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INTRODUGAO DA DURABILIDADE NO PROJETO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO INTRODUCTION OF DURABILITY IN THE PROJECT OF CONCRETE STRUCTURES Pau. L. Hane Nos dtimos anos tem crescido o niimero de estruturas de ‘concrete armado com manifestagbes patoldgias, pracipalmente ‘com problemas de corrasto de armadurss, como resultado do tnvelhecimento precoce dar construgses existentes. A perda da protegio natural oferecida 4 armadura peo cabrimento de concreto pode ocorrer através de diverse mecanismos sendo preponderantes 2 espassivagio por carbonatacio © por fons cloreto. Em ambos os ‘isos na maori das vezes, todo o componente estutural € atacado pelo ambiente extern, porém a manifestagio da corrsto se dé omente em alguns pontaslocalizados, como resultado da propria ratureza do procesto de corrosto eletraguimica onde regives fnédicaealternann-se com regides de cariter preponderantemente atic, Neste trabalho discutese, de forma conceitvale original, 1 'prevsso da evolugio da deterioragdo das estruturas de concreto srado através de medelas de comportamento que vibilzam projetar ‘The number of reinforced concrete structures with durability problems, mainly rebar corrosion, has been increasing during the les few years sa result of the premature aging of these strvctures. ‘The loss of rebar protection by the concrete cover may occur due to ‘arious factors, but the main one i the depasivation of the eb {due to carbonation o chloride fons, In both cases, the structure 2 whole Is damaged by the environment, in spite of the fact that ‘corrosion only happens in some limited regions. This occurs as 8 result of the electrochemical process where anode areas are Surrounded by cathode ones. This paper presents four recently adopted concepts for predicting the deterioration evolution of reinforced concrete stactures. Models for corrsion development are described which allow for designing the structure white taking into acount ts durability and for predicting the Ifespan of existing structures submitted to aggressive environments pra durabildade e nfo somente pata resistencia mecinica.Fsta hordagem moderna e centifica da deteiorasto © envelhecimento ds extuturas de concreto armada eprotendido viblia a estimativa avid tl das esruturas de coneretoexpostas, durant certo pefodo ‘Se tempo, = determinads ambientes agrersios, Palavras-chave: corcosio de armaduras; vida stil de estuturas; Key-Words: rebar corrsion; service life of structures; durability ursbilidade, 1 INTRODUGAO A introducio da durabilidade e seu controle no projeto ¢ construcio das estruturas de concreto pode ser efetuada, em principio, através de um dos seguintes quatro procedimentos de espectro amplo: = com base nas experiéncias anteriores, = com base em ensaios acelerados, ~ através de métodos deterministas, = através de métodos estocisticos ou probabilistas Evidentemente essa visio € a que 0 meio técnico pode ter hoje, como conseqiiéncia da enorme evolucéo havida nos iiltimos anos nesse campo. No inicio das construcées em concreto, comandava apenas o bom senso e a experiéncia do profissional, sendo a durabilidade claramente subjetiva O estudo da durabilidade das estruturas de concreto armado ¢ protendido tem evolufdo gracas a0 maior conhecimento dos mecanismos de transporte de liqiiidos e de gases agressivos nos meios porosos como 0 concreto, que possibilitaram associar 0 tempo aos modelos matematicos que expressam quantitativamente esses mecanismos. Conseqiientemente passou a ser vidvel a avaliacéo da vida «til expressa em ntimero de anos ¢ nfo mais em critérios apenas qualitativos de adequacéo da estrutura a um certo grau de exposicio. principio basico, no entanto, no se alterou. Hé necessidade, por um lado, de conhecer, avaliar e classificar o grau de agressividade do ambiente ¢, por outro, de conhecer 0 concreto e a geometria da estrutura, estabelecendo entio a correspondéncia entre ambos, ou seja, entre a agressividade do meio “versus” a durabilidade da estrutura de concreto'. ‘A resistencia da estrutura de concreto a acéo do meio ambiente e a0 uso dependeré, no entanto, da resisténcia do concreto e da resisténcia da armadura. Qualquer dos dois que se deteriore, comprometers a estrutura como um todo. Os principais agentes agressivos 8 armadura, o gés carbénico CO? eo cloreto Cl, nao sfo agressivos ao concreto, ou seja ndo o atacam deleteriamente. Por outro lado, os agentes agressivos ao concreto ‘como os icidos, que contribuem para a reducio do pH e conseqtiente risco de despassivacao da armadura, assim como os Sulfatos e até a propria reagio dlcali-agregado, que geram produtos expansivos destruindo © conereto de cobrimento ¢ de protecéo da armadura, atuam de forma dupla, atacando principal e