pereira d e M a c e d o M a n u e l Francisco N e t o
> 60 «
[Carta do Senado da Câmara de São João del-Rei sobre represen-
tação contra a Lei Novíssima das Casas de Fundição]
D e Vossas Mercês,
os mais afetivos v e n e r a d o r e s
61
[Papel acerca do estabelecimento de um seguro
de escravos e suas muitas utilidades]
J u s t í s s i m o r e q u e r i m e n t o e m q u e se d á o m o d o m a i s v e r d a d e i r o p a r a fazer
renascer ou ressuscitar as M i n a s , q u e se a c h a m e m total r u í n a e últimos suspiros,
c l a m a n d o h á m u i t o s anos sem se lhes d a r r e m é d i o a sua ruína, t e n d o - o tão singu-
lar d e S u a M a j e s t a d e , q u e D e u s g u a r d e , e q u e r e n d o - l h e d a r s e m fraude d e sua
R e a l F a z e n d a n e m d e seus "contratos. M a s c o m o tal r e m é d i o são as utilidades tão
g r a n d e s e e m t a n t o n ú m e r o e se v e r ã o os, povos das M i n a s do estado e m q u e se
v ê e m , miseráveis, m u d a d o p a r a florente e c o m superiores lucros e a u m e n t o s p a r a
a real C o r o a e m u i t o serviço a D e u s , q u e p e r m i t a abrir as p o r t a s h á tantos anos
fechadas do b e m c o m u m e geral, c o m o e m p a r t e digo n o r e s u m o j u n t o .
E receberá mercê.
Primeira utilidade
S e g u n d a utilidade
Terceira utilidade
Q u a r t a utilidade
[ t i 262 ] Q u i n t a utilidade
Sexta utilidade
Sétima utilidade
S e n h o r , é s e m d ú v i d a e s t a r e m os m o r a d o r e s das M i n a s e m t ã o m i s e r á v e l
estado q u e o n ã o posso referir, e n ã o p o d i a m c h e g a r a m a i o r miséria. Q u e m tal
c u i d a r a q u e h a v i a m d e ver e m terras de m i n a s tal clamor, t e n d o tão singular r e m e -
535
E receberá m e r c ê
62
[Parecer contra a capitação e as casas de fundição e pela imposição
de quantia equivalente ao quinto sobre os gêneros]
[ íl. 2 6 5 ] o m o
P i t ° q u e Vossas M e r c ê s m e i m p õ e m resulta exercício a m i -
r e c e
Cila e Caribde são personagens da mitologia grega, emboscados em cada um dos lados do estreito
de Messina, na Sicília, costa sul da Itália. Cila era um monstro em forma de mulher, que tinha a
parte inferior do corpo rodeada por seis cães ferozes que devoravam tudo o que lhes passava ao
alcance. Caribde, também em forma de mulher, era o monstro que absorvia três vezes por dia
grande quantidade de água do mar, arrastando para sua goela tudo o que flutuava. Terror do
antigos navegantes, quem escapasse do turbilhão de Caribde ia bater contra o rochedo de Cila,
originando deste fato a expressão "estar entre Cila e Caribde", isto é, estar entre um mal e outro,
utilizado aqui pelo autor para exprimir a situação em que se encontrava as Minas e os mineiros.
539
Filho de Tetis e de Peleu, foi o mais famoso dos heróis gregos da Ilíada. Quando nasceu, sua mãe o
mergulhou na lagoa Estígia, o que o tornou invulnerável, exceto no calcanhar, por onde ela o
segurou. Durante a Guerra de Tróia, Paris (ou Apolo disfarçado em Paris) matou Aquiles, ferindo-
o no calcanhar. Seu nome tornou-se em todas as línguas personificação de valentia.
540
s e n h o r a dificuldade q u e h á d e se l a n ç a r c o m i g u a l d a d e : p o r q u e p a r a ser p o r
c a p i t a ç ã o lá [vamos] e n c o n t r a r c o m o m a l q u e estamos l a m e n t a n d o c o m as chagas
a i n d a abertas e p a r a se l a n ç a r conforme os cabedais de c a d a u m , à imitação dos
quatro e meio por cem, como em Portugal, encontramos maior inconveniente
pela extensão e incompreensibilidade d o país, q u e n ã o p e r m i t e cabal n e m a i n d a
m e d i a n o c o n h e c i m e n t o dos cabedais de c a d a u m , m a i o r m e n t e nesta c o m a r c a q u e
c o n t é m 60 "léguas d e l a t i t u d e e 150 d e l o n g i t u d e , e m q u e fica c o m p r e e n d i d o o
arraial d o P a r a c a t u 120 léguas distante desta vila, a o n d e n ã o p o d e m ir "intendentes,
"ouvidores e "camaristas fazer o l a n ç a m e n t o n a forma d a lei; e a m e s m a dificulda-
de p a d e c e m as mais c o m a r c a s . E p o r esta causa h a v e r á n a " d e r r a m a a m e s m a ou
m a i o r desigualdade q u e t e m o s l a m e n t a d o n a c a p i t a ç ã o .
P o n d e r a d a s as dificuldades e desigualdades q u e p a d e c e a p r á t i c a d a d e r r a -
m a , q u a n d o n ã o seja p o r v o n t a d e , p o r falta d e c o n h e c i m e n t o d o s l a n ç a d o r e s ,
acresce o g r a n d e inconveniente d e se n ã o p o d e r saber o q u e falta p a r a c o m p l e -
m e n t o das c e m "arrobas senão n o fim d e c a d a u m a n o , e além d e ser impraticável
à c o m p r e e n s ã o h u m a n a e só possível às inteligências angélicas l a n ç a r c ô m p u t o
c e r t o q u e n e m falte n e m sobeje p a r a c o m p l e t a r as c e m a r r o b a s . C o m o esta co-
b r a n ç a se h á de fazer a t e m p o q u e v ã o os p r o d u t o s nas "frotas, *ex vi, ficamos
sujeitos a m a i o r e s extorsões e violências dos c o b r a d o r e s , cuja violência n ã o d a r á
lugar a q u e possamos p a g a r c o m o u r o , e d a r e m o s negros à p e n h o r a , e se e n c h e r ã o
as p r a ç a s sem h a v e r q u e m lance neles, p e l a d e c a d ê n c i a e m q u e se a c h a o país. E
a q u i t e m o s i n t r o d u z i d a u m a confusão n a " r e p ú b l i c a , os vassalos d e s t r u í d o s e o
E r á r i o R é g i o d a n i f i c a d o , s e n d o m a i o r e s os e s t r a g o s d e s t e m é t o d o q u e os d a
c a p i t a ç ã o , pois ao menos, a q u e l a nos n ã o tirava a liberdade, n e m d i m i n u í a o valor
do o u r o , n e m alterava o p r e ç o dos gêneros.
O h o r r o r d e tantos males e as pias intenções d o s o b e r a n o nos d e v e m incitar e [ fl. 2 6 8 ]
a n i m a r a p o n d e r a r ao dito s e n h o r , c o m o m a i s reverenciai a c a t a m e n t o , q u e se
consultar esta m a t é r i a c o m teólogos estes lhe h ã o d e d e c l a r a r q u e depois q u e os
vassalos fiéis e timoratos tiverem p a g o o "quinto d o seu o u r o n ã o é lícito obrigá-
los a p a g a r p o r d e r r a m a aquilo q u e os c o n t r a b a n d i s t a s r o u b a r a m , ficando, desta
sorte, p u n i d a a inocência, sendo esta dureza, e desigualdade m a i o r q u e q u a n t a s se
contemplam n a capitação.
D a m e s m a sorte, se consultarmos os juristas sobre o p o n t o d a p r o m e s s a q u e
e m 24 d e m a r c o d e 1734 fizeram os " p r o c u r a d o r e s das c â m a r a s a o c o n d e das
Galveias, g o v e r n a n d o estas M i n a s , p r o m e t e n d o fazer certo o n ú m e r o d e c e m a r r o b a s
e m q u e se funda a s e m p r e v e n e r a n d a lei, estes h ã o d e d e c l a r a r q u e este funda-
m e n t o é contrário às regras de Direito, t a n t o p o r q u e n a q u e l e t e m p o se a c h a v a m as
M i n a s e m m e l h o r estado, assim a respeito das m a i s "pingues "faisqueiras, c o m o
p o r q u e neste t e m p o se a c h a v a a capitania d e Goiás n a sua p r i m e i r a infancia, p a r a
o n d e , depois disso, t e m desertado g r a n d e n ú m e r o d e mineiros desta e, outrossim,
n o m e s m o t e m p o , estava franca a c o m a r c a do S e r r o do Frio, o n d e os m i n e i r o s
.544
D e s t a s dificuldades n a s c e m d e s i g u a l d a d e s , m u l t a n d o aos p o v o s e m m a i o r
q u a n t i a do q u e a c o m q u e p o d e m contribuir. Estas desigualdades p r o d u z e m os
clamores dos vassalos, dos clamores dos vassalos r e s u l t a m as a l t e r n a d a s m u d a n ç a s
q u e t e m o s e x p e r i m e n t a d o nos dois m é t o d o s até a g o r a p r a t i c a d o s , de c a p i t a ç ã o e
fundição, c o m cujas m u d a n ç a s temos sofrido gravíssimos prejuízos nas altas e bai-
xas d o o u r o , sendo os dois móveis destas m u d a n ç a s o q u e r e r o s o b e r a n o evitar os
d e s c a m i n h o s do o u r o feitos a sua R e a l F a z e n d a q u a n d o o q u i n t o se c o b r a p o r
f u n d i ç ã o e o q u e r e r r e m e d i a r os c l a m o r e s dos vassalos q u a n d o se c o b r a p o r
545
e m p e n h o s , v ã o a p l i c a n d o ã estes t o d o o o u r o q u e t i r a m , p a r a o q u e a i n d a lhes
n ã o chega, de sorte q u e q u a n d o os soldados lhes v ã o à p o r t a c o m as listas das
"intendências a pedir-lhes as somas respectivas, c o m o se a c h a m s e m o u r o p a r a o
dito p a g a m e n t o d e s a f o g a m a sua m á g o a e m clamores; digo 'visivel' e 'sensivel-
m e n t e ' p o r fundição p o r q u e q u a n d o levam às casas as parcelas d e o u r o , depois de
r e d u z i d o a b a r r a lhes vêem cortar aquela p o r ç ã o respectiva a o q u i n t o , e d a q u e l a
visibilidade lhes nasce u m a tal sensibilidade q u e lhes faz fazer tais movimentos c o m o
se fossem insultados de u m a g r a n d e Convulsão, e p o r se livrarem desta e tentados
c o m a ocasião do maior lucro se a n i m a m a o c o n t r a b a n d o .
a c r e s c e n t a n d o - l h e o d u p l o p a g a r á duas oitavas e A; p a g a u m n e g r o n o v o d u a s
l
Na mitologia grega, Atlante ou Atlas era filho de Japeto e Climenes. Fez com os titãs uma guerra
contra Júpiter. Vencido, foi condenado a sustentar perpetuamente o céu sobre os ombros. Outra
tradição afirma que havendo negado asilo Adas a Perseu, lhe fez este mirar a cabeça de Medusa,
com o que metamorfoseou-se em montanha sobre a qual repousa o céu com seus astros. Compara-
se,, por vezes, a Atlante o indivíduo encarregado de suportar sozinho o peso de muitas e grandes
responsabilidades.
548
c o n t r i b u i ç ã o , e os n o m e s dos " c o n d u t o r e s , n a m e s m a f o r m a q u e se p r a t i c a n o
* c o n t r a t o , cujo t e r m o assinará o dito fiscal, escrivão e c o n d u t o r . [Nos termos]
s u b s e q ü e n t e s q u e se fizerem nó m e s m o dia n ã o será necessário d e c l a r a r a d a t a d o
dia, e b a s t a r á dizer-se " e m o dito dia passou fulano e a c o b r a n ç a s " , e se fará n a
m e s m a f o r m a q u e se pratica n o contrato das m e s m a s "entradas ou nas alfandegas
e n o c o n t r a t o do t a b a c o , fiando-se p o r a l g u m t e m p o das pessoas d e a b o n o , e as
q u e o n ã o tiverem deixarão c a r r e g a r e m p e n h o r ; e o livro d a saída servirá p a r a
fazer c a r g a n o livro das obrigações dos c o m e r c i a n t e s e p a r c e l a s d e o u r o q u e se
r e m e t e r e m p a r a o tesoureiro-geral de Vila Rica.
N ã o p a r e c e i m p e r t i n e n t e o u sujeito a falências este m o d o d e c o b r a n ç a , cujo
escrúpulo se desvanece c o m o q u e a experiência m o s t r o u n a c o b r a n ç a d a capitação,
a qual c o m p r e e n d i a a todo o gênero d e pessoas, p o b r e s e ricos, e c o n t u d o isto se
[ fl. 274 ] c o b r a v a de todos c o m e x a ç ã o , o q u e se executará / / e m m e n o r n ú m e r o e sendo
os devedores pessoas d e m a i o r crédito e posses, quais são os comerciantes.
N a s "contagens d e mais inferior r e n d i m e n t o , o n d e o c o n t r a t a d o r t e m *fiéis,
b a s t a r á q u e se p q n h ã outro p o r p a r t e d a F a z e n d a R e a l , c o m os m e s m o s dois livros
d e e n t r a d a e saída, p a r a neles se l a n ç a r e m os termos n a f o r m a a c i m a dita, os quais
termos assinará o fiel d a F a z e n d a R e a l e c o n d u t o r e fiel do "contratador, e m lugar
d o fiscal.
N a c o m a r c a d e Vila R i c a , servirá d e i n t e n d e n t e o " p r o v e d o r d a F a z e n d a
R e a l , p o r ç p n t a d o qual c o r r e r á a c o b r a n ç a desse equivalente, q u e se recolherá
e m cofre s e p a r a d o , c o m três chaves, d e q u e terá u m a o p r o v e d o r , o u t r a o "escri-
v ã o d a F a z e n d a R e a l e o u t r a o "tesoureiro d a m e s m a ; e n a c o m a r c a d o S a b a r á se
conservará u m i n t e n d e n t e p a r a a m e s m a a r r e c a d a ç ã o , c o m u m fiscal q u e seja b o m
caixeiro e u m tesoureiro c o m cofre de três chaves, as quais terá u m a o i n t e n d e n t e ,
o u t r a o fiscal e o u t r a o tesoureiro.
N a c o m a r c a do S e r r o d o Frio, c o m o é d e m e n o s r e n d i m e n t o , servirá d e
i n t e n d e n t e o dos d i a m a n t e s , c o m o fiscal e tesoureiro d a m e s m a I n t e n d ê n c i a ; e n a
c o m a r c a do R i o d a s M o r t e s servirá d e i n t e n d e n t e o " o u v i d o r d a m e s m a , c o m
cofre, fiscal e tesoureiro, n a m e s m a forma a c i m a dita.
E m c a d a intendência desta h a v e r á dois livros, u m p a r a servir d e receita, e m
q u e se c a r r e g u e m , p o r t e r m o , as obrigações e créditos d e dívidas q u e os fiscais e
fiéis dos "registros h ã o de r e m e t e r p a r a se c o b r a r e m nas c a b e ç a s das c o m a r c a s
respectivas e t a m b é m p a r a neste se c a r r e g a r e m as parcelas d e o u r o q u e os fiscais e
fiéis dos registros r e m e t e r e m , e outro livro p a r a servir de carregar todas as parcelas
q u e e n t r a m n o cofre; e t a n t o estes livros c o m o os dos fiscais e fiéis dos registros
serão rubricados ou pelos ministros d o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o ou pelos i n t e n d e n t e s
respectivos.
O s i n t e n d e n t e s respectivos, à vista dos dois livros d a i n t e n d ê n c i a e dos q u e
h ã o d e servir aos fiscais e fiéis das contagens, t o m a r ã o a estes as contas, conferindo
os livros daã contagens c o m os das intendências e t a m b é m c o m os d o c o n t r a t a d o r ,
v e n d o se estão conformes as parcelas dos livros d a c o n t r i b u i ç ã o c o m as parcelas
d o "contrato p a r a se vir n o c o n h e c i m e n t o se h á ou n ã o fraude, e pelos livros das
intendências se t o m a r á c o n t a aos intendentes.
D e s t a sorte, só fica v e n c e n d o o r d e n a d o o i n t e n d e n t e do S a b a r a , e q u a n d o
este p a r e ç a t a m b é m desnecessário p o d e r á servir d e i n t e n d e n t e o "ouvidor d a m e s -
m a c o m a r c a , m a s n u n c a se p o d e r á escusar nela fiscal e tesoureiro p a r a o m e l h o r
êxito da c o b r a n ç a , satisfazendo-se este e. os mais ministros c o m u m a certidão d o
"general, n a e s p e r a n ç a e c o m p r o m e s s a de serem atendidos d a real g r a n d e z a p a r a
os seus d e s p a c h o s , declarando-Ihe logo o p r e d i c a m e n t o q u e h ã o d e ter.
Esta f o r m a d e a r r e c a d a ç ã o do " q u i n t o p o r c o n t r i b u i ç ã o se p r o p õ e p a r a o
t e m p o e d u r a n t e o a t u a l c o n t r a t o , q u e findo este s e m p r e se considera r p r e j u í z o l '
u m intendente-geral c o m u m fiscal t a m b é m geral q u e seja b o m caixeiro / / p a r a [ fl. 274v. ]
t o m a r as contas aos ministros das c o m a r c a s , fiscais e fiéis, dos registros n a forma
a c i m a e x p r e s s a d a c o m u m m e i r i n h o e seu escrivão, o q u a l i n t e n d e n t e - g e r a l e
fiscal, t a m b é m geral, t e r ã o a sua principal residência e m Vila R i c a e dali sairão
t o d o s os anos a recensear as contas pelos "registros, f a z e n d o c o n f e r ê n c i a n o s li-
vros. A esta intendencia-geral se recolherá, e m cofre d e três chaves, t o d o o rendi-
m e n t o d a c o n t r i b u i ç ã o , das quais terá o i n t e n d e n t e u m a , o u t r a o fiscal, o u t r a o
tesoureiro.
Esta s e g u n d a forma se p r o p õ e n o caso d e se q u e r e r c o b r a r a contribuição p o r
c o n t a da F a z e n d a R e a l . P o r é m , c o m o t e m m o s t r a d o a experiência q u e s e m e l h a n -
tes contribuições gerais t ê m mais segura e e x a t a a r r e c a d a ç ã o p o r c o n t r a t o , será
mais conveniente q u e esta se r e d u z a a c o n t r a t o , p r o t e s t a n d o os vassalos, h a b i t a n -
tes neste "país das M i n a s , q u e e m tal caso n u n c a o c o n t r a t o d a contribuição seja
r e m a t a d o c o m outras condições diferentes das c o m q u e se a c h a r e m a t a d o o atual
c o n t r a t o das e n t r a d a s a J o s é Ferreira d a Veiga, p o r q u e n ã o suceda h a v e r t e m p o e
c o n t r a t a d o r q u e , a c r e s c e n t a n d o condições onerosas aos vassalos, p r o m e t a m a i o r
p r e ç o e m prejuízo destes.
D a m e s m a sorte, d e v e m p r o t e s t a r os m e s m o s vassalos q u e e m n e n h u m t e m -
p o se p o d e r á l a n ç a r i m p o s t o aos g ê n e r o s d a t e r r a p r o d u z i d o s d e n t r o d a s atuais
d e m a r c a ç õ e s das " c o n t a g e n s , e q u e caso suceda m o v e r e m - s e circunstâncias q u e
o b r i g u e m a m u d a r a l g u m a das contagens p a r a lugar mais contíguo a o c e n t r o das
M i n a s n e m p o r isso os gêneros da terra p r o d u z i d o s n a distancia q u e ficar e n t r e o
lugar e m q u e de p r e s e n t e se a c h a m as contagens e aquele p a r a o n d e se m u d a r e m
p a g a r ã o coisa a l g u m a d e contribuição, e q u e as ditas m u d a n ç a s d e ^registros o u
c o n t a g e n s se n ã o p o d e r ã o fazer sem serem ouvidos os " p r o c u r a d o r e s das c â m a r a s
e ouvidores das c o m a r c a s respectivas, n a presença do general, c o m assistência d o
"provedor d a F a z e n d a R e a l , e do q u e c o n s u l t a r e m esperar resolução régia.
T a m b é m d e v e m os vassalos das M i n a s protestar a o s o b e r a n o q u e caso pelo
d e c u r s o do t e m p o se m o v a m c i r c u n s t â n c i a s o u casos fortuitos q u e o b r i g u e m a
eleger outro m é t o d o p a r a a c o b r a n ç a d o quinto, é m tal caso, logo q u e o u t r o dife-
558
• 63 -
o u r o a n u a i s e m q u e se a c h a m c o m u t a d o s os " q u i n t o s q u e se l h e d e v e m , n ã o
c o n c l u e m q u e deva o peso d e o u r o q u e o e m b a r g a n t e deve p o r sua r e m a t a ç ã o ser
q u i n t a d o à custa dele, p o r q u e t a n t o beneficio faz o dito s e n h o r a seus vassalos e m
aplicar ã sua contribuição ò quinto daquelas "oitavas, d e que se formam as quarenta
e quatro "arrobas e seis "libras, como e m lhes aplicar os trezentos "réis d e c a d a u m a ,
ficando-Ihe os mil e duzentos, p o r q u e sem se quintarem vale p a r a o dito senhor cada
oitava mil e quinhentos; e se d a sua real grandeza for, c o m o n a "junta se disse, q u e r e r
observar n o seu real p a t r i m ô n i o a sua lei nobilíssima, nessa forma fica c u m p r i n d o
s e p a r a n d o p a r a os quintos trezentos réis e m benefício dos p o v o s e r e c e b e n d o os
mil e duzentos, c o n t e n d o - s e a m b a s as parcelas e m c a d a oitava.
P r o v a r á q u e d a m e n t e d o dito s e n h o r s e m p r e foi q u e os seus "contratadores
d e "dízimos r e m a t a n d o p o r a r r o b a s de o u r o lhe p a g a s s e m no m e s m o g ê n e r o sem
[ fl. 279v. ] se lhes a u m e n t a r o valor d e l e , n o c a s o d e h a v e r / / d i m i n u i ç ã o n a e s t i m a ç ã o
extrínseca, n e m se lhe c a r r e g a r o q u i n t o do p r e ç o e s t i p u l a d o , c o m o se decidiu
b e m c l a r a m e n t e n a " o r d e m régia p o r [carta?] de treze de m a r ç o d e mil setecentos
e vinte e nove, que p o r certidão se junta, e nesses termos n ã o deve ter observância o
d e t e r m i n a d o n a q u e l a o r d e m e decidido n a j u n t a , pois o c u l a r m e n t e se vê q u e os
"ministros dela, valendo-se d a m e s m a ordem, parece a não leram c o m atenção, o que
b e m se depreende p o r dizerem q u e m a n d a expressamente que se p a g u e quintado o
p r e ç o d o contrato, o r d e n a n d o nela o dito senhor todo o contrário e admitindo so-
m e n t e se lhe p a g u e quintado, o que, de fato e sem ordem sua, os contratadores assim
t i n h a m cobrado, a qual exceção, p o r ter causal limitada e muito diversa d o c o r p o d a
dita o r d e m , n ã o p o d e derrogá-la, n e m o seu principal intento, q u e foi o estabele-
cer q u e se n ã o praticasse o q u e pela o r d e m e m b a r g a d a se d e t e r m i n a .
P r o v a r á q u e consta d a certidão q u e vai j u n t a , tirada dos livros d a receita q u e
serviram nos anos d e 1735 e 1736, carregar-se o o u r o à r a z ã o d e mil e duzentos
a o " t e s o u r e i r o [que] e n t ã o servia, p o r q u e assim c o r r i a n a q u e l e t e m p o , e nessa
f o r m a se r e c e b e r á d o c o n t r a t a d o r r e m a t a n t e , sem a u m e n t o a l g u m n e m alteração
[ fl. 280 ] respectiva a o q u i n t o , e a m e s m a alteração é p r o i b i d a / / p e l a p r i m e i r a c o n d i ç ã o
do c o n t r a t o d o e m b a r g a n t e , c o m o qual se deve p r a t i c a r o m e s m o q u e c o m a q u e -
les c o n t r a t a d o r e s se observou.
P r o v a r á q u e os "contratos dos príncipes são leis q u e n ã o a d m i t e m a m e n o r
m u d a n ç a n e m a l t e r a ç ã o , p o r se d e r i v a r e m d o direitp n a t u r a l e s e c u n d á r i o q u e
o b r i g a aos príncipes a s u a rigorosa observância e inteiro c u m p r i m e n t o , e t e n d o
estes p o r sua s o b e r a n i a t o d o o direito positivo a seus pés, o direito n a t u r a l lhes fica
s o b r e a c a b e ç a ; e t a n t a força t ê m os c o n t r a t o s dos p r í n c i p e s q u e p e l a s leis a o
depois constituídas n ã o p o d e m revogar aos contratos q u e , a n t e c e d e n t e s , [celebra-
r a m ? ] , c o m o e m seu lugar se h á d e m o s t r a r , p o r direito, e dele se consegue q u e o
e m b a r g a n t e n ã o deve ser o b r i g a d o a fazer seus p a g a m e n t o s e m o u r o q u i n t a d o ,
p o r q u e n o seu c o n t r a t o essa obrigação se n ã o c o m p r e e n d e u .
563
n o c o n t r a t o se n ã o incluiu; daí se m o s t r a q u e a o r d e m e m b a r g a d a se n ã o d e v e
c u m p r i r e m prejuízo do e m b a r g a n t e n o seu c o n t r a t o , a o qual o dito s e n h o r n u n c a
se e n t e n d e q u e r e r d e r r o g a r n e m prejudicar a o direito p o r ele a d q u i r i d o p a r a ex-
clusão d o dito e n c a r g o d e p a g a r q u i n t a d o , s e m a q u a l e m n a d a p r e j u d i c a a o
e m b a r g a n t e a F a z e n d a Real.
• 64 <
[ fl. 283 ] *Contratos dos dízimos de Vila Rica, Rio das Mortes e Sabará
com o Serro do Frio que se fizeram no Conselho Ultramarino com
o capitão João dê Sousa Lisboa, Pedro Teixeira de Carvalho e João
de Siqueira, por seu bastante procurador Francisco Antônio
Rodrigues Feijó, por tempo de três anos, que hão de principiar
em dois de agosto de, 1750, em preço, todos os ditos três anos,
de quarenta e quatro *arrobas e seis *libras de ouro,
livres para a Fazenda Real
A
no do n a s c i m e n t o de Nosso S e n h o r J e s u s Cristo de mil setecentos e q u a -
r e n t a e n o v e , aos d e z e n o v e dias d o m ê s d e a g o s t o d o d i t o a n o , n e s t a
C o r t e e c i d a d e d e Lisboa, nos Paços d e Sua Majestade e casa e m q u e se
faz o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o , estando presentes os senhores conselheiros e o p r o -
c u r a d o r d a F a z e n d a dele, o d e s e m b a r g a d o r G o n ç a l o J o s é d a Silveira P r e t o , a p a -
receu o capitão Francisco A n t ô n i o R o d r i g u e s Feijó, p r o c u r a d o r b a s t a n t e do "capi-
tão J o ã o d e S o u s a Lisboa, P e d r o T e i x e i r a d e C a r v a l h o e J o ã o de Siqueira, p e l o
qual foi dito fazia l a n ç o (como c o m efeito fez) e m n o m e dos ditos seus constituin-
tes nos três "contratos dos dízimos de Vila Rica, R i o das M o r t e s , S a b a r á e S e r r o
do Frio p o r t e m p o d e três anos, q u e h ã o de ter princípio n o dia dois de agosto d e
1750 e h ã o d e findar e m outro tal dia d e 1753, p o r p r e ç o , c a d a u m / / dos ditos [fl. 283v. ]
três a n o s , de q u a t o r z e " a r r o b a s e vinte e q u a t r o *Iíbras d e o u r o , q u e fazem, e m
todo o triénio, q u a r e n t a e q u a t r o a r r o b a s e seis libras d e o u r o , livres p a r a a F a z e n -
d a de S u a M a j e s t a d e , a saber: pelos d e Vila R i c a seis a r r o b a s de o u r o c a d a a n o ,
pelos d o R i o das M o r t e s três a r r o b a s e m e i a e pelos do S a b a r á , S e r r o d o Frio e
sertão cinco a r r o b a s e oito libras, c o m as condições e obrigações do contrato atual,
declaradas n a forma d a cópia assinada pelos ditos senhores "ministros d o Conselho,
abaixo expressadas, e p a r a estas arrematações p r e c e d e r a m "editais e as mais solenida-
des q u e dispõe o "regimento, e se, lhes d e c l a r a r a m os "decretos d e S u a Majestade
sobre os conluios e companheiros e a "resolução do m e s m o s e n h o r d e vinte e sete
de s e t e m b r o de mil setecentos, e q u a r e n t a e seis, e d e u p o r fiador à " d é c i m a a o
566
J o a q u i m Miguel Lopes d e L a v r e
569
E u , e l - r e i , f a ç o s a b e r a o s q u e este m e u * a l v a r á v i r e m q u e , s e n d o - m e [ fl. 2 8 8 ]
p r e s e n t e os t r ê s " c o n t r a t o s a t r á s e s c r i t o s , q u e se fizeram no meu Conselho
U l t r a m a r i n o com o capitão J o ã o de Sousa Lisboa, Pedro Teixeira de Carva-
l h o e J o ã o d e S i q u e i r a , p o r seu b a s t a n t e p r o c u r a d o r , o c a p i t ã o F r a n c i s c o A n -
tônio R o d r i g u e s Feijó, d o r e n d i m e n t o dos "dízimos de Vila R i c a , R i o das
M o r t e s e S a b a r á c o m S e r r o d o F r i o , p o r t e m p o d e três a n o s , q u e h ã o d e t e r
p r i n c í p i o n o dia dois d e a g o s t o d e 1750, p o r p r e ç o , t o d o s os ditos c o n t r a t o s ,
e m t o d o o t r i e n i o , d e q u a r e n t a e q u a t r o " a r r o b a s e seis "libras d e o u r o livres
p a r a m i n h a R e a l F a z e n d a , c o m as c o n d i ç õ e s e o b r i g a ç õ e s e x p r e s s a d a s n o s
ditos c o n t r a t o s , h e i p o r b e m a p r o v a r e ratificar os m e s m o s c o n t r a t o s nas p e s -
soas d o s referidos c a p i t ã o J o ã o d e S o u s a L i s b o a , P e d r o T e i x e i r a d e C a r v a l h o
e J o ã o d e S i q u e i r a , e m a n d o se c u m p r a m e g u a r d e m i n t e i r a m e n t e c o m o neles
e e m c a d a u m a d e suas c o n d i ç õ e s s e c o n t ê m , p o r este a l v a r á q u e v a l e r á c o m o
" c a r t a e n ã o p a s s a r á p e l a C h a n c e l a r i a s e m e m b a r g o d a O r d e n a ç ã o , lib. 2 tit.
3 9 e 4 0 e m c o n t r á r i o . L i s b o a , a 10 d e o u t u b r o d e 1 7 4 9 .
Rainha
A l e x a n d r e M é t e l o de Sousa e M e n e s e s
T o m é Gomes Moreira
J o a q u i m M i g u e l Lopes d e L a v r e
A n t ô n i o d e Cobelos Pereira o fez.
570
• 65 «
R e m a t a n d o Afonso G i n a b e l n o C o n s e l h o d e U l t r a m a r d a c i d a d e de Lisboa
os " c o n t r a t o s das e n t r a d a s p a r a estas M i n a s e m p r e ç o de 117 " a r r o b a s e u m a
"libra d e o u r o , e m 12 de agosto d e 1750, e tendo seu p r o c u r a d o r a l g u m a dúvida
571
Roland. a Valle, consil. 25, n. 35; Amaya, in leg. fin,, cod. de annon. et trib., libro 10, n. 2, 3, e 4.
Partium alterutra renuente, Pelaes de maior. Hispan. P. 1. q. 28, n. 14
Trasso, de patrón, regio, torri. 2, cap. 95, n. 9.
572
r e m a t a n t e , p a g a n d o quintos d a s u a r e m a t a ç ã o q u e n ã o estipulou n e m p r o m e t e u
c o m 28 "arrobas de o u r o , se a c h a prejudicado, e o n e r a d o e sujeito a " d e r r a m a ; e
os v i a n d a n t e s , v e n d o q u e a miséria d o "país n ã o d á Conveniência q u e faça c o n t a
e m m e t e r e m carregações, considerada a despesa dos direitos, h ã o d e p a r a r c o m o
seu tráfico, e ficarão c e s s a n d o os e m o l u m e n t o s dos "registros e o r e m a t a n t e e m
r u í n a , s e m r e m é d i o p a r a p o d e r satisfazer o p r e ç o e s t i p u l a d o , o q u e talvez n ã o
e x p e r i m e n t a r i a se n a " j u n t a b e m se p o n d e r a s s e m estes i n c o n v e n i e n t e s , a for-
m a d a d i t a r e m a t a ç ã o a p r o v a d a p o r S u a M a j e s t a d e e as c o n d i ç õ e s d a m e s m a ,
que n ã o d ã o lugar ao d e t e r m i n a d o , e declaração de Vossa Excelência que p o r
ele se r e g u l o u .
[ fl. 290 ] N a s O r d e n a ç õ e s d a R e a l F a z e n d a p r o í b e S u a M a j e s t a d e , t o m a r e m - s e nos
"contratos reais lanços c o m condições novas, pelos capítulos 10 e 5 3 , a i n d a q u a n -
do as condições novas n ã o sejam prejudiciais aos povos; e p o r ali b e m se infere,
p o r m a i o r i d a d e de r a z ã o , q u e n e n h u m a condição n o v a se p o d e i m p o r aos contra-
tos depois de perfeitos e m sua substância, p o r q u e o q u e n ã o deve antes de perfeito
p c o n t r a t o admitir-se n ã o deve depois de perfeito tolerar-se. E a d e c l a r a ç ã o q u e se
i m p u g n a , p r e j u d i c a n d o tão g r a v e m e n t e a o r e m a t a n t e e p o v o s , d á ocasião a cessar
a freqüência dos registros e a u m g r a n d e a b a t i m e n t o nas r e n d a s reais, q u e costu-
m a m a u m e n t a r - s e ao sentir dos políticos q u a n d o os tributos devidos à Majestade
se m o d e r a m ; l e o r e m a t a n t e , a todo o risco d a sua F a z e n d a , subiu os reais contra-
f
A u t i l i d a d e d a F a z e n d a R e a l , n o caso e m q u e só p o d i a h a v e r d ú v i d a d e
q u e r e r o r e m a t a n t e p a g a r e m dinheiro, c o m o a dita s e g u n d a c o n d i ç ã o lhe faculta
esta, p e r s u a d i n d o ser-Ihe m a i s c ô m o d a a solução e m ouro e m p ó e n ã o ter lugar o
p r e ç o e m d i n h e i r o d o o u r o q u i n t a d o , p o r q u e q u a n d o se q u e r a t e n d e r à estimação
d a m o e d a , v a r i a d a no valor extrínseco ao t e m p o d a solução, deve respeitar-se o
seu c o m u m valor. 111
E desde agosto deste a n o se c o m p u t a m as "oitavas n a c o m u m
*- E isto é o que resolvem Berlichío practicabil., tom. 2, conclus. 36, n. 42-67; e 72; Panimol. de.
44, annot. 1, IL 12; Rosa. consult. 54. n. 18, ibi: Nisi Contrarium, cujas ad Novel. 4; Iuitin. tom.
2, col. 1036, Litéra H ; H a r p p r e c h t . , no princípio Inst. Guile., mod. re còntr. oblig., n. 245;
Alberto Bruno de augm. et demin. monet., particul. 6. ante, n. 4, ibi: quia in his; Torrevar., lib.
3, p. 2, tit. 12, q. 5 1 , n. 34; Anaclet., lib. 3 Decretal, tit. 2 3 , desolut. n. 3 2 ; Schmier Iurisprud.
1
can. civil., torn. 2, lib. 3, tract. 3, cap. 8, sect. 1, § 3, n. 36, e estes referem inumeráveis.
•S- Lutard., de Usur., q. 17, n. 20-21; Panimolle de., anotação 1, n. 8 e 9.
h
- Este doutor, n. 10.
E o leva n. 11, corn grande torrente de digníssimos doutores
J- Pacíoti., de locat. et conduct., cap. 2, n. 26, ideo.
k
Como leva Gonçalves da Silva, ad Ord., lib. 4, tit, 21, n. 73.
Retes, opusculor., lib. 7, cap. 1, conscctar. 2, n. 60 e 59.
m
* L. Sigués argentum cod. de d o n a t , ibi: Sive in ipsa aestimatione, quae pro massa nidi in illis locis
frequentata est;L. cum certum L. Titiae, §§ de auro, et arg. leg. Bartol. ibidem, Pinel, in Rubr. cod.
de rescind, vend., part. 1, cap. 3, n. 14, ibi: ut debitor massae auri etc tradit judicatum; Castell.,
controv.jur.,lib.4. cap. 10,n. 63;Berlic.h. Conclus, de 36, n. 5; Gob., de monet., q. 5, n. 1 et q. 6, n.
7; Larria, allegat. fiscal 84, n. 2 1 ; Retes, opuscul., lib. 7, cap. 1, consectar. 2 , n. 60; Amaya na L.
S
unica cod. de collât, aeris., n. 34; Zoef, lib. 12, Digest., tit. 1, n. 26; Weizegener, q. monet. 3, n. 5
574
n
- Pacion., allegat. civil 128, n. 5, aonde de communi, Torre d. q. 51, n. 38; Harppr., loco super citato,
n. 210. Schmier d. § 3, n. 37- 38; Luca ad Gratiari. animad. vers. 51, sub. n. 8;Larreade. 13, sub.n.
4, ibi: Et quando. Carena, Resol. 113, n. I; Sabelli, Sum. diver., t. 3, §. moneta, n.l; Emerix, de.
Rotae Romanae, 8, n. 2.
°- Disse Martinho de Laude, Tr. de monet., n. 18; Weizegenero q. monet. 1, n. 2 e 5, apud. Manzio
post Constit. Carolinas, torn. 3, Biblioteca.
P- Pacion., delocat., cap. 23, n. 124-125,
575
N o p a r e c e r da j u n t a se p o n d e r o u q u e L o u r e n ç o d e A m o r i m , n o t e m p o d o
seu *contrato das e n t r a d a s , p a g a n d o a 1.200 p o r *oitava, s e m p r e v i e r a a p a g a r a
1.500, p o r q u e c o b r a n d o S u a M a j e s t a d e o seu q u i n t o n a C a s a d a M o e d a , q u e
e n t ã o l a b o r a v a , doze *tostões c o m três fazem quinze. Nesta conta, errou-se o su-
posto nos três tostões q u e Sua Majestade p e r c e b i a do seu q u i n t o , aplicando-os a o
p a g a m e n t o d o ^ c o n t r a t a d o r , o q u e n ã o p o d i a ser p o r q u e p a g a r i a este a o dito
}
Pacion., de locat., cap. 23, n. 145-149; Amaya na L. única Coei de collat. donat., Iib. 10, n. 22.
