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Resumo:
1Professor Associado do Instituto de Psicologia da UFRJ e de Programas de pós-graduação em História das Ciências e
das Técnicas e Epistemologia (HCTE) e Psicologia (UFF e UFRJ). Pesquisador financiado pelo CNPq e FAPERJ.
E-mail: arleal1965@gmail.com
2Mestre e doutorando em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ.
3Estudantes da Graduação em Psicologia da UFRJ.
Palavras-chave: Devolutiva, etnografia, PesquisarCOM, recalcitrância, Divisão de Psicologia
Aplicada.
Introdução:
[...] No primeiro caso, há uma situação em que a articulação é extorquida ou condicionada a uma resposta pontual, Formatted: Indent: Left: 0", First line: 0.5"
conduzindo os seres pesquisados a um lugar de “docilidade”. No segundo, há uma articulação na qual o testemunho iria
além da mera resposta, abrindo-se ao risco de invalidação das questões e proposições do pesquisador e à colocação de
novas questões pelos entes pesquisados. Esta seria uma relação de recalcitrância. ( Ver FERREIRA et al., 2011, pP. 233 ).
REFERENCIAS. Em ambos, não apenas a processualidade e os jogos de força presentes no ato de Formatted: Font color: Red
pesquisar são descritos, mas também os próprios processos de co-produção e co-engendramento entre
pesquisadores e pesquisados. Isso possibilita o foco nos sutis jogos políticos que envolvem a entrada
em campo.
As reuniões de supervisão acontecem semanalmente, e envolvem supervisor e estagiários,
para a discussão principalmente dos atendimentos psicoterápicos realizados pelos últimos. Mas
diversas outras questões são discutidas nas supervisões, como as referentes à realização de triagens
ou ao funcionamento da instituição em geral. A partir do que é observado pelos pesquisadores nestas
reuniões são produzidos diversos materiais, entre eles: apresentações para congressos, alguns artigos
científicos e a chamada “devolutiva” para a equipe acompanhada, que será o foco do presente trabalho.
4 Em outro texto (Ferreira et al. 2013) discutimos a questão política da clínica vinculada à questão do segredo, não apenas Formatted: Justified
quanto à proteção de pacientes e terapeutas, mas à própria operação de internalização de um determinado grupo de causas
vinculadas às demandas clínicas dos pacientes. Apesar de tecnicamente possível observar o atendimento clínico numa
divisão de psicologia aplicada (seja por uma câmara Gesell ou um falso espelho), entendemos que esta observação coloca
uma questão política, quanto a uma exposição da performance terapêutica a um grupo mais amplo do que o da própria
equipe de atendimento. De igual maneira, as sessões de supervisão trazem esta exposição, mas de modo mais indireto e
trabalhado, além de representar uma operação de tradução do trabalho terapêutico mais trabalhada pela equipe.
Pretendemos discorrer sobre a importância da proposta de discutir com as equipes as
observações que são feitas sobre elas, com o intuito de possibilitar a participação dos atores
envolvidos na pesquisa para a elaboração do conhecimento disso que lhes diz respeito. E a devolutiva
é um material que se mostrou interessante para informá-los sobre o que produzimos sobre eles e para
incluí-los nessa produção de modo crítico. É uma ocasião para eles questionarem nossas elaborações,
oferecerem outras definições para o que foi abordado no texto, esclarecer pontos ainda não muito
bem definidos e sobretudo para tratarem de aspectos não observados pelos pesquisadores. Enfim,
trata-se de uma possibilidade de produzir um modo de articulação recalcitrante e produtor de novas
versões.
Conforme inicialmente descrito, o que é observado e vivido pelo nosso estagiário -pesquisador em Formatted: Indent: First line: 0"
campo é discutido em reuniões do grupo de pesquisa, que também ocorrem semanalmente. Nelas,
procura-se articular e comparar as diversas abordagens acompanhadas, buscando os pontos
semelhantes e antagônicos presentes entre elas. A partir das observações e das discussões, o estagiário
produz um texto que é apresentado à própria equipe acompanhada por ele, no final deste processo.
O encerramento do processo de acompanhamento de uma equipe por um pesquisador pode se
dar por diversos motivos: fechamento da equipe que se está acompanhando; saída do pesquisador do
grupo de pesquisa, em certos casos por conta da conclusão da graduação; necessidade de que o
pesquisador passe a acompanhar outra equipe por conta da saída de um outro pesquisador, etc. Esses
diversos motivo do encerramento do acompanhamento em certos casos trazem implicações para a
formulação do texto da devolutiva, e seus efeitos devem ser levados em consideração na análise
etnográfica.