primeiramente concreto ¢ secundariamente a armada. Portanto, apesar de ainda néo ser comum na normalizacdo disponivel atualmente, hoje em dia é conveniente ¢ indispensavel uma separacio nitida entre os ambientes preponderantemente agressivos 2 armadura dos ambientes preponderantemente agressivos 20 concreto. Da mesma forma, o trago ou a composigéo do concreto, ou seja, a proporcéo e a natureza dos materiais que o compée, devem ser tratados em separado; concretos resistentes a meios agressivos 4 armadura e concretos resistentes a meios agressivos ao préprio concreto. ISSN 1415-8076 Avent. Const, $K0 PAO, ¥.1,N.2,P. 45-57, RUDE 1997 AMBIENTE CONSTRUIDO 02, JULHO 1997 2 CONCEITO SISTEMICO DE DURABILIDADE A questio da vida Gitil das estruturas de concreto deve ser enfocada de forma holistica, sistémica e abrangente, envolvendo equipes multidisciplinares. Deve também ser considerada como resultante de aces coordenadas e realizadas em todas as etapas do processo construtivo: concepcio ou planejamento; projeto; fabricacdo de materiais e componentes; execucio propriamente dita e principalmente durante a etapa de uso da estrutura. E nessa etapa onde serio realizadas as operacoes de vistoriat, monitoramento! € manutengao* preventiva e corretiva, indispenséveis numa consideracéo correta e sistémica da vida til. Alguns dos documentos de referéncia que bem tratam do tema durabilidade sio o CEB-FIP Model Code 902, CEB Design Guide’, ACI COMMITTEE 2015, 0 projeto de norma européia ENV-206°, 0 projeto de revisio e calibragem da NBR 6118 (NB-1 da ABNT), artigos de especialistas no tema tais como Andrade & Gonzalez’, Helene’, Rostam*, e documentos ¢léssicos como a norma CETESB LI 007°. Tomando por base esses documentos fica claro que gerir o problema da durabilidade das estruturas de concreto implica em bem responder as seguintes questdes gerais: 1 Quais sio os mecanismos de envelhecimento das estruturas de concreto armado e protendido? 2 Como classificar 0 meio ambiente quanto & sua agressividade a armadura e a0 concreto? 3 Como classificar 0 concreto quanto a sua resisténcia aos diferentes meios agressivos? 4 Qual a correspondéncia entre a agressividade do meio e a resisténcia a deterioragéo € a0 envelhecimento da estrutura de concreto? 5 Qual a definicio de vida Gil? 6 Quais sio os métodos de previsio da vida «til? 7 Quais devem ser os critérios de projeto arquitet6nico e estrutural? 8 Como deve ser a dosagem e a producio do concreto? 9 Quais os procedimentos adequados de execucio e controle da estrutura? 10 Quais os procedimentos e critétios para bem exercer a vistoria, o monitoramento € a manutengio das estruturas? . Nio ¢ objetivo deste artigo tratar em profundidade todas essas dez (10) respostas basicas necessérias a correta gestao de um problema de durabilidade das estruturas de concreto, Procurar-se-é responder, de forma resumida e objetiva, somente as seis primeiras perguntas. 3 MECANISMOS DE ENVELHECIMENTO E DETERIORACAO. Os mecanismos mais importantes e freqiientes de envelhecimento e deterioracao das estruturas de concreto sio: ‘Mecanismos preponderantes de deterioracao relatives ao concreto a) lixiviagdo: por agéo de éguas puras, carbOnicas agressivas ¢ fcidas que dissolvem e carreiam os compostos hidratados da pasta de cimento. O sintoma bisico é uma superficie arenosa ou com agregados expostos sem a pasta superficial, com eflorescéncias de carbonato, com elevada retencio de fuligem com risco de desenvolvimento de fungos ¢ bactérias. Como conseqiiéncia observa-se também uma reducao do pH do extrato aquoso dos poros superficiais do concreto do componente estrutural com risco de despassivacio da armadura; 'b) expansdo por aco de 4guas e solos que contenham ou estejam contaminados com sulfates dando origem a reacGes expansivas e deletérias com a pasta de cimento hidratado. O sintoma basico € uma superficie com fissuras aleatérias, esfoliacio e reducio significativa da dureza e resistencia superficial do concreto, com conseqiiente reducio do pH do extrato aquoso dos poros superficiais, colocando em risco a passivago das armaduras. Do ponto de vista do concreto, os sulfatos presentes na égua do mar, nas Aguas servidas, nas éguas industriais e nos solos imidos e gessiferos, podem acarretar reacdes deletérias de expansio com formacio de compostos expansivos do tipo etringita e gesso secundério"; ©) expansio por acdo das reacdes entre os dlcalis do cimento e certos compostos e agregados reativos. Dentre os agregados reativos pode-se destacar a opala, a calcedénia, as sflicas amorfas e certos calcarios. Além de agregados outros compostos reativos, inclusive os préprios silicatos hidratados da pasta de cimento podem reagir com os flcalis. Para que essas reacées venham a ser significativamente deletérias € necessério estar em presenca de elevada umidade. O sintoma bésico € uma expanséo geral da massa de concreto com fissuras superficiais, profundas e aleatérias no caso de massa continua, e ordenadas no caso de estruturas delgadas. 