Simanchas, catholicar. instit.j tit. 11, n. 54; Larrea, allegat. fiscal., in prooemio, n. 89
Portugal, de donat. reg., lib. 2, cap. 8, n. 36; na Ord., lib. 3, tit. 66.
Idem tradit Seoppa ad Grat, observat. 137, n. 14.
L. 2., § siquis a Principe, §§ nequid in loc. pub]., Gob. in leg.; Bene a Zenone, cod. de quadrien.
praescript., q. 2, n. 56; Sarmient. Selutar., lib. 1, cap. 8, n. 18.
Donde disse Raiphonstud, ad Decretal., lib. 1, tit. 2, § 12, n. 277 que as semelhanças não ocorriam.
Card. et Luca, deregalib., discurs. 129, ad finem; Torre, lib. 3, ver tit. 12, q. 51, n. 40; Gobío, de q.
2, iu56, e segundo a resolução de Larrea, de. 18, n.18.
Amato DummetOj de. Rotae Romanae, 745, n. 3, tom. 2; Leortard, de usur., q. 17, n. 26, et 29.
Guerr., demuner. Iud. orfan., p. I, rubr. n. 43.
• 66 «
Passe do q u e constar.
Metelo Corte-Real
R e p r e s e n t a n d o - m e t a m b é m o suplicante a v e x a ç ã o q u e p a d e c e m esses p o -
vos e m os o b r i g a r e m a p a g a r os direitos devidos aos ditos c o n t r a t o s p o r p r e ç o d e
d i n h e i r o , e n ã o p o r ouro e m q u a n t i d a d e sem q u e seja fcoml o excesso d o *quinto,
580
C o n s e l h o , e o d o u t o r J o s é C a r v a l h o A b r e u , conselheiro do seu C o n s e l h o U l t r a -
581
m a r i n o , e se p a s s o u p o r d u a s vias. D i o n í s i o C a r d o s o P e r e i r a a fez e m L i s b o a
ocidental, a [treze 1 d e m a r ç o de mil setecentos e vinte n o v e . O secretário A n d r é
Lopes de L a v r e a fez escrever. A n t ô n i o R o d r i g u e s d a Costa. J o s é C a r v a l h o A b r e u .
P o r d e s p a c h o do C o n s e l h o U l t r a m a r i n o d e dez d e m a r ç o d e mil setecentos e vinte
e nove. E t r a s l a d a d a a *concertei c o m a p r ó p r i a , a q u e m e r e p o r t o . Vila R i c a , 6 d e
j u l h o d e 1729 anos. A n t ô n i o das Neves C a r d o s o , *escrivão d a F a z e n d a R e a l des-
tas M i n a s a subscrevi. A n t ô n i o das Neves C a r d o s o . E se n ã o c o n t é m mais n o dito
registro a q u e m e reporto e dele passei a presente, p o r m i m subscrita e assinada
e m observância d o d e s p a c h o retro do d o u t o r Luís C a r d o s o M e t e l o C o r t e - R e a l d a
C u n h a . D a d a e p a s s a d a nesta Vila R i c a de Nossa S e n h o r a d o Pilar d o O u r o P r e t o
aos oito dias do m ê s / / d e o u t u b r o d e mil setecentos e c i n q ü e n t a e u m a n o s . [ fl. 298 ]
• 67 «
[Consulta do Conselho Ultramarino sobre o decreto de
3 de dezembro de 1750 que lhe havia mandado formar a minuta
do regimento das casas de fundição e a resolução que
Sua Majestade tomou em 4 de março de 1751]
diária e acoplado à letra que se segue; o " b " de duplo olho com
laçada; o " p " de haste dupla. Abreviaturas nas formas de trata-
mento, com utilização do ponto. (YDL)
Critérios e d i t o r i a i s : As colações foram feitas a partir de
cópia da BNL, cód. 6979, n XIII, e restringiram-se aos termos
e
P
ela b r e v i d a d e c o m q u e p a r t i u a *frota e p o r n ã o h a v e r t o d a a i n s t r u ç ã o
necessária p a r a se formar os regimentos d e q u e se d e v e u s a r nas casas d e
fundição das M i n a s , foi Vossa Majestade servido, p o r seu real *decreto de
três d e d e z e m b r o d e 1750, q u e nas ditas casas se observassem i n t e i r a m e n t e todas
as ordens e resoluções q u e se p r a t i c a r a m nas q u e havia nas M i n a s antes do sistema
d a *capitaçao, e m t u d o o q u e n ã o fosse contrário à lei q u e h o u v e p o r b e m m a n d a r
publicar n o m e s m o dia, b a i x a n d o j u n t a m e n t e o p a p e l q u e os "intendentes d e v i a m
observar e n q u a n t o lhes n ã o dava regimento, o r d e n a n d o t a m b é m a este C o n s e l h o
q u e , o u v i n d o o Tprovedor d a C a s a l d a M o e d a e ás mais pessoas q u e lhe parecesse
e p r e f e r i n d o as o r d e n s q u e h a v i a nas casas a n t i g a s , l h e p r o p u s e s s e c o m m a i o r
b r e v i d a d e t u d o o q u e julgasse conveniente p a r a se f o r m a r e m os ditos regimentos
e, p a r a a vista d e t o d a s estas informações,, resolver V o s s a M a j e s t a d e o q u ê for
justo.
P a r a satisfazer a este real decreto de Vossa M a j e s t a d e , o r d e n o u logo o C o n -
selho a o p r o v e d o r d a C a s a da M o e d a e a o * d e s e m b a r g a d o r Francisco Pereira d a
C o s t a i n f o r m a s s e m d e c l a r a n d o t u d o o q u e lhes p a r e c e s s e c o n v e n i e n t e e q u e se
deve acautelar n o regimento q u e Vossa Majestade m a n d a fazer.
583
"Despacho
68
"Consulta do mesmo Conselho sobre a advertência
que Sua Majestade lhe fez
• 69 <
'Aviso do secretário de Estado para o marquês de Penalva, presi-
dente do Conselho, que baixou com esta consulta
S e n d o p r e s e n t e a S u a M a j e s t a d e a consulta de 9 do c o r r e n t e s o b r e a
b e n i g n a a d v e r t ê n c i a q u e o m e s m o s e n h o r se d i g n o u f a z e r a o C o n s e l h o
n a "resolução d e 4 d o c o r r e n t e , e m c o n s u l t a d e 22 d e fevereiro p r ó x i m o
p a s s a d o , o m e s m o s e n h o r foi servido o r d e n a r - m e q u e eu restitua a V o s s a Excelên-
cia a consulta sem d e s p a c h o e q u e à m a r g e m do seu registro se l a n c e este aviso, o
q u e V o s s a Excelência fará p r e s e n t e n o C o n s e l h o p a r a q u e assim se execute s e m
réplica. D e u s g u a r d e a Vossa Excelência. P a ç o , 22 d e m a r ç o de 1 7 5 1 .
Diogo de M e n d o n ç a Corte-Real
• 70 <
[ íl. 309 ] Mapa do ouro que tem entrado na Casa de Fundição de Vila Rica
no primeiro ano do seu estabelecimento, que teve princípio em o
l d e agosto de 1751 e findou em o último de julho de 1752
9
1751 agosto 38 2 6 36 7 5 2 64 4
setembro no 1 4 51 22 0 2 37 1
outubro 215 4 3 31 43 0 7 06 1
novembro 182 7 5 42 36 4 5 66 0
dezembro 319 7 7 63 63 7 7 70 1
Acréscimo 1 4 4 21 4
Líquido 1.697 2 3 10 2
Soma o principal que tem entrado oito mil quatrocentos e setenta e oito 'marcos, cinco *onças e trinta e dois 'grãos de ouro, que reduzido a 'arrobas
são cento e trinta c duas, quinze 'libras, emeo onças e trinta e dois grãos de ouro, de que fica pertencendo ao real 'quinto mil seiscentos e noventa e
cinco marcos, cinco onças, seis 'oitavas, sessenta grãos e três quintos de ouro ç o acréscimo um marco, quatro onças, quatro oitavas, vinte e um grãos
e quatro quintos de ouro, que reduzido a arrobas são vinte e seis e meia, u m marco, duas onças, três oitavas, dez grãos e dois quintos de ouro.
598
• 71 «
[ fl. 310 ] Mapa geral do que renderam as reais *casas de fundição das
quatro comarcas da capitania das Minas Gerais do
l de agosto de 1751 até 31 de julho de 1752
9
Vila Rica marcos onças catavas grãos quintes soma de cada casa arrobas arráteis marcos onças oitavas grãcs quintos
quinto 1.965 5 6 60 3
acréscimo 1 4 4 21 4 1.969 5 0 11 0 26 17 1 5 6 60 3
confiscos 2 2 5 00 3
Sabará marcos onças oitavas gràce quintos
quinto 931 6 0 28 1 932 0 0 28 1 14 18 0 0 0 28 1
acréscimo 0 2 0 00 0
Rio das Mortes marcos onças oitavas gràos quintos
quinto 783 5 5 45 4
acréscimo 0 0 7 43 1 783 .7 5 36 0 12 7 1 7 5 36 0
confiscos 0 0 8 19 0
Serro do Frio marcos onças atavas grãcs quintos
quinto .138 7 6 12 3
acréscimo 0 0 2 00 0 139 1 3 30 3 2 5 1 1 3 30 3
confiscos 0 1 3 18 0
Somas 3.554 6 1 33 4 55 17 0 7 0 11 2
Escovilhas do Rio das Mortes 7 5 4 48 0 peso líquido
Escovilhas do Serro do Frio 2 3 3 24 0 arrobas arráteis marcos onças oitavas gràcs quintos
Soma total 3.564 7 1 33 4 55 22 0 7 1 33 4
Reduzido a oitavas são 228.153 oitavas, 33 grãos e 4 quintos
Explicação do peso
Soma todo o *quinto que renderam as quatro *casas de fundição desta capitania das Minas Gerais cinqüenta e cinco *arrobas, dezessete 'arráteis, sete *onças, onze
*grãos e dois quintos de ouro, a saber: a Casa de Fundição de Vila Rica, vinte e seis arrobas, dezessete arráteis, um "marco, cinco onças, seis *oitàvas, sessenta grãos
e três quintos de ouro; a do Sabará, quatorze arrobas, dezoito arráteis, vinte e oito grãos e um quinto de ouro; a do Rio das Mortes, doze arrobas, sete arráteis, um
marco, sete onças, cinco oitavas e trinta e seis grãos de ouro; e a do Serro do Frio, duas arrobas, cúico arráteis, um marco, uma onça, três oitavas, trinta grãos e três
quintos de ouro, que junto tudo faz a referida soma. Porém, como ao total peso se lhe ajuntaram as escovilhas da Fundição do Rio das Mortes, que são sete marcos,
cinco onças, quatro oitavas e quarenta e oito grãos de ouro, e juntamente as da Casa do Serro do Frio, que se mostra serem dois marcos, três onças, três oitavas e
vinte e quatro grãos de ouro, que líquidas são: 55 arrobas, 22 arráteis, 7 onças, 1 oitava, 33 grãos e 4 quintos; que reduzido tudo a dinheiro, com o valor de 1.500 *réis
a oitava, importa 342:230^160 réis.
600
• 72 «
[ fl. 311 ] Mapa do que renderam as reais *casas de fundição das quatro
comarcas da capitania de Minas Gerais — segundo ano
>j 0 1I
capitação. A data final de suas informações, posterior ao afasta-
mento do compilador de seu posto e m Vila Rica, confirma que
permanece atento ao que ali passa. T e m continuidade no docu-
m****imento Jé seguinte.
• i tti*i*JMáJ
t
• 73 «
[ fl. 312 ] Mapa do que renderam as reais *casas de fundição das quatro
comarcas da capitania das Minas Gerais — terceiro ano
Em que se mostra importar y real 'quinto, sete mil quinhentos setenta e quatro 'marcos,, quatro "onças, três "oitavas, cinqüenta e seis "grãos e dois "quintos, que fazem cento
e dezoito "arrobas, onze "arráteis, quatro onças, três oitavas, cinqüenta e seis grãos e dois quintos de ouro.
E as "escovilhas que renderam as mesmas casas sessenta e três marcos, seis onças, três oitavas e dezenove grãos de ouro,, que fazem trinta e um arráteis, um marco, seis onças,
três oitavas e dezenove grãos de.ouro.
Rendeu o quinto do segundo ano cento e sete arrobas, vinte e cinco arráteis, seis onças, sete oitavas, vinte e cinco grãos. E houve de excesso no terceiro dez arrobas,
dezessete arráteis, um marco, cinco onças, quatro oitavas, trinta e um grãos e dois quintos.
Remétem-sé as cem arrobas do encabeçamento.
604
• 74 <
C
a e t a n o J o s é Viegas, cavaleiro professo n a O r d e m de Cristo, *escrivão d a
F a z e n d a R e a l e *matrícula d a gente d e g u e r r a nesta c a p i t a n i a das M i n a s
Gerais etc. Certifico q u e p r o v e n d o o livro terceiro q u e nesta P r o v e d o r i a
d a F a z e n d a R e a l serve d e registro de o r d e n s reais nele, à foJha 85 até folha 8 7 , se
a c h a registrada a c a r t a do Ilustríssimo e Excelentíssimo *general G o m e s Freire d e
A n d r a d e e o assento d a "junta q u e o suplicante r e q u e r , d e q u e t u d o *de verbo ad
vèrbum e o seu teor é o seguinte:
Carta
C o m esta r e m e t o a Vossa M e r c ê os d o c u m e n t o s d o r e q u e r i m e n t o q u e p o r
seu p r o c u r a d o r b a s t a n t e fez J o s é Ferreira d a Veiga, p a r a efeito d e se l h e d e c l a r a r a
f o r m a c o m q u e deve c o n t i n u a r a receber os p a g a m e n t o s d o seu *contrato, sobre o
q u e , p o r ser m a t é r i a tão importantíssima, fiz *junta, cuja d e t e r m i n a ç ã o t a m b é m
r e m e t o p a r a q u e , sendo ciente o caixa, e m t u d o V o s s a M e r c ê a faça observar, e
registrada a fará Vossa M e r c ê passar à I n t e n d ê n c i a p a r a nela se observar o q u e
toca à *capitação.
T o d o o d i n h e i r o de p r a t a ou d e c o b r e q u e tiver c h e g a d o a essa R e a l C a s a
fará V o s s a M e r c ê c o n s e r v a r n a m e s m a até a m i n h a c h e g a d a a essa vila, c o m o
t a m b é m fará p ô r e m b a r r a b a s t a n t e s p a r c e l a s d e o u r o d e sessenta a t é c e m mil
*réis, p o r q u e c o n v é m m u i t o q u e estas se enviem aos *registros p a r a q u e , p o r falta
destas, n ã o s e j a m d e m o r a d o s os v i a n d a n t e s . D e u s g u a r d e a Vossa M e r c ê m u i t o s
anos. Tijuco, 22 de s e t e m b r o d e 1751. G o m e s Freire d e A n d r a d e . S e n h o r d o u t o r
*provedor Luís C a r d o s o M e t e l o C o r t e - R e a l d a C u n h a . C u m p r a - s e e registre-se.
Vila R i c a , 27 d e s e t e m b r o d e 1 7 5 1 . M e t e l o .
Diz o contrário. 1
> 75 «
[Carta de Gomes Freire de Andrade encaminhando cópia de carta
às câmaras em que se ordenava a nomeação de procuradores para
junta sobre a forma de pagamento do quinto nos registros e das
dívidas morosas da capitação]
[ fl. 319 ]
G o m e s Freire de A n d r a d e
R e g i s t r a d o no livro do registro
à folha 9 6 , verso. Vila Rica.^
> 76 <
[Carta de Gomes Freire de Andrade em que ordenava a nomeação
de procuradores para junta sobre a forma de pagamento do quinto
nos registros e das dívidas morosas da capitação]
C a r t a dirigida a todas as c â m a r a s da c a p i t a n i a p a r a a
nomeação de procuradores para a j u n t a que discutiria a tributa-
ção do ouro em pó nos registros e o pagamento das dívidas re-
manescentes d a capitação em ouro quintado, conforme o estipu-
lado n a lei de 3 de dezembro de 1750, a partir de agosto de
1751. Gomes Freire enfatizava a derrama como inevitável caso
os procuradores optassem pelo ouro livre do quinto. A convoca-
ção decorria de representações das câmaras e as decisões foram
anexadas à ação do contratador das entradas, José Ferreira da
Veiga, contra pagamento dos contratos em ouro quintado. For-
m a processo com os documentos 74, 75 e 77 e complementa os
documentos 63-66.
Pela posição que ocupava, o ouvidor C a e t a n o d a Costa
Matoso pôde coligir o documento, que informaria sua participa-
ção nas juntas sobre o assunto.
Autoria, l o c a l e data: Gomes Freire de Andrade; Vila
Rica; 23.10.1751.
D e s t i n a t á r i o : Senado da C â m a r a de Vila Rica.
C o m e n t á r i o p a l e o g r á í i c o : Escrita moderna, caligrafada
e regularizada, típica do período barroco, com "f" duplicado e
simples, com voluta no traço horizontal., "d" redondo e uncial;
"s" caudado, simples e de u m só traço sinuoso. Maiúsculas enfei-
tadas por volutas e aspirais. Letra de copista, com anotação de
registro. (YDL)
Cópias manuscritas:
APM, C M O P 60, fí. 96v.-97v.
A H U , Gons. Ultram. , Brasil/MG, cx. 63, doe. 57
Cópia [fl. 3 2 0 ]
1
• Atual APM, CMOP 60, fl.96v.-97v.
- 77 «
[fl. 3 2 1 ] Cópia
E p o r q u a n t o n o t e m p o q u e m e d e i a a s e r e m os d e v e d o r e s cientes d a r e a l
d e t e r m i n a ç ã o p o d e r á a l g u m h a v e r se a u s e n t a d o e levado seus escravos s e m h a v e r
satisfeito n ã o o *quinto q u e devia d a "capitação, p o r q u e a este n ã o são obrigados
os povos, m a s sim o d a " m o r a , n a d e m o r a de sua c o b r a n ç a se deve t o m a r seguran-
ça p o r u m t e r m o q u e declare caso S u a Majestade m a n d e receber q u i n t a d o , o n d e
se h á d e p e r c e b e r o q u e os ausentes deviam ter p a g o pela dita m o r a .
E resolvendo a *junta ser mais conveniente o observar-se a resolução t o m a d a
n a feita e m Tijuco, protesta o "provedor e " p r o c u r a d o r d a F a z e n d a , p o r seguran-
ça a o prejuízo sobreveniente aos "contratos e seus futuros a r r e n d a m e n t o s .
Vossas M e r c ê s t e r ã o b e m p o n d e r a d o , e p o n d e r e m o referido d e c l a r a n d o dos
dois m e i o s o q u e p o r m e l h o r escolhem p a r a se executar até real d e t e r m i n a ç ã o de
S u a Majestade, a q u e m fica reservado m a n d a r o q u e for servido, satisfazendo-se,
e n t r e t a n t o , às representações d a Provedoria d a R e a l F a z e n d a .
E ouvidos pelos ditos p r o c u r a d o r e s e b e m e x a m i n a d o t u d o , d e c l a r a r a m reco-
n h e c i a m q u e o o u r o tirado d o p r i m e i r o d e agosto e m diante n ã o devia sair dos
"registros s e m h a v e r p a g o o q u i n t o , pois os povos desta capitania, pelo t r a t o feito
e m a j u n t a d e vinte de m a r ç o de mil setecentos e trinta e q u a t r o , c o n t r a t a r a m o
p a g a m e n t o d o dito q u i n t o e m o n ú m e r o d e c e m " a r r o b a s d e o u r o aos p o v o s , e
c o n s e q ü e n t e m e n t e a eles está o b r i g a d o todo o o u r o q u e da t e r r a se extraísse, d p
p r i m e i r o d e agosto deste p r e s e n t e a n o a t é o último d e j u l h o d e m i l setecentos e
c i n q ü e n t a e dois.
E q u e p o n d e r a d o p o r seus constituintes, p o r u m a e o u t r a p a r t e , q u e o expos-
to p o r S u a Excelência haver j á feito ciente às "câmaras nas cartas e m q u e c h a m o u
a esta j u n t a , f o r a m d e parecer, todos u n i f o r m e m e n t e , que se n ã o cobrasse o resto
d a c a p i t a ç ã o q u e se a c h a v a d e v e n d o c o m o u r o q u i n t a d o , e se h o u v e s s e a l g u m
d e v e d o r q u e se ausentasse o u n ã o estivesse n o dia d e hoje falido, a o t e m p o q u e
S u a M a j e s t a d e for servido d a r sua real d e t e r m i n a ç ã o das pessoas q u e hoje s ã o
existentes nas M i n a s , a q u e faltar ao dito t e m p o o u estiver nela falido, ficam os
povos, seus constituintes, obrigados a ressarcir a p e r d a causada p o r se n ã o h a v e r
p e r c e b i d o a m o r a d o quinto das capitações, rateando-se e m c a d a vila pelos m o r a -
dores existentes. E d e c o m o assim o disseram, fez este t e r m o , e m q u e todos assina-
r a m c o m o Ilustríssimo e Excelentíssimo s e n h o r g o v e r n a d o r e c a p i t ã o - g e n e r a l .
Vila Rica, dia e e r a citado supra.
[ fl. 322v. ] E outrossim mais disseram q u e pelo q u e toca a o s contratos q u e tiveram prin-
cípio d o d i a p r i m e i r o d e agosto d o p r e s e n t e a n o se cobrasse n a f o r m a d e suas
remataçõeSj e d e c o m o assim o disseram, assinaram. J o s é C a r d o s o Peleja, secretá-
rio do governo, o fiz escrever, G o m e s Freire de A n d r a d e . M a n u e l Brás Ferreira.
A n t ô n i o Álvares C a s t r o . J o s é Félix d a Costa. M a n u e l Ferreira Agrelos. F a u s t i n o
Pereira d a Silva. Luís J o s é S o u t o . A n t ô n i o J o s é d e M e l o . C o n s t a n t i n o Alvares de
A z e v e d o . P a u l o C a r n e i r o Vilar. J o ã o A n t ô n i o Pereira. P e d r o T e i x e i r a d e C a r v a -
l h o . C o n s t a n t i n o Álvares de A z e v e d o , J o ã o T a v a r e s d o A m a r a l . J o s é Félix d a
617
J o s é C a r d o s o Peleja
R e g i s t r a d o n o livro q u e serve d e
registro n o S e n a d o à folha 9 7 , verso, até
folha 9 9 , verso. V ü a R i c a , 26
d e n o v e m b r o d e 1751.*
> 78 <
Relação dos contratos e rendas que Sua Majestade tem nesta [fl.325 ]
capitania das Minas, sua origem, criação, aplicação e
consignação na forma da sua real ordem
*Contrato da p a s s a g e m do rio G r a n d e
C o n t r a t o d a p a s s a g e m do rio J e q u i t i n h o n h a
> 79 «
• 80 «
*Propinas dos "contratos das entradas [ fl. 328 ]
9:101X5244
P a g a m o seguinte:
A o g o v e r n a d o r e capitão-general , • 1.800
Ao provedor 1.200
Ao procurador „ 300
A o escrivão , 300
A o tesoureiro 300
A o seu ajudante 150
A o p o r t e i r o [e] guarda-livros 75
Ao meirinho .-- 75
A o s e u escrivão 75
4.275
Ao general 384U000
Ao provedor 300ÜOOO
Ao procurador 75U000
Ao escrivão , ,. 75Ü00O
Ao tesoureiro , 75U000
Ao seu a j u d a n t e 37U500
Ao p o r t e i r o [e] guarda-livros 14U400
Ao meirinho 14Ü400
Ao seu escrivão 14Ü400
989Ü700
628
Ao "general ...................................................192ÜOO0
Ao "provedor,..., ., , , 150T5000
Ao "procurador. ..... 7 5 U 0 0 0
Ao "escrivão , „ .„ .„ 75UOOO
Ao "tesoureiro „.,..,.. 75'UOOO
Ao seu " a j u d a n t e , 37Ü500
Ao "porteiro [e] "guarda-livros 14U400
Ao "meirinho , 7Ü200
Ao s e u escrivão 7U200
633Ü300
P r o p i n a s p o r ocasiões de c a s a m e n t o s e n a s c i m e n t o s
Ao general , 180
Ao provedor •. .90
Ao "secretário 90
Ao procurador da Coroa 90
Ao escrivão 30
Ao tesoureiro 30
Ao seu ajudante ; 15
Ao p o r t e i r o [e] guarda-livros , 7 '/a
Ao meirinho 9 'A 4
Ao seu escrivão 7 '/a
549 'A 4
Ao governador 600
Ao provedor < ; 400
Aó procurador ..........., .,,...^
f 100
Ao escrivão .„..., ........... 100
Ao tesoureiro 100
Ao seu ajudante , * 50
Ao porteiro , ........................25
Ao meirinho - 25
Ao seu escrivão , 25
1.425
• 83 «
2
Rica providos normalmente por três anos, com indicação do valor
semestral dos donativos oferecidos pelos serventuários para cada
u m dos ofícios, assim como dos valores pagos pela contribuição da
terça parte dos rendimentos do cargo e dos novos direitos.
U m a vez que constituía atribuição do governador e do
ouvidor arbitrar o valor das terças partes e elaborar avaliações
sobre o rendimento dos oficios para a Coroa, trata-se aqui de
material voltado para as rotinas do magistrado.
¿fe Autoria, l o c a l , data: Provedoria d a Real Fazenda; Vila
Rica; ca. 1750.
^ ^ ^ ^ ^ C o m e n t a r i o p a l e o g r á f i c o : Escrita moderna, cursiva do
período barroco, regularizada e caligrafada, destrógrada, com mai-
úsculas em volutas e arabescos acentuados, principalmente no " D "
e no " S " . Números arábicos com perfil e d e traços sinuosos. Uso
do caldeirão. Sinal de guarda na coluna numérica. (YDL)
C r i t e r i o s e d i t o r i a i s : Foram suprimidas as guardas.
N o v o direito 15 oitavas
Seu escrivão, o m e s m o q u e o m e i r i n h o
"Alcaide n ã o t e m donativo
Terça parte 41 oitavas e três quartos
N o v o direito ...... 12 oitavas e m e i a
• 84 «
[Catálogo de rendimentos de ofícios em Minas Gerais]
"Escrivão d a C â m a r a , r e m a t a d o p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o d e l:76OUOO0,
p a g a d e terças p a r t e s 31 oitavas e de n o v o direito 3 1 , c u m p r i d a a 3 de d e z e m b r o
d e 1744 a n o s .
" T e s o u r e i r o d a F a z e n d a R e a l , d a d o p o r 3 a n o s , p o r serviços, c u m p r i d a a
provisão a 16 d e agosto de 1746 anos.
I n q u i r i d o r , c o n t a d o r e distribuidor d o j u í z o o r d i n á r i o , r e m a t a d o p o r donativo
de 2:000X5000, c u m p r i d a a 5 d e agosto de 1747 a n o s , p a g a d e terças p a r t e s 400
oitavas e de novo direito 4 0 .
633
Escrivão d o m e i r i n h o d a A l m o t a ç a r í a , o m e s m o , p o r d o n a t i v o de 4 0 U 0 0 O ,
terças p a r t e s 3 0 0 oitavas, novo direito 30.
Escrivão do dito m e i r i n h o , o m e s m o .
Escrivão do dito m e i r i n h o , o m e s m o .
" E s c r i v ã o d a O u v i d o r i a , foi r e m a t a d o e m L i s b o a , p o r 3 a n o s , p a g o u d e
"donativo 8 : 6 0 0 U 0 0 0 , p a g a d e "terças partes 300 "oitavas e d e "novo direito 30,
c u m p r i d a a "provisão a 29 de setembro de 1746 anos.
Dados sobre rendimentos da Câmara de Vila Rica com letra de Caetano da Costa Matoso.
635
E s c r i v ã o d o m e i r i n h o dos a u s e n t e s , r e m a t a d o p o r 3 a n o s , e m L i s b o a , p o r
d o n a t i v o d e 2 5 0 Ü 0 0 0 , foi c u m p r i d a a "provisão e m 17 d e j u l h o d e 1748 a n o s .
Escrivão d a C â m a r a e A l m o t a ç a r i a , r e m a t a d o p o r 3 anos, p o r d o n a t i v o d e
96015000, p a g a d e terças p a r t e s o da A l m o t a ç a r i a 150 oitavas e d e n o v o direito
15 e o d a C â m a r a d e terças partes 100 oitavas e de novo direito 10.
Cidade Mariana
M e i r i n h o d o c a m p o , a r r e m a t a d o p o r 3 anos, p o r d o n a t i v o d e 2 0 0 Í 5 0 0 0 , e
de terças p a r t e s 200 oitavas e de novo direito 20.
Escrivão da C â m a r a , r e m a t a d o p e l a Secretaria p o r u m a n o , p o r d o n a t i v o de
80X5000 "réis, p a g a de terças partes 310 oitavas e d e novo direito 3 1 .
S e g u n d o t a b e l i ã o , d e q u e é p r o p r i e t á r i o o d o u t o r F e r n a n d o Luís P e r e i r a ,
donativo n ã o consta, p a g a d e terças p a r t e s 600 oitavas e d e novo direito 60.
Vila de São J o s é
Escrivão d o m e i r i n h o do c a m p o , a r r e m a t a d o p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o d e
150UO00, p a g a de terças partes 60 oitavas e de novo direito 6, c u m p r i d a a 28 d e
s e t e m b r o de 1747 a n o s .
Serro do Frio
E s c r i v ã o d a C â m a r a e A l m o t a ç a r i a , p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o 8:04015000,
p a g a d e t e r ç a s p a r t e s o d a C â m a r a 100 o i t a v a s e d e n o v o d i r e i t o 10 e o d a
A l m o t a ç a r i a 50 e d e n o v o direito 5, c u m p r i d a a 9 d e j u l h o de 1746 anos.
" T a b e l i ã o c o m p r o v i s ã o p e l a S e c r e t a r i a , p a s s a d a a 3 d e j a n e i r o d e 1748
anos, p a g a d e terças partes 500 oitavas e de novo direito 50.
Seu escrivão, o m e s m o .
Seu escrivão, o m e s m o .
639
Seu escrivão, o m e s m o .
Seu escrivão, o m e s m o .
Seu escrivão, o m e s m o .
Sabará
M e i r i n h o d o c a m p o , r e m a t a d o p o r 3 anos, p o r d o n a t i v o d e 2 8 0 U 0 0 0 , d ê
terças p a r t e s 2 0 0 oitavas e d e n o v o direito 20, c u m p r i d a a 30 d e s e t e m b r o d e
1746 a n o s .
"Escrivão do m e i r i n h o d o c a m p o , r e m a t a d o p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o d e
430X5000, d e t e r ç a s p a r t e s 2 0 0 oitavas e d e n o v o direito 2 0 , c u m p r i d a a 8 d e
m a r ç o d e 1748 a n o s .
" M e i r i n h o - g e r a l , p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o de 580X5000, c u m p r i d a a 29 d e
o u t u b r o d e 1747 anos.
" T a b e l i ã o , p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o d e 4:300X5000, d e t e r ç a s p a r t e s 6 0 0
oitavas e d e n o v o direito 6 0 , c u m p r i d a a 23 de d e z e m b r o de 1748 anos.
Escrivão d a C â m a r a e A l m o t a ç a r i a , r e m a t a d o p o r 3 anos, p o r d o n a t i v o d e
2:700X5000, de terças p a r t e s c a d a u m 200 oitavas e d e novo direito 20.
Vila N o v a da Rainha
" T a b e l i ã o , p o r 3 a n o s , p o r d o n a t i v o d e 3 : 0 0 0 U Q 0 0 , d e terças p a r t e s 4 0 0
oitavas e d e novo direito 4 0 , c u m p r i d a a 20 de setembro de 1747 a n o s .
Paracatu
"Porteiro, p o r 3 anos, p o r d o n a t i v o d e 5 0 0 U 0 0 0 .
M e i r i n h o d o c a m p o , p o r 3 anos, p o r 5 0 0 Ü 0 0 0 .
T a b e l i ã o , p o r 3 a n o s , r e m a t a d o p o r d o n a t i v o de 8:4OOUOO0, a v a l i a d a s as
terças p a r t e s j u n t o c o m o escrivão d a C â m a r a e A l m o t a ç a r i a , 4 0 0 oitavas e d e
n o v o direito 4.
São R o m ã o
Papagaio
T a b e l i ã o , escrivão d o s órfãos e m a i s a n e x o s , r e m a t a d o s p o r 3 a n o s , p o r
donativos d e 30015000, de terças partes, c a d a u m dos dois p r i m e i r o s , 60 oitavas e
d e n o v o direito 6.
• 85 <
Freguesia das C o n g o n h a s
C a p i t ã o - m o r , c o m três c o m p a n h i a s , c o m 300 h o m e n s
Carijós
C a p i t ã o - m o r , c o m u m a c o m p a n h i a d e 250 h o m e n s
Borda do Campo
C o m c a p i t ã o - m o r e u m a c o m p a n h i a de 70 h o m e n s
Itaverava
C o m c a p i t ã o - m o r , c o m duas c o m p a n h i a s , c o m 150 h o m e n s
Serro do Frio
C o m c a p i t ã o - m o r e q u a t r o c o m p a n h i a s , c o m 300 h o m e n s
P o r o r d e m de 9 de n o v e m b r o d e 1709, n o m e o u Sua M a j e s t a d e A n t ô n i o d e
A l b u q u e r q u e C o e l h o , " g o v e r n a d o r do R i o , p a r a g o v e r n a d o r de São P a u l o e M i -
nas, o r d e n a n d o - l h e q u e fundasse algumas povoações nas M i n a s , p a r a q u e as pes-
soas vivessem r e g u l a d a s c o m s u b o r d i n a ç ã o às Justiças, e desse ajuda aos "minis-
tros eclesiásticos, e, pelo q u e respeitava à a r r e c a d a ç ã o dos "quintos, se a r r e n d a s -
s e m p o r c o m a r c a s ou distritos pelo m e n o s t e m p o q u e pudesse ser, c o n t a n t o q u e
n ã o passassem d e dois anos, e que, p a r a m e l h o r a r r e c a d a ç ã o deles, lhe d a v a p o -
der p a r a estabelecer "casas de fundição, o r d e n a n d o levantasse u m r e g i m e n t o d e
infantaria d e q u a t r o c e n t o s até q u i n h e n t o s praças, c o m liberdade d e n o m e a r todos
os oficiais necessários, exceto coronel, c h a m a n d o igualmente paulistas c o m o reinóis.
E m fevereiro de 1 7 1 1 , f o r a m n o m e a d o s três ministros p a r a as M i n a s , q u e
f o r a m os p r i m e i r o s .
E m 29 de abril de 1711, se o r d e n o u a o g o v e r n a d o r A n t ô n i o d e A l b u q u e r q u e
pusesse em a r r e c a d a ç ã o as "passagens dos rios d o c a m i n h o das M i n a s , a i n d a e m
terras d o n a t á r i a s .
644
Ordenanças
C i d a d e [ M a r i a n a ] e seu * t e r m o
T e m " c a p i t ã o - m o r , * s a r g e n t o - m o r e " a j u d a n t e , q u e g o v e r n a m 15 c o m p a -
nhias, q u e t ê m 1.600 h o m e n s .
N o m e s m o "termo e arraial das C a t a s Altas h á c a p i t ã o - m o r e sargento-maior,
q u e g o v e r n a m duas c o m p a n h i a s de duzentos h o m e n s , a m b a s .
Vila Rica
T e m c a p i t ã o - m o r e sargento-maior, c o m três c o m p a n h i a s d e n t r o d a vila d e
600 homens.
T e r m o d a vila
Cachoeira
T e m c a p i t ã o - m o r e s a r g e n t o - m a i o r , c o m d u a s c o m p a n h i a s d e 250 h o m e n s ,
u m a do dito arraial, o u t r a de Santo A n t ô n i o .
ítabira
T e m c a p i t ã o - m o r , c o m u m a c o m p a n h i a d e 160 h o m e n s .
São Bartolomeu
T e m c a p i t ã o - m o r , c o m duas c o m p a n h i a s , c o m 200 h o m e n s .
O u r o Branco
C a p i t ã o - m o r , c o m u m a c o m p a n h i a d e 150 h o m e n s .
Itatiaia
C a p i t ã o - m o r , c o m u m a c o m p a n h i a d e 90 h o m e n s .
Sabará
T e m " c o r o n e l , c a p i t ã o - m o r , " s a r g e n t o - m o r , c o m 19 c o m p a n h i a s , q u e , p o r
todas, t ê m o n ú m e r o de 1.400 h o m e n s .
645
São J o ã o del-Rei
T e m *capitão-mor, c o m 4 c o m p a n h i a s , c o m 300 h o m e n s .
A freguesia d e B a e p e n d i t e m c a p i t ã o - m o r , c o m duas c o m p a n h i a s , c o m 180
homens.
N a freguesia de A i u r u o c a h á u m c a p i t ã o - m o r , c o m duas c o m p a n h i a s , c o m
150 h o m e n s .
• 86 «
A o juiz o r d i n á r i o , o d o u t o r J o s é M a d u r e i r a Belo de
C a r v a l h o , duzentos e q u a r e n t a mil réis , 240U000
A o " p r o c u r a d o r d a C â m a r a , o capitão J o s é C o r r e i a M a i a ,
duzentos e q u a r e n t a mil réis 240U000
A o "escrivão d a C â m a r a , M a n u e l R o d r i g u e s F r a n c o ,
duzentos e q u a r e n t a mil réis 240U000
c o m quitação, digo, e com recibo, digo, dois contos e cem mil réis, a qual q u a n t i a se
lhe levará e m conta nas q u e der todas as vezes q u e mostrar firma das pessoas q u e
receberem, cuja firma será ao p é d a parcela que a cada u m toca n a dita folha atrás
declarada, e eu, M a n u e l Rodrigues Franco, escrivão da C â m a r a , q u e o escreve.
• 87 «
2:100ÜOOO.
648
[fl. 3 4 6 ] R e n d i m e n t o d a C â m a r a d a v i l a d e S ã o J o ã o este a n o d e 1 7 5 1
R e n d i m e n t o d a C â m a r a d a vila d e S ã o J o s é e s t e a n o d e 1 7 5 1
• 88 <
A
- Por "decreto de 18 de fevereiro de 1741 se mandaram rematar todos os ofícios.