Tal material produzido não visa “ensinar” ou “demonstrar” algo que foi descoberto para quem
está sendo pesquisado. O propósito, na verdade, é permitir que o próprio texto do pesquisador seja
colocado em discussão, possibilitando inclusive que a equipe que está sendo pesquisada discorde de
pontos do texto ou até do texto como um todo.
Trata-se de uma escolha política adotada pela pesquisa, tendo em vista que quem está sendo
pesquisado já possui o conhecimento sobre suas práticas, cabendo ao pesquisador descrevê-las e
enumerar os atores nelas envolvidos, assim como retraçar as redes formadas nessas relações. Ao se
permitir o questionamento por parte daquele que está sendo pesquisado, busca-se umase uma
diminuição do processo de docilidade e uma abertura para processos de recalcitrância.
Bruno Latour opõe a recalcitrância das entidades não-humanas à docilidade e obediência à
autoridade científica dos seres humanos. Para ele, as ciências humanas só se tornariam realmente
ciências não se imitassem a objetividade das ditas naturais, mas sua possibilidade de maior
recalcitrância (Latour, 1997, p.301, tradução nossa). O autor segue com suas considerações em outro
texto referindo-se à Epistemologia Política de Stengers e Despret:
Esta proposição é adotada para a realização do trabalho de campo, das discussões e produção
dos materiais e textos; além disso, a pesquisa busca seguir algumas outras orientações propostas pela
Teoria Ator-rede de Bruno Latour. Segundo Latour (2006, p. 339): “Ela é uma teoria, e penso que
uma teoria forte, mas sobre como estudar as coisas, ou antes sobre como não estudá-las. Ou ainda,
sobre como permitir que os atores tenham algum espaço para se expressarem”. A partir do contato
estabelecido com o campo, o pesquisador deverá descrever os actantes/atores que permitem que as
práticas se manifestem, permaneçam ou mudem com o passar do tempo. Retomando Latour (2006, p.
343-344) “Seu principal argumento é que os próprios atores fazem tudo, inclusive seus próprios
quadros, suas próprias teorias, seus próprios contextos, sua própria metafísica, até mesmo sua própria
ontologia…”.
Ainda segundo o autor, a produção do texto se reveste de grande importância e merece
bastante atenção por parte do pesquisador:
Na nossa disciplina, o texto não é uma história, Formatted: Indent: Left: 2.28"
nem uma bela história, mas o equivalente funcional do laboratório. É o local dos
testes, experimentos e simulações. Dependendo do que se passa nele, há
ou não há um ator, há ou não há uma rede sendo traçada. E isso depende
inteiramente da maneira precisa como ele é escrito – e cada novo tópico exige
uma nova maneira de ser tratado por um texto (LATOUR, 2006, p. 345-346).
Quanto a relação inextricável entre a pesquisa e a intervenção, Law (2004, p.10buscar citação)
observa que “[...] os métodos não são simples dispositivos seguros de representação de uma realidade
dada, mas englobam modos políticos de produção de realidades.”realidades. ” Isso também é
vislumbrado pela pesquisa cartográfica, que se atenta para o caráter político de suas produções, como
podemos ver com Passos e Barros: Formatted: Font color: Dark Red
Outro aspecto que caracteriza a nossa relação com esse campo de pesquisa é a proximidade
ou distanciamento das práticas e concepções presentes em cada equipe participante. Enquanto
estudantes de psicologia, em sua maioria, ou já na condição de psicólogos, como no caso do
coordenador da pesquisa ou de pós-graduandos participantes, os pesquisadores, quando situados no
contexto da reunião de supervisão, encontram-se em um tipo de dinâmica que está relacionada com
a formação profissional dos mesmos. Levando em conta a diversidade dos saberes e práticas presentes
na DPA, que abriga equipes com distintas perspectivas teórico-metodológicas, nos deparamos com
inúmeras possibilidades de intervenção dos nossos interlocutores sobre situações com as quais temos
ou provavelmente teremos que lidar no nosso exercício profissional. Essas dinâmicas também nos
apetecem, contempla, incita objeções ou aprovações, que devem ser analisadas no nosso dispositivo
de pesquisa, já que concebemos seus resultados como provenientes dos modos de relação que
estabelecemos com o campo de investigação. O que produzimos sobre as equipes tem a ver com a
maneira como participamos e com o modo como somos afetados pelo que ali acontece.
