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A missão de interceder

Durvalsna B. Bisierra .26


i,|/ *|i;intercessor precisa
1 estar atento à intervenção de Deus na his-
J
tória das nações e conhecer seus feitos entre os povos. Está
Deus agindo hoje? E ele o controlador do Universo, o Senhor da
História, o Rei das nações? Era calamitosa a situação política e
religiosa de Israel na época da morte do rei Uzias, provavelmente
no ano 740 a.C. Isaías, entretanto, entrou no templo e viu o Senhor
assentado no “alto e sublime trono” (Is 6). Isso demonstra que não
há circunstância, por mais desalentadora, que possa ofuscar a glória
da majestade divina. Ele está no trono!
O intercessor não é aquele santo que se enclausura para orar,
alheio à realidade. Antes, ele é aquele que se coloca na torre de
vigia (Hc 2.1). Ele está no lugar secreto de oração, mas atento ao
progresso tecnológico, aos acordos de paz entre as nações, à atuação
dos governantes para reduzir a fome e a miséria, aos programas
de desarmamento, à luta contra a corrupção. Está atento porque
conhece seu Deus e pode identificar as marcas da atuação divina
— por exemplo, se ele traz ruína como expressão de sua justiça
sobre as nações opressoras, como no caso do Egito, quando os
próprios magos confessaram: “Isto é o dedo de Deus” (Ex 8.19).
Deus também abençoa e faz prosperar as nações, como o reino
da Babilônia, quando seu rei reconheceu que o Altíssim o reina
(Dn 4.26,32)! Nosso Deus julga e redime as nações. Assim, o
intercessor deve ser um bom observador, pois “oração consiste de
atenção; a qualidade da atenção conta na qualidade da oração”.1
Deus intervém nos acontecimentos mundiais e espera que seus
servos interajam nesse contexto e, com sua vida e atitudes, influen­
D B. B E il'S S A é diretora
do Seminário Betei Brasileiro (São ciem sua época, isto é, que o povo de Deus faça história. Os reinos
Paulo), coordenadora da Rede de do Egito, da Babilônia e da Pérsia sofreram sensíveis transforma­
Mobilização de Mulheres de Ação ções pela presença do povo judeu no meio deles. Se crermos que
Global para o Estado de São Paulo e nosso Deus é o Senhor da História e que somos seu instrumento
vice-presidente do Conselho Nacional
de operação neste mundo, faremos diferença na comunidade em
de Oração. Ela é ex-presidente da
AMTB e da APMB e autora dos livros
que estivermos inseridos.
A missão de interceder (Londrina: O rei Davi, preocupado em saber os sinais dos tempos e o que
Descoberta, 2001) e Ministério cristão Israel devia fazer, designou a tribo de Issacar para estudar as épo­
e espiritualidade (Belo Horizonte: cas (lC r 12.32). E necessário conhecer as épocas para distinguir
Betânia, 2007).
Extraído de A missão de interceder. 1 C athy SchaUer, L ea rn in g to S ta n d in the C o u n cilo f the L ord (Colorado Springs:
Usado com permissão. Dawn M inistries, 1992).
o kairós (“época”, “ocasião não mensurável”) de Deus. Os que antecipam a visão do Reino con­
Deus. Só assim seremos capazes de seguir seus firmam que foi Deus quem agiu. Não foi Mikhail
sinais e atuar em nossa realidade, cooperando Gorbachev o responsável pela abertura dos por­
com os planos eternos de Deus. tões de ferro do comunismo, na antiga União
O mundo a ser alcançado é “um mundo em Soviética, em 1989. Ele foi um instrumento