649
S a b a r á - e s c r i v ã o d o m e i r i n h o - g e r a l ; m e i r i n h o d o c a m p o ; s e u escrivão;
m e i r i n h o das execuções; seu escrivão; escrivão d o alcaide; porteiro dos "auditórios.
S e r r o d o Frio
Vila d o P r í n c i p e - escrivão da C â m a r a e A l m o t a ç a r i a ; escrivão dos órfãos;
inquiridor, distribuidor e contador; meirinho-geral; meirinho do campo; seu escrivão;
escrivão do alcaide; meirinho d a F a z e n d a Real; seu escrivão; porteiro dos auditórios.
• 89 «
Cópia manuscrita:
A P M , C C 1048, ü,179-183v.
Cópia impressa:
D O D E S C O B R I M E N T O dos diamantes diferentes métodos
e
- 1*-
S e r á r e m a t a d a a extração dos d i a m a n t e s p o r c o m p a n h i a p e l o t e m p o d e q u a -
t r o a n o s , q u e t e r á p r i n c í p i o e m o p r i m e i r o d e j a n e i r o d e 1744 e findará e m Q
ú l t i m o d e d e z e m b r o d e 1747. O s "contratadores p o d e r ã o m i n e r a r c o m o n ú m e r o
de seiscentos escravos, e n t r a r estes nos serviços q u e rfarãol no q u e n ã o for notori-
a m e n t e inútil o u impossível, p r i n c i p i a n d o n o rio J e q u i t i n h o n h a nos seus "tabulei-
ros, v e r t e n t e s , veio d e á g u a e " g u a p i a r a s , sendo o p r i m e i r o serviço n a lavra do
M a t o , e dela c o n t i n u a r ã o os mais alternativamente c o m o se p r a t i c a m i n e r a r pelo
m e s m o rio até s e r e m findos os q u a t r o anos d a p r e s e n t e r e m a t a ç ã o , e se n o dito
t e m p o c h e g a r e m à b a r r a d o ribeirão do I n f e r n o ou do rio das P e d r a s p o d e r ã o
c o n t i n u a r o serviço p o r u m deles, o q u e m e l h o r lhe parecer,
-3*-
-6 -S
-7 -9
-8 -9
- 10 - â
- 12 - §
- 13 - 9
-14 - 9
- 15 - â
os d i a m a n t e s n a C a s a d a M o e d a , de o n d e os ditos caixas os p o d e r ã o v e n d e r n a
p r e s e n ç a d e u m "ministro q u e Sua M a j e s t a d e lhes d e p u t a r , satisfazendo do seu
p r o d u t o o q u e d e v e r e m à R e a l F a z e n d a do dito senhor. P o r é m , se findos os q u a t r o
meses n ã o estiver feita a v e n d a dos diamantes, será d a real g r a n d e z a d e Sua Majes-
tade o p e r m i t i r m a i s p r o r r o g a ç ã o de t e m p o , c o m declaração q u e n a p r i m e i r a "frota
q u e voltar do R i o de J a n e i r o p a r a a C o r t e n ã o será obrigada a c o m p a n h i a a p a g a -
m e n t o a l g u m , se. n ã o tiver findo o p r i m e i r o a n o d e seu "contrato, e. caso se n ã o
tirem diamantes e m algum dos quatro anos e m tal q u a n t i d a d e q u e segure o paga-
m e n t o vencido, satisfará a c o m p a n h i a c o m o u r o e m p ó , e m Vila R i c a , o q u e se
e n t e n d e r virá a faltar e m Lisboa p a r a completar o p a g a m e n t o , segurando-se sempre
n a avaliação dos d i a m a n t e s q u e forem r e m e t i d o s v a n t a g e m aos q u e r e s t a r e m à
F a z e n d a Real. E p a r e c e n d o à c o m p a n h i a fazer seu p a g a m e n t o ou p a r t e dele nesta
capitania, se lhe aceitará e m ouro e m p ó n a forma q u e n a F a z e n d a R e a l se pratica.
- 16 - §
Q u e se a c h a n d o a l g u m a p e d r a g r a n d e , n ã o t e n h a vigor, e m t o d o , a lei d e
vinte e q u a t r o d e d e z e m b r o d e mil setecentos e t r i n t a e q u a t r o , e s o m e n t e seja
o b r i g a d a a c o m p a n h i a , c o m as p e n a s d a dita lei, a a p r e s e n t á - l a p a r a proferir a
F a z e n d a R e a l p r e ç o p o r p r e ç o a q u a l q u e r o u t r o c o m p r a d o r , e ficará logo a sua
i m p o r t â n c i a inclusa n o p a g a m e n t o q u e a c o m p a n h i a dever.
- 17 - 3
- 18 - §
- 19 - §
-20 - 3
-21--
Q u e se l h e d a r á p o r esta P r o v e d o r i a o p r é s t i m o d e c e n t o e c i n q ü e n t a m i l
"cruzados, q u e ele, r e m a t a n t e , r e c e b e r á e m c a d a u m dos ditos q u a t r o a n o s p a r a
c u s t e a m e n t o d o m e s m o c o n t r a t o , sendo o b r i g a d o o dito J o ã o F e r n a n d e s d e Oli-
veira a p a g a r esta, q u a n t i a p e l a v e n d a dos d i a m a n t e s q u e se v e n d e r e m , p e r t e n c e n -
tes a c a d a u m dos respectivos anos q u e a receber.
- 22 - §
Servidão: Ve. Molin. et just. etjur. tract.2, disp. 34 et 35 et Ve. Barb. et QÍíic. et pot A. copisc. p . 1, [ fl. 355v. ]
tit. 3, cap. n" 37. Cor Fejoo tom. 7, disc. 3. Povoação da América: Fejoo tom. 3, disc. 15. Cienc. et
çort. tom. 2, cap. 5. O padrq Simão Marques da Companhia dous tom. de Brasília Pontifícia.*
• 90 <
• 91 «
G
[ fl. 357 ] ornes Freire de A n d r a d e , " g o v e r n a d o r e capitão-general d a c a p i t a n i a d o
. R i o d e J a n e i r o c o m o governo das M i n a s Gerais. A m i g o , eu, el-rei, vos
envio m u i t o saudar. C o n s i d e r a n d o a g r a n d e necessidade q u e t i n h a m os
m o r a d o r e s d a C i d a d e M a r i a n a e suas a n e x a s de pasto espiritual, a q u e n ã o p o d i a
a c u d i r o "bispo do R i o d e J a n e i r o , p e l a s g r a n d e s distâncias, q u e h á d e u m a s a
outras povoações, fui servido recorrer à S u a S a n t i d a d e p a r a q u e dividisse o dito
661
• 92 «
Cópia da carta do Ilustríssimo e Reverendíssimo bispo destas [ fl. 358 ]
Minas ao Senado da Câmara da Cidade Mariana,
recebida em 25 de agosto de 1747 anos
J
á t e n h o notícias de. Vossas M e r c ê s e s t a r e m certos q u e S u a M a j e s t a d e , q u e
D e u s g u a r d e , a t e n d e n d o à sua real b e n e v o l ê n c i a , e n ã o a o m e u p o u c o ou
n e n h u m m e r e c i m e n t o , foi servido n o m e a r - m e *bispo desse n o v o b i s p a d o d e
M a r i a n a , m a n d a n d o - m e j u n t a m e n t e insinuar, n a *frota presente, q u e fizesse
a m i n h a j o r n a d a c o m a b r e v i d a d e possível, o q u e n ã o fiz o a n o p a s s a d o p o r
urgentíssimas razões d e q u e dei conta, fazendo tenção principiá-la neste m ê s por-
q u e cuidei j á teria c h e g a d o a frota. M a s c o m o agora, p o r u m a e m b a r c a ç ã o , che-
g a m notícias de q u e ela n ã o c h e g a r á senão nos princípios d e j u l h o , a i n d a q u e Faço
t e n ç ã o partir logo, c o m o infalivelmente hei de passar o inverno no sertão do Piauí,
só n o m a i o futuro p o d e r e i c o n t i n u a r a m i n h a j o r n a d a a essa c a p i t a n i a , a o n d e
chegarei e m s e t e m b r o , segundo as notícias q u e m e d ã o . B e m sei q u e a d e m o r a é
g r a n d e , m a s precisa, p o r q u e no inverno são invadeáveis os sertões, p r i n c i p a l m e n -
te os d o rio d e São Francisco. N e s t a d e m o r a , p o r é m , t e m Vossas M e r c ê s t e m p o de
dispor a s u a catedral e m termos q u e q u a n d o e u c h e g a r se possa n e l a dar princípio
aos ofícios divinos e louvores a D e u s , p o r q u e deste santo exercício resultam todas
[ fl. 358v. ] a s felicidades espirituais e corporais d e u m bispado. N ã o sei / / e m q u e p a r t e d a
c i d a d e está a catedral, n e m q u e casas m e d a r ã o p a r a a m i n h a residência; se forem
alugadas, c o m o aqui r e c o m e n d o a Vossas Mercês, m a s a l u g u e m p e r t o d a catedral
q u a n t o possível, e t e n d o q u i n t a l p a r a h o r t a l i ç a o e s t i m a r e i m u i t o , p o r q u e m e
d i z e m é deste gênero fertilíssimo esse *país. N ã o t e n h o notícias d e q u e m g o v e r n a
o eclesiástico dessa cidade, e p o r isso lhe n ã o escrevo, p o r é m Vossas M e r c ê s lhe
segurem, de m i n h a p a r t e , o g r a n d e gosto q u e terei de q u e assim a catedral c o m o
as casas d a m i n h a residência estejam n a m i n h a c h e g a d a n a f o r m a q u e r e c o m e n d o
a Vossas M e r c ê s , e s t a n d o todos c e r t o s q u e p a r a t u d o o q u e for d e seu gosto e
a g r a d o m e a c h a r ã o s e m p r e c o m a v o n t a d e m u i t o p r o n t a . D e u s g u a r d e a Vossas
M e r c ê s , c o m o m u i t o desejo e lhe rogo. M a r a n h ã o , 11 d e abril d e 1747.
D e Vossas Mercês,
mais afetuoso v e n e r a d o r .
Bispo
663
• 93 «
[Descrição das festividades da entrada do bispo de Mariana]
C
h e g o u o s e n h o r "bispo das M i n a s ao seu palácio n a C i d a d e M a r i a n a e m [ fl. 359 ]
15 do m ê s de o u t u b r o d e 1748 pelas dez h o r a s da m a n h ã , é neste dia n ã o
fez a s u a " e n t r a d a c o m a solenidade que se c o s t u m a receber os senhores
bispos, p o r vir b a s t a n t e m e n t e molesto d a p r o l o n g a d a v i a g e m e dilatados sertões
q u e e x p e r i m e n t o u , pois c o n t a m d a q u i até. o M a r a n h ã o seiscentas e tantas "léguas,
e o Espírito S a n t o o a c o m p a n h o u , pois e m t o d a ela n ã o e x p e r i m e n t o u m a i s do
q u e u m a leve moléstia q u e teve, d a qual esteve s a n g r a d o , p o r cautela, três vezes.
C o m o necessitava de t o m a r a l g u m a c u r a p a r a o q u e pudesse suceder, gastou
esta a l g u m t e m p o , d o n d e veio a d a r sua e n t r a d a e m 28 de n o v e m b r o d o dito a n o ,
664
• 94 «
culo; haste inferior do " s " pendente, como cajado; "d" uncial e
haste ascendente no " a " final de palavra. Abreviaturas especiais
665
de palavras que começam com a letra " c " , com letras sobrepos-
tas inclusas. Nas quatro últimas linhas do fólio 360 e duas linhas
360v., letra com traçado evoluído e bastante personalizado, da
mão Caetano d a Costa Matoso. (YDL)
C r i t é r i o s e d i t o r i a i s : Colação feita a partir da cópia do
AEAM, arquivo 1, gaveta 1, pasta 9, fl. 6EE-6EEv.
Cópias manuscritas:
AEAM, arquivo 1, gaveta 1, pasta 9, fl. 6EE-6EEv.
Cópia [fl. 3 6 4 ]
• 96 <
Regimento de 10 de outubro de 1754 sobre os emolumentos dos [fl. 365 ]
ouvidores e mais Justiças das comarcas de Minas Gerais 1
' * w*
ou legislativos da época. Nos comentários, aplicação
da tópica do empenho dos mineiros e da decadência das Minas.
tes n o s l u g a r e s q u e a d m i n i s t r a m , e a q u e l e s e m o l u m e n t o s q u e se d e v e m p e r -
m i t i r p a r a c o m p e n s a r as d e s p e s a s q u e f a z e m n a s v i a g e n s e j o r n a d a s ^ e t a m -
b é m os. oficiais q u e v ã o p r o v i d o s p a r a as m e s m a s p a r t e s n o s "ofícios c r i a d o s
p a r a aquela a d m i n i s t r a ç ã o , sem v e x a ç ã o dos povos e excessos q u e l e v a m e
t ê m i n t r o d u z i d o , sou s e r v i d o o r d e n a r q u e e m t o d a s as c o m a r c a s d a s m i n a s ,
assim p e r t e n c e n t e s ao g o v e r n o das M i n a s Gerais, c o m o do C u i a b á e M a t o
Grosso, São Paulo e Goiás, e nas que ficam no continente do governo da
Bahia, c o m o são J a c o b i n a , Rio de Contas e Minas Novas do Araçuaí, e e m
t o d a s as m a i s q u e se d e s c o b r i r e m nos m e s m o s ou diversos g o v e r n o s se o b s e r -
v e o p r e s e n t e r e g i m e n t o q u e m a n d e i o r d e n a r , p o n d e r a d a s t o d a s as c i r c u n s -
t â n c i a s n e c e s s á r i a s e c o n t i n g e n t e s , c o m a d e c l a r a ç ã o s o m e n t e d e q u e nele se
A 26 de março.
Que foram o doutor Bernardo de Gusmão, 'ouvidor do Sabará, e o doutor Manuel Luís Cordeiro,
juiz de "fora que tinha acabado do Rio de Janeiro, e foi feito e assinado em Vila Rica aos 17 de
setembro de 1721.
"Se não cumpre": inteiramente se cumpria sem alteração alguma nem aumento de salários.
"Decentemente": é erro, porque com o que vai taxado não pode ser nem compensar as grandes
despesas que trazem consigo aqueles lugares, pelas grandes distâncias em que se acham e carestia do
país.
670
"réis e nos bens móveis até trinta mil e nas p e n a s pecuniárias até dez mil réis.
D a s sentenças definitivas, sendo a causa até a q u a n t i a de trinta mil réis, leva-
1
e -
Por "provisão de 13 de novembro de 1732.se ordenou que os juízes ordinários não levassem salários
e que os que estavam taxados aos ouvidores e juízes de fora se'não cobrassem 'quintados, mas sim
á razão de 1.320 réis cada * oitava, que era o valor que tinha cada uma no ano de 1721, em que se
tinha feito o 'regimento, nascendo esta ordem da dúvida que naquele tempo havia se sê haviam
cobrar os emolumentos das Justiças sem quinto, que vinha a valer 1.500 réis cada oitava, ou tirado
o quinto dela, queficavaentão em 1.200 réis; epor ela seficõu cobrando à razão de 1.320 por oitava
até o ano de 1735, em que principiou a cobrar-se o quinto por 'capitação, e não por* fundição, e
como se não tirava do ouro o quinto, ficou correndo pelo seu intrínseco valor, que é o de 1.500 réis
cada oitava. E nesta forma, desde esse ano em diante, se cobraram os emolumentos até agosto de
1750, em qüe de novo se tornou a mandar cobrar o quinto por *casas de fundição, e desde esse tempo
até a publicação deste regimento se tornou a praticar a dita ordem de 17 32, sendo o valor da oitava
para as Justiças 1.320 réis..
Têm os ouvidores das Minas 500 mil réis de ordenado, por provisão do ano de 1718, tendo até este
tempo o ordenado de 600 mü réis desde a criação das primeiras 'ouvidorias de Minas, que se fez no
ano de 1709. Por 'provedores de defuntos e ausentes têm, na forma do regimento deles, de toda a
arrecadação que fizerem, dois por cem.
S* Tudo o que vai apontado à margem é ó que se levava pelo regimento velho. Oitava, / ; meia oitava,
1
B
l
/, ~, um quarto de oitava, V^.
¿
Tinham alçada de cem mil réis pelo parágrafo quarto do regimento dos ouvidores, tanto em bens de
raiz como móveis, que foi feito em Lisboa a 11 de março de. 1669.
Levava-se uma oitava por qualquer quantia que fosse, que se pagava na conclusão, e ao assinar da
sentença se pagava só V do *selo.
+
J -
Nada se levava dos embargos.
k- Em todas estas qualidades de sentenças, se se extraíam se levava e nada de embargos, de tal
forma que se havia diversas sentenças nos mesmos autos se não levava conclusão ou *espórtula mais
4
que de uma.
671
d a i n s t â n c i a ; dos m a n d a d o s 1 1
d e p r e c e i t o , t r e z e n t o s réis; e d e o u t r o s q u a i s q u e r
m a n d a d o s , c e n t o e c i n q ü e n t a réis; das c a r t a s p r e c a t ó r i a s , citatorias, executórias,
0
p a r a e m b a r g o o u s e g u r a n ç a , e d e q u e se m a n d a r p a s s a r i n s t r u m e n t o , trezentos
réis; de * s e l p d a s e n t e n ç a ou c a r t a , d u z e n t o s réis; d e * j u r a m e n t p supletorio e
r s
Se a parte não pagava logo e se extraía sentença, pagava da assinatura dela W^, fosse mais ou menos
a quantia.
m
- Nada de absolvição da instância.
Levava-se V tios mandados de preceito e de outros quaisquer que fossem.
+
°- De todas as cartas passadas em forma e que levavam *selo, fosse a matéria qual fosse, se levava ' / 8
é do selo V . +
P' De cada carta de seguro '/ , fosse um ou muitos os culpados que a pediam, que podiam passar ainda
8
nos casos excetuados na forma do seu regimento, assim como alvarás defiança,até quarto alvará à
mesma pessoa.
Levava-se 1
- Levava-se '/^,
r
Sl
Levava-se ' / d e todo e qualquer juramento que se tomasse.
+
v
' Levava-se /,,, 1
w
- Nada se levava.
X-
Nada também.
réis, e v i n d o - s e c o m eles n a e x e c u ç ã o , sendo d e n u l i d a d e , p a g a m e n t o , c o m p e n -
v
"réis, levarão de c a d a u m a cento e cinqüenta réis; de cinqüenta mil réis até cem, terão
trezentos réis, e passando de cem mil réis ou sendo bens de raiz, seiscentos réis; p o -
r é m , r e q u e r e n d o o arrematante carta p a r a seu título n ã o levará dela assinatura. D e
c a d a v i s t o r i a da cidade ou vila, dois mil e quatrocentos réis; e sendo no * t e r m o ou
aD a c
comarca, levarão o caminho, a seis "léguas por dia, quatro mil e oitocentos réis; e o
m e s m o vencerão p o r dia nas diligências, indo fora da terra, a requerimento de parte.
D o s i n s t r u m e n t o s ^ de agravo, seiscentos réis; das a p e l a ç õ e s q u e vierem a o dito
3 ae
juízo e sentenças delas, mil e duzentos réis, e vindo-se com embargos à sentença, a
m e t a d e da assinatura d a primeira, quer esta seja e m b a r g a d a p o r u m a só p a r t e ou por
ambas, n a forma q u e fica dito; dos " d i a s ^ d e aparecer, seiscentos réis; das *devassas S a
V8.
aa. Levava-se /. , fosse o valor qual fosse, ou de bens móveis ou de raiz, e requerendo o arrematante
1
¿
^ Levavam-se V - 8
Levavam-se V por dia, fazendo-se a conta a quatro léguas por dia. No 'regimento velho (como
a C i
a
neste) se não faz expressão do que se devia levar de cada vistoria feita no termo ou comarca, e por isso
cada 'ministro que servia levava pelo arbítrio que lhe parecia, e alguns excessivamente, de que
nasceu determinar-se, nesta matéria, a forma da cobrança por 'provisão de 2 7 de junho de 1733 em
que se ordenou que os 'ouvidores, como 'superintendentes das terras minerais, que levavam de cada
vistoria nelas ^ / ¡ ¡ e ' / , , de caminho, levassem / de vistoria e 4 de caminho; e o 'escrivão, que tinha
1 l(,
n
mesmas V , e que a 'câmara, nas vistorias que faz dentro da vila, de que levava / , ficasse em
8
3 2
s
Levava-se V . 4
Levava-se ' / . 4
J-
a
O mesmo se observava.
^
a Cl
Nada estava nesta parte provido pelo 'regimento velho e havia em cada comarca e em cada câmara
diverso salário nesta parte, introduzido por costume e muito maior do que agora se lhe arbitra,
[incompleto].
fim. ]sj j levava.
at a s e
an
" Levava-se ainda que não estava provido no regimento.
1
-
a o
Levava-se ' / de cada rubrica.
4
a
P- Por costume que o regimento não tinha revogado se levava nas revistas das licenças dos "oficiais
:
mecânicos e *tendeiros e escritos de aferição, estivessem ou não correntes, / ; e não estando corren- 1
a
tes ou não aparecendo, além da dita / eram condenados em outra para o 'meirinho e /.^ de custas
1
H
1
no distrito de Vila Rica; e em outras comarcas era maior ã condenação. E se proibiu que nesta parte
se levasse emolumento algum estando correntes os papéis, por 'provisão de 28 de,outubro de 1750 e
que sobre isto se perguntasse na 'residência.
674
at
l' Levava-se 1 .1
A
675
Levavam também os ouvidores, como juizes das justificações, ' / „ de cada papel que se justificava, e
o 'escrivão / , o que neste não vai provido.
1
y
676
De cada citação as
ou notificação d e q u e p a s s a r e m certidão, s e n d o n a c i d a d e
ou vila levarão q u a t r o c e n t o s réis e sendo n o " t e r m o , p o r m a n d a d o , levarão mais
o q u e l h e s t o c a r d e c a m i n h o , c o n f o r m e a d i s t â n c i a ; p o r é m , s e n d o feita e m
audiência a t
ou e m sua casa l e v a r ã o setenta e c i n c o réis, e o m e s m o l e v a r ã o d e
cada a u t u a ç ã o , a u
de u m a p r o c u r a ç ã o a v
*apud actaj a i n d a q u e sejam muitos os / / [ fl. 369 J
p r o c u r a d o r e s , c e n t o e c i n q ü e n t a réis. .E se d u a s a w
ou três pessoas constituírem u m
procurador, levarão o mesmo de cada uma, s a l v o a x
sendo marido e mulher ou
i r m ã o s e m u m a h e r a n ç a , o u "cabido, "universidade ou "concelho, q u e n ã o p a g a -
r ã o s e n ã o c o m o u m a só p e s s o a . D o s m a n d a d o s ) q u e p a s s a r e m p a r a citações,
3 7
as
- Citação, V . 2
a L
Em audiência, [4?] 'vinténs de ouro.
a u
- De cada autuação, [2?] vinténs.
a V l
Procuração, 4 vinténs.
-
a w
E se duas, 4 vinténs de cada uma.
-
ax
Salvo, 4 vinténs somente.
y-
a
Dos mandados, 4 vinténs.
"
az
O mesmo, 4 vinténs.
k- a
E também, 4 vinténs.
DD
- Sendo, 4 vinténs.
678
presentes ou n ã o . A r a s a D n
se h á d e c o n t a r p o r *regras a trinta réis p o r c a d a vinte
e cinco regras, t e n d o estas trinta letras c a d a u m a ; e assim* 30
se c o n t a r á nas inquiri-
be. De cada assentada, 2 vinténs, e se levava uma assentada de três em três testemunhas, fossem ou não
fossem muitas.
bf. Sendo tiradas em casas, levava-se mais 4 vinténs de caminho, além da escrita.
Leva-se V por dia, em quatro léguas cada um.
g
bo. Contavam-se da mesma forma e se cobravam de cada termo 2 vinténs, de cada mandado em
audiência 1 vintém, de cada revelia 2 vinténs e de cada autuação de feitos 4 vinténs.
ções, apelações, traslados e termos d o processo, atendendo-se a terem-se tirado os
e m o l u m e n t o s dos t e r m o s , revelias e m a n d a d o s q u e serão obrigados a fazer c o m o
dantes, contados s o m e n t e a "rasa. E das sentenças' ! e das q u e t i r a r e m d e instru-
3 3
kP" Contavam-se 12 'vinténs, tendo cada página 25 regras e cada uma de 30 letras.
k l Cartas citatórias, testemunháveis, de inquirição e instrumentos de agravo se contavam, por cada
meia folha das primeiras três a 12 vinténs e as mais a rasa, e das "cartas de seguro e de editos a V 2
depois, no segundo ano, mais V^, e deste por diante até ao terceiro ano mais / e passados três anos
1
p
V„ e nada mais.
Ds
- De busca em quaisquer livros se levava metade do que fica dito.
k Levava-se /
L l
r
680
de qualquer m a n d a d o .
D a s vistorias* 371
n a c i d a d e o u vila, a l é m d o q u e lhes i m p o r t a r a e s c r i t a a
r a s a l e v a r ã o t r e z e n t o s réis, e s e n d o fora l e v a r ã o o s e u c a m i n h o ; dos exames* )' 3
q u e f i z e r e m e m a l g u n s a u t o s , livro e e s c r i t u r a ou o u t r o q u a l q u e r d o c u m e n t o
s o b r e vício ou falsidade l e v a r ã o c a d a u m seiscentos réis; e o q u e frzer o a u t o
levará d e mais a escrita; e nos que* 32
se fizerem s o b r e l e s ã o , aleijão o u defor-
m i d a d e p e l o s "cirurgiões l e v a r ã o s o m e n t e a e s c r i t a , e s e n d o feitos e m p r e s e n -
ça d o " o u v i d o r o u "juiz l e v a r ã o d a i d a , s e t e n t a e c i n c o réis. D a s c a r t a s c a
de
e d i t o s , q u i n h e n t o s réis; das posses * q u e f o r e m d a r n a c i d a d e o u vila, a l é m d a
0 3
üU
- Levavam-se 4 "vinténs de cada termo de pregão.
b - Levava-se / , por virtude de uma sentença da Bahia, ainda que o "regimento só mandava levar 2
v l
2
vinténs do auto, e a rasa, e os mandados que houverem, tanto em bens móveis como de raiz, e de toda
a quantia.
- Levava-se V .
b w
+
k* Levava-se V^, além da rasa, suposto que o regimento só dava 2 vinténs do auto, fora a rasa e
1
b • Levava-se a mesma rasa, ainda sendo em presença do juiz, além de 4 vinténs de caminho, que sempre
z
ct
*' Levava-se por estilo / pelo auto e sumário e nada de rasa.
2
g
c e i
Levava-se a *rasa, fora os termos.
c
^ Levava-se a rasa, fora os termos.
c
£ ' Levava-se a rasa.
c n _
Levava-se ' / . 4
C1
* Levavã-se / e 4 "vinténs de caminho.
1
4
C
J' Levava-se V , +
c
k- O mesmo.
c,
l" O mesmo.
c m
- O mesmo.
ç n _
Levava-se / . l
2
c o
' Nada se levava absolutamente.
682
e oitocentos "réis; d e c a d a p a p e l c r
q u e l a n ç a r e m nas n o t a s e t i r a r e m delas levarão
a s u a escrita a *rasa, n a forma q u e os "escrivães e tabeliães do judicial. D a i d a c s
Nos processos c x
q u e o r d e n a r e m l e v a r ã o o m e s m o q u e os m a i s escrivães e
t a b e l i ã e s d o j u d i c i a l ; do a u t o d e i n v e n t á r i o , s e n d o n a c i d a d e ou vila, a l é m d a
escrita a rasa, d a ida setenta e cinco réis, e a rasa se c o n t a r á d a m e s m a sorte q u e n o
judicial; e indo fora fazê-lo levarão o c a m i n h o , c o m o os mais escrivães e tabeliães;
nas partilhas levarão do auto o m e s m o q u e do inventário, e m a i s a escrita a rasa;
C
P• Levava-se / e davam o traslado.
2
a
ct
l- Levava-se / e V .
l
8 a
cr
- Levava-se a rasa.
cs
- Levavam-se 4 'vinténs.
ct
- Levava-se V . 8
c u
- Levavam-se 4vinténs.
c v _
Levava-se ' / . +
C W -
O mesmo, como fica dito no titulo dos tabeliães do judicial.
c x
' O mesmo se levava.
683
^Distribuidores [ fl. 37 l v . ]
C
Y- Levavam-se 2 "vinténs.
c z
' 2 vinténs.
Levavam de escrever as contas que se tomavam duas assentadas em cada dia, a dois vinténs cada
uma, além da escrita.
Levava-se V sendo de autos findos do primeiro ano em diante, e nada mais.
2
d c
- Levavam como os mais escrivães.
d d
- Levavam "A.
, 4
Af -
\Íncompletõ\
684
*Inquiridores
D e i n q u i r i r a c a d a t e s t e m u n h a l e v a r ã o c e n t o e c i n q ü e n t a *réis e d e
a s s e n t a d a , " q u e terá d e c a d a três t e s t e m u n h a s , setenta e cinco réis; d e inquirir **
1 1 1
* Contadores
d£- Levava-se / . 1
t
^J- De contar um feito, '/ ; de feito-crime em que não havia parte, '/ ; e havendo parte, '/ -
2 4 2
^ Levava ' / de cada uma, e das apelações com apensos ou sem eles, '/,, e fora daqui nada mais
+
- Levavam '/,.
d n
cia do q u e v e n c e r e m d e c a m i n h o .
"Escrivães d a v a r a
D e c a d a a u t o ^ q q u e f i z e r e m d e p r i s ã o d a s p e s s o a s q u e os " m e i r i n h o s e
"alcaides p r e n d e r e m , i n d o e m s u a c o m p a n h i a l e v a r ã o t r e z e n t o s "réis; e d a ida
c o m o m e i r i n h o ou alcaide, outros trezentos réis; e o m e s m o levarão d e c a d a a u t o
q u e fizerem das c o n d e n a ç õ e s verbais q u e escreverem e m livro; dos autos d e p e -
n h o r a , e m b a r g o ou seqüestro e outros q u e p o r r a z ã o d e seu "oficio p o d e m fazer,
trezentos réis; de c a m i n h o e diligências fora d a c i d a d e ou vila l e v a r ã o o m e s m o
q u e levam os m e i r i n h o s e alcaides.
"Porteiros
D e c a d a c i t a ç ã o q u e f i z e r e m e p a s s a r e m fé l e v a r ã o c e n t o e c i n q ü e n t a réis,
e s e n d o n a a u d i ê n c i a , t r i n t a e sete réis e m e i o ; p o r é m , se for e m d i s t â n c i a fora
d o l u g a r o u vila l e v a r ã o o seu c a m i n h o a c e m réis p o r " l é g u a , q u e é p o r d i a ,
à r a z ã o d e seis l é g u a s , seiscentos réis; d e c a d a * p r e g ã o ^ e m audiência, trinta e
r
sete réis e m e i o ; d e a p r e g o a r n a p r a ç a e m a i s l u g a r e s p ú b l i c o s os b e n s p e n h o -
r a d o s os dias d a lei l e v a r ã o , d e c a d a u m , sessenta réis, q u e , n o s oito dias q u e
d e v e m a n d a r os b e n s m ó v e i s , i m p o r t a r ã o q u a t r o c e n t o s e o i t e n t a r é i s , e n o s
v i n t e dias q u e d e v e m a n d a r os d e raiz, mu e d u z e n t o s réis, os q u a i s só v e n c e -
r ã o d e p o i s d e p a s s a r e m c e r t i d ã o c o m fé d e q u e os c o r r e u , c o m o é estilo, p a r a
se j u n t a r aos a u t o s ; e satisfazendo o d e v e d o r à d í v i d a a n t e s q u e se a c a b e m os
d i a s d a p r a ç a p a g a r - s e - á os p r e g õ e s q u e t i v e r c o r r i d o e n a d a m a i s . D e
a r r e m a t a ç ã o ^ d e b e n s m ó v e i s até c i n q ü e n t a m i l réis l e v a r ã o t r i n t a e sete réis
e m e i o ; d e c i n q ü e n t a mil réis p a r a c i m a até c e m , s e t e n t a e c i n c o réis; e p a s s a n -
d o de c e m mil réis, c e n t o e c i n q ü e n t a réis. / / De apregoar u m a carta de [ fl. 372v. ]
editos e f e c h a d a e p a s s a r c e r t i d ã o d e p o i s d e findo o t e m p o , t r e z e n t o s réis.
dq.
Levavam / de tudo o que trata este capítulo; e de caminho, o mesmo que levavam os meirinhos,
1
+
' Levavam 2 "vinténs de ouro sendo pregão em audiência e 4 vinténs sendo fora dela.
d r
' Levavam / de qualquer quantia que fosse e se a parte pagava antes da arrematação, ' / .
d s l
2 4
686
*Escrivães d a c â m a r a
d*' De cada partilha levava cada um partidor / chegando o inventário até / $ e passando das /
1
a
w>) m
i
- Levam-se 4 vinténs.
d u
dv
- Levavam-se 4 "vinténs de ouro.
- Levava-se V .
d w
a
d - Levava-se o mesmo que os tabeliães a *rasa, e assim também nas cartas testemunháveis.
51
ày- Levava-se V e tirava a sentença, e tudo o mais que escrevia se contava pela rasa.
4
r e m a t a r e m p e l a c â m a r a n ã o levarão p r o p i n a a l g u m a e somente de c a d a a r r e m a t a ç ã o ,
o u seja d e aferições ou currais ou talhos ou outras semelhantes r e n d a s , levarão d e
c a d a u m a dois mil e q u a t r o c e n t o s *réis; p o r é m , d a a r r e m a t a ç ã o d e q u a l q u e r o b r a
q u e a * c â m a r a m a n d a r fazer levarão só mil e duzentos réis* d e c a d a "regimento d e
"ofício ou t a x a q u e se passar p a r a s e m p r e , mil e duzentos réis; d e c a d a "provisão
d e "juiz d e c a d a u m dos ofícios m e c â n i c o s e "cartas d e e x a m e , mil e duzentos réis;
d e c a d a t e r m o d e j u r a m e n t o e posse q u e se d e r n a " c â m a r a aos " c a p i t ã e s d a
" o r d e n a n ç a e o u t r o s , seiscentos réis; d e e s c r e v e r e m as eleições das J u s t i ç a s q u e
fizerem os "ouvidores ou "oficiais d a c â m a r a , d e três e m três a n o s , q u a t r o mil e
oitocentos réis. Pela escrita das contas do "concelho, n ã o t e n d o o r d e n a d o , levarão
sete mil e duzentos réis.
"Escrivães d a a l m o t a ç a r i a
De uma a ç ã o d z
levarão setenta e cinco réis; de u m a a b s o l v i ç ã o ea
d a instância
do j u í z o assentada e m c a d e r n o , o m e s m o ; de: u m a a p e l a ç ã o ' e n t r e p a r t e s p a r a o
6 3
Advogados
De cada requerimento e f
n a a u d i ê n c i a , c e n t o e c i n q ü e n t a réis; de p ô r
u m a a ç ã o , S o m e s m o ; de u m a p e t i ç ã o ^ de agravo, mil e d u z e n t o s réis;
e e
d z
- Levavam-se dois 'vinténs.
ea
- Dois vinténs.
Quatro vinténs.
e C i
Quatro vinténs.
e a
' Cincovinténs.
ee
" Quatro vinténs.
Levava-sç '/ . 4
e
§' Levava-se '/ . 4
Levava-se /o. 1
688
D e p o r e m u m a a ç ã o e m a u d i ê n c i a , cento e c i n q ü e n t a réis; d e c a d a r e q u e -
en
*Carcereiros q >
-
ei
Levava-se '/¡j.
J-
e
Levava-se V «
+
k-
e
Levavam-se / -
8
8
'-
e
Levavam-se */ , fossem maiores ou menores as quantias das causas, e por isso não tinham mais coisa
s
alguma, ainda que neles sobreviessem alguns incidentes que retardassem o ponto principal delas.
e m
- De cada petição ordinária se levava f e aqui se não provê nesta parte.
1
v
en
- Levava-se V . +
C O i
Levava-se V , e cada um se ajustava com a sua parte como lhe parecia, porque esta matéria não
4
Rei.
Também estava provido no regimento velho que os "guarda-mores levassem de cada dia de caminho
para repartições de terras ou vistorias V e de assinatura de cada carta /,,; e que os seus 'escrivães
s
1
levassem de cada dia de caminho / fora da escrita, que seria contada pela "rasa; de feitio de cada
i
í í
carta, V^eo mesmo de cada auto de posse; que ao depois foi declarado, em parte pela 'provisão de
27 de junho de 1733, de que já acima, no título dos ouvidores, se fez menção. Não se proveu sobre os
emolumentos dos guarda-mores e seus escrivães, ao mesmo tempo que se lhes deu providência no
regimento velho e pela ordem de 27 de junho de 1733. Não se proveu sobre os ordenados que os
ouvidores e seus escrivães devem levar como 'superintendentes das terras minerais, nem o que devem
levar de cada auto de vistoria nas ditas terras, nem ao menos se ordenou que nesta parte se observasse
o costume ou a resolução de 27 de junho de 1733 ou que especialmente se revogasse. Não se proveu
spbre as petições ordinárias dos advogados. Não se proveu se deviam levar os ouvidores salário de
rever as licenças dos 'ofícios mecânicos e 'tendeiros, de que se levava '/ , ao mesmo tempo que só se
H
proibiu levá-lo de se reverem os escritos de aferição. Não se proveu sobre os emolumentos que os
ouvidores devem levar e mais seus escrivães sobre papéis que se justificam, por serem todos, nas suas
comarcas, juízes das justificações, e levavam '/¡¡de qualquer papel justificado e A o escrivão. Não
l
2
se proveu sobre escrivães da ouvidoria nem o que devem levar de 'novos direitos das 'cartas de
seguro.
690
Diogo de M e n d o n ç a Corte-Real
• 97 «
O " r e g i m e n t o n o v o p a r e c e q u e se n ã o c o n f o r m a c o m a r a z ã o n o q u e res-
peita aos salários d a conclusão o u assinaturas dos ^ouvidores, p o r q u e se
n ã o deve r e g u l a r o t r a b a l h o dos j u l g a d o r e s a t e n d e n d o a o p e d i d o n a s
ações m a s , sim, à n a t u r e z a das causas, pois é certo ser diferente o t r a b a l h o das
ordinárias p a r a as sumárias. Nestas p o d i a haver d i m i n u i ç ã o do q u e se lhes taxava
n o r e g i m e n t o velho e das outras n a d a se lhes p o d i a diminuir.