4) reagdes deletérias superficiais de certos agregados decorrentes de transformacées de produtos ferruginosos presentes na sua constituicao mineralégica. Destaca-se como exemplo os problemas oriundos com agregados que contém pirita que pode acarretar manchas de ferrugem, cavidades e protuberancias na superficie dos componentes de concreto. Mecanismos preponderantes de deterioracao relativos a armadura a) despassivacdo por carbonatacdo, ou seja, por aco de gas carbénico da atmosfera que penetra por difusio e reage Com os hidr6xidos alcalinos da solugao dos poros do concreto reduzindo 0 pH dessa solucio. A despassivacao deletéria s6 ocorre de maneira significativa em ambientes de umidade relativa abaixo de 98% e acima de 60%, ou em ambientes sujeitos a ciclos de molhagem e secagem, possibilitando a instalacio da corrosio. © fendmeno de carbonatacio propriamente dita, néo é perceptivel a olho nu, rio reduz a resisténcia do concreto ¢ até aumenta sua dureza superficial. A identificacio da frente out profundidade de carbonatacéo requer ensaios especificos. Ao atingir a armadura, dependendo das condigées de umidade ambiente pode promover séria corrosio com aparecimento de manchas, fissuras, destacamentos de pedacos de concreto e até perda da secao resistente ¢ da aderéncia, promovendo 0 colapso da estrutura ou de suas partes; }) despassivagio por elevado teor de fon cloro (cloreto), ou seja, por penetragio do cloreto através de processos de difusio, de impregnacdo ou de absorcio capilar de aguas contendo teores de cloreto que a0 superarem, na solucio dos poros do concreto, um certo limite em relagio a concentracio de hidroxilas, despassivam a superficie do aco e instalam a corrosio. Eventualmente, esses teores elevados de cloreto podem ter sido introduzidos, inadvertidamente, durante o amassamento do concreto, geralmente através do excesso de aditivos aceleradores de endurecimento. O fendmeno nao € perceptivel a olho nu, nao reduz a resisténcia do concreto nem altera seu aspecto superficial. A identificacio da frente ou da profundidade de penetracao de certo teor critico de cloreto requer ensaios especificos. Ao atingir a armadura pode promover séria corrosio com aparecimento de manchas, fissuras, destacamentos de pedacos de concreto e até perda da seco resistente e da aderéncia, promovendo o colapso da estrutura ou de suas partes. Mecanismos de deterioracao da estrutura propriamente dita Sao todos aqueles relacionados as ages mecfnicas, movimentagées de origem térmica, impactos, aces ciclicas (fadiga), deformacio lenta (fluéncia), relaxaco, e outros considerados em qualquer norma ou cédigo regional, nacional ou internacional, mas que nfo esto no escopo deste trabalho. 4 CLASSIFICACAO DA AGRESSIVIDADE DO MEIO AMBIENTE A agressividade do meio ambiente esté relacionada as acées fisicas e quimicas que atuam sobre as estruturas de concreto, independentemente das agdes mecénicas, das variacdes volumétricas de origem térmica, da retragao hidréulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto. ‘A classificacio da agressividade do ambiente, com base nas condicées de exposicio da estrutura ou suas partes, deve levar em conta o micro e macro clima atuantes sobre a obra e suas partes criticas. ‘A partir de uma sintese das publicacées disponiveis, a agressividade ambiental pode ser avaliada segundo o ponto de vista da durabilidade da armadura e da durabilidade do préprio concreto, No caso dos projetos das estruturas correntes, pode-se considerar as classes apresentadas na Tabela 1. Taonat ‘Cinssts 0 AGRtsivibAbr AWBINTAL Classe de agressvidade Agressividade Risco de deterioragio da estrutura r race Tnsigniticante u media equeno i forte grande w __ muito fore elevado A classificacio da agressividade do meio ambiente as estruturas de concreto armado e protendido, pode ser avaliada, simplificamente para fins de projetos correntes, segundo as condicdes de exposicao da estrutura ou de suas partes, conforme apresentado na Tabela 2. Tasaa2 ‘Cuassts OF AGRESSIDADE DO ANBENTE Ei FUNGRO BAS CONDOS De ExPOSGAO micro-clima smacro-lima interior das edifcagses exterior das edicagBes seco! ‘imido ou ciclos de seco” imido ou ccost URE 60% ——mothagem e secagem UR E 60% de mathage © sagem al f 1 uibana i ' i marina tl a th india t i i expecta i th out respingos de mare = — v Sera * em " ‘ole io agresivo, |__imido agesivo, I Lou IV Notar 1 salas, dormitéros ou ambientes com concreto revestido com argamassae pintura 2 vestéros, banheiros, cozinhas, garagens, lavanderas Tae CONSTRUTOO we

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