crise” — basta acompanhar os noticiários! Pode­ de Deus. A história se repete, como aconteceu
mos ver essa crise por dois ângulos: um positivo com Ciro, o persa, também um instrumento na
e um negativo. Os diversos indicadores de crise, mão de Deus, que permitiu aos judeus regressar
como a violência, a expansão do tráfico de dro­ do exílio da Babilônia e reedificar a cidade de
gas, os sequestros e os assaltos resultam numa Jerusalém, entre 538 e 457 a.C. (Ed 1.1,2).
desesperada necessidade de segurança e de qua­ A igreja orou! Irmão André, fundador e
lidade de vida para vencer o medo e o estresse. A presidente emérito da Missão Portas Abertas,
crise socioeconômica torna o ser humano mais lançou a campanha “Sete anos de oração pela
receptivo à mensagem de esperança, principal­ União Soviética” em 1984, um programa de
mente quando esta vem seguida de ação social. oração a que a Igreja aderiu em várias partes
As populações dos países em desenvolvimen­ do mundo. Lembro-me dos programas sema­
to estão mais abertas a uma nova mensagem e nais de missões do Betei Brasileiro, do quanto
buscam uma nova dimensão de vida. os alunos clamavam pelos povos sob o regime
No entanto, as crises tornam os povos resis­ opressor. No fim do primeiro ano da campa­
tentes a Deus. Nos países ricos e desenvolvidos, nha, muitos irmãos presos por sua fé foram li­
a mensagem do evangelho tornou-se obsoleta. bertados. Em 1989, aconteceu o que ninguém
O povo, sem nenhum escrúpulo, declara não esperava: o muro de B erlim caiu! Um gran­
precisar de Deus, enquanto as igrejas lutam con­ de sinal do desmoronamento da C ortina de
tra o nominalismo e a apatia espiritual. Ferro. Não poderíamos im aginar que nossos
A ação de Deus não se limita às nações ricas olhos contemplariam essa façanha da mão do
ou pobres, aos povos receptivos ou resistentes grande Rei.
ao evangelho. “Quem te não temeria a ti, ó Rei A China, país mais populoso do mundo, con­
das nações?” (Jr 10.7). O nosso Deus é livre para tinua comunista. Por que a Cortina de Bambu
agir em todo o mundo. Jesus afirmou: “O campo ainda não se abriu? Não devemos ver a mão do
é o mundo”. Procuremos ver as nações como Altíssimo apenas quando ele sinaliza com fei­
campos prontos para a colheita e também como tos políticos. Não há sinal mais glorioso que o
desafios à tarefa missionária da Igreja. avanço da Igreja chinesa; é maior que em muitos
países livres, mesmo que custe caro o testemu­
Visão dos campos prontos para a ceifa nho dos fiéis. Em 1949, quando M aoTsé-tung
Presenciamos um tempo de grandes transfor­ tomou o país comunista, havia 1,8 milhão de
mações e grandes colheitas. Precisamos aten­ cristãos. Em 1992, o Bureau de Estatística do
tar para a ordem de Cristo: “Erguei os olhos Estado da China estimou, confidencialmente,
e vede os campos, pois já branqueiam para a 63 milhões de cristãos.2 Nosso rei tem o do­
ceifa” (Jo 4.35). mínio dos tempos e dos modos. Para ele, não
De forma dramática, vimos a queda do há portas fechadas!
comunismo no Leste Europeu. A antiga União H á uma igreja que cresce, explosivamen­
Soviética, a Albânia, a Romênia e outras nações te, no maior país de população muçulmana do
dominadas pelo ateísmo tornaram-se campo mundo: a igreja da Indonésia. Os muçulma­
missionário com grande recepção à Palavra de nos neofundamentalistas, para deter o número