O m e s m o p a r e c e se devia e n t e n d e r ou observar a respeito d o e m o l u m e n t o
das ações d e alma, sendo igual os das q u e c a b e m n a a l ç a d a às q u e n ã o c a b e m . E
nesta p a r t e p a r e c e estar o r e g i m e n t o novo p o u c o claro, p o r q u e fala nas ações d e
a l m a e t a x a o salário d e trezentos "réis às q u e n ã o c a b e m n a a l ç a d a e de c e n t o e
c i n q ü e n t a às q u e c a b e m , e n ã o declara se o e m o l u m e n t o é d o j u r a m e n t o , se d a
assinatura d a sentença. Se se extrair o q u e o r e g i m e n t o velho d i s t i n t a m e n t e decla-
ra u m a e o u t r a coisa, e se n o r e g i m e n t o n o v o se t a x a nos m a n d a d o s d e p r e c e i t o
300 réis de assinatura, sem declaração de caber ou n ã o c a b e r a q u a n t i a n a alçada,
é certo p o r esta forma ficar p a g a n d o mais d e assinatura o q u e confessa do q u e o
rebelde, o q u e p a r e c e carecia d e m a i o r p r o v i d ê n c i a p a r a mais clareza; aliás, fica o
c a m i n h o a b e r t o p a r a novos estilos nascidos de inteligências q u e se lhe p o d e m dar,
a t e n d e n d o as definitivas ou assinaturas do p r i m e i r o / / p a r á g r a f o . [ fl. 375v. ]
T a m b é m n ã o sei q u a l seja a r a z ã o d e q u e n o r e g i m e n t o n o v o , p a r á g r a f o
q u a r t o , o n d e diz "e p a s s a n d o d e c e m mil réis ou sendo d e bens d e raiz" t a x a r 600
réis, s e m declarar exceder os ditos bens de raiz a q u a n t i a d e c e m mil réis ou n ã o ,
692
*Juiz d e f o r a
d e c a d a c o n h e c i m e n t o q u e p a s s a r e m d a receita.. 600
do "bilhete d e c a r r e g a r "novos direitos p a r a "carta de seguro,
"oficio ou coisa s e m e l h a n t e . . . . , 150
d e c o n h e c i m e n t o d e recibo q u a n d o se. faz p a g a m e n t o 300
d e r e m a t a ç ã o de o b r a s q u e m a n d a fazer a F a z e n d a R e a l 2.000
d e u m a fé d e ofícios aos soldados 1.200
d e u m a quitação geral a o caixa dos "contratos reais p o r e x a m i n a r todas
as receitas feitas e m u m triénio, e no mais t e m p o a este respeito 7.200
[ fl. 379 J d e u m a livrança d e m a n t i m e n t o s 600
d e registro d e u m a "provisão ........................900
de u m a "carta p a t e n t e , 1.500
d e u m t e r m o d e fiança 300
FERREIRA, Manoel Lopes. Prática criminal. Expendida na forma da praxe observada neste nossa
Reino de Portugal; e novamente acrescentada e ilustrada de muitas Ordenações, íeis extravagantes,
regimentos, e doutores.Tomo II. Dividido em três tratados. Lisboa: Carlos Esteves Mariz,
M.DCC.XLII [1742]. p. 113-116. O nome correto do distribuidor da Corte era José Nostórío.
695
de c a d a "provisão q u e p a s s a r e m 1.200
de a registrarem 900
de cada "patente •. 4.800
d e a registrar „ 1.800
d é c a d a "sesmaria 10,000
C o m o as " c â m a r a s se t ê m m o s t r a d o t ã o zelosas do b e m c o m u m e m p e d i -
r e m n o v o r e g i m e n t o , q u e j u s t o e r a este fosse, e t a m b é m e m p e d i r e m a lei dos
m i n e i r o s , c o m e n g a n o , p o i s d e l a se n ã o segue p r o v e i t o a S u a M a j e s t a d e n e m
a o b e m c o m u m m a s , só s i m , a o s p a r t i c u l a r e s m i n e i r o s e m p e n h a d o s , q u e
p u d e r a ser se se a v e r i g u a s s e q u e m f o r a m os d a c o n t a , se a c h a r i a s e r e m m i n e i -
ros e m p e n h a d í s s i m o s , e a s s i m se d e v i a o r d e n a r às m e s m a s c â m a r a s q u e , e m
termo breve, fizessem r e g i m e n t o n o v o p a r a os " a f e r i d o r e s , t a x a n d o - l h e s m e -
nos estipêndio, de sorte q u e o que t a x a r e m / / n ã o exceda à m e t a d e d o que [ fl. 379v. ]
c o s t u m a m l e v a r p e l o r e g i m e n t o v e l h o , e m e n o s h a v i a d e s e r se se n ã o a t e n -
d e s s e h a v e r a l g u m a s vilas q u e t ê m p o u c o r e n d i m e n t o p a r a r e e d i f i c a ç ã o d o
q u e são o b r i g a d o s reedificar e fazer, p o i s é e x o r b i t â n c i a p a g a r u m a " v e n d a d e
a f e r i ç ã o e r e c e i t a a o aferidor e m j a n e i r o e j u n h o m a i s de o n z e ou d o z e m i l , e
a isto n ã o d ã o p r o v i d ê n c i a as zelosas c â m a r a s p a r a t e r e m m a i s r é d i t o s p a r a os
d i s t r i b u í r e m , c o m o m u i t a s vezes lhes p a r e c e m s e m u t i l i d a d e d o b e m comum
n e m necessidade.
O s *juízes d o s ó r f ã o s feitos p o r e l e i ç ã o
*Escrivães
[ fl. 381 ] senhores julgadores n ã o / / deferiam c o m a clareza necessária e precisa, pois assim
c o m o o leme é o governo da e m b a r c a ç ã o assim são os despachos p a r a os c o n t a d o -
res, e faltando nestes a clareza a respeito das c o n d e n a ç õ e s j á p õ e m aos c o n t a d o r e s
a d i v i n h a r , e disto n a s c e m dúvidas causadas das interpretações q u e c a d a u m d á aos
despachos, c o n f o r m e lhe faz mais c o n t a p a r a se lhe diminuir o q u e se t e m c o n t a d o
ou a o m e n o s dilatar a causa, c o m o pretexto d e e m b a r g o s de erros de contas.
E, assim, o r e g i m e n t o velho, a respeito das conclusões, faz u m a s declarações
d o q u e se h á de c o n t a r aos escrivães. S e n d o conclusos à revelia d e q u a l q u e r das
partes^ lhes m a n d a c o n t a r m e i a c o n c l u s ã o e à revelia assim e m t o d a s as causas
c o m o n a s a p e l a ç õ e s , e nestas lhes t a x a m a i o r e m o l u m e n t o . P o r é m , n e s t a p a r t e
n u n c a se. observou o dito regimento p o r m a l e n t e n d i d o , e era a p a r t e e m q u e se
considerava c o m confusão, e só n o R i o d a M o r t e s se c o n t o u do " " c o n c l u s o " q u e
p u n h a o escrivão dois "vinténs d e o u r o , q u e depois se tirou, observando o costume
das mais partes, q u e era só contar os dois vinténs do termo d e conclusão e a rasa dele.
697
*Distribuidor
inquiridores
"Contadores
N o q u e r e s p e i t a a este " o f í c i o , e s t á c o n f o r m e o r e g i m e n t o n o v o n o s
e m o l u m e n t o s , exceto n a c o n t a dos j u r o s , p o r q u e nesta p a r t e se deve observar o
q u e neste R e i n o . s e pratica, q u e é de c a d a c o n t a de recibo a recibo u m t a n t o , e n ã o
d e a n o a a n o , p o r q u e no decurso d e u m a n o p o d e o d e v e d o r fazer cinco ou seis
p a g a m e n t o S j e p o r esta r a z ã o é a c o n t a m a i s r u i m de fazer, pois è prejuízo fazer
c o n t a d e recibo a recibo e d e meses e dias, q u e é necessário, p r i m e i r o , p a r a saber
o q u e estes i m p o r t a m ; fazer a c o n t a a o a n o , r e p a r t i r pelos meses e depois pelos
dias. E assim deve ser distinta a declaração desta q u a l i d a d e d e c o n t a à d e frutos ou
r e n d i m e n t o s anuais, p o r esta seguir a r e g r a dos anos, o q u e n ã o segue c o m u m e n t e
a dos j u r o s , pela r a z ã o dita.
T a m b é m se deve taxar salário aos contadores das certidões q u e passarem, q u e
algumas vezes sucede, e o m e l h o r p a r e c e q u e se dissesse q u e de q u a l q u e r certidão
[ fl. 383v. ] q u e passassem levassem o m e s m o q u e os escrivães. Ao m e s m o / / c o n t a d o r se deve
t a x a r o q u e deve levar da conta que faz nos livros da " c â m a r a d a escrita do escrivão
dela, d e u m ano, que, p o r d a r trabalho e m Vila Rica, C i d a d e M a r i a n a e S a b a r á , se
lhe devia taxar 8.400 "réis, e nas mais vilas a 1.200 réis, p o r haver nos ditos livros
m e n o s q u e c o n t a r peias, *inquam, contar cujas contas serão feitas pelo c o n t a d o r do
geral.
*Porteiro
"Escrivães d a c â m a r a
Escrivães d a "almotaçaria
Advogados
"Requerentes
Carcereiros
98
Macaúbas [ 394 ]
T e m 70 *recolhidas e 14 escravas, todas d e c o m u n h ã o .
Furquim
T e m pessoas d e confissão 1.219, de c o m u n h ã o 1.222, t e m cinco sacerdotes e 6
" c a p e l a s etc.
G a t a s Altas
T e m 3.783 de confissão e c o m u n h ã o .
C amargos
Antônio Pereira
Cidade [Mariana]
T e m 7.329.
São Sebastião
T e m 1.500.
São Caetano
T e m 2.604.
Sumidouro
T e m 4.610.
E m 1749.1
• 99 <
D e p r o v i s õ e s p a r a c a p e l ã e s d a s " i r m a n d a d e s sitas e m
igrejas p a r o q u i a i s e capelas, q u e h a v e r á a o m e n o s 6 0 0 ,
c a d a c h a n c e l a r i a 1.600, c a d a selo 3 7 5 , i m p o r t a c a d a
provisão 1.975, q u e p o r todas v ê m a fazer a s o m a d e . . . . I:185ü000
D e p r o v i s õ e s p a r a "vigários d a v a r a , q u e são 6, c a d a
c h a n c e l a r i a 1.600, c a d a selo 3 7 5 , q u e i m p o r t a c a d a
provisão 1.975, fazem a s o m a d e . . . 11Ü850
5:368Ü400
710
D e provisões p a r a " m e i r i n h o s d o m e s m o , q u e t a m b é m
são 7, e a i m p o r t â n c i a d a c h a n c e l a r i a e selo a m e s m a ,
somam , 13Ü825
De. p r o v i s õ e s p a r a m e i r i n h o d o c a m p o e e s c r i v ã o d o
mesmo, que há somente e m Mariana, cada chancelaria
1 . 6 0 0 , c a d a selo 3 7 5 , i m p o r t a c a d a p r o v i s ã o 1 . 9 7 5 ,
somam , , 3Ü950
D e provisões p a r a c a s a m e n t o s , q u e a o m e n o s se farão
mil e m c a d a a n o e m todo o b i s p a d o , e x c e t u a n d o os dos
escravos, q u e n a d a p a g a m : a saber, 600 q u e se celebrarão
nas m a t r i z e s , cuja c h a n c e l a r i a é d e 1.200 e o selo 3 7 5 ,
que vem a somar cada um 1.575, i m p o r t a m por
t o d o s os 600 945Ü000
Q u a t r o c e n t o s , q u e se c e l e b r a r ã o n a s c a p e l a s , c u j a
c h a n c e l a r i a é 2 . 4 0 0 , selo 3 7 5 , v e m a i m p o r t a r c a d a
provisão 2.775, somam 1:110U0Ô0
711
D e m a n d a d o s d e comissão p a r a se t i r a r e m d e p o i m e n t o s
nos casamentos, q u e q u a n d o nada em todo o bispado,
c a d a a n o , serão 100, c a d a "chancelaria 1.200, c a d a *selo
3 7 5 , i m p o r t a c a d a m a n d a d o 1.575, fazem p o r j u n t o a
soma de , 157Ü500
4:547Ü325 [fl. 3 9 6 ]
N e s t e s m e s t r e s d e c a p e l a se r e p a r a q u e d ã o l i c e n ç a a
outros músicos p a r a c a n t a r , levando duas "oitavas de o u r o
p o r c a d a licença, tendo Sua Majestade declarado, p o r
u m "alvará à B a h i a , ser abuso d a jurisdição episcopal o
p r o v i m e n t o deles pelos "bispos c o m a a m p l i a ç ã o d e n ã o
c a n t a r a l g u é m s e m licença deles, e q u e aos bispos s o m e n t e
t o c a p r o i b i r c a n t o s p r o f a n o s n a s igrejas, e n ã o m a i s a
respeito d e músicos.
T o d a s as "provisões referidas se p a s s a m e m c a d a a n o e
a l é m delas outras m u i t a s , c o m o são a "clérigos e frades
p a r a confessar e p r e g a r , c a d a u m a d e *per se, das quais
d i z e m uns q u e se p a g a m "chancelarias, outros q u e n ã o ;
p o r é m s e m p r e é n o t á v e l g r a v a m e aos p o b r e s clérigos
p a g a r e m feitios, registros e "selos, os selos s e m p r e p a r a o
"bispo, q u e p o r ser c a d a u m nestas provisões 9 3 "réis e
m e i o , e m d u a s m i l p r o v i s õ e s p a r a c o n f e s s a r q u e se
p a s s a m a c l é r i g o s , q u e t o d a s se a p r o v a m , se faz a
q u a n t i a de I87Ü000
E e m d u z e n t a s provisões p a r a p r e g a r , q u e é o m e n o s q u e
p o d e h a v e r e m u m b i s p a d o o n d e todos t ê m a t e n t a ç ã o
d e p r e g a r , s o m a a conta dos selos 18U700
" P e n s õ e s q u e e m c a d a a n o l e v a o b i s p o p e l o s "ofícios
R e n d i m e n t o s d a *visita
Pela a d m i n i s t r a ç ã o do s a c r a m e n t o d a crisma, e m q u e p õ e
o bispo u m c r i a d o c o m u m a salva a r e c e b e r o u r o , o u t r o a
receber "cera, e ou em u m a ou e m outra espécie
n e c e s s a r i a m e n t e são as ofertas dos c r i s m a d o s , q u e sem
elas se n ã o a d m i t e m , se n ã o p o d e s a b e r a o certo o q u e
importa o r e n d i m e n t o , mas, seguramente, de cada
freguesia q u e visitou tirou mais d e duzentos mil "réis e m
o u r o e cera, que, recebida, fazia logo v e n d e r e p o r b o m
p r e ç o , e c o m p u t a d a s as freguesias q u e v i s i t o u o a n o
p a s s a d o , q u e f o r a m 13 (fazendo visitar as o u t r a s p o r
visitador), lhe veio a r e n d e r a crisma 2:6O0UOO0
S o m a m os r e n d i m e n t o s d a visita, tiradas as p r o c u r a ç õ e s
dos oratórios privados, a q u e se, n ã o fez a conta, salvo o
erro 8:648ÜOO0
• 100 «
H
averá neste b i s p a d o de M a r i a n a até 900 "clérigos, q u e todos t i r a m *pro- [ fl. 399 ]
visões a n u a l m e n t e p a r a u s a r e m d e suas o r d e n s , a i n d a os filhos deste
b i s p a d o e nele o r d e n a d o s , c o n t r a o estilo p r a t i c a d o n o a r c e b i s p a d o d a
Bahia, mais b i s p a d o s e neste, n o t e m p o dos prelados [antecessores?] deste.
S e m p r e foi c o s t u m e p a g a r , c a d a clérigo, d e " c h a n c e l a r i a p a r a o b i s p o 320
"réis d e c a d a provisão de usar d e ordens, e n a posse deste "prelado, t o m a d a p e l o
r e v e r e n d o d o u t o r L o u r e n ç o J o s é de Q u e i r ó s C o i m b r a , se a u m e n t o u a dita c h a n -
celaria, p o n d o - s e e m 1.200 c a d a u m a , de feitio 466 e d e "selo 9 3 e m e i o , q u e este
t a m b é m é p a r a o dito bispo. E q u a n d o q u a l q u e r clérigo vai reformar a sua p r o v i -
716
N a s provisões p a r a e x p o r o S e n h o r n ã o h á excesso.
N a s de casamentos, o mesmo. [fl- 4 0 0 ]
M a n d a d o s de comissão, s e m p r e e m c a d a u m a n o , se m a n d a r ã o p a s s a r m a i s d e
4 0 0 , p o r q u e até m u l a t o s e negros se c o n c e d e m , e m o r d e m a o a u m e n t o das " c h a n -
celarias.
N a s cartas d e e x c o m u n h ã o t a m b é m n ã o h á excesso.
N o s m a n d a d o s de absolvição, o m e s m o .
O m e s m o nos m a n d a d o s do t e m p o d a Q u a r e s m a .
O s seis "mestres de capela p a g a m d e c h a n c e l a r i a 4.500, feitio 6 4 0 , "selo 9 3
e meio.
O s ditos mestres l e v a m de c a d a licença q u e d ã o aos músicos p a r a q u a l q u e r
festividade 2 oitavas d a missa c a n t a d a , d e " V é s p e r a s u m a o i t a v a , e m S e m a n a
S a n t a 8 oitavas.
O s "ofícios das "bancas sempre a n d a r a m p e n s i o n a d o s e m 96 mil. N a chega-
d a d o Excelentíssimo bispo do R i o d e J a n e i r o , d o m frei A n t ô n i o d o D e s t e r r o no
t e m p o q u e g o v e r n o u as M i n a s deste " p r e l a d o , os p e n s i o n o u e m 2 0 0 mil. Assim
ficaram até este presente a n o q u e o dito p r e l a d o os v e n d e u .
A saber:
o ofício de "escrivão de vigário-geral, e m c a d a u m a n o , d e p e n s ã o . . . 1:800UOOO
o d a c o m a r c a d e Vila R i c a 700X5000
o d a de S a b a r á 700X5000
o d a d o R i o das M o r t e s s 700X5000
o d a do S e r r o d o F r i o . , . . , 400U000
o d a d e P i t a n g u i e R i o V e r d e , n ã o se sabe c o m certeza
os mestres d a capela, e m c a d a u m a n o 48X5000
o ofício d e "meirinho-geral se v e n d e u p o r 1:600X5000
O s m e i r i n h o s das c o m a r c a s e seus escrivães d a v a r a os v e n d e u , uns e outros a [ íl. 400v. ]
500X5000, p o r t e m p o d e três anos.
D e "coadjutores , 30
D e "sacristãos 50
Seus escrivães, o m e s m o 7
D e o r d i n a n d o s , j á a c i m a v ã o incluídos nos m a n d a d o s d e c o m i s s ã o , p o r é m
h o u v e curioso q u e o b s e r v o u nestas " T ê m p o r a s q u e 25 o r d i n a n d o s l a r g a r a m n a
C â m a r a Eclesiástica m e l h o r d e d e z mil "cruzados. V e r d a d e é q u e , repartidos e m
chancelarias, selos, "provisor, "escrivão d a C â m a r a , escrevente, p o r t e i r o , m e s t r e
d e c e r i m ô n i a s , m e s t r e d e c a n t o c h ã o , diabos e suas m ã e s , e até se m a n d o u q u e
n e n h u m saísse d e palácio sem fazer a "coroa c o m o b a r b e i r o d a casa, e este n ã o só
lhes fez a c o r o a m a s t a m b é m a b a r b a e mais o cabelo; finalmente c o r o o u a o b r a e
acabou de rapar tudo.
Ali se observou q u e se c o n t a v a m os autos q u e se fizeram p o r comissários fora
c o m o se fossem feitos e trabalhados p o r eles, e se c o n t a v a m os dias e c a m i n h o s q u e
g a s t a r a m e a n d a r a m os comissários t a m b é m p a r a eles, e sendo estes autos u m a só
vez feitos v ê m a ficar refeitos p o r q u e pagos duas vezes, u m a a q u e m os t r a b a l h o u
e o u t r a a q u e m os m a n d o u . P o r é m , o "vigário-geral n ã o leva q u a n t o aos c a m i -
721
O narrador introduz crítica à cobrança irregular de taxas da Igreja, usando ironicamente referência à
parábola dos trabalhadores da vinha segundo o Evangelho de São Mateus, capítulo 20, versículos 1 a 16.
722
• 102 <
T u d o sob censura.
valores arrecadados pelas chancelarias, as pensões que o bispo
recebe, os rendimentos das visitas episcopais e diversas outras
atividades geradoras de receita. Este recurso evidencia o esforço
de apresentação de estimativas contábeis. Semelhante aos docu-
mentos 99 e 108, diverge quanto ao número d e eclesiásticos, de
capelas e d e igrejas e ao valor dos emolumentos; apresenta as
menores cifras dentre os três.
O documento parece ser u m a tentativa de consolidação de
dados a ser enviada à C o r o a pelo ouvidor C a e t a n o d a Costa
Matoso. Visava, em decorrência de suas atribuições, fornecer
subsídios para responder a solicitação régia de informações so-
bre o rendimento do bispado. O c u p a posição chave n a disputa
entre a jurisdição real e a episcopal, traduzindo o esforço d e
controle e vigilância sobre os recursos financeiros da Igreja.
Autoria, l o c a l , data: Caetano d a Costa Matoso; Lisboa;
ca. 1753.
U s o n a historiografía: Este texto foi analisado por M a r -
cos Magalhães de Aguiar, em estudo sobre as irmandades em
Minas, especialmente para enfocar os conflitos de jurisdição en-
tre Estado e Igreja em torno do controle das confrarias e para
obter dados estatísticos sobre o clero mineiro (Vila Rica dos confrades:
sociabilidade contrariai entre negros e mulatos no século XVTIL
São Paulo: Universidade de São Paulo, F F L C H , 1993. p. 100-
102).
C o m e n t á r i o paleográfico: Escrita moderna, caligrafada e
regularizada do período barroco, evidenciando traços bem marca-
dos: hastes inferiores distintas do " q " simples, levemente inclinada,
com apóstrofe arqueado sinalizando a abreviatura," do " p " em pro-
longamento sinistrógiro, marcado e paralelo à escrita; do "s" caudado,
arqueado e também sirústrógiro; do duplo 'T*, o primeiro retilíneo,
com perfil, o segundo com orelha destrógira. Números arábicos ar-
redondados e destrógiros, com uso do caldeirão. N o folio 405, a
caligrafia, do mesmo tipo, se toma mais tipificada. (YDL)
724
D e p r o v i s õ e s p a r a c a p e l ã e s e m " i r m a n d a d e s sitas e m
"igrejas p a r o q u i a s e capelas, q u e serão a o m e n o s 6 0 0 ,
c a d a c h a n c e l a r i a a 1.600, s o m a m 960U000
D e selos p a r a as m e s m a s 6, a 9 3 e m e i o , s o m a m U561
D e provisões p a r a m e i r i n h o do c a m p o e escrivão do m e s -
m o , que há somente em Mariana, cada chancelaria a
1.600, s o m a m 3U200
D e "selos p a r a as ditas 6 0 0 , a 93 e m e i o , s o m a m
: 56Ü100
D e m a n d a d o s d e comissão p a r a se t i r a r e m os d e p o i m e n -
tos, q u e q u a s e todos os t i r a m p o r n ã o v i r e m à p r e s e n ç a
dos *ministros e fazerem despesas, e a i n d a os m u i t o p o -
bres, n ã o sendo d o m e s m o lugar e m q u e se a c h a o "bis-
p o ou ministro d a c o m a r c a ; e alguns tiram dois m a n d a -
dos q u a n d o lhes falta a certidão do batismo p a r a a justi-
ficação, p e l a m e s m a razão lhes custa m e n o s o m a n d a d o
do q u e a despesa d e c o n d u z i r [testemunhas?], e p a g a m
destes d e p o i m e n t o s e justificações duas vezes custas, u m a
a q u e m vai à comissão e o u t r a a o "escrivão do j u í z o , e
por esta razão serão 1.500 mandados, a 1.200
de chancelaria cada um, somam ................„. 1:800U000
D e m a n d a d o s , m a i s d e c o m i s s ã o , q u e se p a s s a m n e s t e
b i s p a d o p a r a o u t r a s justificações, p a r a defesa das teste-
m u n h a s q u e p r o d u z e m os culpados, p a r a desvanecer im-
p e d i m e n t o s d o m a t r i m ô n i o , p a r a justificar premissas, p a r a
dispensas, p a r a a d v o g a r causas, p a r a o *vigário-geral d o
bispado, e m t o d o ele p o d e m ser mais d e 400 m a n d a d o s ,
a 1.200 d e "chancelaria c a d a u m , s o m a m . . . ,
D e t o d o s estes c a s a m e n t o s , p o d e m ser p o r a n o 6 0 0 h o -
m e n s dos q u e c a s a m n a t u r a i s d e P o r t u g a l o u d e o u t r a
p a r t e , e p a r a lhes d i s p e n s a r e m os " b a n h o s das suas pátri-
as, a l é m da justificação d e solteiros e m q u e t a m b é m p a r a
muitos se passa m a n d a d o d e comissão, e m q u e a q u i n ã o
falo, d e p o s i t a m d e c a u ç ã o , c a d a u m , 3 0 . 0 0 0 , e se lhes
não v e m a certidão de b a n h o s corrente n o tempo q u e
lhe d e s t i n a m p e r d e m a c a u ç ã o p a r a a ' M i t r a e lhe tor-
n a m a reformar o t e m p o fazendo d o b r a d a c a u ç ã o , e al-
guns p e r d e m duas e três; e p o d e haver e m todo o b i s p a d o
cauções p e r d i d a s c a d a a n o 40, a 30.000 c a d a u m a , s o m a m
D e selos p a r a as m e s m a s 50, a 9 3 e m e i o , s o m a m ,
Soma a lauda 1 0 : 9 1 2 Ü 6 3 2 Va
D e provisões p a r a confessar e p r e g a r n ã o se p a g a c h a n -
celaria, só p a g a m o selo, q u e p e r t e n c e ao "bispo, e serão
os m e s m o s 700 "clérigos q u e tiram provisões p a r a con-
fessar; t i r a n d o alguns p o r velhos e de n e n h u m préstimo,
virão a ficar e m 6 0 0 , e dizer o original q u e serão mais
p r e g a d o r e s , c o n t u d o serão 50 os q u e p r e g a m , e v ê m a
ser 6 5 0 selos, a 9 3 e m e i o , s o m a m , 60X5775
D e m a n d a d o s d e *publicandis c a d a o r d i n a n d o , ao m e n o s
)
D o ofício d a c o m a r c a do S e r r o , p a g a s o m e n t e 6OU0O0
D o ofício d e Pitangui e R i o V e r d e , n a d a .
P o r é m , a g o r a só lhe ficam d u a s c o m a r c a s c o m p o u c a s
i r m a n d a d e s , q u e são M a r i a n a e Vila R i c a , p o r q u e nestas
t o m a o "corregedor contas por u m a "oitava a cada
irmandade.
P e l a a d m i n i s t r a ç ã o do s a c r a m e n t o d a c o n f i r m a ç ã o , e m
q u e todos os fiéis qUe se c r i s m a m d ã o oferta d e "cera, o u
o u r o , de sorte q u e os mais p o b r e s , q u e são os escravos,
d ã o u m a " q u a r t a d e cera, e os mais g e r a l m e n t e m e i a "li-
b r a e muitos u m a libra e bastantes ofertas d e o u r o m u i t o
distinta, e p o r esta r a z ã o e p o r q u e o "bispo t e m especial
c u i d a d o q u e n ã o passe a l g u m c r i s m a d o sem d a r a oferta,
e n c a r r e g a n d o esta obrigação a sua "família e p e l e j a n d o
logo c o m eles n a q u e l e ato se acaso vê q u e passa a l g u m
escravo ou criança sem d a r oferta, e p o r isso e m 15 fre-
guesias q u e visita e m c a d a a n o lhe r e n d e , c a d a u m a ,
200.000, que somam 3:000X5000
D e "selo, a 9 3 e m e i o , ., ..55U100
D e selo, a 9 3 ç m e i o 72U800
D e m a n d a d o s d e comissão p a r a se t i r a r e m d e p o i m e n t o s
n o s c a s a m e n t o s , a c h e i excesso g r a n d e , p o r q u e a i n d a a
negros e m u l a t o s forros se passam, p r o c u r a n d o todos, c o m
D e *selo, a 9 3 e m e i o 55Ü100
Soma 6:430Ü778
T a m b é m a c h e i q u e a l é m destes m a n d a d o s d e comissão
p a r a c a s a m e n t o s se p a s s a m outros muitos p a r a justifica-
ções, t a n t o n a falta de certidões d e b a t i s m o c o m o p a r a
defesa d e culpas, i m p e d i m e n t o s d e m a t r i m ô n i o , e m q u e
h á bastantes, p a r a justificar premissas, p a r a dispensas, p a r a
a d v o g a r causas, p a r a o vigário-geral, p a r a justificações e
requisitórios d e " o r d i n a n d o s , q u e h á tal q u e se lhes p a s -
s a m 5 e 6 p a r a diversas partes, e todas pelo m e n o s farão
o n ú m e r o seguro de 4 0 0 , q u e a 1.200 i m p o r t a m 48OU0O0
734
D e "selo, a 9 3 e m e i o , , 5Ü510
D e selo, a 9 3 e m e i o 5U610
D e selo, a 9 3 e m e i o 9U350
D e selo, a 9 3 e m e i o * U551
Soma 7:894Ü799
d a C o r o a d a R e l a ç ã o d a B a h i a , e n ã o ser esta a f o r m a
p o r q u e o C o n c í l i o T r í d e n t i n o m a n d a q u e os "bispos
e v i t e m se c a n t e m n a s igrejas p a p é i s p r o f a n o s p o r q u e
a q u i , e m se p a g a n d o a " e s p ó r t u l a , n a d a m a i s se e x a -
m i n a e p o d e m os m ú s i c o s c a n t a r os p a p é i s e solfa q u e
lhes p a r e c e r .
735
* P e n s õ e s q u e se p e r c e b e m d o s * ofícios e m c a d a u m a n o
Soma 13:806Ü509
R e n d i m e n t o s incertos p a r a a c o m p u t a ç ã o anual.
D e p r o v i s ã o d e "vigário-geral 12X5000
D e "provisor , 12X5000
D e "arcediago 19X5000
R e n d i m e n t o d a *visita q u e se faz t o d o s os a n o s
e m m a i s o u m e n o s igrejas d o b i s p a d o
• 104 <
Geraldojosé de Abranches.
740
N ã o se cuidava, n a verdade, e m outra coisa mais que n a forma por que se havia
fazer rendoso aquele bispado, ainda q u e fosse Üegítimo o meio, e p a r a isto concorri-
a m todos os que pretendiam viver no agrado do *bispo, sendo esta ;a razão p o r que
desgostava do seu "arcediago *F., q u e servia de "vigário-geral e "provisor, o n ã o
concorrer este, p o r n i m i a m e n t e escrupuloso, p a r a a q u e l e s excessos. E t a n t o q u e
a c h e i q u e n ã o só o n ã o p r a t i c a v a de *per se os m e s m o s excessos, restituindo muitas
p a r c e l a s q u e i n d e v i d a m e n t e lhe foram contadas, c o m o e m parte consta d o m e s m o
s u m á r i o , e u s a n d o e m papéis daquelas caridades c o m os p o b r e s que n ã o usava o
b i s p o , m a s i m p e d i a q u e os seus "oficiais c o m e t e s s e m os m e s m o s excessos q u e
p r a t i c a v a m os outros, e m e n d a n d o t a m b é m e m si n ã o só o q u e levava nas conclu-
sões dos autos c o n t r a o "regimento secular depois q u e veio n o c o n h e c i m e n t o d a
p r á t i c a dele m a s a i n d a o r e c e b e r os salários e m o u r o " q u i n t a d o depois q u e foi
[fl. 408v. ] a d v e r t i d o / / e c o n h e c e u este excesso. E p o r estas e o u t r a s a ç õ e s , o u ç o q u e o
bispo s u s p e n d e r a - o do dito c a r g o , o q u e s e m p r e profetizei, vivendo c o n t r a a for-
m a e m q u e viviam os q u e mais q u e r i a m lisonjear o bispo q u e o o l h a r p a r a as suas
consciências.
A c h e i q u e t o d o s t i r a m provisões a n u a l m e n t e p a r a u s a -
r e m d e suas o r d e n s , a i n d a s e n d o filhos deste b i s p a d o e
nele o r d e n a d o s , c o n t r a o q u e se p r a t i c a n o a r c e b i s p a d o
d a B a h i a e mais bispados "sufragâneos, c o m o t a m b é m se
p r a t i c a v a neste antes de dividido do do R i o d e J a n e i r o .
E do selo, a 9 3 e m e i o U561
D e provisões p a r a p i u m o t o r e s ~ ( p o s t u q u e n ã o v e n h a m
t
E d o selo, a 9 3 e m e i o mm
746
E do "selo, a 9 3 e m e i o . „ , t U748
E d o selo, a 9 3 e m e i o Ü 5 8 4 Vi
D e provisões p a r a m e i r i n h o e escrivão do c a m p o , q u e h á
só n a C i d a d e [ M a r i a n a ] , e são gerais p a r a t o d o o bispa-
do, a 4.500 c a d a u m a (e n ã o 1.600) : 9Ü000
E do selo, a 9 3 e m e i o U187
E do selo, a 9 3 e m e i o U 5 8 4 Ya
Esta c o m p u t a ç ã o d e d u z e n t a s provisões é a t e n d e n d o a
q u e p r e s e n t e m e n t e se n ã o p a s s a m p a r a esta c o m a r c a , p o r
se m e o r d e n a r pelo C o n s e l h o do U l t r a m a r , n a "frota p a s -
s a d a , n ã o consentisse estes e r m i t ã e s c o m provisões d o
" b i s p o , o q u e t e n h o feito o b s e r v a r , suposto n ã o s e r e m
impedidos nas mais c o m a r c a s e o n ã o serão t a m b é m b r e -
v e m e n t e nesta, e s e n d o assim v i r á a ser o n ú m e r o das
ditas provisões n ã o m e n o s d e 3 0 0 , c o m o e r a até a g o r a .
D o "selo, a 9 3 e m e i o [incompleto]
E m m a n d a d o s de c o m i s s ã o , a c h e i excesso g r a n d e , p o r -
q u e a i n d a a n e g r o s e m u l a t o s forros se p a s s a m , p r o c u -
r a n d o todos c o m isto n e m v i r e m à p r e s e n ç a dos "minis-
tros eclesiásticos n e m fazerem m a i o r e s despesas nas gran-
des j o r n a d a s , p a g a n d o duas vezes custas destas justifica-
ções, u m a a q u e m vai à comissão e o u t r a a o escrivão do
j u í z o q u e passa, e suposto achei b o a informação q u e p a s -
s a r i a m de mil pela sua multiplicidade c o n t u d o m e persu-
adi seriam de seiscentos até setecentos, q u e , a 1200, Os
seiscentos i m p o r t a m -. [incompleto]
E d e selo, a 9 3 e m e i o , , [incompleto]
A c h e i t a m b é m q u e a l é m destes m a n d a d o s d e comissão
p a r a casamentos se passam outros muitos p a r a justificações,
tanto n a falta de certidões de batismo c o m o p a r a defesa de
culpas e i m p e d i m e n t o s d o m a t r i m ô n i o , e m q u e h á m u i -
tas p a r a justificar premissas, p a r a dispensas, p a r a a d v o -
g a r causas, p a r a o vigário-geral, p a r a justificações e re-
quisitórios d e o r d i n a n d o s , q u e há tal q u e se lhe p a s s a m
cinco e seis p a r a diversas partes, e todos farão o n ú m e r o d e
q u a t r o c e n t o s seguros, que^ a 1.200, i m p o r t a m [incompleto]
E d e selo, a 9 3 e m e i o [incompleto]
E do selo, a 9 3 e m e i o [incompleto]
E d o selo, a 9 3 e m e i o [incompleto]
• 106 «
"Chancelarias
Assinaturas d o "vigário d a v a r a
*P r o m o t o r do juízo
"Escrivães d a b a n c a
D e u m a u t o , q u a l q u e r q u e seja 187
D e c a d a ida à p r a ç a p a r a v e n d a de p e n h o r e s 135
Se for c o m "oficial fazer p e n h o r a , levará a escrita a rasa
e da i d a 187 e Vá
Se antes d a a r r e m a t a ç ã o a p a r t e p a g a r e se lhe entregare-
m o s p e n h o r e s , levará d a escrita a rasa e d a entrega deles 13 5
D o i n s t r u m e n t o de a g r a v o , *dia d e a p a r e c e r , cartas d e
i n q u i r i ç ã o t e s t e m u n h á v e i s , c o m o traslados dos a u t o s , e
as mais q u e as levarem e h o u v e r e m de ser seladas, leva-
r ã o as p r i m e i r a s seis páginas a 225 réis p o r c a d a l a u d a e
as mais a rasa, e t e n d o o p a p e l mais q u e as seis, coisa d e
consideração, irá ao "contador.
