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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
I. Introdução ....................................................................................................................... 2
II. Enquadramento Conceptual ............................................................................................ 3
III. Modalidades de Financiamento do Défice ...................................................................... 3
1. Implicações Económicas do Financiamento do Défice atráves da Dívida Interna ........... 4
1
I. Introdução
As evidências empíricas sugerem que, no geral, e nos Países em desenvolvimento
em particular, a Despesa Pública tende a crescer a taxas superiores as taxas de
crescimento do PIB, contrastando diametralmente com o tímido crescimento da
capacidade de arrecadação de receitas pelos Estados (Goode, 1984). Este
desequilíbrio entre as taxas de crescimento da despesa e a capacidade de
mobilização tributária, tem estado na origem de um galopante agravamento dos
défices orçamentais na maior parte das economias em desenvolvimento.
Por mais leviana que pareça, esta é na verdade uma questão complexa e central
para as economias em desenvolvimento pois, conforme discutiremos ao longo deste
trabalho, todas as alternativas possíveis, estão associadas a diferentes custos e
riscos: uma excessiva monetização do défice (imprensão de dinheiro) gera
inflação; o recurso excessivo as reservas internacionais do Banco Central conduz a
crises na balança de pagamentos; elevados empréstimos externos levam a crises de
endividamento, e; demasiados empréstimos internos provocam um agravamento
1
Macroeconomic Developments and Prospects in Low-Income Developing Countries—2018. IMF
Policy Paper, March 2018, Washington D.C (Disponivel em
http://www.imf.org/en/Publications/Policy-Papers/Issues/2018/03/22/pp021518macroeconomic-
developments-and-prospects-in-lidcs)
2
das taxas de juro e consequente crowding out do investimento privado (Fischer &
Easterly, 1990).
3
Um importante pressuposto para a discussão da problemática do défice orçamental
e do seu financiamento, é o de que a teoria macroeconómica não estabelece
parâmetros universais que definam um défice fiscal sustentável. A sustentabilidade
do défice é função do volume desse défice e da taxa de crescimento da economia
em causa. Altas taxas de crescimento permitem que o Estado possa admitir défices
maiores nas suas contas, sem comprometer a estabilidade económica.
2
Referência ao clássico economista britânico David Ricardo que foi o seu autor.
4
dívida pública para o financiamento do défice público equivale ao e indifere do
efeito de um agravamento dos impostos.
3
Barro, Richard. (1974), “Are Government Bonds net Wealth?”, Journal of Political Economy, 82
(6), pp. 1095-1117
5
fundamentam na noção do orçamento ciclicamente ajustado (em superavit durante
os booms económicos e em défice durante as recessões).
A apologia keynesiana do recurso ao défice e o seu respectivo financiamento por
via da Dívida apenas nos momentos de recessão/depressão económica justifica-se
pela relação que se estabelece no modelo Hicksiano-Hanseniano (IS-LM) entre a
taxa de juro, o investimento e a oferta/produção agregada. Neste modelo, a
aplicabilidade e eficácia da política fiscal está parcialmente condicionada pelo
chamado efeito crowding-out da despesa pública sobre o investimento privado,
segundo o qual, quando o Governo financia o défice orçamental através da emissão
de títulos de Dívida nos mercados domésticos, a resultante absorção de uma
porção da liquidez doméstica, gera uma relativa escassez na disponibilidade de
recursos para o sector privado da economia, que se traduz no encarecimento do
crédito (agravamento da taxa de juro), afectando negativamente o investimento
produtivo e a oferta agregada. Foi na base da compreensão deste potencial
impacto do efeito crowding-out na neutralização dos acréscimos do multiplicador
[keynesiano] sobre a procura agregada, que os Keynesianos recomendaram que o
governo só pode incorrer ao défice e ao seu financiamento via Dívida, em
momentos de recessão/depressão económica (quando a sensibilidade da taxa de
juro em relação a procura de investimentos é quase rígida).