As considerações de Leny Trad, a partir da leitura que faz de Elsie Rockwell, nos indica esse
aspecto do trabalho etnográfico: “O etnógrafo observa e paralelamente interpreta. Seleciona do
contexto o que há de significativo em relação à elaboração teórica que está realizando. Cria hipótese,
realiza uma multiplicidade de análises, reinterpreta, formula novas hipóteses” (Rockwell apud Trad,
2012, p. 631). Se inspirando em outra autora, ela afirma:
Um rito ou um acto social não tem valor nem sentido intrínsecos constantes; muda
de valor e de sentido de acordo com os actos que o precedem e com os que o seguem;
de onde se conclui que para compreender um rito, uma instituição ou uma técnica,
não devemos extraí-lo arbitrariamente do conjunto cerimonial, jurídico ou
tecnológico em que está inserido; mas, pelo contrário, é sempre necessário considerar
cada elemento deste conjunto nas suas relações com todos os outros elementos.
(SEGALEN apud TRAD, 2012, p. 631)
A partir destas constatações somos levados a indagar sobre os sentidos e valorações que
produzimos sobre as práticas terapêuticas investigadas, que podem ou não nos lançar para lugares
comuns, já conhecidos, para concepções formadas anteriormente à entrada do pesquisador em campo.
Ampliando a problemática citada, consideramos que o sentido das práticas observadas não somente
depende dos atos precedentes ou posteriores às mesmas, mas sobretudo do tipo de relação que o
pesquisador estabelece com elas, e isso, no nosso caso, extrapola o espaço de supervisão, já que nos
encontramos num contexto de adoção/problematização de práticas psis díspares.
Caiafa (2007) advoga que a etnografia pode ser compreendida como uma espécie de viagem,
na medida em que o etnógrafo está a procura da introdução de uma irregularidade nos seus fluxos
comuns de pensamento e vida. A etnografia é, portanto, um encontro marcado por uma relação de
estranhamento, ou seja, uma interrupção, desfamiliarização, que traz novidade; sendo a questão
metodológica e pedagógica fundamental dessa prática saber não silenciar essa novidade e diferença.
Todavia, o estranhamento não advém de uma relação geográfica; se há aqueles que buscam o
estranhamento em outra sociedade ou cultura, nós o fazemos como estudantes de psicologia habitando
um campo terapêutico que é marcado pela diferença profunda de métodos, objetos e estatuto teórico.
Assim, pode haver uma proximidade com o campo e seus conceitos e práticas, assim como um
estranhamento, de ser um corpo estranho naquela dinâmica de supervisão (não ser um estagiário, não
ter pacientes, não estar imerso da mesma forma na teoria que embasa a prática estudada), que nos
abre um campo de possibilidades.
A questão que nos passa enquanto pesquisadores é a de como produzir uma articulação
interessante com o campo, de modo que seja maximizada a recalcitrância daqueles que são
interrogados, procurando produzir no campo possibilidades de redefinição do próprio propósito e
forma de pesquisa ao invés de práticas redundantes que apenas confirmem hipóteses prévias.
Entretanto, um dos maiores desafios parece ser o de não haver uma forma necessária e única de se
fazer pesquisa. É preciso trabalhar a partir da estruturação contingencial de um campo para fazer,
dessa nossa relação um pouco limítrofe de nativo e etnógrafo, algo fértil.
A proposta de um pesquisarCOM nos auxilia também a lidar com a questão da autoridade
etnográfica de formas que consideramos mais interessantes para a produção de conhecimento tal
como a entendemos. Clifford (2014, p. 20) observa que “[o] desenvolvimento da ciência etnográfica
não pode, em última análise, ser compreendido separado de um debate político-epistemológico mais
geral sobre a escrita e a representação da alteridade”. No que tange a produção da devolutiva, assim
como de outros tipos de textos concernentes à pesquisa, levamos em conta as considerações do autor
sobre a escrita etnográfica:
[...] a etnografia está, do começo ao fim, imersa na escrita. Esta escrita inclui, no
mínimo, uma tradução da experiência para a forma textual. O processo é complicado
pela ação de múltiplas subjetividades e constrangimentos políticos que estão acima
do controle do escritor. Em resposta a estas forças, a escrita etnográfica encena uma
estratégia específica de autoridade. Essa estratégia tem classicamente envolvido uma
afirmação, não questionada, no sentido de aparecer como a provedora da verdade no
texto. Uma complexa experiência cultural é enunciada por um indivíduo [...].