D e u m t e r m o de c o n d e n a ç ã o de m a n d a d o d e preceito 233
D a n d o - s e e m p r o v a a l g u m feito findo p o r apenso, se a
respeito dele se p e d i r vista levará o escrivão dele a o t o d o , 466
D e b u s c a d e feitos depois d e deferidos ou r e t a r d a d o s ,
levará e m q u a l q u e r t e m p o 750
D e feitio d e c a r t a d e editos, de c a d a u m a 750
De. feitio de carta de e x c o m u n h ã o ou "participantes ,750
D e feitio d e q u a l q u e r p r o v i s ã o , m a n d a d o d e comissão,
[ fl. 416v. ] / / d e absolvição, d e censuras ou "monitório e certidão
de "banhos e m forma •. 750
"Meirinho
D e u m a prisão i ....900
De cada penhora 900
D e u m seqüestro ; 900
D e c a m i n h o , p o r dia ... , 3.000
D e c a d a citação , ....750
D e c a d a l e v a d a n a vila 750
"Escrivão
D e c a m i n h o , p o r dia 3.000
D e a u t o d e seqüestro, d e prisão, e m b a r g o ou outras quais-
quer que lhe tocarem 466
• 107 <
• 108 <
soma , 2:587Ü000
760
soma = 677U400
D e provisões p a r a "coadjutores das "igrejas p a r o q u i a i s ,
q u e , e x c e t u a n d o p o u c a s q u e os n ã o têm, serão 38; c a d a
c h a n c e l a r i a 7.500, c a d a selo 9 3 Vá, i m p o r t a c a d a provi-
são 7.593 Vá
soma 288Ü550
D e provisões p a r a capelães das " i r m a n d a d e s sitas e m igre-
jas paroquiais e capelas, que farão o n ú m e r o de 400;
c a d a c h a n c e l a r i a 1.600, c a d a selo 9 3 Vá, i m p o r t a c a d a
p r o v i s ã o 1.693 Vá
soma 677Ü400
D e provisões p a r a "sacristães de igrejas p a r o q u i a i s e m u i -
tas capelas, q u e farão o n ú m e r o de 100; c a d a chancela-
ria 1.600, c a d a selo 9 3 Vá, i m p o r t a c a d a provisão 1.693
Vá
soma 169Ü350
D e p r o v i s õ e s p a r a "fabriqueiros das igrejas p a r o q u i a i s ,
q u e são 4 8 ; c a d a chancelaria 1.600, c a d a selo 9 3 Vá, im-
p o r t a c a d a provisão 1.693 Vá
soma 81U288
D e provisões p a r a "vigários d a v a r a , q u e são 6; c a d a c h a n -
c e l a r i a 1.600, c a d a selo 9 3 Vá, i m p o r t a c a d a p r o v i s ã o
1.693 Vá
soma , 10Ü161
4:491Ü149
[ fl. 418v. ] D e provisões p a r a "escrivães dos juízos eclesiásticos, q u e
são 7 e c o m o d a "vigararia geral; c a d a chancelaria 1.600,
c a d a selo 9 3 Vá, i m p o r t a c a d a provisão 1.693 Vá
soma „ 11Ü854
D e provisões p a r a "meirinho dos mesmos juízos, q u e
t a m b é m são sete; c a d a c h a n c e l a r i a 1.600, c a d a selo 9 3
Vá, i m p o r t a c a d a provisão 1.693 Vá
soma . : 1.1Ü854
D e provisões p a r a escrivães das varas de m e i r i n h o q u e
são 7; c a d a chancelaria 1.600, c a d a selo 9 3 Vá, i m p o r t a
c a d a p r o v i s ã o 1.693 Vá
soma 11Ü854
761
v i s ã o 1.693 Vá.
soma 677Ü400
D e provisões p a r a se expor o S e n h o r n a s festas, q u e p o r
se fazerem e m c a d a igreja p a r o q u i a l ao m e n o s três e m c a d a
a n o e e m c a d a c a p e l a a o m e n o s u m a , serão 5 4 4 ; c a d a
chancelaria 2.400, c a d a selo 3 7 5 , i m p o r t a c a d a provisão
2.775
soma , 1:509Ü600
D e provisões p a r a c a s a m e n t o s , q u e ao m e n o s h a v e r á mil
c a d a a n o e m t o d o o b i s p a d o , e x c e t u a n d o os dos escra-
vos, q u e n a d a p a g a m ; a s a b e r 6 0 0 , q u e se c e l e b r a r a m
nas matrizes cuja chancelaria é 1.200, selo 3 7 5 , i m p o r t a
cada provisão 1.575
soma 945Ü0O0
D e c a s a m e n t o s q u e se c e l e b r a r a m n a s capelas, e serão
4 0 0 ; c a d a c h a n c e l a r i a 2.400, c a d a selo 375, i m p o r t a c a d a
provisão 2.775
soma 1:110Ü000
D e m a n d a d o s de comissão p a r a se t i r a r e m d e p o i m e n t o s
nos c a s a m e n t o s , q u e q u a n d o n a d a e m todo o bispado se-
r ã o c e m ; c a d a chancelaria 1.200, c a d a selo 375, i m p o r t a
c a d a m a n d a d o 1.575
soma 157Ü500
D e cartas d e e x c o m u n h ã o , q u e e m t o d o o b i s p a d o serão
c e m e m c a d a a n o ; c a d a chancelaria 2.400, c a d a selo 375,
i m p o r t a c a d a c a r t a 2.775
soma 277Ü500
• 4:727Ü803
762
" P e n s õ e s p e l o s "ofícios e m c a d a a n o
R e n d i m e n t o s d e c a d a "visita
S o m a m os r e n d i m e n t o s d a visita, exceto as p r o c u r a ç õ e s
pelos oratórios p r i v a d o s , a q u e se n ã o fez c o n t a 8:64815000
sendo a dita passagem p o r cima do que está, n ã o t e m este obrigação d e fazer mais
segurança do q u e a q u e lhe é preciso p a r a si, E sendo preciso a a l g u m destes furo
p a r a a respiração d e trabalhar, se lhes permite. A i n d a q u e o outro n ã o consinta, lho
deve conservar p o r força, p o r ser preciso e de necessidade p a r a a luz d a c a n d e i a e
respiração d a gente, q u e p o r falta desta t e m m o r r i d o alguns abafados.
G o m o t a m b é m n a c o n t i n u a ç ã o destas m i n a s sucede i r e m t r a b a l h a n d o à p o r -
fia u m a e o u t r a a o p a r e suceder ajuntarem-se u m a e o u t r a c a b e c e i r a , s e m adian-
t a m e n t o a l g u m de u m a e o u t r a p a r t e . Nestes t e r m o s , se lhes m a n d a a u m a e o u t r a
dividir p a r a o lado c o n t r á r i o , d e i x a n d o u m e o u t r o terra e n t r e m e i o q u e b e m baste
p a r a a c o n s e r v a ç ã o d e u m e o u t r o serviço, c o m p r e t e x t o d e n ã o c o n s e n t i r e m
*faiscadores n e m serviço a l g u m p a r a a p a r t e de e n t r e a m b o s , a i n d a q u e t e n h a
f o r m a ç ã o c o m o u r o . Q u e nos tais t e r m o s se lhes m a n d a q u e , a c a b a n d o u m e o u t r o
a c o n t i n u a ç ã o dos tais serviços, e x t r a i a m o o u r o q u e n a dita divisão lhes ficou
i g u a l m e n t e , p o r se a c h a r ter neste d o m í n i o igual.
T a m b é m sucede i r e m estes "serviços d e m i n a s o u " c o n t r a m i n a s p o r b a i x o d a
t e r r a l a v r a r p o r b a i x o dos d e s b a r r a n c o s e t e r r a s c o r r i d a s p e r t e n c e n t e s às "catas
/ / ditas de t a l h o a b e r t o . Nestes t e r m o s , n ã o p o d e m os das catas i m p e d i r o "servi- [ fl. 422v. ]
ço d a s m i n a s n e m t a m b é m as minas i m p e d i r a c o n t i n u a ç ã o das catas: q u e c h e g a n -
do o " d e s m o n t a r das catas às m i n a s fiquem as m i n a s n a tal p a r t e s e m vigor e as
catas c o n t i n u a n d o o seu r u m o .
T a m b é m nestes serviços d e minas sucede d a r e m c o m á g u a nas veias d a terra
e alguns e m fundões q u e lhes i m p e d e m o t r a b a l h a r , d e q u e se v a l e m p r o c u r a r
c a m i n h o pelo t o m de outras alavancas de outras m i n a s inferiores p a r a a l a n ç a r , d e
q u e t e m havido várias c o n t e n d a s , e m cujos t e r m o s se lhes m a n d a q u e s e n d o e m
p a r t e q u e n ã o faça prejuízo a r e c e b a m , e m f o r m a q u e c o r r a s e m p r e p o r u m teor,
n ã o t r a z e n d o areias n e m o u t r a q u a l i d a d e d e terras q u e cause prejuízo, p a r a o q u e
se lhes m a n d a q u e p o n h a m u m a t á b u a ç õ m u m furo, p a r a esta vir p o r este regis-
tro, p a r a evitar o d a n o q u e causa d e o u t r a sorte, q u e c o m u m e n t e se lança esta p a r a
o esgoto c o m "bateias. E sendo esta e m p a r t e q u e cause g r a n d e d a n o , n ã o a deve
lançar, a i n d a q u e n ã o t e n h a o u t r o recurso, q u e p a r e c e n ã o p o d e h a v e r conveniên-
cia p r ó p r i a c o m prejuízo alheio, o q u e é pelo c o n t r á r i o , q u e i n d o o d o serviço
inferior c o m a l g u m serviço furar nos tais fundões do serviço superior e m p a r t e q u e
[a] á g u a c o r r a n a t u r a l m e n t e p a r a este a d e v e receber, a i n d a q u e l h e cause a l g u m
d a n o p o r esta o ir p r o c u r a r .
T a m b é m t e m havido c o n t e n d a s a respeito d e algumas m i n a s q u e t ê m a c h a d o
á g u a nativa e m a l g u m a c o n t r a m i n a . E c o m o n ã o a c h a m o u r o , e n c a n a m a á g u a
c o m p e d r a s , p a r a q u e esta, a i n d a q u e se a b a t a a dita m i n a , lhes n ã o i m p e ç a o sair a
á g u a p a r a fora. E indo o u t r a m i n a atravessar o dito canal, lhe e n c a m i n h a m p e l a
sua m i n a a dita água, e faltando esta n a p r i m e i r a e a p a r e c e n d o e m a o u t r a m i n a d e
novo se c o n t e n d e p a r a a t o r n a r ao seu antigo curso. E, fazendo-se e x a m e n a dita
m i n a , a c h a n d o - s e q u e atravessou o canal q u e o o u t r o tinha feito, a i n d a q u e a m i n a
esteja a b a t i d a - q u e pela m e s m a r a z ã o t i n h a fabricado o c a n a l —, se l h e m a n d a
e n c a m i n h a r p a r a o primeiro possuidor. E q u a n d o este a t e n h a tirado e m terra e m
768
cos, a i n d a q u e as n ã o c o n t i n u a s s e m a n o s . E nesta f o r m a se o b s e r v o u n o m o r r o
dito de S a n t a n a , nos quais até agora se observa. N o q u e toca aos " t a n q u e s , regos
e vertentes, é o m e s m o q u e se observa neste m o r r o d e Vila R i c a .
N o q u e respeita aos "serviços de r o d a s nos veios d e á g u a , são terras tiradas
p o r títulos d e " d a t a s , t a n t o e m rios c o m o e m c ó r r e g o s e "tabuleiros, n o s l a d o s
destes. Q u e s o m e n t e desta forma se a d q u i r e d o m í n i o e posse destas, o q u e m e l h o r
consta do "regimento.
A g u a s nativas: p a r a se a d q u i r i r d o m í n i o nelas e tirá-las d o seu n a s c i m e n t o
p a r a o u t r a p a r t e , h á d e h a v e r "provisão d e q u e m t e m o dito p o d e r e fazer serviços
p a r a as tirar e levá-las p a r a o n d e trabalhe c o m elas. Aliás, passando-se t e m p o s q u e
o n ã o façam, as p o d e r á o u t r o tirar c o m títulos mais m o d e r n o s , q u e se lhes d á mais
vigor pelos serviços q u e nelas faz — q u e p a r e c e n ã o é r a z ã o q u e esteja á g u a i m p e -
dida s e m utilidade, h a v e n d o q u e m dela c a r e ç a . E se c o m a c o n t i n u a ç ã o destes
r e g o s lhes for preciso p a s s a r p o r sítios e r o ç a s de o u t r o s d o n o s , os n ã o p o d e r ã o
i m p e d i r a d i t a c o n t i n u a ç ã o d o rego, p a g a n d o - l h e s , p o r é m , os prejuízos e danos
q u e lhes fizer. E i n d o este= rego p o r c i m a d e o u t r o q u e esteja m a i s antigo, será
o b r i g a d o a t o d o o d a n o q u e c o m este lhe fizer p o r causa d e a l g u m a r r o m b a m e n t o
ou s a n g r a d o u r o s de á g u a , ressalvando-lhe t o d o o d a n o e conservá-lo n a sua anti-
ga posse. E c a r e c e n d o o rego q u e se a c h a p o r baixo das vertentes d a c h u v a s , lhas
deve ressalvar c o m contrarregos p o r c i m a e passar as águas e m bicas p o r c i m a d o
r e g o n a s p a r t e s m a i s c o n v e n i e n t e s q u e h o u v e r . E se este rego " a n o v a d o lhe for
preciso b o t a r á g u a pela p a r t e debaixo do rego antigo p a r a l a v r a r a l g u m a s terras
q u e t e n h a , a passará a s u a custa, sem prejudicar a o q u e está. E n o caso q u e este
r e g o a n o v a d o v e n h a mais baixo do q u e o o u t r o q u e esteja n a tal p a r a g e m , p a s s a r á
c o m a o b r i g a ç ã o d e t o d a a servidão precisa a o d e c i m a , ressarcindo-lhe t o d o o
prejuízo q u e lhe c a u s a r , q u e p a r e c e n ã o p o d e h a v e r utilidade p r ó p r i a c o m p r e -
j u í z o alheio.
• 110 •«
Cana-de-açúcar [fl.424 ]
Q
u a n t o [ao] açúcar, h á o u t e m havido três d a A m é r i c a , c o m o é: do R i o de
J a n e i r o ; Bahia; P e r n a m b u c o e P a r a í b a d o N o r t e . E d a q u i são os m e l h o r e s
os [de] P e r n a m b u c o , p o r mais claros e secos. O a ç ú c a r p r o c e d e de u m a s
^ c a n a s q u e v u l g a r m e n t e lhes c h a m a m d e a ç ú c a r . Estas c a n a s são b e m
própriadas ás nossas canas de Portugal, c o m q u e se c o m p õ e m as parreiras e "latadas,
n a cor e no feitio, q u e é o mesmo; a folha é muito mais áspera — e tão áspera q u e corta
- , é mais estreita, não cresce tanto c o m o as nossas, mas no geral é de seis, sete "pal-
mos, m a s j á se tem visto d e doze, que se a p a n h a m tivesse a sua satisfação. Crescem
b e m , q u e a melhor terra h á de ser "varga e alguma coisa úmida. T ê m estas canas os
seus gomos muito mais perto ou juntos uns dos outros, q u e a maior distância q u e t ê m
algumas é meio p a l m o , q u e o c o m u m é muito menos. São as nossas canas vãs ou ocas
p o r dentro; estas são maciças e cheias de u m â m a g o claro e muito sumarento, e desta
u m i d a d e , que n ã o é pouca, se faz todo o fruto que se tira desta planta d a cana.
P l a n t a - s e a c a n a e m t o d o o t e m p o , e e m t o d o o t e m p o se c o s t u m a nestas
M i n a s fabricá-la. E o m a i o r fruto q u e nestas M i n a s se tira da c a n a é t o d o o a n o p o r
771
• 111 <
Azeite de m a m o n a [ fl. 4 2 7 ]
. F a r i n h a d e m a n d i o c a a q u e se c h a m a d e p a u
L a n ç a - s e o m i l h o nos "pilões a q u e b r a r , e q u e b r a d o , q u e é o m e s m o q u e
tirar-lhe o cascabulho d e fora, limpo dele, se deita de m o l h o p o r cinco ou seis dias
e m á g u a fria, a o n d e a z e d a a l g u m a coisa. Passados estes dias, se tira e deita nos
pilões s e g u n d a vez, o n d e se soca, m ó i e desfaz, e dali se tira e l a n ç a e m uns fornos
d e c o b r e o u tachos, o n d e se torra e fica servindo d e a l i m e n t o c o m o d e p ã o e d e
mais uso nestas M i n a s q u e d a m a n d i o c a .
T a m b é m h á " m o i n h o s q u e m o e m m i l h o c o m o os d e P o r t u g a l , cuja farinha
serve p a r a m a n t i m e n t o dos escravos, deitando-a estes e m p a n e l a s ou tachos, o n d e
ferve a l g u m a coisa c o m água, e ficando c o m o massa dura, a q u e c h a m a m angu,
c o m e m este assim q u e n t e e frio, e m i s t u r a d o t a m b é m c o m algumas ervas ou feijão
aos "almoços e "ceias. E aos "jantares, c o m u m e n t e , é o milho l i m p o d a casca e
777
• 112 «
Farinha de mandioca ou de pau 1
[fl.428 ]
E
n e s t a A m é r i c a , ou Brasil, o p ã o c o m u m e u s u a l s u s t e n t o a f a r i n h a d e
m a n d i o c a , q u e v u l g a r m e n t e n o nosso Portugal lhe c h a m a m o s à dita fari-
n h a q u e vai de cá farinha de p á u .
T a m b é m se usa d e "farinha d e m i l h o , m a s este uso é só nas M i n a s e e m São
P a u l o , e n ã o e m t o d a a p a r t e (como é geral a de m a n d i o c a ) . P a r a se fazer a farinha
de m i l h o se t o m a ao milho e m grão o u se b o t a e m u m "pilão, q u e é u m b u r a c o
q u e se faz e m u m p a u q u e leva u m a " q u a r t a do dito m i l h o ou mais, e ali se pisa ou
soca, c o m o cá se c h a m a c o m u m a tranca, q u e t e m seis ou sete p a l m o s d e c o m p r i -
?
u m a c h a m a d a m a n d i o c a b r a v a ; esta m a n d i o c a m a t a a q u a l q u e r p e s s o a q u e a co-
m e r d a sorte q u e se cria e sai d a terra, e pelo contrário aos animais q u e a c o m e m
da m e s m a sorte lhes n ã o faz m a l , c o m o cavalos e p o r c o s , e a estes m e s m o s animais
m a t a p a r a logo se acaso b e b e m u m a á g u a q u e d a dita m a n d i o c a sai q u a n d o se
e s p r e m e , c o m o eu vi j á m o r r e r e m . As outras duas castas de m a n d i o c a lhes cha-
m a m a i p i m , u m v e r m e l h o , o u t r o b r a n c o . O v e r m e l h o , a i n d a se se c o m e r c o m o
fica dito d a b r a v a a i n d a faz m a l . A b r a n c a é m u i t o doce, n ã o faz m a l . Estas d u a s
c h a m a d a s aipim se lhes c h a m a m m a n d i o c a s m a n s a s . Q u a l q u e r destas m a n d i o c a s
se usa d e c o m e r assadas ou t a m b é m c o z i d a s n a p a n e l a d a v a c a , como muitos
u s a m , e n ã o t ê m m a u gosto, e sem receio se p o d e c o m e r desta sorte a q u a n t i d a d e
q u e q u i s e r e m . T o d a s estas três m a n d i o c a s , a r r a n c a d a s e b o t a n d o e m * tijuco q u e
as c u b r a , d e n t r o e m oito dias estão m o l e s , e depois / / d e assim estarem se c o m e m [ fl. 428v. ]
sem escrúpulo n e n h u m d e fazerem mal. E desta m a n d i o c a , assim depois d e lava-
d a e l i m p a d a c a s c a e seca ao sol, -se p i s a e p e n e i r a , se fazem u n s m i n g a u s o u
caldos b e m t e m p e r a d o s ; são muito frescos e peitorais e dão-se a gentes doentes e
d e p o u c a sustância. D a q u i é q u e t r a z e m aqueles n o m e s m i n g a u s d e "carimã.
E a m a n d i o c a u m a tal p l a n t a q u e c o m t o d o o t e m p o se dá; a i n d a n a m a i o r
seca^ m e l h o r fruto. N a s terras altas se d á b e m , e q u a n t o m e l h o r t e r r a m e l h o r fruto.
N a s *vargas se d á m u i t o b e m se ela é seca, q u e se são ú m i d a s a p o d r e c e . E preciso
a esta p l a n t a estar s e m p r e d e u m ã n o m u i t o p a r a c i m a n a terra p a r a d a r b o m fruto.
N ã o h á d ú v i d a q u e q u a n d o as terras são novas e areentas q u e mais depressa se
cria, m a s n u n c a m e n o s do a n o . E a m a n d i o c a u m p a u m u i t o t e n r o e c o m g r a n d e
â m a g o p o r d e n t r o , c o m u m a casca tênue d a cor de u m p a r d o escuro (não o a i p i m
b r a n c o , q u e esse c o m efeito o é), d a grossura de q u a l q u e r " b o r d ã o o u p o u c o mais.
E b e m v e r d a d e q u e a b r a v a a c h a n d o t e r r a a sua satisfação engrossa, n ã o t o d a ,
mais do q u e q u a l q u e r pulso d e h o m e m t r a b a l h a d o r , o q u e n ã o sucede n o a i p i m ,
q u e s e m p r e é mais fino, p o r b o a q u e a terra seja. T e m estes p a u s os seus "olhos
p p r o n d e b r o t a m o u a r r e b e n t a m j u n t o s e m u i t o à m o s t r a , p o r s e n d o o p a u liso, e
só q u a n d o cresce m u i t o n a g r o s s u r a se l h e v ê e m u m a s veias; se v ê e m os olhos
m u i t o b e m , e p o u c o mais ou m e n o s t ê m d e distância u m ao o u t r o d e dois d e d o s .
N u n c a se faz árvore g r a n d e , se b e m q u e h á p a u d e dez "palmos, q u e o c o m u m são
d e cinco até oito, m a s n u n c a é direito p a r a cima, sim p a r a as b a n d a s e descompos-
tos, e n a t u r a l m e n t e nasce d a t e r r a até altura de três ou q u a t r o p a l m o s , e nesta faz
três galhos, e assim v ã o crescendo até certa altura, a t é q u e c a d a galho forma outros
três, e assim vai a n d a n d o , e se a d e i x a m estar n a terra m u i t o mais t e m p o , p o r q u e
n u n c a se p e r d e sendo a terra seca e livre de p o r c o s do m a t o e a i n d a dos d e casa,
q u e c o m e m m u i t o nela, v ã o crescendo os ditos galhos p a r a as b a n d a s , n u n c a p a r a
cima, sim m u i t o descompostos. Planta-se esta s e m e n t e ou p l a n t a , o p a u p a r a m e -
lhor dizer, d e j u n h o até agosto, e c o m u m e n t e h á d e ser t e m p o seco, e o m e l h o r
p l a n t a r h á d e ser antes d e este p a u a r r e b e n t a r , q u e p a r a ele r e b e n t a r ou b r o t a r n ã o
carece d e estar m e t i d o n a terra, q u e sendo v e r d e , e m c h e g a n d o t e m p o , a r r e b e n t a .
H á de ser esta p l a n t a d a e m dias de sol, p o r q u e h á u m dizer n o Brasil d a m a n d i o c a
780
• 113 <
[Notícias das taquaras, dos cipós e das muitas comidas
que se fazem de milho nas Minas]
N o t í c i a s d a s t a q u a r a s o u c a n a s m o n t a n h e s a s q u e se a c h a m p e l o s s e r t õ e s [ fl. 4 3 0 ]
d e s t a s M i n a s e d e a l g u n s c i p ó s e seus p r é s t i m o s
H á o t a q u a r a ç u , assim c h a m a d o n o v o c á b u l o d o *gentio d o m é s t i c o , q u e
q u e r dizer cana grossa. O seu préstimo p a r a o gentio e cursadores do sertão é servir-
lhes m u i t a s vezes de p a n e l a p a r a cozinhar carne ou quaisquer legumes c o m m u i t a
b r e v i d a d e e c o m particular gosto, p o r ser g r a n d e o seu vão: c o r t a n d o c a n u d o p o r
c a n u d o e cheio d e q u a l q u e r *vianda, t a p a d o , o l a n ç a m e m u m a fogueira, v i r a n d o
d e u m a p a r t e p a r a o u t r a , e o q u e nele se m e t e se coze c o m m u i t a brevidade; t e m
mais p r é s t i m o de se fazer dela os "tipitis, q u e são c o m o cestinhos e m q u e se m e t e
a m a s s a p a r a ir à "prensa; t a m b é m dela se fazem as peneiras p o r q u e se c o a m as
m e s m a s farinhas depois d e espremidas n a p r e n s a e passadas a o "pilão; t a m b é m
t ê m p r é s t i m o de servirem p a r a canas de rede, c o m o as da í n d i a p a r a os "palanquins;
t a m b é m servem p a r a escadas pelo seu g r a n d e c o m p r i m e n t o e leveza.
H á outras castas de t a q u a r a s , c o m o é o t a q u a r a t ã , e estas são mais delgadas;
servem mais p a r a esteiras e balaios e vasos p a r a muitas serventias.
784
H á o u t r a c h a m a d a t a q u a r a p o c a , t a m b é m grossa e c o m p r i d a m a s d e p o u c a
sustância, q u e só serve p a r a esteiras e "jacas, q u e servem d e c a r r e g a r m a t é r i a s
grossas c o m o cestos.
H á t a m b é m o t a q u a q u i c é , q u e q u e r dizer taquara de faca, p o r q u e , r a c h a d a s ,
Ficam c o m g u m e c o m o faca, d e sorte q u e d ã o golpes p e n e t r a n t e s , e p o r esse res-
p e i t o o g e n t i o delas u s a m , e a p a r a d a s c o m faca e l e v e m e n t e t o s t a d a s a o fogo
fazem as p o n t a s das suas flechas c o m q u e v i o l e n t a m e n t e trespassam, sendo seus
arcos de p a u s fortíssimos, q u e desse i n s t r u m e n t o se v a l e m p a r a m a t a r e m os mais
ferozes animais. P a r a hastes destas p o n t a s , serve o t a q u a r a t ã , p o r serem mais del-
g a d a s , ou o u t r a s c a n a s a q u e c h a m a m cabajuvas; e n g a s t a d a s nas tais p o n t a s e
e m p e n a d a s c o m p e n a s d e ave grandes, c o m o jacus e araras, ficam p r e p a r a d a s , q u e
n o i d i o m a gentílico q u e r dizer uibá, e q u a n d o q u e r e m dizer a m u i t a flecha d i z e m
quirauibá.
H á mais a t a q u a r a c h a m a d a p i n i m a , q u e q u e r dizer taquara pintada; e tive-
r a m a rica serventia p a r a " b o r r a c h a s d e g u a r d a r o u r o , a q u e c h a m a m "picuá, e
m u i t o s as o r n a v a m c o m bocais de p r a t a e delas u s a v a m c o m o bolsas.
H á mais a t a q u a r a q u e c h a m a m d e laçada, q u e é d e q u a l i d a d e m i ú d a e dela
se fazem os laços p a r a colher os papagaios, maitacas, m a r a c a n ã s , aruaís, p e r i q u i -
tos, j a n d a i a s , q u e n o t e m p o dos milhos descem às roças, e os caçadores, ocultos,
pelos pescoços os v ã o l a ç a n d o sobre o m e s m o milho ou árvore.
N o t í c i a d e m u i t a s c o m i d a s q u e se f a z e m d e m i l h o
D o m e s m o m i l h o se fazem as "viandas c h a m a d a s p i p o c a s , q u e é p o n d o - s e
[ fl. 43 lv. ] a l g u m a s espigas a o fumo e m e t i d o s os g r ã o s e m u m c e s t i n h o / / c o m a l g u m a s
b r a s a s e a b a n a n d o - s e c o m o "turíbulo r e b e n t a o m i l h o , e assim ficam as pipocas
c h a m a d a s escolhido-das-brasas, d e q u e u s a v a m m u i t o os paulistas.
M a i s do milho se fazem, ou de sua farinha, uns bolos a q u e c h a m a m [beijus?],
q u e é a m a s s a n d o - s e c o m " m e l a d o e m p o r ç ã o de farinha q u a n d o i n c o r p o r e nas
m ã o s se fazem r e d o n d o s e e m b r u l h a d o s e m folhas, e cozidos e m tachos até e n d u -
recer ficam os [beijus?] c h a m a d o s .
D o m e s m o milho se faz a b e b i d a m e l h o r p a r a os pretos d a Gosta d a M i n a , q u e
é o m i l h o m o l h a d o [e botado?] e m u m a s folhas d e b a n a n e i r a s ; depois que tiver nasci-
do o grelho seca-se ao sol, e depois de seco vai a o "pilão e peneira-se, e o "fubá
q u e sai bota-se e m u m t a c h o c o m água a ferver, e depois d e cozido coa-se e b o t a m
e m u m "barril até t o m a r seu a z e d u m e p a r a m e l h o r g u s t a r e m ; este v i n h o n a sua
l í n g u a se c h a m a aluá.
O u t r o cipó, c h a m a d o j a c a t u p é , q u e n a raiz cria u m g r a n d e n a b o e p a r a se
c o m e r n ã o necessita de fogo; p o r é m , d á u m a s e m e n t e de, três grãos e m u m a casca
c o m o d e fava p e q u e n a e tão venenosa c o m o o n a b o d o m e s m o cipó; é saudoso, d e tal
sorte q u e a p e n a s se c o m e de r e p e n t e se m o r r e ; é semente p r e t a do t a m a n h o d e u m
"tremoço.
• 114 <
Erva c h a m a d a do b i c h o ; p a r a "corruções é r e m é d i o a p r o v a d o .
E r v a c h a m a d a p a r i p a r o b a , t e m a folha g r a n d e e c o s t u m a dar-se p o r t e r r a
fresca; é b o a p a r a desfazer o s a n g u e pisado.
[ íl. 432v ]
; E r v a c h a m a d a fedegoso, quase t e m a m e s m a p a r e c e n ç a e a m e s m a virtude.
E r v a c h a m a d a m a s t r u ç o , c o s t u m a a dar-se p o r terras b o a s .
E r v a c h a m a d a vassoura, q u e p o r outro n o m e se c h a m a o a i r u m e .
E r v a c h a m a d a aninga, é b o a p a r a " a l m o r r e i m a s .
E r v a c h a m a d a purica.
E r v a c h a m a d a betônica brava.
Erva c h a m a d a caputera.
E r v a - m o u r a , q u e c o s t u m a dar-se p o r t e r r a boa.
789
Erva c h a m a d a serralha.
E r v a c h a m a d a p i n o , t a m b é m se d á e m t e r r a fresca.
E r v a c h a m a d a guibá.
Erva c h a m a d a maría-conga.
E r v a c h a m a d a ovário-de -peixe.
Erva c h a m a d a barbasco.
Erva c h a m a d a catião.
L e m b r a n ç a d o s c i p ó s m a i s u s u a i s d e q u e se l h e s s a b e o n o m e e d e l e s se u s a ,
h a v e n d o o u t r o s m u i t o s d e q u e se n ã o s a b e o n o m e
C i p ó c h a m a d o t i m b o p e b a , é o m e l h o r q u e há.
C i p ó c h a m a d o ovaimi.
Cipó c h a m a d o camira.
Cipó c h a m a d o guario.
Cipó c h a m a d o manteiga.
Cipó c h a m a d o mecuna.
C i p o c h a m a d o são-joão.
C i p ó c h a m a d o de b u t u a .
Cipó c h a m a d o de espinhos.
[ fl, 433v. ] A r v o r e s m a i s u s u a i s e p a u s d e q u e m a i s se u s a d e l e s
P a u c h a m a d o oacá.
P a u c h a m a d o c a n j a r a n a , t a m b é m b o m p a u d e lei.
P a u c h a m a d o a l m e c e g a , e s t a d á [incompleto].
P a u c h a m a d o g r a ú n a , q u e é o m e l h o r q u e h á , p o r ser durável t a n t o p a r a a
terra c o m o p a r a o ar.
P a u c h a m a d o catinga.
P a u c h a m a d o p e r o b a , t a m b é m dos principais p a u s do m a t o .
P a u c h a m a d o cabeçu, e p o r o u t r o n o m e pau-de-colher.
P a u chamado sapopema.
P a u c h a m a d o i n v a v o b a , q u e n e m é v e r d a d e i r a m e n t e p a u p o r ser oco p o r
d e n t r o e d e p e q u e n a grossura.
791
P a u c h a m a d o angico.
P a u c h a m a d o sucupira. [ fl. 4 3 4 ]
Pau c h a m a d o tupixava.
Pau c h a m a d o b r e j a ú b a , é b o m p a r a arcos de b o d o q u e s .
P a u c h a m a d o tapetingui.
P a u c h a m a d o g o i a b e i r a , q u e d á f r u t o q u e se c o m e ; é d o t a m a n h o d e
maçãs.
P a u c h a m a d o coirana.
P a u c h a m a d o cabetinga.
P a u c h a m a d o três-folhas, q u e por o u t r o n o m e se c h a m a a c u c h i p u t a g i a r á .
Pau c h a m a d o embiruçu.
P a u c h a m a d o vinhático, t a m b é m b o m p a u d e lei.
P a u c h a m a d o p a l m i t o , q u e é m u i c o m p r i d o e quase t o d o igual, e só e m c i m a
t e m n a t r a m a c o m o de p a l m a e d e n t r o dela o p a l m i t o , q u e se c o m e .
792
P a u c h a m a d o m a r i a - p r e t a , t a m b é m b o m p a u d e lei.
Pau c h a m a d o oacá.
P a u c h a m a d o de breu.
P a u c h a m a d o gameleira, q u e t a m b é m p o r o u t r o n o m e se c h a m a airova.
P a u c h a m a d o ribeirão.
P a u c h a m a d o capeba, q u e t a m b é m se c h a m a p a r i p a r o b ã .
Pau c h a m a d o suçuacanga.
P a u c h a m a d o guarova.
Pau c h a m a d o buripinheiro.
P a u c h a m a d o sassafras.
P a u c h a m a d o pitingueira.
P a u c h a m a d o upiúva.
P a u c h a m a d o seguraja.
P a u c h a m a d o ubatiga.
Pau c h a m a d o pau-guiné.
P a u c h a m a d o cipotão.
P a u c h a m a d o de vinagra.
P a u c h a m a d o creúva.
P a u c h a m a d o p a u - d e - ó l e o , q u e é de c o p a i b a .
P a u chamado cambará.
P a u c h a m a d o jutaigurabixira,
P a u c h a m a d o araübir.
• 115 <
335 réis
• 116 <
[Excerto do termo de uma visita pastoral à freguesia
de Nossa Senhora do Pilar do Pitangui]
E
[ fl. 4 3 7 ] ~J ^ m 10 d e m a i o d e 1 7 3 8 , e s t a n d o e u e m "visita n a "freguesia d e N o s s a
S e n h o r a d o Pilar d a vila d e P i t a n g u i , nesse t e m p o " b i s p a d o d o R i o d e
l J a n e i r o e h o j e d e M a r i a n a , achei u m m e n i n o , filho legítimo d e M i g u e l d e
F a r i a S o d r é e d e sua m u l h e r V e r ô n i c a Dias Leite, o q u a l t i n h a de idade seis anos
e 11 meses, tão c o r p u l e n t o q u e p a r e c i a ter casta de gigante, t ã o b e m disposto e d e
tal f o r m o s u r a q u e t e n d o l o u r o o cabelo, b a s t a n t e m e n t e o n d e a d o , t i n h a o c a r ã o
tão fino, alvo e r o s a d o q u e p o d i a competir c o m as d a m a s m a i s formosas d a C o r t e .
T o m e i - l h e as m e d i d a s e m várias partes do c o r p o , e são as seguintes: as forças e r a m
d e r a p a z de 12 a n o s , o e n t e n d i m e n t o n ã o excedia aos da sua v e r d a d e i r a i d a d e ,
p o r é m m o n t a v a só e m u m cavalo e g o v e r n a v a direto p a r a o n d e queria.
D u a s m e d i d a s deste risco era a grossura da c a r a t o m a d a pela b o c a p a r a o pescoço.
Duas, o pescoço. ^
U m a , o pulso.
Q u a t r o , d a b a r r i g a sobre o u m b i g o .
Q u a t r o , o cós d o calção.
O i t o , a altura.
M a r t i m de Sá
R o d r i g o de M i r a n d a H e n r i q u e s
Duarte Correia Vasqueanes
Salvador C o r r e i a d e S á e Benevides
Salvador d e Brito Pereira
D o m Luís d e A l m e i d a
T o m é Correia de Alvarenga
Pedro de Melo
D o m Pedro Mascarenhas
800
J o ã o d a Silva e Sousa
Matias d a C u n h a
Duarte Teixeira Chaves
D o m M a n u e l Lobo
J o ã o Furtado de Mendonça
D o m Francisco N a p i e r d e Lencastre
Luís C é s a r d e Meneses
Sebastião de C a s t r o e C a l d a s
A n t ô n i o Pais d e S a n d e
A r t u r d e Sá e M e n e s e s
D o m Á l v a r o da Silveira e A l b u q u e r q u e
D o m F e r n a n d o M a r t i n s M a s c a r e n h a s de Lencastre
Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho
Francisco de C a s t r o de M o r a i s
Francisco d a T á v o r a
A n t ô n i o d e Brito e M e n e s e s
Aires d e S a l d a n h a d e A l b u q u e r q u e
Luís V a i a M o n t e i r o
G o m e s Freire de A n d r a d e
O conde da C u n h a 1
• 119 <
[ fl. 439 ] Relação dos ouvidores-gerais do Rio de Janeiro, tirada a lista dos
livros das comarcas que há no Senado da Câmara, no ano de 1752
Lavradio
801
• 120 <
D o m L o u r e n ç o d e M e n d o n ç a , n o m e a d o n o t e m p o dos Filipes, q u e n ã o c h e g o u
a t o m a r posse p o r q u e seguiu o p a r t i d o d e Castela n a feliz a c l a m a ç ã o do s e n h o r rei
dom João, o quarto.
D o m frei M a n u e l Pereira, religioso d e São D o m i n g o s , n o m e a d o *bispo p o r
el-rei d o m P e d r o II, e s t a n d o e m R o m a , o n d e se sagrou, e c h e g a n d o a P o r t u g a l
r e n u n c i o u o bispado e ficou c o m o c a r á t e r de secretário de Estado.
D o m frei J o s é de Barros e A l a r c ã o , q u e era " p r o m o t o r d o S a n t o Oficio, to-
m o u posse e m o a n o d e 1682 e faleceu e m o d e 1696, v i n d o a ser o p r i m e i r o
bispo d o R i o d e J a n e i r o e terceiro n a o r d e m das n o m e a ç õ e s .
D o m Francisco d e São J e r ô n i m o , d a c o n g r e g a ç ã o d e S ã o J o ã o Evangelista,
t o m o u posse n o a n o d e 1702; faleceu a 7 d e m a r ç o de 1 7 2 L
804
• 121 <
D i s p o s i ç õ e s t e s t a m e n t á r i a s d e d o m frei A n t ô n i o d e
Guadalupe, feito e m 1740, ano de sua partida do Rio de Janeiro
para Lisboa, com protestação de sua religiosidade e fé n a salva-
ção, solicitação de, interferência aos santos de devoção, u m a pe-
quena biografia, forma de sepultamento, missas por intenção de
sua alma, instituição d e sua alma por herdeira, nomeação de
testamenteiros e distribuição de bens entre seus familiares e obras
pias, seguido de extrato de codicilo retificando as condições de
libertação de um escravo.
O interesse do ouvidor Caetano da Costa Matoso neste do-
cumento p o d e vincular-se a o processo contra d o m frei J o ã o da
Cruz, seu sucessor, por ter despendido 30.000 cruzados do espólio
de d o m frei Antônio de Guadalupe, falecido pouco depois de che-
gar a Lisboa, em discussão no Conselho Ultramarino no início da
década de 1750, que solicitou pareceres de autoridades e burocra-
tas na colônia.
Autoria, l o c a l e data: d o m frei Antônio de Guadalupe;
Rio de Janeiro; 9.4.1740.
