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nervuradasi
Por definição pura e simples, lajes nervuradas são aquelas “moldadas no local ou com nervuras pré-moldadas, cuja zona de
tração é constituída por nervuras entre as quais pode ser colocado material inerte”. Isso é o que diz a NBR 6.118:2014 –
Projeto de Estruturas de Concreto. Na prática, uma laje nervurada é formada por um conjunto de vigas que se cruzam,
unidas por uma mesa, conforme resume Eugenio Cauduro, diretor da Cauduro Assessoria e Consultoria Empresarial. “Esse
tipo de laje possui comportamento intermediário entre o de laje maciça e o de grelha”, diz.
A ideia que pautou o desenvolvimento dessa tecnologia é a da eliminação do concreto abaixo da linha neutra de forma que o
resultado fosse uma redução no peso próprio da estrutura com melhor aproveitamento do aço e do concreto. Dessa maneira,
explica Cauduro, “a resistência à tração é concentrada nas nervuras e os materiais de enchimento têm como função única
substituir o concreto, sem colaborar na resistência”.
Além de reduzir o volume de concreto, essa concepção proporciona economia de mão de obra e de fôrmas, o que, para
Cauduro, aumenta a viabilidade do sistema construtivo como um todo. “E mais, o emprego de lajes nervuradas simplifica a
execução e permite a industrialização, com redução de perdas e aumento da produtividade, racionalizando a construção”,
afirma.
Vista aérea de sistema de fôrmas posicionadas e armadas, prontas para o recebimento do concreto
Evidentemente, a decisão pelo uso de um sistema estrutural passa pelo aspecto do custo, conforme pontua Marcos Monteiro,
diretor da Planear Engenharia. Porém, ele alerta para que essa não seja uma análise simplista. Além do consumo de aço e
concreto, ele recomenda levar em conta os seguintes aspectos:
custos finais de execução: sistema de fôrmas e escoramentos (locação de cubetas), custos de lançamento do concreto,
necessidade de equipamentos complementares etc.);
produtividade da mão de obra;
funcionamento conjunto com outros sistemas (impermeabilização, vedações etc.);
acabamento pretendido (pintura, forro etc.).
Fatores de decisão
Para Nilton Nazar, diretor da Hold Engenharia, é a facilidade de execução e os custos previstos que devem ser levados em
consideração ao especificar um sistema de fôrmas para laje nervurada. É por isso que a opção em madeira tem caído em
desuso. Afinal, explica ele, apresenta custo elevado, dificuldade na desenforma e na própria execução. Outra possibilidade
que vem sendo deixada de lado pelos projetistas é o papelão, principalmente quando é grande o número de repetições.
Laje nervurada exposta em ambiente de alto padrão. Cada vez mais, arquitetos optam por evidenciar a beleza
da estrutura bruta, com recursos de luminotécnica
De acordo com Monteiro, “o sistema com elementos pré-moldados é muito utilizado em pequenas construções por não
precisar de fôrmas para os fundos de lajes”. Ele conta que isso traz economia. Já em obras maiores essa vantagem é perdida,
uma vez que a fôrma pode ser reutilizada diversas vezes, diluindo seu custo e reduzindo o desembolso em comparação a
elementos pré-moldados.
Quanto à concepção estrutural, a escolha por dispor as cubetas em uma determinada direção depende de inúmeros fatores,
afirma Nazar, como distribuição de esforços na fundação, as exigências arquitetônicas, a otimização do consumo de
materiais etc. “Nesse caso, as diferenças se concentram na geometria das nervuras”, explica Cauduro. A depender do
desenho escolhido haverá mais ou menos nervuras, impactando no consumo de concreto. Além disso, dimensões fora do
padrão de mercado dificultam encontrar fôrmas para a execução. “Cada projetista deve procurar o melhor desenho, de
acordo com o tamanho dos vãos e carregamentos”, recomenda Cauduro.
Conforme explica Enio C. Barbosa, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade da Abece (Associação Brasileira de
Engenharia e Consultoria Estrutural), a disposição das nervuras se dá em razão da modulação de vigas e de pilares.
“Logicamente, em panos de lajes muito retangulares as nervuras devem correr em um único sentido. Para disposição entre
pilares equidistantes, o uso da laje formando uma grelha é o melhor desenho”, analisa.