3 Patrick Johnstone, In tercessão m u n d ia l (Belo Horizonte: A M E M , 1993), p. 204.


crescente de conversões, iniciaram uma acirrada maior comunidade evangélica do mundo, a que
perseguição à Igreja, que piorou nitidamente mais envia missionários e a que possui maior
desde 1996. M ais de 500 igrejas foram des­ número de centros de treinamento e agências
truídas, lojas saqueadas, mulheres estupradas, missionárias em toda a América Latina.3 O rá­
casas de cristãos incendiadas. A mortandade pido crescimento da visão missionária é notável.
deixou milhares de órfãos. O crescimento da No Congresso M issionário Ibero-Americano
igreja da Indonésia, mesmo com as recentes (CO M IBA M ), em 1987, Luis Bush declarou:
violências, a fome e a miséria pelo colapso eco­ “O Brasil deixa de ser apenas um campo missio­
nômico, é milagre de Deus! “Segundo relatórios, nário para se tornar uma força missionária”.
os evangelistas não estão conseguindo atender O avanço do evangelho está cumprindo a
aos pedidos de batismo. Na história, podemos profecia de Habacuque 2.14: “A terra se encherá
ver um quadro de aumento de perseguição, cada do conhecimento da glória do Senhor, como as
aumento seguido por conversões.”3 águas cobrem o mar”. Alegramo-nos com o que
A maior igreja local do mundo hoje não está Deus está fazendo, mas não nos esqueçamos de
na Europa, berço do protestantismo, nem nos que há muitos clamando: “Passa à Macedônia
Estados Unidos, país que mais enviou missio­ e ajuda-nos”.
nários aos demais continentes. Está na Coreia
do Sul, que passou a ser um modelo de cresci­ O desafio das nações
mento de igreja, modelo de uma igreja que ora Após Israel vencer dezenas de reinos e nações,
e que implantou um significativo programa de conquistar vasta região e se estabelecer na terra
envio de missionários a vários países. A cidade prometida, o Senhor fala a Josué: “Já estás velho,
de Seul há 110 anos não tinha uma única igreja. entrado em dias, e ainda muitíssima terra ficou
Hoje, das dez maiores igrejas do mundo, sete para se possuir” (Js 13.1). Há muito que fazer!
estão na capital sul-coreana.4 Existem milhares de povos não alcançados,
Prevê-se que o continente africano, que sem uma testemunha de Jesus, vivendo na Jane­
há 200 anos era considerado um cemitério de la 10/40, área geográfica compreendendo norte
missionários, será o primeiro continente a con­ e noroeste africano, o sul da Á sia e o O rien­
tabilizar maioria cristã em sua população. Em te M édio, onde se concentram os três blocos
1900, os cristãos africanos eram 8 milhões; em das maiores religiões do mundo: budismo, isla­
1990 esse número subiu para 275 milhões. A mismo e hinduísmo, cujas barreiras culturais e
Africa Oriental tem experimentado um grande políticas representam os maiores desafios con­
reavivamento. As igrejas Anglicana e Lutera­ temporâneos à proclamação do evangelho.
na da Zâmbia e da Etiópia expressam grande Intercedamos urgente e insistentemente
fervor espiritual. As denominações pentecostais para que Deus desperte a Igreja. Roguemos ao
nativas crescem extraordinariamente. Senhor da seara que mande trabalhadores! Em
A A m érica L atin a foi m arcada por um muitos países fechados para o evangelho, como
notável crescimento da Igreja no século XX. o mundo árabe, é proibida a entrada de missio­
Em 1980, o número de evangélicos era de 21 nários, e nos países que sofrem as sequelas da
milhões, passando para 46 milhões em 1990. guerra — fome e miséria — faz-se necessário
O número dobrou em apenas uma década! O orar para que o Senhor desperte profissionais
Brasil, em 1960, tinha 4 milhões de evangéli­ liberais, “fazedores de tendas” dispostos a cum­
cos; em 1990, eram 26 milhões. E a terceira prir a missão como bivocacionais. As agências

3 Patrick Johnstone, The C hurch Is B ig g er Than You Think. (Vendor: Christian Focus Publications; W E C , 1998), p. 129.
4 Patrickjohnstone, Intercessão m und ia l, p. 54,171.
’ Patrickjohnstone, In tercessão m und ial, p. 115.
estão pedindo médicos, enfermeiros, técnicos de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele,
agrícolas, engenheiros, nutricionistas, profes­ e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a
sores, pessoas com qualificação profissional e seu respeito” (Rm 15.21). A responsabilidade
vocação missionária, a fim de levar ao mundo é nossa! A evangelização do mundo precisa ser
o evangelho integral, que alcance, ao mesmo feita para que se cumpra a profecia do Senhor
tempo, o espírito, a alm a e o físico daqueles Jesus: “Será pregado este evangelho do reino por
que foram feitos à imagem de Deus. todo o mundo, para testemunho a todas as na­
O apóstolo Paulo tinha os olhos abertos para ções. Então, virá o fim” (M t 24.14). Queremos
ver os desafios das nações, mas sua maior aten­ dizer: “M aranata!”. Evangelizemos o mundo
ção estava naqueles que nunca ouviram a Palavra em nossa geração.
de Deus. Ele tinha visão e prontidão para ir aos Ora eficazmente quem pode ver Deus na
lugares em que Cristo ainda não fora anuncia­ H istória e, assim, acompanha e participa do
do. Oremos pelos pastores e líderes da igreja programa divino para o estabelecimento com­
brasileira e por todos os missionários, para que pleto do seu Reino. “A conexão entre a inter­
sigam o exemplo desse grande missionário do cessão e os eventos mundiais não é fácil de ser
primeiro século e possam dizer como ele: “Para estabelecida aqui na terra, mas, um dia, nós
não construir sobre alicerces colocados por ou­ veremos como o poder da oração causou im ­
tros, tenho me esforçado sempre para anunciar pacto no mundo.”6
o evangelho nos lugares onde ainda não se falou “A grande tragédia da vida não são as ora­
de Cristo” (Rm 15.20, N TLH ). Intercedamos ções não respondidas, mas as que não foram
para fazer cumprida a palavra profética: “Hão feitas” (F. B. Meyer).

6 R aio d e Luz, ano 29, n. 112, mar. 1999, p. 35.

Perguntas para estudo

1. Em termos práticos, como seria possível alguém “estudar as épocas”, como fez a tribo de
Issacar (lC r 12.32)?

2. Cite algumas razões da demora para se receber a resposta das intercessões. Quando interce­
demos pelos povos, a demora é maior ou menor? Por quê?

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