A s p e c t o s d i s c u r s i v o s : O testamento, obedecendo à for-
m a usual da época, compreende invocação d a Santíssima Trin-
dade e u m a espécie de exórdio penitencial. Note-se a aplicação
de tópicas de autodesqualificação. (JPF)
C o m e n t á r i o p a l e o g r á f i c o : Escrita m o d e r n a , bastarda
do tipo italiano do século X V I I I , com pequenas laçadas cheias
nas hastes superiores. " D " de traço muito especial, tipo capital,
com voluta cheia de arremate; as outras maiúsculas trazem apex,
805
• 122 <
Catálogo das "igrejas paroquiais do bispado [fl. 445 ]
do Rio de Janeiro
C a p i t a n i a d o Espírito Santo
E vigário d a v a r a o p a d r e M a n u e l T a v a r e s d e A l b u q u e r q u e .
Capitania de C a b o Frio
Recôncavo
Parati
4 7 . A igreja d e S ã o V i c e n t e d a vila do m e s m o n o m e , c o l a d a , e n c o m e n d a d o o
p a d r e Francisco Alvares de Barros. 1
4 8 . A igreja d e N o s s a S e n h o r a da C o n c e i ç ã o d a vila d o m e s m o n o m e , c o l a d a ,
e n c o m e n d a d o o p a d r e D i o g o R o d r i g u e s de S ã o J o s é j
C o m a r c a de Paranaguá, d a m e s m a capitania
5 5 . A igreja d e N o s s a S e n h o r a do D e s t e r r o da ilha d e S a n t a C a t a r i n a , c o l a d a ,
vigário o p a d r e Francisco Pereira Pimentel.
8' Bom.
k- Incapaz por falta de moral.
L
Bom, excessivo e examinava também.
J- O "revisor da Companhia.
k- Tem um 'hospício da Companhia com seu 'superior.
5 6 . A igreja d e S a n t o A n t ô n i o da vila de Nossa S e n h o r a dos Anjos d a L a g u n a ,
a n u a l , vigário o p a d r e Francisco Vilela; está s e m "provisão, m a s c o m c a r t a
m i n h a p a r a c o n t i n u a r , e se lhe deve p a s s a r provisão.
5 7 . A igreja d a n o v a p o v o a ç ã o do R i o G r a n d e d e São P e d r o , "anual, vigário o
p a d r e J o s é Carlos d a Silva.
C o m a r c a d e ItUj d a c a p i t a n i a d e S ã o P a u l o
6 5 . A igreja d e N o s s a S e n h o r a d a C o n c e i ç ã o d a M e i a P o n t e , a n u a l , vigário o
p a d r e P e d r o M o n t e i r o de Araújo.
O m e s m o é vigário d a vara.P
C o m a r c a de São Paulo
C o m a r c a de Taubaté, da m e s m a capitania
C o m a r c a do R i o das M o r t e s
I 1
*Examinador e também na Companhia.
-
r
Bom e conveniente para tudo.
817
C a m i n h o N o v o que vai do R i o de J a n e i r o
C o m a r c a de Vila Rica , [ A- 4 4 8 ]
s
- Bom, 'letrado, muito prudente, bom moralista. 'Examinador ruim, despachador idem, omisso.
x
- Vigário da vara, pri une.
1 0 6 . A igreja d e S ã o B a r t o l o m e u , "colada, vigário, digo, " e n c o m e n d a d o o dou-
t o r P a u l o de M a s c a r e n h a s C o u t i n h o .
1 0 7 . A igreja de S a n t o A n t ô n i o do C a m p o , ou d a C a s a B r a n c a , " a n u a l , vigário o
p a d r e J o ã o B a r b o s a Maciel.
1 0 8 . A igreja d e Nossa S e n h o r a de N a z a r é d a C a c h o e i r a , colada, e n c o m e n d a d o
o p a d r e M a n u e l C a e t a n o Xavier.
1 0 9 . A igreja dê Nossa S e n h o r a d a B o a Viagem d a Itabira, a n u a l , vigário o padre
J o ã o de Sousa L o b a t o .
C o m a r c a d o R i b e i r ã o [do C a r m o ]
Comarca do Sabará
1 2 0 . A igreja de S a n t o A n t ô n i o do M a t o D e n t r o ou d o R i b e i r ã o d e S a n t a B á r b a -
r a , colada, vigário o p a d r e M a n u e l d e Sousa T a v a r e s .
1 2 9 . A igreja de S ã o M i g u e l d e M a t o D e n t r o , a n u a l , v i g á r i o o p a d r e A m a r o
Rodrigues Costa.
1 3 0 . A igreja de Nossa S e n h o r a d a B o a V i a g e m do C u r r a l del-Rei, a n u a l , vigário
o padre Alexandre Nunes Cardoso. x
C o m a r c a do Serro do Frio
E vigário d a v a r a o m e s m o p a d r e A n d r é M o r e i r a d e F a r i a . 2
* 123 <
governando
o t e m p o r a l e as a r m a s desta capitania
d o R i o d e J a n e i r o e contígua província das M i n a s G e -
rais o Excelentíssimo e Ilustríssimo "capitão-general G o m e s Freire d e A n d r a d e .
• 124 <
[fl. 450 ] D. O. M.
Benedicto X I V Pontífice M á x i m o S e d e n t e
D. D.Joannes V
Augustísimo Potentíssimo, ac Magnificentíssimo Portugaliae et
[Algarbirium R e x , et Brasiliae D o m
P r o effusissima, q u a R e g e s o m n e s antecellit, in Superos munificientia, et pietate
T u t e l a r e m h o c p r i m u m Divi Sebastiani T e m p l u m
I n edito a n t i q u a e Civitatis colle olim c o n s t r u c t u m
a Sereníssimo Portugaliae, Algarbirium, et Brasiliae R e g e Sebastiano
ob r e p o r t a t a m a b expulsis T a m m u y i s , et Francis victoriam
a n n o a r e p o r t a t a Salute M D L X V I I I ,
Et
in C a t h e d r a l i s Ecclesiae h o n o r e m , a u t h o r i t a t e I n n o c e n t i i X I
anno M D C L X X V postea evectum
a Magnifico Portugaliae R e g e , et Brasiliae Principe Petro II,
nunc
ob m a i o r e m Civitatis a m p l i t u d i n e m , et c o m m o d i o r e m p o p u l i utilitatem
C a p a c i o r i h a c a r e a magnificentius d e n u o condere.
Sumptuosius instaurare jussit ex voto,
A e t e r n u m u t i q u e eximiae suae in D e u m , D i v u m q u e S e b a s t i a n u m pietatis, et
Regalis
823
Magnifícentiae M o n u m e n t u m :
Primo
T a n t i operis Lapidi j a c i e n d o ,
X X die J a n u a r i i T u t e l a r í N o m i n i Sacra
anni M D C C X L L X ;
Praesentibus
Excelentissimo et Reverendissimo D . D . Frater A n t o n i o a b Exílio
[Fluminensis hujus Diocesis Episcopus,
et
Excellentissimo et Ilustríssimo D . Gomesio Freyre d e A n d r a d e
T o t i u s AustraJis O r a e Generali D u c e , ac S u p r e m o G u b e r n a t o r e ,
Illustrissimo D . D o c t o r e Francisco Cordovil de Siqueira e Melo
Ararii Regii Praefecto.
A o lançar-se a p r i m e i r a p e d r a
d e t ã o magnífica o b r a e n o v a sé aos 20 de j a n e i r o ,
dia c o n s a g r a d o ao ínclito m á r t i r são Sebastião, seu tutelar.
Assistiram
o Excelentíssimo e R e v e r e n d í s s i m o S e n h o r Digníssimo d o m frei A n t ô n i o
[do D e s t e r r o , "bispo desta
diocese do R i o de J a n e i r o ,
[ fl. 45 lv. ] o Excelentíssimo e Ilustríssimo S e n h o r G o m e s Freire de A n d r a d e , "capitão-
g e n e r a l e s u p r e m o " g o v e r n a d o r do R i o d e J a n e i r o ,
capitania d e São Paulo e M i n a s Gerais
e
o Ilustríssimo s e n h o r d o u t o r Francisco Cordovil d e Siqueira e M e l o ,
"provedor da Fazenda Real da capitania
do R i o d e J a n e i r o , a n o d e 1749.
• 125 «
10
11
12
13
E p o r q u e m u i t a s vezes h á d ú v i d a s e n t r e o o u v i d o r - g e r a l e, o p r o v e d o r d a
F a z e n d a , q u e r e n d o c a d a q u a l a m p l i a r s u a j u r i s d i ç ã o , j u l g a r e i s t o d a s as coisas,
[ fl. 4 5 3 ] assim de h o m e n s d o m a r c o m o dos mais q u e n ã o t o c a r e m à m i n h a / / F a z e n d a ,
p o r q u e dessas é juiz o m e s m o p r o v e d o r . 0
14
15
16
17
18 [ f l . 453v. ]
19
N a s p e n a s q u e puserdes tereis alçadas até, digo, alçada até vinte mil "réis e
livro e m q u e se c a r r e g u e m , e "tesoureiro destas despesas. E s t e d i n h e i r o se n ã o
g a s t a r á senão p o r m a n d a d o s vossos, e q u a n d o o " p r o v e d o r - m o r d a F a z e n d a for
t o m a r contas lhas d a r á o m e s m o tesoureiro p e l o livro e m a n d a d o s , e o q u e sobejar
se e n t r e g a r á a o "almoxarife, l a n ç a n d o - l h e e m receita.
20
21
R e m e t e r e i s a suspeição, p a r a a j u l g a r , a o * p r o v e d o r - m o r d o s defuntos d a
c o m a r c a , e s t a n d o no distrito, e n ã o estando ao dos defuntos e ausentes ou o u t r o
j u l g a d o r " l e t r a d o , e s t a n d o n e l e , e n ã o o h a v e n d o a o "juiz m a i s v e l h o d o a n o
atrás, e n ã o o h a v e n d o ou sendo suspeito seja o s e g u n d o , e assim p o r diante até o
"vereador mais m o ç o , a o q u a l se n ã o p o d e r á p ô r suspeição, e o tal j u i z ou verea-
d o r d e s p a c h a r á as suspeições t o m a n d o p o r a d j u n t o o " l e t r a d o m a i s a n t i g o d o
" a u d i t ó r i o , g u a r d a n d o e m t u d o a f o r m a d a O r d e n a ç ã o , livro 3 , título 21 das
9
suspeições p o s t a s .
22
23
S e n d o d o e n t e [o] o u v i d o r l e t r a d o p o s t o p o r m i m ou i m p e d i d o d e m a n e i -
r a q u e n ã o p o s s a servir, s e r v i r á o j u i z m a i s v e l h o d e o u v i d o r , o q u a l s e r v i r á
d u r a n t e seu i m p e d i m e n t o , e f a l e c e n d o o u s e n d o i m p e d i d o , d e s o r t e q u e h a j a
d e d u r a r m a i s d e seis m e s e s , p r o v e r á o " g o v e r n a d o r - g e r a l d o E s t a d o a p e s s o a
q u e suficiente p a r e c e r p a r a o dito c a r g o p e l o t e m p o q u e l h e p a r e c e r , e d u r a r á
seu p r o c e d i m e n t o e n q u a n t o d u r a r o dito i m p e d i m e n t o , e o g o v e r n a d o r ou
"capitão-mor d a r á logo ao governador-geral conta, p a r a que parecendo-lhe
m a n d a r p r o v e r o faça, e t a m b é m m e d a r á c o n t a p e l o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o ,
p a r a eu m a n d a r o q u e h o u v e r p o r m e u serviço, e o ouvidor q u e servir de
"serventia u s a r á d a m e s m a j u r i s d i ç ã o e alçada,, e s e n d o o i m p e d i m e n t o do
p r o p r i e t á r i o j u s t o l e v a r á ele o o r d e n a d o p o r i n t e i r o , e n ã o o s e n d o ou faltan-
d o e m t o d o l e v a r á s o m e n t e o " s e r v e n t u á r i o a m e t a d e d o o r d e n a d o , c o m o se
faz e m A n g o l a ,
831
24
• 126 «
\ - "bispo do Brasil
D o m Pedro Fernandes Sardinha, "clérigo do hábito de São Pedro, eleito p o r el-
rei d o m J o ã o , o terceiro, e chegou à B a h i a n o p r i m e i r o do a n o d e 1552, e sendo
c h a m a d o a Lisboa pelo m e s m o rei no a n o de 1556, aos 14 dias de viagem, e m 16 d e
j u n h o , d e u à costa n a enseada dos Franceses, o n d e todos foram m o r t o s e comidos
pelos "gentios caetés, que é entre P e r n a m b u c o e o rio de São Francisco. Erigiu três
"paróquias, q u e foram a sé, que criou e p a r a q u e trouxe "cónegos, Nossa S e n h o r a da
Vitória d e Vila Velha, extramuros, e a d e São J o r g e d a vila dos Ilhéus.
2° D o m P e d r o Leitão, t a m b é m clérigo, q u e c h e g o u à B a h i a e m 4 d e d e z e m b r o
d e 15 59, e foi o q u e o r d e n o u a o venerável p a d r e j o s é de Anchieta. M o r r e u n a m e s m a
c i d a d e , e foi sepultado n a capela da S e n h o r a do A m p a r o , n a sé, e n ã o c o n s t a d o
dia e a n o , e ao depois se t r a s l a d a r a m os seus ossos p a r a Portugal.
3Q
D o m A n t ô n i o Barreiros, t a m b é m clérigo, q u e chegou à B a h i a e m dia d e
A s c e n s ã o d o a n o d e 1576, e foi e n t e r r a d o n a * c a p e l a - m o r d a igreja v e l h a d o
colégio d a C o m p a n h i a [de J e s u s ] , sem certeza d o dia e a n o . F u n d o u - s e e m seu
t e m p o o c o n v e n t o d e São Francisco, q u e foi o segundo fundado n o Brasil, s e n d o
o p r i m e i r o o d e N o s s a S e n h o r a das Neves, e m O l i n d a .
O correto é 1599.
834
8 e
D o m Á l v a r o Soares d e C a s t r o , t a m b é m "clérigo e d o C o n s e l h o G e r a l d o
[ fl. 455v. ] S a n t o Oficio, / / faleceu e m Lisboa, n o m e a d o s o m e n t e , p o r q u e nesse t e m p o , q u e
era logo posterior à feliz a c l a m a ç ã o de el-rei d o m J o ã o , o q u a r t o , se n ã o confirma-
v a m e m R o m a os bispos n o m e a d o s p o r causa das guerras c o m Castela.
I 9
"arcebispo D o m G a s p a r B a r a t a de M e n d o n ç a , clérigo, q u e antes de o ser
foi "juiz d e fora d e T o m a r e o r d e n a d o foi " d e s e m b a r g a d o r d a "Relação eclesiás-
tica d e Lisboa. S e n d o juiz dos c a s a m e n t o s , v o t o u n a causa d e n u l i d a d e d e m a t r i -
m ô n i o d o s e n h o r rei d o m Afonso V I e a r a i n h a d o n a M a r i a Francisca Isabel de
Sabóia. Foi p r i o r de S a n t a Engrácia e depois g o v e r n a d o r do b i s p a d o d e M i r a n d a ,
e u l t i m a m e n t e " a b a d e de G e s t a ç ô , n o bispado do P o r t o , d o n d e foi n o m e a d o p a r a
arcebispo pelo senhor rei d o m Pedro, que suplicando áo p a p a Inocêncio X I
d e s m e m b r a s s e d e s t a diocese três b i s p a d o s , erigindo-os d e n o v o , c o m efeito lhe
erigiu o b i s p a d o d o M a r a n h ã o , P e r n a m b u c o e R i o d e J a n e i r o , ficando p a r a eles
m e t r ó p o l e a B a h i a (exceto o M a r a n h ã o , q u e ficou sujeito a Lisboa pela dificulda-
de d a n a v e g a ç ã o p a r a a Bahia, sendo mais fácil p a r a Lisboa) e p a r a o de Angola e
S ã o T o m é . T o m o u posse p o r p r o c u r a d o r deste a r c e b i s p a d o e m 3 d e j u n h o d e
1 6 7 7 , e p o r q u e os a c h a q u e s l h e i m p e d i r a m a j o r n a d a n o m e o u g o v e r n a d o r e s ,
p o r é m v e n d o - s e i m p o s s i b i l i t a d o r e n u n c i o u o a r c e b i s p a d o . F a l e c e u n a vila d o
S a r d o a l e m 11 d e d e z e m b r o d e 1686.
t r o a n o s ; "clérigo t a m b é m , e c h e g o u à B a h i a e m 5 d e d e z e m b r o d e 1692 e aí
esteve até 28 d e agosto d e 1700, e m q u e se e m b a r c o u p a r a o R e i n o a ser "bispo
d e M i r a n d a , e m q u e tinha sido n o m e a d o .
5 e
D o m Sebastião M o n t e i r o d a V i d e , clérigo, chegou à B a h i a e m 29 d e m a i o
d e 1702, sendo "vigário-geral e m Lisboa foi eleito "arcebispo e faleceu n o a n o d e
1722.
• 127 «
[Catálogos de capitanias e donatários e de governadores e vice-reis
do Estado do Brasil e outros apontamentos de leitura]
3 C e a r á , q u e n u n c a teve " d o n a t á r i o .
4 R i o G r a n d e , foi descoberto p o r Nicolau R e s e n d e , n ã o teve d o n a t á r i o .
5 P a r a í b a , foi d a d a a J o ã o d e Barros, o Historiador, p o r d o m J o ã o , o terceiro,
q u e a m a n d o u p o v o a r p o r seus filhos, e n ã o t e n d o efeito esta m e r c ê pelos g r a n d e s
c o n t r a t e m p o s q u e e x p e r i m e n t a r a m n o m a r , a m a n d o u p o v o a r o cardeal H e n r i q u e ,
à custa d a C o r o a , passados muitos anos, p o r F r u t u o s o Barbosa, s e m a m e r c ê d e
doação.
6 I t a m a r a c á , fez el-rei d o m J o ã o , o terceiro, m e r c ê dela a P e d r o L o p e s d e
S o u s a p a r a a c o n q u i s t a r e depois foi d a d a a d o m A n t ô n i o d e A t a í d e , p r i m e i r o
c o n d e d a C a s t a n h e i r a , d o n d e passou p o r sucessão à C a s a de Cascais.
7 P e r n a m b u c o , fez el-rei d o m J o ã o , o terceiro, m e r c ê dela a D u a r t e C o e l h o
Pereira e m o a n o d e 1 5 5 1 , q u e a p o v o o u e e n g r a n d e c e u . C o n t i n u o u - s e e m seus
descendentes até D u a r t e d e A l b u q u e r q u e C o e l h o , q u e p o r m e r c ê d e Felipe I I I foi
c o n d e de P e r n a m b u c o e marquês d e Basto, pai de d o n a M a r i a M a r g a r i d a de
Castro A l b u q u e r q u e , m u l h e r do conde de Vimieiro d o m Miguel de Portugal;
hoje está n a C o r o a .
8 Sergipe, n ã o t e m d o n a t á r i o n e m é o p u l e n t a , p o r q u e , c o m o n ã o t e m p o r t o
c a p a z , d á c o n s u m o pela B a h i a aos seus "efeitos.
9 B a h i a , foi d e s c o b e r t a p o r C r i s t ó v ã o J a q u e s e m o a n o d e 1549 e d a d a a
Francisco P e r e i r a C o u t i n h o , c h a m a d o o P a s t u â o , filho d e Afonso Pereira, alcaide-
m o r d e S a n t a r é m , p o r m e r c ê d e el-rei d o m J o ã o , o t e r c e i r o , e m satisfação dos
g r a n d e s serviços q u e fizera n a í n d i a ; d e p o i s d e c o n q u i s t á - l a d o "gentio e estar
alguns anos s e m p r e e m g u e r r a , p o r falta d e gente se retirou aos Ilhéus, e v o l t a n d o
o u t r a vez a conquistá-la m o r r e u / / d a n d o à costa, e c o m sua m o r t e t o m o u el-rei [ fí. 457v. ]
o u t r a vez esta capitania.
10 O s Ilhéus, foi d a d a p o r d o m j o ã o , o terceiro, e m o a n o d e 1564 a j o r g e d e
Figueiredo C o r r e i a , c o m e n d a d o r d a O r d e m de Cristo, filho d e R u i d e Figueiredo;
está hoje n a C a s a d o A l m i r a n t e do R e i n o .
11 P o r t o S e g u r o , foi seu p r i m e i r o p o v o a d o r e d o n a t á r i o P e d r o d e C a m p o s
T o u r i n h o e m o a n o de. 1 5 5 3 , cuja filha, L e o n o r de C a m p o s , a v e n d e u p o r c e m
mil réis d e j u r o s a d o m j o ã o d e L e n c a s t r e , d u q u e d e Aveiro, e hoje se a c h a n a
Coroa.
12 Espírito S a n t o , foi d a d a a V a s c o F e r n a n d e s C o u t i n h o e m o a n o d e 1525,
e m cujos descendentes se c o n t i n u o u até A n t ô n i o Luís Gonçalves d a C â m a r a , que.
a v e n d e u a Francisco Gil d e A r a ú j o , e el-rei d o m j o ã o , o q u i n t o , a c o m p r o u p a r a
a Coroa.
13 R i o d e J a n e i r o , M e m d e Sá a conquistou dos franceses e m o a n o d e 1566,
e v o l t a n d o p a r a a Bahia, o n d e era g o v e r n a d o r , deixou n o g o v e r n o seu s o b r i n h o
Estácio de Sá, q u e c o n t i n u o u aquela conquista; está hoje n a C o r o a .
14 São V i c e n t e , foi seu p r i m e i r o d o n a t á r i o , p o r m e r c ê d e el-rei d o m j o ã o , o
terceiro, M a r t i m Afonso d e Sousa, g o v e r n a d o r d a í n d i a , e hoje está n a C o r o a .
838
18 D o m J o r g e M a s c a r e n h a s , m a r q u ê s d e M o n t a l v ã o , lhe s u c e d e u logo e m
1640, c o m a p a t e n t e d e p r i m e i r o *vice-rei d o E s t a d o , e sendo m a n d a d o p r e n d e r
p e l a falsa suspeita q u e se teve d a sua fidelidade, d e q u e se justificou l o g o q u e
c h e g o u a Lisboa, foi restituído a todas as suas h o n r a s .
19 A n t ô n i o Teles d a Silva, lhe sucedeu e m 1642, c o n t i n u o u a g u e r r a c o m os
holandeses e m o r r e u afogado v i n d o p a r a o R e i n o .
20 A n t ô n i o T e l e s d e M e n e s e s , c o n d e d e V i l a - P o u c a , lhe s u c e d e u e m 1647,
p a s s a n d o a o Brasil p o r general d a a r m a d a c o n t r a os holandeses.
21 O c o n d e d e Castelo M e l h o r , J o ã o R o d r i g u e s d e V a s c o n c e l o s , q u e t i n h a
sido g o v e r n a d o r das a r m a s das províncias d o M i n h o e Alentejo, l h e sucedeu e m
1652.'
22 D o m J e r ô n i m o d e A t a í d e , c o n d e d e A t o u g u i a , l h e s u c e d e u e m 1 6 5 4 ,
sendo general d a a r m a d a e d o C o n s e l h o d e Estado.
2 3 Francisco B a r r e t o d e M e n e s e s , lhe sucedeu e m 1657; t i n h a feito g r a n d e s
serviços nas restaurações d e A n g o l a e P e r n a m b u c o , e m q u e / / m e r e c e u o título £ f| 458v. ]
d e c o n d e d o R i o G r a n d e p a r a sua filha d o n a A n t ô n i a Josefa d e Sá, q u e casou c o m
L o p o F u r t a d o d e M e n d o n ç a , q u e m o r r e u presidente d a J u n t a d o C o m é r c i o .
2 4 O c o n d e de Ó b i d o s , d o m V a s c o M a s c a r e n h a s , q u e t e n d o j á sido governa-
dor deste Estado e p a s s a n d o a vice-rei d a í n d i a , s e g u n d a vez foi n o m e a d o vice-rei
e capitão-general d o Brasil, e s u c e d e u e m 1663.
25 A l e x a n d r e d e S o u s a F r e i r e , l h e s u c e d e u e m 1 6 6 8 , t e n d o sido c a p i t ã o -
general de M a z a g ã o .
26. Afonso F u r t a d o d e M e n d o n ç a , primeiro visconde d e B a r b a c e n a , lhe su-
c e d e u e m 1 6 7 1 ; m o r r e u n o governo, e p o r falta de "vias p a r a a sucessão n o m e o u ,
à h o r a d a m o r t e , p o r conselho d a C â m a r a e n o b r e z a , a o "chanceler, o "mestre-
d e - c a m p o e o " v e r e a d o r m a i s velho.
27 R o q u e d a C o s t a B a r r e t o , q u e governava a província d a E s t r e m a d u r a c o m
p a t e n t e d e s a r g e n t o - m o r d e b a t a l h a , sucedeu n o g o v e r n o e m 1678 c o m p a t e n t e
de mestre-de-campo general.
28 A n t ô n i o d e Sousa de M e n e s e s , c h a m a d o o B r a ç o d e P r a t a , p o r o trazer
assim e m lugar d e u m q u e p e r d e r a n a g u e r r a d e P e r n a m b u c o , lhe s u c e d e u e m
1682.
29 D o m A n t ô n i o Luís d e Sousa, s e g u n d o m a r q u ê s das M i n a s , lhe s u c e d e u
e m 1684, e recolhido ao R e i n o m a n d o u às a r m a s e entrou p o r Castela, p o n d o n a
o b e d i ê n c i a d e C a r l o s I I I as terras p o r q u e passava e o fez a c l a m a r n a c o r t e d e
M a d r i , atravessando c o m as suas tropas t o d a a E s p a n h a até se j u n t a r c o m ele n o
reino d e V a l e n ç a .
30 M a t i a s da C u n h a , l h e sucedeu e m 1687, q u e tinha g o v e r n a d o o M i n h o e
o R i o d e J a n e i r o ; m o r r e u neste g o v e r n o e n o m e o u , n a sua falta, o "arcebispo d o m
frei M a n u e l d a Ressurreição e o chanceler M a n u e l C a r n e i r o d e Sá.
31 A n t ô n i o Luís G o n ç a l v e s d a C â m a r a C o u t i n h o , "almotacé-mor. q u e g o -
v e r n o u P e r n a m b u c o , lhe sucedeu e m 1690; foi depois vice-rei d a í n d i a .
840
• 128 <
V A S C O N C E L O S , Simão de. Vida do padre João de Almada da Companhia de Jesus na Província do Brasil
[...]. Lisboa: Oficina Craesbeeckíana, 1658, passim.
843
í n d i o s , l i v r o 1, c a p í t u l o 5
P e r n a m b u c o , capítulo 6
A n g o l a , c a p í t u l o 1, l i v r o 6
• 129 <
Vila do Príncipe
Diamantes
q u e b a s t e p a r a t r a b a l h a r u m n e g r o , q u e nelas os a p a r t a e e s c o l h e , q u e c o m a
água se lhes conhece a diferença q u e tem das mais p e d r a s do "cascalho e
e s m e r i s , e assim, m e l h o r q u e d e o u t r o m o d o , se a p r o v e i t a t u d o .
N o s " c o r g o s ou ribeiros p e q u e n o s , se t i r a m p a r a u m l a d o d a s u a n a t u r a l
c o r r e n t e p a r a se lhe, t i r a r e m os cascalhos n o veio d a á g u a , c o m o fica dito, e às
vezes r e m e t e à m e s m a f o r m a t u r a d e cascalhos p e l a t e r r a d e n t r o , cuja t e r r a se cha-
m a "tabuleiros o u "grupíaras, e extraindo-se o cascalho e n q u a n t o se a c h a . E n o
dito rio das P e d r a s , e m u m c a l d e i r ã o , se a c h a r a m d i a m a n t e s c r a v a d o s e c o m o
nascidos e m p e d r a s p a r d a s , a q u e c h a m a m " t a p a n h o a c a n g a , e no rio J e q u i t i n h o n h a ,
ribeiro do Inferno e rio das P e d r a s se a c h a m vários s u m i d o u r o s m u i t o profundos
q u e n ã o p o d e r ã o os m i n e i r o s n u n c a c h e g a r a o fundo deles, e a i n d a nos corgos
q u e se m e t e m neles se a c h a m os mesmos s u m i d o u r o s . E no d o Bonsucesso se a c h a
u m a l a p a , d o n d e se p o d e m a c o m o d a r mais de duzentas pessoas, e, n o m o r r o cha-
m a d o d o M a r a v i l h a , q u e deságua p a r a o rio das P e d r a s e ribeiro d o Inferno, se
a c h a u m s u m i d o u r o c o m vários abertos debaixo d o m e s m o m o r r o , q u e atravessa
de u m a parte a outra.
> 130 «
S a í r a m os de P a r a g u a i c o m o seu g o v e r n a d o r q u e d e n o v o elegeram, c h a m a -
d o d o m J o s é d e A n t i q u e r a e C a s t r o , e [o] o u v i d o r d a R e a l A u d i ê n c i a d e
C h u q u i s a c a , e d a n d o b a t a l h a a h o r a s d o m e i o - d i a fizeram os p a r a g u a i a n o s d e n t r o
d e d u a s h o r a s g r a n d e estrago, pondo-se os *cabos e m fugida p a r a o p o v o d e S a n t o
I n á c i o , a o n d e e s c a p a r a m , e dali d e r a m os ditos cabos aviso d o sucesso à c i d a d e d e
B u e n o s Aires e a o vice-rei d e L i m a , q u e m a n d o u logo o r d e m a d o m B r u n o M a u -
rício d e Z a b a l a q u e m a r c h a s s e logo c o m g e n t e d e Buenos Aires, d e S a n t a F é ,
C ó r d o b a e d e Las Siete Corrientes a destruir os d e P a r a g u a i .
C h e g a n d o esta " m á q u i n a d e g e n t e ao rio T e b i q u a r i , t o r n a r a m a sair os d e
P a r a g u a i , e n ã o c o n s e g u i r a m n a d a os c a b o s castelhanos, p o r ser m a i o r o p o d e r
daqueles, c a p i t u l a n d o os d e P a r a g u a i q u e e s t a v a m e m terras d e el-rei d e P o r t u g a l
e q u e n ã o h a v i a m consentir se tirassem seus m a r c o s , q u e havia tantos anos q u e ali
estava m e t i d o aquele m a r c o , p o r cuja causa n ã o o b e d e c i a m às o r d e n s dos gover-
n a d o r e s , e assim ficaram.
D e p o i s d e observar o referido, fui c o m a m i n h a "derrota e p a r t i p a r a a vila d e
C u r a g u a t i , e c o m o achasse grandes notícias de q u e nas cabeceiras d o rio G r a n d e
e d e s p e n h a d e i r o do rio P a r a n á e serra d a Estrela t i n h a m os p a d r e s d a C o m p a n h i a
das missões descoberto g r a n d e s tesouros fui aos tais descobrimentos e gastei vinte
dias d e v i a g e m p o r a q u e l a s d i l a t a d a s c a m p a n h a s , o n d e c h e g u e i a o m e i o - d i a e
avistei, n o alto d a serra d a Estrela, a o r u m o do sueste, u m sítio f o r m a d o e m três
g r a n d e s serras, c h a m a d a u m a Santa C a t a r i n a o u t r a C a í e o u t r a O g n i , e vi aqueles
distritos m u i t o férteis de g a d o v a c u m , q u e é inumerável. E i n d o c h e g a n d o à serra
d e S a n t a C a t a r i n a , m e s a í r a m ao e n c o n t r o q u a t r o índios e p e r g u n t a r a m - m e q u e
fazia p o r aqueles sertões. R e s p o n d i - l h e s q u e a n d a v a p e r d i d o h a v i a três meses e
q u e n ã o atinava c o m c a m i n h o p a r a p o v o a d o .
O u v i n d o - m e , m e levaram o n d e estavam os p a d r e s a r r a n c h a d o s e o n d e a c h e i
a Faustino C o r r e i a , q u e tinha ido p o r piloto no navio S a n t o T o m á s q u a n d o foi
c o m os casais p a r a a C o l ô n i a . Passou-se à g u a r d a dos castelhanos, q u e está n o
l u g a r / / q u e c h a m a m S ã o J o ã o , cinCo léguas d a nossa p o v o a ç ã o d a C o l ô n i a , [ fl. 4 6 7 ]
d o n d e se p a s s a v a p a r a as missões dos p a d r e s d a C o m p a n h i a , e c o m o e r a piloto
d e i t a r a m - l h e a " r o u p e t a , e c o m ela a n d a v a e m descobrimentos d e g r a n d e s have-
res p a r a os p a d r e s .
V i t a m b é m n o m e s m o sítio a o paulista Francisco B u e n o Feio e m e s t r e d a -
quelas m i n a s ; e vi t a m b é m n o serro do C a í t i r a v a m m u i t o o u r o , n ã o q u e r e n d o o
d e " l a v a g e m m a s sim o d e "beta, e n o serro d e S a n t a C a t a r i n a t i r a v a m m u i t a
p r a t a , o n d e t ê m oito fundições e m q u e estão a t u a l m e n t e fundindo, fazendo p i n h a s
e b a r r a s q u e p a s s a m e m mulas p a r a as missões, e t i r a v a m m u i t a s p e d r a s preciosas.
Isto foi o q u e vi n o t e m p o e m q u e a n d e i p o r a q u e l a s p a r t e s , q u e t u d o é
certíssimo, c o m o q u e m o presenciou etc.
854
• 131 «
• 132 «
M u i t o r e v e r e n d o p a d r e mestre:
descobridor, cuja posse n ã o só foi legítima p o r direito das gentes, conforme o qual
t u d o o q u e está devoluto é de seu p r i m e i r o d e s c o b r i d o r m a s t a m b é m j u s t a , p o r
indulto d a Sé Apostólica, q u e concedeu a esta C o r o a todas as terras, portos, m a r e s e
ilhas q u e os seus vassalos descobrissem,* c o m o consta das * b u l a s d e N i c o l a u V ,
5 c
Hunc Argenteum Fluvium primus Americus Vespucius intravit an. 1501, invenitque in eo insulas
gemmiferas, et innumerabiles. argenti fodinas. 1
In bullata collections quibusdam Sacemmis Lusitanis Regibus jus patronatus conceditur, pg, 8.
Jacinto Freire^ na Vida de dom João de Castro, página 76. 3
Américo Vespúcio entrou, por primeiro, neste rio da Prata, no ano de 1501, e nele encontrou ilhas
abundantes em pedras preciosas assim como incontáveis minas de prata.
Orla marítima em lugar apropriado.
ANDRADE.Jacinto Freire de. Vida de dom João de Castro, quarto vice-rei da índia, escrita por Jacinto
Freire de Andrade, impressa por ordem de seu neto, o bispo dom Francisco de Castro. Lisboa:
Oficina Craesbeeckiana, 1681.
858
Monsieur Frézier, dans la relation de son voyage de la nier du Sud, tomo 2, pagina 469.-''
SOUSA, Antônio Caetano de. Provas de história genealógica da Cma Real portuguesa [...]. Lisboa Ociden-
tal: Oficina Silviana da Academia Real, 1739-1748.
FRÉZIER, Amédée François. Relation da voyage de la mer du Sad aux côtes du CMy e du Pérou. Fait
pendant les années 1712, 1713 e 1714 [...] Paris: Cbez Jean-Geoffroy Nyon, MDCCXVI [17.16].
vizinhos algumas e n t r a d a s nas suas missões n ã o p a r a p e r t u r b a r a s u a c r i s t a n d a d e
m a s p a r a castigar a sua insolência.
C o m q u e , p a d r e m e s t r e , n ã o nos q u e i r a v e n d e r "bulas, p o r q u e t o d o s s a b e -
m o s q u e aflição q u e a Vosso P a d r e e aos seus religiosos causa a alienação dessa
p a r t e das suas missões: n ã o era zelo d o espiritual, m a s a a m b i ç ã o d o t e m p o r a l dos
índios. Se n ã o , diga p a d r e m e s t r e , q u e d e t r i m e n t o p o d i a p a d e c e r a c r i s t a n d a d e
dos índios n e s t a t r a n s i ç ã o d o d o m í n i o ? P o d i a V o s s o P a d r e p r e s u m i r q u e u m a
n a ç ã o tão religiosa e p r o p a g a d o r a d a fé Como a p o r t u g u e s a , q u e n a s terras mais
incultas d a Ásia, Africa e A m é r i c a t e m feito p r o d u z i r a s e m e n t e evangélica tão
copiosas s e a r a s , n ã o c o n s e r v a r i a e a u m e n t a r i a as q u e os jesuítas e s p a n h ó i s t ê m
cultivado nas terras das suas missões? F a l t a r i a m , p o r v e n t u r a , religiosos p o r t u g u e -
ses d o m e s m o estatuto d e Vosso P a d r e q u e dirigissem essas missões s e m q u e os
índios e x p e r i m e n t a s s e m , n e m ainda alteração n o h á b i t o , e c o n o m i a dos seus mis-
sionários? N ã o faltariam, p o r c e r t o , m a i o r m e n t e n ã o sendo estas missões e n t r a -
n h a d a s nos sertões de A n g o l a ou n o pernicioso clima d e São T o m é , e a i n d a q u e
p o r a l g u m a s razões p a r t i c u l a r e s q u e j u l g o n ã o h a v e r i a se n ã o c o m e t e s s e a estes
religiosos a a d m i n i s t r a ç ã o destas missões, n ã o faltariam nas outras religiões v a r õ e s
d e espírito apostólico, d e b a i x o d e cuja a d m i n i s t r a ç ã o se c o n s e r v a r i a m os índios,
a i n d a que m a u s soldados, bons cristãos.
D i g a - m e a g o r a , Vosso P a d r e , c o m q u e r a z ã o ou justiça t i n h a m os seus p a d r e s
d e l i b e r a d o {se é c e r t o o q u e insinua n a sua carta) c o m o v e r os â n i m o s dos índios
p a r a q u e , sediciosos, conspirassem c o n t r a os reais "decretos, d e v e n d o vossos p a -
dres, c o m o imitadores d a perfeição cristã, serem os p r i m e i r o s q u e os persuadissem
a se sujeitar às o r d e n s do seu s o b e r a n o , ? p r o p o n d o - l h e s aquela a d m i r á v e l d o u t r i -
n a q u e o a p ó s t o l o são P a u l o d a v a aos romanos p a r a os conter na obediência e
sujeição d e seus príncipes, a i n d a q u a n d o tiranos, a qual santo Agostinho profun-
d a m e n t e explica e s a b i a m e n t e ilustra? M a s vossos p a d r e s m o s t r a m q u e t ê m d e
apóstolos o n o m e , m a s n ã o o espírito.