A recomendação de Barbosa é para priorizar ao máximo a disposição das cubetas de maneira que as longarinas de apoio
estejam alinhadas. Isso, explica ele, auxilia na montagem do escoramento e na desforma. “Com tal alinhamento, a
desvantagem é que a disposição das cubetas poderá criar enchimento excessivo nas vigas de bordas”, pondera. Entretanto,
segundo ele, há fornecedores preparados para oferecer cubetas com outras dimensões, que evitem o aumento do consumo de
concreto. Cauduro afirma que, em geral, as fôrmas para executar as lajes nervuradas são dispostas em espaçamentos iguais e
obedecem ao projeto de fôrma da estrutura do empreendimento.
Detalhe de projeto contendo os componentes que fazem parte de um sistema de fôrmas para lajes nervuradas,
baseado em cubetas de polipropileno
A escolha das fôrmas começa já no dimensionamento do projeto, que deve considerar a geometria da nervura. É nesse
momento, diz Cauduro, que o projetista verifica as dimensões de largura inferior, largura superior, nervura média, altura da
forma e espaçamento das nervuras. “Para cada tipo de obra, tamanho dos vãos e carregamento nas lajes essas medidas
podem variar e o projeto será de acordo com o modelo de mercado”, analisa.
O ideal é que o sistema de fôrma seja modulado e compatibilizado com as lajes nervuradas. “Com todos os elementos
atendendo a uma mesma modulação, facilita a execução”, diz Cauduro. Assim, “a obra pode ter a sua estrutura de concreto
industrializada, reduzindo a quantidade de pessoas e o tempo de ciclo das lajes”.
Sobre o consumo de concreto em lajes nervuradas, Nazar afirma que é consideravelmente reduzido quando se compara com
uma laje maciça para um mesmo vão e sobrecarga. Afinal, essa é a principal proposta desta tecnologia. Ainda assim, a
altura e o peso por metro quadrado dependem do dimensionamento da estrutura e, portanto, variam em cada caso. Até
mesmo porque, lembra ele, as lajes nervuradas podem ser projetadas com a utilização de protensão. “Na área de edifícios
em geral, a protensão é executada com bainha engraxada, cujos macacos são mais leves e têm fácil manuseio. As protensões
aderentes também podem ser utilizadas, mas são menos usuais”, conta.
Principais cuidados
“A opção por lajes nervuradas deve partir da premissa de que há um bom projeto de fôrmas e cimbramentos, com correta
colocação das escoras remanescentes, dos espaçadores das armaduras e vibração adequada do concreto”, ressalta Nazar. E é
preciso que a especificação do traço do concreto leve em consideração a brita adequada para as dimensões da nervura.
Além disso, complementa Barbosa, para que não haja corte de nervuras é necessário compatibilizar o projeto estrutural da
laje com a equipe de instalações. É importante, ainda, que o projetista estrutural saiba qual será a localização de shafts e
prumadas. “Adotando essas medidas se garante que não haverá soluções improvisadas na obra”, afirma o vice-presidente da
Abece.
O tempo da desforma é uma informação que deve constar do projeto estrutural, para evitar a ocorrência de deslocamentos
excessivos e fissuras que comprometem a durabilidade da estrutura. “Todas as práticas de uma obra de concreto
convencional devem ser seguidas, tais como posicionamento correto da armadura, lançamento e vibração adequados, cura
etc.”, resume Barbosa.
Por fim, é importante que haja um cimbramento com modulação compatível com as cubetas. Ou seja, que permita
desmontagem parcial, possibilitando a retirada das cubetas mantendo a laje escorada. “Assim, é possível utilizar essas
mesmas cubetas nos andares acima,” revela Cauduro.
Barbosa explica que as cubetas têm sua durabilidade ligada aos cuidados inerentes à montagem e à desforma. “O uso de
pregos na montagem e a desforma com pé de cabra danificam a cubeta”, alerta. O recomendável é que seja feito uso de
desmoldante, que facilita a desforma e aumenta a vida útil do material. Produzidas com material inerte, o polipropileno, as
cubetas para moldagem de lajes nervuradas têm características interessantes para a construção, como baixa absorção de
umidade, baixo custo, atoxicidade etc.