(Clifford, 2014, p. 21)
Precavidos quanto a essa possibilidade de uso de autoridade que desejamos evitar, optamos,
pelo contrário, por nos esforçarmos para permitir que os modos de subjetivação e constrangimentos
do campo surjam no texto. Nesse sentido, a utilização de devolutivas etnográficas endereçadas às
equipes acompanhadas nos parecem um modo favorável de proporcionar articulações inovadoras
com o campo. Por meio delas, acreditamos ser possível promover um maior grau de simetria entre
pesquisadores e pesquisados no processo de produção de conhecimento, tornando impossível que os
primeiros assumam uma posição de total autoridade e que os relatos destes assumam caráter de
monólogo.
Dessa forma, nossa proposta é que as devolutivas possam constituir um espaço aberto para
que relações de recalcitrância emerjam mais frequentemente e, com isso, para que o conhecimento
produzido possa ser colocado à prova, revisado, reformulado e perpassado pelas vozes daqueles que
constam nos próprios relatos produzidos.
este A pastaque é compostao por tabelas que organizam informações quantitativas de atendimentos
de cada cliente, esquemas teóricos, anotações sobre cada caso e o contrato terapeêuta-cliente
construído pela equipe. Ao final da discussão da devolutiva, foi proposto pela equipe que ela seguisse Formatted: Font color: Red
fosse encaminhada em anexo a essa pasta. Isso nos dá pistas de possíveis efeitos produzidos a partir
da articulação pesquisador-campo via devolutiva.
Na devolutiva para a equipe de psicanálise de base lacaniana, Rafael leu o relato que produziu,
abordando questões que perpassaram o período em que esteve ali na supervisão, como a sua
implicação, as mudanças no que concerne à sua participação neste acompanhamento e o que
observara da dinâmica da supervisão. Deste último item, destacou o modo como são produzidos os
relatos dos atendimentos clínicos e a análise dos mesmos, permeada por intervenções, dúvidas e
discussões teóricas, além, é claro, do talvez inusitado à primeira vista, porém sempre presente humor.
Humor que aparece na discussão dos casos clínicos, geralmente em forma de trocadilhos e
comentários divertidos, quando se faz referências aos pacientes atendidos pela equipe, o que pareceu
ao pesquisador em questão uma marca distintiva desta e um aspecto importante dentro da dinâmica
observada, já que por vezes era dito pelo supervisor: “é preciso escutar outra coisa!”, “você não pode
se prender no discurso do paciente, no sintoma!”, “o discurso é uma armadilha!”, “a gente não pode
ficar assustado com o que o paciente diz, ele organiza o discurso para nos assustar, para nos
surpreender!”, “é uma fala que chama a atenção, e ela serve justamente para isso, para prender a nossa
atenção! Mas assim a gente não trabalha!”trabalha! ”.
Há, assim, o desenvolvimento, nos estagiários, de um tipo de escuta específico, uma “atenção
flutuante” durante o atendimento, algo preconizado por esta psicanálise. Porém, o que o pesquisador
afirmou foi que uma escuta e atenção específicas foram observadas por ele na supervisão, na
discussão dos casos, e o humor contribui para isso, para não dirigir uma atenção especial ao
sofrimento dos pacientes, por exemplo. Foi levantada por ele a suspeita de que o supervisor recorresse
ao humor propositalmente, estrategicamente, para promover essa escuta, essa atenção, em si e nos
estagiários. O supervisor disse que não, que não havia pensado previamente nisso, que o humor se
faz presente de modo espontâneo, mas que as considerações levantadas fazem sentido para ele, que
nunca havia pensado nisso.
Não há, nessa situação de pesquisa, uma descrição simplesmente de aspectos já conhecidos
pelos participantes e nem mesmo uma revelação daquilo que eles desconhecem sobre suas práticas;
o que ocorre é a inscrição de uma novidade, que por mais que coincida com o que já é conhecido e
discutido em psicanálise e nesta equipe especificamente, promove um novo modo de olhar para algo
que talvez possa ser visto como marginal ou cuja importância no processo de trabalho analítico nunca
tenha sido levada em conta, como as piadas e trocadilhos. Dessa forma, podemos ver que a narrativa
do pesquisador não serviu apenas para representar um evento observado na supervisão; ela produziu
uma diferença na realidade estudada, um novo sentido e provavelmente uma nova função foram
conferidos ao humor presente na equipe.