L a r g a m a t é r i a m e oferecia, Vosso P a d r e , neste lugar, p a r a e s t e n d e r a m i n h a
p e n a se o permitisse a b r e v i d a d e de u m a carta. C o n c l u o , pois,, esta c o m dizer a
V o s s o P a d r e q u e p o d e t o r n a r p a r a d o n d e veio, p o r q u e j á n ã o são necessárias as
Omnis anima potestatibus sublimioríbus súbdita sit. Non est eram potestas nisi a Deo; quae autem sunt, a
Deo ordinata sunt. Itaque qui resistit potestati, Dei ordinationi resistit; qui autem rcsistunt, ipsi
damnationem acquirunt Paulus, ad Rom., cap. 13, vide Divum Aug., can. 97, qui resistit, caus. 11, q. 3. fi
Que toda alma seja submissa às autoridades constituídas. Com efeito, não há autoridade que não
provenha de Deus, e as autoridades existentes foram estabelecidas por Deus. Assim, quem resiste à
autoridade resiste à ordenação estabelecida por Deus e os que a ela resistem atraem para si a
condenação. S. Paulo, Rom., cap. 13; vide Santo Agostinho, can. 97, "qui resistit", caus. 11, q. 3.
860
• 133 «
Q
u a n d o o nosso m u i t o a u g u s t o m o n a r c a , q u e S a n t a G l ó r i a haja, fez a
g r a n d e h o n r a d e m e e n t r e g a r e s p o n t a n e a m e n t e a m i n h a d i r e ç ã o o go-
v e r n o da N o v a C o l ô n i a do S a c r a m e n t o d o R i o d a P r a t a n o a n o d e 1 7 2 1 ,
^ e n t r e as mais expressões c o m q u e v o c a l m e n t e m e instruiu d o m o d o
c o m q u e era servido q u e eu procedesse nele, m e disse ser a q u e l a p r a ç a d e t a n t a
i m p o r t â n c i a aos interesses da sua C o r o a q u e pelo mais vantajoso equivalente n ã o
a largaria n u n c a a Castela.
A j u s t a n d o - m e eu c o m esta real m á x i m a , dispus s e m p r e n o t e m p o d a p a z a
sua c o n s e r v a ç ã o e a u m e n t o do t e r r e n o e d a g u e r r a a "defensa, d e m a n e i r a q u e
n u n c a p u d e s s e d a r aos castelhanos o gosto d e se a p o d e r a r e m dela, o q u e , m e d i a n -
te o auxílio d o c é u , consegui. M a s h a v e n d o - a d e i x a d o e m fevereiro d e 1749 a
m e u sucessor p e l a c a r t a credencial q u e a p r e s e n t o u , ouvi depois d e c h e g a r a Lis-
b o a q u e esta p r a ç a t ã o i m p o r t a n t e se a c h a p e l a oferta d e ( c e r t o s ! e q u i v a l e n t e
cedida p o r u m t r a t o à corte d e E s p a n h a .
P e r m i t a - m e , p o r a t e n ç ã o a o b e m c o m u m e d e b o m vassalo, a o u s a d i a d e
dizer. A d m i r o q u e u n s talentos d e t a n t a c a p a c i d a d e e perspicácia, c o m o os q u e
m a n e j a m esta negociação, deixassem de r e p a r a r q u e ao m e s m o t e m p o q u e Castela
p r e t e n d e fechar-nos u m a p o r t a p o r o n d e nos e n t r a a sua p r a t a lha deixemos aber-
ta p a r a e n t r e g a r o nosso o u r o e q u e e n t r e g u e m o s a chave m e s t r a dos nossos tesou-
ros a m e r i c a n o s n ã o só à E s p a n h a m a s às nações mais p o d e r o s a s n a m a r i n h a , c o m o
l ú g o direi.
862
Cópia impressa:
EXCERTOS do arquivo do Morgado de Mateus. Notícias per-
tencentes à comunicação do M a t o Grosso com o Estado dp
M a r a n h ã o . Anais da Biblioteca Nacional, R i o de J a n e i r o , v.
107, p. 43-44, 1987.
• 135 <
E m c a r t a d e 26 d e s e t e m b r o do a n o p a s s a d o , d e u Vossa S e n h o r i a c o n t a q u e
b a i x o u a esta c i d a d e do P a r á J o ã o d e Sousa, depois d e a n d a r dois a n o s c o m os
outros sertanejos n o d e s c o b r i m e n t o das m i n a s dos Arinos, o n d e a c h a r a m o u r o e m
várias p a r t e s , m o s t r a n d o - s e pelas informações q u e estas m i n a s p o d e m distar do
a r r a i a l d o M a t o G r o s s o d e z dias p o r c a m i n h o d i r e i t o . E c o m o o dito J o ã o d e
868
Primeira viagem
[ fl 481 ] c
l u e n a v
i a
três "províncias, C ó r d o b a , / / Chile e L i m a . e q u e esta era a sua, e m a
q u a l h a v i a v i n t e e q u a t r o missões, e d e c l a r a r a m os n o m e s delas, das q u a i s v ã o
n o m e a d a s algumas e todas m u i t o a b u n d a n t e s dos efeitos j á ditos; e q u e a cidade
de S a n t a C r u z de la Sierra ficava à m ã o direita do m e s m o rio e q u e era p e q u e n a e
p o b r e ; e q u e o p a d r e Sebastião G a r c i a dissera que n e m vila p o d i a ser e se c h a m a -
va cidade p o r ter g o v e r n a d o r e q u e as casas e r a m cobertas de palmeiras e d e esta-
va, digo, e distava d a dita missão u m m ê s d e v i a g e m rio acima, pelo qual estão as
mais missões: S ã o P e d r o , S a n t o Inácio, L o r e t o , S ã o Francisco X a v i e r , e só a d e
S a n t a n a está e m u m braço q u e faz b a r r a no dito rio, e p o r ele estão as mais d e u m a
e outra parte.
877
• 137 <
E m c a r t a d e 17 d e s e t e m b r o , m e r e m e t e V o s s a E x c e l ê n c i a c ó p i a s d a s
r e l a ç õ e s , i n s t r u ç ã o e m a p a q u e S u a M a j e s t a d e foi s e r v i d o m a n d a r a o "gover-
n a d o r d o E s t a d o d o M a r a n h ã o , e n c a r r e g a n d o - l h e faça e x p l o r a r e n a v e g a r o
rio da M a d e i r a pela g r a n d e necessidade que h á de segurar a posse e navega-
ção daquele rio.
O impedir-se a c o m u n i c a ç ã o de minas c o m o Estado do M a r a n h ã o p a r a
e m b a r a ç a r o largo c o n t r a b a n d o e r o u b o da Real Fazenda, que era certo por
a q u e l a p a r t e e s t a n d o f r a n c a a n a v e g a ç ã o , e m a i s a ser a c o b r a n ç a do " q u i n t o
n a s "casas d a m o e d a ou f u n d i ç ã o e t a m b é m evitar q u e os m o r a d o r e s d a q u e l e
e s t a d o , l e v a d o s d a a m b i ç ã o , d e s a m p a r a s s e m seus e s t a b e l e c i m e n t o s , n a f o r m a
s u c e d i d a n a c a p i t a n i a d e S ã o P a u l o , q u a n d o os h a b i t a n t e s d e l a se m e t e r a m a
d e s c o b r i r m i n a s , d e i x a n d o a c u l t u r a d e suas r o ç a s e " s e s m a r i a s , o q u e e r a m a i s
c o n s i d e r á v e l , e p a r a t e m e r n o E s t a d o d o M a r a n h ã o , n o q u a l são m a i s p r e c i s o s
os g ê n e r o s q u e se t i r a m d a c u l t u r a e t r a b a l h o , foi a c a u s a a t é o p r e s e n t e e m
q u e j u s t a m e n t e se f u n d o u o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o . E são t ã o fortes os seus
f u n d a m e n t o s q u e só os p o d e r e v o g a r a n e c e s s i d a d e e m q u e e s t a m o s d e n o s
fazer p o d e r o s o s e r e s p e i t a d o s n ã o só n a n a v e g a ç ã o d o r i o d a M a d e i r a m a s n à
• Gomes Freire de Andrade referiu-se, equivocadamente, à missão Santa Rosa como Santa Rita.
881
Ilustríssimo Excelentíssimo s e n h o r M a r c o A n t ô n i o de A z e v e d o C o u t i n h o .
G o m e s Freire de A n d r a d e
882
• 138 -
o u 3 . 0 0 0 *réis e n o m e i a m ; h á t a m b é m n e s t e r e g i s t r o u m s o l d a d o d o s d a s
tropas das Minas, h a v e n d o antes dois, o qual está p a r a executar qualquer
o r d e m d o " c o n t r a t o ; e n e n h u m e s t i p ê n d i o t e m m a i s q u e os soldos d e el-rei. O
" g e n e r a l p r e s e n t e , h a v e r á d i a s , fez fixar n e s t e sítio u m " e d i t a l p a r a q u e n e -
n h u m e s c r a v o p a s s a s s e p a r a as M i n a s s e m q u e d e s t a p a s s a g e m se fizesse as-
s e n t o c o m o n o m e do e s c r a v o , d e q u e n a ç ã o e i d a d e t i n h a , e q u e m o p a s s a v a ,
e q u e [o] a s s e n t o assinasse este p a s s a d o r , e q u e d e n t r o d e dois m e s e s p o d e r i a
d i s p o r d e l e e, p a s s a d o s eles, " c a p i t á - l o , e a e s t e s o l d a d o d e u o g e n e r a l e s t a
i n c u m b ê n c i a , q u e assim se o b s e r v a , d e q u e se lhe n ã o p a g a c o i s a a l g u m a . E a
este sítio faz b o a s c i n c o "léguas do P a r a i b u n a .
Seguiu-se o dia d e d o m i n g o , q u e o foi neste a n o d a "Septuagésima e dia d a
Purificação d a S e n h o r a , o sétimo d a m i n h a j o r n a d a , q u e a p a r e c e u c o b e r t o e a o
depois e n t r o u a c h o v e r p o r a l g u m a s p a r t e s , a i n d a q u e s e m i n c ô m o d o m e u . Saí
deste sítio pelas seis e três q u a r t o s , depois d e ouvir missa, e c o n t i n u a n d o a v i a g e m
d a m e s m a sorte p o r e n t r e m a t o s e m o r r o s , e m p o u c o m a i s d e m e i a légua, n a
descida d e u m estava u m p e q u e n o r a n c h o j u n t o a u m ribeiro a q u e c h a m a m a
r o c i n h a do M a t i a s Barbosa; e depois c o n t i n u a n d o s e m p r e a subir e descer, s e m
fazer o u t r a coisa, a i n d a q u e p o r m e n o s m a u s c a m i n h o s q u e os d o dia a n t e c e d e n t e ,
e t u d o p o r e n t r e altos m a t o s e n a m e s m a forma q u e até a q u i , e assim passei p o r
o u t r o sítio a q u e c h a m a m a r o c i n h a do Medeiros; e c o n t i n u a n d o e m p o u c o mais
d e m e i a légua estava a roça d o M e d e i r o s , e m sítio mais l a r g o , j u n t o a u m ribeiro
e m q u e h a v i a casa d e t e l h a , a i n d a q u e d e m a d e i r a , e a l g u m a s c h o u p a n a s p a r a
a c o m o d a ç õ e s d o s p a s s a g e i r o s , e t o m o u o n o m e d e u m *F. M e d e i r o s , q u e n o
princípio do c a m i n h o fez esta roça; e dali c o n t i n u a n d o e m b a s t a n t e distância abai-
xo continuei d e s c e n d o de u m m o r r o , n o fim do q u a l t o r n o u n o v a m e n t e a a p a r e -
cer o rio P a r a i b u n a ; e v o l t a n d o u m giro q u e a q u i faz e m u m a b a i x a , aí e m u m
largo, j u n t o a ele está o u t r a p o v o a ç ã o ou r a n c h o de c h o u p a n a s e u m a casa t a m -
b é m d e s o b r a d o e telha, e m q u e ficam algumas pessoas presentes, e a q u i c h a m a m
o M a r m e l o , e faz a este sítio d o q u e saí mais d e q u a t r o léguas. L o g o p o u c o adiante
deste sítio se v ê vir precipitado o m e s m o rio p o r u n s m o r r o s e p e n e d o s a b a i x o , a
q u e c h a m a m a cachoeira do M a r m e l o , e faz célebre perspectiva. E daí v i m , sem-
[ íl. 487v. ] p r e à vista deste r i o , p o r iguais c a m i n h o s , e m distância de mais / / d e u m a légua,
e j u n t o a ele cheguei a u m sítio a q u e c h a m a m o J u i z d e Fora, p e l o meio-dia, a
q u e faz cinco léguas. E este sítio c o m o os mais; t e m u m a casa d e s o b r a d o e suas
a c o m o d a ç õ e s p a r a os m a i s passageiros, e é c h a m a d o do J u i z d e F o r a p o r q u e foi
e r i g i d o p o r u m Luís F o r t e s , "juiz d e fora q u e t i n h a sido n o R i o d e J a n e i r o , a
q u e m , p a r e c e , c r i m i n a r a m p o r a m i z a d e c o m os franceses n a ocasião e m q u e ulti-
m a m e n t e se a p o d e r a r a m d a q u e l a c i d a d e , e depois veio p a r a este sítio, e m q u e
viveu. E m p o u c a distância p a r a trás deste sítio se considera pelos experientes ser o
m e i o do c a m i n h o , c o m p u t a d a s as descidas e subidas d e todo ele. L o g o depois q u e
a q u i cheguei, q u e foi c o m b a s t a n t e c a l m a , se a r m o u u m a t r o v o a d a e e n t r o u a
c h o v e r raio, e pelo decurso d a t a r d e foi a p e r t a n d o a i n d a mais, c o m b a s t a n t e c h u v a
e excessivos t r o v õ e s , de q u e felizmente t í n h a m o s e s c a p a d o a t é a q u i e p o r isso
a c h a m o s os c a m i n h o s m e n o s m a u s , q u e c o m c h u v a s são os m a i s i m p r a t i c á v e i s ,
p o r t e r e m terras d e b a r r o q u e escorregam q u a n t o p o d e ser.
Seguiu o dia d e segunda-feira, oito d a m i n h a j o r n a d a , e p o s t o q u e a c h u v a
n ã o passou d a t a r d e a n t e c e d e n t e e s t a v a m os ares a i n d a grossos e o dia fresco e
excelente. Saí pelas seis h o r a s . E c o m o t i n h a chovido a c h e i o c a m i n h o i m p e r t i -
n e n t e , p o r e s b a r r a r s u m a m e n t e , d e f o r m a q u e era dificultosa a s u b i d a e a i n d a
mais a descida dos m o r r o s . O c a m i n h o era o m e s m o , entre arvoredos e s u b i n d o e
d e s c e n d o m o r r o s , a i n d a q u e sem atoleiros m a i o r e s . Passei o sítio d a r o c i n h a d o
Alcaide-mor c o m d u a s ou três c h o u p a n a s , e e m mais d e m e i a "légua e e m m e n o s ,
cheguei à roça do Alcaide-mor, que tinha u m a dúzia de choupanas, todas do
serviço d o m e s m o d o n o , e m u m b a i x o , j u n t o a u m p e q u e n o r e g a t o , e o d o n o
p r i m e i r o e r a *alcaide-mor do R i o de J a n e i r o , sogro de G a r c i a R o d r i g u e s ; p o u c o
mais a d i a n t e estava o u t r a r o c i n h a d o m e s m o alcaide-mor; e c o n t i n u a n d o p o r di-
a n t e , j u n t o a u m r i b e i r o e n o fim d e u m a m a i o r descida, estava a r o c i n h a d e
A n t ô n i o M o r e i r a , c o m m e i a dúzia de p a l h o ç a s e r a n c h o das cargas; e c o n t i n u a n d o
a d i a n t e , e m p e r t o légua, estava a roça do dito A n t ô n i o M o r e i r a , n a descida d e u m
m o r r o , e m u m sítio m a i s largo, c o m v i n t e e t a n t a s c h o u p a n a s e d u a s d e telha,
a i n d a q u e térreas d e m e n o s m á acomodação, serviço de u m d o n o . V i m c o n t i n u a n -
do s e m p r e a n o r t e , só c o m as diferenças das voltas dos c a m i n h o s , e p a s s a n d o u m
p e q u e n o rio, p o r j u n t o a u m a c a c h o e i r a c h a m a d a d e A n t ô n i o M o r e i r a , e m q u e
a l t a m e n t e se precipita a h a á g u a c o m u m notável e s t r o n d o , v i m , pelas d e z h o r a s ,
p a r a r n o v a m e n t e j u n t o à m a r g e m d o dito rio P a r a i b u n a , q u e n ã o t o r n e i a v e r
desde q u e saí até este sítio. E aí j u n t o a ele estava u m sítio c h a m a d o o Q u e i r ó s , o
qual t e m este n o m e do seu edificador. Assim c o m o todos os mais sítios, t e m m e i a
dúzia d e c h o u p a n a s , todas do d o n o , e u m r a n c h o , u m a d e telha m e n o s m á , e m
q u e m e a c o m o d e i e m i n h a "família, c o m sua "capelinha, a mais asseada das q u e
vi, e a q u i fazem cinco léguas p e q u e n a s ou q u a t r o maiores. A q u i fiquei e descansei
n ã o só p o r ser o destinado sítio p a r a o m e u c ô m o d o m a s p o r m e livrar do Sol, q u e
t e n d o d e s c o b e r t o m e principiava a a p e r t a r fortemente. E esta é a r a z ã o p o r q u e
q u e m faz p o r este c a m i n h o j o r n a d a c o m m a i s c ô m o d o neste t e m p o se a r r a n c h a d e
m a n h ã , p o r q u e ou e n t r a o Sol a fazer impressão c o m excesso, p o r a n d a r p o r c i m a
d a c a b e ç a dos q u e h a b i t a m estas alturas, ou se e n t r a a n u b l a r (que é o mais ordi-
nário) é a r m a r e m - s e trovoadas insofríveis, pelo h o r r o r q u e m e t e m p o r e n t r e estes
m a t o s e m q u e fazem m a i o r eco e p e l a q u a n t i d a d e d e c h u v a q u e l a n ç a m , c o m o
sucedeu nesta tarde, que se a r m o u o u t r a n ã o p e q u e n a . E c o n t a m os experientes q u e
neste t e m p o e r a m todos os dias indefectivelmente certas estas trovoadas logo depois
do "jantar^ e q u e até a q u i se n ã o t i n h a visto verão mais seco do q u e este, e p o r isso
a este t e m p o lhe c h a m a m o das águas, e m q u e mais chove do q u e n o t e m p o q u e p o r
aqui t ê m p o r inverno.
894
E m terça-feira, dia n o n o d a m i n h a j o r n a d a , a m a n h e c e u c o m u m a n o t á v e l
c e r r a ç ã o . E disposto t u d o a sair, p a r t i pelas cinco h o r a s e m e i a , e v i n d o j á p o r
c a m i n h o s a l g u m t a n t o desafogados, a i n d a q u e s e m p r e entre m a t o s , e m distância
d e m e i a "légua, passei a r o c i n h a do Q u e i r ó s , d e duas ou três c h o u p a n a s , d e o n d e
tinha saído; e daí a o u t r a meia, e m u m a baixa, passei o sítio d o A z e v e d o , e m q u e
havia casas de telhado, a i n d a q u e térreas, e m q u e h a v i a mais a l g u m a s c h o u p a n a s
p e r t e n c e n t e s t o d a s ao m e s m o d o n o ; e c o n t i n u a n d o p o r diante, s e m p r e s u b i n d o e
d e s c e n d o , o b s e r v a v a d e a l g u n s altos m a i s desafogados o e s p a ç o s o e m o n t u o s o
destas serras, e m q u e se n ã o vê o u t r a coisa mais q u e uns m o n t e s p e g a d o s a outros,
s e m m a i s interposição e n t r e eles q u e a d e alguns rios ou ribeiros. P o u c o adiante,
e m m e n o s d e légua, passei a r o c i n h a d o A z e v e d o , q u e são d u a s ou três c h o ç a s ,
c o m u m r a n c h o p a r a a c o m o d a ç ã o dos "arrieiros; e daí e m m a i s d e légua cheguei
a u m a baixa, j u n t o de u m ribeiro a o n d e c h a m a m o E n g e n h o , e m cujo lugar achei
bastantes casas d e p a l h a e algumas a c o m o d a ç õ e s , e u m a d e telha m e n o s m á , ain-
d a q u e n ã o b o a , e c o m sua *ermida, q u e serve d e freguesia, e é c h a m a d o E n g e -
n h o p o r h a v e r neste sítio u m de a g u a r d e n t e s , q u e n o princípio fundou o seu pri-
m e i r o f u n d a d o r , q u e era n a t u r a l do R i o d e J a n e i r o , e é p o v o a ç ã o d o princípio do
c a m i n h o ; d a í v i m c o n t i n u a n d o p e l o m e s m o c i m o e passei u m p e q u e n o sítio, a
q u e c h a m a m Luís Ferreira, do seu fundador, e hoje vive nele u m seu filho, forma-
d o , c h a m a d o Cristóvão Ferreira; t e m u m a s p e q u e n a s casas d a s u a residência c o m
sua e r m i d a ao p é e algumas p o u c a s a c o m o d a ç õ e s p a r a passageiros e c h o u p a n a s
[ íl. 4 8 8 ] p a r a o t r a t o d a casa. / / D a í vim s e g u i n d o q u a s e a n o r o e s t e e passei p o r o u t r a
b a i x a , c h a m a d a P e d r o Alvares, e m q u e [há] u m a s m e l h o r e s casas, a i n d a q u e tér-
reas, c o m sua e r m i d a e outras mais c h o u p a n a s e a c o m o d a ç õ e s , e j u n t o a o cami-
n h o u m " m o i n h o d e m i l h o e o u t r o de m a n d i o c a c o m " e n g e n h o d e água; d a q u i
e m p o u c a distância passei a sua r o c i n h a c o m três c h o u p a n a s ; e p o u c o a d i a n t e a
r o c i n h a de J o ã o G o m e s , só c o m u m a casinha e r a n c h o ; e daí a m e i a légua che-
guei, pelo m e i o - d i a , a u m a r o ç a c h a m a d a d e J o ã o G o m e s , p o s t a e m u m alto, e
t o m o u o n o m e d o p a i d o p o s s u i d o r , q u e a c o m p r o u j á p r i n c i p i a d a pelo j á dito
P e d r o Alvares, q u e d a q u i foi p a r a a que hoje t e m o seu n o m e , e m q u e a i n d a existe
e é p o v o a ç ã o d e p o u c o depois d e descoberto este c a m i n h o . N e s t e sítio fiquei n ã o
mal a c o m o d a d o ; tinha suas casas sofríveis, ainda q u e térreas, e outras mais c h o u p a -
nas do serviço, dois ranchos e sua ermida. Neste dia se m e mostrou p a r a a p a r t e d e
oeste u m a altíssima serra c h a m a d a da Ibitipoca, d e q u e nasce o rio P a r a i b u n a , o rio
G r a n d e d e São P a u l o , que vai desembocar e m [incompleto] graus de latitude a o sul, e
outro rio que se vai m e t e r n o d a Prata.
• 139 <
E
confraria! entre negros e mulatos no século XVIII. São Paulo:
Uctnprchm Universidade de São Paulo, F P L C H , 1993. p . 21-22).
Itinerario Gei
A s p e c t o s d i s c u r s i v o s : Trata-se de uma descrição prece-
an o s Icmttcs <
dida de exórdio objetivando despertar a simpatia do leitor. Se-
: M í i u s ) roô l o
gundo Rafael Bluteau, "descrição" é "Definição imperfeita. Re-
xíTou curioüs , presentação, ou pintura de alguma cousa com palavras" (Vocabu-
:cs n o t i c b í ; m u lário português e latino [...] Coimbra: Colégio das Artes da Com-
:ogmtos cfpjços panhia de Jesus, 1713. V. 3, p. 115). Verifica-se a aplicação d a
cs i n c e r t o s c e n a tópica poética do locus amenus ("lugar ameno") e de tópicas ca-
tem Tcrüdo i c racterísticas do gênero encomiástico. Conjugando o verbo n a
dadetns noticüs primeira pessoa do singular, o narrador utiliza artificio retórico
inteiro c r e d i t o a que visa envolver o leitor na narrativa. (JPF)
' c f o . D o w h e filhe C o m e n t á r i o paleográfico: Escrita moderna. Texto im-
presso, com iluminura na página de rosto e escatocolo e vinhetas
nas páginas A2 e A4. Letra típica cia imprensa do século XVIII,
em que sobressaem o " s " simples ou duplo em forma da cajado
invertido; uso do "y" como semivogal nos ditongos; uso moderno
do "v" e do "u". Para acentuação, o agudo marca tonicidade ou
abertura de vogal, como em "só", que alterna com o grave, como
em "será"; o til da nasalização deslocado, como em "naõ". (YDL)
Critérios e d i t o r i a i s : As colações foram feitas a partir das
duas versões manuscritas do documento e restringiram-se aos
termos que comprometiam o significado e o entendimento do
texto, mantidas as pequenas variantes e as supressões introduzidas
pelo impressor.
Cópias manuscritas:
[ fl. 4 9 0 ] Introdução
*Vak
Gosta marítima
Ilhas
C a m i n h o p a r a as M i n a s , p a r t i n d o d e S a n t o s
Sítios o u r o ç a s d e s t e c a m i n h o
Caminho Velho
P a r e m o s n e s t e sítio e f a ç a m o s p a r a ele a j o r n a d a p e l o R i o d e J a n e i r o
Atlantes — propriamente Atlante ou Atlântida - 'ilha de Atlas', que se situaria fora do estreito de
f
Gibraltar. O monte Olimpo situa-se entre a Macedónia e a Tessália; os gregos acreditavam que ali
habitavam os deuses.
904
D a q u i t o m a à m ã o e s q u e r d a q u e m q u e r ir c a m i n h o direito p a r a Vila R e a l , e
se vai p e l a C a c h o e i r a , à vista d a C a s a B r a n c a , b u s c a r a p a s s a g e m d o G a r a v a t o .
E prosseguindo o c a m i n h o das M i n a s G e r a i s , d o L a n a se vai às T r ê s C r u z e s ,
e daí a T r i p u í , q u e fica u m a *légua d e Vila Rica, e logo se e n t r a nela.
P a r a se p a s s a r d a q u i a Vila R e a l se t o r n a pelo T r i p u í às T r ê s C r u z e s e p e l a
B o c a i n a fbu outras duas o u l três estradas se vai à vista d a C a s a B r a n c a b u s c a r a
p a s s a g e m do G a r a v a t o ; e daí se t o m a à m ã o esquerda, pelo C u r r a l i n h o e R a p o -
sos, e se e n t r a e m Vila R e a l , e desta se passa a todas as mais vilas de sua c o m a r c a .
E j á q u e d a m o s notícia dos c a m i n h o s e estradas terrestres, diremos a g o r a das
[ fl. 4 9 6 ] e s t r a d a s a q u á t i c a s , q u e são os / / rios, e p r i n c i p i a r e m o s pelos m a i o r e s , p o r q u e
s e m p r e aos grandes se d e v e m os primeiros lugares.
D e s c r i ç ã o dos rios
Rio da Prata
-3. Gigante da mitologia grega, chamado Briareu pelos deuses e Egeon pelos homens. Participou como
aliado das divindades olímpicas da luta que derrotou os Titãs, e por isso merecia alta consideração e
recebeu recompensas, além de ficar encarregado da guarda dos Titãs em sua prisão subterrânea.
905
R i o P a r a í b a d o Sul
R i o d o Espírito Santo
Rio Doce
Serras
Lavras várias
A i u r u o c a ; Ibitipoca; Arraial V e l h o ; C o n g o n h a s ; I t a v e r a v a ; I t a b i r a ; C a r a ç a ;
G u a r a p i r a n g a ; C a m a r g o s ; C a t a s Altas; São Mateus; Santa Bárbara; I t a m b é ;
Itacambira; Conceição.
D e i x o outras infinitas, p o r n ã o fazer m a i o r *prolação. F a ç o somente m e n ç ã o
das referidas, p o r q u e delas se trata e m outros lugares deste itinerário, p a r a se saber
o n d e estejam situadas.
O " g o v e r n a d o r e capitão-general A n t o n i o d e A l b u q u e r q u e C o e l h o d e C a r -
valho erigiu as seguintes: vila de Nossa S e n h o r a do C a r m o , q u e t o m o u p n o m e d o
ribeirão q u e c o r r e j u n t o a ela; Vila Rica, n o O u r o Preto; Vila R e a l , n o R i o das
Velhas.
O g o v e r n a d o r capitão-general d o m Brás Baltasar d a Silveira levantou as q u e
se seguem: vila de São J o ã o del-Rei, no R i o das M o r t e s ; Vila N o v a d a R a i n h a , n o
C a e t é ; Vila N o v a do Príncipe, n o S e r r o d o Frio; vila d a P i e d a d e , e m Pitangui.
Vila do C a r m o
Vila Rica
Vila R e a l
N o princípio desta vila, pela p a r t e q u e olha p a r a o sul, corre o rio das Velhas
a l a v a r - l h e as m a r g e n s . A este r e n d e vassalagem o rio S a b a r á , q u e saindo-lhe a
saqueá-lo se despoja do n o m e c o m o tributo das águas, r o d e a n d o esta vila pelas
lavras d o leste e do norte. A m b o s c o r r e m turvos, p o r q u e a t u a l m e n t e e m a m b o s se
m i n e r a , m a s r a r a s vezes s a e m os m i n e i r o s l u c r a d o s nestes distritos p o r q u e n ã o
c o r r e s p o n d e m os haveres a o ordinário dispêndio, m a s a g o r a c o m as *rodas se tira
muito ouro.
São abundantíssimas de todos os frutos as terras desta c o m a r c a , os quais t o -
dos n e l a se c o m p r a m p o r m e n o s d a m e t a d e q u e nas M i n a s G e r a i s . A vila está
situada e m território aprazível, e os m o r a d o r e s se t r a t a m a q u i c o m m u i t o Iuzimento,
[ fl. 501v. ] p o r q u e nas suas fazendas a m a i o r p a r t e c o n s e r v a / / c o m p o u c a despesa m u i t a
cavalaria,
A esta vila v ê m p a r a r todas as carregações, q u e s a e m d a B a h i a e P e r n a m b u c o
pelas estradas dos Currais e rio d e São Francisco, e nela, antes q u e e m o u t r a p a r t e ,
e n t r a m os g a d o s , c o m u m sustento das M i n a s e q u a s e r e p u t a d o c o m o o m e s m o
p ã o . Está esta vila e m altura d e dezenove graus e c i n q ü e n t a e dois m i n u t o s .
• Cidade da Bolívia de cuja região (sobretudo das minas de Cerro Rico) se exportaram milhares de
toneladas de prata entre meados do século XVI e o século XVIII, quando, cessou a produção.
909
Vila Nova d a R a i n h a
Vila N o v a do Príncipe
* 140 <
Relação dos *efeitos e cabedal de que consta a carga dos vinte [fl.505 ]
navios e duas naus de guerra de que se compõe a *frota do
Rio de Janeiro, que de lá saiu em 26 de março e entrou no porto
dessa cidade em 23 de junho de 1749, comandada por dom
Manuel Henriques de Noronha na nau Nossa Senhora das
Necessidades, *capitânia da frota
C a b e d a l p a r a as p a r t e s , e m a m b a s a s n a u s .
Diamantes
*Efeitos
3 U 0 5 7 *caixas d e a ç ú c a r .
U 6 4 0 *fechos d e açúcar.
U 2 4 7 *caras d e açúcar.
4 1 U 3 0 5 c o u r o s e m cabelo.
4 U 7 4 6 *meios d e sola.
1U043 *couçoeiras.
913
U 6 9 2 dúzias d e t a b u a d o de *tapinhoã.
1 U 5 1 6 *barris d e *mel e farinha.
U 8 7 3 curvas e vários p a u s .
U 1 5 0 *pipas d e azeite d e p e i x e .
1U870 pontas de marfim.
1 U 7 5 3 toros d e p a u s d e j a c a r a n d á .
U 6 6 1 *fardos d e b a r b a s d e baleia.
U 3 1 1 "surrões d e lã.
2 U 8 5 1 toros d e pau-brasil.
1 U 1 9 1 v a r a s d e m a n g u e p a r a parreiras,
U 8 5 0 *varais p a r a *seges.
Ü 2 3 0 escravos.
• 141 <
Relação dos *efeitos de que se compõe a carga dos cinco navios [fl.506 ]
que saíram do Maranhão e Grão-Pará em 28 de junho de 1749,
que principiaram a entrar no porto desta cidade de Lisboa
desde 15 até 20 de agosto de 1749
REI 8.1749.
U s o n a historiografia: Roberto Simonsen, tomando es-
tas relações de produtos exportados da América portuguesa nas
Dos effíttot* d frotas do primeiro semestre de 1749, demonstra, de u m lado, a
dot finco ÁV' importância dos valores representados pelo ouro e diamantes e,
ran&aâ' e C 9 de outro, a diversificação dos produtos agrícolas, que seria ca-
nòv de 1749 paz de compensar as perdas advindas da queda das exportações
irar na Pari dos metais preciosos [História econômica do Brasil (1500/1820). 8. ed.
dtfJe ati São Paulo: Nacional, 1978. p . 362-363).
C o m e n t á r i o p a l e o g r á f í c o : Escrita moderna. Texto im-
A presso. Letra típica da imprensa do século X V I I I , em que so-
bressaem o " s " simples ou duplo em forma da cajado invertido;
uso moderno do "v" e do "u", P a r a a acentuação, o agudo mar-
ca tonicidade ou abertura de vogal, como em "café"; o til d a
nasalização deslocado, como em "algodão". Uso do caldeirão
em forma de " U " , Título em itálico. (YDL)
Cópias impressas:
B O X E R , Charles R . A idade de ouro do Brasil: dores de crescimen-
to de u m a sociedade colonial. 2. ed. São Paulo: Nacional,
1969. p . 361-362.
S I M O N S E N , Roberto C. História econômica do Brasil (1500/1820).
8. ed. São Paulo: Nacional, 1978. p . 384.
A saber:
• 142 «
Relação do cabedal e *efeitos de que consta a carga dos 39 navios [fl.507 j
mercantes de que se compõe a *frota de Pernambuco,
comboiados pela nau de guerra Nossa Senhora da Lampadosa,
comandada pelo capitão de mar e guerra José Gonçalves Lage, que
saiu daquela praça no primeiro de maio de 1749 e entrou no porto
desta cidade de Lisboa a 20 de julho do mesmo ano.
Lisboa, na oficina de Pedro Ferreira, impressor da rainha
Nossa Senhora. Ano de 1749. Com todas as licenças necessárias
1 5 U 0 5 6 *cruzados e m 6 . 0 2 2 U 4 0 0 e m d i n h e i r o d o * d o n a t i v o .
3 0 U 4 6 0 cruzados e 320 *réis e m 8.122 *oitavas e 6 4 *grãos d e o u r o e m p ó .
2 U 1 4 0 cruzados e 220 réis e m 570 oitavas e 60 grãos de o u r o e m b a r r a .
8 U 5 1 2 c r u z a d o s e 3 . 4 0 4 U 8 0 0 réis e m d i n h e i r o p a r a a *bula.
U 7 5 I c r u z a d o s e m 200 oitavas e 24 grãos d e o u r o e m p ó p a r a a dita.
Para partes
7 8 7 U 4 8 7 c r u z a d o s e m d i n h e i r o p a r a particulares.
8 7 U 9 0 0 c r u z a d o s e m 2 3 U 4 4 0 oitavas d e o u r o e m p ó .
U 6 9 6 cruzados em 199 oitavas de o u r o e m p e ç a s .
I m p o r t a t u d o l m i l h ã o e I 3 U 7 3 5 cruzados.
E m * efeitos
1 3 U 2 9 0 *caixas de a ç ú c a r .
1 U 2 2 1 *fechos d e a ç ú c a r .
1 U 0 2 2 *caras d e açúcar.
9 8 U 2 6 6 *meios d e sola.
3 7 U 3 6 0 couros de atanado.
16U251 couros e m cabelo.
917
U 5 2 8 couros de veado.
U 5 5 3 *couçoeiras.
U 7 5 3 "barris d e doce.
U 3 9 9 barris de "melaço.
U 3 5 9 barris d e farinha.
U 0 0 4 barris de " i p e c a c u a n h a .
7 U 0 9 0 "quintais d e p a u - b r a s i l .
U 0 4 5 quintais d e pau-violeta.
U 0 6 0 quintais d e "tatajuba.
1TJ128 varas d e p a r r e i r a .
U 0 2 3 "varais d e "sege.
U 0 2 5 vigas.
U 1 4 0 escravos.
• 143 «
Descrição do bispado do Maranhão [fl.508 ]
d a C o m p a n h i a d e Jesus.
Igrejas p e r t e n c e n t e s a o *ordinário
Fundado em 1734.
Fundado em 1746.
os h á b i t o s corais d a q u e l a c a t e d r a l , q u e t a m b é m serve d e m a t r i z . E t e m a q u e l a
cidade d e confissão e c o m u n h ã o 9 9 8 pessoas, p o u c o m a i s ou m e n o s , o q u e consta-
va d o *rol d a "desobriga q u e eu m e s m o fiz vários anos.
H á m a i s n a cidade sete igrejas pertencentes ao "ordinário; Misericórdia, q u e
t e m só u m altar; R o s á r i o dos Pretos, t e m três; São João., q u e é a igreja dos solda-
dos, t e m três altares; Nossa S e n h o r a dos R e m é d i o s , t e m três altares; N o s s a S e n h o -
r a da C o n c e i ç ã o dos M u l a t o s , q u e t e m u m ; Nossa S e n h o r a d o D e s t e r r o , q u e t e m
outro altar, foi esta igreja de Nossa S e n h o r a d o D e s t e r r o a p r i m e i r a m a t r i z d a q u e -
la cidade, o n d e estiveram os primeiros palácios dos "governadores; igreja d e N o s -
sa S e n h o r a d a B o a H o r a , q u e está logo fora da cidade, d a m e s m a sorte está t a m -
b é m a dos R e m é d i o s .
A igreja m a t r i z da vilã d e T a p u i t a p e r a ^ tem q u a t r o "altares colaterais, além
d a *capela-mor. T e m esta m a t r i z p e r t o d e sete mil a l m a s d e confissão e c o m u -
n h ã o , segundo m e disse o vigário dela R o b e r t o R o d r i g u e s , e r e n d e 6 0 0 mil "réis.
A igreja m a t r i z do R i o M e a r i m , q u e t e m pessoas d e confissão e c o m u n h ã o
e
d
- Distância?
e
- Distância?
Quer dizer pedra jurada.
Distância?
^- Rende 150 mil réis.
1-
Distância?
j- Rende 200 mil réis.
k* Distância?
L
Rende 300 mil réis.