AS VANTAGENS
Suas características conduzem a maiores inércias da seção, com menor consumo de concreto. A utilização é
indicada onde são desejados grandes vãos.
A redução do concreto abaixo da linha neutra (zona de tração) reduz o peso próprio da laje (menor carregamento
permanente), permitindo uma melhor utilização do concreto e do aço.
Redução do consumo e simplificação do sistema de fôrmas.
Muito indicada para regiões de embasamento de edíficações residenciais e comerciais, onde se deseja a redução do
número de pilares para acomodar as garagens.
AS DESVANTAGENS
Modelo de cálculo mais elaborado que o das lajes maciças (grelhas).
Maior tempo para concepção estrutural (posicionamento e modulação das nervuras, resolução de interferências etc.)
Maior tempo para detalhamento das lajes (armação positiva das nervuras, armação negativa, verificação de punção,
armação do capeamento, detalhes construtivos etc.)
Preocupação com a resistência do capeamento ao fogo.
Inserção de fornecedor adicional na obra (gerenciamento).
Montagem das armaduras mais elaborada e cuidadosa.
Maior área de pintura ou necessidade de forro (pavimentos- tipo).
Menor pé-direito para o mesmo piso a piso.
Fonte: Marcos Monteiro, diretor da Planear Engenharia
Exemplo de laje plana maciça protendida
Geometria da edificação: geometrias muito recortadas, com faces inclinadas ou irregulares, dificultam o posicionamento de
cubetas ou enchimentos, implicando um maior consumo de concreto.
Piso a piso disponível: lajes nervuradas conduzirão a alturas de laje maiores do que lajes maciças. Com isso, para a
manutenção do pé-direito, deverá se aumentar o volume de escavação, no caso de pisos inferiores (pavimentos térreo e
subsolos) ou aumentar o gabarito da edificação, no caso de
pavimentos da torre.
Acabamento desejado para o teto: no caso em que o memorial descritivo da edificação especifique pintura no teto dos
subsolos, devese considerar que a área a ser coberta quando da utilização de lajes nervuradas é significativamente superior a
um fundo plano. Nos pavimentos da torre, a utilização de lajes nervuradas exigirá a execução de forros, o que deve ser
considerado no custo.
Resistência ao fogo: no caso de utilização de lajes nervuradas em pavimentos da torre, é importante um estudo cuidadoso da
espessura do capeamento, para que atenda às normas específicas.
Posicionamento das nervuras: nenhuma furação de piso pode ser executada na região de nervuras. Com isso, o projeto deve
estudar o posicionamento das nervuras para que não coincidam com furações previstas nos demais projeto e, em especial, a
saída de bacias sanitárias, que possuem pontos fixos de saída.
Entrevista
Enio C. Barbosa, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e
Consultoria Estrutural)
Quando começaram a surgir fôrmas específicas para moldagem de lajes nervuradas no Brasil?
Numa época em que a madeira tinha um valor menor, as lajes nervuradas eram executadas com fôrmas convencionais. Na
década de 70 já existiam no mercado nacional algumas empresas que alugavam as fôrmas plásticas similares às existentes.
Atualmente, temos diversos fornecedores, tais como Atex, Ulma, Astra, Impacto, Brasil Fôrmas etc. Há também outros
tipos de lajes nervuradas como, por exemplo, o sistema BubleDeck, composto de esferas plásticas inseridas uniformemente
entre duas telas metálicas com pré-laje.
Existe algum documento ou norma que liste todos os detalhes técnicos do sistema?
Não há uma norma específica para o sistema. A ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimento, prescreve no capítulo 13 as condições para atendimento e dimensionamento de lajes nervuradas moldadas no
local. Já para as lajes pré-fabricadas nervuradas unidirecionais ou bidirecionais, a ABNT publicou a NBR 14.859:2016 –
Lajes Pré-Fabricada de Concreto, que fixa os requisitos para esse tipo de laje.
Ao comparar esta solução, com aplicação da nervurada no lugar da maciça, é possível obter até 30% de redução no
consumo de concreto e aço. Devido a eventual indisponibilidade de serviços especializados no local da obra, é possível até
mesmo abdicar da protensão, conforme exemplificado nesse caso real.
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https://techne.pini.com.br/2017/05/confira-as-possibilidades-de-projeto-e-execucao-das-lajes-nervuradas/