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Título: Depois do Sonho Americano: pesadelo e sobrevivência em Gold Fame

Citrus, de Claire Vaye Watkins

Resumo: Este trabalho propõe analisar como a falência do ideal de Sonho Americano
é representada na narrativa cli-fi de Claire Vaye Watkins, Gold Fames Citrus. O
romance se desenrola em uma Califórnia do futuro na qual a desertificação e a seca
transformaram drasticamente o oeste norte-americano. Enquanto no passado os
exploradores rumavam para lá, no futuro pós-apocalíptico de Gold Fame Citrus, os
sobreviventes tentam desesperadamente voltar para o leste – ou ir para qualquer outra
direção que não seja o oeste. Através da análise do romance, proponho uma discussão
sobre a crítica que essa ficção faz ao progresso desenfreado incitado pelo ideal de
Sonho Americano. Para tanto, teorias que tratam das temáticas do Sonho Americano,
Antropoceno e ecocrítica terão um local de destaque para analisar a crítica aos
posicionamentos políticos retrógrados que não privilegiam as discussões que
envolvem o meio ambiente, mesmo quando tudo indica que estamos chegando em um
momento preocupante do planeta. Se o discurso dos Estados Unidos foi
constantemente voltado para mitos que recuperavam a noção de manhood e para o
excepcionalismo, as práticas de exploração quase sempre estiveram de braços dados e
mascaradas pelo ideal ethos estadunidense. A exploração do oeste, iniciada ainda no
século XVIII com a chegada dos Scotch Irish – que consolidou o arquétipo do
frontiersman – e a ideia de fronteira, juntamente com o movimento para o oeste,
sempre foi “a grande imagem do sentido norte-americano de possibilidade”, de
acordo com Walter Allen. No entanto, embora a fronteira tenha feito o estadunidense,
a ficção especulativa chama atenção para o fato de não haver mais oeste e wilderness
para explorar, pois os mesmos já foram destruídos, indicando a necessidade de se
repensar o ideal. Se pelo menos desde a publicação de The Machine in the Garden
(1964), de Leo Marx, a discussão sobre a intromissão tecnológica na pastoral
americana, proporcionada pelo progresso, tem sido tema de romances e da ecocrítica,
é indiscutível que nos últimos anos essa interferência se intensificou. Tendo em vista
tais mudanças e a quantidade de discussões sobre elas, não é de se espantar com o
número elevado de romances que se enquadram no tema de mudança climática. Como
Susanne Leikan e Julia Leyda notam, desde a agenda anti-ambiental de Trump, com a
sua decisão de sair do acordo de Paris, em 2017, a crítica dessa literatura parece estar
cada vez maior. Desta maneira, se o aumento da produção cli-fi pode ser explicado
por causa da exaustão dos mitos nacionais e pela insistência em um ideal que segue
atrelado a explorações inconsequente do meio ambiente, talvez a literatura que trate
especificamente das mudanças climáticas instigue a readaptação do mesmo. É o que o
romance escolhido para compor o corpus desta pesquisa parece tentar fazer.

Palavras-chave: Cli-fi; distopia; Sonho Americano; Literatura Norte-Americana.

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