922
A igreja d e S ã o B e r n a r d o 111
do R i o P a r n a í b a t e m só u m altar, cuja freguesia
t e r á de confissão e c o m u n h ã o d u a s m i l pessoas, p o u c o mais o u m e n o s , e assim
esta igreja c o m o a d e Nossa S e n h o r a d a C o n c e i ç ã o das Aldeias Altas e as mais q u e
a d i a n t e n o m e a r são dos sertões. 111
A igreja d e Nossa S e n h o r a d o M o n t e d o C a r m o d e P i r a c u r u c a 11
é feita d e
p e d r a de cantaria, templo admirável tanto na sua grandeza como n o mais e o
oficio e digo q u e foi o m e l h o r q u e vi cá n o Brasil a respeito d a p e d r a r i a , t a n t o
assim q u e nestas M i n a s n ã o vi t e m p l o s e m e l h a n t e ; t e m d u a s torres magníficas e
"frontispício m u i t o b o m . T e r á esta freguesia três p a r a q u a t r o mil almas de confis-
são e c o m u n h ã o , p o u c o m a i s o u m e n o s , s e g u n d o m e disse o v i g á r i o dela J o s é
Lopes, e m t e m p o q u e Sua Excelência a *visitou.°
A igreja de S a n t o A n t ô n i o d o SurubiP t e m três altares, e a d e c i m a t a m b é m
t e m três, a d e Piracuruca. T e m esta igreja d ê S a n t o A n t ô n i o 3.50Q almas d e con-
fissão e c o m u n h ã o , está situada e m u m aprazível, vistoso e alegre c a m p o 9 e j u n t o
d a q u a l está u m a lagoa d e água tão admirável q u e os h a b i t a d o r e s d a q u e l e *país,
b e b e n d o - a , e x p e r i m e n t a m s e m p r e b o a s a ú d e e n ã o a d o e c e m d e sezões, p o s t o q u e
a á g u a d e l a esteja s e m p r e t o l d a d a p e l o g r a n d e c o n c u r s o d e g a d o s q u e ali v ã o
saciar a sede.
[ fl. 510 ] A igreja d e Nossa S e n h o r a do Desterro dos Crateús " t e m só u m altar p o r n ã o
1
III.
Distância?
n. Rende 400 mil *réis.
o. Rende perto de quatro mü *cmzados.
P Rende três para quatro mil cruzados.
Distância?
r.. Distância?
s. Rende 300 mil réis.
t.
Distância?
u. Rende 600 mil réis.
V.
Distância?
923
w
- Rende quatro mil cruzados.
*~ Sitio e distância?
Y- Distância?
z
" Rende 3 mil cruzados.
^ Rende 300.000 réis.
a
k- Que casta de capelas?
924
Esta diferença?
925
A igreja d a f a z e n d a do Q u e b r a p o t e s , d a ilha d o M a r a n h ã o , o n d e t e r á d e
g e n t e , entre escravos e índios, trezentos, p o u c o mais o u m e n o s .
A *capela d e Nossa S e n h o r a d a G u i a , n a dita ilha.
A capela d a S e n h o r a S a n t a n a , nas fazendas q u e t e m o c o n v e n t o nas Aldeias
Altas, nas m a r g e n s do rio I t a p e c u r u .
O c o n v e n t o d a vila d a T a p u i t a p e r a t e m u m a c a p e l a n a a l d e i a d e í n d i o s ,
j u n t o à b a í a do C u m ã .
Esta diferença?
926
Igrejas p e r t e n c e n t e s ao c o n v e n t o d e S a n t o A n t ô n i o
P r a ç a , r u a do M o n t e A l e g r e , r u a d a P r a i a G r a n d e , r u a d e N o s s a S e n h o r a
das M e r c ê s , r u a Nossa S e n h o r a do C a r m o , r u a N o v a , r u a d e J e r ô n i m o G o n ç a l -
ves, r u a de Isabel G o m e s , r u a de M a n u e l G a s p a r , r u a de Nossa S e n h o r a d a
C o n c e i ç ã o , r u a das Barreiras, r u a d a M a d r e de D e u s , r u a d a P a z , r u a das Flores,
[ fl. 5 1 2 ] r u a G r a n d e , r u a d o U r u c u , r u a d e S ã o J o ã o , r u a de / / N o s s a S e n h o r a dos R e m é d i o s ,
r u a de Santo Antônio, rua do Cruzeiro, rua do Saavedra, rua da Ponta da Cuia,
r u a d a F o n t e d a T e l h a , r u a dos V i e g a s , r u a d o Egito, b e c o d a s A r r a i a s .
Estas são as ruas q u e t e m a cidade de São Luís do M a r a n h ã o .
E s t á esta c i d a d e s i t u a d a a o p o e n t e a m a i o r p a r t e , e a o u t r a a o sul. N ã o h á
n e l a , a i n d a n o t e m p o de i n v e r n o , l a m a s pelas r u a s , p o r s e r e m de areias e
outras calçadas de p e d r a , e m p a r t e . T e m q u a t r o fortalezas, a saber: duas no
Baluarte, a e
u m a e m São Francisco e outra na P o n t a da Areia, p o r onde en-
t r a m os n a v i o s , a i n d a q u e c o m g r a n d e d i f i c u l d a d e , p o r h a v e r d e f r o n t e d e s t a
fortaleza u m canal que n ã o tem mais que q u a t r o "braças de fundo, e naquele
l u g a r se t e m p e r d i d o v á r i o s navios. E é t ã o a n g u s t o o dito c a n a l q u e a r r e d a n -
d o - s e p a r a q u a l q u e r d a s p a r t e s i n f a l i v e l m e n t e se p e r d e m , p e l a " m á q u i n a d e
c o r o a s d e a r e i a q u e h á n a q u e l e s m a r e s e j u n t a m e n t e p e d r a r i a ; e assim q u e os
n a v i o s p a s s a m este e s t r e i t o , logo t e m p o r t o a d m i r á v e l , o n d e a n c o r a m e ficam
livres d a s t e m p e s t a d e s d o m a r , p o r ser a q u e l e rio u m a f a m o s a e n s e a d a o n d e
os v e n t o s n ã o s ã o n o c i v o s às e m b a r c a ç õ e s d a q u e l a g r a n d e z a . F i c a m , p o i s ,
estes a n c o r a d o s n a d i t a e n s e a d a p a r a a p a r t e d o p o e n t e d e f r o n t e d a c i d a d e ,
ae
- A grandeza delas?
927
at
- Que bispo?*
a
£- Como foi isto?
R i o s q u e fazem b a r r a n o rio M e a r i m d a p a r t e d o p o e n t e
A vila d e T a p u i t a p e r a , a n
d e q u e é s e n h o r u m fidalgo e nela a p r e s e n t a "ouvidor
e "pároco. D e s t a vila se sustenta a cidade do M a r a n h ã o d e farinhas, a r r o z , feijão,
m i l h o , algodão, azeites d e m a m o n a , de gergelim e d e frutas e a l g u m peixe. E t e m
c a p i t ã o - m o r e "juízes.
'• Distância?
936
A vila do I c a t u a i
é da s e n h o r a r a i n h a . T e m S e n a d o e " c a p i t ã o - m o r . D e s t a
vila vão m u i t a s b a u n i l h a s p a r a a cidade do M a r a n h ã o , sabões e azeites de a n d i r o b a .
S ã o estas u m a s frutas r e d o n d a s d o t a m a n h o d e u m a g r a n d e m a ç ã e p o r d e n t r o t ê m
u m a certa m a s s a d e q u e se faz o azeite. D e s t e h á imensidade pelas m a t a s d o rio
Munim.
A vila d a M o c h a J t e m *ouvidor, ^ c o m jurisdição mais d e d u z e n t a s "léguas,
a a
q u e é a ultima freguesia dele, 300 léguas, a saber: 80 até as Aldeias Altas e 220 até
a freguesia dita. T e m d e largo, desde a travessia d a B a h i a até a fazenda d a Bata-
lha, d a freguesia d e São B e n t o das Balsas, cento e tantas léguas.
Isto é o q u e está p o v o a d o d e fazendas, p o r q u e a m a i o r p a r t e daquelas terras
estão todas p o v o a d a s (como j á dissemos) de "gentilismo, p r i n c i p a l m e n t e o distrito
das Balsas, q u e é tão dilatado que m e disse o capitão-mor das conquistas A n t ô n i o
G o m e s Leite q u e a n d a r a muitos meses p o r ele sem saber o n d e finalizava, e que
e r a m terras fertilíssimas e a b u n d a n t e s d e caças e pescados, q u e nelas h á c a m p o s
admiráveis e dilatados de tal m a n e i r a que se n ã o a c a b a r ã o d e p o v o a r até o fim do
m u n d o . Neles h á várias nações de "gentilismo q u e c o m e m uns aos outros q u a n d o
m o r r e m , e ele, dito capitão-mor, t a m b é m m e disse c o m e r a u m p e d a ç o d e u m a m ã o
d e u m m e n i n o q u e elés t i n h a m assado debaixo do c h ã o , isto é, q u a n d o o "gentio
a1.
Distância?
a
J'
Distância?
É a Ouvidoria do Piauí
'" Que soldados?
a
937
O autor refere-se a argumentos de Aristóteles contidos na Física, passim, mas provavelmente sobre-
tudo no livro VIII, 1, 4, 5.
939
• Distância?
940
R i o s / / d o a r c e b i s p a d o d a B a h i a q u e f a z e m b a r r a d o n o r t e p a r a o sul [ fl. 5 2 3 ]
g r a d e s d e p a u p r e t o , e é d e a d m i r a r q u e e s t a n d o a dita igreja e m m e i o , d i g o ,
debaixo d e u m a r o c h a nela h á terra q u a n t o baste p a r a a sepultura d o c o r p o h u m a -
n o e m toda a p a r t e d a igreja, p a r a a qual se sobe p o r u m a s escadas d e p e d r a p e l a
p o r t a q u e está e n t r e o sul e o p o e n t e .
[ fl. 523v. ] A igreja dos M o r r i n h o s t e m cinco altares; é t e m p l o / / d e e s t u p e n d a arquite-
t u r a e está r i c a m e n t e p a r a m e n t a d a d e p r a t a e o u r o e o r n a m e n t o s , assim c o m o o
está a d o B o m J e s u s , acima dita. E esta igreja dos M o r r i n h o s filial d a m a t r i z das
A l m a s , d a B a r r a d o R i o das Velhas.
M u i t a s m a i s igrejas e "capelas h á , p o r é m só faço m e n ç ã o destas, p o r m a i s
especiais.
S ã o d o M a r a n h ã o a estas M i n a s G e r a i s setecentas "léguas, p o u c o m a i s ou
m e n o s , a saber: trezentas à s e r r a d a B o a Vista, p o r o n d e confina o b i s p a d o do
M a r a n h ã o c o m o d e P e r n a m b u c o , e quatrocentas a esta C i d a d e M a r i a n a . Estas são
as notícias q u e sucintamente posso dar do dito bispado do M a r a n h ã o e dos sertões
p o r o n d e vaguei.
Advirto q u e e m São M a r c o s , j u n t o à cidade do M a r a n h ã o , está u m a p e ç a de
artilharia q u e faz sinal à cidade assim q u e os navios avistam a capela d o dito santo
ou, p a r a m e l h o r dizer, assim q u e o artilheiro os avista etc.
T e m tido o bispado d o M a r a n h ã o os bispos: o p r i m e i r o foi d o m frei Francis-
co d e S ã o J e r ô n i m o , q u e g o v e r n o u cinco anos e foi m o r r e r e m Lisboa; o s e g u n d o
d o m frei J o s é D e l g a r t e , q u e g o v e r n o u sete anos; d o m frei M a n u e l d a C r u z , q u e
g o v e r n o u sete; d o m frei Francisco d e Santiago, q u e a t u a l m e n t e g o v e r n a . 5
Até o período referido, o Maranhão tivera os seguintes bispos: dom frei Antônio de Santa Maria,
dom frei Gregório dos Anjos, dom frei Francisco de Lima, domfreiTimóteo do Sacramento, dom
frei José Delgarte, dom Frei Manuel da Cruz e dom frei José de Santiago.
Dados sobre o Pará com letra de Caetano da Costa Matoso.
943
• 144 «
[1] Descrição cosmográfica por espaços geométricos do [fl.525 ]
continente mediterrâneo das Terras Novas do bispado do
Grao-Para^ confinantes pela parte austral com o do Maranhão,
pela meridional com o de Pernambuco e pela setentrional
com o Rio de Janeiro, repartidas em seis paróquias,
a beneplácito de seu Excelentíssimo e
Reverendíssimo senhor bispo dom frei Guilherme de São José,
do Conselho de Sua Majestade
[17] Canabrava
[18] Ad perpetuam rei memoriam.^ *Polé q u e m a n d o u l e v a n t a r d o m Luís de
M a s c a r e n h a s p a r a q u e m n ã o lhe desse ouro n a "finta q u e b o t o u p a r a si.
[19] Palma
[20] E s t r a d a p a r a Goiás e m i n a s dos Crixás.
[21] Arraias
[22] Boquira
[23] Arraial das Arraias
[24] Ribeirão do Custódio
[25] Carmo
[26] Santo Antônio
[27] Estrada p a r a Goiás
[28] Carmo
[29] Santo Antônio
[30] São Gonçalo
[31] São J o ã o
[32] Manuel Dias
[33] São Cosme
[34] Carmo
[35] Barra
[36] Estrada p a r a a Barra da Palma
[37] São Luís
[38] Conceição
[39] T r a v e s s i a deserta
[40] Coelho
[41] São J o s é
[42] São Tiago
[43] Pestana
[44] Madureira
[45] Bernardino
[46] Barra da Palma
[47] Estrada q u e v e m d o rio G r a n d e p a r a as T e r r a s N o v a s
[48] Igreja de S ã o Félix d a B a r r a d a P a l m a , m a t r i z
[49] Coelho
[50] Santana
[51] Pilar, fazenda
[52] Lages
[53] R i o d e M a n u e l Alves
[54] Santana
[55] Almas
[56] Dionísio
[57] Vieira P i z a r r o
[58] Brejo
[59] Morrinhos
[60] Correia
[61] Natividade
[62] Baixo Arraial da Natividade
[63] Bezerra
[64] D e C i m a [Arraial de C i m a da Natividade]
[65] São Miguel
[66] Raposo
[67] Espírito S a n t o
[68] M a d r e de D e u s
[69] Estrada p a r a o Pontal
[70] São J o s é
[71] S a n t a Isabel
[72] Fernandes
[73] Canobre
[74] Braba
[75] R i o de S a n t a T e r e s a
[76] N o v o d e s c o b e r t o do P o n t a l , distante 12 *léguas
[77] Pizarro
[78] Serranias
[79] Rio Araguaia
[80] Equinocial
2. Divindade alegórica dos gregos e dos romanos, personificação do acaso e do capricho da sorte.
3. Cidade da Asia Menor que resistiu ao cerco grego durante dez anos. Os episódios concernentes a essa
guerra acham-se narrados na Ilíada, de Homero.
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Nome romano de Héracles grego, semideus filho de Zeus e Alcmena, que como expiação pelo
assassínio de sua esposa foi obrigado por Eristeu, rei de Micenas e Tirinto, a executar 12 tarefas
consideradas impossíveis. Além dessas realizou outras façanhas, entre as quais a que se faz referência
aqui, a separação das montanhas Calpe {na Europa) e Ábila (na África), que formam o estreito de
Gibraltar, local tido como o fim do mundo. Ao separar as montanhas, permitindo a comunicação
entre o Atlântico e o Mediterrâneo, Hércules plantou em cada uma delas uma coluna com a legenda
'Não além'. Em sentido figurado, a expressão colunas de Hércules significa o limite extremo que é
possível alcançar numa arte ou ciência.
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Caderno primeiro
C o m e ç a a p o v o a ç ã o da cidade de S a n t a M a r i a d e Belém d o G r ã o - P a r á e m a
p o n t a c h a m a d a a da Salinas, e m r a z ã o d e ter, c o m efeito, u m a s salinas, as quais
são d e Sua M a j e s t a d e , e t e m aí u m "capitão q u e se faz todos os três anos; é d e
r e n d i m e n t o bastante. Estão t a m b é m j u n t o c o m ele três, até seis soldados. T e m aí
u m a g r a n d e p e ç a d e artilharia, q u e tem sua serventia q u a n d o v e m a *frota p a r a
avisar os navios p a r a se f a z e r e m n a volta do m a r e m r a z ã o d e se l i v r a r e m dos
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d a d e , e todos os anos vão / / vários "círios, tanto d a cidade c o m o de outras p a r t e s , [ fl. 529. ]
e se fazem grandiosas festas, a q u e c o m u m e n t e v ã o assistir os senhores "bispos e
"generais.
E esta vila m u i t o p o v o a d a , b e m a s s e n t a d a e b e m a r r u a d a . Fica sobre u m
g r a n d i o s o rio, m u i t o a b u n d a n t e de p e i x e , t a n t o d e á g u a d o c e c o m o d a salgada.
V i v e m os m o r a d o r e s dela d e p l a n t a r e m algodões, m a n t i m e n t o s de toda a casta (e
j á hoje p l a n t a m seus "caçoais), de salgas de peixe e m u i t o marisco, q u e levam p a r a
a cidade, p r i n c i p a l m e n t e n o t e m p o d a Q u a r e s m a . Fez-se esta vila muito populosa
d e m o r a d o r e s , e m r a z ã o dos muitos q u e se m u d a r a m d a célebre vila q u e a t r á s
referimos, c h a m a d a o C a e t é . T ê m todos estes conventos m u i t a s fazendas p o r aqueles
rios, m u i t o galantes pelo belo passadio c o m o pelo r e n d i m e n t o e m u i t o aprazíveis,
p r i n c i p a l m e n t e a dos p a d r e s d a C o m p a n h i a , q u e nisso são muitos "pichosos.
S e g u e m - s e destas e m d i a n t e e d e p e r m e i o muitas dos m o r a d o r e s d a dita vila,
c o m o t a m b é m d e certa p a r t e e m diante dos d a c i d a d e , quase todas à beira destes
grandiosos rios, q u e uns t ê m de largo u m q u a r t o d e "légua, outros a m e t a d e , aos
quais v ê m d e s e m b o c a r muitos e muitíssimos t a m b é m b a s t a n t e m e n t e largos, e c o m o
t a m b é m vários riachos, pelos quais a c i m a t a m b é m estão várias fazendas, até c h e -
gar à b a í a d o Sol, a o n d e c o m u m e n t e d ã o fundo os navios, p o r ser m u i t o cheia d e
secos e b a n c o s d e areia. Nesta h á m u i t a s fazendas e belas, p o r ser m u i t o aprazível;
dela saem m u i t o s rios, até p e r t o da cidade. Depois dela segue-se a b a í a d e S a n t o
A n t ô n i o , p e q u e n a m a s muito brava. Depois desta seguem-se dois rios, u m c h a m a -
do M a g u a r i a ç u e o o u t r o M a g u a r i - M i r i m , e o u t r o q u e v e m d a costa. T o d o s três
d e s e m b o c a m ou a eles v e m desembocar o d a cidade. P o r é m depois destes passados
chega-se à p o n t a do Mel, muito brava e m razão de d e s e m b o c a r e m tantos rios. Desta
se avista a cidade. Nesta m e s m a p o n t a têm os religiosos do C a r m o u m a gravíssima
fazenda c o m grandes casas, igreja e "fábrica. Nela é muito aprazível, p o r descobrir
tantos e tão grandes / / rios. [ fl. 529v. ]
D e p o i s desta, passando-se três m o r a d o r e s , segue-se a dos religiosos de N o s s a
S e n h o r a das M e r c ê s , c h a m a d a a fazenda d e Val-de-Cães. Esta fazenda, g r a n d i o s a d e
tal sorte q u e fica s o b r e o rio c o m u m g r a n d e cais, t e m u m a b e l a c a s a r i a c o m
grandissíssima v a r a n d a p a r a o m a r , t e m muitas celas e salas (pois c o s t u m a m ir à tal
fazenda os senhores bispos e generais a divertirem). C o n s t a esta fazenda, além das
grandiosas casas q u e t e m , ter u m a bela igreja c o m b o n s p a r a m e n t o s e c o n t i n u a -
m e n t e u m " a b a d e , q u e é m e s m o religioso, e d e c o m p a n h e i r o u m leigo; t e m d e
"fábrica u m " e n g e n h o real, coisa e s t u p e n d a e m q u e fazem m u i t o a ç ú c a r e "aguar-
d e n t e d e c a n a . P a r e c e a tal fazenda u m a vila, e m r a z ã o d e t e r e m os tais religiosos
a r r u a d o t o d a á fazenda — u m a r u a consta d e carpinteiros, a o u t r a d e torneiros, a
o u t r a d e m a r c e n e i r o s , a o u t r a de ferreiros, a o u t r a d e serralheiros - duas olarias,
t a n t o d e telha c o m o d e tijolo, potes e m a i s louças. O s "oficiais destas fábricas são
mestiços, m a m e l u c o s , m u l a t o s e "tapuios crioulos, cuja f a z e n d a d á m u i t o l u c r o
aos tais religiosos, p o r q u e q u a n d o h á a l g u m a o b r a d e e m p e n h o n a c i d a d e , t a n t o
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S e g u e m - s e d u a s ruas, u m a c h a m a d a a d a P r a i a e a o u t r a a r u a D i r e i t a d e
S a n t o A n t ô n i o , e m cuja esquina está o palácio e m q u e m o r a o " c h a n t r e e "provisor
do b i s p a d o c o m s e u i r m ã o , " c ó n e g o p r e s b í t e r o d a sé. T e m este p a l á c i o q u i n z e
j a n e l a s p a r a a p a r t e d a r u a Direita, rasgadas c o m [grandes?] sacadas: f o r a m p i n t a -
das de v e r d e e frisadas d e o u r o , c o m o t a m b é m as bolas todas d o u r a s ; u m a g r a n d e
p o r t a n o m e i o , toda de p e d r a r i a ; as "casas p o r baixo c o m as j a n e l a s d o m e s m o
feitio q u e as d e c i m a . / / E p a r a a o u t r a p a r t e , q u e é u m a l a r g a travessa q u e [fl. 531 ]
a c o m p a n h a o m u r o d a cerca dos p a d r e s , t e m o tal palácio treze j a n e l a s d o m e s m o
feitio e t a m b é m u m a p o r t a . As salas de c i m a são b e l a m e n t e p i n t a d a s e d o u r a d a s ,
t ê m todas as portas e j a n e l a s cortinas d e d a m a s c o , boas cadeiras d o m e s m o . T e m
o dito p r o v i s o r , e m u m a das m a i o r e s salas e n a c a b e c e i r a d e l a , u m m a j e s t o s o
o r a t ó r i o c o m belas i m a g e n s e o r n a m e n t o s e m u i t a s p e ç a s d e p r a t a e o u r o , e as
mais p a r e d e s até o teto estão cheias de livros, postos e m suas b e m d o u r a d a s estan-
tes. E p o d e - s e e n t r a r n a tal sala, p o r t u d o ser p r e c i o s o , e a r a z ã o é p o r q u e o
sobredito provisor é n o q u e cuida e c o m mais n a d a se m e t e . N ã o falta à sé, só se
está d o e n t e . A n d a e m u m a b e m d o u r a d a "cadeira d e dois "varais, q u e a c a r r e g a m
dois esforçados n e g r o s e u m m u l a t o , c o m u m c h a p é u d e sol d e d a m a s c o v e r d e
forrado d e seda b r a n c a e c o m g r a n d e s franjões de o u r o e m r o d a . O i r m ã o "cóne-
go t a m b é m se trata c o m o m e s m o estado. T e m mais o palácio g r a n d e s v a r a n d a s e
b o m j a r d i m . Defronte m o r a o i r m ã o , pois são estes três, q u e é o "vigário-geral. As
suas "casas t a m b é m são m u i t o g r a n d e s , p o r é m as p r i n c i p a i s ficam c o m a frente
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A r u a D i r e i t a d e S a n t o A n t ô n i o , d a m e s m a sorte, c o n t i n u a c o m a m e s m a
b e l e z a d e casas, p o r é m p a s s a d a s c i n c o até seis m o r a d a s a d i a n t e do p a l á c i o do
c h a n t r e está a igreja d a Misericórdia. T e m esta igreja u m g r a n d e a d r o e m r o d a
[ fl. 531v. ] com quase meia parede, que o cerca e coberto por cima; tem duas / / portas,
principal e "travessa; está e m b o m t a m a n h o . T e m três altares — são todos douros e
o c h ã o azul —, t e m m u i t o b o a sacristia, bons o r n a m e n t o s , p o r q u e a " i r m a n d a d e é
m u i t o rica. T e m u m grandioso hospital, e é b e m servido, p o r ter m u i t o s escravos
dele e c o m boas r e n d a s , p o r ter várias fazendas suas p o r ter tido m u i t a s "deixas.
T e m u m a b o a fazenda de g a d o p a r a d a r leite e vitelos p a r a os enfermos.
Seguindo a r u a c h a m a d a a d a Praia, p o u c a distância adiante, o n d e fica a dita
Misericórdia (entendendo, p o r é m , q u e esta rua é q u a s e toda d e casas de sobrado)
fica a igreja e c o n v e n t o d e Nossa S e n h o r a das M e r c ê s , e m u m g r a n d e largo ou
p r a ç a , d o n d e saem cinco ruas, q u e u m a delas é a d a Misericórdia. T e m este con-
vento u m a g r a n d e igreja, sem e m b a r g o q u e j á está a l g u m t a n t o velha. C o n t u d o ,
t e m cinco altares, e o m o r é de b o a "talha, n o v a e d e n o v o d o u r a d o , os o r n a m e n t o s
são preciosos e tão belos q u e sendo a igreja antiga (porém m u i t o alegre) fica muito
mais c o m os tais seus o r n a m e n t o s e boas peças d e prata; a sacristia é coisa estupen-
d a pelos b o n s q u a d r o s q u e t e m e bons o r n a m e n t o s q u e nela se v ê e m , c o m o tam-
b é m u m b o m altar, q u e t e m b e l a m e n t e o r n a d o , e teto m a r a v i l h o s a m e n t e p i n t a d o ;
t e m m a i s b o n s "claustros, t o d o s d e arcos, q u e c a e m p a r a u m j a r d i m , e n o s tais
claustros ou c o r r e d o r e s dele estão as celas dos religiosos leigos; t e m t a m b é m nos
tais [claustros] u m a "capela muito devota e b e m o r n a d a o n d e se v e n e r a a i m a g e m
d o S e n h o r dos Passos, e é d e u m religioso leigo. E n q u a n t o aos d o r m i t ó r i o s d e
c i m a , são q u a t r o e m q u a d r o e só d e u m a p a r t e t e m celas e d a o u t r a t u d o são
v a r a n d a s , t a m b é m e m q u a d r o p a r a o tal j a r d i m . F o r a destes t e m u m d e g r a n d e
altura e largueza e c o m grandes e espaçosas v a r a n d a s q u e c a e m p a r a a cerca. Este tal
dormitório sendo b a s t a n t e m e n t e c o m p r i d o consta só d e três celas ou salas — a pri-
m e i r a é do "comissário-geral, a segunda do " c o m e n d a d o r , a terceira do "secretário
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[ fl. 535 ] "serpentina. D á Sua / / Majestade trinta índios forros todos os m e s e s p a r a serviço
do s e n h o r bispo, c o m obrigação d e lhe d a r duas "varas d e p a n o todos os meses,
q u e é b e m servido e livra-se. d e c o r r e r risco a escravo.
T e m ò s e n h o r bispo de " c ô n g r u a n a terra três mil "cruzados e n o R e i n o , q u e
vai d a B a h i a , q u i n h e n t o s mil "réis; t e m mais setecentas tainhas secas, q u e é o "pão
d e m u n i ç ã o , e as mais benesses q u e lhe t o c a m , p r i n c i p a l m e n t e o q u e lhe vai das
m i n a s d a N a t i v i d a d e , Carlos M a r i n h o , São Félix e M a t o Grosso, q u e t u d o p e r t e n -
ce a o P a r á .
E m esta travessa a c a b a a r u a d a Praia, p o r q u e o q u e se segue p a r a d i a n t e são
as casas das c a n o a s d e S u a M a j e s t a d e , s o m e n t e cobertas p o r cima, e debaixo estão
as ditas canoas, q u a n d o n ã o a n d a m e m viagem, e é e m r a z ã o d e lhe n ã o c h o v e r
n e m lhe d a r o sol e n e m o m a r as "estruir q u a n d o n ã o é necessário. T e m s e m p r e
dois soldados de g u a r d a . A r u a o n d e sai a sobredita travessa d o palácio é a r u a e m
q u e a t r á s falamos. Passa p e l o a d r o d a M i s e r i c ó r d i a , é esta m u i t o l a r g a e b e m
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n a sua igreja. V ã o todos os dias duas vezes à igreja a rezar e a dizer a doutrina de
q u e são todos muito peritos, pelo exercício q u e têm, e os p a d r e s n o fim lhes fazem
sua prática. Estes se o c u p a m e m fabricar algodões, p a r a fazer redes e t a m b é m fazem
muitas cuias c o m boas pinturas, e tudo isto v e n d e m aos sertanejos q u e p o r aqueles
sertões a n d a m a negociar. O s h o m e n s ocupam-se e m fazer cacau, manteigas [de]
tartarugas p a r a os missionários m a n d a r e m aos religiosos do convento e outros alu-
[ fl. 543v. ] gam-se aos sertanejos p a r a / / r e m a r e m as canoas.
T e m o u t r a q u e está e m u m rio m u i t o f ú n e b r e , e h á n e l e m u i t a s d o e n ç a s
n a s v a z a n t e s , d i z e m ser p r o c e d i d o d a s raízes d e c e r t a s á r v o r e s q u e n a s m a r -
gens d o tal rio h á , pois a t é os m e s m o s peixes m o r r e m e v ê m b o i a n d o s o b r e a
água, inchados. N a aldeia [não prossegue?] tanto, p o r ter u m limitado riacho
d o n d e [ b e b e m ? ] e ser l e v a n t a d o a o r i o , pois este cai d e s p e n h a d o p o r p e d r a s
n o r i o g r a n d e , e c o m o nele n ã o e n t r a m suas á g u a s é b e m l i v r a d o , o q u e n ã o
t ê m os o u t r o s . A esta a l d e i a c h a m a m o C a r a c u . T e r á o i t o c e n t a s a l m a s , p o u c o
[ fl. 547v. ] m a i s o u m e n o s , e n t r e p e q u e n o s / / e g r a n d e s , É g e n t i o disforme n a g r a n d e z a
e a i n d a n o s m e m b r o s , c o m o t e r e m u m a s m ã o s g r a n d e s e os b r a ç o s finos, as
e s p á d u a s l a r g a s , e b a r r i g u d o s , e as p e r n a s finas, e o u t r o s c a b e ç u d o s . S ã o í n d i o s
m u i t o r ú s t i c o s e r u d e s p a r a a p r e n d e r e m e c o m p r e e n d e r e m a d o u t r i n a cristã,
n ã o s ã o a m i g o s d e g u e r r a s n e m n u n c a os b r a n c o s p a r a isso os c o n v i d a r a m ,
p o r é m são m u i t o t r a b a l h a d o r e s d e m a n t i m e n t o s , f a z e m m u i t a s r o ç a s d e fari-
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n h a , feijão, a r r o z , a l g o d õ e s , c a r á s e b a t a t a s , e só nisto c u i d a m , s u p o n h o p o r
serem muito comilões. A p a n h a m no tempo muito cacau, cravo e "salsaparrilha,
q u e t u d o d ã o aos p a d r e s , d e q u e lhes r e s u l t a g r a n d e p r o v e i t o . S ã o o b e d i e n t e s
aos m i s s i o n á r i o s e g o s t a m d e v e r festas n a igreja c o m m u i t a s l u z e s . A d i t a é
g r a n d e , t e m só u m a l t a r , p o r é m b e m p r e p a r a d o . O "hospício está b e m situa-
d o e p e g a d o à m e s m a igreja; t e m s e m p r e dois religiosos c o n t i n u a m e n t e .
O "principal era índio fúnebre e melancólico, e diziam os p a d r e s p a r e c i a lhe
v i n h a p o r g e r a ç ã o . Este tal estava s e m p r e m e t i d o e m casa, algumas t a r d e s saía a o
passeio p o r t o d a a aldeia e logo saía à ribanceira sobre o rio, e o seu divertimento
e r a m a n d a r p e s c a r aos j a c a r é s , q u e os há m e d o n h o s e disformes p o r s u a g r a n d e z a .
P o r é m foi m a l sucedido neste divertimento, p o r q u e u m a t a r d e (é d e se saber q u e
o m o d o c o m q u e p e s c a m estes animais é c o m u m a c o r d a grossa feita d e "pita, q u e
é coisa m u i t o forte, e n o fim u m a cruz d e p a u rijo, e c a d a braço é d e dois paus e u m a
cruz p o r baixo e o u t r a p o r cima, e no meio a [isca?], e depois d e b e m a m a r r a d a
b o t a m a o m a r , o j a c a r é logo v e m , p o r ser m u i t o veloz n o engolir, e m r a z ã o d e
q u a n d o pega c o m a boca dá u m a rabanada c o m o rabo para ajudar o bocado,
p o r q u e t e m a b o c a muito rasgada e as goelas largas, e engole a tal isca até o b u c h o ,
e depois d e o cansarem o p u x a m p a r a / / a terra e lhe d ã o muitos tiros até o m a t a - [ fl. 5 4 8 ]
r e m , m a s se estes lhe n ã o a c e r t a m nas fontes são debalde, p o r q u e o mais c o r p o é
cascudo e n ã o lhe entra bala) e estando neste tal divertimento, a p a n h a r a m u m destes
m u i t o grandes, acudindo toda a aldeia e os padres a v e r e m tal m o n s t r o , e vendo-se
este exasperado correu m e s m o p a r a a terra, e correndo velozmente pela p r a i a p a r e -
cia q u e r e r c o m e t e r a ribanceira, q u e c o m tal investida fugiu m u i t a g e n t e , m a s o
m a l i g n o do m o n s t r o a b a i x o u a cabeça e q u e b r o u os m e m b r o s e se fez p o r q u a s e
m o r t o . Atiraram-lhe muitos tiros e assentaram estava m o r t o , p o r é m n e n h u m o q u e -
ria ir certificar, n e m p o r m a n d a d o do principal n e m dos padres, e os ameaços n ã o
valiam ao temor. Achava-se entre estes o filho mais velho do principal e q u e o havia
suceder. Queria-lhe m u i t o . Ele o merecia, p o r ser d e b o a presença e n t r e tantos feios,
tinha b o m gênio, amigo dos brancos e principalmente dos seus p a d r e s , c o m q u e m
sempre estava. V e n d o este q u e n e n h u m se resolvia ir a o tal e x a m e , d e u o "bastão a
u m seu pajem, e p ô s o c h a p é u n a cabeça, e pegou d e u m m a c h a d o , e d e todos foi
requerido a q u e n ã o fosse, m a s ele, c o n t u m a z , d e sorte q u e os q u e estavam p e g a n d o
n a corda n ã o t i n h a m sentido mais q u e tão-somente no m o ç o , e o j a c a r é assim c o m o
se chegou a o p é dele e foi levantando o m a c h a d o p a r a lhe d a r o golpe n a cabeça
este d e u u m a r a b a n a d a c o m o r a b o tão ligeira q u e m e t e u a o miserável atravessado
n a boca, e c o r r e n d o pela p r a i a se m e t e u c o m ele ao m a r . O s q u e estavam c o m a
corda, uns l a r g a r a m de ver tal coisa e outros foram d a ribanceira abaixo, de q u e
ficaram b e m maltratados. O j a c a r é a i n d a surgiu duas vezes c o m ele acima d a água.
L a n ç a r a m logo canoas atrás, fizeram as diligências possíveis, p o r é m t u d o b a l d a d o .
H o u v e muito p r a n t o n a aldeia, m u i t a tristeza nos padres. O p a i , se eles n ã o fossem
que o consolavam c o m os mais filhos q u e tinha c e r t a m e n t e m o r r e r i a . M a i s d e a n o
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d r e s , m a s p o u c a s vezes os n ã o t e m , p o r q u e o rio é d e m u i t o n e g ó c i o , e se os
b r a n c o s são d o R e i n o faz-lhe m u i t o a g a s a l h o e p r e s e n t e s e m i m o s , e e n t ã o lhes
c o m e ç a a p e r g u n t a r m u i t a coisa d e lá e os ouve c o m m u i t a a t e n ç ã o , pois o intento
e s u a v o n t a d e é ir p a r a o R e i n o a ver, e t e m a j u n t a d o seus d i n h e i r o s dos seus
negócios. O s p a d r e s l e v a r a m - n o à c i d a d e , q u e ficou a d m i r a d o , dizendo " Q u e será
o R e i n o à vista disso?", e se queria ficar n a cidade se os p a d r e s n ã o o i m p o r t u n a s -
s e m m u i t o d i z e n d o - í h e q u e os seus vassalos e filhos h a v i a m desconfiar d i z e n d o
q u e os p a d r e s ou b r a n c o s o t i n h a m m o r t o e se m e t e r i a m ao m a t o e se t o r n a r i a m
o u t r a vez a o seu *gentilismo. O índio ouviu estas razões c o m a t e n ç ã o e as aceitou.
O s "prelados e religiosos graves lhe fizeram m u i t o s m i m o s d e vários trastes, d e
[ fl. 552 ] q u e ficou m u i t o / / alegre e s e m p r e p r o m e t e n d o - l h e havia ir ver o R e i n o p a r a o
c o n t e n t a r , T e m esta aldeia b o a igreja c o m bons p r e p a r o s e o "hospício dos p a d r e s
t a m b é m está feito; c o m direção t e m c o n t i n u a m e n t e dois religiosos e u m " d o n a t o .
E m u i t o útil esta aldeia aos p a d r e s , e m r a z ã o de fazerem m u i t o c a c a u e "salsa, pois
este r i o , a i n d a q u e os outros falhem, c o m o às vezes s u c e d e , e ficam m u i t o s h o -
m e n s p e r d i d o s , e m r a z ã o dos gastos feitos e n ã o c o l h e r e m fruto, m a s este d e q u e
falamos s e m p r e d á o mais ou m e n o s , e n ã o é tão trabalhoso d e a p a n h a r c o m o nos
o u t r o s o é, p o r t e r e m m u i t o s a l a g a d i ç o s e a n d a r e m os " t a p u i a s q u a s e s e m p r e
metidos n a á g u a c o m m u i t o risco, e este é quase todas as suas b e i r a d a s d e t e r r a de
m a s s a p é , e assim m a n d a m os missionários muitos galeões c a r r e g a d o s de c a c a u e
salsa, e d e q u a n d o e m q u a n d o seu "colomím p a r a o c a c h i m b o do reverendíssimo
"provincial e o u t r o a o "prior e o u t r o ao "secretário, e m o r d e m a os conservar nas
missões, pois l e v a m b o a vida e fazem negócio g r a n d e .
"iíoéuijxla Commarcado Jlio daidlíorki cito dial delVaqan ouwnr daCffliia¡ ¿(M^IfcnüóJjcrayj, váta2iccL caitaladacm2o^iaoó^C(^oiuamií^orLi)¿íoóuÍdaóyutnociaif
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