Já em economias abertas, com regime de cambio flexível4 e com perfeita
mobilidade de capitais (como são actualmente a maioria dos Países), o efeito
crowding out será desencadeado primeiro pela taxa de juros (o crowding out do
investimento privado), mas depois, também pela taxa de câmbios (o crowding out
das exportações líquidas) 5. É que o aumento da taxa de juro interna irá numa
primeira fase atrair um influxo de capital estrangeiro até que a taxa de juro
doméstica volte novamente a ser igual a taxa de juro internacional. Esse influxo de
capital estrangeiro implicaria, ceteris paribus, uma apreciação cambial da moeda
4
O regime cambial flexível puro é usado como a representação modelar mais proxima da realidade
cambial actual. No entanto, é importante ter em mente que a maior parte das economias modernas
praticam de facto um regime flexível, mas que admite intervencoes pontuais do Banco Central no
sentido de influenciar a evolução da taxa de cambio de determinada(s) moeda(s) - que é o
chamado regime de flutuação controlada/administrada ou dirty floating.
5
Em economias abertas, o deficit publico está mais fortemente correlacionado com o crowding out
das exportacoes liquidas do que com o crowding out do investimento privado (Pereira & Rodrigues,
2001).
6
nacional, e consequente perda de competitividade económica (i.e, exportações
mais caras e incompetitivas) que leva a quebra da produção e a redução da
lucratividade das empresas (Laurens & De la Piedra, 1998).
Por outro lado, quando a taxa de juro doméstica aumenta e o influxo de capital
estrangeiro aumenta, o saldo da balança comercial do País torna-se deficitário por
conta do saldo líquido negativo na conta de capital. Assim, fica explicado como é
que o défice fiscal gera o défice comercial (a relação entre os défices gêmeos).
Afinal de contas, o défice fiscal significa na prática que o Pais consome e vive para
além das suas capacidades financeiras, e isso se reflete no facto de o Pais importar
mais do que exporta, e fá-lo com dinheiro emprestado no estrangeiro. Em ultima
instância, o défice fiscal e o défice comercial são apenas dois lados da mesma
moeda (Pereira & Rodrigues, 2001).
6
Receitas de Imposto Inflacionário = taxa de inflação x Base Monetária Real
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Base Monetária=Papel Moeda em Poder do Público + Reservas Bancárias
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Por exemplo, um dos parâmetros para monetização sustentável (não-inflacionãria) do deficit é de
que as receitas do imposto inflacionario não ultrapassem 1% do PNB. Mas para economias em rápido
crescimento e com sistemas financeiros solidos, admite-se que as receitas do imposto inflacionário
atinjam até 2.5% do PNB.
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imprimir para financiar o défice. Em sucessivas rondas de impressão de dinheiro, o
Governo pode explorar todo o ‘intervalo optimo’ dos parâmetros até atingir o
máximo não-inflacionário calculado. Mas, uma vez atingido esse máximo, e
assumindo que os parâmetros não se tenham alterado (que por exemplo, não
houve aumento da taxa de crescimento real do Produto), a Teoria Quantitativa da
Moeda entra em acção e quaisquer novas rondas de monetização do défice
resultarão inevitavelmente em inflação pois, o aumento da oferta de moeda, dado
um nível corrente de preços, aumenta os saldos reais ao dispor dos agentes
económicos, provocando uma subida dos preços ate que o equilíbrio seja
restabelecido (Fischer & Easterly, 1990). Portanto, no extremo, o recurso a
Senhoriagem para financiamento do défice é conducente a hiperinflação.
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Variante do Regime Cambial fixo em que, ao inves de um compromisso com uma paridade oficial
fixa (como o é no regime de cambio fixo puro), o Banco Central tem o compromisso em assegurar
que a taxa de câmbio flutue, mas dentro de uma banda (parâmetros) definida.
8
limitada capacidade de cedência de empréstimos. Na prática, o mecanismo de
contração de empréstimos externos, apenas difere do endividamento interno pelo
facto de os empréstimos externos implicarem a venda de títulos de crédito a
entidades estrangeiras.
9
Lamartina, S. & Zaghini, A. (2010). Increasing public expenditures:
Wagner’s Law in OECD countries. German Economic Review, Vol. 12, No.
2, pp. 149-164.
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