Laura enviou o relatório final à equipe de Análise Institucional Francesa por e-mail. Sua
leitura foi feita também durante a supervisão. Nele continha o objetivo da pesquisa, o processo de
implicação da pesquisadora e sua apreensão do fazer clínico e da dinâmica da supervisão. Como
pontos importantes que marcaram o processo de devolutiva, é possível demarcar falas da supervisora
sobre o que esta chamou de “solaridade (ou solidariedade)” do relato; com isso, quis dizer que
discussões mais fervorosas da equipe não foram incluídas de forma satisfatória no relatório. Destaca-
se, portanto, um requerimento do campo sobre este ponto.
No que toca à parcela do relatório que tratava da dinâmica da supervisão, vale destacar que
ela abriu brechas para que alguns estagiários pudessem colocar inquietações sobre o tempo destinado
para a discussão dos casos e a frequência de envio dos relatos dos mesmos. Foi percebida por Laura
uma negociação entre os participantes, que debateram sobre possíveis organizações para a melhoria
destes processos. Pontuações sobre relações de poder e hierarquizações também entraram em
discussão numa tentativa de desconstrução destes lugares. Por fim, alguns novos estagiários
destacaram que com a leitura deste relatório, o objetivo da pesquisa e do acompanhamento
etnográfico ficou mais palpável e houve interesse sobre o acompanhamento de outras equipes.
Thaissa formulou sua devolutiva por escrito para a equipe de Psicanálise de base winnicottiana
que acompanhava. Nesse caso, a saída da estagiária da equipe se deu por conta do fechamento da
própria equipe. Em sua devolutiva, Thaissa tratou sobre seu primeiro contato com a equipe e como
essa relação foi se dando com o tempo; tratou também sobre como se sentia nas supervisões e como
se sentiu atraída pela abordagem da equipe.
Além disso elencou alguns pontos que considerava serem singularidades daquela equipe;
dentre estas, tratou sobre a questão do pagamento, que segundo ela seria considerado importante pela
equipe. Posteriormente, Thaissa relatou que após ter lido a devolutiva para a equipe, o supervisor a
esclareceu que o pagamento, além de uma imposição por parte da clínica psicanalítica, era também
uma exigência da DPA. Essa também foi a oportunidade para que o supervisor expusesse a sua
posição frente a essa exigência de forma mais direta: segundo ele, o pagamento poderia não ser o
valor simbólico (de no mínimo dois reais) exigido pela instituição, mas sim a presença do paciente;
e também, essa prática de pagamento obrigatório não seria interessante do ponto de vista dele por
levar a preocupações por conta dos estagiários em relação aos pacientes que não estavam efetuando
os pagamentos.
Também no relato, Thaissa mencionou rapidamente uma técnica que, segundo sua
compreensão, o supervisor utilizava para treinar a escuta e a intervenção dos estagiários. A técnica
consistia em apresentar um texto curto, uma poesia ou algo do gênero e pedir para que cada estagiário
presente (e Thaissa também era incluída na dinâmica) falasse o que tal texto trazia à mente. Thaissa
relatou, posteriormente à experiência da devolutiva, que até então não sabia por que o supervisor
havia parado de utilizar essa técnica nas supervisões; entretanto, com a devolutiva, o supervisor
esclareceu que a extinção do uso de tal técnica tinha se dado por falta de tempo e pela demanda por
parte dos estagiários de um maior tempo para a supervisão de casos.
A partir dessas reflexões acerca do relato de devolutiva de Thaissa assim como de suas
consequências, concebemos que por meio da devolutiva, questões que até então haviam aparecido na
experiência de campo sem serem tratadas tão diretamente podem ser abordadas de forma mais direta
pelos que compõem o campo. Desse modo, as devolutivas também constituem um ator no campo
estudado e suas consequências articulam novas relações para a produção de conhecimento em
conjunto.
Conclusão:
Observa-se, nestes breves resultados de uma pesquisa que ainda se encontra em andamento, modos Formatted: Indent: First line: 0"
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